ISOLAMENTO E CARACTERIZAÇÃO DE MUTANTES DE Gluconacetobacter diazotrophicus DEFECTIVOS PARA OSMOTOLERÂNCIA MARCOS VINICIUS VIANA DE OLIVEIRA UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE FLUMINENSE DARCY RIBEIRO CAMPOS DOS GOYTACAZES – RJ FEVEREIRO - 2008 ISOLAMENTO E CARACTERIZAÇÃO DE MUTANTES DE Gluconacetobacter diazotrophicus DEFECTIVOS PARA OSMOTOLERÂNCIA MARCOS VINICIUS VIANA DE OLIVEIRA Dissertação apresentada ao Centro de Biociências e Biotecnologia da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, como parte das exigências para obtenção do título de Mestre em Biociências e Biotecnologia Orientador: Prof. Gonçalo Apolinário de Souza Filho CAMPOS DOS GOYTACAZES – RJ FEVEREIRO – 2008 ISOLAMENTO E CARACTERIZAÇÃO DE MUTANTES DE Gluconacetobacter diazotrophicus DEFECTIVOS PARA OSMOTOLERÂNCIA MARCOS VINICIUS VIANA DE OLIVEIRA Dissertação apresentada ao Centro de Biociências e Biotecnologia da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, como parte das exigências para obtenção do título de Mestre em Biociências e Biotecnologia Aprovada em 22 de Fevereiro de 2008 _________________________________________________________________ Prof. Anna Lvovna Okorokova Façanha (D.Sc, Química Biológica) – UENF _________________________________________________________________ Prof. Victor Martin Quintana Flores (D.Sc, Biociências e Biotecnologia) – UENF _________________________________________________________________ Jean Luiz Simões de Araújo (D.Sc, Ciências Biológicas - Genética) – EMBRAPA _________________________________________________________________ Prof. Gonçalo A. de Souza Filho (D.Sc, Biociências e Biotecnologia) – UENF (Orientador) AGRADECIMENTOS Ao Deus Uno e Trino, que com seu infinito amor é o regente da orquestra da minha vida. A CAPES pela bolsa de mestrado concedida. Ao CNPq, FINEP, FAPERJ e a UENF pelo apoio financeiro Aos meus pais, Sebastião D. de Oliveira e Tânia Viana de Oliveira por todo apoio dedicado a mim e por compreenderem a minha ausência em momentos tão importantes. A minha irmã Aline Viana de Oliveira por ser um instrumento de santificação na minha vida. A minha avó Mercedes Paula Dantas de Oliveira, pela constante intercessão pelo meu sucesso. Aos meus avós maternos Heraldo Vianna e Alfredina Vianna, pelo apoio e carinho que sempre tiveram por mim. Aos meus tios (as) e primos (as) por direta ou indiretamente colaborarem no cumprimento desta trajetória. Aos meus amigos e amigas da Escola de Evangelização Santo André por ser a minha família na cidade de Campos. Obrigado por todo amor dispensado a mim. A amiga e companheira de trabalho Aline Chaves Intorne pela força, incentivos, conversas, mas sobre tudo pelo companheirismo e profissionalismo que foram essenciais para a elaboração desta dissertação. As amigas Mariana e Juliana pela convivência agradável e troca de experiências. Aos amigos Leandro de Mattos Pereira e Bruno dos Santos Esteves pelas conversas, momentos de distração, discussão científica. Sem vocês minhas refeições teriam sido muito solitárias. As amigas Beatriz Ferreira e Valéria Lopes Marques por todo apoio e carinho com que sempre me trataram. Aos meus companheiros e companheiras de grupo de pesquisa. A agradável convivência com vocês foi essencial para tornar agradáveis os trabalhos realizados. Ao amigo Mateus do Nascimento pela agradável convivência em nossa república. ii A todos que direta ou indiretamente contribuíram para a realização deste trabalho. Aos membros da banca, Dra. Anna Okorokova, Dr. Victor Martin Flores e Dr. Jean Luiz Simões, pelas contribuições ao trabalho; A Dra. Adriane Nunes por toda dedicação na revisão da Dissertação. Ao professor Gonçalo A. de Souza Filho pela orientação. . iii ÍNDICE ÍNDICE................................................................................................................... iv ÍNDICE DE FIGURAS............................................................................................ vi ÍNDICE DE TABELAS........................................................................................... vii RESUMO............................................................................................................... viii ABSTRACT........................................................................................................... ix 1 – INTRODUÇÃO................................................................................................. 01 1.1 – Gluconacetobacter diazotrophicus......................................................... 01 1.1.1 – Os habitats de G. diazotrophicus.................................................... 01 1.1.2 – Características promotoras do crescimento vegetal....................... 03 1.1.2.1 – Fixação biológica de nitrogênio........................................... 03 1.1.2.2 – Síntese “in vitro” de hormônios vegetais............................. 04 1.1.2.3 – Solubilização de nutrientes minerais................................... 05 1.1.3 – Aspectos fisiológicos e bioquímicos de G. diazotrophicus.............. 05 1.2 – Resposta de bactérias a estresses ambientais...................................... 07 1.2.1 – Estresse osmótico........................................................................... 08 1.2.2 – Resposta de bactérias ao estresse osmótico..................................08 1.2.3 – Resposta de G. diazotrophicus ao estresse osmótico.................... 11 1.3 – Genômica funcional................................................................................ 11 1.3.1 – Projeto RioGene.............................................................................. 13 2 – OBJETIVO....................................................................................................... 14 2.1 – Objetivos específicos.............................................................................. 14 3 – MATERIAIS E METODOS............................................................................... 15 3.1 – Microrganismos...................................................................................... 15 3.2 – Meios de cultivo...................................................................................... 15 3.3 – Condições de cultivo.............................................................................. 16 3.4 – Análise do nível de tolerância de G. diazotrophicus a altas concentrações de sorbitol................................................................... 17 3.5 – Escrutínio de mutantes sensíveis a estresse osmótico por sorbitol....... 17 3.6 – Curvas de crescimento em sorbitol dos mutantes selecionados............18 3.7 – Análise do efeito de diferentes agentes estressantes sobre o crescimento dos mutantes selecionados............................................ 18 3.8 – Extração do DNA genômico bacteriano................................................. 19 3.9 – Confirmação da transposição por PCR.................................................. 19 iv 3.10 – Análise do número de inserções do transposon em cada mutante......19 3.11 – Identificação das seqüências interrompidas nos mutantes selecionados para estresse osmótico................................................. 20 4 – RESULTADOS................................................................................................. 21 4.1 – Sensibilidade de G. diazotrophicus PAl5 a sorbitol................................ 21 4.2 – Escrutínio de uma biblioteca de mutantes de inserção de G. diazotrophicus..................................................................................... 21 4.3 – Confirmação da presença e do número de inserções do transposon no genoma de G. diazotrophicus..................................... 22 4.4 – Obtenção de curvas de crescimento dos mutantes selecionados na ausência e na presença de 1,1 M de sorbitol................................ 25 4.5 – Identificação das seqüências gênicas interrompidas pelo transposon... 25 4.6 – Sensibilidade dos mutantes ao estresse osmótico.................................27 4.7 – Efeito do estresse salino sobre o crescimento da cepa selvagem e dos mutantes................................................................................... 30 4.8 – Efeito combinado de NaCl e sacarose sobre o crescimento dos mutantes...................................................................................... 32 4.9 – Análises dos genes identificados........................................................... 36 5 – DISCUSSÃO.................................................................................................... 40 6 – CONCLUSÕES................................................................................................ 48 7 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................ 49 v ÍNDICE DE FIGURAS Figura 1. Gel de agarose 1%. Confirmação da presença do Transposon Tn5 no DNA genômico de G. diazotrophicus via PCR....................... 23 Figura 2. Hibridação DNA/DNA para verificação do número de inserções do Transposon no genoma de G. diazotrophicus............................... 24 Figura 3. Curvas de crescimento da bactéria G. diazotrophicus na ausência e presença de 1,1 M de sorbitol..................................... 26 Figura 4. Efeito de diferentes agentes osmóticos sobre o crescimento dos mutantes...................................................................................... 29 Figura 5. Crescimento dos mutantes na presença de diferentes agentes osmóticos.............................................................................. 31 Figura 6. Efeito do estresse salino sobre o crescimento dos mutantes............... 33 Figura 7. Crescimento dos mutantes sobre estresse salino................................ 34 Figura 8. Efeito protetor da sacarose contra o estresse provocado por NaCl..... 35 Figura 9. Domínios conservados nos genes interrompidos pelo transposon Tn5................................................................................... 37 Figura 10. Seqüências anotadas como nifU e suas respectivas posições no genoma de G. diazotrophicus........................................................ 39 vi ÍNDICE DE TABELAS Tabela 1. Composição do Meio DYGS................................................................. 15 Tabela 2. Composição do Meio LB-Miller............................................................. 16 Tabela 3. Seqüências genômicas flanqueadoras do sítio de inserção do transposon nos mutantes de G. diazotrophicus PAl5 sensíveis a estresse osmótico............................................................ 27 vii RESUMO O estresse osmótico é um dos fatores ambientais mais comuns encontrados pelos organismos vivos, incluindo as bactérias. Os procariotos têm desenvolvido ao longo da evolução diferentes mecanismos para superar os efeitos deletérios das condições hipo e hiperosmóticas. Gluconacetobacter diazotrophicus é uma bactéria Gram-negativa, considerada promotora do crescimento vegetal. Em sua caracterização inicial, foi observado que G. diazotrophicus pode colonizar diferentes tecidos da planta de cana-de-açúcar. Sua condição ótima de crescimento foi determinada sendo em 10% de sacarose, podendo esta chegar até 30%, sem que a bactéria tenha o seu crescimento interrompido. O principal objetivo deste trabalho foi estudar os mecanismos envolvidos na osmotolerância de G. diazotrophicus, através da identificação e caracterização de mutantes afetados para esta característica. Para tanto, uma biblioteca de mutantes de inserção foi escrutinada na presença de altas concentrações de sorbitol a qual permitiu a identificação de três genes de G. diazotrophicus envolvidos na osmotolerância. O fenótipo sensível dos mutantes foi confirmado através de curvas de crescimento em meio líquido e também através do crescimento de colônias em meio sólido. As seqüências mutadas apresentaram identidade com uma proteína de formação de grupamentos ferro-enxofre nifU , uma proteína de estresse universal UspA e uma proteína hipotética de G. diazotrophicus. Para determinar o comportamento da cepa selvagem e dos mutantes ao estresse salino, as bactérias foram inoculadas em meio sólido suplementado com NaCl, KCl e Na2SO4. Os resultados demonstraram que o NaCl e KCl foram mais tóxicos para cepa selvagem e mutantes do que o Na2SO4 nas mesmas concentrações. Demonstrando assim a toxicidade do íon cloreto para G. diazotrophicus durante o estresse salino. Para verificar a capacidade da sacarose em proteger a bactéria contra o estresse salino foi feito um ensaio utilizando a combinação de NaCl e sacarose. Sacarose foi capaz de recuperar o crescimento da cepa selvagem e de dois dos mutantes isolados, revelando