FACULDADES CEARENSES CURSO DE BACHARELADO EM SERVIÇO SOCIAL CLÁUDIA MENDES DA SILVA REPERCUSSÕES SOCIAIS DE EMPRÉSTIMOS CONSIGNADOS A PESSOA IDOSA: UMA ANÁLISE DOS (AS) USUÁRIOS (AS) DA FINANCEIRA MASPCRED NO MUNICÍPIO DE MARACANAÚ-CE. FORTALEZA – CEARÁ 2014 CLÁUDIA MENDES DA SILVA REPERCUSSÕES SOCIAIS DE EMPRÉSTIMOS CONSIGNADOS À PESSOA IDOSA: UMA ANÁLISE DOS (AS) USUÁRIOS (AS) DA FINANCEIRA MASPCRED NO MUNICÍPIO DE MARACANAÚ-CE. Monografia submetida à aprovação pela Coordenação do curso de Serviço Social da Faculdade Cearense - FAC, como requisito parcial para obtenção do grau de graduação. Orientadora: Ms. Luciana Sátiro Silva FORTALEZA – CE 2014 CLÁUDIA MENDES DA SILVA REPERCUSSÕES SOCIAIS DE EMPRÉSTIMOS CONSIGNADOS À PESSOA IDOSA: UMA ANÁLISE DOS (AS) USUÁRIOS (AS) DA FINANCEIRA MASPCRED NO MUNICÍPIO DE MARACANAÚ-CE. Monografia como pré-requisito para obtenção de titulo de bacharelado de Serviço Social, outorgado pela Faculdade Cearense – FaC, tendo sido aprovada pela banca examinadora composta pelas(os) professoras(es). Data de aprovação: ___/___/___ BANCA EXAMINADORA ___________________________________________ Ms. Luciana Sátiro Silva (Orientadora) ___________________________________________ Professora Ms. Ivna de Oliveira Nunes _________________________________________ Ms. Samara Hipólito da Conceição Dedico este trabalho a todos que contribuíram para a sua concretização. Em especial aos meus pais, Raimunda Mendes e Francisco Sabino. AGRADECIMENTOS Primeiramente a Deus por ter me dado forças para seguir em frente, e realizar esse sonho, fazendo com que a incerteza e o medo ficassem pequenos diante do seu imenso amor. À minha amada mãe Raimunda Mendes, por está presente em todos os momentos da minha vida, me apoiando e me incentivando a prosseguir. O meu querido pai Francisco Sabino, que mesmo distante, sempre me apoio, e me deu forças para nunca desistir. Aos meus irmãos, Hermes Mendes e Maria Mendes que muito me ajudaram a chegar até aqui, com seu apoio incondicional. A minha querida tia Maria Mendes da Silva, que apesar da distância esteve presente, que acreditou em mim, me apoiando sempre. Aos meus sobrinhos Eric Mendes, Guilherme Mendes, Juliana Mendes (Nina), Gustavo Mendes, que me cobriram de amor e quando o desanimo batia, me faziam lembrar que eu tinha que ser um exemplo para eles. À amiga irmã Ana Paula Façanha que me deu muita força, e que muito contribuiu com suas orações, nos momentos de angústias e incertezas permaneceu ao meu lado com sua fé inabalável. À minha grande amiga Lídia Pereira, que acreditou em mim, e muito contribui para que eu chegasse até aqui. À Aline Holanda, que acompanhou toda minha luta, e que fez parte dessa vitória. À amiga Daniele Pontes, que participou desde o primeiro momento dessa longa caminhada, sempre com uma palavra de apoio e incentivo. Ao meu querido amigo Magno Victor, que me dedicou sua amizade, apoiando-me sempre. As amigas e meu amigo, que me acompanharam durante os quatro anos de curso, que com suas amizades fizeram minha vida mais feliz: Rotseana Bezerra, Luciana Kelly, Tácila Souza, Ana Lúcia de Jesus, Sarah Benedita, Silvânia Teixeira, Cristina Maia, Alinda Oliveira, Erivaldo Diniz e em especial a minha amiga Priscila Freitas que sua companhia foi fundamental nessa etapa final do curso. E dentre outros aqui não citados, a vocês deixo o meu obrigada por fazerem parte dessa longa caminhada, e da minha vida. A Financeira Maspcred, por ter disponibilizado o campo de pesquisa. Aos interlocutores da pesquisa por terem contribuído para realização desse estudo. À minha orientadora Profa. Ms. Luciana Sátiro, por ter aceitado me orientar, no qual sua dedicação e incentivo foram fundamentais para essa conquista. Aos membros da Banca Examinadora, Profa. Ms. Ivna de Oliveira Nunes e Profa. Ms. Samara Hipólito da Conceição por aceitarem o convite. A todos os meus professores do Curso de Serviço Social da Faculdade Cearense que muito contribuíram para meu processo de aprendizado. Que nada nos limite, que nada nos defina que nada nos sujeite. Que a liberdade seja nossa própria substância, já que viver é ser livre. Porque alguém disse e eu concordo que o tempo cura, que a mágoa passa, que decepção não mata. E que a vida sempre, sempre continua. Simone de Beauvoir RESUMO O envelhecimento humano é um fenômeno que apresenta mudanças no perfil etário das populações trazendo importantes repercussões no campo social, econômico, político e cultural. O Brasil está envelhecendo aceleradamente conforme dados apresentados pelo IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística de 2010. As demandas oriundas do envelhecimento à pessoa idosa requerem inúmeras especificidades, como políticas de Proteção Social voltadas especificamente para esse segmento, através de acesso a serviços básicos que garantam sua cidadania. O presente estudo teve por objetivo identificar o significado do empréstimo consignado para a vida dos idosos usuários da Financeira Maspcred no Município de Maracanaú/CE, acerca das dificuldades encontradas no seu cotidiano. O percurso metodológico incluiu pesquisa de natureza qualitativa, de cunho empírico, pesquisa bibliográfica e também, pesquisa de campo quando se utilizou as técnicas de campo: observação participante, seguida de entrevistas semiestruturadas. Na pesquisa de campo foi possível conhecer as principais demandas as quais motivaram a tomada do empréstimo consignado, tendo como achado inclusive, os custos por parte dos sujeitos com políticas sociais ditas públicas como saúde, habitação dentre outras. Na análise do perfil deste sujeito, em sua maioria são pessoas analfabetas, com apenas um salário, com várias ocorrências de empréstimos, responsáveis pelo lar. Observamos que o empréstimo consignado traz inúmeras consequências prejudiciais para essa população que vão desde problemas emocionais a redução de suas qualidades de vida para arcar com altos juros, perspectivas diferentes do que é apontado pela mídia a qual distorce a imagem dessa operação de crédito apresentando apenas informações positivas sobre esse processo. Palavras-chaves: Empréstimo consignado. Idoso. Família. ABSTRACT Human aging is a phenomenon that shows changes in the age profile of the population has important implications in the social, economic, political and cultural. Brazil is aging rapidly as data presented by IBGE - Brazilian Institute of Geography and Statistics, 2010. The demands from the aging to the elderly require numerous specificities, as social protection policies geared specifically for this segment, through access to basic services ensure their citizenship. This study aimed to identify the meaning of payroll loan for the life of the Financial Maspcred elderly users in the city of Marazion / EC on the difficulties encountered in their daily lives. The methodological approach included qualitative research, empirical nature, literature and also field research when using field techniques: participant observation, followed by semi-structured interviews. In the field research was possible to know the main demands which led to the seizure of payroll loan, with the finding including the costs of the subjects with said public social policies such as health, housing and others. In profile analysis of this subject, are mostly illiterate, with only a salary, with multiple occurrences of loans, responsible for the home. We observed that the payroll loan brings numerous harmful consequences for this population ranging from emotional problems reducing their quality of life to cope with high interest rates, different perspectives of what is pointed to by the media which distorts the image of the credit operation, presenting only information positive about this process. Keywords: Payroll loan. Elderly. Family. LISTA DE TABELA TABELA – 1 Expectativa de vida ao nascer - Ano - 2000/2060................................29 LISTA DE GRÁFICOS GRÁFICO 1- Escolaridade........................................................................................61 GRÁFICO 2- Renda individual..................................................................................62 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS BPC - Benefício de Prestação Continuada CAP’s - Caixas de Aposentadoria e Pensão CLT - Consolidação das Leis Trabalhistas CONSEA - Conselho de Segurança Alimentar IAP’s - Institutos de Aposentadoria e Pensão IAPB – Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Bancários IAPC - Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Comerciários IAPETEC - Instituto de Aposenadoria e Pensões dos Empregados em Transporte e Carga IAPI - Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Industriários IAPM - Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Marítimos IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística INSS – Instituto Nacional do Seguro Social IPEA - Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada LBA - Legião Brasileira de Assistência LOAS - Lei Orgânica de Assistência Social OMS - Organização Mundial de Saúde PNI - Politica Nacional do Idoso PSD - Partido Social Democrático PT - Partido Trabalhista PTB - Partido Trabalhista Brasileiro SUS - Sistema Único de Saúde UDN - União Democrática Nacional SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO........................................................................................................15 2 PERCUSO METODOLÓGICO................................................................................20 2.1 Aproximação ao objeto de estudo........................................................................20 2.2 Metodologia da pesquisa......................................................................................21 3 ASPECTOS FUNDAMENTAIS SOBRE O ENVELHECIMENTO: DISCUSSÃO HISTÓRICA, POLÍTICA E TEÓRICA DESSE FENÔMENO NO BRASIL..................26 3.1 O processo de envelhecimento na atual conjuntura: elementos sócio-histórico..26 3.2 Políticas de proteção ao idoso no Brasil: instrumentos normativos para a pessoa idosa no Brasil............................................................................................................31 3.3 Relações sociais relacionadas à pessoa idosa, família e sociedade no Brasil....39 4 CAUSAS E CONSEQUÊNCIAS DOS EMPRÉSTIMOS CONSIGNADOS.............48 4.1 A conjuntura econômica brasileira após a década de 1990.................................48 4.2 O empréstimo consignado no Brasil: trajetória histórica aos dias atuais.............55 4.3 Lócus da pesquisa: a Financeira Mascred do Município de Maracanaú..............59 4.4 Perfil sócio-econômico dos (as) idosos (as) que fazem empréstimos na financeira investigada.................................................................................................................59 4.5 Análises dos dados coletados e discussão sobre os resultados..........................62 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................................74 REFERÊNCIAS........................................................................................................77 APÊNDICE A............................................................................................................81 APÊNDICE B............................................................................................................82 15 1 INTRODUÇÃO O envelhecimento é um fenômeno natural que apresenta inúmeras mudanças durante todo o processo da vida humana. Em uma perspectiva, podemos afirmar que o envelhecimento populacional não pode ser considerado apenas pelo o conceito de cronologia da idade, temos que considerar necessários vários outros aspectos. Segundo Zimerman (2007), envelhecer pressupõe alterações físicas, psicológicas e sociais no indivíduo, essas alterações são naturais e gradativas. É importante salientar que essas transformações são gerais, podendo se verificar em idade mais precoce ou mais avançada e em maior ou menor grau, de acordo com as características genéticas de cada indivíduo e, principalmente, com o modo de vida de cada um. (ZIMERMAM, 2007, p. 21). Faz-se necessário uma melhor compreensão sobre o processo de envelhecimento, no qual vai além das relações biológicas. Na atualidade as questões sobre o envelhecimento estão bem mais complexas, ultrapassando o aspecto biológico, Giddens (2005) diz que: Vivemos em uma sociedade em vias de envelhecimento, em que a proporção de pessoas com 65 anos ou mais está em constante crescimento. Ao mesmo tempo, a questão da importância social do envelhecimento tem um alcance muito mais amplo. Pois, o que a velhice realmente é – as oportunidades que oferece e os fardos que carrega – está mudando dramaticamente. A gerontologia, o estudo do envelhecimento e dos idosos, não se preocupa somente com o processo físico do envelhecer, mas também com os fatores sociais e culturais conectados ao envelhecimento. (p. 144) Surge uma grande demanda em relação à pessoa idosa requer inúmeras especificidades, como políticas de proteção voltada para essa população através de acesso a serviços básicos que garantam sua cidadania. Com outra concepção, o aparato legal, define uma pessoa idosa de acordo com o Estatuto do Idoso, Lei 10.741, de 1° de Outubro de 2003, diz que são considerados idosos pessoas com 60 anos ou mais. Dessa forma, a problematização sobre a definição do ser idoso pode ser conceituado como um processo dinâmico e progressivo, no qual há modificações 16 morfológicas, funcionais, bioquímicas e psicológicas que determinam a perda da capacidade de adaptação do indivíduo ao meio ambiente, ocasionando maior vulnerabilidade e o aumento da incidência de processos patológicos que terminam por levá-lo à morte (PAPALÉO NETTO, 1996, p. 23). Segundo Neri (1995), com uma concepção mais abrangente, o envelhecimento apresenta conceitos que vão além das condições biológicas. Portando não há um único processo de envelhecimento, ele precisa ser identificado em sua singularidade, como um acontecimento natural. [...] o envelhecimento não é um processo exclusivo da biologia humana, torna-se fundamental partir do princípio de que ele não é algo elástico, estável, equilibrado e eminentemente genético. Ele se apresenta tanto em suas estruturas ou em suas funções como um processo individual e também coletivo, contínuo, cíclico, fundamentalmente pessoal, manifestando-se dentro de contextos de inter-relações variadas, físicas, químicas e biológicas, como também com outras que são de caráter psíquico e cultural. (NERI, 1995, p. 35) De acordo com as considerações de Camarano e Medeiros (1999, p.12) “O limite etário seria o momento a partir do qual os indivíduos poderiam ser velhos, onde começariam a apresentar sinais de senilidade e incapacidade física ou mental”. Porém acredita-se que os idosos são identificados não apenas por sua fragilidade, mas também pelo seu curso de vida social. Parte-se do princípio de que o envelhecimento de um indivíduo está associado a um processo biológico de declínio das capacidades físicas, relacionado a novas fragilidades psicológicas e comportamentais. Então, o estar saudável deixa de ser relacionado com a idade cronológica e passa a ser entendido como a capacidade do organismo de responder às necessidades da vida cotidiana, a capacidade e a motivação física e psicológica para continuar na busca de objetivos e novas conquistas pessoais e familiares. (CAMARANO, MEDEIROS 2004, p.4) Na sociedade em que vivemos, podemos perceber que os desafios trazidos pelo envelhecimento da população têm inúmeras dimensões e dificuldades. O envelhecimento da população é um fenômeno mundial observado nas últimas décadas e que segundo Camarano (2004) significa um crescimento mais elevado da população idosa em relação aos demais grupos etários. Ainda segundo a autora: “No Brasil, como em outros países em desenvolvimento, a questão do 17 envelhecimento populacional soma-se a uma ampla lista de questões sociais não resolvidas, tais como a pobreza e a exclusão” (CAMARANO, 2004, p. 254). Nas últimas décadas tivemos um crescimento significativo da população idosa, que segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), nos próximos 20 anos a população acima de 60 anos vai mais do que triplicar passando dos atuais 22,9 milhões (11,34%) da população para 88,6 milhões (39,2%), quando o período de expectativas de vida do brasileiro aumentará de 75 para 81 anos. Essa longevidade pode ser considerada como um fator positivo. Contudo, nessa idade, possibilitará grandes mudanças e novas formas de se pensar o idoso. Podemos perceber que a pessoa idosa se torna mais vulnerável ao apresentar sinais de fragilidade, limitações física ou mental, que serão abordados nesse estudo na relação do idoso com a família e a sociedade. O largo crescimento da população é destacado como podemos observar nos dados emitidos pelo o IBGE. O presente estudo abordou a relação do idoso com o Empréstimo Consignado, onde investigamos e analisamos os principais fatores que ocasionam a tomada desse crédito. Realizamos o estudo com idosos aposentados que adquirem o crédito na Financeira Maspcred que se localiza no Município de Maracanaú-CE Para alcançarmos resultados estabelecemos critérios para selecionar os sujeitos da pesquisa. Dessa forma, os critérios foram: idosos a partir de 60 anos que tenham pelo menos um empréstimo, e que o benefício equivalesse a partir de um salário mínimo. Os entrevistados serão identificados por nomes de cores, bem como as cores; rosa; lilás; verde; azul; laranja; branco; e preto. O empréstimo consignado a cada dia se torna mais crescente no mercado brasileiro. Essa nova modalidade de credito, se apresenta com a proposta de atender principalmente aquelas pessoas que não tinham acesso a nenhum tipo de credito. Hoje é possível perceber o grande índice de financeiras que viabiliza o empréstimo consignado, esse estudo nos mostra como o empréstimo está comum no cotidiano principalmente dos idosos. Mediante a Lei N° 10.820, aprovada no mês de Dezembro do ano de 2003 pelo o decreto de N° 4.840 que autoriza o desconto de prestações em folha diretamente dos proventos de aposentados e pensionistas que recebem seu beneficio pelo o Instituto Nacional de Seguridade Social - INSS. Perante essa lei os 18 aposentados e pensionistas passavam a fazer empréstimos de uma forma que se considera “mais seguro” pelo o motivo do credito ser consignado e vinculado com o INSS. A partir do vigor da lei, percebe-se o índice exorbitante de financeiras que viabilizam essa operação de credito. Dessa forma, com a aprovação dessa lei, o Governo Federal entregou ao mercado financeiro uma fonte de lucros que estimularia a economia do país: a oferta de crédito consignado aos aposentados e pensionistas do INSS. Assim, o aposentado toma o empréstimo junto à instituição financeira privada, sendo que os pagamentos são repassados pelo próprio INSS, mediante desconto em folha de benefícios, os chamados empréstimos consignados, tendo como seu principal público alvo o idoso. (SOARES, 2005). O trabalho apresenta resultado da observação do campo profissional, quando estávamos na condição de funcionária da Financeira Maspcred, que tem como público, idosos aposentados do município. Esse estudo nos possibilitou a investigar questões com relação ao idoso, onde buscamos identificar aspectos sociais, familiares e legais. Temos como objetivo geral identificar o significado do empréstimo consignado para a vida dos idosos usuários da Financeira Maspcred do Município de Maracanaú-CE. Decorrente a elaboração deste estudo que nos propormos a discutir questões relacionadas ao idoso diante do Empréstimo Consignado, pois se releva ser importante que o Estado e toda sociedade lutem pela dignidade e qualidade de vida da pessoa que envelheceu. Para realização desse estudo utilizamos a pesquisa qualitativa, pois a pesquisa qualitativa é a mais adequada para se chegar ao objetivo proposto. Utilizamos na pesquisa de campo a técnica de entrevista semiestruturada, decorrente da pesquisa bibliográfica, documental e observação participante. Utilizamos como base teórica autores que nos proporcionou uma melhor compreensão do objeto desse estudo, como principais referências, destacamos os seguintes: Iamamoto (2012), e que nos traz uma reflexão sobre a conjuntura econômica brasileira e Haddad (2001) sobre aposentados e previdência social. Para fundamentar as discussões com as categorias, idoso e família recorremos a autores como Debert (1997), Camarano (2002), Mascaro (1997), Néri (1995), entre outros. 