O Programa Bolsa-Escola em Minas Gerais concepção, implementação e desafios Carlos Amaral* Caio Márcio Silveira* Este relatório analisa a experiência do programa "Bolsa Familiar de Educação - Bolsa-Escola" em Minas Gerais, criado por iniciativa do Governo do Estado e implementado, até meados de 2001, em 30 municípios da região do Vale do Jequitinhonha. O programa em foco representa uma importante contribuição no contexto das iniciativas de bolsa-escola e, mais amplamente, das políticas sociais no país. Entre as particularidades que o distinguem e indicam a relevância de seu estudo, destaca-se que a iniciativa é realizada em uma região com características socioeconômicas particularmente desfavoráveis, que dizem respeito não a uma parcela mas à quase totalidade da população ali residente (o que o diferencia da maioria dos programas de bolsa-escola até então constituídos no Brasil, incluída a experiência do Distrito Federal 1). Outras características distintivas podem ser acentuadas, como o fato de incorporar um público predominantemente rural e requerer um processo complexo de consolidação de parcerias, envolvendo o governo estadual e dezenas de governos municipais, além de representações da sociedade civil. O trabalho de campo que apoiou este estudo foi realizado em quatro municípios (Almenara, Berilo, Santo Antonio do Jacinto e Turmalina), nos quais o programa foi iniciado no ano 2000. Sem prejuízo da referência específica a estes casos, a análise que se segue diz respeito ao conjunto da experiência do Programa Bolsa-Escola em Minas Gerais. 1. 0s Programas de Bolsa-Escola e Renda Mínima no Brasil Os programas de bolsa-escola e renda mínima vinculada à educação vêm se firmando como uma das principais experiências inovadoras surgidas nos últimos anos, no cenário das políticas sociais no Brasil. Tendo origem nas experiências pioneiras dos governos de Campinas e Distrito Federal (ambas iniciadas em 1995), esses programas vêm se disseminando por * Carlos Amaral e Caio Márcio Silveira são sociólogos, integrantes do NAPP - Núcleo de Assessoria Planejamento e Pesquisa. 1 A experiência do Distrito Federal foi objeto de um estudo específico no âmbito do projeto Parcerias e Pobreza, projeto especial do programa Gestão Pública e Cidadania (FGV-SP, Fundação Ford, BNDES) apoiado pelo Banco Mundial. Ver Santos Junior, Orlando Alves. "Programa Bolsa-Escola: educando para a cidadania" in CAMAROTTI, Ilka e SPINK, Peter. Parcerias e Pobreza - Soluções locais na Implementação de Políticas Sociais. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2000. 2 todas as regiões do país, através de iniciativas de governo municipais, estaduais e, a partir de 1999, do Governo Federal2. O núcleo básico desses programas consiste na concessão de uma renda complementar a famílias muito pobres, condicionada à matrícula e frequência escolar de seus filhos e dependentes. Em relação aos programas tipicamente assistenciais (distribuição de alimentos, roupas, cestas básicas, etc), essas iniciativas contêm dois importantes elementos inovadores. O primeiro refere-se à concessão do benefício em dinheiro, o que traz implícita a idéia de que as famílias são capazes de gerir suas necessidades e recursos de forma mais adequada que os programas assistenciais de tipo tradicional. O segundo - e mais decisivo - reside no incentivo à escolaridade de crianças de famílias de baixa renda, que introduz um componente estratégico nos programas, vinculando-os às prioridades colocadas para o desenvolvimento econômico e social do país. Para além desse núcleo básico, compreendido no binômio transferência de renda incentivo à escolaridade, diversos programas de bolsa-escola têm buscado articular suas ações com outros serviços, em áreas como assistência materno-infantil, alfabetização de adultos, capacitação profissional, acesso a serviços de documentação, etc. Neste sentido, os programas têm contribuído para o desenvolvimento de novos modelos de política social, baseados em enfoques intersetoriais e sistêmicos, oferta integrada de serviços e focalização nos segmentos com maior pobreza. Apesar da crescente visibilidade e aceitação social dos programas, sobre eles há poucos estudos sistemáticos. Nesse sentido, seus resultados atuais, bem como suas potencialidades e limites, permanecem em boa parte desconhecidos. Ainda assim, a partir dos poucos estudos disponíveis3 e do depoimento de gestores e participantes, é possível chegar a um quadro inicial da trajetória dessas experiências. Ali emergem desafios e dificuldades, ao lado de vários aspectos positivos. O principal elemento positivo, observado em praticamente todos os programas, relaciona-se ao aumento da frequência escolar e à redução da taxa de evasão a níveis 2 A atuação do governo federal ocorre atualmente nos marcos do “Programa Nacional de Renda Mínima vinculada à educação (bolsa-escola)” instituído pela Lei 10.219 de 11/04/2001 e operacionalizado pelo MEC. Esse programa consiste em uma versão modificada do “Programa de Garantia de Renda Mínima” implementado pelo MEC em 1999 e 2000. No seu formato atual, o programa prevê a concessão de um benefício de R$ 15,00 a 45,00 (dependendo do número de filhos) a famílias com renda per capita de até R$ 90,00 e que tenham todos os seus filhos entre 6 e 15 anos matriculados na rede escolar. Os recursos para o pagamento dos benefícios advém da União e o programa, embora extensível a todo o país, prioriza o atendimento a estados e municípios com menor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH inferior a 0,5). 3 próximos de zero, no universo dos alunos beneficiados. Ao romper com os mecanismos tradicionais de expulsão das crianças mais pobres das escolas, os programas de bolsaescola contribuem para uma universalização de fato do ensino fundamental, ajudando a combater uma das principais fontes de reprodução das desigualdades sociais. No tocante às famílias, além dos efeitos imediatos ligados à superação da indigência, os programas têm contribuído para o fortalecimento da auto-estima e melhoria do convívio familiar, possibilitando a seus membros o conhecimento e o exercício de direitos básicos de cidadania. Em relação aos aspectos problemáticos, podem ser mencionados: i) a desvinculação entre o valor dos benefícios e os mínimos sociais necessários à subsistência familiar (visível especialmente no caso do programa do governo federal); ii) a falta de mecanismos que assegurem a continuidade da formação educacional das crianças e adolescentes, após o término do benefício; iii) a ausência ou insuficiência de estratégias voltadas para a inserção econômica das famílias em bases sustentáveis. A convivência entre aspectos positivos, dificuldades e questões não resolvidas pode ser vista como natural, em experiências sociais inovadoras como os programas de bolsaescola. A consolidação e replicação dessas iniciativas em escala nacional exige um conjunto de ações destinadas a ampliar sua eficácia, sustentabilidade e capacidade de adequação a contextos diferenciados. Nesse sentido, o presente artigo, que enfoca o programa desenvolvido pelo governo de Minas Gerais no Vale do Jequitinhonha, considerado uma das regiões mais pobres do país, deve ser visto como uma contribuição para o enfrentamento dos desafios implícitos na proposta de transformar a bolsa-escola em um dos eixos estruturantes das políticas sociais no Brasil. 2. Características Gerais do Programa Bolsa-Escola em Minas Gerais Instituído através de decreto pelo Governo de Minas Gerais, em março de 1999, o Programa Bolsa Familiar para a Educação - Bolsa-Escola definiu como seu objetivo "a admissão e permanência na escola pública de crianças de idade entre sete e 14 anos completos, em condições de carência material e precária situação familiar e social"4. 