254
REVISTA DA ACADEMIA CEARENSE DE LETRAS
GENEALOGIA
FAMILIA QUEIROZ-FERREIRA DE BEBERIBE
OS FACóS
BOANERGES F ACó
NóTULA PRÉVIA
confecção destas páginas de família, destas pagmas genealógicas, não
Na
dispús de vasta bibliogra fia.
inéditas.
muitos
Colhi
É QUe
a
dados na
Alencastro Ferreira),
cadete
de
de
40
do
a
Beber l bc
anos ,
com
primeiro
esclarecimentos
q ue
tra d i ç ão que se conser va
ele ge r ação em
minha tia materna Joana Ferreira de Queiroz .(em soltell'a
município
;naior
Elas são páginas Já publicad as e páginas ainda
q uerida
da
o
Nen c n,
comarca
primo
casamento
de
proprietária no sitio Lucas, no
Cascavel,
Antônio
que
Severiano
Antônio
famí lia .
sôbre a
a ntiga
de
Possuía
geração:
Joana de ·
Cirilo
uma
de
de
contraiu
Queiroz
Queiroz,
memória
matrimónio,
Tôtô,
o
deu-me
prodigiosa,
filho
muitos
memória
retinha, guardava, para sempre, o que via e ouvia.
Assim, guardou sôbre a família ·as narrativas ouvidas de sua mãe e minha
avó, Dona Laurentina Francisca Sabina de Queiroz , narrativas que con stituem
''allosos
elementos
nestas
p á gina s
sôbre
os
meus
antepassados
« Queirozes»
e «Ferreiras». Ferreiras que primavam pela inteireza de caráter, embora sem
os serviços prestados
à
causa
da liberdade
pelos
varões
da
Casa
Fo rte,
do
Tapuiará e do Riacho Fundo.
Ana Facó, minha
tia
pa tern a ,
falando sôbre Laurentina de Queiroz,
filha
de Pedro de Queiroz Lima e ne t a de José de Queiroz Lima, duas f i guras mar­
cantes da República do Equador no Ceará, escreveu:
·•Palavra
fácil,
voz
enérgica
persuasiva
e
,espírito
e le v ado
e de uma lucidez at raente , coração amante e magnânimo, c rença
. fervorosa e inabalável,
alma sensível e sumamente caridosa fo·
ram os atributos com que Deus fizera dessa mulher um manan·
cial
de
Dotada
glosa,
virt ud es ,
de
Além
um
e
anjo,
um
inteligência
conservava
cendentes
tenro».
uma
no
cérebro
descendentes
se r
privilegiado,
robusta
àrvore
a
desde
dessa preciosa contribuição oral.
e
o
dç
uma
genealógica
tronco
servi-me
quase
do
ao
perfeito,
m emó ri a
de
prodi·
as·
mais
seus
ramúsculo
'
«Ensa i o Genealógico»
ele meu velho amigo e querido primo Raimundo T or cápio Ferreira, e bebi, so­
bretudo, dados na va liosa «Genealogia da Família Queiroz» de Antônio Cirilo
de Que iro z,
dados que êle
lançou
no papel,
ao
c ontrário
cte
sua
prima
Lau­
rentina que apen a s os cons e rv ou na memória. Verba volant, scripta. manent.
255
REVISTA DA ACAD:kMIA CEARENSE DE LETRAS
Torcápio diz no llllCJO de seu Ensaio que «grande parte das indicações, que
aqui
vão,
fõram ditadas por meu saudoso e mui quer ido amigo Dr. Arce­
me
llno de Queiroz e outras colhidas num manuscrito do Capitão Antônio Cir ilo ... »
autorida de
Que
tem Antônio Cirilo,
para que eu ta nto o cite?
Por um principio de honestidad
- e literária e porque, de fato, êle era auto­
no a s s unto , embora com érros e e quívocos no
ridade
seu manuscrito ,
p rinci­
palmente quanto a rebentos mais recentes e mais afastados de sua pessôa.
De Antônio Cirilo, João �rígido fêz-lhe o
que, entr e outras cousas,
sabia traçar, em
«Faleceu na
92
anos
êste
Fazenda Santa
homem
na terra, em come<:o
tor,
e s er como um
que
da
necrológio,
vida,
se
e
a:gitou
deixou escrito,
na idade de
tamanho
ruido
fê:z;
para acabar co mo e spéc ie de Nes­
da
história de
seu
conservou uma perfeita memória.
Cirilo
a sua pena
Marta do Quixadá,
tanto
registro
só
que
dizia:
em
campónio,
de
frase
tempo,
da qual
muitas
memó­
rias sõbre os acontecimentos de seu tempo, e uma genealogia de
sua famllia,
muito
importante na
ele outras
politica
eras,
e
com
raizes n�bilíssimas nos tempos».
E ver ifico,
com
prazer,
que
Esperidião
de Que iroz que era meu tio-avô.
tina
de
livro
Queiroz.
de
cheio
nuscrito
de
autor
e
memórias
do
de vez
interessante
Q uei roz,
de
que era
livro
Dr.
Arcelino
irmão germano de
filho
Lauren­
« Anti ga
verdadeiras romanceadas,
do
Família
muito se
do
Sertão»,
utilizou
do
ma­
Ciril o .
Antônio
Sõbre estes três livros, de A nt ôn io Cirilo, de Torcápio e de Espe r id ião, de
que me u ti l ize i
na
ãestas
confecção
páginas,
pretendo
escrever um trabalho
em conjunto.
Sendo !; rande o número de famll ias entrelaçadas com os «Queiroz-Ferreira»,
em suas linhas ascendente, descendente ou colate ral, farei, em regra,
menção em resumo dêsscs entrelaçamentos,
apenas
para destacar os vultos mais im­
portantes a elas ligados por essas mesmas linhas.
I
O PRIMEIRO QUEIROZ
Corria o ano
O drama
landêses,
de
1630 ..
do Brasil-Colônia continuava .
francéses
e
inglêses
e
mesmo
A luta
portuguêses
e ntre portuguêses,
espanhoi s
e
ho-
continuava,
embora por de cre to papalino o mundo estivesse dividido entre os povos penin­
sulares.
É
que
a ganância e
nada sat is faz
a ferocidad e
do homem.
Alexandre VI p ensou fazer a paz entre os seus e os vizinhos com
çado
da linha
iguais
com
os
E x erc i a-s e ,
d<=
Tordesi lhas.
de
casa.
que divi dia
turoso
de
Os
mundo
francêses,
Francisco
estivesse
Assim,
pólio e
fugir
Ptolomeu
em
larga
o tra­
em
partes
es c ala,
a
o novo continente, onde fõra loca­
encóntrou a menina
C.uneg undes.
que
tendo
Janeiro e fundaram
lheiresco
o
onde Cândido
de
Pedro AÍvare s Cabral havia descobe rto �ra a corôa do Ven­
era pomo de discMdia . ent re povoti n avegador e s da época da Renas­
Aquilo
cença. ·
en tão,
El -Dorado e
munclo
r ecém- descobertos,
nos mundos
pirataria, pirataria a q ue não podia
lizado o
o
a
ali
a
a
frente
França
I procl amava
dividido
F rança,
pela ··liberdade
a
entre
Holanda
de
Villegaignon,
antárti<'a,
de
desconhecer o
Portugal
e
comércio,
a
C'
que o .'!'udaz
testam ento de
Adão
no
e
Rio
c a va­
em
que
Espanha.