19 Esta pesquisa foi desenvolvida em quatro capítulos. No segundo capítulo, intitula-se “O percurso metodológico”, abordam-se as aproximações com o tema da pesquisa, são expostos de maneira mais detalhada os motivos que nos levaram a optar por este tema; a metodologia utilizada para realização desta pesquisa e uma breve descrição sobre o campo onde realizamos a pesquisa; os principais autores que norteou as discussões sobre os caminhos metodológicos dessa pesquisa. O terceiro capítulo tem como titulo: “aspectos fundamentais sobre o envelhecimento: discussão histórica, política e teórica desse fenômeno no Brasil”. Neste, elaboramos um levantamento teórico do seu contexto histórico, político e cultural do processo de envelhecimento no nosso país, que discorremos sobre as categorias: idoso e família. Avançamos discutindo as políticas de proteção ao idoso apresentando seu processo de conquistas de direitos, que teve início na década de 30 com a aprovação da Lei Elóy Chaves, adiante os instrumentos normativos para a pessoa idosa que se configura nas Leis da Constituição Federal de 1988, Lei Orgânica de Assistência Social, Política Nacional do Idoso e o Estatuto do Idoso. Em seguida temos o quarto capitulo com o título: “Causas e consequências do empréstimo consignado” no qual faremos uma explanação desde a conjuntura econômica brasileira após a década de 1990, e a trajetória histórica do empréstimo consignado até nos dias atuais. E mais sobre o perfil socioeconômico dos idosos da referida financeira. No último momento analisamos os dados coletados, onde foram traçados os perfis dos interlocutores da pesquisa. E por fim as considerações finais, após apresentamos a pesquisa empírica, os achados da pesquisa como os dados e informações do objeto de estudo analisado, articulando-os com as teorias dos principais autores, acreditando que estudamos o assunto de maneira mais adequada. 20 2 ASPECTOS METODOLÓGICOS DA PESQUISA No presente capítulo, iremos apresentar o campo de pesquisa deste estudo. Decorrente do segundo momento, que é explicar como chegamos ao objeto de pesquisa abordado, e de que maneira ocorreram as aproximações com o mesmo. Logo em seguida, descrever os caminhos teórico-metodológicos percorridos durante a pesquisa. 2.1 Aproximação ao objeto de estudo. O primeiro contato com o assunto foi na condição de funcionária em 2008 em uma determinada Financeira. O segundo contato com o campo e assim com o objeto de estudo ocorreu no início do ano de 2014, período ao qual já estava cursando o sétimo semestre do curso de serviço social, quando já possuía um olhar mais aprofundado adquirido com os ensinamentos da vida acadêmica, pois antes não possuía ainda um olhar crítico em relação à realidade dos fatos que eram vivenciados no ambiente de trabalho. A partir do momento que passamos a analisar criticamente as relações sociais dos idosos que buscavam por os serviços oferecidos pela Financeira, que começamos a perceber ao realizarmos os atendimentos a necessidade que esses idosos sentiam em justificar os motivos no qual estavam fazendo o empréstimo consignado. O interesse pelo assunto tornou-se cada vez mais reforçado, ao observar a demanda de idosos por empréstimos e principalmente em ouvir as histórias de vidas que eram contadas pelos mesmos no ato do seu atendimento. Através desses fatores despertou a vontade de investigar o idoso e sua relação com o empréstimo consignado. Quando começamos a perceber durante os atendimentos que realizávamos a necessidade que estes idosos tinham em falar e justificar os motivos o qual estavam solicitando a contratação do referido empréstimo, se era para seu usufruto, para familiares ou terceiros, e tivemos acesso aos relatos de suas experiências de vidas, processo de uma riqueza interessante por apresentar fatores multidimensionais, não necessariamente apenas a ausência de renda. 21 Na sociedade em que vivemos, percebemos que essa denominada modalidade de crédito que é o empréstimo consignado está cada dia mais presente na vida dos idosos. Aparentemente um tema pouco explorado, mas que é muito recorrente na atualidade. 2.2 Percurso metodológico. Para realização do presente estudo recorremos às considerações de Minayo (2010) como fontes principais da pesquisa. No contexto em que vivemos, as expressões da questão social1 se apresentam de forma oculta e complexa. Por tanto, para apreendê-las, a metodologia mais propícia para esta pesquisa é a qualitativa, pois nos proporcionou embasamento para chegarmos aos objetivos propostos, que se representou em identificar o significado do empréstimo consignado para a vida dos idosos usuários da Financeira Maspcred. A pesquisa se realizou no período de agosto a dezembro de 2014. Seguindo as concepções da referida autora, a pesquisa qualitativa é a mais adequada para se estudar cientificamente às varias expressões da questão social que está presente em nosso cotidiano, pois nos facilita um conhecimento dos valores e significados mais aprofundado do objeto de estudo, nos possibilitando compreender o fenômeno e suas subjetividades. “A pesquisa alimenta a atividade de ensino por se tratar de uma construção da realidade e uma atividade de aproximação sucessiva da realidade” (MINAYO, 2010, p. 39). A opção por essa metodologia deu-se por se tratar dos significados da realidade do cotidiano de usuários de uma determinada instituição financeira, onde os mesmos ficaram livres para responder as perguntas e formular sua resposta. 1 Questão social, conforme Iamamoto & Carvalho (2011, p. 134-5), diz respeito a sua configuração no seio da sociedade capitalista que começava a desenvolver seu polo industrial, e consequentemente pelo surgimento dos principais centros urbanos. “(...) O desdobramento da questão social é também a questão da formação da classe operária e de sua entrada no cenário político, da necessidade de seu reconhecimento pelo Estado e, portanto, da implementação de políticas que de alguma forma levem em consideração seus interesses”. A questão social deriva do crescimento da população proletária no âmbito da sociedade burguesa. 22 [...] As sociedades humanas existem num determinado espaço cuja formação social e configurações culturais são específicas. Elas vivem o presente marcado pelo passado e projetado para o futuro que em si traz, dialeticamente, as marcas pregressas, numa reconstrução constante do que está dado e do novo que surge. Toda investigação social precisa registrar a historicidade humana. (MINAYO, 2010, p. 39) Ou seja, é do passado que construímos o futuro, os indivíduos constroem a história da humanidade dos fatos que ocorrem no seu cotidiano, levando em conta os fatos ocorridos no passado, pois se constrói a história da humanidade dos fatos que vão ocorrendo durante o desenvolvimento da reprodução social. Minayo (2010, p. 12) afirma que, “não pode ocorrer pesquisa social sem o registro histórico do objeto de estudo”. Para atender aos principais elementos investigados da pesquisa, propomos como objetivo geral dessa pesquisa: identificar o significado do empréstimo consignado para a vida dos idosos usuários da Financeira Maspcred do Município de Maracanaú/CE. E como específicos, os seguintes objetivos: Elaborar o perfil socioeconômico dos idosos que fazem empréstimos na Financeira Maspcred. Identificar os problemas ou soluções trazidas pelo o empréstimo consignado. Analisar as relações sociais e familiares dos interlocutores da pesquisa. Através da pesquisa qualitativa, o olhar do pesquisador se volta para o indivíduo enquanto ser social, enfatizado suas especificidades, relevando conhecer suas experiências vivenciadas ao longo de sua vida. Segundo Martinelli (1999) cada pesquisa é única, pois se o sujeito é singular, conhecê-lo significa ouvi-lo, escutá-lo, permitir-lhe que se revele. [...] se a pesquisa pretende ser qualitativa e pretende conhecer o sujeito, precisa ir exatamente ao sujeito, ao contexto em que vive sua vida. (MARTINELLI, 1999, p.22) A pesquisa qualitativa nos proporciona chegar ao ponto exato do objeto em questão. Precisamos conhecer sua singularidade, a experiência social do sujeito e conhecer o modo de vida do mesmo. Entendemos que a pesquisa qualitativa responde a questões muito particulares, porque o olhar do pesquisador se volta para o indivíduo enquanto ser social, com um grau de realidade que jamais pode ser quantificado. 23 A aproximação com a realidade empírica dos sujeitos abordados deu-se através da pesquisa de campo. Segundo Minayo, (2010, p. 54) “[...] que no processo de trabalho de campo que são criados e fortalecidos os laços de amizade, onde são firmados os compromissos entre o investigador e a população investigada”. Entendemos sobre pesquisa de campo conforme as considerações de Lakatos e Marconi (2003, p. 186) dizem que, “Pesquisa de campo é aquela utilizada com o objetivo de conseguir informações e conhecimentos acerca de um problema, no qual se procura uma resposta [...] e também nos possibilita descobrir novos fenômenos e as relações entre si”. Ou seja, a pesquisa de campo se configura em adquirir conhecimento sobre o problema em questão. Utilizamos na fase de campo as técnicas entrevista e observação participante. Nessa fase, ressaltamos que não tivemos problema em acesso ao campo de pesquisa, por se tratar do fato de já termos trabalhado anteriormente na Financeira. Assim, percebemos que a entrevista semiestruturada é uma técnica que se adequava bem a essa pesquisa. Conforme Minayo (2007, p. 64), “combina perguntas fechadas e abertas, em que o entrevistado tem a possibilidade de discorrer sobre o tema em questão sem se prender à indagação formulada”. Para tanto, elaboramos um roteiro com perguntas que nos dessem direção no ato da entrevista (Apêndice A). No decorrer do processo de entrevista, o pesquisador deverá deixa o entrevistado livre para que o mesmo possa lhe fornecer dados com maior veracidade possível. Assim o entrevistado tem total liberdade para responder de forma espontânea, desde que não fuja do tema abordado. O recurso de gravar as entrevistas foi utilizado para obtermos informações mais precisas sobre a fala do entrevistado, o que nos proporcionou uma maior veracidade. Antes das entrevistas serem gravadas, apresentamos aos interlocutores um termo de consentimento (Apêndice B) que permite o consentimento dos mesmos sobre a realização da entrevista. Outra técnica utilizada foi à observação participante, conforme as considerações de Lakatos e Marconi, (2003) “o objetivo inicial seria ganha a confiança do grupo, fazer os indivíduos compreenderem a importância da 24 investigação, sem ocultar o seu objetivo ou sua missão”. A observação nos proporciona um maior contato com os interlocutores da pesquisa. Compreendemos observação participante “como um processo pelo qual um pesquisador se coloca como observador de uma situação social, com a finalidade de realizar uma investigação científica” (Minayo, 2012, p.70). É na relação direta do entrevistador com o entrevistado que são expostos fatos relevantes para a pesquisa. Para a análise desse estudo utilizamos como base teórica a contribuição de alguns autores. Recorremos à pesquisa bibliográfica, que segundo Lima (2007), significa “a pesquisa bibliográfica é exposta como procedimentos metodológicos importante na produção do conhecimento científico por meio dela obtêm-se material sobre a história e outras experiências vivenciadas”. De acordo com a definição de Gil (2002) “a pesquisa bibliográfica é desenvolvida com base em material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos”. Ela possibilita o acesso ao conhecimento de vários outros autores sobre o tema a ser estudado. Ressaltamos a importância do acesso a documentos relacionados à instituição para o conhecimento de sua história, bem como dados sobre o perfil dos usuários será compreendido por meio da pesquisa documental que, segundo Gil (2002), “os documentos constituem uma fonte rica e estável de dados [...] que a pesquisa documental vale-se de material que não recebeu ainda um tratamento analítico”. (Gil, 2002, p.45). Os sujeitos da pesquisa foram 5 (cinco) mulheres e 2 (dois) homens, para a realização desse estudo utilizamos os seguintes critérios: idosos aposentados com idade igual ou superior a 60 anos, que tenham adquirido pelo menos pelo um empréstimo, e que o benefício equivalesse a partir de um salário mínimo. Os entrevistados serão identificados por nomes de cores, bem como as cores; rosa; lilás; verde; azul; laranja; branco; e preto. Os critérios nos possibilitou uma maior compreensão sobre o significado dos motivos os quais levaram os idosos a fazerem usufruto do empréstimo consignado. No tópico “Perfil socioeconômico dos (das) idosos (as) que fazem empréstimos na financeira investigada” abordaremos o perfil dos sujeitos da pesquisa. Outra fase importante foi à coleta de dados, pós a coleta dos dados a pesquisa consiste no tratamento do material, onde transcrevemos as entrevistas, 25 organizamos e classificamos. Segundo a compreensão de Minayo (2002) ”O tratamento do material nos conduz à teorização sobre os dados, produzindo o confronto entre a abordagem teórica anterior e o que a investigação de campo aponta de singular como contribuição”. No tratamento do material, analisamos o perfil dos entrevistados no qual, foi feito uma discussão teórica com autores que aborda o tema em questão. 26 3 ASPECTOS FUNDAMENTAIS SOBRE O ENVELHECIMENTO: DISCUSSÃO HISTÓRICA, POLÍTICA E TEÓRICA DESSE FENÔMENO NO BRASIL. Crescendo numericamente, os velhos se tornam objeto de estudo. Propostas aparecem pela boca da “ciência”, do Estado, dos meios de comunicação... Enquanto isso a história não se altera. Não mudando a história do trabalhador, Não muda história do menino, Não muda a história do velho, Não muda a história do homem. A ideologia da velhice, 1986 Eneida Gonçalves de Macedo Haddad No presente capítulo fizemos uma discussão sobre os aspectos históricos do envelhecimento levando em consideração os principais autores: Beauvoir, Neri, Camarano. Avançamos discutindo as políticas de proteção ao idoso apresentando seu processo de conquistas de direitos, e os instrumentos normativos para a pessoa idosa que se configura na Constituição Federal de 1988, Lei Orgânica de Assistência Social, Política Nacional do Idoso e o Estatuto do idoso. Ainda, elaboramos algumas considerações sobre as relações sociais vivenciadas pelos idosos inseridos no âmbito familiar e social no Brasil. 3.1 O processo de envelhecimento na atual conjuntura: elementos sócios históricos. Partindo do contexto histórico, os estudos sobre o envelhecimento começaram a partir da segunda metade do século XIX, cujo conceito sobre a pessoa idosa começou a ganhar ênfase. A consequência da vida é a velhice, e todos nós queremos longevidade com qualidade. O processo de envelhecimento requer percepções e concepções diversificadas, o conceito de velhice é bastante diferenciado entre os principais estudiosos. Trazemos para nossa discussão, a concepção de Brêtas (1997) o define como: 27 O envelhecimento é um fenômeno natural, com início no período da fecundação e término com a morte. Dessa forma, o processo de envelhecimento entendido como o processo de vida, ou seja, envelhecemos porque vivemos muitas vezes sem nos darmos conta disto. O processo de envelhecimento contém, pois, a fase da velhice, mas não se esgota nela. A qualidade de vida e, [...] a qualidade do envelhecimento, relacionam-se com a visão de mundo do indivíduo e da sociedade em que ele está inserido, bem como com o estilo de vida conferido a cada ser. (BRÊTAS, 1997. p.63) Assim, o envelhecimento está relacionado com o modo de vida de cada indivíduo, cuja qualidade de vida está inserida no contexto em que cada sociedade oferece para essa parcela da população. Desde a antiguidade que os homens começaram a perceber as mudanças que ocorriam no organismo de todos os indivíduos com o passar dos anos. Outra concepção para a caracterização do envelhecimento é quando o individuo começa a depender de outras pessoas para realizações de tarefas do seu cotidiano, como explica SAAD (1990): Com frequência, a pessoa é considerada idosa perante a sociedade a partir do momento em que encerra as suas atividades econômicas. Em outras ocasiões, é a saúde física e mental o fator de peso, sendo fundamental a questão da autonomia: o indivíduo passa a ser visto como idoso quando começa a depender de terceiros para o cumprimento de suas necessidades básicas ou tarefas rotineiras. (p.04) Essa dependência muitas vezes está relacionada também a suas atividades econômicas, no qual o idoso precisaria da sua total saúde física e mental. Conforme Lemos (2001), a visão que a sociedade possuía dessa fase (a velhice) baseava-se na época dos Hebreus século X a.C, Babilônios século XVIII ao VI a.C e Gregos século VIII e VI a.C, pois esses povos tinha uma percepção diferenciada da velhice e procuravam técnicas que retardasse o envelhecimento. O interesse em estudar a velhice e suas características começou na antiguidade no século V a.C, médicos e filósofos iniciam seus primeiros textos sobre o envelhecimento, que consideravam a velhice um intermédio entre a doença e a saúde. 