3 Para uma relação desse estudos, consultar as referências bibliográficas no final desse artigo. Decreto nº 40.327 de 23 de março de 1999 e Exposição de Motivos - Governo do Estado de Minas Gerais. 4 4 A concepção que orienta o programa parte da consideração de que "não basta afirmar que toda criança tem que estar na escola": é preciso garantir as condições objetivas de acesso e permanência, colocando ao lado do princípio de universalização o de equidade, isto é, "a democratização das oportunidades educacionais". Formula-se que o Programa é mais do que um programa de renda mínima, pois seu enfoque principal não seria apenas a distribuição de renda, mas "a educação como direito à cidadania"5. Agrega-se a esta perspectiva a idéia de que o programa deve se converter em foco gerador de ações articuladas e complementares, incluindo propostas pedagógicas inovadoras, apoio à capacitação e inserção profissional e ações no campo da saúde e da cultura, envolvendo órgãos públicos e entidades não governamentais. É enfatizado ainda que os critérios técnicos devem nortear, com a máxima exatidão possível, todas as ações, evitando "o assistencialismo e o clientelismo, muito comuns em iniciativas governamentais de cunho social" 6. Ao longo de 1999, foram definidos os contornos institucionais e o desenho operacional do Programa, abrangendo atribuições dos organismos de gestão, critérios de elegibilidade, mecanismos de seleção e permanência das famílias, definição dos municípios prioritários e elaboração dos instrumentos e sistemas de funcionamento - processo que contou com a participação de consultores contratados e que teve inspiração direta no programa implementado no Distrito Federal, na gestão Cristovam Buarque (1994-1998). Uma primeira definição disse respeito à abrangência geográfica do programa. Em função das suas características e indicadores sociais mais desfavoráveis, definiu-se que a Bolsa-Escola seria direcionada para a região do Vale de Jequitinhonha, embora com a perspectiva de sua expansão posterior para todo o estado. A região do Jequitinhonha A região do Jequitinhonha abrange 51 municípios do estado de Minas Gerais, sendo reconhecida como um foco de concentração de pobreza, não apenas no âmbito estadual, mas também face aos parâmetros nacionais - com base nas informações disponíveis quanto ao Índice Municipal de Desenvolvimento Humano (IDH-M) e aos indicadores específicos de renda per capita, analfabetismo e inserção escolar. 5 6 Ibid. Ibid. 5 A definição da ordem de prioridade, para incorporação dos municípios da região ao programa, envolveu o estudo e escalonamento de indicadores relacionados à evasão escolar (com base nos dados de 1997, da Secretaria Estadual de Educação), ao trabalho infantil e à proporção de crianças fora da escola (com base nos dados do Censo do 1991). Até o final do primeiro semestre de 2001, o programa já estava implantado em 30 municípios, cuja relação e características básicas podem ser visualizadas na Tabela 1. Os 30 municípios totalizam uma população de 409.708 habitantes, sendo todos de pequeno porte, porém com variações significativas, envolvendo desde municípios com menos de 5 mil habitantes (Aricanduva, Leme do Prado, José Gonçalves) até municípios com população acima de 30 mil (Almenara, Capelinha, Minas Novas e Araçuaí). A distribuição da população por zona de moradia indica uma ligeira maioria de população urbana, nos 30 municípios em questão, já de acordo com os dados do Censo de 2000. Ainda que a proporção de moradores no meio rural seja superior à do conjunto do estado de Minas Gerais, observa-se que - ao longo da década de 90 - o perfil marcadamente rural deixou de ser uma característica da região: dos 30 municípios tomados como referência, 18 têm população já predominantemente urbana. Salienta-se que o IDH-M situa-se aquém de 0,500 em praticamente todos os municípios (portanto, na faixa considerada pelas Nações Unidas como indicativa de "baixo desenvolvimento humano"). O índice para os 30 municípios aqui considerados apresenta-se não apenas bem abaixo da média do estado de Minas Gerais (0,699), como inferior ao da região Nordeste como um todo (0,517) e, ainda, de todos os estados do Brasil: os estados com menor IDH-M (Maranhão, Piauí, Alagoas e Paraíba) mostravam índices acima de 0,450 - de acordo ainda com o Censo de 1991, base para os índices municipais disponíveis até meados de 20017. 7 Vale observar que o Mapa do Desenvolvimento Humano no Brasil (PNUD/IPEA/FJP), com a aplicação do conceito de Índice Municipal de Desenvolvimento Humano (IDH-M), só foi publicado em 1997. 6 Tabela 1. Jequitinhonha - indicadores sociais (municípios abrangidos pelo Programa Bolsa-Escola até 2001) Município Pessoas Residentes % pop urbana/ rural IDH-M Mortalidade infantil Analfabetismo Evasão Ensino Fundamental ALMENARA Almenara 35.356 79% 0,486 53,0 45,4 17,8 Felisburgo 6.231 73% 0,438 46,6 43,7 14,3 Jacinto 12.067 72% 0,404 61,8 44,4 11,0 Jequitinhonha 22.855 70% 0,456 39,3 44,4 10,5 Joaíma 14.559 71% 0,418 56,2 50,5 12,8 Jordânia 9.869 72% 0,475 48,6 41,4 13,8 10.706 42% xx xx xx 12,0 Rio do Prado 5.384 54% 0,388 47,6 48,0 9,8 Rubim 9.642 78% 0,452 53,0 40,1 11,5 Salto da Divisa 6.813 82% 0,509 52,8 49,9 25,3 Santa Maria do Salto 5.283 69% 0,403 45,7 46,4 9,0 Sto Antonio do Jacinto 12.129 50% 0,372 73,0 52,1 8,3 ALMENARA (REGIÃO) 150.894 69% 0,436 52,5 46,0 13,0 Angelândia 7.470 43% xx xx xx 11,0 Aricanduva 4.254 25% xx xx xx 11,0 Capelinha 31.014 64% 0,465 57,7 38,2 12,2 Carbonita 8.928 62% 0,468 47,3 40,5 7,1 Chapada do Norte 15.220 32% 0,416 xx xx 9,2 Itamarandiba 29.170 61% 0,448 39,7 50,2 11,7 4.712 33% xx 39,7 36,8 14,3 Minas Novas 30.630 25% 0,405 xx xx 8,6 Turmalina 15.644 65% 0,463 36,2 35,3 7,0 Veredinha 5.262 59% xx 39,7 34,9 11,5 152.304 49% 0,444 43,4 39,3 10,4 Araçuaí 35.439 57% 0,496 36,2 35,3 7,0 Berilo 12.989 23% 0,483 39,7 34,9 11,5 Palmópolis DIAMANTINA Leme do Prado DIAMANTINA (REGIÃO) TEÓFILO OTONI Coronel Murta 9.124 71% 0,442 53,0 31,0 9,3 Francisco Badaró 10.294 24% 0,392 48,0 43,6 7,0 Itinga 13.836 41% 0,394 43,8 46,6 9,7 6.461 31% xx xx xx 12,8 José Gonçalves 4.706 17% xx xx xx 12,5 Virgem da Lapa 13.661 43% 0,425 48,3 44,1 8,3 106.510 44% 0,439 44,8 39,3 9,7 409.708 55% 0,439 48,1 42,5 11,2 Jenipapo de Minas TEÓFILOOTONI(REGIÃO) TOTAL Fontes: IBGE - Censo de 2000 (população e proporção urbano-rural); PNUD/IPEA/FJP - Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil - 1991 (IDH, mortalidade infantil, analfabetismo); SEE/MG - 1997 (evasão escolar). 7 Destacam-se ainda as elevadas taxas de analfabetismo da população com 15 anos ou mais, também acima da região Nordeste como um todo, equiparando-se aos estados que apresentam os indicadores mais críticos no país (os mesmos quatro acima citados). Em alguns municípios, o analfabetismo entre jovens e adultos chega a atingir metade ou mais da população (Santo Antonio do Jacinto, Joaíma, Itamarandiba). Este é um dos traços marcantes da realidade do Jequitinhonha, nitidamente desafiante para um programa que, sendo essencialmente educacional, destina-se a famílias cujos adultos - em grande parte não passaram por um processo mínimo de escolarização. Estrutura e princípios operacionais do programa O programa é coordenado pela Secretaria de Educação, através de uma Secretaria Executiva criada especificamente para sua implementação, juntamente com uma Comissão Executiva formada por representantes de três outras Secretarias (Trabalho, Assistência Social da Criança e do Adolescente - SETASCAD, Saúde e Cultura) e do Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente. A estrutura institucional da região do Jequitinhonha - na área de educação - é constituída