Recordar é viver Ano 2010 Ser professora da Unabem é um grande prazer, pois a cada dia os alunos nos surpreendem com conquistas que não sonhamos, com carinhos, mimos inigualáveis e com uma alegria contagiante como na “receita” da aluna Divina Maria de Oliveira Dias Receita da Feliz Idade Ingredientes: 1 xícara da serenidade da Leila 3 colheres de sopa de paciência da Gelcira 2 xícaras de caridade do Fábio Kallas 4 colheres de compreensão do Fred 1 dose de respeito da Tayse a mesma medida de tolerância de todos os alunos 1 dúzia de amor de todos os colegas 1/2 litro de carinho da Dilciane 3 copos de alegria da Silvia 1 quilo de fé da „Fé‟ 2 quilos de pensamento positivo do Lázaro 1 pitada de inteligência da Cibele Lemos e muita humildade para semear, todas as terças e quintas-feiras nas aulas da Unabem. Preparo: Misture a tudo isso excelentes professores, amigos sem igual, funcionários pacientes, coloque dentro do seu coração aquecido por aproximadamente tempo infinito. Rendimento: Para todos que buscam a felicidade na feliz idade, na Unabem Uma boa leitura para todos. Leila M. Suhadolnik Pádua Andrade (professora de Memórias Pessoais) Chocolate e Maçã Maria Conceição Silva Saragô. Me chamo Maria Conceição.Nasci em São Sebastião do Paraíso no dia 14-01-1938. Quando eu tinha quatro anos, minha mãe, que era lavadeira e muito pobre, ficou doente e faleceu. Então fui morar com uma família estranha para mim, mas não desconhecida para eles, pois eram a minha avó paterna e duas tias que eu não conhecia. Tinham uma condição de vida melhor e me deram uma boa educação. Era uma família muito generosa que plantou no meu coração o amor fraterno com os mais necessitados. O meu primeiro banho na casa da minha avó foi traumático. Nunca esqueço aquela banheira com chuveiro e a água caindo em cima de minha cabeça, coisa que não estava acostumada. E do meu colchãozinho de palha num cantinho do quarto de minha avó. Tudo era novo e me assustava. Fui uma criança muito medrosa... Quando a noite chegava, ali deitada no colchãozinho chorava de medo. Então minha avó me colocava no cantinho de sua cama e me aconchegava. Já aos seis anos me ensinaram a fazer tricô, bordar e mais tarde costurar. Durante minha infância eu não tinha amigas e brincava sempre sozinha.No quintal fazia casinha e meus brinquedos eram pedaços de louças quebradas e as bonecas eram vidros de remédios vazios... Distante da casinha armava uma arapuca para pegar passarinhos: amarrava um barbante até onde eu estava para puxar a arapuca quando o passarinho entrasse na armadilha. Quando pegava, colocava o coitadinho numa caixa de sapato toda furada para entrar o ar. Quando ia tratá-los, ou já estavam mortos, ou fugiam voando desesperados para as árvores. Sei que ficava horas a fio brincando neste quintal cheio de árvores frutíferas. Fui crescendo e cursei o Curso Técnico de contabilidade. Porém o meu sonho era ser professora, mas não tive condições. Minha mocidade foi de muita alegria, apesar de ter poucas roupas e um par de sapatos para sair. Estudava a noite. Muitos dos meus colegas tinham cachorros que ficavam do lado de fora esperando seu dono. Eu e outra colega colocávamos os cachorros para dentro e eles iam correndo para as salas de aula procurando os donos. E, é aí que o bicho pegava, pois o diretor era um padre muito severo que ficava procurando o culpado da arte e nunca encontrava. Esta foi uma fase muito feliz, em que o meu primeiro amor aconteceu. Aquele amor inocente de longe, nunca declarado, mas também nunca correspondido. O grande amor apareceu e é o que dura até hoje. Ele era meu vizinho que morava em outra rua. Os quintais se confrontavam e as jabuticabeiras do meu quintal com a jabuticabeira da casa dele entrelaçavam os galhos. Na época das frutas eu subia no muro e roubava as jabuticabas de lá porque eram mais doces... E como eram doces! Casei com esse grande amor chamado Francisco. Tenho duas ótimas filhas Francismara e Fabíola e uma linda neta chamada Ana Carolina. Em breve terei mais uma netinha que chamará Ana Beatriz. Graças a Deus pude proporcionar a elas tudo que não tive amiguinhas em minha casa para brincar e muitos brinquedos. Nunca passaram o que passei, principalmente a vontade de comer uma maçã e um chocolate cuja embalagem era uma fazendinha estampada. Agradeço a Deus pela minha avó e tias que me deram liberdade com limites e muito amor... Tempo de nascer Célia (ou Celina Maria dos Santos) Era tarde de segunda-feira do dia 16 de fevereiro de 1948. Chegara o grande dia para iniciar o primeiro capítulo da história da minha vida. Morávamos no Sítio Bom Descanso localizado cerca de uma hora de carro de Passos e como naquela época não havia facilidades de seguir para um hospital, quem substituía os médicos eram as famosas “parteiras”. Meu pai, que estava trabalhando na roça, foi chamado às pressas para ir até a casa da “parteira” mais conhecida das redondezas. Seu nome era Maria Gomes. Ele, mais que depressa pegou o cavalo e partiu num galope só. Cavalgou por mais de 1 hora e quando lá chegou encontrou Maria Gomes,mas ela não conseguia parar em pé de tão bêbada que se encontrava. “Ó indecisão cruel...” O que fazer? Meu pai pegou Maria Gomes no colo , colocou no cavalo e saiu às pressas morro abaixo. Quando chegou à sede do sítio, eu já dava os primeiros sinais. Maria Gomes não conseguia nem torcer a toalha estendida sobre a cama. No quarto, apenas minha mãe, Maria Gomes e meu pai. O jeito foi ele ajudar Maria Gomes. Como se fosse um aprendiz de parteira, meu pai ajudou a fazer meu parto. Depois de muito aperto, muitas cambaleadas e muito suor eu nasci. E com um grande choro celebrei minha chegada. Depois de todo o acontecido, essa história foi motivo de gargalhadas e me perseguiu por muitos anos. Toda vez que eu fazia alguma peraltice já se ouvia uma voz gritando: “Maria Gomes”... A escolha do nome de um filho certamente causa dúvidas. Minha mãe foi decidida. Eu me chamaria Célia Maria Dias. Ela chamou meu pai e o incumbiu de ir até Bom Jesus da Penha, mais conhecido por “Arraiá”, para assim me registrar. Antes de sair, ele voltou no quarto e perguntou: - Maria, como será mesmo o nome? Ela afirmou em voz firme: - Célia. Chegando até o Cartório depois de tanto cavalgar pela estrada afora, foi atendido. O rapaz perguntou: - Qual o nome da sua filha, Sr. Calimério? Por mais de dois minutos o silêncio pairou no ar. Meu pai havia esquecido o nome que minha mãe havia escolhido. Ele apenas se lembrava que começava com Ce. E agora? Pensou. O escrivão insistiu. - Seu Calimério, como será o nome da sua filha? - É, é. É Ce. Celina. E assim sendo, registrada eu sou Celina. Porém, seguindo a vontade de minha mãe todos sempre me chamaram por Célia. Quando vou a algum consultório médico e escuto: ___Dona Celina Maria acho que é outra pessoa. Só me dou conta quando a secretária me olha e com um sorriso singelo, revela:” _ - É a senhora!” Belo Colar Célia (ou Celina Maria dos Santos) “Oh! que saudades que tenho Da aurora da minha vida, Da minha infância querida Que os anos não trazem mais!” Faço minhas as palavras de Casimiro de Abreu e digo que ser criança é a melhor lembrança e que a gente nunca deveria deixar de ser criança... Sou a filha número 4 de 11 irmãos. Minha infância foi repleta de alegrias, brincadeiras e muitas travessuras. ...Certa feita, minha mãe saiu para ir até a casa de uma vizinha e nos deixou com D. Aparecida, que trabalhava em casa. Nesta época eu me encontrava com 4 anos de idade. Inconformada porque minha mãe não havia me levado, tive um plano brilhante. -“Vou atrás da mamãe”! Despistei D. Aparecida e parti pelo cafezal adentro em busca de encontrar minha mãe. Tinha uma vaga lembrança que aquele seria o caminho correto. Caminhei, caminhei e nada. Corria, descia, subia e nada. Comecei a fazer o que uma criança de 4 anos perdida no meio de um grande cafezal faria. Chorar. Lembro que chorei, chorei. Tudo em vão. Definitivamente eu estava perdida. O tempo foi passando, passando... Enquanto isso, na minha casa, minha mãe já havia voltado e um grande rebuliço se encontrava na família. Dividiram-se todos e saíram em busca da criança perdida. Já estava anoitecendo quando me encontraram. Eu havia adormecido debaixo de um pé de café. Acho que de tanto chorar.” Vários fatos marcaram minha vida até os dias de hoje: Como o dia do meu casamento, que estava um grande temporal ou das palavras de meu pai quando foi me cumprimentar: Ele me abraçou e disse: -“Seja honesta como sempre foi sua mãe”. O nascimento dos meus filhos, dos meus netos... Passaria o dia recordando e me emocionando ao escrever minha história. A grande certeza que tenho é que muitas pedras eu encontrei pelo caminho e minha decisão ao invés de cair e debruçar na primeira pedra foi recolher cada uma e fazer um belo colar. Na vida encontramos muitas dificuldades, mas temos duas opções: ou ficamos lamentando e nos tornamos tristes ou decidimos fazer de nossa vida um lindo colar de alegrias, lembranças e experiências. Alegria de viver, apesar de tudo. Conceição Rosa da Cruz “Concinha” Olá... eu sou a Concinha!!! Sou a caçula em uma família de 4 filhos e minha primeira infância não foi das melhores, mas tenho algumas lembranças da fazenda, de brincar com bonecas de pano, de fazer animais com perninhas de madeira e corpo de legumes, de nadar nos lagos, de pegar frutas no pé... mas infelizmente quando eu tinha 3 anos minha mãe adoeceu gravemente e precisou buscar tratamento fora de Passos. Fiquei um tempo com minha avó Francesca, uma senhora Italiana muito boa, mas ela também ficou doente e meu pai tinha pouca condição de cuidar dos 4 filhos. Foi nessa época que Deus colocou na nossa vida uma família muito especial, eles me amaram, cuidaram de mim e quando estavam de partida para São Paulo me levaram com eles. Dona Amaura se tornou minha mãe, Fez meu casamento e depois se tornou a melhor avó que meus filhos poderiam ter. Seus filhos, Mariza e Valtair se tornaram meus irmãos e seu esposo Modesto, meu pai. Em São Paulo passei por um difícil período de adaptação Morávamos na Lapa e nessa época me lembro que quando os aviões a jato passavam perto de nossa casa. Eu e meus novos irmãos saíamos abaixados, com as mãos na cabeça, gritando e correndo de medo... Acho que pensávamos que eles poderiam cair em nossa casa. Foram muitas aventuras na cidade grande para uma menina que veio do interior. Casei muito cedo, aos 15 anos, e tive dois filhos muito queridos e especiais, desses que trazem muito orgulho para uma mãe. Hoje tenho 1 neta e 3 