LÍGIA MARIA BORGES MARQUES SANTANA BIOMARCADORES HISTOPATOLÓGICOS PARA O MONITORAMENTO AMBIENTAL DA BACIA DO RIBEIRÃO JACUTINGA (LONDRINA, PR) Londrina 2004 LÍGIA MARIA BORGES MARQUES SANTANA BIOMARCADORES HISTOPATOLÓGICOS PARA O MONITORAMENTO AMBIENTAL DA BACIA DO RIBEIRÃO JACUTINGA (LONDRINA, PR). Monografia apresentada ao curso de Graduação em Ciências Biológicas da Universidade Estadual de Londrina como requisito à obtenção do título de Bacharel. Orientadora: Profª. Drª Cláudia B. R. Martinez Londrina 2004 LÍGIA MARIA BORGES MARQUES SANTANA BIOMARCADORES HISTOPATOLÓGICOS PARA O MONITORAMENTO AMBIENTAL DA BACIA DO RIBEIRÃO JACUTINGA (LONDRINA, PR). Monografia apresentada ao curso de Graduação em Ciências Biológicas da Universidade Estadual de Londrina como requisito à obtenção do título de Bacharel. Orientadora: Profª. Drª Cláudia B. R. Martinez BANCA EXAMINADORA Cláudia Bueno dos Reis Martinez ____________________________________________ Marta Marques de Souza Andressa das Graças Silva Londrina, 06 de dezembro de 2004. Aos meus pais, por todo amor, e dedicação a seus filhos. AGRADECIMENTOS Agradeço a todos que colaboraram para a realização deste trabalho e em especial: À minha orientadora Cláudia, que me recebeu em seu laboratório desde que eu era uma simples caloura. Uma grande pessoa e uma grande amiga, com a qual me sinto honrada em ter iniciado minha vida científica e em saber que sempre poderei contar com ela. À Marta, que considero minha outra orientadora e consultora para todos os assuntos, sempre atenta a ajudar a todos do lab. Também uma grande amiga muito valiosa que conheci. À Andressa, minha amiga e mestra, que me ensinou todos os passos que dei neste laboratório. Aos estagiários e amigos do lab Gabriel, Bruno A., Ju Simonato, Vivian, Ju Ruiz, Marina, Laura, Bruno B., Thiago, Dalita, Elis e Enê; e aos amigos que também passaram por aqui Ju Schietti, Indi, Alexandre e Catarina, pelos momentos vividos neste laboratório e fora dele; levarei saudades de todos. Aos funcionários do interlaboratório de fisiologia Afonso, Corino e Neil, sempre bem humorados e prontos para ajudar e emprestar qualquer material de que precisava. Á Estação de Piscicultura da UEL que cedeu alguns peixes que usei neste trabalho. À equipe de coleta (“ECPUEL”), uma divertida turma sem a qual não conseguiríamos capturar os animais que usamos. Ao Oscar e ao Mário Orsi também pela ajuda. Ao Paulo, nosso “expert” em consertar o micrótomo. A minha grande amiga, embora pequena, companheira inseparável de todas as horas Maíra, e aos meus amigos Taís e Elvis, que são minha família amada em Londrina. Ao meu namorado Titi, que embora tenha demorado a entrar em minha vida, já me marcou para sempre. À Jaque, minha amiga da “terra natal”, que me conhece desde que comecei a falar, apesar de nem precisar falar muito quando estamos juntas. Aos meus amigos da graduação, em especial Camila e Henrique, pela divertida companhia. E agradeço imensamente aos meus pais, Olga e Maurício, os que mais batalharam pela minha saúde, felicidade e formação, e à minha família toda, irmãos, avós, tios e primos, os grandes amores de minha vida. À natureza e a Deus, como não? TUDO É QUESTÃO DE VER QUE A VIDA É MAIOR QUE O FATO A FORÇA É MAIOR QUE O ATO E A SEMENTE REPOUSA NO FRUTO COMO O SENTIDO NO TATO TUDO CONTÉM O SER ASSIM COMO O SER CONTÉM TUDO CONTINENTE E CONTEÚDO FUNDIDOS NUM SÓ MISTÉRIO QUE DE REPENTE É SÉRIO DE REPENTE É CARICATO. SANTANA, L. M. B. M. Biomarcadores histopatológicos para o monitoramento ambiental da bacia do ribeirão Jacutinga (Londrina, PR). 2004. Monografia (Bacharelado em Ciências Biológicas) – Universidade Estadual de Londrina, Paraná. RESUMO A bacia do ribeirão Jacutinga (Londrina, PR) além de receber efluentes industriais, urbanos e resíduos da agropecuária, foi atingida no ano de 2002 por cerca de 100 mil litros de óleo Diesel, devido ao vazamento de um “pool” de combustíveis localizado nas suas proximidades. Para o biomonitoramento desta bacia, foi verificada a ocorrência e a severidade de alterações histológicas nas brânquias, fígado e rim de lambaris (Astyanax altiparanae) e de cascudos coletados em dois locais no ribeirão Jacutinga (J1 e J2) e quatro no ribeirão Lindóia (L1, L2, L3 e L4), que recebeu a descarga de óleo. Lambaris da Estação de Piscicultura da UEL, devidamente aclimatados, e cascudos provenientes de um ribeirão de outra microbacia, devidamente aclimatados e após processo de depuração, foram usados como controle. Imediatamente após a captura, os animais foram sacrificados e seus órgãos retirados e fixados em Bouin. As brânquias foram descalcificadas e, então, os três órgãos foram diafanizados em xilol, incluídos em parafina, cortados em fatias de 4 e5µm, corados com HE e analisados ao microscópio de luz. Cortes de fígado também foram submetidos à reação histoquímica de PAS para detecção da quantidade de glicogênio dos hepatócitos. As alterações foram avaliadas semi-quantitativamente de duas formas: a) atribuição do valor médio de alteração (VMA), relacionado à distribuição das alterações; b) cálculo do índice de alteração histológica (IAH), que avalia a severidade das alterações. Os resultados obtidos nos diferentes pontos de coleta foram comparados com os do controle utilizando-se testes estatísticos (ANOVA ou Kruskal-Wallis), considerando-se P<0,05. As principais alterações histológicas nas brânquias foram: aneurismas, desarranjo lamelar, hiperplasia, hipertrofia e fusão das lamelas secundárias nas duas espécies de todos os trechos de coleta; ruptura do epitélio lamelar nos lambaris de J1 e L2; e rompimento de células pilares nos cascudos de L1. Nos fígados foram: atrofia celular e nuclear, hiperemia, núcleos picnóticos e vacuolização nuclear nas duas espécies. Nos rins foram: degeneração granular e hialina, e redução do espaço de Bowman, nas duas espécies de todos os trechos; e necrose focal nos lambaris de L4 e J2 e nos cascudos de J1. Quanto à intensidade das alterações observadas, elas foram leves, nas brânquias, significativamente maiores que o controle nos lambaris de L2 e L4; moderadas nos fígados, significativamente maiores nos cascudos de L1, L2 e L3; e severas nos rins, principalmente nos lambaris dos trechos J2 e L4 embora sem serem estatisticamente diferentes. Estes resultados indicam que a bacia do ribeirão Jacutinga está comprometida desde sua nascente, com agravamento na foz de seus ribeirões, provavelmente devido à gama de efluentes urbanos e de afluentes contaminados que recebe. Os fígados e os rins dos peixes foram os órgãos mais sensíveis à poluição dessa bacia, sendo biomarcadores adequados a programas de monitoramento da contaminação aquática. Palavras chave: Biomarcadores histopatológicos, peixes, ribeirão urbano. ÍNDICE DE FIGURAS Figura 1. Foto de Astyanax altiparanae. ............................................................................. 201 Figura 2. Hypostomus ancistroides (Foto de Horácio Mori)................................................ 223 Figura 3. Mapa da bacia hidrográfica do ribeirão Jacutinga, Londrina, PR, com a localização dos trechos de coleta de A. altiparanae e H. ancistroides. .................................... 234 Figura 4. Trechos de coleta no ribeirão Jacutinga: a) Trecho J1 e b) Trecho J2. .................. 245 Figura 5. Trechos de coleta no ribeirão Lindóia: a) trecho L1; b) trecho L2; c) trecho L3 e d) trecho L4. ............................................................................................................ 267 Figura 6. Leituras físico-químicas da água de cada local de coleta. A) Medidas de oxigênio dissolvido e temperatura. B) Medidas de pH e condutividade............................... 334 Figura 7. Fotomicrografia do tecido branquial dos animais analisados.. ............................ 3738 Figura 8. Fotomicrografia do tecido hepático dos animais analisados. ................................ 401 Figura 9. Fotomicrografia hepática dos animais analisados evidenciando a quantificação do glicogênio presente nos hepatócitos. .................................................................... 423 Figura 10. Relação entre as médias da quantidade de glicogênio hepático e a freqüência da vacuolização citoplasmática dos hepatócitos dos animais analisados. A) Astyanax altiparanae. B) Hypostomus ancistroides............................................................. 434 Figura 11. Fotomicrografia renal dos animais analisados. ................................................... 456 Figura 12. Fotomicrografia do tecido renal analisado evidenciando a formação de novos néfrons...................................................................................................................48 Figura 13. Médias de VMA (Valor Médios de Alteração e de IAH(Índice de Alterações Histológicas) das brânquias (a e b), fígados (c e d) e rins (e e f) dos Astyanax altiparanae e dos Hypostomus ancistroides analisados.............................................49 ÌNDICE DE TABELAS Tabela 1. Escala do índice médio associado aos efeitos no funcionamento do órgão. ............ 30 Tabela 2. Classificação das alterações histológicas de brânquias, fígado e rim quanto ao estágio de comprometimento das funções teciduais................................................31 Tabela 3. Biometria e fator de condição dos peixes amostrados. ........................................... 34 Tabela 4. Número de órgãos analisados. ...............................................................................35 Tabela 5. Freqüência das alterações histológicas encontradas nas brânquias dos Astyanax altiparanae analisados segundo a classificação das lesões (modificado de Poleksic e Mitrovic-Tutundzic, 1994 por Silva, 2004). ...........................................................38 Tabela 6. Freqüência das alterações histológicas encontradas nas brânquias dos H. ancistroides analisados segundo a classificação das lesões (modificado de Poleksic e Mitrovic-Tutundzic, 1994 por Silva, 2004). ...........................................................38 Tabela 7. Freqüência das alterações histológicas encontradas nos fígados dos Astyanax altiparanae analisados segundo a classificação das lesões (baseada em Poleksic e Mitrovic-Tutundzic,1994, e modificada por Rigolin De Sá ,1998). ........................41 Tabela 8. Freqüência das alterações histológicas encontradas nos fígados dos H. ancistroides analisados segundo a classificação das lesões (baseada em Poleksic e MitrovicTutundzic,1994, e modificada por Rigolin De Sá ,1998). ....................................... 