254 REVISTA DA ACADEMIA CEARENSE DE LETRAS GENEALOGIA FAMILIA QUEIROZ-FERREIRA DE BEBERIBE OS FACóS BOANERGES F ACó NóTULA PRÉVIA confecção destas páginas de família, destas pagmas genealógicas, não Na dispús de vasta bibliogra fia. inéditas. muitos Colhi É QUe a dados na Alencastro Ferreira), cadete de de 40 do a Beber l bc anos , com primeiro esclarecimentos q ue tra d i ç ão que se conser va ele ge r ação em minha tia materna Joana Ferreira de Queiroz .(em soltell'a município ;naior Elas são páginas Já publicad as e páginas ainda q uerida da o Nen c n, comarca primo casamento de proprietária no sitio Lucas, no Cascavel, Antônio que Severiano Antônio famí lia . sôbre a a ntiga de Possuía geração: Joana de · Cirilo uma de de contraiu Queiroz Queiroz, memória matrimónio, Tôtô, o deu-me prodigiosa, filho muitos memória retinha, guardava, para sempre, o que via e ouvia. Assim, guardou sôbre a família ·as narrativas ouvidas de sua mãe e minha avó, Dona Laurentina Francisca Sabina de Queiroz , narrativas que con stituem ''allosos elementos nestas p á gina s sôbre os meus antepassados « Queirozes» e «Ferreiras». Ferreiras que primavam pela inteireza de caráter, embora sem os serviços prestados à causa da liberdade pelos varões da Casa Fo rte, do Tapuiará e do Riacho Fundo. Ana Facó, minha tia pa tern a , falando sôbre Laurentina de Queiroz, filha de Pedro de Queiroz Lima e ne t a de José de Queiroz Lima, duas f i guras mar cantes da República do Equador no Ceará, escreveu: ·•Palavra fácil, voz enérgica persuasiva e ,espírito e le v ado e de uma lucidez at raente , coração amante e magnânimo, c rença . fervorosa e inabalável, alma sensível e sumamente caridosa fo· ram os atributos com que Deus fizera dessa mulher um manan· cial de Dotada glosa, virt ud es , de Além um e anjo, um inteligência conservava cendentes tenro». uma no cérebro descendentes se r privilegiado, robusta àrvore a desde dessa preciosa contribuição oral. e o dç uma genealógica tronco servi-me quase do ao perfeito, m emó ri a de prodi· as· mais seus ramúsculo ' «Ensa i o Genealógico» ele meu velho amigo e querido primo Raimundo T or cápio Ferreira, e bebi, so bretudo, dados na va liosa «Genealogia da Família Queiroz» de Antônio Cirilo de Que iro z, dados que êle lançou no papel, ao c ontrário cte sua prima Lau rentina que apen a s os cons e rv ou na memória. Verba volant, scripta. manent. 255 REVISTA DA ACAD:kMIA CEARENSE DE LETRAS Torcápio diz no llllCJO de seu Ensaio que «grande parte das indicações, que aqui vão, fõram ditadas por meu saudoso e mui quer ido amigo Dr. Arce me llno de Queiroz e outras colhidas num manuscrito do Capitão Antônio Cir ilo ... » autorida de Que tem Antônio Cirilo, para que eu ta nto o cite? Por um principio de honestidad - e literária e porque, de fato, êle era auto no a s s unto , embora com érros e e quívocos no ridade seu manuscrito , p rinci palmente quanto a rebentos mais recentes e mais afastados de sua pessôa. De Antônio Cirilo, João �rígido fêz-lhe o que, entr e outras cousas, sabia traçar, em «Faleceu na 92 anos êste Fazenda Santa homem na terra, em come<:o tor, e s er como um que da necrológio, vida, se e a:gitou deixou escrito, na idade de tamanho ruido fê:z; para acabar co mo e spéc ie de Nes da história de seu conservou uma perfeita memória. Cirilo a sua pena Marta do Quixadá, tanto registro só que dizia: em campónio, de frase tempo, da qual muitas memó rias sõbre os acontecimentos de seu tempo, e uma genealogia de sua famllia, muito importante na ele outras politica eras, e com raizes n�bilíssimas nos tempos». E ver ifico, com prazer, que Esperidião de Que iroz que era meu tio-avô. tina de livro Queiroz. de cheio nuscrito de autor e memórias do de vez interessante Q uei roz, de que era livro Dr. Arcelino irmão germano de filho Lauren « Anti ga verdadeiras romanceadas, do Família muito se do Sertão», utilizou do ma Ciril o . Antônio Sõbre estes três livros, de A nt ôn io Cirilo, de Torcápio e de Espe r id ião, de que me u ti l ize i na ãestas confecção páginas, pretendo escrever um trabalho em conjunto. Sendo !; rande o número de famll ias entrelaçadas com os «Queiroz-Ferreira», em suas linhas ascendente, descendente ou colate ral, farei, em regra, menção em resumo dêsscs entrelaçamentos, apenas para destacar os vultos mais im portantes a elas ligados por essas mesmas linhas. I O PRIMEIRO QUEIROZ Corria o ano O drama landêses, de 1630 .. do Brasil-Colônia continuava . francéses e inglêses e mesmo A luta portuguêses e ntre portuguêses, espanhoi s e ho- continuava, embora por de cre to papalino o mundo estivesse dividido entre os povos penin sulares. É que a ganância e nada sat is faz a ferocidad e do homem. Alexandre VI p ensou fazer a paz entre os seus e os vizinhos com çado da linha iguais com os E x erc i a-s e , d<= Tordesi lhas. de casa. que divi dia turoso de Os mundo francêses, Francisco estivesse Assim, pólio e fugir Ptolomeu em larga o tra em partes es c ala, a o novo continente, onde fõra loca encóntrou a menina C.uneg undes. que tendo Janeiro e fundaram lheiresco o onde Cândido de Pedro AÍvare s Cabral havia descobe rto �ra a corôa do Ven era pomo de discMdia . ent re povoti n avegador e s da época da Renas Aquilo cença. · en tão, El -Dorado e munclo r ecém- descobertos, nos mundos pirataria, pirataria a q ue não podia lizado o o a ali a a frente França I procl amava dividido F rança, pela ··liberdade a entre Holanda de Villegaignon, antárti<'a, de desconhecer o Portugal e comércio, a C' que o .'