LUIZ CARLOS BRASIL DE BRITO MELLO MODERNIZAÇÃO DAS PEQUENAS E MÉDIAS EMPRESAS DE CONSTRUÇÃO CIVIL: IMPACTOS DOS PROGRAMAS DE MELHORIA DE GESTÃO DA QUALIDADE. Tese apresentada ao Programa de Pós Graduação em Engenharia Civil da Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial para obtenção do Grau de Doutor em Engenharia Civil. Área de Concentração: Engenharia Civil Orientador: Prof. Sérgio Roberto Leusin de Amorim, D.Sc. Niterói 2007. Ficha Catalográfica elaborada pela Biblioteca da Escola de Engenharia e Instituto de Computação da UFF M527 Mello, Luiz Carlos Brasil de Brito. Modernização das pequenas e médias empresas de construção civil : impactos dos programas de melhoria de gestão da qualidade / Luiz Carlos Brasil de Brito Mello. – Niterói, RJ : [s.n.], 2007. 261 f. Orientador: Sérgio Roberto Leusin de Amorim. Tese (Doutorado em Engenharia Civil) - Universidade Federal Fluminense, 2007. 1. Construção civil. 2. Gestão da qualidade total. 3. Pequenas e médias empresas. I. Título. CDD 690 LUIZ CARLOS BRASIL DE BRITO MELLO MODERNIZAÇÃO DAS PEQUENAS E MÉDIAS EMPRESAS DE CONSTRUÇÃO CIVIL: IMPACTOS DOS PROGRAMAS DE MELHORIA DE GESTÃO DA QUALIDADE. Tese apresentada ao Programa de Pós Graduação em Engenharia Civil da Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial para obtenção do Grau de Doutor em Engenharia Civil. Área de Concentração: Engenharia Civil Aprovada em 30 de março de 2007. Banca Examinadora: __________________________________________ Prof. Sérgio Roberto Leusin de Amorim, D. Sc. Universidade Federal Fluminense-UFF _________________________________________________ Prof. José Rodrigues de Farias Filho, D. Sc. Universidade Federal Fluminense-UFF __________________________________________________ Prof. Carlos Alberto Pereira Soares, D. Sc. Universidade Federal Fluminense-UFF ___________________________________________________ Prof. Maria Aparecida Hippert Cintra, D. Sc. Universidade Federal de Juiz de Fora-UFJF ___________________________________________________ Prof. Eduardo Luis Isatto, D. Sc. Universidade Federal do Rio Grande do Sul-UFRGS Niterói 2007 AGRADECIMENTOS Escrever uma tese requer dedicação e abdicação. Dedicação significa a troca do lazer junto aos familiares, por horas de pesquisa, leitura, compilação de dados e longas horas de trabalho junto ao computador. Abdicação no convívio com os familiares e no contato com os amigos. Não se tem tempo para as pequenas e prazerosas coisas da vida e, muitas vezes, abdica-se da leitura diária do jornal. Entretanto, é muito instigante se ver o que era apenas uma idéia, tomar forma e transformar-se no resultado final. Muitas pessoas me auxiliaram no intenso trabalho desenvolvido nesta tese. Prefiro não citar nomes para evitar que magoe alguém por esquecimento involuntário. Uma pessoa que merece um agradecimento especial é o meu orientador, Prof. Sérgio Leusin, que me conduziu, animou e deu o sentido e norte à presente tese. À minha esposa Maria Célia, relegada nos últimos anos por esta tese. Mas que soube, entender, aceitar e apoiar. Aos meus filhos Luiz Fernando, Renata e ao meu genro Adriano e minha nora Paula, prometo ter mais tempo para eles. E fica a minha torcida para que em breve estejam, também, terminando suas teses de doutorado (Renata e Adriano) e dissertação de mestrado (Paula). Para eles será mais fácil, pois têm o vigor da juventude. Finalmente, meu obrigado aos professores e funcionários do Programa de Pós Graduação em Engenharia Civil-PPGEC da Universidade Federal Fluminense, pelo apoio e ensinamentos recebidos. Levo saudades dos bancos escolares. RESUMO A presente tese trata dos temas Sistemas de Gestão da Qualidade, Pequenas e Médias Empresas, Construção Civil. Através de estudos de caso em pequenas e médias empresas de construção civil, situadas no município do Rio de Janeiro, estuda-se a modernização destas empresas e os impactos dos programas de melhoria de gestão da qualidade. Pela utilização de um sistema de indicadores é feita uma comparação entre os resultados de pequenas e médias empresas certificadas e não certificadas analisando, através destes indicadores, se há diferenças no desempenho entre as organizações que utilizam SGQ e as não adeptas de tal sistema. Verifica-se como a instabilidade do setor e do ambiente econômico brasileiro afetam a implantação de SGQs nas PMEs da construção civil. Pesquisa-se os fatores decisivos para uma perfeita implantação de SGQs em pequenas e médias empresas de construção civil. Palavras-chave: Sistemas de Gestão da Qualidade, Pequenas e Médias Empresas, Construção Civil. ABSTRACT This work is about Quality Management Systems, Small and Medium Enterprises, Civil Construction. Using case studies in civil construction small and medium enterprises, located in the city of Rio de Janeiro, is studied how this type of enterprise has made efforts to modernize and what are the impacts of quality management systems in this process. Through a Key Performance Indicator System is developed a comparison between the results of certified enterprises and non certified ones. By these indicators is verified the results of companies that have Quality Management Systems and the ones that do not use them. It is, also, studied how the economical behavior affects the usage of Quality Management Systems in civil construction small and medium enterprises. Besides, it is verified what are the important factors that drive a good implementation of Quality Management Systems in these type of companies. Key words: Quality Management systems, Small and Medium Enterprises, Civil Construction. SUMÁRIO AGRADECIMENTOS ............................................................................................................. 3 RESUMO................................................................................................................................... 4 ABSTRACT .............................................................................................................................. 5 SUMÁRIO................................................................................................................................. 6 LISTA DE FIGURAS............................................................................................................... 9 LISTA DE TABELAS ............................................................................................................10 LISTA DE QUADROS...........................................................................................................11 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ........................................................................... 12 1 INTRODUÇÃO......................................................................................................14 1.1 1.2 1.3 1.3.1 1.3.2 1.3.3 1.3.3.1 1.3.3.1.1 1.3.3.2 1.3.3.2.1 1.3.3.3 1.3.3.3.1 1.4 1.4.1 1.4.2 1.5 1.6 CONTEXTO ............................................................................................................ 14 SITUAÇÃO PROBLEMA ......................................................................................21 OBJETIVOS ............................................................................................................ 23 Gerais ....................................................................................................................... 23 Específicos ............................................................................................................... 24 Hipóteses e questões da pesquisa............................................................................. 24 Hipótese 1 (H1)........................................................................................................ 24 Questões chave da Hipótese 1 .............................................................................. 25 Hipótese 2 (H2)........................................................................................................ 25 Questões chave da Hipótese 2 .............................................................................. 25 Hipótese 3 (H3)........................................................................................................ 25 Questões chave da Hipótese 3 ............................................................................. 26 JUSTIFICATIVA DO TRABALHO.......................................................................26 No Contexto Institucional ........................................................................................ 26 No contexto da sociedade e da empresa .................................................................. 26 DELIMITAÇÕES DO TRABALHO ...................................................................... 27 METODOLOGIA:................................................................................................... 27 1.7 ESTRUTURA DA TESE......................................................................................... 32 2 CIVIL QUALIDADE, INOVAÇÃO E CONHECIMENTO NA CONSTRUÇÃO ................................................................................................................................. 34 2.1 CONCEITUAÇÃO DE INOVAÇÃO .....................................................................36 2.2 DIFUSÃO TECNOLÓGICA...................................................................................41 2.3 CONHECIMENTO E APRENDIZADO................................................................. 44 2.4 POLÍTICAS DE INOVAÇÃO ................................................................................ 47 2.5 SISTEMAS DE GESTÃO DA QUALIDADE.......................................................53 2.5.1 Significação .............................................................................................................53 2.5.2 Sistemas de Gestão enquanto Inovação Tecnológica .............................................. 56 2.5.3 Capacitação Tecnológica ......................................................................................... 60 2.5.4 Melhoria Contínua: modelos e capacidades necessárias ......................................... 62 2.5.5 Habilidades e Etapas Necessárias para Melhoria Contínua..................................... 65 2.5.6 Razões da Importância da Existência de um Sistema de Gestão da Qualidade em Empresas de Construção Civil.................................................................................................. 67 3 A EVOLUÇÃO ECONÔMICA DO BRASIL NO PERÍODO 1930- 2005 E A PARTICIPAÇÃO DA CONSTRUÇÃO CIVIL .................................................................. 73 3.1 UM BREVE HISTÓRICO DA EVOLUÇÃO ECONÔMICA DO BRASIL NO PERÍODO 1930-2005: ............................................................................................................. 73 3.2 UM BREVE HISTÓRICO DA EVOLUÇÃO ECONÔMICA DO BRASIL NO PERÍODO 1930-2005: ............................................................................................................. 74 3.2 ALGUNS PROBLEMAS ECONÔMICOS BRASILEIROS: ................................. 79 3.3 OS PROBLEMAS ECONÔMICOS BRASILEIROS E A INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO CIVIL ...........................................................................................................86 3.4 A INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO CIVIL NA ECONOMIA BRASILEIRA... 87 4. A EVOLUÇÃO DA QUALIDADE NA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO CIVIL BRASILEIRA.............................................................................................................97 4.1 OS TRABALHADORES E A CONSTRUÇÃO CIVIL ........................................97 4.2 PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO CIVIL NO BRASIL ...............................................................................................................100 4.3 TENDÊNCIAS DA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO CIVIL .......................... 102 4.4 A QUALIDADE NA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO CIVIL BRASILEIRA 103 4.5 FATORES ATUANTES NA QUALIDADE DA CADEIA PRODUTIVA DA CONSTRUÇÃO CIVIL, SEGMENTO IMOBILIÁRIO ....................................................... 108 4.6 A CERTIFICAÇÃO ISO 9000 NA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO CIVIL BRASILEIRA......................................................................................................................... 111 4.7 OS PROGRAMAS DE QUALIDADE NA CONSTRUÇÃO CIVIL BRASILEIRA......................................................................................................................... 114 4.7.1 Objetivos e Desenvolvimento dos Programas de Qualidade ................................. 114 4.7.2 Principais Programas de Qualidade da Indústria da Construção Civil Brasileira.. 115 4.7.3 Possíveis Melhorias nos Programas Existentes: ....................................................120 4.7.4 A Experiência dos Sistemas de Gestão da Qualidade na Construção Civil em Outros Países: ......................................................................................................................... 122 5 INDICADORES NA CONSTRUÇÃO CIVIL .................................................. 129 5.1 INDICADORES: PROBLEMAS, NECESSIDADES E APLICABILIDADE NA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO CIVIL ............................................................................ 129 5.2 EVOLUÇÃO DA MEDIÇÃO DE DESEMPENHO:............................................ 132 5.3 CLASSIFICAÇÃO DE INDICADORES..............................................................132 5.4 IMPLANTAÇÃO DE INDICADORES ................................................................135 5.5 ALGUNS MODELOS DE SISTEMAS DE INDICADORES.............................. 136 5.6 DESENVOLVIMENTO DA PROPOSTA DE INDICADORES ......................... 141 5.7 CONSIDERAÇÕES SOBRE OS SISTEMAS DE INDICADORES.................... 148 6 METODOLOGIA DA PESQUISA:................................................................... 150 6.1 6.2 6.3. 6.4 6.5 PROCEDIMENTOS, ESTRATÉGIA E MÉTODO DE ANÁLISE: .................... 150 DESCRIÇÃO DO MÉTODO ................................................................................156 TAMANHO DA AMOSTRA:...............................................................................158 INSTRUMENTOS DE MEDIDA .........................................................................159 LIMITAÇÕES DO MÉTODO ..............................................................................160 7 ANÁLISE DOS RESULTADOS ........................................................................ 161 7.1 7.2 7.3 7.4 7.5 INFORMAÇÕES GERAIS SOBRE AS EMPRESAS DO ESTUDO DE CASO 161 COMENTÁRIOS GERAIS. .................................................................................. 164 RESULTADOS OBTIDOS ATRAVÉS DE TRATAMENTO ESTATÍSTICO ..176 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS .....................................................................185 SUGESTÕES......................................................................................................... 190 8 CONCLUSÕES FINAIS E SUGESTÕES PARA FUTUROS TRABALHOS 200 8.1 8.2 COMENTÁRIOS FINAIS..................................................................................... 200 SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS .................................................204 BIBLIOGRAFIA:.................................................................................................................206 APÊNDICES ......................................................................................................................... 224 APÊNDICE A ........................................................................................................................ 224 APÊNDICE B......................................................................................................................... 236 APÊNDICE C......................................................................................................................... 237 APÊNDICE D ........................................................................................................................ 239 APÊNDICE E:........................................................................................................................ 259 LISTA DE FIGURAS Figura 1- O Modelo da Inovação como Elo da Corrente ......................................................... 50 Figura 2- Relação entre as atividades de geração de novas tecnologias ..................................57 Figura 3: O Conceito de Tecnologia ........................................................................................ 58 Figura 4 -Seis Fontes Chave de Vantagem Competitiva.......................................................... 64 Figura 5 - Estrutura da Cadeia Produtiva da Construção Civil ................................................ 89 Figura 6 - Diagrama de Fluxos ................................................................................................. 91 Figura 7- Situação das Pessoas Ocupadas na Construção Civil ...............................................98 Figura 8 - Desdobramento dos indicadores de resultado........................................................133 Figura 9- Percentual das Empresas Não Certificadas Participantes ....................................... 162 Figura 10-Participação das empresas certificadas participantes............................................. 163 Figura 11- Perfil respondentes empresas não certificadas......................................................164 Figura 12-Perfil respondentes empresas certificadas .............................................................165 Figura 13-Utilização de Planejamento estratégico em PMEs não certificadas ...................... 168 Figura 14-Utilização de Planejamento estratégico em PMEs certificadas ............................ 169 Figura 15- Situação das empresas não certificadas em relação à implantação de SGQs ....... 170 Figura 16- Razões para Não certificadas planejarem implantar SGQS.................................. 172 Figura 17-Principais razões para certificadas terem implantado SGQs ................................. 172 Figura 18- Percentual de PMEs certificadas pesquisadas com resultados dentro do esperado ................................................................................................................................................ 176 LISTA DE TABELAS Tabela 1- Histórico recente da indústria da construção civil no Brasil. ................................... 16 Tabela 2- Classificação de empresas: construção civil ............................................................ 29 Tabela 3- Distribuição percentual das pessoas ocupadas por ramo de atividade na região metropolitana do Rio de Janeiro...............................................................................................31 Tabela 4 - Habilidades básicas e normas comportamentais ..................................................... 65 Tabela 5-Evolução do Crescimento e da Inflação Brasileiras no Período 1948-2001 ............. 77 Tabela 6- Distribuição da população ocupada por tempo de instrução....................................80 Tabela 7- Distribuição pessoal da renda do trabalho no Brasil de 1981 a 1995....................... 85 Tabela 8- Produto Interno Bruto do Brasil e da Construção Civil 1991-2005 .........................90 Tabela 9-Participação dos segmentos na comercialização de insumos.................................... 92 Tabela 10-Participação dos segmentos no mercado e volume de compras.............................. 92 Tabela 11- Tabela comparativa entre Regiões Metropolitanas quanto a Média de Anos de Estudo e % de Analfabetismo 1998 /99 ................................................................................... 99 Tabela 12- Condição de Migração por Regiões Metropolitanas- 1998/ 99.............................. 99 Tabela 13: Materiais e Índices de Conformidade................................................................... 106 Tabela 14- Comparação entre os percentuais de empresas certificadas da construção civil e o percentual de empresas brasileiras certificadas por região...................................................112 Tabela 15- Sistema inicial de indicadores ..............................................................................143 Tabela 16- Conhecimento das Ferramentas pelas PMEs Não Certificadas............................ 166 Tabela 17- Conhecimento das Ferramentas pelas PMES certificadas ...................................167 Tabela 18-Dificuldades para implantar ferramentas de gestão e critérios de medição nas PMEs da construção civil .................................................................................................................. 169 Tabela 19-Fatores que dificultam implantação de ferramentas de qualidade segundo PMES da construção civil....................................................................................................................... 171 Tabela 20- Prazos estimados para implantação de SGQs em PMES não certificadas ........... 171 Tabela 21-Peculiaridades da construção civil dificultando as PMEs implantarem SGQs ..... 173 Tabela 22-Fatores para vencer dificuldades inerentes ao setor segundo PMEs .....................174 Tabela 23-Importância dos fatores econômicos para implantação de SGQs segundo PMEs 175 Tabela 24- Médias dos indicadores para PMES certificadas e PMEs não certificadas.......... 177 Tabela 25- Comparação dos indicadores para PMES certificadas e PMEs não certificadas. 180 Tabela 26- Ordenação da verificação de dados a ser feita .....................................................181 LISTA DE QUADROS Quadro 1- Indicadores para comparação entre as empresas..................................................147 Quadro 2- Construtos, Variáveis, Fontes de Evidência e Hipóteses ......................................152 Quadro 3-Hipóteses, questões-chave, conceitos e questões relacionadas ..............................153 Quadro 4- Hipóteses da Tese, hipóteses de teste e tipo de teste............................................. 182 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas ADEMI Associação de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário ANTAC Associação Nacional de Tecnologia do Ambiente Construído BSC Balanced Scorecard CBIC Câmara Brasileira da Indústria da Construção CDHU Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo CIDE Centro de Informações de Dados do Rio de Janeiro CNI Confederação Nacional das Indústrias CTE Centro de Tecnologia de Edificações DIEESE Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Intersindicais FGTS Fundo de Garantia de Tempo de Serviço FIRJAN Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro FPNQ Fundação Prêmio Nacional da Qualidade IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística INFOHAB Centro de Referência e Informação em Habitação INMETRO Instituto Nacional de Metrologia ISO International Standardization Organization MDIC Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio OCDE Organização para o Desenvolvimento e Cooperação Econômica P&D Pesquisa e Desenvolvimento PBQP-H Programa Brasileiro da Qualidade da Habitação PIB Produto Interno Bruto PME Pequena(s) e média(s) empresa(s) PNAD Programa Nacional por Amostragem Domiciliar PNQ Prêmio Nacional da Qualidade QUALIPRO Sistema de Acompanhamento da Qualidade e Produtividade da Construção RAIS Relatório Anual de Informações Sociais SEBRAE Serviço Brasileiro de Apoio a Pequena e Média Empresa SENAI Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial SGQ Sistema de Gestão da Qualidade SINDUSCON Sindicato da Indústria da Construção SIAC USP Sistema de Qualificação das Construtoras Universidade de São Paulo 1 INTRODUÇÃO 1.1 CONTEXTO O setor da Construção Civil ocupa um papel importante no panorama econômico brasileiro, sendo responsável por cerca de 5,6% do total de salários pagos aos trabalhadores, 19% do Produto Interno Bruto brasileiro e aproximadamente 9% do pessoal ocupado (Câmara Brasileira da Indústria da Construção-2005). Além de sua participação direta no Produto Interno, a indústria da construção civil age sobre uma extensa cadeia produtiva de fornecedores, serviços de comercialização e manutenção. Fabrício (2002), baseado em um trabalho da Trevisan Consultores, considera a construção civil um setor locomotiva, já que demanda inúmeros insumos e serviços. O macro-complexo da construção civil está entre os dez setores que mais geram empregos por unidade monetária instalada. Para cada mil reais investidos na construção, são gerados R$ 561,54 de renda no próprio setor. Além do valor adicionado internamente, são gerados outros R$ 219,50 no fornecimento de matérias primas, totalizando R$ 781,04 de renda direta e indireta relacionada ao investimento. A construção civil demanda, a cada ano, sessenta e oito bilhões de reais em insumos (minerais, metalúrgicos, material elétrico, madeira) (Sinduscon- SP, 2003). Para manter sua importância no cenário econômico brasileiro a indústria da construção civil está passando por grandes mudanças. As empresas utilizam-se de várias inovações tecnológicas, sendo que algumas procuram se consolidar com uma estratégia competitiva para as organizações, conforme observado por Corrêa (2002). No entanto, Toledo et al (2000) ressaltam que, devido aos riscos e incertezas inerentes às inovações tecnológicas não serem aceitáveis para boa parte do setor, apenas depois de consolidada é que uma tecnologia passa a ser adotada por um número razoável de outras empresas. Estes mesmos autores destacam, 15 ainda, que a natureza multidisciplinar dos projetos e a dependência do desenvolvimento de novos materiais e equipamentos para a produção, constituem outro tipo de obstáculo para que inovações sejam adotadas. O setor tem uma posição estratégica na geração de empregos, já que implementa novos postos de trabalho, com reduzidos investimentos, quando comparado com setores mais intensivos em capital. Os insumos utilizados na construção civil são predominantemente produzidos internamente e, ao mesmo tempo, contribuem significativamente para o crescimento do país com a geração de infra-estrutura e de novas habitações, além da criação de postos de trabalho. Este fato levou Fabrício (2002) a concluir que a construção civil não cria pressões significativas na balança comercial do país, tornando o setor estratégico para as políticas públicas de geração de riquezas e criação de empregos. As poucas exceções são representadas por materiais derivados da indústria petroquímica, utilizados em tintas, PVC etc., materiais que têm seus preços determinados pela cotação internacional, da mesma forma que o aço. Apesar de sua importância para o setor econômico brasileiro, a construção civil é caracterizada como tradicional e conservadora conforme afirmam, Farah (1993), Picchi (1993), Santiago (2002), Ambrozewicz (2003), Secretaria de Tecnologia Industrial (2003). Todavia, Amorim (1995) ressalta que, embora lentas, as inovações na construção civil estão presentes e considera esta postura como uma estratégia das empresas. O que advém da opção das empresas em dominarem um número restrito de soluções para se contrapor à enorme variação dos produtos. Preferem, cuidadosamente, incorporar inovações baseadas em experiências anteriores. Embora tenha havido nas últimas décadas inúmeros esforços, a construção civil ainda não conseguiu se igualar ao nível de qualidade, produtividade e competitividade de outros setores da economia brasileira e está bastante distante dos índices da indústria da construção civil americana. Dados de uma pesquisa realizada pela McKinsey (1998) no Brasil demonstram que a produtividade da construção de residências é de 35% da verificada nos Estados Unidos, a da construção comercial é de 39% e a da construção pesada é de 51%. Esta pesquisa faz referência a diversos problemas quanto à padronização e ao cumprimento das normas técnicas. Para uma perfeita compreensão do setor, é necessário que se entenda sua perspectiva histórica desde a década de cinqüenta. Assim, reporta-se a Nascimento e Santos (2003) que apresentam o quadro da indústria de construção civil no país, com as características de cada 16 fase. Estes autores atestam que, nos últimos cinqüenta anos, o país passou por dois picos de desenvolvimento bem aproveitados pelo setor: na época de Juscelino Kubitschek (“50 anos em 5”) e na década de setenta com o “milagre econômico”. A partir da década de oitenta, o setor entrou em grande recessão, perdurando até 2004, quando o país, pela primeira vez, apresentou crescimento superior a cinco por cento. Tabela 1- Histórico recente da indústria da construção civil no Brasil. Década Sessenta / Setenta Nível de Atividade Alto Características Crescimento do setor, obras de arte,investimentos do governo, construção de Brasília, milagre econômico. Oitenta Baixo Mercado recessivo, poucos investimentos governamentais, sem crescimento, racionalização da produção, desenvolvimento tecnológico. Noventa/ Inicio Dois mil Baixo Grande competitividade, desenvolvimento logístico, desenvolvimento das comunicações, tecnologia das informações, desenvolvimento sustentável. Fonte: adaptado de NASCIMENTO e SANTOS, 2003 Dados do Sub-comitê da Indústria de Construção Civil no Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade (1997) mostram que a área de recursos humanos no setor é caracterizada pela insuficiência de programas de treinamento nas empresas, baixo investimento em formação profissional, declínio do grau de habilidade e qualificação dos trabalhadores de ofício e elevada rotatividade. O resultado desta situação é que os empreendimentos de construção civil não primam pela qualidade. Dados de pesquisa realizada pela USP (SOUZA, 2001) revelam que, em cada metro quadrado de obra, há cerca de duzentos e setenta quilos de material desperdiçado, onerando o custo de 3% a 8%. No caso de placas cerâmicas, verificam-se perdas de 5 a 10%. Com concreto e aço, as perdas estão em média na faixa de 9% e 11%. E o acabamento em obras, mesmo de luxo, não é satisfatório. Observa-se, então, na indústria da construção civil uma exigência de mais qualidade e 17 produtividade, principalmente com a implantação de técnicas gerenciais mais modernas. Assim, tornou-se importante incorporar novas filosofias de construção, gerenciamento de obras e buscar o comprometimento e o envolvimento dos trabalhadores. Para que se melhore a qualidade final do produto, é imprescindível que haja treinamento e capacitação da mão de obra. Diversas iniciativas para a implantação de sistemas de qualidade vêm sendo impulsionadas pelo Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade no Habitat (PBQP-H), que possui como fator crítico a participação dos trabalhadores para o sucesso desta implantação. O PBQP-H tem impulsionado também a procura de novas competências, devido à utilização de novos procedimentos e tecnologias. Já existe também no país, no SENAI (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial), um centro nacional de difusão de tecnologia e preparação de mão de obra que pode servir como multiplicador para a qualificação no setor. Há diversos exemplos de empresas, tais como a Construtora RJZ, que desenvolve um programa de melhoria da qualidade, e a construtora gaúcha Teitelbaum, que estende suas práticas de gestão a trabalhadores terceirizados e fornecedores. A partir destas experiências, bem como das de outros setores da economia brasileira, pode-se indicar que para o avanço do setor, é necessário que as empresas apresentem em suas estratégias os seguintes aspectos (LANTELME, 1999; ZANELATTO, YUKAREN e FABRIS, 2003): • Produzir em conformidade com normas técnicas. Para isto será necessário um esforço das indústrias e órgãos de classe do setor para padronização e elaboração de normas, devido à insuficiência das existentes. • Treinar e elevar a qualificação da mão de obra para aumento da produtividade; • Modernizar a gestão empresarial e a gestão da qualidade através do emprego de técnicas avançadas; • Utilizar indicadores gerenciais e de competitividade. O setor caracteriza-se principalmente pela concentração de microempresas. Conforme dados do Senai (2005), 76% das empresas de construção civil concentram-se na faixa de microempresas (até 9 empregados), seguido do grupo de pequenas e médias empresas (entre 10 e 99 empregados) com 22,5%. A mesma pesquisa acrescenta que o setor de edificações responde por 66% do total de empresas e 98,2% do número de empregos da indústria de construção civil. 18 O Relatório de Resultados do Fórum de Competitividade da Cadeia Produtiva da Construção Civil (2002) aponta restrições ao desenvolvimento e competitividade do setor, sobretudo em relação à: 1. Baixa eficiência produtiva; 2. Qualidade e produtividade insuficientes; 3. Insuficiente coesão da Cadeia Produtiva; 4. Problemas de marco institucional e; 5. Insuficiência de recursos. Segundo o IBGE (Diretoria de Pesquisas, Departamento de Contas Nacionais), o PIB da indústria da construção civil caiu 2,7% em 2001, 1,9% em 2002, 5,2% em 2003 e cresceu 5,8% em 2004. As principais causas foram: racionamento de energia elétrica em 2001 que paralisou a atividade produtiva; a moratória argentina e os ataques terroristas em 2001 que afetaram a atividade econômica no Brasil; as dúvidas sobre a sucessão presidencial em 2002 com todos os efeitos sobre a taxa de câmbio e de inflação; e a forte política econômica restritiva em 2003 que aumentou a taxa de juros com a conseqüente queda no crédito. Obviamente todos estes fatores drenaram recursos do setor de construção civil, inibindo os esforços de melhoria e produtividade das empresas. Segundo o CBIC (2005), atualmente, o governo procura desenvolver uma estratégia para alcançar os objetivos e metas de desenvolvimento da indústria de construção, baseandose nas seguintes linhas de ação: 1. Programa de qualidade e produtividade na indústria de construção; 2. Programa de capacitação de recursos humanos; 3. Programa nacional de combate a perdas e desperdícios; 4. Programa nacional voltado para a prevenção de acidentes na construção civil. O governo procura também incentivar o setor através de várias medidas microeconômicas tais como: novos limites para financiamento de imóveis usados com recursos do FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço), maiores recursos para financiamento da habitação e saneamento, além do crescimento econômico do país que 19 começa a dar os primeiros sinais de retomada. sem, no entanto, haver garantias de um crescimento continuado. A construção civil tinha, segundo dados do Sinduscon-SP (2003), 289.796 empresas. Destas, 59% eram informais e 41% formais.1 Segundo esta mesma fonte, o segmento formal é responsável por 36,8% do valor adicionado ao Produto Interno Bruto do país pelo setor da construção civil, correspondendo ao lado informal 63,2% do valor adicionado. O setor informal respondeu por 61% da receita total do setor (Sinduscon- SP, 2003). A construção civil adquiriu bens e serviços de outros setores (consumo intermediário) no valor de R$ 91,91 bilhões de reais, sendo que o setor informal foi responsável por 59% deste valor. O setor informal da construção civil foi responsável por 66% do pessoal ocupado na construção civil, ficando o setor formal responsável pelo restante (Sinduscon- SP, 2003). O Estudo Prospectivo da Cadeia Produtiva da Construção Civil (EPUSP,2002) aponta que R$ 52,69 bilhões de reais são gastos na produção de unidades habitacionais, sendo que a auto construção é responsável por R$ 11,21 bilhões de reais, ou aproximadamente 21,2% do fluxo de capital. O referido relatório demonstra que 60% das unidades habitacionais comercializadas no país são referentes à autoconstrução. E este mercado tem como consumidor final o público de baixa renda (até 5 salários mínimos) e média renda baixa (de 5 a 10 salários mínimos). Da análise destes dados, vem a constatação de que as pequenas e médias empresas de construção civil têm pela frente um grande desafio. Existe um mercado potencial em que podem atuar, que é o mercado da autoconstrução. No entanto, este mercado só será disponível para organizações que se disponham a suplantar os benefícios das informais. Não há dúvidas de que o desafio é enorme. As pequenas e médias empresas estão em um momento em que é necessário a tomada de importantes decisões. Ou optam por competir neste mercado hoje dominado pelas informais ou irão focar no mercado mais restrito de alta renda ou média alta renda, enfrentando o poder das grandes empresas do setor. Estas têm maiores recursos financeiros e facilidades de crédito para desenvolver Sistemas de Gestão da Qualidade, utilizar novas tecnologias, criar mecanismos de financiamento etc. Ou seja, tudo que falta às pequenas e médias. No entanto, se as pequenas e médias empresas decidirem competir no mercado de baixa renda e média renda baixa, elas terão que ser excepcionalmente produtivas. Irão competir com empresas informais que têm vantagens oriundas da própria informalidade. 1 No conceito empregado no trabalho citado do Sinduscon (2003), empresas informais são aquelas constituídas por autônomos sem registro ou com empregados não registrados, não possuindo na maioria das vezes constituição jurídica. 20 Ou seja, possuem custo baixo, conhecem o mercado consumidor, têm mecanismos informais de financiamento e, por estarem à margem da lei, não pagam impostos e encargos, resultando em custos muito competitivos. Além disto, podem se adequar à capacidade de pagamento dos clientes, já que têm mais facilidades para ajustar o cronograma da execução de serviços ao investimento disponível dos clientes. Isto pode ser comprovado em qualquer visita a bairros de população de renda baixa, onde visualmente se constata a existência de obras que se arrastam há anos. O consumidor de renda baixa constrói em etapas condicionadas às suas disponibilidades financeiras e a informalidade se adapta a isto. A solução para as pequenas e médias empresas pode estar na aplicação de alguns princípios de inovação enumerados por Prahalad (2005) para os mercados de baixa renda: 1) O foco deve estar na relação preço-desempenho dos produtos e serviços, ou seja, as pequenas e médias empresas de construção civil devem rever suas planilhas de custo buscando esta adequação ; 2) As soluções devem ser inovadoras, porém devem ser compatíveis com a infraestrutura existente, ou seja, as pequenas e médias empresas devem considerar as necessidades destes consumidores de baixa renda: durabilidade e resistência com baixo custo e adequação à possibilidade de obras com conceito de expansão. As PMEs devem buscar novos mecanismos de atendimento a este tipo de consumidor; 3) A redução da intensidade de recursos deve ser um princípio crucial no desenvolvimento de produtos e serviços. Talvez as pequenas e médias empresas de construção civil tenham que considerar a utilização do próprio consumidor de baixa renda como mão de obra, ou buscarem uma postura diferente como gestora de projetos, ou desenvolverem projetos para auto-construção, porém atendendo às normas de qualidade e segurança; 4) Os produtos e serviços devem considerar os níveis de qualificação, infra-estrutura deficiente e a dificuldade de acessar serviços neste tipo de mercado. Desta forma, comprimidas entre as grandes empresas que dominam o mercado de alta renda e pelo setor informal que lhes rouba os consumidores de renda baixa e média renda baixa, só resta às pequenas e médias empresas reverem seus processos e produtos, adequandoos aos princípios enunciados por Prahalad (2005). Algumas pequenas e médias empresas da 21 construção civil entenderam que a implantação de um Sistema de Gestão da Qualidade pode qualificá-las para um posicionamento mais eficaz para enfrentar os desafios existentes. No entanto, para se implantar um Sistema de Gestão de Qualidade há não só um custo inicial alto como também o custo de manutenção do Sistema. Tal fato, em muitos casos, é proibitivo para as pequenas e médias empresas. Problemas financeiros decorrentes dos aspectos citados como: juros altos, falta de acesso ao crédito, baixa produtividade, etc. já dificultam a continuidade destas empresas. Como, então, investir em sistemas que podem melhorar o seu desempenho, se inicialmente os custos aumentam? Em diversos contatos mantidos pelo autor, com pequenos e médios empresários da construção civil, o aspecto custo sempre é ressaltado quando se discutiu a implantação de SGQs. Logo, a motivação para este trabalho surgiu da curiosidade de se avaliar os resultados obtidos por PMEs da construção civil, que se utilizam SGQs, comparativamente àquelas que não os utilizam. Além disto, este assunto já vem sendo pesquisado há algum tempo pelo NITCON2. Baseados em trabalhos anteriores de Amorim (1995,1998), desenvolveram um sistema de indicadores que será detalhado mais adiante nesta tese. Estes indicadores estão relacionados às seguintes dimensões: Finanças, Recursos Humanos, Mercado e Produção. Após uma introdução da construção civil onde são apresentados alguns dados do setor, suas características e iniciada a discussão de como as pequenas e médias empresas do setor estão posicionadas e quais os desafios para a implantação de Sistemas de Gestão da Qualidade neste tipo de organização, passa-se a detalhar qual a situação problema. 1.2 SITUAÇÃO PROBLEMA Em vista dos problemas apresentados na introdução, observa-se um movimento que visa a melhoria dos processos de gestão da qualidade na indústria de construção civil. De acordo com o PBQP-H (2006), no setor privado, a adesão de construtoras aos sistemas de qualidade do SiAC do PBQP-H está se consolidando como fator de diferenciação no mercado. Já são quase 3000 construtoras envolvidas, sendo que mais de 1500 já foram auditadas por organismos certificadores do PBQP-H. Isso demonstra o alto grau de aceitação e a credibilidade que o Programa conquistou no segmento de obras e serviços de construção. 2 NITCON- Aplicações de Novas Tecnologias de Informação no setor de Arquitetura, Engenharia e Construção. Grupo de Pesquisas do Programa de Pós Graduação em Engenharia Civil da Universidade Federal Fluminense. 22 Os recursos demandados para a implantação de um Sistema de Gestão da Qualidade são bastante dispendiosos3 e assim sendo, tal movimento é em sua grande maioria constituído por empresas de grande porte da indústria da construção civil. As pequenas e médias empresas desta indústria apresentam enormes dificuldades de se engajarem neste movimento, principalmente pelo alto custo de tal implantação (SOUZA & SAMPAIO, 1993,1995). Além disto, existem as dificuldades de capital resultantes da instabilidade do período econômico vivido nos últimos anos. O empresário típico deste segmento tem diante de si um dilema. É necessário a melhoria de seus métodos de gestão, a revisão de estratégias, a capacitação própria e de seus funcionários, a busca da melhoria da qualidade e de novas tecnologias. Porém, face à instabilidade presente, não tem recursos nem incentivos para tal. Entretanto, algumas pequenas empresas aceitaram este desafio e buscaram programas formais de treinamento, processos padronizados, programas de qualidade e os resultados têm sido promissores. Pode ser citado, como exemplo, a Teitelbaum que em 2003 ganhou o Prêmio Nacional da Qualidade, categoria Médias Empresas (FPNQ, 2004). No entanto, outras empresas não têm primado pela tentativa de melhorar seus processos de gestão através da utilização de programas formais de qualidade, programas de aprimoramento da mão de obra, utilização de sistemas integrados de gestão etc. Seria necessário que houvesse incentivo para que as empresas de construção civil investissem na melhoria da qualidade e na inovação. Tal incentivo poderia ser representado pela certeza de investimentos em obras e infra-estrutura por parte do governo. Porém, o governo federal com a necessidade de obter superávits primários crescentes restringe o investimento em obras de infra-estrutura e saneamento. A Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior (PICTE), divulgada pelo governo federal em março de 2004, coloca a inovação como um de seus pilares. No entanto, como a gestão econômica e financeira governamental resume-se à obtenção de superávits primários, não observando planos de investimento ou políticas de incentivo à inovação e desenvolvimento tecnológico, o apoio governamental aos processos de inovação é tímido. Para 2006 o investimento do governo federal para todos os setores será de 14,7 bilhões de reais, o que representa cerca de 0,7% do PIB brasileiro. E o setor da construção civil, constituído em sua maior parte por pequenas e médias empresas, não tem incentivos nem recursos para investir na implantação de Programas de Gestão da Qualidade. 3 Segundo dados obtidos com consultorias ( jan.2007) o custo estimado de implantação para uma empresa de construção civil fica no entorno de R$ 100.000,00 a R $150.000,00 compreendendo as etapas de preparação, identificação e avaliação das atividades, implementação dos sistemas de gestão interna, desenvolvimento de conscientização, avaliação, preparação para certificação externa e certificação externa. O valor dependerá do tipo de atividade e do estágio de qualidade em que a empresa se encontra, segundo as fontes consultadas. 23 Situadas entre a ação do segmento informal, com todas as vantagens da informalidade, e as grandes empresas com seu poder financeiro e melhores métodos de gestão, as pequenas e médias empresas necessitam de uma tomada de posição iminente para que: a) Posicionem-se face ao desafio do mercado informal, reduzindo seu custo através do aumento da produtividade, eliminação de retrabalhos, aumento da qualidade. b) Organizem-se em grupos de pressão junto aos poderes executivo e legislativo para que estes entendam a necessidade de financiamento para a implantação de SGQs. Mas será que há diferenças significativas em relação ao sucesso das pequenas e médias empresas que se capacitaram, utilizam Sistemas de Gestão da Qualidade e aquelas que nada fizeram? Assim, deve haver um fator diferenciador para as pequenas e médias empresas da Indústria da Construção Civil que implementaram programas de melhoria de gestão. Isto é o que se pretende estudar através dos resultados obtidos pelas empresas no período da pesquisa (2001-2005). Em seguida, são enunciados os objetivos geral e específicos da tese, as hipóteses e questões específicas. Além disto, estabelecem-se os pressupostos em que foram estabelecidos. 1.3 OBJETIVOS Os objetivos deste estudo são os seguintes: 1.3.1 Gerais Pesquisar as médias e pequenas empresas de construção civil que utilizam Sistemas de Gestão da Qualidade e verificar, através do conjunto dos indicadores desenvolvidos para as dimensões definidas, se há diferenças no desempenho entre as organizações que utilizam SGQ e as que não utilizam. Analisar se a instabilidade do setor e do ambiente econômico brasileiro afeta a implantação de SGQs nas PMEs da construção civil. Pesquisar quais os fatores decisivos para uma perfeita implantação de SGQs em pequenas e médias empresas de construção civil. 24 1.3.2 Específicos • Avaliar o desempenho das médias e pequenas empresas de construção civil que utilizam SGQs em relação àquelas que não utilizam, confrontando os resultados obtidos nas dimensões: Finanças, Recursos Humanos, Mercado e Produção ; • Avaliar como as peculiaridades do setor escolhido para a pesquisa, influenciam na implantação de Sistemas de Gestão da Qualidade ; • Avaliar quais as razões do fracasso ou sucesso na implantação de SGQs nas PMEs da construção civil; 1.3.3 Hipóteses e questões da pesquisa Para que os objetivos mencionados fossem alcançados, partiu-se do pressuposto de que a implantação de Sistemas de Gestão da Qualidade em pequenas e médias empresas da Construção Civil traz benefícios para as empresas. As organizações tornam-se menos suscetíveis a imprevistos e, portanto, podem se organizar melhor e fazer um planejamento mais adequado. Através de medições conseguem verificar quais os pontos deficientes, permitindo que sejam feitos planos para a melhora contínua. Supõe-se, também, que as pequenas e médias organizações que não utilizam Sistemas de Gestão da Qualidade tomam esta decisão devido à inconstância da economia brasileira ou às características intrínsecas da construção civil. Como não têm mecanismos de melhoria contínua, seus resultados devem ser piores que aquelas que tenham implantado Sistemas de Gestão da Qualidade. Dentro destas premissas as seguintes hipóteses foram estabelecidas: 1.3.3.1 Hipótese 1 (H1) As empresas de pequeno e médio porte do ramo de construção civil, que utilizam Sistemas de Gestão da Qualidade, apresentam melhor desempenho do que aquelas que não os utilizam. 25 1.3.3.1.1 Questões chave da Hipótese 1 1) Como é feito o planejamento estratégico das empresas que implantaram Sistemas de Gestão da Qualidade? E naquelas em que não existe processo formal de planejamento, existe algum planejamento? 2) Naquelas empresas onde existe planejamento estratégico, há critérios para a avaliação da performance? 3) O conhecimento dos resultados da aplicação do SGQ chega a todos os níveis da organização? 1.3.3.2 Hipótese 2 (H2) As características do setor de construção civil tais como as citadas por Meseguer (1991): caráter nômade, produtos únicos e não seriados, longo ciclo de aquisição-usoreaquisição, mão de obra de baixa capacitação constituem obstáculo para a implantação de SGQs nas pequenas e médias empresas da construção civil. 1.3.3.2.1 Questões chave da Hipótese 2 1) A implantação e uso de SGQs sofre influências das características do setor? 2) Quais peculiaridades influenciam na implantação e uso de tais sistemas? 3) Como as PMEs procedem para vencer as dificuldades impostas devido a estas peculiaridades? 1.3.3.3 Hipótese 3 (H3) As incertezas do ambiente econômico de um país em vias de desenvolvimento, como o Brasil, restringem a aplicação de SGQs em pequenas e médias empresas de construção civil. 26 1.3.3.3.1 Questões chave da Hipótese 3 1) Como as pequenas e médias empresas de construção civil têm adequado a implantação de SGQs nos momentos de turbulência econômica? 2) Foram disponibilizados pela Alta Administração os recursos necessários para o desenvolvimento dos projetos de implantação? 3) Existem medição dos custos de implantação e dos retornos esperados? 1.4 JUSTIFICATIVA DO TRABALHO São as seguintes as justificativas da pesquisa: 1.4.1 No Contexto Institucional Devido a fatores como: a) importância da Indústria da Construção Civil na economia brasileira e sua facilidade em empregar grandes quantidades de mão de obra rapidamente, sem que os investimentos para isso gerem pressões significativas na balança comercial (FABRÍCIO, 2002); b) à insuficiência dos programas de treinamento e qualificação dos trabalhadores do setor (Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade, 1997); c) as lacunas a serem preenchidas em termos de produtividade e qualidade (McKINSEY,1998). É importante que se busque entender o ambiente empresarial das micros e pequenas empresas, focando as necessidades de implantação de SGQs nestas empresas; sejam verificadas as dificuldades de implantação destes sistemas; como estão posicionadas as empresas que implantaram estes métodos em relação àquelas que não o fizeram. 1.4.2 No contexto da sociedade e da empresa A realização desta pesquisa permitirá às pequenas e médias empresas de construção civil inteirar-se sobre a situação do segmento em relação à implantação de SGQs; determinar quais os fatores críticos para esta implantação, de maneira que as empresas se tornem mais 27 eficazes, com melhores produtos e serviços; verificar o impacto da instabilidade do momento econômico no processo de aprimoramento da gestão das empresas que implantaram SGQs; verificar quais as razões do sucesso destas empresas, se constatado que houve benefícios na implantação ou do insucesso, caso se constate que não houve melhorias; verificar como, a nível macroeconômico, as políticas de Estado e os níveis de relacionamento interferem no sucesso da implantação de SGQs. Em seguida, são explicadas as delimitações da tese. 1.5 DELIMITAÇÕES DO TRABALHO O presente estudo ficará restrito ao sub-grupo de pequenas e médias empresas de construção civil, do ramo de edificações, já que este ramo corresponde a 82% das empresas do setor de Construção Civil, com apenas 91 empresas com mais de 500 empregados (CBIC, 2003; RAIS, 2003; IBGE, 2003) Não se aspira a estudar outro ramo da cadeia da construção civil, nem que as constatações observadas sejam validadas para outros segmentos que não o de pequenas e médias empresas , dedicadas à construção imobiliária. O estudo será restrito às empresas situadas no município do Rio de Janeiro, devido a limitações de recursos e prazos. 1.6 METODOLOGIA: Este trabalho engloba os seguintes campos do conhecimento: a) Qualidade (melhoria dos processos produtivos); b) Engenharia Civil (processos produtivos de construção civil); c) Estratégia (estratégia competitiva) e; d) Inovação (conhecimento tecnológico e difusão do conhecimento). Embora envolva a Engenharia, uma área no campo das ciências exatas, a presente tese está concentrada na atuação de pessoas e organizações e, assim, utiliza procedimentos metodológicos afetos ao campo da pesquisa social. Para Gil (1999) pesquisa social é “o processo que utilizando a metodologia científica, permite a obtenção de novos conhecimentos no campo da realidade social”, realidade que segundo o mesmo autor envolve “todos os aspectos relativos ao homem em seus múltiplos relacionamentos com outros homens e instituições sociais”. 28 De acordo com Gil (1999), a pesquisa bibliográfica é desenvolvida a partir de material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos. Gil (1999) considera que “(...) a principal vantagem da pesquisa bibliográfica reside no fato de permitir ao investigador a cobertura de uma gama de fenômenos muito mais ampla do que aquela que poderia pesquisar diretamente (...)”. Cervo e Bervian (1983, apud AZEVEDO, 2002) afirmam que a pesquisa bibliográfica objetiva: a) Evitar duplicidade de pesquisa; b) Evitar problemas ocorridos em trabalhos anteriores; c) Determinar a contribuição da pesquisa para a base do conhecimento e; d) Obter fundamentação teórica para o desenvolvimento do trabalho. Gil (1999) conclui que as pesquisas exploratórias têm como principal finalidade o esclarecimento e a modificação de conceitos e idéias, tendo em vista a formulação de problemas mais precisos ou hipóteses pesquisáveis para estudos posteriores. O mesmo autor afirma que “(...) de todas as pesquisas, estas são as que apresentam menor rigidez no planejamento. Habitualmente envolvem levantamento de material bibliográfico e documental, entrevistas não padronizadas e estudos de caso (...). Na verdade pesquisas exploratórias são desenvolvidas com o objetivo de proporcionar visão geral, de tipo aproximativo, acerca de determinado fato (...)”. Lakatos (1990) sugere que as seguintes questões sejam respondidas: Como?, Com que?, Onde?, Quanto?. Estas perguntas serão respondidas através do estudo de caso. Sabe-se que os críticos olham o estudo de caso com descrença. Yin (1994) aponta os seguintes argumentos como os mais comuns contra a utilização do estudo de casos: 1. Falta de rigor; 2. Influência do investigador; 3. Falsas evidências; 4. Visões viesadas; 5. São muito extensos e necessitam de muito tempo para serem concluídos e; 6. Fornecem pouquíssima base para generalizações. 29 Tais afirmações são veementemente refutadas por Yin (1994) ao salientar que “um estudo de caso é uma investigação empírica que investiga um fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto de vida real, especialmente quando os limites entre o fenômeno e o contexto não estão claramente definidos”. Lopes Pinto (2002) afirma que o estudo de caso pode “descrever um contexto de vida real no qual uma intervenção ocorreu” e “avaliar uma intervenção em curso e modificá-la com base em um estudo de caso ilustrativo”. Carmo-Neto (1996) diz que o estudo de caso “utiliza casos concretos ao invés de casos hipotéticos, com a finalidade de permitir que, através da maior convivência com a sintomatologia dos problemas e dificuldades inerentes ao caso, o estudante aprenda a diagnosticar e prognosticar a situação e, sob orientação, indicar a terapia e os medicamentos que lhe parecem mais adequados”. Diante do exposto, foi adotada para o presente trabalho uma abordagem bibliográficoexploratória, complementada pela utilização do estudo de caso. Assim, os objetivos traçados para este trabalho poderão ser mais facilmente alcançados. O objeto para o estudo de caso serão as empresas construtoras certificadas comparativamente àquelas não certificadas. Foram consideradas pequenas e médias empresas do ramo imobiliário da Indústria da Construção Civil situadas no município do Rio de Janeiro. O critério adotado para a classificação das empresas é o sugerido pelo SEBRAE, que é reproduzido a seguir. Tabela 2- Classificação de empresas: construção civil Construção Civil Porte Número de funcionários microempresa Até 19 pessoas ocupadas pequeno porte 20- 99 pessoas ocupadas médio porte 100 -499 pessoas ocupadas grande porte acima de 500 pessoas ocupadas Fonte: SEBRAE, 2005 O mercado imobiliário na cidade do Rio de Janeiro vem alternando anos de elevado números de lançamento com outros de baixo número de lançamentos4. Em 1982, houve o lançamento de 14.320 unidades em 217 prédios. Porém, este ano foi atípico, uma vez que ao longo das décadas de oitenta, noventa e início do novo século, os lançamentos oscilaram entre três mil e sete mil unidades (Instituto Pereira Passos, 2003). Os anos dois mil iniciam-se com um viés de baixa, diferentemente das décadas anteriores, que apresentavam após o primeiro ano resultados melhores. 4 O número de lançamentos é utilizado como indicador de atividade e não de produção. 