Inglaterra,
ou
estabeleceram-se
vez
melhor,
batendo-se
pela
contra o
liberdade
de
mono­
con quista
REVISTA DA ACADEMIA CEARENSE DE LETRAS
256
I
ele novas terras- que não as
i;t'
c navegadores
um
pro fundamente
r�l
de
seu velho mundo,
plagas americanas.
sectário,
Mas f1
semelhante
mandaram
os
clarivid ência d e
ao
ele
prisioneiro
seus navios
Dom João
Paiva
III,
apenas
na prcsictêncla d a s letras, ciências e artes elo ren as c i me nto de Portugal, co mo
u
fõra o seu colega na ela Ci.claclc-Luz,
que lhe
geral
garantiu
crenças.
ll1anclou-nos
guerra,
Tomé
prudente,
c
a
de
que
estabeleceu para o
integridade
Souza,
foi
territorial,
Yaráo
probo,
Infelizmente
que, em bõa hora, teve um �ubstituto à
estouvado
dissoluto,
c
guerra
a
fêz
Brasil, pelos sei vagens, rhas
rle Janeiro,
fundou
Francêses,
Mem
ele
a futura Metrópole
holandêses
formadoras
sem
e
do
Vida! de Negreiros, pelo
Dias,
por
Tomé
Fernandes
Sá.
do
idéia ele conquistas
Os
em plagas
Vieira,
brasileiras
tragédias
dramas c
E ur o pa .
onde
a que se lhe
que
expulsos
do
representadas
grande
o
!1t
da
Geral
do
Brasil.
do
QO
Principe
reinol
que
X,
a
seguiu
se
agora
c conhecer
as
terras
reino ...
da
II ele Espanha,
Nassau
do
Gui anas,
fundou
oito
que
suas
chegavam a
consumara-se
do
'
n ..asil
nas páginas dos
A
decadência
em
dezembro
- Elvas homenagens
ele
ele rei
bátavo Impôs-se em
contra
terras,
a
se
via �
por
referiu
consigna.
ele
uma
(História
da ·elo pai.
unidade
a
para
exalt::H.•ã.o
e,
sua
fé
da
I
Lusíadas,
de
começara
de
1580,
Portugal.
c
cala
nas
como
im'ensa
o
Pernambuco,
a poderosa
o
ainda
no
quando
da
e
constituíram
lndio
foi
as
cantado e
por
I
indústria
proles
mamelucas.
proclamada
a
Paragussú>>
se tornou cristã com o
tarde Gonçalves Dias cantou-o no
em
prosa
da
pátria
proveito
embora . cele­
mãos
reinado d e
rei
o
firmando-se a li
Espanha.
dcsenvd'lvimenlo
r-
de
Filipe
Portugal e s o brinho elo Card ial-rei,
de
Dom
Castela
sua
anos a
f;
canavicira
e
III
em
O domínio
pequenina
e
o
llo-
povoamento
ame r í ndi os,
superioridade.
nome da
João
recebia
que o desbravamento
rainha
do
que se entre­
A lenda apode­
rou-se clêle e Santa Hita Durão levou-o à côrte d e Henrique
poema
na
voltou as suas vistas para
solo a principio se processaram entre portuguéscs
mosa
arlmi­
muralhas
Lisbõa
apenas
d i ferente
com
Antecede o drama do índio ao do negro da Afrlea.
O
onde
pa s�a v a
se
No domlnio espanhol a Colônia ficou entregue it própria sorte.
laçaram
c
anos.
ciclópicas
Varnhagen
politica
preocupar
neto d e Dom Manuel
seu antecessor.
das
época.
abandonaram a
Mas Portugal marchava a passos largos para a decaclência,
brado e imortalizado
Jaada
André
Assim é que pelo Regimento, de 17 ele dezembro d e 1548, E l - Re l queda
<:onset·val'
c
nacional
pe l o preto Henrique
durante
marltlmos,
que
ela Europa inteira.
tamanho
ele
l!:sse esquecimento era tão certo e posltlvu
63). f a t o
Página 8).
II,
de
circundada ·por
desco brimentos
Venturoso
govern�ntc
quase
dos
Lusiaclas,
Tomo
fl)ho
o
primeiro
Colônia,
poeta
(Os
Brasil,
Mas
do
o
Brasil
Rio
elo
forte
br a nco
«USineiro»
Colônia se ressentiram
as especlárlas
ao
t
. enitório
pelo
c se aboletaram nas
deu o notável nome
Indla misteriosa,
A
guardava
Camões,
ao
na
antes d o abandono d o Brasil, estabelece­
o ilustre
que não as de Veneza e Gênova.
vez
e
Costa,
colonial,
francêses
substltuicão
indio Antônio FcJipe Camarão
Pernambuco,
cidade
rle g ra ni to,
da
nobreza
expulsando os
B1·asil.
brasilelm,
ainda permanecem. Mas os bátavos,
n:Iha
paz
de
Sardinha, primeiro bispo
pais em
foram
inglêses
povo
esquecer João Fernande�
r,m-sc em
na
c
de Souza na pessOa
Os três povos europeus avançaJ'Rm sempre para o norte,
ni�lrou a
Jinguu
Duarte
entre o clero e a
Coligny, símbolo ela Fr ança hugucnote no
pelas raças
ele
experimentado
substltuldo
altura de
dc·que resultou a imolação de Dom Pedro
do
Brasil um govêrno
unidade
Duarte da Costa, com o Who Alvaro da Costa - mo�o valente
ele Mem ele Sá.
mas
a
II,
de
onde a «for­
França.
Mais
«Timbiras» e Alencar cele brou-o no maior
brasileira.
Montaigne
dedicou-lhe
um
capítulo
REVISTA DA ACADEMIA CEARENSE DE LETRAS
de
seus
estado
A
deu
famosos
de
«Essais» e Rousseau
convidou a humanidade a retornar
ao
natureza . ..
resistência
à
257
do
cantada dos
índio,
poetas.
no
maneio
Fale
e
Gilberto
semeada
da
Freyre:
«A
terra,
não
enxada é
correspon­
que
não
se
firmou nunca na mão ·elo índio nem na elo mameluco, nem o seu pé ele nômade
se
fixou
nunca em
1•
- Vol.
212).
pág.
pé
de
bci paciente
e
sólido»
que o selvicola brasileiro ao tempo do descobrimento
É
&
(«Casa-Grande
Senzala»
estava ainda no
nomadismo, e a agricultura propriamente dita não lhe era ainda predominante.