28 Iniciou-se um pensamento mais aprofundado sobre a velhice no século V a.C, através dos estudos do médico grego Hipócrates2. Vários médicos estudaram e elaboraram suas teorias em relação à velhice, contribuindo em cada momento para um maior esclarecimento sobre essa fase tão importante. Segundo Beauvoir (1990, p. 24): Foi no século II que Galeno fez uma síntese geral da medicina antiga. Ele considerava a velhice como intermediaria entre a doença e a saúde. Ela não é exatamente um estado patológico: entretanto, todas as funções fisiológicas do velho ficam reduzidas ou enfraquecidas [...] (BEAVOUIR). Em 1909, Nascher reconheceu a necessidade de uma nova categoria de estudo especializada na fisiologia do envelhecimento, relacionada a estudos e pesquisas sociais e biológicas para tratar unicamente a velhice. Essa especialidade médica foi denominada de Geriatria. Nascher ficou conhecido como o pai da Geriatria (PAPALÉO NETTO, 2002). No Brasil o interesse na Geriatria deu-se início no ano de 1961 com a criação da Sociedade Brasileira de Geriatria, logo em seguida passou a ser Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG). Segundo as considerações de Neri (2001, p. 54): Gerontologia é um campo multidisciplinar que tem como objetos o estudo do processo do envelhecimento, o fenômeno velhice, que é evento de natureza biológica, sociológica e psicológica e os indivíduos e grupos socialmente definidos como idosos. [...] É um campo de pesquisa que além de multidisciplinar é multiprofissional, pois abrange os vários campos de atenção à saúde, aos direitos sociais e à educação dos idosos, incluindo, por exemplo, a medicina, a enfermagem, a fisioterapia, a psicologia, o serviço social, o direito e a educação. (NERI) Consideramos importante para essa pesquisa entendermos o conceito de Gerontologia, que está relacionada ao estudo mais aprofundado da categoria velhice. O processo de envelhecimento exige do Estado o aumento de políticas públicas direcionado para essa parcela da população que comprovadamente através de estudos está em crescimento significativo, que pede uma maior atenção por parte das autoridades. Segundo as considerações de Camarano diz que: 2 Hipócrates de Cós (460 a.C.-377 a.C.) Foi um médico grego e foi considerado o pai da Medicina, o mais célebre médico da Antiguidade e o iniciador da observação clínica. Disponível em:< http://www.e-biografias.net/hipocrates/ > Acesso em: 23 de dezembro de 2014. 29 Reconhece-se que o envelhecimento populacional traz novos desafios. Um deles diz respeito às pressões políticas e sociais para a transferência de recursos na sociedade. Por exemplo, as demandas de saúde se modificam com maior peso nas doenças crônico-degenerativas, o que implica maior custo de internamento e tratamentos, mais dispendiosos, A pressão sobre o sistema previdenciário aumenta significativamente (1999, p. 02). O Brasil está envelhecendo, e podemos constatar o envelhecimento nos censos demográficos, que comprovam que a sociedade brasileira vem apresentando mudanças em sua pirâmide etária. Os fatores demostram cada vez mais representativa da população idosa no Brasil, no qual retrata o aumento da expectativa de vida. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) afirma que os idosos no Brasil irão representar 26,7% da população (58,4 milhões de idosos para uma população de 218 milhões de pessoas, em 2060, em uma proporção 3,6 vezes maior do que o atual). Os dados desse estudo estão baseados no Censo Demográfico de 2010, que estipulou o percentual para 2012 de 7,4% de idosos (6,3 milhões de idosos em uma população de 99,9 milhões de pessoas). Conforme o IBGE (2010), envelhecimento dos brasileiros altera as razões de dependência dos familiares a outros. Em 2060, um grupo de cem pessoas potencialmente produtivas entre 15 e 64 anos de idade, terá que sustentar em média 65,9 indivíduos economicamente dependentes, (abaixo de 15 anos e acima de 64 anos de idades). Tabela -1 Expectativa de vida ao nascer – ANO – 2000 / 2060 ANO IDADE 2000 69,8 anos 2010 73,9 anos 2020 76,7 anos 2030 78,6 anos 2040 79,9 anos 2050 80,7 anos 2060 81,2 anos Fonte: IBGE - censo - 2010 30 O envelhecimento da população será afetado também pela queda da mortalidade, que começou a diminuir desde a primeira metade do século XX. Ainda segundo o IBGE senso 2010 a expectativa de vida para cada criança brasileira nascida em 2013 foi estipulada para 71,2 anos para homens e 74,8 para mulheres. No ano de 2060 essas estimativas sobem para 78 homens e 84,4 para as mulheres um aumento de 6,8 anos para os homens e 5,9 para as mulheres. O Brasil está envelhecendo, mas podemos encarar a velhice de várias maneiras, pois a imagem da velhice é incerta e contraditória. A velhice é vivida e compreendida conforme cada cultura variando entre sua história e tempo. Conforme Bruno (2003): A velhice como categoria construída socialmente tem sido vista e tratada de maneira diferente, de acordo com períodos históricos e com a estrutura social, cultura, econômica e politica de cada povo. Essas transformações, portanto, não permitem um conceito absoluto da velhice e apontam para a possibilidade de haver sempre uma nova condição a ser construída, para se considerar essa etapa da vida do ser humano (BRUNO 2003, p. 76). O envelhecimento não pode ser considerado igual para todos, pois acontece de acordo com cada sociedade, ou seja, ele é singular, e depende da cultura, economia e política, o envelhecimento requer suas singularidades, as questões do envelhecimento nos exige um olhar especial, temos que compreender a velhice por sua totalidade. Barros (2004) destaca que vários autores tem trabalhado a denominada terceira idade para melhor descrever e entender a maneira de envelhecer. Essa forma de experiência do envelhecer é elaborada na sociedade moderna quando a aposentadoria se faz presente como direito social nas nações modernas, quando aumenta a expectativa de vida e quando a ideologia individualista está implicada em todos os níveis da vida. Neste contexto, a representação da velhice negativa é substituída por uma imagem positiva no discurso de especialistas em envelhecimento [...]. Esta positividade elege a juventude como um modelo de vida, vista não mais apenas como uma fase da vida, mas como uma forma de se viver [...] Neste discurso ideológico encontra-se embutida à ideia de que para viver bem o último período da vida, bastaria nos engajarmos nesta ideia e se não o fazemos, isto se deve mais a nós mesmos do que às condições sociais e culturais (BARROS, 2004, p. 48 – 49). A velhice é um processo comum dos seres vivos, existem vários tipos de transformações que ocorrem no corpo e na vida do indivíduo que envelhece, sendo 31 impossível afirmar que todas as pessoas idosas vivam da mesma maneira, seja cultural, social e economicamente, cada indivíduo possui sua particularidade. Consideramos que o envelhecimento está relacionado ao estilo de vida e a sociedade em que esse indivíduo está inserido. Decorrente dos fatores apresentados nesse capitulo percebemos que ser idoso não é apenas um momento na vida do ser humano, mas um percurso complexo e processual. A velhice também acarreta mudanças e consequências na idade biológica, social e psicológica. Ou seja, é um processo de gradação progressiva e individual. 3.2 Políticas de proteção ao idoso no Brasil: instrumentos normativos para a pessoa idosa no Brasil: Para analisarmos as políticas de proteção ao idoso, faremos uma explanação do surgimento e trajetória das políticas sociais no Brasil. A origem da política social e seu desenvolvimento produziram mudanças significativas no mundo do capital. Os processos atuais de reestruturação econômica causaram um aumento significativo dos índices de pobreza, miséria e desemprego, ocasionando políticas sociais de caráter emergencial e focalizados, para atender as grandes demandas dos setores mais vulneráveis. No entanto, é fato que no Brasil as políticas sociais foram sendo empregadas de forma fragmentada e setorial, cujo não respondendo aos anseios e as necessidades da população mais carente da sociedade. As políticas sociais no Brasil se desenvolveram na década de 30, em um processo complexo e variado. Durante várias décadas, o sistema de proteção foi direcionado prioritariamente, para o grupo de trabalhadores que faziam parte do mercado formal de trabalho (SILVA, 2008). O Seguro Social inicia-se ainda na fase final da República Velha. Insere-se nos marcos da dúbia política social desenvolvida pelos últimos governantes, no qual era dominado pela oligarquia cafeeira, no qual estavam ligados ao Estado e a infraestrutura da agro exportação. De início o Seguro Social será apenas uma promessa feita por um candidato (Artur Bernardes), feita para os assalariados 32 urbanos, que visava o apoio dos setores trabalhista. (IAMAMOTO, 2011). No ano de 1923 lançam-se as bases para a futura política de seguro social, no qual se assemelhava com o modelo que já estava em uso na República Alemã (IAMAMOTO, 2011). Ainda neste ano aprova-se a lei Eloy Chaves, que instituiu a obrigatoriedade de criação de Caixas de Aposentadoria e Pensão (CAPs), somente para algumas categorias de trabalhadores bem como, ferroviários, marítimos, dentre outros. Nessa época, o Brasil tinha uma economia voltada para o cultivo do café no ramo de exportação, que era responsável por 70% do PIB nacional. Por esse motivo os direitos trabalhistas e previdenciários foram aprovados somente para aquela categoria de trabalhadores. As CAPs foram às formas originárias da previdência social brasileira, juntamente com os Institutos de Aposentadoria e Pensão (IAPs) (Behring, Boschetti 2011, p. 80). Segundo as autoras o sistema público de previdência começou com os IAPs que se expandem da década de 1930, os IAPs ofereciam uma série de benefícios e serviços de acordo com a contribuição dos trabalhadores, empresários e do Estado, cobrindo riscos ligados à perda da capacidade ao trabalho bem como (velhice, morte, invalidez e doenças), que beneficiava aquelas categorias de trabalhadores. Em 1933 foi criado o primeiro Instituto de Aposentadoria e Pensões dos marítimos (IAPM) com o intuito de extinguir os CAPs. O período de introdução da política social brasileira teve seu desfecho no governo de Vargas, com a Constituição de 1937, no qual teve o reconhecimento das categorias de trabalhadores pelo o Estado, que teve a Consolidação das Leis Trabalhistas, (CLT), que foi promulgada em 1943 com um modelo corporativista e fragmentado do reconhecimento dos direitos no Brasil. (BEHRING, 2011, p. 108). Após 15 anos no poder, em 1945, Getúlio Vargas foi destituído, começando um novo período no país, época de intensas turbulências econômicas, políticas e sociais. (BEHRING, 2011). A Constituição de 1946 foi uma das mais democratas do país, o período de 1949-1964 foi marcado por uma forte disputa de projetos e pela intensificação da luta de classes. De acordo com a autora: 33 A burguesia brasileira encontrava-se muito fragmentada e a maior expressão disso eram suas organizações político-partidárias, divididas entre a União Democrática Nacional (UDN), o Partido Social Democrático (PSD) e o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB). A UDN expressava mais autenticamente a burguesia industrial e financeira, com um projeto de desenvolvimento associado ao capital estrangeiro. (BEHRING, 2011, p. 109). Em um cenário bem complexo, a política social no Brasil expandiu-se de maneira lenta, e seletiva. O modelo de proteção social brasileiro apresenta um grande nível de fragmentação, com traços seletivos das demandas sociais uma atuação voltada para a intervenção focalizada no atendimento aos mais pobres. [...] as políticas sociais são parte integrante das políticas públicas e participam das estratégias de mediação entre Estado e sociedade, situandose dentro do repertório de respostas a serem mobilizadas para fazer face às expressões da questão social. Como sistemas de mediação, as políticas de proteção social expressam, ao mesmo tempo, a capacidade das forças sociais de transformar suas demandas em questões políticas a serem inscritas na pauta das respostas governamentais às necessidade sociais que canalizam. As estruturas de proteção social criadas pelo Estado respondem a dada correlação de forças políticas que instituem atores sociais dentro do Estado e na sociedade, na criação de bases de sustentação necessárias à transformação das necessidades sociais em demanda política a ser equacionada no interior do aparato institucional (FLEURY, 1994 p. 131 apud RAICHELIS, 2007, p. 88). Em 1942 surge a Legião Brasileira de Assistência – LBA, cujo é reconhecida como órgão de colaboração com o Estado relativo aos serviços de assistência social. O surgimento da LBA teve de imediato, um grande papel de mobilização da opinião pública. A LBA começa a atuar em quase todas as áreas de assistência social, começando somente para suprir sua atividade básica, e logo em seguida visando a um programa de ação permanente. (IAMAMOTO, 2011). Segundo Behring (2011), a LBA foi criada com o intuito de atender às famílias dos “pracinhas” envolvidos na segunda guerra. A primeira dama, Sra. Darci Vargas que a coordenava. Esta mostrava características de tutela, favor e clientelismo relacionado ao Estado e sociedade no Brasil. Com o passar do tempo a LBA se configura como instituição articuladora da assistência social no Brasil, com 34 inúmeras redes de instituição privadas conveniadas, contudo não perde a marca de ser assistencialista e fortemente seletiva e de primeiro-damismo (BEHRING, 2011, p. 108). Em 11 de Dezembro de 1974, instituída pela lei de N° 6179/74 foi criada a Renda Mensal Vitalícia para beneficiar os idosos pobres, cujo se estipulava no valor de meio salário mínimo, especialmente para aqueles que contribuíram pelo menos um ano para a previdência social. A Renda Mensal Vitalícia tem a finalidade de oferecer proteção econômica à pessoa idosa com idade igual ou superior a 70 anos ou inválidos. Mediante tantas mudanças sociais, dentre essas mudanças foi criada políticas específicas voltadas para a pessoa idosa no Brasil, as quais vão se modificando no decorrer do tempo. As políticas voltadas para a pessoa idosa buscam a garantia dos direitos fundamentais a esse público com relação ao desenvolvimento cultural, social, politico e econômico. A proteção social à pessoa idosa teve com um marco na Constituição Federal de 1988, definindo as políticas e a rede que compõem o atendimento e acompanhamento por parte do Estado, sociedade e família, a atenção integral a pessoa idosa. Por ser responsabilidade do Estado, é entendida como política de direito e cidadania. Para fundamentar, Pasinato (2004) diz que a Constituição de 1988. [...] introduziu o conceito de seguridade social, fazendo com que a rede de proteção social deixasse de estar vinculada apenas no contexto estritamente social-trabalhista e assistencialista e passasse a adquirir uma conotação de direito e cidadania. (IBID, p.4) A Constituição de 1988 tornou-se mais democrática em relação às anteriores, em virtude daquela trazer a democracia com perspectiva mais clara, iniciada desde a participação do povo para a sua aprovação, através de abaixoassinados e movimentos sociais. Mediante aos direitos conquistados com a Constituição de 1988 estão assegurados pelo artigo 230 ao considerar que: 35 A família, a sociedade e o Estado têm o dever de amparar as pessoas idosas, assegurando sua participação na comunidade, defendendo sua dignidade e bem-estar e garantindo-lhes o direito à vida (BRASIL, 1988). O referido artigo da CF de 1988 atribuiu à família, a sociedade e ao Estado o dever de amparar os idosos, com o intuito de assegura-lhes seus direitos fundamentais e atender suas principais necessidades. Não podemos afirmar que esses deveres são cumpridos, pois na sociedade em que vivemos, pode-se observar o descaso em relação à pessoa idosa. Os direitos que asseguram os idosos na Constituição de 1988 foram reforçados e regulamentados posteriormente, em 1993, através da Lei N° 8.742/93 Lei Orgânica de Assistência Social – LOAS, que regulamentou os artigos 203 e 204 da CF de 1988, reconhecendo a assistência social como pública. Entre os benefícios mais importantes instituídos por essa lei, destacamos o Benefício de Prestação Continuada – BPC. Este benefício consiste na garantia de um (01) salário mínimo mensal à pessoa portadora de deficiência e ao idoso com 65 (sessenta e cinco) anos ou mais, que comprovem não possuir meios de prover a própria manutenção e nem de tê-la provida por sua família. (BRASIL, 2003). Embora essa legislação venha a garantir um salário mínimo mensal a pessoa portadora de deficiência e para idosos a partir de 65 anos, que prove não possuir meios para suprir suas necessidades básicas. Destinam-se para pessoas que vivem abaixo da linha da pobreza. Segundo as considerações de Sposati (2000), o nosso salário mínimo não é suficiente, apenas ameniza a linha de indigência e reduz as necessidades humanas à alimentação. Silva (2006) destaca a seletividade existente na LOAS. Ocorre que muitos desses idosos não se enquadram nos padrões instituídos por essa política, fazendo com que os mesmos não sejam incluídos nos benefícios decorrentes dos critérios exigidos, seja pela idade (65 anos) ou por estarem fora da linha da pobreza. A autora acrescenta que para ter acesso ao benefício, a pessoa tem que se encontrar em extrema condição de vulnerabilidade. Para reforçar os direitos da pessoa idosa, também foi sancionada a Lei 8.824 (Politica Nacional do Idoso- PNI) em 04 de Janeiro de 1994. Sua aprovação deu-se pelo incentivo dos movimentos sociais, com o apoio de órgãos 36 governamentais, e com a parceria da sociedade civil mediante lutas e reivindicações sociais. Com esse fortalecimento, essas categorias conquistam a Lei que amplia os direitos dos idosos no Brasil. Esta política tem como objetivo central: “assegurar os direitos sociais do idoso, criando condições para promover sua autonomia, integração e participação efetiva na sociedade” (Artigo 1° p. 05). Regendo-se mediante os seguintes princípios contidos no artigo 3° I - a família, a sociedade e o estado têm o dever de assegurar ao idoso todos os direitos da cidadania, garantindo sua participação na comunidade, defendendo sua dignidade, bem-estar e o direito à vida; II - o processo de envelhecimento diz respeito à sociedade em geral, devendo ser objeto de conhecimento e informação para todos; III - o idoso não deve sofrer discriminação de qualquer natureza; IV - o idoso deve ser o principal agente e o destinatário das transformações a serem efetivadas através desta política; V - as diferenças econômicas, sociais, regionais e, particularmente, as contradições entre o meio rural e o urbano do Brasil deverão ser observadas pelos poderes públicos e pela sociedade em geral, na aplicação desta lei. A legislação existe, mas sabemos que para ser aplicada exige um complexo conjunto de fatores que impedem a garantia e defesa dos direitos para todos. Conforme afirma Bruno, (2003): A conquista de um novo lugar e significado na sociedade, bem como a marca de uma nova presença do segmento idoso passam pelo exercício pleno da cidadania, exercício da dimensão do ser político do homem. A visibilidade para o segmento idoso terá que ser conquistada por meio da ação política, garantindo dessa forma o espaço social para o ser que envelhece. Na caminhada em direção a essa conquista, o idoso deve ocupar o papel de protagonista, não o de coadjuvante. O próprio segmento deve efetivar a busca de seu espaço social (BRUNO, 2003, p. 77). De acordo com essa assertiva, o idoso precisa ocupar outro papel na sociedade e conquistar novos espaços sociais, cujo um melhor lugar para o envelhecimento possa ser construído e que essa passagem seja um momento importante na vida dessas pessoas, que as mesmas tenham o direito de viver com mais dignidade e qualidade de vida. 37 Enfim, a Política Nacional do Idoso trouxe consigo várias conquistas, que serve para construção de serviços e ações diferenciadas de atendimento ao idoso, concebido como sujeito de direitos. Essa política já está posta, mas é preciso transformá-la em prática profissional. A realidade ainda consegue ser muito perversa quando se trata da velhice. Muitos ainda são excluídos e não têm garantido o mínimo para sua sobrevivência. Outros, inseridos num processo de envelhecimento precoce não encontram nenhuma perspectiva de vida futura. Acabam-se os sonhos, perdem-se as esperanças. Portanto, não cabe somente aos profissionais, mas também a sociedade, de um modo geral, despertá-los, assumindo a luta pela conquista de um envelhecimento com qualidade e não só com quantidade, no qual as vitórias possam ser celebradas (DUNDES, 2006, p. 35). A PNI criou algumas normas para garantir os direitos da população idosa, mas é sabido que as leis poucos são exercidas, no qual sua excursão necessita de um melhor atendimento em relação aos serviços ofertados, que requer ações diferenciadas aos atendimentos e na garantia direitos. Em seguida em 03 de Julho de 1996 veio o Decreto N° 1.948 que regularizou a Politica Nacional do Idoso e criou o Conselho Nacional 3 do Idoso, que considera idosas as pessoas com idade igual ou superior a sessenta anos. Segundo as projeções estatísticas da Organização Mundial de Saúde – (OMS, 2010) a população de idosos cresce aceleradamente no Brasil, o país ocupará o sexto lugar no ranking mundial relacionado à população idosa, cujo alcançará em 2025 cerca de 32 milhões de pessoas com 60 anos ou mais. Diante a demanda da população idosa, o Estado instituiu a Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa, em 10 de Dezembro de 1999, Portaria N° 1.395/GM, para uma maior atenção a saúde do idoso. Com as seguintes diretrizes: I- Promoção do envelhecimento ativo e saudável. II- Atenção integrada integral à saúde da pessoa idosa. III- Estímulos às ações Intersetoriais, visando à integralidade da atenção. IV- A implantação de serviços de atenção domiciliar. V- O acolhimento preferencial em unidades de saúde, respeitando o critério de risco. 