assim que este açúcar pode ser usado como um osmoprotetor por G. diazotrophicus. Palavras-chave: Gluconacetobacter diazotrophicus; mutantes Osmotolerância; Sorbitol; Estresse salino; Cloreto; Sacarose. viii de inserção; ABSTRACT The osmotic stress is one of the environmental factors most common faced by live organisms, including bacteria. Prokaryotes have been developed along the evolution time different mechanisms to overcome the defectives effects of the hypo and hyperosmotic conditions. Gluconacetobacter diazotrophicus is a Gram negative bacterium, considered a plant growth promoting bacterium. In an initial characterization, it was observed that the G. diazotrophicus is able to colonizing different plant tissues of the sugarcane. Its optimum growth condition was determined to be in sucrose 10%, and it can reach until sucrose 30%, without the growth of the bacterium being interrupted. The main aim of this work was to study the mechanisms involved in the G. diazotrophicus osmotolerance, through the identification and characterization of mutants affected for this characteristic. In this way, one insertion mutant library was screened in the presence of high sorbitol concentration which permitted the identification of three genes of G. diazotrophicus involved in the osmotolerance. The sensitive phenotypes of the mutants were confirmed through growth curves in liquid medium and also by colony growth in solid medium. The mutant sequence presented identity with a FeS cluster assembly protein NifU, a universal stress protein UspA and a hypothetical protein from G. diazotrophicus. In order to determinate the behave of the wild type and mutant strains to saline stress, the bacteria were inoculated in solid medium amended with NaCl, KCl and Na2SO4. The results demonstrated that NaCl and KCl were more toxic than Na2SO4 in the same concentration for both strains. Thus demonstrating the toxicity of the chloride ion to G. diazotrophicus during the saline stress. To verify the ability of the sucrose in protecting the bacterium against the stress saline was done an assay utilizing a combination of NaCl and sucrose. Sucrose was able to recover the growth of the wild type strain and of the two of the isolated mutants, thus reveling that sucrose might be used as an osmoprotector by G. diazotrophicus. Keywords: Gluconacetobacter diazotrophicus; insertion mutants; Osmotolerance; Sorbitol; Salt stress; Chloride; Sucrose. ix 1 1 – INTRODUÇÃO. 1.1 – Gluconacetobacter diazotrophicus. Gluconacetobacter diazotrophicus é uma bactéria Gram-negativa, ácidotolerante, em forma de bacilo, com um diâmetro aproximado de 2 µm, que é movida por 1 ou até 3 flagelos (Cavalcante e Döbereiner, 1988). Suas células podem ser vistas sob o microscópio como bacilos simples, diplobacilos ou formando estruturas semelhantes a cadeias, sem esporos (Muthukumarasamy et al., 2002). Em sua primeira classificação, esta bactéria foi denominada como Saccharobacter nitrocaptans. Saccharobacter em referência a plantas de canade-açúcar, que pertencem ao gênero Saccharum, de onde a bactéria foi isolada. E nitrocaptans devido a sua capacidade de captar e fixar o nitrogênio atmosférico (Cavalcante e Döbereiner, 1988). Ainda neste mesmo estudo foi proposta a inclusão desta bactéria no gênero Acetobacter, baseado em informações de temperatura de hibridação entre DNA/DNA e DNA/RNA. Foi proposto então o nome Acetobacter nitrocaptans. Em 1989, apenas um ano após o seu isolamento, Gillis et al. publicaram os resultados de hibridação DNA/DNA e DNA/RNA juntamente com análises fenotípicas e quimio-taxonômicas, propondo o nome Acetobacter diazotrophicus. Posteriormente, com base em análises da seqüência 16S do RNA ribossômico (rRNA) e no tipo de ubiquinona produzida, o nome A. diazotrophicus foi alterado para Gluconacetobacter diazotrophicus (Yamada et al., 1997). Atualmente, a bactéria é classificada como pertencente ao filo Proteobacteria na seção α-Proteobacteria, ordem Rhodospirillales e família Acetobacteraceae. 1.1.1 – Os habitats de G. diazotrophicus. G. diazotrophicus foi inicialmente isolada de raízes e colmos de variedades de cana-de-açúcar cultivadas no nordeste e sudeste do Brasil (Cavalcante e Döbereiner, 1988). Posteriormente sua presença foi confirmada em plantas de cana-de-açúcar cultivadas em outras áreas do Brasil, e em quase 2 todas as regiões que cultivam cana-de-açúcar no mundo, incluindo Filipinas, Japão, Argentina, Cuba, México, Austrália, Mauritânia e Índia (Saravanan, 2007a). G. diazotrophicus é considerada uma bactéria endofítica. Este termo abrange todos os microrganismos capazes de colonizar o interior dos tecidos vegetais, durante uma parte do seu ciclo de vida, sem causar qualquer dano aparente ao seu hospedeiro (Petrini, 1991). A natureza endofítica da bactéria foi confirmada em estudos de microscopia, que mostraram um número relativamente alto de células (106-107CFU g-1 de massa fresca) em colmos, folhas e raízes de cana-de-açúcar (Bellone et al., 1997). Utilizando técnicas de microscopia eletrônica, Dong et al. (1994) mostraram que G. diazotrophicus coloniza os espaços intercelulares (apoplasto) do colmo de cana-de-açúcar, onde se concentra a sacarose. Em trabalho posterior, os mesmos autores (Dong et al., 1997), sugeriram que o xilema do colmo de cana-de-açúcar era um local improvável para o estabelecimento da bactéria. Tal afirmação baseou-se na baixa concentração de sacarose (0 a 9%) encontrada no xilema, na possibilidade da bactéria estimular uma intensa resposta hostil por parte da planta quando presente neste tecido e também que o movimento da bactéria estaria restrito a um ou dois internós. Em contrapartida, James et al. (1994) e James et al. (2001) demonstraram, através de técnicas de microscopia eletrônica utilizando anticorpos específicos contra G. diazotrophicus, evidências anatômicas da localização desta bactéria também nos vasos xilemáticos da cana, mais especificamente no protoxilema, no parênquima xilemático e no metaxilema. Inicialmente G. diazotrophicus foi considerada um endófito obrigatório, uma vez que, embora esta bactéria possa ser cultivada e manipulada facilmente em laboratório, estudos prévios não permitiram o seu isolamento, em quantidade significativa, a partir do solo e da região da rizosfera de plantas de cana-deaçúcar. Entretanto, recentemente, sua ocorrência natural na rizosfera de plantas de cana-de-açúcar foi verificada (Santos et al., 2006). Embora G. diazotrophicus tenha sido descrita como uma bactéria associada às plantas ricas em açúcar, esta tem sido encontrada naturalmente associada com outros tipos de plantas. (Pedraza, 2007). Desde o seu primeiro relato, G. diazotrophicus tem sido isolada de batata doce (Paula et al., 1991), plantas de café (Jiménes-Salgado et al., 1997), do cereal Eleusine coracana (Loganathan et al., 1999), abacaxi (Tapia-Hernández et al., 2000), plantas de chá 3 (raízes), manga (fruto), e rizosfera de plantas de banana (Muthukumarasamy et al., 2002) e de plantas de arroz alagado (Muthukumarasamy et al., 2005). 1.1.2 – Características promotoras do crescimento vegetal. G. diazotrophicus foi originalmente descrita como um endófito diazotrófico e responsabilizada pelos altos níveis de fixação biológica de nitrogênio (FBN) em cana de açúcar (Boddey et al., 1991). Além disso, a observação de sua ocorrência na rizosfera, juntamente com outras características, tem levado a classificação desta bactéria como uma bactéria promotora do crescimento vegetal (PGPB, do inglês “Plant-growth-promoting-bacteria”) (Saravanan et al., 2007a). Os efeitos benéficos como os de PGPB podem ser obtidos através de diferentes vias, como a solubilização de nutrientes minerais, aumento da obtenção de nutrientes, produção de hormônios vegetais, vitaminas e enzimas modulando o crescimento vegetal, supressão de patógenos através de sideróforos ou através de biocontrole (Dobbelaere et al., 2003). Tais características são especificamente abordadas a seguir. 1.1.2.1 – Fixação Biológica de Nitrogênio. O elemento nitrogênio é o mais abundante na atmosfera terrestre e é o principal componente das proteínas e outras biomacromoléculas como o DNA. Entretanto, a disponibilidade de nitrogênio fixado é o fator limitante de maior importância para muitas culturas agrícolas economicamente importantes. Compostos nitrogenados ocupam mais de 30% do total de fertilizantes nas lavouras. Com o aumento dos custos dos fertilizantes químicos e da conscientização acerca da poluição ambiental causada pelo excesso destes adubos, a fixação biológica de nitrogênio tem ganhado destaque com uma alternativa para tornar a agricultura mais sustentável e produtiva (Muthukumarasamy, 2002). Poucos estudos de inoculação têm sido realizados com o objetivo de validar o potencial de cepas de G. diazotrophicus em fixar nitrogênio em associação com cana-de-açúcar. Dentre as dificuldades encontradas para tais análises, esta o fato da cana-de-açúcar ser propagada vegetativamente, através 4 do plantio das gemas laterais, levando assim a interferência de outros microrganismos (Baldani e Baldani, 2005). Estudos com o objetivo de observar os benefícios fornecidos por G. diazotrophicus para a produção de cana-de-açúcar revelaram que a inoculação de plantas cultivadas “in vitro” com a cepa PAl5 aumentou o peso fresco da parte aérea em 28% (Baldani et al., 1999 apud Baldani e Baldani, 2005). Resultados similares foram obtidos quando a inoculação da cepa PAl5 foi realizada na presença de baixas quantidades de fertilizantes nitrogenados (Moraes e Tauk-Tornisielo, 1997 apud Baldani e Baldani, 2005). Estudos realizados por Sevilla et al. (2001) puderam comprovar a capacidade de fixar nitrogênio de G. diazotrophicus. Neste trabalho, os autores inocularam plantas de cana-de-açúcar com a cepa PAl5 selvagem e com um mutante para fixação de nitrogênio (nif-). Através da utilização de um isótopo radioativo do nitrogênio molecular (15N2) na forma gasosa, pôde-se observar o processo de fixação biológica de nitrogênio nas plantas que foram inoculadas com a cepa selvagem. Nestas, a presença do isótopo radioativo foi confirmada nas estruturas do tecido vegetal. 1.1.2.2 – Síntese “in vitro” de hormônios vegetais. Ácido indolacético (AIA) é uma importante auxina envolvida em vários aspectos do desenvolvimento vegetal e sua produção por microrganismos é considerada uma importante atividade promotora do crescimento de plantas (PGP, do inglês Plant-growth promotion). A produção de AIA por G. diazotrophicus em meio de cultura definido foi observada (Fuentes-Ramírez et al., 1993). Estes autores sugerem que talvez esta característica poderia promover o aumento das raízes e do crescimento de plantas de cana-de-açúcar.(FuentesRamírez et al., 1993). Posteriormente, a produção de AIA foi confirmada em diversas cepas de G. diazotrophicus mantidas no “Indian Institute of Sugarcane Research” (Suman et al., 2001). Além disso, a produção de outros hormônios vegetais como giberilinas (A1 e A3) por G. diazotrophicus também foi detectada em meio de cultivo definido (Bastian et al., 1998). Tais resultados demonstram que além da fixação biológica de nitrogênio, outros fatores produzidos por esta bactéria podem ter um papel na promoção do crescimento de plantas de cana-de-açúcar. Estudos realizados por 5 Sevilla et al. (2001), utilizando um mutante incapaz de fixar nitrogênio atmosférico, demonstraram que mesmo na ausência de fixação biológica, G. diazotrophicus promove o crescimento vegetal, quando quantidades adequadas de nitrogênio são fornecidas as plantas. Sendo assim, talvez a produção de hormônios vegetais por G. diazotrophicus seja de grande relevância para o desenvolvimento das plantas hospedeiras (Saravanan et al., 2007a). 1.1.2.3 – Solubilização de nutrientes minerais. A solubilização de fosfato mineral é considerada uma característica das bactérias promotoras do crescimento vegetal presentes na rizosfera. Entretanto, a solubilização de fósforo por uma bactéria endofítica poderia ajudar na disponibilidade de fósforo para a planta hospedeira durante o início da colonização e consequentemente promoverem o crescimento vegetal (KuklinskySobral et al., 2004). A solubilização de fosfato tem sido observada em várias cepas de G. diazotrophicus isoladas de cana-de-açúcar (Saravanan et al., 2007a). Similarmente, ensaios realizados por Saravanan et al. (2007b) mostraram que G. diazotrophicus PAl5 é capaz de solubilizar a maioria dos compostos insolúveis de Zinco. Tal metal é um micronutriente essencial na produção agrícola, e sua deficiência causa o amarelamento precoce das pontas e bordas das folhas de muitas espécies vegetais. Além destas observações, mutantes de G. diazotrophicus deficientes na síntese de PQQ, cofator essencial para a síntese do ácido glicônico, foram incapazes de solubilizar fósforo e zinco, em meio contendo glicose como fonte de carbono (Intorne, 2008). 