Rev. Bras. Fisiot. Vol. 4, No. I (1999), 39-47
©Associação Brasileira de Fisioterapia
INCIDÊNCIA DE LESÕES NO FUTEBOL: UM ESTUDO PROSPECTIVO COM
JOGADORES MASCULINOS ADULTOS AMADORES CANADENSES
Ladeira, C. E.
Department of Physical Therapy, Faculty of Rehabilitation Medicine, University of Alberta, AB, Canada
Correspondência para: Carlos E; Ladeira, Physical Therapy Program, College of Allied Health, 3200,
South University Dr., Ft. Lauderdale, FL 33328-2018, EUA, e-mail: [email protected]
Recebido: 10/07/98- Aceito: 15/09/99
RESUMO
Esta investigação incluiu o estudo da incidência, recorrência, circunstâncias e conseqüências de lesões futebolísticas. Sessenta e dois
jogadores amadores canadenses sofreram 22 lesões durante um campeonato de seis meses. A incidência de lesões foi de 13,4/1.000
horas de partidas de futebol. O índice de recorrência de lesões foi de 27%. Oitenta e seis por cento das lesões afetaram os membros
inferiores (Mis) dos atletas: 32% foram estiramentos Iigamentares e 36% foram distensões músculo-tendinosas. Sessenta e quatro
por cento das lesões foram causadas· sem contato físico entre jogadores. Apenas 9,1% das lesões foram consideradas graves. Apesar
da pequena amostra de jogadores estudados e do pequeno número de lesões observadas, os resultados deste estudo foram similares
às características de lesões no futebol publicadas em outras investigações.
Palavras-chave: futebol, lesões, incidência, epidemiologia, distensões musculares, estiramentos ligamentares.
ABSTRACT
This study researched the incidence, the recurrence rate, the circumstances, and the consequences of soccer injuries. Sixty two players
were studied during a six month outdoor soccer season. Twenty two lesions were observed. Game injury incidence was 13.4/1000
hours. Injury recurrence rate was 27%. Eighty six percent of the injuries affected the lower extremities of the players: 32% were ligament
sprains e 36% were musculotendinous unit strains. Sixty four percent of the injuries occurred without foul play and/or physical contact
among players. Only 9.1% of the injuries were considered major or serious. Despi te the small sample size studied and the small number
of injuries observed, the results of this investigation were similar to soccer injury incidence and characteristics published elsewhere.
Key words: soccer, injury, incidence, epidemiology, muscle strains, ligament sprains.
INTRODUÇÃO
O futebol é responsável pelo maior número de lesões
desportivas do mundo (Frank, 1977; Keller et al., 1977).
Este número de lesões é tão alto que de 3% a 10% de traumas
físicos tratados em hospitais europeus são causados pelo futebol (Frank, 1977). Em um estudo conduzido na Noruega, trabalhadores perderam 91.500 dias (em um período de
cinco anos) de trabalho devido ao tratamento de lesões futebolísticas (Roaas & Nilson, 1979). Nos Estados Unidos,
o custo médio do tratamento de cada lesão futebolística em
uma escola de segundo grau foi calculado em 126 dólares
(Pritchett, 1981). Na França, uma companhia de seguro saúde
estimou que gastou aproximadamente 20 milhões de dólares
em um período de um ano para cobrir lesões do futebol (cus-
tos médicos, pagamento por dias perdidos de trabalho e
morbidade física) (Berger-Vachor et al., 1986). Os autores
deste trabalho não têm o conhecimento de estudos
epidemiológicos de lesões futebolísticas no Brasil. Entretanto,
devido à paixão do brasileiro pela prática e jogo do futebol, provavelmente há uma enorme população neste país que
sofre com tais lesões. A epidemia mundial de lesões futebolísticas com suas devidas conseqüências sócioeconômicas
é indiscutível. A melhor maneira de diminuir a incidência
dessas lesões parece ser por meio do estudo da prevenção
das mesmas.
A prevenção de lesões desportivas deve se basear em
um estudo epidemiológico de lesões. Médicos, fisioterapeutas,
e treinadores físicos devem compreender a incidência, a
porcentagem de recorrência, a localidade, a natureza, as
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Ladeira, C. E.
circunstâncias e as conseqüências de lesões futebolísticas
para combater suas causas (Keller et al., 1987). Profissionais que reconhecem situações perigosas nas quais acidentes ocorrem, podem educar os jogadores para evitar
lesões. A determinação de fatores de risco no futebol ajuda
na prevenção de lesão nesse esporte.
Portanto, esta pesquisa teve quatro objetivos:
I. determinar a incidência e a porcentagem de
recorrência de lesões no futebol;
2. determinar as circunstâncias da ocorrência (durante
jogo, treino ou insidiosa; origem direta ou indireta)
e conseqüências (tempo sem poder jogar ou treinar
e atenção médica) das lesões;
3. determinar a localidade das lesões (joelho, tornozelo,
entre outras);
4. determinar a natureza das lesões (estiramentos, fraturas, distensões, contusão, entre outras).