3 Segundo Ribeiro (2008, p. 41 - 42) Conselhos de políticas são instituições importantes na inclusão da participação da sociedade na formação de políticas públicas, mas apenas suas existência não garante a representação política. É preciso que haja a ativa participação dos cidadãos, grupos e organizações sociais e os representantes devem sempre sustentar uma relação positiva com entidade que representam, além de se conscientizarem sobre o que representam os conselhos. Desta forma, cabe também aos conselhos exercer um efetivo controle sobre os governantes, sobre as políticas públicas e sobre seus resultados, visando a objetivos econômicos e sociais. 38 VI- Provimento de recursos capazes de assegurar qualidade da atenção à saúde da pessoa idosa. VII- Fortalecimento da participação social. VIII- Formação e educação permanente dos profissionais do SUS na área de saúde da pessoa idosa. IX- Divulgação e informação sobre a Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa para profissionais de saúde, gestores e usuários do SUS. X- Promoção de cooperação nacional e internacional das experiências na atenção à saúde da pessoa idosa. XI- Apoio ao desenvolvimento de estudos e pesquisas. Posteriormente foi aprovado o Estatuto do Idoso sob Lei Federal em 01 de Outubro de 2003, foi criado com o propósito de regular os direitos da pessoa idosa. O Estatuto está estruturado em 118 artigos dispostos em sete títulos. Citaremos os três primeiros que definem os principais direitos do idoso. Art. 1.° Define que: É instituído o Estatuto do Idoso, destinado a regular os direitos assegurados às pessoas com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos. Art. 2.º Dispõe: O idoso goza de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se lhe, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, para preservação de sua saúde física e mental e seu aperfeiçoamento moral, intelectual, espiritual e social, em condições de liberdade e dignidade. Art. 3.º Especifica: É obrigação da família, da comunidade, da sociedade e do Poder Público assegurar ao idoso, com absoluta prioridade, a efetivação do direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária. Segundo o Estatuto, pessoas com 60 (sessenta) anos ou mais são consideradas idosas, mas na prática alguns benefícios para os idosos tem início aos 65 anos, bem como o BPC e a gratuidade nos transportes públicos. Entre as várias mudanças dos direitos que asseguram a pessoa idosa, se ressalta importante o Artigo 15° §3º diz que “é vedada a discriminação do idoso nos planos de saúde pela cobrança de valores diferenciados em razão da idade”, bem como em seu §2º do mesmo artigo que afirma: “incumbe ao Poder Público fornecer aos idosos, gratuitamente, medicamentos, especialmente os de uso continuado, assim como próteses, órteses e outros recursos relativo ao tratamento, habilitação ou reabilitação”. (BRASIL, 2003). 39 O grande impacto causado pelo aumento global da população idosa ocasionou à necessidade da criação de novas políticas públicas especificadas para a população idosa. O Estatuto do Idoso foi um avanço para o sistema legal brasileiro e uma grande conquista para a população idosa e para a sociedade, um instrumento para a realização da cidadania brasileira no qual lutar pelo efetivo cumprimento deste instrumento proposto como responsabilidade de toda a nossa sociedade. A Política Nacional traça diretrizes políticas e metodológicas dos serviços, para a população idosa. Já o Estatuto do Idoso tem por finalidade consolidar todos os direitos já assegurados, e principalmente punir a violação de direitos impostos pelo o Estatuto. Visto que o Estatuto do Idoso foi uma grande conquista, cujo foram estabelecidas sanções penais e administrativas para as pessoas que não cumprisse as leis impostas. O Estatuto trouxe a garantia de direitos em várias áreas, bem como, saúde, transporte, habitação, distribuição de medicamentos e a inserção do idoso na sociedade, dentre outros e principalmente como sujeito de cidadania. O Brasil passou por um longo trajeto para chegar à conquista ao direito da aposentadoria. Durante essa trajetória as instituições começam a se modificarem de acordo com as necessidades, cujo Movimento de Aposentados e Pensionistas teve sua fundamental participação. Sabido que esses benefícios conquistados ao longo da história do país vêm se modificando de acordo com seus governos. Após as conquistas legais e civis de 1988, anunciava-se no Brasil uma importante reforma democrática do Estado brasileiro junto com as políticas sociais. Segundo BEHRING, 2011 os anos de 1990 até os dias atuais têm sido marcado por uma intensa contra reforma do Estado. No próximo tópico faremos uma discussão sobre idoso e família dentro da sociedade. 3.3 Relações sociais relacionadas à pessoa idosa, família e sociedade no Brasil. A família contemporânea vem sofrendo transformações em relação ao surgimento de novos papéis impostos pela sociedade (Araújo, 2010). 40 Para destacarmos o conceito de família em primeiro momento referenciamos o conceito de Bourdieu, A definição de família é, antes de tudo, uma descrição, mas que, na verdade, constrói a realidade social. Nesta definição, família é um conjunto de indivíduos aparentemente ligados entre si – seja pela aliança (o casamento), seja pela filiação, seja mais excepcionalmente pela adoção (parentesco) – e vivendo sob o mesmo teto (coabitação) (BOURDIEU, 1993 apud UZIEL, 2002, p.89). O autor coloca que a família se relaciona em um conjunto de pessoa que vivem no mesmo espaço e estão ligados entre si, através de alianças. Osterne (2004) referencia o modelo de família patriarcal que foi substituída pela nuclear burguesa. Este era composto por um grupo de parentes, cujo chefe de família é o pai. Caracteriza a família brasileira como um vasto grupo de parentes, compreendendo dupla estrutura: uma legal, regida por padrões de interesse e voltada para a conservação do patrimônio; outra regida por padrões afetivos, regulando a vida de um vasto grupo domestico que inclui além de pai, mãe, filhos, parentes, empregados, escravos e mais uma larga periferia de trabalhadores livres, ligados pelo trabalho à vida da fazenda. Trata-se de uma família extensa de tipo patriarcal, isto é, na qual predomina a autoridade do pai ou patriarca (OSTERNE, 2004 apud FUKUI, 1079 p. 38). O modelo patriarcal é composto por um imenso grupo de parentes, mas o chefe de família é o pai. Já o modelo nuclear burguês de família está relacionado à mulher, a criança, no lar e no patrimônio que se define pela autoridade dos pais e sob o amor parental dedicado aos filhos. Segundo Szimanski, Uma união exclusiva de um homem e uma mulher, que se inicia por amor, com a esperança de que o destino lhes seja favorável e que seja definitiva. Um compromisso de acolhimento e cuidado para com as pessoas envolvidas e expectativa de dar e receber afeto, principalmente em relação aos filhos. Isto, dentro de uma ordem e hierarquia estabelecida num contexto patriarcal de autoridade máxima que deve ser obedecida a partir do modelo pai-mãe-filhos estável (GOMES, 1988 apud SZYMANSKI, 1997, p. 25). Esse modelo corresponde ao tradicional nuclear burguês, um modelo considerado natural, cujo pai, mãe e filhos vivem no mesmo lar. Cada modelo de família tem seus costumes e cultura. 41 Conforme diz Szimansky (1992), as famílias contemporâneas não se limitam ao modelo de família nuclear no qual (pai, mãe e filhos dos mesmos pais) nas famílias contemporâneas os casais se unem e se desunem varias vezes, e convivem com filhos de relações antigas e com filhos das relações atuais. Segundo Ferrari & Kaloustian (2002), A família, da forma como vem se modificando e estruturando nos últimos tempos, impossibilita identificá-la como um único ou ideal. Pelo contrário, ela se manifesta como um conjunto de trajetórias individuais que se expressam em arranjos diversificados e em espaços e organizações domiciliares peculiares (p.14). Na tentativa de acompanhar a cadência das famílias contemporâneas, as políticas sociais compreendem que a categoria família tem uma nova configuração, aderindo ao rompimento com os antigos modelos conservadores, como é essa perspectiva no conceito de família observado na Política Nacional de Assistência Social (2004). A família, independentemente dos formatos ou modelos que assume, é mediadora das relações entre os sujeitos e a coletividade, delimitando, continuamente ou deslocamentos entre o público e o privado, bem como geradora de modalidades comunitárias de vida. Todavia, não se pode desconsiderar que ela se caracteriza como um espaço contraditório, cuja dinâmica cotidiana de sobrevivência é marcada por conflitos e geralmente, também, por desigualdade, além de que nas sociedades capitalistas a família é fundamental no âmbito da proteção social. (PNAS, 2004, p. 41). A família assume o papel de mediador entre os sujeitos e a coletividade nos delimita apenas o público e o privado. Isso ocorre independente ao modelo de família, no qual a família passa por diversos espaços de conflitos que está inserido no sistema capitalista vigente. O contexto do convívio familiar vem passando por diversos processos de transformações no qual as relações afetivas vêm sofrendo dificuldades para enfrentar a realidade, bem como a união é uma das maiores dificuldades que se enfrenta na sociedade atual. Segundo Sarti (2005) Pensar a família como uma realidade que se constitui pelo discurso sobre si própria, internalizado pelos sujeitos, é uma forma de buscar 'uma definição que não se antecipe à sua própria realidade, mas que nos permita pensar como ela se constrói, constrói sua noção de si, supondo evidentemente que isto se faz em cultura, dentro, portanto, dos parâmetros coletivos do tempo e do espaço em que vivemos, que ordenam as relações de parentesco (entre irmãos, entre pais e filhos, entre marido e mulher). Sabemos que não há 42 realidade humana exterior à cultura, uma vez que os seres humanos se constituem em cultura, portanto, simbolicamente (p.27). As famílias se constituem de acordo com a sociedade e a cultura no qual a mesma está inserida, hoje não se pode falar em apenas um modelo de família, percebe-se que houve uma heterogeneidade das composições familiares que são movidas por mudanças econômicas, jurídicas etc. que não podemos falar em família e sim em familiares (MARANGONI; OLIVEIRA, 2010). No contexto em que vivemos hoje, as famílias adquirem novos valores, conforme o meio no qual estão inseridas. Segundo as afirmações de Osterne (2004), no qual diz: No mundo contemporâneo, as mudanças, que vêm ocorrendo na família, relacionam-se com a perda do sentindo da tradição. Desse modo, o amor, o casamento, a família, a sexualidade e o trabalho, antes vivenciados a partir de papeis preestabelecidos. Hoje são concebidos como parte de um projeto em que a individualidade prevalece e adquire importância social, colocando como problema atual a necessidade de compatibilizar a individualidade e reciprocidade familiares. As pessoas parecem estar querendo aprender a serem sós e a serem juntas. Esse, porém, supõe-se ser um dilema mais peculiar às camadas médias que têm aparecido como a vanguarda da individualização (OSTERNE, 2004, p. 63). As mudanças ocorrem hoje com mais frequência, cujo antigo modelo tradicional da família nuclear burguesa, perde seu papel para o novo modelo de família contemporânea, bem como inúmeras transformações imprimem novar configurações de família. Segundo Sarti (1999, p.100) A família é o lugar onde ouve as primeiras falas com as quais se constrói a autoimagem e a imagem do mundo exterior. É onde se aprende a falar e, por meio da linguagem, a ordenar e dar sentido às expectativas vividas. A família, seja como for composta, vivida e organizada, é o filtro através do qual se começa a ver e a significar o mundo. Este processo que se inicia ao nascer prolonga-se ao longo de toda vida, a partir de diferentes lugares que se ocupa na família. As reflexões sobre o campo familiar, diz que não importa a forma que a família seja constituída; é através dela que se começar a aprender os significados do mundo. Segundo Kaslow (2001), no qual ele descreve os noves tipos de configurações familiares contemporâneas. 43 1) Família nuclear, incluindo duas gerações, com filhos biológicos; 2) Famílias extensas, incluindo três ou quatros; 3) Famílias adotivas temporárias; 4) Famílias adotivas, que podem ser bi raciais ou multiculturais; 5) Casais; 6) Famílias monoparentais, chefiadas por pai ou mãe; 7) Casais homossexuais com ou sem crianças; 8) Famílias reconstituídas depois do divórcio; 9) Várias pessoas vivendo juntas, sem laços legais, mas com forte compromisso mútuo (IDEM, p. 37). Portanto o autor destaca as diversas formas das mais atuais configurações de família existente na atualidade, no qual essas novas formas transforma o modelo de família nuclear, estabelecendo outros modelos de configuração familiar. Achamos importante ressaltar que os responsáveis primários pelos cuidados com o idoso na maioria das vezes são determinados pelos laços de afetividade existente entre eles, bem como a família, parentes ou pessoas bem próximas ao idoso. Neste sentido de novas configurações a sociedade vem encarando um conjunto de mudanças significativas no que se refere à vivência em família. A Lei 8.842 declara o dever da família, sociedade e Estado, assegurar o idoso e seus direitos de cidadania, no qual reforça que o idoso é um ser de direitos e também tem muito a contribuir para nossa sociedade. O artigo 3°, inciso I, em texto diz que: É obrigação da família, da comunidade, da sociedade e do Poder Público assegurar ao idoso, com absoluta prioridade, a efetivação do direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária (BRASIL, 1994, p. 1). Como foi visto o artigo 3° prioriza a família para assegurar a assistência ao idoso, interligando com outros setores e órgãos públicos para a garantia e efetivação de direitos. A família tem um papel de extrema importância na vida do idoso, pois através de cuidados, carinho, e amor, a velhice pode ser encarada de uma forma mais humanizada. Segundo Caldéron; Guimarães (1994), Não existe um único modelo familiar. A família, pela perspectiva histórica, tem se apresentado em diversas composições e características. Inclusive, num mesmo espaço histórico, têm coexistido, e ainda coexistem, diversos 44 modelos familiares, embora sempre haja um que predomine, isto é, que seja hegemônico. (CALDÉRON; GUIMARÃES, 1994, p. 23). Em nosso cotidiano podemos perceber que a família está relacionada aos costumes, cultura e padrões. É através dessa relação familiar que o indivíduo cresce e se desenvolve, e adquire o equilíbrio afetivo que é responsável pelo seu desenvolvimento físico e social. Simões (2011) ressalta que: “A família constitui a instância básica, no qual o sentimento de pertencimento e identidade social é desenvolvido e mantido e também, são transferidos os valores e condutas pessoais” (p. 194). Nossa sociedade ainda não avaliou com precisão a condição do idoso, cuja realidade em que se encontram mostra que suas condições de vida na maioria das vezes não são garantidas. Percebe-se que hoje grande parte da população idosa sofre com vários tipos de preconceitos relacionados à velhice e problemas sociais (OLIVEIRA, 1999). Segundo as considerações de Gusmão (2003), O velho e a velhice são concomitantemente referidos a um período cronológico e temporal e constituem uma adjetivação em si mesmos. Desse modo, ressalta-se algo de suma importância, ser velho não é só estar numa fase da vida, mas representa uma propriedade, alguma coisa que se qualifica em si mesma e que, por esta razão, sofreu um processo de desqualificação no interior da modernidade (GUSMÃO, 2003, p. 28). A pessoa idosa representa um conjunto de fatores com atribuição e transformações negativas que se relaciona ao conceito de velhice. Beauvoir (1990, p. 265) diz que: “É a classe dominante que impõe às pessoas seu estatuto; mas o conjunto da população ativa se faz cúmplice dela”. Definir uma categoria denominada velhice, que engloba as características em comum de todos os velhos em todas as épocas e culturas, é uma empreitada vazia de sentido, tendo em vista que ser velho não é uma condição natural e já dada, mas um processo construído social e culturalmente. E isso também engloba categorias como infância, adolescência e adultez. (GUSMÃO, 2003, p. 36). O processo de envelhecimento apresenta um conjunto de fatores e aspectos individuais, que faz parte do desenvolvimento humano, no qual está inserida sob uma perspectiva socialmente histórica. 