1.1.3 – Aspectos fisiológicos e bioquímicos de G. diazotrophicus. Os estudos fisiológicos e bioquímicos realizados com G. diazotrophicus têm demonstrado que esta bactéria é capaz de crescer fixando nitrogênio utilizando diferentes fontes de carbono (Cavalcante e Döbereiner, 1988). Adicionalmente, G. diazotrophicus é capaz de crescer com pH chegando a 3,0 e fixar nitrogênio em meio de cultura com pH até 2,5 (Stephan et al., 1991). 6 Entretanto, o pH ótimo para o seu crescimento é em torno de 5,5 (Cavalcante e Döbereiner, 1988). Uma característica interessante desta bactéria é sua habilidade em excretar parte do nitrogênio fixado para o meio de cultura (Cojho et al., 1993). Tais autores utilizaram uma levedura (Lipomyces kononenkoae), crescendo em um meio deficiente de nitrogênio, para mimetizar as necessidades da planta. Eles observaram que G. diazotrophicus poderia suprir mais de 40% do nitrogênio requerido pela levedura. Essa observação sugere que, dentro dos tecidos vegetais, G. diazotrophicus poderia disponibilizar grandes quantidades de nitrogênio para a planta, fornecendo assim base para os altos níveis de fixação biológica de nitrogênio reportado em certas variedades de cana-de-açúcar cultivadas no Brasil (Urquiaga et al., 1992). Foi observado que G. diazotrophicus não possui a enzima nitrato redutase e que a atividade da nitrogenase não é inibida por altas concentrações de nitrato (Cavalcante e Döbereiner, 1988; Stephan et al., 1991). Adicionalmente, foi observado que ocorre somente uma inibição parcial da nitrogenase por NH4+ (Stephan et al., 1991). Tais características permitem a G. diazotrophicus fixar nitrogênio mesmo na presença de nitrogênio do solo, tornando esta, uma bactéria diazotrófica associada a plantas de grande interessante para a agricultura (Pedraza et al., 2007). A fonte de carbono que melhor suporta o crescimento de G. diazotrophicus é sacarose. A concentração ótima para o crescimento é tida como 10%. Entretanto, esta bactéria pode crescer mesmo em concentrações maiores deste mesmo açúcar (30%) (Cavalcante e Döbereiner, 1988). Uma vez que a sacarose não pode ser transportada ou respirada por G. diazotrophicus, esta cresce secretando uma enzima, levansucrase (Arrieta et al., 2004) para o espaço periplasmático. A atividade desta enzima então hidrolisa a sacarose em frutose e glicose que serão utilizadas como fonte de energia. A bactéria é também capaz de utilizar outras fontes de carbono tais como gliconato, glicose, frutose, manitol, arabinose, meso-inositol, i-inositol, sorbitol, glicerol, e galactose. Aminoácidos como glutamato, serina, alanina e histidina podem ser usados efetivamente como fonte de carbono e nitrogênio. Entretanto, celobiose, amido, meso-eritritol e metanol (1%) não favorecem o crescimento bacteriano. Similarmente, nenhum dos ácidos orgânicos mais comuns, como succinato e outros ácidos dicarboxilicos 7 suportam o crescimento de G. diazotrophicus, exceto o ácido 2-cetoglicônico que está presente em plantas de cana-de-açúcar (Muthukumarasamy, 2002a). G. diazotrophicus têm sido considerada uma bactéria diazotrófica aerotolerante, onde o oxigênio é um instrumento para a geração de grandes quantidades de ATP requeridas para a fixação de nitrogênio. A oxidação extracelular da glicose tem uma importante função no primeiro passo do metabolismo da glicose por G. diazotrophicus. Uma glicose desidrogenase associada à pirroloquinolina quinona (PQQ-GDH), presente no espaço periplasmático promove a conversão de glicose a gliconato (Stephan et al., 1991; Attwood et al., 1991). A correlação entre o sistema respiratório e a atividade diazotrófica de G. diazotrophicus PAl5 foi investigada por Flores-Encarnación et al. (1999), usando aumento na aeração do meio de cultivo. Aeração mostrou um forte efeito positivo sobre o crescimento e atividade diazotrófica desta bactéria. Análises das membranas por cromatografia liquida de alta performance (HPLC) revelaram a presença do citocromo ba como uma possível oxidase, concluindo que a enzima glicose desidrogenase e o citocromo ba são componentes chaves para o sistema respiratório de G. diazotrophicus quando esta bactéria esta fixando nitrogênio na presença de oxigênio. Adicionalmente, uma glicose desidrogenase associada à nicotinamida adenina dinucleotídeo (NAD-GDH) foi encontrada como sendo ativamente sintetizada em culturas contendo excesso de glicose (Alvarez e Martínez-Drets, 1995). Ensaios realizados por Luna et al. (2006), analisando as enzimas PQQ-GDH e NAD-GDH, revelaram que G. diazotrophicus metaboliza glicose principalmente pela via da PQQ-GDH. Entretanto, com excesso de glicose, NAD-GDH é simultaneamente expressa, e esta enzima poderia então também participar na oxidação da glicose. Neste mesmo estudo, Luna et al. (2006) demonstraram que glutamato é a molécula central no metabolismo de carbono desta bactéria e que o fluxo metabólico prossegue principalmente pela via das pentoses fosfato como já foi reportado para outras bactérias do ácido acético (Matsushita et al., 1994 apud Pedraza, 2007). 1.2 – Resposta de bactérias a estresses ambientais. Estresse ambiental em bactérias pode ser definido como um fator externo que promove um efeito adverso sobre o bem-estar fisiológico das células, levando 8 a redução do nível de crescimento ou, em circunstâncias extremas, à morte de células individuais ou até mesmo da população. Exemplos desses estresses bacteriostáticos ou bactericidas incluem extremos de temperatura, pH, pressão osmótica, falta de nutrientes e a presença de compostos tóxicos ou inibitórios (McMahon et al., 2007). 1.2.1 – Estresse osmótico. A condição osmótica de um ambiente é um dos parâmetros físicos que determinam à habilidade de proliferação dos organismos. O estresse osmótico pode ser definido como um aumento ou decréscimo na pressão osmótica do ambiente sobre um organismo (Csonka, 1989). Como habitante de meios aquosos, naturais ou artificiais, as bactérias vivem com constantes mudanças na osmolaridade extracelular. Por exemplo, bactérias do solo vivem em períodos de pouca ou muita chuva; patógenos do sistema urinário sobrevivem em urina concentrada ou diluída; e organismos industriais toleram soluções concentradas de nutrientes e produtos metabólicos acumulados extracelularmente (Wood, 1999). A membrana citoplasmática das bactérias é permeável à água, mas forma uma barreira efetiva contra a maioria dos solutos presentes no meio extracelular e metabólitos presentes no citoplasma. Uma diminuição na atividade da água no meio extracelular (condições hiper-osmóticas) causa um rápido efluxo de água e perda do turgor. Em situações extremas, as células podem plasmolisar, ou seja, a membrana plasmática retrai e se separa da parede celular. Por outro lado, diante de um choque hipo-osmótico a água entra na célula, promovendo aumento do volume do citoplasma e da pressão de turgor, podendo levar a lise celular. (Poolman e Glaasker, 1998). 1.2.2 – Resposta de bactérias ao estresse osmótico. Estudos sobre as alterações moleculares decorrentes do estresse osmótico nas bactérias têm revelado duas principais estratégias para o crescimento e sobrevivência dos procariotos em ambientes de alta osmolaridade. O acúmulo de sal no citoplasma, um mecanismo que foi descrito principalmente 9 entre os membros da família Halobacteriaceae, leva ao equilíbrio osmótico através da manutenção da concentração de sal citoplasmática (KCl) similar a do meio externo. Entretanto, em vista de grandes modificações estruturais serem necessárias para a manutenção deste mecanismo, a maioria das outras espécies tem evoluído convergentemente para lidar com ambientes de elevada osmolaridade através do acúmulo de moléculas de baixo peso molecular, denominadas solutos compatíveis. Esses solutos são assim chamados devido a sua compatibilidade com os processos celulares, mesmo em altas concentrações (Sleator e Hill, 2001). O estresse osmótico deve ser percebido pelas bactérias e convertido em mudanças de atividade de enzimas específicas e proteínas transportadoras de modo que o balanço osmótico possa ser rapidamente restaurado (Poolman e Glaasker, 1998). Enquanto a maioria das respostas biológicas depende do reconhecimento de moléculas sinalizadoras, a osmoregulação difere pelo fato de que a informação vinda do ambiente não é uma molécula específica, mas sim um parâmetro fisiológico (Sleator e Hill, 2001). A ativação osmótica de proteínas de membrana pode ser realizada por diferentes vias: (i) mudança no turgor celular; (ii) deformação mecânica da membrana; (iii) estímulos mecânicos originados no exo ou citoesqueleto celular; (iv) mudanças no estado de hidratação das proteínas; (v) alterações físico-químicas da bicamada lípidica da membrana celular, alterando as interações proteína-lípidio; (vi) mudanças na concentração ou força iônica (Poolman et al., 2002). Em Escherichia coli, um dos principais organismos modelos para a resposta de bactérias ao estresse osmótico, diversos sistemas de osmoregulação tem sido caracterizados. Nesta bactéria, uma aquaporina denominada AqpZ medeia o fluxo de água através da membrana (Calamita et al., 1998). O acúmulo de K+ em resposta a alta pressão osmótica é uma das primeiras respostas da bactéria a perda de água e é intermediada pelos transportadores TrkA(G/H)SapD e KdpFABC (Schlösser et al., 1995). KdpD é um sensor tipo cinase integral de membrana que junto com KdpE, um regulador da resposta citoplasmática, constitui um sistema que controla transcrição do operon KdpFABC em resposta ao estresse osmótico. A supressão do catabolismo de glutamato, pelo estresse osmótico, leva ao seu acúmulo como um par iônico para o potássio (Sleator e Hill, 2001). Os trasportadores de membrana ProP, ProU, BetT e BetU são 10 responsáveis pelo transporte e acúmulo de osmólitos no citoplasma das células. Cada proteína representa uma família diferente de transportadores, com diferentes fontes de energia. Quimicamente diversos, os osmólitos presentes no meio extracelular contribuem tanto para o aumento da pressão osmótica como para a ativação de cada um dos transportadores. Dessa forma, cada transportador é capaz de atuar como osmosensor e osmoregulador. As enzimas BetA e BetB catalizam a síntese de glicina betaína a partir de colina enquanto as enzimas OtsA e OtsB medeiam a síntese de trealose a partir de glicose em condições de alta osmolaridade (Wood, 2006). Os canais mecanosensíveis MscL e MscS realizam a excreção de solutos em resposta a quedas na pressão osmótica (Anishkin e Kung, 2005). A adaptação de bactérias diazotróficas ao estresse osmótico é de grande relevância, uma vez que a perda de água provocada pelos longos períodos de estiagem e acumulo de solutos no ambiente inibe as atividades bacterianas importantes para a promoção do crescimento vegetal, como a fixação de nitrogênio e a produção de hormônios vegetais. Em geral, as bactérias Gramnegativas que convivem na rizosfera utilizam muitos dos mesmos solutos compatíveis e osmoprotetores que as bactérias entéricas durante a osmoadaptação (Miller e Wood, 1996) Embora o transporte de íons, o transporte de água e o acúmulo de solutos compatíveis sejam as principais respostas de bactérias ao estresse osmótico, recentemente estudos para a identificação de proteínas envolvidas na resposta ao estresse osmótico de Entrerobacter sakazakii, um patógeno alimentar oportunista, revelaram que os principais efeitos observados foram a repressão de proteínas do aparato de motilidade e a formação de células filamentosas (Riedel and Lehner, 2007). Além disso, estudos com o isolamento de mutantes de Sinorhizobium meliloti sensíveis a estresse salino e com diferentes cepas de Azospirillum brasiliense, duas bactérias rizosféricas diazotróficas, tem demonstrado que a regulação das respostas das bactérias a mudanças na osmolaridade do ambiente é complexa e em muitos níveis (Wei et al, 2004; Chowdhury et al., 2007). Para Azospirillum brasiliense foi observado que a produção de exopolisacarídeos e a agregação celular são as principais respostas desta bactéria ao estresse salino quando comparado com a absorção e osmoproteção por glicina betaína (Chowdhury et al., 2007). 