pelas Superintendências Regionais de Ensino (SREs) de Almenara, Diamantina e Teófilo Otoni, abrangendo o conjunto de municípios da região e todos os estabelecimentos públicos de ensino, da rede estadual e municipal. A partir destas superintendências são formadas as Comissões Regionais para execução do Programa Bolsa-Escola - contando com representantes das diretorias regionais de outras secretarias (SETASCAD e Cultura) e de entidade não-governamental com atuação na área da infância e adolescência. As Comissões Locais completam o núcleo do sistema de gestão do Programa, sendo presididas pelo representante da Superintendência Regional e incluindo a participação das prefeituras e de representantes da sociedade civil nos municípios. Para inscrição das famílias no programa, definiram-se três critérios básicos de elegibilidade: i) ter todos os filhos, em idade de sete a quatorze anos completos, matriculados em escola pública; ii) residir no município há no mínimo três anos consecutivos; iii) ter renda familiar mensal que não ultrapasse, por pessoa, a metade do valor do salário mínimo. A pessoa requerente deve ser, com absoluta prioridade, a mãe (o pai ou o responsável legal só poderá ser o requerente por incapacidade ou ausência da mãe). A bolsa é concedida para vigorar por 24 meses, podendo ser prorrogada e permanecer enquanto houver dependente na faixa até 14 anos completos cursando o ensino fundamental. Após dois anos, as famílias são recadastradas, sendo excluídas as que não contam mais com crianças nesta faixa, ou que se mudaram para um município não 8 abrangido pelo programa ou que tenham tido "substancial melhoria" de condições 8 socioeconômicas . O valor do benefício foi estabelecido em R$ 70,00 por família, mantendo-se inalterado entre os anos 2000 e 2001 (primeiro semestre). O valor é fixo, isto é, independe tanto de variações da renda familiar (total ou per capita) quanto do número de dependentes na faixa etária de sete a 14 anos. Não há, portanto, diferenciação no valor da bolsa para famílias com um ou quatro filhos, por exemplo, o que é visto como um reforço ao caráter familiar da bolsa - e reproduz a concepção presente na maioria dos programas municipais até então implantados. A contrapartida essencial, por parte das famílias, reside na garantia de frequência escolar mínima de 90% para todos os dependentes na faixa etária abrangida pelo programa. Alcance e cobertura A implantação do Bolsa-Escola na região do Jequitinhonha foi concebida de modo que em etapas sucessivas - os 51 municípios viessem a ser incorporados ao programa. Um aspecto importante do planejamento estava na idéia de que, para cada município, a totalidade da demanda potencial fosse atendida. Deste modo, a expansão do programa significaria necessariamente sua ampliação em novos municípios, e não no interior daqueles que já tinham a bolsa-escola implantada - pois ali a demanda já estaria plenamente coberta9. A estimativa considerou a inscrição de 90% das famílias com filhos entre 7 e 14 anos 10: isto significaria 24.934 inscritos, de um total calculado em 27.791 famílias. No entanto, o número de inscrições foi superior não apenas à previsão, como à estimativa do total de famílias com filhos entre sete e 14 anos no conjunto os municípios abrangidos pelo programa, chegando a 30.923 inscritos. A oferta de bolsas atingiu portanto - até maio de 2001 - 16.318 famílias (e 42.271 crianças), correspondendo a 52,8% da demanda manifesta no cadastramento - para o conjunto dos 30 municípios até então participantes do programa. Pode-se inferir que o número de cadastrados corresponde à avassaladora maioria dos matriculados na rede pública estadual e municipal naqueles municípios: somente os que 8 Resolução nº 124 de 03 de setembro de 1999 - SEE/MG. Se o filho mais novo completar 15 anos, o benefício e o controle de frequência são mantidos até o final do ano letivo em curso. 9 A tabela de implantação previa - para cada etapa - a inserção de novos municípios, vindo a totalizar 45.379 famílias, exatamente a demanda total prevista nos cálculos iniciais do programa. 10 Por sua vez, o número de famílias foi estimado a partir dos dados sobre a população de sete a 14 anos, na proporção de três crianças por família nesta faixa. 9 obtiveram a bolsa (isto é, em torno da metade das famílias inscritas) chegam a 43% dos matriculados no ensino fundamental11. Tabela 2 - Proporção entre famílias inscritas e bolsas concedidas (2000/2001) Município Inscrições realizadas Bolsas familiares concedidas Proporção bolsas concedidas/famílias inscritas ALMENARA Almenara Felisburgo 2.524 528 1.138 263 45,1% 49,8% Jacinto Jequitinhonha 913 1.470 402 724 44,0% 49,3% Joaíma Jordânia 1.287 761 667 375 51,8% 49,3% Palmópolis 626 273 43,6% Rio do Prado Rubim Salto da Divisa 442 805 465 200 369 207 45,2% 45,8% 44,5% Santa Maria do Salto 374 154 41,2% Sto Antonio do Jacinto 937 522 55,7% ALMENARA (REGIÃO) 11.132 5.294 47,6% 568 338 59,5% DIAMANTINA Angelândia Aricanduva 348 207 59,5% Capelinha Carbonita Chapada do Norte 2.126 781 1.342 1.156 348 888 54,4% 44,6% 66,2% Itamarandiba 2.147 1.037 48,3% Leme do Prado Minas Novas 381 2.300 200 1.824 52,5% 79,3% Turmalina Veredinha 1.101 453 598 178 54,3% 39,3% 11.547 6.774 58,7% Araçuaí 2.348 1.139 48,5% Berilo Coronel Murta Francisco Badaró 1.065 815 887 606 365 463 56,9% 44,8% 52,2% Itinga 1.105 545 49,3% 585 370 63,2% 428 1.011 8.244 279 483 4.250 65,2% 47,8% 51,6% 30.923 16.318 52,8% DIAMANTINA (REGIÃO) TEÓFILO OTONI Jenipapo de Minas José Gonçalves Virgem da Lapa TEÓFILOOTONI(REGIÃO) TOTAL 11 O dado constante da Tabela 3 abrange todos os matriculados no ensino fundamental público - e portanto inclui os alunos com mais de 14 anos, idade limite para os bolsistas. Embora não esteja aqui disponível o dado sobre a faixa etária dos matriculados no ensino fundamental, pode-se considerar que esta proporção superararia a metade, caso fossem considerados apenas aqueles com idade inferior a 15 anos completos. 10 Não apenas pelos bolsistas efetivados, mas também pela demanda revelada, constata-se que a oferta da bolsa-escola não se restringe a um segmento da população local, mas a quase todos cujos filhos estão - ou deveriam estar - cursando o ensino fundamental. Isto, além das repercussões que traz sobre a necessária abrangência do programa, induz também à concepção de que sua implantação naqueles municípios deve assumir características "universalizantes". Independentemente das distinções entre "selecionados" e "não selecionados" mencionadas a seguir, há elementos para considerar que a quase totalidade dos matriculados na rede pública - municipal e estadual - apresenta o socioeconômico do público-alvo do programa. . Tabela 3 - Proporção entre bolsistas e alunos matriculados na rede pública do ensino fundamental (no primeiro ano de implantação do programa - 2000) Município alunos matriculados no ensino fundamental (rede pública) alunos bolsistas Proporção bolsistas/ matriculados Almenara 8.793 2.747 31,2% Felisburgo 1.729 714 41,3% Jacinto 3.110 1.076 34,6% Jequitinhonha 5.573 1.919 34,4% Joaíma 3.916 1.885 48,1% Jordânia 2.847 1.028 36,1% Rubim 2.343 987 42,1% Salto da Divisa 2.088 589 28,2% Santa Maria do Salto 1.588 456 28,7% Sto Antonio do Jacinto 4.366 1.431 32,8% Carbonita 2.427 984 40,5% Chapada do Norte 4.102 2.631 64,1% Leme do Prado 1.318 651 49,4% Minas Novas 8.834 5.524 62,5% Turmalina 4.124 1.742 42,2% Berilo 4.208 2.000 47,5% Francisco Badaró 2.710 1.337 49,3% Jenipapo de Minas 1.852 983 53,1% José Gonçalves 1.589 823 51,8% 67.517 29.507 43,7% TOTAL perfil 11 Perfil do público incorporado ao programa Tendo como universo as famílias inscritas no programa, pode-se observar que o quadro de carecimentos é mais agudo para