45 A sociedade atual tem uma visão de que idoso é um ser improdutivo, que não está inserido no mercado econômico do país, Camarano (2004) contribui: A visão do idoso como intrinsecamente improdutivo leva a se pensar que mesmo que o envelhecimento seja desejável sob a perspectiva dos indivíduos, o crescimento da população idosa pode acarretar um peso sobre a população jovem e o custo de sustentá-la vir a se constituir uma ameaça ao futuro das nações. Deu origem à preocupação com a crise do envelhecimento, pois os idosos são considerados grandes consumidores de recursos públicos, principalmente, de benefícios previdenciários e serviços de saúde (CAMARANO, 2004, p. 07). O idoso é visto como uns dos grupos que mais dependem de políticas públicas, principalmente na área da saúde, no qual enfrentamos uma grande demanda na categoria saúde. Carvalho (1998) afirma que: “As políticas públicas avançaram no reconhecimento dos direitos ao acesso a bens e serviços, porém, na prática, poucos fizeram na efetivação e destinação de serviços de qualidade” (Carvalho, 1998, p. 07). O impacto do envelhecimento reflete na produtividade da população idosa, o mesmo é considerado fora do mercado de trabalho. E por inúmeros motivos, muitos idosos retornam ao mercado de trabalho após a aposentadoria, no mercado informal, sem nenhum tipo de contratação formal com empresas ou órgãos. (DRUCKER, 1998). O envelhecimento como problema social não é o resultado mecânico do crescimento do número de pessoas idosas, como tende a sugerir a noção ambígua de envelhecimento demográfico, nem representa uma ameaça à ordem política pelas estatísticas crescentes, mas pelas pressões sociais das lutas que congregam e adensam reivindicações, trazendo à cena pública a problemática – ou como esta é interpretada e legitimada pelos sujeitos políticos -, transformando-a em demanda política, introduzindo-a no campo das disputas políticas e das prioridades. (TEIXEIRA, 2008, p. 42-43). Vivemos hoje em uma sociedade capitalista, estruturada na produção material e na atividade profissional, cuja inserção social está ligada à força de trabalho. Essa organização socioeconômica deixa o idoso a mercê da sociedade, bem como o mesmo não mais oferece sua mão de obra, e não contribui para a economia do sistema. O acentuado desenvolvimento do capitalismo da era moderna vem desprezando a tradição humana e sua memória, e culturalmente descaracterizando a velhice, pelo processo de desprestigio, exclusão social e anulação, que este modelo impõe aos que não servem aos que não 46 possuem uma perspectiva de imediatamente útil, ou vigorosamente produtivo, conforme as necessidades lucrativas do capital, ou seja, aqueles que não se encontram diretamente nos meios de produção. (PAZ 2001, p. 232). Segundo a concepção capitalista, temos que produzir e consumir para poder ser reconhecido como cidadão, os que não podem estão dentro desse círculo, perde sua valorização perante a sociedade. O país passa por várias transformações as quais os movimentos sociais começam a ganhar ênfase com as reivindicações de trabalhadores por melhorias e criação de um sistema público de previdência social, dentre várias conquistas em relação à política de proteção social. Destacamos uma importante conquista para o segmento da população da idosa, ou seja, a Política Nacional do Idoso (PNI) que passou a regular as diversas iniciativas privadas e públicas de ações ao idoso, bem como foram criados princípios e diretrizes para execução dessa política. Destacamos também, segundo Teixeira (2008) a existência de um novo padrão de resposta à questão social, no qual ressaltamos a setorização das políticas sociais e a focalização, cujo critério de inserção a essas políticas, deixa de ser o trabalho e passa a ser a população que é denominada de “excluída”. A falta de oportunidades para o idoso no mercado de trabalho fica clara quando visto os tipos de atividades que os mesmo exercem, como: vendedor ambulante, artesãs, reciclador etc. O envelhecimento está ligado ao papel que o idoso desempenha na sociedade, e não sendo respeitadas as inúmeras transformações que acarreta a velhice. Além desses fatores observamos na atualidade, que várias famílias têm idosos enquanto chefe de família, no qual os mesmo provem o sustento de filhos e netos, Camarano faz observação sobre essa questão. Nas famílias cujos idosos são chefes, encontra-se uma proporção expressiva de filhos e netos morando juntos. Essa situação deve ser considerada à luz das transformações por que passa a economia brasileira, levando a que os jovens estejam experimentando grandes dificuldades em relação à sua participação no mercado de trabalho, o que tem repercutido em altas taxas de desemprego, violências de várias ordens, criminalidade etc. (CAMARANO, 2004 p.71). 47 Podemos perceber, na atualidade que os novos arranjos familiares são diversos, no qual o idoso passa ater um papel fundamental dentro das famílias, principalmente por ser o provedor do lar. É sabido que existem muitos filhos casados que por vários fatores, acabam voltando a morar com seus pais, devido ao resultado dessa crise econômica os paisavós que passam a se responsabilizar pelo o sustento de filhos e netos, muitas das vezes sendo o único provedor do lar, no qual os idosos que possuem rendimentos fixos bem como, aposentadorias, pensões etc. muitas vezes passam a ser o principal elemento de proteção familiar. Segundo Camarano (2004), esses recursos econômicos não podem ser totalmente empregados no sustento da família. No decorrer que o os proventos dos idosos passam a ser a única fonte de renda das famílias, os mesmo necessitam de gasto extras tais como, saúde, mesmo que a legislação disponha que: Art. 196 - A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação (BRASIL, 1998). Os serviços públicos ofertados para os idosos não conseguem suprir todas as suas necessidades, no qual os mesmo recorrem a serviços particulares tendo que arcar com: consultas, medicamentos, exames, cirurgia, habitação, educação, lazer dentre outros. Decorrente aos fatores expostos, esses idosos veem o empréstimo consignado como uma saída para essas despesas extras, ou seja, será que o empréstimo consignado pode ser mesmo uma saída pra alguns problemas financeiros do idoso e seus familiares? Essas inquietações serão abordadas no capítulo a seguir. 48 4 CAUSAS E CONSEQUÊNCIAS DOS EMPRÉSTIMOS CONSIGNADOS Viver envolve um trabalho, o processo de a gente se tornar aquilo que é potencialmente. na arte de viver, o homem é simultaneamente o artista e o objeto de sua arte. (Eric Fromm) Nesse capitulo abordaremos os principais acontecimentos econômicos brasileiros após a década de 1990, bem como o plano real e a crise econômica que o país enfrentou nessa década até os dias atuais. Seguiremos com a trajetória histórica do empréstimo consignado no Brasil, relacionando com aposentadoria e previdência social. E mais um breve relato sobre o lócus da pesquisa. Uma análise sobre o perfil econômico dos interlocutores da pesquisa, através de gráficos que explica a situação atual desses idosos. Finalizamos o capítulo com a análise da coleta dos dados, no qual faremos uma discussão teórica com os principais autores. 4.1 A conjuntura econômica brasileira após a década de 1990. Apesar das importantes conquistas de 1988, no Brasil começava uma grande reforma democrática no Estado com repercussões nas políticas sociais. A década de 1990 teve inúmeras transformações estruturais que ocorreram na economia do país. Nesse período aconteceram várias tentativas de remoção da crise, diante de muito esforço, no intuito de reformar a economia e prover a estabilização macroeconômica no qual na época, se alastrou na mídia uma imensa campanha em torno de reformas (BEHRING, 2011). Os anos 1990 até os dias de hoje têm sido de contrarreforma do Estado e de obstaculização e/ou redirecionamento das conquistas de 1988, num contexto em que foram derruídas até mesmo aquelas condições políticas por meio da expansão do desemprego e da violência. A afirmação da hegemonia neoliberal no Brasil tem sido responsável pela redução dos direitos sociais e trabalhistas, desemprego estrutural, precarização do trabalho, desmonte da previdência publica, sucateamento da saúde, e educação (BEHRING & BOSCHETTI, 2007, p. 147). 49 A partir dos anos de 1990 até os dias atuais tem sido de contra reforma do Estado, no qual o projeto político neoliberal é considerado estratégia realizada pelo capitalismo para superação da crise e para o início de uma nova ordem econômica brasileira. Nessa direção segundo Silva Júnior (2002) “reformas institucionais que são realizadas em profusão, a começar pelas reformas dos estados, com expressões diretas nas esferas da cidadania e da educação” (p.31). Para uma melhor compreensão sobre a economia brasileira após a década de 1990, faremos uma análise aos governos da época e seus principais acontecimentos. Segundo Raichelis (2007) a partir do governo Collor, o país assistiu o redirecionamento do papel do Estado, no avanço das teses neoliberais. As propostas do governo relativas à reforma do Estado estão expressas nos projetos de Reforma Administrativa e nos Programas de Desregulamentação e Descentralização. O desenvolvimento social é concebido como decorrência do crescimento econômico, cabendo ao Estado definir e executar politicas complementares ao mercado. (RAICHELIS, 2007, p. 96). O Estado precisava desenvolver políticas sociais que abrangesse toda população, nesse sentido, as políticas sociais brasileira necessitavam de mudanças significativas. Inicialmente, foi criado o Plano de Promoção e Assistência Social enfatizava as ações prioritárias voltadas à criança, no qual outros programas assistenciais definidos pela constituição, como os programas de assistência para a população idosa, deficientes, gestantes etc. (RAICHELIS, 2007). Ivanete Ferreira (1993) afirma que é revelador o quadro do “desastre” da política social estabelecida sob a égide do ideário neoliberal que ocorreu no curto período do governo Collor. Oliveira (1995) faz uma análise ao governo de Sarney e Collor, no qual ressalta: O já precário Estado do Bem Estar nacional foi atingido em cheio: as reforma do caçador de marajás terminaram por dar-lhe o golpe de misericórdia. [...] Essa tendência (à privatização) que já vinha desde o autoritarismo, [...] perseverante, o Estado democrático a agravou. Depois de Sarney, que praticou o é dando que se recebe como uma modalidade de desregulamentação, Collor levou a tendência ao paroxismo: já que o Estado não funcionava, o melhor é suprimi-lo (p.62). 50 No ano de 1992, após o impeachment4 do presidente Collor, o vicepresidente Itamar Franco assume a presidência no auge da crise econômica, política e social no Brasil (RAICHELIS, 2007, p 99). Quando o presidente Itamar assumiu o governo, encontrou a área social totalmente desarticulada, sem recursos definidos para os programas sociais. Foi organizada a Assessoria para Assuntos Sociais, ligada à presidência da República, que passou a desempenhar o papel de articulação dos setores sociais do governo, envolvendo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a Secretaria de Planejamento, Orçamento e Coordenação da Presidência da República (Seplan), os Ministérios do Bem-Estar Social, da Agricultura, da Saúde e da Educação. Itamar assume a presidência e encontra o governo completamente destruído no que se refere a recursos definidos para os programas sociais, Itamar tenta organizar criando setores sociais com projetos para as áreas da agricultura, saúde e educação. O presidente Itamar declara à prioridade de seu governo que era o combate à fome, com a criação do Conselho de Segurança Alimentar (Consea) em 13 de Maio de 1993, no qual era formado por 21 membros da sociedade civil e nove membros governamentais, cuja suas prioridades eram o programa de merenda escolar, a desnutrição, alimentação do trabalhador, reforma agrária e a distribuição de alimentos. (RAICHELIS, 2007). Segundo as considerações de Paiva (1994), a partir desses movimentos gerados por essas iniciativas instituíram-se três vertentes de ação, que são as seguintes: Vertente governamental, na qual o governo daria a sua contrapartida, pelo menos garantindo programas básicos com forte impacto na redução das desigualdades sociais. Seriam ações de natureza assistencial e ações com poder de alterar as estruturas causadoras da miséria e da fome. A outra vertente seria a ação da sociedade organizada em prol da solidariedade, a Ação da Cidadania Contra a 4 A expressão impeachment pode designar o processo parlamentar contra o presidente da República e outras autoridades bem como a pena de afastamento do cargo. Segundo a Constituição de 1988, o impeachment do presidente da República, por crimes de responsabilidade, se desenrola no Senado após prévia autorização de 2/3 dos membros da Câmara dos Deputados. Uma vez instaurado o processo no Senado, o presidente é afastado do cargo, que passa a ser exercido por seu substituto legal. LESSA, Alexandra Valesca M. – Revista da Faculdade de Direito de Campos, Ano VI, N° 6 – Junho de 2005. Acesso em: 16 de Novembro de 2014. Disponível em: <http://fdc.br/Arquivos/Mestrado/Revistas/Revista06/Dissertacoes/Resumo.pdf>. Acesso em: 16 de novembro de 2014. 51 Fome, a Miséria e pela Vida. [...] a terceira vertente, a descentralização. Seriam pensadas ações e iniciativas que pudessem ser implementadas junto aos municípios, envolvendo os três níveis de governo e os segmentos sociais organizados em parceria Governo/Sociedade. (p. 28). As vertentes anunciadas foram criadas, mas pouco se avançou principalmente no combate à fome e à pobreza no Brasil, bem como não ocorreu à diminuição dos níveis de desigualdade social. Os avanços não foram suficientes para afirmar com segurança a articulação entre políticas econômicas e sociais. (RAICHELIS, 2007). O governo de Fernando Henrique Cardoso se inicia em 1º de Janeiro de 1995, que perdurou por oito anos a frente da presidência da república. O governo de (FHC) como ficou conhecido na época, foi o mentor do Plano Real. Segundo as considerações de Raichelis (2007, p. 101-102), O Plano Real lastreia-se no conjunto de medidas preconizado pelo Consenso de Washington para a periferia do sistema capitalista. Ou seja: estabilização da moeda, privatização das empresas estatais, redução do papel regulador do Estado, saneamento da dívida pública, desregulamentação do mercado de trabalho, minimização das políticas sociais mediante cortes no gasto sociais. O plano de privatização do governo da época foi apresentado com a proposta de promover recursos para equilibrar a economia do país. No qual as empresas públicas foram privatizadas, causando um grande endividamento do Estado. Outro fato importante na reforma do Estado foi o programa de publicização 5 que significa a regulamentação do terceiro setor6, para execução de políticas 5 Segundo BEHRING; BOSCHETTI (2006), publicização é um processo de transformar uma organização de direito privado, em pública não estatal, onde a gestão dos serviços e atividades consideradas não – exclusivas do Estados são gerenciadas por uma parcela da sociedade civil organizada deixando o Estado não mais como executor, mas como regulador. 6 Define-se terceiro setor, segundo Aquino Alves, pesquisador da Fundação Getúlio Vargas, citado por Melo Neto e Froes (2001, p.9), como o espaço institucional que abriga ações de caráter privado, associativo e voluntarista voltadas para a geração de bens de consumo coletivo, sem que haja qualquer tipo de apropriação particular de excedentes econômicos gerados nesse processo. Disponível em: <http://www.unifae.br/publicacoes/pdf/revista_da_fae/fae_v6_n1/07_piero.pdf>. Acesso em: 16 de novembro de 2014. 52 públicas, no qual se estabeleceu uma parceria com ONGs e Instituições Filantrópicas para complementar as políticas. O governo de FHC foi marcado pela privatização, focalização, seletividade e descentralização no qual ocorreu um elevado índice do desemprego e baixas taxas de crescimento. (BEHRING, 2007). Os anos 1990 foram marcados pela fragilização das conquistas advindas com a Constituição Federal de 1988 e pela privatização dos patrimônios públicos. O governo de Luiz Inácio Lula da Silva (Lula) que se inicia em 1º de Janeiro de (2003-2010), segundo Paiva e Maitte (2009) teve como principais marcas: a estabilidade econômica, a retomada do crescimento do país e a redução da pobreza e desigualdade social e também por escândalos políticos bem como o mensalão que abalaram o Partido dos Trabalhadores-PT. Ainda Segundo os autores a ampliação das políticas compensatórias 7 foi de suma importância para a conquista do seu segundo mandato, bem como o programa bolsa família no qual os setores mais pauperizados foram contemplados. Esta é uma das razões que explicam por que políticas sociais de natureza liberal e meramente integrativas, fortemente ampliadas no Governo Lula, têm sido avaliadas como instrumento poderoso de manipulação política junto aos segmentos sociais excluídos, como é o caso atual dos beneficiários de novos programas sociais a exemplo do programa Bolsa Família. Registre-se que o êxito das ações do Governo Lula na área social repercute no amortecimento do conflito social no Brasil, especialmente após a massificação dos programas de transferência de renda, processo este que, indiretamente, afeta e inibe o protesto das classes sociais subalternas. (PAIVA E MAITTEI, 2009, p. 185-186). 7 A concepção e a execução de políticas compensatórias deram origem às estruturas do chamado Estado do Bem Estar ou Estado Social. O conceito de compensação está associado, desse modo, à ideia de proteção social, que pode ser considerada como fundamento ético da revisão ideológica do liberalismo político mais ortodoxo, segundo o qual caberia ao Estado apenas e exclusivamente garantir a ordem jurídica protetora dos direitos de propriedade e a estabilidade social em geral, e mais especificamente no âmbito das relações entre trabalhadores e empregadores. (SILVA, V.A.C. Políticas compensatórias. In.: OLIVEIRA, D.A.; DUARTE, A.M.;VIEIRA, L.M.F. DICIONARIO: Trabalho, profissão e condição docente. Belo Horizonte: UFMG/ Faculdade de Educação. 2010.) Disponível em: <http://www.gestrado.org/pdf/325.pdf> Acesso em: 26 de dezembro de 2014. 