11 1.2.3 – Resposta de G. diazotrophicus a estresse osmótico. Como já mencionado, o principal sítio de localização de G. diazotrophicus é o apoplasto, onde a concentração natural de sacarose se aproxima dos 10%. Esta alta concentração de sacarose promove uma elevada pressão osmótica, que é responsável pela inibição do crescimento de muitos microrganismos. Entretanto, tal concentração é considerada como ótima para o crescimento de G. diazotrophicus. Altas concentrações de sacarose influenciam na atividade da nitrogenase desta bactéria, diminuindo a inibição causada por altas pressões de O2 e pelo aumento na concentração de amônio (Reis e Döbereiner, 1998). A capacidade de G. diazotrophicus tolerar estresse osmótico tem sido estudo de alguns poucos trabalhos. O que se tem demonstrado é que G. diazotrophicus é tolerante a altas concentrações de sacarose mas é sensível a estresse salino. Adicionalmente, foi observado que a atividade da enzima nitrogenase e das enzimas do metabolismo de carbono são afetadas por estresse provocado por NaCl (Reis e Döbereiner, 1998; Tejera et al., 2003). Recentemente, Delatorre (2007) relatou o efeito dos solutos compatíveis glicina betaína, prolina e colina sobre cultivos descontínuos de G. diazotrophicus PAl5 sob estresse salino. Utilizando sacarose como fonte de carbono, prolina e colina na concentração de 20mM foram capazes de recuperar o crescimento de G. diazotrophicus em meio de cultura acrescido de 200 mM de NaCl. Entretanto, glicina betaína não foi eficiente em nenhuma das concentrações utilizadas (Delatorre, 2007). Em trabalho anterior, Boniolo (2006) relatou um efeito positivo de glicina betaína, porém utilizando uma concentração menor (100 mM) de NaCl. 1.3 – Genômica funcional. Com os recentes avanços obtidos nas tecnologias para seqüenciamento de DNA em larga escala, cada vez mais tem crescido o número de organismos com sua seqüência genômica completamente conhecida. Atualmente, este número chega aos 650 organismos com seqüência completa e mais 678 projetos em andamento. Dos 650 com seqüência completa 628 são organismos procariotos, sendo a grande maioria Eubacteria (NCBI - Genome Project Statistic, 12 2008). Apesar da importância de se seqüenciar e caracterizar genomas, a finalização desta etapa conduz à etapa posterior de análise funcional dos genes encontrados. Tal fase, a “Genômica Funcional”, representa a possibilidade de transformar em resultados aplicáveis, as informações geradas pelos projetos genoma (Hieter e Boguski, 1997). Uma variedade de métodos tem sido utilizada para monitorar os processos biológicos em escala genômica. Geralmente, os pesquisadores definem uma resposta celular alvo, como por exemplo, resposta a um determinado ambiente ou doença, selecionam um conjunto de condições e realizam experimentos de análise em larga escala (Tanay et al., 2005). Um rápido aumento no número de técnicas para análise funcional tem permitido a análise da expressão de genes (Aspedon et al., 2006), da ligação a fatores de transcrição (Iyer et al., 2001), seleção em coleções de mutantes (Wei et al., 2004), análise de duplo - híbrido (Schiwikowski et al., 2000), entre outros. A análise computacional típica agrupa os dados obtidos e então tenta caracterizar cada grupamento gênico utilizando as funções gênicas conhecidas (Tanay et al., 2005). Um dos métodos que têm sido amplamente utilizados para a análise genômica funcional é a estratégia baseada em bibliotecas de mutantes de inserção. A maiorias das quais, é gerada com uso de transposons (Hayes, 2003). Complexos, denominados transpossomas, formados pela interação de uma transposase-Tn5 e o DNA tranposon propriamente dito tem sido introduzidos em E. coli (Goryshin et al., 2000) e leveduras (Hoffman et al., 1999) através de eletroporação para gerar inserções no DNA cromossômico. O uso de transposon para a geração de mutantes de inserção tem sido validada para diferentes organismos (Hoffman et al., 2000).. Recentemente, Rouws et al. (2007) publicaram a construção de uma biblioteca total de mutantes de inserção de G. diazotrophicus utilizando o tranposon Tn5. Além disso, Intorne (2008) desenvolveu uma nova biblioteca parcial, armazenada no Núcleo de Análises Genômicas da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro – UENF, desta mesma bactéria buscando realizar análises de genômica funcional. Adicionalmente, esta metodologia tem sido utilizada para o estudo da resposta de bactérias da rizosfera ao estresse osmótico (Jiang et al., 2004; Wei et al., 2004). A inserção do transposon pode causar o silenciamento ou pertubar a 13 expressão de genes levando a mudanças fenotípicas no organismo hospedeiro (Hoffman et al., 2000). 1.3.1 – Projeto Rio Gene Devido à importância da lavoura canavieira para o Brasil e dos possíveis benefícios que a bactéria G. diazotrophicus pode proporcionar para as plantas de cana-de-açúcar, levando ao aumento da produção e redução de insumos, foi lançado em novembro de 2000 o Programa Genoma do Estado do Rio de Janeiro (RioGene). O consórcio, formado por nove laboratórios fluminenses, pertencente a diferentes instituições de pesquisa, visou primeiramente o seqüenciamento completo do genoma da bactéria G. diazotrophicus (RioGene, 2006). Recentemente, tal etapa foi concluída, com o depósito das informações no banco de dados do NCBI (NCBI, 2007). Uma vez consolidado o seqüenciamento do genoma desta bactéria, os trabalhos atualmente se dedicam à análise funcional dos diversos genes encontrados. Gluconacetobacter diazotrophicus tem sido considerada uma bactéria de grande relevância para a agricultura. Devido a sua capacidade de fixar nitrogênio atmosférico, produzir hormônios vegetais e solubilizar nutriente, esta bactéria foi incluída no grupo das bactérias promotoras do crescimento vegetal. Para a lavoura canavieira, a inoculação com G. diazotrophicus pode ser uma estratégia para o aumento da produção e a diminuição da quantidade de adubos nitrogenados. A capacidade de resistir a uma alta concentração de solutos no meio extracelular, talvez seja um importante fator para a sobrevivência de G. diazotrophicus no interior das plantas de cana-de-açúcar. Embora vários estudos tenham sido conduzidos no intuito de caracterizar a osmotolerância de G. diazotrophicus (Cavalcante e Döbereiner, 1988; Reis e Döbereiner, 1999; Tejera et al., 2003; Boniolo, 2006; Delatorre, 2007), os mecanismos genéticos envolvidos nesta tolerância ainda permanecem desconhecidos. A identificação de genes associados a tais mecanismos pode contribuir para um melhor entendimento a respeito da sobrevivência desta bactéria no interior das plantas de cana-deaçúcar. 14 2 - OBJETIVO Elucidar os mecanismos envolvidos na osmotolerância em Gluconacetobacter diazotrophicus, através da identificação e caracterização de mutantes sensíveis para esta característica. 2.1 – Objetivos específicos: Identificar mutantes sensíveis ao estresse osmótico, provocado por altas concentrações de sorbitol, através do escrutínio de uma biblioteca de mutantes de inserção de G. diazotrophicus. Avaliar o efeito das mutações na velocidade de crescimento para os mutantes selecionados, na ausência e na presença de sorbitol. Comparar a resposta dos mutantes selecionados aos estresses provocados por sorbitol e sacarose. Avaliar o crescimento dos mutantes na presença de estresse provocado por diferentes sais (NaCl, KCl e Na2SO4). Avaliar o efeito da sacarose na resposta das diferentes cepas (selvagem e mutantes) ao estresse provocado por NaCl. Identificar os genes afetados nos mutantes defectivos para a osmotolerância através do seqüenciamento das regiões flanqueadoras aos sítios de inserção do Transposon. 15 3 – MATERIAL E MÉTODOS. 3.1 – Microrganismos. A bactéria Gluconacetobacter diazotrophicus PAl5, gentilmente cedida pelo Professor Dr. Fábio Lopes Olivares do Laboratório de Biologia Celular e Tecidual LBCT/CBB/UENF, foi utilizada em todos os ensaios deste trabalho. Escherichia coli EC100D pir- foi adquirida comercialmente da Epicentre Biotechnologies (Madison, WI). 3.2 – Meios de cultivo. A bactéria G. diazotrophicus foi cultivada rotineiramente em meio DYGS (Rodrigues Neto, 1986). A composição do meio DYGS é mostrada na Tabela 1. Tabela 1 – Composição do Meio DYGS Componente Concentração (g/L) Glicose 2,0 Peptona Bacteriológica 1,5 Extrato de Levedura 2,0 K2HPO4 0,5 MgSO4 0,5 Ácido Glutâmico 0,75 Para a realização dos ensaios de estresse osmótico com G. diazotrophicus, o meio de cultivo DYGS foi inicialmente preparado utilizando o dobro da concentração estabelecida. Após a esterilização, o meio foi misturado na proporção 1:1 com os agentes estressantes. Os estoques de sorbitol, NaCl, KCl e Na2SO4 foram preparados com o dobro da concentração final desejada e foram esterilizados em autoclave a 121 ºC. O estoque de sacarose foi preparado no dobro da concentração final desejada e foi esterilizado utilizando filtros de celulose com porosidade de 0,2 µm. E. coli foi cultivada rotineiramente em meio LB-Miller (Miller, 1972). A composição do meio LB-Miller é dada na Tabela 2. 16 Tabela 2 – Composição do Meio LB-Miller Componente Concentração (g/L) Triptona 10,0 Extrato de Levedura 5,0 NaCl 10,0 Os componentes dos meios de cultivo foram dissolvidos em água destilada e o meio foi esterilizado em autoclave a 121 ºC, 1,1 atm por 20 min. Para o meio DYGS, o pH inicial do meio foi ajustado para 6,0 com a utilização de KOH. Para os cultivos realizados em meio sólido foram adicionados 15,0g/L de agar, antes do processo de esterilização. Para os cultivos realizados em meio DYGS sólido foi adicionado o indicador de pH azul de bromotimol, utilizando-se 5 mL/L de uma solução 0,5 % dissolvida em KOH 0,2 N e o pH foi ajustado para 6,0 antes da adição de agar. Quando necessário, os meios de cultivo foram suplementados com 50 µg/mL de canamicina. 3.3 – Condições de cultivo. As culturas de G. diazotrophicus foram incubadas a 30 ºC sob condições controladas, em estufa e/ou “shaker” orbital com agitação de 150 min-1. Para o processo de seleção de mutantes em larga escala, placas de titulação de 96 poços com capacidade de 2 mL por poço foram utilizadas. O volume máximo de meio de cultivo utilizado foi de 400 µL por poço, respeitando assim a proporção de 1 volume de meio para 5 volumes de ar. As placas foram seladas com adesivo plástico e incubadas sob agitação constante durante 5 dias. Para a realização dos ensaios de curva de crescimento, foram utilizados frascos Erlenmeyer de 250 mL com 50 mL de meio de cultivo. Os frascos foram tampados com manta de algodão e gaze para permitir uma melhor troca gasosa. Os inóculos das bactérias foram realizados utilizando-se 5% do volume final de meio de cultivo, a partir de uma suspensão celular congelada, previamente preparada e armazenada a -80 ºC. 17 3.4 – Análise do nível de tolerância de G. diazotrophicus a altas concentrações de sorbitol. Para estabelecer o nível de tolerância de G. diazotrophicus a altas concentrações de sorbitol, primeiramente foi realizado um inóculo de ativação a partir de culturas estoques armazenadas a -70 ºC até que a cultura atingisse D.O600nm = 1,0. Esta cultura ativada foi então diluída em novo meio de cultivo contendo uma concentração final de 700 (12%), 900 (16%), 1100 (20%), 1300 (24%) e 1500 (28%) mM de sorbitol. A turbidimetria inicial da cultura foi aferida por espectrofotometria e ajustada para D.O600nm = 0,1. Cada uma das culturas foi então distribuída em quatro réplicas de 400 µL nas placas de titulação de 96 poços. As placas foram seladas com adesivo plástico e mantidas sob agitação durante 3 dias. Após este período as placas foram centrifugadas a 3000 xg por 5 minutos e a tolerância da bactéria a diferentes concentrações de sorbitol foi avaliada qualitativamente através da observação da presença ou ausência de biomassa bacteriana sedimentada. 3.5 – Escrutínio de mutantes sensíveis a estresse osmótico por sorbitol. Uma biblioteca contendo diazotrophicus, obtida através 1630 mutantes de inserção de transposição utilizando o kit de G. EZ-Tn5 <R6Kori/KAN-2>Tnp Transposome da Epicentre Biotechnologies, estocada em meio DYGS líquido a -80 ºC na Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (Intorne, 2008) foi utilizada para inoculação em placas de titulação de 96 poços contendo 400 µL de meio DYGS liquido suplementado ou não com 1,1 molar de sorbitol. Após período de crescimento, estas foram centrifugadas a 3000 xg por 5 minutos e comparadas visualmente para a observação da presença ou ausência de biomassa bacteriana precipitada. Os mutantes que cresceram no meio sem sorbitol e que não apresentaram crescimento no meio com sorbitol foram selecionados. 