Na época
larmente,
a
mestiçagem entre
de vez que
o português
lusitanos
e
colonizador
puritano, e nem encontrou no aborígene o
índios se
fêz,
não tinha o
normal
e regu­
b
nível cultural d
obstáculos encontrados pelos espa­
nhols perante os Incas, os Aztecas e os Maias que tinham de ser destruidos,
Çesde que o oriam dificuldades na assimilação
adaptação a outra civiliza­
p
ção que não as suas.
Ante
o
o
fracasso
colonizador
das
valeu-se
populações
do
amerinclias
tráfego
dos
nos
negros
da
rudes
trabalhos
escravizada
rurais,
Africa,
em
cujos braços encontrou os auxiliares que lhe faltavam no desbravamento dos
campos,
e em cujo ventre desenvolveu novas proles - os mulatos,
nizando-se
seus
portuguêses,
derivados
índios
- mamelucos
e
e
negros
em
mulatos
-
novos
para
cruzamentos
que
surgisse
confrater­
entre
o
si
nosso
e
tipo
ético no povoamento do solo.
A
população
propriamente
pais com italianos e alemães,
dita,
sem
a impressão de que jamais teremos um
v. g., do tipo sueco,
animal.
o
de
o
caldeamento
posterior
no
sul
do
tomou um tipo racial tão estranho que se tem
tipo étnico uniforme,
à
semelhança,
seleção tão perfeita como a do mais selecionado tipo
Nas populações brasileiras ora predomina o tipo negro - Bahia, ora
ameríndio
-
Piauí,
além
da
predominância
mais
generalizada
do
tipo
branco.
Imagine-se que a cô11 da pele é ainda um problema de antropologia inso­
lúvel.
É que
se
verifica;
por
exemplo,
que
os
habitantes
do
Cabo
da
Bôa
Esperança são bem negros, enquanto os espanhois e italianos na mesma d)s­
tãncla do Equador são brancos.
Passada
a
mística
do
índio,
do outro lado do A.tlânlico nos
estudou-se
fétidos
profundamente
o
negro
trazido
e detestáveis navios negreiros.
j':
ve­
rificou-se a vantagem do negro sôbre o índio, negro que não foi só o «bantú»,
mas o
negro
hamita,
inteligente
mouro e
sos tipos no
e
forte,
em
outros resultantes
norte
da
Africo,
cujas
veias
já
dos constantes
avançando
corria
o
sangue
caldeamentos
com
Gilberto Freyre que nos
árabe,
diver­
vieram de
«área mais penetrada pelo islanismo, negros maometanos de cultura superior
não
sô
à
dos indígenas
portuguêses
betos uns,
É
que
e
filhos
como
de
da
grande
quase
maioria
sem
elos
colonos
instrução
brancos
nenhuma,
-
analfa­
semi analfabetos na maior parte».
a
capacidade
mesmo no índio,
ele transpirar
no
negro
é
maior
que
no
branco
ou
«O que se explica por uma superfície máxima de evaporação
no .negro, mínima no branco».
dib,
a
portuguêses
O tipo negro, alegre,
(Gilberto Freyre,
amoroso,
op.
cit.,
vol.
folgazão, e o ameríndio,
2•,
pág.
485).
desconfiado, ·arre­
fugidio, cruzaram-se com os colonos através de séculos no Brasil-colônia,
êsses «Senhores de pendão e caldeira,
de baraço e cutelo,
senhores cruzados», ·
que defenderam a Colônia contra o inimigo comum - o estrangeiro e desbra­
varam as terras,
a
riqueza
trução de
deu
do
a
quando os dirigentes da nação lusa s·e convencerem de que
não estava na
Mafra, lhes
reconstrução
de
India e sim no Brasil,
deu um Rei-sol,
Lisbôa,
lhes
lhes
deu
o
cujo ouro
deu brilhantes
reconhecimento
lhes
deu a cons­
embaixadas,
da
lhes
independência
Brasil.
A' ganância do europeu pelo ouro do Brasil,
ou melhor, da Amériea,
ar-
REVISTA DA ACADEMIA CEARENSE DE LETRAS
258
rancou
de
Oncken
estas
palavras,
Deus com uma rica presa».
referentes
à
pirataria.
« . . . no
serviço
de
(«História Universal», vol. XIII, pág. 813).
Corria o ano de 1630, em pleno domlnio espanhol ainda no Brasil, ou me­
lhor,
reira
P,ernambuco sob o domlnio bátavo, quando chegou a Recife Manuel Pe­
de
Queiroz,
meu
o
setimnYõ,
primeiro
ascendente
da
familia
por
lapso
Queiroz
de Quixadá, no Ceará.
Manuel
de
Queiroz permaneceu
em
Recife
até
1641,
de tempo
de onze longos anos, entregue aos labores do comércio em que fêz alguma for­
tuna.
Mas,
não
desejando
continuar
a
empregar
a
sua
atlvidade
moça
no
comércio, pois ao chegar ao Brasil tinha apenas 20 anos de idade, transferiu
seu domicilio e residência para as proximidades ele Goiana,
cultor,
gnde se
fêz agri­
sem se imiscuir em política.
. Requereu ali uma data de sesmaría com uma légua de frente sôbre cinco
ele fundo, à margem esquerda do rio Goiana, onde se fêz rico agricultor e dono
elo engenho «Jacaré•,
cujas
terras
prosperidade e maior
de
anos
sar-se.
50
desbravou
de
idade,
e
fêz prosperar.
resolveu
Manuel
de
Cavalcante
de
Já em plena
Queiroz
ca­
A sua escolha recaiu na pessôa de Dona Angela Cavalcante de Vas­
·
concelos moca maior de 30 anos de idade, filha única do português Filipe de
Brito Pereira da Rocha
pernambucana,
Dêsse
e
de sua mulher
per tencente
feliz
enlace
à
antiga
Manuel
de
e
Joana
tradicional
Queiroz,
à
familia da
semelhança
de
Vasconcelos,
Caiptania.
seus
sôgros,
só
teve também uma filha de nome Isabel, que mais tarde veio a contrair matri­
mónio com
o primo
Antônio Duarte ele
Queiroz,
de quem
me
ocuparei
opor­
tunamente.
II
GOIANA
( Pernambuco)
No ano da graça de 1685 chegava a Recife, onde Manuel Pereira de Quei­
roz morara de 1630 a
instrução,
de· nome
1641,
outro português,
Antônio
Duarte
de
jovem,
Queiroz,
inteligente,
meu
sexta võ,
com
t egular
sobrinho
de
Manuel Peréira e filho de Manuel de Queiroz e Silva e de sua mulher Jerônima
Pinto Nogueira, natural da vila de Amarante, enquanto os demais eram natu­
rais
de
Viana
Antônio
do
Castelo,
Duarte
vinha
lugares pertencentes
em
busca
da
ao
reino
América,
ou
de
Portugal.
melhor,
do
Brasil,
à
procura do tio, irmão de seu pai, desejoso de conhecer o Novo Mundo, tomado
ao <<mar tenebroso», que tanto medo metia àqueles que não acreditavam nos
antípodas.
