UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE ANA MARIA DOS SANTOS ROTINAS DE BUSCA e COMPETÊNCIAS PARA INOVAR: UM ESTUDO COMPARATIVO ENTRE EMPRESAS DE SERVIÇO e DE INDÚSTRIA São Paulo 2010 Ana Maria dos Santos Rotinas de Busca e Competências para Inovar: Um estudo comparativo entre empresas de serviço e de indústria Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Administração de Empresas da Universidade Presbiteriana Mackenzie, como requisito parcial à obtenção do título de Doutor em Administração de Empresas. Orientadora: Profa. Dra. Dimária Silva e Meirelles São Paulo 2010 S237r Santos, Ana Maria dos. Rotinas de busca e competências para inovar: um estudo comparativo entre empresas de serviço e de indústria / Ana Maria dos Santos. – 2011. 276 f. : il. ; 30 cm Tese (Doutorado em Administração de Empresas) – Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2011. Orientação: Professora Dimária Silva e Meirelles Bibliografia: f. 175-185. 1. Rotinas de busca. 2. Hábito. 3. Inovação. 4. Indústria. 5. Capacidades dinâmicas. 6. Teoria evolucionária. 7. Biodiversidade. 8. Sustentabilidade. 9. Câncer. 10. Sobremesa I. Título. CDD 658.4063 Reitoria da Universidade Presbiteriana Mackenzie Professor Dr. Manasses Claudino Fonteles Decano de Pesquisa e Pós-Graduação Professora Dra. Sandra Maria Dotto Stump Diretor do Centro de Ciências Sociais e Aplicadas Prof. Dr. Moisés Ari Zilber Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Administração de Empresas Professora Dra. Darcy Mitiko Hanashiro ANA MARIA DOS SANTOS Rotinas de Busca e Competências para Inovar: Um estudo comparativo entre empresas de serviço e de indústria Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Administração de Empresas da Universidade Presbiteriana Mackenzie, como requisito parcial à obtenção do título de Doutor em Administração de Empresas. Aprovada em BANCA EXAMINADORA Profa. Dra. Dimária Silva e Meirelles Universidade Presbiteriana Mackenzie Prof. Dr. Reynaldo Cavalheiro Marcondes Universidade Presbiteriana Mackenzie Prof. Dr. Silvio Popadiuk Universidade Presbiteriana Mackenzie Prof. Dr. Eduardo Raupp de Vargas Universidade de Brasília Prof. Dr. Ruy de Quadros Carvalho Universidade de Campinas Dedico este trabalho à minha família, em especial à minha mãe, Dirce, e ao meu pai, Porfirio, pela vida e amor incondicional. AGRADECIMENTOS À minha orientadora, Profa. Dra. Dimária Silva e Meirelles, pela sabedoria com que me conduziu durante este trabalho. Seus ensinamentos, dedicação, alegria, incentivo e imenso apoio ficarão registrados para sempre, em minha mente e em meu coração. A CAPES / PROSUP pela bolsa de estudos de doutorado e ao Fundo Mackenzie de Pesquisa por financiar em parte este trabalho. Ao Sr. Carlos de Souza, do Conselho Regional de Química IV Região - SP, pelo suporte na publicação de meu artigo convidando as organizações a participarem desta pesquisa. Ao Prof. Dr. Luiz Fernando Lima Reis, do Instituto Sírio-Libanês de Ensino e Pesquisa, pelas indicações de contatos na área de saúde. Ao Prof. Dr. Diogo Meyer, do Departamento de Genética e Biologia Evolutiva do Instituto de Biociências da USP, pelas explicações sobre a Teoria Evolucionária. Aos gestores do Centro Paulista de Investigação Clínica (CEPIC), em particular ao Sr. Dario F. Saba, pela atenção dispensada e indicação de contato em empresa de manufatura. Ao Sr. Dorival Soriani pela entrevista concedida para testes preliminares. Às organizações que participaram desta pesquisa: 3M do Brasil Ltda., AB Brasil Ind. e Com. de Alimentos Ltda., Beraca S.A., Departamento de Anatomia Patológica do Hospital A. C. Camargo e Serasa Experian, representadas pelos seus excelentes profissionais. Muito obrigada pela boa vontade com que vocês me receberam, pelo interesse, seriedade e franqueza com que participaram desta pesquisa. Aos amigos de doutorado e aos professores da Universidade Presbiteriana Mackenzie, em especial ao Prof. Dr. Ricardo Quadros Gouvêa, pela disposição, atenção e tempo dedicados a me ensinar o Estruturalismo. Ao Prof. Dr. Edgard J. C. Menezes por aceitar a surpervisão de meu estágio de docência na disciplina Gestão da Inovação. Aos professores da banca examinadora por disporem de seu tempo para avaliar este trabalho. À minha família em seu amplo sentido, pelas diversas formas de ajuda nas superações das dificuldades, compreensão e confiança em mim depositada. A Deus, pela minha saúde e por todos estes caminhos abertos. O hábito de recolher-me a mim mesmo terminou por me tornar imune aos males que me acossam, e quase me fez perder a memória deles. Desse modo, aprendi com base na minha própria experiência que a fonte da felicidade reside dentro de nós e que não está no poder dos homens fazer com que fique realmente desgostosa uma pessoa determinada a ser feliz. Por quatro ou cinco anos desfrutei regularmente de alegrias interiores que almas gentis e afetuosas encontram numa vida de contemplação . Rosseau (1782) RESUMO A competição acirrada de nossos dias faz com que as organizações busquem por formas de se diferenciar em suas atividades e com isso, o tema inovação está cada vez mais presente nas estratégias organizacionais e nos estudos acadêmicos. Tão numerosos quanto os estudos sobre inovação são os seus recortes. Para mencionar alguns exemplos, há pesquisas baseadas em diferentes portes de empresas; outras são focadas em atividades econômicas específicas; algumas são mais direcionadas à gestão da inovação. No entanto, percebe-se que ainda há necessidade de se investigar para compreender melhor o fenômeno da inovação em si. Há autores que, ao tratar especificamente de inovação em serviços, apontam que é necessária uma abordagem integradora da inovação, baseada nas características técnicas e competências envolvidas, tanto de fornecedores quanto de consumidores. A proposta deste trabalho é neste sentido, ou seja, estudar como o fenômeno da inovação ocorre independentemente das atividades econômicas das organizações pesquisadas. Para isso a inovação é pesquisada sob a ótica das rotinas. Para atingir tal objetivo foi realizada uma pesquisa sobre seis serviços e quatro produtos, todos considerados inovadores pelas suas respectivas organizações. A pesquisa foi conduzida mediante entrevistas individuais com pessoas que participaram no desenvolvimento dos serviços e produtos inovadores. As entrevistas semiestruturadas foram escolhidas como a técnica de coleta de dados. Para a análise dos resultados obtidos utilizou-se a técnica de template. Considera-se que uma das principais contribuições desta tese seja metodológica no sentido de que nela se estabelece uma forma de investigar o fenômeno da inovação à luz das rotinas de busca. Neste sentido, foram identificados elementos de rotinas de busca sob as perspectivas individual e teórica. Além disso, foi confirmada uma hierarquia entre as rotinas de busca. Outra contribuição deste estudo reside na verificação da existência de uma estrutura comum, subjacente aos diferentes tipos de serviços e produtos inovadores investigados. Dentre os elementos que compõem esta estrutura encontram-se os clientes das organizações inovadoras; verificou-se que o porte de tais clientes é um fator importante para o desenvolvimento de serviços e produtos inovadores. Palavras-chave: Rotinas de Busca, Hábito, Inovação, Serviço, Indústria, Competência, Capacidades Dinâmicas, Teoria Evolucionária, Financeiro, Biodiversidade, Sustentabilidade, Câncer, Andiroba, Ovo, Sobremesa. ABSTRACT The current fierce competition pushes organizations to look for differentials in their activities and with this movement the innovation theme has been more present in the organizational strategies as well as in the academic studies. As numerous as the innovations studies are their perspectives. To mention some examples, there are researches based on different companies sizes; others are focused in specific economic activities; some are more directed to innovation management. However, it is realized that there is still a need of further investigation in order to better understand the innovation phenomenon itself. When approaching specifically the service innovation, some scholars indicate that it is necessary an integrative approach on innovation, which are based on technical characteristics and suppliers and customers competences. The proposal of this work is in this sense, that is, to study how the innovation phenomenon occurs, independently of the economic activities of searched organizations. To do so, the innovation is studied under the routines point of view. In order to accomplish such objective it was performed a research on six services and four products, being that all of them are considered innovative by their respective organizations. The research was based on individual interviews with people that took part of the innovative services and products developments. The semi-structured interviews were choosen as the technique to gather the data. The results analysis was performed using the template technique. It is perceived that one of the major contributions of this thesis is methodological, in the sense that it is established a way to investigate the innovation under the light of search routines. In this sense elements of search routines were identified in individual and theoretical perspectives. Besides this, it was confirmed a hierarchy among the search routines. Other contribution of this study is the verification of the existence of a commom structure, underlying the different innovative services and products investigated. This structure is composed by elements and the customers of the innovative organizations are among such elements. It was verified that the size of such customers is an important factor for the development of the innovative services and products. Keywords: Search routines, Habits, Innovation, Services, Industry, Competences, Dynamic Capabilities, Evolucionary Theory, Financial, Biodiversity, Sustainability, Cancer, Andiroba, Egg, Desert LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1: Diagrama esquemático da revisão sobre o tema rotinas realizada por Becker (2004) .................................................................................................................................................. 26 Figura 2: Representação das visões de Simon e Dewey (1922) sobre hábito / rotinas ............ 30 Figura 3: Forma de atuação dos mecanismos multinível proposta por Vromen (2009) ........... 35 Figura 4: Relacionamento indivíduo-organização proposta por Felin e Foss (2005)............... 39 Figura 5: Modelos de evolução organizacional ........................................................................ 41 Figura 6: Cadeia básica da lógica dos principais artigos de capacidades dinâmicas ............... 51 Figura 7: As quatro dimensões de uma competência central ................................................... 52 Figura 8: Uma ferramenta para ligar recursos, rotinas e capacidades. ..................................... 57 Figura 9: Representação do produto baseada em características .............................................. 65 Figura 10: Modelo hipotético da inovação radical de produto. ................................................ 70 Figura 11: Modelo conceitual utilizado para examinar as diferenças e similaridades entre o desenvolvimento de novo produto e de novo serviço............................................................... 74 Figura 12: Ferramenta teórica - tipos de organizações mais ou menos adaptáveis .................. 79 Figura 13: Cruzamento de Paradigmas ..................................................................................... 86 Figura 14: Organograma do Depto. de Anatomia Patológica do Hospital A. C. Camargo .... 107 Figura 15: Hierarquia das Rotinas .......................................................................................... 144 LISTA DE QUADROS Quadro 1: Interpretações de rotinas organizacionais segundo as perspectivas de alguns autores .................................................................................................................................................. 25 Quadro 2: Hipóteses elaboradas por Àlvarez e Merino (2003) e respectivos resultados após testes ......................................................................................................................................... 43 Quadro 3: Aplicando a lógica evolucionária a múltiplos níveis de análise .............................. 45 Quadro 4: Principais definições de capacidades dinâmicas, segundo Di Stefano, Peteraf e Verona (2009) e Helfat e Peteraf (2009) .................................................................................. 50 Quadro 5: Principais níveis de competências organizacionais e respectivos conceitos ........... 53 Quadro 6: Hipóteses elaboradas por Rothaermel e Hess (2007) e respectivos resultados após testes ......................................................................................................................................... 56 Quadro 7: Abordagens teóricas da inovação em serviços segundo as perspectivas de alguns autores ....................................................................................................................................... 60 Quadro 8: Comparação entre a taxonomia de Pavitt e a classificação de Miozzo e Soete ...... 61 Quadro 9: Principais ideias relativas ao efeito do tamanho da firma sobre a capacidade inovativa da empresa ................................................................................................................ 67 Quadro 10: Possíveis variáveis que afetam a inovação radical de produto .............................. 68 Quadro 11: Hipóteses elaboradas por Nijssen et al., (2006) e respectivos resultados após testes .................................................................................................................................................. 75 Quadro 12: Principais temas abordados no referencial teórico ................................................ 85 Quadro 13: Definição da amostra e dos sujeitos de pesquisa ................................................... 89 Quadro 14: Síntese dos roteiros de entrevista utilizados na pesquisa ...................................... 90 Quadro 15: Matriz de Amarração ............................................................................................. 99 Quadro 16: Síntese das organizações, serviços inovadores e informações sobre os entrevistados. .......................................................................................................................... 101 Quadro 17: Síntese das organizações, produtos inovadores e informações sobre os entrevistados. .......................................................................................................................... 102 Quadro 18: Principais características dos serviços inovadores investigados ......................... 109 Quadro 19: Fatos e estatísticas da Beraca .............................................................................. 121 Quadro 20: Entendimento de Conceitos em Empresas de Serviço ........................................ 126 Quadro 21: Entendimento de Conceitos em Empresas de Indústria ...................................... 128 Quadro 22: Dimensões conceituais das rotinas ...................................................................... 130 Quadro 23: Evidências de rotinas no desenvolvimento de serviços e produtos inovadores .. 145 Quadro 24: Elementos sinalizadores dos Serviços Inovadores .............................................. 147 Quadro 25: Elementos sinalizadores dos Produtos Inovadores .............................................. 148 Quadro 26: Template inicial construído com base no Roteiro de Entrevistas ........................ 158 Quadro 27: Template construído a partir de entrevista realizada com a Pesquisadora .......... 160 Quadro 28: Template construído a partir de entrevista com a Especialista em Meio Ambiente e Sustentabilidade ................................................................................................................... 162 Quadro 29: Consolidação dos templates (Quadros 27 e 28) do Produto Inovador PONJITAMR ................................................................................................................................................ 165 Quadro 30: Template Final consolidando Serviços e Produtos Inovadores ........................... 167 LISTA DE TABELAS Tabela 1: Perfil demográfico da amostra .................................................................................. 77 Sumário 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 18 2 REFERENCIAL TEÓRICO ........................................................................................ 23 2.1 Rotinas Empresariais .................................................................................................... 24 2.1.1 Origem das rotinas ................................................................................................... 28 2.1.2 Definição de rotinas de busca .................................................................................. 31 2.2 Nível de análise das rotinas .......................................................................................... 33 2.3 Modelos evolucionários e as conexões entre os níveis de análise das rotinas .......... 40 2.4 Rotinas de busca e competências para inovar ............................................................ 47 2.5 Rotinas de busca, similaridades e diferenças na inovação em serviços e indústrias58 2.5.1 Inovação em empresas de serviços versus inovação empresas de indústrias ...... 58 2.5.2 O modelo de Gallouj e Weinstein ............................................................................ 63 2.5.3 Trabalhos experimentais com rotinas, inovação em indústrias e em serviços .... 65 2.6 Conclusões sobre o referencial teórico ........................................................................ 81 3 METODOLOGIA ......................................................................................................... 86 3.1 Determinação do tipo de pesquisa ............................................................................... 87 3.2 Identificação da unidade de análise ............................................................................. 87 3.3 Definição da amostra e seleção dos sujeitos ................................................................ 88 3.4 Delimitação do horizonte de tempo ............................................................................. 89 3.5 Construção do instrumento de coleta de dados .......................................................... 89 3.5.1 Operacionalização dos conceitos ............................................................................. 91 3.6 Matriz de amarração do projeto de pesquisa ............................................................. 93 3.7 Planejamento de Pesquisa .......................................................................................... 100 3.8 Método utilizado para a análise dos resultados da parte experimental ................. 102 4 ANÁLISE DOS RESULTADOS DA PARTE EXPERIMENTAL ......................... 105 4.1 Descrição das empresas de serviço pesquisadas e respectivos serviços inovadores105 4.1.1 4.1.1.1 4.1.2 4.1.2.1 Departamento de Anatomia Patológica do Hospital A. C. Camargo ................ 105 Sistema de Detecção da Imunohistoquímica ................................................... 107 Serasa Experian ...................................................................................................... 108 Nota Fiscal Eletrônica ....................................................................................... 110 4.1.2.2 Application Manager 3 ....................................................................................... 111 4.1.2.3 Me Avise ............................................................................................................. 111 4.1.2.4 Me Proteja .......................................................................................................... 112 4.1.3 Empresa da área de telecomunicações....................................................................... 113 4.1.3.1 Serviços de apoio ....................................................................................................... 113 4.2 Descrição das empresas de indústria pesquisadas e respectivos produtos inovadores.............................................................................................................................. 114 4.2.1 3M do Brasil Ltda................................................................................................... 114 4.2.1.1 PONJITA MR ............................................................................................................. 116 4.2.2 AB Brasil Indústria e Comércio de Alimentos Ltda ........................................... 117 4.2.2.1 Projeto Ovos: Ovo em Caixa e Sobremesas Líquidas ........................................... 118 4.2.3 Beraca S.A. .............................................................................................................. 120 4.2.3.1 Óleo de Andiroba das Mulheres Pescadoras da Ilha de Marajó .......................... 121 4.2.4 4.3 4.3.1 Empresa do ramo químico e petroquímico .......................................................... 123 Elementos de rotinas de busca e competências para inovar ................................... 123 A percepção individual: o entendimento dos conceitos de rotinas, hábitos e competências para inovar .................................................................................................... 124 4.3.2 Perspectiva teórica: dimensões conceituais de rotinas ........................................ 129 4.3.3 A identificação das rotinas de busca nos serviços e produtos inovadores estudados143 4.4 Análise comparativa entre serviços e produtos inovadores ........................................ 149 4.4.1 Sobre a definição dos serviços e produtos inovadores ........................................ 149 4.4.2 O alcance dos serviços e produtos inovadores e o tipo de inovação realizada .. 149 4.4.3 A origem dos serviços e produtos inovadores ...................................................... 150 4.4.4 Tempo dispendido e investimentos realizados no desenvolvimento dos serviços e produtos inovadores ............................................................................................................. 151 4.4.5 Etapas e dificuldades encontradas no desenvolvimento dos serviços e produtos inovadores.............................................................................................................................. 151 4.4.6 O papel da equipe no desenvolvimento dos serviços e produtos inovadores .... 152 4.4.7 Atitudes inovadoras no desenvolvimento dos serviços e produtos ..................... 153 4.4.8 A interface com os clientes: a importância do porte e competências dos clientes das organizações inovadoras pesquisadas .......................................................................... 154 4.4.9 Aprendizados na geração dos serviços e produtos inovadores ........................... 155 4.4.10 A importância dos aspectos legais e regulatórios no desenvolvimento dos serviços e produtos inovadores ............................................................................................ 156 4.4.11 Evidências de características comuns às empresas de serviço e produto inovadores.............................................................................................................................. 156 4.5 Análise de template: a estrutura induzida ................................................................ 157 4.5.1 Template Inicial ........................................................................................................... 157 4.5.2 Análise do template final de serviços e produtos inovadores consolidados ............ 165 5 CONCLUSÕES ........................................................................................................... 168 5.1 Contribuições da tese .................................................................................................. 169 5.2 Limitações da tese ....................................................................................................... 170 5.3 Sugestões para agenda de pesquisas futuras ............................................................ 171 REFERÊNCIAS.................................................................................................................... 172 APÊNDICE A ....................................................................................................................... 182 APÊNDICE B ........................................................................................................................ 186 APÊNDICE C ....................................................................................................................... 190 ANEXO A .............................................................................................................................. 262 ANEXO B .............................................................................................................................. 275 18 1 INTRODUÇÃO A competição acirrada de nossos dias faz com que as organizações busquem incessantemente por formas de se diferenciar em suas atividades. Para atingir tal objetivo, a nova ordem nas estratégias das organizações é inovar. Há organizações que se dizem inovadoras e realmente o são. Outras, no entanto, apenas assim se declaram buscando transmitir a noção de modernidade à sociedade para cativá-la, obter o seu reconhecimento, aceitação e, assim, auferir benesses desta relação. Mas como é possível saber se uma organização é, de fato, inovadora? O que uma organização faz e como ela faz para inovar? Em quais circunstâncias a forma de inovar nas indústrias se assemelha às das atividades de serviços? (SANTOS, 2010) Essas são algumas das questões levantadas neste estudo sobre organizações inovadoras. De fato, há vários trabalhos sobre inovação e nota-se que este tema continua sendo um campo fecundo para investigação e por isso as pesquisas nesta área se alastram. Tão numerosos quanto os estudos sobre inovação são os seus recortes. Para mencionar alguns exemplos, há pesquisas baseadas em diferentes portes de empresas; outras são focadas em atividades econômicas específicas; algumas são mais direcionadas à gestão da inovação, como é o caso das realizadas por Tidd, Bessant e Pavitt (2008) e do trabalho de Clark e Wheelwright (1993), ambos amplamente explorados por Silveira e Santos (2008). No exterior, assim como no Brasil, as instituições governamentais emitem relatórios oficiais sobre as atividades inovadoras realizadas em suas organizações. Porém, normalmente os dados são apresentados de forma agregada e com isso os detalhes das inovações são perdidos. Deficiências metodológicas se refletem principalmente na abordagem da inovação em serviços, pois os indicadores propostos, como investimento em pesquisa e desenvolvimento (P&D) e patentes, não estão presentes em grande parte das atividades de serviço. A intangibilidade e a interatividade entre clientes e prestadores de serviços dificultam o estudo da inovação a partir destes indicadores. Autores que tratam especificamente de inovação em serviços (GALLOUJ; WEINSTEIN; 1997; GALLOUJ; SAVONA, 2009) apontam que é necessária uma abordagem integradora da inovação, baseada nas características técnicas e competências envolvidas, tanto de fornecedores quanto de consumidores. 19 Por este motivo, percebe-se que há necessidade de se investigar as inovações em maior profundidade, para compreender melhor o fenômeno da inovação em si. A proposta deste trabalho é neste sentido, ou seja, entender como o processo de inovação ocorre independentemente das atividades econômicas das organizações pesquisadas. Para isso a inovação será pesquisada sob a ótica das rotinas. De fato, há muito tempo as rotinas empresariais têm intrigado pesquisadores e os impelido a estudá-las. De forma ampla, a maioria das definições de rotinas1 tem uma relação com um habitual modus operandi, com procedimentos, com o que é regular, mundano, ou ainda, em linguagem matemática, relacionado à função ou subprograma de computador. O significado literal do termo “rotina” pode fazer com que se assuma que este conceito possa ser reduzido a uma parte desprezível de indivíduos ou vidas das organizações, por exemplo, a algo que alguém faz sem pensar e que não é realmente importante. Além disso, em linguagem cotidiana, o termo “rotina” tem uma conotação negativa porque é visto como uma forma de automatismo cognitivo que relega este processo a uma posição passada, distante do grupo dos grandes planos estratégicos cuidadosamente projetados e implementados (LAZARIC, 2007, p. 2). Dessa forma, a partir destas definições que tornam o assunto tão comum, poderia-se então questionar qual seria a relevância de um estudo envolvendo rotinas em uma organização. A importância do tema de rotinas empresariais foi resgatada pela Teoria Evolucionária da Mudança Econômica proposta por Nelson e Winter (1982). Essa teoria surgiu com o objetivo de explicar os processos de mudança econômica, em que o corportamento dos agentes econômicos está pautado em rotinas. Estes autores esclarecem que sob o conceito de rotinas são compreendidos todos os padrões comportamentais regulares e previsíveis das firmas, de forma ampla. Partindo de uma perspectiva evolucionária, eles estabelecem uma comparação entre rotinas e genes. Com isso passou-se a estudar as rotinas organizacionais em vários aspectos, com vistas a descobrir, por exemplo, as causas de sucesso ou fracasso de empresas em suas atividades. Pode-se dizer que a partir desta comparação as rotinas ficaram evidenciadas como 1 Definições em <http://thesaurus.reference.com/browse/rotine?qsrc=2886'>rout. Há indicação que a palavra rotina originou-se de “route”, por volta de 1670-80. 20 unidade de análise das organizações, sendo consideradas de certa forma como passíveis de réplica, se estabelecido um paralelo com o DNA de organismos vivos. Reconhece-se, entretanto, que devido às várias faces das rotinas ainda há espaço e necessidade de estudá-las (COHEN et al, 1996; BECKER, 2004; LAZARIC, 2007). Nelson e Winter (1982), por exemplo, ao definirem o conceito de rotinas, as agruparam em três classes: - as rotinas operacionais, as de investimentos e as de busca, também chamadas de rotinas de inovação. Em um trabalho recente Becker e Zirpoli, (2009) afirmam que a determinação de uma relação entre as rotinas organizacionais e a inovação permanece como uma tarefa quase completamente negligenciada. Especificamente no caso das rotinas de inovação, Pavitt (2002) apontou previamente que um grande desafio na economia evolucionária seria atribuir maior conteúdo operacional a elas. Para o autor, ao se conhecer as rotinas de inovação seria possível identificar os ingredientes para bom o gerenciamento da inovação e assim estabelecer uma ligação com a estratégia organizacional. Ele também argumenta que pouca informação de importância prática foi desenvolvida desde a apresentação do conceito de rotinas por Nelson e Winter (1982), se comparadas a outros novos conceitos teóricos que foram combinados às evidências empíricas. Estudos como os realizados por Nijssen, Hillebrand, Vermeulen e Kemp (2006) e Chandy e Tellis (1998) contituem-se em provas da relevância do tema rotinas associadas à inovação radical em empresas de indústria e de serviços, como fonte de grandes lucros para os inovadores. Entretanto, nos trabalhos destes autores não há um enfoque nas rotinas de busca; elas sequer são mencionadas nos mesmos. Portanto, do ponto de vista organizacional, a análise das rotinas de busca pode ser útil na identificação de elementos que contribuem para a competitividade das empresas, envolvendo questões relativas ao processo inovativo, tais como “Quais as características das rotinas de busca das empresas de serviço e de indústria?” “O que há de comum entre as rotinas de busca das empresas de serviço e de indústria?” A investigação de rotinas de busca se articula com o debate atual de vantagem competitiva baseado na visão de recursos e capacidades ou competências centrais da firma. 