DEFINIÇÃO DE TERMOS
Definições são muito importantes em pesquisas
epidemiológicas. Sem definições de termos, pesquisadores não podem comparar os resultados de suas investigações (Keller et al., I987). Por exemplo, um estudo que
registra apenas lesões atendidas em hospitais não inclui machucados (pequena distensão muscular, dente quebrado, entre
outras) que não requerem uma visita hospitalar. E assim,
este último trabalho não poderia ser comparado com uma
investigação em que lesões são registradas por um fisioterapeuta em contato direto com o jogadores de futebol de
um clube. Portanto, a necessidade das definições abaixo:
I. Uma lesão futebolística foi definida como qualquer
machucado que ocorresse em uma prática ou jogo
de futebol e não permitisse que o atleta voltasse ao
treino ou partida no mesmo dia ou dia seguinte à
lesão (Keller et a!., I987; Noyes et al., I988).
2. Uma recorrência de lesão foi definida como qualquer
machucado que ocorresse dentro de oito semanas
na mesma área do corpo e com características
similares a uma lesão anterior (distensão músculotendinosa, estiramento ligamentar) (Ekstrand et al.,
1983).
3. Lesão direta foi qualquer machucado que ocorresse
devido à colisão física entre jogadores ou entre um
jogador e qualquer outro objeto; por exemplo, uma
fratura na extremidade superior após uma queda ou
um estiramento ligamentar de joelho causado por
um chute, um carrinho ou uma rasteira (Kirdendall
& Wiiker, 1988).
4. Lesão indireta foi qualquer machucado que ocorresse
sem uma colisão física, como um estiramento
ligamentar de tornozelo, quando um jogador torce
seu tornozelo tentando driblar seu oponente e rompe
ligamentos sem nenhum contato físico com outro
jogador ou contato direto com o solo, ou uma
distensão muscular quando um jogador rompe fibras
correndo sem contato com nada ou ninguém
(Kirdendall & Weiker, 1988).
5. Distensão foi usado para referir-se a uma lesão
indireta na unidade músculo-tendinosa, incluindo
tendinites e excluindo contusões (Ekstrand et a!.,
1983; Ekstrand & Gillquist, 1983; Eriksson et a!.,
I986).
6. Estiramento foi usado para referir-se à uma ruptura
ligamentar articular, causada indireta ou diretamente
(Ekstrand et a!., I983; Ekstrand & Gillquist, I983;
Keene, I990).
7. Atenção médica refere-se apenas ao atendimento
de um jogador em um consultório médico, não
importa o tipo de tratamento (injeção, medicamentos,
cirurgias etc.) para lesão.
8. A seriedade de cada lesão foi classificada pelo tempo
que o atleta machucado não jogasse futebol (incluindo treinos) (Keller at al., I987; Noyes et al.,
I988): (a) suave: de um à sete dias sem participação;
(b) moderada: de oito dias a quatro semanas sem
participação; e (c) grave: mais de quatro semanas
sem participação.
METODOLOGIA
Sujeitos
Jogadores que pertenciam à liga amadora de futebol
em Edmonton (Alberta, Canadá), em I990, foram selecionados para participar nesta pesquisa. Somente jogadores
masculinos, que pertenciam à primeira divisão, foram selecionados.
A primeira divisão tem oito clubes, entretanto, os
treinadores de dois times recusaram participar no estudo.
Portanto, somente seis times participaram no estudo, dos
quais, 69 jogadores (média de idade: 24,8 anos) voluntariaram-se para o estudo (uma média de II jogadores por
clube). Os jogadores assinaram um documento (aprovado
pelo Comitê de Pesquisa da "Faculty of Rehabilitation Medicine, University of Alberta"), dando permissão para a
participação no estudo, antes do início da pesquisa.
Jogadores que se machucaram em uma atividade física não relacionada ao futebol foram excluídos da pesquisa
para controle dos dados (Keller at al., I987; Noyes et al.,
I988). Jogadores que não participaram de jogos ou treinos
por mais de oito semanas consecutivamente também foram
excluídos da pesquisa para garantir uma exposição similar de tempo jogado de futebol entre os atletas (Keller et
al., I987).
Entre os 69 jogadores que voluntariaram-se para participar na pesquisa, sete foram excluídos. Um jogador mudou
Vol. 4 No. I, 1999
Incidência de Lesões no Futebol
de ,clube e seu novo time não estava sendo estudado. Dois
outros atletas viajaram e não participaram do campeonato
por mais de dois meses consecutivamente. Quatro jogadores
sofriam de lesões do campeonato anterior à temporada
estudada (lesões ocorridas na temporada de inverno de
futebol) e estiveram ausentes por mais de oito semanas
consecutivamente. Assim, apenas 62 jogadores participaram nesta pesquisa.