30 Em 2000, o número de imóveis residenciais cadastrados no município carioca era de 1.283.427 unidades, correspondendo a uma área construída de 100.047.499 metros quadrados. Deste total 53% correspondiam a apartamentos. Neste ano, o número de unidades de comércio e serviços era de 188.643 unidades com uma área construída de 36.717.573 metros quadrados. As unidades industriais representavam 5.673 unidades com uma área construída de 7.100.055 metros quadrados (Instituto Pereira Passos, 2003). A tipologia predominante no mercado de lançamentos no Rio de Janeiro é a de dois quartos, embora venha apresentando queda. Em seguida, segue-se a tipologia de três quartos, que tem se mantido estável nos últimos anos. Um fato a ressaltar é a expansão exagerada da tipologia de um quarto no ano 2000. Neste ano houve uma revisão na legislação que favoreceu a produção de unidades com serviços (hotéis residência, flats etc.) (Instituto Pereira Passos, 2003). Pode ser que esta alteração seja a explicação para o lançamento atípico da tipologia de um quarto neste ano. A construção civil na cidade do Rio de Janeiro, no início da década de noventa, absorvia 6% do total do pessoal ocupado, com cerca de 126.000 pessoas. Desde então, há uma tendência constante de baixa, chegando a 2002 com 100.850 postos de trabalho na construção civil, ou 4,2% do total de pessoal ocupado (Instituto Pereira Passos, 2003). Em paralelo à redução do percentual ocupado na construção civil na cidade do Rio de Janeiro, dados do Centro de Informações de Dados do Rio de Janeiro (CIDE, 2004) evidenciam uma redução gradativa do pessoal ocupado na indústria, mas uma variação bem menor no percentual de pessoal ocupado na construção civil. Isto reforça o conceito de que a construção civil é absorvedora de mão de obra. Isto pode ser observado na tabela 3 . 31 Tabela 3- Distribuição percentual das pessoas ocupadas por ramo de atividade na região metropolitana do Rio de Janeiro Anos 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 Distribuição percentual das pessoas ocupadas por ramos de atividade Construção Outras Total Indústria Comércio Serviços Civil atividades 100,00 17,31 7,98 13,75 52,15 8,87 100,00 16,75 8,62 14,14 52,18 8,26 100,00 14,95 8,09 14,03 54,62 9,11 100,00 14,30 7,67 14,54 54,09 9,38 100,00 13,40 6,67 14,84 55,68 9,38 100,00 13,31 6,43 14,99 56,25 9,01 100,00 12,88 6,77 14,48 56,62 9,20 100,00 12,31 6,42 14,55 57,29 9,41 100,00 11,48 6,48 14,59 58,02 9,42 100,00 11,04 6,36 14,56 58,24 9,78 100,00 10,90 9,93 11,47 57,51 10,16 100,00 10,53 6,62 14,56 58,15 10,13 100,00 10,14 6,00 14,43 59,00 10,42 100,00 12,78 7,81 19,21 59,48 0,73 Fonte: CIDE, 2004 Existem cento e vinte e quatro pequenas e médias empresas no estado do Rio de Janeiro, de acordo com o Cadastro Industrial do Estado do Rio de Janeiro 2003-2004 (FIRJAN, 2003). Destas, sete organizações estão classificadas com qualificação A no PBQPH (abril/ 2006), situadas no município do Rio de Janeiro. Este grupo de empresas representará, como amostragem, aquelas que têm Sistemas de Gestão. A escolha deste grupo de empresas foi baseada no fato de que são organizações que apresentam grau de qualificação atestado e com nível de evolução máxima, avaliadas por um organismo certificador acreditado. Constituem, também, um universo pequeno em relação ao número total de empresas do setor. Assim, torna-se mais fácil que um número representativo de pesquisas sejam feitas. Para as que representam empresas sem Sistemas de Gestão da Qualidade utilizou-se o Cadastro Industrial do Estado do Rio de Janeiro 2003-2004 (FIRJAN,2003) para selecionar as empresas, excluindo-se as pequenas e médias empresas de construção civil que tem qualificação A, B, C ou D no PBQP-H (PBQP-H, abril/ 2006). Estas empresas foram excluídas pela razão de apresentarem critérios de qualidade (empresas A, B e C) ou terem desejo de se qualificar (empresas D). Excluíram-se, também, as pequenas e médias empresas que não estão situadas no município do Rio de Janeiro. O critério de seleção dos dois grupos será apresentado mais adiante. 32 As empresas terão seu desempenho comparado em relação aos indicadores citados anteriormente (para as dimensões: Finanças, Recursos Humanos, Mercado, Produção), bem como serão feitas análises em função dos resultados obtidos da verificação de questionários. Estes indicadores serão detalhados no capítulo cinco desta tese. A descrição da metodologia da pesquisa será feita, detalhadamente, em capítulo posterior. Algumas características especiais da cultura empresarial existente nas pequenas e médias empresas da indústria da construção civil ou peculiaridades do tipo de negócio podem limitar as generalizações necessárias para o assunto em estudo. Porém, com a utilização de técnicas, planejamento e métodos recomendados para o estudo de caso, pretende-se obter evidências aceitáveis para estas generalizações. Além do mais, pela comparação entre as experiências citadas pela literatura estudada e aquelas extraídas dos questionários, será retirado o aprendizado necessário para a validação das hipóteses. É apresentada no próximo item como a tese está estruturada, permitindo, assim, o entendimento do desenvolvimento dos capítulos e da seqüência adotada. 1.7 ESTRUTURA DA TESE No capítulo um é feita a contextualização da indústria da construção civil no Brasil. Traça-se um histórico, os principais problemas, as características e as principais tendências do setor. Mostram-se a situação problema e condições atuais da construção civil relativamente aos Sistemas de Gestão da Qualidade. Discutem-se as preocupações do governo em relação a programas de aperfeiçoamento da gestão empresarial para o setor. Abordam-se os objetivos do estudo, delimitando quais pontos se pretende pesquisar. Isto é bem entendido ao serem feitas as principais hipóteses e questões chave. Listam-se também as justificativas da pesquisa. No capítulo dois, definem-se conceitos como inovação, conhecimento tecnológico e como se faz a difusão do conhecimento. É debatido o conceito de que a implantação de Sistema de Gestão da Qualidade é uma inovação tecnológica. Em seguida, no capítulo três é demonstrada a evolução histórica econômica brasileira no período 1930-2005 e detalhado o ambiente econômico do país. No capítulo quatro é mostrada a evolução da qualidade na construção civil e no capítulo cinco são feitas referências ao sistema de medição que permitirá estabelecer comparação entre empresas de construção. 33 No capítulo seis é feita a descrição sobre a metodologia da pesquisa. É apresentado o universo da pesquisa e são explicados métodos, procedimentos e estratégia de análise, terminando com as limitações do método. No capítulo sete explica-se o desenvolvimento da pesquisa, que é também analisada neste capítulo. As conclusões finais e sugestões para próximos trabalhos são apresentadas no capítulo oito. A seguir, é feita a conceituação de inovação, difusão tecnológica, conhecimento e aprendizado e discutem-se as políticas de inovação. Através destas políticas o Estado pode direcionar o desenvolvimento das PMEs. Procura-se concluir como estes fatores influem no desenvolvimento da qualidade, inovação e gestão do conhecimento das pequenas e médias empresas da construção civil. É abordado, também, o conceito de que a implantação de um Sistema de Gestão da Qualidade é uma inovação tecnológica. 2 QUALIDADE, INOVAÇÃO E CONHECIMENTO NA CONSTRUÇÃO CIVIL A inovação e o desenvolvimento tecnológico são essenciais para que haja crescimento do emprego e da produtividade, e a inovação ocorre em qualquer setor da economia, inclusive no setor público. Durante as últimas décadas do século vinte, houve um grande avanço no nível técnico e no empírico, devido ao entendimento dos mecanismos que aceleram ou retardam o ato de inovar. Tal fato é reconhecido pela OCDE (1997). No entanto, apesar de se viver uma importante revolução tecnológica, onde a economia mundial está sendo transformada pelas novas tecnologias da informação e por mudanças ocorridas na biotecnologia, materiais, informática etc., estas alterações tecnológicas não se refletem em aumentos na produtividade do fator total e nas taxas de crescimento da produção. O documento da OCDE (1997), denominado Manual de Oslo, destaca tal fato. O entendimento do processo de inovação é importante para se verificar como ele afeta a atividade econômica no Brasil e, em particular, a indústria da construção civil. O que irá facilitar a concordância do Sistema de Gestão da Qualidade como inovação tecnológica organizacional. Permitirá, também, que as características deste processo nesta indústria sejam esclarecidas. No caso da construção civil no Brasil, observa-se que ela difere de outros setores econômicos, que se apresentam mais avançados em termos de qualidade e produtividade . A consultoria McKinsey (1998) elaborou um extenso relatório sobre os principais segmentos econômicos brasileiros em relação aos níveis de qualidade e produtividade. Neste relatório (McKINSEY, 1998), são apontadas diferenças significativas entre os níveis de qualidade e produtividade da construção civil brasileira e americana. Para a redução destas diferenças, empresas e governo deverão pagar pelos custos do desenvolvimento tecnológico, implementando os necessários investimentos. Se não houver uma conscientização de que é preciso investir na melhoria da qualidade e produtividade da construção civil, as diferenças em relação a outros países nunca serão diminuídas. 35 Um outro problema no atual estágio da indústria da construção civil é a capacitação técnica dos recursos humanos em toda a estrutura organizacional. Para uma economia baseada no conhecimento, a inovação desempenha um papel central. E para que as empresas de construção civil desenvolvam a inovação é necessário que possuam competências estratégicas e organizacionais. Por competências estratégicas a OCDE (1996) entende visão de longo prazo, capacidade de antever e antecipar tendências de mercado, processar e assimilar informações tecnológicas. Competências organizacionais são a disposição para o risco e capacidade de gerenciá-lo, cooperação entre os diversos departamentos , pesquisas de público, clientes e fornecedores, envolvimento na mudança e investimento nos recursos humanos. Na construção civil, ainda não se observam as características ressaltadas pelo referido estudo da OCDE (1996). Muñoz (2001) considera que o gerenciamento das empresas construtoras ainda é caracterizado por uma baixa orientação para o futuro. As estratégias são escolhidas com o objetivo do curto prazo e de reagir às necessidades do mercado. Não existe disposição para o risco, nem cooperação interna entre os departamentos. As características consideradas pela OCDE e as conclusões de Muñoz podem ser extrapoladas para as PMEs da construção civil. Não há envolvimento das PMEs da construção civil no processo de gerenciamento do conhecimento. Pode ser concluído que parte desta falta de envolvimento é devida à baixa qualificação da mão de obra utilizada na construção civil. Amorim (1995) afirma que o operário da construção civil desenvolve mais “habilitação” do que “qualificação”. Desta afirmação pode ser deduzido que as empresas não desenvolvem sistemas de gestão das melhores práticas nem processos de aprendizado e controle, utilizando-se do argumento da baixa qualificação dos funcionários. Assim, é necessário que seja feito um esforço para sua melhor qualificação, permitindo que se tornem mais produtivos e que tenham um melhor entendimento da aplicação de normas e procedimentos. Neste ambiente da construção civil, com poucos recursos para investimento, baixa capacitação técnica dos recursos humanos, deficiência de qualidade e produtividade, é importante que se entenda a conceituação de inovação e gestão do conhecimento e como, através destes mecanismos, alcançar a qualidade e produtividade. Em seguida, passa-se a esta conceituação. 36 2.1 CONCEITUAÇÃO DE INOVAÇÃO Inovação compreende todos os passos científicos, tecnológicos, organizacionais, financeiros e comerciais, inclusive investimentos em novos conhecimentos que de fato levam ou pretendem levar à implantação de produtos ou processos tecnologicamente aprimorados. Alguns podem ser inovadores por si mesmos, outros não são novos, mas são necessários para a implantação. A inovação pode se dar através de mudanças organizacionais significativas, ou alterações em produtos e processos. A inovação organizacional, segundo a OCDE (1997) é composta de: a) introdução de estruturas organizacionais significativamente alteradas ; b) implantação de orientações estratégicas novas ou substancialmente alteradas; c) implantação de técnicas de gerenciamento avançado. De acordo com o entendimento da OCDE (1997) conclui-se que a implementação de um Sistema de Gestão da Qualidade caracteriza-se como uma inovação organizacional. Esta implementação permite que as estruturas organizacionais sejam alteradas, através da melhoria contínua, do estabelecimento de indicadores, da gestão dos recursos etc. Desta forma, novas orientações estratégicas são implantadas. Este processo está em andamento na construção civil brasileira, através de iniciativas como o PBQP-H, PSQ- Qualihab e outros, dos quais se falará mais adiante. A implantação das estratégias segue diferentes alternativas, dependendo das características intrínsecas de cada setor. Desta forma, é necessário que se conheça como a implementação das estratégias age sobre estes setores. Dosi et al (1990) apresentam uma classificação setorial, considerando que as diferentes trajetórias tecnológicas das indústrias podem ser explicadas pelas condições de cumulatividade, oportunidade e apropriação das tecnologias. Esta classificação, que foi desenvolvida baseada em observações sobre os países industrializados, classifica os setores em: • Indústrias dominadas por fornecedores (supplier dominated) englobando os setores tradicionais na manufatura, agricultura, habitação, produção familiar informal e diversos serviços profissionais, financeiros e comerciais. Geralmente, são indústrias compostas por firmas pequenas, com fraca capacitação em engenharia e realização interna de pesquisa restrita. Tais características são observadas na construção civil, onde equipamentos (elevadores por exemplo) ou alguns materiais (como placas 37 cerâmicas) têm todo o desenvolvimento feito pelos fornecedores que lideram o processo, sendo as construtoras meras usuárias. Setores intensivos em escala, incluem os fabricantes de materiais padronizados e de bens de consumo duráveis e veículos. Fazem parte de um sistema de produção complexo, onde os riscos de falha, decorrentes de mudanças radicais, são altos. Assim, as tecnologias são desenvolvidas de maneira incremental, baseadas em experiências anteriores. Na construção civil podem servir como exemplos: revestimentos, estruturas metálicas etc; • Fornecedores especializados (specialized supplier firms) são empresas de pequeno porte que fornecem insumos de alta performance na forma de softwares, máquinas, componentes ou instrumentos. A acumulação tecnológica ocorre através do desenho, construção e utilização dos insumos de produção. As empresas se beneficiam da experiência operacional de seus usuários através de informações, técnicas e identificação de possíveis melhorias a serem realizadas, e, também, o fornecimento de instalações de teste e recursos. Como contrapartida, estes fornecedores dão a seus clientes o conhecimento especializado e a experiência que resultam do projeto e fabricação de equipamentos para diversos outros clientes. Na construção civil, pode-se considerar neste caso escritórios de arquitetura, pequenas empresas especializadas em controle de qualidade, fornecedores de esquadrias etc.; • Fornecedores baseados em ciência (science based) que encampa as indústrias química e eletroeletrônica, onde a acumulação tecnológica vem dos laboratórios das empresas. É muito dependente dos conhecimentos e competências gerados em universidades e institutos de pesquisa. Depois de demonstrada a classificação setorial das empresas segundo a trajetória tecnológica, é importante o conhecimento das características da inovação. Esta deve apresentar as seguintes características, segundo Schumpeter (1934): Introdução de um novo produto ou mudança qualitativa em produto existente; Inovação de processo que seja novidade para uma indústria; Abertura de um novo mercado; Desenvolvimento de novas fontes de suprimento de matéria prima ou outros insumos Mudanças na organização industrial. Uma empresa inovadora caracteriza-se pela implantação de produtos ou processos tecnologicamente novos ou com substancial melhoria tecnológica. A criação dos primeiros microprocessadores pode ser exemplificada como um produto tecnologicamente novo, 38 enquanto a utilização dos métodos do Project Management Institute para gerenciamento de projetos é uma inovação de processos tecnologicamente novos. Schumpeter (1934) vê a inovação tecnológica como a força central do dinamismo do sistema capitalista. Sua abordagem teórica considera a inovação tecnológica um fator fundamental para explicar o desempenho econômico, além de ser um elemento de diferenciação competitiva entre as empresas, tornando-se a peça principal da dinâmica do capitalismo. A teoria schumpeteriana parte do modelo de fluxo circular do sistema econômico, segundo o qual uma economia estacionária se reproduz sem alterações substanciais. O desenvolvimento ocorre ao se romper este fluxo circular, com o surgimento de grandes inovações tecnológicas que ocorrem descontinuamente ao longo do tempo. Tais inovações podem ocorrer dentro das categorias abordadas anteriormente. Schumpeter (1934) acredita que o desenvolvimento não se dá continuamente, e sim alternando períodos de recessão e crescimento. As fases prósperas relacionam-se com a difusão de inovações importantes na produção. Os demais empresários ao verem que aqueles, inovadores, capturam lucros monopolistas derivados da introdução de novos produtos e/ ou processos, decidem imitá-los, surgindo uma onda de investimentos que estimula a economia. Posteriormente, Schumpeter (1961) ressaltou que as grandes empresas desempenham um papel muito importante como fulcro do crescimento econômico, através da acumulação de conhecimento não transferível em determinados mercados tecnológicos. Tal fato denomina-se “acumulação criativa”. Os autores neo-schumpeterianos, tais como: Dosi (1984), Nelson e Winter (1982), Possas (1988), etc. afirmam haver diferenças entre as duas abordagens de Schumpeter através da combinação de quatro fatores referentes aos regimes tecnológicos: a) oportunidades tecnológicas: referem-se à probabilidade de ocorrer inovações, dado um certo esforço para que isto ocorra, dependendo de como o setor vai aproveitar os avanços tecnológicos de clientes e fornecedores e da interação com o progresso científico que acontece em centros de pesquisa e em universidades; b) as condições de apropriação tecnológica: dizem respeito às possibilidades de absorver os lucros da inovação e a capacidade de proteção em relação aos imitadores. Inclui patentes, segredos, efeito das curvas de aprendizado, lideranças etc.; c) a natureza do conhecimento: refere-se a como o conhecimento pode ser aplicado universalmente, sua disponibilidade etc.; d) a cumulatividade tecnológica: aborda a natureza do processo de aprendizado, no quanto o progresso tecnológico é decorrente do estoque tecnológico existente. 39 Dosi et al (1990) acreditam no progresso tecnológico como o motor central na promoção do desenvolvimento econômico. No entanto, ressaltam também a importância das inovações incrementais como fator de diferenciação entre as organizações. Estas ocorrem com maior freqüência do que aquelas, provocando modificações marginais no desempenho do sistema econômico. A construção civil se enquadra nos processos de inovação citados por Dosi, já que se utiliza de melhorias incrementais e da cumulatividade na formulação de inovações (AMORIM,1995). As empresas de construção civil, talvez por lidarem com uma variabilidade grande de processos, preferem utilizar melhorias incrementais. Também, a baixa qualificação profissional e a insuficiência de recursos podem ser outras explicações para esta postura. É fato conhecido a inexistência de setores de Pesquisa e Desenvolvimento nas empresas de construção civil, quanto mais nas PMEs deste setor. Mesmo no Brasil, de um modo geral, os investimentos em Pesquisa e Desenvolvimento não são significativos quando comparados a outros países. Nos países desenvolvidos e em alguns países asiáticos de industrialização recente (em inglês conhecido como “new industrialized countries”, ou NICs), as empresas são as principais responsáveis pela inovação tecnológica. Segundo Matesco e Hasenclever (1996), a participação das despesas executadas por empresas públicas e privadas dos Estados Unidos, Japão, Alemanha, Canadá, Itália e Espanha (dados dos anos noventa) em relação às despesas totais de Pesquisa e Desenvolvimento era superior a 50%, enquanto que no Brasil o percentual era de cerca de 25%. Muñoz (2001) enfatiza que “praticamente nenhuma empresa de construção civil possui setores de Pesquisa e Desenvolvimento voltados para a inserção de sistemas e processos construtivos que busquem a racionalização e a industrialização e que se orientem para a simplificação da execução”. Dentro da abordagem neo-schumpeteriana, diversos autores procuraram demonstrar a importância da inovação tecnológica como determinante chave da competitividade econômica. Freeman (1963, 1965, 1968) apud Tigre (2002), ao estudar a indústria de plásticos, concluiu que o progresso técnico leva à liderança na produção desta indústria, já que os segredos comerciais e patentes dão proteção por certo período ao inovador. Quando começa a haver imitação do produto, fatores mais tradicionais de ajustamento e especialização passam a determinar os fluxos comerciais. O autor também verificou que o domínio do mercado mundial de bens de capital eletrônicos pelos Estados Unidos derivava de sua liderança tecnológica no setor, assim como a liderança alemã no setor químico associava-se a elevados investimentos em Pesquisa e Desenvolvimento. Destes estudos, Freeman conclui 40 que o hiato entre inovadores e imitadores está relacionado à sustentação do fluxo de inovação e à ausência ou à fragilidade das externalidades necessárias para inovar nos imitadores. Novas tecnologias concorrem com as tecnologias existentes e, se forem melhores, as substituem. Como o setor da construção civil pouco se utiliza da absorção de novas tecnologias, não é comum a aplicação de novas técnicas construtivas neste segmento. As novidades são direcionadas pelos fornecedores. A utilização de inovações é restrita. Um exemplo da aplicação de novas tecnologias na construção civil é a introdução de novas técnicas para a construção de varandas em prédios antigos. O uso de estruturas de aço pré-fabricadas com técnicas de montagem industrial, permitiu que algumas empresas tivessem vantagem na utilização desta tecnologia, ocasionando a obtenção de diversos contratos para adição de varandas em prédios antigos da zona sul do Rio de Janeiro. Outro exemplo é a utilização de divisórias de gesso acartonado para paredes internas em construções residenciais e comerciais, reduzindo custos de mão de obra, ganho de espaço interno e permitindo a utilização de estruturas mais esbeltas. Freeman (1979) salienta que um processo de inovação com chances de sucesso depende de uma combinação favorável de oferta de tecnologia e demanda do mercado. O autor ressalta a importância de que, do lado da oferta, haja: (i) conhecimento tecnológico e científico; (ii) recursos humanos; (iii) informações sobre o mercado desejoso daquela inovação; (iv) capacitação gerencial para garantir a pesquisa, desenvolvimento, produção e vendas; e (v) recursos financeiros disponíveis. Pode-se afirmar que nenhuma destas condições se encontra disponível nas pequenas e médias empresas da construção civil. A bibliografia mostra uma fraca disponibilidade de conhecimento tecnológico e científico, existência de poucos recursos humanos qualificados, falta de informações disponíveis sobre o mercado e pouca disponibilidade de recursos financeiros. Como não há estoque tecnológico disponível, tampouco mão de obra qualificada, nem recursos financeiros disponíveis, não resta às PMEs outra alternativa em relação ao desenvolvimento da inovação, senão inovar através da melhoria incremental. Para uma empresa inovar, ou seja, mudar capacidades, desempenho e ativos tecnológicos, existem três tipos de opções: a) Estratégicas, tais como decisões sobre tipos de mercados em que irão atuar, que tipos de inovações que neles tentarão introduzir. b) Pesquisa e Desenvolvimento, referente a decisões relativas à pesquisa básica, pesquisa estratégica e conceitos de produtos. 41 c) Não Pesquisa e Desenvolvimento, onde a empresa pode envolver-se em muitas atividades que não têm relação direta com P&D, embora desempenhem papel importante na inovação, tais como: identificar novos conceitos de tecnologia de produção, treinamento, reorganização de processos etc. As empresas de construção civil não são fortes nas opções estratégicas ou de pesquisa e desenvolvimento, preferindo optar pela terceiro tipo de opção, ou seja a não pesquisa e desenvolvimento, como por exemplo os Sistemas de Gestão da Qualidade. A mudança organizacional é considerada como uma inovação apenas se houver mudanças mensuráveis nos resultados, tais como aumento de produtividade ou vendas. Empresas de construção civil que estejam certificadas pela ISO 9001:2000 ou estejam dentro dos critérios do PNQ atendem estas características. Estas empresas têm processos de orientações estratégicas novas, implantam técnicas de gerenciamento avançado e, através dos índices de mensuração, podem comprovar as mudanças nos resultados. Esta argumentação fortalece a tese aqui considerada, e que será vista em detalhes mais adiante, de que Sistemas de Gestão da Qualidade representam uma inovação tecnológica. Não faz sentido haver inovação tecnológica se não houverem condições para sua difusão. Desta forma, em seguida, após ter sido feita a conceituação de inovação, discute-se como a mesma é difundida. 2.2 DIFUSÃO TECNOLÓGICA O crescimento econômico depende não apenas do aparecimento de inovações, mas também de condições que permitam sua difusão. A difusão tecnológica é, via de regra, de longa duração e envolve o aprimoramento incremental, tanto de novas tecnologias, como das já existentes. O assunto da difusão tecnológica tem sido estudado por autores como Matesco (1993), Tigre (1997) e organizações como a OCDE (1996). Dosi et al (1994) sustentam que a difusão da inovação não é algo instantâneo e esclarecem que esta pode ser atrasada por fatores como: a) falta de infra-estrutura adequada para que a assimilação ocorra; b) diferenças entre os agentes envolvidos; c) tempo necessário para absorção e desenvolvimento de novas competências necessárias. Todos estes fatores estão presentes na construção civil, dificultando, então, o processo de difusão. Não há, por parte das empresas de construção civil, uma infra-estrutura que permita a assimilação da inovação. A cadeia produtiva da construção é muito difusa e não há tradição de troca de 42 conhecimentos entre os participantes. Apesar de haver algumas experiências positivas de transferência de conhecimento para o segmento (SEBRAE, SINDUSCONs etc.), tal fato é uma exceção e não a regra, conforme evidenciado por pesquisadores como Farah (1996), Muñoz (2001) e outros. Devido à importância dos processos de difusão tecnológica para os países em desenvolvimento, como é o caso do Brasil e, especificamente, para as micros e pequenas empresas da construção civil, é importante evidenciar o papel das atividades de Pesquisa e Desenvolvimento, inexistente nas empresas de construção civil (MUÑOZ, 2001). Para Cohen e Levinthal (1989), as empresas deveriam considerar que investimentos já realizados pelas organizações em Pesquisa e Desenvolvimento tornam os custos de absorção baixos, já que a capacidade de absorção de conhecimento pelas empresas depende de seus investimentos na área. Segundo os autores, tais atividades não apenas geram novas informações, mas elevam a capacidade das organizações em assimilar e explorar os conhecimentos já existentes, aprimorando, assim, sua capacidade de aprendizado e absorção. Pavitt (2002) salienta que as atividades de Pesquisa e Desenvolvimento cresceram rapidamente na Coréia do Sul, Japão e Taiwan, países que realizaram com muito sucesso imitações tecnológicas. No entanto, no Brasil não se observa nenhuma iniciativa no sentido de incentivar as atividades de Pesquisa e Desenvolvimento, nem para a difusão do conhecimento na construção civil. Além destes programas não estarem sendo efetivamente implementados, devido a atual política econômica de geração de superavits primários, que restringe gastos, não se observa menção alguma à implementação de programas de Pesquisa e Desenvolvimento e de políticas de difusão tecnológica para o segmento da construção. A política governamental enxerga o segmento, apenas, como absorvedor de mão de obra. Questões como o déficit habitacional e autoconstrução que poderiam ser estudados e terem soluções oriundas de uma política de Pesquisa e Desenvolvimento ou de difusão tecnológica através de soluções implantadas em outros países após a devida “tropicalização”, não são abordadas. Bell e Pavitt (1993) abordam a relação de inovação e difusão entre os países e a imprecisão relativa ao termo difusão tecnológica. Argumentam que a evolução tecnológica tem sido, equivocadamente, caracterizada por duas atividades principais: o desenvolvimento e a comercialização inicial de novas tecnologias (inovação) e a aplicação progressiva destas (difusão). A primeira está concentrada nos países desenvolvidos, passando a fazer parte dos países em desenvolvimento apenas quando estes se aproximam da fronteira tecnológica, como aconteceu com a Coréia do Sul. Até atingir este estágio, os países em desenvolvimento apenas 43 adotam as tecnologias geradas e difundidas através da aquisição do existente, sendo a criação irrelevante. Tal situação é verificada na construção civil, que utiliza apenas a difusão tecnológica (AMORIM, 1995; MUÑOZ, 2001). Não basta adquirir máquinas e equipamentos modernos, se os que se utilizam de tais máquinas e equipamentos não tenham nenhum papel no desenvolvimento da tecnologia escolhida. A difusão tecnológica envolve mais do que a simples aquisição de máquinas ou assimilação de conhecimento operacional. Envolve mudanças técnicas contínuas, geralmente incrementais, através das quais as modificações originais são adaptadas às condições particulares de uso em situações específicas, sendo aperfeiçoadas para um desempenho superior ao original. Esta idéia foi debatida por Bell e Pavitt (1993), que rejeitam a idéia de que os adquirentes de uma tecnologia não tenham nenhum papel em seu desenvolvimento. O conhecimento das condições da construção civil é primordial para a análise da difusão da tecnologia da qualidade neste ambiente. Farah (1996), Santiago (2002), Ambrozewicz (2003), consideram que a construção civil no Brasil apresenta atraso tecnológico e organizacional devido aos seguintes aspectos: base manufatureira de produção, baixa produtividade, desperdício de materiais, condições precárias de trabalho e técnicas gerenciais ultrapassadas. Para o autor desta tese, outros fatores que dificultam a introdução da inovação na construção são: relutância ao investimento devido à ciclicidade econômica e risco da inovação. Apesar de avanços no setor, o que pode ser demonstrado pelo aumento das empresas com certificação no PBQP-H, tais fatores ainda estão presentes na construção civil. É necessário ressaltar que sem a solução de fatores restritivos para o desenvolvimento da inovação e difusão tecnológica tais como: falta de financiamento, baixa capacitação de recursos humanos, inexistência de laboratórios, poucos investimentos em Pesquisa e Desenvolvimento nas universidades etc, pouco será modificado na atual situação das PMEs da construção civil em relação à difusão e inovação. É importante que as pequenas e médias empresas da construção civil desenvolvam o planejamento, condições e infra-estrutura para que recuperem o saber fazer técnico e organizacional. Como as pequenas e médias empresas não possuem recursos financeiros nem humanos para tal tarefa, precisarão do suporte do Estado em tal empreitada. Neste saber fazer é necessário, também, direcionar os esforços para outro grande desafio, que é a informalidade. Deve ser feito um esforço planejado para que conheçam em detalhes o mercado mais cobiçado pelas empresas nos dias de hoje: o consumidor de baixa renda (PRAHALAD, 2005). Existe um risco nesta opção já que as pequenas e médias empresas necessitarão fazer 44 investimentos para conhecer o cliente, o mercado e rever métodos e processos. Além disto, é necessário a existência de mecanismos que garantam a expansão do conhecimento e a retenção do aprendizado. O conhecimento e o aprendizado constituem o recurso mais importante para a inovação e a competição e , assim, passam a ser discutidos a seguir. 2.3 CONHECIMENTO E APRENDIZADO Se as empresas forem inovadoras, a economia, como um todo, também o será. A capacidade tecnológica de uma empresa está, em parte, dependente de sua força de trabalho. Empregados capacitados são considerados imprescindíveis para uma empresa inovadora, já que sem eles a empresa não conseguirá dominar novas tecnologias e muito menos inovar. É necessária a capacitação para entender e operar processos, transmitir aos clientes as especificações e limitações dos produtos, entender e resolver os problemas dos clientes e principalmente, estar conectado ao ambiente mutante das questões tecnológicas. Desta forma, aborda-se um outro aspecto primordial para o desenvolvimento das micros e pequenas empresas da indústria da construção civil brasileira, que é o aumento de conhecimento e aprendizado do pessoal empregado neste segmento. O nível de educação da população de um país é fator preponderante na capacitação da mão-de-obra para absorção das novas tecnologias. Como ressaltado pela OCDE (1999), “na sociedade baseada no conhecimento, os trabalhadores precisarão aprender e adquirir novas habilidades durante toda sua vida”. Assim, aqueles países nos quais os trabalhadores não se mantiverem atualizados e em constante aprendizado tendem a ficar defasados em relação ao progresso tecnológico, não absorvendo novas idéias, não criando e com seu estoque de conhecimento tecnológico diminuído e ultrapassado em função dos novos avanços. Torna-se, então, necessária uma ação dos setores envolvidos nesta área a fim de atingir todos os níveis educacionais: básico, técnico e universitário. A ênfase dependerá do nível de industrialização e de utilização /produção de idéias em que cada nação se encontre. Kim (1998) observa que o governo deve expandir os investimentos em educação antes mesmo de iniciar o programa de industrialização. A primeira necessidade é a formação de capital humano. Como haverá um hiato entre a demanda pelo capital humano e a existência de um estoque inicial para supri-lo, o autor defende a idéia de que no início do processo de industrialização os países devem suprir esta deficiência através da exportação dessa mão de obra. Tal política, segundo Kim (1998), permitirá a acumulação de um estoque de capital 45 humano, ainda que fora do país, que poderá , à medida que as condições internas melhorem, ser atraído de volta. No caso brasileiro, considerando-se o estágio de industrialização e capacitação alcançado, deve ser ressaltada a necessidade de se estimular a permanência de mão-de-obra qualificada no país, evitando-se a evasão de pessoal qualificado. Deve ser ressaltado o fato de que há diferenças entre a situação da indústria de construção civil e outros setores em relação à capacitação da mão de obra. No entanto, ainda há muito que se fazer no campo da educação básica. O Brasil está em um patamar intermediário entre as economias menos desenvolvidas e as industrializadas. Apesar de possuir universidades e centros de pesquisa de competência internacionalmente reconhecida, o país apresenta um sistema de educação básica extremamente deficiente, de modo que o governo precisa priorizá-lo para incrementar a educação básica. O aumento no conteúdo de conhecimento científico e tecnológico dos bens e serviços traz um novo desafio para países, regiões, sociedades ou organizações já que a capacitação científica e tecnológica é pré-condição para o sucesso. Existem duas dimensões para a competição centrada no processo de inovação (FLORIDA, 1995; AYDALOT e KEEBLE, 1988): a) capacidade empresarial em promover pesquisa e desenvolvimento, identificação de novos processos e produtos que assegurem o sucesso econômico da organização. b) capacitação local de aprender para criação de uma atmosfera de transformação e progresso para o aprendizado regional e coletivo. Como já foi discutido, não são encontradas na construção civil estas duas dimensões. O desenvolvimento da pesquisa e desenvolvimento, identificação de novos processos e produtos não é considerado objetivo estratégico pelos empresários, salvo honrosas exceções. Outra deficiência, como já ressaltado, está na capacitação para o aprendizado encontrada na construção civil. Cooke (1988), Lundvall e Johnson (1994) afirmam que o processo de aprender é fortemente localizado, em função da forma com que interagem pesquisa, experimentação prática e ação através dos processos de aprender fazendo, usando, interagindo e aprendendo (learning by doing, learning by using, learning by interacting and learning by learning). Conclui-se então, que, com o aumento da velocidade do aprendizado e da inovação, o ciclo de vida dos produtos diminui, decorrendo daí uma necessidade crescente da capacidade de resposta e da aceleração do processo de pesquisa e inovação. 46 Os operários da construção civil possuem baixa qualificação, aprendem a utilização de novas técnicas pela repetição e as empresas têm como estratégia a diminuição do risco com a adoção de tecnologias já testadas e aprovadas. Não há troca de informações entre as PMEs em relação a novos procedimentos e são muito fechadas em relação aos métodos utilizados Desta forma, as empresas de construção civil ainda estão no processo de learning by doing e de learning by using, não chegando a utilizar o learning by interacting e learning by learning . Além disto, as PMEs da construção civil se defrontam com outro problema em relação ao conhecimento e aprendizado, decorrente da terceirização de serviços. Para reduzir custos administrativos e previdenciários, muitas empresas terceirizam serviços. Procedendo desta forma, perdem grande parte de seu conhecimento técnico e organizacional, não podendo mais resolver sozinhas os problemas ligados à gestão da mão de obra. Esta situação foi detectada por Cardoso (1996). As pequenas e médias empresas da construção civil precisam participar mais de associações onde os problemas comuns possam ser debatidos e soluções possam ser buscadas. Poderão, assim, compartilhar problemas, integrar e implementar novos métodos e ferramentas, aprender fora dos limites da organização. Com o advento da globalização, é importante que as organizações gerenciem de maneira eficaz o processo do conhecimento e aprendizado. Se assim procederem, estarão mais preparadas para a crescente competição do mercado global. Uma das ferramentas que auxiliam as empresas nesta atividade é a utilização da tecnologia da informação. Isto é ressaltado por Possas (1993) ao comentar que a microeletrônica e a tecnologia da informação interagem entre si. O autor detalha os traços característicos de tal interação, a saber: a) Concorrência por inovação de produtos e processos, centrado no domínio do padrão tecnológico predominante. b) Novas tecnologias mais intensivas em aprendizado e qualificação de mão de obra, sobressaindo-se o caráter tácito e cumulativo da tecnologia. c) Abertura de uma perspectiva de flexibilidade produtiva no uso das novas tecnologias diante das pressões competitivas. d) A globalização da concorrência, definindo estratégias corporativas (financeira, tecnológica, produtiva e comercial). As pequenas e médias empresas da construção civil devem atentar para os aspectos enumerados por Possas (1993). 47 Verifica-se a importância das políticas de Estado para que o conhecimento e o aprendizado da inovação prosperem no ambiente econômico. É necessário que as políticas de inovação sejam discutidas, bem como sua aplicação às PMEs da construção civil. 2.4 POLÍTICAS DE INOVAÇÃO Possas (1996) lista uma série de condições, denominadas fatores sistêmicos de competitividade, que são indispensáveis para que os países adquiram os requisitos mínimos para competir. São elas: a) Fatores que permitam a criação de um ambiente competitivo, com a criação de mecanismos de pressão sobre as empresas e mercados. b) Aspectos políticos- institucionais contidos em uma estratégia de política industrial para garantir uma eficiência seletiva dentro dos moldes definidos pela globalização. c) Geração de educação básica e qualificação de recursos humanos; infra-estrutura de transportes, telecomunicações, energia e serviços e uma infra-estrutura de ciência e tecnologia. Existem diversos parâmetros que afetam os custos de produção e a qualidade dos produtores, tais como: qualidade, disponibilidade e custos de insumos específicos (mão-deobra e serviços tecnológicos) e outros mais gerais (modos de financiamento, tributação, taxa de câmbio, taxa de juros, política tecnológica e outros). Estes são elementos diferenciadores locais em relação à capacidade de penetração das organizações em outros países ou blocos econômicos. Tyson e Zysman apud Possas (1993) enfatizam que o conceito de vantagem comparativa deve ser entendido como o processo cumulativo da capacidade da empresa e opções políticas do governo, não se tratando simplesmente do efeito de dotações de capital, trabalho e recursos. Verifica-se, então, que o governo é um ator importante neste cenário. Assim sendo, se não houver uma atuação conjunta entre este e órgãos de classe da indústria da construção civil, através de políticas macro e micro-econômicas que privilegiem as micro e pequenas empresas do setor, não se criará o processo cumulativo preconizado por Tyson e Zysman apud Possas (1993). O governo deveria agir em seus três níveis: municipal, estadual e federal, no sentido de criar políticas que possam auxiliar o desenvolvimento da construção civil. Atualmente, no Brasil, existem diversos fatores que dificultam as PMEs da construção civil tais como: i) dificuldade de acesso ao crédito imobiliário, ii) elevada taxa de juros , iii) 48 política tributária excessiva, iv) pouca oferta de solo urbano, v) inexistência de planos de transporte coerentes que facilitem a movimentação da população de baixa renda, vi) dificuldade para abertura de empresas etc (RIBEIRO, 2006). Entretanto, não há um plano integrado que atente para o desenvolvimento da construção civil, considerando estes fatores e suas interligações para a elaboração de políticas setoriais. Desde a extinção do Banco Nacional da Habitação, não existe uma política para o problema habitacional. O plano existente poderia não ser o ideal, mas a existência de um plano era um fator relevante. O governo poderia desenvolver políticas para incentivar a inovação na construção civil com foco nas PMEs, atentando às razões enunciadas por Rothwell e Zegveld (1981): a) A distribuição de poder econômico através das PMEs incentiva uma distribuição mais igualitária de poder na sociedade; b) Uma alta concentração de mercado conduz à ineficiência econômica; c) As PMEs são um complemento necessário, e não alternativo, às empresas de grande porte; d) As PMEs devem ser mais valorizadas que sua parcela de mercado sugere. Isto porque, devido à diversificação de seus produtos, são capazes de melhor atender aos gostos individuais dos consumidores, ao contrário dos produtos padronizados das grandes indústrias. Ao criar políticas para o setor, é importante que os governos atuem através de políticas coerentes que considerem o comportamento das empresas. Uma estratégia política eficiente terá de combinar várias ações macroeconômicas estruturais. A coerência do pacote de políticas é uma condição para o sucesso, e ela depende tanto da validade da estrutura política, quanto da qualidade do processo de formulação. Faz-se necessário uma abordagem sistêmica na orientação de tais políticas. Para que estas sejam eficazes, deve-se atentar para o todo, levando em conta os seguintes elementos: sistema educacional básico, treinamento técnicoespecializado, apoio à pesquisa, infra-estrutura de comunicações, instituições financeiras, contexto legal e macroeconômico, acesso ao mercado e, finalmente, a estrutura industrial e o ambiente competitivo. Todavia, no Brasil , o que se observa em relação à construção civil é que o governo não tem esta ótica, considerando a mesma como sendo de utilização intensiva em mão de obra não qualificada, sendo este seu vetor principal para o setor. Amorim (1995) considera que até mesmo a legislação urbana bloqueia o processo de inovação e competitividade ao estabelecer um número restrito de soluções . 49 Rothweld e Zegveld (1981) fazem referência a estudos empíricos que mostram ser a taxa e direção da inovação influenciadas pelos seguintes fatores: custo, demanda, competição e capacitação tecnológica. Os autores adicionam ainda um quinto fator, que é a influência dos participantes no processo de inovação. Mas, enfatizam que se referem ao crescente número de participantes, que direta ou indiretamente, influenciam no processo de desenvolvimento tecnológico. São eles: sindicatos, grupos organizados de consumidores, governo etc. O papel destes participantes será cada vez mais fundamental nas mudanças das estruturas e na difusão tecnológica. Atualmente, a taxa e direção das atividades de inovação têm sido fortemente influenciadas pela nova consciência social do público em relação aos efeitos negativos da ciência e tecnologia, trazendo em contra-partida novos regulamentos mais restritivos. Em nosso país, esta influência pode ser sentida através de alguns exemplos. Pode ser citado o Código de Defesa do Consumidor de 1990, que levou os construtores a considerar a qualidade como um aspecto de competitividade na construção de edifícios (CARDOSO et al, 2004). O processo de inovação pode ser influenciado pelos governos através de compras de produtos e serviços. Segundo Rothwell e Zegveld (1981) a utilização de compras governamentais para exercer esta influência requer a perspectiva de se correr riscos, e investir grandes somas. Esta atuação do governo será justificada por um propósito de interesse nacional, por necessidades de prestígio, por motivos de segurança nacional ou por graves problemas sociais. Um exemplo da utilização de compras governamentais para apoiar um programa de desenvolvimento tecnológico, desde o estágio inicial até o final, é o programa militar americano de microeletrônica, conforme citado em Rothwell e Zegveld (1981). O governo brasileiro não está exercendo esta influência, já que ao exercer o poder de compras não estabelece a prescrição de exigências tecnológicas que poderiam direcionar a inovação na construção civil. Além disto, conforme dados extraídos de Amorim (2002), sua participação no volume de compras na cadeia produtiva da construção é de apenas cinco por cento. Ou seja compra pouco e quando compra não exerce um poder direcionador para as especificações. Este poder de compras governamental poderia ser utilizado na compra de insumos para a autoconstrução, por exemplo. Atualmente, alguns passos estão sendo dados com a redução de alguns impostos para insumos. No entanto, deveria ser feito um programa mais amplo com redução dos impostos incidentes sobre insumos destinados à autoconstrução, linhas de financiamento para autoconstrução com exigências tecnológicas para o fornecimento dos insumos etc. Já existem programas direcionados à autoconstrução gerenciados pela Caixa Econômica Federal tais como o Construcard Caixa, o Construcard FAT, a Carta de Crédito 50 FGTS- Individual. Entretanto, tais programas apresentam problemas como: excesso burocrático, taxas de juros altas e dificuldades de acesso ao crédito. Kline e Rosenberg (1986) criaram uma interessante abordagem para o modelo de inovação denominado “modelo do elo da corrente”. Neste modelo, a pesquisa não é vista como uma fonte de idéias inventivas, mas como uma forma para solução de problemas a ser utilizada em qualquer ponto. Quando os problemas surgem no processo de inovação, uma empresa lança mão de sua base de conhecimentos naquele momento particular, que se compõe de resultados de pesquisas anteriores e experiência prática e técnica. O sistema de pesquisa assume as dificuldades que não puderam ser resolvidas com a base de conhecimentos disponíveis, ampliando-a, assim, com sucesso. Hall (1994) discute o modelo proposto por Kline e Rosenberg (1986). O autor ressalta que, ao ser confrontada por um problema durante o processo de inovação, a organização procura uma solução na base de conhecimento existente (formada pelas pesquisas já realizadas e pela experiência técnica e prática). Se esta base não permite a resolução do problema, uma nova pesquisa é feita, objetivando eliminar o problema (HALL, 1994). PESQUISA CONHECIMENTO MERCADO POTENCIAL INVENTA PROJETO OU PRODUZ DETALHADO PROJETO E ENSAIO ANALÍTICO REDESENHA E PRODUZ DISTRIBUI E COMERCIALIZA Figura 1- O Modelo da Inovação como Elo da Corrente Fonte: Kline & Rosenberg, 1986 Rothwell (1994) discutiu vários outros sistemas de construção do modelo, incluindo modelos paralelos com altos níveis de integração funcional, sugerindo sua extensão até a quinta geração, ou modelos SYN (System Integration and Networking- Integração de Sistemas e Formação de Rede) que também prevêem mudanças nas tecnologias através das quais a própria mudança tecnológica é transmitida. Um outro modelo é apresentado por Pavitt (1984) que considera “empresas dominadas pelos fornecedores”, “empresas de produção intensiva” e “empresas baseadas em 51 ciência própria”, além de usar a base de dados da SPRU (Scientific Policy Research Unit) para análise das conexões entre elas. A inovação, no setor da construção civil, pode ser sustentada através de uma política tecnológica que, dentre outras medidas, fomente o fortalecimento de centros de pesquisa para o setor. É necessário vincular a formação de pessoal no exterior ao fortalecimento destes centros, permitindo que este pessoal ao retornar, tenha onde continuar a desenvolver e a utilizar as competências adquiridas. As pesquisas nestes centros devem ser direcionadas para o desenvolvimento de tecnologias aplicadas à construção civil (processos, equipamentos, novos materiais etc.). A capacidade de gerar inovações tecnológicas na construção civil, também, deve ser incentivada através de medidas como: formação sistemática e orientada de recursos humanos, valorização social das atividades científicas e tecnológicas e investimentos de longo prazo em pesquisa científica e tecnológica. Assim, se aumentará o estoque de conhecimento no setor e, através deste conhecimento, modelos como o elo da inovação da corrente, poderão resolver problemas no processo produtivo da construção civil5. Uma política de formação de recursos humanos contribuirá para a transformação dos processos produtivos, aumentando a competitividade. Conforme já ressaltado, a inovação pode ser feita pela implantação de produtos ou processos tecnologicamente aprimorados ou então, através de mudanças organizacionais significativas. De acordo com a visão de Schumpeter (1934), as inovações devem apresentar as características expostas anteriormente. Contudo, para que a inovação ocorra é necessário que existam pré-condições favoráveis. As organizações devem escolher a melhor opção a seguir: estratégica, pesquisa e desenvolvimento ou não pesquisa e desenvolvimento. As empresas de construção civil adotam preferencialmente a opção de não pesquisa e desenvolvimento. Conforme já evidenciado, as empresas do segmento preferem utilizar da difusão tecnológica com mudanças contínuas, incrementais. 5 Uma alternativa para isto seria a criação de um organismo para a construção civil semelhante à Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária- EMBRAPA que foi responsável por um notório avanço do Brasil no agronegócio. Se houvesse um órgão semelhante para a construção civil, o setor poderia criar inovações e progresso tecnológico com o aumento da produtividade. 52 Tal opção é justificada por uma série de fatores que dificultam a utilização da inovação por parte das empresas de construção civil. Os fatores sistêmicos de competitividade enunciados por Possas (1996) como a criação de mecanismos de pressão competitiva, estratégia de política industrial, geração de educação básica, qualificação de recursos humanos e criação de infra-estrutura inexistem. E, especificamente no caso das PMEs da construção civil, Rothwell e Zegveld (1981) apontam uma série de razões que dão apoio a uma política industrial que dê ênfase às PMEs: distribuição mais eqüitativa, melhor capacidade de atender ao mercado devido à diversificação de produtos e expansão do mercado dentre outras já citadas. No entanto, Bielshowsky e Stumpo (1996) apontam os seguintes entraves para as PMEs em geral e que se aplicam às da construção civil: 1. Existência de restrições orçamentárias para investimentos em infra-estrutura; 2. Inexistência de instrumentos hábeis para a defesa do consumidor e de estímulos para a elevação de suas exigências; 3. Ausência de mecanismos de incentivo à concorrência no mercado doméstico em áreas críticas para a competitividade da produção nacional direcionado para as pequenas e médias empresas; 4. Carência de uma reforma tributária que elimine os impostos em cascata, privilegiando as pequenas e médias empresas; 5. Inexistência de um sistema de crédito abrangente e competitivo direcionado para as pequenas e médias empresas; 6. Deficiência de recursos para o incentivo da pesquisa tecnológica e capacitação profissional direcionados para as pequenas e médias empresas. Para que as PMEs possam exercer a inovação e melhorar seu desempenho, são necessárias algumas providências. Michel (2003) considera ser necessária a adoção de uma política industrial que privilegie a industrialização do setor da construção civil, de modo que esta liderasse o processo de aumento da produtividade brasileira. Tal política pode direcionarse às PMEs estabelecendo que estas em lugar de se dedicarem a construção completa de prédios residenciais ou comerciais, especializem-se nas funções constitutivas da construção civil buscando o aperfeiçoamento.6 Muñoz (2001) sugere a reunião de diversas competências: 6 Em uma das entrevistas realizadas foi discutido o caso de uma PME que descobriu um nicho de mercado. Há um crescimento de construções hospitalares particulares no município do Rio de Janeiro e esta empresa está se especializando no atendimento a este sub-segmento, onde irá trabalhar apenas com instalações de salas de emergência, instalações de suprimentos (oxigênio, ar comprimido etc.), lavanderias hospitalares etc. E está pensando, também, em contratos de manutenção para estas instalações. 53 empresas, universidades, institutos de pesquisa do setor visando à promoção de ações inovadoras na construção civil brasileira. É importante que as condições necessárias para o processo de desenvolvimento da inovação ressaltadas por Freeman (1979), já enunciadas, sejam desenvolvidas e direcionadas especificamente para as PMES da construção civil. Outra oportunidade de aprimoramento é o atendimento pelas PMEs da construção civil às idéias de Malerba (1992), desenvolvendo uma ação integrada para a formação de estoques de capital humano com programas de capacitação, qualificação da mão de obra operacional, técnica e gerencial por meio da intenção do processo de aprendizado. A utilização do poder governamental de compras, ilustrado por Rothwell e Zegveld (1981), pode ser direcionado para às PMEs da construção civil com o estabelecimento de regras tecnológicas que influenciem políticas de inovação para o setor, direcionando-se para as PMES. Após a conceituação de inovação, como ela se difunde, como o conhecimento e o aprendizado são imprescindíveis para que uma organização seja inovadora, procurou-se demonstrar como todos estes fatores se refletem nas PMEs da construção civil brasileira. As políticas de inovação foram debatidas e como o Estado brasileiro pode elaborar políticas para desenvolvimento da construção civil através das PMEs. Como foi dito, estas políticas deverão combinar coerência e uma visão de conjunto que combine várias ações macroeconômicas estruturais. Em seguida, é abordada a visão de que um Sistema de Gestão da Qualidade é uma inovação tecnológica. 