21 A relação entre rotinas organizacionais e capacidades dinâmicas é tema de intensa discussão; alguns autores, como por exemplo, Dosi; Nelson e Winter (2000) afirmam que a diferença entre rotinas organizacionais e capacidades dinâmicas é uma questão de unidade de análise, sendo que em algumas circunstâncias ambos os conceitos podem apresentar o mesmo significado. Outros autores, como Peng, Schroeder e Shah (2008) apresentam uma perspectiva diferente do assunto, no qual rotinas, capacidades dinâmicas e competências são colocadas como conceitos relacionados, porém distintos. Para o propósito deste projeto, a pergunta relevante que se faz gira em torno do entendimento prático das rotinas de busca nas organizações. Em outras palavras: Qual a origem, semelhanças e diferenças existentes nas rotinas de busca e nas competências para inovar em organizações inovadoras com atuação em serviços e em indústria? Para responder a questão geral e bem como as questões específicas colocadas, são traçados respectivamente os seguintes objetivos geral e específicos do trabalho: Como objetivo geral do trabalho pretende-se entender o processo de inovação como sinalizador de rotinas de busca presentes no desenvolvimento de produtos e serviços inovadores. Para alcançar esse resultado, a pesquisa terá como diretrizes os seguintes objetivos específicos: 1. Identificar os elementos das rotinas de busca na obtenção de produtos e serviços em organizações inovadoras; 2. Entender as competências para inovar existentes nas empresas de serviço e de indústria pesquisadas; 3. Identificar as diferenças das rotinas de busca em organizações inovadoras com atuação em serviços e indústria. A estrutura desta tese é composta por cinco capítulos incluindo esta introdução. No Capítulo 2 será apresentada uma revisão teórica dos assuntos relacionados às rotinas enquanto no Capítulo 3 serão comentados os procedimentos metodológicos escolhidos para a realização da parte experimental desta tese, bem como os métodos empregados para o tratamento das 22 informações obtidas em campo. No Capítulo 4 serão mostrados e discutidos os resultados empíricos obtidos nas organizações pesquisadas. O Capítulo 5 destina-se à apresentação das conclusões desta tese; suas contribuições, limitações e sugestões de uma agenda para pesquisas futuras. 23 2 REFERENCIAL TEÓRICO O referencial teórico desta tese foi elaborado tendo como diretriz principal os três elementos que compoem o problema de pesquisa deste trabalho, que são as rotinas de busca, as competências para inovar e a comparação entre empresas de serviço e de indústria sob a lente da inovação. Para abordar o tema rotinas de busca é necessário previamente discorrer sobre as rotinas empresariais, definidas sob um espectro mais amplo, e explicar o entendimento dos diversos autores sobre o assunto. Isto é feito no item 2.1 – Rotinas Empresariais – o qual também traz explicações acerca da origem das rotinas e a conceituação de rotinas de busca. Outros aspectos importantes para fundamentar esta pesquisa dizem respeito ao nível de análise das rotinas e aos modelos evolucionários. No primeiro aspecto, o nível de análise das rotinas, são apresentadas duas perspectivas sendo que uma delas baseia-se em uma visão de rotinas como mecanismos multinível e a outra defende os estudos organizacionais com enfoque voltado às microfundações. O segundo aspecto, os modelos evolucionários, refere-se às possíveis conexões entre os níveis de análise das rotinas. As competências para inovar, segundo elemento que compõe o problema de pesquisa deste trabalho, são abordadas no item 2.4 – Rotinas de Busca e Competências para Inovar. Neste item explora-se a interpretação, convergências e divergências entre os conceitos de competências, capacidades dinâmicas e rotinas. A comparação entre empresas de serviço e de indústria à luz da inovação, terceiro e último elemento que compõe o problema de pesquisa deste trabalho, é realizada no item 2.5 – Rotinas de Busca, similaridades e diferenças na Inovação em Serviços e Indústrias. Neste item são feitas considerações sobre a crescente importância das atividades de serviços na economia e também são explicadas três abordagens teóricas da inovação em serviços: - a abordagem Tecnológica ou de Assimiliação, a Orientada para Serviços ou Diferenciação e a abordagem Integradora ou Sintetizadora. O modelo de Gallouj e Weinstein (1997), principal representante da abordagem Integradora ou Sintetizadora, é detalhado no item 2.5.2. O produto ou serviço inovador representado pelo modelo de Gallouj e Weinstein (1997) é formado a partir de características e competências, o que o torna particularmente interessante para esta tese visto que o tema competências é assunto contemplado nesta pesquisa, conforme mencionado anteriormente. 24 2.1 Rotinas Empresariais Embora aparentemente o conceito de rotinas tenha adquirido maior importância na obra de Nelson e Winter (1982), ele já havia sido estudado anteriormente por outros economistas tais como Schumpeter (1934) e Simon (1979), além de também ser objeto de estudo de outras áreas do conhecimento como, por exemplo, da psicologia, filosofia e sociologia. De fato, as diversas faces das rotinas possibilitam que elas sejam estudadas de forma multidiciplinar. Conforme será visto no decorrer deste texto, serão usados elementos das várias áreas do conhecimento supramencionadas, na medida em que contribuam para a compreensão do que são as rotinas. Alguns trabalhos como, por exemplo, o de Cohen et al (1996), apontam a dificuldade em alcançar um acordo sobre o que as rotinas são e portanto como ou porque os cientistas sociais deveriam estudá-la. Na opinião de Vromen (2009) as ambiguidades sobre a noção de rotinas já estavam presentes no trabalho seminal de Nelson e Winter (1982) e ainda não foram removidas. O autor explica que parte desta situação insatisfatória deve-se ao fato que o significado de rotinas sirva a múltiplos propósitos. Em uma tentativa de organizar a discussão conceitual de rotinas, Becker (2004) apresentou uma ampla revisão teórica do tema. Em linhas gerais, o autor buscou responder duas questões: - o que são as rotinas e que efeito elas têm na organização. A figura 1 mostra um esquema das categorias analíticas relacionadas a cada uma destas questões e respectivas explicações. No âmbito da primeira questão, o que são as rotinas, Becker (2004) estruturou a revisão teórica em oito tópicos: - os padrões de comportamento repetidos, a recorrência, a natureza coletiva, a natureza processual, a dependência do contexto, a dependência da trajetória, os gatilhos e o inconsciente versus o esforço. A segunda questão, que efeito as rotinas têm na organização, o autor organizou em seis tópicos: - a coordenação e controle, a trégua, a economia de recursos cognitivos, a redução de incerteza, a estabilidade e o repositório de conhecimento. Em um trabalho posterior Becker (2005) afirmou que na literatura de economia e 25 negócios, o conceito de rotina organizacional é interpretado pelo menos de três formas, indicadas no Quadro 1. Segundo o autor estas três interpretações do termo rotinas organizacionais estão conectadas, pois todas se referem à regularidade. Portanto, em Becker (2005) o autor refere-se apenas a um dos aspectos das rotinas (regularidade) que foram discutidos em seu trabalho anterior. Termo Autores Interpretação Regularidades - Tornou-se uma prática usar o termo rotinas para os padrões de Winter (1964 e 1986), comportamentais comportamentos coletivos e hábitos para os individuais. Gersick e Hackman (1990); - O termo modelos de interações recorrentes tornou-se mais Dosi et al. (1992 e 2000) adequado para as rotinas organizacionais entendidas como regularidades comportamentais. Regras, Procedimentos operacionais padronizados. Feldman e Pentland (2003) propuseram os termos rotinas “performativas” e “ostensivas”, onde a parte ostensiva das rotinas organizacionais refere-se ao abstrato, à descrição narrativa e a parte performativa consiste nos desempenhos reais de pessoas específicas, em tempos e lugares específicos. Feldman e Pentland (2003), Cohen (1991), Egidi (1996), March e Simon (1993), Cyert e March (1963). Tendência a expressar um certo comportamento ou pensamento. - Mais do que comportamento, estes autores veem rotinas como Hodgson (2003), Hodgson e tendências para expressar certo comportamento ou pensamento. Knudsen (2003, 2004a, b) - Elas envolvem estruturas organizacionais e hábitos individuais, os quais, quanto disparados, levam a comportamentos sequenciais. Quadro 1: Interpretações de rotinas organizacionais segundo as perspectivas de alguns autores Fonte: Elaborado pela autora; fundamentado em Becker (2005) No entanto, para efeito deste estudo, cabe retomar uma explicação mais detalhada do primeiro trabalho do autor, Becker (2004), para melhor contextualização do assunto. O primeiro tópico de Becker (2004), padrões de comportamentos repetidos, tem sido central à idéia de rotina associada à regularidade. Na literatura quatro termos diferentes são usados para denotar o conteúdo dos padrões: ação, atividade, comportamento e interação. O problema que surge é que a ação e a atividade são usadas como sinônimos. Em contrapartida, o comportamento é distinguível da ação pelo que é observável e é entendido como uma resposta ao estímulo. A interação é um subconjunto da ação, referindo-se a uma ação que envolve múltiplos atores, fazendo uma distinção entre o nível individual e o coletivo. No entanto, historicamente o termo rotinas refere-se padrões de atividades coletivas recorrentes. Em nível individual essas atividades têm sido associadas ao termo hábito. 26 Figura 1: Diagrama esquemático da revisão sobre o tema rotinas realizada por Becker (2004) Fonte: Diagrama elaborado pela autora, construído com base em Becker (2004). 27 O segundo tópico de Becker (2004), a recorrência, diz repeito ao fato de as rotinas poderem envolver múltiplos atores em diferentes lugares. Consequentemente torna-se difícil ter uma visão geral do conhecimento total da organização, podendo levar à incerteza. De certa forma, a natureza coletiva das rotinas está associada à recorrência. Cohendent e Llerena (2003) explicam que os múltiplos atores que estão envolvidos na rotina podem formar diferentes tipos de comunidades (epistêmicas e de prática). Todas as comunidades fornecem um contexto local diferente no qual as rotinas emergem e o aprendizado ocorre, levando a rotinas que diferem fortemente em termos de poder de replicação, grau de inércia e potencial de busca. Relativamente à natureza processual das rotinas refere-se ao fato do conceito de rotina poder explicar a mudança organizacional e econômica porque a mudança, em si, é um processo. A dependência do contexto, enraizamento e especificidade significa que as rotinas são enraizadas em uma organização e suas estruturas são específicas ao contexto. Consequentemente as regras gerais e procedimentos têm de ser revistos quando transferidos entre contextos porque eles são diferentes. A dependência da trajetória no desenvolvimento de rotinas implica que o ponto de partida é importante no desenvolvimento delas ao longo do tempo. Em decorrência disso, surge a dificuldade em traçar a origem da rotina (as razões que a originaram) e reestabelecê-la ao seu ponto de partida de modo a conhecer o problema para o qual ela se apresentou como solução. Os gatilhos são potenciais iniciadores de uma rotina e a inconsciência x esforço diz respeito à idéia de que os indivíduos seguem as rotinas sem prestar atenção às mesmas. A perspectiva oposta é que as rotinas não são realizadas de modo inconsciente e que resultam de esforço. Em relação à segunda questão, referente aos efeitos das rotinas na organização, Becker (2004), o primeiro tópico, coordenação e controle trata da capacidade que as rotinas possuem em suportar elevado nível de simultaneidade. Elas conseguem tornar muitas atividades simultâneas consistentes e provém cada um dos atores com conhecimento do comportamento de outros. A trégua garante o bom andamento das atividades por meio de um acordo (implícito) 28 estabelecido entre os que ordenam e os que executam ordens, sem questionar a autoridade daqueles que ordenam. A economia de recursos cognitivos refere-se a fazer o melhor uso da capacidade limitada, a atenção é normalmente concentrada em eventos não rotineiros, enquanto os eventos recorrentes são processados de forma semiconsciente. Este processamento de eventos repetitivos requer menos recursos cognitivos porque as rotinas guiam a busca por experiência e reduzem o espaço de opções comportamentais para avaliação. As rotinas também contribuem para a redução de incerteza e permitem que os atores tomem uma ação. Na medida em que as rotinas são recorrentes, sem muita mudança, elas causam estabilidade. Um dos argumentos que explicam o motivo pelo qual as rotinas causam estabilidade fundamenta-se no fato de que se as rotinas existentes produzirem bons resultados nenhum processo de solução de problemas é ativado para encontrar uma alternativa. O outro argumento para explicar a estabilidade das rotinas baseia-se em custos, ou seja, sempre que o modo de executar uma tarefa particular muda, ela incorre em custos. Em algumas vezes o efeito de estabilidade promovido pelas rotinas desenvolve uma patologia. Em tal caso, as rotinas persistem ignorando a avaliação negativa das mesmas. As rotinas também conduzem à inércia. Estudos empíricos enfatizaram que as rotinas têm um grande potencial para a mudança devido a uma dinâmica interna dos participantes respondendo aos resultados de iterações prévias de uma rotina. As rotinas organizacionais então contribuem para a estabilidade e mudança e exercem um papel importante na flexibilidade organizacional. O que diferencia as rotinas de outros repositórios de conhecimento tais como bases de dados e documentos é o fato de se acreditar que as rotinas são capazes de estocar conhecimento tácito. 2.1.1 Origem das rotinas Conforme apontado por Becker (2004) em sua revisão teórica sobre rotinas, elas dependem da trajetória de seu desenvolvimento ao longo do tempo. Isso implica que o ponto de partida (origem das rotinas) é importante. 29 Becker (2004) menciona a dificuldade em traçar a origem da rotina (razões) e reestabelecê-la ao seu ponto de partida de modo a conhecer o problema para o qual ela se apresentou como solução. Esta dificuldade é reportada explicitamente por Pentland e Feldman (2005): A identificação de uma rotina particular é como tentar isolar uma corrente do Golfo no Oceano Atlântico. A identificação é parte do ato de criação (Feldman e Pentland, 2005b). Nem sempre é óbvio onde uma rotina começa ou termina. Por exemplo, no estudo de suporte a software de Pentland e Reuter (1994), as interações de suporte são definidas como iniciadas quando é “aberta” uma chamada na base de dados do vendedor e encerradas quando a chamada é “fechada”. Mas alguém poderia adotar a perspectiva que inclui o problema real do evento, e os eventos que conduziram ao problema, e assim por diante (PENTLAND; FELDMAN, 2005, p. 798, tradução nossa). A visão de Pentland e Feldman (2005) confirma o entendimento de Simon e March (1958) no qual a origem da rotina está na resolução de um problema. Simon e March (1958) descrevem que uma atividade individual ou organizacional, normalmente é desencadeada como uma resposta a um estímulo do ambiente. Eles explicam que as respostas ao estímulo podem ser de vários tipos; em um extremo o estímulo evoca uma resposta muito elaborada, a qual foi desenvolvida e aprendida previamente como reação a este tipo de estímulo. Quando um estímulo é algo que já foi experimentado repetidamente no passado, a resposta será altamente rotinizada (SIMON; MARCH, 1958). Nesse sentido Simon e March (1958) atribuem à rotina a característica de atividade computacional, aplicável a uma situação bem definida que inclui um repertório de programas de resposta, bem como programas para selecionar uma resposta apropriada do repertório. Em outro extremo, quando um estímulo é relativamente novo, ele evocará uma atividade de resolução de problemas com o objetivo de construir inicialmente uma definição da situação e então desenvolver um ou mais programas de desempenho apropriados à resposta. De acordo com Simon e March (1958), as atividades de resolução de problemas envolvem busca para descobrir alternativas de ação ou consequências da ação. A descoberta das alternativas pode envolver invenção ou elaboração de programas de desempenho, os quais não estão prontamente disponíveis no repertório de quem solucionará o problema. Na visão de Simon e March (1958) o processo de busca de alternativas para resolução 30 de problemas é parcialmente aleatório, mas não é cego. Ele é frequentemente objeto de uma decisão racional: Psicólogos (por exemplo, Wertheimer, Duncker, de Groot, Maier) e observadores (por exemplo, Poincaré, Hadamard) que têm estudado o pensamento criativo e a resolução de problemas têm sido unânimes em creditar um grande papel desses fenômenos aos processos de busca. A busca é parcialmente randômica, mas na resolução efetiva de problemas ela não é cega. O projeto do processo de busca é por si mesmo frequentemente um objeto de decisão racional (SIMON; MARCH, 1958, p. 161, tradução nossa). Uma perspectiva oposta a esta é apresentada por Cohen (2007) ao analisar a visão de Simon (1957) sobre rotinas comparativamente à de Dewey (1922), filósofo que desenvolveu o pragmatismo. Segundo Cohen (2007), Dewey (1922) vê seres humanos como possuidores de três amplas faculdades: a habitual, a cognitiva e a emocional. Para ele os hábitos dão forma e força às outras duas faculdades. As visões de Simon (1957) e de Dewey (1922) podem ser representadas contendo os três elementos, cognição, emoção e hábito, conforme o diagrama da figura 2: Figura 2: Representação das visões de Simon e Dewey (1922) sobre hábito / rotinas Fonte: Cohen (2007) Cohen (2007) explica que na visão de Simon (1957) a cognição é o topo da pirâmide, as decisões são pensadas como solução de problemas e as emoções ajudam a determinar o valor que as decisões podem acarretar. O hábito pode governar as ações que serão engatilhadas e garantir que a execução das escolhas seja automática. Na visão de Dewey (1922), o foco está no hábito, tornando-o aspecto dominante. Nesta abordagem, o desafio eleva-se quando as emoções são envolvidas por uma tarefa e os 31 hábitos estabelecidos são insuficientes para cumprir a tarefa. Isto faz com que as capacidades sejam redistribuídas em novas combinações que possam ser bem sucedidas no cumprimento da tarefa. Uma repetição infinita deste ciclo gera um repertório vasto de hábitos. Na representação esquemática da visão de Dewey (1922) a relação entre os elementos é dinâmica e por isso o sistema não é modularizado, com flechas separando os elementos. Cohen (2007) esclarece que Dewey (1922) usa a expressão “rotina hábito” ou “rotina” no sentido patológico, quando o pensamento e os sentimentos estão carentes de ação. Dewey (1922) usa “hábito” para as disposições e habilidades dos indivíduos e suas ações resultantes. Ele frequentemente usa “costume” para a ação recorrente baseada em hábito, em nível coletivo. Nenhuma destas idéias sobre a origem das rotinas pode ser considerada definitiva porque o conceito de rotinas, principalmente o das rotinas de busca, ainda está em construção. Portanto, o conhecimento exato de sua origem pode não ser absoluto e sim relativo ao nível de análise da rotina, que será explanado no item 2.2. 2.1.2 Definição de rotinas de busca Nelson e Winter (1982) ao definirem o conceito de rotinas afirmam que elas podem ser agrupadas em três classes: 1. As rotinas associadas às características operacionais que governam o comportamento de curto prazo da firma; 2. As rotinas associadas aos investimentos que determinam o aumento ou a diminuição do estoque de capital da firma em longo prazo (por exemplo a compra de uma fábrica); 3. As rotinas associadas à busca que são semelhantes à mutação na teoria evolucionária biológica. As rotinas associadas à busca funcionam para modificar vários aspectos das características operacionais da firma ao longo do tempo. Collison e Wilson (2006), citando a abordagem comportamental de Cyert e March (1963) e Nelson e Winter (1982) explicam que as rotinas acima descritas estão dispostas em um nível hierárquico, sendo que as rotinas de maior ordem (rotinas associadas à busca) governam as rotinas de menor ordem (rotinas associadas às características operacionais e de 32 investimentos). As rotinas de busca, por estarem associadas à mudança das características operacionais da firma ao longo do tempo são compreendidas também como rotinas de inovação. Este é o entendimento de autores tais como Collison e Wilson (2006) e Webster (2004) cujos trabalhos investigam as rotinas de busca. As pesquisas desses autores serão expostas no item 2.5.3. Nota-se que há entendimentos diversos sobre as rotinas de busca; alguns autores, tais como Tidd, Bessant e Pavitt (2008) ao citarem Winter (2003) tratam as rotinas de busca como sinônimo de capacidades dinâmicas: Sidney Winter associa a idéia de competências à sua própria noção de “rotinas” empresariais, na tentativa de melhor discernir capacidades de outras fórmulas genéricas de vantagem competitiva sustentável ou gestão da mudança. Uma rotina é um comportamento altamente padronizado, ensinado, derivado em parte de conhecimento tácito e com objetivos bem específicos, além de ser repetitivo. Ele acredita que uma capacidade corporativa é uma rotina, ou coleção de rotinas de alto nível, e distingue entre capacidade de “nível zero”, como as do tipo “como ganhamos a vida aqui” e capacidades verdadeiramente “dinâmicas”, que mudam o produto, o processo, a escala ou os mercados, como é o caso de desenvolvimento de novos produtos (TIDD; BESSANT; PAVITT, 2008, p. 209). A posição de Collison e Wilson (2006) e Webster (2004) de que as rotinas de busca não são sinônimos de competências parece correta. Uma possibilidade aqui levantada é que as rotinas de busca possam gerar as competências e vice-versa, o que depedenderá da origem da rotina e da sua trajetória de desenvolvimento. Isso remete novamente à questão do nível de análise das rotinas, que será discutido no item 2.2. Independentemente da interpretação do significado das rotinas de busca, os elementos comuns citados por esses autores nessas rotinas são a presença (ou ausência) de experiência, conhecimento e aprendizagem, que são fundamentais para o processo inovativo. Ainda relativamente ao conhecimento, ao elaborar a revisão sobre a Teoria da Criação do Conhecimento Organizacional, Nonaka, von Krogh e Voepel (2006) expuseram aspectos muito intrigantes para a investigação das rotinas organizacionais: No final dos anos 80, um número crescente de pesquisadores começou a duvidar da utilidade de muitas das premissas da linha principal de pensamento sobre cognição e conhecimento que variava do trabalho de Fredrick Taylor a Herbert Simon. Por exemplo, uma nova pesquisa questionava a noção de informação como “previamente fornecida”, e propunha que a organização deveria ser vista como processos de 33 “criação da informação” [...] Muitos pesquisadores do ocidente se apegaram a definição ponderada de conhecimento como uma “crença verdadeira universal justificada”, enquanto falhavam em criar um papel para as habilidades físicas, experiências e percepções em suas teorias. Como resposta, um conceito de conhecimento mais amplo foi desenvolvido que inclui ambos aspectos, o explícito, tais como a linguagem e documentação, e o tácito, tais como a experiência e habilidades [...] Pesquisa recente constatou que o conhecimento está incorporado no indivíduo, e é portanto dependente da história, é sensível ao contexto, específico e visa a definição do problema, mais do que a representação do problema e a sua solução (NONAKA; von KROG; VOEPEL, 2006, p. 1181, tradução nossa) . Nonaka, von Krogh e Voepel (2006) esclarecem que um propósito central da Teoria da Criação do Conhecimento Organizacional é identificar condições para melhorar a inovação e o aprendizado. Segundo esses autores, o contexto para a criação do conhecimento é o ba2. Várias características do ba são adequadas para a conversão do conhecimento. No entanto, há um aspecto do ba que pode afetar negativamente a inovação e está associado às rotinas. Segundo Nonaka et al (2006): [...] Há algo sobre grupos que reduz a habilidade criativa. Sob esta visão, o ba pode tornar-se autopreservador, míope, conservador, reforçador das rotinas existentes mais do que criador de conhecimento novo. Enquanto o processo de interação e origem dos bas suportam a difusão e o enraizamento das habilidades e do comportamento rotineiro, eles podem ajudar o desenvolvimento do pensamento em grupo, sufocar a criatividade e limitar a participação de indivíduos externos ao grupo (NONAKA; von KROG; VOEPEL, 2006, p. 1187, tradução nossa). Os aspectos cobertos na definição das rotinas de busca confirmam a necessidade de compreender em que nível de análise as rotinas organizacionais, sobretudo as rotinas de busca, devem ser investigadas. A justifica para tal assertiva deve-se ao fato de que muitos dos assuntos tratados envolvem conceitos que variam continuamente entre o indivíduo e o coletivo. Tais assuntos serão retomados no próximo item. 2.2 Nível de análise das rotinas Aparentemente a necessidade de estabelecer um nível de análise das rotinas nasceu juntamente com a definição de seu conceito. Essa é a opinião de autores como Vromen (2009) e Felin e Foss (2005). Para Vromen 2 Ba é um espaço compartilhado para as relações emergentes. Ele pode ser um espaço físico, virtual ou mental, no entanto, todos os três têm conhecimento enraizado em um ba comum, onde o conhecimento é adquirido através de experiências individuais ou reflexões sobre as experiências alheias. 34 (2009) as ambiguidades sobre a noção de rotinas já estavam presentes no trabalho seminal de Nelson e Winter (1982) a ainda não foram removidas. Vromen (2009) explica que parte desta situação insatisfatória deve-se ao fato que o significado de rotinas sirva a múltiplos propósitos. Na opinião de Felin e Foss (2005), Nelson e Winter (1982) consideram as rotinas como unidade de análise com o objetivo de compreender a mudança relativa das diferentes rotinas em uma população de firmas. No entanto, no entendimento de Felin e Foss (2005), os argumentos de Nelson e Winter (1982) enfatizaram as rotinas organizacionais como determinantes do comportamento individual. Tanto Vromen (2009) quanto Felin e Foss (2005) fazem considerações sobre as diferentes interpretações das rotinas e suas implicações, no entanto, as propostas destes autores sobre rotinas também divergem, sobretudo em relação aos níveis de análise. A comparação das representações dos modelos de Vromen (2009) com o de Felin e Foss (2005) pode facilitar a compreensão das diferentes visões destes autores (vide figuras 3 e 4). Vromen (2009) propõe que as rotinas sejam entendidas como mecanismos multinível enquanto Felin e Foss (2005) buscam estudar as organizações com enfoque nos indivíduos, ou seja nas microfundações. Para Vromen (2009) nas rotinas existem padrões de repetição que são observados em diferentes níveis de análise. Ele explica que ao se observar uma determinada rotina em uma organização é possível identificar padrões específicos de interação das unidades da firma ou participantes individuais da mesma. Em um nível de análise inferior (unidades ou indivíduos), segundo Vromen (2009), é possível notar padrões similares aos encontrados na organização, porém ocorrendo entre indivíduos participantes das unidades. Se a análise for conduzida em nível de indivíduo verificam-se padrões similares internos ao mesmo, como por exemplo, em áreas do cérebro ativadas. As partes componentes de mecanismos multinível também são mecanismos que contém outras partes de comportamento similar. A pergunta que se faz neste contexto é em que nível se deseja decompor tais mecanismos nos estudos (VROMEN, 2009). 35 Para este autor, um dos méritos de ver rotinas como mecanismos multinível é que isto ajuda a compreender como concepções diferentes e aparentemente conflitantes de rotinas, podem ser combinadas de forma coerente. Figura 3: Forma de atuação dos mecanismos multinível proposta por Vromen (2009) Fonte: Vromen (2009) Nesta figura o nível mais elevado (elipse negra) representa o sistema como um todo; há flechas que chegam ao sistema (inputs) e que saem do mesmo (outputs). O nível intermediário é visto se for focalizado o funcionamento do mecanismo (2o patamar). É possível ainda visualizar o funcionamento do mecanismo (2o patamar) em maior detalhe e identificar as atividades e interação das entidades no patamar inferior. Com isto verifica-se que o mesmo processo causal pode ser visualizado em diferentes níveis. Para fundamentar a sua proposta de rotinas como mecanismos multinível, Vromen (2009) retoma algumas discussões, tais como: 1 a analogia das rotinas com genes: neste sentido o autor afirma que a principal idéia de Nelson e Winter (1982) é que as rotinas lembram genes em sua establilidade ao longo do tempo; não a preocupação com a transmissão pela cópia entre firmas. É um argumento diferente do apresentado por Hodgson e Knudsen (2004) que as rotinas não só representam os genes relativamente à longevidade, mas também com relação à fidelidade de transmissão. Nelson e Winter (1982) enfatizam que as rotinas tendem a ser específicas da firma e difícies de imitar pelo conhecimento tácito não articulado que as formam. Deste modo, tentativas de imitar rotinas de outras firmas levariam à mutação. 36 2 a analogia das rotinas com as habilidades: Para Vromen (2009), Nelson e Winter (1982) estabelecem um paralelo que as rotinas são para as firmas o que as habilidades são para os indivíduos. Segundo o autor as rotinas devem ser consideradas como propriedades das firmas, não dos indivíduos; elas são inconscientes e são um fenômeno coletivo, não individual. 3 as rotinas são determinantes do comportamento da firma e de seu desempenho: o que Vromen (2009) contesta não é somente o quanto do comportamento da firma é determinado pelas suas rotinas, mas também se é a heterogeneidade entre as rotinas e não a heterogeneidade entre indivíduos que explica as diferenças de comportamento e desempenho entre firmas. Abell, Felin e Foss (2008) sugerem que o desempenho diferencial das firmas pode ser mais devido a como os indivíduos fazem as próprias escolhas nas firmas do que devido à heterogeneidade entre as rotinas. 