41 Tabela 9. Freqüência das alterações histológicas encontradas nos rins dos Astyanax altiparanae analisados segundo a classificação das lesões (SILVA, 2002). ............ 46 Tabela 10. Freqüência das alterações histológicas encontradas nos rins dos H. ancistroides analisados segundo a classificação das lesões (SILVA, 2002). ............................... 46 Tabela 11. Freqüência da formação de novos néfrons observadas nos rins dos animais analisados segundo a classificação de Silva, 2002. .................................................47 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................12 1.1 A contaminação aquática ............................................................................................12 1.2 A bacia do ribeirão Jacutinga......................................................................................13 1.3 Biomarcadores como indicadores de poluição.............................................................14 1.4 Biomarcadores histopatológicos .................................................................................14 2 OBJETIVOS .....................................................................................................................18 2.1. Objetivos Gerais ........................................................................................................ 18 2.2. Objetivos Específicos ................................................................................................ 18 3 MATERIAL E MÉTODOS ............................................................................................... 20 3.1 As coletas ...................................................................................................................20 3.2 Espécies estudadas...................................................................................................... 20 3.3 Locais de coleta.......................................................................................................... 23 3.4 Grupos controles......................................................................................................... 27 3.5 Amostragem dos animais............................................................................................27 3.6 Processamento histológico..........................................................................................28 3.7 Análise do material.....................................................................................................28 3.8 Análise dos resultados ................................................................................................ 32 4 RESULTADOS.................................................................................................................33 4.1 Características da água................................................................................................ 33 4.2 Biometria dos animais ................................................................................................ 34 4.3 Histopatologia branquial.............................................................................................35 4.4 Histopatologia hepática............................................................................................... 39 4.5 Histopatologia renal....................................................................................................43 TRECHOS DE COLETA ....................................................................................................46 5 DISCUSSÃO ....................................................................................................................49 5.1 Histopatologia branquial.............................................................................................50 5.2 Histopatologia hepática............................................................................................... 52 5.2 Histopatologia renal....................................................................................................54 6 CONCLUSÕES .............................................................................................................. 578 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................................59 ANEXOS .............................................................................................................................64 1 INTRODUÇÃO 1.1 A contaminação aquática A importância da água é mundialmente conhecida por ser um elemento essencial à vida. Embora a água tenha se tornado indispensável em diversas atividades humanas (irrigação agrícola, produção de energia, abastecimento público, recreação e lazer, entre outras), somente nas últimas décadas o homem começa a se preocupar com a escassez desse recurso. O processo de urbanização, fruto do crescimento populacional global e dos avanços industriais, colocou esse ecossistema em risco. Em 1980, Fellenberg já afirmava que a poluição das águas processa-se num ritmo muito mais assustador, visto a grande quantidade de compostos nocivos lançados nelas. Em muitas cidades de todo o mundo, o lançamento de efluentes urbanos nos corpos d’água, aliado à falta de políticas públicas adequadas bem como de recursos financeiros, corroboram para o agravamento da contaminação desse ambiente. Ao atingirem as águas, o excesso de poluentes orgânicos presentes principalmente nos efluentes domésticos e industriais e em alguns fertilizantes agrícolas aceleram o processo de eutrofização. Isso significa uma redução do oxigênio disponível na água e muitas vezes a geração de compostos, ambos dificultando a sobrevivência de muitos organismos ou até eliminando-os (PHILLIPS, 1976). Da mesma maneira, materiais em suspensão, também presentes em alguns escoamentos urbanos e agrícolas, prejudicam a qualidade das águas e a sobrevivência dos organismos (ABEL, 1989). Mas, a toxicidade de alguns compostos químicos presentes nesses rejeitos é, muitas vezes, mais preocupante. É o caso de metais pesados e compostos organoclorados que apresentam potencial de biomagnificação (MASON, 1996), visto que seus efeitos são cumulativos ao serem transferidos na cadeia alimentar, e assim podem aparecer em tempos e espaços indeterminados (JOBLING,1995) prejudicando a sobrevivência de muitas espécies. 1.2 A bacia do ribeirão Jacutinga A cidade de Londrina, norte do Paraná, sofreu um crescimento desordenado, principalmente a partir de 1960, com o contingente populacional que migrou da zona rural para a cidade (KISHI, 2003). Esta rápida ocupação envolveu muitos rios e ribeirões sem o devido acompanhamento ou planejamento dos órgãos públicos (NAKASHIMA, 2003). Esta situação é encontrada na bacia do ribeirão Jacutinga. Essa bacia é uma das mais importantes da região, apresentando a quarta maior área de drenagem entre as dez bacias hidrográficas presentes em Londrina, com aproximadamente 241 km2. Parte dela, inclusive sua nascente, localiza-se no extremo norte do município de Londrina, desaguando no rio Tibagi, no município de Ibiporã, vizinho de Londrina. Seu maior afluente é o ribeirão Lindóia que apresenta proporcionalmente uma área correspondente à metade da área da bacia do Jacutinga. É um local com ocupação recente, mais intensificada depois da década de 80. O ribeirão Jacutinga atravessa uma área eminentemente agrícola, onde são produzidas, soja, milho e sorgo, além de algumas poucas horticulturas. O município de Ibiporã possui um ponto de captação de água localizada na porção baixa do rio, antes da confluência com o ribeirão Lindóia. O ribeirão Lindóia passa pela região urbana de Londrina e recebe efluentes das águas pluviais e de esgotos domésticos clandestinos. Em maio de 202, um vazamento de cerca de 100 mil litros de óleo diesel proveniente do Pool de Combustíveis de Londrina atingiu as águas do ribeirão Lindóia, intensificando a preocupação sobre o nível de contaminação nesta bacia hidrográfica. 1.3 Biomarcadores como indicadores de poluição Um dos efeitos mais visíveis da contaminação aquática é a mortandade de peixes e demais organismos viventes nos corpos d’água impactados. Contudo, concentrações subletais de poluentes em ambientes aquáticos são mais freqüentes que a mortandade em massa (POLÉKSIC; MITROVIC-TUTUNDZIC, 1994). As substâncias tóxicas podem ter efeitos prejudiciais bastante visíveis quando presentes em grandes quantidades num organismo, ao passo que quantidades diminutas de produtos tóxicos podem causar efeitos adversos não aparentes (RAND; PETROCELLI, 1985; RAND, 1995). Os teleósteos são um importante modelo de vertebrados em sistemas in vivo para a análise de contaminantes ambientais (HINTON; COUCH, 1998). Como os vertebrados primariamente aquáticos mais representativos, merecem atenção particular em programas de monitoramento dos ecossistemas aquáticos (NAGEL; ISBERNER, 1998), visto que, quando estes ambientes se encontram poluídos por contaminantes orgânicos ou inorgânicos, os peixes são inevitavelmente contaminados (STREIT, 1998). O estresse químico promovido por concentrações subletais de xenobióticos nos ecossistemas aquáticos pode alterar a capacidade de peixes de realizar várias funções biológicas (JOBLING, 1994). Assim, essas respostas biológicas fornecem informações sobre as condições de seu habitat e podem ser empregadas como ferramenta no monitoramento ambiental para um avaliação do impacto em locais poluídos, constituindo-se um biomarcador (VAN der OOST et al, 2003). 