netos e eles são uma grande alegria em minha vida: Laís, 9 anos e Paulo Júnior, 4 anos, filhos de Paulo e Diana e Leonardo, 3 anos e Rafael, 1 ano filhos de Andréia e Alessandro. Meu genro e nora são como filhos pra mim. Quando meu primeiro filho nasceu, nós morávamos no Morro do Níquel, próximo a Itaú de Minas, e foi bastante complicado criar um bebê num lugar tão sem recurso, mas Deus novamente preparou uma pessoa para me ajudar, era a Maria Mouca, que cuidava bem do Paulo e ainda me ajudava em casa. Morei em Bragança Paulista – SP e de lá tenho muitas lembranças gostosas principalmente os domingos que sempre tinha pastel e macarrão e freqüentávamos um clube que meu filho Paulo amava. Os avós o paparicavam muito nessa época, era o único neto, o queridinho de todos... Mais tarde voltamos para o Morro do Níquel e de lá voltamos para Passos, onde nasceu nossa filha Andréia. Lembro que Paulo, então com 7 anos, corria atrás do carro gritando: ganhei uma irmãzinha... ganhei uma irmãzinha!!! Aqui em Passos criamos os nossos filhos. Nessa época tive a oportunidade e o privilégio de conhecer pessoas muito queridas e especiais e tive a maior alegria de minha vida, que foi conhecer e aceitar Jesus como Salvador e Senhor da minha vida. Dessa forma pude criar meus filhos em uma família cristã, ensiná-los a crer e amar a Deus e mais tarde vê-los envolvidos no trabalho da igreja a qual pertencemos: a Primeira Igreja Batista em Passos e hoje ver meus netos sendo criados da mesma forma. Desde pequenininhos cantando músicas que falam do amor de Deus, orando e ouvindo histórias Bíblicas. Hoje tenho uma família enorme: a família da minha Igreja. Deus mais uma vez me deu esse presente!!! Tive ainda a oportunidade de trazer meu pai verdadeiro para morar comigo em seus últimos anos de vida e isso hoje, me traz paz ao coração, pois a convivência com ele havia sido pouca e Deus me deu oportunidade de conviver e amá-lo muitos anos ainda. Ele era um avô muito amoroso, tenho lembranças alegres dele nesse tempo em nossa casa, como quando ele segurava o secador para Andréia cuidar dos longos cabelos da época de adolescente, sempre com um sorriso e cheio de “causos da roça” para contar ou quando comprava produtos errados e a gente tinha que ir correndo trocar... Um dia, ele comprou um catchup achando que era shampoo, os meninos riram muito da confusão dele. Enfim, minha história é bem comum, com alegrias e tristezas como qualquer outra, mas quando paro pra meditar vejo que sou MUITO abençoada e que não há tristeza que apague a minha alegria de viver!!! Um elo entre a cidade e a roça Idayr Marques Arantes. Fui uma criança muito querida por toda família. Uma destas lembranças foi quando minha avó me levou para passear em São Paulo. Fomos de trem, de janela aberta e fiquei muito entusiasmada com tudo que via. Os passageiros achavam graça na garotinha com o casal de velhinhos. Cheguei a São Paulo com a calça toda queimada de brasas que saia do trem. Era uma calça amarela de veludo que ficou toda furada. Quando já era mocinha fui visitar uma querida amiga em São Paulo e fomos ao restaurante e pedimos de entrada uma salada. Veio uma travessa muito bonita com algumas bolinhas amarelas. Sem saber o que era eu e minha amiga olhamos uma para outra, pegamos a bolinha ao mesmo tempo e colocamos na boca. O que era? Era manteiga congelada. Ficamos com a bolinha na boca sem saber o que fazer. Tivemos que cuspir as bolinhas e como foi engraçado! Quando era criança meu pai me deu uma bicicleta, e nossa rua não era calçada, era cheia de poeira e alguns buracos. Tínhamos uma vizinha que tinha um namorado que vinha visitá-la à tarde, na hora que eu andava de bicicleta. Ele vinha de calça azul marinho todo alinhado. O que é que eu fiz? Não foi por querer, mas, a bicicleta passava em cima de tudo o que não podia, enfiei a bicicleta entre as pernas do rapaz que chegou todo sujo na casa da namorada. Imagina a reclamação a minha mãe! Esta bicicleta tem muitas histórias. Em 1965 fui convidada para um piquenique na fazenda do Sr. João Batista e lá estavam vários rapazes!!! Foi um dia divertido e só na hora de ir embora foi que nossos olhares se cruzaram... No ônibus só para mexer com ele eu cantei: “Sereno eu caio eu caio... se eu pudesse ai ai ai... eu faria ai ai ai um farol dos seus olhos azuis...” Frutificou e virou namoro... Sr. João com sabedoria e vivência alertou: ”Ela é uma moça da cidade e você um rapaz da roça” Ah! Os jovens! São impulsivos e românticos e isso não tinha a menor importância.. Casamos... Mas como disse Sr. João, senti muita saudade da cidade, não me adaptei na roça e ele não quis mudar para cidade. E assim vivemos: uma moça da cidade com o rapaz da roça! Mas o tempo foi passando e conciliamos esta diferença Existe um elo entre a cidade e a roça que nos une sempre!!! Lembranças felizes Divina Maria de Oliveira Dias Eu, Divina Maria de Oliveira Dias, nasci na região dos Penas, distrito de Guapé. Nesta época eu era muito doente, com problemas de bronquite. Morei lá até os 13 anos de idade. A minha mãe, Sebastiana Maria de Jesus, cuidou de mim com muito carinho e amor para que eu ficasse curada do bronquite. Graças a Deus fiquei bem de saúde. Meu pai, Benedito Barbosa de Oliveira, era agricultor. Mudamos para a Fazenda São Sebastião do Taquaruçu, município de Passos-MG. Foi nesta fazenda que eu passei minha adolescência e juventude. Estudei até a 4ª série. Minha professora, Dona Regina Célia Vieira era uma excelente pessoa. A escola tinha uma única sala para todas as séries, num total de 18 alunos, que eu jamais me esquecerei. Foi uma época muito boa da minha vida. Nós trocávamos os lanches. A Jandira Marques – levava maracujá e dava para mim, era docinho, muito bom. Eu tenho contato com a Jandira até hoje. Nós brincávamos muito, depois que ajudava a mamãe na lida da casa, pois éramos sete irmãos. Eu era muito feliz com tudo o que tinha, era uma vida bem simples. Eu tinha muitas amigas para brincar à tarde, depois que havia feito toda a obrigação de casa. Brincávamos de casinha, de pular corda e andar no carro de boi do Senhor João Serafim, que era o carreiro da fazenda. Eu ia à cidade - Passos - com minha Tia Cinhaninha e era muito bom. Nós ficávamos na casa da minha Tia Angelina, irmã do meu pai. Ela era uma pessoa maravilhosa e ficava sempre muito feliz com a nossa chegada. As meninas dela: Nilda, Maria das Graças e Luzia, nos recebiam com muito carinho. Elas estudavam no Wenceslau Brás, elas não iam à aula durante o tempo em que nós permanecíamos na casa delas. E nós, já combinávamos o dia em que eles todos iriam à nossa casa, lá na roça. Era tudo muito bom. O pai delas, Tio Zé Trindade, tinha um caminhão. Quando ele ia chegando lá em casa ele buzinava e nós já saíamos correndo para nos encontrar, podia ser o horário que fosse, inclusive de aula, que nós (eu e meus irmãos) saíamos correndo como se nada estivesse acontecendo... Versos e lembranças dos meus tempos de criança no Nordeste José Bezerra de Lima Menina diga a seu pai, Seu pai diga a seu irmão, Que a lima que ele me deu, Não foi lima foi limão. Menina diga a seu pai, Que não coma de colher, Ele está para ser meu sogro, E você minha mulher A laranja de madura, Cai na água foi ao fundo, Triste da moça solteira, Que cai na boca do mundo. Você diz que eu sou feio, Bonito você não é, Você é o pé da rosa, E eu sou a rosa do pé. Tem quatro coisas no mundo que eu desejava ver: Boi morto se levantar, Cavalo magro correr, Rico fazer caridade, E terra boa sem chover. Eu não sei como vivo nesse mundo enganoso, Anda-se limpo sou pilantra Se ando sou grudento, sou seboso Se apanho sou mufino Se mato sou criminoso. Tem quatro coisas no mundo que pertencem a um coração: É uma mulher ciumenta É um menino chorão É uma casa que goteja É um cavalo tanjão O cavalo eu pego e troco, O menino eu acalento A casa eu arretelho A mulher dou-lhe um conselho Se ela não quiser toma Eu passo um ela no nó da peia. Alecrim de beira d‟água ele tomba Mais não cai, Essas meninas bonitas Vão ser noras do papai. Peguei na perna da velha Pensando que era da filha Minha senhora desculpa Era de noite eu não via Perna de velha é casquenta Perna de moça é macia. Quando eu morrer não quero choro nem vela Quero um par de espora E um casaco de couro amarelo Escrito no peito esquerdo Saudades da minha donzela. Cuidado poeta pra não falar palavra errada Eu sai de águas pretas As quatro da madrugada Meti o dedo na buchecha Tirei sebo da buchada Buchecha com buchobucho E buchecha buchei buchada. Lampião e Maria Bonita diziam que nunca morriam Lampião morreu de madrugada Maria Bonita ao amanhecer do dia Acorda acorda Maria Bonita Levanta vai toma o café. O dia já vem raiando E o Lampião já esta de pé. Na feira de Caruaru Faz gosto a gente ver De tudo o que há no mundo lá tem pra vender Tem massa de mandioca Tem calça de alvorada pra matuto não andar nu De tudo o que há no mundo tem na feira de Caruaru. Na feira de Caruaru faz gosto a gente ver. Eu viajei de trem trinta e sei horas A noite e o dia. De trem São Paulo a Mato Groso. Ao meu lado sentada na cadeira Tinha uma velhinha de noventa anos sentada. Eu e ela cochilando, três e meia da manhã Deu uma coceirinha na minha perna e eu comecei coçar Quando eu olhei eu tava coçando a perninha da velha O senhora desculpa eu tava dormindo eu não vi A velha me respondeu: - Continua meu filho tá bom, continua que tá bom, tá bom!!! Lembranças alegres e aterradoras da minha infância. Nanci Gotelip Francklim Meu nome é Nanci, sou a 5ª. Filha de um casal com 7 filhos. Na infância, brinquei de roda, pega pega, boneca, pulei muita corda, foi tudo muito bom!!! Companhia para mim não faltava, pois a diferença de idade dos meus irmãos era muito pouca, então sempre tinha alguém para brincar comigo. Quase toda minha infância se passou em Belo Horizonte. Meu pai, descendente de alemão, era muito exigente, mas em compensação muito carinhoso e cuidava muito bem dos filhos. Procurava nos colocar em boas escolas, de acordo com suas posses e ficava muito bravo quando tirávamos uma nota baixa no boletim. Olhava nossos cadernos, nos ajudava nos deveres de casa, pegava no pé mesmo!!! Não se esquecia das datas especiais, nossos aniversários e Natal. Todas estas datas tinham um sabor muito especial! Minha mãe, muito tranqüila e sábia, deixava a meninada muito à vontade, mas dava uma função para cada filho, e fazia a parte dela que era preparar nossa alimentação e cuidar de toda a roupa. O que era muito, pois, não existia máquina de lavar, fogão a