2.5 SISTEMAS DE GESTÃO DA QUALIDADE 2.5.1 Significação Para que uma organização tenha um funcionamento adequado, é necessário que haja um Sistema de Gestão. Na visão de Rodriguez (2002), Sistemas de Gestão são uma forma estruturada e organizada de como ocorre a integração entre os sistemas internos, formais e informais que fazem com que seja assegurado o atendimento às estratégias de negócio suportadas pelas pessoas dentro de uma estrutura formal de poder. Os Sistemas Integrados de Gestão, de acordo com De Cicco (2001), são uma combinação de processos, procedimentos e políticas adotadas por uma organização, para implementar suas políticas e atingir seus objetivos de forma mais eficaz do que através de múltiplos sistemas de gestão. De uma maneira geral, buscam-se resultados como: reduzir custos de implantação, certificação e manutenção; evitar superposição de processos; melhorar o desempenho organizacional e 54 melhorar a satisfação dos clientes. O modelo geral de um Sistema Integrado de Gestão compreende as funções Qualidade, Meio Ambiente e Saúde e Segurança do Trabalho (De Cicco, 2001). Nesta tese só será estudado o Sistema de Gestão da Qualidade, não se fazendo referência às outras funções. Um Sistema de Gestão da Qualidade é uma ação gerencial que enfoca a qualidade dos produtos e serviços como uma das principais metas das atividades da organização, de acordo com De Cicco (2001). Estas metas são alcançadas através do conjunto de idéias e técnicas direcionadas para o objetivo final, que é aumentar a competitividade. Mears (1993) define um Sistema de Gestão da Qualidade como um sistema permanente e de longo prazo, direcionado para a satisfação do cliente, o que é feito através de um processo de melhoria contínua dos produtos e serviços gerados. Churchman (1971) considera que os seguintes itens são essenciais para a implantação de todo e qualquer sistema: a) os objetivos totais, b) o ambiente e as coações físicas, c) os recursos e, d) os componentes e o que deve ser feito para administrar o sistema. Estas considerações podem ser aplicadas na implantação de SGQs. Desta forma, quando da implantação de um Sistema de Gestão da Qualidade, é importante não esquecer das relações básicas enunciadas acima. É importante que sejam analisados elementos como: princípios do modelo a ser adotado (missão, visão, valores e políticas), comportamento esperado dos membros da organização, poder delegado aos componentes, necessidades dos clientes, processos de gestão, recursos necessários para a implantação (humanos, financeiros e materiais), utilização de tecnologia de informação para resultados e informações gerenciais, avaliação do modelo etc. É recomendável que estes pontos sejam devidamente considerados, e traçadas alternativas, caso ocorram problemas, quando da implantação de um Sistema de Gestão da Qualidade. Podem existir organizações que sejam certificadas, possuindo Sistemas de Gestão da Qualidade implantados e em funcionamento. Porém, pode não haver uma preocupação consistente com a melhoria contínua em todos os níveis da organização, ou a manutenção do SGQ ser deficiente, o que acarretará problemas futuros. Sendo a melhoria contínua condição fundamental para que os SGQs sejam considerados como inovação tecnológica, atendendo às prescrições de Dosi et al (1990), houve uma preocupação do pesquisador para se detectar possíveis sinais de que as organizações estudadas, realmente, têm o cuidado da melhoria contínua. Através de extensa pesquisa bibliográfica de autores, pesquisadores e especialistas em artigos, livros e ensaios sobre o assunto como: Alarcon (2001), Alves (1995), Amorim 55 (1998), Bobroff (1993), Carvalho e Paladini (2006), Cardoso (1996, 2000), Correa (2002), Davenport e Prusak (1998), Fabrício (2002), Falconi (1992), Franco (2001), Fossati (2004), Harry e Schroeder (2000), Hedlund (1986), Juran (1992), Kaplan e Norton (1992, 1997), Koskella (1992), Liker (2005), Maciel e Melhado (1995), Martucci (1990, 1998), Melhado (1994, 2001), Picchi (1993, 2003), Santiago (2002), Walden (1997), Sjoholt (2000) e vários outros referenciados na bibliografia, e consultas a documentos de entidades como Project Management Institute, American Society of Quality Control, Sinduscon, PBQP-H, Fundação Prêmio Nacional da Qualidade e outras, procurou-se verificar quais as ferramentas mais citadas e/ou utilizadas. O critério utilizado para tal verificação foi o número de vezes em que uma ferramenta fosse citada ou descrita nas diferentes fontes da bibliografia utilizada. Para ser considerada, a ferramenta deveria ser citada em pelo menos três diferentes fontes da bibliografia. Conseqüentemente , considerou-se que as empresas deverão utilizar algumas das seguintes ferramentas como componentes estratégicas e indicativo de que buscam a melhoria contínua.: certificação ISO 9001:2000, Balanced Score Card, Gestão do Conhecimento, Desdobramento da Função Qualidade, Benchmarking, Seis Sigma, Gerência de Projetos, Equipes de Trabalho, Gestão da Mudança, Produção Enxuta, Análise de Valor, Kaizen e Gestão Ambiental. Através destas ferramentas, os gestores possuirão recursos úteis para o variado número de problemas com que se deparam no dia a dia empresarial. Ao utilizá-las, encontrarão soluções propícias para o equacionamento dos problemas, permitindo a inovação e melhoria nas organizações. Desta forma, espera-se que as empresas que serão incluídas nos grupos amostrais, cuja definição será comentada na metodologia da pesquisa, estejam utilizando ao menos algumas delas. O Sistema de Gestão da Qualidade encara o processo de produzir bens ou serviços como um gerador potencial de vantagem competitiva organizacional. Tal visão permite que haja uma grande influência na definição das estratégias operacionais, que objetiva produtos e serviços sem erros, entregas no prazo, dentro dos custos, diminuição dos prazos de introdução de novos produtos e serviços, aumento da oferta de produtos permitindo melhores opções de escolha para o cliente e facilidade de mudanças de prazos. As ferramentas de gestão, anteriormente listadas, estão inter-relacionadas. Auxiliam na coleta, classificação e tratamento das informações, evidenciando os problemas existentes. Assim, é permitido aos gestores integrá-las e obter os resultados esperados para o aumento da competitividade. 56 Em seguida, serão discutidos os Sistemas de Gestão da Qualidade dentro da visão de que são uma inovação tecnológica. Busca-se o entendimento de que a existência de tais características é necessária para referendar tal conceituação. 2.5.2 Sistemas de Gestão enquanto Inovação Tecnológica Dosi (1988) afirma que “a inovação trata de pesquisa, descoberta, experimentação, desenvolvimento, imitação e adoção de novos produtos, de novos processos de produção e novas formas organizacionais. A mudança tecnológica é uma forma criativa no crescimento das corporações e, também, uma força destrutiva que torna as corporações vulneráveis à concorrência.” Observa-se, assim, a abordagem dos elementos: processos, produtos, formas organizacionais que são tocados e transformados pelos Sistemas de Gestão da Qualidade. Para Mariano (2004), inovações tecnológicas referem-se “à utilização do conhecimentos sobre novas formas de produzir e comercializar bens e serviços. (...) Inovações organizacionais referem-se `a introdução de novos meios de organizar empresas, fornecedores, produção e comercialização de bens e serviços. Ambas são complementares”. Esta consideração reforça o conceito de que a implantação de um novo Sistema de Gestão é uma inovação tecnológica. A figura 2 apresenta a visão do relacionamento entre as atividades de geração de novas tecnologias. Este relacionamento, ao integrar as diferentes atividades como componentes de um sistema de geração de novas tecnologias, nada mais é do que um Sistema de Gestão da Qualidade. 57 Mundo Técnico Mundo Comercial Empreendedorismo = Capacidades Administrativas + Invenções e Descobertas Atividades de pesquisa científica Tecnologias Atividades de Desenvolvime nto tecnológico Novos produtos e Serviços Atividades de Desenvolvime nto de produtos Necessidades do mercado Atividades de Desenvolvime nto mercadológic o Figura 2- Relação entre as atividades de geração de novas tecnologias Fonte: adaptado de Mariano, 2004 A OCDE (1997) afirma que “uma inovação tecnológica em produtos e processos é dada como implementada se a mesma foi introduzida no mercado, utilizada na inovação de um produto, ou dentro de um processo produtivo ou na inovação de um processo”. Assim, conclui-se que uma organização é inovadora quando tem implementado melhorias e incrementos em produtos e processos. Observa-se mais um reforço à idéia de que a introdução de Sistemas de Gestão da Qualidade em uma organização é um aprimoramento tecnológico. A existência de tais sistemas garante à empresa a possibilidade de corrigir seus processos, medir sua performance, cuidar de seu capital do conhecimento (pessoas, conhecimento, cultura), permitindo maior criatividade, inovação e, principalmente, criação de vantagem competitiva. 58 Betz (1993) define inovação tecnológica como “um meio de alterar os ambientes físicos da configuração presente para aquela desejada no futuro”. Ribault et al (1995), por sua vez, consideram que “tecnologia é um conjunto complexo de conhecimentos, de meios e de know-how organizado com vistas a uma produção”. Assim, para estes autores, a tecnologia possui três elementos básicos, interdependentes entre si: os conhecimentos, os meios e o know-how. Esta definição confirma o entendimento de que a implantação de um Sistema de Gestão da Qualidade em uma organização é um aprimoramento tecnológico, já que atua sobre as diversas dimensões enunciadas acima , ajustando-se, assim, à definição de Ribault et al. Conhecimento Meios Know-how Figura 3: O Conceito de Tecnologia Fonte: Ribault et al, 1995 Conforme ilustrado na figura 3, Ribault et al (1995) consideram que os conhecimentos pertencem a uma disciplina científica, mas não constituem uma tecnologia. Os meios concretizam a tecnologia, desde que operados por pessoas capacitadas para a sua operação e aplicação. O know-how é o “saber como fazer” e depende dos meios. É a otimização dos três elementos combinados, conhecimentos, meios e know-how, que resulta na tecnologia aplicada a uma determinada produção de bens ou serviços. A concepção sobre a implementação de um Sistema de Gestão da Qualidade ser uma inovação tecnológica, também é comprovada através das idéias de Drovout e Verna (1994). Estes, ao ampliarem os três elementos propostos por Ribault et al (1995), introduzem um viés diferenciado: conhecimentos de natureza técnica, 59 tecnologia incorporada aos meios produtivos e a tecnologia de gestão. A adição da tecnologia de gestão permite que seja feita a afirmação anterior. Os Sistemas de Gestão da Qualidade têm características de inovação tecnológica, desde que estejam presentes os aspectos descritos por Dosi et al (1990): utilização de melhorias incrementais e a cumulatividade na formulação de inovações. As inovações provenientes destes processos devem, também, ter mudanças mensuráveis através dos resultados. Isto é corroborado por Mears (1993) conforme visto em sua definição de um Sistema de Gestão da Qualidade, anteriormente enunciada. Brocka e Brocka (1994) resumem sua visão da qualidade como “o ganho de produtividade alcançado por meio da melhoria da qualidade”, podendo ser entendida como a necessidade de melhores técnicas para produzir bens ou serviços. Os Sistemas de Gestão são uma coleção de instrumentos gerenciais que colocam a qualidade dos produtos ou serviços como o foco principal para as atividades de uma empresa. Outro autor que reforça o conceito, aqui defendido de que SGQs constituem uma inovação tecnológica é Falconi (1992) ao afirmar que “o princípio da abordagem gerencial da Gestão da Qualidade Total é regida por: 1. Produzir e fornecer produtos e serviços que atendam concretamente às necessidades do cliente. 2. Garantir a sobrevivência da empresa através do lucro contínuo adquirido pelo domínio da qualidade. 3. Identificar o problema mais crítico e solucioná-lo pela mais alta prioridade. 4. Falar, raciocinar e decidir com base em dados e fatos. 5. Gerenciar a empresa ao longo do processo e não por resultados. 6. Reduzir metodicamente as dispersões através do isolamento de suas causas fundamentais. 7. Não permitir a venda de produtos defeituosos. 8. Procurar prevenir a origem dos problemas cada vez mais a montante. 9. Nunca permitir que o mesmo problema ocorra pela mesma causa. 10. Respeitar os empregados como seres humanos independentes. 60 11. Definir e garantir a execução da Visão e Estratégia da alta Direção da organização.” Esta definição de Falconi (1992), quando comparada àquela de Mariano (2004) sobre inovação tecnológica reforça a conceituação de que a Gestão da Qualidade Total, ao abordar tópicos como melhoria de processos, garantia da qualidade dos produtos através da melhoria contínua e a total satisfação dos clientes, busca novos meios de organizar empresas, fornecedores, comercialização de bens e serviços etc, possibilitando inovação organizacional e reforça a conceituação defendida. Com a utilização de Sistemas de Gestão da Qualidade, consegue-se um perfeito entrosamento entre as estratégias competitivas e as de construção e fabricação. Estes sistemas atuam praticamente em todas as dimensões da empresa: processos, qualidade, gestão de pessoas, desenvolvimento de produtos e processos, avaliação de pessoas, conhecimento etc. A Gestão da Qualidade passa a ser um fator de fundamental importância para a inovação tecnológica. 2.5.3 Capacitação Tecnológica Desde os primórdios do aparecimento do ser humano, o conhecimento é fator preponderante para o seu crescimento. A mola mestra de todo o processo evolutivo do ser humano foi sua capacidade de acumular conhecimento e capacitação tecnológica. Extrapolando-se esta observação para as organizações, pode ser considerado que o conhecimento e a capacitação tecnológica são fatores importantes para seu sucesso e sua evolução. A tecnologia tem um papel fundamental nas organizações, mas o sucesso de sua implantação está na capacitação tecnológica. A capacitação tecnológica de uma organização pode ser definida como o seu grau de domínio e experiência no processo de inovação tecnológica (LARANJA et al, 1997 apud Reis, 2000). Estes autores consideram que a capacitação tecnológica de uma organização pode ser diferenciada por níveis de progresso de natureza cumulativa. A existência de Sistemas de Gestão da Qualidade em uma organização busca a identificação e resolução de problemas. Esta resolução se dá através de novos métodos e procedimentos, permitindo a acumulação de novos conhecimentos, aumentando, assim, a capacitação tecnológica. A existência de um Sistema de Gestão na organização permite que se criem vantagens competitivas, reforçando a capacitação tecnológica e criando vantagens competitivas. Isto é 61 reiterado por Hayes e Upton (1998) quando dizem que “eficiência operacional superior fortalece a posição competitiva da empresa e, quando baseada nas capacidades de seus recursos humanos e nos seus processos operacionais, dificulta a imitação pelos concorrentes. Por essa razão pode prover a base para uma vantagem competitiva sustentável.” Com esta afirmação, são abordados os conceitos de melhoria e vantagem competitiva, constituindo uma inovação, dando consistência ao conceito apresentado sobre Sistema de Gestão da Qualidade enquanto inovação tecnológica e reforço da capacitação tecnológica. Dosi (1984) considera que a pré-disposição da empresa para a inovação é, em grande parte, influenciada pelo mercado e pelo clima competitivo em que a organização se insere. As empresas, ao introduzirem inovações no mercado, alteram as suas posições relativas e também o próprio mercado. Empresas que possuírem tecnologias de gestão estarão melhor equipadas para se posicionar frente a estas alterações. Collins (2002) corrobora este posicionamento ao afirmar que “a inovação depende da empresa (...) inovação é parte de seus valores centrais”. Laranja et al, 1997 apud Reis, 2000 consideram que a obtenção de capacidades tecnológicas imateriais, muitas vezes, constitui o primeiro passo no processo dinâmico de criação de capacidades tecnológicas. No atual estágio da indústria da construção civil, é necessário que exista um aperfeiçoamento da capacidade de absorção das empresas perante as inovações tecnológicas. Para que tal fato ocorra, é importante que haja envolvimento nas inovações organizacionais e nos processos de aprendizagem visando à plena utilização de inovações como: tecnologias de informação e comunicação, valoração ambiental, construção enxuta, times multifuncionais e tantas outras. O que pode ser alcançado pela utilização de Sistemas de Gestão da Qualidade. A adoção destes sistemas permite que as organizações estabeleçam procedimentos, organizem seus processos, iniciem o gerenciamento do conhecimento. Porém, o mais importante é que estarão estabelecendo mecanismos de “feedback” que permitirão a identificação de problemas e possíveis soluções. O uso de mecanismos simples como, por exemplo, do PDCA incentivará a melhoria contínua. Para a melhoria contínua são necessários modelos e capacidades que serão discutidos a seguir. 62 2.5.4 Melhoria Contínua: modelos e capacidades necessárias Melhoria contínua é um conceito inserido em qualquer Sistema de Gestão da Qualidade existente em uma organização. Caffyn e Bessant (1996) definem a melhoria contínua como um processo, em toda a empresa, focado na inovação incremental e contínua. Autores como Mesquita e Alliprandini (2003) discordam de que o limite da melhoria contínua esteja na inovação. Não acreditam na possibilidade de melhoria contínua de algo limitar-se somente até o surgimento de uma inovação, estabelecendo o início de um novo ciclo de melhoria do desempenho. Estes autores consideram que a melhoria contínua e a inovação devem caminham juntas, apesar de opostas. Afinal, segundo eles, são formas diferentes da melhoria de um padrão, não deixando de ser melhorias e, portanto, devem ser analisadas conjuntamente. A melhoria contínua é facilitada em uma organização quando a gestão por processos e a capacitação dos gestores em identificar processos estão implantadas. Tal afirmação é ressaltada por autores como Shiba et al (1997) ao enfatizar a gestão por processos e a necessidade da capacitação gerencial para a identificação de processos, quando afirmam que “...os gerentes devem ser capazes de ver o processo de melhoria como um processo, com o propósito de proporcionar direção e apoio aos subordinados engajados nas atividades de melhoria”. As organizações devem utilizar modelos facilitadores da prática da melhoria contínua. Um destes modelos é o proposto por Flamholtz (1995). Este autor desenvolveu um método com o objetivo de entender e planejar o crescimento sustentado de organizações em diferentes estágios, bem como explicar as falhas e sucessos organizacionais. O método é constituído de seis etapas, que foram avaliadas através de extensas pesquisas prévias. São elas: 1) Identificação e definição de um nicho de mercado viável. 2) Desenvolvimento de produtos e serviços para o nicho identificado. 3) Aquisição e desenvolvimento de recursos necessários para operar a organização. 4) Desenvolvimento de sistemas operacionais necessário às operações contínuas da organização. 5) Desenvolvimento dos sistemas necessários para o funcionamento a longo prazo da organização. 6) Desenvolvimento da cultura organizacional que a Alta Gerência acredita ser necessária para guiar a organização. 63 Sinteticamente, apresenta-se na figura 4 a filosofia preconizada por Flamholtz (2000). O sistema proposto permite a possibilidade da melhoria contínua, facilitando a mensuração da posição relativa da organização face aos concorrentes e a correção dos planos estratégicos, nos níveis tático e operacional. Analisando o modelo proposto, verifica-se uma similaridade com o SGQ, já que este irá gerenciar as atividades empresariais nas dimensões apresentadas por aquele, desde que seja adicionado ao modelo um mecanismo de retroação. Assim, será facilitada a mensuração da posição relativa da organização face aos concorrentes, e a correção dos planos estratégicos, nos níveis tático e operacional. 64 Cultura Corporativa Sistemas Gerenciais Sistemas Operacionais Recursos Vantagem Competitiva Produtos Mercados Figura 4 -Seis Fontes Chave de Vantagem Competitiva Fonte: adaptado de FLAMHOLTZ, 2000 Os Sistemas de Gestão da Qualidade são baseados na medição, correção e aprimoramento dos desvios dos diferentes processos organizacionais. Tais sistemas têm como objetivo o aprimoramento contínuo dos processos, produtos e serviços. Portanto, os gerentes e 65 os colaboradores das organizações devem estar capacitados em gestão de processos e enxergar a melhoria como um processo, de maneira que inovem através da eficácia de processos, produtos e serviços. O processo de melhoria contínua diferenciará uma organização de outra. Aquela que estiver melhor aparelhada para corrigir suas deficiências de processos, competências e produtos/serviços se apresentará ao mercado em melhores condições para suplantar as concorrentes. 2.5.5 Habilidades e Etapas Necessárias para Melhoria Contínua Caffin e Bessant (1996) definem as seguintes habilidades básicas e normas comportamentais que as organizações devem apresentar para serem capazes de promover as boas práticas, ou seja, apresentarem um Sistema de Gestão eficaz, o que é demonstrado na tabela 4. Tabela 4 - Habilidades básicas e normas comportamentais Habilidades Básicas Normas Comportamentais (a) Ligar as atividades de melhoria em todos os níveis 1) Indivíduos e grupos usam metas e objetivos estratégicos da empresa. estratégicos da organização para focar e priorizar atividades de melhoria. (b)Gerenciar estrategicamente o desenvolvimento do 2) Sistema de melhoria é continuamente monitorado e sistema de melhoria na estrutura organizacional desenvolvido. 3) A avaliação progressiva assegura que a organização e os sistemas , sejam reforçados e se apóiem um ao outro. (c) Gerar envolvimento sustentado em inovação. 4) Gerentes de todos os níveis demonstram compromisso ativo e liderança em relação à melhoria. 5) Participação pró-ativa em melhoria. (d) Trabalhar efetivamente por meio das divisões 6) Trabalho efetivo de todos por todos os níveis das externas e internas. divisões externas e internas. (e) Garantir que a aprendizagem ocorra e seja 7) Aprendizagem por meio de experiências próprias e capturada e compartilhada em todos os níveis. de outros, tanto positivas como negativas. 8) a organização articula e desdobra a aprendizagem de indivíduos e grupos. (f) Articular, demonstrar e comunicar os valores da melhoria. Fonte: CAFFIN e BESSANT, 1996 9) As pessoas “vivem” os valores da melhoria. 66 De acordo com as habilidades e normas comportamentais sugeridas na Tabela 4, Caffin et al (1997) caracterizam as organizações em relação à maturidade quanto a melhoria em cinco níveis. A saber: Nível um- Melhoria contínua natural: a organização não tem nenhuma das habilidades essenciais e nenhum dos comportamentos-chave. Pode haver alguma atividade de melhoria tais como a solução de problemas ao acaso. Nível dois- Melhoria contínua formal: há mecanismos capacitantes e evidência de que alguns aspectos dos comportamentos chave estão se iniciando. Nível três- Melhoria contínua dirigida para a meta: a organização está segura das habilidades e os comportamentos que as suportam se tornam norma. Há monitoramento e sistemas de medição eficientes. Nível quatro- Melhoria contínua autônoma: a melhoria é amplamente auto-dirigida, e suas oportunidades são atacadas sempre que há chance para tal. Nível cinco- Capacidade estratégica em melhoria contínua: a organização possui todas as habilidades e existem rotinas engrenadas para reforçar os comportamentos-chave. O conhecimento do nível de maturidade das empresas, em relação ao estágio de melhoria, permitirá que as pequenas e médias empresas da indústria da construção civil desenvolvam estratégias para os diversos níveis organizacionais evoluírem em sua capacitação. O conhecimento do estágio em que se encontram é o primeiro passo para a melhoria. No entanto, conforme Davenport e Prusak (1998) afirmam, não basta possuir habilidades, sendo necessário gerenciá-las, sem desvincular as habilidades do gerenciamento dos comportamentos, de forma a proporcionarem vantagem competitiva para a empresa. Desta forma, adiciona-se mais um desafio para as organizações, em geral, e para as PMEs da construção civil, objeto de estudo desta tese, em particular. Além de terem que identificar em que estágio se encontram em relação ao grau de maturidade e suas habilidades, é necessário, também, atentar para o gerenciamento destas habilidades. O conhecimento será dominante no século XXI, e as organizações terão que priorizar o gerenciamento das habilidades. Para Mesquita e Alliprandini (2003), “o conhecimento está arraigado nos comportamentos e sua gestão pode servir de alavanca para a estruturação de um comportamento organizacional, levando naturalmente às habilidades básicas para a melhoria”. Assim, a gestão do conhecimento permite que se estabeleçam modelos comportamentais organizacionais, que, por sua vez, com uma boa gestão levam às 67 competências essenciais. Portanto, garante-se que a organização alcance uma vantagem competitiva. No intenso e profundo processo de reestruturação organizacional pelo qual as organizações estão passando na atualidade, é essencial que as empresas busquem a eficiência coletiva. As organizações deverão focar em suas competências centrais, e construir uma visão de empresa baseada em seus recursos. Esta abordagem, defendida por autores como Prahalad e Hamel (1990), Krogh e Ross (1995) amplia o quadro para o grupo que toma as decisões estratégicas na organização, considerando que esta possui recursos físicos, financeiros, organizacionais, intangíveis e humanos. A partir desta gama de recursos disponíveis, a organização alcança vantagens competitivas. Na abordagem defendida pelos autores citados, verifica-se que a identificação das competências requer a presença de sistemas que as identifiquem, comparem os hiatos existentes entre o que se precisa, em função do mercado, e o que se tem. Através da constatação destes hiatos, são elaborados planos de melhoria, que devem ser acompanhados e medidos. Estes planos de ação conduzirão a melhorias de processos, reforço das competências ou aquisição de outras, necessárias, mas ainda inexistentes. Ao reforçar estes processos e competências, adquirem-se vantagens competitivas, que permitem novos processos de inovação. É importante que se enumerem as razões que reforçam a necessidade da existência de Sistemas de Gestão da Qualidade em empresas de construção civil. Estas razões são apresentadas na seção seguinte. 2.5.6 Razões da Importância da Existência de um Sistema de Gestão da Qualidade em Empresas de Construção Civil Esta tese está focada nas pequenas e médias organizações da construção civil e, assim sendo, serão apresentadas as razões que reforçam a necessidade da existência de um Sistema de Gestão da Qualidade nestas empresas. Em um estudo desenvolvido pela Consultoria McKinsey (1998), são apresentadas as principais razões das diferenças entre os níveis de produtividade das empresas brasileiras de construção civil em relação às americanas, que são: 1) As empresas brasileiras não utilizam o chamado Design for Manufacturing (DFM- Projeto para Construção). Esta técnica consiste na adoção de um projeto de baixo custo através da utilização de materiais padronizados, utilização de módulos pré-fabricados, lay-outs otimizados e pela redução das interferências entre as diversas fases do processo construtivo. A 68 utilização do DFM muda o processo de construção artesanal para um procedimento baseado em técnicas de montagem e pré-fabricação. 2) As empresas brasileiras não têm um bom gerenciamento de projetos e tarefas, não sendo feita uma boa utilização dos sub-contratados. A contratação de terceiros nos Estados Unidos tem maiores benefícios em relação ao aumento de produtividade do que no Brasil, onde as empresas são em menor número, têm menor capacitação, pior qualidade, menos treinamento e se utilizam de métodos menos elaborados para construção. 3) As construções no Brasil não possuem a mesma escala de produção do que nos Estados Unidos, onde devido ao maior número de unidades em construção, se pode ter uma melhor coordenação e alocação de equipes. 4) As construções brasileiras utilizam equipamentos e ferramentas de pior qualidade e performance do que as congêneres americanas. Como o custo da mão de obra é menor, a mão de obra humana substitui equipamentos e ferramentas especiais, porém demandando mais tempo e possuindo menor capacitação. 5) A baixa capacitação da mão de obra brasileira em relação à americana não parece ser um problema, sendo que a baixa produtividade daqui deve-se mais aos sistemas operacionais e organizacionais aqui utilizados. 6) Falta de competição no Brasil. Devido às imensas barreiras de entrada , tais como acesso ao capital, ambiente macro econômico instável e outros, não há incentivo à entrada de novos participantes e, em conseqüência, não há melhoria decorrente da competição. Falta de utilização de equipamentos e métodos construtivos mecanizados. 7) Ausência de modernas ferramentas de planejamento que permitam que se maximize a utilização dos materiais, equipamentos e mão de obra. 8) Falta da utilização de padronização por parte dos fornecedores, a jusante e a montante da cadeia construtiva, além da extrema concentração dos fornecedores. 9) Os códigos de construção e leis de zoneamento devem procurar privilegiar a performance dos materiais construtivos em lugar de procurarem descer a detalhes construtivos pormenorizados. 10) Falta de exposição às melhores práticas. Não tem havido interesse das PMEs da indústria da construção civil em procurar conhecer as melhores práticas de construção na Europa ou nos Estados Unidos, de modo a melhorar a qualificação local. Em relação ao comentário sobre a falta de exposição às melhores práticas, este autor acredita que o problema foi relativizado. A falta de interesse é conseqüência da ausência de 69 treinamento e de capacitação técnica do corpo diretivo das PMEs. Ainda, este problema é agravado pela falta de apoio de políticas governamentais neste sentido através de financiamentos para que as PMEs invistam no conhecimento e aplicação destas práticas. Já o relatório final do Estudo Prospectivo da Cadeia Produtiva da Construção Civil (MDIC, 2003) apresenta as seguintes considerações sobre a Indústria da Construção Civil: a) Há uma consciência de que haverá uma formalização das normas decorrentes da modernização do setor e do aumento das exigência legais. No entanto, acredita-se que haverá dificuldades na aplicação efetiva desta normalização. b) Há uma tendência de aumento na conformidade de componentes e materiais, ressalvada a diferenciação entre os produtos e sua aplicação nas diferentes regiões do Brasil. c) Há uma conscientização de que a qualidade do produto habitacional é satisfatória no padrão alto, média no padrão médio e insatisfatória no padrão baixo. d) O processo de projeto é considerado insatisfatório/ regular. Todavia, acredita-se que deve melhorar no futuro, e há uma tendência na concentração de esforços para disseminar os avanços já obtidos para o conjunto das empresas. e) Há uma constatação de que a produção de pesquisas na área da Construção Civil ainda é deficiente. Pelos pontos abordados, torna-se imperativo que as PMEs da construção civil se aparelhem e melhorarem sua competitividade. O critério fundamental para um negócio na atualidade é a vantagem competitiva, e é importante que as PMEs atentem para os aspectos tecnológicos da melhoria da competitividade, procurando entender a importância das tecnologias para a competitividade de uma empresa. Ribault et al (1995) salientam cinco pontos onde podem ser aplicadas ações: a) Eficácia- das funções indiretas do sistema de informação, da rede de vendas, da gestão etc; b) Qualidade- da organização, dos procedimentos, da comunicação etc.; c) Produtividade- das funções de produção, dos investimentos etc.; d) Reatividade- prazo de reação da gestão do negócio em relação à distribuição, serviços ao cliente, novos lançamentos; e) Novidade- a capacidade da empresa em renovar as tecnologias, em dominar as concepções inovadoras. No entanto, as organizações precisam entender que não basta associar tecnologia e competitividade. Não há uma ligação direta entre estes dois fatores. A ligação entre elas deve 70 ser feita através da inovação. Esta é quem pode agir como catalisador, transformando os recursos tecnológicos em bens econômicos. As razões para mudar e inovar são muitas, principalmente devido aos cenários de competição que se tornam cada vez mais acirrados. Drucker (1999) apud Vico Mañas (2001), ao desenvolver sua Teoria dos Negócios, destaca as seguintes tendências: 1) A maior e crescente velocidade dos negócios, amparada pelas novas tecnologias; 2) A valorização das informações sobre os outros, levando a um conhecimento maior da concorrência e dos colaboradores; 3) As redes de terceirizados e parceiros, permitindo a cada organização a concentração em inovação. 4) As redes de colaboradores internos, levando a respostas imediatas sempre que a tecnologia apressar o ciclo de vida dos produtos e serviços; 5) A maior diversidade que faz com que a adaptação a novas realidades valorize a diferença; 6) Os donos da informação, novos colaboradores com nível educacional maior, para permitir acesso à informação e à crescente velocidade dos negócios; 7) O poder será transferido- com o aumento do conhecimento dos colaboradores a avaliação dos executivos será feita por resultados alcançados, diferentemente da atualidade estarão à mercê da busca constante de tendências; seu papel será o de visionários; 8) Os colaboradores terão mais poder- com a contratação de terceiros e autônomos, estes passarão a possuir mais controle em relação a como, quando e onde trabalhar. Muñoz (2001) considera que, apesar de inovações tecnológicas e organizacionais terem surgido, alterando algumas etapas construtivas, as principais características da construção tradicional são ainda bastante difundidas. Assim, é necessário que as construtoras atentem ao que autores como Nohria &Ghoshal (1997), Ghoshal & Bartlett (1990), Dunning (1993), Hedlund (1986, 1994) preconizam. Estes consideram que o processo de inovação tem assumido uma forma mais global, e que as empresas precisam se equipar com ferramentas de gestão que permitam que se estruturem e organizem, integrando os seus sistemas internos, e assegurando o atendimento às estratégias definidas. Conforme Mesquita e Alliprandini (2003) “atualmente a qualidade não está mais associada apenas à produtividade, mas à vantagem competitiva, o que influencia as atividades de melhoria contínua e a forma como estas devem ser tratadas nas organizações”. Uma organização possui vantagem competitiva, segundo Slack et al (2002), quando apresenta produtos e serviços que satisfaçam os consumidores, atendendo suas necessidades atuais e/ ou 71 futuras. Outros autores, como Hansen e Mowen (2001), definem vantagem competitiva como a criação de um valor melhor para o cliente por um custo menor ou igual àquele oferecido pelos competidores. Vantagem competitiva é, ainda, na visão de Shank e Govindarajan (1997), ter o controle dos direcionadores de custo ou da reconfiguração da cadeia de valor. Portanto, vantagem competitiva corresponde a um benefício significativo e preferencialmente de longo prazo de uma empresa sobre sua concorrência. Para o aumento das vantagens competitivas das PMEs da construção civil, torna-se necessária a tomada de uma série de medidas gerenciais. Uma delas, de suma importância, é a focalização no mercado consumidor em que as PMEs irão atuar. Este foco pode concentrar esforços no mercado de baixa renda, desde que algumas providências sejam tomadas visando a diferenciá-las da construção informal ou da autoconstrução. Para atender este mercado, a qualidade deverá atender aos anseios do comprador, ou seja, durabilidade associada a baixo custo. Uma possível alternativa para tal redução é a padronização das construções. Através de tal procedimento, as casas, apartamentos e instalações comerciais poderão seguir o mesmo projeto e, com isso, reduzir seus custos. Uma outra possibilidade é o fechamento de acordos com fornecedores, objetivando à produção de materiais sob medida com a conseqüente redução do tempo de construção. Outra providência é a associação com grupos financeiros que se disponibilizem a financiar a venda de habitações. Deste modo, podem ser estudadas condições de financiamento para que o desembolso financeiro seja adequado à capacidade de pagamento do comprador. Neste caso, o estabelecimento de contatos com organizações financeiras de modo a se viabilizar esta possibilidade é conveniente. É importante ressaltar a atual existência de um ambiente mais propício. Conforme Meyer (2006), nos últimos meses foram aprovadas leis que facilitam a retomada de imóveis em caso de inadimplência. Outro ponto é o entendimento de que as organizações devem possuir Sistemas de Gestão da Qualidade eficazes, que lhes permitam adquirir vantagens competitivas que as diferenciem no mercado. Atualmente, possuir um Sistema de Gestão da Qualidade é uma necessidade vital, que fortalece os métodos gerenciais das empresas. O constante aperfeiçoamento deste Sistema de Gestão faz parte da inovação tecnológica. O perfeito não existe e deve-se estar sempre motivado a buscar um novo padrão de eficácia. O cerne da questão está em sempre buscar a melhoria dos padrões através do monitoramento constante. A empresa não pode aceitar o status quo, perseguindo a constante atualização de seus sistemas, cuja existência permitirá a criação de uma visão sistêmica e a identificação das necessidades e pontos críticos para melhoria. 72 Em seguida, discute-se a economia brasileira e suas transformações, quando há a mudança de uma economia agrária para uma de base industrial e de serviços. Esta transformação acontece, principalmente, após 1930. Depois deste ano, quando ocorre a revolução de 1930, o país passa por grandes alterações. O Brasil sai de uma economia eminentemente agrária e monocultora para uma economia diversificada, com grandes migrações para as cidades. Desta forma, há uma pressão social por moradias, infra-estrutura, estradas etc. Tudo isto permite o desenvolvimento da construção civil no Brasil. Esta, no entanto, é extremamente prejudicada pelas oscilações econômicas do período. Assim, é pertinente o entendimento da mudança econômica, dos principais problemas resultantes destas mudanças e como estes impactam a construção civil e as PMEs. 3 A EVOLUÇÃO ECONÔMICA DO BRASIL NO PERÍODO 1930- 2005 E A PARTICIPAÇÃO DA CONSTRUÇÃO CIVIL 3.1 UM BREVE HISTÓRICO DA EVOLUÇÃO ECONÔMICA DO BRASIL NO PERÍODO 1930-2005: Depois da crise de 1929 e da Revolução de 1930, o Brasil entra num ciclo de grandes mudanças econômicas, sociais e políticas. A nação, que era agrária e eminentemente rural, passa por uma transformação muito grande nas décadas futuras. Uma grande migração do campo para as cidades é iniciada, o que leva a uma modificação no perfil populacional, e o país se torna urbano. O brasileiro que chega às grandes cidades é, em sua grande maioria, de baixa capacitação educacional e profissional. A concentração da população nas cidades, a mudança do perfil agrário para o industrial, geram necessidades de habitação, instalações industriais, estradas etc. Tais necessidades, aliadas ao desejo de se providenciar ocupação para a massa migrante, induz o governo a utilizar a construção civil como absorvedora desta mão de obra. O entendimento do período econômico de 1930 até os dias de hoje, é importante para que se trace um pano de fundo facilitador do entendimento do ambiente onde está contida a indústria da construção civil. Além disto, a compreensão dos principais problemas econômicos brasileiros segundo a visão de importantes economistas brasileiros como Nóbrega (2000), Bielshowsky e Stumpo (1996), Leite (2004) e outros, permitirá que, no decorrer da pesquisa a ser feita com PMEs da construção civil, se possa fazer a ligação entre o comportamento destas organizações e estes problemas: seus efeitos, causas e soluções. 74 3.2 UM BREVE HISTÓRICO DA EVOLUÇÃO ECONÔMICA DO BRASIL NO PERÍODO 1930-2005: Após uma aceleração da industrialização ocorrida entre 1914 e 1919, decorrente da dificuldade de importações, houve uma retração da agricultura que até então ocupava mais da metade da economia nacional. A agricultura era exclusivamente baseada em poucos produtos, principalmente o café. Até 1930 a expansão da economia era em ritmo muito modesto. O Brasil sofre os efeitos da crise mundial de 1929 com grandes perdas por parte da oligarquia cafeeira e a revolução política de 1930 (LEITE, 2004). Com a chegada ao poder de Getúlio Vargas7 em 1930, há uma mudança na postura governamental vigente em relação à condução da economia e o estado passa a exercer uma forte intervenção. Leite (2004) enumera como principais pontos desta mudança de atitude os seguintes: • Constituição de organismos de defesa da produção tais como os dedicados às economias cafeeira e açucareira; • Estabelecimento dos códigos de regulação das atividades relacionadas a águas, mineração e florestal que passam a reger as atividades econômicas relativas a estes recursos naturais; • Estabelecimento da primeira legislação trabalhista; • Expansão do interesse pela hidroeletricidade e; • Estabelecimento do monopólio do petróleo e constituição da Petrobrás para exercê-lo. Após a Segunda Guerra Mundial, torna-se necessária a reconstrução da infra-estrutura devastada pelo conflito bem como a reorganização política, econômica e social. São, então, criadas instituições como a Organização das Nações Unidas, para cuidar da reorganização política mundial, o Fundo Monetário Internacional para revisar as relações financeiras mundiais e o Banco Internacional para Reconstrução e o Desenvolvimento (BIRD), mais tarde conhecido como Banco Mundial (World Bank) para desenvolver as regiões destruídas e promover o desenvolvimento mundial (LEITE, 2004). Ao final da Segunda Guerra, há o fortalecimento no Brasil da convicção da necessidade do estabelecimento de ações conjuntas entre o governo brasileiro e a iniciativa privada, objetivando acelerar o ingresso do país nas economias mais avançadas, recuperando, 7 Getúlio Dornelles Vargas (1883-1954) governou o país de 3/11/1930 até 29/10/1945, durante o período conhecido como era Vargas, que vai desde a revolução de 1930 até sua deposição após a Segunda Guerra. 75 assim, o atraso do país. Há uma cristalização da idéia de que uma forte intervenção do Estado é necessária (LEITE, 2004). São definidos alguns planos setoriais voltados para o fortalecimento da infra-estrutura e o desenvolvimento da indústria de base, através da Assessoria Econômica criada para ser um instrumento de modernização do Brasil, isto já no segundo governo Getúlio Vargas (1950-1954) (AGUIAR, 2004). Seu governo atravessa uma grave crise e é interrompido pelo trágico suicídio de Vargas em 24/8/1954. No governo Kubistchek8, estabelece-se o planejamento geral da economia com a finalidade de: 1. Promover forte crescimento industrial diversificado; 2. Construir uma sólida infra-estrutura de transportes e energia e; 3. A agricultura é relegada a segundo plano. Como resultado o país cria um parque industrial significativo, com uma participação crescente na economia nacional. No entanto, são plantados os componentes inflacionários que irão contaminar a economia no futuro (LEITE, 2004). Pires (2000) afirma que, no período 1930-1961, é promovido um modelo de desenvolvimento baseado na substituição de importações, onde se passa a produzir internamente uma série de bens industrializados que eram importados. Desta forma, internaliza os efeitos positivos do aumento da produção local: aumento do emprego, da renda e da receita pública. Uma característica deste período é a forte intervenção estatal. No período compreendido pelos governos Jânio Quadros9 e João Goulart10, Leite (2004) considera que houve um fortalecimento do populismo da época Vargas caracterizado pelo aliciamento das classes menos favorecidas através de promessas nem sempre possíveis de concretização. Aliás, política que, mesmo nos dias atuais, ainda é utilizada por muitos dos líderes políticos. Esta corrente populista debate no período questões como: acesso à terra, a excessiva desigualdade existente na distribuição de renda. Há um período de muita efervescência política e a economia é desorganizada. Há um descontrole imenso da inflação e a economia entra em colapso, quando o processo democrático é interrompido por uma intervenção militar (LEITE, 2004). 8 Juscelino Kubistchek de Oliveira( 1902-1976) governou o Brasil de 1956 a 1961, implementando o Plano de Metas. Impulsionou a indústria automobilística, siderúrgica, naval e construiu Brasília. 9 Jânio da Silva Quadros governou o Brasil de janeiro /1961 até agosto do mesmo ano quando renunciou. 10 João Belchior Marques Goulart governou o país de setembro de 1961 até abril de 1964, quando foi deposto. 76 Em 1964 foi criado o BNH (Banco Nacional da Habitação) que era um banco de segunda linha, ou seja, não operava diretamente com o público. Sua função era realizar operações de crédito e gerir o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), por intermédio de bancos privados e/ ou públicos e de agentes promotores, como as companhias habitacionais e as companhias de água e esgoto. Segundo as regras vigentes, a casa a ser comprada deveria ser usada por quem a adquiria, não podendo ser revendida, alugada ou utilizada para fins comerciais. Quem quisesse se beneficiar do sistema, firmava um contrato de financiamento no qual se comprometia a pagar o imóvel. Em caso de não pagamento das prestações, o contrato era suspenso. Pelo sistema, os interessados teriam, à disposição, diversos tipos de recursos como a caderneta de poupança e o fundo de garantia por tempo de serviço (FGTS) e o financiamento bancário. Com o fim do BNH, em 1988, a Caixa Econômica Federal assumiu o Sistema Financeiro da Habitação. O BNH, até sua extinção, foi a principal instituição federal de desenvolvimento urbano da história brasileira, na qualidade de gestor do FGTS e da formulação e implementação do Sistema Financeiro da Habitação (SFH) e do Sistema Financeiro do Saneamento (SFS)11. De 1967 e 1973 ocorre o período do “Milagre Brasileiro” quando a economia cresce a taxas superiores a 7% ao ano. Após a primeira crise do petróleo em 1973, depois da guerra entre árabes e israelenses, há um aumento explosivo dos preços do petróleo, gerando uma desaceleração do crescimento e taxas de inflação crescentes. Disto advém um surto de desemprego e arrocho salarial. Este quadro é extremamente agravado pela segunda crise do petróleo em 1979, quando o preço do barril de petróleo atinge níveis recordes com a chegada ao poder do aiatolá Khomeini no Irã e, também, pela crise da dívida externa nos anos 80 (PIRES, 2000). É aplicada uma política econômica que combina itens como: • Política salarial de arrocho; • Subsídios às empresas; • Aumento do endividamento interno e externo e; • Medidas protecionistas em termos cambiais e inflacionários das empresas nacionais. Este período de crescimento irregular e processo inflacionário explosivo é denominado de “década perdida”. (LEITE, 2004). A globalização dos anos 90 com as demandas de competitividade e produtividade e a necessidade de uma modernização administrativa, além de um aumento da volatilidade dos 11 Conforme informações encontradas em www.mre.gov.br/cdbrasil/itamaraty/web/port/economia/saneam/planasa/bnh/apresent.htm ,acesso 30/12/2007. 77 mercados que permitem os ataques especulativos às moedas, expõem a fragilidade da economia brasileira, demonstrando o esgotamento do modelo de substituição de importações. O Brasil entra em um processo inflacionário que estagna o país, exigindo um combate radical. Reformas como o Plano Real conseguem debelar o processo inflacionário e há um retorno a uma economia liberal, com a privatização de empresas e a tentativa de inserir o país no processo de globalização. A estabilidade alcançada não consegue, no entanto, trazer de volta o crescimento econômico e há um perigoso desequilíbrio de transações com o exterior. Além do mais, a cruel concentração de renda existente na sociedade brasileira é acentuada (LEITE, 2004; Pires, 2000). A tabela 5 mostra o crescimento e a inflação brasileiras no período 1948-2001. Desta se pode distinguir dois períodos da história econômica brasileira: • De 1948 a 1980 ocorre um crescimento sustentado acompanhado de uma inflação persistente, com quedas e aumentos e; • De 1981 a 2001 quando cessa o crescimento sustentado e a inflação foge do controle até se alcançar uma relativa estabilidade. Tabela 5-Evolução do Crescimento e da Inflação Brasileiras no Período 1948-2001 Período Anos PIB Inflação Crescimento médio 7,6% a.a. e per capita de 4,6% a.a. Queda abrupta Crescente de <10 a >30% a.a. 19481961 19621964 14 19651967 19681974 19751980 3 19481980 19811994 19952001 19812001 33 Média de 7,5% a.a e per capita de 4,6% a.a. Mediana 34%a.a. 14 Estagnado, média 2% a.a. e per capita de 0,5 % a.a. Estagnado, média 2,4 % a.a. e per capita de 1,4 % a.a. Estagnado, média 2,1 % a.a. e per capita de 0,7 % a.a. Hiper-inflação(máxima 2700% e média de 790% a.a.). Estabilizando ( média 10,5% a.a.) 3 7 6 7 21 Recuperação modesta, média 4,4% a.a. e per capita de 1,5% a.a. Fortemente crescente, média 10,7% a.a. e per capita de 7,9% a.a. Crescente porém oscilante, média de 6,9% a.a. e per capita de 4,4 % a.a. Fortemente crescente, atinge 90% a.a. Decrescente, voltando a 30% a.a. Decrescente até 15,5% a.a. em 1974. Crescente, atingindo 110% a.a. em 1980. As médias perdem o sentido. Fonte: Leite, 2004 A evolução econômica do Brasil, no período, permite estabelecer os principais impactos na Indústria da Construção Civil. Nas décadas de quarenta e cinqüenta a construção 78 civil, aproveitando o crescimento do país, atinge o auge das inovações tecnológicas, quando o país é considerado um dos detentores da tecnologia do concreto armado, vindo posteriormente a estagnar e até mesmo retroceder em alguns aspectos. Até o início dos anos cinqüenta, a construção civil brasileira era considerada uma atividade de características artesanais. O operário exercia múltiplas tarefas com a utilização de ferramentas manuais sob o comando de um mestre de obras (ZANELATTO, YUKAREN e FABRIIS, 2003). A partir dos anos cinqüenta passa a existir uma hierarquização e maior divisão das tarefas , com a construção civil adquirindo um caráter crescente de manufatura. Na década de setenta, durante o “Milagre Brasileiro”, existem grandes financiamentos para o setor da construção civil, com o objetivo de diminuir o déficit habitacional brasileiro. Assim, a construção civil tem mudanças caracterizadas pelos seguintes aspectos, segundo Zanelatto,Yukaren e Fabriis (2003): surgimento de grandes canteiros de obras, desenvolvimento de técnicas seqüenciadas de produção, aproximando o canteiro de uma produção em escala. A modernização da economia cria a necessidade da construção civil absorver um grande contingente de mão de obra, que é preenchida pela migração de trabalhadores do campo não treinados para exercer as habilidades necessárias à construção civil. O aprendizado é feito de maneira informal. Os operários são contratados por empreitadas, ocupando posições temporárias. As construtoras executam as obras e não participam do processo de comercialização do produto (ZANELATTO, YUKAREN e FABRIIS, 2003). A partir dos anos oitenta, a crise força a aplicação da política econômica explicitada anteriormente. Com isso há uma redução significativa dos financiamentos e as empresas voltam a empreender suas próprias obras, sendo responsáveis pelo desenvolvimento , execução e comercialização. Surge, assim, maior preocupação em satisfazer as necessidades dos clientes. Os custos são atrelados ao preço das vendas , gerando necessidades de redução de custos, racionalização da construção e redução das perdas. Há o emprego de novas técnicas e materiais. No entanto, percebe-se que sem a redução do desperdício nas obras não haverá diminuição de custos significativa. Zanelatto, Yukaren e Fabriis (2003) afirmam que para fazer frente à crescente necessidade de redução de custos, as empresas começam a subcontratar. A subcontratação visa, segundo estas autoras: • Reduzir gastos de mão de obra; • Evitar vínculo empregatício; • Eliminar gastos com treinamento, segurança e benefícios para o trabalhador. 79 A conseqüência deste movimento é a queda na qualidade do produto final. A década de noventa traz a idéia da qualidade para o setor da construção civil, provocando uma maior preocupação com o treinamento e capacitação dos funcionários pelas empresas. Observa-se uma resposta positiva das empresas de construção civil em relação à certificação pela norma ISO 9000. Zanelatto, Yukaren e Fabriis (2003) consideram que a herança deixada pelos efeitos econômicos na construção civil é a seguinte: 1. Redução do nível de atividades do setor de construção civil; 2. Queda no número de financiamentos para habitação; 3. Política de contenção de gastos e manutenção da taxa de juros em nível elevado não estimula investimentos em construção civil; 4. Profissionais ligados à construção civil têm baixo preparo profissional e baixa formação educacional e; 5. Os direitos trabalhistas são pouco respeitados. Em 2005, os resultados da construção civil não foram melhores. Miriam Leitão (2006) menciona que “a construção civil é um dos setores que mais vêm patinando no país. Enquanto no ano passado o PIB cresceu 2,3%, na construção o crescimento foi menor ainda, de 1,3%”. A área habitacional continuou parada devido a problemas de linhas de crédito. Apresentada esta resumida evolução da história econômica brasileira do período, serão apresentados os principais problemas econômicos do país. 3.2 ALGUNS PROBLEMAS ECONÔMICOS BRASILEIROS: Nóbrega (2000) acredita que grande parte das transformações em curso nos países desenvolvidos já está chegando ao Brasil, principalmente após a abertura da economia, o fim da reserva de mercado de informática e a estabilidade da inflação. O autor salienta que as empresas brasileiras podem beneficiar-se da onda de inovações que caracteriza a nova economia, havendo ganhos de produtividade. Porém, coloca alguns fatores que podem atrapalhar este progresso, se não forem seguidos. São eles: • Deve ser mantida a possibilidade das empresas brasileiras poderem importar tecnologia, softwares, partes, peças e equipamentos. O fechamento da economia bloquearia o acesso à internação dos avanços tecnológicos dos países desenvolvidos. 80 • A contenção da inflação deve ser perseguida pois a volta desta dificultaria o investimento. Obviamente, o resultado deste movimento não será o mesmo do observado em países desenvolvidos. Isto porque não dispomos do estoque educacional, capacidade de investimento, legislação ou mercado de capitais que reproduzam aqui estes ambientes (NÓBREGA, 2000). O autor pondera que apesar de a educação ter melhorado e a população de crianças na escola na idade de 7 a 14 anos ser de 95% e o percentual de pessoas com pelo menos o ensino médio completo (onze anos de estudo) ter aumentado de 11,3% para 18% segundo o PNAD (Programa Nacional de Amostragem Domiciliar) de 1998, ainda, o tempo de escolaridade do trabalhador brasileiro é de apenas cinco anos e meio, em comparação com nove no Chile, e doze na Coréia do Sul. A educação precisa ser revolucionada e há sérias deficiências tais como: currículos pouco adequados às novas exigências do mercado, concentração de recursos na educação universitária, pouca interação ainda existente entre a universidade e a empresa, deficiência do setor de inovação e outros. Nóbrega (2000) considera que o Brasil realizou o que chama de etapa fácil da re-estruturação industrial que é caracterizada pela incorporação de insumos e bens de capital importados, pela redução de custos, pela introdução de novas técnicas gerenciais. Este mesmo autor informa que a participação das empresas brasileiras nas atividades de pesquisa e desenvolvimento é de cerca de 30%, enquanto no Japão é de 70% e na Coréia do Sul é de 81% em 1988. Partindo da informação do autor, pode ser concluído que após a re-estruturação industrial, o país precisa iniciar a fase de geração de inovação, ainda muito incipiente. Tabela 6- Distribuição da população ocupada por tempo de instrução Ano Menos de 1 ano.