!'udaz testam ento de Adão no e Rio c a va em que Espanha. Inglaterra, ou estabeleceram-se vez melhor, batendo-se pela contra o liberdade de mono con quista REVISTA DA ACADEMIA CEARENSE DE LETRAS 256 I ele novas terras- que não as i;t' c navegadores um pro fundamente r�l de seu velho mundo, plagas americanas. sectário, Mas f1 semelhante mandaram os clarivid ência d e ao ele prisioneiro seus navios Dom João Paiva III, apenas na prcsictêncla d a s letras, ciências e artes elo ren as c i me nto de Portugal, co mo u fõra o seu colega na ela Ci.claclc-Luz, que lhe geral garantiu crenças. ll1anclou-nos guerra, Tomé prudente, c a de que estabeleceu para o integridade Souza, foi territorial, Yaráo probo, Infelizmente que, em bõa hora, teve um �ubstituto à estouvado dissoluto, c guerra a fêz Brasil, pelos sei vagens, rhas rle Janeiro, fundou Francêses, Mem ele a futura Metrópole holandêses formadoras sem e do Vida! de Negreiros, pelo Dias, por Tomé Fernandes Sá. do idéia ele conquistas Os em plagas Vieira, brasileiras tragédias dramas c E ur o pa . onde a que se lhe que expulsos do representadas grande o !1t da Geral do Brasil. do QO Principe reinol que X, a seguiu se agora c conhecer as terras reino ... da II ele Espanha, Nassau do Gui anas, fundou oito que suas chegavam a consumara-se do ' n ..asil nas páginas dos A decadência em dezembro - Elvas homenagens ele ele rei bátavo Impôs-se em contra terras, a se via � por referiu consigna. ele uma (História da ·elo pai. unidade a para exalt::H.•ã.o e, sua fé da I Lusíadas, de começara de 1580, Portugal. c cala nas como im'ensa o Pernambuco, a poderosa o ainda no quando da e constituíram lndio foi as cantado e por I indústria proles mamelucas. proclamada a Paragussú>> se tornou cristã com o tarde Gonçalves Dias cantou-o no em prosa da pátria proveito embora . cele mãos reinado d e rei o firmando-se a li Espanha. dcsenvd'lvimenlo r- de Filipe Portugal e s o brinho elo Card ial-rei, de Dom Castela sua anos a f; canavicira e III em O domínio pequenina e o llo- povoamento ame r í ndi os, superioridade. nome da João recebia que o desbravamento rainha do que se entre A lenda apode rou-se clêle e Santa Hita Durão levou-o à côrte d e Henrique poema na voltou as suas vistas para solo a principio se processaram entre portuguéscs mosa arlmi muralhas Lisbõa apenas d i ferente com Antecede o drama do índio ao do negro da Afrlea. O onde pa s�a v a se No domlnio espanhol a Colônia ficou entregue it própria sorte. laçaram c anos. ciclópicas Varnhagen politica preocupar neto d e Dom Manuel seu antecessor. das época. abandonaram a Mas Portugal marchava a passos largos para a decaclência, brado e imortalizado Jaada André Assim é que pelo Regimento, de 17 ele dezembro d e 1548, E l - Re l queda <:onset·val' c nacional pe l o preto Henrique durante marltlmos, que ela Europa inteira. tamanho ele l!:sse esquecimento era tão certo e posltlvu 63). f a t o Página 8). II, de circundada ·por desco brimentos Venturoso govern�ntc quase dos Lusiaclas, Tomo fl)ho o primeiro Colônia, poeta (Os Brasil, Mas do o Brasil Rio elo forte br a nco «USineiro» Colônia se ressentiram as especlárlas ao t . enitório pelo c se aboletaram nas deu o notável nome Indla misteriosa, A guardava Camões, ao na antes d o abandono d o Brasil, estabelece o ilustre que não as de Veneza e Gênova. vez e Costa, colonial, francêses substltuicão indio Antônio FcJipe Camarão Pernambuco, cidade rle g ra ni to, da nobreza expulsando os B1·asil. brasilelm, ainda permanecem. Mas os bátavos, n:Iha paz de Sardinha, primeiro bispo pais em foram inglêses povo esquecer João Fernande� r,m-sc em na c de Souza na pessOa Os três povos europeus avançaJ'Rm sempre para o norte, ni�lrou a Jinguu Duarte entre o clero e a Coligny, símbolo ela Fr ança hugucnote no pelas raças ele experimentado substltuldo altura de dc·que resultou a imolação de Dom Pedro do Brasil um govêrno unidade Duarte da Costa, com o Who Alvaro da Costa - mo�o valente ele Mem ele Sá. mas a II, de onde a «for França. Mais «Timbiras» e Alencar cele brou-o no maior brasileira. Montaigne dedicou-lhe um capítulo REVISTA DA ACADEMIA CEARENSE DE LETRAS de seus estado A deu famosos de «Essais» e Rousseau convidou a humanidade a retornar ao natureza . .. resistência à 257 do cantada dos índio, poetas. no maneio Fale e Gilberto semeada da Freyre: «A terra, não enxada é correspon que não se firmou nunca na mão ·elo índio nem na elo mameluco, nem o seu pé ele nômade se fixou nunca em 1• - Vol. 212). pág. pé de bci paciente e sólido» que o selvicola brasileiro ao tempo do descobrimento É & («Casa-Grande Senzala» estava ainda no nomadismo, e a agricultura propriamente dita não lhe era ainda predominante. Na época larmente, a mestiçagem entre de vez que o português lusitanos e colonizador puritano, e nem encontrou no aborígene o índios se fêz, não tinha o normal e regu b nível cultural d obstáculos encontrados pelos espa nhols perante os Incas, os Aztecas e os Maias que tinham de ser destruidos, Çesde que o oriam dificuldades na assimilação adaptação a outra civiliza p ção que não as suas. Ante o o fracasso colonizador das valeu-se populações do amerinclias tráfego dos nos negros