gás, geladeira e nem água encanada. Minha mãe gostava muito de ler, na parte da tarde ela sempre estava folheando algum livro. Quando se aproximava a hora do meu pai chegar, nós corríamos para cuidar da casa, lavar as louças, e as maiores davam banho nos menores, pois meu pai gostava de encontrar tudo em ordem, senão...!!!! Assim que entrei na adolescência comecei a participar de alguns acampamentos que eram organizados por nossa Igreja. Todo ano estes acampamentos aconteciam por ocasião das férias de julho e eu ficava muito ansiosa para chegar a hora. Passávamos uma semana sempre com meninas da mesma faixa etária e de todas as regiões de Minas Gerais, eram muitas as atividades, palestras, esportes e brincadeiras. Sempre acampávamos em um prédio no bairro da Floresta BH, pertencente ao Colégio Batista Mineiro. E num destes acampamentos aconteceu um fato interessante que eu jamais me esqueci. Na hora de colocar essas meninas para dormir as coordenadoras tinham muito trabalho, em cada quarto ficavam aproximadamente 10 meninas. Eram muitos dormitórios, e um corredor muito comprido. Então, as coordenadoras ficavam andando para lá e pra cá até que todas dormissem. Mas nós não queríamos dormir, tudo para nós era engraçado e tínhamos que colocar o travesseiro no rosto para abafar nossas risadas. Numa destas noites quando quase todos estavam dormindo, eu resolvi passar um susto nas meninas do quarto. Então gritei “TEM UMA MÃO NO VITRÔ!!!!!!!!!!!”, elas assustaram acenderam as luzes e uma subia no beliche da outra para olhar e ver lá fora. O barulho do nosso quarto foi tanto, que as luzes dos outros quartos foram acendendo e em poucos minutos todas estavam acordadas olhando no lado de fora do prédio. Só eu não levantei, continuei quietinha na minha cama. A coordenadora chegou pôs a mão na minha testa para ver se eu estava com febre e perguntou se eu estava sentindo bem. Quando viu que tudo estava bem, perguntou se realmente eu tinha visto uma mão no vitrô. Eu respondi “VI. NAQUELE VITRÔ!” e apontei o local. Então elas nos acalmaram e dormimos. Menos eu. No outro dia eram tantas as histórias, umas diziam ter visto muitos homens pulando o muro, outras diziam que viram 2 homens, outra até viu um homem descendo pela tubulação, cada uma contava uma historia. Coincidentemente, junto ao vitrô que eu disse ter visto uma mão, tinha um cano de ferro que descia bem ao lado (tipo calha). O dormitório ficava no 3º andar. Daquele dia em diante o prédio passou a ser vigiado pela polícia. Eu não tive coragem de dizer que era uma mentira! Hoje eu fico pensando “SERÁ QUE TINHA UMA MÃO NO VITRÔ? Rsrsrs. Lembranças felizes Ana Aparecida Andrade Cury Meus pais me desejavam muito, pois, quando nasceu a primeira filha ela faleceu com poucas horas de vida, o seu nome era Ana Maria em homenagem as minhas avós queridas. Depois de alguns anos minha mãe engravidou novamente e estou aqui. Eu era uma menina linda, gordinha de olhos azuis e com muita saúde. Meus pais ficaram com medo de colocar o mesmo nome Ana Maria, então colocaram Ana Aparecida em louvor a Nossa Senhora Aparecida. A minha mãe era muito doente e me deixou muito novinha com apenas 3 anos de idade. Fui morar com minha avó paterna, porque o meu pai ficou morando lá. De vez em quando, eu ia na minha avó Iuca, este era o apelido dela, o nome real era Maria Martins.Tinha também a vovó Mariinha que era a madrasta que estava no lugar de mãe do meu pai, que por sinal era muito boa. Ela tinha uma filha que se chamava Estela, e nós fazíamos muitas artes juntas. Depois de mais ou menos 1 ano, meu pai se casou com minha tia irmã Isabel e eu fui morar com eles. Tudo se complicou, pois ela tinha muito ciúmes de mim com o papai. Eu apeguei muito a ele, porque morávamos na fazenda, não tinha nada pra fazer. Então eu recortava letras de jornais, pedia para ele me ajudar montar as palavras. Eu tinha uns 5 anos, e aprendi a ler e escrever com estas brincadeiras. Quando entrei na escola comecei a ajudar a professora, pois tudo que ela ensinava eu já sabia. Fui crescendo, estudando e um belo dia fiquei dando aulas particulares para colegas. Foi aí que um fazendeiro vizinho disse que ia me levar a Passos para fazer algumas provas, para ver se eu estava preparada para dar aulas. Deu certo, fui aprovada, e dei aula para 40 alunos, e foi aumentando tanto a quantidade de alunos que minha irmã teve que me ajudar. Eu tinha 15 anos, queria aprender a costurar, assim minha irmã ficou me dando aulas. Fui morar em Santa Rita de Cássia e continuei nas aulas de costura. Quando faziam leilão, o pessoal dava brindes e eu ganhava dinheiro para comprar tecidos. Comecei até a fazer uniformes para meus alunos, e os que não iam uniformizados, eu ficava muito brava, mas mesmo assim eles gostavam muito de mim. Eu gostava muito, nesta época, de apostar em corrida de cavalos e eu sempre ganhava!Um dia quando eu estava galopando o cavalo escorregou as patas da frente e eu caí com meu nariz no chão, que ficou totalmente verde, pois graças a Deus era grama! Meu primeiro namorado foi um menino muito bom, fui apaixonada e queria casar com ele. Pena que era meu primo em primeiro grau, meu pai não deixou e terminamos! Passado alguns anos, eu conheci um rapaz chamado Amir Cury. Aí meu coração foi entregue! Meu pai também não o queria como genro, mas não importei, comecei a encontrá-lo ás escondidas!!Quando já estava noiva, estava vindo de um passeio de mãos dadas, quando meu pai nos viu e me repreendeu em casa dizendo: Cuidado minha filha! Teve um fato engraçado. Um dia meu namorado me roubou um selinho, então pensei, não sou mais virgem! E já estava de casamento marcado! Casei, fui muito feliz, tive dois filhos, que se chamam Eduardo e Eloisa, minha vida virou festa, passeávamos, eu acompanhei de perto em tudo. Mas o destino me pregou outra peça; fiquei viúva com apenas sete anos de casada, meu marido morreu com 38 anos. Começou o sofrimento.Lutei muito, consegui construir duas casas, formei os dois filhos que não me deram nenhum trabalho.A Eloisa se casou, é feliz e tem uma filha que é a razão da minha vida, o Eduardo não casou, mas é muito feliz também.Depois de uns anos que meu marido morreu eu conheci um rapaz e aprendemos a dançar, mas o tempo passou logo este Senhor pediu –me em namoro, começamos um relacionamento, fomos felizes também, mas não deu certo, terminamos o namoro por falta de honestidade dele. Hoje estou fazendo o curso na faculdade que se chama UNABEM- FESP estou muito feliz, amo minhas colegas. Tenho um companheiro que se chama José, passeamos muito, tenho o meu maior tesouro como já foi dito, que é minha neta e meus filhos e genro. Então agradeço a Deus todos os dias pelo fato de ter uma família unida e feliz!!!!! Tempo de Infância Lázaro Lemos Freire Eu tive uma infância muito boa. Fui criado na roça e a vida era tranquila. Eu me levantava de madrugada e ia para o curral com meu pai para tirar leite. Uma hora pisando no barro, outra hora, na geada, mesmo assim a gente gostava. Eu levava uma caneca e bebia o leite tirado na hora, bem espumado. Era muito gostoso! Eu sempre ajudava meu pai na lida com o gado e no serviço da roça, apesar de eu ser pequeno. Mas era muito animado e nas horas vagas eu brincava com meus irmãos com os brinquedos que nós mesmos fazíamos: papa-vento, flauta de talo de mamona, monjolinho, carrinho de boi e outros mais. A roda do carrinho de boi era feita de casca de melancia ou então de pedado de cuia. A “cuia” para quem não sabe era feita de cabaça. Uma coisa que nós gostávamos era de brincar na chuva. Quanto chovia muito e a água descia formava uma grande enxurrada que quase nos cobria. Para nós, não havia nada melhor. Outra coisa boa era ouvir os casos que meu pai contava. À noite, ele tinha o costume de se sentar no rabo do fogão, como a gente dizia, e começava a contar casos. Um que nós gostávamos de ouvir era “o caso do homem que só falava pode”. Era assim. Numa certa cidade, um homem sofreu uma doença que paralisou parte de usa memória e, a partir daí, ele só falava a palavra “pode”. Tudo que se falasse com ele ou se perguntasse ele respondia... Pode. Acontece que, na cidade, umas moças bandidas e vigaristas ficaram sabendo do caso desse homem e foram para lá. Elas deram sorte e o encontraram sozinho em casa. Elas o cumprimentaram: Como vai o senhor? E ele respondeu: Pode. Várias perguntas elas fizeram e ele: Pode. Então elas perceberam que era mesmo verdade e perguntaram: Nós podemos chamar o senhor de “Pai”? E ele: Pode. Com isso, elas resolveram dar uma boa arrumada nele. Deram banho, colocaram terno e gravata, arrumaram o cabelo e disseram: Nós vamos levar o senhor pra fazer compra, pode ser? E ele respondeu: Pode! Ao chegaram à loja, começaram a comprar coisas, mas sempre perguntando a ele se podia. E ele sempre respondia: Pode. Assim, compraram tudo o que queriam e, então, disseram ao dono da loja: Nós vamos colocar as coisas no carro e vamos ao Banco para acertar uns negócios, porque já está quase fechando. Nosso pai vai ficar aqui para pagar a conta e logo nós estaremos de volta pra buscá-lo. O dono da loja não desconfiou de nada e achou mesmo que elas eram filha dele e ainda pensou: Está aí um pai de verdade! E ficou esperando. As moças sumiram... Mas o homem não falava nada. O dono esperou mais um pouco e nada. Aí ele disse: Vamos acertar a conta? E o homem respondeu: Pode. Mas nem saiu do lugar. O dono esperou mais e de novo falou em acertar as contas e o homem: Pode. Até aí ele ainda tinha esperança de que as moças voltassem, mas logo viu que era golpe. Chamou a polícia. A polícia chegou e começou a interrogar o homem: Quer dizer que o senhor comprou e não quer pagar? E o homem: Pode. Os guardas então perguntaram: Onde estão suas filhas? Ele respondeu: Pode. Aí o policial disse, com mais seriedade: Se o senhor não colaborar eu posso prendê-lo, sabia? Ao que o homem respondeu: Pode! Nessa altura, todos viram que se tratava de um homem doente e ainda tiveram que localizar a família para levá-lo pra casa. Das vigaristas, nunca mais tiveram notícia e o dono da loja ficou mesmo só com o prejuízo. Lembranças de Irineu e Antonia Irineu de Paula Pouco me lembro de minha infância sendo eu criado na roça, sem companheiros para brincar, tinha muitas tarefas para fazer, como descascar milho e cuidar da criação. Mesmo assim sobrava tempo para ir ao córrego, que passava no fundo de casa, para pescar alguns peixinhos para completar as refeições do dia a dia. Quando comecei freqüentar a escola foi muito bom, pois fiz amigos