1.4 Biomarcadores histopatológicos Dentre as diversas alterações metabólicas e estruturais que podem ocorrer devido a presença de contaminantes e outros agentes estressores no ambiente estão as alterações histológicas (SNIESZKO, 1974; MÖLLER, 1985; ANDERSON, 1990). As análises histopatológicas de órgãos-alvo constituem-se uma maneira sensível de detecção dos efeitos diretos de compostos químicos, tanto em pesquisas de laboratório como em campo. Por meio dessas análises, pode-se diferenciar as lesões presentes nos órgãos que foram induzidas por doenças e outros fatores do ambiente daquelas causadas pela exposição aos poluentes (SCHWAIGER et al., 1997). Entre os órgãos considerados alvos para os contaminantes estão as brânquias, o rim e o fígado que, nos peixes, costumam indicar os efeitos da poluição apresentando alterações histológicas mais lentas que as fisiológicas, porém de alta relevância funcional (ADAMS et al, 1990). As brânquias estão diretamente envolvidas em uma variedade de funções, dentre as quais trocas gasosas, osmorregulação, balanço ácido-básico e excreção de nitrogênio (HEATH, 1987). Sua complexa arquitetura de filamentos compostos por lamelas achatadas, densamente enfileiradas, revestidas por um extenso e delgado epitélio proporciona uma grande área superficial para o movimento do oxigênio, dióxido de carbono, eletrólitos, água, amônia e íons hidrogênio, entre o sangue e a água (MARTINEZ; CÓLUS, 2002). Devido a este amplo contato permanente com o ambiente aquático, as brânquias podem reagir a agentes estressores presentes no ambiente. Assim, alterações na organização branquial de peixes têm sido usadas para defender a hipótese de que as brânquias são potenciais indicadores da degradação de ambientes aquáticos (OJHA, 1999), que podem ser empregadas no monitoramento ambiental (MEYERS; HENDRICKS, 1985; SCHWAIGER, et al., 1997). O fígado de teleósteos é um dos órgãos mais sensíveis para mostrar alterações bioquímicas, fisiológicas e estruturais como conseqüência da exposição a vários tipos de poluentes ambientais (HEATH, 1987; HINTON; COUCH, 1998). Devido às suas várias funções metabólicas, entre elas o metabolismo de xenobióticos, e sua sensibilidade a poluentes do ambiente, este órgão tem recebido atenção especial em estudos toxicológicos, relacionados à contaminação de diferentes espécies de peixes com agentes químicos orgânicos e inorgânicos (HINTON et a.l., 1992). Assim, alguns parâmetros hepáticos, tais como alterações histológicas e depleção de glicogênio, têm sido utilizados como biomarcadores de contaminação aquática (HINTON et al., 1992) em programas de biomonitoramento (SCHWAIGER et al., 1997). Em exposições subcrônicas à contaminação, o rim é o órgão mais afetado, quando comparado com brânquias e fígado (THOPHON et al, 2003), ficando claro que problemas nesse órgão decorrentes da contaminação levarão certamente a complicações ainda maiores nos demais sistemas do animal. Nos peixes dulcícolas a principal função do rim é eliminar o excesso de água sem perder íons importantes, portanto esses animais possuem altas taxas de filtração glomerular sendo que ocorre quase 100% de reabsorção dos íons Na+ e Cl(HICKMAN; TRUMP, 1969). O rim de peixes também é um importante órgão na elaboração da resposta imunológica, então, alterações morfológicas nesse órgão podem comprometer a resposta imune, prejudicando a homeostase do animal e seu bem-estar (ZAPATA; COOPER, 1990). Estudos histopatológicos renais em peixes têm sido realizados na tentativa de se identificar lesões que possam vir a ser utilizadas como biomarcadores histológicos da contaminação aquática (HINTON et al., 1992). Assim, o presente trabalho enfoca o uso de análises histopatológicas como uma ferramenta sensível para detectar a presença de contaminantes e seus possíveis efeitos tóxicos em brânquias, fígados e rins de lambaris (Astyanax altiparanae) e de cascudos (Hypostomus ancistroides) coletados na bacia do ribeirão Jacutinga. 2 OBJETIVOS 2.1. Objetivos Gerais • Verificar a ocorrência de alterações histológicas nas brânquias, fígados e rins de lambaris (Astyanax altiparanae) e de cascudos (Hypostomus ancistroides) coletados na bacia do ribeirão Jacutinga. • Utilizar as alterações histológicas como biomarcadores para a avaliação da qualidade ambiental da bacia do ribeirão Jacutinga. 2.2. Objetivos Específicos • Analisar as brânquias, fígados e rins de exemplares de Astyanax altiparanae e de Hypostomus ancistroides coletados em 6 locais da bacia do ribeirão Jacutinga (2 no ribeirão Jacutinga e 4 no ribeirão Lindóia). • Analisar as brânquias, fígados e rins de exemplares de Astyanax altiparanae provenientes da Estação de Piscicultura da UEL (EPUEL), para utilização como controle. • Analisar as brânquias, fígados e rins de exemplares de Hypostomus ancistroides coletados em campo após serem submetidos a um processo de depuração, para utilização como controle. • Identificar as alterações histológicas branquiais, hepáticas e renais em todos os animais analisados. • Quantificar as alterações histológicas branquiais, hepáticas e renais dos animais determinando-se o Valor Médio de Alteração (VMA) e o Índice de Alteração Histológica (IAH) para cada órgão analisado. • Quantificar o glicogênio hepático presente nos animais em estudo. • Comparar os pontos de coleta entre si e com e com os controles, baseando-se nas alterações observadas nos órgãos analisados, para verificação da qualidade ambiental dos locais de coleta. 3 MATERIAL E MÉTODOS 3.1 As coletas Duas espécies de peixes foram coletadas em diferentes trechos dos ribeirões Jacutinga e Lindóia, escolhidos conforme a ocorrência dos peixes ao longo dos ribeirões, bem como a facilidade de acesso aos locais. A captura dos animais deu-se por pesca artesanal, com o uso de equipamentos de pesca manual como tarrafas, puçás, covos, peneiras e redes de arrasto e de espera. Em algumas vezes, quando possível, empregou-se pesca elétrica. Da água de cada local de coleta foram determinadas medidas de pH, empregando-se pHmetro de bolso (Corning, pH – 30), temperatura e teor de oxigênio dissolvido, por meio de oxímetro de campo (Orion 810), e condutividade, com condutivímetro (Corning, CD – 30). 3.2 Espécies estudadas A) Astyanax altiparanae (Garutti & Britski, 2000) Figura 1. Foto de Astyanax altiparanae. Nome popular: lambari-do-rabo-amarelo Classe: Actinopterygii Ordem: Characiformes Família: Characidae Subfamília: Tetragonopterinae Presente em vários tipos de ambientes lênticos e lóticos, com ampla distribuição geográfica, como os rios da bacia do Rio Paraná (BERTACO; LUCENA; BECKER, 1998; GARUTI; BRITSKI, 2000). Sua ocorrência em diversos habitats permite supor sua grande plasticidade ecofisiológica para utilização desses habitats (BERTACO; LUCENA; BECKER, 1998) e também uma tolerância a um amplo espectro de variação de diversos parâmetros físicos e químicos da água (MENNI et al, 1996 apud, BERTACO; LUCENA; BECKER, 1998). Os lambaris são peixes de pequeno porte (atingem cerca de 10cm), prolíferos e servem de alimento para peixes carnívoros maiores. Desempenham importante função na cadeia alimentar dos sistemas ecológicos em que ocorrem (AGOSTINHO et al., 1984). Apresentam grande flexibilidade alimentar, alimentando-se principalmente de insetos e sementes. São catadores de itens na coluna d'água. A. altiparanae (GARUTI; BRITSKI, 2000), anteriormente denominada de A. bimaculatus, é caracterizado por apresentar uma pinta e uma mancha preta de cada lado do corpo, na região da linha lateral. Sua coloração, em geral, é amarela, com reflexos prata iridescentes. As nadadeiras são amareladas com margem prateada. Por se tratar de um animal da coluna d’água, pode sofrer maior impacto dos componentes químicos que ocorrerem em suspensão na água. B) Hypostomus ancistroides (Ihering, 1911) A) Figura 2. Hypostomus ancistroides (Foto de Horácio Mori). Nome popular: cascudo Classe: Actinopterygii Ordem: Siluriformes Família: Loricariidae São animais de água doce. Apresentam o corpo recoberto por placas ósseas em várias séries. Os lábios são alargados em forma de dentículos com dois lobos desiguais, adaptados para raspar algas de substrato. São, portanto, pastadores, com dieta composta principalmente por diatomáceas, clorofíceas e matéria orgânica. Possuem cauda achatada, normalmente com quilha lateral. São organismos bentônicos, de extrema importância para o ecossistema por promoverem a circulação da matéria orgânica depositada no substrato (FAVARO; CHAVES, 1999). Assim, por serem detritívoros e ocuparem fundo de rios, estão mais sujeitos a incorporar os eventuais contaminantes presentes tanto na água como no sedimento. 3.3 Locais de coleta Seis trechos dos ribeirões foram escolhidos para a coleta dos peixes: dois no ribeirão Jacutinga (J1 e J2) e quatro no ribeirão Lindóia (L1, L2, L3 e L4). Os lambaris foram coletados nos dois trechos do ribeirão Jacutinga e nos trechos L1, L2, L4 do ribeirão Lindóia; os cascudos foram coletados apenas no trecho J1 do ribeirão Jacutinga e nos trechos L1, L2 e L3 do ribeirão Lindóia. A localização dos trechos está representada na Figura 3. Figura 3. Mapa da bacia hidrográfica do ribeirão Jacutinga, Londrina, PR, com a localização dos trechos de coleta de A. altiparanae e H. ancistroides. Projeção UTM, fonte: IBGE, folhas SF-22-U-II e SF-22-U-I. A bacia do Jacutinga possui área de drenagem de 241 km2. Corre por uma extensão de 32 km e tem cerca de 15 tributários na margem esquerda e 15 na margem direita. O ribeirão Lindóia, seu maior afluente, nasce próximo ao trevo LondrinaCambé, com inclinação noroeste-nordeste, atravessa o norte do município de Londrina no sentido longitudinal e deságua na margem direita do ribeirão Jacutinga, no município de Ibiporã (14 Km a leste de Londrina). Próximo ao Lindóia, localiza-se o Pool de Combustíveis, formado por uma associação entre as empresas Esso, Texaco e Petróleo Ipiranga (administradora), responsável pelo vazamento de cerca de 100 mil litros de óleo diesel no ribeirão no início de 2002. Os trechos de coleta estão caracterizados a seguir. Trecho J1 (23º14’3,2’’S - 51º13’4,7’’W): Margens com vegetação ripária escassa (bambu, capim gordura, capim elefante, etc), algumas áreas de mata terciária, outras de área degradada em recuperação e área agrícola. Substrato composto por laje entremeado de solo e por rochas de diversos tamanhos (Fig. 4a). Trecho J2 (23º13’36,2”S – 50º38’42,7”W): Margem