o público selecionado, comparativamente ao não selecionado e aos índices detectados na região como um todo (ver Tabela 4). A taxa de analfabetismo é um dado eloquente a respeito, não apenas por este diferencial mas pelo que permite inferir do perfil do público efetivo do programa. As famílias apoiadas são majoritariamente de origem rural, numa proporção de aproximadamente dois terços do total. Com vimos, isto não é simplesmente um reflexo das características da região, onde já há uma ligeira maioria de população urbana - nos 30 municípios focalizados. Não ocorreu um direcionamento mais explícito para a população rural, como critério de prioridade. Todavia, esta foi a tendência, uma vez que a precariedade ali é maior, em particular nas variáveis relacionadas às condições de habitabilidade - um amplo contingente que não dispõe de água encanada, energia elétrica e, sobretudo, instalações sanitárias. O perfil básico da população atendida traduz-se ainda na posição ocupacional, com uma maior concentração de famílias de produtores rurais e autônomos ou biscateiros, destacando-se ainda a baixa proporção de assalariados, tanto entre as mães (7,2%) quanto entre os cônjuges (9,8%). No caso das requerentes, é também bastante elevada (40%) a proporção das que - de acordo com o formulário de inscrição - "não trabalham", isto é não exercem atividades associadas a ganhos monetários. Outro aspecto a destacar diz respeito a famílias mais numerosas e à maior incidência de mulheres sem cônjuge entre os selecionados, sendo este um dos critérios de prioridade assumidos pelo programa. Ainda que deva ser considerada a existência de um componente não monetário na renda real das famílias, a renda familiar situa-se em patamares de extrema pobreza ou indigência - com uma média per capita de R$ 23,00 - ou seja, menos de oitenta centavos ao dia. Isto significa que - para lidar com médias - o valor da bolsa familiar corresponde a três vezes a renda per capita ou aproximadamente metade da renda familiar considerando o padrão de famílias com seis pessoas, como é o caso. Para a maioria dos beneficiários (correspondendo a mediana a R$ 22,00), o valor da bolsa tende a representar a maior parcela do orçamento familiar. 12 Apesar da diferença significativa entre selecionados e não selecionados (tomados como conjuntos) a renda per capita média é extremamente baixa em ambos os grupos, muito aquém do referencial de meio salário mínimo por mês. Tabela 4 - CaracterÍsticas das famílias inscritas Item Famílias selecionadas Famílias não selecionadas Analfabetismo 50,02% 34,27% Moradia na zona rural 64,56% 36,03% Familias monoparentais (mulher sem cônjuge) 29,4% 19,6% 6 5 R$23 R$41 Moradia sem energia elétrica 50,26% 84,15% Moradia sem instalação sanitária 75,29% 37,54% Moradia sem água encanada 47,25% 15,57% Tamanho médio da família Renda per capita média 3. Implementação e gestão local do programa Esse item aborda a implementação do programa em quatro municípios da região: Almenara, Berilo, Santo Antônio do Jacinto e Turmalina - onde foram realizados trabalhos de campo. Em todos esses municípios o programa encontra-se implantado desde 2000. São aqui examinados aspectos referentes à formação e funcionamento das instâncias de gestão local, aos procedimentos de seleção e acompanhamento dos beneficiários, à natureza e extensão dos serviços oferecidos e ao relacionamento entre as diversas instituições envolvidas na execução do programa. As comissões locais O programa é operacionalizado em cada município por uma Comissão Local (CL). As atribuições da CL envolvem divulgação do programa, organização dos processos de cadastramento e seleção dos beneficiários, acompanhamento dos bolsistas e suas famílias, apuração de denúncias, gestão dos processos de desligamentos, articulação com as escolas e com outras instituições locais. 13 As CLs são formadas via de regra por oito pessoas: dois funcionários da Secretaria. Estadual de representante Educação, do dois FUNDEF, representantes dois da representantes Prefeitura de Municipal, organizações um não governamentais e um representante do Conselho Municipal de Educação. Os representantes do governo estadual são indicados pela SRE e os demais pelas respectivas organizações ou comissões. Os representantes da prefeitura são em geral funcionários da área de educação, sendo que na maioria dos municípios visitados o secretário municipal de educação integrava a comissão. A coordenação da CL (titular e suplência) é assumida pelos representantes da Secretaria Estadual de Educação. Nos municípios abrangidos pela SRE de Diamantina, a coordenadora titular exercia esta função em regime de dedicação exclusiva. Nos outros casos, essa tarefa é conciliada com outras atividades profissionais. Para os outros membros da CL, a participação nessa instância significa em geral uma sobrecarga de trabalho, uma vez que ela não está associada a uma redução proporcional do seu tempo de trabalho em outras atividades. Esse fator é visto como causa de frequentes desligamentos de pessoas e de uma rotatividade relativamente alta na composição das CLs. A capacitação dos membros das CLs é realizada anteriormente à implantação dos programas nos municípios, através de seminários organizados pela Secretaria Executiva, com duração de dois dias, reunindo grupos de municípios próximos. Participam desses seminários os coordenadores (titular e suplente) e, em alguns casos, outros membros das comissões locais. O conteúdo da capacitação está centrado no conhecimento do programa (objetivos, instrumentos legais, operacionalização) e em geral não envolve a transmissão de outros conteúdos e técnicas (nas áreas de formação de lideranças, organização comunitária, geração de renda, etc) que, na visão de integrantes das CLs, poderiam ser de grande utilidade na gestão do programa. Cadastramento e Seleção As inscrições para a participação no programa são precedidas de ampla divulgação (nas escolas e através do rádio, panfletos, faixas e cartazes em locais públicos, etc). Apesar da orientação inicial de que as inscrições deveriam ser feitas de forma descentralizada, em todos os municípios visitados elas ocorreram em um local único, no distrito-sede. 14 Para se inscrever no programa, as mães devem comparecer ao local determinado, portando documento de identidade, comprovante de residência, certidão de nascimento e atestado de matrícula escolar dos filhos de sete a 14 anos. Os requerentes que não possuem os documentos necessários são encaminhados aos serviços de documentaç ão ou às escolas, caso algum dos filhos não esteja matriculado. Durante o processo de cadastramento, os requerentes devem responder às questões constantes do formulário de inscrição. Os formulários são preenchidos pelos cadastradores, em geral funcionários públicos municipais, que recebem uma capacitação específica para esta função. O formulário utilizado baseia-se em um instrumento similar ao desenvolvido pelo programa bolsa-escola do Distrito Federal. Além de dados básicos de identificação, o formulário contém um conjunto de itens relativos à situação socioeconômica dos requerentes e de suas famílias: composição familiar, renda, escolaridade, situação profissional, condições de moradia, etc. De acordo com as respostas dadas a essas questões, cada família recebe um total de pontos, que expressa o seu nível de carecimentos. A adoção desse sistema de pontuação atende a uma dupla finalidade: i) oferecer um indicador mais completo e confiável da real situação socioeconômica das famílias; ii) estabelecer um parâmetro objetivo para a seleção das famílias mais vulneráveis, entre aquelas que preenchem os critérios para inserção no programa. A veracidade das informações prestadas pelos requerentes foi parcialmente checada através de visitas domiciliares realizadas pelas CLs junto a uma amostra de 10% a 15% dos inscritos 12. Além disso, foram colocadas caixas de coletas em locais públicos, através das quais qualquer pessoa pode denunciar casos de famílias que tenham sido indevidamente contempladas com o benefício. Em geral, existe a percepção de que o processo de cadastramento nos municípios visitados ocorreu de forma organizada e de acordo com as normas estabelecidas pela coordenação do programa. Não obstante, a opinião praticamente unânime dos entrevistados foi a de que um número expressivo de famílias que atendiam aos critérios básicos (algumas delas em situação de grande carência) não foi incorporada ao programa. 