para brincar e estudar. Morava a uns quatro km da cidade, mas tinha de ir a pé porque não tinha condução. Foi assim minha vida e adolescência aos 13 anos. Rolinha: minha amiga Antonia Maria de Paula Quando criança morava na Rua Quarta Chapada n°204 que hoje chama Davi Baldini, a casa hoje esta reformada com outra aparência. Na minha casa tinha um quintal muito grande, com muitas arvores de frutas: mangueiras, laranjeiras e cajueiros. Tinha caju vermelho e amarelo e todas as árvores eram bem grandes e altas, porque quando eu nasci já fazia muitos anos que meu pai as tinha plantado. Eu, menina levada, gostava de subir nas arvores. Podia ser qualquer uma, até mesmo as laranjeiras. Nada era empecilho para mim, estava sempre nos galhos das árvores. De todas, era a mangueira do centro do quintal que eu mais gostava. No galho mais alto, eu me sustentava, pois ali eu tinha uma amiguinha muito linda que eu gostava de conversar, porque gostava de contar historias para ela porque me ouvia com muita atenção. Sabe quem era? Uma linda rolinha marronzinha, cabeça redondinha, olhos bem vivos, e quietinha no seu ninho a aquecer os seus ovinhos. A rolinha foi a melhor amiga nos meus devaneios de criança, pois até hoje com meus 67 anos nunca a esqueci. Capitólio: um sonho Maria Aparecida de Oliveira Até os catorze anos de idade morei na roça, mas, a vontade de morar na cidade era muito grande. Todos os dias ajudava papai e mamãe. Acordava de madrugada, buscava e apartava as vacas, tirava leite, ajudava nos serviços de casa, levava comida para os peões que trabalhavam com meu pai, ajudava a olhar os irmãos menores. Quando acabavam as tarefas, brincava de casinha e a noite eu e meu irmão gostávamos de ouvir as músicas de Tonico e Tinoco e Moreno e Moreninho no rádio. Aos domingos, gostávamos de assistir aos jogos de futebol em um campinho que ficava perto da roça. Algumas amigas e eu ficávamos vendo e paquerando alguns jogadores. Sempre íamos às festas em Capitólio. Uma das coisas que eu mais gostava era assistir a festa da Semana santa. Nosso meio de transporte era o carro de boi, às vezes, quando amanhecia e o céu estava nublado, ficava rezando para não chover, caso contrário, nosso passeio não iria acontecer. Toda vez que ia a Capitólio passear o desejo de me mudar aumentava mais. O meu sonho um dia se tornou realidade. O local onde morava foi invadido pelas águas de Furnas, tivemos que arrumar nossa mudança e sair rapidamente, pois em poucas horas, as águas invadiram as estradas e não teria passagem para sair. Minha mãe ficou muito triste, ela não tinha nenhuma vontade de se mudar para a cidade. Ela chorava o tempo todo, e eu, ao contrário, dava muitas risadas, afinal, foi o melhor dia da minha vida. Depois que me mudei para Capitólio, muitas coisas aconteceram, pois logo conheci um moço e começamos a namorar. Namoramos quatros anos e nos casamos. Estamos casados há 44 anos, tivemos quatro filhas e somos muito felizes. Hoje, quando me lembro da minha adolescência sinto muita saudade, foi um tempo muito bom que merece sempre ser recordado. História Engraçada Cida Castro Bastião Galinha era um homem que todos tinha medo dele, porque diziam que ele roubava e que era misterioso, e até passava pela fechadura da porta. Eu tinha muito medo dele. Uma bela noite mamãe,meus irmãos e eu estávamos na sala ouvindo radio quando alguém bateu na porta. Mamãe disse pra que eu atendesse e , eu mais que depressa falei que tinha medo de ser o Bastião Galinha. Mas minha mãe disse: _ Vai medrosa, imagina se é este homem ele já morreu, não vive mais. Eu com muito medo fui, quando abri a porta era o dito cujo, o Bastião Galinha. Sai correndo casa a dentro e todos correndo atrás de mim sem saber o que estava acontecendo querendo falar comigo e eu só gritava. Quando cheguei ao quintal estava escuro, tinha dois panos brancos no varal.Eram sacos de passar no chão, mas o medo era tanto que quando me deparei com os sacos no varal e todos atrás de mim achei que eram fantasmas, e ai a coisa foi ficando feia , voltei correndo e gritando, eu quase morri de susto. Quando me acalmaram e me deram água com açúcar, e voltamos para sala chegando, lá estava o Bastião Galinha sentado na sala e esperando um prato de comida A mamãe com muito medo, deu-lhe a comida e ele despedindo saiu porta fora e ficamos todos dando risadas. Esta história foi muito engraçada e ficou marcada. Até hoje para quem eu conto cai na risada. E foram muitas histórias que merecem passar para um livro Agradeço todos que fizeram parte da minha infância, meus pais Fé e Jose Piracema, meus irmãos, meus familiares. Agradeço meu marido e companheiro Júpiter, meus filhos genros e minha nora e netos que me deram muita força para este crescimento de vida. Agradeço a Deus, por proporcionar-me oportunidade como esta de muita amizade e carinho de todos. Agradeço a UNABEM, a Leila, Gelcira o pessoal da Enfermagem a Nadia. Hoje estou realizada por ter vivido tantas experiências lindas. VIVA A UNABEM!!! "VIVER É NÃO TER A VERGONHA DE SER FELIZ" Infância na fazenda Praia Vermelha Antonio Rodrigues Pinto Quando nasci, meus pais quiseram que eu tivesse o nome de meu avô paterno. Antonio Rodrigues Pinto, que é o meu nome. Tive uma infância feliz. Fui criado na fazenda Praia Vermelha, situada na margem direita do nosso famoso Rio Grande. Como foi bom, crescer e conviver com meus pais e irmãos. Já crescido, brincava com carrinho de bois de sabugo, com estilingue no pescoço para matar passarinhos, fazia arapucas ia pescar lambaris nos córregos e também cangar os carneiros para puxar o carros de bois em miniatura. Como era bom brincar e distrair com esses brinquedos. Na véspera do Natal, meus pais pegavam minha botinha de goma, e a colocava num lugar de destaque, para o papai Noel colocar o presente. Ao levantar, a primeira coisa é olhar o que tinha dentro da botinha. Encontrava sempre duas moedas de quatrocentos e quinhentos reais. Ficava muito feliz e saia dando pulinhos de alegria. Meu pai, preocupava em dar instrução para seus filhos e logo contratou uma professora de Passos. Ela era tão boa. Não esqueço nunca de meu 1º dia de aula junto com meus colegas filhos dos empregados da fazenda. Depois de concluir meu 3º ano primário na fazenda, fui para a cidade de Delfinópolis fazer o 4º ano. Concluindo o primário, vim para Passos estudar e como foi difícil sair a primeira vez da casa de meus pais e do seu convívio. Mas valeu a pena, fiz a admissão em um ano e terminei o 2º grau. Fiquei interno no colégio Estadual 1 ano e meio. Como foi bom este tempo fiquei com mais conhecimento e feliz, com meus professores. Estudava durante a semana e ainda saía os sábados e domingos, para ir ao cinema e namorar as meninas da época. Como foi bom tudo isso, estudar em Passos durante 8 anos.Conclui depois meu curso de filosofia da matemática. Fui professor em minha terra natal (Delfinópolis) 17 anos. Logo me casei com minha esposa que era diretora em um grupo Estadual. Nós dois trabalhando e como o dinheiro daquele tempo valia mais, conseguimos criar e estudar nossos 3 filhos, que são maravilhosos e formados em Pedagogia, Odontologia e Medicina Veterinária. Estamos felizes, em ver nossos filhos formados e independentes, cada um trabalhando e não precisam de nós pais economicamente. Todos casados, ganhamos 2 noras maravilhosas e 7 netos.Eu e minha Esposa, damos graças a DEUS por ter criados os 3 filhos bem e termos uma família realizada. Com tudo isso, eu só tenho a agradecer a “CRISTO” as graças alcançadas na minha vida, pois eu creio que realmente o CRISTO é: “O caminho, a verdade e a vida.” Como é saudável, levantar todo dia, achar o dia maravilhoso, com saúde e em paz com minha família. E‟ também muito gratificante, em fazer parte da UNABEM, com ótimos professores e receber mais conhecimentos, na minha maturidade. Como gosto das aulas e de meus colegas. Estou muito feliz. Parabéns ao presidente do conselho curador da FESP em criar este curso da UNABEM. Esta é um pouco da minha história principalmente daminha infância e adolescência. “Dos tempos idos e vividos, que não voltam nunca mais” Minha Historia Enilda Lemos Pinto Nasci em uma fazenda chamada “Retirinho”, onde morei até os 9 anos. Minha infância foi muito feliz porque sempre morei com meus pais. Nestes anos brincava muito, passeava e estudava. Meu pai preocupava em dar instrução para os oito filhos, tanto que sempre tivemos professores na fazenda. Nesta época saía com meu pai andando pelos pastos a cavalo para ver o gado e também procurar limas da Pérsia para chupar. Certa vez papai fui ver uma grande enchente no Rio Grande e avistamos a “Ponte do Surubi”.Estava vestida com uma capa camada “Ideal” e com Chapéu para proteger da chuva que era muito forte.Foi um dia emocionante! Ia sempre ao quintal apanhar laranja com meu irmão e papai.Ele subia nos laranjais para apanhá-las, depois assentávamos no chão para chupá-las. Que saudades desta época! Minha mãe sempre dedicada à família, estava sempre fazendo coisas boas: doces, bolos, biscoitos etc. Meu 3º ano primário foi feito em Ibiraci assim como minha Primeira comunhão. Fiz o 4º ano em Delfinópolis, depois fui para CIC até o 2º ano normal. O 3º normal fiz em Poços de Caldas, no colégio São Domingos. Em Delfinópolis trabalhei como diretora e professora. Minha mocidade foi muito alegre. Depois encontrei a minha cara metade, casei e tenho 3 filhos, 2 noras e 7 netos. Mudamos para Passos e aposentei. A vida é muito incerta, momentos bons ou mais difíceis. Tive um problema de saúde serio, mas agora dou graças a DEUS por que superei tudo e hoje vivo uma vida feliz com toda minha família. Na 3º idade tive a felicidade de participar do curso da UNABEM – FESP um curso muito bom no qual adquiri mais conhecimentos e amizades. Todos os professores são bons e capacitados para transmitir os ensinamentos para a maturidade. O Mandruvá Maria das Graças Garcia Freitas. Em uma tarde de sol, em 1964 mais ou menos, fomos; eu, minha prima Ednir e minha amiga Marilda, ao cemitério rezar pelos mortos. Era comum naquela época fazer isso. Lá estávamos nós. Entrávamos em uma rua e saímos em outra. Ora rezávamos , ora líamos as mensagens dos túmulos, quando algo nos chamou atenção. Estávamos diante de um túmulo com a imagem de Nossa Senhora segurando um botão de rosa prestes a abrir.Notamos que o dedo da imagem estava movimentando, dando-nos a impressão que estava nos chamando. Olhamos uma para outra muito assustadas e saímos correndo e encontramos um funcionário do cemitério que quis saber