Coleta de Dados
O autor principal desta pesquisa esteve em contato
semanal com os treinadores para investigar a ocorrência de
lesões. Este último assistia pelo menos a um jogo de futebol
por semana e comunicava-se com os jogadores durante as
partidas para colher dados. Na tentativa de fazer a coleta
de dados o mais confiável possível, quando um jogador se
machucava, os detalhes de sua lesão eram anotados numa
entrevista pessoal com o autor principal. Ou seja, a determinação da lesão foi feita baseada na história do acidente relatado pelo jogador de futebol (Luthje et al., 1986). Esta
história médica foi baseada em um questionário aprovado
pelo Comitê de Pesquisa da "University of Alberta". As lesões
foram identificadas apenas de acordo com a história do trauma
físico, sem o terapeuta tocar nos atletas durante a entrevista
como descrito na literatura (Lindenfeld et al., 1988; Noyes
et al., 1979).
Estatística
A incidência de lesões foi expressa pelo tempo exposto
ao futebol, para fazer a comparação entre as lesões mais
significativas (Keller et al., 1987; Noyes et al., 1988). A
incidência de lesões foi expressa por 1.000 horas jogadas
de futebol, como sugerido na literatura (Ekstrand & Gillquist,
1983; Keller et al., 1987; Luthje et al., 1996; Noyes et al.,
1988), de acordo com a seguinte equação:
Incidência
= (total de lesões I total de
jogadores) x 1.000
A média de número de horas jogadas de
futebol para os atletas durante o campeonato
A recorrência de lesões foi expressa em porcentagem,
ou seja, se entre 10 distensões, 6 repetissem durante o estudo,
a recorrência de distensões seria de 60%. A circunstância
de ocorrência de lesões (jogo ou prática, direto ou indireto),
as conseqüências das lesões (gravidade e atenção médica),
a localidade e a natureza das lesões também foram descritivamente apresentadas.
RESULTADOS
por semana (1 ,5 hora), por seis meses (total de 36 horas de
jogos no campeonato). Os treinadores reportaram uma participação de 60% dos 62 jogadores selecionados para a
pesquisa, portanto, cada atleta jogou aproximadamente 21 ,6
horas de futebol por campeonato. Pela equação descrita
anteriormente, a incidência de lesões foi de 13,4/1.000 horas
de partidas de futebol. A incidência de lesões não foi expressa em horas de treinos porque os treinadores não anotaram
o tempo que seus atletas participavam nos mesmos. Oitenta
e seis por cento das lesões afetaram os Mls dos atletas: 32%
foram estiramentos ligamentares (quatro no joelho e três no
tornozelo), 36% foram distensões músculo-tendinosas (cinco
nos ísquio-tibiais, duas nos adutores do quadril e uma no
tendão de Aquiles) (Tabelas 1 e 2).
Dezoito jogadores se machucaram em jogos, um jogador
se machucou em um treino e três outros jogadores se machucaram sem saber o momento exato que seus sintomas iniciaram,
ou seja, seus sintomas começaram insidiosamente. Nove atletas
procuraram atenção médica para 11 lesões (50% das lesões).
A proporção de lesões graves para lesões suaves foi mínima. Todas as lesões graves ocorreram em jogos, estas foram
lesões diretas causadas por jogadas violentas que foram penalizadas pelo juiz de futebol (Tabelas 3 e 4 ).
Tabela 1. Incidência e recorrência de lesões.
Lesões
futebolísticas
Incidência
o/o deN
Recorrência
o/o deN
Estiramento:
joelho
4
018,18%
Estiramento:
tornozelo
3
013,60%
*Distensão de
ITs
5
022,80%
*Distensão de
AQ
2
009,10%
04,55%
*Distensão de
TA
004,55%
04,55%
Fasciite Plantar
004,55%
04,55%
Bursite:
metatarso
004,55%
o
00,00%
Contusão na
tíbia
004,55%
o
00,00%
Laceração de
joelho
004,55%
o
00,00%
Lombalgia
004,55%
o
00,00%
Contusão de
nanz
004,55%
o
00,00%
Estiramento:
Polegar
004,55%
o
00,00%
100,00%
6
27,27%
Total
Dezenove jogadores (31% dos atletas) sofreram 22
lesões durante o campeonato ( 18 em jogos e 4 em treinos
e/ou insidiosamente). Cada time de futebol jogou uma partida
41
22
o
00,00%
04,55%
2
09,10%
N = 22 ou número total de lesões. % = porcentagem. * distensão
músculo-tendinosas: IT = ísquio-tibiais, AQ = adutores de quadril, TA=
tendão de Aquiles.
42
Ladeira, C. E.