4 as rotinas são capacidades ou padrões de comportamento?: neste sentido Vromen (2009) explica que há proponentes e oponentes em resposta a essa pergunta. Aparentemente as rotinas não podem ser as duas coisas simultaneamente; ou seja, se as rotinas são as capacidades que geram o padrão de comportamento, elas não podem ser o padrão de comportamento em si. Segundo Vromen (2009) ao considerar as rotinas como mecanismos multinível, aspectos aparentemente contraditórios podem ser reconciliados de forma coerente: A segunda caracterização referida acima, que rotinas são capacidades que geram os padrões de comportamento das firmas, podem estar relacionadas ao argumento de Nelson e Winter que rotinas são como memórias das firmas. As rotinas de uma firma são repositórios de formas padronizadas da firma de fazer as coisas, que estão estocadas em algum lugar nela. Cada uma das rotinas é ativada (ou engatilhada, ou energizada) em um contexto particular por tipos específicos de estímulos ou “inputs”. Nesta concepção, são as rotinas que conduzem ao comportamento da firma e não são o comportamento da firma em si. O comportamento da firma resulta quando (algumas das) rotinas da firma são expressadas (cf. Cohen et al. 1996, 673). Nesta linha, “rotinas” são ententidas como disposições (Hodgson 2008, 21), ou como genótipos e replicadores, ou como capacidades executáveis por desempenhos repetidos em contextos particulares (Cohen et al. 1996, 683). (VROMEN, 2009, p. 9, tradução nossa). ● microfundações: Segundo Vromen (2009) sua opinião em relação às microfundações é similar à de Abell, Felin e Foss (2008) no sentido da importância de como as rotinas afetam o comportamento da firma. No entanto, Vromen (2009) não concorda com o argumento de Abell, Felin e Foss (2008) que as explicações em nível macro, tais como 37 aquelas que buscam explicar o desempenho em termos de diferenças de rotinas entre firmas, devam ser descartadas. Na visão de Abell, Felin e Foss (2008) as explicações em nível macro referem-se somente aos macrofenômenos e macromecanismos; por isso falham em cobrir as partes em micronível na cadeia causal. Na opinião de Vromen (2009) estes autores estão equivocados neste respeito porque as relações nos níveis de mecanismos são constitutivas (ou componenciais), não causais. Nos mecanismos, o que ocorre no micronível é constitutivo do que ocorre no macronível. Este é o argumento de Vromen (2009) em relação às rotinas; os modos de interação individual são constitutivos das rotinas e tornam-se visíveis se observado o funcionamento das rotinas em micronível. Segundo Vromen (2009): Abell et al. estão certos que as interações individuais estão crucialmente envolvidas em como as rotinas emergem e em como elas afetam o comportamento 3 da firma, mas seu envolvimento não impossibilita a existência de macrocausas e macromecanismos. (VROMEN, 2009, p. 16, tradução nossa). Relativamente a uma teoria multinível, Felin e Foss (2005) apontam os seguintes problemas: 1. As teorias mutinível têm utilizado as teorias psicológicas e as aplicado em níveis de análise superiores. Os autores argumentam que várias teorias comportamentais são simplismente aplicadas de um nível individual para um nível coletivo, sem considerar os problemas de importar estas teorias entre os níveis. Para Felin e Foss (2005) isto é o que Nelson e Winter (1982) fizeram ao tratar de forma metafórica a habilidade individual às rotinas organizacionais; 2. Há uma tendência em considerar análises em todos os níveis como complementares, igualmente válidas. Na opinião dos autores isto causa uma proliferação de perspectivas e explicações contraditórias. Neste sentido eles mencionam o surgimento de inúmeros artigos em gerenciamento estratégico, indicando a rede, a indústria, a firma e indivíduos como o nível de análise (ou local do conhecimento), sem aparente solução e com cada um tendo sua audiência; 3. A ênfase em um nível coletivo mais elevado tem conduzido a um problema de 3 Na minha visão, entretanto, eles falham ao reconhecer que rotinas são por si mesmas mecanismos. Em sua discussão, Abell et al. sugerem que rotinas são conectadas ao comportamento da firma e ao desempenho da firma por meio de mecanismo ou processo causal, enquanto minha opinião é que rotinas são elas mesmas processos causais ou mecanismos. 38 regressão superior infinita, ou seja, mesmo os níveis mais elevados são pensados como fontes importantes de capacidades. Por exemplo, pensa-se em organização – redes / aliança – constelação – “cluster” da indústria. Entretanto, a lógica de elevar os níveis de análise resulta em não ser possível dizer nada teoricamente útil, particularmente sob a perspectiva estratégica; as capacidades e o conhecimento existem em todos os lugares e consequentemente em lugar nenhum; 4. Um outro problema é a questão de quando exatamente pode-se mover do nível individual para o coletivo. Por exemplo, sinergias, relações e outros elementos são resultantes dos relacionamentos, organização e redes, construídos pelos indivíduos. O descontentamento com o nível de análise da estratégia de organizações levou Felin e Foss (2005) a declarar em seu trabalho, a necessidade de estudar as organizações com o enfoque nos indivíduos. De acordo com os autores: Este artigo nasceu de uma frustração de nossa parte da presente falta de foco nos indivíduos em grande parte da organização estratégica, assumindo-a como “organização”. Especificamente, neste artigo o argumento subjacente é que os indivíduos importam e que as microfundações são necessárias para a explicação da organização estratégica. De fato, para explicar completamente qualquer coisa – seja identidade, aprendizado, conhecimento e capacidades – deve-se fundamentalmente começar com a compreensão que os indivíduos que compoem o todo, especificamente a sua natureza implícita, escolhas, habilidades, tendências, heterogeneidade, propósitos e motivações. Enquanto o uso do termo “organizacional” pode servir como um atalho para propósito de discussões e para a análise empírica de forma reduzida, para explicar realmente (além das correlações) a organização (por exemplo, existência, declínio, capacidade ou desempenho), ou qualquer adjetivo coletivo para esse assunto, requer iniciar com o indivíduo como ator central. Nosso foco particular neste artigo está na literatura baseada em capacidades organizacionais em gerenciamento estratégico. (FELIN; FOSS, 2005, p. 441, tradução nossa). Os autores argumentam que muitos dos problemas associados ao trabalho baseado em capacidades são resultantes do foco em construtos em nível coletivo (por exemplo, rotinas, capacidades) às custas das considerações em nível individual. Para Felin e Foss (2005), enquanto indivíduos e gerentes são mencionados no desenvolvimento teórico, a premissa é que a heterogeneidade no contexto coletivo, ambiente e situação conduzam os resultados organizacionais e individuais. Explicando melhor, sob esta perspectiva haveria uma premissa de que os indivíduos são homogêneos e altamente maleáveis ao contexto heterogêneo. 39 Figura 4: Relacionamento indivíduo-organização proposta por Felin e Foss (2005) Fonte: Felin e Foss (2005) A premissa de que os agentes (indivíduos) são homogêneos não implica na necessidade lógica de que eles também são maleáveis; no entanto a premissa de maleabilidade é frequentemente feita na abordagem de capacidades organizacionais. O argumento de que os indivíduos a priori são homogêneos ou amplamente maleáveis conflita diretamente com a teoria estabelecida e os argumentos empíricos das ciências cognitivas que enfatizam o papel do conhecimento a priori, portanto desafiando as “organizações como situações fortes”. No entanto, ao se argumentar que os indivíduos são heterogêneos não implica que o nível coletivo é não existente ou não importante. Ao contrário, isso sugere a importância de 40 explicitamente ligar os níveis individual e coletivo (FELIN; FOSS, 2005). Felin e Foss (2005) esclarecem que embora não defendam uma abordagem totalmente individualística, acreditam que uma forma de individualismo metodológico seja mais adequado para considerar os indivíduos; no entanto eles não descartam as influências potenciais das rotinas e outras estruturas coletivas. 2.3 Modelos evolucionários e as conexões entre os níveis de análise das rotinas Devido à dinâmica ambiental, há um interesse crescente nos processos de evolução organizacional, bem como nos mecanismos que os guiam. O fenômeno de evolução organizacional tem sido estudado por duas linhas de pesquisa: - a Economia Evolucionária e a Ecologia Populacional. Ambas as linhas de pesquisa argumentam que as firmas sofrem um processo de seleção natural como resultado das pressões de competição e adaptação, entretanto, essas linhas de pesquisa propoem diferentes modelos evolucionários. Portanto, o processo de evolução organizacional objetiva a adaptação da organização ao meio que a circunda. No entanto, subjacente a essa premissa, cada linha de pesquisa representa diferentes visões da evolução organizacional que são fundamentadas em suas hipóteses sobre as organizações e suas capacidades (ÁLVAREZ; MERINO, 2003). Na revisão teórica relizada por Álvarez e Merino (2003) sobre os modelos evolucionários organizacionais, os autores detalham as diferentes abordagens das linhas de pesquisa da seguinte forma: De acordo com a Economia Evolucionária, a evolução organizacional envolve um processo interno que reside nas capacidades organizacionais. A transformação organizacional, que é, uma mudança no catálogo de rotinas organizacionais, é considerada o mecanismo mais importante para a adaptação e, portanto, o elemento fundamental da evolução organizacional. As diversas rotinas geradas pelas condições adversas e a seleção realizada pelo meio, através da competição econômica, determinam as diretrizes deste modelo evolucionário [...] A Ecologia Populacional enfatiza, por outro lado, o impacto da inércia no comportamento organizacional e, portanto, na evolução organizacional. As mudanças organizacionais parecem ser vagarosas e inaptas a seguir o caminho da evolução imposto pelas condições ambientais. Além disso, a medida em que ocorrem mudanças internas alteram-se as competências básicas que asseguram a sobrevivência da organização, ameaçando-a. Com estas premissas a Ecologia Populacional parece ignorar o fato que estas organizações individuais são, 41 realmente, prováveis de administrar o ajuste e adaptação interna que as permitirá assumir o desafio da adaptação imposto pela dinâmica ambiental. Agora presta-se atenção aos processos externos que garantem a adaptação e a evolução: a substituição da organização no nível populacional (ÁLVAREZ; MERINO, 2003, p. 1438-1439, tradução nossa). De acordo com Álvarez e Merino (2003) pode-se provar que variáveis organizacionais (tais como idade, tamanho, legitimidade, forma organizacional, comportamento passado, condições iniciais, entre outras) determinam tanto a tendência da organização em aceitar os processos de mudança como a taxa de mortalidade. No entanto, a relação que é estabelecida entre as variáveis e os mecanismos de adaptação não é direta, mas interagem com os recursos e rotinas organizacionais (ÁLVAREZ; MERINO, 2003). Álvarez e Merino (2003) definem o conceito e a importância dos recursos e rotinas organizacionais da seguinte forma: As rotinas organizacionais, especialmente aquelas de mudança, são as que facilitam e guiam o processo de mudança intraorganizacional, favorecendo assim sua adaptação interna e consequentemente, tornando-se responsável pela capacidade de resposta da organização ao desafio da adaptação (Nelson e Winter 1982: 16-17; Winter 1990: 275-278; Nelson 1991:68). Os recursos organizacionais são definidos como um conjunto de fatores que uma organização possui e controla (Grant 1991: 118). Eles são importantes no processo de evolução visto que definem a resistência organizacional às pressões de seleção. Além disso eles facilitam o processo de mudança, permitindo a absorção das desordens causadas ao comportamento organizacional pelas mudanças, tais como a alteração do catálogo de rotinas organizacionais (Nelson e Winter 1982: 134) [...] Portanto, os recursos organizacionais asseguram o sucesso dos processos de ajuste internos (ÁLVAREZ; MERINO, 2003, p. 1441, tradução nossa). Feitas estas considerações, Álvarez e Merino (2003) propoem os seguintes modelos evolucionários, representados na figura 5: Figura 5: Modelos de evolução organizacional Fonte: Álvarez e Merino (2003) 42 1 Modelo 1; adaptação interna: refere-se aos processos evolucionários administrados por processos internos de ajuste e fundamentados em aprendizagem e rotinas de mudança. No entanto, a quantidade de recursos organizacionais determina a execução desses processos e a capacidade organizacional de assumir os riscos decorrentes deles. Àlvarez e Merino (2003) diferenciam duas formas para este modelo: Forma 1.1: adaptação interna que é certa de ser realizada e de acordo com seu meio. Forma 1.2: adaptação interna que é colocada em risco pela escassez de recursos e rotinas que a firma usa para absorver as desordens causadas pelos movimentos de ajuste. 2 Modelo 2; adaptação externa: refere-se ao processo evolucionário que define as firmas que mantém uma posição passiva contra as pressões de seleção e o desafio da adaptação que se desenvolve em ambientes dinâmicos. Nesses casos há diferenças na quantidade de recursos e rotinas, das seguintes formas: Forma 2.1: firmas sem recursos e capacidades abundantes para administrar os ajustes de processos. Neste caso, o processo de evolução da firma é caracterizado pela sua inércia (falta de resposta) e uma profunda inadequação que engatilha o desaparecimento organizacional. Forma 2.2: firmas que possuem capacidades organizacionais abundantes que as permitem resistir, pelo menos por um tempo, às pressões de seleção. Estas firmas possuem uma posição relativamente privilegiada no mercado (firmas dominantes ou aquelas situadas em um nicho de mercado) que as permitem escapar da pressão de seleção ou mesmo administrá-la. Estes modelos representam situações extremas, dentre as quais há numerosos modelos intermediários (ÁLVAREZ; MERINO, 2003). A parte empírica do estudo de Álvarez e Merino (2003) foi realizada considerando alterações na população de instituições financeiras espanholas no período de 1986 a 1997. Segundo os autores o ambiente do sistema financeiro espanhol passou por profundas transformações que têm mudado as condições competitivas e comportamento de todas as entidades. 43 O Quadro 2 mostra as hipóteses investigadas no artigo de Álvarez e Merino (2003): Hipótese Enunciado Resultado H1 Para enfrentar as pressões da seleção ambiental, as organizações desenvolvem processos Confirmada de adaptação interna ou estão sujeitas à pressão dos processos de adaptação externa H2 A quantidade de recursos e rotinas organizacionais determinarão o caminho específico Confirmada de adaptação e evolução da organização. Assim: 2.1: A quantidade de recursos e rotinas aumenta a possibilidade de realização de processos de ajustes internos. 2.2: A quantidade de recursos e rotinas aumenta a longevidade organizacional quando a falta de respostas internas às pressões de adaptação é observada. Quadro 2: Hipóteses elaboradas por Àlvarez e Merino (2003) e respectivos resultados após testes Fonte: Elaborado pela autora com base em Àlvarez e Merino (2003) Conforme explicado por Álvarez e Merino (2003) a adaptação interna compreende muitas possibilidades diferentes, visto que lida com modificações em diferentes aspectos organizacionais, tais como comportamento estratégico, estrutura interna, nível gerencial superior, linha de produto, dentre outras possibilidades. Esses autores concentraram-se no comportamento estratégico, analisado sob dois grupos de variáveis: - uma indicando a mudança e a outra medindo o risco. A demografia da população, na forma de desaparecimento da instituição foi usada para caracterizar a adaptação externa (ÁLVAREZ; MERINO, 2003). Embora pesquisa de Álvarez e Merino (2003) tenha utilizado as rotinas como variável de estudo, o enfoque do trabalho não foi a inovação, que é tema desta tese. No entanto, ele é útil como forma de investigação de modelo evolucionário. Cabe ressaltar aqui que o modelo apresentado por Àlvarez e Merino (2003) apresenta elementos presentes no trabalho de Webster (2004) e Moldoveanu e Singh (2003). Aparentemente enquanto o trabalho de Webster (2004) está mais direcionado à Economia Evolucionária, Moldoveanu e Singh (2003) misturam a Economia Evolucionária e a Ecologia Populacional. Na pesquisa realizada por Webster (2004) investigou-se as forças que levam algumas firmas a decidirem por engajar em atividades mais inovativas que outras e examinou-se os tipos de rotinas associadas a esta decisão. Segundo Webster (2004), a decisão de uma firma por inovar deve ser considerada à luz do que ela deseja fazer. Firmas pautadas pelo lucro objetivam aprimorar suas eficiências 44 operacionais para reduzir custos, e pela ampliação de seu mercado, alcançar seus ganhos. Ambos objetivos são atingidos através de decisões sobre a composição e nível de suas tecnologias física e humana (incluindo as formas organizacionais), e para ambos objetivos deve haver consciência da eficiência da produção estática e da inovação (WEBSTER, 2004). Neste sentido, de acordo com a autora, as teorias neoclássicas do comportamento da firma têm pouco a dizer sobre os aperfeiçoamentos devidos à inovação. A “teoria da firma” padrão está essencialmente preocupada com as decisões de preço e fator utilidade e não faz comentários diretos sobre as decisões de investimento. Na visão de Webster (2004) os modelos evolucionários, os quais muitos devem suas origens a Nelson e Winter (1982), são talvez mais apropriados para abordar tais aperfeiçoamentos provenientes da inovação. Estes modelos argumentam que as indústrias, ou grupos de firmas rivais, desenvolvem-se por meio de um processo que envolve a criação da variedade (através da invenção industrial), a herança (através da persistência das normas comportamentais e rotinas de cada firma) e a seleção (através da competição e saída do mercado). A evolução das indústrias ocorre por ciclos contínuos de invenção, herança e seleção (WEBSTER, 2004). Alinhados à idéia de Webster (2004), Moldoveanu e Singh (2003) explicam que a lógica evolucionária funciona como uma ferramenta para integrar fenômenos individuais, organizacionais e da indústria, porque estes múltiplos níveis interagem; ela é uma linguagem comum necessária para estudar essas interações. De forma similar descrita por Webster (2004), Moldoveanu e Singh (2003) esclarecem que ao pensar e modelar o fenômeno organizacional em termos de processos evolucionários há entidades que mutam, bem como existem unidades de seleção e mecanismos de retenção: Em todas essas tentativas de representação e modelagem, há entidades que espontaneamente mutam: essas são unidades de variação. Suas mutações são casualmente ligadas às características de outras entidades que competem entre si para sobrevivência, pela qual elas dependem da aquisição de recursos escassos: estas são as unidades de seleção. Há mecanismos pelos quais algumas entidades sobrevivem e outras morrem: estes são os mecanismos de seleção. Há mecanismos pelos quais mutações bem sucedidas propagam no tempo e difundem-se no espaço: estes são os mecanismos de retenção. A variação gera novidade pela introdução de desvios usualmente assumidos como sendo randômicos, a seleção separa as entidades sobreviventes e a retenção promulga as características que geram entidades passíveis de sobreviverem (MOLDOVEANU; SINGH, 2003, p. 440, tradução nossa). Esses autores sumarizam, no Quadro 3, os elementos básicos para a construção de 45 modelos evolucionários que contemplam vários níveis de organização estratégica em construtos empiricamente significativos. Segundo os autores o que varia nas diferentes aplicações do modelo evolucionário é a escala de tempo na qual os processos de variação e seleção ocorrem, as unidades de variação e seleção e o critério de seleção e mecanismos que decidem quais entre as diferentes formas viáveis e estáveis sobrevivem a um estágio particular de existência temporal. Moldoveanu e Singh (2003) apresentam duas proposições; a primeira diz respeito às indústrias e as avalia como ecologias de firmas, como ecologias de estratégias e como ecologias de tecnologias e projetos de produtos. A segunda proposição trata da análise no nível da firma: As análises em nível da firma propoem as organizações como populações de rotinas, indivíduos (ou tipo individuais) que evoluem e idéias/modelos/teorias, e conceituam aprendizagem organizacional, política de promoção organizacional e cultura organizacional como um conjunto de mecanismos de seleção no nível da organização [...] (MOLDOVEANU; SINGH, 2003, p. 442, tradução nossa). Nível de análise Unidade de variação (genótipo) Unidade de seleção (fenótipo) Mecanismo de seleção (interação) Indústria Estruturas organizacionais Organizações Mercado de capital e produto Indústrias Topologias de Redes Grupos de indústrias, Critério de afiliação sóciokeiretsus, grupos de econômico, cultura local dos comércio, redes de grupos de indústrias compradores e vendedores Indústria Tecnologias de produto, projetos de produto Produtos, módulos de produtos Mercados de produto Indústria Estratégias genéricas Estratégias executadas Mercados de produto, mercados de capital, normas sócio-culturais Organização Conjunto de papéis individuais e comportamentos Indivíduos Políticas de promoção organizacional, cultura organizacional Organização Comportamentos coletivos e mecanismos de coordenação Comportamentos coletivos Ambiente institucional e e mecanismos de legal da organização coordenação Organização Crenças coletivas Modelos coletivos e teorias Indivíduos Comportamentos Estilo de aprendizagem organizacional, epistemologia organizacional Comportamentos e rotinas Aprendizagem individual e estratégias de automotivação Quadro 3: Aplicando a lógica evolucionária a múltiplos níveis de análise Fonte: Moldoveanu e Singh (2003) 46 Sob esta proposição os autores explicam as firmas em termos de ecologias de rotinas, ecologias de indivíduos e ecologias de idéias mantidas comumente, crenças e teorias. Segundo Moldoveanu e Singh (2003) a explicação para as firmas em termos de ecologias de rotinas é a seguinte: Os comportamentos organizacionais coletivos podem ser entendidos como unidades de variação. Eles podem incluir rotinas organizacionais (Nelson e Winter, 1982) que os membros organizacionais coletivamente seguem para evitar confusão, incerteza e conflito (Cyert e March, 1963), e mecanismos de coordenação (tais como os valores depositados em equidade, eficiência, abertura e justiça). Os mecanismos de seleção são políticas de decisões em nível organizacional e escolhas de políticas implícitas, onde certas regras são adotadas e outras abandonadas. Os comportamentos sobreviventes podem ser replicados por coerção ou legitimação do que está sendo questionado nas hierarquias mais importantes. Eles são legitimados pelo critério de seleção que veio para formar a cultura fundamental da organização. (MOLDOVEANU; SINGH, 2003, p. 442, tradução nossa). Moldoveanu e Singh (2003) apresentam três famílias de modelos que tornam possível conectar e explicar os fenômenos em diferentes níveis de análise. Segundo os autores estas três famílias capturam o fenômeno de causação em linha ascendente (do fenômeno em escala pequena ao fenômeno em escala grande) e em linha descendente (do fenômeno em grande escala para pequena escala) e as relações de correspondência de eventos mentais a físicos, conforme segue: ● modelos coevolucionários: descrevem a interação entre a evolução de uma parte (firma, indivíduos, idéias e comportamentos) e o todo ao qual ela pertence (indústria, firma, indivíduo), respectivamente; ● processos metaevolucionários: descrevem os processos pelos quais os mecanismos de seleção desenvolvem-se por si mesmos ao longo do tempo. Os processos metaevolucionários fornecem um conjunto descendente de mecanismos pelos quais os processos microevolucionários desenvolvem-se quando em pressões competitivas como parte do mesmo processo macroevolucionário; ● processos evolucionários virtuais: estes descrevem processos evolucionários (evolução de idéias de uma única mente ou comunidade de mentes) que simulam outros processos evolucionários (evolução de comportamentos ou tecnologias ou mecanismos em uma indústria competitiva. 47 2.4 Rotinas de busca e competências para inovar A construção deste item tem por objetivo principal mostrar a diversidade de entendimentos dos conceitos de rotinas de busca, competências e capacidades dinâmicas4. Ao discorrer sobre estes conceitos será possível observar que por vezes eles são compreendidos como sinônimos, em algumas circunstâncias eles apresentam uma relação de complementariedade, em outras situações eles são apresentados de forma constitutiva e em alguns casos são tratados como divergentes. Portanto, ainda há necessidade de esclarecer os limites entre os conceitos de rotinas, competências e capacidades dinâmicas. Considera-se a possibilidade de que em alguns estudos estes conceitos estejam sendo testados equivocadamente. Começando pelo conceito de rotinas de busca, conforme definido anteriormente (item 2.1.2), as rotinas de busca, também compreendidas como rotinas de inovação, destinam-se à autoreflexão, autorenovação e à reestruturação de rotinas de ordem menor, examinando-as e mudando-as. Collison e Wilson (2006) reforçam a idéia de Nelson e Winter (1982) ao estabelecer um paralelo entre o conceito de mutações na biologia e o de rotinas de busca, no sentido de que por meio das rotinas de busca, novas combinações de rotinas e capacidades são avaliadas em resposta às mudanças radicais ou novidades no ambiente competitivo. De acordo com os autores: A inovação pode ser simplesmente definida como uma “mudança na rotina” e muito frequentemente envolve a recombinação de rotinas existentes [...] Os estudos sobre inovação têm tradicionalmente caracterizado o desenvolvimento de processos e produtos, de acordo com o grau de mudança envolvida, cada qual requerendo diferentes estruturas organizacionais, regras gerenciais, incentivos, redes internas e externas [...] (COLLISON; WILSON, 2006, p. 1364, tradução nossa). Para Dosi, Faillo e Marengo (2008), a inovação, ou seja, o desenvolvimento de novos produtos e serviços está associada às formas particulares de conhecimento organizacional. Dosi, Faillo e Marengo (2008) identificam o termo “competências organizacionais” ou “capacidades” com o know-how que faz com que as organizações realizem estes tipos de atividades. 4 O termo original em inglês para capacidades dinâmicas é dynamic capabilities. Em português não há tradução direta para o termo capability. Em inglês o termo capability provém de capable, significando capacidade, competência, habilidade. 48 Segundo estes autores, na literatura frequentemente assume-se uma equivalência geral entre “competências” e “capacidades”. Eles enfatizam que, conforme discutido em Dosi, Nelson e Winter (2000), pensam a “capacidade” como uma unidade de análise grande, por vezes formadas por rotinas organizacionais. De acordo com Dosi, Faillo e Marengo (2008), essa “capacidade” possui um propósito expresso reconhecido em termos de resultados significantes, os quais ela deverá possibilitar que sejam alcançados. De acordo com Dosi, Faillo e Marengo (2008): Estas características distinguem “capacidade” de “rotinas organizacionais”, visto que o último termo é usado na teoria organizacional e na economia evolucionária. Nesta literatura, entretanto, algumas rotinas organizacionais poderão ser igualmente chamadas de capacidades. Em geral, entretanto, a noção de uma rotina não envolve um compromisso em relação ao tamanho (rotinas grandes são tipicamente estruturadas por um conjunto de rotinas médias, e assim por diante) [...] Para concluir, as capacidades envolvem atividade organizada, e o exercício das capacidades é tipicamente repetitivo em muitos casos. As rotinas, como definidas acima, são os blocos que constroem as capacidades com uma natureza repetitiva e dependente do contexto, embora elas não sejam somente os blocos que constroem as capacidades [...] As habilidades individuais, por sua vez, estão entre os blocos que constroem as rotinas organizacionais (DOSI, FAILLO, MARENGO, 2008, p. 11661167, tradução nossa). Uma idéia semelhante surge em um trabalho de Augier e Teece (2008), quando os autores explicam a visão evolucionária da firma de Nelson e Winter (1982). No entanto, nesta explicação, Augier e Teece (2008) mencionam rotinas como sinônimos de competências: A firma, na perspectiva deles, é vista como uma entidade em busca de lucro cujas atividades primárias são construir (por meio de processos de aprendizagem organizacional), e explorar, recursos valiosos de conhecimento. As firmas, nesta visão, também vem com “rotinas” ou “competências”, as quais são padrões de ação recorrentes que podem mudar através da busca e aprendizagem. As rotinas raramente serão “ótimas” e serão diferentes dentre os agentes, e comportamentos que não podem ser deduzidos pela simples observação dos sinais do meio (tais como os preços) aos quais os agentes estão expostos. A variedade resultante guia o processo evolucionário, visto que as firmas desenvolvem estratégias de busca de renda na base de suas rotinas e competências, e competição no mercado de produto constitui-se em uma parte importante do meio de seleção de firmas concorrentes (AUGIER; TEECE, 2008, p. 1194, tradução nossa). Em um trabalho anterior Teece (2007) define o conceito de capacidades dinâmicas e ao fazê-lo ressalta que capacidades dinâmicas e competências organizacionais são diferentes: A ferramenta de capacidades dinâmicas é integrativa. Dosi, Nelson e Winter (2000:4) notaram em um ponto a “frota terminológica” na literatura de competências organizacionais. Entretanto, talvez agora exista um consenso emergente que os recursos / competências representam bem o que historicamente pensamos ser as capacidades operacionais do empreendimento, que ajudam a sustentar o bom desempenho técnico. As capacidades dinâmicas, em contraste, relacionam-se às 49 atividades de elevado nível, que ligam as habilidades gerenciais a sentir e dimensionar as oportunidades, as ameaças do curso, e combinar e reconfigurar recursos especializados e co-especializados para atender as mudanças nas necessidades dos clientes, e para sustentar e amplificar a boa forma evolucionária, construindo portanto valor de longo prazo para os investidores (TEECE, 2007, p. 1344, tradução nossa). Por um outro lado, Helfat e Peteraf (2009), por exemplo, preocupam-se em mostrar a diferença entre rotinas e capacidades dinâmicas: Independente de como as rotinas são definidas, é difícil afirmar, como fizeram A&B, que a capacidade de desenvolvimento de um novo produto consista inteiramente de rotinas [...] De modo geral, embora as capacidades dinâmicas utilizem as rotinas e outros processos organizacionais, elas também possuem um elemento de intenção [...] (HELFAT; PETERAF, 2009, p. 92-93, tradução nossa). Helfat e Peteraf (2009) esclarecem que adotam a definição de rotinas da economia evolucionária elaborada por Nelson e Winter (1982), consistindo de comportamento padronizado e previsível. Para as autoras, o domínio de interesse das capacidades dinâmicas é tão amplo e complexo quanto o de qualquer outra área de pesquisa. Ele inclui conteúdo e processo estratégicos e involve múltiplos níveis de análise, de processos decisórios gerenciais às rotinas organizacionais, às interações competitivas e mudança ambiental. Helfat e Peteraf (2009) argumentam que a teoria relacionada às capacidades dinâmicas teve pouco tempo para se desenvolver relativamente ao tempo de desenvolvimento de outras teorias. Enquanto área de investigação, ela ainda está em sua infância; o trabalho permanece conceitual em sua maioria e com o foco em assuntos em nível de fundação, incluindo a definição do termo: Embora as capacidades dinâmicas começaram como uma “abordagem” ao entendimento da mudança estratégica (Teece et al., 1997), muito mais que uma “teoria”, há fundações teóricas claramente identificáveis. A mais importante dentre elas é a economia evolucionária (Nelson e Winter, 1982) da qual derivam a atenção às rotinas e dependência da trajetória. A Economia Evolucionária fundamenta-se fortemente em Simon (1947) e Cyert e March (1963), conferindo às capacidades dinâmicas uma legitimidade comportamental direta [...] O conceito de capacidades dinâmicas está também enraizado na Visão Baseada em Recursos (RBV), com sua fundação na economia Ricardiana [...] (HELFAT; PETERAF, 2009, p. 92-93, tradução nossa). Em pesquisa recente, Di Stefano, Peteraf e Verona (2009) e Helfat e Peteraf (2009) apontam que as três primeiras definições do Quadro 4 têm apresentado maior influência sobre as pesquisas de capacidades dinâmicas. 50 Autores Definição de capacidades dinâmicas Teece et al. (1997) Estabelece que as capacidades dinâmicas operam em “habilidades organizacionais, recursos e competências funcionais”. Eisenhardt e Martin (2000) “Estabelece que as capacidades dinâmicas alteram sua base de recursos da firma, que inclui seus recursos físicos, humanos e organizacionais”. Zollo e Winter (2002) “As capacidades dinâmicas agem sobre as capacidades ordinárias (no sentido de operacionais)”. Helfat et al. (2007) “A capacidade de uma organização em propositalmente criar, estender e modificar sua base de recursos”. A “base de recursos” inclui os recursos “tangíveis, intangíveis e humanos, bem como as capacidades que uma organização possui, controla ou tem acesso em uma base preferencial”. Quadro 4: Principais definições de capacidades dinâmicas, segundo Di Stefano, Peteraf e Verona (2009) e Helfat e Peteraf (2009) Fonte: Elaborada pela autora com base em Helfat e Peteraf (2009) As linhas de pensamento de Teece et al. (1997), de Eisenhardt e Martin (2000) e de Teece (2007) encontram-se representadas na Figura 6. Cabe ressaltar que cada uma destas linhas estabelece uma ligação entre as capacidades dinâmicas, desempenho da firma e vantagem competitiva. Teece (2007), especificamente, realizou um estudo no sentido de aprofundar o entendimento de capacidades dinâmicas em nível de microfundações. A proximidade entre o conceito de capacidades /competências centrais e capacidades dinâmicas voltadas a resultados, também pode ser observada ao se retomar o trabalho de Leonard-Barton (1992). Segundo a autora, as capacidades /competências são consideradas centrais se elas diferenciam a empresa estrategicamente. Leonard-Barton (1992) cita que vários autores têm atribuído às capacidades /competências centrais nomes diferentes, tais como competências distintivas (Snow e Hrebiniak, 1980; Hitt e Ireland, 1985), competências centrais ou organizacionais (Prahalad e Hamel, 1990; Hayes, Wheelwright e Clarck, 1988), competências específicas da firma (Pavitt, 1991), disposição de recursos (Hofer e Schendel, 1978) e recursos invisíveis (Itami e Roehl, 1987). 