A audácia e ousadia dos navegantes de Sagres,
riue,
o
Infante Navegador,
cuja
previsão
e
altos
orientados por Don Hen­
esclarecimentos
se
eviden­
ciaram mais tarcle no sobrinho-neto, Dom João II, que reinou em Portugal de
1481 a
Aviz,
1495,
encarnando em si a belicosidade do Conquistador e do Mestre de
seus antecessores,
conquistaram o
mundo.
A êsse tempo a Colônia estava entregue a própria sorte, isto é, aos nati­
vos, na mais perfeita comunhão das três raças formadoras do povo brasileiro,
e
aos bátavos.
É
que
Portugal
ainda
se
achava
sobretudo
empenhado
acontecimentos ela restauração, e a Holanda nas lutas com a Inglaterra,
ensaiava
os
seus
vôos
altaneiros
de
futura
Raiara, alegre e festivo em Lisbôa, . o dia
o 8• Duque de Bragança,
Dom Miguel de Almeida,
gritava:
Miguel
de
«Liberdade!
Vasconcelos,
dos
mares.
de dezembro de 1640, enquanto
o futuro Dom João IV, e sua esposa Dona Luiza de
Gusmão permaneciam no rico
tela,
rainha
1•
nes
que
palácio
ducal de
VIla
Viçosa.
encarnando a resistência da pátria contra Cas­
Liberdade!
traidor e
fiel
Viva
a
El-rei
Filipe
III
Dom
de
João
IV!»,
Portugal
-
enquanto
Filipe
IV
·
259
REVISTA DA ACADEMIA CEARENSE DE LETRAS
de Espanha -,
armário,
se trancava de
mêdo e
ainda por precaução,
de clavlna em punho carregada,
escondido num
arma que de nada lhe serviu.
Tudo correu, rápido e feliz, de modo que dentro de . poucas :horas a chan­
Braganca, na qualidade
cela de Filipe III era substituída pela do Duque de
de Dom João IV - primeiro rei da última dinastia de Portugal.
Tudo tinha
sido preparado com uma resolução inabalável, com uma disposição segura de
ânimos, tanto que «os conjurados, preparando-se para morrer, se o movimento
fosse jugulaào, tinham-se confessado e comungado; alguns fizeram testamento.
Senhoras
houve
-
afirma-se
Isso
de
Dona
Filipa
de
Vilhena,
Condessa
de
Atouguia e Dona Mariana de Lencastre - que, na febre da mais pura devo­
cão patriótica, armaram por suas próprias mãos os filhos, para que o exemplo
do
o
valor maternal lhes estimulasse mais
dever». (História de Portugal, Vol.
ainda
seu
E:sse
grande
acontecimento
da
v,
pátria
o
pág.
de
desejo de
bem cumprirem
284).
Camões
e
Vieira,
dignamente
comemorado em 1940, trouxe também satisfação à Colônia, porque os próprios
holandeses
lhes
proclamavam
estranha,
Pombo,
mas
aos
«Que
não
era
feita
a
Portugal
Filipes - os grandes tiranos
História do Brasil,
Vol.
IV,
pág.
a
da
agressão
que se
Holanda!»
(Rocha
449).
Antônio Duarte, chegando a Reci(e, ali não mais encontrou o tio Manuel
de Queiroz,
mas
teve notícia de depósitos de açúcar do engenho Jacaré
distava cêrca de uma légua ao norte de Goiana,
que
aonde o recém-chegado foi
em busca do tio e ali fixou residência em companhia de Manuel de Queiroz,
que era então agricultor abastado.
O casal Manuel
Pereira e Angela Cavalcante,
Brito e Joaquina Cavalcante,
pais de
Angela,
à semelhança de Filipe de
teve apenas uma filha de nome
Isabel que, na chegada do primo à Goíana, já era núbil, pois contava 14 anos
de idade e,
dade
crn
assim,
podia cotnrair matrimónio de vez que na época
Em
realiza-se
1687
o
consórcio
de
Antônio
Duarte
com
a
prima
Isabel,
plena mocidade os dois nubentes: êle com 22 e ela com 16 anos de idade,
com satisfação geral,
ela fam•lla
salvo algumas restrições por parte de alguns' membros
Cavalcante-Vasconcelos,
que de certo desejavam a mão da jovem
e rica herdeira para algum descendente de sua família,
cional na Colônia.
1692,
A
êsse
tempo
nesga
Europa
à
o
e Antônio em
espírito
de terra
de
que
�a
Francisca, em
1696.
aventura
seja
beira-mar plantado»,
permanente.
já radicada e tradi­
Deste feliz enlace nasceram-lhe três fllhos:
Bertoleza . em 1694
estreita
ela
a puber­
indicava a idade do casamento.
elos
portugueses,
esprimidos
ocidental praia lusitana»
continuava
a
ser
um
fato
ou o
nessa
«Jardim
inconteste
e
As naus e caravelas elos descobrimentos marítimos a trazer ou
a le,·ar lusitanos para o oriente ou ocidente.
No meio dêsses aventureiros se
contou Antônio Dias da Costa, que se estabeleceu em São Bernardo do Jagua­
ribe,
na
capitania elo
Ceará.
Este português tinha por hábito ir todos os anos às feiras de Goiana, em
Pernambuco,
mesmas
onde vendia as suas cavalhadas e comprava com o produto das
fazendas
em Recife,
dência e de seus negócios.
que
trazia
para
Jaguaribe,
Jogar
de
sua resi­
Nestas estadas nas feiras de Goiana teve encon­
tros contlnuos com Antônio Duarte,
ele quem Antônio Dias se tornou grande
amigo, amizad e que se prolongou até a morte entre os dois portuguêses.
Por
associação
de idéias
a
discussão, que assisti aos 10 a
ampla
e
palavra
.feiras»
me
12 anos de idade,
traz
à
lembrança forte
entre meus tios
Facós, .na
arejada sala de jantar do Sitio «Lucas», em Beberibe da comarca de
Cascavel, que servia concomitantemente de sala de refeições e de estar, embora
houvesse uma espaçosa sala de visitas, onde se encontrava o oratório grande
·
d� madeira em que o meu avó tirava o terço de todos os dias. O Lucas per­
tencia
a
meu
avó materno e
pai
de
criação,
João
Facós, que ali se achavam em visita costumada
aos
Tomaz
tios e
Ferreira,
primos.
tio
dos
REVISTA DA ACADEMIA CEARENSE DE LETRAS
260
Discutiam se o primeiro dia 4ia semana era «domingo» ou «Segunda-feira:o.
porque
queera domingo,
outros sustentavam
enquanto
nha o descanso,
do trabalho é que vi­
porque depois
Sustentavam uns que era segunda-feira,
antes
do trabalho devia haver preces a Deus para o bom êxito da semana iniciada.