* De 1 a 3 anos. De 4 a 8 anos. De 8 a 10 anos. De 11 anos e mais 1992 17,8% 19,5% 32% 12% 18,4% 2002 10,7% 13,2% 28,9% 16% 30,7% Fonte: Leite:2004 *Inclui pessoas sem instrução ( exclusive Região Norte) Continuando, ainda com os problemas que Nóbrega (2000) vê para o Brasil há a existência de um sistema tributário complexo e distorcido, com impostos em cascata, regimes diferenciados, várias alíquotas e uma grande instabilidade de regras. Este estado de coisas contribui para o aumento da sonegação, aumento dos custos e dificulta o esforço exportador. O autor aborda o problema da previdência, que é uma fonte de déficit e de desigualdades. O déficit estrutural dos regimes previdenciários brasileiros, o do Instituto Nacional de 81 Seguridade Social e o dos servidores públicos é de 2,01% do PIB para 2006, segundo previsão do Ministério do Planejamento. Além disto, constituem-se em uma fonte de desigualdades sociais, fazendo com que 47% dos gastos públicos com aposentadorias e pensões se destinem aos 20% mais ricos (NÓBREGA, 2000). Outro grande problema apontado pelo mesmo autor é que a Constituição apresenta algumas distorções que tumultuam o ambiente econômico, tais como: • Constitucionalizou tributos em cascata para financiar a seguridade social, em contradição com o sistema tributário nacional; • Recriou o Regime Jurídico Único para o funcionalismo público; • Constitucionalizou excessivamente as funções e garantias do Poder Judiciário; • Criação da vinculação obrigatória de certas receitas para determinadas despesas, diminuindo as verbas destinadas a investimentos. Nóbrega (2000) conclui que o país vem reformulando os principais equívocos constitucionais, porém a custa de tempo e energia para vencer o complexo processo de negociação política necessária para tal. Bielshowsky e Stumpo (1996) consideram que o acesso a informações gerenciais e tecnológicas dificulta a chegada do Brasil à fronteira da eficiência produtiva internacional . As maiores falhas de acesso residem em duas áreas; 1- Insuficiência de atividades de pesquisa científica e tecnológica e; 2- Escassez de empresas nacionais no exterior. Para a primeira, consideram que não é só o governo que investe pouco em Pesquisa e Desenvolvimento, como, também, não parece haver por parte das empresas interesse em investir em P&D. A exposição externa das empresas nacionais e a necessidade de adequação às melhores práticas em mercados em países desenvolvidos, seguramente melhoraria o acesso a informações gerenciais e tecnológicas (BIELSHOWSKY e STUMPO, 1996). O Brasil tem aumentado esta participação mas o estoque de capitais brasileiros no exterior alcança cerca de dois bilhões de dólares contra cerca de setenta bilhões de dólares de capitais estrangeiros no país (DIAS, 1994). Bielshowsky e Stumpo (1996) consideram, ainda, os seguintes entraves para o desenvolvimento do país: 82 • Não existe maturidade para a combinação desejável entre políticas de melhoria de infra-estrutura, energia, transportes, ciência e tecnologia, capacitação laboral e outras e políticas setoriais; • O governo não tem como acompanhar adequadamente as práticas desleais dos concorrentes internacionais; • Tem restrições orçamentárias para investimentos em infra-estrutura; • Não dispõe de instrumentos suficientemente hábeis para a defesa do consumidor e de estímulos para a elevação de suas exigências; • Não dispões de mecanismos de incentivo à concorrência no mercado doméstico em áreas críticas para a competitividade da produção nacional; • Não avança com uma reforma tributária que elimine os impostos em cascata; • Não dispõe de um sistema de crédito abrangente e competitivo com os padrões internacionais e; • Tem restrições de recursos para incentivar a pesquisa tecnológica e capacitação profissional. Outra dificuldade importante para o desenvolvimento brasileiro é apontada por Coutinho (1996), quando considera que o crédito privado no Brasil é outro fator que dificulta o desenvolvimento brasileiro. É caro e concentrado no curtíssimo prazo. É inexpressiva a oferta voluntária de empréstimos a longo e médio prazo pelo sistema bancário nacional, e por outro lado, o acanhado mercado de capitais nacional dificulta a obtenção de financiamento através de emissão de ações ou outros títulos. Nos últimos anos, a estas características foi adicionada uma prática quase contínua de juros reais muito elevados como instrumento de política de controle do processo inflacionário. Coutinho conclui afirmando que alguns dos maiores problemas brasileiros são: • A dificuldade de retomar um crescimento econômico acelerado em face da distorção das condições de competitividade industrial, que devido aos juros altos inviabiliza o futuro de um grande número de setores e atividades; • A fragilidade competitiva da indústria em todos os setores de alto valor agregado e conteúdo tecnológico, com competitividade revelada em apenas alguns setores produtores de commodities de elevada escala de produção e baixo valor agregado; • A debilidade estratégica e o reduzido tamanho dos grandes grupos empresariais brasileiros para atuar no cenário global e; 83 • A falta de um programa de reformas que reduzissem as fragilidades existentes através de um projeto de desenvolvimento industrial. Oreiro, Sicsu e Paula (2003) afirmam que o governo deverá criar um ambiente seguro. Porém, o conceito de segurança que têm em mente é a constituição de um ambiente caracterizado por menos incertezas para investimentos em capital fixo. Ou seja, a segurança necessária para reduzir os riscos do investimento produtivo, levando os investidores a apoiar projetos de menor liquidez que, no entanto, rendem lucros e geram empregos. O governo não deve concorrer com a livre iniciativa. Mas, deve investir em projetos que compensem as quedas de gastos privados para que sustente uma trajetória de crescimento em busca do aumento do emprego. As ações governamentais de políticas macroeconômicas devem ser complementares à iniciativa privada (OREIRO, SICSU e PAULA, 2003). Feijó (2003) considera que desequilíbrios macroeconômicos são a norma e não a exceção no funcionamento de uma economia de mercado e o governo deve exercer sua função de gestor para atenuar estes desequilíbrios. E isto deve ser feito em dois planos: 1) no horizonte de curto prazo focando o nível geral de atividade; 2) no horizonte de longo prazo através de políticas setoriais e regionais, visando o aumento da produtividade, dos salários reais e do nível de emprego. Feijó indica que a ação coordenadora do Estado, através de políticas macroeconômicas e industriais, seja um marco e oriente as demais ações políticas. E, considerando os desequilíbrios na estrutura da produção existentes nos últimos anos, deve ser elaborada uma política industrial que mude a estrutura produtiva do país. Tal política deve privilegiar setores de maior conteúdo tecnológico, com vantagens competitivas nos mercados internacionais, de maneira a aumentar a competitividade e incentivar o investimento em inovação tecnológica. Além disto, Feijó (2003) verifica que tal atitude não será suficiente, já que a escassez de postos de trabalho aumentou excessivamente a informalidade nas relações de trabalho. Grande parcela da população ocupada encontra-se em atividades na chamada economia informal, com condições precárias de trabalho e remuneração insuficiente. Assim, é necessária uma política de geração de empregos lastreada no crescimento da economia, aliada à melhoria da eficiência da mão de obra. Hermann (2003) apresenta o seguinte conjunto de medidas para os problemas econômicos brasileiros: 84 a) Redução da taxa básica de juros viabilizando melhores condições de financiamento para os investidores, além de contribuir para o próprio ajuste interno e externo da economia; b) Mudança da política de gestão da dívida pública federal na direção de um alongamento e da redução drástica do grau de indexação à volatilidade do mercado e; c) Criação de medidas pontuais que criem vantagens compatíveis para os ativos de longo prazo frente aos de curto prazo, tais como o rebaixamento dos retornos dos ativos de curto prazo. Um outro problema que vem sendo verificado pelos estudiosos é o desequilíbrio regional existente no Brasil. Diniz (2002) afirma que uma das medidas fundamentais para a economia é a recuperação da capacidade de planejamento do Estado. Crocco (2003) ratifica tal afirmação, enunciando que existem desigualdades do ponto de vista da produção de bens e serviços e variáveis financeiras, além de um círculo vicioso nas regiões atrasadas que impede a oferta e demanda de financiamentos. Este estado de coisas só será modificado pela intervenção organizada do governo. O que, no entanto, é dificultado pela falta de planejamento e má situação das contas públicas. Crocco (2003) continua a exposição de suas idéias afirmando “ que é necessária uma combinação entre o Estado e a iniciativa privada na divisão do financiamento do desenvolvimento regional”. Michel (2003) salienta o fato de que a economia brasileira convive com uma reestruturação produtiva resultante da abertura comercial. Com o processo de globalização houve um aprofundamento da inserção do Brasil na economia mundial. Daí a necessidade de uma nova estrutura produtiva que exige maiores qualificações. Deste modo, um programa de qualificação é uma condição necessária, até para evitar o aprofundamento das desigualdades . Michel (2003) considera que a nova planta produtiva exige um trabalhador que tenha como perfil básico a habilidade mental em lugar da habilidade manual, ou seja, como afirma o autor “ aprender a pensar é mais importante que aprender a fazer”. Portanto, a qualificação do trabalhador tem um duplo benefício. Ao mesmo tempo em que atende às novas exigências da inserção do país em termos de competitividade, ajuda a melhorar o padrão de desigualdade existente. Treinamento e qualificação podem não ser suficientes para melhorar a desigualdade mas, são condições necessárias para tal. Além disto, Michel (2003) alerta para a necessidade de políticas sociais como instrumento para diminuir o panorama de extrema desigualdade existente em nosso país. 85 Tabela 7- Distribuição pessoal da renda do trabalho no Brasil de 1981 a 1995 Grupos de 1981 1986 1990 1992 1993 1995 12,1 14,0 13,9 13,1 15,5 13,4 44,9 47,3 48,1 45,1 49,0 47,1 14,5 13,5 12,0 14,0 12,9 13,3 0,9 1,0 0,8 0,8 0,7 1,0 renda 1% mais rico 10% mais ricos 50% mais pobres 10% mais pobres Fonte: Michel, 2003. Leite (2004) mostra uma preocupação extremada com a crescente pobreza no Brasil. Conclui que o problema só pode ser combatido com políticas públicas que compreendam: criação de condições para que os próprios pobres possam sair desta situação e complementarmente o da assistência financeira temporária, enquanto não se alcancem os resultados das políticas de melhoria da renda. Concordando, assim, com Michel. Leite ( 2004) considera que falta ao país uma estrutura de planejamento de longo prazo. Não há um projeto nacional de longo prazo. O autor evidencia a necessidade de uma estratégia de desenvolvimento visando conciliar os objetivos nacionais. Assim, acredita que qualquer estratégia econômica para o país deve conter: 1) A participação conjunta da sociedade, governo, legislativo etc. para optar e estabelecer prioridades; 2) Propostas de expansão da capacidade produtiva de modo a propiciar aumentos subseqüentes de produção; 3) Estabelecimento de programas de desenvolvimento de novas tecnologias; 4) Propostas de elevação do nível de educação fundamental; 5) Formação de uma capacitação técnico-administrativa apta a conduzir a análise comparativa entre benefícios econômicos e agressões ambientais para cada novo empreendimento e; 6) Estabelecimento da capacidade de planejamento a longo prazo, sem incorrer no erro do planejamento centralizado. Encerrada esta discussão sobre os principais problemas brasileiros, é importante que seja entendido como estes problemas se refletem na construção civil. 86 3.3 OS PROBLEMAS ECONÔMICOS BRASILEIROS E A INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO CIVIL A análise de diversos economistas brasileiros em relação ao diagnóstico geral de alguns problemas nacionais, pode ser estendida à indústria da construção civil. É verificado que grande parte dos problemas analisados, também se aplicam à indústria da construção civil. Isto acontece devido aos seguintes fatores: a) Falta de estoque educacional; b) Baixa capacidade de investimento; c) Falta de crédito; d) Altas taxas de juros e; e) Carga tributária excessiva. O problema da educação deve ser analisado sob nova ótica já que, como Nóbrega (2000) ressalta, houve avanços na educação. O problema é que se objetiva quantidade e não qualidade. As pessoas saem da escola sem saber ler e interpretar textos corretamente, bem como têm dificuldades nas operações matemáticas. Tal fato tem sido demonstrado pelos recentes resultados de avaliações feitas pelo Ministério da Educação (CASTRO, 2007). É necessário investimento em programas de capacitação da mão de obra de maneira a elevar sua qualidade na construção civil. O governo poderia considerar a aplicação de ações como aquelas preconizadas por Feijó (2003) e já citadas, de maneira que haja: a) Investimento no aumento do estoque educacional do país; b) Políticas de aumento do emprego e da renda; c) Políticas de aumento da eficiência da mão de obra. Com estas medidas serão criadas as condições necessárias para que sejam feitas reformas estruturantes nas diversas atividades produtivas. E entre essas, atenção especial deve ser dada à construção civil que, se fortalecida poderá equacionar o problema redução do déficit habitacional. A geração da inovação, incipiente no país como afirma Nóbrega (2000), dificulta a utilização de novas técnicas construtivas ou utilização de novos materiais e processos na construção civil. A participação das empresas, no país, é baixa no desenvolvimento de tecnologia, sendo estimada em 30% por Nóbrega (2000) e a das empresas de construção civil 87 é de 3 a 6% (PAEP, 2001), não facilitando a utilização das técnicas de redução de custo preconizadas por Zanelatto, Yukaren e Fabriis (2003). Outro grande problema da construção civil é a alta incidência de impostos e o sistema tributário complexo. Estes fatos dificultam as operações das pequenas e médias empresas da construção que, de um modo geral, operam com contadores externos que têm dificuldades com as diversas mudanças de tributos e a complexidade do sistema. As restrições orçamentárias do governo e a inexistência de um sistema de crédito abrangente e competitivo, em conjunto com as altas taxas de juro praticadas, sufocam a construção civil. E, principalmente o ramo imobiliário que, sem acesso ao financiamento, não tem como suprir as necessidades do déficit habitacional. Como apontado por Coutinho (1996) o crédito é caro e concentrado no curto prazo. 3.4 A INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO CIVIL NA ECONOMIA BRASILEIRA A Construção Civil é integrada por uma série de atividades complexas, ligadas entre si por uma vasta diversificação de produtos, com processos com grau variado de originalidade, vinculando-se a diferente tipos de demanda (SEBRAE-MG, 2005). Geralmente, a Indústria da Construção Civil é classificada nos seguintes subsetores: (i) Subsetor de Materiais de Construção; (ii) Subsetor de Edificações; (iii) Subsetor de Construção Pesada. Existem, ainda, outras classificações tal como a que divide o setor em (SEBRAE-MG, 2005) : a) Edificações. b) Construção Pesada. c) Montagem Industrial. Trata-se, indubitavelmente, de um segmento extremamente importante para o crescimento e desenvolvimento brasileiros, levando em conta as especificidades do setor, a saber (SEBRAE-MG, 2005): 1) Elevado efeito multiplicador; 2) Menores necessidades de investimento, devido a baixa relação capital/ produto; 3) Utilização intensiva de mão de obra, incluindo a não qualificada; 4) Responsável por significativa porção dos investimentos e; 5) Reduzido coeficiente de importação. 88 A Indústria da Construção Civil é composta por uma complexa cadeia produtiva, que abrange setores industriais diversos tais como: mineração, siderurgia do aço, metalurgia do alumínio e do cobre, vidro, cerâmica, madeira, plásticos, equipamentos elétricos e mecânicos, fios e cabos e diversos prestadores de serviços como escritórios de projetos arquitetônicos, serviços de engenharia, empreiteiros etc. Um perfil setorial da construção civil brasileira, elaborado pelo SEBRAE-MG (2005) apresenta as seguintes características para o setor: a) Demanda apresentando forte correlação com a evolução da renda interna e condições de crédito; b) Altamente intensivo na geração de emprego, principalmente mão de obra desqualificada. c) Pequena participação do emprego formal na participação total de empregados ocupados no setor; d) Existência de diversos problemas quanto ao cumprimento de normas técnicas e padronização; e) Apresenta níveis de competitividade, produtividade abaixo do padrão existente nos países desenvolvidos e; f) Apresenta baixa atualização nos aspectos tecnológicos e de gestão quando comparado aos padrões dos países desenvolvidos. 89 Setor de Extração de Minerais Setor Produtor de Materiais de Construção. Comércio de Insumos para a Construção Civil Construção Civil Figura 5 - Estrutura da Cadeia Produtiva da Construção Civil Fonte: Sebrae-MG,2005 O SEBRAE-MG em estudo do setor, datado de março de 2005, afirma que qualquer empreendimento, público ou privado, tem em sua estrutura de custos uma parcela significativa referente à construção civil. Assim, defende a posição de que se forem reduzidas as ineficiências apresentadas pelo setor, há a possibilidade dos custos de investimento no país serem reduzidos. O documento ressalta, no entanto, o trabalho positivo realizado neste sentido por programas como o PBQP-H e outros, que promovem a melhoria da qualidade, produtividade e aprimoramento dos sistemas de gestão no setor habitacional 90 Tabela 8- Produto Interno Bruto do Brasil e da Construção Civil 1991-2005 Período Crescimento Crescimento do PIB- do PIB-Brasil( %) Construção Civil( %) 1991 1,03 (1,19) 1992 (0,54) (6,29) 1993 4,92 4,46 1994 5,85 6,99 1995 4,22 (0,43) 1996 2,66 5,21 1997 3,27 7,62 1998 0,13 1,54 1999 0,79 (3,67) 2000 4,36 2,62 2001 1,42 (2,60) 2002 1,5 (2,50) 2003 0,54 (5,20) 2004 4,94 5,70 2005* 3,50 ND *Projeção feita pelo IPEA( Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas) Fonte- CBIC, 2004 Analisando os dados da tabela 9, é esperado que o aumento do PIB estimule a demanda interna, criando condições para a recuperação do crédito e, por conseguinte, refletindo positivamente na indústria da construção. Apesar da recuperação positiva da construção civil em 2004 e da expectativa para 2005, o setor vem perdendo participação relativa no Produto Interno Bruto. A participação que era de 10,1% em 1988 passou para 7,23% em 2003 (SEBRAE-MG, 2005). Observa-se que a análise feita através do estudo elaborado pelo SEBRAE-MG (2005), considera a indústria da construção civil como um segmento homogêneo, como o setor automobilístico, por exemplo. No entanto, o que caracteriza o setor da construção civil é a sua heterogeneidade. O Ministério da Indústria , Desenvolvimento, Indústria e Comércio (2002) apresenta um quadro de fluxos na construção bastante detalhado, que é reproduzido na figura a seguir, e que servirá para uma análise da construção civil sob a ótica da segmentação. A definição dos segmentos, adotada pelo MDIC (2002), e mantida neste trabalho, é a seguinte: 91 Venda Direta: feita diretamente do produtor Grande médio porte: superior a 1000m2 e faturamento acima de R$ 300 mil /mês. Pequeno porte: inferior a 1000m2 e faturamento abaixo de R$ 300 mil /mês. Produção: Produção própria / preço de custo: individualizada, alto padrão, construção por administração, venda a preço de custo ou mercado. Produção privada imobiliária: condomínio, incorporação, construção e venda a preço fechado, no mercado imobiliário. Produção e gestão estatal: o estado é o gestor da produção ou gestor do financiamento à produção ou aquisição com objetivos sociais. Autoconstrução: construção de baixa renda para a própria família ou para venda, construção individualizada, informal e formal. Figura 6 - Diagrama de Fluxos Fonte: MDIC, 2002 Amorim (2002) ressalta o fato de que o diagrama elaborado pelo MDIC (2002) não contempla todos os fluxos que ocorrem no sentido de produção da cadeia. Foram desprezados alguns fluxos transversais e pequenos fluxos no sentido da cadeia. O autor elaborou a seguinte 92 tabela, onde apresenta a segmentação do mercado imobiliário de modo mais fácil para interpretação. Esta segmentação será utilizada para a apresentação de comentários sobre os diversos segmentos. Tabela 9-Participação dos segmentos na comercialização de insumos Fonte: AMORIM, 2002 Os dados da tabela 9 podem ser mostrados em outra formatação de modo que se relacione a participação de cada segmento no mercado imobiliário, o volume de compras ao tipo de produção. Isto é demonstrado na tabela 10. Tabela 10-Participação dos segmentos no mercado e volume de compras Tipo de Participação no Volume de compras (%) Produção mercado(%) unidades Produção 8 35 22 32 Gestão estatal 10 5 Autoconstrução 60 28 própria Privada imobiliária Adaptado de Amorim, 2002 Produção própria: Como se trata de um tipo de habitação individualizado de alto padrão, destina-se a um pequeno público consumidor de maior poder aquisitivo, explicando, desta forma , a participação de oito por cento no mercado. Por se tratar de um grupo de alta renda, não está sujeito à dificuldade de obtenção de financiamento para a construção. Assim, este público 93 pode comprar materiais e serviços de maior qualidade e mais caros, caracterizando o maior volume de compras (trinta e cinco por cento). Estas habitações são construídas por empresas de melhor qualificação do mercado, que se utilizam em sua maioria de sistemas de gestão da qualidade, contribuindo para a melhoria da operação. No entanto, segundo o MDIC (2002), mesmo neste segmento o avanço tecnológico pouco melhorou devido a fatores como: i) grau de formalidade da mão de obra, ii) para reduzir custos as empresas terceirizam e, assim, perdem capacitação técnica e como pagam pouco aos empreiteiros, estes não investem em capacitação e treinamento. Privada imobiliária: Este segmento destina-se à classe de média alta renda, e as unidades são produzidas através de condomínio, incorporação e construção e venda a preço fechado. Como os demais, também sofre da falta de normalização técnica, o que é uma característica predominante na construção civil. As normas existentes focam na prescrição e não no desempenho (MDIC, 2002). Há necessidade de se melhorar o projeto habitacional com maior utilização de coordenação modular e compatibilização entre subsistemas (MDIC, 2002). Os programas de gestão da qualidade geraram mudanças em relação ao controle de seus processos e qualidade, porém há uma demanda pela avaliação dos resultados já que as empresas querem saber se o investimento foi válido. Dados de 2003 da Secretaria do Tesouro Nacional, citados por Triana (2006), indicam que as despesas governamentais na função habitação alcançaram pouco mais de R$ 1,7 bilhão. Os Municípios foram responsáveis por 60,5% do montante aplicado, os Estados responderam por 32,5% e a União por apenas 7% destes recursos. Em 2004, os valores mantiveram-se em patamares semelhantes. A grande maioria destes recursos foi destinada para a habitação de baixa renda. Como a participação do governo é pequena nos financiamentos do segmento privada imobiliária, não existe , neste segmento, uma indução por exigência governamental para a utilização de sistemas de gestão da qualidade. Só as melhores empresas de construção civil praticam as evoluções ocorridas na última década, mas existe uma tendência de que estas práticas sejam disseminadas pelo segmento (MDIC, 2002). Os mesmos fatores que prejudicam o avanço tecnológico do segmento de produção própria são sentidos no setor privado imobiliário. 94 Produção e gestão estatal: Neste segmento, o estado é o gestor da produção ou do financiamento à produção ou aquisição com objetivo social. A perda de renda acontecida nos últimos anos no grupo de média renda baixa, adicionada à diminuição do financiamento habitacional explica a baixa participação deste segmento no mercado (dez por cento) e no volume de compras (cinco por cento). Por ser gerido pelo governo, neste segmento, pode-se exigir das empresas que possuam sistemas de gestão da qualidade. Como os demais, este também, sofre com os problemas de: i) falta de normalização, ii) falta de investimentos em tecnologia e gestão, iii) falta de gerenciamento na construção, iv) grau de formalidade da mão de obra (MDIC,2002). Autoconstrução: Este segmento atende à média renda baixa (5 a 10 SM) e renda baixa ( até 5 SM). Portanto, compreende a construção de baixa renda para o uso da própria família ou para a venda. De uma maneira geral, caracteriza-se por edificações individuais, atendidas pelo mercado formal ou informal. Neste segmento, por se tratar de baixa renda, a falta de recursos para financiamento é mais acentuada. E, tanto a cadeia de construção quanto o governo, não conseguem suprir esta deficiência. Devido à dificuldade de financiamento esta parcela do mercado consumidor é forçada à produção informal. Com a restrição de acesso ao mercado e carência de programas governamentais, os custos de construção elevam-se e a qualidade é muito baixa, conforme dados do MDIC (2002). Em relação à autoconstrução, observa-se a falta de políticas de apoio e uma baixa capacidade de regulação e coordenação. Outro problema que afeta este segmento é a escassez de normalização técnica e a informalidade, prejudicando, ainda mais, a produtividade com perdas e desperdícios maiores (MDIC, 2002). Oliveira (2006) acredita que a autoconstrução tem potencial para reduzir o problema do déficit habitacional, desde que sejam solucionados problemas como: 1. não conformidade; 2. baixa qualidade e; 3. informalidade da mão de obra. Tais problemas também podem ser amenizados através de políticas governamentais (MDIC, 2002). A tendência da autoconstrução e da construção informal é crescer, devido ao aumento constante das necessidades habitacionais em regiões de menor infra-estrutura. Logo, existe a possibilidade de que a participação no mercado e no volume de compras seja 95 incrementada. E desta forma, é criada uma oportunidade para que as empresas da cadeia da construção civil se posicionem neste mercado, desde que tenham em mente a necessidade de redução de custos, melhoria da qualidade e utilização da mão de obra local com os devidos cuidados de qualificação. Para isto, podem ser utilizados exemplos como o da Cemex (PRAHALAD, 2005). A Cemex é uma empresa mexicana que fabrica e vende cimento bruto, sendo o terceiro produtor mundial. Esta empresa criou um modelo interessante de aumentar vendas, ao formar grupos nas áreas pobres do México. Através destes grupos, identificou maneiras de proporcionar crédito às pessoas pobres, ensinou métodos e práticas de construção para reduzir custos e ao mesmo tempo aumentou suas vendas. O exemplo citado apresenta diversas soluções que podem ser aplicadas pelas PMEs da construção civil. Estas podem se associar a órgãos de financiamento, visando à provisão de recursos para o público de média renda baixa e renda baixa. Deve ser observado que esta política já é adotada, com sucesso, por organizações de outros segmentos.12 As PMEs devem considerar que o público alvo tem como prioridade a adequação do desembolso financeiro à sua capacidade de pagamento. Uma outra possibilidade é a parceria com associações de moradores para que as PMEs ofereçam a este público as vantagens da construção formal como qualidade, segurança, custo adequado, redução de desperdícios e o treinamento em técnicas construtivas e a utilização deste público como mão de obra. Outras providências, já citadas anteriormente, também podem ser consideradas. Neste capítulo, foi mostrada uma breve descrição da evolução econômica brasileira nas décadas recentes, as transformações econômicas que o país atravessou e os problemas decorrentes destas transformações. Foi traçado um panorama demonstrando como as instabilidades econômicas brasileiras afetam a construção civil, principalmente nas PMEs, causando problemas de qualidade e produtividade, perdas e desperdícios, acidentes de trabalho e outros. Verificou-se a importância da indústria da construção civil no cenário econômico e como é parte integrante da solução de problemas como redução do déficit habitacional, dos altos índices de desemprego etc. Vislumbraram-se maneiras de como as PMEs podem auxiliar na melhoria da qualificação profissional e aprimoramento das condições de habitação e segurança das autoconstruções, e neste caso foi citado o exemplo da Cemex. Os problemas da construção civil causados pela situação da economia do país podem ser minorados através de medidas como melhoria contínua, gerência do conhecimento, 12 Um exemplo é o modelo de vendas adotado pelas Casas Bahia, que tem como foco o público de baixa renda. 96 introdução de melhores prática de planejamento, visão global, conhecimento do mercado e da concorrência dentre outras. Isto é conseguido com a utilização de Sistemas de Gestão da Qualidade que permitem às empresas conhecerem seus pontos deficientes e traçarem estratégias visando ao aprimoramento contínuo, e se adaptarem às mutações do ambiente. Assim, é importante que se conheça qual a situação da qualidade na construção civil brasileira, os programas existentes, e como podem ser melhorados. Com o aprimoramento dos programas existentes o empresário das PMEs da construção civil obterá melhores condições de sobreviver no ambiente global de nossos dias. E a melhoria contínua é determinante para isto. Desta forma, descreve-se, a seguir, a situação da qualidade na construção civil brasileira 4. A EVOLUÇÃO DA QUALIDADE NA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO CIVIL BRASILEIRA A qualidade resulta da participação dos profissionais nos processos construtivos, utilizando-se das ferramentas colocadas à sua disposição. Portanto, é importante que se conheça o perfil dos trabalhadores envolvidos na construção civil. Assim, o capítulo é iniciado com uma descrição destes trabalhadores, seu perfil e as condições em que exercem suas funções. É importante, também, que sejam detalhadas as tendências e principais características do segmento em estudo, qual o panorama da certificação ISO 9000 na construção civil e discutidos os principais programas de qualidade da construção civil . Com este procedimento será possível entender a atual situação da qualidade na construção civil e os fatores que atuam na cadeia produtiva, facilitando ou dificultando sua obtenção, bem como, propor melhorias para os programas existentes. 4.1 OS TRABALHADORES E A CONSTRUÇÃO CIVIL A construção civil brasileira vem passando por um processo de mudanças e re- estruturações que alterou diretamente o dia-a dia dos empregados e do movimento sindical do setor, segundo a visão de órgãos como o DIEESE (2001). Aproximadamente 5,4 milhões de pessoas são empregadas na construção civil. Além disto, é possível afirmar, segundo o DIEESE (2001), que “ para cada cem empregos diretos gerados na construção civil, outros 285 postos de trabalho são abertos em atividades ligadas ao macro-setor”. No entanto, somente 954.000 (20,1%) estão empregados com carteira profissional assinada. Os demais se dividem da seguinte forma: a) Empregados sem carteira assinada- 30,8% do total. b) Trabalhadores por conta própria- 41% do total. 98 c) Trabalhadores ocupados na construção da própria casa ou sem remuneração- 3,7% do total. d) Pessoas ocupadas como empregadores- 4,3% do total. Cerca de 3.400.000 pessoas ocupadas na construção civil não contribuem para a Previdência Social, em sua maioria têm jornada de trabalho superior ao limite legal e ganham menos de cinco salários mínimos (DIEESE,2001). Situação dos Ocupados na Construção Civil1999 120,00% Percentual 100,00% 80,00% 60,00% Seqüência1 40,00% 20,00% 0,00% 1 2 3 4 Categorias 5 1-Em pregados s em carteira30,8% 2- Por conta própria- 41% 3Trabalham mais de 44 hs 48,8% 4-Não Contribuem INSS-72,4% Total ocupados C t Ci il Figura 7- Situação das Pessoas Ocupadas na Construção Civil Fonte: PNAD,1999 Estudos feitos pelo DIEESE (2001) apresentam os seguintes pontos principais em relação à situação dos trabalhadores na Indústria da Construção no estado de São Paulo: a) A dinâmica de trabalho na construção civil é marcada pela estrutura de ofício. Em São Paulo, 42,6% dos trabalhadores na construção civil são pedreiros e 19,5% são serventes; b) A diferenciação regional dos rendimentos é outra característica do setor; c) Existe uma rotatividade muito grande de mão de obra no setor. Em São Paulo, por exemplo, 52,8% dos empregados não completam um ano na mesma empresa; 99 d) Os trabalhadores do setor compõem a base da pirâmide social urbana e a construção civil aloca um grande contingente dos trabalhadores mais pobres; e) Existe uma baixa taxa de escolarização entre os empregados da construção civil; f) Há um grande número de migrantes como empregados da construção civil e; g) A construção civil é composta, na grande maioria, por trabalhadores do sexo masculino, com média de idade superior à dos demais setores da economia. Tabela 11- Tabela comparativa entre Regiões Metropolitanas quanto a Média de Anos de Estudo e % de Analfabetismo 1998 /99 Regiões Idade Média Anos de Estudo Taxa de Analfabetismo Belo Horizonte 36 5 6,6% Distrito 37 5 10,1% Porto Alegre 38 6 4,3% Salvador 36 6 9,2% São Paulo 36 5 12,7% Recife 35 5 16,1% Metropolitanas Federal Fonte; DIEESE,2001 Tabela 12- Condição de Migração por Regiões Metropolitanas- 1998/ 99 Regiões Metropolitanas Migrante Belo Horizonte 58,6% Distrito Federal 86,1% Porto Alegre 60,5% Recife 35,8% Salvador 54,6% São Paulo 76,4% Fonte: DIEESE, 2001 As empresas têm buscado uma maior flexibilização dos contratos de trabalho e da jornada. Associados a isto, observa-se uma tendência à sub-contratação e à terceirização na maioria dos empreendimentos. Logo, há uma redefinição nas relações entre o capital e o trabalho na construção civil. Verifica-se uma simplificação da terceirização no sentido de reduzir custos, já que as empresas contratam sub-empreiteiros com a finalidade precípua de deixar de pagar os custos sociais e terceirizar os riscos do passivo trabalhista. Estes fatos são corroborados por levantamentos do DIEESE (2001). 100 Na seção seguinte serão apresentadas as tendências da indústria da construção civil. 4.2 PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO CIVIL NO BRASIL As transformações ocorridas no país nas últimas décadas geraram mudanças nos aspectos sociais, econômicos e políticos que forçaram novos posicionamentos no comportamento empresarial. Como já comentado, o país deixou de ser uma economia agrária, com população eminentemente rural, para tornar-se uma economia industrial e de serviços, com a maior parte da população vivendo no ambiente urbano. Apesar deste ambiente mutante, Fossati (2004) considera que a indústria da construção civil permaneceu com uma postura reativa, se contrapondo a transformações, ao contrário do ocorrido em outros ramos industriais, onde houve uma adaptação bem mais rápida aos novos tempos de maior competição, exigências maiores dos clientes e maior abertura aos novos padrões gerenciais e, assim, facilitando as metodologias para desenvolvimento da qualidade. Amorim (1995) diverge do exposto por Fossati (2004), pois sustenta que o Estado brasileiro utilizou uma política tecnológica atrasada, onde através de artifícios e instrumentos legais, incentivava técnicas intensivas em mão de obra na construção civil, em detrimento da atualização tecnológica. Na construção civil, devido a particularidades próprias do setor, alguns conceitos e programas de desenvolvimento da qualidade estão longe de se configurar uma realidade. A adaptação da norma ISO 9000 na construção civil ainda é difícil para garantir resultados adequados para a qualidade de um empreendimento em construção. Autores como Santos (2003) afirmam que: “ o principal problema está na proposição para a qual a norma foi concebida, pois originalmente ela foi estruturada para atender `a tipologia da indústria de produção seriada onde a relação cliente-fornecedor é biunívoca e estável, os processos e as atividades de produção são repetitivos, a demanda pode ser analisada mais detalhadamente e os custos diretos e indiretos são pulverizados ao longo do processo”. No entanto, não é o que acontece na construção civil que não tem produção seriada. Sua característica é a produção unitária, sem quase nenhuma padronização, pouca automatização e grande número de instrumentos. 101 Outros autores como Silva (2000) expõem mais fatores que dificultam a implementação de Sistemas de Gestão da Qualidade na construção civil tais como: i) O cliente é conhecido e interfere de forma ativa na concepção e execução do empreendimento; ii) Os projetos e as obras são feitos de modo separado; iii) Há alta rotatividade e baixa capacitação da mão de obra e, assim, o treinamento fica dificultado; iv) O trabalho é, na maioria das vezes, feito com baixo nível de automatização; v) A identificação dos problemas é feita durante a produção; vi) Há um grau elevado de incerteza durante o planejamento e; vii) Não existe o hábito de se fazer reuniões de avaliação do empreendimento nem avaliações pósocupação, o que impede a melhoria contínua e o aprendizado. Além dos fatores já enumerados, Verdi (2000), apoiando-se em Bobroff (1993) e Amorim (1998), afirma que, também, os projetos de engenharia nesta indústria possuem características e peculiaridades que os diferenciam em relação aos projetos seriados: 1) A confecção de um projeto ainda é de certa maneira uma atividade artesanal com cada produto sendo produzido individualmente por uma ou mais pessoas. Embora haja a utilização da informática, cada documento é uma unidade distinta e não há grau de comparação com uma produção seriada; 2) Um projeto é constituído de uma grande quantidade de desenhos, especificações, memoriais etc. e não é o resultado único de uma produção seriada. Assim, o nível de qualidade do todo deve ser o mesmo das partes; 3) A qualidade final de um projeto é revelada na sua execução e o cliente não consegue detectar todas as falhas no recebimento. Muitas vezes as falhas só são identificadas em fases avançadas da construção, onerando o empreendimento; 4) O grande número de envolvidos no processo de projeto (usuários, clientes, projetistas, financiadores, construtores) com interesses muitas vezes divergentes e relações contratuais pouco definidas, implica em que a definição do conceito de qualidade fique na dependência dos diversos participantes. Já para bens de consumo, o usuário e o comprador são a mesma pessoa e; 5) A improvisação é uma constante. Não se investe tempo em planejamento e atividades como estudos de construtabilidade e, assim, a atividade tem que ser revista e refeita no canteiro. 102 4.3 TENDÊNCIAS DA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO CIVIL A Indústria da Construção Civil não apresenta um grau acentuado de automatização e modernização. A utilização de máquinas na construção é comum apenas em grandes obras de Construção Pesada. No entanto, diversas modificações estão sendo introduzidas. A utilização de componentes industrializados como argamassas industrializadas e concreto usinado é um exemplo desta tendência. Há, também, uma redução pequena nos postos de trabalho, resultado da conjuntura política e econômica (SEBRAE-MG, 2005). A falta de investimentos em obras públicas de grande porte tem feito com que os empresários atuantes neste segmento se desloquem para obras privadas de menor porte tais como: edifícios residenciais, shopping centers etc. Mas, deve ser levado em conta que o Brasil é um país com uma carência grande de infra-estrutura e com um déficit habitacional considerável. Logo, há um mercado de grande potencial. No segmento de moradias, a construção e reforma de residências unifamiliares têm apresentado grande participação no mercado da construção. Estes empreendimentos são conduzidos, em geral, por profissionais autônomos. São obras lentas por serem financiadas com recursos próprios dos proprietários (MDIC, 2002). Observa-se uma nova tendência na construção civil com empresas grandes se dividindo em outras menores e especializadas, terceirizando parte de suas atividades. De acordo com estudos do SEBRAE-MG (2005) e do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (2002) são as seguintes as principais tendências para a Indústria da Construção Civil: 1) A necessidade da retomada do investimento em infra-estrutura e de redução do déficit habitacional brasileiro, condições indispensáveis para um crescimento sustentado da economia brasileira e para a melhoria das condições de vida do povo, contribuirão para uma evolução do setor; 2) Nos segmentos de alta e média renda , onde predomina a construção formal, haverá uma redução do desperdício e do tempo de construção, aumento da qualidade, maior qualificação da mão de obra como resultado dos programas de melhoria contínua, certificação, treinamento e qualificação tais como PBQP-H, SENAI etc; 3) As medidas programadas pelo governo para incentivar o setor (já listadas em outra seção deste trabalho) visando a aumentar recursos destinados à habitação para a aquisição de imóveis e materiais de construção possibilitarão o crescimento do segmento; 103 4) Uma tendência a utilizar elementos pré-fabricados e o aço em sistemas construtivos. O aço é uma solução que proporciona mais agilidade, menores prazos, maior qualidade e redução do desperdício. Apesar da pouca utilização do aço, as grandes siderúrgicas têm mostrado interesse em investir no segmento. Se este for mais utilizado, haverá uma tendência dos fabricantes de concreto para o desenvolvimento de tecnologias inovadoras preparando-se para a competição e; 5) Deverá haver uma intensificação das exportações dos serviços de engenharia de construção civil para mercados selecionados como América do Sul e Central desde que sejam resolvidos problemas de financiamento, indispensável em obras neste segmento, reconhecimento e equivalência de diplomas etc. 4.4 A QUALIDADE NA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO CIVIL BRASILEIRA Apesar das especificidades da construção civil e da conclusão de que o formato desta indústria é diferente da produção em série, não há impedimentos para que se busquem soluções para implementar Sistemas de Gestão da Qualidade no setor, objetivando a melhoria contínua. Snyder (1993) apresenta um caso bem sucedido de mudança em busca da qualidade e defende um processo de melhoria de desempenho. Esta metodologia foi estudada por Melhado (1994) que considera haver vários pontos de interesse para que seja aplicada a uma empresa de construção civil. As etapas do processo proposto por Snyder (1993) são: 1) Escolha precisa de um ponto a ser focalizado para melhoria; 2) Definição do processo atual e seu fluxograma; 3) Identificação dos pontos críticos, de comportamento ou rotinas estabelecidas; 4) Definição de indicadores para medida do progresso obtido; 5) Estabelecimento da linha de partida (desempenho atual); 6) Escolha das metas a serem atingidas; 7) Elaboração do plano de ação: programas, remoção de barreiras, implementação de novas idéias; 8) Identificação de ligações a serem estabelecidas com outras áreas ou empresas, bem como o tipo de envolvimento que será necessário em cada caso; 9) Dar retorno aos participantes através de informações sobre os resultados obtidos e; 10) Revisão dos itens três, seis e sete para readequar o processo. Os pontos apresentados por Melhado (1994) são os seguintes: 104 1) Deve ser feito, inicialmente, um diagnóstico da empresa ou de um processo da mesma, antes de qualquer outra iniciativa de qualidade, para que se tenha objetividade e direcionamento de ações a serem empreendidas; 2) Deve haver um sistema de apropriação de dados bastante completo para que se possa aferir os resultados do programa em comparação aos resultados anteriores (muitas construtoras não possuem tal sistema); 3) Devem ser motivados todos os setores e indivíduos direta ou indiretamente envolvidos a seguir os princípios e metas do programa. A introdução de conceitos de qualidade é uma nova tomada de consciência na construção civil, forçando as empresas a um posicionamento. Este movimento não é novo e já está presente em outros países. É observada uma tendência na indústria da construção civil visando à introdução de Sistemas de Gestão da Qualidade. Dados do PBQP-H (2005) mostram que em agosto de 2005 havia 1202 empresas qualificadas no Brasil, 3000 em processo de qualificação, sendo 502 apenas na região Sudeste e 28 programas setoriais de melhoria da qualidade em andamento. Especialmente no estado de São Paulo, observa-se uma mobilização maior pela qualidade desde a criação do Qualihab, que é uma certificação evolutiva para o setor da construção civil e que vem sendo exigida pela Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU) para contratação das obras habitacionais executadas pelo governo paulista. O Sistema de Gestão da Qualidade nas empresas construtoras abrange desde a elaboração do projeto até a assistência pós-venda (CTE,1993). Silva (1996) afirma que o cliente final, externo ao processo produtivo, recebe um produto onde existem uma série de relacionamentos clientes-fornecedores garantindo a qualidade final deste produto. Observa-se, na afirmação da autora, a definição precípua de um Sistema de Gestão da Qualidade, onde deve existir uma definição objetiva do relacionamento cliente-fornecedor e o estabelecimento dos requisitos de qualidade entre cliente- fornecedor. A identificação dos níveis de qualidade em relação aos produtos, informações, dados, recursos permite que se estabeleçam procedimentos padronizados. De acordo com Silva (1996) “a elaboração destes procedimentos por sua vez, por meio de métodos adequados para a identificação de processos, permite que sejam detectadas oportunidades e necessidades de melhorias, fazendo com que os padrões não sejam estanques e inibidores de inovações”. Devido à heterogeneidade dos fornecedores de materiais, serviços, componentes e equipamentos é no produto recebido destes fornecedores que as empresas de construção civil 105 estão mais expostas no tocante à qualidade final. Entretanto, não há entre todos os fornecedores de materiais, serviços, componentes e equipamentos, principalmente aqueles que atendem às pequenas e médias empresas da indústria de construção civil, uma conscientização uniforme em relação à implantação de Sistemas de Gestão da Qualidade. De acordo com Fabrício e Melhado (2002) os fornecedores da indústria da construção civil estão divididos em vários segmentos. Existem desde grandes empresas nacionais e multinacionais até pequenas e médias empresas, que atuam localmente. Martucci constatou, em estudo de 1990, que as pequenas e médias empresas locais atuam com produtos e serviços elaborados por processos pouco refinados e sem grande tecnologia. Esta constatação permanece válida no quadro atual. Em outro extremo, existem produtos e serviços tais como tintas, impermeabilizantes, louças, metais, etc. produzidos por empresas de porte, nacionais e multinacionais, com processos industriais refinados e tecnologia avançada (MARTUCCI, 1990). Enquanto, de um modo geral, as pequenas e médias empresas não possuem sistemas de qualidade, as de porte os possuem. A diversidade do estágio de qualidade dos fornecedores dificulta a implantação de procedimentos de qualificação. Entretanto, o setor vem obtendo avanços. A meta estabelecida pelo PBQP-H para o ano de 2002 era elevar para 90% o percentual médio de conformidade de produtos que compõem a cesta básica13 de materiais de construção. Em 2000, o percentual médio de não conformidade técnica dos materiais e componentes estava em torno de quarenta por cento (Gerência Setorial de Construção CivilBNDES, 2001). Atualmente, março de 2006, foi alcançada uma redução do índice de não conformidade de materiais. Constata-se um avanço significativo na qualidade dos materiais e componentes da construção civil. A meta em alguns segmentos foi superada e está próxima de 100% (PBQP-H, 2006), o que pode ser demonstrado por alguns dados retirados do PBQP-H (2006). 13 Para definição dos produtos que compõem a cesta básica de materiais de construção ver http://www.cidades.gov.br/pbqp-h . 106 Tabela 13: Materiais e Índices de Conformidade Material Índice de conformidade Argamassa Colante 75,50 % Barras e Fios de Aço 98,50 % Blocos Cerâmicos não apurado pelo gerente do programa Blocos de Concreto Estrutural e de Vedação não apurado pelo gerente do programa Caixas de Descarga não Acopladas não apurado pelo gerente do programa Caixilhos, Janelas e Portas de Aço não apurado pelo gerente do programa Cal Hidratada para Construção Civil 75,60 % Cimento Portland 98,66 % Esquadrias de Alumínio Fechaduras não apurado pelo gerente do programa 75,00 % Janelas e Portas de PVC não apurado pelo gerente do programa Lajes Pré-fabricadas não apurado pelo gerente do programa Louças Sanitárias para Sistemas Prediais 86,70 % Metais Sanitários e Aparelhos Economizadores de Água 74,00 % Perfis de PVC para Forros 69,00 % Placas Cerâmicas para Revestimento 88,50 % Reservatórios de Água em Poliolefinas e Torneiras de Bóia para Sistemas Prediais 91,00 % Reservatórios de PRFV (Poliéster Reforçado com Fibra de Vidro) 70,00 % Telhas de Aço Teste Tintas Imobiliárias não apurado pelo gerente do programa 75,00 % não apurado pelo gerente do programa Tubos de Aço-Carbono para Uso Comum na Condução de Fluidos e Conexões de Ferro Maleável 70,00 % Tubos de PVC para Infra-Estrutura 88,30 % Tubos e Conexões de PVC para Sistemas Hidráulicos Prediais 92,00 % Tubulações de PRFV para Infra-Estrutura Fonte: PBQP-H, 2006 não apurado pelo gerente do programa 107 Para a implantação de Sistemas de Gestão da Qualidade é necessário estabelecer relacionamentos neste sentido entre as construtoras e projetistas, revendas de materiais de construção, incorporadoras, empresas responsáveis pela venda. Não há, ainda, um movimento no sentido de desenvolver um Sistema de Gestão da Qualidade para estes componentes da cadeia produtiva. Porém, observam-se ações de construtoras e escritórios de projeto que objetivam desenvolver medidas neste sentido (ALVES,1995). Sjoholt (2000) destaca que, para a Construção Civil, um dos objetivos do setor, considerando a nova versão das normas ISO 9000, deve ser preconizar suas aplicações no processo como um todo, paralelamente à sua inserção no raio de ação de cada agente envolvido no empreendimento. O mesmo autor ressalta que o conceito e suas aplicações ainda não foram apreendidos pelos participantes da cadeia produtiva da Indústria da Construção Civil. Os benefícios almejados pelas empresas dependem de uma série de fatores, estando a qualidade dentro deste contexto. A qualidade deve ser entendida “como uma ferramenta para aumentar a competitividade das empresas” (DTI,1993), necessária à sobrevivência e ao desenvolvimento dentro do mercado em que atuam. As mudanças observadas nos diferentes setores industriais apresentaram reflexos diferentes sobre os mercados. Um dos efeitos verificados na construção civil é a alteração da concepção das construtoras que, influenciadas por fatores como: a estabilidade econômica, o acirramento da concorrência, sentiu, como ressalta Barros (1998) a “necessidade de oferecer um produto economicamente acessível e que satisfaça às exigências dos clientes”. Os dirigentes das construtoras têm a necessidade de aumentar a eficácia do processo produtivo através de ações para melhoria da gestão do processo produtivo, buscando o que Cardoso (1998) define como “um aumento da eficiência do sistema de produção como um todo e, conseqüentemente, de capacidade competitiva para a empresa”. A empresa de construção é, então, levada à adoção de medidas para reduzir custos sem prejuízo da qualidade final do produto. Os Sistemas de Gestão da Qualidade e os programas específicos de certificação foram difundidos para as empresas de construção como um mecanismo a ser seguido, de modo que o produto final tivesse qualidade, satisfazendo o consumidor final e, em ultima análise, garantindo a sobrevivência da própria organização. Santos (2003) considera que inicialmente, houve relutância das empresas em aplicar as normas de qualidade. A certificação era tida 108 como um diferenciador da organização no mercado. Com uma maior imposição do poder de compra do Estado, estas passaram a empregar as normas e conceitos com maior abrangência Observa-se, também, uma maior ênfase nos trabalhos acadêmicos relacionados com os Sistemas de Gestão da Qualidade, principalmente voltados para as edificações, o que pode ser visto pelos diversos artigos, dissertações e teses relacionados na bibliografia. Existem vários fatores que são importantes para a melhoria da qualidade na cadeia produtiva da construção civil. Estes fatores são detalhados em seguida. 4.5 FATORES ATUANTES NA QUALIDADE DA CADEIA PRODUTIVA DA CONSTRUÇÃO CIVIL, SEGMENTO IMOBILIÁRIO Para a obtenção da qualidade na cadeia produtiva da Indústria da Construção Civil diversos fatores e atores atuam e são importantes, devendo haver um comprometimento de todos para a obtenção da melhoria da qualidade. Autores como Maciel e Melhado (1995), Feigenbaum (1994) e Juran (1992) dentre outros consideram que a qualidade do produto final é resultante do desempenho em todas as etapas do ciclo de produção. Existem diversos intervenientes no processo e alguns fatores e atores devem ser considerados para a melhoria da qualidade. Em seguida são listados alguns destes: Comunicação e Motivação: Para Meseguer (1991) a comunicação e a motivação exercem influência na qualidade. A comunicação deve ser: a) Clara; b) Com um fluxo contínuo de informações entre administração e trabalhadores e; c) Deve ser mantida a cooperação de modo que haja levantamento dos pontos de melhoria e a busca da solução para os mesmos. Em relação à motivação, o autor julga que, devido a dificuldade de se trabalhar este aspecto nas organizações, o trabalhador deve ser envolvido no processo produtivo. Fase de Projeto: Souza et al (1995) dão ênfase à fase de projeto para a obtenção da qualidade quando afirmam que: 109 “é na fase de projeto que acontecem a concepção e o desenvolvimento do produto, que devem ser baseados na identificação das necessidades dos clientes em termos de desempenho, custos e das condições de exposição a que será submetido o edifício. A qualidade da solução de projeto determinará a qualidade do produto e, conseqüentemente, condicionará o nível de satisfação dos usuários finais”. No entanto, no Brasil, não se dá a devida importância à fase de projeto como é dada em outros países. De acordo com Tan e Lu (1995) esta fase é responsável por 3 a 10% do custo total. Silva (2007) considera que um grande avanço na qualidade da construção pode ser alcançado a partir de uma melhor qualidade dos projetistas. É nesta fase que são tomadas as decisões de maior repercussão nos custos, velocidade e qualidade dos empreendimentos. Durante a fase de projeto, alguns fatores interferem na qualidade do produto final tais como a compatibilização de projetos. Assim, é muito importante que aspectos de compatibilização de projetos e detalhes construtivos não sejam deixados para a fase de construção. Tal fato é ressaltado por Silva (2007). Além da compatibilização de projetos, os desenhos a serem utilizados durante a fase de construção devem ser acompanhados de detalhes suficientes para que a leitura e interpretação do projeto possam ser realizadas com clareza (PRUDÊNCIO, 1995). Sem a devida atenção a esses fatores, vários problemas podem vir a ser gerados tais como os citados por Silva (2007): baixa qualidade dos materiais específicos, especificação de materiais incompatíveis, detalhamento insuficiente ou equivocado, detalhamento construtivo inexeqüível, dimensionamento, falta de padronização e erro de comprometendo o desempenho e a qualidade global do ambiente construído. Planejamento: Maciel e Melhado (1995) incluem o planejamento como um fator importante para a obtenção da qualidade final, já que segundo os autores, a partir do projeto final faz-se uma análise, quando então, são determinados todos os aspectos que deverão ser observados para que seja obtido o nível de qualidade estabelecido. É muito importante o estabelecimento de “pontos de verificação” para avaliar o grau de qualidade em relação aos requisitos antes de se passar para a etapa seguinte. 110 Execução: Na etapa de execução, Meseguer (1991) afirma ser necessário o estabelecimento de procedimentos que definam as operações de construção, e sobretudo, que se crie uma estrutura capaz de coordenar e controlar a qualidade do trabalho. Esta afirmação é corroborada por Souza et al (1995) para quem a qualidade na execução da obra depende da qualidade no gerenciamento da obra, no recebimento de materiais e equipamentos e na execução dos serviços em cada etapa. Mão de Obra: Ribeiro (2003) ressalta a questão da mão de obra em relação a obtenção de qualidade na construção civil. Não se pode pensar em melhoria da qualidade sem que a capacitação e motivação da mão de obra sejam consideradas. Esta autora apresenta como principais problemas: alta rotatividade da mão de obra, os baixos salários e a falta de capacitação dos operários. Materiais e Fornecedores: A maioria dos materiais utilizados na construção civil vem de outras indústrias. Meseguer (1991) classifica os materiais produzidos industrialmente em materiais tradicionais e não tradicionais. Para estes não há normas e especificações, portanto é necessário um rígido controle por parte das empresas. Para aqueles, a existência de normas e especificações facilita o controle. O estabelecimento de rotinas para a inspeção de materiais no ato de entrega, além de orientações para o armazenamento e transporte são medidas fundamentais para a garantia da qualidade do produto final. A qualificação e avaliação dos fornecedores passa a ser uma boa norma de gestão, garantindo, assim, o relacionamento fornecedor/ construtora diminuindo a necessidade de inspeções mais detalhadas no recebimento de materiais no canteiro de obras. Com a articulação de todos os agentes da cadeia produtiva da Indústria da Construção Civil, consegue-se uma melhor qualidade do produto final, melhor posicionamento competitivo da organização e a satisfação do cliente final. O PBQP-H, conforme os números mostrados anteriormente, apresenta bons resultados neste aspecto. Os números de não conformidade da cesta básica da construção reduziram-se muito. 111 4.6 A CERTIFICAÇÃO ISO 9000 NA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO CIVIL BRASILEIRA O Brasil tem uma pequena participação mundial em relação a empresas certificadas ISO 9000, com cerca de 1,3 % do total de certificações, conforme dados do Inmetro (2006). Entretanto, o país representa cerca de 57,5 % das certificações da América do Sul. Os estados mais desenvolvidos da federação possuem 81,9% das certificações brasileiras. As empresas de construção com 874 certificações representam 11,9% do total das certificações brasileiras (Inmetro, março 2006). Comparando este número com a participação do setor no PIB brasileiro que era de 7,23% em 2003 (SEBRAE-MG, 2005), pode ser inferido que a participação das empresas de construção civil é representativa. A Pesquisa Anual da Construção Civil 2003 (IBGE, 2003) registrou 118.993 empresas de construção civil no Brasil, assim distribuídas: Região Norte= 5.626 empresas Região Nordeste= 19.653 empresas Região Sudeste= 56.309 empresas Região Sul= 30.024 empresas Região Centro-Oeste= 7.381 empresas A Pesquisa Estatística do IBGE-2003, referente às empresas brasileiras, registrou 4.679.825 unidades legais ativas com inscrição no Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas (CNPJ), distribuídas da seguinte forma: Região Norte= 109.276 empresas Região Nordeste= 717.689 empresas Região Sudeste= 2.408.039 empresas Região Sul= 1.114.307 empresas Região Centro-Oeste= 330.514 empresas As 874 certificações ISO 9000 válidas para a área da construção civil, conforme o Inmetro em março/ 2006, são assim distribuídas: Região Norte= 21 empresas 112 Região Nordeste= 194 empresas Região Sudeste= 439 empresas Região Sul= 120 empresas Região Centro-Oeste= 100 empresas O total de 7.342 certificações ISO 9000, abrangendo todas as empresas certificadas, distribuem-se conforme listado em seguida (Inmetro, março 2006): Região Norte= 235 empresas Região Nordeste= 700 empresas Região Sudeste= 4.614 empresas Região Sul= 1.493 empresas Região Centro-Oeste= 300 empresas Dos números apresentados podem ser feitas comparações, verificando-se o percentual de empresas de construção certificadas em relação ao total de empresas de construção por região. O mesmo pode ser feito para o total de empresas certificadas em relação ao número total de empresas registradas no CNPJ por região. Os resultados são mostrados na tabela 14. Tabela 14- Comparação entre os percentuais de empresas certificadas da construção civil e o percentual de empresas brasileiras certificadas por região Região % empresas construção certificadas /total de empresas % empresas certificadas/ total geral de empresas no CNPJ. de construção Norte 0,37% 0,21% Nordeste 0,98% 0,098% Sudeste 0,77% 0,193% Sul 0,39% 0,13% Centro-Oeste 1,35% 0,091% Fonte: elaborada pelo autor, 2006 Observa-se que 0,73% das empresas de construção civil são certificadas, enquanto apenas 0,15% do total das empresas brasileiras o são. Dos números expostos, conclui-se que a construção civil tem uma melhor relação de empresas certificadas. Do mesmo modo, ao se analisar a participação por região, verifica-se que o percentual de empresas certificadas da construção civil é melhor do que o total de empresas certificadas em todas as regiões 113 brasileiras. E a representatividade do número de certificações de empresas de construção civil, que é de 11,9 % do total de certificações, quando comparada à participação do setor em relação ao PIB de 7,23% é muito boa. E deve ser ressaltado que a construção civil é constituída em sua grande maioria de pequenas e médias empresas, sem disponibilidades de recursos para investir em um processo de certificação. Apesar dos números apresentados, há ainda muito a ser feito em relação à melhoria dos serviços e produtos desenvolvidos pelas PMEs da construção civil. São realizados no transcorrer deste trabalho diversos comentários em relação a estas melhorias, não só do autor como de outros autores citados. Meseguer (1991) afirma que um Sistema de Garantia da Qualidade deve ser capaz de atender aos seguintes pontos: 1) A qualidade na construção requer cinco ações: definição, o que envolve algumas especificações; produção o que requer procedimentos; comprovação o que requer um controle de produção; demonstração o que necessita de um controle de recepção e; documentação que implica na documentação e arquivamento de tudo o que foi feito. 