51 Figura 6: Cadeia básica da lógica dos principais artigos de capacidades dinâmicas Fonte: Helfat e Peteraf (2009) Observa-se, por exemplo, a similaridade entre os conceitos de capacidades /competências centrais e capacidades dinâmicas quando Leonard-Barton (1992) explica o processo de inovação. A autora menciona a evolução das capacidades centrais e gerenciamento desta evolução: Então em qualquer dado ponto na história de uma corporação, as capacidades centrais estão evoluindo, e a sobrevivência da corporação depende do gerenciamento bem sucedido da evolução. Os projetos de desenvolvimento de novos produtos e processos são arenas visíveis para o conflito entre a necessidade de inovação e a retenção de capacidades importantes. (LEONARD-BARTON, 1992, p. 112, tradução nossa). Leonard-Barton (1992) adota a visão baseada em conhecimento da firma (knowledgebased view – KBV) e define uma competência central como o conjunto de conhecimentos que distinguem e fornecem vantagem competiva à firma. Para a autora existem quatro dimensões para este conjunto de conhecimentos: 1. Seu conteúdo está incorporado nas habilidades e conhecimento do empregado; 52 2. Ele está enraizado nos sistemas técnicos; 3. Os processos de criação e controle do conhecimento são guiados por sistemas gerenciais; 4. A quarta dimensão são os valores e normas associados aos vários tipos de conhecimento incorporados e enraizados e com os processos de criação e controle do conhecimento. A figura 7 mostra as dimensões das competências centrais, propostas por LeonardBarton (1992): HABILIDADES E BASE DE CONHECIMENTO VALORES E NORMAS SISTEMAS TÉCNICOS SISTEMAS GERENCIAIS Figura 7: As quatro dimensões de uma competência central Fonte: Leonard-Barton (1992) Na definição de Leonard-Barton (1992) a primeira dimensão habilidades e conhecimento do empregado é a mais frequentemente associada às competências centrais e a mais relevante ao desenvolvimento de um novo produto. A segunda dimensão, conhecimento enraizado nos sistemas técnicos, resulta de anos de acúmulo, codificação e estruturação de conhecimento tácito das cabeças das pessoas. Este conhecimento constitui-se de informação (por exemplo, um banco de dados de testes de produtos conduzidos por décadas) e de procedimentos (por exemplo, regras de projeto). A terceira dimensão, criação e controle do conhecimento guiados por sistemas gerenciais, representa os modos formais e informais de criar conhecimento. 53 A quarta dimensão, os valores e normas, permeiam pelas três dimensões anteriores e estão associados ao valor atribuído ao conteúdo e estrutura do conhecimento pela empresa (LEONARD-BARTON, 1992). Segundo a autora cada uma destas dimensões assume um nível distinto de importância que depende da atividade desenvolvida pela empresa. Uma análise da descrição das dimensões das competências centrais de Leonard-Barton (1992) permite fazer algumas considerações: 1. A definição de competências centrais contém elementos de definição de rotinas, por exemplo, quando trata de habilidades, bem como trata de normas e valores, no sentido de procedimentos; 2. A definição de competências centrais movimenta-se como um pêndulo, contempla elementos do indivíduo (como as primeira e segunda dimensões) e elementos do coletivo (como as terceira e quarta dimensões). Isto reforça a necessidade de estudar o fenômeno competências em diferentes níveis de análise. Mills, Platts, Bourne e Richards (2002), por exemplo, propoem uma síntese dos vários níveis de competências existentes em uma organização e seus respectivos conceitos, conforme indicados no Quadro 5: Níveis de Competências Conceito Competências essenciais Competências e atividades mais elevadas, no nível corporativo, que são chave para a sobrevivência da empresa e centrais para sua estratégia. Competências distintivas Competências e atividades que os clientes reconhecem como diferenciadores de seus concorrentes e que provêm vantagens competitivas. Competências organizacionais Competências individuais Competências coletivas associadas às atividades-meios e às atividades-fins. Saber agir responsável e reconhecido, que implica mobilizar, integrar, transferir conhecimentos, recursos, habilidades, que agreguem valor econômico à organização e valor social ao indivíduo. Quadro 5: Principais níveis de competências organizacionais e respectivos conceitos Fonte: Fleury e Fleury (2007), adaptado de Mills, Platts, Bourne e Richards (2002). Segundo Fleury e Fleury (2007) a estratégia conecta os vários níveis de competências: Ao definir a sua estratégia competitiva, a empresa identifica as competências essenciais do negócio e as competências necessárias a cada função. Por outro lado, a 54 existência dessas competências possibilita as escolhas estratégicas feitas pela empresa. Isso pode gerar um círculo virtuoso [...] (FLEURY; FLEURY, 2007, p. 36). Embora a lógica do encadeamento das competências propostas pelos autores proceda, ela ainda parece insuficiente para explicar como o fenômeno competência ocorre e evolui nas organizações. Na opinião de Abell, Felin e Foss (2008) não existem mecanismos que trabalhem somente em nível macro, conectando diretamente rotinas e capacidades para resultados em nível de firma. Na opinião desses autores, enquanto rotinas e capacidades são conceitos acessíveis para explicar modelos complexos de ação individual e de interação, sua melhor compreensão ocorre em nível micro. A pesquisa realizada por Rothaermel e Hess (2007) avança neste sentido ao investigar os efeitos individual, da firma e da rede sobre a inovação, sob a perspectiva das capacidades dinâmicas. Rothaermel e Hess (2007) sugerem que os antecedentes à inovação podem ser encontrados nos níveis individuais, da firma e da rede. Segundo os autores a perspectiva das capacidades dinâmicas facilitam não somente a habilidade de uma organização reconhecer uma potencial mudança tecnológica, mas também sua habilidade de adaptar-se a uma mudança através da inovação (HILL; ROTHAERMEL, 2003). Na visão de Rothaermel e Hess (2007): Assumindo que as firmas podem contar com antecedentes dentre os diferentes níveis para formar as capacidades dinâmicas, muitas questões importantes, porém subexploradas ocorrerão, tais como: Onde ocorrem os antecedentes das capacidades dinâmicas da firma? Eles ocorrem no nível individual, na firma ou na rede? Em caso positivo, qual nível é relativamente mais importante? Ou os antecedentes das capacidades dinâmicas residem na intersecção de qualquer um desses níveis? Em outras palavras, os antecedentes das capacidades dinâmicas residem em vários níveis de análise? Se o local dos antecedentes das capacidades dinâmicas residem em vários níveis de análise, os diferentes mecanismos para inovar são complementares ou substitutos? (ROTHAERMEL; HESS, 2007, p. 898, tradução nossa). Ao realizar esta pesquisa os autores desafiaram duas premissas comuns em pesquisas prévias: 1. Que existe variância significante no nível de análise em foco, enquanto outros níveis de análise são considerados homogêneos; 2. Que o nível de análise em foco é independente de outros níveis de análise. Em seu trabalho Rothaermel e Hess (2007) enunciaram um conjunto de hipóteses para 55 acessar simultaneamente os diferentes efeitos de antecedentes no nível individual, da firma e da rede sobre o resultado da inovação. Em uma segunda etapa, os autores investigaram se os antecedentes à inovação da firma permeavam entre os níveis. Para tal, propuseram duas hipóteses de interação concorrentes: 1. Que os antecedentes no nível individual, da firma e da rede sobre o resultado da inovação são substitutos; 2. Que os antecedentes no nível individual, da firma e da rede sobre o resultado da inovação são complementares. No Quadro 6 é apresentada uma síntese das hipóteses elaboradas e testadas pelos autores e respectivos resultados. O modelo multinível de Rothaermel e Hess (2007) utilizou um conjunto de dados em painel documentando os esforços de inovação de empresas farmacêuticas globais com práticas em biotecnologia em período superior a 22 anos. Os autores verificaram que os antecedentes à inovação permeiam diferentes níveis de análise e podem exercer efeitos compensadores ou reforçadores sobre o resultado da inovação produzida pela firma. Um outro tipo de abordagem envolvendo os conceitos de rotinas, competências e capacidades dinâmicas pode ser exemplificado com a pesquisa realizada por Peng, Schroeder e Shah (2008). Nessa pesquisa os autores se preocuparam em conduzir uma extensa revisão da literatura sobre capacidades, considerando o fato do termo ser ambíguo e confuso. Eles também buscaram delinear o termo capacidades de outros termos relacionados. Valendo-se da Visão Baseada em Recursos (RBV), Peng, Schroeder e Shah (2008) argumentaram que as rotinas são uma fonte crítica de capacidades operacionais e subsequentemente investigaram as capacidades operacionais por meio de suas rotinas subjacentes. 56 Hipótese Enunciado Resultado 5 H1 efeito nível individual A: O resultado da inovação de uma firma é uma função positiva de seu capital Confirmada humano intelectual. B: O resultado da inovação de uma firma é uma função positiva de seus cientistas Rejeitada brilhantes6 controlados por seus cientistas não brilhantes H2 efeito nível firma O resultado da inovação de uma firma é uma função positiva de sua capacidade de Relacionada Pesquisa & Desenvolvimento7 H1A, H1B, H5A, H5C H3 efeito nível rede A: O resultado da inovação de uma firma é uma função positiva de suas alianças 8 Rejeitada com fornecedores de novas tecnologias. B: O resultado da inovação de uma firma é uma função positiva de suas aquisições Confirmada de firmas de novas tecnologias9 H4 interações entre níveis complementos Os antecedentes da inovação localizados nas interseções entre o nível individual e Confirmada o nível da firma (H4A), entre o nível individual e o nível da rede (H4B), e entre o H4C nível da firma e o nível da rede (H4C) complementam-se de tal forma que as interações que permeiam os níveis são positivas, e portanto elevam o resultado da inovação da firma. H5 interações entre níveis substitutos Os antecedentes da inovação localizados nas interseções entre o nível individual e Confirmada o nível da firma (H5A), entre o nível individual e o nível da rede (H5B), e entre o s nível da firma e o nível da rede (H5C) substituem-se de tal forma que as H5A, H5C interações que permeiam os níveis são negativas, e portanto diminuem o resultado da inovação da firma. Quadro 6: Hipóteses elaboradas por Rothaermel e Hess (2007) e respectivos resultados após testes Fonte: Elaborado pela autora com base em Rothaermel e Hess (2007). A Figura 8 mostra o resultado da revisão da literatura realizada por Peng, Schroeder e Shah (2008); nela os retângulos contêm as definições dos conceitos importantes e os ovais representam as relações entre os conceitos. Como o trabalho de Peng, Schroeder e Shah (2008) teve como enfoque a área de manufatura, as definições e a operacionalização de capacidades e competências voltaram-se a esta área. Os autores propuseram a seguinte definição de capacidades: Uma capacidade é a força ou proficiência de uma quantidade de rotinas interrelacionadas para realização de tarefas específicas (PENG, SCHROEDER, SHAH, 2008, p. 734, tradução nossa). 5 6 7 8 9 O resultado da inovação de uma firma é a variável dependente do modelo e foi considerado como o número de patentes obtidas em um período de tempo. Os autores explicam que o cientista brilhante é alguém que é mais produtivo e influente em uma área específica de pesquisa do que a média (cientistas não brilhantes) na mesma área. Eles são variáveis independentes do modelo. A capacidade de Pesquisa & Desenvolvimento foi mensurada pelos seus gastos. Ela é uma variável independente do modelo. Consideradas alianças com universidades, instituições de pesquisa e firmas de biotecnologia. Elas são variáveis independentes do modelo. Consideradas aquisições de firmas de biotecnologia. Elas são variáveis independentes do modelo 57 Além disso, os autores também investigaram as capacidades requeridas para melhorar incrementalmente os produtos e processos existentes e para desenvolver novos produtos e processos (sendo o desenvolvimento tratado pelos autores como inovação no sentido radical). Figura 8: Uma ferramenta para ligar recursos, rotinas e capacidades. Fonte: Peng, Schroeder e Shah (2008) 58 2.5 Rotinas de busca, similaridades e diferenças na inovação em serviços e indústrias 2.5.1 Inovação em empresas de serviços versus inovação empresas de indústrias O tema inovação em serviços versus inovação em indústrias tornou-se um terreno fértil para estudos a partir do reconhecimento da crescente participação dos serviços na economia mundial. Um desses estudos, o de Nijssen, Hillebrand, Vermeulen e Kemp (2006), que será retomado posteriormente (no item 2.5.3), tocou em um debate antigo em que se discute se o desenvolvimento de um novo produto é diferente do desenvolvimento de um novo serviço. A pesquisa desses autores parte da premissa de que os motivadores para o desenvolvimento de um novo produto são os mesmos que os para o desenvolvimento de um novo serviço; no entanto, a importância relativa destes motivadores pode ser diferente. Na revisão da literatura apresentada por Nijssen et al., (2006) eles declaram a existência de duas abordagens sobre o desenvolvimento de um novo produto versus o desenvolvimento de um novo serviço: 1. Abordagem da similaridade: os proponentes desta abordagem argumentam que os conceitos desenvolvidos no contexto de desenvolvimento de um produto são facilmente aplicáveis ao desenvolvimento de um serviço por ambos serem similares; 2. Abordagem da demarcação: reforçam as características únicas dos serviços e subsequentemente a necessidade de conceitos e modelos especificamente elaborados para os serviços. Segundo Nijssen et al. (2006) na abordagem da similaridade as empresas de serviço e de indústria mostram o comprometimento da alta administração. Seus objetivos estratégicos estão além do sucesso de curto prazo e seus empregados entendem claramente os tipos de novos produtos e serviços que elas estão buscando. Além disso, tanto nas empresas de serviço quanto nas de indústria, os programas de desenvolvimento tendem a ser mais formalizados, mais estruturados e mais proativos, quando comparados aos de seus concorrentes. Ao interpretar a outra perspectiva, a da abordagem da demarcação, Nijssen et al. (2006) argumentam que o desenvolvimento de serviços é afetado por suas características, tais como sua intangibilidade, geração conjunta com os clientes, simultaneidade, heterogeneidade 59 e perecibilidade (DJELLAL e GALLOUJ, 2001; GALLOUJ e WEINSTEIN, 1997; MENOR, TATIKONDA e SAMPSON, 2002; NIJSSEN et al., 2006). Um dos argumentos mencionados nesta perspectiva é de que os novos serviços são produzidos em tempo real, sofrem modificações durante seu processo de entrega e causam mudanças nas habilidades dos empregados que estão em contato com os clientes. Segundo Menor, Tatikonda e Sampson, 2002; Nijssen et al., 2006, a interação entre o desenvolvimento de um novo serviço e a sua entrega é grande e é mais intensa que a interação entre o desenvolvimento de um novo produto e sua respectiva área de P&D. Outro argumento apontado na abordagem de demarcação relaciona-se aos gastos com P&D. A inovação em serviços envolve o desenvolvimento de novos procedimentos e conceitos, mais do que novas tecnologias (PREISSL, 2002; NIJSSEN et al., 2006). O último argumento apresentado na abordagem de demarcação é que no caso do desenvolvimento de um novo serviço há uma necessidade de integrar as operações e processos do novo serviço às atividades de negócios já existentes, o que é mais significante do que em um contexto de um novo produto (JOHNE e STOREY, 1998; NIJSSEN et al., 2006). Uma análise da literatura mostra outras formas de comparar as inovações em produtos com a inovação em serviços, que não se resumem à apresentada por Nijssen et al. (2006). No Quadro 7, por exemplo, encontra-se uma síntese das abordagens teóricas da inovação em serviços construída com base em Vargas (2006); Gallouj e Savona (2009). Nota-se que a abordagem da similaridade, definida por Nijssen et al. (2006) aproximase do conceito da abordagem integradora indicada no Quadro 7 enquanto a abordagem da demarcação iguala-se à abordagem orientada para os serviços. Em linhas gerais pode-se dizer que novas abordagens comparativas da inovação de produto versus a inovação em serviços surgem na medida em que se constata que as abordagens ou classificações existentes não conseguem explicar todas as circunstâncias de ocorrências de inovações em serviços. Outro exemplo de abordagens comparativas da inovação de produto versus a inovação em serviços são os estudos taxonômicos. Neste sentido, Klement (2007) explicou a necessidade de se entender a importância crescente da informação no setor de serviços e que as peculiaridades desse setor são produtoras de tecnologia. Para a autora, as mudanças 60 tecnológicas geraram três grandes mudanças na estrutura e gerenciamento dos serviços: o aumento das ligações entre produção de bens e serviços; o aumento da transportabilidade dos serviços e o aumento do conhecimento intensivo em serviços (KLEMENT, 2007). Abordagem Principais autores Barras (1986) Significados e principais características das abordagens da inovação em serviços • Desenvolveu o Ciclo do Produto Reverso (RPC); • Primazia da manufatura sobre os serviços como determinante dos processos de inovação Pavitt (1984); Pavitt et al (1989); • Codificou as inovaçoes entre firmas e setores em: (1) dominadas pelo fornecedor Tecnológica ou de Assimilação (2) intensivas em produção, (3) Baseada em ciência, (4) Intensiva em informação, (5) Trajetória tecnológica. Orientadas para Serviços ou Diferenciação Integradora ou sintetizadora Soete e Miozzo (1989); Miozzo e Soete (2001). • Propos taxonomias para serviços baseadas no trabalho de Pavitt´s Gadrey and Gallouj (1998), Gadrey(1994a, 2001), Gallouj (1994), Hauknes (1998), Sundbo e Gallouj (1998b); Sundbo e Gallouj (2000); Gallouj (2002) • Enfatiza as características dos processos de inovação em atividades de serviços. Hauknes (1998), Gallouj (1994); Gallouj e Weinstein (1997); Gallouj (2002) • A principal ideia é integrar as persperctivas prévias para desenvolver uma teoria incluindo os aspectos comuns de inovação em manufatura e serviços, respeitando suas especificidades. • Primeira geração com foco em serviços (KIBS). • Foco em serviços com menor nível de competências e conhecimento intensivo, posterioremente Quadro 7: Abordagens teóricas da inovação em serviços segundo as perspectivas de alguns autores Fonte: Elaborada pela autora, baseada em Vargas (2006); Gallouj e Savona (2009) De acordo com Klement (2007), Miozzo e Soete (2001) sugerem uma classificação de 61 serviços cuja ênfase está na interação entre manufatura e serviços, ambos em termos da origem e aplicação de mudança tecnológica. Klement (2007) argumenta que apesar de os autores criticarem a taxonomia de Pavitt (1984), em virtude de ele classificar todos os serviços em um único setor dentre os quatro padrões setoriais de inovação que ele identificou em seus estudos, pode-se perceber que o estudo de Miozzo e Soete (2001) está diretamente embasado pela taxonomia proposta por Pavitt (1984) (vide Quadro 8). Taxonomia de Pavitt Classificação de Miozzo e Soete Setor dominado pelo fornecedor: as principais Dominado pelo fornecedor: pricipalmente serviços inovações foram geradas fora do setor, em geral, pelos pessoais e serviços públicos sociais. fornecedores. Setor intensivo em escala: inovação em produtos e processos na busca de redução de custos e diferenciação de produto. Redes físicas intensivas em escala e redes de informação: inovação fortemente determinada pelo uso do serviço. Setor fornecedor especializado: deter a tecnologia é o principal fator da concorrência. Baseado em ciência e fornecedor especializado: serviços de pesquisa, desenvolvimento e atividades de software de firmas no setor. Setor baseado em ciência: desenvolvem conhecimento na fronteira com as ciências básicas. Quadro 8: Comparação entre a taxonomia de Pavitt e a classificação de Miozzo e Soete Fonte: Klement (2007) Ao comentar os estudos taxonômicos Vargas (2006) realça a sua importância, mas ao final conclui que essa taxonomia é insuficiente para considerar as variadas trajetórias de inovação passíveis de serem adotadas pelos vários tipos de serviços: Uma importante vertente dos estudos neo-schumpeterianos, que igualmente mobiliza o conceito de trajetória tecnológica, os chamados estudos taxonômicos, conferiram aos serviços o mesmo tratamento subordinado em relação à indústria. As duas principais taxonomias neo-schumpeterianas resultam dos trabalhos de Keith Pavitt (1984) e de Marcela Miozzo e Luc Soete (2001). A tônica dos estudos é colocar o setor de serviços, em termos gerais, como tecnologicamente dependente da indústria. O fato é que os serviços, nos últimos anos, tornaram-se responsáveis pela indução e até mesmo pela coprodução de muitas inovações tecnológicas, especialmente dentre os serviços que operam com base em operações logísticas [...] Essas constatações têm levado mesmo à proposição de modelos de inovação que privilegiam o papel dos serviços como promotores de inovações no setor industrial [...] a principal limitação das taxonomias neo-schumpeterianas reside no seu determinismo setorial e institucional. Isto é, as empresas de um determinado setor imersas em um dado contexto institucional, seguirão a mesma trajetória de inovação [...] Ou seja, as trajetórias de inovação no setor de serviços seriam ditadas, inevitavelmente, pela adoção das inovações geradas na indústria [...] Em outras palavras, as taxonomias neo-schumpeterianas se mostraram inaptas para considerar as variadas trajetórias de 62 inovação passíveis de serem adotadas pelos vários tipos de serviços (VARGAS; 2006, p. 85). Do ponto de vista prático, uma pesquisa recente sobre inovação realizada por Miles (2008) mostra que algumas organizações de serviço comportam-se como as de manufatura de alta tecnologia. Segundo o autor, isto é especialmente verdadeiro para os negócios de serviço intensivos em conhecimento, baseados em tecnologia, conhecidos como T- KIBS “Technology – Knowledge Intensive Businesses Services”. Para Miles (2008) a primeira questão a ser considerada é como os tipos de inovação em serviços podem ser caracterizados. Na visão de den Hertog (2000) e Miles (2008) a inovação em serviços é melhor compreendida em termos de quatro dimensões de novidades: 1. O conceito de serviço: Um serviço é novo ao seu mercado particular, ou, na terminologia de Edvardsson (1996, 1997), “uma nova proposição de valor”. 2. A interface com o cliente: Mudanças no modo como os clientes são envolvidos no projeto, produção e consumo do serviço. 3. O sistema de entrega do serviço: Alterações no modo pelos quais os trabalhadores de serviços realizam suas atividades de entrega de serviços críticos. 4. A tecnologia: Utilizado em muitos processos e na entrega da inovação, onde a tecnologia de informação (TI) é especialmente importante para os serviços porque contribui para maior eficácia e eficiência no processamento da informação. Na opinião do autor, a dimensão 4 possui mais elementos em comum com a inovação tradicional em manufatura. Cada uma dessas dimensões pode ser mais ou menos incremental ou radical e requerer mais ou menos conhecimentos novos e reorganização de processos e procedimentos. O trabalho de Miles (2008) reporta os resultados das pesquisas sobre inovação realizadas na Europa, por mais de uma década. Estes dados são provenientes da “The Community Innovation Survey (CIS)”, que foca em inovações tecnológicas de produto e de processo. A quarta pesquisa realizada pela CIS, incluiu perguntas sobre novas estratégias organizacionais e de mercado. O resultado típico foi que os serviços são menos propícios a engajar em atividades inovativas quando comparados às empresas de manufatura, que são mais inclinadas a realizar inovações de processo e inovações de produto e processo 63 combinadas. Os serviços financeiros e os T-KIBS emergem como superiormente inovadores e apresentam uma tendência a combinar inovações de produto e processo; estes setores se parecem mais com as empresas de manufatura (MILES, 2008). Outro resultado interessante também derivado desta pesquisa em combinação com outros estudos, tais como os de Schmidt e Rammer (2006) e de Kremp e Rosseau (2006), indicam duas características: 1. Os setores mais inovadores em termos de tecnologia tendem a ser mais inovadores em termos organizacionais; 2. Esta correlação é imperfeita, pois as empresas de manufatura tendem a enfatizar a inovação de produto e processo baseadas em tecnologia enquanto o setor de serviços enfatiza a inovação organizacional (MILES, 2008). Embora este assunto não se encerrre aqui, esta pequena revisão traz elementos que contribuem para o entendimento prévio da inovação em empresas de indústria e de serviços. Também permite identificar que um dos trabalhos mais relevantes para esta tese, o de Nijssen, Hillebrand, Vermeulen e Kemp (2006) que envolve simultaneamente os assuntos rotinas, competências e inovação em empresas de indústrias e de serviços, segue uma abordagem integradora da inovação em serviços. No item 2.5.3 serão apresentados alguns exemplos de trabalhos experimentais envolvendo rotinas de busca, competências e inovação em empresas de indústrias e de serviços. 2.5.2 O modelo de Gallouj e Weinstein A abordagem de Gallouj e Weinstein (1997) considera que um produto (bem ou um serviço) possa ser representado por um conjunto de vetores de características e competências que estão relacionadas. A representação do produto baseado em características é ilustrada na Figura 9. O significado dos vetores deste modelo é o seguinte: Vetor [Y]: representa as características do serviço, o valor para o usuário final; 64 Vetor [T]: representa as características do produto, materiais ou imateriais. Subjacente ao vetor [T] está o processo (tecnológico e não tecnológico) empregado para produzir o vetor [Y]; Vetores [C] e [C´]: indicam o conjunto de competências do fornecedor e do cliente / usuário, respectivamente (GALLOUJ; SAVONA, 2009). O vetor [C] de competências mobilizadas na provisão de um serviço relaciona-se somente às competências individuais ou de um grupo claramente definido, por exemplo, o time envolvido no fornecimento do serviço em questão. Ele não inclui competências organizacionais, que são contempladas no escopo intangível das características técnicas [T] (GALLOUJ; WEINSTEIN, 1997). Conforme destacado por estes autores, duas definições importantes resultam desta abordagem: 1) Inovação: pode ser definida de acordo com as mudanças que afetam um ou mais elementos de um ou mais vetores de características ou de competências. A inovação é definida como um processo, não como um resultado. 2) A entrega do serviço: é definida como o emprego simultâneo (e relacionamento) das características técnicas (materiais e imateriais) e competências (internas e externas) para produzir o serviço (ou características finais). De acordo com esta abordagem, uma definição mais ampla de formas de inovação é sugerida, resultante da dinâmica de suas características: - inovação radical, inovação por aprimoramento, inovação incremental, inovação Ad hoc, inovação por recombinação (ou inovação de arquitetura) e inovação por formalização (GALLOUJ; SAVONA, 2009). Um aspecto importante para contextualizar este estudo é que seu foco é a abordagem integrativa ou sintetizadora. Algumas pesquisas empíricas fundamentadas nesta abordagem já foram realizadas, como por exemplo, a conduzida por De Vries (2004) na Europa. Nenhum estudo similar a este foi realizado no Brasil até o momento. De fato, um trabalho publicado recentemente por Gomes, Machado e Giotto (2009) acerca do conhecimento sobre inovação produzido no Brasil indica que o foco é a investigação tecnológica. Este fato justifica a necessidade de haver mais estudos sobre inovação com um foco não tecnológico, o que também justifica a relevância desta tese. 65 Figura 9: Representação do produto baseada em características Fonte: Gallouj and Savona (2009); Gallouj and Weinstein (1997) 2.5.3 Trabalhos experimentais com rotinas, inovação em indústrias e em serviços Na pesquisa realizada para construção do referencial teórico deste projeto foram encontrados inúmeros trabalhos contempando isoladamente os assuntos rotinas, inovação em indústrias ou inovação em serviços. No entanto apenas um estudo, o de Nijssen et al. (2006), aproximou-se mais do tipo de investigação que se pretende fazer neste trabalho. Nijssen et al. (2006) consideraram a investigação realizada por Chandy e Tellis (1998) como base em sua pesquisa, testando-a e acrescentando a ela novas hipóteses. O trabalho realizado por Chandy e Tellis (1998) está voltado à inovação radical e tem com principal argumento de escolha do assunto o impacto que esse tipo de inovação pode causar. 66 Segundo os autores, se por um lado a inovação radical pode ser uma fonte de vantagem competitiva para o inovador, podendo gerar grandes lucros duradouros, por outro lado ela também tem a capacidade de destruir fortunas de firmas. Os investimentos realizados durante anos podem se tornar inúteis porque não são aplicáveis à nova geração de produtos e as habilidades que conduziram a firma ao sucesso, posteriormente podem torná-la não competitiva. Além disso, Chandy e Tellis (1998) sinalizam que alguns autores afirmam que a inovação radical de produto está se tornando mais frequente e por isso é importante compreendê-la. Chandy e Tellis (1998) definem uma inovação radical de produto como a propensão de uma empresa em introduzir novos produtos que: 1. Incorporem tecnologias substancialmente diferentes dos produtos existentes; 2. Possam satisfazer as necessidades essenciais do cliente de forma melhor que os produtos existentes. Esses autores comentam que uma hipótese Schumpeteriana é que grandes firmas inovam mais intensamente que as pequenas. Embora esta hipótese tenha sido extensivamente estudada, os resultados relativos a essas pesquisas não foram conclusivos. Na revisão sobre este assunto Chandy e Tellis (1998) concluíram que não há consenso sobre o efeito do tamanho da empresa sobre a inovação radical. De fato os autores apontam que há muita contradição no assunto e na opinião deles a literatura negligencia fatores de atitude e organizacionais que podem influenciar mais fortemente a inovação radical em firmas. O Quadro 9 mostra as ideias defendidas por alguns autores e respectivos argumentos. Além da variável “tamanho da empresa” como fator para a inovação radical de produto, outras variáveis foram apontadas como importantes na literatura, tais como as citadas no Quadro 10. Com base nestas informações Chandy e Tellis (1998) propoem uma explicação alternativa para a inovação radical, baseada em fatores de atitude e fatores organizacionais. Eles sugerem que o efeito do tamanho da empresa é fraco quando estes fatores são considerados. 