Apenas, de quando em quan­
Meu avô ouvia-os calado, sem dar opinião.
do, repetia:
Xi!
Xi!,
admirativa de seu uso,
nos ocasiões em que assistia ou
E eu, na minha meninice, fiquei na Igno­
ouvia algo que lhe não agradava.
rância 4io primeiro dia da semana, de vez que não houve vencidos e vencedo­
res na discussão,
Antônio
ficando cada um com a sua opinião . ..
Duarte,
senhor
!oi
palavra usineiro),
de engenho rico
(ao
tempo não
se empregava
a
induzido pelo amigo António Dias a comprar terras de
criar e plantar no Jaguaribe e situá-las com ga�o vacum, cavalar, e de outras
espécies.
Parte
dessas
terras
ficava
à margem
do
rio
Jagualrbe
e
recebeu
a denominação de «Bôa-Vista» e outra à margem direita do Banabuiu - anu­
ente da margem esquerda do maior rio sêco do mundo.
A meia légua de 'terra do Bonabuiu recebeu o nome de «Raposa-Branca»,
em vista de António Dias,
raposa branca,
conforme
a
quando fõra
narrativa
vez
branca nos climas tropicais, de
all pela primeira
de
António
vez ter
Não
visto uma
existe
raposa
que a côr do pêlo do animal varia com o
clima, a bem da defesa do próprio animal.
decerto, o pêlo bem claro.
Cirilo.
A raposa de Antônio Dias tinha,
Ou estava com a «Côr protetora»? ...
As novas propriedades de Antônio Duarte distavam entre si cêrca de três
léguas, embora ambas nas cet·canias de «Barro-Vermelho», de que tratarei no
capitulo seguinte, de vez que tem grande importância na cronologia da famí­
lia Queiroz.
As fazendas
curador.
prosperaram
Associada essa
Antônio Dias a
e deram grandes _lucros ao
circunstância
Antônio Duarte,
désse um passeio a
Jaguaribe,
importante ao
no
Ceará,
Assim.
pertencia na
em 1700,
Antônio
à capitaniâ sufragânea da
capitania
Duarte
de
e a
Goiana, para que o
para conhecer
priedades resolveram a vinda do dono do
visita ao que lhe
à
sempre que ia
enge
. nho
do
proprietário
as suas
<<Jacaré»
pro­
de
amigo
novas pro­
a Jaguarlbe
em
Ceará.
famllia transportaram-se,
Pernambuco.
e
convite permanente
Nessa época já eram
a passeio,
acesas as
divergências entre os «mascates» de Recife e os nativistas de Olinda, o que
não perturbava a vida de senhor de engenho de Antônio Duarte que não era
polltico.
Aquela comunhão de
interêsses,
aquela harmonia de vistas, aquele ardor
nas lutas das três ra<:as
irmanadas
contra o bátavo invasor haviam desapa­
recido e dado margem a forte antagonismo entre os mascates e os patriotas.
João Ribeiro, na sua pequena-grande «História do Brasil», escreve: «Pouco de­
pois
da
guerra holandêsa, em
Pernambuco, pouco a pouco nascendo o odioso
antagonismo entre a aristocracia brasileira dos senhores de flJlgenho, que em
geral
tinham
casa
em
Olinda,
e
os
negociantes portuguêses,
o Recife eram apelidados, com desprêso, de mascates».
que
habitavam
(2• edição, de 1901, pá­
gina 213).
Era a luta que se esboç-ava e avançava em Minas Gerais entre nativistas
e emboabas,
brasileiros e portuguêses,
contra
a
cobiça do
ouro
que
embar­
cava para Lisbôa para custear as brilhantes embaixadas e as obras suntuárlas
do Rei-Sol de Portugal, dando togar à Inconfidência; e no norte a mesma luta
entre «mascates» e nativistas,
luções de «17» e «24».
os nossos dias.
dores
e
brasileiros,
produzindo as revo­
Assim é que, há menos de meio século, entre nós, os vende­
de objetos
metro».
portuguêses
E êsse odio aos portuguêses ou estrang2ir0s ve:o até
de
armarinho
tinham
o
apelido
de
«mascates»
ou
«bate­
Antônio Duarte viera ao -ceará no propósito de voltar a Pernambuco, onde
ninguém ·lhe
fazia móssa,
não obstante ser
português,
mas
não
era
comer-
"
261
REVISTA DA ACADEMIA CEARENSE DE LETRAS
ciante
ele
leira.
Recife,
que
É
e
êle
sim
era
senhor
casado
ele
na
engenho,
familia
e tradicional familia ele Pernambuco,
pertencente
à
cnobreza»
«Cavalcante Vasconcelos»,
brasi­
antiga
com a circunstância ainda ele nas veias
de sua mulher Is a bel jâ correr o seu sangue: Queiroz.
A Antônio Duarte e dona Isabel Cavalcante êsse passeio foi fatal, custan­
do-lhes a vida, o que importou na transmigracão da familia Queiroz de Per­
nambuco para o Cearâ, que, crescendo e mnltiplica.ndo-se, hã derramado gente
ilustre nas letras e nas armas por este vasto Brasil.
O
casal
fez
pousada
na
fazenda
<<Bôa-Vista»,
não
só
porque
era
mais
próxima de Golana, como porque lhes oferecia mais confórto e melhores aco­
modações.
Ali faleceram
Antônio
Duarte e dona
Isabel,
assim como o bom
amigo
Antônio Dias da Costa, todos de febres malignas. Ficaram-lhes os fl­
lhinhos apenas de 8, 6 e -1 anos de idade cm meio hostil e em mãos de es­
tranhos.
Dona Isabel soube suscitar ressentimentos entre si e os Brltos, gente par­
da, quando se dizia arrependida do passeio e pedia a Deus que a livrasse de
ter filhos. ali, pois não via naquele meio ninguem na altura de os apadrinhar.
A morte cio casal
Queiroz-Cavalcante
trouxe a orfandade para os meno­
res e os pôs às mãos de estranhos despeitados,
paro:
e
os bens de fortuna ao desam­
os de Pernambuco em poder dos Cavalcante-Vasconcelos e os do Ceará
em poder
houve,
dos
de
Britos.
Ali,
que
Filipe
vez
simulou-se
Pereira
uma
Duarte, procuraram os autos dessa praca
Os Britos,
os encontraram.
parentes brancos de dona
pedaços
arrematação,
Cavalcante
nos
e
Isabel,
denominado «Barro Vermelho»
aos
de
vez
decerto,
netos
nunca
de
Antônio
cartórios competentes
e nunca
foram mais honestos que os
pardos e ofendidos,
ele terra com meia légua
que,
irmãos,
que deixaram três escravos e três
de frente sôbre
herdeiros.
meia de fundos,
A justica deu-lhes,
no
Jogar
às crianças,
tutor que lhes comeu os bens e lhes impôs castigos que lhes deixaram marcas
no corpo e
na alma.