2) Para as ações descritas acima, devem ser estendidas as cinco fases do processo construtivo: planejamento, projeto, materiais, execução e uso-manutenção. 3) Em cada uma das medidas adotadas devem ser atendidos dois tipos de fatores: os humanos (medidas de caráter organizacional, pessoal e de gestão) e os técnicos. Souza et al (1993) consideram que a melhoria da qualidade do setor da construção depende da ação individual de empresas líderes que, em busca de maior competitividade, implementam Sistemas de Gestão da Qualidade. Logo, influenciam todos os envolvidos na cadeia produtiva, levando a uma elevação da qualidade no mercado de construção através da melhoria dos principais parâmetros: desenvolvimento tecnológico, ampliação da normalização técnica, atualização da legislação técnica e outras. A implementação dos programas de gestão e de certificação da qualidade está centrada na padronização, controle e melhoria dos processos, padronização dos procedimentos de execução e da monitoração e avaliação destes procedimentos. Assim, amplia-se o conhecimento e a previsibilidade sobre os insumos, processos, garantindo um melhor controle da qualidade final dos produtos e serviços. Portanto é incentivada a melhoria contínua. Ambrozewicz (2002), após pesquisas realizadas em empresas construtoras, pôde constatar que a implantação de Sistemas de Gestão da Qualidade trouxe benefícios internos e externos às empresas envolvidas nos programas. 114 4.7 OS PROGRAMAS DE QUALIDADE NA CONSTRUÇÃO CIVIL BRASILEIRA Serão apresentados a seguir os objetivos dos principais programas de qualidade brasileiros e uma breve descrição dos mesmos. São comentadas possíveis melhorias para estes programas, além da exposição da aplicação de um programa de sucesso em uma pequena empresa. Detalha-se, ainda, a experiência internacional de Sistemas de Gestão da Qualidade na construção civil. 4.7.1 Objetivos e Desenvolvimento dos Programas de Qualidade As características da construção civil brasileira já foram analisadas anteriormente, tendo sido estudadas por diversos autores como Melhado (2001), Fossati (2004), Prado (2002) e vários outros As mudanças ocorridas na economia brasileira nos últimos anos, têm motivado os empresários do setor a repensar os processos produtivos para aumentar sua eficácia através de ações para melhorar a qualidade e a gestão. No início, os programas de gestão eram considerados uma estratégia de marketing para diferenciação, até que começaram a ser aceitos como uma ferramenta para garantir a qualidade do produto final, atendendo às expectativas do usuário, aumentando a competitividade da organização e fazendo-a sobressair na indústria. Os programas de gestão e certificação têm como objetivo principal a padronização através de formalização e unificação dos procedimentos de execução das atividades produtivas e o controle e melhoria dos processos através de observação e mensuração dos procedimentos padrões. Desta forma, como conclui Melhado (1994) “ as empresas buscam ampliar seu domínio técnico (...) facilitando a introdução de novas técnicas e tecnologias de produção em direção à melhoria contínua”. Segundo Nascimento e Santos (2003), é na década de noventa e início dos anos dois mil que se observa um período de mudanças na construção civil caracterizado por: grande competitividade, desenvolvimento logístico e das comunicações, introdução de ferramentas de gestão, etc. Esta indústria foi apresentada a métodos de gestão e certificação através de alguns fornecedores que, pioneiramente, na primeira metade dos anos noventa, investiram em programas de gestão da qualidade e certificações conforme as normas ISO 9001 e 9002 de processos de fabricação de componentes (MELHADO, 1994). Em 1992, o governo federal lança o Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade(PBQP) envolvendo todos os setores industriais. Após um início tímido, o programa ganha nova dinâmica em 1996, provocando mudanças na construção civil. Melhado (1994) explica que em 1993 foi criada 115 uma parceria entre a CTE (Centro de Tecnologia de Edificações) e o Sinduscon - SP para desenvolvimento de um procedimento para implantação de um sistema de gestão da qualidade. O autor ressalta que não houve interesse do grupo de trabalho em cuidar da certificação do sistema. O programa tinha um propósito fundamentado na Gestão da Qualidade Total. Os programas desenvolvidos foram procurados por mais de mil e oitocentas empresas até hoje.14 Hoje, existem no Brasil, segundo dados atualizados do Inmetro - CB25 até março 2006, 874 empresas de construção civil certificadas pela ISO 9001:2000. 4.7.2 Principais Programas de Qualidade da Indústria da Construção Civil Brasileira Diversos programas foram desenvolvidos para garantir a qualidade tais como: Qualihab, PBQP-H, Qualipav-RJ, Qualiop-Ba. PSQ-Qualihab: O Programa Qualihab e os Programas Setoriais de Qualidade (PSQs) existem desde 1996, no âmbito da Secretaria de Estado de Habitação e da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo (CDHU), tendo sido o inspirador do PBQP-H. O Qualihab tem como foco central a garantia da qualidade das habitações construídas pelo estado de São Paulo. O entendimento é o de que a população de baixa renda tenha direito a moradia de boa qualidade, durável e que possa sofrer ampliações para atender o crescimento familiar. Quando as entidades participantes do programa firmam os acordos setoriais com o Qualihab, assumem o compromisso de desenvolver Programas Setoriais de Qualidade (PSQs). Estes programas consistem de: a) Implementação de um sistema único de Gestão da Qualidade; b) Desenvolvimento de programas de treinamento de mão de obra; c) Qualificação de sistemas e produtos através de organismos certificadores e; d) Participar e incentivar a elaboração, análise e revisão das normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) referentes a sua atividade. Estes Programas Setoriais estão divididos em: Setor de Obras, Setor de Gerenciamento, Setor de Projetos, Setor de Topografia, Setor de Laboratórios, Setor de 14 De acordo com dados apurados no site http://www.cte.com.br/empresas.asp Acesso em 4/1/2007 116 Execução de Fundações e Serviços Geotécnicos, Setor de Consultoria de Fundação e Geotecnia. Cardoso et al (2000) estabelecem que o programa trata de uma certificação evolutiva, dividindo-se em quatro níveis: Engajamento: é o primeiro passo quando a empresa reconhece o programa e inicia sua participação; Nível D: a organização começa a concepção de um sistema da qualidade através de um diagnóstico interno; Nível C: implementam-se os primeiros procedimentos de controle e inspeção de materiais e processos. É quando a mudança no relacionamento entre a empresa e seus fornecedores é iniciada; Nível B: o sistema é levado a outros setores da empresa: suprimentos, projetos etc. Inicia-se a exigência de procedimentos de compra e contratação, qualificação e avaliação de fornecedores, qualificação e treinamento da mão de obra e; Nível A: é a conclusão do processo. Existe um Plano de Qualidade para cada obra e o Manual de Qualidade da empresa está completo. O Qualihab resultou numa intensificação pelas empresas construtoras, em São Paulo, na busca de certificação. Isto ocorreu devido ao interesse em implantar um sistema de gestão da qualidade como um fator de aumento da eficácia ou para que pudessem participar das licitações do governo estadual. Este efeito disseminou-se para os fornecedores de serviços (sub-empreiteiros e projetistas) que, pressionados, passaram a se engajar no movimento pela qualidade. Resumidamente, pode ser afirmado que o programa fez com que a certificação de sistemas da qualidade obtivesse progressos entre as empresas de construção civil do estado, o que pode ser atestado pelo fato de que vinte e um por cento das empresas de construção certificadas pela ISO 9001: 2000 são de São Paulo.15 PBQP-H: O Programa Brasileiro de Produtividade e Qualidade do Habitat (PBQP-H) foi instituído pelo Ministério do Planejamento e Orçamento em 1998 como um desdobramento 15 Dados obtidos do site http://www.inmetro.gov.br/gestao9000/consultacatalogo.asp?chamador=INMETROCB25. Acesso em 18/8/05. São 857 empresas de construção cadastradas, sendo 186 situadas em São Paulo. 117 do Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade. Em 2000, o programa é ampliado e passa a integrar o Plano Plurianual Avança Brasil, englobando as áreas de Saneamento, Infraestrutura e Transportes Urbanos. Assim, deixa de focar apenas a habitação, passando a ter como escopo o habitat. Este programa tem as seguintes características (PBQP-H, 2005): 1) Organizar o setor da construção civil; 2) Melhorar a qualidade do habitat e a modernização produtiva; 3) Estruturar um novo ambiente tecnológico e de gestão para o setor da construção civil; 4) É um programa de adesão voluntária; 5) Será absorvido no futuro pelo setor privado e; 6) Busca estimular o uso eficiente das diferentes fontes de financiamento (FGTS, Poupança, etc.). Atualmente é coordenado pelo Ministério das Cidades (PBQP-H, 2005). A coordenação nacional de projetos e obras cabe a Câmara Brasileira da Indústria da Construção como representante nacional dos sindicatos de construção, enquanto que o Fórum da Indústria e do Comércio de Materiais de Construção coordena os materiais, componentes e sistemas construtivos. É importante ressaltar que apesar de se tratar de um programa de adesão voluntária desde a sua concepção, os agentes financiadores e o setor público utilizam o seu poder de compra como fator de pressão para o desenvolvimento do programa. A operacionalização do PBQP-H se dá pela estruturação de uma série de projetos objetivando solucionar um problema específico na área de qualidade. Alguns dos projetos são considerados propulsores e outros foram inseridos como apoio. Deve ser ressaltado que todos têm uma função específica no processo, relacionando-se direta ou indiretamente. Estes projetos são estruturados inicialmente para a área de construção de habitações e em diferentes níveis de desenvolvimento (ROMANO, 2005). Os principais projetos são os seguintes: a) Sistema de Avaliação da Conformidade de Serviços e Obras- SiAC. b) Qualificação de Materiais, Componentes e Sistemas Construtivos- SiMaC. c) Indicadores de Desempenho. d) Sistema Nacional de Avaliações Técnicas-SINAT. e) Sistema de Formação e Requalificação de Mão de Obra. f) Assistência Técnica a Autogestão. g) Capacitação Laboratorial. h) Sistema Nacional de Comunicação e Troca de Informação. i) Cooperação Internacional. 118 O programa conta com uma série de coordenadores estaduais, eleitos em uma sessão plenária com a participação de representantes dos setores público e privado. A coordenação estadual tem como principais responsabilidades: a) Divulgar o programa e; b) Apoiar as diversas instituições participantes na formulação e implementação de seus programas setoriais de qualidade. Dentre as ações deste programa está a implementação do SiAC no país. Através da Portaria n° 118, de 15 de março de 2005, foi aprovado o novo Regimento do SiAC (Sistema de Avaliação da Conformidade de Empresas de Serviços e Obras da Construção Civil), em substituição ao SiQ – Sistema de Qualificação de Empresas de Serviços e Obras. O prazo de validade dos atestados de qualificação do SiQ, a serem emitidos ou prorrogados, terão validade de até 12 (doze) meses, respeitada a data limite de 21 de março de 200716. Outra importante denominação alterada diz respeito aos OCCs (Organismos de Certificação Credenciados), que passarão a se chamar, no SiAC, OCOs (Organismos de Certificação de Obras). No entanto, o Sinduscon-SP entende que o grande desafio destes programas, PBQP-H e SiAC, é evitar o seguinte: • A criação de uma reserva de mercado para consultoras /certificadoras ou para empresas de construção já certificadas; • Não onerar mais as pequenas e médias construtoras com exigências de novas certificações; • Manter o espírito evolutivo, mesmo que signifique qualificação e não certificação e; • Aprofundar os esforços de unificação das certificações exigidas por órgãos municipais e estaduais, dentro do PBQP-H. O principal acordo do PBQP-H é com a Caixa Econômica Federal, que tem sido o principal parceiro no que se refere à utilização do poder de compra. A Caixa oferece financiamentos específicos para as empresas de construção civil que aderiram ao PBQP-H e, desta forma, atua como indutora do processo. Além disso, como a grande operadora dos recursos do Ministério das Cidades, tem tido grande responsabilidade na aplicação eficaz dos recursos. Já foram realizados acordos setoriais em quase todos os Estados e territórios 16 Dados obtidos do site http://www.cidades.gov.br/pbqp-h . Acesso em 9/1/2007. 119 brasileiros, estabelecendo metas regionais com o objetivo de estimular a evolução dos níveis e a adesão. Qualipav - Rio de Janeiro: Criado em 1999 pela Prefeitura do Rio de Janeiro, o programa procedimentos estabeleceu a serem adotados por esta com o objetivo de melhorar a qualidade e produtividade das obras empreendidas, através da implantação do Programa Setorial da Qualidade-PSQ-setor construtoras (Sinduscon-RJ, 2003). O acordo entre as entidades e a prefeitura estabelece os seguintes objetivos: a) Induzir para agregar todos os participantes da cadeia produtiva da construção no município do Rio de Janeiro nas diretrizes do programa; b) Encaminhar proposta ao Legislativo para adequar a Lei de Licitações 8666 à nova realidade do setor, considerando o crescente número de programas de qualidade no país; c) A Prefeitura deve implementar a prática da qualidade nas obras por ela promovidas; d) A Prefeitura não deve adotar normas e procedimentos de qualidade que não sejam as analisadas e recomendadas pelo programa; e) A Prefeitura deve em todas as modalidades de licitações de obras considerar a demonstração da qualidade das empresas licitantes mediante a apresentação de certificados emitidos por entidades certificadoras, credenciadas pelo Inmetro e; f) As entidades que assinaram o acordo, por sua vez, se comprometem a induzir suas associadas a adotar Programas de Gestão da Qualidade e obterem certificações através de empresas de auditoria independentes. O programa objetivava induzir a que o maior número de empresas viesse a aderir ao programa, utilizando o poder de compra da Prefeitura carioca. Entretanto, atualmente, o programa está desativado.17 Qualiop-Bahia: Foi criado pelo governo baiano em 2000 com o nome de Programa da Qualidade das Obras Públicas da Bahia e em 11/5/2000 foi assinado o acordo setorial entre o governo estadual, o Sinduscon-Ba e o Sinaenco-Ba (Sindicato Nacional das Empresas de Arquitetura e 17 Informação obtida em contato realizado com a Secretaria Municipal de Obras em 9/1/2007. Não se conseguiu a informação de quando foi desativado nem de quantas empresas foram qualificadas. 120 Engenharia Consultiva). Este programa está em consonância com as orientações do PBQP-H e objetiva: • A otimização da qualidade dos materiais, componentes, processos construtivos, projetos e obras dos empreendimentos do governo estadual; • O estabelecimento de acordos setoriais de qualidade com os diversos componentes da cadeia produtiva da construção e; • A implantação de processos de qualificação, homologação e certificação de materiais, componentes e sistemas para melhorar as obras contratadas pelo governo. O programa tem em geral as mesmas características do programa carioca. O Qualiop inclui a possibilidade de aceitar a certificação ISO 9000 como requisito para ingresso no programa (Sinduscon-Ba, 2005). O programa está ativo ainda hoje e conta com cerca de 650 empresas cadastradas.18 4.7.3 Possíveis Melhorias nos Programas Existentes: Apesar dos diferentes Sistemas de Gestão analisados e sua implantação em empresas de construção, projetistas e demais elementos da cadeia produtiva com os ganhos de melhoria da qualidade e melhoria contínua, ainda há muito a fazer. Diversos autores como Amorim (1998), Santos e Melhado (2004), Oliveira (2006) e outros têm estudado o assunto e consideram vários aspectos a serem aprimorados. A seguir, é apresentada uma compilação destes aspectos feita por este autor: 1. Ainda há falhas na operacionalização dos sistemas de gestão da qualidade. Não se criou uma cultura de prevenção das ocorrências potenciais de situações semelhantes no futuro, ou seja, não existe uma análise crítica dos erros cometidos e das lições aprendidas, evitando a repetição dos erros em futuros projetos ou a disseminação das melhores práticas; 2. O Plano de Qualidade de Obra é uma exigência da norma de gestão que ainda não se constitui numa boa prática nas organizações (OLIVEIRA, 2006); 3. Na maioria das empresas, o Plano de Qualidade de Obra é considerado uma exigência burocrática , onde muitas vezes o documento é elaborado por consultorias externas e as empresas, apenas, implementam o plano (OLIVEIRA, 2006). Com este 121 procedimento, advém prejuízos para a qualidade e não há uma evolução do documento. As organizações podem utilizar consultorias externas, porém, é importante que participem ativamente do processo, não delegando às consultorias a elaboração do documento ou tendo uma participação secundária ; 4. Existência de deficiências de processos nem sempre relacionados com o sistema de gestão da qualidade propriamente dito; 5. A efetiva implantação de programas de qualidade, como o Qualihab, tem se mostrado ineficiente quando o acompanhamento é feito por uma empresa gerenciadora com pouco compromisso com os objetivos do empreendimento; 6. As empresas possuem uma estratégia de gestão voltada ao empreendimento, de forma segmentada e sem objetivos definidos. Não há ainda integração e compromisso para a realização do empreendimento, mas sim preocupação com a parte específica de cada interveniente. Deve ser utilizado o conceito de um Plano de Qualidade do Empreendimento. Este documento deve englobar uma negociação entre todos os participantes do processo, desde a incepção até a fase final. Tal prática já é comum há vários anos, conforme Ferreira (2004), nas empresas EPC (Engineering- ProcurementConstruction) atuantes no Brasil em projetos para as áreas de petróleo e gás, química e petroquímica, siderurgia, gases industriais, etc. Este Plano de Qualidade do Empreendimento deve ser considerado como um documento vivo, havendo uma atualização contínua já que os diversos intervenientes atuam nas diferentes fases do empreendimento. Logo, torna-se fundamental uma renovação constante do documento 7. Não há acompanhamento, através de indicadores de performance e técnicas estatísticas, para a aferição e acompanhamento da evolução da qualidade. Este assunto vem sendo pesquisado pelo NITCON e pelo NORIE, entre outros grupos de pesquisa. 8. Há uma avaliação da qualidade global de acordo com os objetivos gerais da empresa e não os objetivos específicos do empreendimento e ; 9. Não há um método técnico para avaliação do resultado final do empreendimento e, assim, o processo de melhoria contínua é dificultado . Os Sistemas de Gestão da Qualidade não estão totalmente implantados nas pequenas e médias empresas da construção civil. No entanto, um novo desafio, ainda maior, se aproxima que é a integração dos sistemas de gestão ambiental, de gestão da segurança do trabalho aos sistemas de gestão da qualidade configurando um Sistema de Gestão da organização. Assim, 18 Informação obtida no site http://www.agecom.ba.gov.br . Acesso em 30/12/2006. 122 as pequenas e médias empresas construtoras estão defasadas em relação aos desafios existentes para o setor. Além de implantarem os Sistemas de Gestão da Qualidade, devem, concomitantemente, objetivar a integração destes sistemas aos demais citados. Todavia, as organizações estão bastante atrasadas neste sentido e, talvez, não tenham percebido a necessidade de tal integração ou não tenham condições econômicas para tal integração . Outros comentários de ordem geral, podem ser feitos em relação aos principais Programas de Qualidade para a Construção Civil evidenciados. Dois grupos de organizações são formados: empresas certificadas e as não certificadas. Quando um programa de qualidade é institucionalizado pelo governo, existe um avanço no processo, já que se busca sua perenidade. Todos os programas comentados dão ênfase a esta dependência do governo. Outro aspecto a ser ressaltado é o fato de que os coordenadores desejam criar uma mentalidade de que a certificação é uma garantia de qualidade, isto dentro de um sistema mais amplo liderado pela ISO 9000. No entanto, há uma importante diferença. A certificação ISO 9000 busca se legitimar através da credibilidade junto à sociedade. Já os programas de certificação governamentais são impositivos. Caldas e Vasconcellos (2003) consideram que “as empresas de construção civil necessitam de recursos financeiros para sua continuidade empresarial, sendo obrigadas a se certificarem se isto for uma exigência dos órgãos detentores do financiamento” . Com esta afirmação, pode ser concluído que estes programas criam um mecanismo de adesão “forçada”. Contudo, a simples certificação não garante uma maior eficácia da organização, se não houver seu comprometimento com a certificação. 4.7.4 A Experiência dos Sistemas de Gestão da Qualidade na Construção Civil em Outros Países: São apresentadas, a seguir, como diferentes países têm empregado Sistemas de Gestão da Qualidade. A escolha dos países foi feita, considerando-se a facilidade de obtenção de dados e o grau de desenvolvimento da construção civil. França: Este país tem verificado um crescimento na certificação de sistemas, pelo QUALIBAT ou pela ISO 9000 e outros referenciais setoriais, que são baseados na ISO 9001. Tais referenciais são adaptados em função dos aspectos de cada agente e de seu papel no ciclo produtivo. O QUALIBAT é o único referencial setorial que prevê a certificação evolutiva (CARDOSO, 2003). Este programa serviu de inspiração para o Qualihab. 123 O Management des Processus de Reálisation Opérationnels Architecte (MPRO Architecte), desenvolvido pelo Centre Scientifique et Technique du Bâtiment, Association Française de l`Assurance Qualité pela Union Nationale des Syndicats Français d`Architects, rege os escritórios de arquitetura franceses. Seus requisitos são divididos em: elementos permanentes do Sistema de Garantia da Qualidade da empresa de arquitetura e os elementos específicos de cada projeto. Este documento é analisado por Cardoso (2003) que o divide da seguinte forma: 1) Parte profissional- define os diferentes processos necessários à realização do produto, considerando as especificidades de cada agente, incluindo medição e monitoramento dos processos e produtos; 2) Parte do cliente- define as exigências do cliente, o retorno de informação deste e a medição da satisfação deste cliente; 3) Parte organizacional- cuida dos aspectos organizacionais tais como: plano de qualidade, manual da qualidade, padronização, documentação, registros, comunicação, recursos, formação e aquisição; 4) Parte referente a comprometimento, análise e melhoria- analisa os mecanismos de evolução da organização e do sistema de qualidade (comprometimento da direção, indicadores, melhoria contínua, tratamento das não conformidades etc.) Cardoso (2003) considera que o sistema francês dedica uma menor importância ao comprometimento, análise e melhoria da organização ou da eficiência. Em sua opinião, isto ocorre porque a certificação profissional na França é voluntária, não havendo o poder de compra do Estado e nem a atuação de órgãos públicos que definam modelos a serem adotados pelos referenciais. A certificação francesa é muito simples, ficando a cargo da empresa a opção pela implementação de mecanismos de melhoria dos Sistemas de Gestão. Itália: Pietroforte e Tangerini (1999) fizeram uma pesquisa com as cinqüenta maiores empresas durante os anos oitenta e noventa. Estes autores concluíram que o mercado italiano é regido por relações informais, com agências estatais ineficientes, com profissionais de projeto apresentando deficiências técnicas e que as empresas de construção detêm a liderança na condução dos empreendimentos. Garaventa (1992) destaca, ainda, que o desenvolvimento de normas técnicas para produtos industriais tradicionais só é realizado para os casos em que o proprietário é 124 conhecedor da regulamentação técnica. A certificação técnica é limitada a poucos produtos. No entanto, a qualidade vem aumentando nos últimos anos , principalmente, pela difusão de novos produtos. O controle técnico de novos produtos é feito pelo Instituto Central para Industrialização e Tecnologia da Construção (ICITE) que atua na área de ensaios de materiais e controle da qualidade com atuação limitada. A certificação da qualidade na Itália tem aumentado nos últimos anos, apresentando requisitos mínimos a partir de 2003. A partir de 2005 estas exigências serão exigidas para todas as empresas, exceto organizações de pequeno porte. Dinamarca: Ao estudar a implantação de um Sistema de Gestão da Qualidade na Dinamarca, Thygesen (1989) chegou a conclusão de que a implantação é apenas parte do aperfeiçoamento da qualidade. É necessário que esta implantação seja feita em conjunto com a aplicação do gerenciamento dos recursos humanos e utilização extensa de tecnologia da informação nas práticas de projeto. A cooperação é o principal conceito a ser difundido. O Ministério de Habitação e Assuntos Relativos a Urbanização dinamarquês desenvolveu em 1998, em conjunto com empresas, pesquisadores e usuários um programa de melhores formas de cooperação. Este programa foi aplicado em dez empreendimentos. Olsen (2001), também, concorda que a cooperação entre os agentes é fator essencial para obtenção de melhores resultados com aumento da qualidade, produtividade e satisfação profissional. O autor explicita que devem ser otimizadas as atividades relativas ao envolvimento dos subcontratados, utilização de equipes multidisciplinares nos canteiros de obra e utilização de benchmark. Grã-Bretanha: Foi feito um estudo na Grã-Bretanha, conduzido por Moatzed-Keivani et al (1999), com gerentes de doze das principais empresas de construção para determinar a percepção sobre a certificação e sistemas de gestão. Através deste estudo, os autores concluíram que o requisito do cliente e a estratégia de marketing foram os principais motivadores para a certificação de um sistema de gestão. Os resultados mais importantes obtidos com a certificação e sistemas de gestão foram: a melhoria da estrutura de gestão e a conscientização do pessoal. Porém, os gerentes acham que o sistema precisa de melhorias que o adaptem para 125 a indústria de construção, destacando-se a coordenação entre os departamentos, etapa de construção e a manutenção dos empreendimentos. Taylor (1995) desenvolveu uma pesquisa com setecentas organizações. Sua conclusão é que “há um pequeno percentual de empresas com certificação no mercado, cerca de 17% e que as principais razões para a certificação foram: a pressão dos consumidores, aumento da eficiência e produtividade, melhoria do produto e da imagem da empresa no mercado”. Este autor lembra que na Grã-Bretanha ocorrem muitas mudanças de projeto durante a fase de construção, acarretando a ocorrência de muitos problemas no canteiro de obras. Estados Unidos: No mercado americano, a prática é buscar o aumento da eficiência e a velocidade da construção com obras rápidas e objetivando sempre a minimização do custo (BENNETT, 1991). O sucesso do empreendimento decorre da competência do empreiteiro, da utilização de procedimentos e padrões, além do uso e entendimento das tecnologias. Estes fatos também são ressaltados para explicar as diferenças de produtividade entre as construtoras americanas e as brasileiras ( McKINSEY, 1998). A construção americana é de baixo custo e com alto grau de mecanização, padronização, pré-fabricação e muito pouca variação no projeto. A padronização envolve a produção em massa, aumentando desta forma a eficiência. Os pré-fabricados aumentam a segurança, qualidade e eficiência (Xiao, Proverbs, 2002). Nos Estados Unidos, os conceitos dos Sistemas de Gestão da Qualidade são mais difundidos. Para o êxito desta filosofia é necessário que as práticas de gestão estejam bem definidas, de acordo com o método de gerenciamento interno do empreendimento, conciliando as muitas atividades presentes em um sistema de gestão. No mercado americano, os empreiteiros, sob a coordenação de um arquiteto, são responsáveis pela elaboração dos projetos de sua respectiva área. Os trabalhos de construção são coordenados por um construtor geral (main contractor). O documento da American Society of Civil Engineers (2000) aborda os passos para a garantia da qualidade das construções com destaque especial para a responsabilidade do construtor, já que, de acordo com este documento, é ele que deve ter a liderança sobre as atribuições e particularidades dos outros intervenientes. 126 A coordenação entre os diversos empreiteiros depende do envolvimento no empreendimento e da conformidade aos procedimentos estabelecidos. Estes se baseiam em padrões nacionais e estaduais (definidos em função das práticas e usos locais de cada estado) que precisam ser adequados em função dos níveis de exigência do local. A avaliação do desempenho de qualidade do construtor deve ser um elemento que garanta a satisfação do usuário final. Um modelo de avaliação chamado “CQP-Contractor Quality Performance” é proposto por Yasamis, Arditi e Mohammadi (2001), tendo como parâmetros de mensuração de avaliação e pré-qualificação de empreiteiros: a qualidade, a satisfação do cliente, o desempenho e a inter-relação entre agentes. As empresas de construção civil americanas não estão equiparadas, de um modo geral, a outros segmentos industriais na aceitação e implementação da ISO 9000. Autores como Chini e Valdez (2003) concluíram, após estudo realizado, que a implementação das normas ISO 9000 é uma contribuição efetiva para a melhoria da qualidade nas empresas de construção americanas. Porém, a aceitação por parte das empresas de construção civil não é ainda muito grande e a implementação é insuficiente. Paralelos entre Sistemas de Gestão da Qualidade no Brasil e em outros países: Expostos alguns Sistemas de Garantia da Qualidade na construção civil em alguns países, é necessário que seja feita uma comparação entre estes e a situação brasileira. A França não dedica grande importância à análise do comprometimento e melhoria da organização. O Estado francês não interfere na qualificação da construção civil. No Brasil, isto é feito através do poder de compra do governo ou da certificação profissional, que lá é voluntária e aqui obrigatória. No entanto, a presença reguladora e a obrigatoriedade exercidas no Brasil não garantem melhores resultados na qualidade da construção civil. Na Itália, havia uma situação muito próxima à de nosso país com poucas regulamentações e agências estatais ineficazes. Com a criação da Comunidade Européia, exigindo uma maior regulamentação, esta situação vem sendo modificada. Na Dinamarca, há uma participação governamental, só que lá o Ministério da Habitação local tem uma postura educadora. Procuram desenvolver programas para melhores formas de cooperação, juntamente com empresas e pesquisadores. É uma atitude muito mais propositiva do que coercitiva como no Brasil. Contudo, em ambos os países ainda há problemas no envolvimento dos sub-contratados e na utilização de equipes multidisciplinares. 127 Possivelmente, tal dificuldade é causada pela atuação dos sindicatos e pela utilização de imigrantes com baixa escolaridade (suposição do autor que não pôde ser comprovada), já que o padrão educacional na Dinamarca é alto. Na Grã-Bretanha, a certificação foi motivada como uma estratégia de marketing e requisitos do cliente. Ao contrário do Brasil, onde a exigência tem sido feita pelos órgãos governamentais. Nos Estados Unidos, baseado no relatório McKinsey (1998), no documento da American Society of Civil Engineers (2000), em autores como Xiao e Proverbs (2002), o autor desta tese pôde verificar as seguintes diferenças em relação ao Brasil: a) A utilização de padrões e procedimentos é infinitamente maior; b) Maior utilização e entendimento da tecnologia; c) Alto grau de mecanização; d) Os sub-empreiteiros possuem alto grau de escolaridade em sua maioria (ensino médio) e bom grau de especialização e equipamentos e ferramentas de última geração (com o aumento da imigração ilegal, os trabalhos mais perigosos e degradantes estão se deslocando para essa mão de obra); e) Há uma maior difusão dos procedimentos de gestão; f) O conceito de padronização e pré-montagem é muito utilizado, ao contrário do que aqui é feito; g) O projeto de construção civil tem a coordenação de um empreiteiro geral (main contractor) que coordena os diversos empreiteiros e sua submissão às normas estaduais e nacionais. É necessário ressaltar que o nível de procedimentação é muito maior do que o existente no Brasil. A existência de Sistemas de Gestão da Qualidade nas empresas de construção civil poderá aprimorar a gestão das organizações permitindo que sejam traçadas estratégias mais eficazes. No entanto, a implantação destes sistemas implica em que as empresas possuam uma avaliação sistemática de seu desempenho. Através desta avaliação, será possível estabelecer metas, identificar problemas e aprimorar processos. E para que isto seja possível, é necessário que sejam estabelecidos indicadores que possibilitem esta medição e permitam comparações. Desta forma, para que um Sistema de Gestão da Qualidade obtenha êxito, é necessário que as organizações adotem sistemas de medição. Por esta razão, no capítulo a seguir se estudam os indicadores e sua aplicação na construção civil, bem como é detalhado o sistema de 128 indicadores desenvolvido no âmbito do NITCON (já referenciado) e que será utilizado como modelo comparativo entre organizações nesta tese. 5 INDICADORES NA CONSTRUÇÃO CIVIL 5.1 INDICADORES: PROBLEMAS, NECESSIDADES E APLICABILIDADE NA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO CIVIL Observa-se que diversos programas e prêmios de qualidade e produtividade têm exigido das organizações um monitoramento e avaliação de seus Sistemas de Gestão da Qualidade. No Brasil, a Fundação Prêmio Nacional da Qualidade através do Prêmio Nacional da Qualidade, incentiva a medição do desempenho, principalmente pelo critério de foco nos resultados. Através deste, a organização avalia um conjunto de indicadores que refletem, alinhados às estratégias, planos e metas organizacionais, as necessidades e interesses de todas as partes interessadas (Fundação Prêmio Nacional da Qualidade, 2004). Na Indústria da Construção Civil, apenas o Escritório de Engenharia Joal Teitelbaum ganhou o Prêmio Nacional da Qualidade-categoria Médias Empresas, em 2003. Para que o desempenho empresarial seja gerenciado, é necessário sua medição. Como afirma Bethlem (2004), “ É importante que a empresa tenha memória , registrando o trabalho de formulação, avaliação, implementação e os resultados no mundo real de todas as principais decisões estratégicas, para que a cada formulação futura se possa contar com o maior número de informações do mundo real que possam ser usadas para avaliar as novas estratégias oriundas dessas formulações. O controle se inicia com o estabelecimento de padrões de atuação que serão os parâmetros com os quais se vão comparar os resultados obtidos no mundo real”. Não basta existir um sistema de medição de desempenho se este não for direcionado às estratégias e processos do negócio. Autores como Lynch (1995) e Costa (2003) afirmam, categoricamente, que em muitas empresas os indicadores não são selecionados de acordo com os objetivos estratégicos e fatores críticos. Assim, não há dúvidas de que haverá dificuldades 130 na implementação de tal sistema de medição. Rodriguez (2002) sugere alguns cuidados a serem tomados para que se evitem erros na introdução de métodos de medição. Destes, podem ser ressaltados: 1. Os indicadores devem estar baseados em objetivos criados, estruturadamente, de cima para baixo; 2. Os indicadores devem ter um número limitado por gerência, unidade de negócio, processo de trabalho etc.; 3. As metas e objetivos não devem ser definidas de baixo para cima; 4. Ao se estabelecer uma metodologia de medição, esta deve ser considerada como uma forma de ajustar ou transformar a organização, não apenas uma forma de medi-la e; 5. Todos na organização devem ter um entendimento das várias inter-relações entre as diversas dimensões críticas. Além dos cuidados sugeridos, existem alguns problemas para a implantação de indicadores, tais como (RODRIGUEZ, 2002; COSTA, 2003): i) Estratégia mal definida; ii) Existência de sistemas de medição pré-existentes ; iii) Problemas de poder; iv) Comunicação ineficaz; v) Priorização de outras iniciativas; vi) Dificuldade de coleta de dados e; vii) Falta de uniformização no cálculo dos indicadores. Kaplan & Norton (1992), Neely et al (1997), Neely (1999) afirmam que devem ser evitados indicadores de caráter puramente financeiro ou contábil, que só indicam o passado. Devem ser utilizados medidores que se enquadrem dentro das sugestões de Bethlem (2004), já citadas, e que sugerem focar a visão estratégica. De acordo com as sugestões dos autores já mencionados, pode ser concluído que os indicadores de desempenho devem: • Refletir os objetivos e metas da estratégia corporativa; • Ser simples e de fácil entendimento por todos; • Ser relevantes e claramente definidos; • Ser capazes de fornecer informações confiáveis e “feedback” rápido; • Utilizar dados, sempre que possível, que sejam coletados como parte do processo; • Ter fórmulas e procedimentos de coleta bem definidos e explícitos e; • Serem consistentes. A partir de indicadores de desempenho, torna-se possível o estabelecimento de metas viáveis, desde que seja tomado o devido cuidado para que correções de rumo sejam feitas no 131 decorrer das operações, atendendo às necessidades de informação da organização, modificações do ambiente e desenvolvimento de novas estratégias. Lantelme (1994) e Costa (2003) concluem, após estudos realizados, que os indicadores não são, ainda, utilizados por um grande número de empresas do setor de construção. Lantelme acredita que esta baixa utilização se deve aos seguintes fatores: i) A dificuldade que as empresas têm para identificar quais os indicadores críticos em relação às estratégias e fatores críticos de sucesso; ii) Tendência à acomodação, por parte das empresas, quando constatam que possuem valores melhores que os de referência do setor; iii) A utilização do sistema de medição como uma forma de controle e não como uma forma de comunicação dos objetivos, divisão de responsabilidades e obtenção de maior participação e; iv) Visão de curto prazo da gerência que busca resultados imediatos, esquecendo que a implementação de um sistema de medição requer tempo até o aparecimento dos resultados. As empresas de projeto e de construção que utilizam sistemas de medição optam por indicadores mais simples, com dados mais fáceis de serem obtidos, sem considerar quais são os realmente críticos para a mensuração da melhoria contínua. Estas observações foram confirmadas por estudos de autores como Oliveira e Freitas (2000), Lantelme (1994). Barros Neto (1999) acredita que as empresas de construção são caracterizadas pelo fato de que todas as decisões operacionais e estratégicas estão concentradas no principal executivo. Este, de maneira geral, apresenta uma visão imediatista e, desta forma, não há incentivo para que os níveis gerenciais pensem em um maior horizonte de tempo. O autor ressalta, ainda, a dificuldade da implantação de indicadores devido ao aspecto único do projeto e das condições locais, além da extrema variabilidade das condições externas, típicas da construção civil. Todavia, fica claro que a concepção, implementação e utilização de indicadores pelas pequenas e médias empresas da construção civil é uma necessidade para que possam manter os esforços de melhoria contínua e aprimoramento dos Sistemas de Gestão da Qualidade. Se não houver meios de se medir os processos, verificar as diferenças entre o planejado e o realizado, e nem quantificar os ganhos de produtividade e qualidade obtidos, torna-se difícil o incentivo para o uso de tais sistemas. Os problemas encontrados na implantação de indicadores, quais cuidados devem ser tomados para evitá-los e sua aplicabilidade na construção civil foram mostrados acima. 132 5.2 EVOLUÇÃO DA MEDIÇÃO DE DESEMPENHO: A utilização de indicadores nas empresas vem se modificando nas últimas décadas. Anteriormente, havia preferência por medidas em que o desempenho das organizações era avaliado em termos de produtividade física ou financeira (por exemplo: volume de produção, lucro etc.) e a preocupação era a eficiência técnica. Esta preferência pode ser creditada ao fordismo e taylorismo, que eram as práticas gerenciais vigentes. Autores como Ghalayini et al (1997) consideram que a utilização deste tipo de medidas traz conseqüências como: a) Elevado custo; b) Rápida desatualização e; c) Quantificação difícil de itens como: redução de prazos de entrega, satisfação dos clientes e outros, em termos monetários. Costa (2003) considera que o modelo tradicional de indicadores não permite que as empresas avaliem sua competitividade e melhoria contínua no atual ambiente de negócios, muito competitivo e mutante. Ademais, um outro fator que trouxe necessidade de mudança dos indicadores foi a introdução de novas tecnologias de gestão e produção como Garantia da Qualidade Total, Just in Time, Manufatura Flexível e outras que, necessitando mensurar conceitos como flexibilidade, redução de estoques, parcerias com fornecedores, requisitos dos clientes, mostraram a importância da introdução de novos indicadores que avaliassem estas novas dimensões. Sink & Tuttle (1993) afirmam que a medição de desempenho pode ser considerada como um processo através do qual: a) É decidido o que medir e como são coletados os dados e; b) São acompanhados e analisados os dados. Além disto, afirmam que é necessário: avaliar o desempenho, definido como um processo onde se estabelecem padrões, especificações, requisitos, valores para que se determine o grau de satisfação às necessidades e expectativas dos clientes e processos. 5.3 CLASSIFICAÇÃO DE INDICADORES Uma série de indicadores são utilizadas para que se meça o grau de eficácia ou eficiência de um processo. Neely et al (1996) consideram que eficácia refere-se ao 133 atendimento dos requisitos do cliente e eficiência é uma medida do uso econômico dos recursos para atingir um determinado grau de satisfação do cliente. Existem diversos critérios para a classificação dos indicadores. Rodriguez (2002) assim os classifica: • Indicadores de resultados- são aqueles relacionados aos objetivos, que foram definidos a partir da visão e são, normalmente, relacionados para cada dimensão considerada. • Indicadores críticos de desempenho- são aqueles que se relacionam com as estratégias, ou seja, com os processos organizacionais que são considerados críticos. • Indicadores de desempenho- são aqueles que se relacionam com os indicadores dos demais processos de negócio. Este mesmo autor apresenta, também, uma visualização da classificação dos indicadores, exposta na figura 8. Avaliação Planejamento Plano Estratég ico Plano Tático Produtos Objetivos Decenais Controle Indicadores de Resultado. Indicadores Críticos de Desempenho. Orientações Táticas Indicadores de Desempenho Executa Implementação Figura 8 - Desdobramento dos indicadores de resultado Fonte: adaptado de Rodriguez-2002 134 É importante que o acompanhamento dos indicadores seja feito no nível estratégico da organização a partir dos indicadores de resultado. Os indicadores críticos de desempenho estão relacionados a uma estratégia, caso contrário, serão considerados indicadores de desempenho. É recomendável que um conjunto pequeno e balanceado de indicadores seja acompanhado pelo nível mais alto da organização. Rodriguez (2002) sugere, ainda, que é razoável ter até dez indicadores, que quando desdobrados podem gerar vários outros, devendo estar sempre alinhados com os indicadores de resultado. Estes é que servirão para indicar os caminhos da organização. Outros autores classificam diferentemente os indicadores. Alárcon et al (2001) fazem uma associação entre os indicadores e a realização de benchmarking. Desta forma, os indicadores se dividem em: • Indicadores de resultado, que tentam medir o nível de sucesso atingido pelo empreendimento; • Indicadores de processo, que têm o objetivo de medir o desempenho dos processos organizacionais mais importantes; • Indicadores variáveis, que indicam as decisões estratégicas e aquelas que não são referentes aos processos, mas afetam o desempenho. Lantelme (2001) e Hronec (1994) classificam os indicadores em: • Indicadores de produto que avaliam se as características do produto atendem aos requisitos previamente estabelecidos com o cliente; • Indicadores de processo que avaliam se as características do processo atendem às necessidades do cliente; • Indicadores de qualidade que medem a eficácia da organização em atender às necessidades do cliente e; • Indicadores de produtividade que medem a eficiência do produto na obtenção dos resultados esperados. Oliveira et al (1995) estabelecem indicadores estratégicos e operacionais. Estratégicos (ou Gerenciais) são aqueles que acompanham e impulsionam a implantação de estratégias. Operacionais são os relacionados com os objetivos e tarefas desenvolvidos dentro de cada processo, devendo manter a coerência com os objetivos e estratégias da organização. 135 Observa-se que não há muitas divergências entre as definições e classificações dos indicadores. Pode ser afirmado que a diferença reside na finalidade das informações para os usuários. Para este autor a melhor classificação é aquela dada por Rodriguez (2002). Discutida a classificação dos indicadores, passa-se à descrição de seus principais modelos encontrados na literatura e sua aplicação na construção civil. Explica-se, também, a criação do sistema de indicadores desenvolvido pelos pesquisadores do NITCON (já referenciado), que será utilizado como comparação do desempenho entre as organizações que possuem e as que não possuem Sistemas de Gestão da Qualidade, objetivo da presente tese. 5.4 IMPLANTAÇÃO DE INDICADORES A implantação de um sistema de medição e suas principais dificuldades tem sido estudadas por vários teóricos tais como Schiemann & Lingle (1999), Sink &Tuttle (1993), Lantelme (1999), Manoocheri (1999), Grief (1991), Kaplan & Norton (1997). Através de um estudo da bibliografia pode ser feita a seguinte síntese das principais recomendações: • Deve-se evitar que a utilização de indicadores seja associada a um mecanismo de punição. É preciso que a utilização da cultura da medição seja considerada como uma oportunidade para identificação de pontos para melhoria contínua; • Deve ser evitada a utilização de um único indicador de desempenho para medição da organização. A utilização de indicadores únicos impede o desenvolvimento de uma visão sistêmica da organização; • Deve ser evitada a utilização de indicadores que, apenas, reflitam o passado. A organização deve procurar utilizar indicadores que explicitem e identifiquem resultados futuros, de maneira que as pessoas vejam oportunidades de melhoria e possíveis correções de rumo; • Deve-se evitar um grande número de indicadores que demandam muitos recursos para sua medição, além de impedirem que as pessoas entendam o que deve ser analisado; • Não deve haver um período de tempo muito longo entre a coleta dos dados e a análise. Isto desmotiva as pessoas por não permitir uma pronta intervenção para correção, já que, devido ao tempo decorrido, dispõe-se, apenas, de dados históricos; • Deve haver um desenvolvimento de sistemas de apoio à decisão que permitam a sua tomada dentro de uma visão sistêmica e baseada em dados, evitando-se decisões baseadas no impulso ou intuição ; 136 • Deve haver o envolvimento de todos os níveis da organização para que os indicadores sejam compreendidos e aceitos. A participação da alta administração é fundamental; • Deve haver entendimento dos objetivos e estratégias organizacionais e a identificação dos processos chave; • Devem ser identificadas quais as competências da organização que são um fator competitivo no mercado, diferenciando-a; • Devem ser definidas quais as medidas em relação aos dados, fontes de dados , procedimentos de coleta, métodos, arquivamento e recuperação de dados; • As medidas devem ser objetivas, simples, fáceis de serem entendidas. E devem fornecer informações relevantes e confiáveis; • As pessoas devem ser treinadas em relação aos indicadores para que os entendam e saibam o que fazer em relação a eles e; • Os indicadores devem ser revistos periodicamente de modo que se adaptem às novas estratégias, processos e mudança das condições ambientais. Se estas indicações forem seguidas há uma grande chance de que a implantação dos indicadores será bem sucedida. A aplicação destes conceitos facilita a identificação dos indicadores mais adequados para a organização e facilitam o processo de tomada de decisão. Costa (2003) resume as seguintes diretrizes para as empresas de construção civil em relação à implantação de indicadores: 1) Entenda a estratégia, identifique os negócios, clientes e concorrentes, defina os alvos a serem perseguidos e estabeleça quais os objetivos a serem alcançados; 2) Identifique os processos gerenciais a serem monitorados; 3) Esclareça os vínculos entre o foco da medição, a finalidade do indicador e qual o benefício advindo; 4) Desenvolva mecanismos que avaliem a implantação dos indicadores; 5) Faça com que todos os níveis organizacionais entendam a finalidade dos indicadores. 5.5 ALGUNS MODELOS DE SISTEMAS DE INDICADORES Na literatura pesquisada, verifica-se a existência de alguns importantes trabalhos relacionados a indicadores de desempenho, tais como Lima (2005), Costa (2003), Santana (1997), Moreira (1996), Souza (1996), Lantelme (1994), entre outros. Tais trabalhos 137 apresentam sugestões para desenvolvimentos futuros. Algumas destas sugestões já foram desenvolvidas e outras, ainda estão pendentes. Dentre estes diversos estudos, pode-se destacar a série de trabalhos do NORIE /UFRGS19, como o trabalho de Formoso; Oliveira; Lantelme (1994). Neste trabalho, a medição de desempenho classificada de acordo com a finalidade do indicador utilizado, pode-se subdividir em: medições para visibilidade, medições para controle e medições para melhoria. Os autores ressaltam que as empresas com melhores resultados referentes à implantação do sistema de indicadores, foram aquelas que distribuíram a atividade de coleta de dados por vários setores, conforme o relacionamento destes com a informação a ser coletada. Outra pesquisa que trouxe importante contribuição é a de Souza et al. (1995). Apresenta-se uma listagem de indicadores de desempenho de qualidade e produtividade que são organizadas em: indicadores de qualidade globais e específicos, indicadores de produtividade globais e específicos. O sistema é bastante completo e extenso, funcionando como uma listagem de diversos indicadores que podem ser aplicados. Todavia, devem ser adequados à realidade de cada empresa. Lantelme (1994) propõe um sistema de indicadores de qualidade para a construção civil. O sistema é organizado em indicadores de qualidade e produtividade relacionados a: projeto, suprimentos, assistência técnica, planejamento e vendas, produção, recursos humanos e administrativos. Quando o trabalho foi realizado, as normas ISO 9000:1994 estavam sendo implementadas, e sua visão era diferenciada da atual NBR ISO 9001:2000. Entretanto, o trabalho de Lantelme (1994) foi uma importante contribuição, uma vez que, naquela época, a cultura da qualidade era recente no setor, e a maioria das considerações feitas no trabalho permanece válida. O sistema proposto apresenta um formato semelhante ao de outros trabalhos da equipe do NORIE/ UFRGS tais como Formoso; Oliveira; Lantelme (1994), e Oliveira; Lantelme; Formoso (1995). Costa (2003) apresentou uma dissertação em consonância com a linha desenvolvida pelo NORIE/ UFRGS, permitindo a evolução do sistema proposto. Neste trabalho são agrupadas diretrizes para concepção, implementação e uso de sistemas de indicadores de desempenho para empresas da construção civil. A autora descreve as etapas a serem realizadas para esta utilização, e faz referência a um estudo realizado por Lantelme (1999), cujo objetivo era o entendimento das barreiras para a implementação de sistemas de 19 NORIE/ UFRGS – Núcleo Orientado para a Inovação da Edificação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. 138 medição de desempenho em empresas de construção civil. Prosseguindo com as pesquisas realizadas pelo NORIE/ UFRGS, Lima (2005) realiza uma detalhada pesquisa de campo com empresas construtoras de empreendimentos habitacionais de baixa renda. Neste trabalho, são descritas as etapas de concepção e implementação de sistema de indicadores de desempenho. O NORIE/ UFRGS tem disponibilizado na web diversas informações a respeito do sistema de indicadores desenvolvido pelo grupo. Este portal apresenta diversas publicações de pesquisadores do Núcleo. Contém, também, um sistema de indicadores on line para benchmarking na construção civil. É uma informação muito útil para disseminação e consulta do sistema de indicadores desenvolvido pelos pesquisadores do Núcleo (NORIE, 2006). Ohashi & Melhado (2004) desenvolveram um estudo de caso numa empresa de construção civil de São Paulo, que objetivava verificar a aplicação prática da gestão da qualidade em empresas construtoras certificadas, demonstrando a importância dos indicadores de desempenho nestas empresas. Dentre os sistemas de indicadores utilizados na construção civil, deve ser destacado o Sistema de Acompanhamento da Qualidade e Produtividade na Construção (QUALIPRO, 1998), desenvolvido pelo Clube da Qualidade na Construção, como uma iniciativa pioneira e relevante. O estudo é baseado em levantamentos realizados pelas empresas e caracteriza-se pelo caráter cooperativo, com um banco de dados compartilhado, onde as informações são repassadas para a equipe de coordenação técnica. O projeto encontrou restrições, por parte das empresas participantes, no envio de dados. Tal atitude prejudicou a formação do banco de dados central, inviabilizando a realização de comparações externas que seriam de grande valia para a auto-avaliação das empresas. Esse trabalho originou o grupo de pesquisas NITCON (já referenciado), gerando diversos trabalhos importantes sobre o assunto, tais como: Amorim (1998), Santana (1997), Souza (1996) e Amorim (1995). O trabalho de Souza (1996) faz referências ao programa de banco de dados QUALIPRO. No desenvolvimento do trabalho do QUALIPRO (1998) foram criados quatro grupos de indicadores: produtividade dos recursos humanos (tempos produtivos, improdutivos e auxiliares); produtividade dos recursos materiais (perdas e desperdícios dos materiais); qualidade do produto (avaliação pós-entrega); e qualidade dos serviços (retrabalhos). O trabalho de Moreira (1996) apresenta uma série de considerações a respeito da importância da medição de desempenho. A autora conclui que um sistema bem definido de medição aumenta o desempenho por oferecer um referencial que serve de base para a tomada de melhores decisões, evitando-se decisões baseadas em falsas suposições ou em objetivos pessoais, o que prejudica a qualidade e produtividade. 139 Diversos modelos de sistemas de medição de desempenho têm sido propostos a partir da década de noventa, através de estudos de autores como: Cross & Lynch (1988); Sink & Tuttle (1993); Lynch & Cross (1995); Kaplan & Norton (1997); Neely et al. (1997); Schiemann & Lingle (1999). Autores como Sink & Tuttle (1993), Neely et al (1992), Kaplan & Norton (1997), Schiemann & Lingle (1999) têm sugerido a integração dos sistemas de medição de desempenho aos sistemas de gestão das empresas, considerando a medição o elemento essencial para monitoramento e controle das estratégias. Todavia, na construção civil, Oliveira et al. (1993) consideram que “é importante ressaltar, que o setor da Construção Civil (...) encontra-se carente de dados que possam fornecer ao pessoal envolvido na realização de determinado processo, as informações quanto ao desempenho atual de suas empresas e orientar estratégias para a melhoria do desempenho global e as atividades rotineiras da empresa”. Mesmo tendo ocorrido uma evolução do setor na utilização de Sistemas de Gestão da Qualidade, o que possibilita que as informações sejam rastreadas, tal afirmação ainda permanece atual. Esta condição pode ser comprovada pela indisponibilidade de diversos dados que seriam importantes, para possibilitar uma avaliação mais aprofundada do desenvolvimento da indústria da construção civil nos últimos anos. A adoção de sistemas de indicadores de desempenho auxilia no atendimento dos requisitos de medição e monitoramento de produtos e processos prescritos no item oito da ISO 9001:2000 e, conseqüentemente, na melhoria dos Sistemas de Gestão da Qualidade. Logo, as empresas construtoras com Sistema de Gestão da Qualidade implantado têm, geralmente, um controle maior em relação aos seus processos e produtos. Todavia, estes indicadores nem sempre são adequados às suas necessidades. Realizando um estudo de caso com empresas de construção, quando estava testando uma metodologia de avaliação de desempenho, Amorim (1998) constatou que “(...) a distribuição dos esforços das empresas é um indicativo (...) que elas priorizaram os indicadores de produtividade, particularmente de recursos humanos”. Esta priorização pode ser o resultado de uma visão ainda distorcida da gestão da qualidade, visão esta que busca resultados imediatos que possam justificar os gastos nos programas de implantação Uma das principais contribuições geradas pela aplicação de um sistema de medição de desempenho é descrita por Moreira (1996) como “o indicador de desempenho expressa os resultados obtidos no processo produtivo, mostrando as características do produto final ou gerando informações básicas para a análise de desempenho do processo”. 