Rev. Bras. Fisiot.
Tabela 2. Natureza e localidade das lesões.
Natureza da lesão
Parte do corpo lesada
Total de lesões (100%)
Tronco e cabeça: 2 (9,1%)
Membros superiores 1 (4,5%)
Membros inferiores 19 (86,3%)
*Distensão da UMT: 8 (36,5%)
Nenhum
Nenhum
Tendão de aquiles: I
Ísquio-tibial: 5
Adutor do quadril: 2
Contusão: 2 (9,1%)
Nariz: I
Nenhum
Tíbia: I
Estiramento ligamentar 9 (36,3%)
Coluna lombar: I
Dedo: I
Joelho: 4
Tornozelo: 3
Laceração: I (4,5%)
Nenhum
Nenhum
Joelho: I
Bursite e fasciite (9,1%)
Nenhum
Nenhum
Fasciite plantar: I
Bursite Mctasarsal: I
* UMT: unidade músculo-tendinosa. Valores dentro da tabela representam númerto de lesões e sua respectiva porcentagem.
Tabela 4. Conseqüências das Lesões.
DISCUSSÃO
Definições epidemiológicas de lesões são diferentes
de termos usados por clínicos. Estas definições podem
confundir a interpretação dos resultados de uma pesquisa.
De acordo com as definições citadas anteriormente, um machucado (uma tendinite, estiramento ligamentar, entre outras)
que permite do atleta jogar futebol, mesmo afetando a habilidade de seu jogo, não é registrado como lesão.
Estiramento:
joelho
Tabela 3. Circunstâncias das lesões.
*Distensão
deAQ
Jogo
Treino
Insidioso
Direto
o
3
Estiramento:
tornozelo
2
o
o
3
3
o
4
o
o
o
Bursite:
metatarso
o
o
o
2
Contusão na
tíbia
o
o
o
5
Laceração de
joelho
o
o
o
o
o
2
o
o
o
o
o
o
o
*Distensão
de!Ts
5
o
o
*Distensão
deAQ
2
o
o
*Distensão
de TA
o
o
Contusão de
nariz
Fasciite
Plantar
o
o
Estiramento:
Polegar
Bursite:
metatarso
o
o
Lombalgia
o
Porcentagem
Contusão na
tíbia
o
o
o
o
Laceração de
joelho
o
o
o
Lombalgia
o
Contusão de
nariz
o
o
o
o
o
o
o
Estiramento:
Polegar
o
o
o
o
36,4%
2
o
o
13,60%
2
Fasciite
Plantar
3
04,55%
2
o
Estiramento:
tornozelo
81 ,82%
Não
o
3
Porcentagem
Sim
o
Indireto
Estiramento:
joelho
2
2
Grave
Moderada
*Distensão
de TA
Mecanismo
Ocorrência
Lesão
Suave
*Distensão
de!Ts
Atenção médica
Severidade
Lesão
63,6%
*Distensão músculo-tendinosas: IT = ísquio-tibiais, AQ = adutores de
quadril, TA= Tendão de Aquiles, N = 22.
40,90%
04,55%
13,60%
o
50,00%
50,00%
*Distensão músculo-tendinosas: IT = ísquio-tibiais, AQ = adutores de
quadril, TA= Tendão de Aquiles, N = 22.
Da mesma forma, a maneira que a severidade de uma
lesão é classificada também pode confundir a interpretação da gravidade da mesma.
Por exemplo, é possível que uma fratura na mão de
um atleta, geralmente considerada grave por clínicos, pode
ser classificada em lesão suave ou moderada se o atleta
conseguir jogar futebol com a mão engessada. Portanto, o
leitor deve entender as delimitações destas definições
Vol. 4 No. I, 1999
Incidência de Lesões no Futebol
epidemiológicas para interpretar os resultados de trabalhos
como o presente.
A maneira que lesões são diagnosticadas na clínica
também podem ser diferentes da mesma em uma pesquisa
epidemiológica. Ao contrário de certos trabalhos em que
os pesquisadores fizeram um exame físico de cada atleta
(Luthje et al., 1996), a determinação de lesões aqui foi feita
apenas através da estória da lesão em uma entrevista com
o jogador lesado. Em pesquisas, há problemas com o diagnóstico de lesões por meio de um exame físico. Primeiro,
a validade e a confiabilidade de testes manuais para diagnosticar lesões, como estiramentos ligamentares e lesão de
menisco, são questionaveis (Cooperman et al., 1990; Katz
& Fingeroth, 1986; Stratford & Binkley, 1995), a não ser
que todos os pacientes tenham suas lesões confirmadas com
uma artroscopia, o que não seria possível com todo jogador machucado nesta pesquisa. Segundo, a interpretação de
testes manuais é subjetiva (Fletcher et al., 1988). Um teste
positivo pode fazer o examinador continuar a procurar um
machucado e aumentar as chances do registro de tal lesão.