O menino António Duarte Filho, ao atingir a idade de
14
anos, fugiu em
companhia de seu escravo de Barro Vermelho, vindo a falecer em caminho, em
Pedra-Lavrada
(Serra
da
Borborema),
de
febre
maligna,
quando,
i.a à procura ele seus parentes Cavalcante-Vasconcelos que
êles
e
procedimento
Bertoleza
pior
que os Britos de «Bôa-Vista».
permaneceram
em
companhia
do
de
certo,
tiveram para com
As meninas
Francisca
tutor.
Antônio Cirilo, em sua Genealogia, raz uma observação digna de sua inte­
ligência:
«Foram os bens furtados que mais tempo têm durado . em poder (los
(êle escreveu, na fazenda Açude, em
herdeiros de ladrões; hã quase 200 anos
Quixadã, em 1890), e ainda hoje o engenho «Jacaré» pertence a
Cavalcante­
Vasconcelos».
O casal Queiroz-Cavalcante foi sepultado na fazenda
de uma cruz ali
existente,
fazenda que,
guês João Batista Pereira de Castro que,
�
posteriorme te,
«Bôa-Vista»,
pertenceu
ao
ao
pé
portu­
sendo filho da mesma terra de An­
tônio Duarte de Queiroz, Vianna cio Castelo, em Portugal, e seu parente, man­
dou construir uma capela à memoria do casal Queiroz, capela que foi, poste­
riormente,
José
por duas
Ferreira
Batista
de
vezes reformada
Castro,
pelos
respectivamente,
Pereira de 'Castro,
o primitivo
Padres
neto
e
José
é'
bisn t9
Pereira
elo
de
Castro
português
construtor da capelinha.
Nela
e
João
foram
sepultados outros Queirozes, de quem tratarei noutras pâginas dêste liv.ro.-
� de
Esta capela foi depois a Igreja de São João elo Jaguaribe, hoje cÜstrl o
Jnndolm do municlpio de Limoeiro do Norte.
de
·
Antônio Duarte de Queiroz, o filho cadete de Manoel de Queiroz e Silva,
Vianna do Castelo, e de dona Jerônima
Pinto Nogueira,
da vtla de Ama·
•
REVISTA DA ACADEMIA CEARENSE DE LETRAS
262
----
rante. localidade do reino de Portugal, deixou três irmãos em Portugal:
Pereira de Queiroz Lima,
Braz
José Pinto de Queiroz Lima e Pascoal Nogueira de
Queiroz; Isabel Cavalcante Vasconcelos ele Queiroz, mulher ele Antônio Duarte,
era filha única, como sua mãe Ângela Cavalcante ele Vasconcelos, ele quem já
tratei.
o português João
primitiva
a
construir
Batista Pereira de
capela
de
seus amigos Antônio Duarte de Queiroz e de dona Isabel
respectivamente,
celas de Queiroz, era avô e bisavô,
dos
túmulo
o
sôbre
Jaguaribe
do
mandou
como já disse,
que,
Castro,
João
São
de
Cavalcante Va�con·
Padres
José Pereira
de Castro e José Ferreira de Castro, que, cada um de per si, reconstruiram a
capelinha,
melhorando-a.
aumentando-a c
Era bisneto também clêsse português Manuel Pereira de Sousa Maroto
-
·
pai da segunda mulher elo Capitão-mar José �Pereira Filgueiras, segundo Antõ·
nlo Cirilo, em sua «Genealogia».
III
BARRO VERMELHO
(Ceará)
Em
1710
de
vinham para o Brasil mais três portuguêses - Inácio Pereira
Queiroz Lima, Vitoriano Nogueira de Queiroz e Joaquim Pinto de Queiroz,
na­
turais de Viana do Castelo no reino de Portugal, e sobrinhos segundos e legl·
tlmos,
respectivamente,
de
Manuel
Pereira
de
Queiroz
e
Antônio
Duarte
de
Queiroz, os dois antepassados mais remotos da linha masculina dos Queirozés
do
Ceará,
Brasil em
de Queiroz
e
de
quem já
1710,
tratei neste
livro.
Os
portuguêses,
vindos
para
o
eram filhos: Inácio Pereira de Queiroz Lima, de Braz Pereirfl
Lima
e
Maria
da
Silva
Sampaio; Joaquim Pinto
.Tosé Pinto de Queiroz Lima e de Antónia
de
Queiroz,
Maria de Sampaio, ambas irmãs
de .
�
naturais de Bragança em Portugal; e Vitoriano Nogueira de Queiroz, de Pa�­
coal Nogueira de Queiroz e de Ana Vitoriano Borges da Fonseca, natural tam·
·
bém de Bragança, mas sem parentesco com as duas primeiras.
.
Vinham os três Queirozcs em procuru dú tio António Duarte de Quelro'?.
Desembarcaram
em
Recife,
onde
não
encontraram
mais
ram que êle estava rico em Goiana, dono do engenho
com a fam!lia - mulher e três filhos -
a ·passeio,
o
tio,
mas
«Jacaré».
à
soube·
Dali seguira
capitania do
Ceará,
onde possuia fazendas de criar, e ali morreram marido e mulher, ambos vitl·
mados por febres malignas, deixando filhos.
Souberam ainda que os parentes
do
de
casal,
em
Goiana,
tinham-se
apoderado
tudo
que
éies
possuiam,
no
<'ngenho Jacaré, no caráter de r�s nullius.
Com essas informações seguras sõbre o tio e família, os moç-os lusos to·
maram o rumo de Aracati,
no Ceará,
na
zona
do
Jaguaribe,
onde
souberam
que havia duas mo<;as orfãos, filhas de Antônio Duarte de· Queiroz e de sua
mulher dona Isabel· Cavalcante Vasconcelos de Queiroz, em São João do Ja­
guarlbe.
Inãclo Pereira de Queiroz Lima e Vitoriano Nogueira de Queiroz
ram
matrimónio,
em
São
João
do
Jaguartbe,
localidade
a
que
contrai·
não
chegou
Joaquim Pinto tle Queiroz que !!cara em Aracntl, respectivamente, com Fran·
rls<'a Cavalcante Vasconcelos de Queiroz e Bertoleza Cavalcante Vasconcelos
de Queiroz.
O mais moço dos três, Joaquim Pinto de Queiroz, não tendo, em
Jaguarlbe, prima com quem se casar, tomou o rumo do Rio Grande do Norte,
rasando-se em Assú com uma moça da fam!lia Fernandes.
A demora nos casamentos das duas mocas com os primos foi apenas do
lapso de tempo necessário para obtenção da dispensa de parentesco (2• grãu
canónico). O velho missionário .João da Costa celebrou os matrimónios na cape­
linha em que
t
es avam sepultados
os
pals
e
sogros dos
nybentes,
e na quaJ
·
I
REVISTA DA ACADEMIA CEARENSE DE LETRAS
se
sepultaram
mais tarde
os
quatro felizes
Os jovens casais fixaram
residência
nubentes
nas terras
de
daquele
263
venturoso
dia.