da rudes trabalhos escravizada rurais, Africa, em cujos braços encontrou os auxiliares que lhe faltavam no desbravamento dos campos, e em cujo ventre desenvolveu novas proles - os mulatos, nizando-se seus portuguêses, derivados índios - mamelucos e e negros em mulatos - novos para cruzamentos que surgisse confrater entre o si nosso e tipo ético no povoamento do solo. A população propriamente pais com italianos e alemães, dita, sem a impressão de que jamais teremos um v. g., do tipo sueco, animal. o de o caldeamento posterior no sul do tomou um tipo racial tão estranho que se tem tipo étnico uniforme, à semelhança, seleção tão perfeita como a do mais selecionado tipo Nas populações brasileiras ora predomina o tipo negro - Bahia, ora ameríndio - Piauí, além da predominância mais generalizada do tipo branco. Imagine-se que a cô11 da pele é ainda um problema de antropologia inso lúvel. É que se verifica; por exemplo, que os habitantes do Cabo da Bôa Esperança são bem negros, enquanto os espanhois e italianos na mesma d)s tãncla do Equador são brancos. Passada a mística do índio, do outro lado do A.tlânlico nos estudou-se fétidos profundamente o negro trazido e detestáveis navios negreiros. j': ve rificou-se a vantagem do negro sôbre o índio, negro que não foi só o «bantú», mas o negro hamita, inteligente mouro e sos tipos no e forte, em outros resultantes norte da Africo, cujas veias já dos constantes avançando corria o sangue caldeamentos com Gilberto Freyre que nos árabe, diver vieram de «área mais penetrada pelo islanismo, negros maometanos de cultura superior não sô à dos indígenas portuguêses betos uns, É que e filhos como de da grande quase maioria sem elos colonos instrução brancos nenhuma, - analfa semi analfabetos na maior parte». a capacidade mesmo no índio, ele transpirar no negro é maior que no branco ou «O que se explica por uma superfície máxima de evaporação no .negro, mínima no branco». dib, a portuguêses O tipo negro, alegre, (Gilberto Freyre, amoroso, op. cit., vol. folgazão, e o ameríndio, 2•, pág. 485). desconfiado, ·arre fugidio, cruzaram-se com os colonos através de séculos no Brasil-colônia, êsses «Senhores de pendão e caldeira, de baraço e cutelo, senhores cruzados», · que defenderam a Colônia contra o inimigo comum - o estrangeiro e desbra varam as terras, a riqueza trução de deu do a quando os dirigentes da nação lusa s·e convencerem de que não estava na Mafra, lhes reconstrução de India e sim no Brasil, deu um Rei-sol, Lisbôa, lhes lhes deu o cujo ouro deu brilhantes reconhecimento lhes deu a cons embaixadas, da lhes independência Brasil. A' ganância do europeu pelo ouro do Brasil, ou melhor, da Amériea, ar- REVISTA DA ACADEMIA CEARENSE DE LETRAS 258 rancou de Oncken estas palavras, Deus com uma rica presa». referentes à pirataria. « . . . no serviço de («História Universal», vol. XIII, pág. 813). Corria o ano de 1630, em pleno domlnio espanhol ainda no Brasil, ou me lhor, reira P,ernambuco sob o domlnio bátavo, quando chegou a Recife Manuel Pe de Queiroz, meu o setimnYõ, primeiro ascendente da familia por lapso Queiroz de Quixadá, no Ceará. Manuel de Queiroz permaneceu em Recife até 1641, de tempo de onze longos anos, entregue aos labores do comércio em que fêz alguma for tuna. Mas, não desejando continuar a empregar a sua atlvidade moça no comércio, pois ao chegar ao Brasil tinha apenas 20 anos de idade, transferiu seu domicilio e residência para as proximidades ele Goiana, cultor, gnde se fêz agri sem se imiscuir em política. . Requereu ali uma data de sesmaría com uma légua de frente sôbre cinco ele fundo, à margem esquerda do rio Goiana, onde se fêz rico agricultor e dono elo engenho «Jacaré•, cujas terras prosperidade e maior de anos sar-se. 50 desbravou de idade, e fêz prosperar. resolveu Manuel de Cavalcante de Já em plena Queiroz ca A sua escolha recaiu na pessôa de Dona Angela Cavalcante de Vas · concelos moca maior de 30 anos de idade, filha única do português Filipe de Brito Pereira da Rocha pernambucana, Dêsse e de sua mulher per tencente feliz enlace à antiga Manuel de e Joana tradicional Queiroz, à familia da semelhança de Vasconcelos, Caiptania. seus sôgros, só teve também uma filha de nome Isabel, que mais tarde veio a contrair matri mónio com o primo Antônio Duarte ele Queiroz, de quem me ocuparei opor tunamente. II GOIANA ( Pernambuco) No ano da graça de 1685 chegava a Recife, onde Manuel Pereira de Quei roz morara de 1630 a instrução, de· nome 1641, outro português, Antônio Duarte de jovem, Queiroz, inteligente, meu sexta võ, com t egular sobrinho de Manuel Peréira e filho de Manuel de Queiroz e Silva e de sua mulher Jerônima Pinto Nogueira, natural da vila de Amarante, enquanto os demais eram natu rais de Viana Antônio do Castelo, Duarte vinha lugares pertencentes em busca da ao reino América, ou de Portugal. melhor, do Brasil, à procura do tio, irmão de seu pai, desejoso de conhecer o Novo Mundo, tomado ao <<mar tenebroso», que tanto medo metia àqueles que não acreditavam nos antípodas. A audácia e ousadia dos navegantes de Sagres, riue, o Infante Navegador, cuja previsão e altos orientados por Don Hen esclarecimentos se eviden ciaram mais tarcle no sobrinho-neto, Dom João II, que reinou em Portugal de 1481 a Aviz, 1495, encarnando em si a belicosidade do Conquistador e do Mestre de seus antecessores, conquistaram