direita com capim colonião e ainda cultivo de milho a menos de 3m da margem; margem esquerda com uma mata restaurada com cerca de 20m de árvores. Substrato com rochas de diversos tamanhos, entremeadas com lama e poucas Lages (Fig. 4b). a) b) Figura 4. Trechos de coleta no ribeirão Jacutinga: a) Trecho J1 e b) Trecho J2. Trecho L1 (23º16’24”S – 51º9’55,9”W): Localizado ainda em área urbana, corre sob uma ponte. Margens com uma vegetação composta basicamente por gramíneas; leito composto basicamente por substrato argiloso, com poucas pedras de pequeno porte espalhadas pelo mesmo (Fig. 5a). Trecho L2 (23º 16' 23,5"S - 51º 8' 0,5"W): Margem direita: predominantemente com gramíneas (contas). Margem esquerda: mata secundária (cerca de 20 a 30m de largura). Diversas barragens artificiais constituídas de troncos e rochas. Tipo de substrato: Laje, poucas rochas soltas, pouca lama (Fig. 5b). Trecho L3 (23º17’19,5”S – 51º6’20,9”W): Presença de mata ciliar estreita em ambas as margens. Substrato rochoso, intercalando lajes e rochas soltas. Situado em zona urbana, onde se localizam pequenas chácaras e pesque-pagues, próximo às indústrias Milênia Agro Ciências e Frango-vit (Fig. 5c). Trecho L4 (23º16’40,7”S – 51º5’41,6”W): Localizado a jusante da foz do ribeirão Água das pedras, substrato composto por lama, ausência de mata ciliar, pequena plantação à margem direita, predomínio de gramínea em ambas as margens, área marginal sujeita a alagamento. Situado fora da área urbana (Fig. 5d). a) b) c) d) Figura 5. Trechos de coleta no ribeirão Lindóia: a) trecho L1; b) trecho L2; c) trecho L3 e d) trecho L4. 3.4 Grupos controles Lambaris cedidos pela Estação de Piscicultura da UEL foram aclimatados em laboratório por 10 dias em tanque contendo água de poço artesiano e então amostrados. Já os cascudos usados como controle foram capturados no ribeirão Cambé, um ribeirão pertencente a uma outra bacia hidrográfica de Londrina, livre, portanto, de qualquer influência que o óleo do vazamento possa ter exercido sobre os animais. Esses animais foram acondicionados em laboratório por 15 dias em tanque contendo água de poço artesiano e algumas pedras com detritos de que pudessem se alimentar. Os cascudos foram submetidos a um processo de depuração que se deu com a troca de 2/3 da água do tanque a cada três dias até serem amostrados, totalizando três trocas de água. 3.5 Amostragem dos animais Imediatamente após serem retirados da água, os peixes foram sacrificados por meio de secção medular. Em seguida, foram obtidas suas biometrias (peso e comprimentos total e padrão) e suas brânquias, fígado e rim foram retirados com material de dissecção. Para preservação química e estrutural, as brânquias e os fígados extraídos foram fixados em solução de Bouin por 8 horas e os rins por 12 horas (ANEXO A). Após este período no fixador, os órgãos foram conservados em álcool 70% até serem processados histologicamente. 3.6 Processamento histológico Em primeiro lugar, o segundo arco branquial direito foi separado e descalcificado com EDTA (ANEXO B). Posteriormente, esse arco branquial descalcificado, uma parte do fígado e os rins dos peixes coletados foram impregnados e incluídos em parafina (INLAB) após adequada desidratação numa série crescente de álcoois (80, 90 , 95 e 100%) e diafanização em xilol (PA) (ANEXOS C e E). Os blocos formados de cada órgão foram cortados em micrótomo American Optical “820” em cortes de 4 e 5µm de espessura, esticados em banho-maria a cerca de 48ºC e retirados com as lâminas e aderidos a elas com gelatina em pó. As lâminas foram secas em temperatura ambiente e então coradas com Hematoxilina e Eosina (HE) (ANEXO D e F). Cortes de fígado também foram submetidos à reação histoquímica de PAS (Periodic Acid Schiff) para detecção de glicogênio nos hepatócitos (ANEXO G). As lâminas permanentes foram montadas com bálsamo do Canadá sintético (Nuclear) para fixação das lamínulas e secas em temperatura ambiente. Posteriormente, as lâminas de cada órgão foram analisadas ao microscópio de luz, fotografadas por uma câmara digital (Motic Cam) e analisadas utilizando-se o software Motic 2000. 3.7 Análise do material Os mesmos critérios de classificação das lesões histológicas foram adotados para os três órgãos em estudo, levando-se em conta os possíveis desvios na morfologia normal de cada órgão. Assim, as alterações histológicas nas brânquias, fígados e rins de cada animal amostrado foram avaliadas semiquantitativamente de duas formas: A) Atribuição do Valor Médio de Alteração Histológica (VMA) O VMA está associado à ocorrência de alterações histopatológicas, tanto nas brânquias quanto no fígado e nos rins. Cada órgão analisado foi classificado, baseado em Schwaiger et al. (1997), com um valor numérico conforme a escala: grau 1: ausência de alteração histológica, grau 2: ocorrência de lesões pontualmente localizadas, grau 3: lesões amplamente distribuídas pelo órgão. Ao final, foram calculadas as médias desses valores de VMA para cada local amostrado. B) Cálculo do Índice de Alteração Histológica (IAH) A severidade de cada alteração histológica encontrada nos três órgãos em estudo foi classificada em estágios progressivos quanto ao comprometimento das respectivas funções teciduais: estágio I: alterações que não comprometem o funcionamento do tecido, estágio II: alterações mais severas e que prejudicam o funcionamento normal do órgão, estágio III: alterações muito severas e irreversíveis. Essa classificação é modificada por Silva (2004) de Poleksic e MitrovicTutundzic (1994) para as brânquias; baseada em Poleksic e Mitrovic-Tutundzic (1994) e modificada por Rigolin De Sá (1998) para os fígados; e segundo Silva (2002) para os rins. Na Tabela 2 encontram-se as possíveis alterações histológicas de cada órgão segundo sua classificação nesses estágios. Esses dados foram utilizados para o cálculo do valor do IAH, através da fórmula: IAH =100 ΣI + 101 ΣII + 102 ΣIII, sendo I, II e III correspondente ao número de alterações de estágio I, II e III, respectivamente. Uma média dos valores de IAH também foi calculada para cada local amostrado e para cada controle. Com os valores das médias de IAH, denominados índices médios (I), relacionou-se a severidade das alterações com o comprometimento funcional do órgão e sua capacidade de recuperação. A Tabela 1 mostra essa associação entre o índice médio (I) e o efeito da severidade das alterações sobre os órgãos, numa escala de 0 a 100. Tabela 1. Escala do índice médio (0 – 100) associado aos efeitos no funcionamento do órgão. Índice Médio 0 – 10 11 – 20 21 – 50 51 – 100 > 100 Efeito Funcionamento normal do órgão Danificação leve a moderada do órgão Modificação moderada a severa do órgão Modificação severa do órgão Danificação irreparável do órgão Tabela 2. Classificação das alterações histológicas de brânquias, fígado e rim quanto ao estágio de comprometimento das funções teciduais. Estágio BRÂNQUIA Congestão vascular I Constrição do seio lamelar sanguíneo Desarranjo lamelar Dilatação do canal marginal Dilatação do seio lamelar sanguíneo Elevação das células epiteliais Fusão de parte da lamela primária Fusão de parte da lamela secundária Fusão de várias lamelas secundárias Hiperplasia das células epiteliais Hipertrofia do epitélio lamelar Presença de parasitas II Aneurisma lamelar Completa fusão de toda lamela secundária Espessamento do tecido proliferativo Rompimento de células pilares Ruptura do epitélio lamelar ÓRGÃO FÍGADO Atrofia celular Atrofia nuclear Deformação do contorno celular Deformação do contorno nuclear Dessaranjo dos cordões hepáticos Estagnação biliar Hipertrofia celular Fibrose Necrose focal Aumento do volume glomerular Degeneração granular Degeneração hialina Núcleo na periferia da célula Dilatação da luz tubular Dilatação dos capilares do glomérulo Espessamento do endotélio capilar glomerular Estreitamento da luz tubular Vacuolização citoplamática Hipertrofia celular Hipertrofia nuclear Hipertrofia nuclear Presença de parasitas Túbulos em regeneração Vacuolização celular Degeneração citoplamática Degeneração dos canalículos biliares Degeneração nuclear Degeneração nuclear Degeneração tubular Hiperemia Núcleos picnóticos Rompimento celular Núcleos picnóticos Oclusão da luz tubular Presença de hemácias no espaço de Bowman Redução do espaço de Bowman Rompimento celular Vacuolização nuclear Ruptura dos vasos Vacuolização nuclear III RIM Atrofia celular Atrofia nuclear Necrose focal Necrose total Novo néfron Necrose focal Necrose total A quantidade de glicogênio nos hepatócitos, evidenciada pela coloração da reação histoquímica de PAS (Periodic Acid Schiff), foi determinada conforme a seguinte escala: 0 – ausência de glicogênio, 1 – pouco glicogênio, 2 – quantidade moderada de glicogênio, 3 – muito glicogênio. Após essa análise, foi calculada uma média do conteúdo de glicogênio dos hepatócitos para cada local amostrado e para os controles. 3.8 Análise dos resultados As médias de VMA e IAH obtidas para os três órgãos dos animais amostrados nos trechos, bem como as médias da quantidade de glicogênio nos hepatócitos dos animais, foram comparadas entre si e com as médias dos controles utilizando-se testes estatísticos adequados, de acordo com a distribuição dos dados e homogeneidade da variância, com nível de significância menor que 5% (P< 0,05). 4 RESULTADOS 4.1 Características da água Os resultados físico-químicos da água dos locais de coleta estão representados na 30 25 20 15 10 5 0 J1 J2 L1 L2 Oxigênio Dissolvido B) L3 L4 Temperatura 60 50 40 30 20 10 0 8 pH 7,5 7 6,5 6 J1 J2 L1 pH L2 TºC 12 10 8 6 4 2 0 L3 Cond. (us/cm) A) O.D. (mgO2/L) Figura 6. L4 Condutividade Figura 6. Características físico-químicas da água de cada local de coleta. A) Medidas de oxigênio dissolvido e temperatura. B) Medidas de pH e condutividade. A maior medida de oxigênio dissolvido foi 8 mgO2/L., no trecho L4, e a menor foi 4mgO2/L, no trecho J2. A leitura do oxigênio dissolvido na água do trecho L1 não foi realizada. A temperatura mais elevada observada foi 28ºC no trecho J2, sendo que a temperatura dos demais locais manteve-se em torno de 20ºC. Os resultados de pH apresentaram pouca variação entre os locais amostrados (entre 6,7 e 7,3). A condutividade foi maior no trecho L2 (54,1µs/cm), e menor no trecho L1 (21µs/cm). 