o que estada acontecendo. Relatamos-lhe o ocorrido e ele pediu-nos que o levasse até o local. Para o nosso alívio, era apenas um mandruvá, que estada no dedo indicador da mão esquerda da imagem e fazia movimentos repetitivos aparentando o movimento dos dedos da estátua. Quanta confusão! Agradecimentos aos professores: Leila , Silvia, Gelcira, Nádia, Fred e amigas, muito obrigada pelo carinho, dedicação, esforço e disponibilidade... Que o “Menino Jesus” abençoe todos vocês, hoje e sempre! Pegos em cima de uma mangueira Baltazar Júlio de Freitas. Aconteceu quando eu tinha meus treze anos. Naquela época eu era engraxate na redondeza da Praça da Matriz ,onde se encontravam hotéis, bares especialmente o Café-Globo. Trabalhava comigo os inesquecíveis amigos Pelé e Toinzinho.Foi justo com o Toinzinho que tudo aconteceu. Em uma tarde do mês de novembro do ano de 1957, após nosso trabalho de graxa voltando para nossas casas e, ao passar pela rua do Sapo, escondermos nossas caixas de trabalho , e adentramos , por um vão da cerca, a um pomar onde havia duas mangueiras carregadas de mangas maduras . Estávamos nos dois lá em cima , tranqüilos, quando de repente apareceu lá em baixo , com um pedaço de bambu na mão , o dono do pomar que foi logo nos dizendo: podem descer já daí! O que fazer !...descer ou não descer ? Com um pouco de medo descemos e eu sempre de olho no olho de Toinzinho para dar-lhe um sinal para fugirmos, mas Toinzinho não olhava . Em dado momento o Senhor do pomar disse:Agora !... Pensei comigo lá vem bambuzada! E ele continuou: - Agora vocês terão que pagar pelas mangas colhidas, inclusive todos as mangas verdes que vocês derrubaram ao chacoalharem os galhos!! Por sorte nossa o faturamento com o trabalho de graxa tinha sido ótimo, o que nos salvou de maiores complicações. Fomos embora chateados, porém livres de termos levado uma surra de bambu. Essa foi uma das muitas peraltices que aconteceu na minha adolescência. Perdão abençoado Baltazar Júlio de Freitas . Tudo aconteceu quando minha irmã Maria de Lurdes casou-se com o cunhado Benedito, a contra gosto de meu pai Geraldo. Ele achava que o Benedito não era pessoa ideal , para sua filha. O casamento aconteceu; quem a levou ao altar foi o meu avô Antonino, uma vez que era contrário à proibição quanto ao casamento. Após o enlace, eles foram morar bem perto de nossa casa, e as visitas em nossa casa era constante, mas com restrições, ou seja, se meu pai chegasse, ela saía pelos fundos da casa, e se este estivesse em casa ela era avisada para não ir. E assim foi esse clima até que meu avô Antonino completou setenta anos. Seus familiares resolveram fazer-lhe uma festa surpresa e assim aconteceu: levaram para dar umas voltas até que festa fosse organizada.Quando retornou , ao entrar na sala onde todos os convidados estavam já batendo palmas e iniciando o canto do Parabéns a você , ele interrompeu o canto e disse: - Parem esta festa que vocês prepararam com tanto amor e carinho. Eu quero é que meu filho Geraldo mais velho e minha neta Lurdes, a mais velha, venham ao meu lado e quero que Geraldo perdoe e abençoe a filha pelo acontecido no casamento. Naquele momento em que o papai abraçava a Lourdes e a abençoava, todos os presentes se emocionaram. Á partir deste momento a festa continuou com muita alegria. Em nossa casa tudo mudou completamente , há paz , alegria , muita harmonia entre todos os familiares. Tudo pelo carinho e pela sopinha gostosa! Maria de Lourdes de Lima Quero escrever aqui uma passagem na minha vida: quando eu era interna na Associação Feminina Beneficente e Instrutiva: era assim o nome do colégio na Vila Formosa, bairro Vila Diva em São Paulo no ano de 1949. Tínhamos acabado de jantar. No colégio nós almoçávamos às 11 horas , lanchávamos às 15 horas e jantávamos às 18 horas. Depois íamos para o pátio fazer um pouco de hora e quando dava 19h30min subíamos para o dormitório para prepara-nos para dormir, afinal nosso horário de levantar era às 05h30min da manhã , tomar café às 06h30min, entrar para as aulas às 07h00min em ponto. Tudo o que fazíamos era com muita disciplina; tínhamos horário para tudo.Tinham meninos e meninas, mas tudo muito bem organizado, os meninos dormiam na colônia que ficava do outro lado do prédio , e as meninas nos dormitórios em cima com três terraços para separar. Naquela tarde eu combinei com algumas colegas que , logo depois do jantar, eu iria disfarçar que teria um desmaio, mas não era para ninguém falar para as responsáveis, porque eu queria ficar na enfermaria do colégio, para comer aquela sopinha gostosa diferente da nossa. A nossa vinha com muito bichinho preto nas beiradas do prato, a gente tirava com o dedo e limpava no uniforme. Eu queria tanto comer a comida que era servida somente para os funcionários que olhavam as crianças! Quando a porta grande se abriu, e surgiu o Sr. Paulo e o Sr. João Alberto, que eram os filhos da diretora responsáveis pelas crianças, eu disse: - É agora! Vamos fazer de conta que estamos brincando de rodar bem forte, ai eu solto a mão e faço que caio desmaiada , e vocês não falam nada para o Sr. Paulo e nem para o Sr. João Alberto. Eles que vão me acudir. E não deu outra quando o João Alberto me viu no chão veio correndo para me pegar no colo e levou-me para a enfermaria , como se eu tivesse desmaiado. Chamaram rapidamente o Dr. Melilo, seu nome todo era Dr. Vicente de Paula Melilo, era o medico do colégio, e vinha todas as semanas para fazer consultas nas crianças, na parte da manhã. Na enfermaria, eu fiquei tão bem tratada fingindo que tinha dor na barriga e no corpo, e que estava com tonturas, para ser tratada com todo o cuidado. E não e que deu certo? Tomei remédio para dor, comprimido para a barriga e não faltou a tão desejada sopinha de frango com arroz bem temperadinha, tão diferente da nossa comida do dia-a-dia. Ninguém ficou sabendo que tudo não passou de um desmaio de mentira.Minhas amigas nunca contaram nada para a diretora e assim eu tive o prazer de saber como é gostoso ser tratado com todo o cuidado. Isso já faz tantos anos e eu nunca me esqueci deste acontecimento que teve na minha infância, agora vejo como as crianças tem sabedoria quando querem alguma coisa. Hoje estou com 69 anos e ainda me lembro muito bem deste episódio da minha vida. Quero deixar essa recordação dos meus 8 aninhos e que ainda me vem na lembrança , como se fosse hoje. Obrigado meu Deus pelas coisas boas e pelas experiências que tive na minha vida mesmo sendo criada em um Colégio internato que foi o meu lar por 14 anos. Obrigada senhor por tudo o que sou!Dedico essa historia da minha infância para meus professores especialmente Leila, Gelcira, Nádia, Fred e para os amigos e companheiros da Unabem. Histórias da Minha infância e do Carmelo São José Yolanda Higino Franco A minha infância foi muito bonita. Apesar de não conhecer minha mãe. Nasci em 5 de setembro de 1942.Quando eu perdi minha mãe eu estava com 3 meses.Quando papai casou outra vez eu estava com 4 anos e não sabia de nada.Cheguei perto dela e perguntei: - A senhora é minha mãe? Aí ela respondeu: - Não sou mãe de vocês,sou madrasta de vocês! Aí eu comecei a chorar...Ela pegou em nossas mãos e nos colocou sentados no banco da sala e disse: - Não precisa ficar com medo! Quero que vocês sejam meus amigos e me respeitem. Não vou tomar o lugar de sua mãe no coração de vocês.Tudo o que precisarem falem comigo. Ela não deixava o papai bater em nós!Tudo o que sou hoje agradeço a Deus por ter colocado ela na minha vida. No domingo ela sempre levava nos levava à Santa Missa e na hora do almoço ela rezava com a gente. Às vezes eu falo que, se ela fosse a nossa mãe não combinava tanto! Quando eu era pequena, pensava que tinha papai Noel de verdade.Aí pus meu sapato na janela e pedi uma boneca.O papai Noel trouxe o presente e era uma boneca muito bonita.Aí fui brincar com a boneca e minhas colegas.Quando fui lavar a boneca pus ela pra enxugar no sol e quando fui pegar ela estava toda rasgada!Aí eu comecei a chorar demais, pois ela era de papelão e eu não sabia.... Quando freqüentava o catecismo, Dom Inácio o bispo diocesano que morava em Guaxupé veio à Passos. Ele tinha uma barba muito grande!Eu fui bem perto dele , puxei-lhe a barba e saí correndo...Ele ficou muito bravo! E eu só ria de ver o jeito dele... Todos os sábados vinham minhas amigas dormir em casa, no colchão de palha.A mamãe fazia bolo de fubá e era assado no fogão de brasa.Ela punha a massa dentro da caçarola e tampava com uma tampa e colocava brasa em cima da tampa.Quando a gente ia deitar fazíamos muita bagunça na cama e o papai ficava bravo demais As meninas chamavam:Amélia,Lourdes e Célia Esper Kallas. O Carmelo Yolanda Higino Franco O Carmelo São José era antigamente em frente ao Colégio Imaculada Conceição. Depois, o Carmelo mudou para a Rua Santa Marta. Antigamente o Carmelo era muito rigoroso. Não se podia ver as freiras. Só pela grade a gente conversava com elas e, sempre com uma cortina preta na grade. Elas só podiam comer doces uma vez por ano. Se ficassem doentes, não podiam ir ao consultório, os médicos que iam até elas. As carmelitas confessam uma vez por semana. Quando morre alguma irmã é sepultada no Carmelo mesmo. O cemitério é lá dentro simples e bonito. Somente algumas pessoas que podiam entrar lá dentro para participar do sepultamento. A primeira irmã carmelita que eu vi enterrar foi a irmã Nazaré. As canções e orações delas são tão bonitas que se a gente tiver fé podemos receber muitas graças. Algumas freiras que conheci no Carmelo de Passos foram: Irmã Teresinha, Irmã Marta, Irmã Elizabete, Irmã Ângela, Irmã Bernadete, Irmã Auxiliadora, Irmã Maria de São José e etc. Pedacinho da minha história Maria Augusta Borges Reis Natural de Alpinópolis, antiga Ventania, sou filha de Antônio Ferreira Borges e Maria Cândida Viana. Meus avós paternos são Francisco Borges e Francisca Maria de Jesus e os maternos são José Elias Ribeiro Viana e Irinéia Toledo Viana. Meu avô materno era farmacêutico, mais conhecido como “Juca Elias”. Sou de uma família simples de dez irmãos, sendo eu a quarta. Meu avô paterno era fazendeiro do município de Alpinópolis, num lugar chamado Mutuca. Faleceu muito cedo e minha avó dividiu a fazenda com os quatro filhos; meu pai pegou o que lhe cabia, o que não era muito, e foi tocando a vida. Foi lá que eu nasci em 30 de maio de 1942, na época o mundo estava muito conturbado, inseguro com a 2ª guerra mundial. Acredito que eu tenha recebido este nome porque nasci no mês de maio: “Maria” e porque