140 A importância da utilização de indicadores nas organizações é um consenso entre os diversos pesquisadores da área. Para o sucesso da implementação de um sistema de indicadores, é fundamental que se tenha em mente as estratégias da empresa e os objetivos a serem alcançados. Lima (2005) descreve a proposição feita por Bourne et al (2000) de um desenvolvimento de sistemas de indicadores de desempenho. A proposição destes autores divide o sistema em três fases principais: a) Concepção do sistema de indicadores, subdivida em identificação dos objetivos- chave, e definição das medidas; b) Implementação dos indicadores, subdividida em coleta, processamento e análise, e distribuição da informação; c) Uso e atualização dos indicadores. Para Neely et al. (1997), a boa definição de medidas de desempenho, na etapa de concepção do sistema, envolve nove elementos: título; propósito; relação com o objetivo do negócio, meta, fórmula, freqüência; responsável pela coleta de dados, processamento e análise; fonte de dados; ação a ser executada a partir da análise. Kaplan & Norton (1997) ao descreverem a metodologia do Balanced Scorecard BSC, criaram um marco nos sistemas de indicadores. O Balanced Scorecard consiste na medição do desempenho de empresas, com base em indicadores financeiros e não financeiros. O BSC é um sistema de avaliação de desempenho empresarial. Seu principal diferencial consiste no reconhecimento de que indicadores de caráter somente financeiros não são suficientes por apenas mostrarem os resultados dos investimentos e das atividades, não contemplando os impulsionadores de rentabilidade de longo prazo. Acredita-se que a implantação de Sistemas de Gestão da Qualidade nas empresas construtoras colabore para a melhoria do desempenho de tais empresas. No entanto, percebese uma carência de ferramentas que facilitem a mensuração do desempenho das organizações. Foi desenvolvido um trabalho pelo NITCON (já referenciado) cujo objetivo principal é desenvolver um sistema de indicadores de aspectos estratégicos, para avaliar a performance global da organização. Os sistemas de indicadores comumente desenvolvidos nos trabalhos relativos à construção civil medem, geralmente, aspectos operacionais. O objetivo destes indicadores é avaliar o desempenho das obras realizadas pela empresa. O trabalho iniciado no NITCON e desenvolvido por Fonseca (2006), integrante do grupo de pesquisas, preocupou-se 141 em possibilitar a comparação dos dados da empresa com outras organizações e, também, com dados setoriais. Desta forma, é permitida a comparação do desempenho da organização com os valores de referência. Este conjunto de indicadores será utilizado na presente tese, para comparar o desempenho das organizações certificadas em relação às que não são certificadas. Em seguida, é feita uma descrição do sistema de indicadores a ser utilizado . 5.6 DESENVOLVIMENTO DA PROPOSTA DE INDICADORES Inicialmente, para a proposição preliminar do sistema, foram discutidas algumas características que um sistema de indicadores deve conter, baseado em relatos de outros autores e experiências anteriores de empresas que colaboraram no desenvolvimento de tal sistema. Além disso, foram considerados os processos básicos utilizados que necessitam de controle. As condições para que o conjunto de indicadores fosse viável foram: devem produzir informações a baixo custo, devem servir de suporte na tomada de decisões, devem ser de fácil entendimento, devem ser parte da rotina , devem ser aceitas por todos na empresa e devem ser utilizados até por empresas que não possuem SGQ, de maneira a ser o mais universal possível. Foram consideradas, também, as sugestões de Hronec (1994), citado por Lantelme (1994), que identifica três níveis de desempenho na empresa para o desenvolvimento dos indicadores: a) Humano: as pessoas que executam as atividades. b) Processo: definido como uma série de atividades que consomem recursos e fornecem produtos aos clientes da empresa (internos e externos). c) Organização: compreende, simultaneamente, os níveis de desempenho das pessoas e do processo. O sistema de indicadores elaborado por Fonseca (2006), apoiado por outros pesquisadores do NITCON e com a participação de quatro empresas, tem como foco os indicadores organizacionais, que proporcionam um acompanhamento da organização, auxiliando na elaboração de novas estratégias. As idéias de Kaplan & Norton (1997), também, serviram como base para considerações para o aperfeiçoamento do sistema de indicadores. Os princípios do BSC sugerem que os objetivos e medidas derivam da visão e estratégia da empresa e focalizam o desempenho organizacional sob quatro perspectivas: i) financeira, ii) clientes, iii) processos internos da empresa, iv) aprendizado e crescimento. Os objetivos e 142 medidas financeiros devem definir o desempenho financeiro esperado da estratégia e servir de meta principal para os objetivos e medidas de todas as outras perspectivas; as perspectivas dos clientes devem alinhar suas medidas de resultados relacionadas aos clientes (satisfação, fidelidade, captação), com segmentos específicos de clientes e mercados. Em relação à perspectiva dos processos internos da empresa Kaplan & Norton (1997) sugerem que seja definida uma cadeia de valor dos processos internos, que deve ter início com o processo de inovação, passando pelos processos de operações e finalizando com o serviço pós-venda. A perspectiva de aprendizado e crescimento desenvolve objetivos e medidas para orientar o aprendizado e o crescimento organizacional. Uma importante consideração a ser feita preliminarmente à proposição de um sistema de indicadores, é o questionamento sobre a finalidade central do sistema. De acordo com Lantelme (1994), “para que se possa ser feita a seleção dos indicadores, deve-se definir a finalidade para a qual se deseja executar a medição do desempenho e, principalmente, os critérios de desempenho”. Ainda conforme a autora, “o indicador deve ser escolhido ou formulado de forma que possa representar satisfatoriamente os resultados ou atividades a que se refere”. Considerando-se os requisitos mencionados, optou-se, inicialmente, em utilizar três categorias de indicadores considerados fundamentais para a aferição do desempenho das empresas: financeiro, recursos humanos e mercado. Os indicadores foram organizados desta forma pela crença de que são itens vitais para a avaliação do desempenho e perenização de uma empresa. Os indicadores de desempenho foram criados e selecionados de acordo com a relevância, representatividade, viabilidade e facilidade de coleta. Em relação aos aspectos financeiros, considerou-se importante a utilização de indicadores como rentabilidade e faturamento, além da correlação destes com a produtividade dos funcionários, possibilitando a comparação entre empresas com níveis de investimento distintos, visto que somente o indicador de faturamento bruto de uma empresa não representa necessariamente um melhor desempenho ou melhor utilização de um sistema de gestão. Os indicadores relacionados aos recursos humanos são fundamentais para a verificação da evolução do sistema de gestão de uma empresa e podem ser mensurados através de dados relativos a índice de acidentes, índices de rotatividade e qualificação dos funcionários, e a existência de atitudes que demonstrem a preocupação com a responsabilidade social por parte da empresa. 143 Outro grupo de indicadores imprescindíveis para a avaliação do desempenho de uma empresa são os relacionados ao mercado, pois mensuram a capacidade de sobrevivência e crescimento dessas empresas. Devem ser coletados dados como percentual de mercado, evolução de mercado e velocidade de vendas. De acordo com a análise dos indicadores existentes nas empresas e a avaliação dos indicadores representativos do seu desempenho, foi elaborado o sistema de indicadores preliminar, exibido na tabela 15. Este sistema foi apresentado, em uma nova rodada de reuniões com as empresas colaboradoras, para análise da viabilidade de sua utilização e a realização de análise crítica, propondo correções e possíveis melhorias no sistema. Tabela 15- Sistema inicial de indicadores Categoria Principais Indicadores do Grupo Faturamento / m² Financeiro Faturamento / H.hora Faturamento / H.ano Índice de acidentes Recursos humanos Rotatividade Qualificação Responsabilidade social Percentual de mercado Mercado Evolução de mercado Velocidade de vendas Fonte: Fonseca, 2006 Através de reuniões com as empresas participantes do projeto, onde foram feitas análises críticas, comparando indicadores utilizados pelas empresas e indicadores representativos de desempenho com o sistema proposto, concluiu-se que o sistema necessitava de aprimoramento em alguns dos indicadores. Além disto, foi sugerida a inclusão de uma nova categoria de indicadores relacionada à produção. Os dados de produção, mesmo sendo provenientes do setor operacional da empresa, referem-se a aspectos de interesse estratégico das organizações, apoiando qualquer tipo de planejamento que venha a ser realizado. Organizou-se, então, o sistema em quatro categorias de indicadores considerados fundamentais para a aferição do desempenho das empresas: financeiro, recursos humanos, mercado e produção. 144 Fonseca (2006) considera que, resguardadas as características encontradas na indústria da construção civil, existe uma similaridade entre as quatro perspectivas sugeridas por Kaplan & Norton (1997) e as quatro categorias de indicadores propostas. Da mesma maneira que os referidos autores ressaltam a importância da perspectiva financeira para a análise do desempenho organizacional, inclui-se no sistema um conjunto de indicadores de aspecto financeiro. Os objetivos e medidas relacionados à perspectiva dos processos internos da empresa podem ser relacionados à categoria de produção. A perspectiva dos clientes assemelha-se ao objetivo da apuração de indicadores da categoria de mercado e também de produção. E a categoria recursos humanos pode ser vinculada com a perspectiva de aprendizado e crescimento, pois esta é desenvolvida por Kaplan & Norton (1997) em três categorias, entre elas capacidade dos funcionários. Deve ser ressaltado, entretanto, que estas considerações entre as perspectivas listadas no Balanced Scorecard, e as categorias de indicadores de desempenho do sistema apresentado para as empresas é apenas ilustrativa. Os indicadores descritos em cada categoria possuem características próprias, voltadas para o perfil das empresas construtoras que possuem um Sistema de Gestão da Qualidade. Definidas as categorias de indicadores a serem apuradas, iniciou-se a etapa de detalhamento do sistema, nomeando os indicadores relevantes de cada conjunto, com seus respectivos objetivos. Em relação aos aspectos financeiros, considerou-se importante a utilização de indicadores como rentabilidade e faturamento, além da correlação destes com a produtividade dos funcionários. Assim, existe a possibilidade de comparação entre empresas com níveis de investimento distintos, visto que somente o indicador de faturamento bruto de uma empresa não representa necessariamente um melhor desempenho ou melhor utilização de um sistema de gestão. Os indicadores relacionados aos recursos humanos são fundamentais para a verificação da evolução do sistema de gestão de uma empresa, e podem ser mensurados através de dados relativos a índice de acidentes, índices de rotatividade e qualificação dos funcionários. Lantelme (1994) ressalta que a implantação de um Sistema de Gestão da Qualidade requer uma atenção especial para a questão dos recursos humanos. Segundo a autora, “a qualidade em seu sentido amplo é entendida como a satisfação de todos os clientes, dentre eles os empregados. Assim, as condições de segurança e higiene do trabalho, treinamento e motivação não podem ser desconsideradas na busca de melhoria”. 145 Devem, também, serem avaliados indicadores relacionados ao mercado, pois mensuram a capacidade de sobrevivência e crescimento dessas empresas. Podem ser coletados dados como percentual de mercado, evolução de mercado e velocidade de vendas. Na categoria de indicadores relacionados à produção, adotaram-se medidas referentes à eficiência do planejamento produtivo, e índices de não-conformidades, que são fatores importantes para o feedback de informações que dão suporte ao planejamento dos processos da empresa. Em conjunto com a identificação dos indicadores de maior relevância para as empresas, considerou-se também a busca por dados equivalentes na indústria da construção civil, de forma a possibilitar a avaliação comparativa entre as construtoras e o restante do setor. Na categoria de indicadores financeiros, para se avaliar a riqueza criada por empregado, utiliza-se o lucro bruto da empresa, denominado de valor agregado, relacionando o volume de entradas e saídas de capital da empresa, com o objetivo de corrigir possíveis distorções que pudessem ser geradas. Considerou-se que a apuração do valor de vendas pode sofrer interferências de fatores externos que poderiam gerar desvios na avaliação da participação dos funcionários na geração de receitas para a empresa. Além disso, é fundamental ressaltar que os números incluam a mão-de-obra terceirizada para que se obtenha um indicador representativo da realidade das obras. Buscaram-se, ainda, maneiras mais coerentes para avaliar o endividamento e a lucratividade da empresa. No quesito lucratividade, adequou-se o indicador utilizando ao conceito de valor agregado ao invés de lucro total da obra. Utilizou-se a fórmula para cálculo de endividamento que relaciona o passivo circulante e o exigível a longo prazo com o ativo total da empresa. Passivo circulante são as obrigações que normalmente são pagas dentro de um ano (curto prazo), enquanto o exigível a longo prazo relaciona-se às dívidas da organização que serão liquidadas com prazo superior a um ano. Em relação aos empregados, convencionou-se trabalhar com o número médio de funcionários por mês, incluindo-se os terceirizados. O número a ser inserido na fórmula seria o somatório de empregados próprios com os terceirizados, dividido pelos 12 meses do ano. Os indicadores de recursos humanos incluem o índice de treinamento, em que é necessário apurar o total de horas dedicadas ao treinamento da empresa, incluindo-se funcionários da administração central, além da mão-de-obra direta que opera nos canteiros de 146 obra. Para a apropriação do número de horas trabalhadas, basta apurar número de funcionários e multiplicar pelo número de semanas do período estudado, multiplicando por 44 horas semanais de trabalho. Em relação aos indicadores de mercado, utiliza-se o índice de participação no mercado. O cálculo pode ser feito dividindo-se o faturamento da empresa pelo mercado total, obtido através de fontes como a ADEMI (2005) e o IBGE (2003). O indicador de velocidade de vendas se assemelha à apuração da rotatividade de um estoque. Os indicadores de produção são compatíveis com os indicadores gerais existentes, possibilitando a realização de comparações entre os dados das empresas e os do setor. O cálculo do índice de qualidade do produto deve ser feito como o número de atendimentos das reclamações (considerou-se 90 dias após a entrega) em relação ao total de m² e ao número de unidades vendidas. Divide-se o número de reclamações por um fator de unidades /m², de forma a contemplar as seguintes situações: comparando-se uma mesma metragem quadrada total produzida, mas com um número de unidades diferentes (ou seja, quanto maior o número de unidades, menor o tamanho de cada uma delas), a probabilidade de surgirem reclamações é diferente. Com a fórmula apresentada, caso haja um mesmo número de reclamações nas duas situações, a que apresenta maior número de unidades terá um índice de qualidade do produto melhor, e viceversa. Ressalta-se que quanto menor o valor absoluto do indicador, melhor é o resultado deste, pois o objetivo seria obter um número de reclamações o mais próximo de zero. O índice de satisfação ao cliente considera a divisão entre o número de reclamações dos clientes (90 dias após a entrega) pelo número de unidades entregues. Considerou-se o número absoluto de reclamações como a melhor maneira de avaliar a satisfação do cliente, pois um número maior de reclamações, mesmo que de baixo custo de reparação, representa um impacto maior no atendimento das necessidades do cliente e na imagem da empresa. Este é o único item dependente da existência de SGQ na empresa. O indicador de eficiência do planejamento produtivo é de grande utilidade para as empresas. Optou-se por instituir um indicador geral de produtividade da mão-de-obra, que relaciona o número de homens-hora utilizado em um determinado período com a metragem quadrada produzido no mesmo espaço de tempo. Considerou-se que os demais indicadores de mercado propostos se adeqüam melhor ao grupo de indicadores de produção. 147 Realizaram-se modificações nos indicadores de produção com o intuito de torná-los compatíveis com os indicadores gerais existentes, possibilitando a realização de comparações entre os dados das empresas e os do setor. Diante das considerações apresentadas, elaborou-se uma versão mais aprimorada para o sistema, com proposições de fórmulas para a obtenção dos indicadores de desempenho, apresentada no Quadro 120. Indicadores Financeiros Riqueza criada por empregado: Valor agregado1/ Número médio de empregados Endividamento: (Passivo circulante+ exigível a longo prazo) / Ativo total Lucratividade: Valor agregado/ Área construída Indicadores de Recursos Humanos Percentual de treinamento:( ∑ número de horas dedicadas ao treinamento/ ∑ número de horas trabalhadas) x 100 Taxa de freqüência de acidentes: (∑ número de horas mensais de pessoal afastado mais de um dia/ ∑ total de horas trabalhadas por todos os funcionários MOD)x 100 Índice de rotatividade:(((número de funcionários admitidos+demitidos)/2)/ Efetivo médio)x100 Índice de absenteísmo: (Total mensal de faltas não justificadas(em horas)/ Total mensal de horas Indicadores de Mercado Índice de participação de mercado:(Faturamento /Mercado total do setor) x100 Velocidade de vendas:(Total de unidades vendidas (m2)/ Total de unidades disponíveis para venda (m2))x100 Indicadores de Produção Eficiência do planejamento produtivo:(Tempo real de realização da obra/ tempo planejado de realização da obra) x100 Índice de produtividade:número de homens hora utilizados( em 1 ano)/ m2 produzidos( em 1 ano) Índice de qualidade do produto:Número de atendimentos (90 dias após entrega ao usuário)/ Total de m2 construídos Índice de satisfação do cliente:(Número de reclamações de clientes usuários2 / número total de unidades)x 100 1 Valor agregado= Lucro bruto da empresa= Faturamento- Despesas Administrativas e de Produção, exclusive impostos. 2 considerar 90 dias após a entrega. Quadro 1- Indicadores para comparação entre as empresas Fonte: elaborado pelo autor. 20 Nos apêndices, é apresentado o apêndice E onde é dada uma explicação como os dados para o cálculo dos indicadores podem ser obtidos. 148 Uma preocupação a ser ressaltada é a carência de dados já que a maioria das empresas que não apresentam um Sistema de Gestão da Qualidade, não possuem sistemas de indicadores formalizados e rastreáveis. Acredita-se que o sistema de indicadores a ser utilizado permite o estabelecimento de um cenário da indústria da construção civil, baseado em números oriundos de fontes confiáveis, evitando-se a elaboração de paradigmas fundamentados em intuições e experiências pessoais. A utilização de um sistema de indicadores de desempenho, focado na medição de aspectos estratégicos da empresa, permite a visualização da real situação da organização, e a elaboração de planos de correção que forem necessários. A gestão empresarial baseada em indicadores pode ser considerada uma inovação organizacional, contribuindo para a melhoria contínua nas empresas e para a evolução do setor. O sistema de indicadores de desempenho, representado no Quadro 1, servirá para apuração de um volume representativo de dados junto às empresas. A posterior realização de análises estatísticas destes dados, permitirá avaliações comparativas atendendo aos objetivos desta tese. O desenvolvimento dessa análise buscará avaliar os motivos que levam ao melhor desempenho de uma empresa em relação às demais. 5.7 CONSIDERAÇÕES SOBRE OS SISTEMAS DE INDICADORES Ainda é incipiente, na indústria da construção civil, a utilização de indicadores de qualidade e produtividade para a avaliação de desempenho e melhoria dos processos. Apesar dos estudos executados por pesquisadores como Lantelme (1994), Carmo (2003), Costa (2003) dentre outros e grupos de pesquisa como o NORIE/ UFRGS e NITCON, já citados neste trabalho, verificarem as vantagens da coleta e interpretação de resultados de medições. A implantação de sistemas de indicadores, nas empresas de construção civil, é dificultada por fatores característicos deste setor tais como: caráter nômade, produtos únicos e não seriados, longo ciclo de aquisição-uso- reaquisição, mão de obra de baixa capacitação dentre outros (MESSEGUER, 1991; SILVA, 2000; RIBEIRO, 2003). À medida que resultados de sucesso forem sendo conhecidos, devido à utilização de indicadores em empresas de construção civil, estes sistemas serão mais difundidos. Porém, atualmente, mesmo em empresas de outras áreas, tais práticas não estão disseminadas, estando restritas às grandes corporações como: CST, Suzano, Unibanco AIG Seguros, Petrobrás etc. (SYMNETICS, 2005). 149 Costa (2003) considera que a aplicação dos indicadores é tolhida na construção civil devido à dificuldade em estabelecer e explicitar objetivos e ações estratégicas. Esta situação origina do fato de que muitas das estratégias estão na mente dos donos e diretores das organizações e não são passadas aos demais níveis. Ainda não há ênfase na existência de indicadores que forneçam dados para decisão. Tal postura não é uma característica apenas da construção civil, sendo encontrada em outras indústrias. A utilização da certificação ISO 9000: 2000, ao exigir que as empresas garantam a conformidade dos Sistemas de Garantia da Qualidade e a melhoria contínua, irá gradativamente forçar as empresas de construção civil a desenvolverem uma mentalidade de utilização de sistemas de indicadores. Foram apresentados, nesta revisão teórica, diversos conceitos que fundamentam a concepção deste autor de que a existência de Sistemas de Gestão da Qualidade nas organizações representa uma inovação tecnológica. Para corroborar tal premissa, foram apresentadas pesquisas e conclusões de autores que compartilham deste conceito. Foram discutidos: inovação e difusão tecnológica e como estes fatores se apresentam na construção civil brasileira. Verificou-se, também, de que maneira a economia, através das políticas governamentais e de problemas endêmicos, atinge as pequenas e médias empresas do setor, dificultando a adoção de Sistemas de Gestão da Qualidade. Discutiu-se a situação atual da qualidade na construção civil brasileira. No entanto, para que a qualidade e o nível de desempenho das organizações certificadas perante às não certificadas seja medido, são necessários indicadores. Por esta razão, foram apresentados os principais sistemas de indicadores, os problemas de sua implantação, e a situação de tais sistemas na construção civil. Finalmente, mostrou-se, também, o sistema de indicadores que será utilizado na tese. Portanto, passa-se ao próximo item, onde será feita a explicação da metodologia da pesquisa. 6 METODOLOGIA DA PESQUISA: 6.1 PROCEDIMENTOS, ESTRATÉGIA E MÉTODO DE ANÁLISE: A estratégia da pesquisa, descrita anteriormente, adotou uma linha bibliográfico- exploratória complementada pelo estudo de casos múltiplos. Estudos de caso não buscam a generalização de seus resultados, e seu objetivo é compreender e interpretar mais profundamente fatos e fenômenos normalmente isolados. Yin (2001) afirma que, embora os resultados não possam ser generalizados, devem possibilitar a disseminação do conhecimento. O estudo de casos múltiplos permite confrontar e comparar os casos, além de produzir resultados mais confiáveis e que podem ser generalizados (BENBASAT, GOLDSTEIN e MEAD, 1987). As provas resultantes de estudos de casos múltiplos são consideradas mais convincentes e o estudo global é mais robusto, conforme afirmado por Herriot e Firestone (1983). O estudo de casos múltiplos utilizado pode ser classificado como explanatório (YIN, 2001), já que possui o intuito de explicar relações de causa e efeito a partir de uma teoria. A unidade de análise são pequenas e médias empresas de construção civil, certificadas e não certificadas, situadas no município do Rio de Janeiro. Os objetos de análise são: a) a comparação do desempenho de umas em relação às outras, utilizando-se de indicadores. b) a influência das características do setor de construção civil na implementação de SGQs nas PMEs. c) a influência das incertezas do ambiente econômico brasileiro na aplicação de SGQs nas PMEs do setor. O delineamento utilizado na pesquisa foi: Revisão bibliográfica, Pré-teste, Estudos de caso e Interpretação dos resultados. Na revisão bibliográfica, as possíveis palavras chave21 do tema 21 Foram utilizadas como palavras chave: inovação, difusão, gestão do conhecimento, qualidade, pequenas e médias empresas, construção civil, sistemas de gestão, indicadores, problemas econômicos, melhoria contínua, evolução econômica, sistemas de indicadores. 151 foram catalogadas, facilitando as consultas. Estas foram executadas nas seguintes fontes22: artigos, textos, obras, teses e dissertações de autores nacionais e estrangeiros considerados como referência nos assuntos pesquisados, utilizando-se fontes públicas e privadas. Através de comparações entre os indicadores classificados nas dimensões Finanças, Recursos Humanos, Mercado e Produção (Quadro 1) será possível, por comparações estatísticas, detalhadas mais adiante, verificar o desempenho das PMEs certificadas em relação às não certificadas. O questionário (Apêndice A) permitirá o entendimento das questões sobre como as PMEs se comportam em relação à inovação, se as características do setor de construção civil dificultam a implementação de Sistemas de Gestão da Qualidade e se as incertezas do ambiente econômico brasileiro restringem a aplicação de SGQs nas PMEs do setor. Inicialmente, elaboraram-se dois quadros (Quadro 2 e 3), onde se estabelecem as ligações entre construtos, variáveis e fontes de evidência (Quadro 2) e entre hipóteses, questões relativas a estas, itens do questionário e conceitos (Quadro 3). Com os quadros construídos e os indicadores (Quadro 1), foi elaborado um questionário atendendo aos requisitos necessários. A revisão bibliográfica e a definição da metodologia foram construídas paralelamente. Definiu-se a metodologia através da consideração sistêmica dos aspectos peculiares da investigação, e da análise de outras opções existentes. O modelo proposto levou em consideração aspectos práticos de seleção e tamanho de amostras. Para esta seleção, que será demonstrada adiante, foi utilizado o software estatístico Minitab- versão 13.1. Nesta etapa foram realizadas as validades de face e conteúdo (LITWIN, 1995). O préteste é uma das fases mais importantes de uma pesquisa, já que de acordo com Richardson (1999) “o pré-teste é um momento muito útil para revisar o processo de pesquisa”. Nesta fase, o questionário (apêndice A) e os indicadores (Quadro 1) foram aplicados previamente a um grupo com as mesmas características da população a ser incluída na pesquisa. Assim, aspectos da investigação puderam ser revisados e direcionados. Para que o pré-teste obtivesse 22 Foram utilizadas como fontes, sites como: Periódicos CAPES, Windows Academic Live, NORIE, SINDUSCON, USP (teses e dissertações), UFRGS (teses e dissertações), UFSC ( teses e dissertações), SENAI, TE e vários outros listados na bibliografia, além das bibliotecas da UFF, UFRJ, Biblioteca Nacional. 152 sucesso, os seguintes cuidados foram tomados (Validade de Face e Conteúdo): 1) Foi entendido como um teste do processo de coleta e tratamento dos dados. 2) Serviu para treinar e analisar os problemas apresentados pelos entrevistados. 3) Foi considerado como um importante meio para obter informações sobre o assunto estudado. 4) Serviu para a análise do comportamento das variáveis, evitando que fossem feitas perguntas óbvias. O método utilizado para o pré-teste foi : o questionário foi validado em duas etapas. A primeira etapa foi a discussão do questionário (apêndice A) e os indicadores (Quadro 1) com um empresário do setor com formação acadêmica e vivência junto a pequenas e médias empresas do ramo imobiliário da indústria da construção civil, permitindo uma visão não só do aspecto acadêmico como do empresarial. A segunda fase foi a aplicação do questionário em três empresas do setor escolhidas aleatoriamente (uma empresa com certificação A e duas empresas não certificadas). Portanto, o estudo de casos foi validado através dos fatores prescritos por Yin (2001), a saber: a) Validade do construto (definido exatamente o que se quer estudar e descrever). b) Validade interna (testada a coerência entre o que se quer estudar e os resultados obtidos). c) Validade externa (estabelecido o domínio sobre o qual as descobertas possam ser generalizadas). d) Confiabilidade (verificada a possibilidade do estudo ser repetido). Construtos Variáveis Ferramentas gerenciais SGQs Especificidades Construção Civil Economia SGQs nas PMEs Construção Civil da da Existência de Sistemas de Planejamento Existência de Indicadores Utilização de ferramentas gerenciais Inexistência de SGQ Alta liderança desconhece indicadores e SGQ Inexistem indicadores Disseminar resultados Inexistência de SGQ, Inexistem indicadores. Utilização de ferramentas gerenciais Fontes de Evidência Análise dos questionários Análise dos dados (indicadores) H1 obtidos Análise dos questionários Análise dos dados obtidos (indicadores) Entrevistas com pessoal envolvido no estudo Percepção do pesquisador Análise dos questionários Análise dos dados obtidos (indicadores) Entrevistas com pessoal envolvido no estudo Percepção do pesquisador Quadro 2- Construtos, Variáveis, Fontes de Evidência e Hipóteses Fonte: elaborado pelo autor Hipóteses H2 H3 153 Hipótese Questões da hipótese Questões do Conceito questionário 1,2,3,4,5 (permitem agrupamento) H1- PMEs construção civil, 1)Como que modernos planejamento das empresas gestão, que implantaram os processos aprendizagem, inovação de gestão? E nas que não tecnológica, melhoria implantaram? contínua, utilizam processos de apresentam melhores resultados do que aquelas que não utilizam. é 2)Existem feito o critérios 6,7,8,9,10,11, 12,13,14,15,16,17 e 18. de desenvolvimento tecnológico, economia da indicadores, qualidade. avaliação de performance 3)O conhecimento destas técnicas chega a todos os níveis da organização? H2- As características do 1)A utilização de modernas setor de construção civil, técnicas considerando-se influências das características conhecimento, do setor? sistemas 2)Quais (...) influenciam na melhoria contínua, gestão, aplicação de tais técnicas? características 3)Como as(...) construção civil, modelos estas de indicadores, SGQ na PMEs, constituem obstáculo para a implantação de modernas técnicas. de impostas gestão vencer devido 19,20,23,24,25 e 26. sofre a desenvolvimento tecnológico, peculiaridades? do inovação, de construção gestão gestão gestão, da civil, da gestão, mudança, liderança , produtividade. H3- As incertezas do 1)Como as PMEs inovação tecnológica, construção (...) restringem a aplicação adequado a implantação(...) econômico, ambiente nos momentos de turbulência econômico produtividade, econômica? modelos gerenciamento em PMEs da construção civil. têm 21,22. ambiente econômico de um de modernas técnicas de civil da desenvolvimento 2)Foram disponibilizados os desenvolvimento, recursos trabalho. (...) projetos de implantação? 3) Existe medição dos custos de implantação e dos retornos esperados? Quadro 3-Hipóteses, questões-chave, conceitos e questões relacionadas Fonte: elaborado pelo autor de capital, 154 Após a conclusão das entrevistas de avaliação do questionário (Apêndice A) e dos indicadores (Quadro 1), comentários e sugestões de melhoria foram obtidos. Os respondentes consideraram que poderia haver dificuldades para a obtenção dos dados contábeis, devido às seguintes razões: i) são informações sigilosas que as empresas têm dificuldade em permitir a divulgação; ii) como a pesquisa será feita com pequenas e médias empresas que, de um modo geral, trabalham com escritórios de contabilidade terceirizados, é possível que não existam registros de muitas das informações solicitadas. Estas dificuldades foram contornadas, buscando-se o apoio de entidades como o Sinduscon -RJ ou através de contatos de professores / profissionais atuantes na construção civil, que facilitaram as entrevistas, permitindo a coleta de dados. Foi sugerida e acolhida a introdução do item “não utiliza” na questão três do questionário. O questionário e os indicadores foram considerados válidos para obter as informações solicitadas, ressalvados os comentários relativos aos dados contábeis. Em uma das organizações visitadas, comentou-se que as pequenas e médias empresas da construção civil não certificadas terão dificuldades por não possuírem sistemas de informação gerencial ou coleta de dados, e por desconhecerem o assunto qualidade. No entanto, a pesquisa objetiva, justamente, avaliar o desempenho das empresas que possuem Sistemas de Gestão da Qualidade comparativamente àquelas que não o possuem. Uma observação resultante desta fase foi a descrença das pequenas e médias empresas visitadas para o pré-teste em relação ao mercado de edificações no Rio de Janeiro. Apesar da amostra (três empresas) ser muito pequena, todas foram muito negativas em relação a tal fato, ressaltando os seguintes problemas principais: 1) Licenças de obras demoram muito ( 24 meses em média). 2) Política municipal de obras dificulta a construção de edificações, principalmente na Zona Sul. 3) Dificuldade de obtenção de recursos financeiros para os empreendimentos. No processo da pesquisa, os seguintes riscos foram considerados: a) não receber respostas das empresas. b) os dados não mostrarem consistência. c) os prazos não serem cumpridos. 155 Para que estes riscos fossem evitados e não prejudicassem o bom andamento dos trabalhos, as seguintes providências foram tomadas: i) Fomentar o interesse das empresas: quando do contato com as empresas, foi mostrada a vantagem em participar e receber, ao final, um estudo comparativo com a posição relativa da empresa em relação às demais participantes. ii) Além disto, sempre que possível, foi procurado um possível canal de comunicação com a empresa que possa abrir as portas. Este canal foi um professor, profissional ou órgão como o Sinduscon -RJ, FIRJAN ( Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro), etc. Para que se evitasse a inconsistência dos dados, as seguintes providências foram tomadas: 1) Dados analisados com acuracidade e repetida a pesquisa caso houvesse problemas. 2) Utilizados os tamanhos de amostra definidos conforme os critérios estabelecidos pelo software estatístico escolhido. 3) Uma checagem aleatória dentro das cotas estabelecidas foi feita visando a evitar problemas nas respostas. 4) Foi feita uma revisão final dos instrumentos aplicados, para evitar que erros e vieses ocorridos na aplicação chegassem à fase de análise. 5) Evitou-se influenciar os entrevistados de modo a não distorcer seus comportamentos ou observações. 6) Antes de aplicar os questionários, as hipóteses foram revistas corrigindo sua formulação. 7) Foram tomados cuidado na escolha dos testes estatísticos para evitar a utilização de técnicas estatísticas inadequadas. Para que os prazos fossem cumpridos: i) estabeleceram-se prazos que fossem possíveis de serem cumpridos pelos respondentes e mutuamente acordados entre pesquisador e respondente; ii) estabeleceu-se sistema de acompanhamento para solucionar dúvidas e problemas, além de zelar pelo atendimento dos prazos. Definidos os objetivos, a metodologia, o modelo proposto e a revisão bibliográfica, o instrumento de pesquisa passou a ser o foco de desenvolvimento. Para sua elaboração, baseou-se na revisão bibliográfica e nos objetivos da pesquisa. 156 6.2 DESCRIÇÃO DO MÉTODO Inicialmente, buscou-se definir os grupos de empresas que serviriam de base para o estudo. Desta forma, da listagem de empresas de serviços e obras qualificadas como A do PBQP-H foram retiradas aquelas situadas no município do Rio de Janeiro (PBQP-H, abril 2006). Em seguida, foi feita a interseção entre a lista destas empresas e o Cadastro Industrial do Estado do Rio de Janeiro 2003-2004 (FIRJAN, 2003) para a obtenção da lista final de empresas atendendo aos dois critérios de seleção: a) empresas classificadas no PBQP-H com avaliação A, situadas no município do Rio de Janeiro e b) classificadas como pequenas ou médias empresas. Em abril /2006, sete empresas enquadraram-se nos critérios de seleção, constituindo o universo deste grupo. Para as pequenas e médias empresas de construção civil, situadas no município do Rio de Janeiro, que não possuem sistemas de certificação e não estão incluídas na listagem de empresas de serviços e obras qualificadas com classificação A, B, C ou D (PBQP-H, abril 2006) existem setenta e duas organizações, segundo o Cadastro Industrial do Rio de Janeiro 2003-2004 (FIRJAN, 2003). O tamanho da amostra para este segundo grupo, determinado através do software estatístico Minitab- versão 13.1, foi de dezessete empresas. Os critérios de escolha da amostra serão detalhados a seguir. Determinado o tamanho da amostra, estas setenta e duas empresas foram organizadas em uma lista, das quais dezessete empresas foram retiradas aleatoriamente. Após as modificações do questionário e do quadro de indicadores, conforme os comentários recebidos na fase de pré-teste, iniciou-se a pesquisa junto aos dois grupos: pequenas e médias empresas de construção civil com qualificação A e pequenas e médias empresas de construção civil não certificadas. Em seguida, foram feitos contatos com as empresas selecionadas objetivando sua adesão à pesquisa, através de contatos telefônicos ou e-mail com o objetivo de agendar visita para apresentação da pesquisa e proposição de aplicação do questionário. Durante a visita foram identificados os respondentes e explicado o questionário (Apêndice A). Os questionários podiam ser respondidos em versão eletrônica ou impressa. Além disto, estabeleceram-se prazos para a coleta dos questionários preenchidos. O trabalho iniciou-se em agosto 2006 com os contatos telefônicos e o envio dos e-mails para as empresas. Houve continuidade na pesquisa com entrevistas nas empresas que demonstraram interesse em participar. Estas entrevistas foram realizadas até outubro 2006. Os questionários foram coletados pessoalmente pelo pesquisador, objetivando um novo contato com os 157 respondentes e esclarecer possíveis dúvidas. Considerou-se esta uma forma de garantir um follow-up junto aos participantes. Terminada esta etapa, a pesquisa teve prosseguimento com a análise dos questionários e a comparação entre os indicadores coletados para os dois grupos (PMEs certificadas e PMEs não certificadas). A análise dos dados foi realizada em novembro 2006. Caso a análise dos dados primários apresentasse alguma discrepância, seria agendada uma nova visita à empresa para realização de entrevista com verificação e eliminação dessas discrepâncias. Estas entrevistas foram conduzidas em dezembro 2006 de acordo com o protocolo (Apêndice B). A triangulação de dados é um processo de múltiplas percepções, em que várias fontes de evidências são utilizadas para tornar as idéias mais claras, tendo em vista a repetição de interpretações e observações (STAKE, 2000; YIN, 2001). Através dos procedimentos explicitados anteriormente, pode ser afirmado que foi executada a triangulação de dados e de métodos por intermédio de: levantamentos estruturados (Apêndice A), entrevistas (Apêndice B) e observação do pesquisador, determinando-se a validade do construto. A validade externa da pesquisa foi evidenciada através: 1) Da escolha das empresas incluídas (pequenas e médias empresas de construção civil, certificadas e não certificadas, situadas no município do Rio de Janeiro). 2) Da escolha dos entrevistados. 3) Da realização do estudo piloto em três empresas. O procedimento de análise dos questionários foi : agrupou-se as questões em blocos relativos às hipóteses conforme o Quadro 3. Para cada questionário, a média para o grupo de hipóteses foi calculada. E, para cada hipótese, foi feita a comparação entre estes pontos para a amostra das empresas com certificação A e aquelas não certificadas. Feito isto, verificou-se a normalidade e, caso não fosse normal, utilizou-se Mann-Whitney23, o que permitiu comparar dois grupos independentes de dados. Além disto, foi utilizado o teste de Equal Variances24 para comparar as médias dos dois grupos. Este procedimento foi utilizado tanto para os indicadores (Quadro 1) como para as questões do questionário (Apêndice A). 23 Mann- Whitney é um teste não paramétrico utilizado para comparar dois grupos independentes de dados, conforme manual do Minitab. 24 Teste de Equal Variances é um teste estatístico utilizado para comparar médias de dois grupos independentes, conforme manual do Minitab. 158 6.3. TAMANHO DA AMOSTRA: Para o grupo de pequenas e médias empresas de construção civil, situadas na cidade do Rio de Janeiro, foram consideradas para a pesquisa o universo de sete empresas resultantes dos critérios de seleção já descritos. Já em relação ao universo de setenta e duas pequenas e médias empresas de construção civil, situadas no município do Rio de Janeiro, e que não são certificadas utilizou-se o software estatístico Minitab- versão 13.1 para a determinação do tamanho da amostra. Este software entre as várias funções estatísticas que possui, tem uma que permite a determinação do tamanho da amostra a ser estudada desde que sejam informados: tipo de teste, alfa (erro máximo permitido), sigma (nível de confiança escolhido) e a potência do teste. Como se trata de dois grupos em que se trabalhou com as médias, utilizou-se o 2-sample t test, alfa= 0,05, sigma=1 e como não houve tempo nem recursos financeiros para que os testes fossem muito extensos, escolheu-se uma potência de teste de 0,8 25 . Com estes valores introduzidos no software, o valor da amostra encontrada foi de dezessete empresas. Determinado o tamanho da amostra, as setenta e duas empresas foram organizadas em uma lista, das quais dezessete empresas foram retiradas aleatoriamente. A partir dessa ordenação, buscou-se o contato com as empresas a partir da primeira da lista, e assim por diante. Caso alguma delas não se disponibilizasse a participar, seguia-se para a próxima da lista até que se atingisse o número aceitável para que a pesquisa fosse representativa. Privilegiou-se aquelas empresas que demonstraram interesse espontâneo em colaborar e que mantiveram esse interesse após a primeira reunião de esclarecimento do estudo. Após o devido tratamento estatístico dos dados, estes foram analisados e obtidas as conclusões relativas às hipóteses da tese. Em seguida, foram feitas comparações entre as conclusões obtidas e as hipóteses consideradas, verificando sua validade e, se as questões enunciadas foram devidamente esclarecidas. 25 Nesta tese foi utilizado o software estatístico Minitab versão 13.1. Para aqueles que não estão acostumados com a utilização deste tipo de programa, o cálculo do tamanho da amostra pode ser determinada pela fórmula para determinação do tamanho da amostra, que pode ser encontrada em qualquer livro de Estatística (recomendase Amostragem Probabilística de Nilza Nunes da Silva, EDUSP, 1998). Como se trata de duas amostras independentes, utilizou-se o 2-sample t test, que é utilizado para se fazer um teste de hipóteses entre duas médias de população, quando os desvios padrões são desconhecidos. Deve ser escolhido o nível de confiança adequado (valor alfa) e a potência de teste , que corresponde a probabilidade de rejeitar a hipótese nula. As hipóteses de teste consideradas estão dispostas no Quadro 4. 159 6.4 INSTRUMENTOS DE MEDIDA Foram utilizados dois tipos de instrumentos de medida para o estudo das hipóteses levantadas: a) Os indicadores selecionados, mostrados no Quadro 1. Estes indicadores foram desenvolvidos pelo grupo de pesquisas NITCON (já referenciado). Para viabilizar a realização de comparações, estipulou-se o período de abrangência da comparação entre indicadores, delimitando-se o período entre 2001 e 2005. Os critérios de utilização destes indicadores foram detalhado no capítulo 5. b) um questionário dividido em cinco partes, que está inserido nos Apêndices. Foi elaborado um Quadro (Quadro 2), onde se estabelecem as ligações entre as hipóteses, as questões relativas a estas e a necessária conectividade aos objetivos desta tese, para que se facilite o entendimento. O questionário está dividido da seguinte forma: a) A primeira parte é relativa às questões 1 a 5 permitindo um agrupamento dos respondentes. b) A segunda parte, referente às questões 6, 7, 8, 9, 10, 11, 12, 13,14, 15, 16, 17 e 18 permite a verificação das questões relativas à hipótese H1, conforme se vê no Quadro 2. c) A terceira parte, referente às questões 19, 20, 23, 24, 25 e 26 diz respeito às questões relativas a hipótese H2. d) A quarta parte refere-se às questões 21 e 22 permitindo que as questões da hipótese H3 sejam verificadas. Os graus de importância e aderência foram atribuídos às questões de número 7, 8, 9, 10, 11, 12, 14, 21, 23 e 24 utilizando-se a escala Likert, com as seguintes gradações. Aderência: M.A.- muito de acordo- grau 5 A- de acordo- grau 4 I- indiferente- grau 3 D- discordo- grau 2 M.D. muito discordo- grau 1 160 Importância: S.I.- sem importância- grau 1 P.I. – pouca importância-grau 2. I- indiferente- grau 3 C.I.- com importância- grau 4 M.I. – muita importância- grau 5 6.5 LIMITAÇÕES DO MÉTODO Algumas características especiais da cultura empresarial existente nas pequenas e médias empresas da Indústria da Construção Civil ou peculiaridades do tipo de negócio podem limitar as generalizações necessárias para o assunto em estudo. Porém, utilizando-se técnicas, planejamento e métodos recomendados para o estudo de caso, podem ser obtidas evidências aceitáveis para estas generalizações. Ademais, pela comparação entre as experiências citadas pela literatura existente e aquelas extraídas da análise dos questionários, será retirado o aprendizado necessário para a validação das hipóteses. Após explicar a metodologia a ser utilizada na presente tese, passa-se a tratar da análise da pesquisa no próximo capítulo. 7 ANÁLISE DOS RESULTADOS Após a discussão da metodologia realizada no capítulo anterior, serão analisados os resultados obtidos da aplicação dos indicadores e das respostas às questões do questionário, referenciadas anteriormente. A partir das respostas recebidas, será feito o tratamento estatístico necessário para análise e conclusões. É estabelecida, também, a necessária ligação entre as conclusões, objetivos e hipóteses enunciadas no início da tese. 7.1 INFORMAÇÕES GERAIS SOBRE AS EMPRESAS DO ESTUDO DE CASO A situação da indústria da construção civil brasileira vem sendo demonstrada ao longo desta tese. Portanto, em lugar de descrevê-la novamente, será delineado um panorama geral das empresas que participaram dos estudos de caso. Foram estudados dois grupos de empresas: a) pequenas e médias empresas de construção civil do setor de edificações, situadas no município do Rio de Janeiro avaliadas no PBQP-H com certificação A em abril/ 2006 e; b) pequenas e médias empresas de construção civil do setor de edificações, situadas no município do Rio de Janeiro que não possuem sistemas de certificação e não estão incluídas na listagem de empresas de serviços e obras qualificadas com classificação A, B, C ou D (PBQP-H, abril 2006). As empresas não certificadas apresentam um faturamento variando entre quatrocentos mil reais /ano (a menor) até três milhões novecentos e trinta e cinco mil reais/ ano. O número de empregados próprios deste grupo amostral varia de vinte, na menor organização, até cem empregados na maior. O número de empregados terceirizados é de setenta funcionários, na menor, até trezentos e cinqüenta empregados na maior organização participante desta amostra. Estas empresas construíram de mil metros quadrados /ano, a menor, até trinta e cinco mil metros quadrados/ ano, a maior. Esta amostra é constituída por cinqüenta e sete por 162 cento de empresas de pequeno porte e quarenta e três por cento de médio porte, como ilustrado na figura 9. Empresas Não Certificadas 43% Pequenas 57% Médias Figura 9- Percentual das Empresas Não Certificadas Participantes Fonte: elaborado pelo autor As empresas certificadas apresentaram um faturamento anual variando entre um milhão de reais , a menor organização deste grupo e dois milhões e seiscentos mil reais, a maior. O número de funcionários próprios variou entre vinte e cem, respectivamente na menor e na maior organização. Já o número de funcionários terceirizados variou entre cento e setenta e duzentos e oitenta, na menor e na maior, respectivamente. As empresas certificadas construíram de dois mil e quinhentos metros quadrados anuais, a menor, até cento e dez mil metros quadrados anuais, a maior. Cinqüenta por cento das empresas certificadas, constituintes da amostra são de médio porte, como pode ser visto na figura 10. 163 Empresas Certificadas Participantes da Pesquisa Pequenas 50% 50% Médias Figura 10-Participação das empresas certificadas participantes Fonte: elaborado pelo autor As principais razões para o desenvolvimento da certificação foram, segundo as empresas certificadas: a) necessidades internas da organização tais como melhorar a eficiência produtiva; b) adequação à concorrência; c) exigências dos clientes em relação ao movimento pela qualidade. Já as empresas não certificadas apresentaram como principais razões para a não certificação: a) Sistemas de gestão da qualidade exigem recursos humanos, financeiros e materiais que as empresas não podem dispor; b) Não há exigência do consumidor para tal certificação. Acredita-se que com todas estas informações, foi apresentada uma visão bastante clara das empresas estudos de caso. Pretende-se, a seguir, descrever os principais resultados obtidos através da utilização do software estatístico, e aprofundar os estudos das principais observações feitas segundo os critérios gerais enunciados na metodologia. 164 7.2 COMENTÁRIOS GERAIS. A partir das amostras e dos resultados observados, serão feitos comentários, considerando-se as questões 1, 2, 3, 4, 11, 13, 14, 15, 16, 17, 18, 20, 23 e 24 do questionário. Estas questões permitem considerações sobre: porte das empresas, posição no organograma dos respondentes, avaliação do conhecimento de ferramentas de qualidade nas empresas, utilização do planejamento estratégico pelas empresas, grau de dificuldade da implantação de processos de planejamento estratégico nas empresas, percentual de empresas com SGQs, empresas que pretendem implantar tais processos e aquelas que não têm tal intenção, problemas encontrados na implantação de SGQs, avaliação dos prazos em que as empresas pretendem implantar SGQs, principais razões para se implantar ou não SGQs, problemas causados pelas peculiaridades da construção civil na implantação de SGQs, principais soluções para contornar estes problemas, importância dos fatores econômicos na implantação de SGQs. Tais observações serão feitas, comparativamente, para as empresas certificadas e não certificadas. A seguir, iniciam-se comentários sobre os resultados observados nas questões mencionadas. É conveniente explicar que os graus indicados nas tabelas a seguir representam a média dos graus recebidos nos diversos questionários. Perfil Respondentes Empresas Não Certificadas 15% Proprietários Diretores 28% 57% Gerentes Figura 11- Perfil respondentes empresas não certificadas Fonte: elaborado pelo autor 165 A figura 11 demonstra o perfil dos entrevistados das empresas não certificadas. O maior percentual, oitenta e cinco por cento, esta situado na Alta Administração das empresas, garantindo que as respostas representam o pensamento da cúpula organizacional. A figura 12, ilustra a participação dos respondentes nas empresas certificadas, trazendo uma participação equivalente entre diretores, proprietários e gerentes com cinqüenta por cento para cada grupo. Desta forma, as respostas possibilitaram uma melhor distribuição do pensamento nas empresas em relação aos assuntos pesquisados. Perfil Respondentes Empresas Certificadas Percentual; 33% Percentual; 50% Proprietários Diretores Percentual; 17% Gerentes Figura 12-Perfil respondentes empresas certificadas Fonte: elaborado pelo autor 166 Tabela 16- Conhecimento das Ferramentas pelas PMEs Não Certificadas Ferramenta Conhece Desconhece Pretende Utilizar * Certificação ISO 9001:2000 Balanced |Scorecard Gestão do Conhecimento DFQ 100% 0 57% 28% 72% 0 42% 58% 15% 14% 71% 28% 86% 29% 72% 0 40% 0 57% 43% 75% 71% 29% 20% 28% 72% 100% 57% 43% 25% 57% 43% 15% 71% 71% 29% 29% 40% 40% 71% 29% 80% Benchmarking Seis Sigma Gerência de Projeto Equipes de Trabalho Gestão da Mudança Produção Enxuta Análise de Valor Kaizen Gestão Ambiental SIAC/PBQP-H Fonte: elaborada pelo autor * Percentual calculado sobre as PMEs não certificadas conhecedoras das ferramentas Observando-se as tabelas 16 e 17 elaboradas pelo autor, e que demonstram o conhecimento das ferramentas de qualidade nas PMEs verifica-se que: a) nas PMEs não certificadas, o percentual de empresas desconhecedoras das ferramentas é maior, b) mesmo as ferramentas mais conhecidas não apresentam percentual elevado de possível utilização nas empresas , excetuando-se Gestão da Mudança e o SIAC/PBQP-H, c) nenhuma das empresas não certificadas pesquisadas declarou utilizar alguma das ferramentas, enquanto que a maioria das PMEs certificadas conhece as ferramentas de qualidade citadas, e as aplicam integralmente. A exceção é o DFQ, onde setenta e cinco por cento das empresas que conhecem a ferramenta aplicam-na, d) uma ferramenta como o Seis Sigma que requer pessoal especializado e tem altos custos de implantação, conhecida por apenas trinta e três por cento das organizações certificadas pesquisadas, apresenta um resultado de setenta por cento destas empresas dispostas a 167 estudar o assunto para verificar sua aplicabilidade. Tal fato evidencia melhoria contínua, pois há um esforço direcionado para o conhecimento de novas técnicas. Tabela 17- Conhecimento das Ferramentas pelas PMES certificadas Ferramenta Conhece Certificação ISO 9001:2000 Balanced |Scorecard Gestão do Conhecimento DFQ 100% Benchmarking Seis Sigma Gerência de Projeto Equipes de Trabalho Gestão da Mudança Produção Enxuta Análise de Valor Kaizen Gestão Ambiental SIAC/PBQP-H Desconhece Pretende Utilizar Utiliza * 100% 50% 50% 100% 80% 20% 100% 67% 100% 33% 33% 25% 67% 70% 75% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 83% 17% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% Fonte: elaborada pelo autor * Percentual calculado sobre as PMEs certificadas conhecedoras das ferramentas 168 Utilização Planejamento estratégico em PMEs Não Certificadas Utilizam Planejamento Estratégico 43% 57% Não Utilizam Planejamento Estratégico Figura 13-Utilização de Planejamento estratégico em PMEs não certificadas Fonte: elaborada pelo autor As considerações feitas em relação às tabelas 16 e 17 são reforçadas pelas figuras 13 e 14, que indicam o percentual de PMEs utilizando o planejamento estratégico. Cem por cento das PMEs certificadas pesquisadas utilizam processos de planejamento estratégico. As PMEs não certificadas apresentam um percentual de cinqüenta e sete por cento utilizando algum meio de planejamento estratégico. Tal posicionamento deve dificultar o processo de atualização tecnológica e gerencial, confirmando o pensamento de autores como Farah (1996), Santiago (2002), Ambrozewicz (2003) que consideram que parcela importante da construção civil no Brasil utiliza técnicas gerenciais ultrapassadas. A pesquisa realizada corrobora esta afirmação para as PMES não certificadas. 