PREPARAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO E ESTUDO DA ATIVIDADE CATALÍTICA DE ÓXIDO DE VANÁDIO SUPORTADO SOBRE ALUMINA NA REAÇÃO DE DECOMPOSIÇÃO DO ISOPROPANOL Alexandre I. Santos1, Waldinei R Monteiro2, José Augusto J. Rodrigues2, Gilberto G. Cortez1* 1-Departamento de Engenharia Química, Faculdade de Engenharia Química de Lorena,Campus I, Rod. Itajubá - Lorena, Km 74,5 -CEP: 12600-000 - Lorena - SP Brasil, Fone: (0xx12) 3159-5000, Ramal 5105 - Fax: (0xx12) 3153-3224 Email: [email protected] 2- Laboratório Associado de Combustão e Propulsão, Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais,Rodovia Presidente Dutra, Km 40 - CEP: 12630-000 - Cachoeira Paulista SP - Brasil, Fone: (0xx12) 3186-9259 - Fax: (0xx12) 3101-1992. RESUMO Alumina ativa foi preparada a partir de hidróxido de alumínio a fim de avaliá-la na decomposição catalítica do isopropanol. Empregou-se o aluminato de sódio como material de partida. O precursor produzido corresponde à fase gibbsita, obtido a partir da decomposição ácida do aluminato de sódio em presença de CO2. O precursor originou uma alumina de transição após tratamento térmico a 600 oC e foi caracterizado por volumetria de nitrogênio, intrusão de mercúrio, espectroscopia de absorção atômica, difratometria de raios-X e microscopia eletrônica de varredura. O efeito da adição do metal alcalino sobre as características ácidas e sobre a capacidade de desidratação do isopropanol foi analisado. ABSTRACT Active alumina was prepared from aluminum hydroxide in order to evaluate them in the catalytic decomposition of isopropanol. Sodium aluminate was employed as the starting material. The precursor produced corresponding to gibbsite stage, obtained from the acid decomposition of the sodium aluminate in the presence of CO2. The precursor originated active alumina after thermal treatment at 600 ºC and was characterized by nitrogen physical adsorption and mercury insertion, X-rays diffractometry, thermogravimetry, electronic microscopy and spectroscopy of atomic absorption. The effect of alkali metal addition to alumina on the acid characteristics and on the isopropanol dehydration capacity was analyzed. 1. INTRODUÇÃO Aluminas ativas ou de transição constituem uma classe de materiais de extrema importância à inúmeras reações catalíticas, podendo atuar como catalisador ou como suporte catalítico para outros metais [1-5]. Apresentando-se sob diferentes graus de hidratação, as aluminas podem ser obtidas com diferentes propriedades morfológicas e texturais, dependendo das condições empregadas durante a síntese do hidróxido precursor e do tratamento térmico de transformação deste hidróxido em uma alumina de transição [4]. O objetivo deste trabalho é preparar uma alumina de transição, a χ-Al2O3, e modificá-la com dois metais alcalinos diferentes, lítio e sódio, e impregnar com vanádio para posteriormente, avaliá-las através da reação de decomposição do isopropanol, uma reação modelo para identificar as propriedades ácidas e/ou básicas de sólidos catalíticos. 2. EXPERIMENTAL Os reagentes empregados na síntese do hidróxido precursor da alumina foram os seguintes: aluminato de sódio (Riedel-de-Häen), hidróxido de sódio (Mallinkrodt) e uma mistura gasosa de CO2 e N2 (White Martins). A alumina gibbsita, precursora da χ-Al2O3, foi obtida num reator batelada, borbulhando-se aproximadamente 50 mL/min de uma mistura gasosa de CO2 (30 % v/v) e N2 (70 % v/v) em solução aquosa vigorosamente agitada de aluminato de sódio e hidróxido de sódio. Após dissolução do sal de alumínio, hidróxido de sódio foi acrescentado a fim de se obter na solução uma razão molar de Na+ e Al3+ igual a 1,95 e pH levemente superior a 13. A reação foi interrompida quando o pH do meio reacional assumiu valores próximos a 12, isolando-se a fase sólida por meio de um processo de filtração a vácuo. Após lavagem abundante com água quente, com o objetivo de eliminar a maior parte do sódio, a gibbsita foi secada em estufa e tratada termicamente à temperatura de 600 ºC por 5 h. A adição do metal alcalino foi realizada com uma solução contendo aproximadamente, 0,02g de LiOH (para Li+/χ-Al2Ο3 e 0,03g de NaOH para Na+/χ-Al2Ο3) juntamente com 20 mL de água. A essa solução foi acrescentado aproximadamente 1,0 g de χ-Al2Ο3. A mistura foi colocada em um balão de vidro conectado a um roto-evaporador a 70 ºC e submetido