18 3.6 – Curvas de crescimento em sorbitol dos mutantes selecionados. O efeito do sorbitol sobre o crescimento dos mutantes selecionados foi observado em meio DYGS líquido contendo 1,1 M de sorbitol em frascos agitados. Culturas estoques dos mutantes e de G. diazotrophicus PAl5 selvagem foram adicionadas na proporção de 5 % em meio fresco e os valores de densidade ótica a 600nm (D.O600) foram aferidos em leitor espectrofotômetro para microplacas (µquant, BIO-TEK) a cada 3 horas por um período de 3 dias. As leituras foram feitas utilizando microplacas de 96 poços com fundo reto. Foi utilizado 100 µL de cultura por poço. Foram feitas quatro réplicas de cada amostra para cada um dos pontos de leitura. A média entre as réplicas foram usadas em gráficos utilizando o programa Microsoft Excel 2003. 3.7 – Análise do efeito de diferentes agentes estressantes sobre o crescimento dos mutantes selecionados Para avaliar o crescimento dos mutantes selecionados com diferentes solutos em concentrações distintas, as cepas mutantes e a cepa selvagem foram inoculadas em meio DYGS sólido com o auxílio de um replicador manual de 96 pinos. As culturas foram crescidas em frascos agitados até atingirem a concentração celular de 107 unidades formadoras de colônia (u.f.c)/mL. Após esse período, as culturas foram aliquotadas em quatro réplicas de igual volume em placas de 96 poços, de onde foram transferidas para o meio DYGS sólido com o uso do replicador. Para as análises de crescimento em meio sólido, o meio DYGS foi suplementado com sorbitol, sacarose, NaCl, KCl e Na2SO4 nas seguintes concentrações: 600, 800, 1000 e 1200 mM para sorbitol; 400, 600, 800 e 1000 mM para sacarose; 100, 150, 200 e 250 mM para NaCl, KCl e Na2SO4. As placas foram incubadas a 30 ºC por cinco dias e o crescimento foi avaliado visualmente. Para cada uma das colônias foi atribuído um valor numérico arbitrário numa escala de 0-10, considerando como ótimo o padrão de crescimento das colônias no meio sem a adição de solutos (controle). Para a compilação dos dados, foi utilizada a média dos valores atribuídos a cada uma das quatro réplicas e gráficos de barra foram traçados utilizando o programa Microsoft ® Excel 2003. 19 Para a validação dos resultados utilizando replicador de 96 pinos, uma concentração de cada um dos agentes estressantes foi selecionada para uma análise. Foram realizadas diluições de 10X, 100X e 1000X a partir de uma cultura contendo 107 ufc/ml. O inoculo foi realizado utilizando alíquotas de 10 µL de cada uma das culturas e das respectivas diluições. A cepa selvagem e os mutantes foram dispostos juntos na mesma placa e foram feitas três réplica de cada uma das placas. As placas foram incubadas por 5 dias a 30 ºC e o registro do ensaio foi realizado através de fotografia utilizando câmera digital. 3.8 – Extração de DNA genômico bacteriano. O DNA genômico de G. diazotrophicus foi extraído utilizando o kit de extração Plant DNAzol da Invitrogen™ de acordo com as instruções do fabricante. Foi utilizada a sugestão do fabricante de adicionar RNase no início do processo de extração. No final do processo de extração o DNA foi hidratado em água ultrapura autoclavada. 3.9 – Confirmação da transposição por PCR. Além da resistência ao antibiótico canamicina, a presença do transposon no genoma de cada um dos mutantes selecionados foi confirmada através da reação em cadeia da polimerase (PCR do inglês Polymerase Chain Reaction). Foi utilizado iniciador específico para as bordas do transposon, que flanqueiam o fragmento de 2000 pb referente ao EZ-Tn5 <R6Kori/KAN-2>. Esse iniciador foi denominado MEint e possui a seqüência 5’- CTGTCTCTTATACACATCT – 3’. Foi utilizado 10 ng de DNA genômico como molde. A amplificação foi realizada em termociclador, de acordo como seguinte programa: 5 minutos a 95 ºC + 40 ciclos (60 segundos a 95 ºC + 60 segundos a 60ºC + 120 segundos a 72 ºC) + 30 minutos a 72 ºC). Os resultados foram observados através de eletroforese em gel de agarose e coloração com brometo de etídio. 3.10 – Análise do número de inserções do transposon em cada mutante. 20 O número de inserções do transposon em cada mutante foi verificado através de ensaio de hibridação DNA/DNA. Um micrograma de DNA genômico de cada um dos mutantes pré-selecionados e da bactéria selvagem foi submetido a digestão completa utilizando a enzima EcoRI (New England Biolabs) de acordo com as instruções do fabricante. O DNA digerido foi submetido à eletroforese em gel de agarose e posterior transferência para membrana de nylon, onde foi então submetido à técnica de hibridação DNA/DNA. O processo de transferência e hibridação foi realizado de acordo com Sambrook e Russel (2001). A sonda utilizada foi o fragmento de 2000 pb referente ao transposon, amplificado por PCR e marcado com dCTP αP32 utilizando o kit Random primer T7. 3.11 – Identificação das seqüências interrompidas nos mutantes selecionados para estresse osmótico. Como as regiões contendo o transposon EZ-Tn5 <R6Kori/KAN-2 podem ser auto-ligadas e replicar-se independentemente em E. coli DC100 pir - o DNA genômico digerido com EcoRI foi auto-ligado através do uso da enzima T4 DNA ligase (Invitrogen). O produto da ligação foi então eletroporado em E. coli e as colônias foram selecionadas sobre LB sólido na presença de canamicina. Os clones obtidos foram então inoculados em meio LB líquido e submetidos à extração plasmidial pelo método de lise alcalina na presença de SDS de acordo com Sambrook e Russel (2001). A seqüência de DNA genômico de G. diazotrophicus flanqueando o transposon nestes plasmídeos foi determinada utilizando seqüenciador automático ABI 3130 (Applied Biosystems) utilizando o kit Big Dye Terminator (Applied Biosystems) de acordo com as instruções do fabricante. Para a reação de seqüenciamento foram utilizados os iniciadores KAN2-FP-1 e KAN-2-RP-1 fornecidos pelo kit EZ-Tn5 <R6Kori/KAN-2>Tnp transpossome. Após a obtenção das seqüências, estas foram submetidas a alinhamento com o genoma de G. diazotrophicus disponível no banco de dados do NCBI (Centro Nacional para Informação Biotecnológica, do inglês National Center for Biotechnology Information) (http://www.ncbi.nlm.nih.gov/BLAST) utilizando a ferramenta BLAST 21 4 – RESULTADOS. 4.1 – Sensibilidade de G. diazotrophicus PAL 5 a sorbitol. Para determinar a maior concentração de sorbitol que a bactéria G. diazotrophicus PAL-5 é capaz de tolerar, um ensaio foi conduzido em meio DYGS líquido com um gradiente de 0.7 a 1.5M de sorbitol. Os resultados foram analisados visualmente e demonstraram que a bactéria foi capaz de crescer até a concentração de 1.3 M o que equivale a uma proporção (peso/volume) aproximada de 24%. Portanto, como o objetivo deste passo era determinar a maior concentração de sorbitol que a bactéria ainda crescia bem e assim utilizar esta concentração para o escrutínio da biblioteca de mutantes, foi selecionada a concentração do ponto anterior à concentração inibitória, que equivale a 20% de sorbitol (1,1 M). 4.2 – Escrutínio de uma biblioteca de mutantes de inserção de G. diazotrophicus. Com o objetivo de isolar mutantes de G. diazotrophicus sensíveis a estresse osmótico, uma biblioteca de mutantes de inserção foi escrutinada utilizando meio DYGS liquido com e sem 1,1 M de sorbitol. O crescimento dos mutantes foi realizado em placas de cultura de 96 poços. Após 3 dias de cultivo, as placas foram centrifugadas e cada um dos mutantes foi analisado quanto a formação de precipitado bacteriano com relação ao controle. Os mutantes que não cresceram em meio DYGS suplementado com sorbitol foram re-inoculados a partir da cultura crescida no meio controle. Após o primeiro escrutínio, os mutantes que não cresciam passavam a ser inoculados em triplicata. Este processo de seleção foi repetido 3 vezes. Após este período foi possível isolar quatro cepas mutantes que não apresentaram crescimento no meio DYGS líquido contendo 1,1M de sorbitol. Os mutantes GDP6D5, GDP7C8, GDP25C4 e GDP25C8 foram então denominados Gdosm1, Gdosm2, Gdosm3 e Gdosm4, respectivamente. Estes mutantes foram selecionados para análises posteriores. 22 4.3 – Confirmação da presença e do número de inserções do transposon no genoma de G. diazotrophicus. Para averiguar a presença do transposon e o número de inserções do mesmo no genoma de cada mutante, estes foram inoculados em meio DYGS liquido e, após o crescimento da cultura, submetidos à extração de DNA genômico. A presença do transposon foi confirmada através de reação em cadeia da polimerase utilizando iniciadores específicos para o transposon. DNA genômico da bactéria tipo selvagem foi utilizado como controle negativo. Conforme apresentado na Figura 1, todos os mutantes selecionados apresentaram uma banda de aproximadamente 2000pb referente ao transposon EZ-Tn5 <R6Kori/KAN-2> . Para observar o número de inserções do transposon no genoma de cada um dos mutantes, o DNA genômico dos mesmos foi submetido a ensaio de hibridação DNA/DNA na presença de sonda correspondente ao Transposon. Para tanto, primeiramente o DNA foi submetido à digestão completa utilizando a endonuclease EcoRI, de acordo com as instruções do fabricante e, posteriormente os fragmentos foram separados utilizando eletroforese em gel de agarose (Figura 2A). Finalmente, os fragmentos foram transferidos para membrana de nylon e submetidos à hibridação utilizando o transposon EZ-Tn5 <R6Kori/KAN-2>, marcado radioativamente, como sonda. A membrana foi exposta a filme de auto-radiografia e o resultado demonstrou que todos os mutantes selecionados apresentam uma única inserção do transposon em seu genoma (Figura 2B). Adicionalmente pode-se observar três tamanhos de banda diferentes, pois os mutantes Gdosm3 e Gdosm4 apresentaram o mesmo tamanho de fragmento. Portanto, isto indica que os mutantes Gdosm1 e Gdosm2 estão inseridos em regiões diferentes do genoma. Os mutantes Gdosm3 e Gdosm4 podem estar inseridos numa mesma região do genoma. Por outro lado, pode tratar-se apenas de coincidência que resultou na formação de dois fragmentos de tamanho similar. 23 1 2 3 4 5 6 7 2 kb Figura 1. Gel de agarose 1%. Confirmação da presença do Transposon Tn5 no DNA genômico de G. diazotrophicus via PCR. Raia 1, padrão de peso molecular “1kb DNA Ladder Plus” da Invitrogen. Raia 2, controle negativo. Raias 3 a 7, amplificação proveniente do DNA dos mutantes respectivamente. Gdosm1, Gdosm2, Gdosm3, Gdosm4 e da cepa selvagem, 24 A) 1 2 3 4 5 B) 1 2 3 4 5 Figura 2. Hibridação DNA/DNA para verificação do número de inserções do Transposon no genoma de G. diazotrophicus. A) Gel de agarose 0,8% contendo 5µg/raia de DNA digerido com EcoRI. B) Filme de auto-radiografia revelando a hibridação do transposon, marcado radioativamente, com regiões específicas do genoma. Raias 1 a 5, a numeração crescente corresponde a cepa selvagem e aos mutantes Gdosm1, Gdosm2, Gdosm3 e Gdosm4, respectivamente. 25 4.4 – Obtenção de curvas de crescimento dos mutantes selecionados na ausência e na presença de 1,1 M de sorbitol. Para caracterizar o efeito da inserção no crescimento dos mutantes selecionados, estes foram cultivados em meio DYGS líquido. Após um período de 60 horas de cultivo, os resultados apresentados na Figura 3A demonstraram que, quando cultivados em meio DYGS sem a adição de sorbitol, os mutantes Gdosm1 e Gdosm2 apresentam um padrão de crescimento semelhante à cepa selvagem. Diferentemente, os mutantes Gdosm3 e Gdosm4, mesmo na situação controle, apresentaram uma redução maior que 50 % do crescimento observado para a cepa selvagem. Adicionalmente, pode-se observar que estes dois mutantes apresentaram curvas de crescimento semelhantes (Figura 3A). Quando os mutantes foram crescidos em meio DYGS suplementado com 1,1M de sorbitol o resultado observado foi que após as 60 horas de cultivo nenhum dos mutantes apresentou crescimento. Mesmo para a cepa selvagem o estresse provocado foi relevante, reduzindo o seu crescimento para cerca de 50 % do crescimento observado na condição controle (Figura 3B). Portanto, os experimentos serviram para estabelecer curvas de crescimento para os mutantes selecionados e confirmaram o fenótipo sensível a estresse osmótico. 4.5 – Identificação das seqüências gênicas interrompidas pelo transposon. Após a confirmação do número de inserções, as seqüências de DNA das regiões flanqueadoras do transposon, dos 4 mutantes selecionados, foram obtidas. Devido a presença de uma origem de replicação de E. coli no transponson <R6Kyori/KAN-2>, os genes interrompidos puderam ser facilmente retirados do DNA genômico, auto-ligados e eletroporados em E. coli EC100D pir-. Todas as seqüências interrompidas foram isoladas e seqüenciadas. As seqüências obtidas foram comparadas par a par com as seqüências do genoma de G. diazotrophicus depositadas no banco de dados do NCBI utilizando a ferramenta BLAST. 