12 No caso dos municípios onde houve trabalho de campo, essas visitas não foram realizadas apenas em Santo Antônio do Jacinto, devido a limitações operacionais. Deve-se notar contudo que esse procedimento não foi adotado pelos municípios incorporados ao programa em 2001. 15 Isso se deve em primeiro lugar ao fato de o número de inscritos ter superado em torno de 100% o número de bolsas concedidas. Considerando que, na grande maioria dos casos, os inscritos atendiam às condições básicas de enquadramento no programa, isso significa que cerca de metade dos beneficiários potenciais não pôde ser incorporada, devido à limitação do número de bolsas disponíveis. Além disso, de acordo com depoimentos de membros das CLs e de beneficiários do programa, as famílias selecionadas nem sempre foram as que apresentavam maior grau de carecimentos, devido principalmente a três fatores: • Erros nos dados contidos nos formulários de inscrição, devido a informações incorretas dos requerentes (em parte conscientemente e em parte por incompreensão de algumas questões) e a falhas de preenchimento dos cadastradores. • Deficiências do sistema de pontuação utilizado, em virtude principalmente da sua não adaptação às condições socioeconômicas locais. Entre os pontos críticos detectados no sistema, destacam -se o tratamento concedido a famílias que residem em imóveis alugados 13 amplamente favorável (que normalmente não constituem o segmento mais pobre) e a excessiva diferença de pontuação entre os “desempregados” e aqueles que “não trabalham” (desconsiderando que a condição de não trabalho representa em geral uma situação estrutural de desemprego). • Pouca transparência e baixa capacidade de intervenção das comissões locais no processo de seleção. Com exceção do caso de Almenara, sede de uma SRE, as demais comissões não dispuseram de tempo suficiente para a revisão dos formulários, que eram encaminhados no mesmo dia para as cidades-sedes das SREs. Além disso, as SREs não disponibilizam posteriormente para as CLs cópias dos formulários de inscrição, limitando-se a informar a situação do inscrito (selecionado ou não) e, no caso dos não selecionados, o motivo da sua não inclusão (não atendimento a determinado requisito ou, mais frequentemente, pontuação insuficiente). Estes procedimentos não só reduzem a possibilidade de detecção e correção de erros nos formulários de inscrição, como dificultam que o 13 As famílias que moram em imóveis alugados, além de receberem 100 pontos a mais do que as que moram em imóvel próprios ou cedidos, não estão sujeitas à pontuação negativa, caso o imóvel possua energia elétrica, água encanada, instalação sanitária, etc. Isso significa que duas famílias que residam em imóveis em idênticas condições poderão ter uma diferença de até 200 pontos, caso um dos imóveis seja alugado e o outro próprio ou cedido. Esta diferença corresponde a quatro vezes o adicional de pontos atribuídos aos grupos prioritários de atendimento (famílias com crianças subnutridas ou sob medida de proteção especial, portadores de necessidades especiais, etc) 16 mecanismo de revisão da seleção, previsto no regulamento do programa, seja utilizado de forma eficaz. Mesmo reconhecendo a existência de erros e injustiças no processo de seleção, a opinião predominante é que o programa vem obtendo êxito na sua focalização nos setores mais carentes da população-alvo. Como antes apontado, os dados sobre o perfil socioeconômico dos inscritos indicam que, para quase todas as variáveis consideradas, os selecionados encontram-se em uma situação menos favorável que os não selecionados. Em muitos casos, contudo, as diferenças entre os indicadores relativos a selecionados e não selecionados é pouco expressiva, indicando que ambos situam se no mesmo patamar socioeconômico, o que dificulta extremamente o estabelecimento de uma clara linha divisória entre os dois grupos. Neste sentido, a possibilidade de erros de focalização dificilmente será superada enquanto se mantiver a defasagem entre o contingente de beneficiários potenciais e o número de bolsas disponíveis. Pagamento, controle e acompanhamento O pagamento dos benefícios ocorre em dias predeterminados, na sede local dos correios. Contudo, pelo menos em dois municípios visitados, ocorrem atrasos frequentes, embora de poucos dias (menos de uma semana em geral). Além desse problema, que afeta o conjunto dos beneficiários, foram registrados casos individuais de famílias indevidamente excluídas da lista de pagamento em um determinado mês. Nesses casos, o pagamento é feito retroativamente no mês seguinte. O controle da frequência escolar das crianças bolsistas é realizado pelos diretores de escola e enviado diretamente às SREs. A norma de justificação de faltas através de atestado médico tem sido muitas vezes flexibilizada, devido às dificuldades de obtenção deste atestado (especialmente para famílias residentes na área rural). O acompanhamento das famílias é feito através de reuniões organizadas pelas CLs, voltadas para a sensibilização e esclarecimento em relação aos objetivos do programa e para a identificação e tentativa de resolução de dificuldades. Em alguns municípios, essas reuniões acontecem mensalmente, no dia do pagamento dos benefícios. Em outros, ocorrem sem periodicidade definida, associadas ao tratamento de alguma questão socioeducativa. Neste último caso, é frequente que as reuniões contem também com a participação de não beneficiários do programa. 17 A assistência familiar individual ocorre quando os filhos de uma família apresentam um número excessivo de faltas à escola ou quando é identificada outra situação problemática envolvendo crianças e adolescentes. Dependendo da natureza do problema identificado, busca-se acionar o Conselho Tutelar (nos municípios em que este já está formado), o serviço de assistência social do município ou, nos casos que envolvam violência ou coação grave contra crianças ou adolescentes, a polícia. Parcerias O estabelecimento de uma cooperação efetiva com as prefeituras é uma condição essencial para a operacionalização satisfatória do programa. A contribuição da prefeitura envolve, entre outros fatores, a disponibilização de recursos humanos (integrantes das CLs e pessoas de apoio) e materiais (comunicação, transporte), além da vinculação do programa com os serviços públicos do município (inclusive a rede de escolas municipais). Em três dos municípios visitados (Almenara, Berilo e Santo Antônio do Jacinto), o relacionamento com as administrações municipais enfrentou dificuldades durante o primeiro ano de funcionamento do programa. Estas dificuldades deveram-se em alguns casos à existência de divergências políticas entre os integrantes das SREs e as prefeituras (acirradas pela proximidade das eleições municipais) e, em outros, à pouca importância atribuída ao programa pelos governo municipal. Em geral, avaliase que essas dificuldades têm sido superadas no decorrer do presente ano (seja em virtude de mudanças nas administrações municipais ou da superação do momento eleitoral), possibilitando uma melhoria das condições operacionais do programa e a dinamização das comissões locais. Além dos governos municipais, outros parceiros importantes têm sido as escolas (cuja atuação será adiante descrita), as rádios locais (que contribuem na divulgação do programa e nas campanhas educativas desenvolvidas junto às famílias e à sociedade local) e as organizações não governamentais (associações, sindicatos, entidades de proteção e apoio a crianças e adolescentes, etc). A contribuição das ONGs envolve a participação nas CLs, apoio ao trabalho de esclarecimento e sensibilização junto às comunidades locais e, em alguns casos, a incorporação dos participantes do programa em seus serviços. 