4.2 Biometria dos animais Na Tabela 3 estão as médias de peso, comprimento padrão e do cálculo do fator de condição dos animais coletados. Tabela 3. Biometria e fator de condição dos peixes amostrados. Espécie Astyanax altiparanae Local J1 J2 L1 L2 L4 CTR TOTAL n 12 15 15 9 8 12 71 Peso (g) 9,8 ± 6,3 14,5 ± 3,8 11,1 ± 8,4 10,8 ± 5,2 12,8 ± 3,1 18,8 ± 3,8 Comprimento padrão (cm) 7,1 ± 1,2 7,8 ± 0,7 7,2 ± 1,4 7,2 ± 1,1 7,4 ± 1,0 9,0 ± 0,8 Fator de condição (K) 1,3 ± 0,3 1,6 ± 0,1 1,4 ± 0,2 1,4 ± 0,1 1,7 ± 0,2 1,4 ± 0,1 Hypostomus ancistroides J1 9 30,6 ± 17,4 10,7 ± 2,1 1,1 ± 0,2 L1 7 34,7 ± 29,4 10,6 ± 3,1 1,0 ± 0,1 L2 9 22,5 ± 24,7 9,1 ± 3,4 1,0 ± 0,1 L3 7 73,2 ± 33,2 13,9 ± 2,5 0,9 ± 0,2 CTR 7 25,6 ± 8,4 10,3 ± 1,2 1,0 ± 0,1 39 TOTAL TOTAL 110 n = número de animais coletados; média ± desvio padrão; Fator de condição (K) = Peso/ (Comprimento total x comprimento total x comprimento total) x 100. Os exemplares de Hypostomus ancistroides apresentaram-se maiores que os de Astyanax altiparanae. Porém, o fator de condição destes foi maior que o dos cascudos. Infelizmente, a análise de todos os animais amostrados não foi possível em virtude do tempo disponível. A Tabela 4 mostra o número de cada órgão analisado por espécie e por local. Tabela 4. Número de órgãos analisados. Espécie Astyanax altiparanae Local J1 J2 L1 L2 L4 CTR TOTAL Brânquia 12 15 15 9 8 12 71 Órgão analisado Fígado 0 4 4 4 4 4 20 Rim 4 4 7 7 6 6 34 Total de animais coletados 12 15 15 9 8 12 71 Hypostomus ancistroides J1 L1 L2 L3 CTR TOTAL TOTAL 9 7 9 7 7 39 110 0 4 4 4 4 16 36 4 6 4 4 6 24 58 9 7 9 7 7 39 110 4.3 Histopatologia branquial As duas espécies de peixe analisadas apresentam a estrutura branquial típica descrita para teleósteos. Possuem quatro pares de arcos branquiais, um em cada lado da faringe, compostos por diversos filamentos (ou lamelas primárias), sobre os quais dispõem-se as lamelas secundárias a intervalos regulares, acima e abaixo dos filamentos. Estas lamelas secundárias são constituídas por duas finas camadas de células epiteliais pavimentosas as quais envolvem os espaços vasculares formados pelas células pilares. A Figura 7A mostra este arranjo branquial típico, sem a ocorrência de alterações. As histopatologias mais freqüentes estão apresentadas nas Tabelas 5 e 6. Hiperplasia das células epiteliais (Fig. 7D), hipertrofia do epitélio respiratório (Fig. 7B), desarranjo lamelar, fusão de parte da lamela secundária (Fig. 7B e 7F) e congestão vascular (Fig. 7D) foram as alterações de estágio I mais freqüentes nos lambaris (Tabela 5). Aneurisma lamelar (Fig. 7C), uma alteração de estágio II, foi encontrada nos lambaris de todos os locais de coleta e no grupo controle, porém sendo freqüente nos trechos J2 e L1, e muito freqüentes em L2 e L4. Outra alteração de estágio II observada foi a ruptura do epitélio lamelar (Fig. 7E), freqüente em J1 e muito freqüente em L2. As alterações branquiais nos cascudos (Tabela 6) foram menos freqüentes que nos lambaris. Hipertrofia do epitélio respiratório, hiperplasia das células epiteliais, desarranjo lamelar e fusão de parte da lamela secundária foram as alterações de estágio I que mais ocorreram. Alterações de estágio II nos cascudos foram raramente presentes ou pouco freqüentes. Somente L1 apresentou uma alteração de estágio II freqüente, o rompimento de células pilares. As médias de VMA dos lambaris coletados mantiveram-se entre 2 e 2,6, sendo os trechos L4 e J2 significativamente maiores que o controle, e J2 significativamente maior que J1 (Fig. 13a). As médias de IAH mantiveram-se entre 11,5 e 22,2, sendo os trechos L2 e L4 significativamente maiores dos demais trechos de coleta e do controle (Fig. 13b). Os valores de VMA e IAH para as brânquias de cascudos não variaram significativamente entre os diferentes pontos de amostragem. As médias de VMA foram de 2,3 e 2,4 (Fig. 13a), e de IAH mantiveram-se entre 10,6 e 16,1, sendo a maior no J1 e a menor em L3 (Fig. 13b). A) B) D) C) * * * * E) * F) Figura 7. Fotomicrografia do tecido branquial dos animais analisados. A) Estrutura normal de um filamento branquial (seta branca) mostrando lamelas sem alterações (colchete) e as células pilares (seta preta) (Foto de A. Silva). B) Fusão de lamelas devido à hipertrofia das células epiteliais (cabeça de seta). C) Aneurismas lamelares (asteriscos). D) Hiperplasia das células epiteliais (colchete e seta preta) e congestão lamelar (asterisco). E) Ruptura do epitélio lamelar (cabeça de seta). F) Fusão focal das lamelas devido à hiperplasia das células epiteliais (seta branca). Escala barra = 25µm. HE. Tabela 5. Freqüência das alterações histológicas encontradas nas brânquias dos Astyanax altiparanae analisados segundo a classificação das lesões (modificado de Poleksic e MitrovicTutundzic, 1994 por Silva, 2004). TRECHOS DE COLETA ALTERAÇÃO HISTOLÓGICA BRANQUIAL J1 J2 L1 L2 Índice Congestão vascular I + + 0+ +++ Constrição do seio lamelar sanguíneo I 0 0 0 0 Desarranjo lamelar I 0 ++ +++ 0 Dilatação do canal marginal I + 0+ 0 ++ Dilatação do seio lamelar sanguíneo I 0+ 0+ 0+ ++ Elevação das células do epitélio I 0+ + + + Fusão de parte da lamela primária I 0+ 0 0 0 Fusão de parte da lamela secundária I 0 ++ ++ 0+ Fusão de várias lamelas secundárias I ++ 0 0 ++ Hiperplasia com fusão lamelar I 0 0+ + 0+ Hiperplasia das células epiteliais I +++ +++ +++ +++ Hipertrofia do epitélio respiratório I 0+ ++ ++ + Presença de parasitas I 0 0+ 0+ 0 Proliferação de células de cloreto I 0 0 0 0 Aneurisma lamelar II 0+ ++ ++ +++ Completa fusão de toda lamela secundária II 0 0 0 0 Espessamento do tecido proliferativo II + 0+ 0 0+ Ruptura do epitélio lamelar II ++ 0+ 0+ +++ 0 ausente; 0+ raramente presente; + pouco freqüente; + + freqüente; + + + muito freqüente. L4 ++ 0+ ++ + 0+ ++ 0 0+ + 0 +++ +++ 0+ 0+ +++ 0 + 0+ CTR 0 0 +++ 0 + 0+ 0 0+ 0+ ++ +++ +++ + 0+ + 0+ 0 0+ Tabela 6. Freqüência das alterações histológicas encontradas nas brânquias dos H. ancistroides analisados segundo a classificação das lesões (modificado de Poleksic e Mitrovic-Tutundzic, 1994 por Silva, 2004). TRECHOS DE COLETA ALTERAÇÃO HISTOLÓGICA BRANQUIAL J1 L1 L2 L3 Índice Congestão vascular I 0+ 0 0 0 Desarranjo lamelar I +++ +++ +++ +++ Dilatação do seio lamelar sanguíneo I 0+ 0 0+ + Elevação das células do epitélio I 0 0+ 0 + Fusão de parte da lamela primária I 0 0 0+ 0 Fusão de parte da lamela secundária I 0+ ++ ++ ++ Fusão de várias lamelas secundárias I 0 0 0 0+ Hiperplasia com fusão lamelar I 0 0+ 0+ 0+ Hiperplasia das células epiteliais I +++ + +++ +++ Hipertrofia do epitélio respiratório I +++ + ++ ++ Muco I 0+ 0 0 0 Presença de parasitas I 0+ + 0+ + Proliferação de células de cloreto I 0+ 0+ 0+ 0 Aneurisma lamelar II + 0+ 0+ 0 Completa fusão de toda lamela secundária II 0+ 0 0+ 0 Espessamento do tecido proliferativo II 0 0+ 0+ 0 Rompimento de células pilares II + ++ 0 0+ Ruptura do epitélio lamelar II + 0 + + 0 ausente; 0+ raramente presente; + pouco freqüente; + + freqüente; + + + muito freqüente. CTR 0 +++ 0 ++ 0 + + 0 +++ +++ 0 + 0 0 0 0 0 + 4.4 Histopatologia hepática O fígado dos animais estudados apresentou hepatócitos hexagonais, com citoplasma de aspecto granular e vacuolizado, núcleo arredondado e central e nucléolo evidente. Os hepatócitos dispõem-se em cordões margeando os sinusóides (Fig. 8A). Também compõem a arquitetura hepática, os ductos biliares (células epiteliais cúbicas envoltas por uma camada de tecido conjuntivo), as células endoteliais dos vasos sanguíneos e alguns macrófagos. A presença de hepatopâncreas (porções do tecido pancreático entre as células do parênquima hepático) foi muito comum nos fígados analisados. Nas Tabelas 7 e 8 encontram-se as alterações hepáticas mais freqüentes nos lambaris e nos cascudos analisados, respectivamente. Deformação do contorno nuclear (Fig. 8C), núcleo na periferia da célula (Fig. 8C), atrofia nuclear (Fig. 8E) e atrofia celular foram as alterações de estágio I mais observadas tanto nos lambaris quanto nos cascudos (Tab. 7 e 8). Quanto às alterações de estágio II, para os lambaris, a presença de núcleos picnóticos (Fig. 8B, D e E) foi muito freqüente em L1 e L4, e freqüente em L2; a vacuolização nuclear (Fig. 8B e C) foi freqüente em L1 e L4; a degeneração nuclear foi freqüente em L2; e a hiperemia (Fig. 8D) foi freqüente em L1. Já para os cascudos, a degeneração citoplasmática (Fig. 8B) e a presença de núcleos picnóticos foram muito freqüentes em J2; a degeneração nuclear foi freqüente em J1, L1 e L2; a hiperemia foi freqüente em L1 e L3; e a vacuolização nuclear foi muito freqüente em J2 e freqüente em L2 e L3. A única alteração encontrada de estágio III foi a necrose focal, a qual esteve raramente presente apenas nos lambaris de L4, sendo ausentes nos demais animais. As médias de VMA do fígado das duas espécies estudadas não foram estatisticamente diferentes entre os pontos de coleta e o grupo controle. Estas variaram entre 2 e 2,5 para os lambaris coletados, sendo a menor média observada em L4 e a maior em L2 e J2 (Fig. 13c). As médias de VMA dos cascudos coletados variaram entre 2 e 2,3, sendo a menor em L1 e L3 e a maior em L2 (Fig. 13c). O IAH dos lambaris coletados manteve-se entre 35 (em L2) e 50,5 (em L3) (Fig 13d). Os cascudos coletados na bacia do Jacutinga apresentaram valores de IAH significativamente diferentes do controle, porém com médias bem menores que as dos lambaris: entre 22,3 (em L1) e 28,5 (em L2) (Fig 13d). A) B) C) D) E) * Figura 8. Fotomicrografia do tecido hepático dos animais analisados. A) Disposição dos hepatócitos em cordões margeando um capilar sinusóide. B) Vacuolização nuclear (setas pretas), degeneração do citoplasma (seta branca) e núcleo picnótico (cabeça de seta). C) núcleos na periferia da célula (círculo preto), deformação do contorno celular (seta branca) e núcleo hipertrofiado e com vacuolização (seta preta). D) Hiperemia (asterisco) e núcleo picnótico (cabeça de seta). E) Hipertrofia nuclear (seta branca), núcleo picnótico (cabeça de seta) e atrofia nuclear (seta preta). Escala barra = 25µm. HE. Tabela 7. Freqüência das alterações histológicas encontradas nos fígados dos Astyanax altiparanae analisados segundo a classificação das lesões (baseada em Poleksic e MitrovicTutundzic,1994, e modificada por Rigolin De Sá ,1998). TRECHOS DE COLETA ALTERAÇÃO HISTOLÓGICA HEPÁTICA L1 L2 L4 Índice Atrofia celular I +++ 0 + Atrofia nuclear I ++ + + Deformação do contorno nuclear I ++ 0+ 0 Hipertrofia nuclear I 0+ 0 0+ Núcleo na periferia da célula I +++ +++ +++ Degeneração citoplamática II + + + Degeneração nuclear II 0+ ++ 0 Hiperemia II ++ + 0 Núcleos picnóticos II +++ ++ +++ Vacuolização nuclear II ++ + ++ Necrose focal III 0 0 0+ 0 ausente; 0+ raramente presente; + pouco freqüente; + + freqüente; + + + muito freqüente. CTR 0 0 + 0 +++ 0 0 0+ + + 0 Tabela 8. Freqüência das alterações histológicas encontradas nos fígados dos H. ancistroides analisados segundo a classificação das lesões (baseada em Poleksic e MitrovicTutundzic,1994, e modificada por Rigolin De Sá ,1998). TRECHOS DE COLETA ALTERAÇÃO HISTOLÓGICA HEPÁTICA J2 L1 L2 L3 Índice Atrofia celular I + ++ 0+ ++ Atrofia nuclear I 0+ 0+ ++ 0+ Deformação do contorno celular I 0+ 0+ 0 0+ Deformação do contorno nuclear I ++ +++ ++ +++ Hipertrofia nuclear I 0+ 0+ 0 0+ Núcleo na periferia da célula I +++ +++ +++ ++ Degeneração citoplamática II +++ 0+ + 0 Degeneração nuclear II ++ ++ ++ + Hiperemia II 0 ++ 0+ ++ Núcleos picnóticos II +++ 0 0+ 0 Vacuolização nuclear II +++ 0 ++ ++ 0 ausente; 0+ raramente presente; + pouco freqüente; + + freqüente; + + + muito freqüente. CTR + 0+ 0 + + +++ 0 0 0 0 0+ A vacuolização citoplasmática, comum nos hepatócitos dos teleósteos, foi muito freqüente nos animais analisados. A classificação empregada para a quantificação do glicogênio hepático, por meio da coloração da reação histoquímica de PAS, pode ser observada na Figura 9. A) B) D) C) E) Figura 9. Fotomicrografia hepática dos animais analisados evidenciando a quantificação do glicogênio presente nos hepatócitos. A) Vacuolização citoplasmática (coloração HE). B) Ausência de glicogênio nos hepatócitos (reação de PAS). C) Hepatócitos com pouca quantidade de glicogênio (reação de PAS). D) Hepatócitos com quantidade moderada de glicogênio (reação de PAS). E) Hepatócitos com muito glicogênio (reação de PAS). Escala barra = 25µm. HE. A relação do conteúdo de glicogênio presente nesses vacúolos com a freqüência em que a vacuolização citoplasmática ocorreu encontra-se na Figura 10. 100 2 75 50 1 25 0 0 quantificação do glicogênio CTR B) % 3 J2 L1 L2 L4 100 3 75 2 1 50 25 0 0 CTR quantidade de glicogênio L1 L2 % quantificação do glicogênio A) L3 vacuolização citoplasmática Figura 10. Relação entre as médias da quantidade de glicogênio hepático e a freqüência da vacuolização citoplasmática dos hepatócitos dos animais analisados. A) Astyanax altiparanae. B) Hypostomus ancistroides. Os lambaris e os cascudos coletados apresentaram uma reserva de glicogênio hepático compatível a vacuolização observada nos hepatócitos (Fig. 10A e B), embora a reserva dos cascudos dos trechos L1 e L3 tem sido um pouco menores. Os animais dos dois grupos controles apresentaram intensa vacuolização citoplasmática, porém pouca quantidade de glicogênio nos hepatócitos. 4.5 Histopatologia renal As Figuras 11A e 11B mostram o arranjo normal dos túbulos renais e de um corpúsculo renal, respectivamente. De maneira geral, as mesmas alterações ocorreram nas duas espécies estudadas, porém com maiores freqüências nos lambaris (Tabelas 9 e 10). Degeneração granular (Fig. 11G), degeneração hialina (Fig. 11I), estreitamento da luz tubular, hipertrofia celular, hipertrofia nuclear, vacuolização celular e dilatação dos capilares do glomérulo (Fig. 11E) foram as alterações de estágio I mais freqüentes tanto nos lambaris quanto nos cascudos (Tabelas 9 e 10). Além dessas, o aumento do volume glomerular (Fig. 11E) também foi freqüente nos cascudos (Tabelas 10). Degeneração tubular (Fig. 11C e D), oclusão da luz tubular (Fig. 11D) e redução do espaço de Bowman (Fig. 11C e E) foram as alterações de estágio II mais encontradas nos lambaris coletados, principalmente nos trechos J2, L1, L2 e L4 (Tabela 9). A presença de núcleos picnóticos foi muito freqüente nos lambaris de J2 (Tabela 9). Para os cascudos coletados, a redução do espaço de Bowman foi muito freqüente em todos os trechos; a degeneração tubular foi freqüente em J1 e muito freqüente em L3 (Tabela 10). A oclusão da luz tubular e a redução do espaço de Bowman foram as únicas alterações de estágio II muito freqüentes nos dois controles (Tabelas 9 e 10). A necrose focal (Fig. 11H), de estágio III, foi freqüente nos lambaris de J2 e L4, pouco freqüente nos cascudos de J1, e raramente presente nos lambaris de J1 e L1, sendo ausente nos demais locais (Tabelas 9 e 10). Nas figuras 13e e 13f observam-se que as médias de VMA e de IAH dos rins dos animais estudados apresentaram os maiores valores encontrados quando comparado aos outros órgãos analisados. Para os lambaris, o VMA manteve-se entre 2 e 2,8, para J1 e J2 respectivamente, e o IAH entre 29,7 e 111,3, para L2 e J2 respectivamente. As médias de L3 também foram bem elevadas, apresentando VMA de 2,7 e IAH de 106,5. Para os cascudos, o VMA também se manteve entre 2 e 2,8, porém para L1 e J1 respectivamente, e o IAH entre 32, 3, para L4, e 76, para J1. Apesar dos elevados valores observados, não houve diferença significativa visto os grandes desvios nas médias. A) B) C) D) E) * F) G) H) I) Figura 11. Fotomicrografia renal dos animais analisados. A) Exemplo de túbulos renais sem alteração (foto de A. Silva). B) Corpúsculo renal sem alteração, evidenciando o espaço de Bowman (seta branca). C) Degeneração tubular (cabeça de seta) e redução do espaço de Bowman (seta branca) devido ao aumento do volume glomerular (asterisco) e à dilatação dos capilares do glomérulo (seta preta). D) Detalhe da degeneração tubular (cabeça de seta) e oclusão da luz tubular (setas pretas). E) Detalhe da redução do espaço de Bowman (setas brancas). F) Núcleos hipertrofiados e degenerados (seta branca). G) Degeneração granular (seta preta). H) Necrose focal. I) degeneração hialina (seta preta). Escala barra = 25µm. HE. Tabela 9. Freqüência das alterações histológicas encontradas nos rins dos Astyanax altiparanae analisados segundo a classificação das lesões (SILVA, 2002). TRECHOS DE COLETA ALTERAÇÃO HISTOLÓGICA RENAL J1 J2 L1 L2 Índice Atrofia do glomérulo I 0 0+ 0 0 Aumento do volume glomerular I 0 + + + Degeneração granular I 0 0+ +++ +++ Degeneração hialina I ++ +++ ++ ++ Dilatação dos capilares do glomérulo I 0+ + ++ ++ Espessamento do endotélio capilar glomerular I 0 0 0 0 Estreitamento da luz tubular I 0+ 0 ++ +++ Hipertrofia celular I 0+ 0 +++ + Hipertrofia nuclear I 0+ 0+ ++ 0+ Presença de parasitas I 0 0 0 0 Túbulos em regeneração I 0 + 0+ 0 Vacuolização celular I + ++ 0+ 0 Degeneração nuclear II 0 0 0 0+ Degeneração tubular II 0+ +++ ++ + Núcleos picnóticos II 0 +++ 0 0 Oclusão da luz tubular II 0 + +++ +++ Presença de hemácias no espaço de Bowman II 0 0 + 0 Redução do espaço de Bowman II ++ ++ +++ +++ Necrose focal III 0+ ++ 0+ 0 0 ausente; 0+ raramente presente; + pouco freqüente; + + freqüente; + + + muito freqüente. L4 0 + +++ +++ + CTR 0 0+ +++ +++ +++ 0+ + +++ 0+ 0+ 0 0+ 0 +++ 0 +++ 0+ + + 0+ 0 0+ + 0 + 0 +++ 0+ +++ ++ 0 +++ 0 Tabela 10. Freqüência das alterações histológicas encontradas nos rins dos H. ancistroides analisados segundo a classificação das lesões (SILVA, 2002). TRECHOS DE COLETA ALTERAÇÃO HISTOLÓGICA RENAL J1 L1 L2 L3 Índice Aumento do volume glomerular I 0 ++ +++ 0+ Degeneração granular I + ++ + ++ Degeneração hialina I ++ + ++ ++ Dilatação dos capilares do glomérulo I + ++ +++ 0+ Espessamento do endotélio capilar glomerular I 0 0 + 0+ Estreitamento da luz tubular I 0+ ++ ++ 0+ Hipertrofia celular I 0+ 0+ 0 0+ Hipertrofia nuclear I 0+ + + +++ Vacuolização celular I +++ + + +++ Degeneração nuclear II 0 0 0 0 Degeneração tubular II ++ + 0+ +++ Núcleos picnóticos II 0 0+ 0 0 Oclusão da luz tubular II 0 + + + Redução do espaço de Bowman II +++ +++ +++ +++ Vacuolização nuclear II 0+ + 0+ 0 Necrose focal III + 0 0 0 0 ausente; 0+ raramente presente; + pouco freqüente; + + freqüente; + + + muito freqüente. CTR +++ +++ +++ ++ 0 0 0 0+ 0+ 0+ + 0 +++ +++ 0 0 A) B) Figura 12. Fotomicrografia do tecido renal analisado evidenciando a formação de novos néfrons. A) Vista geral de um novo néfron sendo formado. B) Detalhe do novo néfron em maior aumento. Escala barra = 25µm. HE. A formação de novos néfrons também foi analisada (Fig. 12). Embora não seja uma alteração, sua ocorrência em quantidade muito elevada pode ser um indicativo de distúrbio do órgão. A Tabela 11 mostra a freqüência da formação de novos néfrons encontrada. Nos lambaris coletados, a formação de novos néfrons foi muito freqüente em L1, freqüente em J2, L2 e L4 e pouco freqüente em J1. E nos cascudos, a formação de novos néfrons foi freqüente nos animais coletados nos trechos L1 e L2. Tabela 11. Freqüência da formação de novos néfrons observadas nos rins dos animais analisados, segundo a classificação de Silva, 2002. Local de coleta Espécie CTR J1 J2 L1 L2 L3 L4 Astyanax altiparanae 0+ + ++ +++ ++ * ++ Hypostomus ancistroides 0+ 0+ ** ++ ++ 0+ * 0 ausente; 0+ raramente presente; + pouco freqüente; + + freqüente; + + + muito freqüente. * espécie não coletada nesse trecho. ** não analisado. a) VMA brânquia 3 * *• 2 1 CTR J1 c) J2 L1 L2 L3 b) 125 100 75 50 25 0 *# CTR L4 VMA fígado IAH brânquia J1 d) J2 L1 L2 L3 2 1 CTR J1 e) J2 L1 L2 L3 L4 VMA rim L4 * * * L1 L2 L3 L4 L2 Ha L3 L4 IAH fígado 125 100 75 50 25 0 3 *# CTR J1 f) J2 IAH rim 125 100 75 50 25 0 3 2 1 CTR J1 J2 L1 Aa L2 Ha L3 L4 CTR J1 J2 L1 Aa Figura 13. Médias de VMA (Valor Médio de Alteração) e de IAH (Índice de Alterações Histológicas) das brânquias (a e b), fígados (c e d) e rins (e e f) dos Astyanax altiparanae e dos Hypostomus ancistroides analisados. As linhas verticais representam o erro padrão. * indica diferença significativa em relação ao respectivo controle; • indica diferença significativa em relação ao trecho J1 na mesma espécie; e # indica diferença significativa em relação aos demais trechos de coleta para a mesma espécie (P< 0,05). 