o mundo. A êsse tempo a Colônia estava entregue a própria sorte, isto é, aos nati vos, na mais perfeita comunhão das três raças formadoras do povo brasileiro, e aos bátavos. É que Portugal ainda se achava sobretudo empenhado acontecimentos ela restauração, e a Holanda nas lutas com a Inglaterra, ensaiava os seus vôos altaneiros de futura Raiara, alegre e festivo em Lisbôa, . o dia o 8• Duque de Bragança, Dom Miguel de Almeida, gritava: Miguel de «Liberdade! Vasconcelos, dos mares. de dezembro de 1640, enquanto o futuro Dom João IV, e sua esposa Dona Luiza de Gusmão permaneciam no rico tela, rainha 1• nes que palácio ducal de VIla Viçosa. encarnando a resistência da pátria contra Cas Liberdade! traidor e fiel Viva a El-rei Filipe III Dom de João IV!», Portugal - enquanto Filipe IV · 259 REVISTA DA ACADEMIA CEARENSE DE LETRAS de Espanha -, armário, se trancava de mêdo e ainda por precaução, de clavlna em punho carregada, escondido num arma que de nada lhe serviu. Tudo correu, rápido e feliz, de modo que dentro de . poucas :horas a chan Braganca, na qualidade cela de Filipe III era substituída pela do Duque de de Dom João IV - primeiro rei da última dinastia de Portugal. Tudo tinha sido preparado com uma resolução inabalável, com uma disposição segura de ânimos, tanto que «os conjurados, preparando-se para morrer, se o movimento fosse jugulaào, tinham-se confessado e comungado; alguns fizeram testamento. Senhoras houve - afirma-se Isso de Dona Filipa de Vilhena, Condessa de Atouguia e Dona Mariana de Lencastre - que, na febre da mais pura devo cão patriótica, armaram por suas próprias mãos os filhos, para que o exemplo do o valor maternal lhes estimulasse mais dever». (História de Portugal, Vol. ainda seu E:sse grande acontecimento da v, pátria o pág. de desejo de bem cumprirem 284). Camões e Vieira, dignamente comemorado em 1940, trouxe também satisfação à Colônia, porque os próprios holandeses lhes proclamavam estranha, Pombo, mas aos «Que não era feita a Portugal Filipes - os grandes tiranos História do Brasil, Vol. IV, pág. a da agressão que se Holanda!» (Rocha 449). Antônio Duarte, chegando a Reci(e, ali não mais encontrou o tio Manuel de Queiroz, mas teve notícia de depósitos de açúcar do engenho Jacaré distava cêrca de uma légua ao norte de Goiana, que aonde o recém-chegado foi em busca do tio e ali fixou residência em companhia de Manuel de Queiroz, que era então agricultor abastado. O casal Manuel Pereira e Angela Cavalcante, Brito e Joaquina Cavalcante, pais de Angela, à semelhança de Filipe de teve apenas uma filha de nome Isabel que, na chegada do primo à Goíana, já era núbil, pois contava 14 anos de idade e, dade crn assim, podia cotnrair matrimónio de vez que na época Em realiza-se 1687 o consórcio de Antônio Duarte com a prima Isabel, plena mocidade os dois nubentes: êle com 22 e ela com 16 anos de idade, com satisfação geral, ela fam•lla salvo algumas restrições por parte de alguns' membros Cavalcante-Vasconcelos, que de certo desejavam a mão da jovem e rica herdeira para algum descendente de sua família, cional na Colônia. 1692, A êsse tempo nesga Europa à o e Antônio em espírito de terra de que �a Francisca, em 1696. aventura seja beira-mar plantado», permanente. já radicada e tradi Deste feliz enlace nasceram-lhe três fllhos: Bertoleza . em 1694 estreita ela a puber indicava a idade do casamento. elos portugueses, esprimidos ocidental praia lusitana» continuava a ser um fato ou o nessa «Jardim inconteste e As naus e caravelas elos descobrimentos marítimos a trazer ou a le,·ar lusitanos para o oriente ou ocidente. No meio dêsses aventureiros se contou Antônio Dias da Costa, que se estabeleceu em São Bernardo do Jagua ribe, na capitania elo Ceará. Este português tinha por hábito ir todos os anos às feiras de Goiana, em Pernambuco, mesmas onde vendia as suas cavalhadas e comprava com o produto das fazendas em Recife, dência e de seus negócios. que trazia para Jaguaribe, Jogar de sua resi Nestas estadas nas feiras de Goiana teve encon tros contlnuos com Antônio Duarte, ele quem Antônio Dias se tornou grande amigo, amizad e que se prolongou até a morte entre os dois portuguêses. Por associação de idéias a discussão, que assisti aos 10 a ampla e palavra .feiras» me 12 anos de idade, traz à lembrança forte entre meus tios Facós, .na arejada sala de jantar do Sitio «Lucas», em Beberibe da comarca de Cascavel, que servia concomitantemente de sala de refeições e de estar, embora houvesse uma espaçosa sala de visitas, onde se encontrava o oratório grande · d� madeira em que o meu avó tirava o terço de todos os dias. O Lucas per tencia a meu avó materno e pai de criação, João Facós, que ali se achavam em visita costumada aos Tomaz tios e Ferreira, primos. tio dos REVISTA DA ACADEMIA CEARENSE DE LETRAS 260 Discutiam se o primeiro dia 4ia semana era «domingo» ou «Segunda-feira:o. porque queera domingo, outros sustentavam enquanto nha o descanso, do trabalho é que vi porque depois Sustentavam uns que era segunda-feira, antes do trabalho devia haver preces a Deus para o bom êxito da semana iniciada. Apenas, de quando em quan Meu avô ouvia-os calado, sem dar opinião. do, repetia: Xi! Xi!, admirativa de seu uso, nos ocasiões em que assistia ou E eu, na minha meninice, fiquei na Igno ouvia algo que lhe não agradava. rância 4io primeiro dia