67 Autores Ideias Argumento de defesa Galbraith (1952) Ali (1994) Concordam com os Os autores notam que grandes empresas beneficiam-se argumentos de Schumpeter de economias de escala em P&D, podem diluir os e sugerem que as empresas riscos e possuem maior acesso a recursos. grandes possuem muitas vantagens sobre as pequenas em sua habilidade de produzir inovações radicais. Mitchell e Singh (1993) Ideia oposta aos autores Os autores argumentam que à medida que as empresas anteriores. crescem, tornam-se burocráticas, lentas e menos dispostas a assumir riscos. Em decorrência disto elas são menos prováveis de gerar inovações radicais, quando comparadas às empresas pequenas. Ettlie e Rubenstein (1987) Sugerem que a relação entre a produtividade inovativa e o tamanho da empresa possua uma forma de “sino”. Os autores argumentam que as empresas de médio porte estão melhor posicionadas para a inovação radical de produto porque possuem maior massa crítica para a pesquisa que as empresas de pequeno porte, mas não sofrem da inércia burocrática de grandes firmas. Pavitt (1990) Sugere que as proporções de inovações significantes feitas pelas empresas pequenas têm aumentado às custas das empresas de médio porte, que talvez possuam as responsabilidades das empresas de grande e pequeno portes, mas pouco de suas forças. Argumenta em favor de uma curva de relação entre a produtividade inovativa e o tamanho da empresa possua na forma de “U”. Quadro 9: Principais ideias relativas ao efeito do tamanho da firma sobre a capacidade inovativa da empresa Fonte: Elaborado pela autora com base em Chandy e Tellis (1998) Um fator de atitude apontado por Chandy e Tellis (1998) como classificador entre as empresas que produzem inovações radicais e as que não as produzem é a “disposição para canibalizar” seus próprios investimentos. A “disposição para canibalizar” refere-se ao grau em que as firmas estão preparadas para reduzir o valor real ou potencial de seus investimentos. Ela é uma característica da atitude das principais pessoas que tomam decisões na empresa e reside na cultura, valores compartilhados e crenças da firma. A disposição para canibalizar é crítica porque as empresas que dominam certos mercados são frequentemente relutantes em acolher inovações radicais neles devido ao fato de já possuírem uma base de investimentos especializados que servem estes mercados (CHANDY; TELLIS, 1998). De acordo com Chandy e Tellis (1998) o termo canibalização tradicionalmente referese à canibalização de vendas, o que significa uma queda nas vendas atuais de uma empresa devido à vendas de um novo produto dela; é portanto considerado um problema. 68 Autores Possíveis variáveis que afetam a inovação radical de produto Gatignon e Xuereb (1997) Pesquisas em gestão e marketing sugerem que outros fatores conduzem à inovação Kleinschmidt e Cooper radical de produto. (1954) Moorman e Miner (1997) Damanpour (1991) A forma como uma empresa é organizada poderá exercer um efeito importante no desempenho de sua inovação radical de produto. Olson, Walker e Ruekert Um elevado nível de autonomia na firma contribui para a inovação radical de (1995) produto. Ettlie, Bridges e O´Keefe Destacam a importância do papel dos “campeões de produto” em promover tais (1984) inovações. Gatignon e Xuereb (1997) Estressam a importância da orientação estratégica sobre o desempenho inovativo da empresa. Moorman (1995) Moorman e Miner (1997) Identificam os efeitos dos fluxos de informação e memória organizacional sobre o nível de criatividade de um novo produto. Quadro 10: Possíveis variáveis que afetam a inovação radical de produto Fonte: Elaborado pela autora com base em Chandy e Tellis (1998) A visão desses autores referentes à canibalização é oposta, ou seja, a canibalização é uma característica desejável que pode promover a inovação radical de produto e o sucesso de longo prazo da empresa. A canibalização é um construto multidimensional; as firmas podem canibalizar investimentos na forma de suas propriedades ou rotinas organizacionais. Segundo Chandy e Tellis (1998): As rotinas organizacionais são os procedimentos estabelecidos por uma firma para realizar suas atividades diárias (Nelson e Winter, 1982). Tais rotinas desenvolvemse para assegurar a eficiência nas operações relacionadas à tecnologia existente mas poderão ser irrelevantes para uma nova tecnologia. Esta visão ampliada dos investimentos compreendendo propriedades e rotinas organizacionais é essencial para explicar a disposição para canibalizar (CHANDY; TELLIS, 1998, p. 477, tradução nossa). No modelo apresentado por Chandy e Tellis (1998) (Figura 10) a disposição para canibalizar é mediadora da relação entre os fatores organizacionais e a inovação radical de produto. Dentre os fatores organizacionais encontram-se: ● Os investimentos especializados: são aqueles que perdem valor se não forem aplicados a uma tecnologia específica. As empresas que são bem sucedidas com seus produtos atuais possuem muitos investimentos especializados que frequentemente são frutos de anos de trabalho dos gerentes seniores das empresas. Eles desenvolvem um forte comprometimento pessoal e profissional com os investimentos, o que pode levá-los à 69 decisões subótimas ou memo irracionais, afetando negativamente a disposição para canibalizar; ● Os mercados internos: Chandy e Tellis (1998) consideram que uma firma possui um mercado interno ativo quando ela apresenta elevados níveis de autonomia interna e de competição interna. A autonomia interna refere-se ao grau de autoridade que um gerente de negócios possui relativamente à corporação, para tomar decisões relacionadas a sua unidade de negócios. A competição interna refere-se à rivalidade entre unidades de negócios em uma corporação. A hipótese estabelecida pelos autores é que firmas com mercados internos ativos possuem mais disposição para canibalizar que outras firmas; ● Influência do campeão de produto: refere-se em que extensão os empregados que defendem as idéias de um novo produto afetam as atividades da organização. Os sistemas de recompensa, as lendas organizacionais, os programas de treinamento, promovem a influência dos campeões de produto. Idéias não tradicionais que tipicamente enfrentam resistência intensa em firmas, apresentam melhores chances em firmas com campeões de produto influentes; ● Foco no mercado futuro: foi definido por Chandy e Tellis (1998) como a extensão em que uma firma confere importância aos clientes e concorrentes futuros frente aos seus clientes e concorrentes atuais. As entrevistas realizadas por esses autores sugerem que firmas inovadoras focam em clientes futuros ou nas necessidades futuras de clientes atuais e em concorrentes futuros ou ações futuras que os concorrentes atuais possam tomar. Para esses autores quanto maior o foco futuro da firma, maior sua disposição para canibalizar (CHANDY; TELLIS, 1998). Desta forma o modelo especificado por Chandy e Tellis (1998) é representado pelas seguintes equações: Inovação Radical de Produto = β11 Disposição para Canibalizar + γ12 Tamanho da Empresa + ε1 (1) Disposição para Canibalizar = γ21 Investimentos Especializados + γ22 Mercados Internos + γ23 Influência (2) dos Campeões de Produto + γ 24 Mercados Futuros + ε2 70 Figura 10: Modelo hipotético da inovação radical de produto. Fonte: Chandy e Tellis (1998) O modelo de inovação radical de Chandy e Tellis (1998) foca em fatores intraorganizacionais, no entanto os autores reconhecem que fatores externos, tais como a turbulência no ambiente da indústria ou a sua intensidade competitiva podem afetar a inovação. Por este motivo, os autores controlaram os efeitos externos restringindo a amostra à três indústrias altamente competitivas de elevada turbulência tecnológica: - a indústria de hardware de computadores, a fotônica e a de telecomunicações. As corporações foram divididas em categorias de quatro tamanhos sendo que cada categoria representa aproximadamente 25% da amostra: ● menos de 100 empregados; ● de 100 a 499 empregados; 71 ● de 500 a 4999 empregados; ● maior que 5000 empregados. Na pesquisa Chandy e Tellis (1998) usaram o termo firma como sinônimo de unidade estratégica de negócio (Strategic Business Unit – SBU), definidas como centros de resultados com produtos e mercados distintos. A pesquisa ocorreu em várias etapas com objetivos diversos; inicialmente foram realizadas 24 entrevistas pessoais com gerentes envolvidos em desenvolvimento de novos produtos ou estratégia de produto em 14 firmas de tecnologia em nível nacional. Posteriormente Chandy e Tellis (1998) enviaram pesquisas às SBUs, obtendo 194 respostas (taxa efetiva de respostas de 40,3%). Os resultados encontrados na pesquisa de Chandy e Tellis (1998) sugerem que: 1. A presença de investimentos especializados em uma tecnologia reduz a disposição da firma para canibalizar. Entretanto, os mercados internos, os campeões de produto e o foco em mercados futuros superam os efeitos negativos dos investimentos especializados; 2. Uma razão para a canibalização ser vista como um problema é que ela frequentemente ocorre no contexto de novos produtos incrementais ou extensões de linha. Os resultados de Chandy e Tellis (1998) indicam que no contexto de inovação radical de produto, esta visão é errada; 3. Contrário à visão Schumpeteriana, o tamanho da firma não exerce efeito sobre a inovação radical de produto, se as empresas estiverem organizadas de forma apropriada; Chandy e Tellis (1998) apontam a seguinte agenda para pesquisa futura: (a) A possibilidade de identificar outros fatores envolvidos em inovação, tais como o modo como a propensão da empresa ao risco, a capacidade tecnológica, a formalização e a complexidade afetam a disposição para canibalizar e a inovação radical; (b) Uma pesquisa futura deveria investigar se os resultados encontrados manteria-se para empresas que não são baseadas em tecnologia; (c) Necessidade em se estudar o desempenho da firma em termos de lucros e participação de mercado. A relação entre inovação radical de produto e desempenho da firma 72 podem não ser lineares; (d) Nas pesquisas Chandy e Tellis (1998) observaram que muitas organizações grandes estavam aptas a superar a inércia e comprometimento à tecnologia prévia que atacaram grandes firmas anteriormente. Entretanto muitas indústrias mais antigas que eram dominantes no mercado aparentemente não resistiram às pressões da inércia. Com isso os autores se perguntam se os inovadores radicais da ocasião eram diferentes daqueles do passado e sugerem uma análise histórica da inovação radical. (e) Na opinião de Chandy e Tellis (1998) também seria útil uma pesquisa em métodos para identificar como serão os clientes e concorrentes futuros. Partindo deste trabalho, Nijssen, Hillebrand e Vermeulen (2005) apontaram que embora Chandy e Tellis (1998) tenham sugerido que o construto da disposição para canibalizar deva ser multidimensional e tenham incluído ítens que parecem abordar várias dimensões, eles encontraram e usaram somente um único fator em seu trabalho empírico. Na opinião de Nijssen et al., (2005) ao tratar a disposição para canibalizar como um construto multidimensional, pode-se aprimorar o entendimento do processo de inércia no desenvolvimento de um novo produto. Em economia, o estudo da canibalização remonta a década de 30, quando Schumpeter (1934, 1942), em uma tentativa de explicar o desenvovimento econômico, estudou a relação entre o domínio e as inovações radicais. Os psicólogos organizacionais têm estudado o temor da canibalização com enfoque nos aspectos psicológicos dos custos das perdas (Barton et al., 1989; Staw, 1981; Staw e Ross, 1987). Eles verificaram que os tomadores de decisão em organizações tendem a manter os investimentos prioritários mesmo quando do ponto de vista econômico eles tornaram-se inúteis. Independente do fato que eles são irrecuperáveis e, portanto irrelevantes para o investimento futuro, os gerentes tendem a reforçá-los. Este fenômeno tornou-se conhecido como “a falácia dos custos perdidos” (NIJSSEN et al., 2005) De acordo com (Nijssen et al., 2005), enquanto os economistas que estudam a canibalização estão principalmente interessados no desenvolvimento econômico e mudanças (ou falta de mudanças) nas estruturas de mercado, os estudiosos de gerenciamento estratégico e economia evolucionária que investigam a canibalização, tendem a focar em recursos, competências e capacidades dos dominantes versus a dos novos entrantes (por ex., Tripsas, 73 1997; Tushman e Anderson, 1986). A literatura de gerenciamento estratégico tem mostrado que as capacidades podem explicar a inércia dos dominantes em introduzir novos produtos (por ex., Henderson e Clark, 1990; Leonard-Barton, 1992, 1995; Tripsas, 1997). Tipicamente, os dominantes possuem uma vantagem sobre os novos entrantes em períodos de estabilidade porque as inovações são baseadas em capacidades existentes assim como as competências de melhoria das inovações também são fundamentadas no conhecimento existente (Tushman e Anderson, 1986). Entretanto, as firmas estabelecidas fazem com que as suas capacidades centrais tornem-se rígidas e isso dificulta a sua adaptação frente às inovações radicais, que demandam novas capacidades (Leonard-Barton, 1992). Essa questão da inércia foi retomada na pesquisa de Nijssen et al. (2006), quando os autores estudam o desenvolvimento de um novo serviço e de um novo produto. Para Nijssen et al., (2006) em desenvolvimento de novos serviços há uma tensão entre as funções que estão em contato direto com os clientes (front office) e as que são internas à empresa (back office), que visam maximizar a excelência operacional. Para eles isto sugere que a influência da inércia organizacional é mais importante no caso do desenvolvimento de um novo serviço do que de um novo produto, ou seja, sugere a existência de aspectos críticos que devem ser reforçados (tais como algumas capacidades, como a de visão de negócio) e outros aspectos que devem ser reduzidos (tais como os conflitos intraorganizacionais e a luta pelo poder, por exemplo). No caso da inércia, Nijssen et al., (2006) afirmam que seu interesse concentra-se no papel que ela exerce nos processos de inovação. Eles retomam o trabalho de Chandy e Tellis (1998) e identificam três dimensões adicionais que expandem a ferramenta de Chandy e Tellis (1998) e descrevem melhor os diferentes aspectos organizacionais envolvidos: 1. Vendas atuais: indicam a disposição da empresa em introduzir novos produtos e serviços que diminuirão as vendas de seus atuais produtos e serviços; 2. Investimentos prévios: indicam a disposição da empresa em introduzir novos produtos e serviços que tornarão os investimentos prévios obsoletos; 3. Rotinas organizacionais: indicam a disposição da empresa em introduzir novos 74 produtos e serviços que tornarão obsoletas as habilidades e rotinas organizacionais atuais. Sob a dimensão de rotinas organizacionais Nijssen et al., (2005) compreendem capacidades organizacionais. O modelo proposto por Nijssen et al., (2006) é mostrado na Figura 11: Figura 11: Modelo conceitual utilizado para examinar as diferenças e similaridades entre o desenvolvimento de novo produto e de novo serviço. Fonte: Nijssen et al., (2006) Esses autores explicam o modelo da seguinte forma: [...] ele inclui os dois mecanismos centrais que explicam o grau no qual uma empresa desenvolve serviços e produtos inovadores. Primeiro, ele possui o mecanismo de diferenciação envolvendo a força de P&D. Uma relação positiva entre a força de P&D e novos produtos e serviços é antecipada [...] Segundo, há o mecanismo de influência contextual da organização. Ele envolve a propensão de uma empresa para a inovação, a qual se baseia na disposição da organização em sacrificar suas vendas atuais, rotinas organizacionais e investimentos prévios [...] A propensão à inovação influencia o grau de novidade dos novos produtos e serviços desenvolvidos. Finalmente, o grau de novidade é suposto antecipadamente afetar positivamente o desempenho da empresa [...] Novos produtos e serviços radicais envolvem soluções inovadoras superiores às necessidades atuais e futuras dos clientes e podem ajudar a redefinir as regras de competitividade e, portanto melhorar o desempenho e posição competitiva de uma empresa. [...] Como todas as relações de nosso modelo são bem pesquisadas, nós somente retestaremos estas relações e nos concentraremos nas hipóteses e resultados diferenciais assumidos com base no 75 contexto do produto versus serviço (NIJSSEN et al., 2006, p. 243, tradução nossa). O Quadro 11 traz um resumo das hipóteses testadas no modelo, bem como seus resultados. Hipótese Relação estabelecida na hipótese moderadora testada Resultado H1 A força de P&D exerce um efeito mais forte sobre a radicalidade de novos produtos/serviços em um contexto de novo produto do que um contexto de novo serviço Rejeitada H2 Propensão à inovação exerce um efeito mais forte na radicalidade de novos produtos/serviços em um contexto de novo serviço do que em um contexto de novo produto Rejeitada H3 A disposição para canibalizar as rotinas organizacionais exerce um efeito mais forte sobre Aceita a propensão para a inovação em um contexto de novo serviço do que no contexto de novo produto H4 A disposição para canibalizar investimentos prévios exerce um efeito mais forte sobre a propensão para a inovação em um contexto de novo serviço do que em um contexto de novo produto Rejeitada H5 O efeito da disposição para canibalizar vendas sobre a propensão para a inovação não difere entre um contexto de novo serviço e um contexto de novo produto Aceita Quadro 11: Hipóteses elaboradas por Nijssen et al., (2006) e respectivos resultados após testes Fonte: Elaborado pela autora; adaptado de Nijssen et al., (2006) Nijssen et al., (2006) explicam que o fato da disposição para canibalizar rotinas ser mais forte em um contexto de serviços do que de produtos confirma o papel de novas rotinas e a disposição para mudá-las no desenvolvimento de um novo serviço (Hipótese 3). Eles exemplificam considerando a extensão de uma linha de serviço versus a de uma linha de produto. Enquanto na manufatura, uma extensão de uma linha de produto ainda poderá utilizar a atual tecnologia e demandar mudanças mínimas nas capacidades dos envolvidos, uma extensão na linha de serviço provavelmente precisará que funcionários aprendam novas habilidades para operar programas modificados ou novos procedimentos de serviços (NIJSSEN et al., 2006). No caso da Hipótese 4, os autores esclarecem que inovações incrementais em serviços, tal como as inovações incrementais em produtos poderão não requerer a inovação de processos. Eles informam que se tivessem medido a natureza da radicalidade do novo produto/serviço e não apenas seus níveis, poderiam confirmar esta explicação. O resultado indicativo das atividades de P&D serem mais importantes para o desenvolvimento de novos serviços radicais do que de produtos, contraria a Hipótese 1 dos 76 autores. Nijssen et al., (2006) explicam que isso pode ser devido ao fato de P&D ser necessário tanto em inovações incrementais quanto em radicais no contexto de desenvolvimento de produto; enquanto em serviços, os departamentos de P&D são menos comuns e exclusivamente ligados ao desenvolvimento radical de novos serviços. A Hipótese 2 também contraria as expectativas dos autores. Na visão de Nijssen et al., (2006), uma explicação possível seria que a disposição para canibalizar uma dimensão organizacional e portanto apresentar uma propensão à inovação pode ser uma necessidade para o desenvolvimento de um novo serviço, enquanto no caso do desenvolvimento de um novo produto ela ajude a diferenciar uma organização de seus concorrentes. Vale ressaltar que a pesquisa realizada por Nijssen et al., (2006) foi realizada na Holanda e utilizou um painel de uma agência semi-governamental de negócios de pequeno e médio portes envolvendo produtos e serviços. A amostra final contou com 217 empresas de serviços e 105 de produtos (vide Tabela 1 com dados sobre o perfil das empresas). O painel é bianual e é construído com auxílio de entrevistas por telefone (CATI – Computer Aided Telephone Interviews); os questionários são curtos e o tempo de entrevista é limitado a 15 minutos. Os autores usaram percepções de respondentes únicos (CEOs) ao invés de dados comportamentais e múltiplos respondentes. Em seus comentários sobre limitações do estudo, Nijssen et al., (2006) apontaram que embora as avaliações de (CEOs) tendam a ser confiáveis e forneçam boas estimativas, elas podem ter afetado os resultados da pesquisa. Eles sugeriram que os dados longitudinais deveriam ser usados para testar se a causualidade assumida no modelo se mantém. Os autores definiram como serviço as soluções para problemas de clientes caracterizadas por elevada intangibilidade, produção conjunta com o cliente e perecibilidade. Os produtos foram definidos como soluções que são altamente tangíveis, manufaturadas e que podem ser estocadas. Como critério qualificador foram consideradas empresas que tivessem introduzido novos produtos/serviços nos três últimos anos. 77 Tabela 1: Perfil demográfico da amostra Indústria % Idade da empresa % Tamanho da empresa (no de empregados) % Serviços Comércio e reparo 16,1 ≤ 10 anos 24,8 ≤ 9 22,1 Hotel e buffets 5,9 11 ≤ 25 anos 28,9 10 ≤ 49 32,6 Transporte 10,0 26 ≤ 50 anos 18,0 50 ≤ 99 38,8 Serviços de aluguel 13,4 51 ≤ 75 anos 9,3 6,5 Serviços financeiros 14,6 > 75 anos 14,3 Outros serviços 6,5 4,7 Desconhecido > 100 Produtos/manufatura Construção e materiais de construção 10,9 Química/borracha, vidro e metal 6,5 Equipamentos e ferramentas elétricas e óticas 5,6 Papel, madeira e têxteis. 3,4 Outros 7,1 Fonte: Adaptado de Nijssen et al., (2006) A análise da pesquisa foi realizada em dois estágios, usando os programas SPSS 11 e o Lisrel, segundo os seguintes critérios: 1. Foi investigada a consistência interna dos construtos baseada em análises de fator exploratória e confirmatória e o α de Cronbach; 2. Utilizou-se a análise do caminho, considerando dados padronizados e uma abordagem multigrupo. Dentre as recomendações para pesquisa futura, Nijssen et al., (2006) destacam: (a) A inclusão de mais motivadores para a propensão à inovação. Adição de construtos operacionais que os gerentes podem usar para administrar a inércia organizacional e os processos de desenvolvimento de suas empresas; (b) Estender a pesquisa às indústrias específicas poderá ajudar a determinar em que extensão os dados podem ser generalizados para diferentes indústrias. Tais replicações devem incluir também grandes corporações; (c) Na pesquisa os autores concentraram-se em novos produtos e serviços radicais, porém, 78 restringiram a atenção ao nível, não à natureza da radicalidade. As pesquisas futuras deveriam medir a natureza da radicalidade de modo a controlar os diferentes tipos, tais como novo para a firma ou novo para o mundo. Outro estudo importante para esta tese é o realizado por Collinson e Wilson (2006), que investigou as causas da inércia, as barreiras à mudança e inovação em duas empresas de indústria japonesas, a Sumitomo Chemical e a Nippon Steel Corporation. Neste trabalho os autores argumentam que o conhecimento é o recurso crítico para ambas as firmas e que sua exploração por meio de rotinas organizacionais, capacidades e procedimentos são essenciais. Collinson e Wilson (2006) examinam as rotinas organizacionais que as firmas utilizam para gerenciar as atividades relativas à inovação como principal unidade de análise. Eles exemplificam as rotinas em contextos distintos de inovação, tais como: ● No estabelecimento de estratégia: requer, por exemplo, conhecimento de tecnologias emergentes, novos mercados, objetivos da concorrência e as capacidades internas da firma obtidas via fontes de conhecimento internas e externas; ● Na Pesquisa & Desenvolvimento (P&D) central e desenvolvimento de produto e processo distribuídos: decisores estratégicos trocam seu conhecimento especializado em vários mecanismos de interação para atingir um consenso e priorizar alocação de recursos relativos a investimentos em determinados programas de P&D, novos processos e produtos. Collinson e Wilson (2006) estudam especificamente as rotinas de controle, assim chamadas por atuarem como mecanismos de ligação entre o intento estratégico da firma e o desenvolvimento, integração e alavancagem de todos os tipos de conhecimento (vide exemplo dessas rotinas no ANEXO B) Collinson e Wilson (2006) propoem uma ferramenta teórica que se baseia em rotinas, capacidades e inércia, a qual se encontra esquematizada na Figura 12. 79 Figura 12: Ferramenta teórica - tipos de organizações mais ou menos adaptáveis Fonte: Collinson e Wilson (2006) Nesta figura a ferramenta teórica compreende: ● Rotinas, capacidades, agenciamento e conhecimento ativos: esses são a base de recursos existentes e as características da organização, tais como estrutura, procedimentos e cultura; ● Rotinas latentes: práticas ou mecanismos que podem ser ativados se houver uma mudança na direção estratégica da organização; ● Capacidades latentes: uma combinação de rotinas latentes e conhecimento que podem ser usadas para formular e ajudar a implementar um novo conjunto de objetivos estratégicos; ● Conhecimento latente: o conhecimento total disponível caracterizado fatores tais como experiência, educação, habilidades bem como treinamento; ● Agenciamento latente: as aspirações ou motivações não ativadas dos agentes, tais como gerentes, governo e outros stakeholders. Nessa ferramenta os autores ilustram dois tipos de organização em contraste. Collinson e Wilson (2006) propoem que diferentes proporções de agenciamento, rotinas, capacidades e conhecimento resultam em diferentes graus de adaptabilidade, face à mudança, 80 seja ela endógena ou exógena. Desse modo as organizações mais adaptáveis podem sacar estes tipos de recursos do que estiver latente, quando for necessário. As organizações menos adaptáveis são mais enxutas e eficientes em contextos estáveis, possuem uma quantidade mais limitada de recursos para sacar e, portanto são mais vulneráveis à inércia (COLLINSON; WILSON, 2006). Sendo assim, conclui-se que a visão de inovação desses autores está fortemente associada à disponibilidade de recursos. Outra abordagem do estudo de rotinas é a apresentada por Webster (2004), que investiga as forças que levam algumas firmas a decidirem por engajar em atividades mais inovativas que outras e também examina os tipos de rotinas associadas a esta decisão. Segundo a autora muitos estudos sobre os determinantes da inovação seguiram a tradição Schumpeteriana e concentraram-se no tamanho e estrutura de mercado como causas possíveis à inovação, entretanto, com o advento de novas medidas qualitativas do conhecimento da indústria e estilos gerenciais, estes fatores tornaram-se menos importantes. Sob o modelo evolucionário do comportamento da firma, a decisão sobre quão ativamente as atividades inovativas prosseguirão serão acompanhadas por uma série de rotinas e práticas que dão suporte e nutrem estas atividades. Estas rotinas são geralmente estáveis ao longo do tempo, sendo somente descontinuadas em resposta a um estímulo grande. É esta inércia das rotinas que assegura que as organizações eficientes selecionadas continuem a operar eficientemente (HODGSON, 1999; WEBSTER, 2004). Webster (2004) aponta que muitos modelos teóricos têm surgido para descrever a evolução das firmas e indústrias baseados em regras considerando taxas de invenção e imitação; entretanto, os tipos de rotinas empregadas pelas firmas, sendo um conceito mais complicado, parece ser menos passível de modelagem precisa. Na visão desta autora, se por um lado não é possível generalizar sobre rotinas específicas e regras para tomada de decisão nas firmas, por outro lado talvez seja possível falar de estilos genéricos associados a essas rotinas. Estes estilos podem incluir atitudes gerenciais, os modos de comunicação com a organização, o nível de encorajamento provido aos funcionários para aprender sobre novos 81 produtos e processos e os meios de apropriar os lucros advindos deles. Para avaliar estas possibilidades, Webster (2004) testou um modelo que contempla tanto fatores externos que afetam a decisão inovativa quanto às rotinas internas que acompanham esta decisão, usando dados no nível da firma. O questionário da pesquisa de Webster (2004) buscou desenvolver medidas do grau de inovação da tecnologia escolhida pelas pessoas, das condições externas que influenciam a ênfase que as firmas conferem à inovação comparada à eficiência estática (a tecnologia física, a estrutura da corporação e tamanho, condições externas do mercado de produtos, condições externas do mercado de trabalho e a extensão da influência do conhecimento das firmas concorrentes). No que tange às rotinas, o questionário buscou investigar o estilo gerencial e as técnicas de comunicação, a efetividade das vias de aprendizado e dos meios de apropriabilidade. Uma série de variáveis foi construída para refletir os tipos de rotinas (vide exemplos no ANEXO B). Webster (2004) conclui que os principais resultados de sua pesquisa mostram que os fatores externos e rotinas genéricas, comuns a todas as indústrias, tais como o nível de aprendizado, a dispersão do conhecimento, a apropriabilidade e a abordagem gerencial são mais importantes que as forças específicas da indústria. 