18 Atividades e Serviços Complementares No seu estágio atual, o programa não dispõe de uma oferta de serviços e atividades complementares para os beneficiários articulada pela coordenação estadual. Desta forma, a existência desses serviços e atividades depende de iniciativas locais, que podem contar (ou não) com apoio da esfera estadual. Nos quatro municípios visitados, a principal atividade complementar consistia nos cursos de alfabetização de mães e pais dos alunos bolsistas. Embora os cursos não sejam oferecidos exclusivamente às famílias beneficiárias do programa, esse grupo tem sido priorizado na divulgação e nas inscrições. Os cursos são organizados pelas secretarias municipais de educação, com apoio das comissões locais e da rede estadual de escolas. Os instrutores são professores da rede pública que, na sua maioria, não foram capacitados para a alfabetização de adultos. Essa limitação deverá ser superada, através de um convênio firmado entre a Secretaria Estadual de Educação e a Fundação Banco do Brasil, que prevê a capacitação de instrutores e a elaboração de material didático para a alfabetização de adultos. Outras atividades e serviços complementares (em particular na área de geração de trabalho e renda) encontram-se ainda em estágio embrionário. Algumas prefeituras vêm buscando articular a realização de cursos profissionalizantes junto à SETASCAD, às entidades do Sistema S e à EMATER. A prefeitura de Turmalina pretende investir com recursos próprios na construção de um “Banco do Povo” municipal. No campo da sociedade civil, a ARAI (Associação Rural de Assistência à Infância), entidade não governamental que participa da CL de Berilo e atua em diversos municípios da região, tem buscado gerar alternativas de trabalho e renda para famílias pobres, através de projetos produtivos comunitários. De uma forma geral, contudo, essas iniciativas carecem de alternativas técnicas e financeiras adequadas. Considerando as condições sociais e econômicas locais, parece pouco provável que essas limitações possam ser superadas sem o apoio de ações extra-regionais. Seja como for, a ausência de uma oferta de serviços voltada para a inserção econômica das famílias beneficiadas constitui um dos principais pontos críticos do programa, representando uma ameaça potencial à perenidade e sustentabilidade de suas ações. 19 Aspectos Educacionais Os alunos bolsistas encontram-se distribuídos nas redes de ensino público estadual e municipal. Os diretores e professores de ambas as redes, ouvidos durante a visita de campo, manifestaram uma opinião favorável ao programa. Os principais aspectos positivos destacados referem-se ao aumento da frequência dos alunos bolsistas e ao estreitamento dos vínculos com as famílias, expresso na maior participação dos pais nas reuniões promovidas pelas escolas. Apesar de a maioria dos municípios não dispor de dados recentes sobre a evasão escolar14, predomina a opinião de que sua tendência tem sido declinante, em função do programa. No tocante ao aproveitamento e rendimento escolar dos bolsistas, a percepção geral é de que não houve alterações significativas a partir da concessão da bolsa. Existe contudo a expectativa de que a continuidade da bolsa por um período maior de tempo, aliada a outras ações educacionais e sociais, venha a produzir uma melhoria no desempenho escolar dos alunos beneficiados. Embora com uma postura favorável ao programa, a maioria dos educadores entrevistados considera que o atingimento de suas metas educacionais demanda que a concessão da bolsa-escola seja acompanhada de investimentos no sistema educacional, voltados tanto para a melhoria da qualidade do ensino quanto para a ampliação dos serviços oferecidos pelas escolas. Em relação aos aspectos pedagógicos, a principal reivindicação reside na contratação de “professores recuperadores”, que realizariam atividades de reforço escolar para alunos com maiores dificuldades de aprendizagem. Embora essa atividade não esteja voltada unicamente para os alunos bolsistas, a necessidade desse grupo tende a ser maior, não só porque sua situação social e sua trajetória anterior influenciam negativamente seu aproveitamento escolar, como também em virtude da impossibilidade de que esses alunos contem com apoio educacional por parte dos pais (que, na sua esmagadora maioria, possuem baixíssimo nível de escolaridade). Outro ponto, salientado pelos diretores da rede escolar estadual, refere-se à necessidade de um maior suporte pedagógico por parte da Secretaria Estadual de Educação e das SREs. Entre outros aspectos, esse suporte deveria envolver a 14 No caso do único município a dispor desses dados (Turmalina) a taxa de eva são escolar no ensino fundamental manteve-se praticamente constante no primeiro ano de funcionamento do programa (2,8% em 2000 contra 2,6% em 1999). De acordo com a Secretaria Municipal de Educação, isso se deve ao fato de a evasão escolar no município concentrar-se na faixa etária de 15 anos ou mais, que não é contemplada pelo programa. 20 transmissão de técnicas pedagógicas e a disponibilização de materiais didáticos adequados para a realização de atividades de aceleração escolar15, capazes de reduzir a defasagem idade-série. No tocante a outros serviços, foi enfatizada a necessidade de que as escolas contem com o recurso permanente de profissionais (psicólogos, fonoaudiólogos, etc) capazes de identificar e ajudar a superar problemas de natureza física, psíquica ou sociofamiliar, que estejam influenciando negativamente o aproveitamento escolar. A disponibilização de recursos para a criação de espaços de lazer nas escolas (como quadras esportivas), que favoreçam a socialização dos alunos e tornem mais atrativo o convívio escolar, é outro ponto mencionado pelos educadores entrevistados. Um último aspecto, em relação aos efeitos educacionais do programa, refere-se à possibilidade de continuidade da formação escolar, após o término do benefício. Em relação a esse aspecto, dois pontos críticos podem ser identificados: o primeiro relaciona-se à defasagem idade-série dos alunos bolsistas, de modo que a grande maioria ultrapassa a idade limite de cobertura do programa sem haver concluído o ensino fundamental. O segundo ponto crítico refere-se às dificuldades de acesso ao ensino médio, devido à limitação de vagas nas redes escolares dos municípios, os custos diretos maiores e a situação de carência material, que induzem uma inserção precoce dos adolescentes no mercado de trabalho. Dessa forma, pode-se afirmar que a continuidade da formação escolar das crianças beneficiadas (requisito essencial para uma futura inserção mais qualificada no mercado de trabalho) irá demandar a criação de incentivos para a permanência na escola após o término da bolsa16, bem como a melhoria das condições de acesso ao ensino médio (e superior) e o desenvolvimento de alternativas de iniciação e formação profissional, compatíveis com o prosseguimento da formação educacional. 