Da mesma forma, um teste negativo pode fazer um examinador parar de procurar uma lesão que, se estiver presente, não será registrada (Fietcher et al., 1988). A investigação
de lesões por meio de definições de termo como nesta pesquisa talvez não determine especificamente a localidade de
uma lesão ligamentar ou de um menisco, entretanto, esta
determinação permite uma documentação mais científica,
mais imparcial e mais consistente da pesquisa.
A diferença metodológica usada em várias pesquisas
faz a comparação deste trabalho com outras investigações
muito difícil (Inklaar, 1994; Keller et al., 1987). Pesquisas
sem definição de lesão futebolística (Me Master & Walter,
1978) ou sem incidência de lesão expressa por exposição
ao jogo de futebol (Aibert, 1983) não podem ser comparadas com este trabalho, por causa da deficiência
metodológica das mesmas (Inklaar, 1994; Keller atai., 1987;
Noyes et al., 1988). Investigações nas quais os dados foram coletados em hospitais (Jensen et al., 1993; Sadat-Ali
& Sakaran-Kutty, 1987; Stokes et al., 1994) ou em companhias de seguro saúde (Benger-Vachon et al., 1986; Loes,
1995; Pritchett, 1981) freqüentemente documentaram lesões
mais sérias do que aquelas obtidas por um terapeuta em contato direto com atletas (Berger-Vachon et al., 1986; Katz
& Fingeroth, 1986), assim, elas não puderam ser comparadas com esta pesquisa. Estudos com mulheres (Egstrõn
et al., 1991) ou crianças e adolescentes (Inklaar et al., 1996;
Kibler, 1993; Putukian et al., 1996) não puderam ser comparados com este trabalho devido a diferença de gênero e
idade entre os jogadores destes últimos e os atletas do estudo
atual. Portanto, esta pesquisa só pode ser significativamente
comparada a trabalhos em que as variáveis controladas e
as definições de termos fossem similares.
Este trabalho foi similar às pesquisas de Nielsen & Y de
(1989), Egstrõm et al. (1990), Ekstrand et al. (1983) e Lüthje
43
et al. (1996). As similaridades destes últimos com o trabalho
atual foram em termos de participantes Uogadores adultos
masculinos), organização do estudo (prospectivo, incidência
expressa por 1.000 horas de exposição ao futebol) e definição de termos (incluindo lesão futebolística e gravidade
de lesão).
A incidência de lesões de 13,4/1.000 horas foi similar à mesma de estudos europeus: isto é, futebol amador dinamarquês foi 14,3/1.000 horas (Nielsen & Yde, 1989),
futebol amador sueco foi 16,9/1.000 horas (Ekstrand &
Gilquist, 1983; Ekstrand et al., 1983), futebol semi-profissional sueco foi 13/1.000 horas (Egstrõn et al., 1990) e finlandês foi 16,6/1.000 horas (Lüthje et al., 1996). Oitenta
e seis por cento das lesões afetaram os Mis, Ekstrand et al.
(1983), Nielsen & Yde (1989), Egstrõm et al. (1990) e Lüthje
et al. (1996) também observaram resultados similares: 88%,
84%, 93% e 76%, respectivamente.
O joelho foi afetado em 22% das lesões deste estudo.
Nielsen & Y de (1989), Ekstrand & Gilquist (1983), Ekstrand
et al. (1983) e Lüthje et al. (1996) também observaram porcentagens similares de lesões no joelho (16,2%, 20% e 19%,
respectivamente). O tornozelo foi lesado em 13,6% das lesões.
Ekstrand & Gillquist (1983), Ekstrand et al. (1983) e Lüthje
et al. (1996) observaram uma porcentagem similar de lesões no tornozelo: 17%. Nielsen & Yde (1989) e Engstrõm
et al. ( 1990) documentaram uma maior porcentagem de lesões
no tornozelo: 35% e 22%, respectivamente. Entretanto, considerando a natureza das lesões deste estudo e dos estudos
anteriores (Ekstrand & Gillquist, 1983; Ekstrand et al., 1983;
Nielsen & Y de, 1989), a porcentagem de lesões no tornozelo
foram mais parecidas. Neste trabalho, estiramento ligamentar
foi a única lesão observada no tornozelo (I 3,6% ). Ekstrand
& Gillquist ( 1983), Ekstrand et al. ( 1983) e Engstrõm et al.
(1990) documentaram uma porcentagem similar de lesões
ligamentares no tornozelo: 16,7% e 15,3%, respectivamente.
Quanto a natureza das lesões, 41% foram estiramentos
Iigamentares. Estudos europeus documentaram uma porcentagem similar de estiramentos: 29% (7, 8), 34% (28) e 48,6%
(9). Lüthje et al. (1996) separaram ruptura de estiramento
ligamentar sem definir estes termos, portanto, o trabalho
destes últimos não puderam ser comparados com o atual.