minha mãe tinha uma amiga que se chamava “Augusta” e seu esposo Manoel, mais conhecido como Neca, era sapateiro e foram meus padrinhos de batismo. Tenho um apelido muito engraçado que surgiu na roça onde eu morava, lá tinha muitas plantações, árvores, pássaros e macacos, e meu irmão João conta que tinha um macaquinho muito bonitinho que se parecia comigo, daí ele me apelidou “Miquinha” e toda minha família me chama assim. Eu tinha os cabelos claros e compridos, minha mãe fazia duas trancinhas em mim e dizia que eu era uma menina muito linda. Naquela época eu brincava de pular corda, chicotinho queimado, “direita está vago”, pique-esconde e outros. Brinquedos, eu não tenho muito que contar. Tive apenas uma boneca de pano, presente da minha avó Irinéia. Tem um fato que marcou muito minha infância, minha mãe tinha uma comadre chamada Geralda, ela era gaga, sempre que ia passear em minha casa eu ficava observando elas conversarem achava engraçado ela falar co-co-co...madre, eu comecei a imitá-la ate que fiquei gaga também e foi o maior transtorno, acredito que por isso tenha me tornado uma menina muito tímida. Meu pai tinha um carro de boi. Naquela época todos que tinham fazenda tinham um. Nas festas de igreja que aconteciam na cidade vínhamos todos neste carro numa alegria só. Nós vivíamos na fazenda da plantação de arroz, feijão e milho e de uma pequena criação de gado, porcos e galinhas. Minha mãe fazia queijo e meu pai levava para vender na cidade; era tudo muito difícil. O arroz era socado no pilão, feito de madeira com um buraco no centro e com um pau que se chamava mão-de-pilão.Era socado até sair a palha e depois abanavam com uma peneira de taquara (bambu). Quando chegou a época de estudar nos mudamos para a cidade. Fiz a primeira e a segunda série na escola estadual Dona Indá, em Alpinópolis. Minha professora chamava Izabel, ela era muito brava e eu tinha muito medo dela. Na sala eu era uma menina muito quietinha nunca participava de nada porque era gaga. Quando ela ia tomar a lição eu chorava porque meus colegas riam de mim. Meu uniforme era de saco, minha mãe alvejava e fazia a blusa clarinha e a saia de pregas ela tingia de azul, o sapato era “alpargatas”. Meus cadernos eram de duas linhas e o lanche era sopa de fubá com sal e uma vez na semana era doce. Lembro-me de uma única peraltice da época de escola, quando eu voltava para casa no começo da minha rua, morava uma mulher que todos diziam ser doida, daí pensei vou testar pra ver se é verdade. Ela ficava sempre na janela e toda vez que passava mostrava a língua pra ela e dizia “doida”! Um belo dia ela ficou escondida e quando fui passando ela saiu na minha frente e me disse agora menina eu te pego!!! Passou-me uma carreira até na porta da minha casa, quase morri de tanto susto e medo entrei quietinha e me escondi embaixo da cama.Nunca mais passei por lá, dava uma volta enorme para chegar em casa. Em agosto de 1950 nos mudamos para Passos, daí terminei o primário na escola estadual Dr.Wenceslau Braz. Meu pai, já cansado de trabalhar na roça resolveu mudar de negócio, vendeu tudo o que tinha e comprou um armazém de secos e molhados na rua “Segunda chapada”, hoje conhecida por Dois de Novembro. Era um luxo na época. Tinha de tudo, até telefone, coisa que poucos tinham. Sem experiência nenhuma de comércio, foi um fracasso. Passou a vender em cadernetas mensais e não recebia, em pouco tempo perdeu todo o dinheiro que tinha empregado e teve que voltar a trabalhar na roça. Arrendou umas terras aqui perto num lugar chamado “Caiera” e foi plantar algodão; aí foi quando tive que parar de estudar, só fiz o primário e já comecei a trabalhar. Naquela época os pais não incentivavam os filhos a estudar, principalmente as mulheres que tinham que aprender a bordar, cozinhar e ser dona de casa. Só os meus irmãos mais novos estudaram. Eu tinha um sonho queria ser psicóloga, mas não culpo meus pais, pelo contrário, me orgulho deles, pois educar dez filhos não foi nada fácil, somos uma família muito unida, graças a Deus. Eu é que não corri atrás de meus sonhos, sempre fui muito indecisa e medrosa. Comecei a namorar escondido, minha mãe era muito brava, e o namoro era bem diferente dos de hoje, mas era muito bom. Em 1960 conheci o Hermínio, meu grande amor, namoramos por quatro anos e noivamos por um, nos casamos em 1965, na igreja São Benedito, em Passos. Tivemos quatro filhos, três homens e uma mulher: Sandro, Gil, Frank, Viviane e Bruno, são os meus tesouros e dos quais me orgulho muito, sinto-me realizada através deles. Deus foi muito bom conosco, são todos formados em medicina menos a menina, ela fez Direito. O Sandro é ortopedista, o Gil pediatra e o Bruno cardiologista. No começo de minha historia disse que meu avô materno era farmacêutico, acredito que está no sangue, porque todos os meus irmãos têm filhos formados na área de saúde: dentistas, médicos, enfermeiras, nutricionistas... de uma família simples saíram filhos estudiosos uma bênção de Deus! Meus filhos são todos casados e tenho três netos: Sandro é casado com Meire, e tem o filho Felipe com 18 anos; Gil é casado com Cláudia e tem dois filhos, Gustavo com 7 anos e Carla com 3; Viviane é casada com Cleber e não tem filhos; Bruno é casado com Tereza e também não tem filhos, são casadinhos de pouco! Hoje me sinto outra pessoa depois que entrei na UNABEM, e não posso deixar de falar de uma pessoa que me incentivou muito a isso, a minha amiga Wilma. Ela insistiu tanto pra que eu entrasse na UNABEM dizendo que se eu não gostasse era só sair.Só tenho a agradecer a ela, foi muito bom, fiz novas amizades e adquiri muito aprendizado. Imagine só, eu uma pessoa tão tímida, até dancei na quadrilha vestida de homem... nunca poderia imaginar isso. Sem contar o carinho e dedicação de todos os professores e estagiários que me receberam na faculdade. Este é um pedacinho de minha história que compartilho agora. Uma parte da história de minha vida Benedita Laurinda da Silva Estava com dezenove anos quando meus pais resolveram mudar para roça “ Formoso da Serra”, perto de Itaú de Minas. Eu namorava um rapaz bem mais velho. Não gostava dele pra casamento, mas meu pai via nele um ótimo partido para mim. Assim, como dizia meu pai, fiquei noiva só pra não vir pra roça, pois tinha que trabalhar e ganhar dinheiro pro enxoval. Dei motivos para terminar tudo e meu pai me levou para roça. Toda semana meu pai vinha em Passos para fazer feira. Um domingo ele chegou em casa e disse-me: Minha filha, arrume sua mala porque você vai para Passos. Sua tia quer que você vá com ela para Ribeirão Preto porque ela não quer ir sozinha. Na segunda-feira ele me levou no ponto do trem marinheiro. Quando chegamos lá, tinha um rapaz todo alinhado. Era sobrinho do nosso vizinho, trabalhava em Furnas e ia sempre visitar o tio. Quando o trem chegou, ele entrou primeiro e eu logo em seguida. Sentei ao lado dele e começamos a conversar. Ele me perguntou se tinha namorado e eu respondi que não, pois já estava interessada nele. Quando chegamos em Passos, ele me ofereceu o táxi pra me levar à casa de minha tia. Eu não aceitei, pois não o conhecia bem. Contei que estava indo pra Ribeirão com a minha tia e ele perguntou se queria o endereço dele e telefone para eu ligar, quando voltasse de Ribeirão, que ele viria me encontrar. Eu não aceitei e falei que quando eu chegasse, os primos dele ficariam sabendo e ligavam para ele. Fiquei um mês em Ribeirão e na volta o ônibus quebrou na estrada, ficamos duas horas e outro ônibus veio nos buscar. Quando o ônibus chegou, o trocador transferiu as malas e por força do destino só ficou a minha no ônibus quebrado e não tive como voltar para roça. Só estava com a roupa do corpo e vesti as roupas da minha tia por uma semana. Quando resgatei a minha mala, num sábado de manhã, meu pai tinha vindo para fazer a feira. Pedi pra ele me levar na estação porque queria ir embora naquele dia. Quando chegamos vi o moço de um mês atrás. Disse para o meu pai: aquele é o sobrinho do Sr. Antonio. Não sentei no vagão que ele estava, mas fiz de tudo para ele me ver. Quando o trem deu a partida, minhas vizinhas que estavam no mesmo vagão que eu disseram: Aí Dita, deixando sua paixão em Passos? Hoje é sábado e você indo pra roça? Respondi: Aí que vocês se enganam, a minha paixão está no vagão da frente. Não deu cinco minutos e ele foi onde eu estava. Tinha deixado um lugar do meu lado pensando nele e não deu outra. Ali nos entendemos. No domingo, ele foi à minha casa com os primos dele. Namoramos quatro meses, noivamos durante quatro meses e casamos em 22/12/1962. Tive cinco filhas maravilhosas, sete netos lindos e está chegando o oitavo. Esta é a herança de um romance. Fomos felizes até que a morte nos separou. Hoje participo de muitos grupos da terceira idade e seus diversos eventos, inclusive da Unabem. Até resgatei alguns amigos da infância. Estou muito feliz por esse momento e me sinto vitoriosa. Obrigado Senhor. Filhos e netos: coisa mais sagrada. Célia Silveira Brito Acredito que eu vim ao mundo com uma missão muito importante: ser mulher, criança, sonhadora, jovem namoradeira, vaidosa, esperançosa. Depois disso me casei, mas nunca deu certo,pois gosto muito de rezar: é o meu fraco. Adoro viajar, estudar, conhecer pessoas e lugares diferentes;fazer novos amigos. Sou muito falante e sempre alegre com todos,porém restrita em algumas coisas. Meu ex marido não gosta de nada disso. Em seguida veio a maternidade,a coisa mais bela e valiosa que já tive : cinco filhos e perdi três por aborto. Sempre houve desavenças entre nós dois devido ao ciúme doentio a vida toda. Ficamos casados 36 anos e já fazem dez anos que nos separamos.Mesmo assim agradeço a Deus por ele,pois, se não fosse ele não teria os filhos preciosos que temos,pois são jóias preciosas. São muito importantes ,lindos e maravilhosos,cada qual na sua maneira de ser no gênio e temperamento. Acho que todos nos temos falhas e qualidades boas e más. A coisa mais sagrada que Deus nos deu são os netos : belos e maravilhosos na medida do possível,com suas diabruras e peraltices,com seus valores hereditários. Temos netos de 17 anos, 13 ,11, 08 , 06 e 03 anos. Realizei meu sonho de Faculdade ,fazendo 2 cursos de pedagogia:supervisão e magistério no final de carreira , pois já era avó. Sinto-me realizada pois fui professora de Primeira série do meu filho mais velho,que hoje é segundo sargento,muito inteligente e respeitado. Sou muito feliz ,muito mesmo. Abraços e beijos... Nilva: um nome doce como uma bala Nilva Nunes Reis Quando eu