da semana, de vez que não houve vencidos e vencedo res na discussão, Antônio ficando cada um com a sua opinião . .. Duarte, senhor !oi palavra usineiro), de engenho rico (ao tempo não se empregava a induzido pelo amigo António Dias a comprar terras de criar e plantar no Jaguaribe e situá-las com ga�o vacum, cavalar, e de outras espécies. Parte dessas terras ficava à margem do rio Jagualrbe e recebeu a denominação de «Bôa-Vista» e outra à margem direita do Banabuiu - anu ente da margem esquerda do maior rio sêco do mundo. A meia légua de 'terra do Bonabuiu recebeu o nome de «Raposa-Branca», em vista de António Dias, raposa branca, conforme a quando fõra narrativa vez branca nos climas tropicais, de all pela primeira de António vez ter Não visto uma existe raposa que a côr do pêlo do animal varia com o clima, a bem da defesa do próprio animal. decerto, o pêlo bem claro. Cirilo. A raposa de Antônio Dias tinha, Ou estava com a «Côr protetora»? ... As novas propriedades de Antônio Duarte distavam entre si cêrca de três léguas, embora ambas nas cet·canias de «Barro-Vermelho», de que tratarei no capitulo seguinte, de vez que tem grande importância na cronologia da famí lia Queiroz. As fazendas curador. prosperaram Associada essa Antônio Dias a e deram grandes _lucros ao circunstância Antônio Duarte, désse um passeio a Jaguaribe, importante ao no Ceará, Assim. pertencia na em 1700, Antônio à capitaniâ sufragânea da capitania Duarte de e a Goiana, para que o para conhecer priedades resolveram a vinda do dono do visita ao que lhe à sempre que ia enge . nho do proprietário as suas <<Jacaré» pro de amigo novas pro a Jaguarlbe em Ceará. famllia transportaram-se, Pernambuco. e convite permanente Nessa época já eram a passeio, acesas as divergências entre os «mascates» de Recife e os nativistas de Olinda, o que não perturbava a vida de senhor de engenho de Antônio Duarte que não era polltico. Aquela comunhão de interêsses, aquela harmonia de vistas, aquele ardor nas lutas das três ra<:as irmanadas contra o bátavo invasor haviam desapa recido e dado margem a forte antagonismo entre os mascates e os patriotas. João Ribeiro, na sua pequena-grande «História do Brasil», escreve: «Pouco de pois da guerra holandêsa, em Pernambuco, pouco a pouco nascendo o odioso antagonismo entre a aristocracia brasileira dos senhores de flJlgenho, que em geral tinham casa em Olinda, e os negociantes portuguêses, o Recife eram apelidados, com desprêso, de mascates». que habitavam (2• edição, de 1901, pá gina 213). Era a luta que se esboç-ava e avançava em Minas Gerais entre nativistas e emboabas, brasileiros e portuguêses, contra a cobiça do ouro que embar cava para Lisbôa para custear as brilhantes embaixadas e as obras suntuárlas do Rei-Sol de Portugal, dando togar à Inconfidência; e no norte a mesma luta entre «mascates» e nativistas, luções de «17» e «24». os nossos dias. dores e brasileiros, produzindo as revo Assim é que, há menos de meio século, entre nós, os vende de objetos metro». portuguêses E êsse odio aos portuguêses ou estrang2ir0s ve:o até de armarinho tinham o apelido de «mascates» ou «bate Antônio Duarte viera ao -ceará no propósito de voltar a Pernambuco, onde ninguém ·lhe fazia móssa, não obstante ser português, mas não era comer- " 261 REVISTA DA ACADEMIA CEARENSE DE LETRAS ciante ele leira. Recife, que É e êle sim era senhor casado ele na engenho, familia e tradicional familia ele Pernambuco, pertencente à cnobreza» «Cavalcante Vasconcelos», brasi antiga com a circunstância ainda ele nas veias de sua mulher Is a bel jâ correr o seu sangue: Queiroz. A Antônio Duarte e dona Isabel Cavalcante êsse passeio foi fatal, custan do-lhes a vida, o que importou na transmigracão da familia Queiroz de Per nambuco para o Cearâ, que, crescendo e mnltiplica.ndo-se, hã derramado gente ilustre nas letras e nas armas por este vasto Brasil. O casal fez pousada na fazenda <<Bôa-Vista», não só porque era mais próxima de Golana, como porque lhes oferecia mais confórto e melhores aco modações. Ali faleceram Antônio Duarte e dona Isabel, assim como o bom amigo Antônio Dias da Costa, todos de febres malignas. Ficaram-lhes os fl lhinhos apenas de 8, 6 e -1 anos de idade cm meio hostil e em mãos de es tranhos. Dona Isabel soube suscitar ressentimentos entre si e os Brltos, gente par da, quando se dizia arrependida do passeio e pedia a Deus que a livrasse de ter filhos. ali, pois não via naquele meio ninguem na altura de os apadrinhar. A morte cio casal Queiroz-Cavalcante trouxe a orfandade para os meno res e os pôs às mãos de estranhos despeitados, paro: e os bens de fortuna ao desam os de Pernambuco em poder dos Cavalcante-Vasconcelos e os do Ceará em poder houve, dos de Britos. Ali, que Filipe vez simulou-se Pereira uma Duarte, procuraram os autos dessa praca Os Britos, os encontraram. parentes brancos de dona pedaços arrematação, Cavalcante nos e Isabel, denominado «Barro Vermelho» aos de vez decerto, netos nunca de Antônio cartórios competentes e nunca foram mais honestos que os pardos e ofendidos, ele terra com meia légua que, irmãos, que deixaram três escravos e três de frente sôbre herdeiros. meia de fundos, A justica deu-lhes, no Jogar às crianças, tutor que lhes comeu os bens e lhes impôs castigos que lhes deixaram marcas no corpo e na alma. O menino António Duarte Filho, ao atingir