5 DISCUSSÃO As medidas físico-químicas auxiliam na caracterização dos trechos de coleta. Valores críticos, muito acima ou abaixo do comum, podem refletir distúrbios na qualidade da água. Neste trabalho, os valores observados de oxigênio dissolvido, temperatura, pH e condutividade não chamaram a atenção por serem críticos. Apenas a leitura de oxigênio dissolvido do trecho J2, que foi de 4mgO2/L, manteve-se no limite do valor considerado crítico para esse parâmetro, que seria abaixo de 4mgO2/L (CAMARGO, 2004; SILVA, 2004). Dados da CETESB, 2001, afirmam que valores de condutividade maiores que 100µs/cm têm sido relatados para locais muito impactados. Os trechos amostrados apresentaram leituras de condutividade entre 54,1 e 21µs/cm, estando portando dentro da normalidade para este parâmetro. O fator de condição é um índice que reflete as interações entre os fatores bióticos e abióticos sobre a condição fisiológica dos peixes. São informações adicionais que contribuem para o entendimento do ciclo biológico das espécies de peixes, para o manejo adequado dessas espécies, e, portanto, para a manutenção do equilíbrio no ecossistema (LIZAMA; AMBRÓSIO, 2002). Um decréscimo no fator de condição é normalmente interpretado como depleção das reservas energéticas estocadas, como glicogênio hepático e gorduras corporais. A redução do fator de condição também pode estar atribuída a um aumento na taxa metabólica em resposta a fatores estressantes (HOQUE et al., 1998). 5.1 Histopatologia branquial As brânquias exibem uma grande superfície a qual está em contato direto e permanente com a água e, portanto, seus potenciais estressores (BERNET et al., 1999). O sentido do fluxo sangüíneo nas lamelas é oposto ao do fluxo respiratório da água entre as lamelas secundárias. Este sistema, chamado contra-corrente, acentua a capacidade das trocas gasosas devido ao amplo contato da superfície epitelial com o meio externo e à alta taxa de perfusão em favor da oxigenação das brânquias (TAKASHIMA; HIBIYA, 1995). Entretanto, a entrada de poluentes também é facilitada por estes mecanismos respiratórios (MALLATT, 1985; HEATH; 1987; BONGA, 1997) podendo resultar em danos branquiais os quais podem modificar essas trocas gasosas e levar a uma hipóxia interna no peixe (NAGAE, 1996). A maioria das lesões branquiais que ocorrem em exposições subletais afeta o epitélio da lamela secundária (HINTON; LAUREN, 1990). O epitélio branquial de peixes é um tecido extremamente sensível, dinâmico e metabolicamente ativo (RANKIN et al., 1982; HINTON et al., 1992; POLEKSIC; MITROVIC TUTUNDZIC, 1994). São exemplos dessas alterações: hiperplasia e hipertrofia do epitélio respiratório, desarranjo lamelar e fusão parcial das lamelas secundárias (MALLATT, 1985; HINTON; LAURÉN, 1990; POLEKSIC; MITROVIC-TUTUNDZIC, 1994; FERNANDES; MAZON, 2003; CAMARGO, 2004). Tais alterações foram freqüentes nos lambaris e nos cascudos coletados nos ribeirões Jacutinga e Lindóia, e também foram observadas nos animais usados como controle neste estudo. A hiperplasia celular consiste em uma proliferação de células entre lamelas secundárias adjacentes, reduzindo este espaço interlamelar, podendo culminar na fusão das lamelas (HEATH,1987; HINTON et al., 1992; FACÁRIO, 2003). A fusão das lamelas é um mecanismo natural de defesa para manter a superfície lamelar afastada do contato direto com compostos químicos. Estas adaptações contra os distúrbios do ambiente aquático reduzem a área da superfície respiratória e, assim, as trocas gasosas, que ali ocorrem normalmente, são dificultadas visto o decréscimo na capacidade de difusão podendo levar o peixe à asfixia (OJHA, 1999). Além dessas alterações no epitélio branquial, podem ocorrer alterações vasculares nas lamelas quando os animais estão sob estresse mais severo. Assim, um aumento do fluxo sanguíneo para o interior da lamela ou mesmo a ação direta dos contaminantes pode desestruturar as células pilares ou até mesmo rompe-las (HEATH, 1987). Conforme a intensidade do fluxo sanguíneo e a severidade do dano das células pilares podem originar alterações de estágio I, como dilatação do canal marginal e congestão vascular, ou de estágio II, como aneurisma (TAKASHIMA; HIBIYA, 1995; ROSETY-RODRÍGUEZ, 2002). Esta última é considerada mais grave e cuja restauração do tecido, embora mais difícil, ainda é possível (POLEKSIC; MITROVIC-TUTUNDZIC, 1994), dependendo do tamanho e da quantidade em que ocorreu pelo tecido branquial. Aneurismas foram muito encontrados nos lambaris coletados nos ribeirões Jacutinga e Lindóia, sendo muito freqüentes nos trechos de coleta do Lindóia mais a jusante. WINKALER et al, 2001 também observaram aneurismas nas lamelas de lambaris (Astyanax altiparanae) coletados no ribeirão Cambé, impactado com esgoto doméstico e rural, e no córrego Capivara, que apresentava elevados níveis de metais na água, ambos também em Londrina, Paraná. A ruptura do epitélio lamelar e o rompimento de células pilares também podem ser consideradas reflexos da ação dos agentes tóxicos sobre o órgão (CAMARGO, 2004), e são classificadas como graves. A primeira ocorreu com mais freqüência nos lambaris coletados no trecho L2 do ribeirão Lindóia, e a segunda, nos cascudos coletados no trecho L1. Mallatt, 1985, em uma revisão estatística sobre alterações na estrutura branquial induzidas por tóxicos e outros irritantes, concluiu que as lesões são de natureza não específicas, pois foram detectadas sob diferentes condições de exposição. Essas alterações não específicas são, portanto, reações fisiológicas das brânquias ao estresse como respostas de defesa. Nesse estudo, as brânquias foram os órgãos menos sensíveis aos poluentes da bacia do ribeirão Jacutinga. De maneira geral, foram observados os mesmos tipos de alterações branquiais tanto nos lambaris quanto nos cascudos coletados nos ribeirões Jacutinga e Lindóia. Porém, as alterações ocorreram com mais freqüência e maior intensidade nos lambaris. Apenas os lambaris dos trechos L2 apresentaram alterações classificadas entre moderadas e severas interferindo no funcionamento normal das brânquias. Nos animais dos demais locais, tanto cascudos quanto lambaris, as histopatologias observadas provocam danos leves a moderados nas funções branquiais. 5.2 Histopatologia hepática O fígado de teleósteos é o local mais importante na síntese de enzimas de biotransformação, além de ser também essencial na síntese de bile, armazenamento de lipídeos e glicogênio, bem como a produção de vitelogenina e proteínas presentes na película que envolve o ovo (GOKSOYR; HUSOY, 1998). É um dos órgãos mais afetados por alterações morfológicas decorrentes da exposição a contaminantes (RODRIGUES; FANTA, 1998). As alterações nos hepatócitos encontradas neste trabalho, como deformação do contorno nuclear, hipertrofia nuclear, núcleo na periferia da célula e atrofia celular e nuclear, têm sido relatadas em animais expostos a contaminantes (BRAUNBECK et al. 1990) e outros ambientes aquáticos degradados (TAKASHIMA; HIBIYA, 1995; SCHWAIGER et al, 1997; RIGOLIN de SÁ, 1998; MONTEIRO, 2001). O tamanho da célula e do núcleo, em preparações para microscopia, reflete seu estado funcional (TAKASHIMA; HIBIYA, 1995). Em estado hiperfuncional, por exemplo, a hipertrofia nuclear pode indicar um aumento de suas atividades, sugerindo uma intensificação da atividade metabólica do hepatócito frente às condições ambientais, seja pela presença de algum composto químico ou pela ausência de alguma substância (MEYER; HENDRICKS, 1985; HINTON et al, 1992). O armazenamento de glicogênio e lipídios que ocorre naturalmente nos hepatócitos de peixes confere a essas células um aspecto vacuolizado quando submetidas à coloração com HE (TAKASHIMA; HIBIYA, 1995). A relação entre a quantidade de glicogênio hepático e a freqüência da vacuolização observada nesses hepatócitos tem sido analisada para revelar o estado nutricional do animal. Takashima e Hibiya, 1995, alertam que uma intensa vacuolização citoplasmática nem sempre significa um grande acúmulo de glicogênio. Pacheco e Santos, 2002, descrevem o aumento da vacuolização nos hepatócitos como sinal de processos degenerativos, sugerindo problemas metabólicos possivelmente relacionados à exposição a contaminantes. A reserva de glicogênio encontrada nos lambaris e cascudos coletados nos ribeirões Jacutinga e Lindóia parece ser satisfatória aos animais, sendo compatíveis à vacuolização observada em seus hepatócitos. Estes resultados sugerem que as condições ambientais dos trechos amostrados não estão interferindo nos estoques de glicogênio desses animais. A intensa vacuolização e a pouca reserva de glicogênio observada nos peixes controles provavelmente ocorreu porque esses animais não se alimentaram adequadamente durante o período em que ficaram acondicionados aos tanques, embora a oferta de alimento (ração comercial) para os mesmos tenha ocorrido neste período. As médias de IAH dos animais coletados revelaram alterações de intensidade moderada nos hepatócitos quanto aos seus efeitos sobre o funcionamento do órgão. Isso se deve à freqüência das alterações de estágio II observadas, dentre elas a hiperemia, caracterizada pelo aumento do fluxo sanguíneo no tecido hepático, aumentando a oxigenação de regiões prejudicadas deste tecido e facilitando o transporte de macrófagos até elas, podendo indicar um mecanismo auxiliar na desintoxicação (SILVA, 2204). Também foram observadas alterações degenerativas nos hepatócitos das duas espécies estudas como degeneração citoplasmática e nuclear, vacuolização nuclear e núcleos picnóticos, as quais podem comprometer as funções desempenhadas pelo fígado devido à redução da área metabolicamente ativa do órgão (HINTON; LAURÉN, 1990; HINTON et al., 1992; TAKASHIMA; HIBIYA, 1995; TEH et al., 1997; LANGIANO, 2003). Picnose é um processo que tem sido relatado em casos de intoxicação severa e foi detectado em Oreochromis niloticus expostas a 36 ppm do herbicida Roundup (JIRAUNGKOORSKUL et al., 2002). A ocorrência e a freqüência dessas alterações hepáticas nos lambaris e cascudos coletados sugerem que o comprometimento da qualidade da água dos ribeirões da bacia do Jacutinga está afetando a saúde desses animais. 