169 Empresas Certificadas que utilizam Planejamento Estratégico 100% Figura 14-Utilização de Planejamento estratégico em PMEs certificadas Fonte:elaborada pelo autor Tabela 18-Dificuldades para implantar ferramentas de gestão e critérios de medição nas PMEs da construção civil Item Desconhecimento dos dirigentes Falta de conscientização do grupo. Falta de metodologia de aplicação Foi tentado por outros e não deu resultado Não Certificadas certificadas 4 1,8 3,8 2 3,6 1,8 2 1 Fonte: elaborada pelo autor Os resultados demonstrados na tabela 18, onde o grau 1 representa pouca dificuldade e o grau 5 representa muita dificuldade, indicam que o desconhecimento dos dirigentes, a falta de conscientização do grupo e a falta de uma metodologia de aplicação são os maiores obstáculos para esta aplicação nas empresas não certificadas, tendo recebido graus de dificuldade média para elevada. Deve ser ressaltado que oitenta e cinco por cento das respostas das PMEs não certificadas vêm da Alta Direção destas empresas. Alguns dirigentes apresentaram, também, como motivos de muita dificuldade: nível de educação e qualificação 170 do grupo envolvido, as empresas não possuírem recursos para ter profissionais habilitados na implantação de tais ferramentas. A visão das PMEs certificadas é diferente, pois as razões apresentadas no questionário foram pontuadas com graus de pouca dificuldade em sua grande maioria. Nas entrevistas, foram mencionados fatores de dificuldades como: a existência da grande rotatividade de pessoal no setor e a inexistência de dados confiáveis do setor para permitir comparações. Uma possível explicação para esta diferença de percepções é que as PMEs certificadas possuem, em sua estrutura organizacional, os aspectos tecnológicos para a melhoria da competitividade citados por Ribault et al (1995) e, assim, são melhor habilitadas para as mudanças do ambiente de negócios. Percentual 100% 90% 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% 86% 14% Pretendem Não Pretendem Implantar SGQs Implantar SGQs Figura 15- Situação das empresas não certificadas em relação à implantação de SGQs Fonte: elaborada pelo autor A figura 15 apresenta a situação das PMEs não certificadas em relação à implantação de SGQs. Verifica-se que oitenta e seis por cento das empresas pretendem implantar SGQs. Este fato pode ser considerado auspicioso pois demonstra que a implantação de SGQs está nos planos futuros destas organizações. 171 Tabela 19-Fatores que dificultam implantação de ferramentas de qualidade segundo PMES da construção civil Item Desconhecimento da Alta Administração Desinteresse da alta Administração Medo da alta administração em perder poder Foi tentado por outros e não deu certo Outras razões Não Certificadas Certificadas 2,3 1,6 3 1,7 1 1,3 4 1 1 3,2 Fonte: elaborado pelo autor Analisando a tabela 19, observa-se haver certa similaridade entre as percepções das PMEs não certificadas e certificadas em relação a fatores como medo da alta administração em perder poder, desconhecimento da alta administração (o grau 1 significa pouca dificuldade e o grau 5 muita dificuldade). Um item que foi apresentado pelas empresas como de dificuldade 4, foi tentado por outros e não deu certo. A razão, explicada em entrevistas, foi a percepção através de informações recebidas de outras empresas que utilizaram SGQs sem resultados positivos. Este item recebeu grau baixo das PMEs certificadas. Uma possível explicação para tal fato é que estas empresas já passaram pelo processo, já conhecem os problemas, já os tendo resolvido. Os motivos apresentados pelas PMEs certificadas como de média intensidade e relatados em outras razões foram: a) terceirização e baixo grau de escolaridade, b) resistência do pessoal técnico administrativo à mudança, c) tempo envolvido para implantação significando custos altos, dificuldade em disponibilizar recursos. Tabela 20- Prazos estimados para implantação de SGQs em PMES não certificadas Prazos para iniciar implantação de Percentual SGQs Imediato 17% Seis meses 17% Mais de doze meses 16% Indefinido 50% 172 A partir da análise da tabela 20 fica evidente um desequilíbrio entre o fato de que oitenta e seis por cento das PMES não certificadas pesquisadas pretendem implantar SGQs (ver figura 15) e o prazo de início de implantação em sessenta e seis por cento das empresas ser de mais de doze meses, sendo que cinqüenta por cento apresentam indefinição de prazos. Uma possível explicação para tal fato são os custos envolvidos na implantação, como já ressaltado pelas empresas que implantaram SGQs. Percentual Exigências dos clientes 27% 37% Exigências dos órgãos governamentais 36% Necessidades internas Figura 16- Razões para Não certificadas planejarem implantar SGQS Fonte: elaborado pelo autor Percentual Exigências dos clientes Exigências dos órgãos governamentais 9% 36% 10% 18% 27% Adequação a concorrência Necessidades internas Decisão dirigente principal Figura 17-Principais razões para certificadas terem implantado SGQs Fonte:elaborado pelo autor 173 Observando as figuras 16 e 17, verifica-se a similaridade de razões para a implantação. As certificadas apresentaram, ainda, outros motivos como: exigência dos clientes e adequação à concorrência. O fato de terem introduzido a certificação antes das demais, reafirma a percepção de que estas empresas estão mais sincronizadas com o ambiente externo, antecipando-se às mudanças e tomando as providências necessárias. Tabela 21-Peculiaridades da construção civil dificultando as PMEs implantarem SGQs Item Não certificadas 4,7 4 Certificadas Tradicional e pouco afeita para modificações Utiliza mão de obra de baixa qualificação 2,3 3,3 4 3,8 Produtos únicos e não seriados 3,9 4 Indefinição de responsabilidades 3,2 2,8 Alta rotação de pessoal Não utilização de produção em série 4 3,8 Fonte:elaborada pelo autor Da observação da tabela 21 percebe-se que para as PMES não certificadas os fatores com mais dificuldade são: alta rotação de pessoal, utilização de pessoal de baixa qualificação, produtos únicos e não seriados, não utilização de produção em série. Estes fatores são, também, confirmados pela percepção das empresas participantes certificadas. Esta constatação já foi antecipada por autores como Ribeiro (2003), Santos (2003) e Silva (2000) já citados neste trabalho. O grau 1 representa pouca dificuldade e o grau 5 muita dificuldade. 174 Tabela 22-Fatores para vencer dificuldades inerentes ao setor segundo PMEs Item Capacitação da alta administração Não Certificadas 4,8 Certificadas 4,5 Capacitação do pessoal intermediário 4,3 4,5 Capacitação do pessoal de produção 4 4,7 Parcerias com Institutos Tecnológicos 2,8 e Universidades Desenvolvimento de pesquisa 2,8 3 Incentivos do governo para empresas 3 que possuam SGQ 3,3 O governo obrigar as empresas a 2,2 implementar SGQ 2,1 3,9 Fonte: elaborado pelo autor O maior desafio para vencer as dificuldades inerentes ao setor da construção civil, segundo as PMEs pesquisadas, está na capacitação do pessoal. E isto, deve ser feito em todos os níveis das empresas. O grau dado à estes itens foi muito próximo a 5 (muita importância) e deve ser dada muita atenção para a capacitação e motivação da mão de obra, como já ressaltado por Ribeiro (2003). A capacitação técnico-administrativa deve ser, também, objeto de atenção. Esta postura já era defendida por autores como Leite (2004), Michel (2003). Fatores como parcerias com universidades e incentivos do governo tiveram graus de importância média, demonstrando que a universidade não é vista, ainda, como parceira na busca de inovação pelas PMEs. Apesar de todo o esforço da universidade ao criar “incubadoras”, trabalhar em conjunto com entidades empresariais e associações de classe, não despertou nas PMEs a visão de parceria para a melhoria contínua e inovação. Tal constatação deve servir de alerta para uma possível revisão da estratégia da academia. Deve ser ressaltado que as PMEs certificadas consideram relevante o desenvolvimento da pesquisa. Este pode ser um ponto de abordagem para a academia ao rever suas políticas de aproximação com as PMEs da construção civil, estabelecendo projetos de trabalhos conjuntos com PMEs certificadas. Uma importante observação da pesquisa é o grau baixo dado pelas organizações à obrigatoriedade em implementar SGQs através de ato governamental. O grau aferido e as 175 informações recebidas durante as entrevistas, consideram que as organizações não acham importante o governo ter uma postura autoritária. Tabela 23-Importância dos fatores econômicos para implantação de SGQs segundo PMEs Item Não certificadas Certificadas Juros altos 3 4 Inconstância de regras econômicas 3 3,8 Inconstância da legislação 2,7 3,5 Incerteza política 2,7 3,8 política 3,9 4,1 Falta de apoio financeiro as PMEs para treinamento de pessoal 2,7 4,6 Falta de apoio financeiro as PMEs para investir em P&D 3,2 4 Inexistência habitacional de uma Fonte:elaborado pelo autor A tabela 23 indica que as PMEs certificadas têm uma postura mais crítica sobre a importância dos fatores econômicos na implantação de SGQs nas empresas de construção civil. Consideram como de muita importância fatores como: juros altos, falta de apoio financeiro às PMEs para treinamento de pessoal, inexistência de uma política habitacional, falta de apoio financeiro para investimento em P&D. A maior pontuação das PMEs não certificadas foi para a inexistência de uma política habitacional. O impacto de fatos econômicos como: baixa capacidade de investimento, falta de crédito, altas taxas de juros, carga tributária excessiva que são analisados por diversos economistas brasileiros como Nóbrega (2000), Michel (2003), Crocco (2003) e vários outros listados na bibliografia, não são considerados pelas PMEs não certificadas como de muita importância. Tal percepção, mais uma vez, consolida o entendimento de que estas empresas não têm uma visão completa do ambiente externo, reforçando a afirmação anterior de que deve ser dada atenção à capacitação técnico-administrativa destas organizações. 176 PMEs certificadas com resultados dentro do esperado 100% Figura 18- Percentual de PMEs certificadas pesquisadas com resultados dentro do esperado Fonte: elaborado pelo autor As PMEs certificadas, participantes da pesquisa, afirmam haver alcançado os resultados esperados com a implantação da certificação. A seguir, serão apresentados os resultados obtidos através da utilização do software estatístico Minitab versão 13.1. 7.3 RESULTADOS OBTIDOS ATRAVÉS DE TRATAMENTO ESTATÍSTICO Utilizando o software estatístico Minitab versão 13.1 foram analisadas as diversas respostas recebidas em relação ao questionário e aos indicadores, mostrados no Quadro 1. Procurou-se, com a utilização das diversas ferramentas contidas no software, validar ou não as hipóteses consideradas nesta tese. Inicialmente, foi feito o estudo para os indicadores referentes à primeira hipótese. Esta considera que as PMEs da construção civil, certificadas, devem apresentar melhores resultados do que aquelas não certificadas. Empregaram-se as médias dos indicadores definidos no Quadro 1 através do uso do 2sample-t test26 , já que se trabalhou com médias da população baseadas em duas amostras: 26 2 sample-t é um teste utilizado para determinar se as médias de duas populações são iguais, conforme manual do Minitab 177 PMEs não certificadas e PMEs certificadas. A tabela 24 apresenta as médias encontradas para os indicadores das duas amostras. Tabela 24- Médias dos indicadores para PMES certificadas e PMEs não certificadas Fonte: elaborado pelo autor Certificadas 20.000 61,5 275 1,03 0,065 51,2 1,83 0,10 64,63 100,17 30,6 0,0055 93,92 Indicador Riqueza Endividamento Lucratividade Treinamento Taxas de Acidentes Rotatividade Absenteísmo Participação Mercado Velocidade de Vendas Eficiência Planejamento Produtividade Qualidade Satisfação Não Certificadas 4942 39,9 152 0,083 0,707 45,2 7,10 0,17 ND 124,8 52,8 ND ND As análises efetuadas permitem as seguintes afirmações em relação aos diferentes indicadores. Para todas estas comparações o valor alfa considerado foi igual a 0,05. Os cálculos e estudos estatísticos, efetuados com o software referenciado, encontram-se nos apêndices da tese. Riqueza: o p-value 27encontrado, que é igual a 0,000, é menor do que o risco alfa adotado . Desta forma, a hipótese nula, que assume serem as médias iguais, é rejeitada. E, assim, pode ser afirmado que as médias são diferentes. A riqueza gerada pelas PMEs certificadas é significativamente maior do que a gerada pelas PMEs não certificadas. Endividamento: o p-value encontrado foi de 0,177 e é maior do que o valor alfa considerado. Logo, a hipótese nula, que considera que as médias são iguais, não pode ser rejeitada, e as médias não podem ser consideradas estatisticamente diferentes. Um ponto importante a ser considerado é que as empresas certificadas apresentaram poucos valores na amostra, em relação a este item, o que pode ter influenciado nos resultados, levando a desconsideração deste item. 27 p-value é a probabilidade que uma variável assuma um valor maior ou igual que o valor estritamente por acaso 178 Lucratividade: encontrou-se um p-value no valor de 0,024, que é menor do que o valor alfa considerado. Logo, se rejeita a hipótese nula que diz que as médias são iguais. Pode se afirmar, então que as médias são diferentes. Observando-se as médias da tabela 25, pode ser afirmado que a lucratividade média das PMEs certificadas é maior do que a das não certificadas. Treinamento: o p-value encontrado de valor de 0,000 é menor do que o valor alfa considerado, que é de 0,05. A hipótese nula é rejeitada e as médias são diferentes. Observando-se as médias da tabela 25, pode ser afirmado que as PMEs certificadas têm mais tempo de treinamento do que as PMEs não certificadas. Taxa de Acidentes: o p-value obtido foi de 0,007 o que leva à conclusão de que a hipótese nula é rejeitada e as médias são diferentes. Portanto, a média da taxa de acidentes das certificadas pode ser comparada com a das não certificadas. Da tabela 25, observa-se que as certificadas têm média muito menor do que as não certificadas. Rotatividade: o p-value encontrado foi de 0,547 e é maior do que o valor alfa considerado. Logo, a hipótese nula, que considera a igualdade das médias, não pode ser rejeitada. Não há diferença estatística entre as médias. Se a hipótese nula fosse rejeitada, haveria 54% de chance de erro. A partir da tabela 25, pode ser concluído que as médias são realmente muito próximas. Absenteísmo: o valor alfa considerado é menor que o p-value encontrado (=0,055), e a hipótese nula não deve ser rejeitada, levando à consideração de que não há diferença entre as médias das certificadas e não certificadas. Participação de Mercado: o p-value que foi encontrado é de 0,193, sendo maior que o valor alfa considerado. A hipótese nula não pode ser rejeitada e, desta forma, não há diferença entre as médias encontradas. Isto é confirmado pelos valores da tabela 25, porém deve ser considerado que os valores apresentados pelas empresas participantes da pesquisa, certificadas e não certificadas, não são consistentes e podem ter deturpado os resultados. Velocidade de Vendas: a maior parte das PMEs não certificadas pesquisadas não apresentou controle dos dados que permitissem o cálculo deste indicador. Aquelas que os possuem, constroem em regime de condomínio fechado, não apresentando condições de comparação, já 179 que iniciam a obra com 100% dos apartamentos já vendidos. As PMEs não certificadas apresentam controle destes itens e a média do indicador encontrado foi de 64,63. Eficiência de Planejamento: para a comparação deste indicador o p-value encontrado foi de 0,008, menor que o valor alfa adotado (= 0,05). Assim, a hipótese nula é rejeitada, podendo ser afirmado que as médias são diferentes. Comparando-se a média deste indicador para as PMEs certificadas, que é de 100,17 com o das PMEs não certificadas que é 124,8 observa-se que o comportamento das certificadas tem uma média melhor. Produtividade: o valor alfa considerado é maior que o p-value encontrado (=0,033), e a hipótese nula é rejeitada, levando à consideração de que as médias são diferentes. A tabela 25 mostra um valor médio de 30,6 hh/ m2 produzido para as certificadas e média de 52,8 hh/ m2 produzido para as não certificadas. Tal fato demonstra a melhor produtividade das certificadas. Para fins de comparação, deve ser ressaltado que a média brasileira para este indicador para a construção civil-habitacional é de 45 hh/ m2 (CARDOSO et al, 2004). Qualidade: apenas uma das PMEs não certificadas possui medição de dados que permite o cálculo deste indicador com um valor médio de 0,026. Todas as PMEs certificadas possuem estes dados e o valor médio encontrado foi de 0,0055. Como há carência de mais informações das empresas não certificadas, não foi possível fazer estudos comparativos. Satisfação do Cliente: em apenas uma das PMEs não certificadas pesquisadas foram encontrados dados que permitem o cálculo deste indicador com o valor médio de 157. Todas as certificadas possuem estes dados e o valor médio encontrado foi de 93,92. Devido à exigüidade de dados das PMEs não certificadas, não será feita a comparação. Tendo como ponto de partida o tratamento estatístico dos dados, foi elaborada a tabela seguinte, que demonstra a situação das PMEs certificadas e não certificadas em relação aos diversos indicadores. 180 Tabela 25- Comparação dos indicadores para PMES certificadas e PMEs não certificadas. Certificadas Melhor S/C* Melhor Melhor Melhor Semelhante Semelhante Semelhante S/C* Melhor Melhor S/C* S/C* Indicador Riqueza Endividamento Lucratividade Treinamento Taxas de Acidentes Rotatividade Absenteísmo Participação Mercado Velocidade de Vendas Eficiência Planejamento Produtividade Qualidade Satisfação Não Certificadas Pior S/C* Pior Pior Pior Semelhante Semelhante Semelhante S/C* Pior Pior S/C* S/C* Fonte: elaborado pelo autor * exigüidade de dados não permite comparações A partir da análise da tabela 25, verifica-se que seis indicadores das PMES certificadas apresentam melhores resultados, três indicadores apresentam resultados semelhantes e para outros três não foi possível estabelecer comparações, pois as PMEs não certificadas não possuem acompanhamento de informações. Isto acontece para os indicadores de Velocidade de Vendas, Qualidade e Satisfação do Cliente. Para o indicador Endividamento a exigüidade de dados da amostra das PMEs certificadas levou a desconsideração desta comparação. A seguir, serão analisados os dados extraídos do questionário, que permitirão estudar: a) H1- se as PMEs da construção civil, que utilizam modernos processos de gestão, apresentam melhores resultados do que aquelas que não utilizam (questões 6,7,8,9 e 10); b) H2- a influência das características do setor de construção civil na implementação de SGQs nas PMEs (questões 19, 20, 25 e 26); c) H3- a influência das incertezas do ambiente econômico brasileiro na aplicação de SGQs nas PMEs do setor da construção civil (questões 21 e 22). A verificação da aderência entre a importância e a concordância para as afirmações contidas nas questões referenciadas também será permitida. A tabela 27 foi elaborada objetivando uma melhor visão do tratamento estatístico a ser conferido aos dados. 181 Tabela 26- Ordenação da verificação de dados a ser feita Grupos Pequenas e médias empresas certificadas e não certificadas Pequenas e médias empresas certificadas e não certificadas Pequenas e médias empresas certificadas e não certificadas Pequenas e médias empresas certificadas e não certificadas Pequenas e médias empresas certificadas e não certificadas Pequenas e médias empresas certificadas e não certificadas Verificações a serem feitas Verificar se as PMEs consideram importante ter modernos processos... Verificar se as PMEs consideram importante a influência das peculiaridades. Verificar se as PMEs consideram importante a influência do ambiente econômico. Verificar a aderência entre a concordância e a importância de ter modernos processos... Verificar a aderência entre a concordância e a importância da influência das peculiaridades. Verificar a aderência entre a concordância e a importância da influência do ambiente econômico. Questões 6, 7, 8, 9, 10 19, 20, 25, 26 21, 22 6, 7, 8, 9, 10 19, 20, 25, 26 21, 22 Fonte:elaborado pelo autor As verificações, referenciadas na tabela 26, serão feitas segundo as hipóteses assinaladas no Quadro 4 a seguir, em que se detalham as hipóteses da tese, as verificações das amostras e os testes executados. 182 Hipóteses da Tese Verificações das Verificação da Amostras Aderência H1- As PMEs da construção civil, que utilizam SGQs, apresentam melhores resultados do que aquelas que não os utilizam. Ho-As PMEs certificadas não apresentam melhores resultados. Ho- Não existe diferença entre o grau dado pelas PMEs certificadas e as PMEs não certificadas. H2- As características da construção civil tais como as citadas por Meseguer (1991)... constituem obstáculo para a implantação de SGQs nas pequenas e médias empresas da construção civil. Ho- As características do setor de construção civil não constituem obstáculo para a implantação de SGQs nas pequenas e médias empresas da construção civil. H3- As incertezas do ambiente econômico de um país em vias de desenvolvimento, como o Brasil, restringem a aplicação de SGQs em pequenas e médias empresas de construção civil. Ho- As incertezas do ambiente econômico restringem a aplicação de SGQs. Ha- As PMEs certificadas apresentam melhores resultados. Testes utilizados Mann-Whitney Equal Variances Teste de Levene Ha- Existe diferença Ho- Não existe diferença entre o grau dado pelas PMEs certificadas e as PMEs não certificadas para as influências da construção civil. Mann-Whitney Equal Variances Teste de Levene Ha- Existe diferença Ha- As características da construção civil constituem obstáculo para a implantação de SGQs nas pequenas e médias empresas da construção civil. Ha- As incertezas do ambiente não econômico restringem a aplicação de SGQs. Ho- Não existe diferença entre o grau dado pelas PMEs certificadas e as PMEs não certificadas para as influências do ambiente econômico. Mann-Whitney Equal Variances Teste de Levene Ha- Existe diferença. Quadro 4- Hipóteses da Tese, hipóteses de teste e tipo de teste Fonte:elaborado pelo autor Em relação à concordância das PMEs certificadas e não certificadas sobre a utilização de ferramentas de qualidade e planejamento estratégico melhorarem o desempenho destas organizações, pode ser afirmado que: pelos gráficos de estatística descritiva, obtidos do software estatístico Minitab versão 13.1, as médias de 4,26 para as PMEs certificadas e 2,76 para as não certificadas indicam existir uma diferença entre os graus de concordância sobre a utilização de ferramentas de qualidade e de planejamento estratégico melhorarem o desempenho das organizações. As PMEs certificadas estão de acordo com a afirmação e as 183 não certificadas estão indiferentes a esta necessidade. A memória de cálculo e os gráficos obtidos através da utilização do software estão no apêndice D. Em relação à influência das peculiaridades da construção civil na implantação de SGQs, observando as médias obtidas pelos gráficos de Estatística Descritiva, retirados do Minitab versão 13.1, respectivamente 4,83 para as empresas certificadas e 4,14 para as não certificadas (vide apêndice D), verifica-se que ambas concordam sobre a influência das características da construção civil na implantação de Sistemas de Gestão da Qualidade. Pelo teste de Mann- Whitney, os dois grupos (PMEs certificadas e PMEs não certificadas) acreditam na influência com a mesma intensidade, já que o p-value encontrado foi de 0,1004, maior que 0,05. Detalhes desse teste podem ser encontrados no apêndice D. O teste de variância (Equal Variances) e o teste de Levene, que aponta um p-value de 0,504 maior do 0,05 (valor alfa adotado), indicam que as PMEs certificadas têm mais convicção do que as PMES não certificadas, já que o intervalo de variância das não certificadas é maior. Em relação à concordância do ambiente econômico influenciar a implantação de SGQs, verificando os gráficos obtidos do Minitab versão 13.1 vê-se que as PMEs não certificadas estão indiferentes em concordar com esta afirmação. No entanto, as PMEs certificadas estão de acordo com a afirmação. Estes gráficos podem ser vistos no apêndice D. Esta percepção é confirmada pelo teste de Mann-Whitney (vide apêndice D) que aponta um pvalue de 0,0094 (menor do que 0,05), indicando que as PMEs não certificadas estão indiferentes às influências da economia para a implantação de SGQs. Em relação à importância da influência da economia na implantação de SGQs pelas PMEs da construção civil, obteve-se uma média de 4,84 para as PMEs certificadas e 4,07 para as não certificadas, indicando que ambas consideram importante a influência deste fator. No entanto, as certificadas dão maior importância para tal fator, o que é confirmado pelos testes de variância e de Levene que indica um p-value de 0,098 que é maior do que 0,05. Em seguida, observa-se a concordância e a importância para as hipóteses consideradas sob a ótica das PMEs certificadas e não certificadas. Inicialmente, será verificado se a utilização de ferramentas de qualidade e planejamento estratégico melhoram o desempenho destas organizações ou não, conforme a análise obtida através do tratamento estatístico dos dados. Para as PMEs certificadas, existe diferença significativa entre o desempenho obtido e o desejado com a utilização de ferramentas de qualidade e de planejamento estratégico. Esta 184 afirmação é corroborada pelo teste de Mann-Whitney que apresenta um valor de 0,0007 para o p-value (menor do que 0,05). Para as não certificadas, a média encontrada para a concordância é de 2,77 e a da importância é de 4,05. O p-value encontrado pelo teste de Mann-Whitney é de 0,0001 indicando que as empresas não utilizam tais ferramentas, porém consideram ser importante tal utilização para o êxito da implementação de SGQs. Os resultados obtidos podem ser verificados no apêndice D. Existe concordância dos dois grupos, PMEs certificadas e não certificadas, para a importância na utilização de ferramentas de qualidade e de planejamento estratégico. No entanto, ambos os grupos consideram haver diferenças entre os resultados obtidos através da utilização destas ferramentas. As PMEs certificadas consideram que os resultados poderiam ser melhores e as não certificadas não os utilizam, embora considerarem relevante a utilização. A verificação da aderência entre a concordância e a importância das PMEs, certificadas e não certificadas, em relação à influência das peculiaridades da construção civil na implementação de SGQs apresenta os seguintes resultados das análises efetuadas. Para as PMEs certificadas, não há diferença significativa entre os graus conferidos para as duas dimensões, concordância e importância. As certificadas concordam com a atenção dispensada para este fator em suas organizações. E, esta atenção está de acordo com a importância que atribuem a este fator para o sucesso da implementação de SGQs. Para as não certificadas, as médias encontradas estão próximas indicando haver aderência em relação a este fator. Isto é confirmado através do teste de Mann-Whitney ao apresentar um p-value de 0,7494. Logo, se aceita a hipótese de que não há diferença significativa entre a importância atribuída e o que acontece nas empresas. A partir dos resultados obtidos, pode ser concluído que os dois grupos consideram ser significativa a influência das peculiaridades da construção civil ao se implantar SGQs. Em relação à aderência entre PMEs certificadas e não certificadas sobre a influência da economia na implementação de SGQs, foram obtidos os resultados discutidos a seguir. O teste de Mann-Whitney apresentou um p-value de 0,4705, maior do que 0,05, o que permite aceitar a afirmação de não existir diferenças entre o que as PMEs consideram importante em relação à influência do ambiente econômico e como tal influência é gerenciada em suas organizações. Para as PMEs não certificadas, o p-value encontrado pelo teste de MannWhitney foi de 0,061. E, assim, pode ser aceita a afirmação de que estas organizações, também, concordam que não há diferenças significativas entre a concordância e a importância 185 dada para este fator. Conclui-se que não existem diferenças entre os dois grupos. Os gráficos relativos ao tratamento estatístico podem ser vistos no apêndice D. No próximo capítulo, serão feitas conclusões sobre as observações oriundas da pesquisa realizada, será verificado se as hipóteses formuladas estão corretas, e as questões enunciadas devidamente respondidas. Pretende-se, também, observar a sustentação da fundamentação teórica às conclusões. 7.4 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Como já mencionado, tendo como base a análise obtida através dos resultados dos indicadores e das respostas dos questionários, serão discutidos os resultados das análises, a coerência das hipóteses formuladas, se os objetivos foram alcançados e se as questões foram respondidas. As PMEs não certificadas pesquisadas, em sua grande maioria, desconhecem ferramentas de qualidade tais como Seis Sigma, BSC, DFQ, Gestão da Mudança, Gerência de Projetos e outras. E as que conhecem as ferramentas, não as utilizam. Ocorre o oposto nas PMEs certificadas pesquisadas, conhecedoras e usuárias das ferramentas listadas no questionário, o que foi demonstrado nas tabelas 16 e 17. Outra conclusão resultante é o total conhecimento do Planejamento Estratégico pelas PMEs certificadas, que é utilizado por cem por cento da amostra. As PMEs não certificadas podem e devem utilizar modelos de planejamento sustentado em suas organizações para suprir as deficiências encontradas. Um dos modelos a ser adotado é o de Flamholtz (1995) para entender e planejar seu crescimento sustentado nos diversos estágios. Este modelo foi apresentado em 2.5.4 (ver Figura 4). As PMEs não certificadas consideram como os seguintes problemas para a implantação de SGQs em suas organizações: a) Desconhecimento dos dirigentes; b) Falta de conscientização do grupo e; c) Falta de metodologia de aplicação. Outras causas apontadas foram: baixo nível educacional, falta de qualificação profissional e de recursos disponíveis para a implantação. Os problemas listados, pelas PMEs não certificadas pesquisadas, nesta tese são validados por Grilo et al (2003). Estes declaram que os fatores mais resistentes à implementação de SGQs são a escassez dos recursos 186 humanos e materiais, altos custos diretos e indiretos incorridos no treinamento de colaboradores e líderes. Há uma inconsistência entre o fato de que oitenta e seis por cento das PMEs não certificadas pretendem implantar estes sistemas, porém num prazo superior a doze meses ou com prazos indefinidos de implementação. Tal ocorrência pode ser resumida na declaração de um dirigente de uma pequena empresa de construção ao afirmar que “ Sistemas de Gestão da Qualidade exigem recursos humanos, financeiros e materiais que as pequenas empresas não podem despender. E além disso, o meu cliente não me exige isto ainda. Desta forma, não tenho incentivo para este esforço”. A explicação para esta inconsistência fica clara nesta declaração. Para os dirigentes de PMEs não certificadas, sabe-se que a certificação é algo que deverá ser feito, porém como exige recursos elevados e há falta de exigência dos clientes, os dirigentes vão adiando o processo. Em contrapartida, a experiência dos dirigentes e gerentes que viveram a experiência da certificação é totalmente oposta. Pode ser sintetizada na seguinte declaração de um dirigente de média empresa : “ as pequenas empresas ganham o pão de dia para comer à noite. Elas não têm os recursos necessários para investir na certificação. Só as médias empresas podem fazer este processo. No entanto, as empresas que investiram em SGQs estão colhendo os frutos. Deficiências nos processos administrativos e técnicos foram constatadas e corrigidas, já evidenciando ganhos”. Em visita realizada, em uma pequena empresa de construção civil certificada, o autor desta tese pôde constatar que, tanto a afirmação do dirigente da pequena empresa não certificada como a do dirigente da média empresas certificada não procedem. Esta empresa é bem organizada, bem gerenciada, tem os processos mapeados, utiliza indicadores e apresenta bons resultados. As PMEs, certificadas e não certificadas participantes da pesquisa, apresentaram como principais motivos para a certificação: exigências dos clientes, exigências dos órgãos governamentais, necessidades internas. Além destas razões, as certificadas citaram adequação à concorrência e decisão do dirigente principal. Tais motivos foram também listados no trabalho de Grilo et al (2003). Conclui-se também que, as PMEs certificadas e não certificadas acreditam que as peculiaridades da construção civil, já listadas em outras partes desta tese, dificultam em muito a implantação de SGQs. Na opinião geral, o maior obstáculo a ser vencido é a baixa capacitação educacional do pessoal. Esta conclusão tem sido corroborada pelos trabalhos desenvolvidos por diversos autores já citados ao longo desta tese. 187 Observou-se uma postura mais crítica das PMEs certificadas em relação à influência dos aspectos econômicos na implantação de SGQs. Aspectos como juros altos, falta de apoio financeiro, política tributária, inexistência de uma política habitacional dificultam o investimento em SGQs. Já para as PMEs não certificadas, o maior impedimento é a falta de uma política habitacional. Os outros fatores não foram considerados tão graves, o que é relevante já que vários autores, já citados, consideram a influência da economia como um limitador para investimentos. Uma possível causa para a avaliação da influência dos fatores econômicos pelas PMEs não certificadas, pode ser a não utilização de Planejamento Estratégico e a necessidade de uma melhor capacitação técnico-administrativa destas organizações, permitindo que obtenham uma melhor capacidade de análise do ambiente externo. Esta conclusão é apoiada por autores e entidades como Farah (1996), SEBRAE-MG (2005), Muñoz (2001). A análise dos indicadores permite a conclusão de que as PMEs certificadas apresentam resultados melhores em seis destes indicadores (Riqueza, Lucratividade, Treinamento, Taxa de Acidentes, Eficiência de Planejamento e Produtividade), quatro apresentam resultados semelhantes (Endividamento, Rotatividade, Absenteísmo e Participação no Mercado) e três não permitem comparações já que as não certificadas não medem Velocidade de Vendas, Qualidade e Satisfação do Cliente. Deve ser ressaltado que as PMEs não certificadas não medem indicadores muito importantes que dão informações sobre a qualidade do produto, rotação do estoque e percepção do cliente. Estes indicadores são medidos pelas PMEs certificadas. Pode ser afirmado que as certificadas têm melhores resultados em nove dos treze indicadores medidos. Em seguida, são apresentadas conclusões sobre as hipótese consideradas nesta tese: H1- As PMEs da construção civil, que utilizam Sistemas de Gestão da Qualidade, apresentam melhores resultados do que aquelas que não utilizam. A utilização dos indicadores demonstra que os resultados das PMES certificadas são melhores na maioria dos índices, conforme demonstrado no parágrafo anterior. E, também, as PMEs não certificadas não têm dados que são utilizados em três importantes indicadores já citados. E, se os dirigentes não medem, não gerenciam. Em relação à Participação do Mercado, este indicador deve ser relativizado, uma vez que os valores apresentados pelas empresas participantes da pesquisa, certificadas e não certificadas, não são consistentes e podem ter deturpado os resultados. 188 As PMEs certificadas estão conscientes da necessidade da utilização de ferramentas de qualidade e do Planejamento Estratégico, utilizam-nos no dia a dia empresarial e existe concordância da importância da utilização. No entanto, pelos testes estatísticos realizados, pode ser observado que as certificadas consideram haver uma diferença entre o resultado obtido pela utilização das ferramentas de qualidade e do Planejamento Estratégico e os resultados desejados. Esta diferença indica uma oportunidade para melhoria. Conforme os testes estatísticos realizados, conclui-se que as não certificadas não utilizam as ferramentas da qualidade e Planejamento Estratégico. Porém, ao se examinar a importância do emprego destes dois tipos de recursos, verifica-se que consideram tal utilização importante para o sucesso da implantação de SGQs. Um detalhe interessante surgido nas entrevistas com dirigentes das empresas não certificadas, é que todos inicialmente dizem aplicar ferramentas de qualidade. Quando a entrevista evolui e são pedidas evidências objetivas, observa-se que não as possuem e, no preenchimento do questionário, demonstram não conhecê-las como pode ser visto pela tabulação dos resultados. Uma outra conclusão é que as PMEs não certificadas não têm um maior controle financeiro, contradizendo a afirmação corrente dos teóricos do estudo de indicadores, já citados anteriormente nesta tese, de que as organizações dão ênfase aos indicadores financeiros. Esta hipótese foi confirmada pelo confronto dos indicadores obtidos e pelos testes estatísticos realizados, e que podem ser vistos no apêndice D. H2- As características do setor de construção civil constituem obstáculo para a implantação de SGQs nas pequenas e médias empresas da construção civil. Ambos os grupos acreditam que as características específicas da construção civil exerçam influência na implantação de SGQs nas PMEs. Entretanto, as PMEs certificadas, de acordo com os testes estatísticos realizados, têm mais convicção em relação a este ponto. Os dois grupos consideram ser significativa a influência das peculiaridades da construção civil na implantação de SGQs. Não há diferenças entre o que as empresas fazem e o que acreditam em relação a tal fato. Deve ser ressalvado que as certificadas sabem da importância e gerenciam estas peculiaridades para minimizar seu impacto. As não certificadas estão atentas para este impacto e vão gerenciá-lo quando da implantação. As peculiaridades do setor da construção civil foram ressaltadas nas diversas entrevistas realizadas. Um empresário do setor disse que “ o grande problema do setor é o 189 baixo nível do operariado e para isto estamos iniciando um esforço para educá-los com aulas nas obras”. Já um mestre de obras chamou a atenção para o fato de que “é difícil, pois cada vez que inicio uma obra, parto do zero com uma equipe nova e inexperiente. Quando a obra termina, vão embora e começa tudo de novo”, querendo com isto demonstrar as dificuldades advindas da rotatividade de pessoal no setor, tais como necessidade de treinamento em processos e métodos etc. Outros problemas foram apontados como não produção em série, deficiência de planejamento etc. Todos estes fatores e vários outros, já citados anteriormente, foram estudados e relatados em estudos anteriores de autores como Silva (2000), Verdi (2000), Ribeiro (2003), Ambrozewicz (2002), Meseguer (1991). A hipótese foi confirmada pelos testes estatísticos realizados (ver apêndice D). H3 -As incertezas do ambiente econômico de um país em vias de desenvolvimento, como o Brasil, restringem a aplicação de SGQs em pequenas e médias empresas de construção civil. As verificações feitas, com o software estatístico Minitab- versão 13.1, indicam que as certificadas e as não certificadas aceitam que a implantação de SGQS em PMEs da construção civil é restringida pela instabilidade econômica. Porém, as certificadas dão mais importância a estes aspectos. Este ponto já foi ressaltado na tabela 23, onde se verifica que alguns aspectos econômicos não são considerados como de importância máxima. Em relação à aderência, pode ser aceita a afirmação de que não há diferenças entre o que os dois grupos fazem e a importância dada aos aspectos econômicos. Em seguida, inicia-se a verificação dos objetivos: 1. Os objetivos gerais (ver 1.3.1) foram alcançados através da utilização do sistema de indicadores utilizado, do questionário, das entrevistas realizadas e das análises efetuadas. 2. Os objetivos específicos foram alcançados através das diversas análises efetuadas que permitiram que se comparasse o desempenho das PMEs certificadas e não certificadas pela utilização dos indicadores, se avaliasse como as peculiaridades da construção civil influenciam a implantação de SGQs nas PMEs, se avaliasse se o segmento de mercado a ser estudado, influencia o processo de implantação de SGQs; se avaliasse quais as razões do fracasso ou sucesso na implantação de SGQs nas PMEs da construção civil. 190 Para o Brasil, como um país em desenvolvimento, é importante observar as tendências da inovação na construção civil nos países mais desenvolvidos e buscar a introdução de novos processos, tecnologias e métodos de trabalho. Deve ser entendido que a introdução de novos processos compreende um novo conjunto de atividades e, assim, são necessárias novas competências, novos materiais e técnicas. Novas demandas como a utilização de prédios “inteligentes”, fontes alternativas de energia, “green construction” ou tratamento gerenciado de resíduos de construção, exigem um aprimoramento da mão de obra do setor. Aspectos como a baixa qualificação profissional e a inexistência de ações imediatas para formação profissional devem ser enfrentados para fazer frente às novas exigências. E deve ser dada especial atenção para as PMEs , lembrando que estas empregam 98,5% do pessoal empregado na construção civil (IBGE-CNAE-45, 2002) e que muitas das atividades são exercidas pelo setor informal. Encerradas as conclusões relativas aos objetivos e hipóteses consideradas para a tese, pretende-se elaborar as recomendações que se acredita possam melhorar os resultados e corrigir distorções apontadas. 7.5 SUGESTÕES Os problemas encontrados nas análises feitas anteriormente serão agrupados por similaridade, e propostas sugestões. Para cada uma delas será tomado o cuidado de procurar suporte na teoria utilizada na tese. 1) Problemas decorrentes de desconhecimento de ferramentas de qualidade ou planejamento e da não utilização de indicadores: Os principais problemas encontrados nas PMEs foram: a) PMEs não certificadas desconhecem ferramentas de qualidade e Planejamento Estratégico, não havendo direcionamento para a melhoria contínua. b) As PMEs não certificadas não estão conscientes da necessidade de conhecer e aplicar ferramentas de qualidade, Planejamento Estratégico e critérios de medição. c) PMEs não certificadas desconhecem a metodologia de aplicação de SGQs. d) Existe a percepção de que outras empresas implantaram SGQs sem obter resultados satisfatórios. 191 e) A produtividade das PMEs não certificadas é pior do que a das PMEs certificadas. O mesmo ocorre com a taxa de acidentes. f) PMEs não certificadas não analisam dados de qualidade e mercado tais como: Qualidade, Velocidade de Vendas e Satisfação do Cliente. As soluções para os problemas relatados passam por uma interação maior entre universidades, sindicatos patronais (Sinduscons, ADEMI e outros), organismos de apoio à pequena e média empresa como o SEBRAE para que sejam organizados grupos com a finalidade de discutir soluções objetivando a modernização das PMEs. Sugerem-se encontros com os empresários das PMEs em que os casos de sucesso de aplicação de SGQs na construção civil sejam discutidos. Visitas técnicas, patrocinadas pelos organismos citados, podem ser feitas em empresas de outros ramos que sejam “world class”, para que os empresários sejam expostos às melhores práticas. Devem ser criadas sinergias organizacionais que objetivem a criação de redes locais de PMEs da construção civil. Ao se integrarem em redes, as PMEs deixarão de atuar como pequenas empresas individuais, passando a constituir sistemas integrados de empresas. Com esta forma de atuação, as PMEs podem superar os problemas típicos de seu tamanho tais como: conhecimento especializado, inteligência empresarial, inovação etc. No entanto, ao optarem pela formação de redes de cooperação, as PMEs serão obrigadas a enfrentar novas necessidades de capacitação e informação. Tais necessidades poderão ser supridas adotando as seguintes soluções: a) Programas de capacitação em escolas técnicas e universidades. b) Programas de geração e difusão de novos conhecimentos, além de incorporar inovações técnicas e organizacionais. Desta forma, serão criadas capacitações para selecionar, adquirir, adaptar e assimilar novas soluções para os problemas decorrentes de desconhecimento de ferramentas de qualidade ou planejamento e da não utilização de indicadores. c) Programas de capacitação para a utilização de recursos de inteligência organizacional e empresarial destinados à solução dos problemas apontados. d) Facilitar o acesso e intercâmbio de informações e conhecimento de novos procedimentos, softwares e inovações técnicas e organizacionais necessárias para a solução dos problemas verificados pela pesquisa. 192 O estabelecimento das PMEs em redes permitirá o intercâmbio de idéias, o compartilhamento de informações, o conhecimento de tecnologias e práticas de organização. Várias estratégias e mecanismos estão sendo utilizados para promover a difusão de informações e conhecimento. Como exemplos podem ser citados: contatos inter-pessoais, cursos práticos, visitas a empresas, acordos para desenvolvimento e transferência de inteligência organizacional etc. Existem vários exemplos de sucesso na literatura. Um deles é o programa belga conhecido como PLATO (ALBAGLI, 2001), onde empresários de pequenas e médias empresas reúnem-se em pequenos grupos para trocar informações em matéria de gestão e consultar administradores de grandes empresas sobre problemas específicos de gestão. Existem também iniciativas para o estabelecimento de melhores vínculos entre PMEs e institutos de pesquisas, organismos de capacitação, universidades. Dois programas de sucesso que podem ser estudados e adaptados são o Programa de Pesquisa e Desenvolvimento indiano e o Proyetos de Fomento chileno (ALBAGLI, 2001). Para que a formação de redes de PMEs seja incentivada, é necessária a preparação de uma infra-estrutura organizacional de apoio. Deverá haver a participação e a assessoria de um comitê local das empresas e instituições representativas. O comitê atuará como força integradora estimulando a cooperação entre associações empresariais, sindicatos, universidades etc. Para que tal fato ocorra, sugere-se o estabelecimento das seguintes fases: a) Identificação da massa crítica de PMEs com os problemas citados e motivadas para a implementação de soluções para tais problemas. b) Análise das oportunidades e problemas comuns, estabelecimento de plano de trabalho comum e formalização da estrutura organizacional do grupo. c) Criação de projeto estratégico de modo a aumentar a capacitação dos participantes, incremento da atuação e facilidades comuns visando a solucionar os problemas citados. É necessário criar bases de dados estatísticos sobre as empresas permitindo que seja feito o benchmark entre elas. O benchmark deve ser utilizado para se inteirar do que outras organizações estão fazendo com bons resultados, e procurar adaptar para as PMEs. As associações empresariais (Sinduscons) podem trabalhar em conjunto com o SEBRAE e objetivar o seguinte: 193 1. Sensibilizar e mobilizar segmentos sociais relevantes para a importância das PMEs da construção civil. 2. Promover a capacitação das PMEs da construção civil na utilização de ferramentas de qualidade e planejamento e na utilização de indicadores. 3. Capacitar agentes para dar suporte às PMEs através de cursos, estágios, intercâmbios etc. 4. Desenvolver competências técnicas no campo da Gestão da Qualidade através de convênios com organizações como a FPNQ, Fundação Vanzolini e outras. Outras soluções que podem ser aplicadas em relação aos problemas citados são: 1. Disponibilização de doutores, engenheiros ou técnicos para as PMEs através da concessão de bolsas para que estudem os problemas relatados e apresentem soluções. 2. Programas de pesquisas de soluções para os problemas encontrados, subvencionadas através de dotações de recursos. 3. Estudar de que maneira as entidades de classe podem ter mais agilidade na prestação de serviços estratégicos na disseminação do conhecimento de ferramentas de qualidade e planejamento, e da utilização de indicadores, abandonando as práticas desatualizadas e ineficazes que houver. 4. Promover treinamento de conteúdo teórico e prático para a mão de obra operacional. Estas recomendações são respaldadas por autores como Prahalad (2005) ao afirmar que as organizações devem buscar soluções com foco na relação preço-desempenho dos produtos e serviços. As soluções devem ser inovadoras, porém compatíveis com a infraestrutura existente. As organizações buscarão desenvolver as seguintes competências estratégicas e organizacionais: visão de longo prazo, capacidade de antever tendências, capacidade de gerenciar o risco etc. (OCDE, 1996). A partir da análise dos problemas apontados, observa-se que as PMEs não certificadas não estão desenvolvendo estas capacidades. Tal observação é referendada por Muñoz (2001) ao afirmar que o gerenciamento das construtoras é caracterizado por baixa orientação para o futuro. As PMEs não certificadas devem estar conscientes de que a aplicação de SGQs em suas organizações, permitirá a 194 utilização de inovações incrementais como um fator de diferenciação conforme a conceituação de Dosi et al (1990). A procura da racionalização de processos construtivos para simplificar a execução e reduzir custos é importante para as PMEs. Estas necessitam buscar sua inserção no mercado, conforme prescrito por Freeman (1979), através do conhecimento tecnológico e da capacitação gerencial. As PMEs precisam, para obter sucesso na competição dos negócios, exercer as duas dimensões definidas por autores como Florida (1995), Aydalot e Keeble (1998) a saber: a) desenvolver a capacitação empresarial para assegurar o êxito econômico da organização e b) capacitar suas organizações criando uma atmosfera de transformação e progresso para o aprendizado. É necessário que as PMEs compreendam que o SGQ é um sistema permanente e de longo prazo, direcionado para a satisfação do cliente, através da melhoria contínua dos produtos e serviços, conforme a visão de Mears (1993). Precisam aceitar que a eficiência operacional superior fortalece a posição competitiva das organizações. Quanto à utilização de indicadores, Lantelme (1994) verificou que as empresas de construção não possuem sistemas de medição ou quando têm procuram indicadores mais simples sem ligação com os realmente críticos. No entanto, autores como Ohashi e Melhado (2004) demonstraram a importância da utilização de indicadores em empresas construtoras certificadas. Estes estudos devem ser levados ao conhecimento das PMEs para que se sensibilizem em relação a este aspecto. Como já mencionado, a medição é fundamental para a melhoria contínua. A Fundação Nacional Prêmio da Qualidade (FNPQ) tem incentivado a utilização da medição de desempenho. Desta forma, podem ser feitos contatos com esta Fundação para que sejam obtidos subsídios sobre a utilização de indicadores de desempenho para ser dado conhecimento às PMEs. 2) Problemas decorrentes das peculiaridades da construção civil: Os seguintes problemas foram encontrados: a) Treinamento deficiente do pessoal das PMEs não certificadas. b) Baixo nível educacional existente no setor de construção civil. 195 c) Escassez de recursos humanos na construção civil. d) Alta rotatividade de pessoal. e) Produtos únicos e não seriados. f) Capacitação técnico-administrativa deficiente nos níveis gerenciais, administrativos e operacionais. g) Baixa produtividade das PMEs não certificadas. Os problemas encontrados, em sua grande maioria, já haviam sido percebidos por autores como Messeguer (1991), Silva ( 2000) Ribeiro (2003), Santos (2003) dentre outros. Já existem, no Brasil, alguns poucos centros de difusão de tecnologia e preparação de mão de obra como o centro de treinamento do SENAI, que tem sido uma fonte valiosa para o treinamento e difusão de tecnologia para o setor da construção civil. Deve ser incentivado o contato com este centro para divulgação das técnicas e tecnologias lá desenvolvidas, além de se intensificar a criação e disseminação de centros semelhantes pelo país, tendo em vista a importância da construção civil e a participação das PMEs. O distanciamento entre universidades e PMEs é um problema a ser objeto de estudo para que possíveis soluções sejam buscadas. Grupos de estudos devem ser formalizados, utilizando a massa crítica de conhecimento existente na universidade, buscando soluções eficazes e de baixo custo para os problemas encontrados. As associações como os Sinduscons, CBIC e outras podem fazer parte deste processo de aproximação. Através de meios como seminários, palestras, consultorias, as universidades devem fazer-se conhecer e perceber os problemas da construção civil. Assim, podem ser preparados treinamentos para os níveis gerenciais e técnico-administrativos sobre técnicas gerenciais e construtivas, visando a redução da defasagem em relação às técnicas mais eficazes. Para estes cursos podem ser utilizadas modernas técnicas audiovisuais e incentivada a utilização do ensino à distância. Devem ser preparados “cases” sobre as empresas de sucesso na área da construção civil e incentivada a divulgação das técnicas mais utilizadas tais como construção enxuta, gerência de projetos, etc. As universidades poderiam fazer um trabalho de marketing junto às associações de classe, mostrando como podem ajudar na resolução dos problemas setoriais. As soluções passam por uma série de providências que se iniciam com uma revisão gradual dos atuais currículos das universidades. Atualmente, as universidades tendem a um curso mais acadêmico, de caráter mais intelectual, voltado mais para a pesquisa e formação de 196 pesquisadores. Não há, de um modo geral, a preocupação em se dar ênfase para os campos gerenciais e comportamentais. A grade curricular é essencialmente técnica, e mesmo havendo preocupação em formar alunos voltados para o mercado de trabalho, essa não é a orientação básica dos cursos. A grade curricular pode considerar aspectos específicos das PMEs objetivando dotar os alunos de uma visão destas organizações. Outras providências para reduzir a distância empresa / universidade podem ser: 1. Estimular a cooperação entre PMEs e entidades de pesquisa e universidades para contribuir positivamente no estudo de soluções para os problemas decorrentes das peculiaridades da construção civil . 2. Implantar um sistema de identificação de oportunidades de melhorias ou diminuição dos impactos das especificidades da construção civil nas PMEs e apoiar a montagem e o reforço de programas que garantam a rápida disseminação dos conhecimentos adquiridos destes estudos. 3. Objetivar a interação e não a integração universidades / PMEs considerando a vocação das instituições e planejar a interação entre estas organizações, procurando verificar a natureza das vocações e os benefícios que podem vir destas interações. 4. Estabelecimento de convênios para ações específicas e complementares como: formação de quadros, acordos de transferência e colaboração etc. 5. Estabelecimento de agentes de contato entre as PMEs e as universidades que estejam familiarizados com as rotinas do pesquisador e do empresário e atualizados em relação ao setor das PMEs da construção civil e do potencial tecnológico das universidades, e como estas podem ajudar as PMEs na atenuação ou solução dos problemas apontados. 6. Programas de treinamento e estágios de pesquisadores na indústria, financiados com recursos públicos. Tais programas objetivarão o entendimento das condições de trabalho das PMEs da construção civil e o desenvolvimento de competências técnicas e de gestão específicas necessárias para a solução dos problemas decorrentes das peculiaridades do segmento. O benchmark pode ser intensamente utilizado com visitas às empresas líderes no gerenciamento dos recursos humanos. Logo, as técnicas utilizadas seriam aprendidas e transferidas, depois de adaptadas, para as PMEs. 197 O investimento em programas específicos de redução de acidentes e melhoria das condições de trabalho deve ser priorizado. Estes programas serão direcionados para todos os níveis organizacionais, podendo estabelecer bonificações através da redução de encargos ou impostos para PMEs que apresentem resultados significativos na área de redução de acidentes. Com a utilização da normalização técnica se obteriam reduções de custos, uma vez que a falta de conformidade aos padrões e custos de controle aumentam os gastos das empresas. No entanto, considerando-se que ainda existem poucas normas para a construção civil no Brasil, é necessário que seja feito um esforço para o incremento da elaboração destas normas. A criação de Sistemas Integrados de Gestão nas PMEs, englobando qualidade, saúde e segurança do trabalho e meio ambiente precisa ser pensada e divulgados os benefícios desta postura às PMEs. As PMEs podem formar consórcios para redução de custos de treinamento, habilitando mais pessoas e obtendo melhores custos. Não se deve esquecer da utilização da tecnologia da informação como forma de redução de custos e aumento da produtividade, adotando softwares de gestão e de apoio à decisão adaptados para as PMEs, que atualmente já existem e podem ser localizados através de uma simples consulta pela Internet. As deficiências no aprendizado do operário da construção civil foram ressaltadas por Amorim (1995) ao afirmar que o operário desenvolve mais “habilitação” do que “qualificação”. Esta característica difere do preconizado pela OCDE (1999) que afirma que na nova sociedade do conhecimento os trabalhadores devem aprender novas habilidades durante toda a vida. As razões listadas no relatório McKinsey (1998) e no Estudo Prospectivo da Construção Civil (MDIC, 2003), reforçam a necessidade de que as soluções aqui descritas sejam consideradas pelas PMEs. Estas devem se equipar com técnicas para melhorar sua eficácia técnico-administrativa e seus recursos humanos, estruturando-se de modo a integrar seus sistemas internos e atender às estratégias definidas, conforme preconizado por autores como Nohria e Ghoshal (1997), Dunning (1993) e outros. 