15 Na visão dos diretores de escola entrevistados, a falta dessas técnicas e materiais levou a que atividades de aceleração escolar realizadas anteriormente não obtivessem resultados satisfatórios. 16 Uma alternativa nesse sentido seria a adoção da “poupança-escola”, instrumento criado pelo programa bolsa-escola do Distrito Federal, que oferecia um incentivo financeiro (no valor de um salário mínimo por série concluída) para que as crianças prosseguissem a sua formação escolar até a conclusão do ensino médio. 21 4. Elementos de síntese 1. Programa Bolsa Familiar de Educação, em Minas Gerais, representa uma importante contribuição no contexto das iniciativas de bolsa-escola e, mais amplamente, das políticas sociais no país. Em primeiro lugar, pelo seu alcance e por concentrar-se em uma região com características socioeconômicas particularmente desfavoráveis, que dizem respeito não a uma parcela mas à quase totalidade da população ali residente (o que o diferencia da maioria dos programas municipais de bolsa-escola em andamento no Brasil). Em segundo lugar, pelo que representa de esforço de articulação e parceria entre esferas de governo (no caso o governo estadual e dezenas de governos municipais) e as representações da sociedade, de forma combinada com uma ênfase em critérios técnicos e nos aspectos de equidade e cidadania. Constata-se que sua implementação vem permitindo ultrapassar condicionamentos político-partidários e a cultura de apadrinhamento que historicamente incide sobre programas sociais em regiões com maior pobreza, como o Jequitinhonha. 2. As características sociais da região trazem implicações diretas sobre as necessidades de alcance e cobertura do programa. Como fator indicativo, salienta-se que o número atual de participantes representa aproximadamente a metade dos inscritos. Considerando que na quase totalidade os inscritos atendem às condições básicas de enquadramento, isso significa que o programa incorpora apenas metade de seu público potencial. O programa vem obtendo êxito em focalizar o segmento mais crítico da população-alvo. Não obstante, nos municípios visitados, foram identificadas falhas no processo de seleção, deixando de serem incluídas algumas famílias em situação de maior fragilidade do que outras selecionadas. Em parte, isso pode ser atribuído a deficiências do processo de seleção (falhas no preenchimento dos cadastros e inadequação de alguns itens do sistema de pontuação). Por outro lado, e mais essencialmente, o fato de a maioria dos inscritos situar-se no mesmo patamar socioeconômico dificulta consideravelmente a implementação de critérios objetivos de seleção. Nesse sentido, mesmo com o aperfeiçoamento dos mecanismos de seleção, a possibilidade de erros de focalização continuará existindo, enquanto não for reduzida a discrepância entre os contingentes de beneficiários potenciais e 22 efetivos. A redução dessa defasagem nos municípios onde o programa já está em funcionamento deveria ser prioritária em relação à expansão para outros municípios. 3. Como uma primeira e mais imediata dimensão a ser mencionada - quanto aos efeitos do programa, atesta-se que o benefício monetário concedido através da bolsa exerce um impacto significativo na receita familiar, na maioria dos casos correspondendo a mais da metade do orçamento doméstico. Como vem sendo evidenciado, há uma reconhecida melhoria do consumo familiar em função da bolsa, principalmente em itens essenciais como alimentação e vestuário básico, traduzindo-se também em investimentos nas moradias (camas, armários, filtros, etc). A entrada em cena de novos "clientes" - para estes bens de consumo - gera efeitos dinamizadores sobre o comércio local. A legitimidade do programa favorece ainda que a bolsa funcione como um instrumento de acesso ao crédito dada a regularidade do benefício. Tais processos indicam que a bolsa-escola se constitui como fator estimulador das atividades nos municípios, simplesmente a partir do adicional de recursos injetados e postos em circulação. 4. Sem desconsiderar os aspectos imediatos associados ao consumo familiar e à circulação da renda nos municípios, o principal efeito do programa relaciona-se à questão educacional. De um ponto de vista estratégico, o investimento na formação de capital humano, através do incentivo à escolarização de crianças de famílias de baixa renda, constitui o elemento central dos programas de bolsaescola. O pleno alcance das metas educacionais desses programas exige que a concessão da bolsa esteja articulada com investimentos na melhoria do sistema educacional. No caso examinado, é essencial que sejam supridos os déficits existentes na rede escolar (em relação a recursos humanos, materiais e pedagógicos) para que o aumento da frequência, motivado pelo programa, traduza-se também em melhoria do aproveitamento escolar e em integração mais efetiva dos alunos e suas famílias com as escolas. 5. Um aspecto relevante - a ser considerado no desenho do programa - diz respeito à defasagem idade-série: uma ampla parcela do público atendido tende a não completar o ensino fundamental na faixa até 14 anos completos. Trata-se de uma característica não restrita à região aqui focalizada, como vem sendo 23 continuamente apontado pelas pesquisas nacionais por amostragem domiciliar (PNADs/IBGE): a parcela majoritária dos jovens entre 15 e 17 anos não chegou a concluir o ensino fundamental - mesmo no caso daqueles que continuam a estudar e não trabalham17. Nesse sentido, é fundamental o esforço de assegurar aos alunos bolsistas a conclusão do ensino fundamental, seja através da hipótese de ampliação da faixa etária para a manutenção da bolsa ou de outras iniciativas que estimulem mais diretamente o rendimento escolar - inibindo a evasão, mais acentuada a partir dos 14 anos. Entre outros pontos, estas iniciativas devem envolver a aceleração escolar para alunos com maior defasagem idade-série, a ampliação das vagas para o ensino médio na região e a criação de incentivos (como a “poupança-escola”) para que os bolsistas - além de concluir o ensino fundamental - prossigam a sua formação escolar após o término do benefício. 6. Outro aspecto a ser salientado, na análise do programa em tela, diz respeito à sua dimensão política ou, mais precisamente, ao seu significado do ponto de vista da cultura política. Em que pesem as richas e clivagens típicas dos municípios da região, que não deixaram de se evidenciar na trajetória do programa, verifica-se que este, em grande medida, é pouco permeável às práticas clientelistas e ao apadrinhamento político. Isto contribuiu para que a bolsa-escola - reconhecimento na experiência do Vale do Jequitinhonha - adquirisse e credibilidade nos locais onde vem sendo posta em prática: a despeito de dificuldades identificadas em alguns casos (particularmente no primeiro ano de implantação), o programa tende a ser visto como pouco sujeito a manipulações pessoais, partidárias ou eleitorais. 7. Isto não significa que a gestão do programa - em seus aspectos estritamente técnicos - ocorra nas melhores condições possíveis, ou que não haja problemas nesta área. No seu formato atual, o programa não dispõe de uma estrutura profissional para sua operacionalização nos municípios. Operando em regime de semi-voluntariado, as comissões locais carecem muitas vezes dos recursos humanos, técnicos e financeiros necessários a uma gestão eficiente do programa, em particular no desenvolvimento de ações de integração social e econômica das famílias apoiadas. Neste sentido, um dos desafios do programa é a revisão e aperfeiçoamento dos mecanismos de gestão local. 17 Ver, a propósito, Amaral,C.; Silveira,C e Campineiro,D. Trabalho Infantil - Examinando o problema, avaliando as estratégias de erradicação. Rio de Janeiro, Napp/Unicef, 2000. 