«Barro-Vermelho»,
na
ribeira do Banabuiú, cada um no quarto de légua que lhe deixaram os «mal­
feitores»
por
e a justiça da época,
toda a
O
rio Banabuiú afluente
importància
Ceará,
no
o Sitiá,
da
elo
�<'atos>>,
ou
por
A propósito
margem
Queiroz,
esquerda,
através
tem grande
do
interior
elo
Barro Vermelho foi o ponto intermediário dêsse desenvol­
Familia
página
à
da família
na sua
transmi-graçào
no Ceará, e não diretamente de
equívoco
Inácio e clona Francisca o fiz�t·am
Jaguaribe,
desenvolvimento
ele vez que
vimento
sendo que
vida.
desconhecimento,
154).
do Banabuiú.
nabuiú é o «doido>>.
de
Goiana,
em
Pernambuco,
para
Pernambuco para Quixadá, como por
disse João
Erigido
Para os ribeirinhos
(<<Ceará -
Homens
e
elo baixo-Jaguaribe o Ba­
que êsse rio, além ele engrossado pelo Quixeramobim,
É
desce caudaloso em terreno indinaclo, ele modo que, quando se precipita no rio
principal,
lhe
aumenta
transbordando
repentinamente
do Jeito,
o
se espalha pelas
volume
dagua
margens
e
do
inunda
Jaguaribe,
vá•·zeas,
e cidades.
1917
Tive de ver essas Inundações, embora sem o volume dagua de
quando juiz de União, ora Jaguaruana, em
insulavam
a
cidade
e
davam
as ruas <<estradas l!quidas»,
viais
que
desciam
destruidora
cente,
pelas
no ano
1919,
extinguido a pecuária,
a
e
1922.
passeios
e
e
de
encachoeiradas . na
campos,
que
havia
fazendo
calcinado
numa desolação de
canoas,
os
a
campos,
e
1922
recém-nato,
tomava eu,
Imêlda
ora
casada
com
o
Dr.
climática
estiolado a
sêde
que
em companhia de minha mulher
Maria,
precipitada
crise
produzir e espalhar.
Em
tornando-lhe
Eram as águas flu·
invasão
esquecer
fome
1924,
e
As águas do Jaguaribe
pm constantes movimentos.
abundantes
cidades
de
margem
1921
que,
campos
Filipe
c
só'
a
e
re­
lavoura,
sêca sabe
1
três filhos
Franklin
de
(um
Lima)
a canôa na rua principal da cidade - rua Padre Graça - na calçada alta da
residência de Pedro Evangelista - primeiro suplente de juiz municipal.
a
minha mulher que devíamos ir to<jos, porque,
ficava ninguem
E
da
família
imensos
perc orremos
lençóes
canoeiro-chefe.
sando
pela
as
em que,
de
estrada
que
várzeas
do
por
homens
Jaguaribe.
cujas
às
vezes, se retietem apenas
en\ quando, me dizia: �seu
quando
Dizia
lle perecimento,
não
que se constituía.
nessa frágil embarcaç-ão, impulsionada
dos remos,
no caso
conduz
à
cidade»,
ou
peritos
no
àguas
pedaços
doutô,
«estamos
manejo
formavam
de
O
céu.
estamos
passando
pas­
sôbre
a
casa de Fulano», casa que havia desaparecido de todo no ondul&nte e extenso
lago
de água doce,
ou ainda
«estamos
no
leito
do
rio».
E no meio daquele imenso lago de água doce quase calmo,
não perdiam a veia espirtuosa.
os
canoeiros
É que o caboclo cearense tem o espírito sem­
pre pronto e resposta adequada a qualquer pergunta que se lhe faça.
é que no mesmo ano,
1922,
em fins dáguas
tive que vir a Fortaleza, a chamado do presidente do Estado,
de Serpa,
para
Dr.
que queria consultar-me sôbre a minha nomeação de juiz
Lavras,
ora
Lavras
da
Mangabeira,
Assim
(na segunda quinzena de inalo),
Justiniano
de
direi�o
de que o Presidente não tinha bôà.
impressão.
Viajava em minha companhia, na qualidade de bagageiro, um caboclo da
.
Ao passarmos pela povoação
e Passagem das Pedras, ora vila de Itai­
d
terra.
caba, pertencente a meu Termo judiciário, ·e que fica bem próximà ao leito
do rio, verificamos que as casas de taipa, isto é, construídas com madeira
entrelaçada e enchimento de argila estavam com
cintura de um homem e o madeiramento a nú.
disse:
«Olhe,
Inác)o
seu
doutó,
Pereira
de
este�
Queiroz
prédios
Lima,
estão
meu
todos
o barro caído
Olhando-as,
sem
qliintavf•,
à
o
altura da
caboclo
me
residiu
no
cerou!as».
que
sempre
REVISTA DA ACADEMIA CEARENSE DE LETRAS
266
qualquer combinacão com a esposa e
sem consulta à filha,
bom marido e pai
casarn1
A senten<:a,
gôsto.
desvelado,
Helena
A
Joaquim
fazenda
Correia,
encastelado
<< Papagaio»
à
ficava
sua
podia
continuar . . .
Numa
deu a entender que
iria
lar
distância
outrora
véspera
de
de
férrea,
uma
não
légua
da
cedia.
capela
do
A atmosfera de desconflanca,
bafejado
domingo
à tnissa no dia
como seres estranhos,
vontade
Apodí, hoje Matriz na cidade do mesmo nome.
de mal -estar reinante naquele
trouxe-lhes profundo des­
lar comum,
na
embora êle fosse
Tubarão.
que lhes impunha o marido e pai,
Mãe e· filha· passar11,m um mês no
enquanto
com
por
harmonia cristã,
benfazejo,
seguinte.
Dona
aquim
Anastáci a
não
Correia
nada lhe
disse, mas, na manhã do domingo designado, prepar-ou-se, e, quando o marido
cavalgou a allmária que o levaria ao povoado, dona Anastácia tomou assento
à
garupa do animal.
Fizeram a viagem
qe uma légua sem
a
troca
vras, sem que ela tocasse no marido, pois se segurava apeans à
de pala­
lua
<la sela.
Ela agiu como, em regra, sabem fazer as mulheres, de modo sutil, caprichoso
e dominador,
nos momentos difíceis.
e
À missa fôra também Tubarão,
dona Anaslácia pôde constatar o cordial
entendimento entre êle e o marido, o que lhe causou a maior angústia. Assistiu
missa e,
decerto, entregou-se a orações e rogativas a Deus, revestindo-se da
necessária resignação e fôrç-as para vencer aquêle propósito chocante,
aquela
teimosia absurda do marido.
E na volta para casa tomou de novo assento
garupa do cavalo
mas numa atitude
do marido,
diferente da
ida.
à
Não mais
pôs as mãos na lua <la sela e sim nos ombros do marido e, estreitando-o nos
braços,
carinhosa
rebeldia,
no
e
humilde,
seguinte
- «Marido,
conseguiu
o
que
jamais
diálogo consignado por António
obteria
com
revolta e
Cirilo:
não casemos nossa filha com aquêle
hom em,
a
quem
tanto
aborreço».