a um vácuo de -400 mmHg durante 30 minutos. Após este período, a pressão foi fixada em -600mmHg até a retirada de toda a água por evaporação. Os suportes (Li+/χ-Al2Ο3 e Na+/χ-Al2Ο3) foram secos em estufa a 70 ºC durante 24 horas e calcinados a 450 ºC durante 4 horas. A impregnação com óxido de vanádio foi realizado com uma solução contendo aproximadamente 0,08 g NH4VO3 e 20 mL de água, sendo a solução aquecida a 60 ºC para dissolver totalmente o sal. A essa solução foi acrescentado aproximadamente 0,5 g de suporte (Li+/χ-Al2Ο3 e Na+/χ-Al2Ο3). A impregnação foi realizada em um roto-evaporador sob as mesmas condições descritas anteriormente. As amostras (V2O5/Li+/χ-Al2Ο3 e V2O5/Na+/χ-Al2Ο3) foram secas em estufa a 70 ºC durante 24 horas e calcinadas a 450 ºC durante 4 horas. O produto obtido foi caracterizado por espectrometria de absorção atômica com atomizador de chama em um equipamento Perkin-Elmer, modelo Analyst, para análise do teor de Na e Al do suporte, por volumetria de N2 em um equipamento da marca Quantachrome, modelo NOVA 1000, na determinação da área específica (método BET) e de volume de poros até 200 Å, por intrusão de mercúrio em um equipamento da marca Quantachrome, modelo Autoscan-33, na determinação da distribuição do volume de poros, por microscopia eletrônica de varredura (MEV) em um equipamento da marca LEO, modelo 1450 VP, na avaliação da morfologia e por difratometria de raios-X em um equipamento da marca SEISERT, modelo Isodebyeflex 1001 com radiação Ka do Cu (l = 1,54178 Å), na identificação da fase cristalina da alumina. As amostras foram avaliadas na reação de decomposição do isopropanol, empregando-se um reator de leito fixo (quartzo) com fluxo contínuo dos reagentes sob pressão atmosférica. O isopropanol foi injetado na tubulação de alimentação de gases afluentes do reator com auxílio de uma bomba Thermo Separation Products, modelo Spectra P100, na vazão de 0,05 cm3/min e diluído em He na vazão de 40 cm3/min. Os gases efluentes do reator foram analisados por um cromatógrafo de gás (Varian 3350) em linha, equipado com um detector de condutividade térmica (DCT). A reação foi avaliada entre 240 ºC e 320 ºC, utilizando-se uma massa 100 mg e um fator tempo de residência (W/FA0) igual a 2,4 g.h/molIsop. A conversão do isopropanol foi calculada a partir de um balanço da quantidade de carbono, sendo que o total de carbono na saída do reator foi assumido como sendo igual à quantidade de carbono do isopropanol alimentado no reator. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO O resultado da análise química, área específica BET (SgBET) e volume de poros, por N2 (VP-N2) e por porosimetria de Hg (VP-Hg) do suporte são mostrados na Tabela 1. O teor residual de sódio na alumina está relacionado aos reagentes aluminato de sódio e hidróxido de sódio empregados na obtenção da alumina. Apesar de ter sido efetuada uma lavagem com água destilada a 60ºC, esta etapa não eliminou totalmente o sódio do produto. Tabela 1: Análise química, volumetria de nitrogênio (SgBET e VP-N2) e porosimetria de mercúrio (VP-Hg) da χ-Al2O3 após tratamento térmico a 600 oC Suporte χ-Al2O3 Na+ ( % peso ) Al3+ ( % peso ) VP-N2 ( cm3/g ) 1,062 53,36 0,183 VP-Hg ( cm3/g ) SgBET ( m2/g ) 0,201 167 De acordo com os resultados de área especifica do suporte, foi calculada a massa do sal para impregnação, de tal forma que todas as amostras dos catalisadores tivessem meia monocamada de vanádio (4 átomos de V/nm2 de suporte). Através das imagens de MEV dos precursores e óxidos (Figuras 1 e 2) verifica-se que a rota de síntese via gibbsita resulta em um material com maior grau de organização cristalina. A estrutura cristalina hexagonal apresentada pelo precursor gibbsita é mantida após submetê-lo a um tratamento térmico em temperaturas elevadas (600 ºC). As imagens de MEV deixam evidente o aparecimento de trincas no precursor gibbsita calcinado (Figura 2), fato que pode estar relacionado à utilização de elevada taxa de aquecimento (3 oC/min) durante o processo de calcinação do precursor. Figura 1: Micrografia da gibbsita seca a 600C. Figura 2: Micrografia da gibbsita calcinada a 6000C. A Figura 3 apresenta os difratogramas de raios-X do suporte, dos suportes modificados com metais alcalino e dos suportes impregnados com óxido de vanádio. Os picos marcados referem-se ao precursor gibbisita (χ-Al2O3). Intensidade ( u. a. ) χ−Al2O3 z V2O5 / χ−Al2O3 Li / χ−Al2O3 V2O5/ Li / χ−Al2O3 Na / χ−Al2O3 V2O5/ Na / χ−Al2O3 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65 70 75 80 o 2θ ( ) Figura 3: Difratogramas de Raios-X. Picos da fase χ-Al2O3 em z ≈ 37º, ≈ 46º e ≈ 67º. Os dados das distâncias interplanares e das intensidades dos picos dos difratogramas de raiosX da Figura 3 coincidem com os valores das fichas obtidos na literatura. A calcinação do precursor gibbsita a 600 ºC transformou este precursor na alumina de transição denominada chi (χ). Os catalisadores preparados a partir dessa alumina de transição apresentam a mesma estrutura cristalina da alumina, pois a impregnação desses catalisadores foi feita apenas sobre a superfície do suporte, não afetando a estrutura da χ-Al2O3. A presença de cristais de óxido de vanádio na forma de V2O5 não foram evidenciados por raios-X, supondo-se que os mesmos estejam em um estado amorfo altamente dispersos sobre a χ-Al2O3 e também sobre o suporte dopado com Li+ ou Na+. Os resultados de atividade catalítica (moles de isopropanol convertidos /gcat. min) na reação de decomposição do isopropanol sobre as amostras são apresentados pela Figura 4. 40 Atividade ( mol/g.min ) 35 Li e Na / χ−Al2O3 χ−Al2O3 V2O5 / χ−Al2O3 V2O5 / Li / χ−Al2O3 V2O5 / Na / χ−Al2O3 30 25 20 15 10 5 0 240 250 260 270 280 290 300 310 320 Temperatura ( ºC ) Figura 4: Atividade catalítica das amostras na reação de decomposição do isopropanol. Os resultados de atividade catalítica apresentados pela Figura 4 mostram que tanto o suporte como aquele modificado pelos metais alcalinos apresentam atividade nula na reação de decomposição do isopropanol. Por outro lado, a adição de vanádio sobre o suporte melhora significamente a atividade catalítica nesta reação e a presença de lítio e sódio fazem a atividade cair, sendo maior aquele com sódio. A adição de um metal alcalino diminui a atividade catalítica, pois o metal alcalino dopa os sítios ácidos do catalisador que são os responsáveis pela desidratação do isopropanol. O mecanismo da desidratação do isopropanol para formação do propileno está representado no esquema reacional abaixo: O 2(S)− HCH2 (CH 3 )CH − HO M (nS+) n+ → CH3CH = CH2 + HO − M (S) + HO(−S) n+ − n+ 2− HO − M (S) + HO(S) → H 2 O + M (S) + O (S) onde o Mn+ e O2- são, respectivamente, o cátion metálico positivo e o oxigênio da rede cristalina do óxido de alumínio no qual o isopropanol está ligado na etapa de quimissorção [2]. 4. CONCLUSÕES A metodologia utilizada na síntese permitiu a formação da alumina de transição com fase cristalina chi (χ), sendo um produto com um alto grau de organização cristalina. Apesar da alumina ser modificada com Li e Na, não observou-se uma variação das intensidades nas posições dos picos dos difratogramas de raios-X, o que comprova que a quantidade utilizada de Li+ e Na+ na impregnação não afeta a estrutura cristalina da alumina. A atividade catalítica dos diferentes catalisadores na reação de decomposição do isopropanol permitiu avaliar o comportamento das propriedades superficiais do óxido de alumínio obtido via gibbsita quando envenenado com um metal alcalino. Nesta reação, o envenenamento com íons de sódio apresentou um maior efeito estéreo em comparação com a mesma χ-Al2O3 envenenada com íons de lítio. AGRADECIMENTOS Ao Laboratório de Combustão e Propulsão (LCP) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE/Cachoeira Paulista) pelo uso de sua infra-estrutura na preparação e caracterização da alumina, ao Prof. Dr. Paulo Suzuki (DEMAR/FAENQUIL) pela sua estimável colaboração nas caracterizações por DRX. BIBLIOGRAFIA [1] Gitzen, W. H.; “Alumina as a Ceramic Material”; The American Ceramic Society. 1970, p. 121-199. [2] Hussein, G. A. M.; Gates, B. C.; “Surface and catalytic properties of yttrium oxide: Evidence from infrared spectroscopy”; J. Catal., 1998, vol. 176, p. 395-404. [3] Knozinger, H.; Ratnasamy, P.; “Catalytic aluminas: Surface models and characterization of surface sites”; Catal. Rev.-Sci. Eng. 1978, vol. 17(1), p. 31-70. [4] Oberlander, R. K.; “Aluminas for Catalysts - Their Preparation and Properties. Applied Industrial Catalysis”; Academic Press, New York, 1984, vol. 3, p. 63. [5] Rodrigues, J. A. J.; Zacharias, M. A.; “A influência do Teor de Bicarbonato de Amônio na Estrutura Porosa das Aluminas”. Química Nova, 1993, vol. 16, p. 10-14,