26 A) B) Figura 3. Curvas de crescimento da bactéria G. diazotrophicus selvagem e mutante na ausência e presença de 1,1M de sorbitol. O sistema de cultivo utilizado foi o de frascos agitados. Em A) curvas de crescimento em meio DYGS líquido. Em B) curvas de crescimento em meio DYGS líquido suplementado com 1,1M de sorbitol. ( ) cepa selvagem; ( ) Gdosm1; ( ) Gdosm2; ( ) Gdosm3 e ( ) Gdosm4. Alíquotas foram retiradas a cada 3 horas de crescimento e lidas em leitor de microplacas a 600nm. Os valores representam a média de 4 repetições de leitura. 27 Como apresentado na tabela 3, três diferentes genes puderam ser identificados. O gene interrompido em Gdosm1 apresentou similaridade com uma proteína possivelmente envolvida nos mecanismos de fixação de nitrogênio com domínio nifU (descrita como responsável pela formação de “clusters” Fe-S). O gene mutado em Gdosm2 apresentou similaridade com uma proteína com domínio Usp (proteína de estresse universal). Os mutantes Gdosm3 e Gdosm4 apresentaram inserção no mesmo gene, entretanto em regiões diferentes. A seqüência apresentou similaridade com uma proteína hipotética de função desconhecida. Devido ao comportamento semelhante apresentado por esses dois mutantes na curva de crescimento e a inserção ter ocorrido no mesmo gene somente o mutante Gdosm3 foi selecionado para análises posteriores. Tabela 3. Seqüências genômicas flanqueadoras do sítio de inserção do transposon nos mutantes de G. diazotrophicus PAl5 sensíveis a estresse osmótico. Cepa Mutante Gene IDa Sítio de Inserção (bp) Possível função da ORFb GDP6D5 (Gdosm1) 5788836 304-313 Possível proteína fixadora de nitrogênio nifU. GDP7C8 (Gdosm2) 5790654 596-605 Proteína com domínio Usp. GDP25C4 (Gdosm3) 5788812 739-748 Proteína hipotética GDI0714. GDP25C8 (Gdosm4) 5788812 1337-1348 Proteína hipotética GDI0714. a – GeneID de acordo com o genoma de G. diazotrophicus disponível no NCBI. b – Possível função da seqüência aberta de leitura (ORF) de acordo com o genoma de G. diazotrophicus disponível no NCBI. 4.6 – Sensibilidade dos mutantes ao estresse osmótico. Devido ao ensaio em meio líquido ser extremamente laborioso, se fez necessário uma metodologia que permitisse a avaliação do crescimento em diferentes concentrações de agentes estressantes. O nível de sensibilidade dos mutantes selecionados, foi então acessado em meio DYGS sólido utilizando o replicador de 96 pinos. Foram utilizadas as concentrações de 600, 800, 1000 e 1200 mM de sorbitol e 400, 600, 800 e 1000 mM de sacarose. As culturas da cepa selvagem e mutante, previamente crescidas e com a concentração celular ajustada para 107 ufc/mL, foram transferidas para microplacas de 96 poços. Foram feitas 4 réplicas de cada uma das culturas. A partir destas placas, o replicador foi utilizado para inocular os mutantes nos meios de cultura. Após um 28 período de crescimento de 3 dias, o crescimento de cada uma das réplicas foi avaliado em relação ao crescimento observado no meio controle. Valores arbitrários foram dados para o crescimento de cada uma das réplicas. O crescimento dos mutantes na situação controle foi considerado como nota 10 e ausência de crescimento como nota 0. As médias entre as quatro réplicas de cada tratamento foram plotadas em gráficos de barras e o resultado pode ser observado na figura 4. Os mutantes responderam de maneira semelhante ao estresse provocado por sorbitol e ao estresse provocado por sacarose (Figura 4B). Entre eles, o mutante Gdosm1 foi o que apresentou maior sensibilidade ao estresse osmótico. Tal mutante teve o seu crescimento reduzido de forma gradual de acordo com o aumento da concentração de açúcares no meio, chegando a ter mais de 50 % de redução em sua capacidade de crescimento quando foi utilizado 800 mM de sorbitol (Figura 4A). Em contrapartida, os mutantes Gdosm2 e Gdosm3 apresentaram um crescimento semelhante à cepa selvagem nas concentrações de 1 M de sorbitol e 800 mM de sacarose (Figura 4A e 4B). Acima destas concentrações os mutantes apresentaram uma forte redução no crescimento. Em geral, quando comparado com os resultados fornecidos pelas curvas de crescimento em meio líquido, observa-se que a utilização do replicador de 96 pinos em meio sólido permitiu identificar as diferenças no nível de sensibilidade dos mutantes a sorbitol. Para a validação e confirmação dos resultados obtidos com a utilização de replicador de 96 pinos foi realizado um novo ensaio em meio DYGS sólido. Foram utilizadas as concentrações de agentes estressantes onde a bactéria selvagem ainda apresenta um bom crescimento (1,2 M de sorbitol e 0,8 M de sacarose). Diferentes diluições de cada uma das culturas, previamente padronizadas por densidade ótica para uma concentração celular de 107 ufc/mL, foram inoculadas em meio DYGS sólido. Foi utilizada uma micropipeta para dispensar alíquotas de 10 µL de cada uma das diluições em cada um dos tratamentos. Tal procedimento foi realizado para garantir que o volume aplicado de células fosse o mais idêntico possível. 29 A) B) Figura 4. Efeito de diferentes agentes osmóticos sobre o crescimento dos mutantes. Culturas de bactérias contendo 107 u.f.c/mL foram inoculadas em meio DYGS sólido com o auxilio do replicador de 96 pinos. A) Gradiente de sorbitol. B) Gradiente de sacarose. Barras em preto, cinza escuro, cinza claro e hachurada demonstram o crescimento das cepas selvagem, Gdosm1, Gdosm2 e Gdosm3, respectivamente. O crescimento foi avaliado visualmente dando-se valores arbitrários de 0-10 para cada uma das colônias. Os valores representam a média de 4 repetições de cada cepa para cada uma das concentrações testadas. 30 Como pode ser observado na figura 5A, o crescimento dos mutantes e da cepa selvagem pode ser considerado semelhante. O crescimento observado para as diferentes diluições demonstrou que a padronização por densidade ótica foi eficiente para estabelecer um número similar de células, por volume de cultura, entre as amostras. No crescimento com 1,2 M de sorbitol (Figura 5B) a bactéria selvagem foi capaz de crescer mesmo nas maiores diluições. Os mutantes Gdosm1 e Gdosm3 se mostraram altamente sensíveis a esta concentração de sorbitol. O mutante Gdosm2, embora também fortemente afetado pelo estresse, apresentou-se mais tolerante que os demais. Com relação ao crescimento em 800 mM de sacarose (Figura 5C), o crescimento da bactéria selvagem foi superior ao crescimento observado na presença de sorbitol. Portanto, demonstrando a capacidade desta bactéria em crescer na presença de sacarose, mesmo que esta esteja em altas concentrações. Novamente, o mutante Gdosm1 se mostrou o mais sensível entre os mutantes. O mutante Gdosm3 proporcionalmente melhor que Gdosm1, embora também tenha se mostrado bastante sensível ao estresse. O mutante Gdosm2 apresentou um crescimento semelhante a cepa selvagem na presença de sacarose. Os dados obtidos em placas utilizando o método de gotas apresentaram resultados semelhantes aos encontrados com o uso de replicador de 96 pinos. 4.7 - Efeito do estresse salino sobre o crescimento da cepa selvagem e dos mutantes. Para verificar a resposta dos mutantes selecionados ao estresse salino, a cepa selvagem e os mutantes foram inoculados com o uso de replicador de 96 pinos, em meio DYGS sólido suplementado com diferentes concentrações de NaCl, KCl e Na2SO4. Embora tenha sido realizado um ensaio com concentrações de sais de até 250mM, para concentrações de NaCl e KCl superiores a 100mM, não foi observado crescimento da cepa selvagem e dos mutantes. A concentração de 100 mM de NaCl e KCl afetou fortemente o crescimento dos mutantes e da cepa selvagem (Figura 6A e 6B). Por outro lado, quando o sal Na2SO4 foi utilizado, uma concentração de 250mM de Na2SO4 foi necessária para se obter uma redução de crescimento semelhante ao ocorrido com 100mM de NaCl (Figura 6C). Portanto, este resultado sugere que o íon cloreto (Cl-) é mais 31 A) 100 10-1 10-2 10-3 PAl5 Gdosm1 Controle Gdosm2 Gdosm3 B) 100 10-1 10-2 10-3 PAl5 Gdosm1 1,2 M Sorbitol Gdosm2 Gdosm3 C) 100 10-1 10-2 10-3 PAl5 Gdosm1 Gdosm2 0,8 M Sacarose Gdosm3 Figura 5. Crescimento dos mutantes na presença de diferentes agentes osmóticos.. Alíquotas de 10 µL de cada uma das culturas foram plaqueadas em meio DYGS sólido. Diferentes diluições foram preparadas a partir de culturas de bactérias contendo 107 u.f.c/mL. Em A) crescimento da cepas selvagem e mutantes em meio DYGS controle; em B) meio DYGS suplementado com 1,2M de sorbitol e em C) meio DYGS suplementado com 0,8M de sacarose. Foram realizadas três repetições de cada um dos ensaios. 32 prejudicial que o íon sódio (Na+) para o crescimento de G. diazotrophicus em ambiente salino. O mutante Gdosm1, se mostrou sensível aos sais NaCl e Na2SO4. Entretanto, este mutante foi mais tolerante que a cepa selvagem à presença de KCl. O mutante Gdosm2 apresentou nível de sensibilidade semelhante à cepa selvagem, para todos os sais e concentrações testadas. O mutante Gdosm3 se mostrou o mais sensível a estresse salino entre os mutantes analisados. Os dados obtidos com a utilização do replicador de 96 pinos foram confirmados em meio DYGS sólido contendo 100 mM de NaCl, 100 mM de KCl e 250 mM de Na2SO4. Para tanto, diferentes diluições de cada uma das culturas foram inoculadas utilizando-se alíquotas de 10 µL. Como pode ser observado na figura 7, o efeito do estresse salino foi severo para todos os tratamentos analisados. O uso de diferentes diluições permitiu observar que o crescimento superior do mutante Gdosm1 em relação a cepa selvagem foi confirmado apenas quando a concentração celular foi a maior utilizada (Figura7C). Adicionalmente, tanto para cepa selvagem como para os mutantes, quando uma concentração menor de células foi utilizada, o efeito do estresse salino foi potencializado. 4.8 - Efeito combinado de NaCl e sacarose sobre o crescimento dos mutantes. Para avaliar a influência da sacarose na resposta dos mutantes ao estresse salino um ensaio foi realizado utilizando meio DYGS sólido controle e suplementado com 100mM de NaCl e 200mM de sacarose. Como pode ser observado na figura 8C, a adição de sacarose ao meio foi capaz de reverter o dano provocado NaCl sobre o crescimento da bactéria selvagem (Figura 8A). O crescimento do mutante Gdosm1 na presença de NaCl foi parcialmente recuperada pela adição de sacarose ao meio. Adicionalmente, o crescimento do mutante Gdosm2 foi restabelecido para níveis semelhantes ao da bactéria tipo selvagem. Diferente do observado para os mutantes Gdosm1 e Gdosm2, a presença de sacarose no meio, não foi eficiente para recuperar o crescimento do mutante Gdosm3. 33 A) B) C) Figura 6. Efeito do estresse salino sobre o crescimento dos mutantes. Culturas de 7 bactérias contendo 10 u.f.c/mL foram inoculadas em meio DYGS sólido com o auxilio do replicador de 96 pinos. Concentrações maiores que 100mM de NaCl e KCl não apresentaram crescimento e portanto não foram plotadas no gráfico. Em A) meio DYGS suplementado com 100mM de NaCl; em B) meio DYGS suplementado com 100mM de KCl e em C) meio DYGS suplementado com um gradiente de Na2SO4. Barras em preto, cinza escuro, cinza claro e hachurada demonstram o crescimento das cepas selvagem, Gdosm1, Gdosm2 e Gdosm3 respectivamente. O crescimento foi avaliado visualmente dando-se valores arbitrários de 0-10 para cada uma das colônias. Os dados foram plotados utilizando a média entre as 4 repetições de cada cepa para cada uma das concentrações testadas. 34 A) B) 0 10 -1 10 -2 10 -3 100 10 PAl5 PAl5 Gdosm1 Gdosm1 Gdosm2 Gdosm2 Gdosm3 Gdosm3 Controle C) 100 10-1 10-2 10-1 10-2 10-3 100 mM NaCl D) 100 10-3 PAl5 PAl5 Gdosm1 Gdosm1 Gdosm2 Gdosm2 Gdosm3 Gdosm3 10-1 10-2 10-3 250 mM Na2SO4 100 mM KCl Figura 7. Crescimento dos mutantes sobre estresse salino. Gotas de 10 µL de cada uma das culturas foram plaqueadas em meio DYGS sólido. Diferentes diluições foram preparadas a 7 partir de culturas de bactérias contendo 10 u.f.c/mL. Em A) crescimento da cepa selvagem e mutantes em meio DYGS controle; em B), C) e D) meio DYGS suplementado com NaCl (100 mM), KCl (100 mM) e Na2SO4 (250 mM). Foram realizadas três repetições de cada um dos ensaios. 35 A) 100 10-1 10-2 10-3 PAl5 Gdosm1 Controle Gdosm2 Gdosm3 B) 100 10-1 10-2 10-3 PAl5 Gdosm1 100 mM NaCl Gdosm2 Gdosm3 C) 100 10-1 10-2 10-3 PAl5 Gdosm1 Gdosm2 100 mM NaCl + 200mM Sacarose Gdosm3 Figura 8. Efeito protetor da sacarose contra o estresse provocado por NaCl.. Alíquotas de 10 µL de cada uma das culturas foram plaqueadas em meio DYGS sólido. Diferentes diluições foram preparadas a partir de culturas de bactérias contendo 107 u.f.c/mL. Em A) crescimento da cepas selvagem e mutantes em meio DYGS controle; em B) meio DYGS suplementado com 100mM de NaCl e em C) meio DYGS suplementado com 100mM de NaCl mais 200mM de sacarose. Foram realizadas três repetições de cada um dos ensaios. 