nasci meu pai quis que eu me chamasse Nilva porque naquela época já existia uma bala muito gostosa com o nome de Nilva. No papel que a envolvia tinha a foto de uma menina muito bonitinha.E não é que eu ia crescendo e cada vez mais parecia com a menina da bala! Na escola os coleguinhas me chamavam de bala Nilva e eu ficava danada da vida ,mas com o tempo fui me acostumando... Hoje tenho vários nomes.Me chamam de Nívia,Neiva,Nilma,Nilva e daí por diante. Muitas vezes meu nome verdadeiro acaba ficando esquecido. Essa é a História do meu nome. Rezar , Cantar e Amar Clarinda Antonia de Mello Alexandre Na minha infância, quando ainda tinha uns quatro anos de idade morávamos numa fazenda no interior de São Paulo, chamada Santa Maria. As casas tinham fogão de lenha e lembro-me de uma vizinha que todos os dias cozinhava feijão e quando ia refogá-lo ela amassava bastante alho e fritava na gordura.Antes de colocar o feijão retirava o alho fritinho , colocava num prato e me chamava para comê-lo. Que delícia! Éramos cinco irmãos e minha mãe, todas as noites, pedia que ajoelhássemos em volta da cama dela e de mãos postas, ela rezava “Ave Maria” e a gente ia acompanhando “Ave Maria, cheia de graça...” Assim aprendemos as orações, e principalmente a rezar o terço. Quando fui para o catecismo não tive dificuldades, até ajudava a catequista... Mudamos para a cidade e foi muito bom. Éramos três primas e tudo fazíamos juntas: na escola, em festas e passeávamos na rua , pois não tinha praça nem jardim. Todo mês de janeiro tinha festa religiosa e era muito gostoso, pois tinha um estúdio com autofalante onde os garotos ofereciam música para as garotas e vice versa. Tinha também correio elegante e leilão. Um dia, como gostava de dançar me chamaram pelo auto-falante me pedindo para cantar. Fui, mas fiquei dentro do estúdio para que ninguém me visse. A música que cantei chamava-se “Sonhar contigo” um grande sucesso da época. Arrumei um namorado louro de olhos azuis e namoramos bastante tempo. Mais tarde arrumei um meio queimadinho, me apaixonei e casamos em 1974, no dia 5 de outubro, dia do aniversário dele. Já temos 36 anos de casados e dois filhos: Daniel e Maria Beatriz e uma neta Maria Eduarda que são meus tesouros. Um amor que venceu todos os obstáculos Ivone Maria Prado Sobrinho Nasci em 09 de março de 1943. Sou a 6ª filha de 12 irmãos. Minha mãe dizia-me que eu era um bebê saudável, nunca ficava doente , passava o maior tempo dormindo e me alimentei de leite materno até os dois anos de idade. A partir desta data tenho poucas recordações até eu completar meus sete anos de idade. Nesta época as crianças iniciavam sua vida escolar, assim eram alfabetizadas. Não existia apostila e sim uma cartilha onde aprendíamos as vogais, o alfabeto, as letras maiúsculas e minúsculas com técnicas de soletração. A professora pegava em nossas mãos para nos ensinar a escrever. Lembro-me das primeiras palavras que aprendi: “A vovó viu a uva”. Minha primeira professora chamava-se Dona Irene.Ela levava seu filho para a escola e ele era um menino lindo que acabei me apaixonando por ele e assim não prestava mais atenção nas aulas. Veio a adolescência, nem sabia o que era isso, morava na fazenda. Foi a melhor época da minha vida. Andava a cavalo todos os sábados, íamos para a casa dos meus avós e reunia-me com meus primos e brincávamos de passar anel, pique esconde, amarelinha entre outras brincadeiras. Era a melhor coisa do mundo. Meu avô era o banco da região. Emprestava dinheiro a todos que precisassem. Ele tinha um quarto que só ele e minha avó tinham acesso e para que os netos não entrassem, dizia que era um quarto assombrado. Mas não era nada disso, este quarto era o local onde estava todo o dinheiro e só muitos anos depois que fui saber de toda a verdade. Há! Se eu soubesse do dinheiro... Outra coisa me que recordo é de minha mãe nos ensinando a cantar o Hino Nacional, o Hino a Bandeira e algumas marchinhas de carnaval como a Jardineira entre outras. Veio a fase adulta, começo de namoro. Sempre que eu apresentava um namorado para minha mãe, o pretendente era reprovado, por ser pobre, moreno demais, velho, etc. Certa vez conheci um moço de São Sebastião do Paraíso. Levei para apresentar já sabendo que mais um seria reprovado, mas que por milagre isso não ocorreu.O motivo? Ele era bem de situação e era apaixonado por mim. Começamos a namorar e logo ficamos noivos e seguiu-se o romance por dois anos. Quando faltava dois meses para o nosso casamento, fui passear em uma Usina Hidrelétrica próxima de Passos e conheci um rapaz que morava neste lugar. Foi amor a primeira vista. Desisti do noivado e comecei a namorar o Walter. Minha mãe foi contra esse namoro por ele ser pobre demais para mim, mas como o amor tem poder transformador, ele começou a estudar e prestou concurso para ingressar na CEMIG. Ele passou, foi chamado e mesmo assim minha mãe era contra o nosso relacionamento. Marcamos o casamento, 21 de maio de1967. Foi um período tenso, pois até nessa hora mamãe não compreendeu o quanto nos amávamos e disse para meus irmãos que se algum deles fossem ao enlace, ela não iria mais considerá-los como filhos. Como ninguém iria se atrever em desobedecê-la, achamos por bem nos casar em Aparecida do Norte/ SP. Alugamos uma kombi e partimos. Fiquei chateada com a situação e passei a Lua- de- Mel na cidade de São Paulo. Após um ano e meio de casamento, nasceu meu primeiro filho: Walter Israel Júnior. Quando ele tinha seis anos de idade,meu marido foi transferido para Divinópolis e foi uma fase ótima em minha vida. Neste ano comecei a cursar o ginásio, pois eu detestava falar para as pessoas que eu só havia estudado até a 4ª série primária. Assim com muita determinação, conclui a 4ª série ginasial que é , atualmente . a 8ª série ou 9º ano do Ensino Fundamental. Após três anos, retornamos para Passos/MG e engravidei da minha caçula: Milena Prado Israel. Passaram-se os anos, meu filho casou-se com a Sônia e tem uma filha chamada Mel. Minha filha ainda mora comigo e é a milha melhor amiga. Hoje meu marido é aposentado e vamos para nossa chácara nos finais de semana e é claro que viajamos muito também. Posso por assim dizer que tenho uma vida feliz e uma família que me ama. Do Líbano para o Brasil com muita alegria. Izabelle Nasser Nasci em Monte Alegre de Minas, no Triangulo Mineiro em 23 de julho de 1931, uma pequena cidade do interior cuja base econômica era o comércio. Nós, eu, meu irmão mais novo,Jofre, meu pai Nagib Nasser, e minha mãe Odete Nasser, morávamos em uma casa com vista para a praça principal da cidade e, na frente da casa funcionava a loja do meu pai que se chamava Bazar Francês. Meu pai, Nagib Nasser, era muito respeitado na cidade, pelo fato de ter participado na Segunda Guerra Mundial como oficial do exercito francês, onde adquiriu muitas medalhas. Aos seis anos de idade fiz uma viagem com minha família, fomos para o Líbano. Como naquele tempo não havia avião para o Líbano, fomos de navio, levamos um mês para chegar lá. Durante a viagem visitamos vários países europeus litorâneos, onde o navio parava. Chegamos no Líbano no começo de 1938. Como não conhecia minha família, meu avô paterno, meus tios e meus primos de lá, foi uma alegria conhecê-los, era festa todo o dia! Brincava muito com meus primos de lá, inclusive foi nessa época que conheci meu primo Karam, que logo se apaixonou por mim. Passado alguns dias, a família da minha mãe que mora em Damasco convidou minha mãe para uma estadia lá. Foram minha mãe e meu irmão mais novo. Jofre, meu irmão estava brincando na casa da família em Damasco e contraiu a Febre Tifo vindo a falecer. A família Nasser ficou muito sentida com a perda, e meus pais resolveram voltar para o Brasil. Chegando ao Brasil viemos direto para a cidade de Passos, que estava destacando pelo seu desenvolvimento. Chegando em Passos, no ano final de 1938, estabelecemo-nos na Avenida dos Expedicionários, onde meu pai abriu uma loja, o Bazar Avenida. Aos 7 anos de idade, fui matriculada no colégio das irmãs, CIC. Lá eu conclui o curso primário, com muita facilidade, pois com minhas boas notas, não foi difícil! Lá no CIC, eu era conhecida pelas irmãs como “francesinha”, pelo meu conhecimento da língua. Parei de estudar na 4ª serie, mas ainda continuei a estudar em casa onde pude aprender o inglês e alguns instrumentos como, o piano, violino e a rebeca. Tive uma infância muito animada e alegre, brincava muito com as minhas amigas de amarelinha, de bola, pic-pega, esconde-esconde. Ia na Praça da Matriz dar uma volta no jardim e participar do rela. Mas sempre fui uma moçinha muito comportada e cheio de fãs. Como minha mãe se encontrava doente naquela época, passei a minha adolescência ajudando meu pai na loja e ajudando nos afazeres de casa. Nos meus 17 anos, recebemos uma carta que mudou minha vida, meu tio do Líbano anunciava nesta que seu filho, hoje meu marido, Karam, queria residir no Brasil. Karam chegou aqui em 1949, e ficamos nos conhecendo durante um ano, e nos casamos em 1950. Após o casamento continuamos a morar com meus pais. Com trabalho, dedicação e esforço fomos construindo nossa vida a dois. Com uma vida a dois veios os meus 5 filhos, Odete, Nasser, Roberto, Vilma e Nilma. Muitas alegrias passamos juntos e passamos até hoje. Em 1970 veio falecer a minha mãe, foi uma grande perda em minha vida, muita saudade e muita tristeza. Em 1972, Karam e eu fomos visitar os familiares no Líbano e na Síria e deixamos as crianças com meu pai. Ao chegarmos no Líbano foi uma surpresa para todos de lá, pois ninguém nos esperava.Ficaram festejando nossa ida três dias. Uma surpresa que me cercou no Líbano foi a visita dos meus primos, os que brincavam comigo quando criança, cantaram para mim a musica que eu havia ensinado à eles, “hoje tem marmelada, tem sim senhor”. Os dias foram passando, muitas festas, muitos passeios, mas a tristeza me cercava, quando eu lembrava dos filhos no Brasil. Em uma das festas os parentes ficaram sabendo que eu tocava arabibi, um instrumento musical antigo de uma corda só, que eu aprendi a tocar quando era criança com meu pai, trataram de arrumar um emprestado, nos reunimos e fizerammeeu tocar para uma turma de 50 pessoas. Toquei e cantei em árabe. Imagine só! Eu, do Brasil, cantar e tocar para eles! Ainda no Líbano viajamos para Síria e fomos visitar a família de minha mãe, em Damasco.Depois de três meses no Líbano voltamos para o Brasil, emoção e muita alegria, de rever meus filhos e minha família. Foram passando os anos, nós na luta trabalhando, as