53 Nesse período ocorrem grandes transformações relacionadas às políticas sociais no Brasil, alterando as conquistas históricas das classes trabalhadoras. Segundo Behring (2007), o Brasil é um país com tradições políticaseconômicas e socioculturais, e que a partir da Constituição Federal de 1988 passa a ter perspectiva, na construção de um padrão público universal de proteção social, com um quadro de complexidade dos direitos sociais conforme estabelecido do artigo 6° da Constituição Federal no qual diz: Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição. (Emenda Constitucional nº 64, de 2010). Apesar dos direitos reforçados pela Constituição Federal e da introdução da Seguridade Social8 na Carta Magna de 1988, percebe-se que esses direitos conquistados não são verdadeiramente efetivados. Nem todos tem acesso aos direitos sociais citado do Artigo 6° da Constituição Federal. No governo atual de Dilma Rousseff, vivemos a era de constante metamorfose as mudanças nas relações entre o sistema financeiro e o Estado brasileiro assume essas características significativamente. A economia brasileira viveu vários ciclos ao longo da História. Em cada ciclo, um setor foi privilegiado em detrimento de outros, e ocasionaram sucessivas mudanças sociais, populacionais, políticas e culturais dentro da sociedade brasileira. (TEIXEIRA, 2012).9 8 Nos marcos dos países capitalistas da Europa ocidental e da América Latina, a Seguridade Social se estrutura tendo como referência a organização social do trabalho, apesar de constituir-se de forma bastante diferenciada em cada país, em decorrência de questões estruturais, como o grau de desenvolvimento do capitalismo e de questões conjunturais, como a organização da classe trabalhadora. A instituição da seguridade social, como núcleo central do Estado social após a Segunda Guerra Mundial, foi determinante na regulação das relações econômicas e sociais sob o padrão keynesiano-fordista. Os direitos da seguridade social sejam aqueles baseados no modelo alemão bismarckiano, como aqueles influenciados pelo modelo beveridgiano inglês, têm como parâmetro os direitos do trabalho, visto que desde sua origem, esses assumem a função de garantir benefícios derivados do exercício do trabalho para os trabalhadores que perderam, momentânea ou permanentemente, sua capacidade laborativa. (BOSCHETTI, I. Seguridade social pública ainda é possível! Inscrita, Brasília, DF, ano 7, n. 10, 2007.) 9 TEIXEIRA, Rodrigo Alves. A economia política dos governos FHC, Lula e Dilma: dominância financeira, bloco no poder e desenvolvimento econômico. In.: Economia e Sociedade. Campinas, v. 21, Número Especial, dez. 2012. p. 909-941. 54 A ideologia neoliberal contemporânea é de maneira fundamental um liberalismo econômico. Segundo Boito Jr, Essa ideologia de exaltação do mercado se expressa através de um discurso polêmico: ela assume, no mais das vezes, a forma de uma crítica agressiva a intervenção do Estado na economia. O discurso neoliberal procurava mostrar a superioridade do mercado frente à ação estatal (p. 45). Segundo Iamamoto (2012), a mundialização da economia está firmada nos grupos industriais transnacionais, o capital financeiro assume o comando do processo de acumulação. A mundialização da economia está ancorada nos grupos industriais transnacionais, resultantes de processos de fusões e aquisições de empresas em um contexto de desregulamentação e liberalização da economia. [...] As empresas industriais associam-se às instituições financeiras (banco, companhias de seguros, fundos de pensão, sociedades financeiras de investimentos coletivos e fundos mútuos), que passam a comandar o conjunto da acumulação, configurando um modo específico de denominação social e política do capitalismo, com o suporte dos Estados Nacionais (IDEM, p. 198). Para Ianni (2004) esse novo cenário da história do século XXI, cria um novo ciclo de expansão do capitalismo, no qual surgem novas condições para globalização. Ainda no raciocínio de Iamamoto (2012) a lógica financeira do regime de acumulação, propende a provocar crises. “Cresce a necessidade de financiamento externo e, com ele, a dívida interna e externa, os serviços da dívida – o pagamento de juros – ampliando o déficit comercial”. (p. 141-143). A desregulação, iniciada na esfera financeira, invade paulatinamente o conjunto do mercado de trabalho e todo o tecido social, na contratendência das manifestações do crescimento lento e da superprodução endêmica que persiste ao longo dos anos 90. Fazendo um aparato sobre a economia do país, percebe-se que o Brasil, passou por várias transformações econômica, social e cultural, no qual o sistema financeiro influencia o crescimento econômico do país. A criação de políticas sociais veio para ampliar a ideia de cidadania e desfocalizar suas ações, antes direcionadas apenas para a pobreza extrema. 55 É sabido que a economia e a política no Brasil foram marcadas pelos acontecimentos mundiais das três primeiras décadas do século XX. Com o largo desenvolvimento do modo de produção capitalista novas formas de acumulação do capital começam a se expandir no mercado econômico. Segundo as considerações de Rigo (2007), no qual diz: O Brasil, assim como os demais países periféricos da América Latina, segue as orientações das instituições financeiras, como do FMI - Fundo Monetário Internacional e Banco Mundial - param se ajustar à economia globalizada. Desta forma, o país fica ligado às instituições financeiras e fica comprometido a ajustar-se ao sistema executando reformas em todas as áreas sociais, inclusive na Previdência, de forma a pactuar com o projeto neoliberal mundial. Surgem novas formas de financiamento, e nos governos Collor de Melo, Fernando Henrique e posterior seguimento nos governos Lula (2003 – 2010) e Dilma Rousseff (2011- atualidade), é lançado um leque de medidas para ampliar o mercado consumidor das instituições bancárias (PAIVA, 2013). Uma nova forma de crédito é lançada no mercado, ou seja, o empréstimo consignado, uma modalidade de crédito conveniada com o INSS, voltada principalmente para aposentados e pensionistas, as quais serão tratadas no próximo capítulo. 4.2 O empréstimo consignado no Brasil: trajetória histórica aos dias atuais. As inúmeras mudanças que ocorreram ao longo do tempo, geraram no Brasil várias transformações socioeconômicas, que segundo Rigo (2007): [...] mudanças socioeconômicas resultantes da globalização, da unificação econômica com liberação dos mercados para importação/exportação e da supervalorização do capital financeiro e especulativo, que são determinantes consideráveis na flexibilização do mercado de trabalho e redução do Estado para a população favorecendo as multinacionais e os bancos (IDEM, p.69). O Brasil ficou marcado por mudanças econômicas, culturais e sociais, que resultou em uma larga globalização, ocorrendo uma alta valorização do capital financeiro e especulativo. 56 Conforme dados de artigos, jornais, revistas, sites da internet e pesquisas bibliográficas referentes ao tema, o empréstimo consignado é bastante atual, porém, teve início no Brasil diante da aprovação da Lei N° 10.820, que se propagou no mês de dezembro do ano de 2003, após o decreto N° 4.840 feito pelo o governo da época (Lula), que autoriza o desconto de 30% em regime de prestações em folha diretamente dos proventos de aposentados e pensionistas que recebem seu benefício pelo o Instituto Nacional do Seguro Social – INSS. Conforme informa o caderno de economia, do Jornal do Comércio 10, após o decreto da referida lei, financeiras foram autorizadas a fazer o intermédio desse crédito. O empréstimo consignado é criado com o propósito de estimular a economia do país. Essa modalidade de crédito vem cada vez mais fazendo parte do cotidiano dos aposentados e pensionistas do INSS. (SOARES, 2005). O empréstimo consignado inicia-se com o prazo máximo de 36 meses, passou para 60 meses, e atualmente no ano de 2014 o prazo se estendeu para 72 meses, como mostra o site do Portal Brasil11, O Ministério da Previdência Social decidiu ampliar para seis anos o prazo máximo de pagamento de empréstimo consignado - com desconto em folha - para os aposentados do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). A decisão está publicada no Diário Oficial da União desta segunda-feira (29/09) e passa a valer a partir do dia 1º de outubro de 2014. O limite atual das prestações mensais para pagamento de empréstimo pessoal e cartão de crédito é de 60 meses – cinco anos – e com a mudança, vai para 72 meses – seis anos. (Portal Brasil) Segundo Rigo (2007) existem três modalidades de empréstimo consignado para os titulares de benefício do INSS; 1ª - A consignação é feita diretamente no benefício previdenciário, sendo que o INSS repassa o valor consignado à instituição financeira conveniada com o INSS, contratada pelo titular do benefício. 2ª – Esta modalidade é a retenção, instituída pela Lei 10.953 de 2004. Nesta operação o INSS repassa o valor integral do benefício para a 10 MAGALHÃES, P. F. de C. et al. Abuso financeiro: uma violência ao idoso. Disponível em: <http://www.abrapso.org.br/siteprincipal/images/Anais_XVENABRAPSO/319.%20abuso%20financeiro .pdf> Acesso em 16 de novembro de 2014. 11 BRASIL, Portal. INSS amplia prazo para crédito consignado aposentado. Noticia datada em: 29.09.2014 Disponível em:< http://www.brasil.gov.br/economia-e-emprego/2014/09/inss-ampliaprazo-para-credito-consignado-do-aposentado>. Acesso em: 21 de novembro de 2014. 57 instituição financeira pagadora do benefício, que retém o valor do desconto. Esta modalidade pode ocorrer exclusivamente com os respectivos bancos pagadores dos benefícios previdenciários. 3ª – Nesta, a forma de desconto prevista com a publicação Normativa do INSS (nº. 117) é realizada diretamente com crédito. Para que ocorra a consignação por meio do cartão necessário que o titular do benefício faça essa opção providências devidas (p.77). da Instrução o cartão de de crédito é e tome as Ainda conforme a autora, as modalidades expostas requerem que as financeiras sejam conveniadas com o INSS. Após a solicitação do empréstimo, a financeira conveniada repassa as informações para à Dataprev 12, no qual começa o processo de liberação do crédito. Segundo o site do Ministério da Previdência Social13 as operações de crédito consignado realizados por aposentados e pensionistas do INSS totalizam R$ 5 bilhões em fevereiro de 2014. Em número de operações, fevereiro de 2014 registrou 1.741.302 contratos, número 8,28% superior ao de janeiro de 2014, quando 1.608.182 contratos foram efetivados. Comparando com o mesmo mês de 2013, houve aumento de 21,40%. Em fevereiro de 2013, a quantidade de operações correspondeu a 1.434.294 contratos. (Ministério da Previdência Social, 2014). Conforme o disposto acima o empréstimo consignado vem aumentando em larga proporção no qual mostra um grande aumento de um ano para outro. Segundo Prates; Restom (2014), em uma notícia datada em 16 de novembro deste ano no Diário do grande ABC 14, no qual diz que: O empréstimo consignado tem atraído cada vez mais os idosos brasileiros pela facilidade de acesso e pelas taxas de juros mais baixas do que outras linhas de crédito apresentam. Porém, estas vantagens estão se tornando uma dor de cabeça para os consumidores da terceira idade. De acordo com dados dos indicadores econômicos do SPC Brasil (Serviço de Proteção ao 12 Dataprev é a empresa responsável pelo processamento de dados da Previdência Social (INSS, 2005). 13 MINISTÉRIO da Previdência Social. Consignado: operação somam R$ 3,7 bilhões em abril. Disponível em: <http://www.previdencia.gov.br/a-previdencia/instituto-nacional-do-segurosocial-inss/> Acesso em: 20 de novembro de 2014. 14 PRASTE Caio. RESTOM Thaís. Crédito consignado elava endividamento dos idosos. Diário do Grande ABC, noticia datada em 16 de novembro de 2014. Disponível em: <http://www.dgabc.com.br/Mobile/Noticia/1056585/credito-consignado-eleva-endividamento-dosidosos>. Acesso em: 23 de novembro de 2014. 58 Crédito), no mês de outubro o total de endividados na faixa etária entre 85 e 94 anos cresceu 10,53%, na comparação com o mesmo mês do ano passado. A pesquisa revelou também que houve crescimento de 7,18% no total de endividados com idade entre 65 e 84 anos. Conforme apresentado, os idosos brasileiros estão cada vez mais endividados, decorrentes as inúmeras transformações ocorridas na sociedade atual, como já exposto que muitos idosos aposentados são responsáveis pelo o lar e necessitam de renda extra para suprir suas necessidades. Trazendo esta perspectiva para nossa pesquisa empírica, observamos na fala de Lilás, que a mesma vivencia tal realidade. Vendo bolo, tapiocas, salgados, o povo me encomenda, vendo minhas comidinhas pra poder ajudar nas despesas. Só da aposentadoria não dá. (Lilás, 66 anos) Atualmente podemos perceber um fator relevante que incentiva o endividamento dos idosos, bem como, a invasão do marketing com propostas cada vez mais atrativas em relação às facilidades e a rapidez da liberação do crédito consignado, no qual oferecem uma solução para os aposentados e pensionistas, pois os mesmo buscam nos empréstimos uma forma de equilíbrio financeiro de suas despesas. Figueiredo; Júnior (2005) faz observações no que se refere a essa questão, no qual diz: As instituições financeiras que se valem destas elaboradas técnicas se prevalecem da vulnerabilidade do consumidor, mais evidente nos idosos, para lhes induzir ao consumo de crédito através de publicidades que omitem informações relevantes à tomada de decisão consciente, ofendendo valores socialmente relevantes – no caso, o respeito ao idoso - e, por esta razão, taxadas de enganosas e abusivas. (IDEM, p.3). [...] via sempre na televisão eles oferecendo, dizendo que o dinheiro está liberado no mesmo dia, mas não me disseram que era tão demorado assim pra terminar, onde eu passo o povo me entrega os papel mandando eu ir fazer empréstimos. (Rosa, 74 anos). Segundo ADEJUR-I (2011) um dos principais fatores que levam a tomada do empréstimo é a falta de conhecimento em relação aos juros e o tempo determinado para encerrar o pagamento das parcelas, no qual acabam sendo uma armadilha para essa parcela da população. Conforme as considerações de Rigo, (2007), que diz: 59 A publicidade utilizada por essas empresas como contundente por afirmar que disponibilizam dinheiro rápido e fácil, sem burocracia para o idoso fazer o que quiser, como realizar um sonho, e que, para tornar a vida mais completa, basta que se utilizem do empréstimo. A mensagem publicitária é acompanhada de imagens que deixam transparecer felicidade, contentamento, enfim, todas as dificuldades podem ser solucionadas mediante a obtenção do empréstimo consignado (IDEM, p. 82). Conforme as considerações acima, a publicidade pode incentivar os idosos, mas levaremos em conta não somente apenas os incentivos feitos através dos marketings, mas também os motivos pelo quais esses idosos necessitam de dinheiro extra, conforme visto são inúmeras questões que os conduz ao empréstimo, que será aprofundado em seguida nos achados da pesquisa. 4.3 Lócus da pesquisa: a Financeira Mascred do Município de Maracanaú. Realizamos a pesquisa na Financeira Maspcred localiza na Av. Capitão Valdemar de Lima N° 32 Centro, Maracanaú/CE. A Financeira foi inaugurada em Dezembro de 2008, e tem sua origem pela iniciativa privada. Sua missão é fornecer soluções financeiras com ética, agilidade e competência, contribuindo para o desenvolvimento sustentável e a construção de relacionamentos duradouros com seus clientes. E objetivo, oferecer empréstimos consignados para aposentados e pensionistas do INSS. Atualmente a Instituição Financeira é composta apenas por duas funcionárias, pela gestora e uma analista de crédito. 4.4 Perfil socioeconômico dos (das) idosos (as) que fazem empréstimos na financeira investigada. Nesse tópico serão apresentados os sujeitos da pesquisa e seus contextos, analisando os diálogos proposto neste estudo. Em relação a nossa pesquisa, esta foi realizada no mês de novembro de 2014, com 7 (sete) idosos aposentados com idade igual e superior a 60 anos, através de entrevista guiada por um roteiro semiestruturado. 60 Os entrevistados serão identificados por nomes de cores, desse modo, no encerramento da entrevista perguntamos qual era a sua cor preferida, assim usamos a cor preferida para identificá-los bem como as cores; rosa; lilás; verde; azul; laranja; branco; e preto. Quanto à seleção dos idosos, aconteceu através do seguinte critério: idosos aposentados com idade igual ou superior a 60 anos, com renda de pelo menos um salário mínimo. Para entendermos melhor segue uma análise em linhas gerais sobre o perfil de cada entrevistado. Rosa, 74 anos, viúva, aposentada desde 90, realizou seis empréstimos, reside em casa própria, cursou até a 1ª série do ensino fundamental, profissão costureira, tem dez filhos, atualmente reside com uma filha e cinco netos, no momento se encontra como responsável pelo lar, e tem como fonte de renda o valor de um salário mínimo que é adquirido através de sua aposentadoria e da sua atividade como agricultora, e a renda complementar de sua filha que é oriunda do programa bolsa família. Lilás, 66 anos, viúva, aposentada desde 2009, realizou seis empréstimos, reside em casa própria, cursou até a 3ª série do ensino fundamental, profissão cozinheira, tem quatro filhos, atualmente reside com uma filha e uma neta, sua fonte de renda de um salário mínimo e tem renda complementar oriunda de suas atividades como vendedora de lanches. Azul, 76 anos, divorciado, aposentado desde 2003, realizou seis empréstimos, reside em casa alugada, cursou até a 4ª série do ensino fundamental, profissão marceneiro, tem dois filhos, atualmente reside sozinho, sua fonte de renda é de quatro salários mínimos. Verde, 73 anos, viúvo, aposentado desde 99, realizou um empréstimos, reside em casa própria, ensino fundamental até a 4ª série do ensino fundamental, profissão pedreiro, tem quatro filhos, reside com uma neta, sua fonte de renda é de um salário mínimo. Laranja, 72 anos, viúva, aposentada desde 2000, realizou seis empréstimos, reside em casa alugada, não alfabetizada, profissão coletora de materiais reciclados, tem cinco filhos, reside com uma filha e uma neta, sua fonte de 61 renda é de um salário mínimo e tem renda complementar oriunda de suas atividades extras como coletora de materiais reciclados. Branco, 68 anos, viúva, aposentada desde 2009, realizou três empréstimos, reside em casa própria, não alfabetizada, profissão doméstica, tem cinco filhos, reside com uma filha, sua fonte de renda é de um salario mínimo. Preto, 71 anos, viúva, aposentada desde 2004, realizou seis empréstimos, reside em casa alugada, não alfabetizada, profissão doméstica, tem sete filhos, reside com uma filha e uma neta, sua fonte de renda é de um salário mínimo, e tem a renda complementada pela atividade de lavadora de roupas. Os interlocutores da pesquisa foram 5 (cinco) mulheres e 2 (dois) homens com idades de 66 a 76 anos. Em relação ao estado civil observamos que as 05 (cinco) mulheres entrevistadas são viúvas, 01 (um) homem divorciado, e 01 (um) homem viúvo. Em relação ao contexto familiar 06 (seis) dos entrevistados informam morarem com filhos (as) e neto (as) apenas 01(um) afirma morar sozinho. No tocante as situações econômicas os sete idosos consideram-se chefe de família, no qual os mesmos relatam ser responsáveis pelas despesas do lar. Gráfico 1- Escolaridade Fonte: dados direto da pesquisadora/novembro de 2014. O gráfico 1, que se refere a escolaridade dos estrevistados foi classificada em cinco níveis, de acordo com os relatos dos mesmos, no qual consideramos nãoalfabetizados apenas aqueles que nunca frequentaram a escola, ou seja não 62 assinam seu próprio nome. Dos resultados distribui-se em 5 pessoas não alfabetizadas e 2 tendo cursado da 1ª a 4ª série do ensino fundamental. Percebemos que o nível de escolaridade representa um número significativo na pesquisa em relação a idosos que não são alfabetizados, o que podemos perceber que os idosos com um baixo grau de ensino, são os que mais contratam o empréstimo consignado. Gráfico 2 – Renda individual Fonte: dados direto da pesquisadora / novembro de 2014. No gráfico acima referente a renda individual dos entrevistados, atesta que mais de 90% dos idosos provem seu sustento com valor de 1 salário mínimo mensal, sendo portanto uma possibilidade de análises de que o salário mínimo não corresponde aos gastos de uma família, sobretudo aquela que apresenta em seus membros, crianças e idosas. Esse aspecto pode ser associado a necessidade inclusive do próprio empréstimo consignado. No tópico a seguir , veremos a discussão dos dados coletados. 