a idade de 14 anos, fugiu em companhia de seu escravo de Barro Vermelho, vindo a falecer em caminho, em Pedra-Lavrada (Serra da Borborema), de febre maligna, quando, i.a à procura ele seus parentes Cavalcante-Vasconcelos que êles e procedimento Bertoleza pior que os Britos de «Bôa-Vista». permaneceram em companhia do de certo, tiveram para com As meninas Francisca tutor. Antônio Cirilo, em sua Genealogia, raz uma observação digna de sua inte ligência: «Foram os bens furtados que mais tempo têm durado . em poder (los (êle escreveu, na fazenda Açude, em herdeiros de ladrões; hã quase 200 anos Quixadã, em 1890), e ainda hoje o engenho «Jacaré» pertence a Cavalcante Vasconcelos». O casal Queiroz-Cavalcante foi sepultado na fazenda de uma cruz ali existente, fazenda que, guês João Batista Pereira de Castro que, � posteriorme te, «Bôa-Vista», pertenceu ao ao pé portu sendo filho da mesma terra de An tônio Duarte de Queiroz, Vianna cio Castelo, em Portugal, e seu parente, man dou construir uma capela à memoria do casal Queiroz, capela que foi, poste riormente, José por duas Ferreira Batista de vezes reformada Castro, pelos respectivamente, Pereira de 'Castro, o primitivo Padres neto e José é' bisn t9 Pereira elo de Castro português construtor da capelinha. Nela e João foram sepultados outros Queirozes, de quem tratarei noutras pâginas dêste liv.ro.- � de Esta capela foi depois a Igreja de São João elo Jaguaribe, hoje cÜstrl o Jnndolm do municlpio de Limoeiro do Norte. de · Antônio Duarte de Queiroz, o filho cadete de Manoel de Queiroz e Silva, Vianna do Castelo, e de dona Jerônima Pinto Nogueira, da vtla de Ama· • REVISTA DA ACADEMIA CEARENSE DE LETRAS 262 ---- rante. localidade do reino de Portugal, deixou três irmãos em Portugal: Pereira de Queiroz Lima, Braz José Pinto de Queiroz Lima e Pascoal Nogueira de Queiroz; Isabel Cavalcante Vasconcelos ele Queiroz, mulher ele Antônio Duarte, era filha única, como sua mãe Ângela Cavalcante ele Vasconcelos, ele quem já tratei. o português João primitiva a construir Batista Pereira de capela de seus amigos Antônio Duarte de Queiroz e de dona Isabel respectivamente, celas de Queiroz, era avô e bisavô, dos túmulo o sôbre Jaguaribe do mandou como já disse, que, Castro, João São de Cavalcante Va�con· Padres José Pereira de Castro e José Ferreira de Castro, que, cada um de per si, reconstruiram a capelinha, melhorando-a. aumentando-a c Era bisneto também clêsse português Manuel Pereira de Sousa Maroto - · pai da segunda mulher elo Capitão-mar José �Pereira Filgueiras, segundo Antõ· nlo Cirilo, em sua «Genealogia». III BARRO VERMELHO (Ceará) Em 1710 de vinham para o Brasil mais três portuguêses - Inácio Pereira Queiroz Lima, Vitoriano Nogueira de Queiroz e Joaquim Pinto de Queiroz, na turais de Viana do Castelo no reino de Portugal, e sobrinhos segundos e legl· tlmos, respectivamente, de Manuel Pereira de Queiroz e Antônio Duarte de Queiroz, os dois antepassados mais remotos da linha masculina dos Queirozés do Ceará, Brasil em de Queiroz e de quem já 1710, tratei neste livro. Os portuguêses, vindos para o eram filhos: Inácio Pereira de Queiroz Lima, de Braz Pereirfl Lima e Maria da Silva Sampaio; Joaquim Pinto .Tosé Pinto de Queiroz Lima e de Antónia de Queiroz, Maria de Sampaio, ambas irmãs de . � naturais de Bragança em Portugal; e Vitoriano Nogueira de Queiroz, de Pa� coal Nogueira de Queiroz e de Ana Vitoriano Borges da Fonseca, natural tam· · bém de Bragança, mas sem parentesco com as duas primeiras. . Vinham os três Queirozcs em procuru dú tio António Duarte de Quelro'?. Desembarcaram em Recife, onde não encontraram mais ram que êle estava rico em Goiana, dono do engenho com a fam!lia - mulher e três filhos - a ·passeio, o tio, mas «Jacaré». à soube· Dali seguira capitania do Ceará, onde possuia fazendas de criar, e ali morreram marido e mulher, ambos vitl· mados por febres malignas, deixando filhos. Souberam ainda que os parentes do de casal, em Goiana, tinham-se apoderado tudo que éies possuiam, no <'ngenho Jacaré, no caráter de r�s nullius. Com essas informações seguras sõbre o tio e família, os moç-os lusos to· maram o rumo de Aracati, no Ceará, na zona do Jaguaribe, onde souberam que havia duas mo<;as orfãos, filhas de Antônio Duarte de· Queiroz e de sua mulher dona Isabel· Cavalcante Vasconcelos de Queiroz, em São João do Ja guarlbe. Inãclo Pereira de Queiroz Lima e Vitoriano Nogueira de Queiroz ram matrimónio, em São João do Jaguartbe, localidade a que contrai· não chegou Joaquim Pinto tle Queiroz que !!cara em Aracntl, respectivamente, com Fran· rls<'a Cavalcante Vasconcelos de Queiroz e Bertoleza Cavalcante Vasconcelos de Queiroz. O mais moço dos três, Joaquim Pinto de Queiroz, não tendo, em Jaguarlbe, prima com quem se casar, tomou o rumo do Rio Grande do Norte, rasando-se em Assú com uma moça da fam!lia Fernandes. A demora nos casamentos das duas mocas com os primos foi apenas do lapso de tempo necessário para obtenção da dispensa de parentesco (2• grãu canónico). O velho missionário .João da Costa celebrou os matrimónios na cape linha em que t es avam sepultados os pals e sogros dos nybentes, e na quaJ · I REVISTA DA ACADEMIA CEARENSE DE LETRAS se sepultaram mais tarde os quatro felizes Os jovens casais fixaram residência nubentes nas terras de daquele 263 venturoso dia. «Barro-Vermelho», na ribeira do