O joelho e o tornozelo sofreram 44% e 33,3% de
estiramentos, respectivamente. A porcentagem de
estiramentos no tornozelo foi mais alta do que a mesma para
o joelho em estudos europeus. Ekstrand & Gillquist ( 1983),
Ekstrand et al. (1983) e Nielsen & Y de (1989) observaram,
respectivamente, 34% e 26,4% de estiramentos ligamentares
no joelho, estes últimos documentaram 59% e 66% de
estiramentos ligamentares no tornozelo. Os autores deste
trabalho não sabem explicar essa última diferença de resultados.
A porcentagem de distensões músculo-tendinosas (32%)
foi maior do que a mesma para estudos europeus: isto é, 18%
(Ekstrand & Gillquist, 1983; Ekstrand et al., 1983), 12%
44
Ladeira, C. E.
(Egstron et al., 1990) e 21 o/o (Nielsen & Y de, 1989). Lüthje
et a!. ( 1996) separaram ruptura e distensão muscular sem
definir estes termos, portanto, o trabalho destes últimos não
pode ser comparado com o atual. A razão para um maior
número de distensões em jogadores canadenses é provavelmente porque estes últimos não treinavam sobre a mesma
supervisão técnica de times europeus. Treinadores atléticos supervisionavam as práticas dos jogadores semi-profissionais europeus com o menor número de distensões
(Egstron et al., 1990). Jogadores amadores suecos e dinamarqueses sempre praticavam sobre a supervisão de técnicos. Treinadores e técnicos podiam instruir seus jogadores
em exercícios de aquecimento e alongamento antes dos treinos e jogos. Entretanto, os times de Edmonton (Canadá)
não praticavam ou jogavam sempre na presença de técnicos ou treinadores. O autor principal deste trabalho observou
muitos jogos de futebol em Edmonton onde os jogadores
não faziam aquecimento e/ou alongamento para as partidas. Portanto, é possível que alguns dos jogadores canadenses de Edmonton sofreram distensões por falta de
aquecimento e alongamento muscular (Keller et al., 1987).
Os jogadores apenas procuraram atenção médica
quando estavam sangrando (contusão no nariz, contusão na
tíbia e corte no joelho) ou eram incapazes de correr no campo
de futebol (dois estiramentos de joelho graves, uma fasciite
plantar, uma distensão do tendão de Aquiles e uma bursite
na cabeça do primeiro metatarso). Para piorar a situação,
os jogadores freqüentemente tentavam se automedicar.
Apenas quando reagravavam as lesões, eles procuravam ajuda
médica (três distensões musculares, uma fasciite plantar e
uma bursite).
Esse problema de jogadores se automedicarem e
retornarem à prática de futebol sem orientação médica e
fisioterápica preocupa muito (Ekstrand et al., 1983; Njororai,
1994 ); porque a grande maioria de lesões graves que ocorrem
sem colisões físicas são o resultado da reabilitação de jogadores machucados sem supervisão de profissionais da área
médica (Ekstrand et al., 1983). Ekstrand & Gillquist (1983)
e Ekstrand et al. (1983) confirmaram que lesões graves geralmente ocorrem como conseqüência de lesões suaves mal
reabilitadas. Portanto, fisioterapeutas devem educar seus
atletas para não jogar futebol durante a recuperação de lesões
suaves, lesões suaves podem reagravar e gerar complicações (inflamações crônicas, instabilidades articulares) que
requerem tratamentos caros e inconvenientes (cirurgias,
injeções e/ou fisioterapia prolongada) (Ekstrand & Gillquist,
1983; Ekstrand et al., 1983).
Entre as lesões observadas neste estudo, 27% recorreram durante o campeonato. Ekstrand & Gillquist (1983)
e Ekstrand et al. (1983) observaram uma recorrência similar
de lesões: 33%. Lüthje et al. (1996) e Engstróm et al. ( 1990)
não publicaram recorrência de lesões. Nielsen & Y de ( 1989)
não definiram recorrência de lesões, mas documentaram que
58,6% das lesões foram repetições de incidentes antigos.
Rev. Bras. Fisiot.
A porcentagem de recorrência de Lüthje et al. (1996) foi
mais alta do que deste estudo, por que, estes últimos consideraram lesões de mais de ano na mesma parte do corpo com a mesma natureza como recorrência. Os autores atuais
apenas consideraram recorrências as lesões que repetissem
dentro de oito semanas. As recorrências deste estudo foram na grande maioria distensões músculo-tendinosas com
gravidade de lesão nas categorias suave e moderada. Ekstrand
et al. (1983) e Njororai (1994) acreditam que a falta de informação médica de treinadores e atletas que praticam futebol
é o principal motivo desta alta porcentagem de recorrência
de lesões emjogadores amadores. Estes últimos acreditam
que a educação de jogadores de futebol poderia prevenir
a recorrência de lesões.