4.5 Análises dos dados coletados e discussão sobre os resultados. Os interlocutores da pesquisa formam 7 (sete) idosos aposentados, 5 (cinco) mulheres e 2 (dois) homens, com idades entre 66 a 76 anos. Para uma melhor compreensão dos achados da pesquisa esse tópico traz uma análise dos dados 63 coletados, os quais são possíveis constatar, ou não, as indagações iniciais da pesquisa, bem como se pode acrescer a percepção do que se propõe analisar para além do que se pode corroborar nos aspectos do fenômeno. Conforme apontado na metodologia a análise dos dados coletados deu-se através de observação participante e entrevista semiestruturada, no qual é uma das etapas relacionadas à pesquisa. A análise não é a última fase do processo de pesquisa; ela é cíclica ou concomitante à coleta de dados. A rigor, o processo de análise inicia-se no momento da própria coleta; essas duas etapas se comunicam. O processo de análise é sistemático e compreensivo, mas não rígido. A análise só termina quando os novos dados nada mais acrescentam quando entram num estado de saturação. (GIL, 2008, pg.176) É importante mencionar que antes da realização da pesquisa foi apresentado o objetivo do estudo, bem como teve livre consentimento da proprietária da instituição, juntamente com os interlocutores da pesquisa no qual foi apresentado o termo de consentimento livre e esclarecido. Primeiramente ocorreu um levantamento do número de idosos que adquirem o crédito pela financeira Maspcred, dados fornecidos pela mesma, cujo no ano de 2014 em uma média mensal de 23 idosos contratam o empréstimo consignado exceto o mês de janeiro, devido o aumento de salário ocorre um aumento de margem, a estimativa é de 180 idosos procurarem por o crédito. Após a seleção dos idosos através dos critérios, foram realizadas as entrevistas semiestruturadas com os idosos que aceitaram participar da pesquisa. As entrevistas apanharam o significado, e a interpretação que os sujeitos dão as suas práticas. As entrevistas foram realizadas no mês de novembro de 2014. Como já apontado, o empréstimo consignado é uma modalidade de crédito ofertada para aposentados e pensionistas do INSS, no qual teve início em dezembro de 2003, o governo lança o crédito consignado no mercado econômico para fazer estímulos à economia do país, a partir de então o empréstimo consignado para aposentados e pensionistas cresce em larga proporção. Os empréstimos consignados vêm assumindo o papel de único recurso visto pelos idosos no caso de uma situação especial. A partir dessa perspectiva 64 analisamos as falas dos entrevistados, no qual observamos os aspectos que levaram esses idosos a solicitarem o empréstimo consignado. A primeira pergunta tinha o objetivo de conhecer como ficaram sabendo sobre o empréstimo. Na fala de todos os entrevistados a publicidade, bem como propagandas na TV é a principal via de conhecimento. Veremos nas falas a seguir: Fiquei sabendo por uma vizinha que fez e eu também via sempre na televisão eles oferecendo, dizendo que o dinheiro está liberado no mesmo dia, mas não me disseram que era tão demorado assim “pra” terminar, onde eu passo o povo me entrega papeis, me mandando fazer empréstimos (Rosa, 74 anos). Eu via na televisão as propagandas falando que os aposentados podiam fazer. “Minha filha”, mas se eu soubesse que era tão caro, fiz um valor e pago é muito a mais (Lilás, 66 anos). Eu moro aqui na mesma rua e essa rua é cheia de loja de empréstimo, o povo passa entregando os panfletos, fica falando nos carros de som e na televisão (Azul, 76 anos). Tanta gente fala do empréstimo, o rádio, televisão, e eu mesmo vejo as lojas com os cartazes (Verde, 73). Vejo na televisão no rádio. Quando ia receber meu dinheiro sempre tinha gente lá fora dando os papeizinhos com os endereços dos lugares que fazia (Branco, 68). Vejo direto na televisão aquela mulher da novela dizendo que era fácil, no mesmo dia o dinheiro tava na conta e minha vizinha também me falou como era. (Preto, 71 anos). Os relatos dos entrevistados mostra que a publicidade, além de vender o produto vende também à ideia de que o empréstimo é a solução para qualquer tipo de situação que envolva dinheiro, e que a falta de esclarecimento é um dos principais fatores. A possível vulnerabilidade dos idosos se torna alvo fácil, no qual o idoso não é informado sobre taxas de juros, prazo etc. A publicidade das empresas é contundente ao afirmar que disponibilizam dinheiro rápido e fácil, sem burocracia, para você fazer o que quiser; que para sua vida ser mais completa basta que se utilize do crédito; que você sonha e os bancos, mediante a concessão de empréstimos, realizam o seu sonho e outras do gênero. (DUARTE; CAMPOS, 2014, p.03) Conforme os autores a publicidade é acompanhada de mensagens que deixa transparecer que o empréstimo é uma solução, mostra a felicidade que a 65 pessoa pode sentir após solicitar o crédito, que os problemas serão resolvidos, que todas as dificuldades poderiam acabar com a obtenção do empréstimo. A primeira vez que vi foi na televisão, eles só dizem que muito bom, mas não falam nada que é muito demorado, do tempo que a gente passa pagando, e nem fala que os juros é alto, eu sei por que meu vizinho me disse, mas eu já tinha feito quando ele veio me dizer como era caro.(Laranja, 72 anos). Ainda seguindo as considerações dos autores no qual diz: “A propaganda, eficiente na oferta de crédito, todavia, é ineficiente para alertar a população consumidora dos riscos do negócio, em especial do fenômeno do superendividamento” (DUARTE; CAMPOS, 2014, p. 03). Fica claro que um dos fatores que motivam a tomada do empréstimo é a publicidade, na qual passa informações enganosas com a omissão da realidade. Não só as recentes publicidades são abusivas, mas também são evidentemente enganosas. Em virtude da já tão falada vulnerabilidade do idoso, a concessão de crédito sob pretexto de dinheiro fácil esconde os malefícios advindos do consumo irresponsável – o superendividamento. (FIGUEIREDO; JÚNIOR 2005, p.16) Acerca dos fatores que impulsionam a tomada do crédito, obtivemos variadas respostas que veremos a seguir os relatos sobre quais foram os motivos que levaram a fazer o empréstimo consignado. É notório que motivos relacionados à saúde, e as melhores condições de moradia, são os mais comuns entre os interlocutores da pesquisa. Por que não tenho mais marido, “aí” o primeiro empréstimo eu fiz “pra” compra um óculos, porque deu no exame que eu estava precisando usar, “aí” comprei “o óculos”, como era caro e meu salário não dava, “aí” o que sobrou eu dei uma ajeitada na casa, fiz uns rebocos, os outros eu fiz quando precisava comprar alguma coisa cara, e também “pra” ajudar meus filhos. (Rosa, 74 anos) Um foi pra minha menina fazer um curso, outro “pra” eu fazer uma cirurgia por que faço tratamento de câncer, eu tirei a mama, e fiz outro “pra” pagar os exames “pra” fazer a cirurgia, exame de sangue. Esses exames demoram “ai” fiz pago “pra” ver se saia mais rápido, os outros foi “pra” ajudar na alimentação, nos estudos das netas, “aí” quando apertava eu corria aqui na loja “pra” ver se dava “pra” desapertar um pouco. (Lilás, 66, anos) “Pra” comprar uma cadeira de roda “pra” minha neta que é deficiente, e os outros comprava remédio, roupas, comida, e outras coisas. (Preto, 71 anos) 66 “Pra” pagar dívidas, pagar um agiota, e “pra” ajudar minha filha, também fiz “pra” pagar aluguel. (Laranja, 72 anos) Foi “pra” formar meu filho, eu tenho um filho que se formou em engenharia elétrica, a maioria desses empréstimos tudo foi “pra” ele, tudo “pra” comprar livros que era muito caro, teve um que eu fiz “pra” comprar o anel de formatura que ele queria. Fiz um também “pra” poder salvar minha vida, tive doente quase “me vou” embora, andei bem pertinho de morrer, porque me operei da prostra, tive uma infecção pulmonar, ”pra” poder salvar minha vida tive que fazer. O último que fiz foi ”pra” pagar a bodega que eu compro fiado e peço dinheiro emprestado, “aí” ele me cobra juros (Azul, 76 anos) Eu fiz por motivo de reforma na casa, precisava de um melhoramento. (Verde, 73 anos) Foi tanta coisa, precisava ajeitar uma encanação que vazava dentro do banheiro, e precisei comprar uns remédios muito caro, e no posto não dava, tive que comprar e ajudar uma filha minha “aí” fiz “pra” resolver tudo. (Branco, 68) Motta (2003) sinaliza, no qual diz que “os empréstimos consignados em folha de pagamento são uma arma de dois gumes. Programaticamente expostos para socorrer os idosos em ocasião especiais [...]” (p.71). Como podemos observar são inúmeros motivos aos quais levaram a decisão da tomada do crédito consignado. Cada entrevistado tem um motivo particular. Um dos pontos mais notórios relaciona-se a complexidade em relação à saúde. Outros fatores apresentados nas falas dos interlocutores que mais se repetiram bem como, família, moradia, educação dentre outros, no qual esses idosos aposentados acabam tendo o empréstimo como um recurso para solucionar apenas uma dada situação momentânea. Mas não é possível que se admita, a pretexto de fomentar a economia, e se oportunize, sem as devidas advertências, que o consumidor caia na esparrela do superendividamento. Isso, no Brasil, é tão grave que pode ser comparado a questões de saúde pública [...] o que se vê realmente são os aposentados esperando na fila do SUS para receberem atendimento médico. Esses então tentam obter seus medicamentos em farmácias públicas e, na maioria das vezes, seus medicamentos não são encontrados no SUS, ora por estarem em falta ora por não fazerem parte da lista de medicamentos essenciais. (DUARTE; CAMPOS 2014, p. 06). Bravo (2001) sinaliza que a questão da saúde está relacionada à questão do Estado e sociedade. Embora o direito a saúde seja universal, como diz na constituição de 1988 mediante as políticas públicas criadas para atender a 67 população. E para a população idosa conforme o Estatuto, o idoso tem o direito assegurado em relação à saúde, conforme aponta artigo 15º do capitulo VI do Estatuto do Idoso que diz: É assegurada a atenção integral à saúde do idoso, por intermédio do Sistema Único de saúde – SUS, garantindo-lhe o acesso universal e igualitário, em conjunto articulado e contínuo das ações e serviços, para a prevenção, promoção e recuperação da saúde, incluindo a atenção especial às doenças que afetam preferencialmente os idosos (BRASIL, Estatuto do Idoso p. 17). Hoje podemos perceber que a grande onda de privatização condiz a um sucateamento dos serviços públicos, no qual gera a precarização nos atendimentos de saúde, não só apenas dos idosos, mas de toda população. Vivendo essa triste realidade e o idoso procura outros meios para cuidar da saúde, e o empréstimo consignado a curto e longo prazo, muitas vezes é a única saída. Quando perguntado se é responsável pelas despesas da família, todos os entrevistados relatam que são os mesmos que provem o sustento familiar destacamos as seguintes falas: Sou eu, não tem quem me ajude meu marido morreu em 85, tenho uma filha que vive dentro de casa comigo, mas não trabalha e tenho cinco netos “pra” dar o que comer, fica muito difícil só eu “pra” tudo. A sorte é que eu morro no bairro do horto e lá é uma área indígena, planto num terreno, planto milho feijão, “aí” da uma ajuda, mas mal to podendo plantar, vivo doente, mas o pouco que eu planto me serve. (Rosa, 74 anos). No momento sou eu que compro tudo, por que minha filha que mora mais eu tá grávida e o pai anda no mundo viajando em um navio, e minha neta que mora mais eu só tem 14 anos, não trabalha eu compro comida e ainda pago uns cursos “pra” ela. (Lilás 66 anos) Sou. Agora que minha filha vai começar a trabalhar o primeiro emprego dela, “pra” me dar uma ajuda por que é tudo nas minhas costas, pode ser que agora seja melhor. (Laranja, 72 anos) Eu e Deus. Não tem ninguém que ajude! Minha filha até agora tá sem emprego, ta vendendo Natura e roupas de uma amiga dela, mas ganha pouco mal da “pra” pagar as coisas do filho, então “é” eu “pra” tudo. (Branco,68 anos) Camarano (2004, p. 71) fala sobre o exposto. Nas famílias cujos idosos são chefes, encontra-se uma proporção expressiva de filhos e netos morando juntos. Essa situação deve ser 68 considerada à luz das transformações por que passa a economia brasileira [...]. A esse respeito à autora afirma que: “Este idoso, cada vez mais, está redistribuindo sua aposentadoria ou pensão entre os seus familiares pessoas que vivem com ele e, que não estão conseguindo se sustentar” (CAMARANO, 2004, p. 81). Refletindo sobre este aspeto conforme os relatos dos idosos entrevistados, que percebemos que é um fato muito corriqueiro, os idosos utilizarem sua aposentadoria como principal fonte de renda da família. Quando nos referimos se os mesmos possuem outra fonte de renda, e se ainda trabalham, obtivemos as seguintes respostas. Eu trabalhava com artesanato fazia bonequinhas, cestinha um bocado de coisinhas de palha de papel, mas não posso mais fazer, não posso mais trabalhar tenho um problema de hérnia, osteoporose, e na coluna. Vivo só desse dinheirinho “veio”, passo muita necessidade muita mesmo, o que desconta da gente faz muita falta no fim do mês, por que se a gente tivesse o dinheiro todinho, não precisava comprar fiado. Porque eu mesma sou sozinha, tenho 5 netos que “depende” de mim, e tem a mãe deles também que era empregada doméstica, mas saiu, se separou do marido, “aí” mora tudo comigo, dentro de casa, e não tem que ajude, tem uma criança de 9 meses, a bichinha passa necessidade por que tem só o bolsa família de cento e pouco, é pouco “pra” sustentar cinco crianças, não dá e o meu só é quatrocentos e pouco, que eu recebo.(Rosa , 74) Eu vendo tudo que os outros me dá, vendo reciclado, coisas que o povo não quer mais. Não tenho mais idade de trabalhar fora, tenho que me virar, o meu salario é pouco por que pago esses empréstimos. (Laranja, 72 anos) Vendia dindim e cocada, mas não vendo mais, agora só o dinheiro da aposentadoria mesmo. Não trabalho mais. Quem vai querer dar emprego “pra” uma velha dessas? (Branco, 68 anos) Lavo roupa para uma vizinha e ela me da uma ajudinha, me dá umas comprinhas, não trabalho mais não e nem posso cuidando dos meus netos. Por que coragem eu tenho de trabalhar. (Preto, 71 anos) Trabalho mais não. Tenho apenas o dinheiro da minha aposentadoria. (Verde, 73 anos). Nas falas destacadas percebemos um nível elevado de idosos que necessitam de algum tipo de atividade extra para complementar a renda familiar. Um fator relevante é a exclusão do idoso ao mercado de trabalho formal, o mesmo é excluído restando apenas o livre acesso ao mercado informal. Na fala da entrevistada Laranja, observa-se que a mesma utiliza a reciclagem como fonte de 69 renda extra, devido relatar que não tem mais idade para trabalhar com vínculo formal. Segundo as considerações de Camarano (2004), ao chegar à idade idosa, as pessoas investem em bens de consumo e na manutenção da família, visto que a renda é destinada a sua própria subsistência. Entretanto sua renda na maioria das vezes sequer atinge as necessidades básicas do próprio idoso o que resulta na entrada do trabalho informal. Como relatam os entrevistados que utilizam os mais variados meios de atividades complementares bem como venda de lanches, artesanatos, materiais reciclados etc. Quando indagados se o empréstimo foi uma solução ou problema obtivemos relatos imparciais, os quais apontam ambiguidade sobre esta questão. Primeiramente foi uma solução, foi minha mão direita, mas agora devido eu ter pedido muito dinheiro, ficou difícil ”pra” pagar, mas to pagando, já vem descontado né. (Azul, 76 anos). Foi uma maravilha, mas agora é um pesadelo, não tem mais fim, acaba mais não. Já faz muitos anos que desconta o que desconta faz muita falta, muita falta mesmo. Mas se precisar e for o único jeito tenho que fazer outro, por que preciso muito. Tenho que ajudar minha filha e minha neta também. (Laranja, 72 anos). A gente faz “né”? E compra o que a gente quer “ai” depois fica sem dinheiro, fica descontando, “ai” isso ”pra” mim foi uma derrota, foi uma coisa que o governo fez muito mal feita, por que só serve naquela hora, passou daí, o dinheiro da gente diminui e fica bem pouquinho ”pra” mim é um problema. (Rosa,74 anos) Foi muito proveitoso, hoje em dia minha casa é boa toda na cerâmica, se tivesse do jeito que tava já tinha era caído, fiz ”pra” reformar e melhorou muito. (Verde, 73 anos) Se eu soubesse que era tão demorado ”pra” acabar nunca tinha feito, tinha passado apertado mesmo, então foi um problema. (Branco, 68 anos) Foi uma solução, se não fosse esse empréstimo a gente passava ruim, achei bom. (Lilás, 66 anos) Minha filha no começo foi tudo perfeito. Uma solução. Recebi um dinheirinho até bom, comprei a cadeira sobrou um pouquinho, mas quando comecei a fazer os outros, ficou bem pouquinho meu salario, mas fui obrigada a fazer, eu acho que não foi um bom negócio não, mas foi o jeito. É uma bola de neve parece que não tem fim agora acho que é um problema. (Preto, 71 anos). Em relação aos relatos dos entrevistados, Magalhães aponta a seguinte reflexão, 70 [...] quando começaram as operações com desconto em folha dos seguros do Instituto Nacional de Segurança Social (INSS), especialistas já previam o endividamento crescente dos aposentados e pensionistas. A previsão se concretizou e repercute nas vendas do comércio. Como parte da renda está comprometida com o pagamento dos empréstimos, os segurados sentiram mais dificuldades para honrar outras despesas. (2007,p.4). Motta (2013) confirma a fala da maioria dos entrevistados, [...] satisfeitos ou não, com proventos baixos de aposentadoria e ainda com o ônus de sustento da família, acumulam as dificuldades financeiras, e o recurso a empréstimos parece ser a solução, principalmente o crédito consignado, todo o tempo apregoado publicamente como fácil e tranquilo, parece uma solução natural e adequada, um porto seguro. Podemos perceber que a maioria das respostas dos entrevistados sofre uma variação em relação ao início do empréstimo e ao término, cujo mesmo relatam que inicialmente era uma solução, mas devido ao extenso prazo, acaba se tornando um problema, dois dos entrevistados atestam ser uma solução, e apenas um entrevistado relata ser completamente um problema. Fica claro nos relatos dos entrevistados que o empréstimo é uma espécie de medida paliativa, ou seja, algo momentâneo que não resolve por completo a causa do problema. Nos relatos a seguir é apresentada a opinião dos entrevistados sobre se fará um novo empréstimo e o porquê ? Refletindo sobre as resposta dos entrevistados, observa-se que apesar de todos os danos causados pelo o empréstimo, o aposentado ainda vê o mesmo, como a única medida capaz de mediar tal situação. Sim, vou fazer “pra” pagar a bodega e pagar o dinheiro que eu pedia emprestado para um amigo agiota, ele me cobrava só 5% de juros, mas foi juntando, juntando e já está em 6.000,00 reais, ele vai se mudar e eu tenho que pagar tudo, vim aqui saber se eu posso renovar os que já tenho e fazer outro “pra” resolver logo isso (Azul, 76 anos). Vou fazer outro sim, porque vou precisar “pra” comprar umas coisas, minha filha, apesar dos pesares é o único canto me empresta dinheiro. (Lilás, 66 anos) To pretendendo fazer outro “pra” poder ajeitar o túmulo da minha esposa que faleceu, está tão velho, queria mandar reformar lá. Vou ver se da certo fazer outro. (Verde, 73 anos) 71 As situações de dificuldades financeiras apresentada pela as falas dos entrevistados mostram diversos fatores no qual o idoso enfrenta no seu cotidiano. Que muitas das vezes seus proventos não suprem se quer as suas necessidades básicas. Em um país que vem realizando, seguidamente, insatisfatórios ajustes e reformas da Previdência Social, e ainda assim ignora verdadeiramente o grau alto da pobreza da população, não surpreende o recurso ou a recomendação de realização de empréstimos, como se fosse garantida àqueles que dispõem de algum pecúlio, a possibilidade de, por esse meio, saldar as dívidas contraídas (MOTTA, 2013 p. 75). No entanto o governo federal lançou o empréstimo consignado como um benefício para os aposentados, uma possível saída para a quitação de dívidas. Ao referirmos ao contexto familiar de como é a relação com a sua família, obtivemos as seguintes indagações de como os mesmos se relacionam em família. Graças a Deus é muito boa, não é “mais boa” por que eles não têm como me ajudar, tem um filho que trabalha vendendo picolé, “aí” vive disso. Os outros estão por aí vivendo a vida deles, mas não podem me ajudar, o que ganha mal dá “pra” eles, e essa que mora comigo é boa, mas coitada, tem cinco filhos e ela não trabalha, eu que sustento. Aí vivemos do jeito que Deus quer “né”? A gente é pobre, mas somos unidos. (Rosa, 74 anos) Meus filhos são todos do bem, não me dão trabalho, é boa a relação, eles vêm me visitar quando podem, eles não me dão trabalho, são muitos “bom” (Lilás, 66 anos). É boa, iluminada por Deus, minha filha que mora comigo é calada na dela, eu não me meto na vida dela e nem ela na minha, às vezes brigamos por causa da minha neta, não concordo com umas coisas que ela faz, mas vivemos bem. (Laranja, 72 anos). Conforme as falas destacadas existem uma harmonia nas relações familiares no qual os entrevistados relatam ter uma boa convivência com seus filhos. Segundo Camarano: Os seus membros se ajudam na busca do alcance do bem-estar coletivo, constituindo espaço de conflito cooperativo onde se cruzam as diferenças por gênero e intergeracionais. Daí surge uma gama variada de arranjos familiares. (2004, p. 137) As famílias vêm se apresentando nas mais variadas composições, não existe apenas um único modelo familiar. 72 Não existe um único modelo familiar. A família, pela perspectiva histórica, tem se apresentado em diversas composições e características. Inclusive, num mesmo espaço histórico, têm coexistido, e ainda coexistem, diversos modelos familiares, embora sempre haja um que predomine, isto é, que seja hegemônico (CALDÉRON; GUIMARÃES, 1994, p. 23). Não só apenas de harmonia vivem as famílias, os conflitos familiares são comuns nas famílias com pessoas idosas. A convivência é mais ou menos, minha irmã às vezes fica intrigada comigo, mas eu nem ligo e minha filha “escorona”, quer deixar o menino nas minhas costas “pra” ir “pras” festas. A gente briga muito “por causa que” ela não cria juízo. (Branco, 68 anos). Para finalizar, achamos interessante saber qual a percepção dos entrevistados sobre o empréstimo consignado. É uma coisa sem futuro, só serve na hora mesmo, depois me atrapalha muito, por que se eu tivesse todo o meu salário, fazia minhas compras no final do mês, “ai” depois vai se mantendo do jeito que a gente pode, mas agora depois do empréstimo ta muito difícil, falta a mistura, o leite “pros” bichinho. Nunca mais eu faço, eu acho que o empréstimo é uma coisa muito sem futuro que o governo fez. Sem falar que não acaba mais nunca (Rosa, 74 anos) Só achei bom no dia que fiz, recebi muito dinheiro, paguei o agiota que me ameaçava, fiquei livre. Pedia dinheiro emprestado “pra” poder pagar o aluguel, mas agora sinto falta do dinheiro que é descontado, eles nunca me disseram que ia demorar “pra” acabar, mas é isso mesmo a vida não “tá” fácil. Então foi bom e depois foi ruim. (Laranja, 72 anos) Vivo aperreada por causa desses empréstimos, dinheiro é bom “né”? Mas “pra” pagar que é demorado, não sabia que demorava tanto assim, vou morrer e não acaba, esses bancos só querem acabar com a gente, me arrependi de ter feito. (Branco, 68 anos) Eu pensei que era bom, recebi o dinheiro e achei que era um ano só pagando, mas é nada, demora muito, eles tão é com sabedoria, não estou achando bom não, o dinheiro que desconta já dava “pra mim” comprar minhas coisinhas. (Preto, 71 anos) As falas destacadas revelam que a falta de informação sobre as normas dos empréstimos, é a maior causadora do endividamento dos aposentados e pensionistas. Conforme vistos as propagandas são ineficientes, porém elas não alertam a população sobre os ricos trazidos pelo o negócio. As mensagens da publicidade apenas mostram imagens de contentamento, felicidade e bem-estar que aquela pessoa poderia sentir após adquirir a operação de 73 crédito. De acordo com os relatos da maioria dos entrevistados, o empréstimo é algo momentâneo, o problema que ele deixa é bem maior do que aquele solucionado. A linguagem utilizada pelas instituições financeiras em seus diversos modelos de contrato não é acessível ao público alvo, pessoas carentes, com baixo grau de instrução e, via de regra, aposentados e pensionistas do INSS, o que faz com que seu público alvo tenha avançada faixa etária. Além disso, o tamanho da fonte utilizada (letras muito pequenas, com espaçamento mínimo entre as frases) dificulta a leitura dos mais idosos, via de regra, repito, com baixo grau de escolaridade (SOARES, 2007, p. 05). Assim como o empréstimo passa a ser um problema com o passar do tempo para alguns, para outros, foi apenas solução, ao resolver aquela dificuldade, conforme as falas a seguir. Eu achei bom, foi à única forma que achei de pegar um dinheiro emprestado, me ajudou muito na hora que eu precisei, então foi bom. (Lilás, 66 anos) Digo que foi bom, fiz o que tinha que fazer, eu formei o meu filho, comprei todos os livros e o anel de formatura, e me socorreu quando estava doente, pagava exames, remédios. Foi um bom negócio. (Azul, 76 anos) Achei uma coisa boa, tira a gente do sufoco, reformei tudo, hoje tenho uma baita casa, se a gente souber controlar da certo. (Verde, 73 anos) Apesar dos possíveis danos que o empréstimo possa causar, para outros ele foi o único recurso existente para suprir as dificuldades financeiras. Conforme relata as falas acima. O empréstimo consignado no Brasil tem aumentado em larga proporção e vem afetando principalmente a vida dos idosos com um baixo nível de escolaridade, conforme visto nos relatos dos entrevistados. Um dos fatores importantes exposto pelos os entrevistados foi que todos se consideram responsáveis pelas despesas do lar, no qual necessitam de atividades complementares. Nesse estudo verificou-se que os aposentados adquirem o empréstimo com a intenção de suprir dificuldades financeiras e que esse recurso parece ser a única solução. 74 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS O presente estudo possibilitou conhecer o sentido da velhice em vários aspectos. Conforme apresentado o envelhecimento implica inúmeras mudanças no contexto socioeconômico brasileiro. O largo crescimento da população idosa é um fenômeno mundial, o que exige uma participação mais eficaz das políticas públicas voltadas para esse segmento da população e principalmente políticas na área da saúde, visto que a saúde ainda é um dos maiores problemas enfrentados pelos idosos no Brasil. Vimos na teoria que os idosos são assegurados por diversos direitos, no qual foram conquistados ao longo do tempo. Porém, todos esses direitos assegurados na Constituição Federal de 1988 se tornam distante da realidade que vivem os idosos brasileiros. Diante de tantas dificuldades que perpassa a realidade social dos idosos, a exclusão ao mercado de trabalho se torna um fator relevante que leva a maioria desses idosos a se submeterem as mais variadas atividades para complementar a renda familiar. A exclusão ao mercado de trabalho e a ausência da assistência social, incluiu o idoso em uma posição de exclusão em todas as esferas sociais. O envelhecimento constitui-se como grande problemática em relação à ordem do capital, causando uma vulnerabilidade social da população que envelheceu, principalmente quando perdem o valor de uso para o capital devido à idade, as dificuldades vividas por essa população são advindas dessa lógica capital e trabalho. Ao adquirir a aposentadoria é que o idoso volta a ter um pouco mais de “valor”. O mesmo volta a contribuir com a economia do país. Vimos que no ano de 2003 o governo federal entrega para o mercado financeiro uma impressionante fonte de lucros. Uma linha de crédito que cresce em largas proporções, conforme mostra o estudo, porém, para sustentar essa nova modalidade é necessário o uso da publicidade no qual vimos que é um dos principais meios utilizados para propagação do empréstimo consignado, as financeiras e bancos se aliam as mais variadas 75 estratégias de marketing, no qual induzem os aposentados e pensionistas a usufruírem o referido crédito. As empresas são contundentes ao apresentar propagandas com facilidades e rapidez sem qualquer tipo de burocracia no qual seduzem os idosos, principalmente aqueles desprovidos de conhecimentos. De acordo com as análises feitas com aposentados, que usam os serviços de crédito da financeira Maspcred no município de Maracanaú-CE. O perfil identificado da maioria dos aposentados que fazem empréstimo na referida financeira mostrou um baixo nível de escolaridade, o que repercute diretamente no valor das aposentadorias. Além disso, o desconhecimento sobre financiamento e empréstimos são os principais fatores no qual se tornam alvos fáceis dessas instituições que omitem as taxas de juros e o prazo de término e o entendimento em relação à operação de crédito. Um fator fundamental é o esclarecimento sobre as consequências que essa operação pode causar, as observações realizadas nos possibilitou perceber o quanto é importante o esclarecimento de todos os detalhes antes da contratação do crédito, conforme os relatos essas informações são omissas, mostrando apenas o lado bom. Nesse estudo verificou-se que os aposentados adquirem o empréstimo consignado, como uma espécie de renda extra, para solucionar tal situação, nessas situações destacou-se a saúde, e o ônus de sustento da família. O aposentado e o pensionista só conhecem as benfeitorias mostradas pela publicidade que mascara a realidade. Um dos pontos que nos chamou atenção foi o fato de alguns dos entrevistados relatarem que apesar de saberem que o empréstimo não foi um bom negócio, mas quando indagados se havia possibilidade de fazer um novo, os mesmos respondem que sim, visto que é um meio rápido e fácil de solucionar eventuais situações. Os interlocutores da pesquisa se mostraram imparciais, em relação o empréstimo ser um problema ou uma solução, porém no inicio é dito como uma solução e com o passar do tempo devido o longo prazo de término é dito com um grande problema. 76 Conforme observado o empréstimo consignado faz parte do cotidiano dos aposentados, mas apenas o lado positivo é exposto, e as reais consequências são maquiadas, no qual só aparecem com o passar do tempo. Por fim, o referido fenômeno requer a necessidade de reformulação legislativa, principalmente em relação à falta de informações precisas antes da aquisição do empréstimo consignado. Entretanto observou-se que o empréstimo consignado foi uma medida para solucionar um problema, mas acabou se transformando em um problema maior do que aquele solucionado. O estudo nos possibilitou responder aos objetivos expostos na pesquisa, bem como, identificar o significado do empréstimo consignado para a vida dos idosos usuários da Financeira Maspcred do Município de Maracanaú/CE. Identificamos o seguinte: - O Estado não supre a demanda na área da saúde, conforme visto nos relatos dos entrevistados os gastos com a saúde é um dos principais fatores que motivam a tomada do crédito. - Quanto mais baixo o salário, maior ocorrência de empréstimo gerando um ciclo vicioso de endividamento. - Mesmo aposentado, os sujeitos tinham outra ocupação para melhorar a renda. - A maioria dos idosos reside com algum membro da família, cujo se consideram responsáveis pelo lar. - O baixo nível de escolaridade colabora para que o idoso não conteste sobre juros, prazos etc. - Percebe-se que os entrevistados estão vivendo em um ciclo de dependência econômica, devido ao fato de um salário não corresponder a todas as despesas, principalmente após 30% de sua renda estar comprometida com o empréstimo consignado. - Identificamos que a mídia mascara as consequências trazidas pelo o referido empréstimo, cujo é negada as informações precisas, apenas as vantagens são expostas. Entendemos que este trabalho não se encerra nas conclusões que obtivemos no decorrer da pesquisa, e que, ainda, há categorias que podem ser exploradas, a fim de nos possibilitar uma visão mais ampla da realidade dos idosos. 77 REFERÊNCIAS ADEJUR-I. 30% dos idosos têm dívidas no cartão ou consignado. Disponível em:<http://www.adejuri.com.br/30_dos_idosos_tem_dividas_no_cartao_ou_consignado.ht ml> Acesso em: 19 de novembro de 2014. AMBEP. Endividamento cresce mais entre idosos. 13 de novembro de 2014. Disponível em: <http://www.ambep.org.br/endividamento-cresce-mais-entre-idosos/> Acesso em: 19 de novembro de 2014. BEAVOUIR, Simone de. A velhice. MONTEIRO, Maria Helena Franco. (trad.). Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1990. BEHRING, Elaine Rossetti. OSCHETTI, Ivanete. Política social: fundamentos e história. - 9. Ed. – São Paulo: Cortez, 2011. – (Biblioteca básica de serviço social; v. 2). BOSCHETTI, I. Previdência e Assistência: uma unidade de contrários na seguridade social. 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Quantos empréstimos têm? Como ficou sabendo sobre o empréstimo? Quais foram os motivos que levaram a fazer o empréstimo consignado? Foi para seu usufruto ou para terceiros? O empréstimo foi uma solução ou problema? Fará um novo empréstimo, por quê? Qual a posição da família em relação ao empréstimo consignado? O senhor é responsável pelas despesas da família? Tem outra fonte de renda? Ainda trabalha? Como é a relação com a sua família? Qual a sua percepção sobre o empréstimo consignado? 82 APÊNDICE - B TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO Titulo da Pesquisa: Repercussões sociais de empréstimos consignados à pessoa idosa: uma análise dos (as) usuários (as) da Financeira Maspcred no Município de Maracanaú-ce. Você está sendo convidada para participar de uma pesquisa sobre o empréstimo consignado. Nesta pesquisa pretendemos conhecer os significados do empréstimo consignado, bem como suas causas e consequências. Temos por objetivo conhecer o significado do empréstimo consignado para a vida dos idosos usuários da Financeira Maspcred do Município de Maracanaú/CE. Espera-se que os resultados desta pesquisa contribuam para uma maior discussão sobre as causas e consequências do empréstimo consignado. Essa pesquisa não oferece risco físico e/ou emocionais aos participantes envolvidos. Porém, sabemos que qualquer situação que envolve pessoas, pode causar algum tipo de desconforto, principalmente quando se trata de um tema relacionado ao mundo particular das pessoas. Por estas questões tentaremos alcançar os objetivos da pesquisa de forma mais respeitosa possível, considerando todos os aspectos éticos do processo. De todo modo, você poderá interromper sua participação a qualquer momento, sem sofrer nenhum tipo de prejuízo. Eu ________________________________________________, dou meu consentimento para minha participação como voluntária desta pesquisa, sob a responsabilidade da pesquisadora __________________________________________, graduanda em Serviço Social pela Faculdade Cearense – FaC. Após ouvir os esclarecimentos, assino o Termo de Consentimento em duas vias ciente de que: 1. Durante o estudo participei de uma entrevista, que dura em média 1h, composta de questões relacionadas aos objetivos acima mencionados. 83 2. Obtive todas as informações necessárias para poder decidir conscientemente sobre a participação na referida pesquisa. 3. As entrevistas serão gravadas e meus dados pessoais serão mantidos em sigilo. Os resultados gerais obtidos através da pesquisa serão utilizados apenas para alcançar o objetivo do trabalho exposto acima, incluindo sua publicação na literatura científica especializada. 4. Terei acesso aos resultados da pesquisa, através da pesquisadora responsável pelo projeto assim que for encerrada. 5. Poderei contatar o Comitê de Ética ou a Coordenação do Curso de Serviço Social da FAC, pelo telefone 85 3201-7000 para apresentar recurso ou reclamações em relação à pesquisa, se achar necessário, o qual encaminhará o procedimento adequado. 6. Poderei entrar em contato com a pesquisadora responsável através do telefone ________________ ou pelo e-mail: _____________________________________. Maracanaú, ________ de _____________________ 2014. __________________________ ___________________________ Assinatura da Participante Cláudia Mendes da Silva