crianças formando, estudando. Alguns durante esse tempo se casaram e formaram uma nova família, com filhos, esposa. As minhas alegrias aumentaram com netos e noras. Em 1992 meu pai faleceu aos 103 anos, deixando para trás filha, genro, netos e bisnetos numa profunda tristeza. E mais tristezas ainda aconteceram, pois minhas melhores amigas vieram a falecer nessa mesma época a Vilma Jabur e a Odete Chelala. A perda delas trouxe um vazio, pois elas eram como irmãs para mim, presentes nos momentos tristes e alegres. Anos 2000, vieram mais netos, mais filhos se casaram, e a família aumentou muito, em alegria e união.Neste ano, completava-se bodas de ouro do meu casamento, e a data merecia ser comemorada como sempre fazemos em momentos especiais. Reunimos filhos; noras, Silvia e Janete, e meus cincos netos, Nicholas, Pedro Ivo, Maria Paula, Otavio, Edgar. Em 2008, Karam, eu e alguns amigos voltamos para o Líbano, com direito a parada em Dubai, onde pude contemplar o luxo e a ousadia das construções de arranhacéus. No Líbano, fomos recebidos, mais uma vez, com festas. Revimos todos os parentes e passamos por Damasco onde conheci meu primo, que é cônsul da Síria. Sempre gostei de estar reunida com a minha família e amigos no qual procuro viver momentos de alegria, festas e de união. Em 2010,minha família comemorou mais um festa, era o ano de bodas de diamante do meu casamento, uma data especial que foi comemorada com as bênçãos de Deus. Nessa comemoração foi incluído mais dois netos, Igor e Izabelle, e o nosso bisneto, Karam. Familiares e amigos nos prestigiaram nessa data importante. Foi uma bela festa. Nesse ano de 2010 também tive a oportunidade de acrescentar na minha vida, momentos de estudo, momentos de alegria e de felicidade com meus novos amigos da UNABEM, momentos de aprendizagem e respeito com meus educadores. Aproveito esse final para mostrar a todos a felicidade que sinto agora por estar na UNABEM, e agradeço a todos, principalmente pelos nossos professores pela dedicação, carinho e amizade. O meu muito obrigado a todos! Bebê à vista! Diomar Aparecida de Oliveira Vim de uma família de 10 irmãos e era a penúltima caçula. Fui muito querida por todos, minha mãe e meus irmãos me agradavam muito. Foi uma infância muito feliz. Brincava muito, o tempo todo, de pular corda, maré (amarelinha hoje em dia), roda, queimada, etc. e sempre rodeada de amigos. Cresci e conheci meu marido numa festa da Penha, noivei e me casei em quatro meses. Meu marido era muito carinhoso e bom para mim. Um fato que marcou a minha vida foi o nascimento do meu primeiro filho. Muito saudável, lindo e esperto eu e meu marido ficamos muito satisfeitos com o nascimento do Marquinho. Meu marido até saiu gritando pela rua "é homem, é homem!". Esse dia me marcou muito , pois foi o primeiro dos sete filhos que eu tive, e todos foram motivos de muita alegria para mim. Depois vieram meus netos, que eu amo de paixão, não sei de qual eu gosto mais, todos são muito bacanas. Agradeço a Deus, pela família maravilhosa que ele me deu.Obrigado senhor, obrigado por tudo! Um pouco da minha vida. Fé Aparecida Figueira Escher Meu pai era português, veio para o Brasil de navio trabalhar na colheita do café na cidade de Guaxupé. Minha mãe , que era de Piumhi, Minas Gerais, o conheceu quando foi a Guaxupé para aprender a bordar e logo depois se casaram. Tiveram três filhos (Júlio, Maria e Wellington). Maria tinha um padrinho que morava no arraial novo que hoje se chama Fortaleza de Minas. Meus pais e meus irmãos foram convidados pra uma festa no arraial. Eles foram quatro dias antes da festa. No segundo dia em que estavam lá, Maria estava brincando com outras oito crianças quando um raio a acertou. Meu pai chegou uma hora depois, Maria ainda estava viva, mas não agüentou e faleceu. Aí foi só tristeza, minha mãe estava grávida e perdeu o bebê, engravidou novamente e também perdeu. Teve um menino que viveu apenas 17 dias. Depois vieram Francisco, eu e meu irmão caçula, Napoleão. Aí foi só Deus no céu e eu na Terra. Fui criada com muito carinho pelos meus pais e irmãos. Na minha adolescência tenho boas lembranças. Meu pai tinha uma loja e ia a São Paulo fazer compras, eu o acompanhava e tudo o que eu queria ele me dava. Naquele tempo não tinha roupas prontas, então eu trazia os cortes de pano e fazia os vestidos. Estreava-os na missa das dez horas a qual era a missa mais chique da cidade. Depois namorei, me casei e tive cinco filhos meus e três de criação. Meu marido foi tudo de bom, um pai maravilhoso, um bom cunhado, bom genro, bom tio. Era um homem muito gentil que abriu as portas do carro pra eu entrar e sair durante quarenta anos, sendo trinta e nove anos de casado e um ano de namoro. Fiquei viúva e desde então passei a freqüentar grupos de atividades da terceira idade, cultivei grandes amizades na UNABEM, que é tudo de bom e aprendemos muito com nossos queridos professores. Hoje, amigos e familiares dizem que sou um exemplo de vida, de auto-estima, de alegria e disposição. O segredo, é que eu amo a Vida ! Queima da estoque Maria Aparecida Garcia. Quando eu tinha mais ou menos 12 anos, meus pais moravam em São José de Barra - na Barra velha. Meu pai foi convidado pelo meu tio para comprarem uma loja na Barra e deram-lhe o nome de Casa Garcia. Lá vendiam quase tudo: tecidos, aviamentos, pregos, calçados, arame , querosene, pregos, etc. Também eles cobriam caixão, pois naquela época não tinha urna pronta. Meu tio era ótimo no ramo, mais meu pai não era muito comunicativo, porém o comércio ia indo muito bem , até que meu tio faleceu, deixando meu pai só com os negócios. Então meu padrinho e cunhado do meu pai,veio dar uma força nos negócios, pois logo ia acontecer na cidade a festa de São José que era padroeiro da cidade, por isso o movimento era muito grande. O comércio não ia muito bem após a morte de meu tio, então meu pai ordenou que ninguém fizesse mais dívidas. Na ausência de meu pai surgiu um viajante querendo vender uns brincos bem modernos para aquela época. Meu padrinho, querendo ajudar, fez uma compra de mais ou menos 300 brincos. Meu pai ficou muito bravo com ele. Quando começou a novena, começaram a chegar as famílias da roça. Eles vinham a cavalos ou de carro de boi e a cidade estava em festa e cheia de gente Meu padrinho me deu o menor dos brincos, e falou que era para eu ir na novena todos os dias com eles na orelha e sentar bem na frente para que todas as mulheres pudessem ver meus brincos. Logo no primeiro dia, minha coleguinha perguntou sobre os brincos, informei que era da loja de meu pai. Foi o maior sucesso , pois já no fim da novena , todas as mulheres e meninas estava usando os belos brincos. Na igreja, eu sempre sentava bem na frente e, olhando para trás fiquei muito feliz, pois todas as mulheres estavam usando os famosos brincos! Enfim todos os brincos foram vendidos, e meu pai pediu desculpas para meu padrinho., que nunca comprava mais nada , ou seja só por encomenda Pouco tempo depois foi preciso vender a loja, pois meu pai não era do ramo. Agradecimentos aos professores: Leila, Gelcira,Nádia, Fred e amigas, muito obrigada pelo carinho e dedicação, esforço, disponibilidade... “Recordar é Viver” Maria de Lourdes Freitas Bastos Na minha infância, estudei parte dela na Escola Estadual “Abraão Lincoln”, situada na época á Rua Gonçalves Dias. Tinha como professora Ivone Ajeje. Com seu jeito amigável, conseguiu conquistar seus alunos e a mim também. Me encantei com ela e não via a hora de ir para a escola todos os dias. Final de semana era longo. Um fato marcante, foi quando ficou grávida, teve que afastar da escola para ganhar “neném”, como ela sempre dizia, não vou demorar é só ganhar meu “neném”, eu volto logo. Quando trouxe outra professora para colocar em seu lugar, foi um choque. Saiu chorando da sala e nos deixou chorando também. Quase morri de paixão. Ela sempre me dava para decorar versos, trovas e frases para recitar sempre nas festinhas. Entre tantos, me marcou duas poesias. Uma foi “O Caroço”, que, sempre quando há oportunidade, recito. Hoje cursando a UNABEM – Universidade Aberta da Maturidade, resolvi contar esta história. Que saudade da professora, mãe, amiga e educadora de primeira linha. Segue a poesia de “O Caroço”. “O Caroço” Comi ontem no almoço, A azeitona de uma empada. Depois, botei o caroço, Sobre a toalha engomada. Mas, mamãe logo nota. E me ensina com carinho. O caroço não se bota, Sobre a toalha meu benzinho! O que ela me diz eu ouço, Sempre com toda atenção. E perguntei-lhe, o caroço mamãe, Onde boto então? Toda pessoa de linha, de trato, E de educação, O osso, o caroço, o espinho, Põe num cantinho do prato. E eu lhe depressa respondo, Mas, mamãe, repare bem! Meu prato é todo redondo, Cadê cantinho, não tem! Dedico às filhas de Dona Ivone Ajeje, o meu recordar é viver. O dia que o guarda chuva cantou.... Abadia Paula de Aguiar Aconteceu no inicio dos anos 50 quando eu tinha meus 6 ou 7 anos de idade. Nesta época eu tinha a tarefa de levar, todos os dias, a marmita de almoço do meu pai em sua barbearia na Praça da Matriz num cômodo ao lado do Hotel Vinte e Dois. Para chegar ao centro da cidade o meu trajeto era seguir pela rua Bonsucesso, onde no topo morava uma família de nome respeitável e de muitas posses, porém com filhos de péssimos hábitos. Os danados ficavam ali na espreita só esperando eu passar para começar a sessão de torturas. Eram tapas e beliscões que chegavam a sangrar tamanha força que eles empregavam e a marmita do meu pai, por várias vezes eles jogaram ao chão. Como não dava para desviar o caminho, comecei a chorar sempre que tinha que levar o almoço. Até o dia em que meu pai ficou sabendo o que acontecia comigo e resolveu inverter a situação. No dia seguinte instruída por ele fiz o meu caminho de sempre só que dessa vez com um baita guarda chuva na mão e no outro, a marmita. Pois bem, esperei a investida dos moleques, coloquei a marmitinha no chão e mandei o guarda chuva na cabeça deles nos braços e onde dava para bater. Confesso que vi com um doce sabor de vingança cada um deles se afastando com medo de apanhar mais. E ainda gritei bem alto que o meu pai ia contar aos pais deles o que eles faziam comigo. Até hoje me pergunto como tive coragem de enfrentar aquela turma. A verdade é que meu pai estava ali por perto, na esquina, me observando e ao mesmo tempo de maneira sábia me ensinando a me defender. A partir desse dia passei a caminhar tranqüila pela Rua Bonsucesso, pois com medo de apanhar em casa fiz um guarda chuva cantar.