24 Essa revisão deveria envolver, em primeiro lugar, a redefinição do papel das comissões locais, que passariam a exercer principalmente funções diretivas (em relação às linhas gerais do programa em cada município) e de sensibilização e mobilização das comunidades locais. As tarefas cotidianas de gestão do programa seriam progressivamente assumidas por núcleos técnicos locais, de caráter profissionalizado, a serem custeados por cada município. Outro aspecto relevante é a elaboração e implementação de um programa de capacitação para os integrantes das comissões locais e dos núcleos técnicos, enfocando temas como desenvolvimento comunitário, planejamento e gestão participativa de projetos e instrumentos de geração de trabalho e renda (microcrédito, capacitação de empreendedores, formação profissional). Para apoiar as instâncias locais, poderia ser constituído um fundo (com recursos do governo estadual e de outras fontes, como agências internacionais e fundações empresariais) que viabilizasse o acesso a suportes externos (como consultorias nas áreas de planejamento, gestão e avaliação) e o financiamento de atividades e serviços complementares ao programa, nas áreas social e educacional. 8. Entre as ações complementares ou conexas, uma das principais lacunas do programa, no seu estágio atual, está na ausência de oferta de serviços voltados para a inserção econômica sustentável das famílias apoiadas. As iniciativas de geração de trabalho e renda existentes, geralmente em fase de gestação, carecem de planejamento sistemático, alternativas de financiamento adequadas e conhecimentos técnicos especializados. A existência dessa lacuna representa um sério obstáculo aos objetivos do programa, não só quanto aos impactos sociais, como também quanto às metas educacionais - uma vez que, com o término das bolsas e sem melhoria da situação econômica das famílias, muitas crianças terão dificuldades em continuar os estudos. Por outro lado, considerando que o universo dos participantes (efetivos e potenciais) abrange a ampla maioria da população, é evidente que a questão da inserção econômica e social das famílias apoiadas não poderá ser resolvida exclusivamente no âmbito do programa. Isto significa que, em regiões marcadas por grandes déficits econômicos e sociais, como é o caso do Jequitinhonha, programas socioeducacionais como a 25 bolsa-escola só adquirem um sentido mais profundo, do ponto de vista da sua eficácia e sustentabilidade, à medida que estejam articulados a iniciativas mais amplas de promoção do desenvolvimento local. 9. Sem perder de vista a centralidade da questão educacional - e dos benefícios da escolarização para o futuro das crianças que participam do programa - o incremento da integração intersetorial das ações em âmbito local passa a ser uma questão decisiva sob a ótica das famílias e comunidades envolvidas. Como vem sendo evidenciado em múltiplas experiências, tal integração não é fruto apenas da articulação entre secretarias ou órgãos de governo, mas supõe uma participação mais direta das comunidades, ampliando esferas de expressão de demandas e de formulação e gestão das políticas públicas. Ou seja, o investimento nas famílias inclui mas ultrapassa a conjugação de serviços e instrumentos de apoio, requerendo um investimento na formação de capacidades e na constituição dos "beneficiários" em atores e sujeitos de um processo que é em essência - de transformação de suas próprias formas de vida e inserção social. É importante que o programa alimente e seja retro-alimentado pela geração de ambientes locais que possibilitem um papel mais ativo por parte das famílias e comunidades. O sentido do programa não é portanto perpetuar uma clientela, mas se constituir efetivamente como estratégia - ou elemento de estratégia - que tendo como eixo a potencialização do capital humano e social existentes em cada localidade, possa atuar transformadoramente sobre o quadro de probreza e iniquidade. 10. A implementação do programa Bolsa-Escola em Minas Gerais, como outras iniciativas precursoras ou desencadeadas mais recentemente, representa nitidamente um avanço - em termos de política social, em termos de acesso a direitos. Embora não deixe de ter um componente "assistencial" ou, mais precisamente, de proteção social, trata-se substancialmente de uma ação de promoção, uma ação de enfrentamento das desigualdades através da educação. A experiência em foco permite considerar que o desenho e a gestão do programa mexem, no sentido democrático, com padrões ainda dominantes de atuação do estado e relação entre estado e sociedade: o programa efetivamente vem propiciando o exercício de procedimentos participativos na gestão de políticas sociais. E, de fato, o público que participa do programa necessita do programa, 26 como urgência e principalmente como perspectiva de futuro. É fundamental ainda - salientar: o aspecto distributivo das políticas de bolsa-escola está menos na transferência de renda monetária e mais no investimento educacional, como fator de redução de desigualdades. A combinação desses componentes significa distribuição e democratização de possibilidades, mais do que inclusão. O programa de bolsa-escola implementado na região do Jequitinhonha caminha claramente neste rumo, sem prejuízo das lacunas, dificuldades e incitações aqui expressas. 27 Fontes de Informação Referências Bibliográficas Amaral, Carlos e Ramos, Sílvia. “Programas de Renda Mínima e Bolsa-escola: Panorama Atual e Perspectivas”, revista Interface nº1. Rio de Janeiro: NAPP/UNICEF, 1999. Amaral, Carlos et alli. Programas de Renda Mínima e Bolsa-escola: Concepção, Gestão e Financiamento. NAPP/UNICEF. Rio de Janeiro, 1997. Amaral, Carlos; Silveira, Caio e Campineiro, Débora. Trabalho Infantil - Examinando o problema, avaliando as estratégias de erradicação. Rio de Janeiro: NAPP/UNICEF, 2000. Brant, Maria do Carmo et alli. Caminhos para o Enfrentamento da Pobreza: O Programa de Renda Mínima de Campinas. São Paulo: IEE/PUC-SP, 1996. Caccia Bava, Sílvio et alli. Programas de Renda Mínima no Brasil: Impactos e Potencialidades. São Paulo: Pólis, 1998. Lavinas, Lena et alli. Avaliação do Programa Bolsa-Escola do Recife. Rio de Janeiro: ANPEC/IPEA, OIT e Banco Mundial, 2000. Rocha, Sônia e Sabóia, João. Programas de Renda Mínima: linhas gerais de uma metodologia de avaliação a partir da experiência pioneira do Paranoá no Distrito Federal. Texto para Discussão nº 582. Rio de Janeiro: IPEA., 1998. Sant’Ana, Sílvio e Moraes, Andrea. Avaliação do Programa Bolsa Escola do GDF. Brasília: Fundação Esquel, 1997. Santos Junior, Orlando Alves. "Programa Bolsa-Escola: educando para a cidadania" in CAMAROTTI, Ilka e SPINK, Peter. Parcerias e Pobreza - Soluções locais na Implementação de Políticas Sociais. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2000. Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais. Programa Bolsa Familiar de Educação. Belo Horizonte: SEE/MG, 1999. UNICEF/NAPP. Oficina de Trabalho Incremento da Renda e Políticas Públicas Documento Síntese. Brasília: UNICEF/NAPP, 1996. Contatos Reunião com a Secretaria Executiva do Programa Bolsa-Escola e com o Secretário de Educação de Minas Gerais. Reuniões com a Superintendente Regional de Almenara e com as Comissões Locais dos municípios de Almenara, Berilo, Santo Antonio de Jacinto e Turmalina. Reunião com um grupo de mães inscritas no programa (selecionadas e não selecionadas) no município de Berilo. Entrevistas domiciliares com famílias beneficiadas nos municípios de Almenara, Santo Antonio do Jacinto e Turmalina. Visitas às escolas e entrevistas com professores e diretores em Almenara e Berilo. Reunião com diretores de escola da rede estadual em Turmalina.