- <<Mulher tranquilize-se,
descanse
seu coração
que,
desde já,
está
aca­
bado êsse casamento�.
Assim, o
gêlica,
bom senso de mulher
venceu a
forte e destemida,
obstinação inq·uallficável do
marido e
a
desi gual que Joaquim Correia proj etava para
O marido à altura de Helena,
mas prudente e ev·an­
minha
evitou .um casamento
.
q uartavó.
a primogénita do casal da fazenda
gaio», estava na fazenda «Barro Vermelho»
Inácio Pereira de Queiroz Lima e de
sua
;
no Jaguarlbe.
mulher
dona
Pereira de Queiroz,
Inácio
meu
de
Cavalcante
na pessôa de Antô­
q uartavô.
Pereira, português de fino trato,
à serra do
<<Papa­
propriedade
Francisca
Vasconcelos de Queiroz, no primogénito dêste feliz casal,
nio
de
«Martins», no Rio Grande do
fôra uma vez de Barro Vermelho
Norte,
em
viista de · cortesia
a
seu
primo-irmão Joaquim Pinto de Queiroz, um daquêles três portuguêses, primos
entre si.
chegados
a
Aracatí em 1710,
que,
não
tendo
prima
com
quem
se
casar em Jaguaribe, seguiu para o Rio Grande do Norte, onde se fêz fazen­
deiro,
na Serra do Martins,
e casou com uma moça da
fam!l!a
Fernandes.
Joaquim Pinto de Queiroz não teve a gentileza de retribuir a visita de cor ­
tezia do primo,
mas· êsse passeio ensejou
zea do Apodí, em casa de
tempo,
fêz
uma
visita
de
Joaquim
retri buição
no
Seguiram-se vis!ta·s mútuas entre as duas
tes,
1stabelecendo-se
intima
à
Correia
amizade
Inácio
de
Barro
Inácio
Pereira
com Antônio . Pereira de Queiroz,
entre
Vermelho
melh{),
plhos
que,
i;egundo
Esperidião
verdes que vira no Apodi».
de
a
Inácio
Pereira.
elas.
Joaquim
Correia procu'rou
a quem propôs o casamento
o filho
Vár­
que dentro em poueo
famílias que se tornaram frequen­
Desfeito o casamento de Helena com Tubarão,
em Barro Vermelho a
Pereira · descanso na
Araújo,
mais
Queiroz,
de Helena
velho do casal do Barro Ver­
guardava
«a
lembranca
de
uns
A proposta de casamento foi do agtado das
REVISTA DA ACADEMIA CEARENSE DE LETRAS
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duas fam llias, e, não havendo qualquer parentesco entre os nubentes, o casa­
mento
realizou-se
Este
dentro de poucos dias.
casamento propiciou mais dois entre os rebentos das duas famílias;
de Jo�é
Pereira Cavalcante
Francisca
Correia.
da
Rocha
e
Maciel c
Ana Pereira de
Simeão
Queiroz,
Correia de
fllhos
Arauúo,
de
Inácio,
de
fllhos
Estes três casamentos identificaram pelo resto da vida os seis felizes
nubentes e respectivas
ramllias.
Os sogros e cunhados de Simeão Correia fizeram-no mudar-se com
mllla
para
a
ribeira
do
Banabuiú,
ficando Antônio Pereira no Poço
onde
fixaram
Correia
de
Araujo
residência
os
três
a
fa­
casais,
da Serra, onde tinha grande solta de gados.
Em Jaguarlbe Antônio Pereira de Queiroz,
meão
com
Joaquim
ocuparam,
José
Pereira Cavalcante e
respectivamente,
os
postos
de
SI­
Capitão,
Tenente e Alferes do -Regimento de Cavalaria de São Bernardo do Jaguarlbe.
Mais tarde, depois da morte elos pais e sogros Inácio Pereira de Queiroz Lima
e
dona
Francisca Cavalcante Vasconcelos
ele
Queiroz,
no
lapso
de tempo
1 3 dias, e sepultados na capela de São João Batista, onde já estavam
Duarte de Queiroz e dona
Isabel
Cavalcante
Vasconcelos de Queiroz,
casais fixaram residência na ribeira do Sitiá.
no Sitiá foram os troncos primitvos dos
Estes casais,
Queirozes
uma
vez
do Ctirralinho,
ele
Antônio
os três
fixados
da Várzea
d a On �.a e do Contrato ou Passagem Funda.
Joaquim Correia de Araujo
e dona
Anastácia Maciel de Melo,
já velhos,
venderam suas terras das várzeas do Apodí, no Rio Grande do Norte,
e vie­
ram morar no Sitiá, ao lado dos fllhos e genros, onde compraram terras a que
deram o mesmo nome que Unham
as suas terras do ,Apodl - «Papagaio».
O casal VItoriano Nogueira de Queiroz e dona Bertoleza Cavalcante Vas­
concelos de Queiroz teve descendentes que foram troncos de famlllas de dife­
rentes lugares. Duas f1lhas foram, involuntAriamente, envolvidas em sanguino­
lento drama,
de que tratarei no cap itulo - «Tragédias
de Famllla».
O filho Antônio Nogueira de Queiroz C'asou na família Martins ele Jagua­
rlbe e Antônio Nogueira de Queiroz
Saldanha, irmão do Pe.
sofreu
as
consequências
Fllho com uma fllha de Francisco Carlos
Miguel Carlos Saldanha,
de
sua
participação
antigo vigário de Crato que
no
movimento
revolucionário
de «17»;
Manoel Nogueira de Queiroz casou com uma moca da família .Campos de
Frade (ex-Riacho do Sangue ) e sua fllha Ana Maria casou em Riacho do San­
gue na famllia Pinheiro; e casou pela segunda vez com uma irmã do Capitão­
mor Luiz Gomes da Silveira, de Baturlté, avô da mulher de João Nepomuceno
da
Silva,
e cujos filhos se espalharam por Baturit� e
Plaul;
João Nogueira de Queiroz casou com uma descendente do casal dQ Tapuia­
rã, Tenente Inácio Lopes e Joana Batista, f!lha de Antônio Alves de Lima e
sua mulher Helena Rosa de Queiroz, de nome Maria d e Jesus.
Há ainda des­
cendente
em
de
dona
B!!rtoleza
en t rel açado
com
a
fam!lla
Granja
de
Urucur!
Pernambuco.
A mãe de VItoriano Nogueira de Queiroz, A n a VItoriano Borges da Fon­
seca, era tia-avó de Antônio José VItoriano Borges da Fonseca ' que foi Gover­
nador do CearA de 25 d e abril de 1765 a 3 de novem bro de 1781.
Antônio Borges da Fonseca, avô materno do Desembargador
gllelra
Borges da
Fonseca,
era filho dês·se
Paul!no
Governador.
< Conttn(ta)
No­
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