36 4.9 – Análises dos genes identificados No intuito de melhor correlacionar os genes identificados nos mutantes com os fenótipos observados, análises de bioinformática foram realizadas utilizando os dados do genoma de G. diazotrophicus disponíveis no NCBI e as ferramentas disponíveis no mesmo site. Neste sentido a primeira análise realizada foi uma busca por domínios conservados em cada um dos genes (Figura 9). Como pode ser observado, para o mutante Gdosm1, além do domínio nifU, já caracterizado no genoma de G. diazotrophicus, puderam também ser observados os domínios NFU_N, COG0694 e PRK11190 (Figura 9A). O domínio NFU_N esta relacionado a proteínas formadoras de grupamento ferro-enxofre, presentes em organismos não fixadores de nitrogênio. O domínio COG0694 esta relacionado a proteínas semelhante a Tioredoxina e está envolvida com processos de oxidação e o domínio PRK11190 esta envolvido com o transporte do ânion gliconato (Figura 9D). Para o mutante Gdosm2 (Figura 9B), semelhante ao já descrito para esta seqüência no genoma de G. diazotrophicus, a maioria dos domínios encontrados estão relacionados com a família de proteínas de estresse universal. Adicionalmente, foi observado também um domínio C-terminal de uma subfamília de transportadores antiporter Na+/H+. Entretanto, o valor do E-value para este domínio foi considerado alto e portanto de baixa confiabilidade (Figura 9D). As análises do mutante Gdoms3 (Figura 9C) revelaram similaridade com domínios de proteínas envolvidas com o processo de replicação e reparo do DNA. Com o objetivo de verificar a similaridade das proteínas mutadas com proteínas de outros microrganismos foi realizado um alinhamento no banco de dados do NCBI utilizando a ferramenta Blastp. A seqüência mutada no mutante Gdosm1 apresentou 73% de similaridade com uma proteína NFU formadora de grupamentos Fe-S de Granulibacter bethesdensis. O E-value observado para esta comparação foi de 2e-69. A seqüência mutada no mutante Gdosm2 apresentou 56% de similaridade com uma proteína com domínio UspA de Acidiphilium cryptum JF-5. O E-value observado para esta comparação foi de 2e-86. A seqüência interrompida no mutante Gdosm3 apresentou similaridades menores que 50% com proteínas hipotéticas de diferentes organismos. Entre estas, a proteína hipotética SMc02759 de Sinorhizobium meliloti apresentou 34% de similaridade com a seqüência mutada e valor de E-value igual a 3e-104. 37 A) B) C) D) Descrição dos domínios E-value pfam08712, Nfu_N, Proteína modular Nfu/NifU N terminal. 7e-28 COG0694, Proteínas e domínios semelhantes a Thioredoxina 3e-21 pfam01106, NifU, Domínio semelhante a NifU 9e-15 PRK11190, Proteína associada ao transporte de gliconato 6e-04 Cd 00293, USP_Like, Família de proteínas de estresse Universal 3e-07 pfam00582, Usp, Proteína de estresse Universal UspA 2e-08 COG0589, UspA, Proteína de estresse Universal UspA e proteínas que se ligam a nucleotídeos Cd01988, Na_H_Antiporter_C, O domínio C-terminal de uma subfamília de transportadores antiporter Na+/H+. COG3893, Superfamília I inativadora de helicase 3e-07 3e-40 COG3893, Superfamília I inativadora de helicase 8e-17 COG2887, Exonuclease da família RecB 2e-15 0,001 Figura 9. Domínios conservados nos genes interrompidos pelo transposon Tn5. Em A), B) e C) pode-se observar os domínios conservados nos mutantes Gdosm1, Gdosm2 e Gdosm3 respectivamente. Em D) Um resumo da descrição de cada um dos domínios e o respectivo coeficiente de confiabilidade (E-value) de cada um deles. Foi utilizada a ferramenta “Conserved domain search” do site do NCBI. 38 proteínas hipotéticas de diferentes organismos. Entre estas, a proteína hipotética SMc02759 de Sinorhizobium meliloti apresentou 34% de identidade com a seqüência mutada e valor de E-value igual a 3e-104. Devido a similaridade da proteína nifU mutada no genoma de G. diazotrophicus com uma proteína de formação de grupos Fe-S de um organismo não fixador de nitrogênio, foi realizada uma busca no genoma para verificar a possível presença de outra nifU que estivesse relacionada com organismos fixadores de nitrogênio. Como pode ser observado na Figura 10, foram encontradas três ORFs anotadas como nifU em três regiões distintas do genoma de G. diazotrophicus. A comparação da seqüência de aminoácidos codificada pela ORF nifU localizada dentro da ilha nif (Figura 10A), revelou 61% de similaridade (E-value= 4e-111) com a proteína nifU de Methylobacterium sp. 4-46. A ORF localizada próximo aos genes suf (Figura 10B) revelou 51% de similaridade (E-value = 7e-28) com uma proteína formadora de grupos Fe-S do sistema SUF de Acidiphilium cryptum JF-5. A terceira ORF anotada como nifU, que corresponde ao gene interrompido pelo transposon no mutante Gdosm1, foi localizada na região entre 1,396Mpb e 1,399Mpb ao lado da ORF anotada como rutE. 39 A) MWEYSDKVKDYFFNPKNAGVMEDASGVGEVGAIACGDALKLMIKVDPQDERITEARFQTFGCGS AIASSSALTEIIIGKTLDQALEISNQDIADFLGGLPPEKMHCSVMGYEALRAAVANYRGEVWED DHEDGALLCRCFGVDEGMVERAIRNNGLTSMEQVAQFTKATGSCGTCVEGVEGVLERTNAAMVA EGLLDPVQAFVPGGAAPVRGRAQKTSPVAPPARTGGKMTTVQKIRAIEEVLEELRPALRNDGGD CELVDVEDNRVMVRLTGACVNCQLAAVTVQGIQGRIAERLGTPVRVIPVQAGQ B) MDQDGLYQRQVIERARAPVHAGPLDGATHQGEGTNPMCGDRVRLGVTLDAAGRVVMVRHQTRGC AICVASADMMADLAPGRSVAELGVLSRAFTDMLRTGGDAPNPELATFAGLHRHRSRIRCATLPW SALDDALNESKEG C) MFIETEDTPNPATLKFLPGRTIVPGRATADFVSPDAVAGRSKLADALFGQPGVARVFLGGDFVA VTKDEATDWSVLKPQLLSVLVDFFVSGMPAIEDDAAVEEELIAPEDEEIVRQIKELLDTRVRPA VAGDGGDIVFRGYRDGVVRLTMQGACSGCPSSRATLKHGVENMLRHYVPEVVSVEQVDA Figura 10. Seqüências anotadas como nifU e suas respectivas posições no genoma de G. diazotrophicus. Em A) nifU inserida na ilha nif; em B) nifU próximo aos genes suf; e em C) nifU interrompida pelo transposon Tn5. Os resíduos de cisteína de cada uma das proteínas foram destacados em verde. A região em azul claro representa o genoma de G. diazotrophicus com aproximadamente 3,94Mb. Regiões em rosa representam seqüências codificantes (CDS) e regiões em cinza representam genes. Destaque em azul escuro para a região pretendida do genoma. A barra vermelha mostra o fragmento referente à seqüência desejada. Figuras obtidas a partir do site do NCBI. 40 5 – DISCUSSÃO. Gluconacetobacter diazotrophicus é uma bactéria endofítica de cana-deaçúcar. Sua ocorrência no interior da planta tem sido relatada em todos os tecidos vegetais, incluindo o xilema (James e Olivares, 1998; James et al., 2001). Por ser uma bactéria endofítica G. diazotrophicus experimenta uma vantagem adaptativa em relação aos demais microorganismos. No espaço apoplástico dos colmos de cana-de-açúcar a concentração de sacarose pode ultrapassar de 10%, o que, para muitos microrganismos, é considerada como uma concentração inibitória. Adicionalmente, foi visto que em laboratório esta bactéria cresce em concentrações de até 30% (~ 875mM) de sacarose (Cavalcante e Döbereiner, 1988). Portanto, a capacidade de G. diazotrophicus de crescer em altas concentrações de sacarose pode ser uma das características que permitam o sucesso de colonização desta bactéria. No presente trabalho, a característica de G. diazotrophicus tolerar altas pressões osmóticas causadas por açúcar foi estudada. Neste sentido, uma biblioteca de mutantes de inserção (Intorne, 2008) foi escrutinada na presença de altas concentrações de sorbitol e permitiu a identificação de quatro mutantes sensíveis a 1,1M de sorbitol em meio DYGS líquido. As análises moleculares destes mutantes revelaram que três genes diferentes foram mutados, uma vez que os mutantes Gdosm3 e Gdosm4 apresentaram mutações no mesmo gene (Tabela 3). Com o intuito de identificar a função dos genes mutados, foram realizadas análises de seqüência utilizando as informações disponíveis no banco de dados do NCBI. As análises de seqüência através de BLAST, do mutante Gdosm1, revelaram similaridade com o gene nifU que codifica uma possível proteína que participa do processo de fixação de nitrogênio (Tabela 3). A proteína NifU foi identificada primeiramente em Azotobacter vinelandii e a mutação deste gene levou a perda de atividade tanto da Fe-Nitrogenase como da FeMo-Nitrogenase (Jacobson et al., 1989). Proteínas NifU, envolvidas na fixação de nitrogênio, possuem muitos resíduos de cisteína conservados. Estas cisteínas participam da estabilização dos átomos de ferro e são consideradas importantes para a formação dos complexos grupamentos Fe-S requeridos pela nitrogenase (Johnson et al., 2005). A observação da existência de três seqüências abertas de 41 leitura anotadas como nifU no genoma de G. diazotrophicus (Figura 10) levanta a hipótese de que a seqüencia mutada não esteja envolvida com o processo de fixação de nitrogênio. Como pode ser observado na figura 10A, uma das ORFs anotadas como nifU se encontra localizada dentro do operon nif, e esta proteína apresenta similaridade com a proteína nifU de Methylobacterium sp. 4-46, um microrganismo fixador de nitrogênio (Jaftha et al., 2002). Em contrapartida, a proteína mutada em Gdosm1 apresentou maior similaridade com NFU, uma proteína formadora de grupos Fe-S, presente em organismos não fixadores de nitrogênio como Granulibacter bethesdensis. Além disso, pode-se observar uma grande diferença no número de cisteínas entre a proteína mutada e a proteína codificada pelo gene presente no operon nif. Sendo assim, é provável que a seqüência mutada em Gdosm1 não esteja envolvida com o processo de fixação de nitrogênio e que este mutante ainda seja capaz de formar o complexo da nitrogenase para fixar o nitrogênio utilizando a proteína nifU codificada pelo operon nif. Hwang et al (1996), analisando a similaridade entre diferentes proteínas semelhantes à nifU, presentes em organismos distantes evolutivamente, sugerem que essas proteínas participem de funções celulares básicas e possam estar entre as proteínas mais conservadas durante a evolução. Uma vez que, grupamentos Fe-S são um dos grupos prostéticos mais comuns na biologia, e são requeridos para sustentar a maioria dos processos vitais básicos (Fontcave et al., 2008), a mutação em nifU, ocorrida no mutante Gdosm1, poderia influenciar a atividade de diversas proteínas Fe-S. Semelhante ao ocorrido neste trabalho, onde uma proteína formadora de grupos Fe-S está relacionada a resposta de G. diazotrophicus ao estresse osmótico, Höper et al (2006), estudando a adaptação de Bacillus subtilis ao estresse salino observaram uma indução na síntese de enzimas envolvidas na assimilação de sulfato e na formação de grupos Fe-S em resposta ao estresse. Estudos posteriores, buscando analisar quais as principais proteínas Fe-S tiveram a sua atividade afetada pela mutação ocorrida em Gdosm1 permitirão avaliar melhor o papel da proteína nifU na resposta de G. diazotrophicus ao estresse osmótico. Análises de seqüência para o mutante Gdosm2 revelaram homologia com uma proteína de estresse universal com domínio UspA. A proteína de estresse universal A (UspA) pertence a um grupo de proteínas ancestrais conservadas que 42 são encontradas em bactéria, Archea, fungos, insetos e plantas. Em E. coli a proteína UspA é expressa em resposta a diferentes variações que ocorram no meio extracelular. Além disso, UspA é encontrada como uma das proteínas que mais se acumulam no citoplasma de células de E. coli que tenham o seu crescimento impedido por algum fator (Kvint et al., 2003). Um mutante de Azospirillum brasilense defectivo para uma proteína semelhante a Usp apresentou um fenótipo pleiotrópico com respeito a diferentes condições de estresse. Mutações nesta proteína levaram a um aumento da sensibilidade das células a falta de carbono e a choque térmico. Entretanto, o mutante apresentou um aumento da tolerância a agentes que causam estresse oxidativo. Adicionalmente, foi observado que este mutante foi impedido em sua capacidade de floculação e que parte da camada de exopolissacarídeos presente na superfície do tipo selvagem foi perdida no mutante (Blaha e Schrank, 2003). A função exata da proteína Usp de G. diazotrophicus ainda permanece por ser estabelecida. Estudos posteriores, que submetam o mutante Gdosm2 a outros estresses, como alta temperatura, falta de nutrientes e estresse oxidativo, além do estresse osmótico permitirão avaliar se em G. diazotrophicus este gene também tem um efeito pleiotrópico, semelhante ao ocorrido com Azospirilum brasilense. Análises de seqüência do mutante Gdom3 revelaram homologia com uma proteína de função desconhecida. Além disso, a busca por similaridade com outros organismos revelou comparações de baixa similaridade com proteínas hipotéticas de