2.6 Conclusões sobre o referencial teórico A preparação deste referencial teórico foi fundamentada nos três elementos que compoem o problema de pesquisa desta tese, que são as rotinas de busca, as competências para inovar e a comparação entre as empresas de serviço e de indústria sob a perspectiva da inovação. Embora as rotinas de busca tenham sido claramente definidas por Nelson e Winter (1982) como “as rotinas que funcionam para modificar os vários aspectos das características operacionais das organizações ao longo do tempo”, elas ainda carregam em si vários questionamentos. O primeiro questionamento apontado neste trabalho diz respeito ao próprio conceito de rotinas, ou seja, Nelson e Winter (1982) definiram rotinas organizacionais como um termo 82 geral para todos os padrões comportamentais e regulares. Entretanto, esta definição tornou-se insuficiente para explicar todos os fenômenos associados às rotinas, de modo que posteriormente outros autores tais como Dosi et al (1992; 2000), Feldman e Pentland ( 2003) Becker (2004; 2005), Webster (2004), Collinson e Wilson (2006) e Hodgson (2008) atribuíram outras dimensões às rotinas na tentativa de operacionalizá-las. No entanto, tais novas definições (consolidadas no Quadro 12) trouxeram à tona outros questionamentos tais como qual seria o melhor nível de observação e análise das rotinas. Neste sentido duas proposições se detacam; a de Vromen (2009), que considera as rotinas como padrões que se estabelecem em multiníveis (firma, indivíduo e em áreas do cérebro) e a de Felin e Foss (2005) com ênfase no indivíduo. Para efeito desta tese a perpectiva multinível de Vromen (2009) é considerada como a mais adequada porque consegue captar aspectos de rotinas relacionados à organização (conforme proposto por Nelson e Winter, 1982) e ao indivíduo simultaneamente (de acordo com Felin e Foss, 2005). Neste sentido a ideia é que esta pesquisa consiga evidenciar não só o que efetivamente a empresa faz para inovar, mas também as percepções dos indivíduos sobre o processo de inovação (incluindo a própria definição de rotinas, hábitos e competências para inovar). Outra inspiração para este estudo de rotinas é o trabalho de Webster (2004) que investiga as forças que levam algumas firmas a decidirem por engajar em atividades mais inovativas que outras e também examina os tipos de rotinas associadas a esta decisão. Entretanto é importante ressaltar que a pesquisa realizada pela autora é quantitativa, enquanto que nesta tese é qualitativa e estes aspectos serão abordados a partir de uma análise de projetos de inovação realizados. Conforme apresentados no roteiro de pesquisa (Quadro 14) serão analisados os seguintes conceitos de cada projeto: Origem, Etapas, Dificuldades Encontradas, Atitudes Inovadoras, Estímulos para Inovar, Formas Competências, Inovação Radical, Rotina, Hábito e Competências para Inovar. de Trabalho, 83 Temas abordados no Autores Conceitos Referencial Teórico Rotinas Empresariais, Origens e Definições Nelson e Winter (1982) • Termo geral para todos os padrões comportamentais e regulares; • Assumem a função que os genes apresentam na teoria evolucionária biológica. • Características persistentes no organismo, que determinam o seu comportamento, seleção e hereditariedade. • Hierarquia de Rotinas: Rotinas Operacionais (características operacionais que governam o comportamento de curto prazo da firma); Rotinas de Investimento (determinam o aumento ou a diminuição do estoque de capital); Rotinas de Busca (funcionam para modificar os vários aspectos das características operacionais ao longo do tempo) Webster (2004); Collison e Wilson (2006) • Rotinas de busca correspondem às rotinas de inovação. Becker (2004, 2005) • Padrões de comportamento repetidos; • Recorrência; • Natureza coletiva; • Natureza processual; • Dependência do contexto; • Dependência da trajetória; • Gatilhos (dicas externas, stress e feedback); • Inconsciente (automática); • Resultado de esforço; • Apresentam aspectos de coordenação e controle; promovem trégua; economia de recursos cognitivos; redução da incerteza; estabilidade; • Repositório de conhecimento. Dosi et al. (1992; 2000) • Rotinas como padrões de comportamento coletivo; • Hábitos como padrões de comportamento individuais. Feldman, Pentland (2003) • Rotinas Organizacionais Performativas (desempenhos reais de pessoas específicas); • Rotinas Organizacionais Ostensivas (abstrato, descrição narrativa). Hodgson (2008); Hodgson; Knudsen (2003, 2004a, 2004b) • Tendência para expressar certo comportamento ou pensamento; • Envolvem estruturas organizacionais e hábitos indivuais 84 Temas abordados no Autores Conceitos Referencial Teórico Nível de análise das rotinas. Felin e Foss (2005) • Ênfase no indivíduo, habilidades e motivações; Vromen (2009) • suas escolhas, Rotinas como estruturas coletivas. • Rotinas como padrões que se estabelecem em multiníveis (firma, indivíduo e em áreas do cérebro). O que ocorre no micronível é constitutivo do que ocorre no macronível. Competências para inovar Leonard-Barton (1992) Adota a visão baseada em conhecimento da firma (Knowledge Based View) e define uma competência central como o conjunto de conhecimentos que distinguem e fornecem vantagem competitiva à firma (Habilidades e Base de Conhecimento, Sistemas Técnicos, Sistemas Gerenciais e Valores e Normas). Mills, Platts, Bourne e Richards (2002); Fleury (2007) Propoem uma síntese dos vários níveis de competências existentes em uma organização (Competências Essenciais, Competências Distintivas, Competências Organizacionais e Competências Individuais). Dosi, Faillo (2008) Identificam o termo “competências organizacionais” ou “capacidades” com o know-how que faz com que as organizações desenvolvam novos produtos ou serviços. Augier e Teece (2008) Mencionam rotinas competências. Peng, Schroeder e Shah (2008) Propoem um modelo envolvendo o conceito de Competências, Capacidades Dinâmicas e Rotinas (Modelo Conceitual da Figura 8). Apontam as principais definições que têm exercido maior influência sobre capacidades dinâmicas. e Marengo Helfat e Peteraf (2009) Inovação em empresas de serviços versus inovação em empresas de indústria. Chandy e Tellis (1998) como sinônimos de • Modelo hipotético de inovação radical de produto baseado em tamanho da firma e disposição para canibalizar, que é influenciada por: investimentos especializados, mercados internos, influência do produto campeão de produto e foco 85 Temas abordados no Autores Conceitos Referencial Teórico no mercado futuro (Figura 10). Gallouj e Weinstein (1997); Gallouj e Savona (2009); Abordagem Integradora ou Sintetizadora de inovação em manufatura e serviços, representada por um conjunto de vetores de características e competências relacionadas (características finais do produto ou serviço, características técnicas materiais e imateriais, competências do fornecedor, competências do cliente) Milles (2008); Os serviços financeiros e os T-KIBS emergem como superiormente inovadores a apresentam uma tendência a combinar inovações de produto e de processo; estes setores se parecem mais com as empresas de manufatura. Nijssen et al (2005); Nijssen et al (2006); • Modelo conceitual utilizado para examinar as diferenças e similaridades entre o desenvolvimento de novo produto e de novo serviço, baseado na disposição para canibalizar rotinas, investimentos e vendas. Investiga a propensão para a inovação e a radicalidade do novo produto ou novo serviço (Figura 11). Quadro 12: Principais temas abordados no referencial teórico Fonte: Elaborado pela autora 86 3 METODOLOGIA Como resultado das críticas aos paradigmas propostos por Burrel e Morgan (1979) surgiram algumas perspectivas multiparadigmáticas, que possibilitam visualizar diferentes faces do fenômeno organizacional (BOEIRA; VIEIRA, 2007). É sob esta ótica que se pretende conduzir este trabalho; propõe-se adotar o cruzamento dos paradigmas, considerando a estratégia de ligação, citada em Silva e Neto (2007). Esta estratégia considera que as fronteiras entre os paradigmas são mais permeáveis, existindo zonas de transição, que podem ser transpostas. (Figura 13) Figura 13: Cruzamento de Paradigmas Fonte: Boeira; Vieira (2007) O motivo de se optar por esta perspectiva é que nesta pesquisa considera-se a possibilidade de existência de uma estrutura única de inovação subjacente aos diferentes tipos de serviços e produtos inovadores. Além disto, considera-se igualmente importante a interpretação dos indivíduos participantes sobre o fenômeno da inovação; neste caso, tendo como fundamento a visão de Weick e Sutcliffe (2005). 87 3.1 Determinação do tipo de pesquisa Observando-se a definição de Richardson (1999) compreende-se que este projeto pode ser classificado como pesquisa qualitativa e exploratória: A abordagem qualitativa de um problema, além de ser uma opção do investigador, justifica-se, sobretudo, por ser uma forma adequada para entender a natureza de um fenômeno social [...] Os estudos que empregam uma metodologia qualitativa podem descrever a complexidade de determinado problema, analisar a interação de certas variáveis, compreender e classificar processos dinâmicos vividos por grupos sociais, contribuir no processo de mudança de determinado grupo e possibilitar, em maior nível de profundidade, o entendimento de particularidades do comportamento dos indivíduos. [...] (RICHARDSON, 1999, p. 79-80). [...] estudos exploratórios, quando não se tem informação sobre determinado tema e se deseja conhecer o fenômeno [...] (RICHARDSON, 1999, p. 66). 3.2 Identificação da unidade de análise De acordo com Richardson (1999) a identificação da unidade de análise é tão importante quanto às outras etapas no plano de pesquisa, devendo ser adequada ao (s) problema (s) de pesquisa: [...] Um pesquisador inexperiente que comece a trabalhar neste tipo de estudo pode confundir-se, escolhendo, para determinado estudo, uma unidade de análise inadequada. Isso pode produzir a chamada falácia ecológica. [...] Em geral, é muito importante que a unidade de análise seja identificada antes da coleta de dados, particularmente quando a pesquisa inclui mais de uma unidade (RICHARDSON, 1999, p. 147). O problema de pesquisa suscitado neste trabalho aponta para a necessidade de se utilizar mais de um nível de análise na pesquisa. Esta assertiva fundamenta-se no fato de que as rotinas de busca, competências e inovação serão investigadas em nível de indivíduos e empresas. Cabe lembrar que na literatura alguns destes fenômenos já foram estudados como unidade de análise. Este é o caso, por exemplo, do estudo rotinas organizacionais realizados por Pentland e Feldman (2005) e da obra sobre aprendizagem organizacional e competências de Ruas, Antonello e Boff (2005). No entanto, autores como Felin e Foss (2005) discorrem sobre a preferência das pesquisas organizacionais voltadas ao nível de análise coletivo ao invés do individual. Eles exemplificam esta predileção, por exemplo, nos estudos sobre capacidades dinâmicas: 88 Como um empreendimento normativo, o gerenciamento estratégico está (e deveria estar), acima de tudo, preocupado com a heterogeneidade proposital, ou seja, com o entendimento das fontes intencionais de diferenças de desempenho. Então, a orientação coletivista que influencia a abordagem de capacidades fornece uma ruptura radical da razão de existência do gerenciamento estratégico, o qual deveria fornecer elementos teóricos e passíveis de utilização para a prática gerencial (Rumelt et al., 1991). Enquanto estudiosos satisfazem-se com a irracionalidade da ação gerencial (Murmann et al., 2003: 29), nós pensamos que as análises superficiais e correlações não contribuem para a prova. Além disso, as origens dos conceitos coletivos provavelmente estão no nível individual e por fim estão enraizadas na ação proposital e intencional. (FELIN; FOSS, 2005, p. 445, tradução nossa). Em contrapartida, no campo da teoria social, a conceituação da relação entre indivíduos e instituições é fundamental. Ao abordar a interação e a evolução dos indivíduos e instituições, Hodgson (2007) discute os problemas metodológicos do individualismo e do coletivismo e indica a importância da economia evolucionária na compreensão da persistência e mudança das organizações. Este é o enfoque que se pretende dar a este trabalho. 3.3 Definição da amostra e seleção dos sujeitos Segundo Richardson (1999) a definição da amostra requer que sejam especificados alguns aspectos, tais como a área de execução e o universo ou população da pesquisa, o tipo de amostra e seu tamanho, bem como a forma de seleção dos sujeitos que participarão da pesquisa. Conforme citado por Vergara (2007) os sujeitos da pesquisa são as pessoas que fornecerão os dados que o pesquisador necessita; às vezes eles se confundem com o universo ou amostra, quando estão relacionados com as pessoas. 89 O Quadro 13 mostra uma síntese da definição desses aspectos, voltados a esse projeto: Definição da amostra e sujeitos da pesquisa Universo ou população da pesquisa Empresas de indústria e de serviço Tipo da amostra (em qualquer nível de análise) Amostra não probabilística intencional (seleção racional) 10 Nível Macro: Empresas Seleção dos sujeitos da pesquisa Empresas de indústria e de serviço que se declarem inovadoras, de pequeno, médio e grande porte em relação ao número de funcionários. Tamanho da amostra Até três projetos inovadores / empresa, considerando no máximo dez empresas. Nível Micro: Indivíduos Seleção dos sujeitos da pesquisa Características dos indivíduos: 1) Sexo : masculino ou feminino; 2) Escolaridade: indiferente; 3) Posição: indíviduo que desempenhe atividades relacionadas à inovação; 4) Tempo de experiência na empresa: indiferente. 5) Departamento: indiferente; função do projeto estudado. Tamanho da amostra O total de indivíduos entrevistados será função do número de empresas escolhidas e projetos inovadores considerados. Quadro 13: Definição da amostra e dos sujeitos de pesquisa Fonte: Elaborado pela autora 3.4 Delimitação do horizonte de tempo Neste projeto as pesquisas ocorrem considerando as características das organizações entrevistadas no momento atual (corte transversal); no entando, o instrumento de coleta de dados contém elementos que permitem investigar a evolução dos fenômenos abordados nos problemas de pesquisa desse estudo. 3.5 Construção do instrumento de coleta de dados Em consonância com os problemas de pesquisa, método e tipo de pesquisa adotados nesse projeto, optou-se pelas entrevistas semiestruturadas como técnica de coleta de dados. Essa técnica é apropriada, segundo a perspectiva de Richardson (1999): [...] O que muda é a aplicação de regras e instrumentos que devem estar adequados para a medição de fenômenos sociais. Por exemplo, fenômenos qualitativos não 10 Conforme classificado em Richardson (1999) 90 podem ser analisados com instrumentos quantitativos. Em outras palavras, opiniões, crenças, atitudes, valores, etc. são processos mentais não aparentes. Portanto, para coletar informações, devem-se utilizar instrumentos qualitativos (entrevista semi ou não estruturada) (RICHARDSON, 1999, p. 30). Para realizar as entrevistas semiestruturadas foi elaborado um roteiro com perguntas separadas de acordo com os fenômenos identificados nos problemas de pesquisa. O roteiro completo encontra-se no APÊNDICE B. O Roteiro 1 foi destinado aos gestores, que normalmente não participaram dos desenvolvimentos de serviços e produtos inovadores, enquanto o Roteiro 2 foi aplicado aos respondentes que participaram ativamente nos desenvolvimentos de serviços e produtos inovadores. Blocos Roteiro 1 Conceitos / assuntos abordados 1 – Investigação sobre as características da empresa pesquisada. 1. Empresas inovadoras; 2. Geração de inovações. 2 – Retrospectiva das mudanças ocorridas na empresa pesquisada voltadas à inovação. 3. Busca para inovar; 4. Alterações na forma de trabalho. 3 – Competências da empresa pesquisada voltadas à inovação. 5. Competências; 6. Competências para inovar. 4 – Inovações realizadas pela empresa pesquisada. 7. Inovação radical; 8. Produtos e serviços inovadores. Blocos 1 – Projeto considerado inovador pela empresa pesquisada. Roteiro 2 Conceitos / assuntos abordados 9. 10. 11. Origem; Etapas; Dificuldades encontradas. 2 – Equipe participante do projeto considerado inovador 12. pela empresa pesquisada. 13. Atitudes inovadoras; Estímulos para inovar. 3 – Interface com o cliente no projeto considerado inovador pela empresa pesquisada. 14. 15. Formas de trabalho; Competências. 4 – Conceitos. 16. 17. 18. 19. Inovação radical; Rotina; Hábito Competências Quadro 14: Síntese dos roteiros de entrevista utilizados na pesquisa Fonte: Elaborado pela autora 91 3.5.1 Operacionalização dos conceitos A aplicação do conceito de rotina organizacional em pesquisa empírica não é uma tarefa trivial. Para começar, os autores operacionalizam as rotinas organizacionais diferentemente. A consequência é que os resultados empíricos são difícies de comparar, visto que eles podem se referir a coisas sutilmente diferentes (BECKER, 2005). Observando estas limitações da pesquisa empírica de rotinas organizacionais, Becker (2005) desenvolveu uma ferramenta para tornar possível a comparação de resultados empíricos. No entanto, a ferramenta proposta por Becker (2005) considera o nível comportamental das rotinas organizacionais, porém não considera as suas causas. Por este motivo, a ferramenta de Becker (2005) não pode ser integralmente aplicada a esta tese. Uma alternativa que pode ser considerada ao se operacionalizar as rotinas de busca, por exemplo, é usar uma abordagem similar à proposta por Eisenhardt (1989) na construção de teorias a partir do estudo de caso. Segundo a autora, a construção de teorias a partir do estudo de caso é adequada quando há pouco conhecimento sobre um fenômeno, quando as perspectivas existentes parecem inadequadas porque apresentam pouca comprovação empírica ou quando essas perspectivas conflitam entre si ou com o senso comum. Para Eisenhardt (1989) a pesquisa para a construção de uma teoria forte deveria resultar em novas visões; o objetivo é obter uma nova teoria, que emerge ao final do estudo, não em seu começo. A autora propõe as seguintes etapas na construção da teoria a partir do estudo de caso: 1. Uma definição inicial do problema de pesquisa pelo menos em termos amplos; 2. Uma especificação a priori dos construtos potenciais. É importante reconhecer que tanto a identificação inicial da questão de pesquisa quanto dos construtos são tentativas nesse tipo de pesquisa; 3. Finalmente e mais importante, a pesquisa para construção da teoria começa com o ideal de não considerar uma teoria prévia ou hipótese para testar. Eisenhardt (1989) cita que faz sentido escolher casos de situações extremas onde se possa observar o processo de interesse com maior transparência. Para a autora a idéia central da elaboração de hipóteses em construção de teoria a 92 partir de estudos de caso é que os pesquisadores constantemente comparam teoria e dados, em um processo iterativo pelo qual a teoria adere aos dados. A boa aderência da teoria aos dados é importante para a sua validação empírica. Deste modo, foram propostas as operacionalizações dos conceitos / fenômenos deste estudo; partindo-se das considerações de Becker (2005) e de Eisenhardt (1989), bem como se observando os trabalhos empíricos sobre rotinas de busca. A matriz de amarração, apresentada no próximo item, mostra as operacionalizações dos conceitos / fenômenos deste projeto e no ANEXO B podem ser encontrados exemplos de entrevistas encontrados na operacionalizações de conceitos. literatura, com seus respectivos entendimentos e 93 3.6 Matriz de amarração do projeto de pesquisa Problema de pesquisa do projeto: 1. Qual a origem, semelhanças e diferenças existentes nas rotinas de busca e competências para inovar nas organizações inovadoras com atuação em serviços e indústria? Objetivo geral do projeto: Entender o processo de desenvolvimento de produtos e serviços inovadores sob a ótica de rotinas de busca e competências para inovar Objetivos específicos do projeto: 1. Identificar os elementos das rotinas de busca na obtenção de produtos e serviços em organizações inovadoras. 2. Entender as competências para inovar existentes nas empresas de serviço e de indústria pesquisadas. 3. Identificar as diferenças das rotinas de busca em organizações inovadoras com atuação em serviços e indústria. Objetivos Específicos 1. Identificar os elementos de rotinas de busca na obtenção de produtos e serviços em organizações inovadoras Referencial Teórico (autores) Nelson e Winter (1982) Conceitos Roteiro de Entrevista • Termo geral para todos os padrões comportamentais e regulares; • Assumem a função que os genes apresentam na teoria evolucionária biológica. • Características persistentes no organismo, que determinam o seu comportamento, seleção e hereditariedade. • Hierarquia de Rotinas: Rotinas Operacionais (características operacionais que governam o comportamento de curto prazo da firma); Rotinas de Investimento (determinam o aumento ou a diminuição do estoque de capital); Rotinas de Busca (funcionam para modificar os vários aspectos das características operacionais ao longo do tempo) Roteiro 1: Bloco 1: 1) Defina uma empresa inovadora. 2) Você considera a empresa em que trabalha uma empresa inovadora? Explique o motivo que o (a) leva a pensar assim. 3) O que você faz para buscar uma inovação para a empresa em que trabalha? 4) De que forma você acha que as inovações da empresa em que você trabalha são geradas? 94 Objetivos Específicos Referencial Teórico (autores) Conceitos Webster (2004); Collison e Wilson (2006) • Rotinas de busca correspondem às rotinas de inovação. Becker (2004, 2005) • Padrões de comportamento repetidos; • Recorrência; • Natureza coletiva; • Natureza processual; • Dependência do contexto; • Dependência da trajetória; • Gatilhos (dicas externas, stress e feedback); • Inconsciente (automática); • Resultado de esforço; • Apresentam aspectos de coordenação e controle; promovem trégua; economia de recursos cognitivos; redução da incerteza; estabilidade; • Repositório de conhecimento. Dosi et al. (1992; 2000) • Rotinas como padrões de comportamento coletivo; • Hábitos como padrões de comportamento individuais. Feldman, Pentland (2003) • Rotinas Organizacionais Performativas (desempenhos reais de pessoas específicas); • Rotinas Organizacionais Ostensivas (abstrato, descrição narrativa). Roteiro de Entrevista Bloco 2: 1) 2) 3) Fazendo uma retrospectiva de sua vivência nesta empresa, descreva como você acha que a empresa mudou, com relação à busca para inovar. O que motivou essa(s) mudança(s) que você mencionou. Alguma forma de trabalho voltado à inovação foi abandonada ou criada por causa dessa(s) mudança(s)? Bloco 4: 1) Defina inovação radical. Dê um exemplo. 2) Como você busca uma inovação radical para a empresa em que trabalha? 3) A empresa em que você trabalha já fez alguma inovação radical? Em caso positivo o que ela fez? 4) Como a empresa em que você trabalha busca uma inovação radical? 5) A empresa introduz regularmente novos produtos que são radicalmente diferentes daqueles que já existem no mercado? 6) É sempre a primeira a introduzir produtos / serviços radicalmente inovadores? 7) Defina rotina e hábito. Qual a diferença entre as duas definições para você? 8) O que você definiria como uma rotina em busca da inovação? E um hábito de inovação? 95 Objetivos Específicos Referencial Teórico (autores) Conceitos Roteiro de Entrevista Hodgson (2008); Hodgson; Knudsen (2003, 2004a, 2004b) • Tendência para expressar certo comportamento ou pensamento; • Envolvem estruturas organizacionais e hábitos indivuais Roteiro 2. Bloco 1: Projeto 1. Felin e Foss (2005) • Ênfase no indivíduo, habilidades e motivações; Vromen (2009) • suas escolhas, 2. 3. Rotinas como estruturas coletivas. • Rotinas como padrões que se estabelecem em multiníveis (firma, indivíduo e em áreas do cérebro). O que ocorre no micronível é constitutivo do que ocorre no macronível. 4. 5. Como surgiu a ideia do projeto na empresa? Como foi desenvolvido o projeto? (etapas, duração) Quais foram as principais dificuldades encontradas neste projeto e como elas foram superadas? Houve um registro destas dificuldades e soluções para formalizar o aprendizado da situação? Você considera este produto inovador? Por quê? (Em caso positivo, em que extensão? - novo para a empresa? Novo para os clientes existentes da empresa? Novo no mundo?) Bloco 2: Equipe participante dos projetos 1) 2) 3) Por favor, descreva a(s) equipe(s) que participou (param) de todas as etapas do projeto, desde sua concepção até hoje. (Nome do departamento, quantas pessoas e respectivas formações, suas atividades diárias e como elas fazem) Em sua opinião o que os participantes destes projetos fizeram para inovar? De que forma os participantes destes 96 Objetivos Específicos Referencial Teórico (autores) Conceitos Roteiro de Entrevista 4) 5) projetos foram estimulados a inovar? Como os participantes destes projetos compartilham suas experiências e aprendizados? (Há algum mecanismo formal para isto?) Alguma forma de trabalho voltado à inovação foi abandonada ou criada por causa desses projetos? Bloco 4: Conceitos 1. Defina inovação radical. Dê um exemplo. 2. Como você busca uma inovação radical para a empresa em que trabalha? 3. A empresa já fez alguma inovação radical? Em caso positivo o que ela fez? 4. Como a empresa busca uma inovação radical? 5. Defina rotina e hábito. Qual a diferença entre as duas definições para você? 6. O que você definiria como uma rotina em busca da inovação? E um hábito de inovação? 97 Objetivos Específicos 2. Entender as competências para inovar existentes nas empresas de serviço e de indústria pesquisadas. Referencial Teórico (autores) Leonard-Barton (1992) Conceitos Roteiro de Entrevista Roteiro 1: Adota a visão baseada em conhecimento da firma (Knowledge Based View) e define uma competência central como o conjunto de conhecimentos que distinguem e fornecem vantagem competitiva à firma (Habilidades e Base de Conhecimento, Sistemas Técnicos, Sistemas Gerenciais e Valores e Normas). Mills, Platts, Bourne e Richards (2002); Fleury (2007) Propoem uma síntese dos vários níveis de competências existentes em uma organização (Competências Essenciais, Competências Distintivas, Competências Organizacionais e Competências Individuais). Dosi, Faillo (2008) Identificam o termo “competências organizacionais” ou “capacidades” com o know-how que faz com que as organizações desenvolvam novos produtos ou serviços. e Marengo Bloco 3: Competências 6. Defina o que você compreende como competência para inovar. 7. Quais das suas competências o (a) ajudam a inovar? 8. Que competências a empresa em que você trabalha possui para inovar e quais ela precisa desenvolver? 9. A empresa em que você trabalha abandonou alguma competência para inovar para se adaptar a uma nova situação? 10. A empresa pode facilmente mudar seu esquema e processos organizacionais para atender as necessidades de um novo produto /serviço? Roteiro 2: Bloco 3: Interface com cliente Augier e Teece (2008) Peng, Schroeder e Shah (2008) Mencionam rotinas competências. Propoem um modelo envolvendo o conceito de Competências, Capacidades Dinâmicas e Rotinas (Modelo Conceitual da Figura 8, página 58). como sinônimos de 6. Seus clientes contribuiram para a inovação deste projeto? Como isto ocorreu? 7. Quais das competências de seus clientes que ajudam a empresa a inovar? 8. Que competências empresa possui para inovar e quais ela precisa desenvolver? 9. A empresa abandonou alguma competência para inovar para se adaptar a uma nova situação? 98 Objetivos Específicos 3. Identificar as diferenças das rotinas de busca em organizações inovadoras em atuação em serviços e em indústria. Referencial Teórico (autores) Conceitos Helfat e Peteraf (2009) Chandy e Tellis (1998) • Modelo hipotético de inovação radical de produto baseado em tamanho da firma e disposição para canibalizar, que é influenciada por: investimentos especializados, mercados internos, influência do produto campeão de produto e foco no mercado futuro (Figura 10, página 72). Gallouj e Weinstein (1997); Gallouj e Savona (2009); Abordagem Integradora ou Sintetizadora de inovação em manufatura e serviços, representada por um conjunto de vetores de características e competências relacionadas (características finais do produto ou serviço, características técnicas materiais e imateriais, competências do fornecedor, competências do cliente) Milles (2008); Os serviços financeiros e os T-KIBS emergem como superiormente inovadores a apresentam uma tendência a combinar inovações de produto e de processo; estes setores se parecem mais com as empresas de manufatura. Apontam as principais definições que têm exercido maior influência sobre capacidades dinâmicas. Roteiro de Entrevista 10. A empresa pode facilmente mudar seu esquema e processos organizacionais para atender as necessidades de um novo produto /serviço? 99 Objetivos Específicos Referencial Teórico (autores) Nijssen et al (2005); Nijssen et al (2006); Quadro 15: Matriz de Amarração Fonte: Elaborado pela autora Conceitos • Modelo conceitual utilizado para examinar as diferenças e similaridades entre o desenvolvimento de novo produto e de novo serviço, baseado na disposição para canibalizar rotinas, investimentos e vendas. Investiga a propensão para a inovação e a radicalidade do novo produto ou novo serviço (Figura 11, página 76). Roteiro de Entrevista 100 3.7 Planejamento de Pesquisa A parte experimental deste trabalho foi realizada conforme as seguintes etapas: 1) Identificação e abordagem das empresas candidatas à participação na pesquisa: as organizações que se declaravam inovadoras foram convidadas a participar da pesquisa. A identificação preliminar de tais organizações ocorreu com base na experiência e contatos da pesquisadora. Outra tática adotada para abordar as organizações foi por meio da publicação de um artigo técnico11 sobre a pesquisa, no qual foi aberto um convite às empresas que desejassem participar da mesma. 2) Apresentação do projeto de pesquisa nas organizações: Todas as organizações identificadas como potenciais participantes da pesquisa foram visitadas e a cada uma delas foi apresentado o projeto de pesquisa (APÊNDICE A). 3) Indicação dos produtos ou serviços inovadores: Foi solicitado às organizações que concordaram em participar da pesquisa que indicassem seus respectivos produtos ou serviços inovadores, bem como convocassem os profissionais que participaram ativamente no desenvolvimento de tais produtos / serviços. 4) Entrevistas com os profissionais indicados pelas organizações: As entrevistas com os profissionais indicados ocorreram em suas respectivas organizações e foram realizadas individualmente. A cada entrevistado foi aplicado o roteiro de entrevistas (APÊNDICE B). As entrevistas foram gravadas, transcritas e posteriormente enviadas para o conhecimento dos respectivos entrevistados. As entrevistas duraram em média cerca de 1h30min, somando aproximadamente 60h (34 entrevistas). O período total de entrevistas foi de Dezembro de 2009 à Outubro de 2010. Dentre os entrevistados havia 10 mulheres e 17 homens; a idade média total dos entrevistados era 35 anos, sendo que 11 SANTOS, A. M. dos. Convite à participação em pesquisa: “Como as empresas inovam?”. Jornal do Conselho Regional de Química IV Região, São Paulo, n. 101, p. 6, jan./fev. 2010. 101 as pessoas apresentavam diversos tipos de formação educacional. 5) Obtenção de evidências sobre os produtos / serviços inovadores: além das entrevistas realizadas junto aos profissionais indicados pelas organizações, foram coletados artigos internos, catálogos, filmes, reportagens e informações em sites como evidências dos produtos / serviços inovadores e respectivas organizações (ANEXO A). Empresas de Serviços Empresa Departamento de Anatomia Patológica do Hospital A. C. Camargo Serviço Inovador Sistema de Detecção na Imunohistoquímica Application Manager 3 (AM 3) Nota Fiscal Eletrônica NF-e Serasa Experian Me Avise Me Proteja (contato inicial discorreu sobre todos os projetos) Empresa da área de telecomunicações Serviços de apoio Posição / Área do Entrevistado Total de Entrevistas Diretor do Departamento de Anatomia Patológica. (*) 12 2 Pesquisador e chefe científico dos laboratórios de imunohistoquímica e de hibridação molecular. 3 Responsável pela parte técnica do laboratório de imunohistoquímica. 2 Gerente de Plataformas de Decisão na Diretoria de Pessoa Física. 1 Desenho de soluções. 1 Soluções de Certificado Digital. 1 Liderança da Área de Projetos – Certificado Digital. 1 Gerente de Produto. 1 Assistente de Produtos. 1 Segmento de Consumidores Gerente Executivo. 1 Segmento de Consumidores Gerente Pleno. 1 Análise e Tendência de Mercado / Inovação. (*) Gerência de Incubação de Negócios. (*) Quadro 16: Síntese das organizações, serviços inovadores e informações sobre os entrevistados. Fonte: Elaborado pela autora 12 Entrevistados marcados com (*) atuaram como referências (Focal Point) nas organizações estudadas. 1 1 102 Os Quadros 16 e 17 mostram respectivamente as organizações, serviços e produtos inovadores e principais áreas e posições dos entrevistados. Empresas de Indústria Empresa 3M do Brasil Ltda. AB Brasil Ind. e Com. de Alimentos Ltda. Beraca S. A. Empresa do ramo químico e petroquímico Produto Inovador PONJITA MR com fibra natural de Curauá e PONJITA MR com fibra natural de Curauá e espuma de fonte renovável (proveniente de óleo de soja). Projeto Ovos: Ovo em Caixa e Sobremesas Líquidas Óleo de Andiroba das Mulheres Pescadoras da Ilha de Marajó. (conceitual)13 Posição / Área do Entrevistado Total de Entrevistas Diretor de Laboratório (*) 1 Pesquisadora 1 Especialista em Meio Ambiente e Sustentabilidade 1 Diretor de Marketing e Vendas 1 Gerente de Marketing (*) 1 Desenvolvimento de Novos Negócios – Gerente de Produto. 1 Gerente de Pesquisa e Desenvolvimento. 1 Presidente (*) 4 Gerente Administrativo Financeiro 1 Controladoria 1 Gerente de Projetos e Desenvolvimento de Novos Negócios 1 Coordenadora de Pesquisa e Desenvolvimento (*) 1 Coordenador de Desenvolvimento 1 Pesquisadora Sênior 1 Quadro 17: Síntese das organizações, produtos inovadores e informações sobre os entrevistados. Fonte: Elaborado pela autora 3.8 Método utilizado para a análise dos resultados da parte experimental Para avaliar e tratar as informações coletadas em campo foram escolhidas a análise de conteúdo (categorização temática) de Bardin (2009), a codificação 13 A Empresa do ramo químico e petroquímico participou da pesquisa nos aspectos conceituais da mesma. Não houve um projeto investigado em específico. 