Banabuiú, cada um no quarto de légua que lhe deixaram os «mal feitores» por e a justiça da época, toda a O rio Banabuiú afluente importància Ceará, no o Sitiá, da elo �<'atos>>, ou por A propósito margem Queiroz, esquerda, através tem grande do interior elo Barro Vermelho foi o ponto intermediário dêsse desenvol Familia página à da família na sua transmi-graçào no Ceará, e não diretamente de equívoco Inácio e clona Francisca o fiz�t·am Jaguaribe, desenvolvimento ele vez que vimento sendo que vida. desconhecimento, 154). do Banabuiú. nabuiú é o «doido>>. de Goiana, em Pernambuco, para Pernambuco para Quixadá, como por disse João Erigido Para os ribeirinhos (<<Ceará - Homens e elo baixo-Jaguaribe o Ba que êsse rio, além ele engrossado pelo Quixeramobim, É desce caudaloso em terreno indinaclo, ele modo que, quando se precipita no rio principal, lhe aumenta transbordando repentinamente do Jeito, o se espalha pelas volume dagua margens e do inunda Jaguaribe, vá•·zeas, e cidades. 1917 Tive de ver essas Inundações, embora sem o volume dagua de quando juiz de União, ora Jaguaruana, em insulavam a cidade e davam as ruas <<estradas l!quidas», viais que desciam destruidora cente, pelas no ano 1919, extinguido a pecuária, a e 1922. passeios e e de encachoeiradas . na campos, que havia fazendo calcinado numa desolação de canoas, os a campos, e 1922 recém-nato, tomava eu, Imêlda ora casada com o Dr. climática estiolado a sêde que em companhia de minha mulher Maria, precipitada crise produzir e espalhar. Em tornando-lhe Eram as águas flu· invasão esquecer fome 1924, e As águas do Jaguaribe pm constantes movimentos. abundantes cidades de margem 1921 que, campos Filipe c só' a e re lavoura, sêca sabe 1 três filhos Franklin de (um Lima) a canôa na rua principal da cidade - rua Padre Graça - na calçada alta da residência de Pedro Evangelista - primeiro suplente de juiz municipal. a minha mulher que devíamos ir to<jos, porque, ficava ninguem E da família imensos perc orremos lençóes canoeiro-chefe. sando pela as em que, de estrada que várzeas do por homens Jaguaribe. cujas às vezes, se retietem apenas en\ quando, me dizia: �seu quando Dizia lle perecimento, não que se constituía. nessa frágil embarcaç-ão, impulsionada dos remos, no caso conduz à cidade», ou peritos no àguas pedaços doutô, «estamos manejo formavam de O céu. estamos passando pas sôbre a casa de Fulano», casa que havia desaparecido de todo no ondul&nte e extenso lago de água doce, ou ainda «estamos no leito do rio». E no meio daquele imenso lago de água doce quase calmo, não perdiam a veia espirtuosa. os canoeiros É que o caboclo cearense tem o espírito sem pre pronto e resposta adequada a qualquer pergunta que se lhe faça. é que no mesmo ano, 1922, em fins dáguas tive que vir a Fortaleza, a chamado do presidente do Estado, de Serpa, para Dr. que queria consultar-me sôbre a minha nomeação de juiz Lavras, ora Lavras da Mangabeira, Assim (na segunda quinzena de inalo), Justiniano de direi�o de que o Presidente não tinha bôà. impressão. Viajava em minha companhia, na qualidade de bagageiro, um caboclo da . Ao passarmos pela povoação e Passagem das Pedras, ora vila de Itai d terra. caba, pertencente a meu Termo judiciário, ·e que fica bem próximà ao leito do rio, verificamos que as casas de taipa, isto é, construídas com madeira entrelaçada e enchimento de argila estavam com cintura de um homem e o madeiramento a nú. disse: «Olhe, Inác)o seu doutó, Pereira de este� Queiroz prédios Lima, estão meu todos o barro caído Olhando-as, sem qliintavf•, à o altura da caboclo me residiu no cerou!as». que sempre REVISTA DA ACADEMIA CEARENSE DE LETRAS 266 qualquer combinacão com a esposa e sem consulta à filha, bom marido e pai casarn1 A senten<:a, gôsto. desvelado, Helena A Joaquim fazenda Correia, encastelado << Papagaio» à ficava sua podia continuar . . . Numa deu a entender que iria lar distância outrora véspera de de férrea, uma não légua da cedia. capela do A atmosfera de desconflanca, bafejado domingo à tnissa no dia como seres estranhos, vontade Apodí, hoje Matriz na cidade do mesmo nome. de mal -estar reinante naquele trouxe-lhes profundo des lar comum, na embora êle fosse Tubarão. que lhes impunha o marido e pai, Mãe e· filha· passar11,m um mês no enquanto com por harmonia cristã, benfazejo, seguinte. Dona aquim Anastáci a não Correia nada lhe disse, mas, na manhã do domingo designado, prepar-ou-se, e, quando o marido cavalgou a allmária que o levaria ao povoado, dona Anastácia tomou assento à garupa do animal. Fizeram a viagem qe uma légua sem a troca vras, sem que ela tocasse no marido, pois se segurava apeans à de pala lua <la sela. Ela agiu como, em regra, sabem fazer as mulheres, de modo sutil, caprichoso e dominador, nos momentos difíceis. e À missa fôra também Tubarão, dona Anaslácia pôde constatar o cordial entendimento entre êle e o marido, o que lhe causou a maior angústia. Assistiu missa e, decerto, entregou-se a orações e rogativas a Deus, revestindo-se da necessária resignação e fôrç-as para vencer aquêle propósito chocante, aquela teimosia absurda do marido. E na volta para casa tomou de novo assento garupa do cavalo mas numa atitude do marido, diferente da ida. à Não mais pôs as mãos na lua <la sela e sim nos ombros do marido e, estreitando-o nos braços, carinhosa rebeldia, no e humilde, seguinte - «Marido, conseguiu o que jamais diálogo consignado por António obteria com revolta e Cirilo: não casemos nossa filha com aquêle hom em, a quem tanto aborreço». - <<Mulher tranquilize-se, descanse seu coração que, desde já, está aca bado êsse casamento�. Assim, o gêlica, bom senso de mulher venceu a forte e destemida, obstinação inq·uallficável do marido e a desi gual que Joaquim Correia proj etava para O marido à altura de Helena, mas prudente e ev·an minha evitou .um casamento . q uartavó. a primogénita do casal da fazenda gaio», estava na fazenda «Barro Vermelho» Inácio Pereira de Queiroz Lima e de sua ; no Jaguarlbe. mulher dona Pereira de Queiroz, Inácio meu de Cavalcante na pessôa de Antô q uartavô. Pereira, português de fino trato, à serra do <<Papa propriedade Francisca Vasconcelos de Queiroz, no primogénito dêste feliz casal, nio de «Martins», no Rio Grande do fôra uma vez de Barro Vermelho Norte, em viista de · cortesia a seu primo-irmão Joaquim Pinto de Queiroz, um daquêles três portuguêses, primos entre si. chegados a Aracatí em 1710, que, não tendo prima com quem se casar em Jaguaribe, seguiu para o Rio Grande do Norte, onde se fêz fazen deiro, na Serra do Martins, e casou com uma moça da fam!l!a Fernandes. Joaquim Pinto de Queiroz não teve a gentileza de retribuir a visita de cor tezia do primo, mas· êsse passeio ensejou zea do Apodí, em casa de tempo, fêz uma visita de Joaquim retri buição no Seguiram-se vis!ta·s mútuas entre as duas tes, 1stabelecendo-se intima à Correia amizade Inácio de Barro Inácio Pereira com Antônio . Pereira de Queiroz, entre Vermelho melh{), plhos que, i;egundo Esperidião verdes que vira no Apodi». de a Inácio Pereira. elas. Joaquim Correia procu'rou a quem propôs o casamento o filho Vár que dentro em poueo famílias que se tornaram frequen Desfeito o casamento de Helena com Tubarão, em Barro Vermelho a Pereira · descanso na Araújo, mais Queiroz, de Helena velho do casal do Barro Ver guardava «a lembranca de uns A proposta de casamento foi do agtado das REVISTA DA ACADEMIA CEARENSE DE LETRAS 267 duas fam llias, e, não havendo qualquer parentesco entre os nubentes, o casa mento realizou-se Este dentro de poucos dias. casamento propiciou mais dois entre os rebentos das duas famílias; de Jo�é Pereira Cavalcante Francisca Correia. da Rocha e Maciel c Ana Pereira de Simeão Queiroz, Correia de fllhos Arauúo, de Inácio, de fllhos Estes três casamentos identificaram pelo resto da vida os seis felizes nubentes e respectivas ramllias. Os sogros e cunhados de Simeão Correia fizeram-no mudar-se com mllla para a ribeira do Banabuiú, ficando Antônio Pereira no Poço onde fixaram Correia de Araujo residência os três a fa casais, da Serra, onde tinha grande solta de gados. Em Jaguarlbe Antônio Pereira de Queiroz, meão com Joaquim ocuparam, José Pereira Cavalcante e respectivamente, os postos de SI Capitão, Tenente e Alferes do -Regimento de Cavalaria de São Bernardo do Jaguarlbe. Mais tarde, depois da morte elos pais e sogros Inácio Pereira de Queiroz Lima e dona Francisca Cavalcante Vasconcelos ele Queiroz, no lapso de tempo 1 3 dias, e sepultados na capela de São João Batista, onde já estavam Duarte de Queiroz e dona Isabel Cavalcante Vasconcelos de Queiroz, casais fixaram residência na ribeira do Sitiá. no Sitiá foram os troncos primitvos dos Estes casais, Queirozes uma vez do Ctirralinho, ele Antônio os três fixados da Várzea d a On �.a e do Contrato ou Passagem Funda. Joaquim Correia de Araujo e dona Anastácia Maciel de Melo, já velhos, venderam suas terras das várzeas do Apodí, no Rio Grande do Norte, e vie ram morar no Sitiá, ao lado dos fllhos e genros, onde compraram terras a que deram o mesmo nome que Unham as suas terras do ,Apodl - «Papagaio». O casal VItoriano Nogueira de Queiroz e dona Bertoleza Cavalcante Vas concelos de Queiroz teve descendentes que foram troncos de famlllas de dife rentes lugares. Duas f1lhas foram, involuntAriamente, envolvidas em sanguino lento drama, de que tratarei no cap itulo - «Tragédias de Famllla». O filho Antônio Nogueira de Queiroz C'asou na família Martins ele Jagua rlbe e Antônio Nogueira de Queiroz Saldanha, irmão do Pe. sofreu as consequências Fllho com uma fllha de Francisco Carlos Miguel Carlos Saldanha, de sua participação antigo vigário de Crato que no movimento revolucionário de «17»; Manoel Nogueira de Queiroz casou com uma moca da família .Campos de Frade (ex-Riacho do Sangue ) e sua fllha Ana Maria casou em Riacho do San gue na famllia Pinheiro; e casou pela segunda vez com uma irmã do Capitão mor Luiz Gomes da Silveira, de Baturlté, avô da mulher de João Nepomuceno da Silva, e cujos filhos se espalharam por Baturit� e Plaul; João Nogueira de Queiroz casou com uma descendente do casal dQ Tapuia rã, Tenente Inácio Lopes e Joana Batista, f!lha de Antônio Alves de Lima e sua mulher Helena Rosa de Queiroz, de nome Maria d e Jesus. Há ainda des cendente em de dona B!!rtoleza en t rel açado com a fam!lla Granja de Urucur! Pernambuco. A mãe de VItoriano Nogueira de Queiroz, A n a VItoriano Borges da Fon seca, era tia-avó de Antônio José VItoriano Borges da Fonseca ' que foi Gover nador do CearA de 25 d e abril de 1765 a 3 de novem bro de 1781. Antônio Borges da Fonseca, avô materno do Desembargador gllelra Borges da Fonseca, era filho dês·se Paul!no Governador. < Conttn(ta) No