A maioria das lesões observadas nesta pesquisa não
causaram conseqüências drásticas para os jogadores. Lesões na categoria grave foram responsáveis por apenas 9%
das lesões observadas, o que indica que o futebol praticado
por este grupo de atletas é relativamente seguro. Uma proporção similar de lesões graves (1 1 o/o) foi observada entre
jogadores amadores que jogavam futebol na quarta divisão
sueca (Ekstrand & Gillquist, 1983; Ekstrand et al., 1983).
Entretanto, Nielsen & Y de (1989), Engstróm et al. (1990),
e Lüthje et al. ( 1996) reportaram proporções mais altas de
lesões graves para atletas amadores dinamarqueses (35%),
jogadores semi-profissionais suecos (29%) e finlandeses
(16% ). Lüthje et al. (1996) e Engstrom et al. (1990) observaram uma maior proporção de lesões graves do que os
autores atuais, provavelmente, devido ao fato de terem estudado futebol semi-profissional com nível de competição
física mais exigente e perigosa do que o futebol amadorestudado pelos autores atuais (Keller et al., 1987). Entretanto,
o fato de Nielsen & Y de (1989) terem observado um maior
número de lesões graves do que os autores presentes não
pode ser explicado.
Na presente pesquisa, a maioria das lesões graves
ocorreram no joelho (75%) e foram causadas por chutes e
carrinhos. Lüthje et al. (1996) não documentaram o mecanismo ou a porcentagem de lesões classificadas como grave
no joelho. Ekstrand Ekstrand & Gillquist (1983) e Ekstrand
et al. (1983), Engstróm et al. (1990) e Nielsen & Y de (1989)
também reportaram que a maioria das lesões graves no futebol afetaram o joelho (respectivamente: 35%, 46% e 55%).
Além disso, Nielsen & Y de ( 1989) e Engstrom et al. ( 1990)
reportaram, respectivamente, que 55% e 50% de lesões graves
de joelho são causadas por jogadas ilegais no futebol, como
carrinhos e pontapés nas pernas dos jogadores. Neste estudo, 50% dos estiramentos de joelho graves foram causados
por jogadas violentas penalizadas pelo juiz de futebol. Lesões
de joelho podem debilitar a habilidade de um jogador de
futebol permanentemente (Bjordal et al., 1997; Egstrón et
al., 1990). Certas lesões de joelho, como instabilidades
ligamentares, podem causar doenças degenerativas articulares
que afetam a qualidade de vida do jogador mesmo depois
Vol. 4 No. I, 1999
Incidência de Lesões no Futebol
que este parar de praticar esportes (Bjordal et al., I 997;
Moretz et al., I 984 ). A preparação física de atletas não pode
prevenir as jogadas ilegais responsáveis pelas lesões graves mencionadas anteriormente. Para diminuir a incidência destas lesões causadas por jogadas ilegais, é necessário
que atletas entendam a conseqüência das mesmas. A punição
vigorosa de jogadores que cometam faltas violentas, também,
poderia ajudar na diminuição da incidência de lesões graves
de joelho.
A lesão mais comum observada nesta pesquisa foi a
distensão de ísquio-tibiais. Distensão de ísquio-tibiais não
causam as mesmas conseqüências dramáticas no futebol como
as lesões de joelho (Egstron et al., 1990). Entretanto, estas lesões podem ocorrer em momentos inoportunos afetando
a participação de um atleta em um jogo importante. Além
do mais, distensões como a dos músculos ísquio-tibiais podem
ter um alto índice de recorrência. Nesta pesquisa, 40% das
distensões dos ísquio-tibiais recorreram. Esta recorrência
de distensões faz o atleta perder mais tempo de treino e jogo,
o que pode atrapalhar a participação do jogador no percurso
de um campeonato importante. O treinamento físico de atletas
com distensões sobre a supervisão médica e/ou fisioterápica pode evitar tal problema de recorrência de distensões
(Ekstrand et al., 1983).
As lesões na maioria dos jogadores ( 64%) foram indiretas. Resultados similares foram reportados em um estudo europeu: 63% (Nielsen & Yde, I 989). Ekstrand &
Gillquist (I 983), Ekstrand et al. (I 983) e Engstrom et al.
(I 990) não documentaram lesões de uma maneira que o mecanismo direto ou indireto pudesse ser calculado. Lüthje et
al. (1996) observaram 74% das lesões causadas diretamente
devido ao contato físico entre jogadores, esta alta porcentagem de lesões diretas provavelmente reflete uma maior
competição com contato físico do jogo semi-profissional.
A ocorrência indireta de lesões nesta pesquisa provavelmente
reflete uma baixa porcentagem de incidentes físicos entre
os jogadores documentados no futebol de nível amador.