103 temática exposta por Flick (2004) e a técnica de template detalhada por King (2004). O critério de categorização temática de Bardin (2009) é similar à codificação temática de Flick (2004), ou seja, os temas semelhantes são agrupados sob a mesma categoria. Conforme explicado por Flick (2004) o procedimento de codificação temática foi desenvolvido a partir de Strauss (1987) para estudos comparativos. Segundo o autor, primeiramente aplica-se a codificação aberta, depois a seletiva. A codificação seletiva aqui visa mais a geração de domínios temáticos e categorias para o caso único; após a análise do primeiro caso, as categorias desenvolvidas e os domínios temáticos ligados aos casos únicos são cuidadosamente checados. Dessa checagem, resulta uma estrutura temática que subjaz à análise de futuros casos, a fim de aumentar sua comparabilidade (FLICK, 2004). No que diz respeito à técnica de template, King (2004) expõe que ela não descreve um método simples, claramente definido; a técnica de template se refere mais a vários grupos de técnicas relacionados para a organização temática e análise textual dos dados. Como um conjunto de técnicas, mais do que uma metodologia distinta, a análise de template aplica-se a uma faixa de posições epistemológicas, ou seja, assume-se a multiplicidade de interpretações sobre o fenômeno. A técnica de template pode ser usada no que é chamdo de posição “contextual construtivista”; a preocupação com a confiabilidade do processo de codificação é, portanto irrelevante; ao invés disso, pontos tais como a reflexividade do pesquisador, a tentativa de abordar o tópico de diferentes perspectivas e a riqueza da descrição produzida, são importantes requisitos (KING, 2004). Portanto, a proposta da análise de template é bastante adequada ao estudo aqui desenvolvido porque ela apresenta flexibilidade epistemológica e além disso, permite que seja investigada uma estrutura subjacente comum aos diferentes caso pesquisados. No que diz respeito ao procedimento da codificação temática, Flick (2004) esclarece que ele é aplicado em várias etapas. A primeira etapa se refere aos casos envolvidos, que são interpretados como uma série de estudos de caso. Deve-se elaborar uma breve descrição de cada caso, que é continuamente verificada e, se necessário, modificada durante a nova 104 interpretação do caso. A descrição do caso inclui vários elementos, tais como um enunciado, uma breve descrição sobre a pessoa entrevistada (se relevante para o assunto em estudo) e por fim, os tópicos centrais mencionados pelo entrevistado em relação ao assunto de pesquisa. Após a conclusão da análise do caso, esse perfil é incorporado como parte dos resultados (FLICK, 2004). Este procedimento foi seguido para descrever as organizações de serviços e de indústria e seus respectivos serviços e produtos inovadores, os quais são detalhados no próximo item. 105 4 ANÁLISE DOS RESULTADOS DA PARTE EXPERIMENTAL A análise dos resultados é apresentada em quatro etapas. Na primeira etapa é feita uma descrição de todas as empresas e respectivos serviços ou produtos inovadores, com base na reunião dos reportes dos entrevistados em cada um dos projetos. Esta etapa contempla os itens 4.1 ao 4.2. Na segunda etapa da análise dos resultados (item 4.3) são apresentados os elementos de rotinas de busca e competências para inovar. Tais elementos foram avaliados a partir de duas perspectivas: a percepção individual dos participantes dos projetos estudados (item 4.3.1) e a perspectiva teórica, que inclui as dimensões conceituais de rotinas apresentadas no referencial teórico (item 4.3.2). A percepção individual foi captada pela análise de conteúdo das respostas obtidas nas entrevistas, baseada numa pós-categorização. A perspectiva teórica foi avaliada com base em codificação temática, de acordo com o apresentado na matriz de amarração. Na terceira etapa da análise dos resultados (item 4.4) é realizada uma análise comparativa entre serviços e produtos inovadores e na quarta etapa (item 4.5) é apresentada a estrutura induzida, subjacente aos serviços e produtos inovadores, a qual é criada a partir da análise de template. 4.1 Descrição das empresas de serviço pesquisadas e respectivos serviços inovadores 4.1.1 Departamento de Anatomia Patológica do Hospital A. C. Camargo O departamento de anatomia patológica do Hospital A. C. Camargo é essencialmente prestador de serviços ao hospital. Atualmente ele conta com oito médicos patologistas, cada um em uma área mais específica. A sua primeira função é realizar diagnósticos, os mais precisos possíveis, para que facilitem o tratamento e acompanhamento dos pacientes com câncer. Paralelamente, o departamento de anatomia patológica do Hospital A. C. Camargo trabalha na elaboração de projetos científicos para que possa trazer inovações metodológicas e ofertar essas inovações para o cliente final, que é o paciente. 106 De modo geral, os projetos do departamento de anatomia patológica do Hospital A. C. Camargo são embasados mais no aspecto do doente do que da doença propriamente dita; ou seja, pesquisa-se a doença com o objetivo final de oferecer algo aplicável na prática diária. Para tal, o departamento de anatomia patológica conta com o suporte do Hospital A.C. Camargo bem como com o suporte das agências de fomento, no financiamento de seus projetos de pesquisa. Os clientes do departamento de anatomia patológica do Hospital A. C. Camargo, na parte aplicada, são todos os médicos do hospital; em última análise são os pacientes. Basicamente, quando um médico atendente possui uma dúvida em relação a um diagnóstico ou comportamento de determinada doença, envia um tecido e solicita a análise do mesmo ao departamento de anatomia patológica. Pela investigação de tal tecido chega-se ao diagnóstico e outros fatores que podem predizer o comportamento da doença. O relato da investigação de um tecido ocorre por meio de um relatório ou laudo técnico assinado. Entre o envio do material e a emissão desse laudo final há várias fases intermediárias, que podem ser maiores ou menores e que são a conversa direta, a discussão do caso clínico, até gerar o laudo. Portanto, o produto final é o laudo. Na área de pesquisa, o produto é a introdução de uma nova metodologia que vá beneficiar esse entendimento do diagnóstico e do comportamento da doença. A Figura 14 mostra o organograma do departamento de anatomia patológica do Hospital A. C. Camargo, indicando o fluxo de serviços prestados ao Hospital A. C. Camargo bem como o fluxo de ensino. O departamento de anatomia patológica conta com 21 colaboradores permanentes e 25 estudantes (em quantidade variável) que chegam ao departamento de anatomia patológica segundo o fluxo de ensino / pesquisa, o qual também está dentre as atividades realizadas pelo departamento. 107 Figura 14: Organograma do Depto. de Anatomia Patológica do Hospital A. C. Camargo Fonte: Elaborado pela autora, conforme descrição do diretor do departamento. 4.1.1.1 Sistema de Detecção da Imunohistoquímica A imunohistoquímica é uma técnica para detectar a expressão de determinadas proteínas, em tipos específicos de tumor. A detecção visa prever o comportamento de um tumor futuro, ou seja, determinar um valor prognóstico para o tumor. Pode-se prever também, a expressão dessas proteínas para fazer uma predição de resposta à terapia do paciente e assim determinar a droga a ser utilizada no tratamento. O sistema de detecção da imunohistoquímica foi um projeto para estudar diferentes reagentes utilizados na realização da técnica. Esses reagentes teoricamente têm a mesma finalidade, porém são diversos reagentes comercialmente disponíveis, de diferentes fabricantes. Às vezes são diferentes reagentes do mesmo fabricante, que têm a mesma finalidade para o uso técnico. A finalidade desses reagentes é promover a cor na reação para possibilitar a 108 interpretação. A intensidade dessa cor, o lugar da célula em que essa cor é gerada (na membrana, no núcleo, no citoplasma), se ocorre em um tipo de tecido (no normal ou no tumor), possibilitam várias interpretações para aquela cor. As diferenças na interpretação desse resultado geram diferenças na interpretação diagnóstica, diferenças no estabelecimento de fatores prognósticos, para a evolução do paciente. Também há diferenças na elaboração de uma conduta terapêutica, quando se trata de marcadores de fator preditivo de resposta do paciente e diferenças na interpretação de sítios primários de tumor metastático. Por isso é necessária uma padronização da cor. Neste projeto foi investigada uma etapa da imunohistoquímica, que é a etapa de amplificação da cor. A partir deste sinal foram escolhidos onze reagentes, os mais vendidos no mundo, e foram realizados testes com esses onze sistemas de visualização, em termos de sensibilidade e especificidade, tendo por base um padrão ouro de marcação. Esse projeto demorou mais ou menos um ano para ser concluído, englobando todas as etapas, do início até a publicação de um artigo que se tornou uma referância de boas práticas mundiais. Ele foi uma inovação de impacto mundial; também foi inovador porque mudou uma cultura, pois a maioria das pessoas utilizavam outro sistema. 4.1.2 Serasa Experian A Serasa Experian14, parte do grupo Experian, é o maior bureau de crédito do mundo fora dos Estados Unidos, detendo o mais extenso banco de dados da América Latina sobre consumidores, empresas e grupos econômicos. Há mais de 40 anos presente no mercado brasileiro, a Serasa Experian participa da maioria das decisões de crédito e negócios tomadas no País, respondendo on-line/real-time a 4 milhões de consultas por dia, demandadas por 400 mil clientes diretos e indiretos. A Serasa Experian diferencia-se por oferecer soluções integradas que abrangem todas as etapas do ciclo de negócios: Prospecção de Mercado, Gestão de 14 Informações extraídas do site da empresa. Disponível em: <http://www.serasaexperian.com.br/serasaexperian/index.htm>. Acesso em 03 ago. 2010 109 Clientes, Retenção e Rentabilização, Aquisição e Concessão de Crédito, Gestão de Portfólio de Crédito, Gestão de Cobrança e Fraude e Validação. O uso coordenado de informações consistentes e abrangentes de marketing e crédito, scorings e ratings avançados, sistemas de decisão de alta performance e softwares de gestão completos permite um resultado ainda melhor para os negócios, possibilitando a tomada de decisões mais rápidas, com menor risco e maior rentabilidade. A Experian tem sede em Dublin (Irlanda) e escritórios operacionais em Costa Mesa (Estados Unidos) e Nottingham (Reino Unido). O grupo emprega aproximadamente 15.500 pessoas em 38 países, apoiando clientes em mais de 65 localidades, e suas vendas anuais excedem US$ 4 bilhões. Descrição dos serviços Conforme mencionado anteriormente, foi solicitado à Serasa Experian que indicasse seus serviços inovadores. As principais características dos quatro serviços elencados como inovadores pela empresa são mostrados no Quadro 18: Serviço Inovador Propósito do serviço Tipo de relação com o cliente Application Manager 3 Plataforma de processamento de propostas de crédito para dar suporte aos processos decisórios de negócios. B2B Nota Fiscal Eletrônica Serviço para dar suporte às várias etapas de emissão de um documento digital durante as transações de negócios, exigido pelas autoridades fiscais brasileiras. B2B Me Avise Destinado às Pequenas e Médias Empresas (PMEs). B2B Me Proteja Proteção contra o roubo de identidade. B2C Quadro 18: Principais características dos serviços inovadores investigados Fonte: Elaborado pela autora Tais serviços inovadores apresentam características diversas e demandaram amplos e diferentes níveis de recursos materiais e humanos. Além disso, conforme o Quadro 18, três destes serviços foram introduzidos junto a outras empresas (relações B2B) e um foi introduzido junto a clientes finais (relação B2C). O fato de existirem 110 serviços inovadores destinados a diferentes usuários é uma oportunidade para investigação das competências envolvidas para conduzir os projetos a resultados bem sucedidos. 4.1.2.1 Nota Fiscal Eletrônica A Nota Fiscal Eletrônica (NF-e) é parte de uma iniciativa do governo brasileiro de modernizar e informatizar seu gerenciamento fiscal e tributário. A NF-e é um documento digital, emitido e estocado eletronicamente, com o propósito de documentar a transação de um serviço ou produto. De fato, a NF-e derivou de um benchmark de uma solução pioneira desenvolvida no Chile. Observando o fato de que o ambiente fiscal e tributário é mais complexo, a versão da NF-e da Serasa Experian evoluiu para uma tecnologia mais sofisticada, baseada em web services. Foi reportado que a empresa iniciou seu envolvimento com o projeto de NF-e em 2006, mas as discussões sobre o modelo de negócio ainda tinha de ser maturada. O serviço entrou completamente em operação ao final de 2008. De acordo com as opiniões dos participantes, uma das maiores novidades do serviço da NF-e é a forma como ela é comercializada. Os clientes basicamente pagam conforme utilização do serviço, o que significa que eles são cobrados por documentos emitidos. Embora a ideia inicial fosse destinar o serviço principalmente às Pequenas e Médias Empresas (PMEs), a maioria das grandes empresas se interessaram no serviço NF-e da Serasa Experian. Conforme mencionado pelos participantes, tais empresas exigem acordos de prestação de serviços (Service Level Agreements- SLA), que demandam elevados padrões de qualidade de serviços. Na perspectiva dos participantes, os clientes exerceram um importante papel ratificando o serviço durante os testes piloto. Pelo menos cinquenta pessoas trabalharam diretamente, representando diversos departamentos da Serasa Experian. A empresa também estabeleceu uma parceria com uma empresa que já tinha uma solução preliminar da NF-e. Este foi considerado outro aspecto inovador relevante no desenvolvimento do serviço da NF-e da Serasa Experian, de acordo com a percepção 111 dos participantes. 4.1.2.2 Application Manager 3 Há aproximadamente três anos atrás, a Serasa Experian foi desafiada por um de seus clientes, um grande banco brasileiro, a melhorar a capacidade do banco de fornecer créditos massivamente principalmente aos seus potenciais clientes, ou seja, consumidores finais desconhecidos (não clientes). Naquela ocasião, tal banco já trabalhava com quinze fornecedores (terceiros) para realizar um de seus processos de trabalho. O serviço oferecido pela Serasa Experian foi o Apllication Manager 3 (AM3), uma plataforma de propostas de crédito para dar suporte à tomadas de decisão de negócios, sendo composto por três módulos: - a validação de identidade, a tecnologia de crédito e o workflow de serviços. Um dos maiores benefícios desta solução é a possibilidade de obter propostas de crédito melhor consistidas resultando em um gerenciamento mais eficiente de clientes e de processos de cobrança. Os participantes do desenvolvimento e lançamento do Application Manager 3 (AM3) reportaram que, na percepção deles, as maiores dificuldades enfrentadas por eles poderiam ser resumidas em dois pontos: A mudança do paradigma da Serasa Experian de não trabalhar com terceiros; A mudança da forma de pensar a abordagem de mercado da Serasa Experian, de um comportamento de vendas para um comportamento de consultor. Do ponto de vista técnico, a empresa conseguiu desenvolver uma nova arquitetura que integrou três serviços já existentes. A principal ideia foi interconectar estes serviços por uma camada de integração funcional que foi criada. Foi reportado que cerca de 3000 horas foram gastas para montar este projeto, o que significou um grande esforço tecnológico. Uma das estratégias da Serasa Experian para introduzir o Application Manager 3 (AM3) no mercado foi por meio de um evento, quando um cliente apresentou seu testemunho de como o AM3 era útil no ambiente de trabalho dele. 4.1.2.3 Me Avise 112 Uma característica recorrente apontada pelos participantes que trabalharam no serviço Me Avise foi a velocidade na qual o projeto foi desenvolvido e introduzido no mercado com sucesso. Houve uma força tarefa informal, mas fortemente coordenada para alcançar os resultados financeiros em um tempo recorde. O engajamento dos colaboradores foi mencionado como um ingrediente diferencial no desenvolvimento do serviço Me Avise. Com relação à origem do projeto, os participantes reportaram que a Serasa Experian possui uma área chamada Área de Segmentos que tem, dentre outras responsabilidades, de buscar oportunidades no mercado de Pequenas e Médias Empresas (PME). Esta área, juntamente com a área de vendas, identificou uma demanda deste mercado que consistia em prover as PME, bem como seus respectivos sócios, de um serviço de monitoramento, posteriormente chamado Me Avise. O serviço Me Avise monitora o CNPJ (Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas) bem como o CPF (Cadastro Nacional de Pessoas Físicas) de seus sócios. Quando há um apontamento ou uma potencial iniciativa de fraude contra um CNPJ e / ou um CPF, o serviço Me Avise automaticamente informa seus clientes. Isto é particularmente valorizado pelas PMEs porque tais companhias normalmente participam de concorrências públicas que não permitem às empresas com apontamentos participarem delas. O conhecimento do próprio negócio das PMEs foi percebido pelos participantes como as competências que ajudaram na identificação da oportunidade de negócio e o desenvolvimento adequado do Me Avise. 4.1.2.4 Me Proteja O Me Proteja foi lançado recentemente pela Serasa Experian e é a primeira iniciativa para servir o consumidor final (relação B2C) no Brasil. Trata-se de um serviço proativo no sentido de que informa seus clientes de potenciais ações de furto de identidade, via email e / ou SMS. O Me Proteja é um serviço pré-pago que pode ser descontinuado quando o cliente desejar. O fato de ser um serviço pré-pago impactou o processo de cobrança da Serasa Experian, que teve de se adaptar a este novo procedimento. Outro ponto enfatizado como uma habilidade importante desenvolvida pela empresa para trabalhar neste 113 novo modelo de negócio foi sua capacidade de alcançar consumidores finais de uma forma mais fácil e amigável. A empresa conduziu seções de grupos de foco para entender propriamente os sentimentos dos clientes com relação às suas experiências negativas prévias com furto de identidade, bem como suas preocupações referentes à sua própria reputação. Tais seções também proveram a Serasa Experian com alguns indicativos preliminares para estabelecer o preço do serviço, bem como a percepção de valor dos clientes. Além disso, a empresa teve de retroagir, pensando nas intenções de uma pessoa criminosa, quais são os passos para identificar os aspectos que tinham de ser monitorados para proteger indivíduos contra potenciais ações fraudulentas de identidade. De acordo com o ponto de vista dos participantes, o serviço Me Proteja demandou uma intensa avaliação legal e de riscos durante o seu desenvolvimento, o que foi favorecido pela forte cultura interna de comunicação franca e disciplina para preparar um business case, de modo a promover o engajamento dos colaboradores. 4.1.3 Empresa da área de telecomunicações. A empresa estudada faz parte de um grupo internacional que abriga uma incubadora de projetos. Os serviços de apoio, que são o objeto desta pesquisa, fizeram parte do primeiro projeto desta incubadora. A incubadora está fisicamente separada das demais áreas da empresa e normalmente realiza os estudos de viabilidade dos serviços por meio do funil de oportunidades. 4.1.3.1 Serviços de apoio O projeto sobre os serviços de apoio foi pioneiro em muitos aspectos da empresa. Antes de ser fundada a diretoria de inovação, surgiu a ideia desse projeto, observando as empresas americanas do segmento de varejo. Portanto, ele não tinha a ver com telecomunicações. 114 Ele foi o primeiro projeto em prova de conceito, foi o primeiro projeto da incubadora, foi o primeiro projeto a virar empresa; ele percorreu o método do funil de oportunidades em toda a sua extensão. Os serviços de apoio foram inspirados em pessoas que realizam atividades de serviço nos Estados Unidos, compreendendo, por exemplo, suporte às pessoas para usar um computador, instalar o computador em casa, configurar uma impressora, usar uma máquina fotográfica. Observando o aumento da complexidade de uso e instalação de equipamentos eletrônicos a equipe da incubadora iniciou um processo de desenvolvimento deste tipo de serviço no Brasil. No entanto, o projeto dos serviços de apoio alcançou um escopo muito maior do que o inicialmente previsto e também muito maior do que a ideia de referência (dos prestadores de serviço nos Estados Unidos). Os serviços de apoio tornaram-se uma empresa separada, que atende várias outras grandes empresas prestadoras de serviço de renome no Brasil. No entanto, a entidade legal da empresa dos serviços de apoio não é revelada aos usuários finais. 4.2 Descrição das empresas de indústria pesquisadas e respectivos produtos inovadores 4.2.1 3M do Brasil Ltda15. Desde que se instalou na cidade de Campinas, interior do Estado de São Paulo, em 9 de abril de 1946, sob a razão Durex, Lixas e Fitas Adesivas Ltda., a empresa logo atingiu o seu primeiro marco. A fita adesiva lançada em 1946 fez tanto sucesso que a marca Durex tornou-se um substantivo comum para fita adesiva usado até hoje. A primeira filial de vendas da empresa no Brasil foi inaugurada em 1948, no Rio de Janeiro. Em 1954, a empresa transferiu-se para a cidade de Sumaré (SP), iniciando a fabricação dos primeiros produtos abrasivos da empresa: lixas de papel. Nos anos 60, foram inauguradas as filiais de vendas em Recife, Belo Horizonte, Fortaleza, Salvador, Brasília, Curitiba e em outras cidades no Brasil. A produção de 15 Informações extraídas do site da empresa. Disponível em: <http://solutions.3m.com.br/wps/portal/3M/pt_BR/about-3M/information/more-info/history/>. Acesso em 04 ago. 2010 115 fotocopiadoras, fitas magnéticas e materiais refletivos passou a ser realizada na fábrica recém-inaugurada na cidade de Ribeirão Preto (SP), em 1975. Em 1977, foi apresentada ao mercado a fita para fraldas Baby Fix MR, um produto desenvolvido 100% no Brasil, e em 1981 tiveram início as operações na nova unidade da empresa, em Itapetininga (SP), dedicada ao tratamento de papéis para o dorso de fitas adesivas e fabricação de produtos para segurança. Para melhorar o relacionamento com seus clientes e consumidores a subsidiária brasileira implantou o Serviço de Atendimento ao Consumidor (Linha Aberta 3M) em 1991 e o Serviço de Atendimento ao Cliente em 1992. Com o objetivo de disponibilizar em um único local suas tecnologias e soluções para a indústria nacional, a 3M do Brasil inaugurou em 2005 o primeiro Centro Técnico para Clientes (CTC) da América Latina, na unidade de Sumaré, reunindo no local 17 laboratórios técnicos. Em maio de 2005, o grupo 3M Company adquiriu as operações globais da Cuno – empresa multinacional especializada em filtração. Esta aquisição representou a ampliação de atividades do grupo 3M Company no Brasil, pois a Cuno possuia unidade instalada em Mairinque (SP). Em 2006, foi inaugurado o Instituto 3M de Inovação Social, organismo voltado para a descoberta e aplicação de inovações sociais que promovam a melhoria da qualidade de vida das comunidades onde a empresa atua, reforçando o compromisso da empresa com o desenvolvimento social. Nesse mesmo ano, a 3M do Brasil fez sua primeira aquisição no País com a compra da divisão de Segurança da POMP - Produtos Hospitalares e Segurança do Trabalho Ltda., empresa que tem sede em Cachoeirinha, Região Metropolitana de Porto Alegre (RS) e é fornecedora de protetores auriculares e outros produtos para a proteção individual do trabalhador, como óculos de segurança e creme para as mãos de uso profissional. As atividades na unidade de Manaus (AM) tiveram início no primeiro semestre de 2007, com a produção de fitas especiais para área industrial e para o mercado de consumo, além de respiradores elastoméricos, do setor de segurança do trabalho. No segundo semestre de 2007, a 3M do Brasil anunciou sua segunda aquisição no país com a empresa Abzil Indústria e Comércio Ltda, do segmento de produtos ortodônticos, complementando a linha de produtos da 3M Unitek. A Abzil, 116 com sede em São José do Rio Preto (SP), produz localmente brackets, bandas, tubos e fios ortodônticos. 4.2.1.1 PONJITA16 MR Em 2008 a 3M do Brasil promoveu um fórum de sustentabilidade e dentre os convidados estava um de seus clientes que divulgou o programa End to End – Sutentabilidade de Ponta a Ponta. Este programa contemplava um desafio destinado a dez empresas escolhidas por este cliente. O desafio consistia em fazer um melhoramento de um produto existente em pelo menos quatro aspectos ambientais e sociais. Isto significava estudar a lógica do ciclo de vida do produto existente em comparação com um novo produto a ser proposto. Na ocasião a 3M do Brasil já estava trabalhando em um projeto mais amplo, referente a uma necessidade de um novo produto para limpeza mecânica do corpo durante o banho. Os participantes deste projeto realizaram diversas sessões de focus group dentro da 3M do Brasil. Utilizando-se da ferramenta do Six Sigma, os participantes deste projeto conseguiram identificar um conceito de produto robusto, alinhado à estratégia de negócios da empresa. Este conceito de produto indicava dois aspectos: As pessoas queriam um produto natural; Muitas vozes da pesquisa apontaram para esponja de banho, que é um produto normal da 3M do Brasil. A partir deste resultado, os participantes deste projeto pensaram em desenvolver uma esponja de banho natural e por isso passaram a pesquisar vários tipos de fibras naturais e óleos essenciais que pudessem ser utilizados como esponja. Nesta pesquisa surgiu a possibilidade de utilizar a fibra de curauá, que é cerca de quatro vezes mais resistente que a fibra de vidro e tem sido bastante utilizada pela indústria automobilística. A fibra de curauá é retirada das folhas da bromélia, uma planta da família do abacaxi. A bromélia é uma planta característica do Pará e é empregada na regeneração de solos destruídos. 16 Informações adicionais sobre o produto disponível em <http://solutions.3m.com.br/wps/portal/3M/pt_BR/Ponjita/Home/ >. Acesso em: 05 dez.2010. 117 Uma parte sintética, composta de garrafas PET recicladas, foi incorporada à parte natural para abrandar a abrasividade da fibra de curauá, contribuindo também para a remoção de resíduos do meio ambiente. Vários protótipos foram testados junto ao consumidor, sendo que dois deles tornaram-se então os produtos finais: A PONJITA MR com fibra natural de Curauá; A PONJITA MR com fibra natural de Curauá e espuma de fonte renovável (proveniente de óleo de soja). Outros benefícios alcançados neste projeto foram melhoramentos das embalagens primária e secundária, como por exemplo, pelo incremento do uso de material reciclado, escolha de tintas sem metal pesado e incorporação de fita de paletização da 3M. É fundamental ressaltar que na condução deste projeto, a 3M do Brasil, por meio de seu sistema de validação de fornecedores, certificou-se de que seus fornecedores atendessem as legislações para não infringir nenhuma lei e para evitar qualquer tipo de passivo ambiental e / ou social. Estes produtos obtiveram o reconhecimento da comunidade internacional da 3M e do cliente proponente do desafio. (vide ANEXO A) 4.2.2 AB Brasil Indústria e Comércio de Alimentos Ltda17 A Associated British Foods (ABF) é um grupo internacional de capital inglês que atua em vários setores de negócio. A AB Mauri é a divisão de ingredientes da ABF e aqui no Brasil a sua razão social é AB Brasil Indústria e Comércio de Alimentos Ltda. A AB Brasil é uma compania líder de mercado no fornecimento de produtos para padarias, com grande reputação em inovação e confiabilidade. As duas principais marcas da AB Brasil são a Fleischmann e a Mauri e elas são oferecidas sob uma ampla variedade de ingredientes diretamente aos consumidores, bem como a uma extensa rede de distribuidores. A empresa cria valor para as padarias brasileiras de grande e pequena escala e 17 Informações extraídas em parte do site da empresa. Disponível em: <http://www.abmauri.com/regions/brasil.aspx> e <http://www.sohovos.com.br/portugues/index.htm>. Acesso em 03 ago. 2010. 118 também comercializa um portifólio dinâmico de produtos para o consumidor doméstico. A matriz da AB Brasil localiza-se em São Paulo e suas duas unidades produtoras estão situadas em Pederneiras e Sorocaba. A fábrica de Pederneiras é uma planta de elevada qualidade que foi construída recentemente e produz fermento fresco e seco, bem como melhoradores para pão, misturas para confeito e especialidades tais como misturas para pão de queijo. A outra fábrica, a Sohovos, localiza-se em Sorocaba e é a líder e pioneira de produtos de ovos no Brasil, incluindo ovos líquidos, em pó e congelados. O departamento de Pesquisa e Desenvolvimento, localizado em Jundiaí, dispõe de completo teste de panificação, dentre outras utilidades. 4.2.2.1 Projeto Ovos: Ovo em Caixa e Sobremesas Líquidas O Projeto Ovos surgiu de uma oportunidade identificada no mercado, como um dos produtos que compõe a cesta de ingredientes usados na panificação. A empresa já atuava com produtos para o pão tais como o fermento e a gordura e vislumbrou uma oportunidade de adquirir uma fábrica que processasse ovos, a Sohovos, em 2006. Este projeto possuía um escopo maior, inovador, que era processar ovos utilizando a tecnologia UHT (Ultra High Temperature). O processo de pasteurização UHT é mais eficiente que a pasteurização normal, pois atua de forma bem precisa em microorganismos patogênicos e diminui muito a atividade biológica do ovo. No entanto, o processo de pasteurização UHT não esteriliza o ovo; portanto, a AB Brasil decidiu envasar o ovo pasteurizado por UHT em embalagem longa vida, proporcionando uma validade maior que o ovo in natura. O ovo in natura tem uma validade de 28 a 30 dias; o ovo pasteurizado sob um processo normal dura em torno de 10 a 15 dias. Com a tecnologia UHT, o ovo passou a ter validade de 45 dias. Esta extensão do prazo de validade do ovo permitiu que a AB Brasil ampliasse a sua região de atuação, impactando a logística de sua distribuição. Neste sentido cabe mencionar que o ovo pasteurizado sob um processo normal viabiliza o 119 processo de comercialização, por exemplo, no estado de São Paulo. O ovo pasteurizado por UHT amplia esta região de atuação para o Brasil. Dentre as dificuldades encontradas e superadas durante o desenvolvimento do Projeto Ovos foram mencionados principalmente três aspectos: O desafio de encontrar a embalagem longa vida adequada para um processo de operação a vácuo. Esta situação foi contornada pela aquisição de maquinário pela AB Brasil, bem como estabelecimento de parceria com uma empresa alemã para fornecimento de embalagens. A necessidade de avaliar a capacidade da rede de distribuição da AB Brasil. Isto significou verificar as condições de refrigeração e armazenamento de produto que estes distribuidores possuíam. De fato, a rede de distribuição da AB Brasil já operava com transporte refrigerado por comercializarem o fermento fresco da empresa. No entanto, as condições de refrigeração não são iguais para o fermento fresco e para o ovo pasteurizado UHT. Por este motivo foi necessário realizar a adequação da distribuição neste quesito. O relacionamento de longa data da AB Brasil com sua rede de distribuição contribuiu para que esta avaliação e adequação fossem realizadas com muita cooperação. A quebra do paradigma do ovo in natura, que é tido no mercado como uma embalagem perfeita; além disto, o ovo in natura é uma unidade de medida padrão nas receitas culinárias. A AB Brasil realizou diversos treinamentos para que os consumidores finais confiassem que o ovo pasteurizado UHT em caixa era 100% ovo, sem aditivação e que havia sido quebrado, pasteurizado via UHT e envasado. Adicionalmente, a empresa realizou a conversão das receitas, para que os consumidores finais trabalhassem com a medida de ovo em gramas. Estas atitudes fizeram com que os consumidores finais adotassem a padronização do ovo pasteurizado UHT em caixa ao vislumbrar a sua praticidade, economia, qualidade e segurança. O ovo pasteurizado UHT é um produto inovador para os clientes da AB Brasil como também em alguns lugares da América do Sul e Central. Ele é considerado inovador por oferecer uma solução para o problema de risco de 120 contaminação, além de possuir maior prazo de validade e ser oferecido sob outra forma de apresentação. Mais inovador que o ovo pasteurizado UHT são as sobremesas líquidas, pois são uma inovação mundial. Elas são únicas e fazem parte da mesma plataforma do ovo pasteurizado UHT; ambos pertecem ao Projeto Ovos, mencionado anteriormente. As sobremesas líquidas partem de uma referência caseira, de um produto de mercado existente, como por exemplo, o quindim, o pudim de leite, o brigadeirão, o fio de ovos e o manjar. A inovação consite em oferecer tais produtos, semipreparados, em uma forma líquida. Isto confere ao produto a característica de praticidade, o frescor no momento de preparo desejado e uma textura diferenciada das sobremesas em pó. Em 2009 a AB Brasil recebeu um prêmio de inovação referente às sobremesas líquidas na feira de alimentação internacional (ANEXO A). Na percepção de alguns colaboradores da AB Brasil as sobremesas líquidas são uma inovação radical porque não existiam no mercado, além de oferecer uma solução a uma demanda já existente e que não tinha sido percebida. 