5.2 Histopatologia renal O tecido renal mostrou-se o mais sensível deste estudo, apresentando modificações severas nos lambaris capturados nos trechos mais próximos a foz dos ribeirões Jacutinga (trecho J2) e Lindóia (trecho L4), embora a análise estatística não tenha sido significativamente diferente. Processos degenerativos e até mesmo necrose deste tecido foram observadas nas duas espécies estudadas, sendo mais freqüentes nos lambaris, que se demonstraram mais sensíveis que os cascudos. As degenerações tubulares, granular e hialina, têm sido descritas para o rim de peixes expostos a vários contaminantes (TAKASHIMA; HIBIYA, 1995) e, como ocorre nas brânquias, não se trata de respostas a um agente estressor específico (CAMARGO, 2004). O acúmulo de grânulos pequenos no citoplasma deixando as células hipertrofiadas e com aspecto de rede caracteriza a degeneração granular, a qual pode resultar em degeneração hialina quando os grânulos tornam-se maiores e eosinófilos. Segundo Hinton e Laurén, 1990, e Takashima e Hibiya,1995, esses grânulos podem ser formados pelas próprias células ou resultarem da reabsorção de excessos de proteína plasmática perdidos pela urina devido a danos no glomérulo e em casos mais graves podem levar à necrose do tecido. Prochilodus lineatus expostos a concentrações subletais de triclorfon (VEIGA et al., 2002) e Salmo trutta e Barbatula barbatula expostos a água de dois ribeirões contaminados com pesticidas, PCB, PAH e metais (GERNHOFER et al., 2001; SCHWAIGER, 2001) também apresentaram degenerações tubulares como as encontradas nos rins dos animais deste estudo. Alterações no corpúsculo renal podem prejudicar a formação do filtrado que ocorre nos glomérulos (MEYER; HENDRICKS, 1985; HINTON; LAURÉN, 1990). A dilatação dos capilares do glomérulo, devido ao aumento do fluxo sanguíneo, e o espessamento do endotélio capilar glomerular, pela proliferação anormal de células, podem levar à redução do espaço de Bowman. Esta redução foi uma das alterações mais freqüentes nos lambaris e cascudos coletados nos ribeirões da bacia do Jacutinga. Nos trabalhos citados com Prochilodus lineatus (VEIGA et al., 2002) e com Salmo trutta e Barbatula barbaluta (GERNHOFER et al., 2001; SCHWAIGER, 2001) essa alteração também foi observada. A regeneração tubular e a formação de novos néfrons podem ser um indicativo de adaptação e restauração do tecido após danos nos rins dos peixes (HINTON; LAURÉN, 1990; TAKASHIMA; HIBIYA, 1995; CORMIER et al, 1995; REIMSCHUESSEL, 2001). Neste trabalho, embora a formação de novos néfrons tenha sido bem freqüente nos animais coletados no ribeirão Lindóia, a quantidade desta estrutura presente em cada peixe analisado não foi excessiva a ponto de chamar a atenção para este fato. Assim, este estudo revelou que as espécies Astyanax altiparanae e Hypostomus ancistroides dos ribeirões Jacutinga e Lindóia, da bacia do Jacutinga, apresentam modificações em suas brânquias, fígados e rins como resposta aos prováveis agentes estressores que estão presentes neste ambiente. A espécie H. ancistroides mostrou-se mais resistente que A. altiparanae, visto que nesta última a severidade das alterações foi maior. Dos órgãos analisados, o rim e o fígado mostram-se mais sensíveis às alterações, constituindo-se os mais sensíveis como biomarcadores em programas de monitoramento ambiental. A bacia do ribeirão Jacutinga, como tipicamente ocorre com ribeirões urbanos, mostrou-se impactada. Os ribeirões Jacutinga e Lindóia apresentam comprometimento da qualidade de suas águas desde suas nascentes, sendo este comprometimento mais agravado na foz desses ribeirões, provavelmente em virtude da confluência de afluentes urbanos poluídos bem como de efluentes de diversas origens ao final de seus percursos. O óleo proveniente do vazamento ocorrido em 2002, dois anos atrás, parece não ser a causa mais relevante para a indução das alterações observadas nos peixes. 6 CONCLUSÕES • Os lambaris (Astyanax altiparanae) e cascudos (Hypostomus ancistroides) da bacia do ribeirão Jacutinga apresentaram lesões teciduais, sendo estas de intensidade leve nas brânquias, moderada nos fígados e severa nos rins. • O fígado e o rim dos peixes foram os órgãos mais afetados pela poluição das águas destes ribeirões, constituindo-se biomarcadores histopatológicos sensíveis para o monitoramento ambiental. • Os ribeirões Jacutinga e Lindóia estão impactados desde a nascente até a foz de seus cursos, sendo a qualidade das águas próximas à foz destes ribeirões mais comprometidas. • A poluição observada na bacia do ribeirão Jacutinga deve-se aos efluentes urbanos que atingem direta e indiretamente as águas dos principais ribeirões componentes dessa bacia e de seus afluentes. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABEL, P. D. 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Tempo de fixação dos órgãos para Astyanax altiparanae e Hypostomus ancistroides: Brânquias – 8 horas Fígado – 8 horas Rim – 12 horas Após a fixação, manter os órgãos em álcool 70%. ANEXO B – Descalcificação das brânquias de Astyanax altiparanae e Hypostomus ancistroides Preparação da solução de EDTA 7%: 70g de sal dissódico de EDTA em 1L de água destilada. Gotejar NaOH 1M* até atingir pH 7,2. *NaOH 1M = 4g de NaOH em 100mL de água destilada. Descalcificação das brânquias: colocar o arco branquial na solução de EDTA por 15 minutos na estufa a 60ºC. ANEXO C - Protocolo de inclusão de brânquias e fígado de Astyanax altiparanae e de Hypostomus ancistroides. Desidratação em: álcool 80% 1h álcool 90% 1h álcool 95% 1h álcool 100% 30 min álcool 100% 30 min álcool 100% 30 min álcool 100% + xilol 30 min Diafanização em xilol P.A 10 a 15 min Impregnação em estufa 58-60ºC com: xilol + parafina (1:1) 30 min xilol + parafina (1:2) 30 min parafina pura 3h Emblocagem em moldes cúbicos de papel com parafina, solidificada em temperatura ambiente; Microtomia: os blocos trimados foram cortados em micrótomo American Optical “820” com espessuras de 4 e 5µm; Montagem de lâminas: após os cortes, as brânquias foram colocadas em banho-maria, em torno de 50o C, com gelatina em pó para serem aderidas às lâminas e esticadas. Em seguida, foram mantidas na estufa durante 24 horas para secagem. Quando secas, as lâminas foram coradas. ANEXO D – Procedimento para coloração em microscopia de luz da brânquia (HE) Desparafinização com duas séries de xilol por 10 minutos cada; Hidratar em série gradual de álcoois 100%, 95% e 70% por 5 minutos cada; Lavar em água corrente e água destilada por 10 minutos; Corar com hematoxilina de HARRIS por 15 segundos, passagem rápida; Lavar em água corrente e água destilada; Contracorar com eosina de LISON por 2 minutos, passagem rápida; Desidratar com álcool 70% e 95%, passagem rápida; Desidratar com dois banhos de álcool 100%, por 5 minutos cada; Tratar em álcool + xilol (1:1), por 5 minutos; Diafanizar com duas séries de xilol por 5 minutos cada; Montar as lâminas com bálsamo do Canadá; ANEXO E – Protocolo de inclusão do rim Desidratação em: álcool 80% 1h álcool 90% 1h álcool 100% 1h Diafanização em xilol P.A. 1h 3h Impregnação em estufa 58-60oC com parafina pura Emblocagem em moldes cúbicos de papel com parafina solidificado a temperatura ambiente; Microtomia: a trimagem dos blocos foi feita na forma de pirâmide para serem obtidos cortes de 5 µm em micrótomo LEITZ WETZLAR; Montagem de lâminas: após os cortes, as brânquias foram colocadas em banho-maria, em torno de 50o C, com gelatina em pó para serem aderidas às lâminas e esticadas. Em seguida, foram mantidas em temperatura ambiente durante 24 horas para secar. ANEXO F – Procedimento para coloração de rim em microscopia de luz (HE) Disparafinar em xilol e metanol + H2O2 0,9% por 30 minutos cada; Hidratar em série crescente de álcoois 100, 90, 80, 70 e 50%, por 10 minutos cada; Lavar em água corrente e destilada; Corar com hematoxilina de HARRIS por 15 segundos, passagem rápida; Lavar em água corrente e destilada; Contracorar com eosina de LISON por 2 minutos, passagem rápida; Desidratar com álcool 70% e 95%, passagem rápida. Desidratar em álcool 100%, por 5 minutos. Tratar em álcool + xilol (1:1), por 5 minutos. Diafanizar com duas séries de xilol por 5 minutos cada. Montar as lâminas com bálsamo do Canadá. ANEXO G – Procedimento para coloração em microscopia de luz do fígado em PAS Disparafinar e hidratar em: xilol xilol álcool 100% álcool 100% álcool 95% álcool 70% 10’ 5’ 5’ 5’ 5’ 5’ Lavar durante 5 minutos em água destilada; Oxidar em ácido periódico 0,5% por 5 minutos; Lavar por 5 minutos em água destilada; Tratar por 15 minutos no reativo de Schiff; Lavar por 10 minutos em água corrente; Lavar em três banho de água sulfurosa por 2 minutos cada; Lavar em água destilada por 5 minutos; Contracorar por 35 segundos com hematoxilina de Harris; Fazer viragem em água corrente por 10 minutos; Desidratar, diafanizar e montar. ANEXO H – Soluções corantes para microscopia de luz Hematoxilina de HARRIS Reagentes: 1 g de hematoxilina 10 mL de álcool absoluto 20 g de alúmem de potássio 200 mL de água destilada 0,5 g de óxido de mercúrio Eosina de LISON Reagentes: 2 g de eosina 1 g de bicromato de potássio 20 mL de solução saturada de ácido pícrico 20 mL de álcool absoluto 160 mL de água destilada Reagente de Schiff, segundo Lillie Levar 100 mL de água destilada até ebulição; Interromper o aquecimento e adicionar à água 1g de fucsina básica (para-rosanilina); Resfriar a solução até 60oC. Filtrá-la. Acrescentar 4g de bissulfito de potássio. Dissolver bem. Juntar 10 mL de HCL 1N. Deixar a solução em repouso, no escuro, durante 24 horas; Acrescentar à mesma 200 mg de carvão ativo (Norit). Agitar com veemência e depois filtrar. Conservar em refrigerador a 0-4oC. Atenção: a solução deverá ficar incolor ou levemente cor de palha. Em caso contrário deverá ser desprezada. Preparação de água sulfurosa 10 mL de HCl 1N 10 mL de Na2S2O5 a 10% (metabissulfita de sódio) Completar o volume para 200 mL de água destilada.