diferentes organismos. Entre os alinhamentos obtidos foi possível identificar uma proteína de Sinorhizobium meliloti 1021, denominada proteína hipotética SMc02759, com 34% de identidade. Em trabalho publicado por Wei et al. (2004), quando o gene SMc02759 foi interrompido, obteve-se o mutante W10. Este mutante se mostrou altamente sensível à salinidade e pouco sensível a estresse provocado por glicose. A seqüência de aminoácidos deduzida para a seqüência interrompida revelou similaridade com helicase I de Magnetospirillum sp. e exonuclease RecB de Rhodospirillum rubrum (Wei et al., 2004). Similar ao ocorrido com SMc02759, a busca por domínios conservados na seqüência interrompida no mutante Gdosm3 revelou a presença de domínios helicase e exonuclease RecB (Figura 9C). Tais domínios estão envolvidos com processos de replicação e reparo do DNA. Sendo assim, provavelmente a mutação tenha 43 afetado a capacidade de a bactéria corrigir os danos causados pelo estresse na maquinaria de replicação e recombinação do DNA. Devido ao escrutínio dos mutantes ter sido realizado em larga escala e o crescimento dos mutantes avaliado apenas visualmente, fez-se necessário uma análise posterior através de curvas de crescimento. O objetivo de tal experimento foi confirmar os fenótipos sensíveis e verificar diferenças no crescimento dos mutantes na situação controle e estressada por sorbitol. Os dados apresentados na figura 3A demonstraram que os mutantes Gdosm1 e Gdosm2 apresentaram uma cinética de crescimento semelhante à cepa selvagem na situação controle. Tal resultado sugere que, nas condições de cultivo testadas, os genes nifU e Usp não estejam envolvidos em funções celulares básicas pois o crescimento dos mutantes na situação controle não foi afetado. Em contrapartida, os mutantes Gdosm3 e Gdosm4, que possuem inserção no mesmo gene, apresentaram um retardo do crescimento com relação a cepa selvagem e ao demais mutantes. Tal observação concorda com os dados de que a proteína mutada em Gdosm3 esteja envolvida na maquinaria de replicação e reparo do DNA. Uma vez que a maquinaria de replicação e reparo do DNA tenha sido parcialmente afetada, pois os mutantes ainda foram capazes de crescer na situação controle, a tendência é o aumento do intervalo de tempo até que as bactérias consigam entrar em crescimento exponencial. Quando as bactérias foram testadas para o crescimento na presença do agente estressante (Figura 3B), nenhum dos mutantes apresentou crescimento no período de 60 horas do ensaio. Para os mutantes Gdosm1 e Gdosm2, estes dados confirmam a importância dos genes nifU e Usp na resposta de G. diazotrophicus ao estresse osmótico. Entretanto, para os mutantes Gdosm3 e Gdosm4 isto não pode ser afirmado com uma maior certeza. Isto porque, os danos causados pelo estresse a maquinaria de replicação podem ter sido muito maior do que a capacidade da célula em se recuperar na ausência do gene mutado. Sendo assim o gene mutado em Gdosm3 e Gdosm4 teria uma participação indireta no processo de osmotolerância em G. diazotrophicus. Para avaliar a resposta dos mutantes a diferentes concentrações de sorbitol e sacarose foi realizado um ensaio utilizando meio de cultivo sólido. O método de avaliação utilizado foi a diferença entre o crescimento das colônias no meio de cultura com os agentes estressantes e no meio de cultura controle. Na presença destes agentes osmóticos, as cepas, selvagem e mutantes, tiveram um 44 padrão de resposta semelhante para sorbitol e sacarose. A bactéria tipo selvagem, como esperado, foi capaz de crescer até 800mM (27%) de sacarose (figura 4B), e portanto, dentro do limite dos 30% de sacarose já descritos como não inibitório para esta bactéria (Cavalcante de Döbereiner, 1988). Embora os mutantes Gdosm2 e Gdom3 tenham apresentado forte redução do crescimento, na concentração de sorbitol utilizada para o seu isolamento (1,1 M) em meio líquido, quando concentrações inferiores a 1 M de sorbitol em meio sólido foram utilizadas o crescimento destes foi semelhante a cepa selvagem (Figura 4A). Além disso, estes dois mutantes apresentaram nível de crescimento similar a cepa selvagem na concentração de 800mM de sacarose (Figura 4B). Diferente destes, o mutante Gdosm1 demonstrou um nível de sensibilidade dose dependente, uma vez que o seu crescimento foi diminuindo gradativamente com o aumento da concentração de açúcar. A diferença de sensibilidade apresentada pelos mutantes nos experimentos em meio sólido quando comparada com a alta sensibilidade apresentada, durante o escrutínio e o ensaio de curva de crescimento, em meio líquido poderia ser explicada pelo fato de que, em meio líquido, as bactérias poderiam estar mais expostas ao agente estressante que em meio sólido. Neste último, a formação da colônia e a formação de biofilme poderiam proteger as células do contato direto com o estresse osmótico permitindo assim a tolerância e o crescimento. Após a análise da resposta dos mutantes ao estresse osmótico provocado por altas concentrações de açúcar, buscou-se também fazer uma análise do crescimento da cepa selvagem e dos mutantes na presença de estresse salino provocado por NaCl, KCl e Na2SO4. A substituição de altas concentrações de açúcares por diferentes sais em diversas concentrações demonstrou alterações no padrão de crescimento de G. diazotrophicus quando comparado ao estresse osmótico (Figura 4 e 6). Os resultados obtidos para cepa selvagem na presença de NaCl e KCl confirmaram a característica de sensibilidade a estresse salino já descrito para G. diazotrophicus (Reis e Döbereiner, 1998) (Figura 6A e 6B). Entretanto, a utilização de Na2SO4 para a confirmação do efeito prejudicial do íon sódio para esta bactéria demonstrou que mesmo na concentração de 250mM de Na2SO4 ainda ocorreu o crescimento da bactéria selvagem (Figura 6C). Tal resultado leva a hipótese de que o efeito prejudicial do estresse salino relatado 45 para G. diazotrophicus (Reis e Dobereiner, 1998; Tejera et al., 2003) seja provocado principalmente pelo íon cloreto (Cl-). Tal resultado apresentou-se como uma interessante descoberta, uma vez que não existem relatos a respeito da toxicidade do íon cloreto para esta bactéria. O crescimento dos mutantes no estresse salino foi semelhante para os diferentes sais utilizados, exceto para o mutante Gdosm1 que se apresentou mais tolerante que a cepa selvagem na presença de KCl (Figura 6B). Entretanto, este resultado presente no gráfico de crescimento da figura 6B e confirmado na figura 7C só foi observado quando foram utilizados inóculos sem diluição. Quando as diferentes diluições de inóculo deste mutante foram crescidas no meio sólido (Figura 7C), o mutante Gdosm1 passou a ser mais sensível que a cepa selvagem, semelhante ao ocorrido com os outros agentes estressantes. O mutante Gdosm2 apresentou índices de crescimento semelhante a cepa selvagem em todos as concentrações de sais utilizadas. A comparação destes resultados com os obtidos para estresse osmótico, onde o crescimento deste mutante também foi similar a cepa selvagem em praticamente todas as concentrações de açúcares testadas, fornece evidências iniciais para a participação da proteína Usp na resposta de G. diazotrophicus a estresses em geral. Para o mutante Gdosm3, a resposta foi diferente ao estresse provocado por sal em relação ao estresse osmótico. Para todos os sais e concentrações utilizadas, este mutante foi o mais sensível à salinidade (Figura 6 e 7). Associado a observação de que este mutante é capaz de tolerar 1M de sorbitol e 800mM de sacarose de maneira semelhante a cepa selvagem (Figura 4), pode-se hipotetizar que o gene mutado esteja mais envolvido com o estresse iônico do que com o estresse osmótico. Esta hipótese corrobora com o observado por Wei et al (2004) para o mutante W10 de Sinorhizobium meliloti SMc02759 que foi mais sensível a NaCl do que ao estresse provocado por glicose. Com o objetivo de estudar um possível papel protetor da sacarose contra o estresse salino, foi realizado um ensaio utilizando meio de cultivo adicionado de NaCl e Sacarose. Os dados demonstraram que a sacarose foi capaz de recuperar o crescimento da cepa selvagem a níveis próximos a situação controle. Além disso, também foi observada uma grande recuperação do crescimento dos mutantes Gdosm1 e Gdosm2. A recuperação do crescimento no mutante Gdosm3 foi considerada como mínima. Embora não se tenha descrito um mecanismo de 46 internalização de sacarose para G. diazotrophicus, uma vez que esta bactéria utiliza a enzima levanosucrase para hidrolisar a sacarose no espaço periplasmático, não se pode descartar a possibilidade de que esta bactéria possa internalizar a sacarose por alguma outra via. Neste caso, a bactéria poderia esta utilizando a sacarose como um estabilizador osmótico e assim sendo capaz de tolerar ao estresse osmótico provocado pelo sal. Uma segunda hipótese poderia envolver a sacarose com o efeito provocado pelo íon cloreto sobre as células de G. diazotrophicus. Em um estudo com canais de cloro envolvidos com a doença fibrose cística foi observado que altas concentrações de sacarose intracelular são capazes de inibir o canal impedindo assim o transporte de cloreto em células de mamíferos (Linsdell e Hanrahan, 1996). Portanto, se um sistema semelhante pudesse ser utilizado, a sacarose poderia estar promovendo um efeito protetor a partir da inibição da entrada de cloreto na célula. Estudos posteriores para a quantificação de sacarose e cloreto no interior de G. diazotrophicus permitirão observar se ocorre ou não um acúmulo de sacarose no citoplasma e se isto interfere na quantidade de cloreto no interior das células. Embora a identificação das seqüências mutadas permita a realização de inferências iniciais a respeito da participação destes genes no processo de osmotolerância de G. diazotrophicus, a comprovação do envolvimento das proteínas nifU, Usp e da proteína hipotética GDI0714 na resposta desta bactéria ao estresse osmótico e salino deverá ser obtida através da complementação funcional dos genes mutados. A transformação dos mutantes com os respectivos genes mutados e o restabelecimento do fenótipo semelhante à cepa selvagem, permitirá concluir que os fenótipos observados não foram originados por outras mutações ocorridas ao acaso ao longo do genoma. Inesperadamente, neste trabalho não puderam ser isolados mutantes defectivos para sistemas tidos como comuns no processo de osmotolerância de bactérias, como sensores e transportadores de potássio e as proteínas transportadoras de solutos compatíveis. Tal fato talvez tenha ocorrido devido a principalmente duas hipóteses. A primeira, seria com relação ao número de mutantes escrutinado. Uma vez que a biblioteca analisada é somente parcial e uma grande parte dos genes envolvidos com a osmotolerância pode não estar presente. Para contornar esta situação o aumento da biblioteca e a realização de uma nova busca se fazem necessárias. Uma segunda hipótese poderia estar 47 relacionada ao método de escrutínio utilizando açúcar como agente estressante. Como a bactéria selvagem é altamente tolerante a altas concentrações de açúcar, provavelmente esta possui diferentes rotas para lidar com este tipo de estresse provocado. Sendo assim, quando um gene esteve ausente, outra via poderia suprir a sua falta não afetando totalmente o crescimento deste em sorbitol. Um escrutínio utilizando, por exemplo, Na2SO4 como agente estressante poderia levar ao isolamento de mais mutantes defectivos para proteínas já caracterizadas, envolvidas no processo de osmotolerância. 48 6 – CONCLUSÕES. O presente trabalho identificou 4 mutantes de G. diazotrophicus a partir do escrutínio de uma biblioteca contendo 1630 mutantes. Tais mutações levaram a identificação de genes envolvidos com a sensibilidade de G. diazotrophicus a estresse osmótico. Os genes identificados sugerem a participação de proteínas formadoras de grupos Fe-S, uma proteína de estresse universal e uma proteína envolvida na maquinaria de reparo de DNA na osmotolerância de G. diazotrophicus. A seqüência aberta de leitura mutada no mutante Gdosm1, anotada no genoma com nifU codifica uma proteína que não é essencial ao processo de fixação biológica de nitrogênio. Durante os ensaios com estresse salino, o íon cloreto demonstrou uma alta toxicidade para a bactéria G. diazotrophicus. Sacarose foi capaz de diminuir o efeito do NaCl sobre o crescimento da bactéria selvagem e de dois dos mutantes 49 7 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS. ALVAREZ, B. e MARTÍNEZ-DRETS, G. Metabolic characterization of Acetobacter diazotrophicus. 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