3) Problemas causados na implementação de SGQs em PMEs da construção civil devido às incertezas do ambiente econômico: 198 Os problemas encontrados foram: a) Falta de controles financeiros e de mecanismos de avaliação do ambiente externo nas PMEs não certificadas. Portanto, estas não têm uma visão completa do ambiente externo e não visualizam os impactos de vários fatores econômicos na implantação de SGQs. b) Falta de capacitação técnico-administrativa das PMEs não certificadas dificultando o gerenciamento dos aspectos econômicos na implantação de SGQs. c) Taxa real de investimento fixo no país é baixo. d) Excessiva carga tributária, desviando recursos das PMEs que poderiam ser utilizados no aumento da produtividade e eficácia. É importante ressaltar que a aproximação universidades / associações empresariais e de classe/ PMEs é necessária para que sejam apresentadas soluções como: relatórios de análise da situação, treinamentos sobre Planejamento e Controle Financeiro confeccionados especialmente para as PMEs, desenvolvimento de softwares de controle financeiro etc. As soluções discutidas para os problemas anteriores podem ser consideradas e adaptadas para os problemas causados na implementação de SGQs em PMEs da construção civil devido às incertezas do ambiente econômico . Os problemas econômicos apontados pelas PMEs certificadas tais como: juros altos, inconsistência das regras econômicas, alta carga tributária, inexistência de política habitacional (também apontada pelas não certificadas) podem ser motivo de trabalho intenso das PMEs junto às associações de classe, SEBRAE, Executivo, Legislativo para resolver estas deficiências. Estes órgãos devem sofrer uma pressão constante a fim de que se dediquem ao estudo e busca de soluções. A verificação da maneira como tal problema é tratado em outros países com porte semelhante ao Brasil deve ser considerada e ponderadas as condições de utilização. Uma possível solução para os problemas apontados pode ser a constituição das PMEs da construção civil em arranjos produtivos locais, que podem facilitar o planejamento econômico-financeiro, planejamento estratégico, desenvolvimento de controles específicos para o setor devido a : 1) Redução nos custos de desenvolvimento de soluções e diluição dos riscos devido à divisão dos custos por um maior número de empresas em lugar de empresas individuais. 199 2) Superação das barreiras tradicionais devido à promoção de incentivos para iniciativas deste tipo em PMEs. As soluções para problemas encontrados em relação aos aspectos econômicos podem ser: a) Promover a capacitação e sensibilização das PMEs da construção civil, implementação de mecanismos de controle financeiro e de avaliação do ambiente externo custeados através de recursos a fundo perdido e linhas especiais de crédito. b) Criar sistemas de bonificações de taxas de juros, redução de carga fiscal e incentivos para implementação das soluções desenvolvidas em PMEs da construção civil, mudança dos critérios de análise de crédito para PMEs da construção civil que implementem as soluções desenvolvidas, recursos não re-embolsáveis para desenvolvimento de projetos de pesquisa cooperativa com universidades e centros de pesquisa para projetos de capacitação técnicoadministrativa das PMEs não certificadas. O governo pode utilizar seu poder de compra e priorizar as PMEs da construção civil, desenvolvendo políticas específicas para este segmento. Assim procedendo, as razões enunciadas por Rothwell e Zegveld (1981), já referenciadas nesta tese, seriam atendidas. As PMEs são um complemento necessário, e não alternativo, às empresas de grande porte. A implantação das sugestões listadas faria justiça à importância da construção civil, considerando as características do setor, a saber: a) elevado efeito multiplicador, b) menores necessidades de investimento, devido à baixa relação capital/ produto, c) utilização intensiva de mão de obra, incluindo a não qualificada, d) responsável por significativa porção dos investimentos e, e) reduzido coeficiente de importação (SEBRAE-MG, 2005). 8 CONCLUSÕES FINAIS E SUGESTÕES PARA FUTUROS TRABALHOS 8.1 COMENTÁRIOS FINAIS Esta tese teve, como objetivo geral, pesquisar a implantação de Sistemas de Gestão da Qualidade em pequenas e médias empresas de construção civil, sub-setor de edificações. Devido a limitações de tempo e custos, as pesquisas foram circunscritas para PMEs situadas no município do Rio de Janeiro. Portanto, os deslocamentos bem como respectivas despesas, as dificuldades em contatar pessoas e os prazos foram minimizados. Com a utilização destes procedimentos, os prazos estabelecidos para a conclusão da pesquisa foram factíveis. A escolha de pequenas e médias empresas da construção civil estabeleceu-se devido ao fato de que estas constituem uma importante fatia do segmento (SENAI, 2005). A motivação principal para o desenvolvimento da tese foi verificar se estas empresas, quando adotam SGQs, apresentam melhores resultados em relação às que não utilizam. Uma outra motivação foi verificar se as peculiaridades da construção civil, citadas por autores como Silva (2000), Ambrozewicz (2002), Messeguer (1991) e outros afetam a implantação destes sistemas nas PMEs da construção civil. Houve, também, a preocupação em entender como a instabilidade econômica atua sobre esta implantação. Para se atender aos objetivos da tese, foi utilizado o método de estudos de casos múltiplos com a aplicação de questionários, a utilização de um sistema de indicadores, cujo desenvolvimento foi explicado anteriormente, e entrevistas. Foram tomados os devidos cuidados para validar o estudo de casos, conforme Yin (2001), através de: 1. Validade de construto. 2. Validade interna. 3. Validade externa. 201 4. Confiabilidade. A utilização do estudo de caso teve como objetivo a compreensão e interpretação dos fenômenos observados. Pela utilização de casos múltiplos, foi possível o confronto e comparação entre os resultados, possibilitando respostas mais confiáveis. E, desta maneira, os resultados podem ser generalizados, conseguindo atender às recomendações de autores como Herriot e Firestone (1983), Banbasat, Goldstein e Mead (1987) explanadas na Metodologia. A pesquisa realizada confirmou as hipóteses enunciadas. Pela comparação de indicadores, previamente escolhidos, foi demonstrado que as PMEs que têm SGQ apresentam melhores resultados em relação àquelas que não possuem. Pelos testes estatísticos realizados, comprovou-se a veracidade da segunda hipótese. Esta considera que as peculiaridades da construção civil, já relatadas em outras partes da tese, influenciam na implementação de SGQs. Da mesma forma, os resultados demonstraram que, tanto as PMEs certificadas como as não certificadas, consideram ser a implantação de SGQs influenciada pela instabilidade econômica. Logo, confirmou-se a terceira e última hipótese considerada. A situação atual da qualidade na construção civil brasileira e os principais programas de qualidade utilizados nesta indústria foram demonstrados, assim como modelos de programas de qualidade utilizados em outros países. Entretanto, para que o nível de desempenho das organizações seja medido, são necessários indicadores. E assim, foram apresentados os principais sistemas de indicadores, seus problemas de implantação e a situação de tais sistemas na construção civil até chegar-se ao sistema de indicadores utilizado na tese. A pesquisa permitiu uma série de observações e conclusões. Foi verificado que as PMEs com Sistemas de Gestão da Qualidade estão mais bem preparadas para as mudanças que agitam o ambiente de negócios. Estas empresas, ao utilizarem indicadores, conseguem uma melhor percepção do ambiente externo. E, deste modo, as empresas certificadas podem rever suas estratégias, adaptando-se às novas condições. Os resultados obtidos na pesquisa confirmam esta afirmação. Uma outra conclusão foi que as PMEs certificadas possuem um melhor entendimento dos fatos econômicos e qual é a sua influência na implantação de SGQs. Os resultados obtidos, através dos questionários, evidenciaram que as peculiaridades da construção civil afetam de maneira bastante significativa esta implantação. Para minorar o efeito destas peculiaridades, é necessário que haja um esforço conjunto do Estado e das PMEs. O Estado pode agir por meio de investimentos em educação, capacitação da mão de 202 obra, programas de redução de acidentes de trabalho, reestruturação da política tributária, sistemas de crédito para a construção civil, redução da má distribuição de renda e políticas de emprego e renda. E as empresas, por sua vez, podem se equipar adotando técnicas com o objetivo de melhorar sua eficácia técnico-administrativa, formar consórcios para redução dos custos de treinamento, formar cooperativas para compra de insumos e matérias, incentivar o aumento da elaboração de normas e procedimentos junto aos órgãos especializados, incrementar a utilização da tecnologia de informação e várias outras medidas sugeridas nas Recomendações. Uma outra providência que pode ser adotada, facilitando o processo de planejamento das PMEs, é a constituição de arranjos produtivos locais. As vantagens destes arranjos foram explanadas nas Recomendações. No entanto, para que estes arranjos produtivos locais tenham sucesso, é importante uma mudança na postura das PMEs, atentando para detalhes tais como: diferenças em relação ao desenvolvimento tecnológico, capacitação de pessoal e diferenças de participação dos programas de qualidade. Uma realidade, que deve ser considerada pelas PMEs da construção civil, é a autoconstrução. A autoconstrução tem potencial para ser uma das possíveis alternativas para reduzir o problema do déficit habitacional, desde que, conforme já dito por este autor, sejam atacados os problemas como não-conformidade, baixa qualidade e informalidade da mão de obra. Com o aumento das necessidades habitacionais em regiões de menor infra-estrutura, devido à fixação do pessoal de menor renda nestes locais, a tendência da autoconstrução e da construção informal é o crescimento. Portanto, a autoconstrução tenderá a aumentar a participação no mercado e no volume de compras. Assim, abre-se uma oportunidade para que as pequenas e médias empresas de construção civil se posicionem neste mercado. Este assunto não foi desenvolvido nesta tese, já que não era o enfoque da mesma, nem se encontrava entre os objetivos pesquisá-lo em profundidade. Entretanto, algumas soluções podem ser consideradas pelas PMEs para situar-se neste mercado, tais como: a) considerar que o público alvo tem como prioridade a adequação do desembolso financeiro à sua capacidade de pagamento e desenvolver soluções para isto, através de parcerias com órgãos de financiamento. b) estabelecer parcerias com associações de moradores para que as PMEs ofereçam a este público as vantagens da construção formal como qualidade, segurança, custo adequado, redução de desperdícios, treinamento em técnicas construtivas e a utilização deste público como mão de obra. 203 c) criar produtos de boa qualidade com menor preço, d) criar produtos resistentes à precariedade da infra-estrutura local, utilizando sempre que possível mão de obra do comprador, e) investir na melhoria das técnicas de construção através da utilização de sistemas de construção, que são elementos construtivos para racionalizar processos e tempos de construção. A partir dos resultados pesquisados nos questionários, acredita-se que problemas da construção civil causados devido à situação econômica do país, possam ser minorados através de medidas como melhoria contínua, gerência do conhecimento, introdução de melhores práticas de planejamento, visão global, conhecimento do mercado e da concorrência dentre outras. Uma das soluções é, certamente, a utilização de Sistemas de Gestão da Qualidade que possibilita às empresas conhecerem seus pontos deficientes e traçarem estratégias visando ao aprimoramento contínuo. Agindo desta forma, podem se adaptar melhor às mutações do ambiente. Com o aprimoramento dos programas existentes, as PMEs obterão melhores condições de sobreviver no ambiente global de nossos dias. Outra constatação obtida durante o trabalho de pesquisa realizado, foi a de que a utilização de indicadores de qualidade e produtividade para avaliação de desempenho e melhoria dos processos ainda é incipiente na construção civil. A implantação de sistemas de indicadores é dificultada por fatores característicos deste setor tais como: caráter nômade, produtos únicos e não seriados, longo ciclo de aquisição-uso-reaquisição, mão de obra de baixa capacitação dentre outros, confirmando a tese de vários autores, citados ao longo deste trabalho. Foi observada, também, a existência de um outro obstáculo para a implantação de indicadores que é a sobrecarga de trabalho e a necessidade de redução de custos, existentes nas atuais condições da construção civil. No entanto, à medida que resultados positivos forem sendo conhecidos, espera-se uma melhor difusão das vantagens na aplicação do uso de sistemas de indicadores. Este trabalho demonstrou que a utilização de SGQs é um poderoso instrumento de aperfeiçoamento de gestão das empresas. Embora o desempenho das PMEs certificadas seja superior ao das não certificadas, ainda há muito a ser melhorado nestas empresas e no processo de implementação de SGQs. Com o objetivo de facilitar tal implementação, diversas sugestões foram feitas. Acredita-se, assim, que tenham condições de contribuir para o aperfeiçoamento do processo de implementação de SGQs nas PMEs da construção civil. 204 Como qualquer inovação, sempre haverá dificuldades na implantação de SGQs, que deverão ser enfrentadas e resolvidas. Não há dúvidas que o processo é irreversível e que, cada vez mais, as PMEs da construção civil aplicarão este recurso, que se consolidará e melhores resultados serão alcançados. A implementação de SGQs poderá transcorrer sem problemas sempre que as organizações tiverem uma visão do ambiente externo, traçarem estratégias de implantação e que as peculiaridades da construção civil e as influências da economia forem consideradas. Também é necessário que os recursos humanos e financeiros necessários sejam alocados. Um outro cuidado necessário é o entendimento de que toda mudança de filosofia ou implementação de um novo sistema de gestão cria um desconforto na organização, que é deslocada de sua zona de conforto e forçada a se lançar no desconhecido da mudança. 8.2 SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS O assunto em pauta foi bastante estudado. Todavia, não se conseguiu esgotá-lo devido a problemas como: exigüidade de tempo, recursos escassos para pesquisas mais detalhadas, indisponibilidade das empresas em participar e vários outros. Assim, acredita-se que futuros trabalhos devam retomar o estudo, com a abordagem de alguns temas que devem contribuir para o desenvolvimento quantitativo e qualificativo da matéria. Um aspecto que merece um estudo mais profundo, é a verificação do processo de inovação tecnológica nas pequenas e médias empresas de construção civil. Considerando-se que com a globalização e provável crescimento do interesse dos investidores estrangeiros no mercado imobiliário brasileiro, é factível acreditar que as PMEs terão oportunidades e ameaças neste cenário. A inovação tecnológica será uma das soluções que as PMEs terão para enfrentar estas oportunidades e ameaças. Logo, fica a sugestão deste estudo. Sugere-se, também, que a metodologia aqui proposta e aplicada nas PMEs do município do Rio de Janeiro, seja levada para outras regiões brasileiras de modo que se possibilite a comparação das PMEs certificadas do Rio em relação às de outras cidades. Deve ser levado em consideração que o estudo foi aplicado em PMEs do município do Rio de Janeiro, o que não compromete os resultados. Entretanto, com certeza limita a generalização, uma vez que a construção civil possui algumas peculiaridades típicas da região analisada. Aumentando a abrangência do estudo, um quadro melhor da situação será permitido. Procedendo desta forma, será possível realizar um estudo comparativo entre os resultados, 205 estabelecendo condições para uma troca e aprendizado das melhores práticas. Estas poderão ser divulgadas, levando a um aumento da competitividade global do setor. Um aspecto significativo decorrente das pesquisas realizadas é a importância da autoconstrução em nosso país e como este pode ser um segmento a ser explorado pelas PMEs da construção civil. Tal mercado é dominado pela informalidade. Neste trabalho, este assunto foi enfocado de uma maneira bastante tangencial, já que não fazia parte do escopo. No entanto, algumas soluções sobre como as PMEs podem se situar em relação a este mercado foram apresentadas. Pela importância do tema, é necessário um estudo mais profundo e elaborado sobre a forma de atuação das PMEs no mercado da autoconstrução, e de que maneira conseguirão ganhar competitividade em relação às informais. Uma outra contribuição para o conseqüente aprofundamento deste trabalho e considerando-se a importância das PMEs e do sub-setor de edificações para a economia, relaciona-se ao desenvolvimento de um sistema informatizado de cálculo de indicadores para PMEs da construção civil, integrado a uma matriz de decisão sobre estratégias para melhorias. Acredita-se que sua utilização poderá ser benéfica para as PMES, que terão condições de verificar como se situam em relação aos indicadores médios e estabelecer adequada para cada caso. a estratégia BIBLIOGRAFIA: ADEMI-Associação de dirigentes de empresas do mercado imobiliário. Pesquisa de acompanhamento e análise do mercado imobiliário: boletins internos. ADEMI. Rio de Janeiro, 2005. AGUIAR, R.C. Vitória na derrota: a morte de Getúlio Vargas. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2004. ALBAGLI, S. Capacitação, Sensibilização e Informação em Arranjos e Sistemas de MPMENT1.2. UFRJ.Rio de Janeiro, 2001. ALVES, A. Qualidade em projetos. 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APÊNDICES APÊNDICE A Pesquisa Esta pesquisa faz parte de uma tese de doutorado, realizada pelo autor deste questionário no PPGEC- Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil da Universidade Federal Fluminense (UFF). O objetivo é mensurar o desempenho das pequenas e médias empresas do ramo de edificações da Indústria da Construção Civil, que adotam Sistema de Gestão da Qualidade em relação àquelas que não utilizam tais sistemas. Serão verificados: a) resultados das empresas em relação a dimensões: financeira, recursos humanos, mercado e produção; b) como as características da construção civil (baixa capacitação da mão de obra, produtos únicos e não seriados, etc.) constituem obstáculo para a implantação de modernas técnicas de gestão; c) como a instabilidade do ambiente econômico brasileiro afeta a implantação de sistemas de gestão nas pequenas e médias empresas do setor. A Universidade, o doutorando e o orientador desta tese garantem a total confidencialidade dos dados e respostas. A seguir, estão listados os indicadores utilizados na avaliação. Financeiros: a) Riqueza criada por empregado: Valor agregado* / Número médio de empregados (próprios + terceirizados). b) Endividamento: (Passivo circulante+ Exigível a longo prazo) / Ativo total. c) Lucratividade: Valor agregado* / ∑ m2 construídos. 225 * Valor agregado= Lucro bruto da empresa= Faturamento- Despesas Administrativas e de Produção (exclusive impostos) Recursos Humanos: d) Percentual de treinamento: (∑ número de horas dedicadas ao treinamento/ ∑ número de horas trabalhadas) x 100 e) Taxa de freqüência de acidentes: (∑ número de horas mensais de pessoal afastado mais de um dia/ ∑ total de horas trabalhadas por todos os funcionários MOD)x 100. f) Índice de rotatividade: (((número de funcionários admitidos+demitidos)/2)/ Efetivo médio)x100 g) Índice de absenteísmo: (Total mensal de faltas não justificadas(horas)/ Total mensal de horas trabalhadas)x 100 Indicadores de Mercado: h) Índice de participação de mercado: (Faturamento/ Mercado total do setor) x100. i) Velocidade de vendas: (Total de unidades vendidas (m2)/ Total de unidades disponíveis para venda (m2))x100. Produção: j) Eficiência do planejamento produtivo: (Tempo real de realização da obra/ tempo planejado de realização da obra) x 100.** **Tempos médios l) Índice de produtividade: Número de homens hora utilizados (em 1 ano)/ m2 produzidos (em 1 ano) *** *** Efetivo(s) do(s) canteiro(s). m) Índice de qualidade do produto: Número de atendimentos (90 dias após entrega ao usuário) / Total de m2 construídos. n) Índice de satisfação do cliente: (Número de reclamações de clientes usuários****/ número total de unidades)x 100. **** considerar 90 dias após entrega. Solicita-se o preenchimento da tabela seguinte para a tabulação destes indicadores. As empresas não serão identificadas e, posteriormente, os resultados serão enviados aos respondentes, de modo que possam saber como se situam em relação às demais. 226 Tabela de Compilação de Dados Dado Número de empregados (médio) 2001 2002 2003 2004 2005 Faturamento Passivo circulante Exigível a longo prazo Ativo total Valor agregado***** M2 construídos Total de horas Treinamento Total de horas trabalhadas Total de horas pessoal afastado mais de um dia Total funcionários admitidos Total funcionários demitidos Efetivo médio anual (com terceirizados) Total de faltas não justificadas (horas) Mercado (R$) Total de unidades vendidas (m2) Total de unidades disponíveis para venda(m2) Número de atendimentos Número de reclamações de clientes usuários Tempo total de realização das obras Tempo planejado de realização das obras ***** Valor agregado= Faturamento – Despesas administrativas e de produção (exclusive impostos) Parte II Destina-se a verificar o grau de aderência da organização aos modernos conceitos e práticas de gestão. O doutorando, Luiz Carlos Brasil e o orientador da tese, professor Sérgio Leusin, em nome do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil da Universidade Federal Fluminense agradecem a colaboração no preenchimento e reiteram que a confidencialidade no trato das informações recebidas será total. Identificação: Empresa:_________________________________________________________________ Respondente:_____________________________________________________________ Função:_________________________________________________________________ Data:___________________________________________________________________ 227 Perguntas: 1) Assinale a classificação de sua empresa em relação ao número de funcionários. Construção Civil Porte Número de funcionários microempresa até 19 pessoas ocupadas pequeno porte 20 - 99 pessoas ocupadas médio porte 100 - 499 pessoas ocupadas grande porte acima de 500 pessoas ocupadas Classificação Fonte: SEBRAE, 2005 2) Qual a sua posição no organograma da organização? ( ) proprietário ( ) diretoria ( ) gerencial ( ) supervisão ( ) cargo técnico 3) Em relação às ferramentas listadas abaixo, informe se você as conhece ou não, e se sua organização pretende utilizá-las ou se já as utiliza: Ferramenta Conhece Desconhece Pretende Utilizar Certificação ISO 9001:2000 Balanced |Scorecard Gestão do Conhecimento DFQ Benchmarking Seis Sigma Gerência de Projeto Equipes de Trabalho Gestão da Mudança Produção Enxuta Análise de Valor Kaizen Gestão Ambiental SIAC/PBQP-H 4) Existe algum tipo de planejamento estratégico em sua organização? ( ) Sim ( ) Não Utiliza 228 Em algumas das próximas perguntas serão avaliados o grau de concordância com as afirmações e o grau de importância dos conceitos para o bom funcionamento de um Sistema de Gestão da Qualidade. Assim, o questionário apresenta dois tipos de avaliações. A primeira, refere-se à concordância com as afirmações e tem a seguinte simbologia. M.D.- muito discordo D- discordo I- indiferente A- de acordo M.A.- muito de acordo A segunda objetiva avaliar o grau de importância dado ao item para uma boa implantação de um Sistema de Gestão da Qualidade com a seguinte simbologia: S.I.- sem importância P.I.- pouca importância I- indiferente C.I. - com importância M.I.- muita importância Caso a resposta ao item 4 tenha sido positiva responda à próxima pergunta. Se a resposta foi negativa passe para a pergunta 11. 5) O planejamento estratégico da organização é feito através de um método sistematizado com etapas definidas. Grau de concordância M.D. ( ) D ( ) I ( ) A ( ) M.A. ( ) Grau de importância S.I ( ) P.I. ( ) I ( ) C.I. ( ) M.I. ( ) 6) O processo de planejamento estratégico utilizado atinge plenamente os objetivos pretendidos. Grau de concordância M.D. ( ) D ( ) I ( ) A ( ) M.A. ( ) Grau de importância S.I ( ) P.I. ( ) I ( ) C.I. ( ) M.I. ( ) 229 7) O planejamento estratégico é elaborado com a participação de todos os níveis diretivos da organização (diretores, gerentes e supervisores). Grau de concordância M.D. ( ) D ( ) I ( ) A ( ) M.A. ( ) Grau de importância S.I ( ) P.I. ( ) I ( ) C.I. ( ) M.I. ( ) 8) As metas definidas pelo processo de planejamento estratégico são conhecidas por todos os níveis da organização. Grau de concordância M.D. ( ) D ( ) I ( ) A ( ) M.A. ( ) Grau de importância S.I ( ). P.I. ( ) I ( ) C.I. ( ) M.I. ( ) 9) Existem critérios de medição em relação às metas definidas pelo planejamento estratégico em sua organização. Grau de concordância M.D. ( ) D ( ) I ( ) A ( ) M.A. ( ) Grau de importância S.I ( ). P.I. ( ) I ( ) C.I. ( ) M.I. ( ) 10) Os critérios de medição são entendidos e aceitos por todos os níveis da organização. Grau de concordância M.D. ( ) D ( ) I ( ) A ( ) M.A. ( ) Grau de importância S.I ( ). P.I. ( ) I ( ) C.I. ( ) M.I. ( ) 230 11) Assinale, em sua opinião, o grau de dificuldade para implantar processos de planejamento estratégico e critérios de medição em sua organização (1= pouca dificuldade; 5= muita dificuldade). Se não houve dificuldades para a implantação passe para a pergunta 12. Item Desconhecimento dos dirigentes Falta de conscientização do grupo. Falta de metodologia de aplicação Foi tentado e não deu resultado Outros* 1 2 3 4 5 * Se marcou outros, neste caso explique o motivo. __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________ 12) Existe apoio da alta administração na organização para desenvolver e implantar Sistemas de Gestão da Qualidade. Grau de concordância M.D. ( ) D ( ) I ( ) A ( ) M.A. ( ) Grau de importância S.I ( ). P.I. ( ) I ( ) C.I. ( ) M.I. ( ) 13) Caso sua organização não tenha um Sistema de Gestão da Qualidade, existem planos para implantá-lo? ( ) Sim ( ) Não 14) Qual em sua opinião o fator que mais dificulta a implantação de ferramentas de gestão em sua organização (1= pouca dificuldade; 5=muita dificuldade). Se não houver dificuldades para a implantação passe para a pergunta 15. 231 Item Desconhecimento Administração 1 da 2 3 4 5 Alta Desinteresse da alta Administração Medo da alta administração em perder poder Tentou-se e não deu certo* Outras razões* *Explique ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ________________________________________________ 15) Se a organização não tem um Sistema de Gestão da Qualidade, mas existem planos para implantação, informe o prazo previsto para início. Caso sua organização já tenha um Sistema de Gestão não responda esta pergunta. ( ) Imediato ( ) Doze meses ( ) Menos de três meses ( ) Mais de Doze meses ( ) Seis meses ( ) Indefinido 16) Caso a resposta à questão 13 seja afirmativa ou sua organização já possua um Sistema de Gestão da Qualidade, qual a razão principal para sua organização ter iniciado o processo? ( ) Exigência dos cliente ( ) Exigência dos órgãos governamentais de financiamento ( ) Adequação à concorrência ( ) Exigência de órgãos de classe ( ) Necessidades internas da organização ( ) Decisão do principal dirigente ( ) Outras. Explique. __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ 232 __________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ 17) Assinale na tabela a seguir, em sua opinião, qual o grau de dificuldade das peculiaridades da construção civil para a implantação de Sistemas de Gestão da Qualidade. (1= pouca dificuldade; 5=muita dificuldade). Se, em sua opinião estas peculiaridades não dificultam a implantação passe para a pergunta 19. Item Alta rotação de pessoal Não utilização de produção em série 1 2 3 4 5 Tradicional e pouco afeita para modificações Utiliza mão de obra de baixa qualificação Produtos únicos e não seriados Indefinição de responsabilidades Outros* * Se marcou outros, neste caso explique o motivo. __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ 233 18) Para vencer as dificuldades inerentes ao setor, em sua opinião, qual a importância dos fatores indicados na tabela a seguir (1=pouca importância ; 5=muita importância). Item 1 Capacitação administração da Capacitação do intermediário 2 3 4 5 alta pessoal Capacitação do pessoal de produção Parcerias com Tecnológicos Universidades Institutos e Desenvolvimento pesquisa de Incentivos do governo para empresas que possuam SGQ O governo empresas a SGQ Outros* obrigar as implementar * Se marcou outros, neste caso explique o motivo. __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ 19) As dificuldades do ambiente econômico brasileiro são um fator complicador para que as pequenas e médias empresas da Indústria da Construção Civil utilizem Sistemas de Gestão da Qualidade. Grau de concordância M.D. ( ) D ( ) I ( ) A ( ) M.A. ( ) Grau de importância S.I ( ). P.I. ( ) I ( ) C.I. ( ) M.I. ( ) 234 20) Qual o grau de importância, em sua opinião, dos seguintes fatores econômicos para dificultar a implantação de Sistemas de Gestão da Qualidade. (1=pouca importância ; 5=muita importância). Item 1 2 3 4 5 Juros altos Inconstância de regras econômicas Inconstância da legislação Incerteza política Inexistência de uma política habitacional Falta de apoio financeiro as PMEs para treinamento de pessoal Falta de apoio financeiro as PMEs para investir em P&D Outras* *Explicar __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ Caso sua organização possua um Sistema de Gestão da Qualidade, ou sua resposta à questão 13 seja afirmativa, responda as perguntas 21, 22. 21) A alta administração disponibilizou os recursos necessários para uma implantação bem feita de um Sistema de Gestão da Qualidade. Grau de concordância M.D. ( ) D ( ) I ( ) A ( ) M.A. ( ) Grau de importância S.I ( ). P.I. ( ) I ( ) C.I. ( ) M.I. ( ) 22) Existe um critério de medição para avaliar os custos e retornos financeiros esperados do Sistema de Gestão da Qualidade. Grau de concordância M.D. ( ) D ( ) I ( ) A ( ) M.A. ( ) 235 Grau de importância S.I ( ). P.I. ( ) I ( ) C.I. ( ) M.I. ( ) Caso sua organização tenha um Sistema de Gestão da Qualidade, responda a questão 23. 23) Caso exista um critério de medição, os resultados foram dentro do esperado? ( ) Sim ( ) Não 24) Se os resultados não foram satisfatórios, indique o grau de importância para os motivos listados na tabela seguinte (1=pouca importância ; 5=muita importância). Item 1 2 3 4 5 Falta de apoio da administração Falta de recursos humanos e financeiros Método de inadequado Incertezas econômico implantação do momento Falta de treinamento Falta de envolvimento do pessoal intermediário Sistemas de Gestão não se aplicam às PMEs* Outros* * Explique ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ __________________________________________________________ 236 APÊNDICE B Protocolo de Entrevista para Verificação de Discrepâncias Reforço dos objetivos da pesquisa- são explicados, novamente, os objetivos da pesquisa para que se tenha plena certeza do entendimento por parte de respondente. Reforço da metodologia da pesquisa- é explicada a metodologia, novamente, da pesquisa para que se tenha plena certeza do entendimento por parte de respondente. Explicação da metodologia de análise dos dados- é explicada ao respondente de que maneira os dados foram analisados. Verificação do entendimento por parte do respondente- é pedido ao respondente que em poucas palavras, dê o seu entendimento das etapas anteriores para verificação do entendimento pleno da pesquisa. Explicação das discrepâncias encontradas na fase de análise- é explicado ao respondente, nesta fase, as discrepâncias encontradas entre as respostas dadas e o resultado da análise. Solicitação de evidências para afirmação e ou dado discrepante- é solicitado ao respondente, nesta fase, que apresente evidência em relação à resposta ou dado discrepante. 237 APÊNDICE C Glossário Análise de valor- emprego sistemático de técnicas comprovadas para avaliação de funções de um produto ou tarefa, com o objetivo de encontrar novos caminhos que preencham as funções necessárias de maneira econômica, preservadas todas as funções de segurança (ABREU,1995). Autoconstrução- é a construção de baixa renda para a própria família ou para venda, construção individualizada, informal e formal (MDIC, 2005). Cadeia de valor - é um conjunto de ações necessárias para a concepção de produto específico na cadeia produtiva, separando os processos em: os que agregam valor, aqueles que não agregam valor, mas são necessários, e os desnecessários que devem ser eliminados (WOMACK e JONES, 1997). Capacidade tecnológica-o grau de domínio e experiência no processo de inovação tecnológica de uma organização (LARANJA et al, 1997). Competitividade-consiste na capacidade de um país manter e expandir sua participação nos mercados internacionais e levar simultaneamente o nível de vida de sua população (FAJNZYLBER (1988) apud HAGUENAUER (1989)). Economia do aprendizado -é aquela baseada no conhecimento (LUNDVALL e JOHNSON, 2000). Estudo de caso -é uma investigação empírica que investiga um fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto de vida real, especialmente quando os limites entre o fenômeno e o contexto não estão claramente definidos (YIN, 1994). Empreendimento- atividade econômica desenvolvida com ou sem a ajuda de outras pessoas (empregados, sócios ou trabalhadores não-remunerados), com ou sem estabelecimento. (SEBRAE, 2003). Empreendimento imobiliário- é aquele que está inserido no contexto da construção civil, em operações de produção de bens, tendo por objetivo sua venda ou outro tipo de transação comercial (LIMA JUNIOR, 1993; ARAÚJO RODRIGUES, 2004). Gerência de projetos- a aplicação de conhecimentos, habilidades e técnicas para projetar atividades que visem atingir os requisitos de projeto. O gerenciamento de projetos é acompanhado através do uso de processos como: iniciação, planejamento, execução, controle e encerramento (Project Management Institute, 2000). 238 Inovação organizacional- é aquela composta pela introdução de estruturas organizacionais significativamente alteradas, implantação de orientações estratégicas novas ou substancialmente alteradas ou técnicas de gerenciamento avançado (OCDE, 1997). Inovação tecnológica- é a conversão de conhecimentos tecnológicos em novos produtos e processos, visando a seu lançamento no mercado (TERRA e DRUMOND, 2003). Melhoria da gestão do processo produtivo- um aumento da eficiência do sistema de produção como um todo e, conseqüentemente, de capacidade competitiva para a empresa. (CARDOSO, 1998). Modernização- é o papel desempenhado no processo de desenvolvimento na medida em que este segue a industrialização e a tecnologização (WOORTMAN, 1992). Pesquisa social- o processo que utilizando a metodologia científica, permite a obtenção de novos conhecimentos no campo da realidade social (GIL, 1999). Política de inovação- é uma fusão de política de ciência e tecnologia com política industrial. Uma política de ciência e tecnologia é algo existente há muito tempo, e consiste, tradicionalmente de um sistema de patentes, educação técnica e da promoção da ciência básica e pesquisa aplicada dentro da infra-estrutura científica e tecnológica (ROTHWELL e ZEGVELD, 1981). Seis Sigma- um processo de negócios que permite às companhias melhorar de forma radical o seu lucro, pelo fato de monitorar e redesenhar seus processos de negócios, de maneira tal que minimize o desperdício e os recursos, enquanto aumenta a satisfação dos clientes. Seis Sigma tem como foco fornecer métodos específicos para recriar o processo de maneira que erros e defeitos não surjam desde o início (HARRY e SCHROEDER, 2000). Sistemas de gestão da qualidade- um sistema permanente e de longo prazo, voltado para o alcance da satisfação do cliente através de um processo de melhoria contínua dos produtos e serviços gerados pela empresa (MEARS, 1993). Transição- Transição ocorre no curso da tentativa da mudança. É o estado que a mudança coloca as pessoas. A mudança é externa (a nova política, prática, ou estrutura que o líder está tentando introduzir), enquanto transição é interna (é uma reorientação psicológica que as pessoas devem atravessar antes que a mudança possa dar resultados), (BRIDGES e MITCHELL, 2000). 239 APÊNDICE D Memória de Cálculo para o Tratamento Estatístico: 1) Indicadores: a) Riqueza: µ A = µ B (Hipótese Nula) µ A ≠ µ B (Hipótese Alterna). Alfa=0,05 Dados do Minitab: Two-Sample T-Test and CI: RCERT; RNCERT Two-sample T for RCERT vs RNCERT N Mean StDev SE Mean RCERT 10 20000 8087 2557 RNCERT 30 4942 2911 531 Difference = mu RCERT - mu RNCERT Estimate for difference: 15058 95% CI for difference: (9149; 20967) T-Test of difference = 0 (vs not =): T-Value = 5,77 P-Value = 0,000 DF = 9 Dotplots of RCERT and RNCERT (means are indicated by lines) 30000 20000 10000 0 RCERT b) Endividamento: µ A = µ B (Hipótese Nula) RNCERT 240 µ A ≠ µ B (Hipótese Alterna) Alfa=0,05 Dados do Minitab: Two-Sample T-Test and CI: ENDCERT; ENDNCERT Two-sample T for ENDCERT vs ENDNCERT N Mean StDev SE Mean ENDCERT 5 61,5 27,9 12 ENDNCERT 19 39,9 25,2 5,8 Difference = mu ENDCERT - mu ENDNCERT Estimate for difference: 21,6 95% CI for difference: (-13,8; 57,0) T-Test of difference = 0 (vs not =): T-Value = 1,57 P-Value = 0,177 DF = 5 Dotplots of ENDCERT and ENDNCERT (means are indicated by lines) 95 70 45 20 ENDCERT c) Lucratividade: µ A = µ B (Hipótese Nula) µ A ≠ µ B (Hipótese Alterna) Alfa=0,05 Dados do Minitab: Two-Sample T-Test and CI: LucCert; LUNCERTC Two-sample T for LucCert vs LUNCERTC N Mean StDev SE Mean ENDNCERT 241 LucCert 10 275 123 39 LUNCERTC 30 152 173 32 Difference = mu LucCert - mu LUNCERTC Estimate for difference: 122,1 95% CI for difference: (18,1; 226,2) T-Test of difference = 0 (vs not =): T-Value = 2,44 P-Value = 0,024 DF = 2 Dotplots of LucCert and LUNCERTC (means are indicated by lines) 800 700 600 500 400 300 200 100 0 LucCert LUNCERTC d) Treinamento: µ A = µ B (Hipótese Nula) µ A ≠ µ B (Hipótese Alterna) Alfa=0,05 Dados do Minitab: Two-Sample T-Test and CI: TCERT; TRENCERT_1 Two-sample T for TCERT vs TRENCERT_1 N Mean StDev SE Mean TCERT 23 1,03 1,00 0,21 TRENCERT 17 0,0834 0,0766 0,019 Difference = mu TCERT - mu TRENCERT_1 Estimate for difference: 0,949 95% CI for difference: (0,514; 1,383) T-Test of difference = 0 (vs not =): T-Value = 4,53 P-Value = 0,000 DF = 22 242 Dotplots of TCERT and TRENCERT (means are indicated by lines) 5 4 3 2 1 0 T CERT T RENCERT e) Taxa de Acidentes: µ A = µ B (Hipótese Nula) µ A ≠ µ B (Hipótese Alterna). Alfa = 0,05 Dados do Minitab: Two-Sample T-Test and CI: acidecert; acidncert_1 Two-sample T for acidecert vs acidncert_1 N Mean StDev SE Mean acidecer 18 0,0656 0,0473 0,011 acidncer 15 0,707 0,785 0,20 Difference = mu acidecert - mu acidncert_1 Estimate for difference: -0,641 95% CI for difference: (-1,076; -0,206) T-Test of difference = 0 (vs not =): T-Value = -3,16 P-Value = 0,007 DF = 14 243 Dotplots of acidecer and acidncer (means are indicated by lines) 2 1 0 acidecer acidncer f) Rotatividade: µ A = µ B (Hipótese Nula) µ A ≠ µ B (Hipótese Alterna). Alfa=0,05 Dados do Minitab: Dotplots of Rotatcer, RNCERT Two-Sample T-Test and CI: Rotatcert; RNCERT Two-sample T for Rotatcert vs RNCERT N Mean StDev SE Mean Rotatcer 25 51,2 40,1 8,0 RNCERT 21 45,9 15,6 3,4 Difference = mu Rotatcert - mu RNCERT Estimate for difference: 5,31 95% CI for difference: (-12,44; 23,05) T-Test of difference = 0 (vs not =): T-Value = 0,61 P-Value = 0,547 DF = 32 g) Absenteísmo: µ A = µ B (Hipótese Nula) µ A ≠ µ B (Hipótese Alterna). Alfa=0,05 244 Dados do Minitab: Two-Sample T-Test and CI: ABCERT_1; Abncert_1 Two-sample T for ABCERT_1 vs Abncert_1 N Mean StDev SE Mean ABCERT_1 8 1,83 1,35 0,48 Abncert_ 15 7,10 9,61 2,5 Difference = mu ABCERT_1 - mu Abncert_1 Estimate for difference: -5,27 95% CI for difference: (-10,65; 0,12) T-Test of difference = 0 (vs not =): T-Value = -2,08 P-Value = 0,055 DF = 15 Dotplots of ABCERT_1 and Abncert_ (means are indicated by lines) 20 10 0 ABCERT_1 h) Participação no Mercado: µ A = µ B (Hipótese Nula) µ A ≠ µ B (Hipótese Alterna). Alfa=0,05 Dados do Minitab: Two-Sample T-Test and CI: MercCert; MercNcert Two-sample T for MercCert vs MercNcert N Mean StDev SE Mean MercCert 4 0,1000 0,0678 0,034 MercNcer 11 0,165 0,100 0,030 Difference = mu MercCert - mu MercNcert Abncert_ 245 Estimate for difference: -0,0645 95% CI for difference: (-0,1694; 0,0403) T-Test of difference = 0 (vs not =): T-Value = -1,42 P-Value = 0,193 DF = 8 Dotplots of MercCert and MercNcer (means are indicated by lines) 0,3 0,2 0,1 0,0 MercCert MercNcer i) Eficiência de Planejamento: µ A = µ B (Hipótese Nula) µ A ≠ µ B (Hipótese Alterna). Alfa=0,05 Dados do Minitab: Two-Sample T-Test and CI: Plancert; PLANNCERT Two-sample T for Plancert vs PLANNCERT N Mean StDev SE Mean Plancert 18 100,17 3,50 0,82 PLANNCER 35 124,8 51,5 8,7 Difference = mu Plancert - mu PLANNCERT Estimate for difference: -24,68 95% CI for difference: (-42,44; -6,92) T-Test of difference = 0 (vs not =): T-Value = -2,82 P-Value = 0,008 DF = 34 246 Dotplots of Plancert and PLANNCER (means are indicated by lines) 300 200 100 Plancert PLANNCER j) Produtividade: µ A = µ B (Hipótese Nula) µ A ≠ µ B (Hipótese Alterna). Alfa=0,05 Two-Sample T-Test and CI: Produtcert; ProdutNCERT Two-sample T for Produtcert vs ProdutNCERT N Mean StDev SE Mean Produtce 23 30,6 29,6 6,2 ProdutNC 35 52,8 47,5 8,0 Difference = mu Produtcert - mu ProdutNCERT Estimate for difference: -22,1 95% CI for difference: (-42,4; -1,8) T-Test of difference = 0 (vs not =): T-Value = -2,18 P-Value = 0,033 DF = 55 247 Dotplots of Produtce and ProdutNC (means are indicated by lines) 180 160 140 120 100 80 60 40 20 0 Produtce ProdutNC Utilização de ferramentas de qualidade e de Planejamento Estratégico melhoram o desempenho das PMEs: Descriptive Statistics Variable: H1 Cert Anderson-Darling Normality T est A-Squared: P-Value: 4,0 4,2 4,4 Mean StDev Variance Skewness Kurtosis N 4,6 Minimum 1st Quartile Median 3rd Quartile Maximum 95% Confidence Interval for Mu 0,598 0,064 4,26667 0,23381 5,47E-02 1,44479 3,20791 6 4,00000 4,15000 4,20000 4,40000 4,70000 95% Confidence Interval for Mu 4,02130 4,0 4,1 4,2 4,3 4,4 4,5 4,6 4,51203 95% Confidence Interval for Sigma 0,14595 0,57344 95% Confidence Interval for Median 95% Confidence Interval for Median 4,07143 4,55714 Descriptive Statistics Variable: H1NCERT Anderson-Darling Normality T est A-Squared: P-Value: 2,3 2,5 2,7 2,9 3,1 Mean StDev Variance Skewness Kurtosis N 3,3 Minimum 1st Quartile Median 3rd Quartile Maximum 95% Confidence Interval for Mu 0,343 0,349 2,76667 0,40825 0,166667 0,412494 -1,87248 6 2,30000 2,45000 2,65000 3,22500 3,30000 95% Confidence Interval for Mu 2,33824 2,3 2,8 3,3 3,19510 95% Confidence Interval for Sigma 0,25483 1,00128 95% Confidence Interval for Median 95% Confidence Interval for Median 2,37143 3,26429 248 Mann-Whitney Test and CI: H1 Cert; H1NCERT H1 Cert N = 10 Median = 4,2000 H1NCERT N = 10 Median = 2,5000 Point estimate for ETA1-ETA2 is 1,7000 95,5 Percent CI for ETA1-ETA2 is (1,0998; 1,8001). W = 155,0 Test of ETA1 = ETA2 vs ETA1 not = ETA2 is significant at 0,0002 The test is significant at 0,0001 (adjusted for ties) Influência das características da construção civil na implementação de SGQs em PMEs da construção civil: Descriptive Statistics Variable: H2 Cert Anderson-Darling Normality T est A-Squared: P-Value: 4 Mean StDev Variance Skewness Kurtosis N 5 Minimum 1st Quartile Median 3rd Quartile Maximum 95% Confidence Interval for Mu 1,599 0,000 4,83333 0,40825 0,166667 -2,44949 6 6 4,00000 4,75000 5,00000 5,00000 5,00000 95% Confidence Interval for Mu 4,40490 4,3 4,8 5,3 5,26176 95% Confidence Interval for Sigma 0,25483 1,00128 95% Confidence Interval for Median 95% Confidence Interval for Median 4,35714 5,00000 Descriptive Statistics Variable: ConcH2NCert Anderson-Darling Normality T est A-Squared: P-Value: 3 4 Mean StDev Variance Skewness Kurtosis N 5 Minimum 1st Quartile Median 3rd Quartile Maximum 95% Confidence Interval for Mu 0,654 0,050 4,14286 0,69007 0,476190 -1,7E-01 0,336 7 3,00000 4,00000 4,00000 5,00000 5,00000 95% Confidence Interval for Mu 3,50465 3,5 4,0 4,5 5,0 4,78106 95% Confidence Interval for Sigma 0,44467 1,51957 95% Confidence Interval for Median 95% Confidence Interval for Median Mann-Whitney Test and CI: H2 Cert; ConcH2NCert H2 Cert N = 6 Median = 5,000 3,73333 5,00000 249 ConcH2NC N = 7 Median = 4,000 Point estimate for ETA1-ETA2 is 1,000 96,2 Percent CI for ETA1-ETA2 is (-0,000;1,000) W = 54,0 Test of ETA1 = ETA2 vs ETA1 not = ETA2 is significant at 0,1004 The test is significant at 0,0648 (adjusted for ties) Cannot reject at alpha = 0,05 Test for Equal Variances Response H2 Cert Factors ConcH2NCert ConfLvl 95,0000 Bonferroni confidence intervals for standard deviations Lower Sigma Upper N Factor Levels 0,262778 0,500000 2,3680 4 4 0,283103 0,707107 45,1333 2 5 F-Test (normal distribution) Test Statistic: 0,500 P-Value : 0,504 Levene's Test (any continuous distribution) Test Statistic: 0,444 P-Value : 0,541 250 Test for Equal Variances: H2 Cert vs ConcH2NCert Test for Equal Variances for H2 Cert 95% Confidence Intervals for Sigmas Factor Levels 4 5 0 10 20 30 40 50 F-Test Test Statistic: 0,500 P-Value : 0,504 Levene's Test Test Statistic: 0,444 P-Value : 0,541 Boxplots of Raw Data 4 5 4,0 4,5 5,0 H2 Cert Influência do ambiente econômico na implementação de SGQs em PMEs: Descriptive Statistics Variable: Concord H3 N Anderson-Darling Normality T est A-Squared: P-Value: 1 2 3 4 5 95% Confidence Interval for Mu 0,622 0,084 Mean StDev Variance Skewness Kurtosis N 3,14286 1,23146 1,51648 -3,1E-01 -1,5E-01 14 Minimum 1st Quartile Median 3rd Quartile Maximum 1,00000 2,75000 3,00000 4,00000 5,00000 95% Confidence Interval for Mu 2,43184 2,5 3,0 3,5 4,0 3,85388 95% Confidence Interval for Sigma 0,89275 1,98393 95% Confidence Interval for Median 95% Confidence Interval for Median 2,94853 4,00000 Descriptive Statistics Variable: ConcordH3 ce Anderson-Darling Normality T est A-Squared: P-Value: 2 3 4 5 95% Confidence Interval for Mu 2,395 0,000 Mean StDev Variance Skewness Kurtosis N 4,5 1,0 1 -1,96364 3,01818 12 Minimum 1st Quartile Median 3rd Quartile Maximum 2,00000 4,25000 5,00000 5,00000 5,00000 95% Confidence Interval for Mu 3,86463 4,0 4,5 5,0 5,13537 95% Confidence Interval for Sigma 0,70840 1,69788 95% Confidence Interval for Median 95% Confidence Interval for Median 4,26312 5,00000 251 Test for Equal Variances for H1Cert 95% Confidence Intervals for Sigmas Factor Levels 1 Bartlett's Test Test Statistic: -48,481 2 P-Value : 1,000 3 Levene's Test Test Statistic: 1,695 4 P-Value : 0,188 5 0 1 2 . Descriptive Statistics Variable: IH3CER Anderson-Darling Normality T est A-Squared: P-Value: 4 Mean StDev Variance Skewness Kurtosis N 5 Minimum 1st Quartile Median 3rd Quartile Maximum 95% Confidence Interval for Mu 3,710 0,000 4,84615 0,37553 0,141026 -2,17872 3,22314 13 4,00000 5,00000 5,00000 5,00000 5,00000 95% Confidence Interval for Mu 4,61922 4,6 4,7 4,8 4,9 5,0 5,1 5,07309 95% Confidence Interval for Sigma 0,26929 0,61991 95% Confidence Interval for Median 95% Confidence Interval for Median 5,00000 5,00000 Descriptive Statistics Variable: IH3NCERT Anderson-Darling Normality T est A-Squared: P-Value: 2 3 4 5 95% Confidence Interval for Mu 1,309 0,001 Mean StDev Variance Skewness Kurtosis N 4,07143 1,07161 1,14835 -6,0E-01 -1,16020 14 Minimum 1st Quartile Median 3rd Quartile Maximum 2,00000 3,00000 4,50000 5,00000 5,00000 95% Confidence Interval for Mu 3,45270 3 4 5 4,69016 95% Confidence Interval for Sigma 0,77687 1,72641 95% Confidence Interval for Median 95% Confidence Interval for Median 3,00000 5,00000 252 Mann-Whitney Test and CI: H3certImp; h3NCERTIMP H3certIm N = 14 Median = 5,000 h3NCERTI N = 14 Median = 4,500 Point estimate for ETA1-ETA2 is -0,000 95,4 Percent CI for ETA1-ETA2 is (-0,000; 2,000). W = 243,0 Test of ETA1 = ETA2 vs ETA1 not = ETA2 is significant at 0,0695 The test is significant at 0,0280 (adjusted for ties) Bartlett's Test (normal distribution) Test Statistic: -13,485 P-Value : 1,000 Levene's Test (any continuous distribution) Test Statistic: 2,949 P-Value : 0,098 Test for Equal Variances: H3certImp vs h3NCERTIMP Test for Equal Variances for H3certImp 95% Confidence Intervals for Sigmas Factor Levels 2 Bartlett's Test Test Statistic: -13,485 P-Value : 1,000 3 4 Levene's Test Test Statistic: 2,949 P-Value : 0,098 5 0 10 20 30 40 50 60 70 Verificação da aderência entre a concordância e a importância das PMEs certificadas e não certificadas em relação à utilização de ferramentas de qualidade e planejamento estratégico melhorar o desempenho destas organizações. 253 a) aderência para certificadas: Descriptive Statistics Variable: H1DCER Anderson-Darling Normality T est 3,925 0,000 A-Squared: P-Value: 2 3 4 4,25000 0,84092 0,707143 -1,43083 2,26661 36 Mean StDev Variance Skewness Kurtosis N 5 2,00000 4,00000 4,00000 5,00000 5,00000 Minimum 1st Quartile Median 3rd Quartile Maximum 95% Confidence Interval for Mu 95% Confidence Interval for Mu 4,53453 3,96547 4,0 4,5 5,0 95% Confidence Interval for Sigma 1,09693 0,68205 95% Confidence Interval for Median 95% Confidence Interval for Median 5,00000 4,00000 Descriptive Statistics Variable: h1Icert Anderson-Darling Normality T est 10,733 0,000 A-Squared: P-Value: 3 4 Mean StDev Variance Skewness Kurtosis N 5 4,86111 0,42445 0,180159 -3,27420 10,9987 36 Minimum 1st Quartile Median 3rd Quartile Maximum 95% Confidence Interval for Mu 3,00000 5,00000 5,00000 5,00000 5,00000 95% Confidence Interval for Mu 4,71750 4,7 4,8 4,9 5,0 5,00472 95% Confidence Interval for Sigma 0,34426 0,55367 95% Confidence Interval for Median 95% Confidence Interval for Median 5,00000 Mann-Whitney Test and CI: H1DCER; h1Icert H1DCER N = 36 Median = 4,0000 h1Icert N = 36 Median = 5,0000 Point estimate for ETA1-ETA2 is -1,0000 95,1 Percent CI for ETA1-ETA2 is (-0,9999; 0,0001). W = 1011,0 Test of ETA1 = ETA2 vs ETA1 not = ETA2 is significant at 0,0007 The test is significant at 0,0000 (adjusted for ties) 5,00000 254 b) Aderência para não certificadas: Descriptive Statistics Variable: adh1ncert Anderson-Darling Normality T est A-Squared: P-Value: 1 2 3 4 Mean StDev Variance Skewness Kurtosis N 5 Minimum 1st Quartile Median 3rd Quartile Maximum 95% Confidence Interval for Mu 1,141 0,005 2,77778 1,24467 1,54921 7,13E-02 -9,6E-01 36 1,00000 2,00000 3,00000 4,00000 5,00000 95% Confidence Interval for Mu 2,35664 2,0 2,5 3,0 3,19891 95% Confidence Interval for Sigma 1,00953 1,62360 95% Confidence Interval for Median 95% Confidence Interval for Median 2,00000 3,00000 Descriptive Statistics Variable: ih1NCERT Anderson-Darling Normality T est A-Squared: P-Value: 1 2 3 4 5 95% Confidence Interval for Mu 3,395 0,000 Mean StDev Variance Skewness Kurtosis N 4,05556 1,16972 1,36825 -9,1E-01 -2,7E-01 36 Minimum 1st Quartile Median 3rd Quartile Maximum 1,00000 3,00000 5,00000 5,00000 5,00000 95% Confidence Interval for Mu 3,65978 3,6 4,1 4,6 5,1 4,45133 95% Confidence Interval for Sigma 0,94874 1,52583 95% Confidence Interval for Median 95% Confidence Interval for Median 3,73538 5,00000 Mann-Whitney Test and CI: adh1ncert; ih1NCERT adh1ncer N = 36 Median = 3,000 ih1NCERT N = 36 Median = 5,000 Point estimate for ETA1-ETA2 is -1,000 95,1 Percent CI for ETA1-ETA2 is (-2,000;-1,000) W = 965,0 Test of ETA1 = ETA2 vs ETA1 not = ETA2 is significant at 0,0001 The test is significant at 0,0001 (adjusted for ties) Verificação da aderência entre a concordância e a importância das PMEs certificadas e não certificadas em relação à influência das peculiaridades da construção civil na implementação de SGQs: 255 a) certificadas: Descriptive Statistics Variable: AH2Cert Anderson-Darling Normality T est A-Squared: P-Value: 4 Mean StDev Variance Skewness Kurtosis N 5 Minimum 1st Quartile Median 3rd Quartile Maximum 95% Confidence Interval for Mu 1,599 0,000 4,83333 0,40825 0,166667 -2,44949 6 6 4,00000 4,75000 5,00000 5,00000 5,00000 95% Confidence Interval for Mu 4,40490 4,3 4,8 5,3 5,26176 95% Confidence Interval for Sigma 0,25483 1,00128 95% Confidence Interval for Median 95% Confidence Interval for Median 4,35714 5,00000 Histogram of iH2 cert, w ith Normal Curve 6 Frequency 5 4 3 2 1 0 5 iH2 cert b) não certificadas Descriptive Statistics Variable: AH2NCERT Anderson-Darling Normality T est A-Squared: P-Value: 3 4 Mean StDev Variance Skewness Kurtosis N 5 Minimum 1st Quartile Median 3rd Quartile Maximum 95% Confidence Interval for Mu 0,654 0,050 4,14286 0,69007 0,476190 -1,7E-01 0,336 7 3,00000 4,00000 4,00000 5,00000 5,00000 95% Confidence Interval for Mu 3,50465 3,5 4,0 4,5 5,0 4,78106 95% Confidence Interval for Sigma 0,44467 1,51957 95% Confidence Interval for Median 95% Confidence Interval for Median 3,73333 5,00000 256 Descriptive Statistics Variable: aH2nãocer Anderson-Darling Normality T est 0,592 0,075 A-Squared: P-Value: 3 4 Mean StDev Variance Skewness Kurtosis N 5 4,28571 0,75593 0,571429 -6,0E-01 -0,35 7 Minimum 1st Quartile Median 3rd Quartile Maximum 95% Confidence Interval for Mu 3,00000 4,00000 4,00000 5,00000 5,00000 95% Confidence Interval for Mu 3,58660 3,5 4,0 4,5 5,0 4,98483 95% Confidence Interval for Sigma 0,48712 1,66461 95% Confidence Interval for Median 95% Confidence Interval for Median 3,73333 5,00000 Mann-Whitney Test and CI: AH2NCERT; aH2nãocer AH2NCERT N = 7 Median = 4,000 aH2nãoce N = 7 Median = 4,000 Point estimate for ETA1-ETA2 is -0,000 95,9 Percent CI for ETA1-ETA2 is (-0,999;1,000) W = 49,5 Test of ETA1 = ETA2 vs ETA1 not = ETA2 is significant at 0,7494 The test is significant at 0,7260 (adjusted for ties) Cannot reject at alpha = 0,05 Verificação da aderência entre a concordância e a importância das PMEs certificadas e não certificadas em relação à influência da economia na implementação de SGQs: a) certificadas: Descriptive Statistics Variable: AdH3CERT Anderson-Darling Normality T est A-Squared: P-Value: 2 3 4 5 95% Confidence Interval for Mu 2,395 0,000 Mean StDev Variance Skewness Kurtosis N 4,5 1,0 1 -1,96364 3,01818 12 Minimum 1st Quartile Median 3rd Quartile Maximum 2,00000 4,25000 5,00000 5,00000 5,00000 95% Confidence Interval for Mu 3,86463 4,0 4,5 5,0 5,13537 95% Confidence Interval for Sigma 0,70840 1,69788 95% Confidence Interval for Median 95% Confidence Interval for Median 4,26312 5,00000 257 Descriptive Statistics Variable: aH3Ncer Anderson-Darling Normality T est 4,009 0,000 A-Squared: P-Value: 4 Mean StDev Variance Skewness Kurtosis N 5 4,91667 0,28868 8,33E-02 -3,46410 12 12 Minimum 1st Quartile Median 3rd Quartile Maximum 95% Confidence Interval for Mu 4,00000 5,00000 5,00000 5,00000 5,00000 95% Confidence Interval for Mu 4,73325 4,7 4,8 4,9 5,0 5,1 5,10008 95% Confidence Interval for Sigma 0,20450 0,49014 95% Confidence Interval for Median 95% Confidence Interval for Median 5,00000 5,00000 Mann-Whitney Test and CI: AdH3CERT; aH3Ncer AdH3CERT N = 12 Median = 5,000 aH3Ncer N = 12 Median = 5,000 Point estimate for ETA1-ETA2 is 0,000 95,4 Percent CI for ETA1-ETA2 is (-0,000; 0,000). W = 137,0 Test of ETA1 = ETA2 vs ETA1 not = ETA2 is significant at 0,4705 The test is significant at 0,2662 (adjusted for ties) Cannot reject at alpha = 0,05 b) Não certificadas: Descriptive Statistics Variable: adH3NCERT Anderson-Darling Normality T est A-Squared: P-Value: 1 2 3 4 5 95% Confidence Interval for Mu 0,622 0,084 Mean StDev Variance Skewness Kurtosis N 3,14286 1,23146 1,51648 -3,1E-01 -1,5E-01 14 Minimum 1st Quartile Median 3rd Quartile Maximum 1,00000 2,75000 3,00000 4,00000 5,00000 95% Confidence Interval for Mu 2,43184 2,5 3,0 3,5 4,0 3,85388 95% Confidence Interval for Sigma 0,89275 1,98393 95% Confidence Interval for Median 95% Confidence Interval for Median 2,94853 4,00000 258 Descriptive Statistics Variable: ADERh3nãocer Anderson-Darling Normality T est A-Squared: P-Value: 2 3 4 5 95% Confidence Interval for Mu 1,309 0,001 Mean StDev Variance Skewness Kurtosis N 4,07143 1,07161 1,14835 -6,0E-01 -1,16020 14 Minimum 1st Quartile Median 3rd Quartile Maximum 2,00000 3,00000 4,50000 5,00000 5,00000 95% Confidence Interval for Mu 3,45270 3 4 5 4,69016 95% Confidence Interval for Sigma 0,77687 1,72641 95% Confidence Interval for Median 95% Confidence Interval for Median 3,00000 Mann-Whitney Test and CI: adH3NCERT; ADERh3nãocer adH3NCER N = 14 Median = 3,000 ADERh3nã N = 14 Median = 4,500 Point estimate for ETA1-ETA2 is -1,000 95,4 Percent CI for ETA1-ETA2 is (-2,000;-0,001) W = 162,5 Test of ETA1 = ETA2 vs ETA1 not = ETA2 is significant at 0,0661 The test is significant at 0,0548 (adjusted for ties) Cannot reject at alpha = 0,05 5,00000 259 APÊNDICE E: A seguir, é dada uma explicação das fontes para obtenção dos dados utilizados para o cálculo dos diferentes indicadores, listados no Quadro 1: Riqueza criada por empregado*: os dados podem se obtidos através do Balanço das empresas e do Registro dos empregados. Endividamento*: os dados podem ser obtidos através do Balanço das empresas e de seus Balanços Patrimoniais. Lucratividade*: os dados podem ser obtidos através do Balanço das empresas, dos projetos e das licenças de obra. Percentual de Treinamento*: os dados podem ser obtidos através de relatórios internos, dos registros dos empregados e das folhas de ponto. Taxa de Freqüência de Acidentes *: os dados podem ser obtidos através dos diários de obra e folhas de ponto. Índice de Rotatividade*: os dados podem ser obtidos através das folhas de registro dos empregados. Índice de Absenteísmo*: os dados podem ser obtidos através das folhas de ponto e do diário de obra. Índice de Participação no Mercado**: os dados podem ser obtidos através dos Balanços das empresas, relatórios internos e fontes externas como ADEMI-RJ e IBGE. Velocidade de Vendas**: os dados podem ser obtidos através da área comercial das construtoras. Eficiência do Planejamento Produtivo*: os dados podem ser obtidos através dos projetos, cronogramas físicos e orçamentos de obras. Índice de Produtividade*: os dados podem ser obtidos através dos Registros dos empregados, folhas de pontos, diários de obras, projetos e cronogramas físicos. Índice de Qualidade do Produto*: os dados podem ser obtidos de relatórios internos dos serviços de manutenção e relatórios da área comercial. Índice de Satisfação do Cliente*: os dados podem ser obtidos através dos relatórios da área comercial. * As fórmulas para o cálculo dos indicadores foram discutidas e acordadas entre os pesquisadores do NITCON e as quatro empresas participantes do projeto de criação dos mesmos, conforme descrito em 5.6. Algumas são fórmulas clássicas em Administração 260 Financeira e Administração de Recursos Humanos (Endividamento, Percentual de Treinamento, Índice de Rotatividade, Índice de Absenteísmo, Taxa de Freqüência de Acidentes), já outras foram desenvolvidas pelo grupo envolvido, que teve preocupação de utilizar aquelas já existentes nas empresas ou desempenho. **As formulas utilizadas são aquelas utilizadas pela ADEMI-RJ. sempre a representativas de seu