A porcentagem atual de lesões indiretas poderia ser
diminuída com um treinamento físico mais apropriado. A
maioria das lesões indiretas ocorreu durante as partidas de
futebol. Treinadores devem prestar atenção na preparação dos
atletas imediatamente antes e durante as partidas de futebol.
Preparadores físicos devem fazer seus atletas aquecer o corpo
e alongar os músculos antes de cada jogo (Ekstrand et al.,
1983; Moller et al., 1985). No intervalo das partidas, treinadores não devem permitir que os jogadores esfriem o corpo
(Ekstrand et al., 1983; Moller et al., 1985) e devem fazer os
mesmos alongar novamente antes do segundo tempo (Moller
et al., 1985). Treinadores, também, não devem permitir que
jogadores cansados continuem na partida de futebol a fim de
evitar lesões causadas por fatiga (Eriksson et al., I 986).
Entre as lesões observadas neste estudo, I 3,6% iniciaram insidiosamente. Nielsen & Yde (I 989), Ekstrand &
Gillquist ( 1983) e Ekstrand et al. ( 1983), e Lüthje et al. ( 1996)
45
não documentaram lesões que iniciaram insidiosamente. Entretanto, Engstrom et al. ( 1990) observaram uma porcentagem (26%) bem mais alta de lesões insidiosas do que os
autores deste estudo. As lesões insidiosas deste trabalho e
da pesquisa de Engstrom et al. ( 1990) foram na grande maioria tendinites e bursites, ou seja, incidentes que muitas vezes
ocorrem por excesso de uso articular (Eriksson et al., 1986).
Um jogador de futebol pode correr de 5 até 12 km em uma
partida, dependendo do preparo físico do atleta (Kirkendall,
1985). Quanto melhor o preparo físico do jogador, mais ele
corre em um jogo e geralmente maior as chances deste sofrer
uma tendinite ou bursite por excesso de uso articular
(Eriksson et al., 1986). A incidência de lesões insidiosas
mais alta para os jogadores semi-profissionais suecos provavelmente reflete um maior preparo físico e maior excesso
de uso articular destes últimos em relação aos atletas amadores estudados aqui.
Quinze por cento dos jogadores receberam atenção
médica para 50% das lesões. Nielsen & Y de (I 989) observaram uma porcentagem similar (51%) de lesões que receberam atendimento médico à porcentagem da pesquisa atual.
Na pesquisa de Lüthje et al. (I 996) todas as lesões receberam atenção médica, entre as quais 19% receberam cirurgia. Engstrom et al. ( 1990) reportassem uma porcentagem
de lesões que recebeu tratamento mais alta do que a desta pesquisa atual, estes autores observaram que 20% das
lesões foram tratadas em hospitais e 90% em clínicas fisioterápicas. Estes dois últimos trabalhos (Engstron et al., 1990;
Luthje et a!., 1996) estudaram jogadores semi-profissionais
que praticavam futebol em uma liga de elite mais competitiva do que a mesma do Canadá, o que provavelmente
contribui para uma maior porcentagem de lesões sérias
tratadas em hospitais e clínicas. Além do mais, os jogadores
semi-profissionais podem ter dado mais importância ao
tratamento de suas lesões do que os atletas desta pesquisa presente; já que estes primeiros recebem uma compensação financeira para jogar futebol, enquanto, os últimos
são atletas exclusivamente amadores e não são pagos.
CONCLUSÃO
A incidência, as circunstância e as conseqüências de
lesões futebolísticas neste grupo de jogadores amadores
canadenses foi similar à de jogadores europeus. A maioria
das lesões afetaram os membros inferiores dos jogadores.
A maioria de lesões afetaram o joelho e o tornozelo, entre
estas, a maioria foi estiramento Iigamentar e distensão
músculo-tendinosa. Lesões graves afetaram com freqüência o joelho. Como em outros estudos com jogadores amadores, poucos atletas desta investigação procuraram ajuda
médica ou fisioterápica após a primeira incidência de uma
lesão.
Um estudo epidemiológico de lesões futebolísticas no
Brasil é necessário para determinar as características das
46
Ladeira, C. E.
mesmas neste país. Variáveis que afetam as características
de lesões futebolísticas podem gerar acidentes únicos em
um país como o Brasil: habilidade do jogador, ritmo do jogo,
qualidade do gramado, clima, temperatura, entre outras. Um
melhoramento importante deste estudo poderia ser feito com
um maior número de jogadores na amostra da pesquisa.
Agradecimentos - O autor principal deste trabalho recebeu auxílio financeiro da CAPES na realização do mesmo. Esta pesquisa foi realizada durante
a obtenção de Título de Mestre em Fisioterapia pelo autor principal.
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incidência de lesões no futebol: um estudo prospectivo com