4.2.3 Beraca S.A. Os senhores Ulisses e Marco Antonio Sabará herdaram a Beraca Sabará Químicos e Ingredientes Ltda., uma empresa familiar fundada pelo pai deles em 1956, e têm compartilhado a sua presidência por mais de 30 anos. Ao longo destes anos eles trabalharam para manter o que eles descrevem como seus próprios valores e princípios de conduta de negócios socialmente responsáveis (CIPE, 2010). O quadro 19 mostra algumas das informações da Beraca S.A. A Beraca possui quatro divisões de negócios: - water technologies, food ingredients, health and personal care e animal nutrition and health. A divisão de water technologies é uma das maiores fornecedoras de produtos à base de Cloro e serviços para o tratamento de água no Brasil e responde por cerca de 70 % do faturamento da empresa. 121 Fundação: 1956 Entidade legal: S.A. Setores: Produtos químicos e ingredientes naturais. Escritório Central: São Paulo, Brasil. Plantas: 7 plantas no Brasil. Faturamento: USD 54 milhões. Número de empregados: 232 Número de fornecedores ativos: 706 Iniciativas: UN Global Compact (Junho 2006); Negócio e Biodiversidade; Fundação ABRINQ – Empresa Amiga da Criança. Certificações: SA8000 (Janeiro 2004); PRODIR – Processo de Distribuição Responsável; Ecocert; BDK Parve Kosher Quadro 19: Fatos e estatísticas da Beraca Fonte: Center for International Private Enterprise (CIPE), 2010. A Beraca possui quatro divisões de negócios: - water technologies, food ingredients, health and personal care e animal nutrition and health. A divisão de water technologies é uma das maiores fornecedoras de produtos à base de Cloro e serviços para o tratamento de água no Brasil e responde por cerca de 70 % do faturamento da empresa. A divisão de personal care - sua segunda maior área de negócios – está dentre os fornecedores líderes de extratos e óleos naturais no Brasil. Como um dos maiores fornecedores de ingredientes naturais e orgânicos para os fabricantes de fármacos e cosméticos, a empresa localizada em São Paulo possui clientes de seus produtos de biodiversidade em 47 paises. Dentre eles estão marcas líderes tais como L'Occitane, L'Oreal (Kiehl´s), Natura e Aveda (CIPE, 2010). A empresa tem se desenvolvido com base em sua estratégia mencionada em seu Relatório de Sustentabilidade de 2008: [...] inovação em produtos responsáveis e serviços, governança corporativa gerenciamento e desenvolvimento de pessoas, valorização dos recursos naturais, gerenciamento do risco social e ambiental e desenvolvimento local e regional (CIPE, 2010, p. 13). 4.2.3.1 Óleo de Andiroba das Mulheres Pescadoras da Ilha de Marajó Em 2001 a divisão de produtos cosméticos e farmacêuticos da Beraca decidiu comprar uma pequena fábrica de professores na Amazônia, que estava incubada na universidade. Logo a Beraca constatou que o trabalho na Amazônia envolvia a 122 relação com comunidades, sendo que uma delas foi a que participou ativamente do produto inovador estudado. Após a aquisição da fábrica, a Beraca criou o Programa de Valorização da Biodiversidade, considerado inovador porque em geral, esse tipo de programa é realizado por ONGs e não por empresas privadas. O Programa de Valorização da Biodiversidade atua em três frentes: - a ambiental, a social e a questão da certificação. A Beraca tem aplicado este programa a cada comunidade, respeitando o momento que elas estão vivendo; há comunidades não organizadas, comunidades organizadas e comunidades muito organizadas. A comunidade que participou no desenvolvimento do produto inovador estudado era uma comunidade não organizada. Durante décadas a Ilha de Marajó tem sofrido a influência da maré sendo que parte dela fica alagada na época das chuvas; as águas sobem e invadem as várzeas e os pescadores têm dificuldades na pesca porque os peixes se espalham. A Beraca conheceu uma colônia de mulheres pescadoras, na Praia do Jubim, em Salvaterra, na Ilha de Marajó. Na época das cheias estas mulheres pescadoras tinham muita dificuldade em obter receitas. Como uma segunda prática elas coletavam algumas sementes oleaginosas nas praias para fazer um óleo para uso próprio; especialmente o óleo da Andiroba, que apresenta propriedades repelentes de insetos. Observando esta prática e associando-a ao Programa de Valorização da Biodiversidade, a Beraca vislumbrou uma oportunidade de usar este óleo de Andiroba para uma aplicação no mercado cosmético. Simultaneamente o laboratório de Pesquisa e Desenvolvimento da Beraca trabalhou para investigar propriedades inovadoras do óleo de Andiroba, que interessassem ao mercado internacional. A Andiroba tornou-se uma árvore preservada e para atender a demanda da Beraca, as mulheres pescadoras começaram a se organizar na coleta de sementes. Em 2005 a Beraca levou pessoas para ensinarem as mulheres pescadoras sobre como se organizar em uma cooperativa; elas decidiram montar a Coopemaflima (Cooperativa dos Produtos Marinhos e Florestais da Ilha de Marajó). Após a fundação da Coopemaflima a Beraca trabalhou junto à cooperativa para a obtenção da certificação orgânica pela Ecocert, o que ocorreu em 2006. Isto significou agregar valor de 20% a 30% ao preço das sementes. 123 Neste interim, a Beraca apresentou o projeto das mulheres pescadoras da Ilha de Marajó à Fundação L'Occitane que fez um aporte de capital para a construção da sede da Coopemaflima em 2008. O terreno para a construção da Coopemaflima foi cedido pela Beraca. A intenção futura da Beraca é que a Coopemaflima produza o óleo de Andiroba; além disso, como a ilha é turística, a Coopemaflima poderá vendê-lo para os turistas. Além de comercializar o óleo de Andiroba, a Beraca extrai argila da região para uso em cosméticos. A empresa compartilhou seu conhecimento da prática da extração de argila com a Coopemaflima para que as cooperadas fabricassem potes de cerâmica marajoara. As cooperadas foram ensinadas a produzir este artesanato por um professor contratado pela Beraca. A Beraca continua seu trabalho junto às comunidades e foi premiada por diversas entidades internacionais (Vide ANEXO A). 4.2.4 Empresa do ramo químico e petroquímico A empresa pesquisada faz parte de um grupo industrial brasileiro com forte atuação na área química e petroquímica, sendo que seus produtos são aplicáveis em diversos mercados. Os investimentos alocados em pesquisa e desenvolvimento destinam-se principalmente à busca de inovações de produtos e processos. Para isso a empresa conta com vários laboratórios e plantas-piloto bem como estabelece parcerias com centros de pesquisa e universidades. Para fomentar as atividades de inovação, a empresa também conta com o suporte de entidades para o financiamento de suas atividades de pesquisa e desenvolvimento. 4.3 Elementos de rotinas de busca e competências para inovar Os elementos de rotinas de busca foram avaliados a partir de duas perspectivas: a percepção individual dos participantes dos projetos estudados e a perspectiva teórica, que inclui as dimensões conceituais de rotina apresentadas no referencial teórico. 124 A percepção individual foi captada pela análise de conteúdo das respostas obtidas nas entrevistas, baseada numa pós-categorização. A perspectiva teórica foi avaliada com base em codificação temática, de acordo com o apresentado na matriz de amarração. 4.3.1 A percepção individual: o entendimento dos conceitos de rotinas, hábitos e competências para inovar De acordo com Weick e Sutcliffe (2005) o processo de atribuir sentido às situações (“sensemaking”) envolve a mudança de circunstâncias para uma situação que é compreendida explicitamente por palavras e que serve como um modelo para a ação. Na visão de Tsoukas e Chia (2002), a organização é uma tentativa de ordenar o fluxo intrínseco de ação humana, para canalizá-lo para determinados fins, para conferir a ele uma forma particular, por meio da generalização e institucionalização de significados particulares e regras. Considerando estas perspectivas, os participantes dos desenvolvimentos de serviços e produtos inovadores foram questionados sobre o entendimento que tinham dos conceitos de rotina, rotina de inovação, hábito, hábito de inovação e competência para inovar. A ideia era buscar evidências sobre a existência de um padrão de entendimento acerca dos conceitos investigados e, além disto, verificar se tal padrão estaria relacionado a alguma prática da organização investigada. Durante os processos de entrevista foi constatado que os respondentes invariavelmente ficavam perplexos com as perguntas conceituais e as achavam difíceis de responder. As respostas dos entrevistados encontram-se nos Quadros 20 e 21 (relativos às empresas de serviços e às empresas de indústria respectivamente). Neles são apresentadas as categorias de percepção de rotinas, rotinas de inovação, hábito, hábito de inovação e competências para inovar, identificadas em cada um dos projetos e respectivos respondentes. De um modo geral constatou-se a conotação negativa associada às rotinas, atribuindo às mesmas características tais como obrigação, repetitividade, processos, procedimentos. Isto corrobora com a afirmação de Lazaric (2007) e também lembra os elementos apontados por Becker (2004). As definições de rotinas encontradas apontam para a visão de Simon e March (1958). 125 Empresas de Serviços Empresa Departamento de Anatomia Patológica do Hospital A. C. Camargo Serviço Inovador Sistema de Detecção na Imunohistoquímica Posição / Área do Entrevistado Rotinas Rotinas de Inovação Hábito Hábito de Inovação Competências para Inovar Diretor do Departamento de Anatomia Patológica. (*) Embasada em processos Análise crítca de processos Background, individual Risco, feeling Testar e validar o novo Pesquisador e chefe científico dos laboratórios de imunohistoquímica e de hibridação molecular. Entra em uma forma, Robô --------- Pessoal, subjetivo Cultivar bom relacionamento ------- Constantemente, sem inovações, coletivo e individual Rotina e inovação são opostas Não obrigatório Experimentar novas situações ------- Gerente de Plataformas de Decisão na Diretoria de Pessoa Física. Processos, periodicidade, coletiva Não faz parte do nosso dia a dia Ações boas e ruins, fora do padrão Desejo de mudar Conhecimento Desenho de soluções. Algo imposto, coletivo --------- Mais natural, espontâneo Talvez traga mais inovação Conhecimentos, Habilidades e Atitudes (CHA) Soluções de Certificado Digital. Coisa repetitiva --------- Pode não estar ligado a um calendário Talvez possa inserir na rotina --------- a rotina é uma coisa que você já costuma fazer e pode até perder o sentido, coletivo Impositivo, tem uma dificuldade muito grande de criar ou pensar qualquer outra coisa. O hábito é recorrente, mas que você sabe porquê que você está fazendo aquilo, coletivo Criar o hábito de fazer coisas diferentes do que os outros estão fazendo Capacidade de fazer alguma coisa acontecer Responsável pela parte técnica do laboratório de imunohistoquímica. Application Manager 3 (AM 3) Serasa Experian Nota Fiscal Eletrônica NF-e Liderança da Área de Projetos – Certificado Digital. 126 Empresas de Serviços Empresa Serviço Inovador Posição / Área do Entrevistado Gerente de Produto. Me Avise Assistente de Produtos. Segmento de Consumidores Gerente Executivo. Serasa Experian Me Proteja Segmento de Consumidores Gerente Pleno. Empresa da área de telecomunicações (contato inicial discorreu sobre todos os projetos) Análise e Tendência de Mercado / Inovação. (*) Serviços de apoio Gerência de Incubação de Negócios. (*) Rotinas Rotinas de Inovação Hábito Hábito de Inovação Competências para Inovar Atividades que tenho de fazer, repetição, coletivo Melhorar minha agenda de visitas aos clientes Informal, coletivo Ler, buscar informações fora do dia adia No caso do projeto, a capacidade de negociação O que todo mundo faz -------- Individual -------- Olhar de outra forma e colocar em prática rapidamente Estabelecer que mensalmente vamos pensar fora da caixa (desafio) Vício, de tanto repetir, ligado à cultura. Individual, mas se reflete na empresa A cultura da empresa respira. O que mais eu vou fazer? Criar ambiente propício para que as pessoas possam propor projetos Processo, já existem práticas na empresa, coletivo Começa com o hábito individual Estilos pessoais de buscar novas coisas, individual Pessoas reservam tempo no dia para pensar como as coisa poderiam ser diferentes ----------- ----------- ----------- ----------- ----------- CHA Sou obrigado a fazer, pode ser coletivo O funil de projetos é uma rotina Faço não obrigado, pode ser coletivo O hábito de inovar acaba gerando a rotina de invoar ------------ Gosto, previsibilidade, Individual mas se reflete na empresa Quadro 20: Entendimento de Conceitos em Empresas de Serviço Fonte: Elaborado pela autora 127 Empresas de Indústria Empresa 3M do Brasil Ltda. AB Brasil Ind. e Com. de Alimentos Ltda. Produto Inovador Posição / Área do Entrevistado PONJITA MR com fibra natural de Curauá e PONJITA MR com fibra natural de Curauá e espuma de fonte renovável (proveniente de óleo de soja). Diretor de Laboratório (*) Projeto Ovos: Ovo em Caixa e Sobremesas Líquidas Rotinas Rotinas de Inovação Hábito Hábito de Inovação Competências para Inovar ------------ ------------ ------------ ------------ ------------ Tem de cumprir, necessária Ter o hábito de registrar ideias Automático, inconsciente Criar a mentalidade de liberdade de pensar Mente aberta para pensar, se permitir novas ideias Especialista em Meio Ambiente e Sustentabilidade Você estabelece para fazer, todo o dia, individual ou coletiva Fazer as mesmas análises com algumas mudanças É seu Pensar como inovar minha rotina Ligar os recursos que você tem com o que o mercado te pede Diretor de Marketing e Vendas Obrigado a fazer, ISO 9000 Não existe Tem prazer em fazer ------------ Atributo que te ajuda a conseguir alguma coisa Gerente de Marketing (*) Faz constantemente, tem de ser feita, independe de quem faz Reuniões frequentes na empresa Individual Participar em feiras, observação, busca Qualificação para determinadas funções Desenvolvimento de Novos Negócios – Gerente de Produto. Tem de fazer no dia a dia, não tem conotação ruim, mais coletiva ------------ Degrada a percepção, fazer automático, pessoal Não leva a uma inovação, talvez leve a procedimentos Agilidade no processo, boa comunicação entre departamentos, acesso à informação Dia a dia, mecânica, individual e coletiva Processo de Desenvolvimento de Projetos Faz sem pensar, é perigoso, é individual, talvez possa ser transferido ------------ Ser eficiente e eficaz, ter conhecimento, requer experiência Pesquisadora Gerente de Pesquisa e Desenvolvimento. 128 Empresas de Indústria Empresa Beraca S. A. Produto Inovador Óleo de Andiroba das Mulheres Pescadoras da Ilha de Marajó. Posição / Área do Entrevistado Rotinas Rotinas de Inovação Hábito Hábito de Inovação Presidente (*) Pode ser recheada de bons hábitos Ler tudo relativo ao que faço Você cria, é individual Observar, perguntar Trabalhar e abrir espaço para parcerias Gerente Administrativo Financeiro Desastre Cumprir o planejado O que quero fazer bem-feito, induzido pelo coletivo --------- Ser visionário, ousado, não temer riscos Controladoria Imposição ---------- Inerente à pessoa --------- Olhar fora da caixa Pode ser um procedimento estruturado, que você criou a priori, para maximizar a eficiência em produzir determinado resultado. Coletiva É um método que foi discutido, estabelecido Que você faz rotineiramente, sem pensar. Individual Ler, por exemplo, novidades e pensar como aquilo poderia se converter em algo prático É ser capaz de prover soluções adequadas a problemas que lhe sejam colocados, de qualquer natureza. Gerente de Projetos e Desenvolvimento de Novos Negócios Empresa do ramo químico e petroquímico (conceitual) ------------ ------------ ------------ ------------ Se sentir extremamente incomodada, para sempre buscar conhecimento Rotina é schedule; rotina é ações, é tarefas. Individual e coletivo Seria se eu construísse uma forma, uma ideia do tipo assim: “-Eu quero entender mercados.” Então, vou criar um rotina. Hábito é valor. Individual e coletivo Estar discutindo um fenômeno ou lendo textos e falando; de uma forma não tão regrada, não tão sistematizada. É a perspicácia em entender as demandas, a perceber Tem uma certa obrigação de fazer Rotina de inovação são aquelas obrigações Pode depender de pessoa para pessoa Relacionado a particularidades Independe da formação Coordenadora de Pesquisa e Desenvolvimento (*) Coordenador de Desenvolvimento Pesquisadora Sênior Competência para Inovar Quadro 21: Entendimento de Conceitos em Empresas de Indústria Fonte: Elaborado pela autora 129 As respostas sobre o conceito de hábito, de modo geral, o caracterizam como um fenômeno típico do indivíduo, comportando certa subjetividade. Os hábitos de inovação revelaram-se mais próximos de atividades inovativas, tais como, liberdade de pensamento, criação, observação, desejo de mudança, dentre outras qualificações. A partir destes resultados, como um achado preliminar desta pesquisa, podese pensar em circunstâncias que façam sentido aos hábitos das pessoas nas organizações e que as conduzam à inovação. Cabe ressaltar que no caso de dois produtos inovadores, o “Ovo em Caixa” e o “Óleo de Andiroba das Mulheres Pescadoras da Ilha de Marajó” foram apontados como ideias dos presidentes das respectivas organizações. Conforme relatos dos respondentes, ambos presidentes têm alguns hábitos de inovação em comum, tais como a prática de questionar. No que diz respeito às competências para inovar, observa-se um grande espectro de entendimentos que variam desde as competências essenciais (nível corporativo) às competências individuais, definidas por Fleury e Fleury (2007), indicadas no Quadro 5. 4.3.2 Perspectiva teórica: dimensões conceituais de rotinas Conforme mencionado na introdução deste trabalho, Pavitt (2002) apontou que especificamente no caso das rotinas de busca há dificuldade e necessidade em se atribuir maior conteúdo operacional a elas. Para o autor, ao se conhecer as rotinas de inovação seria possível identificar os ingredientes para bom o gerenciamento da inovação e assim estabelecer uma ligação com a estratégia organizacional. Pavitt (2002) também argumenta que pouca informação de importância prática foi desenvolvida desde a apresentação do conceito de rotinas por Nelson e Winter (1982), se comparadas a outros novos conceitos teóricos que foram combinados às evidências empíricas. Portanto, para identificar as dimensões conceituais de rotinas em cada um dos serviços e produtos inovadores estudados foram consideradas as definições genéricas de rotinas apresentadas na Matriz de Amarração (item 3.6, Quadro 15). Uma síntese destas definições aplicadas aos serviços e produtos inovadores estudados é mostrada no Quadro 22 a seguir e explicada posteriormente. 130 Empresas de Serviços Departamento de Anatomia Patológica do Hospital A. C. Camargo Dimensões conceituais de Rotinas Sistema de Dectecção da Imunohistoquímica Empresas de Indústria Serasa Experian Application Manager 3 Nota Fiscal Eletrônica (AM 3) (NF-e) Me Avise Padrões de comportamento repetidos X X Natureza Coletiva X X X Natureza Processual X X X X X X Dependência do Contexto X Me Proteja X X Empresa da área de telecomunicações 3M do Brasil Ltda AB Brasil Ind. e Com. de Alimentos Ltda Beraca S.A Empresa do ramo químico e petroquímico Serviços de Apoio Ponjita MR Projeto Ovos: Ovo em Caixa e Sobremesas Líquidas Óleo de Andiroba das Mulheres Pescadoras da Ilha de Marajó (conceitual) X X X X X X X X X X X X X X X X X Dependência da trajetória e Gatilhos X X X X X X X X X X Esforço X X X X X X X X X X Quadro 22: Dimensões conceituais das rotinas Fonte: Elaborado pela autora 131 Explicações sobre as dimensões conceituais de rotinas, indicadas no Quadro 22: Os campos marcados com “X” no Quadro 22 indicam as situações em que foram identificadas a presença das dimensões conceituais de rotinas. Os campos em que não aparecem “X”, tais dimensões não foram identificadas. Em ambas as situações são explicadas a ocorrência ou ausência das dimensões, que são evidenciadas com trechos das respostas dos entrevistados, confome detalhado a seguir: Padrões de comportamento repetidos Sistema de detecção da imunohistoquímica: técnica rotineira utilizada na imunohistoquímica, composta por procedimentos que evidenciam padrões de comportamento repetidos envolvidos na tarefa. [...] eu tenho projetos em imunohistoquímica para fazer inovação em laboratório, assim, acontecendo a todo o momento (RM, Sistema de Detecção da Imunohistoquímica). Application Manager 3 (AM 3): consolidação de rotinas operacionais do cliente em uma plataforma de software para tomada de decisão. [...] E o banco tinha que, até então... Ele era responsável por todas essas etapas: recolher essa papelada física, levar até algum lugar, fazer com que fosse digitada essa proposta, que essas imagens fossem... A imagem delas fosse retirada e fosse armazenada em algum lugar, que esses dados fossem enriquecidos, que uma vez feita a análise de crédito que uma equipe ligasse ou fizesse a validação telefônica; fizesse algum tipo de validação (LP, Application Manager 3). Nota Fiscal Eletrônica (NF-e): não havia um padrão de comportamento repetido, apesar de existirem algumas experiências fora do país, que tiveram de ser adaptadas. [...] Nós estávamos buscando uma solução. Nós sabíamos que nós queríamos oferecer um software para emissão de notas fiscais eletrônicas, mas nós não sabíamos o modelo de negócio [...] nós conversamos com uma série de players do mercado nacional que estavam começando. Nós fomos até o Chile, porque o Chile foi o pioneiro nesse tipo de iniciativa. Nós fomos conhecer as empresas chilenas que atuavam nesse setor (PG, NF-e). Me Avise: Sistema oriundo de outro programa na empresa voltado para o monitoramento do CNPJ e CPF de sócios de empresas. [...] Eu estou falando do Gerencie, para chegar no Me Avise. O Gerencie Carteira é uma ferramenta de monitoramento de carteira dos clientes. 132 Então, o cliente, quando ele tem uma relação com a carteira de clientes dele, ele coloca esse CNPJ dentro de uma ferramenta e essa ferramenta vai monitorar aquele cliente, por um período que o cliente da Serasa selecionar como um período determinado para ele, para monitorar. Então assim, se eu estou monitorando a minha carteira de clientes e teve alguma alteração, uma alteração de inadimplência, uma alteração de dados cadastrais ou uma alteração de risco, então, a gente envia um aviso, através de e-mail ou através de integração direta pelo sistema do cliente e aquela empresa vai receber (I. O. Me Avise). Me Proteja: Sistema decorrente da experiência de atividade realizada anteriormente, tais como a do projeto Me Avise. [...] E essas duas mudanças que a Serasa fez nos últimos três anos, o primeiro é abraçar a causa de vender para pequenas e médias empresas e depois, na sequência, vender para consumidores, para mim foi um desafio bastante grande (A.N, Me Proteja). Serviços de Apoio: Projeto gerado segundo uma metodologia para identificação de oportunidades fora do “core business” da empresa. [...] A gente vem aplicando técnicas de inovação há quatro anos [...] Então, a proposta dessa área: é olhar os projetos que são fora do padrão (Serviços de Apoio). Ponjita MR: Resultante da filosofia, procedimento da empresa de o colaborador de Pesquisa e Desenvolvimento ter a liberdade de utilizar 15% do seu tempo de trabalho para pesquisar sobre um assunto que também seja do interesse da empresa. [...] Dentro do laboratório existe um pessoal que se a companhia não pedisse, ele já estava indo pesquisar [...] E no caso desse pessoal tem essa filosofia e existia, ainda existe essa liberdade de a pessoa ter o 15% delas, de trabalhar em cima de algum projeto que seja, venha de encontro aos interesses da empresa (A.E.; Ponjita MR). Projeto Ovos: Ovo em Caixa e Sobremesas Líquidas: Projeto Ovo em Caixa surgiu como um procedimento de busca do presidente da organização; as Sobremesas Líquidas foram lançadas posteriormente. A empresa, entretanto, realiza reuniões frequentes para discutir informações de mercado e novas ideias. [...] Surgiu do presidente da empresa. Ele fez uma análise do mercado, viu o perfil de crescimento dos nossos produtos, alguns crescem organicamente, outros têm um crescimento maior. E ele teve a visão que a gente precisava estar mais presente dentro do nosso mercado, que é o de padarias. [...] E o ovo líquido pasteurizado era uma coisa que ninguém tinha (O. P.; Projeto Ovos). [...] os departamentos que estão envolvidos em qualquer projeto de inovação, na realidade, P&D, que é pesquisa e desenvolvimento, marketing, vendas e industrial [...] tem até uma metodologia de desenvolvimento de novos produtos, nós temos reuniões mensais com a área de P&D, com a área de novos produtos, em que a gente atualiza e 133 acompanha novos desenvolvimentos. Nós temos brainstormings a cada seis meses, digamos assim, em que a gente joga todas as ideias possíveis (C.B; Projeto Ovos). Óleo de Andiroba das Mulheres Pescadoras da Ilha de Marajó: Comportamento empreendedor do presidente da empresa na busca de novos negócios. [...] a empresa tem quatro divisões. Esta divisão de produtos cosméticos e farmacêuticos tem a característica de que, desde 2001, a gente resolveu ir para a Amazônia e lá compramos uma pequena fábrica de professores, que estava incubada na universidade e a gente viu um bom negócio ali. E falamos: “-Puxa, isso daqui, se a gente for empreendedores, como nós somos e a gente conseguir mostrar para o nosso mercado alvo que isso aqui tem valor, nós vamos conseguir ter um projeto meio único”. Era essa a ideia. E aí, de fato, isso foi acontecendo (U.M.S., Óleo de Andiroba). Empresa do ramo químico e petroquímico: Ações específicas que se repetem anualmente, diariamente e bimestralmente. [...] Como acontece a iniciativa estratégica a inovação? Então, eu tenho o board da empresa e tenho uma coisa que chama Comitê de Ciência e Tecnologia, que são consultores internacionais que vêm aqui uma vez por ano e ficam uma semana no fórum que a gente fala: “-Esse é o fórum oficial da inovação. Não pode se resumir a uma semana.” A gente trabalha o ano inteiro para dar input para esse fórum, e, desse fórum, a gente sai com um monte de tarefa (Empresa Química e Petroquímica). Natureza Coletiva Sistema de detecção da imunohistoquímica: método aplicável em diferentes lugares; as pessoas que o utilizam detêm conhecimento especializado. [...] a gente publicou esse estudo em uma revista internacional, chamada Journal of Clinical Pathology, uma revista inglesa, indexada e com índice de impacto na ciência, medido e tudo mais. E esse paper hoje, ele é um paper de referência como guia de boas práticas em imunohistoquímica (R. M.; Sistema de detecção da Imunohistoquímica). Application Manager 3 (AM 3): o serviço viabilizou a possibilidade de o cliente (banco ou instituição de varejo) disponibilizar um canal (por ex., internet) para conceder crédito massificado (acesso a diferentes lugares). E o banco, no final das contas, usava um mix de estruturas internas e estruturas externas para fazer todo esse processo. Tinha, também, que lidar com a dificuldade de que ele tem uma série de sistemas internos que, muitas vezes, não se falam. E que para que se desenvolvesse alguma solução ali que falasse com tudo, também é uma coisa bastante complexa. [...] E a Serasa, então, se propôs a dar um passo à frente, também, na direção de atender essa necessidade. [...] nós criamos uma camada de aplicação aqui na Serasa que une todos esses produtos e que nós acabamos viabilizando o fato de que um banco ou uma instituição de varejo, enfim, alguém que esteja concedendo crédito massificado na forma de um cartão ou de um empréstimo para compra de veículos, 134 pudesse disponibilizar um canal, por exemplo, via Internet (L. P. AM3). Nota Fiscal Eletrônica (NF-e): os problemas decorrentes deste novo sistema foram compartilhados por todos os provedores de solução. [...] Do ponto de vista da nota fiscal eletrônica, o ponto mais crítico que eu vejo é justamente essa questão da Secretaria de Fazenda não tratar os provedores de solução; não criar uma forma específica de tratar esses provedores de solução no sentido de poder testar inclusive as mudanças. [...] É uma limitação, é um problema que é compartilhado por todos os provedores de solução (P. G. NF-e). Me Avise: o acesso às Pequenas e Médias Empresas (PMEs) era feito indiretamente via distribuidores, de forma mais coletiva, compartilhada. A empresa mudou sua estratégia e passou acessar diretamente as PMEs. [...] desde que o Experian veio para cá e na estratégia de acelerar o crescimento, um dos focos que foi identificado, seria que a gente teria muito a crescer no mercado de PME, de Pequenas e Médias Empresas. Que era o mercado que, originalmente, a gente atacava de uma forma indireta, por meio de distribuidores e tudo mais. Então, assim, foi feito um projeto, um foco nisso e fomos para o PME (M. P. O.; Me Avise). Me Proteja: os clientes do serviço são notificados para gerenciar individualmente suas respectivas reputações financeiras; não há coletividade neste sentido. [...] a gente quer prover um serviço, para que a pessoa consiga gerenciar a reputação financeira dela [...] Então, uma das coisas que a gente colocou no projeto é que a gente ia realmente monitorar e nós informamos você por e-mail. Agora, vai entrar SMS também, mas a gente provê esse serviço de informação e não você vir consultar [...] Quer dizer, você se cadastra, você pode comprar pela internet, mas a gente avisa você. É um serviço pró-ativo, em que toda vez que houver uma anotação, alguma mudança, a gente informa você (V. N.; Me Proteja). Serviços de Apoio: desenvolveram um modelo de incubadora no qual identificaram colaboradores que possuíam algumas características diferenciadas (tais como gosto pelo risco) e criaram “comunidades” destes colaboradores no desenvovimento de serviços inovadores. [...] A gente desenvolveu um modelo de incubadora diferente do que se usava [...] a gente, associado ao RH, criou o que a gente chamou de trilha de empreendedor [...] Então, nós começamos pinçar dentro dos funcionários quais têm um DNA um pouco diferenciado, que gosta de assumir risco, que tem a intenção de crescer um pouco mais rápido, que não se preocupa tanto com, assim, o resultado de curto prazo, por exemplo, de uma promoção que ele vai deixar de ter ou coisa assim, para arriscar em dar um passo além e tentar fazer alguma coisa diferenciada. Então, nós conseguimos encontrar essas pessoas. E quando a gente tem um projeto que se enquadra no perfil da incubadora, a gente vai nesse banco que a gente criou de empreendedores internos, apresenta o projeto para eles. Quem quer participar se voluntaria (Serviços de Apoio). 135 Ponjita MR: Envolveu colaboradores da empresa no Brasil e no exterior, bem como clientes. [...] A equipe técnica, desenvolvimento [...] O pessoal de engenharia de embalagens [...] Teve um pessoal de uma área paralela, isso foi muito interessante no projeto [...] nós trouxemos uma fita de paletização, que até então era importada do Canadá, era uma fita stretch, para o Brasil, a gente nacionalizou. Então, eles correram paralelos a esse projeto. E para a nossa grande alegria, quase no finalzinho do projeto da curauá, a gente conseguiu agregar, inclusive, a fita de paletização nesse projeto da curauá. Então, ao invés de paletizar as caixas com o filme stretch, a gente usou essa fita 3M também [...] Esse foi o pessoal de desenvolvimento de PSD, que são produtos para empacotamento e área técnica deles, serviço técnico. Outro pessoal que participou: meio ambiente e sustentabilidade, que também foi envolvido. Teve a equipe técnica lá da França, da 3M França, que também nos ajudou. Externamente o Cetea [...] o pessoal de marketing, o key account do cliente, o diretor também esteve envolvido no projeto [...] o pessoal de qualidade. Por quê? Eles tiveram que ir até o Pará, validar o fornecedor de fibras. Porque nós temos um sistema de validação de fornecedores, para ver se esse fornecedor está atendendo algumas legislações básicas de licenças, se não tem mão-de-obra escrava, se não tem mão-de-obra infantil [...] Então, tudo isso, essa equipe foi para validar, eles foram chave também na participação, para evitar qualquer passivo ambiental ou social [...] E o pessoal da manufatura também [...] (L. C. P.; Ponjita MR). Projeto Ovos: Ovo em Caixa e Sobremesas Líquidas: envolvimento de pessoas externas à organização, tais como distribuidores, que estavam mais próximos dos clientes finais. Contribuíram sim, porque você tinha uma grande... Nós temos duas linhas, duas quebras de clientes, vamos dizer, a nossa primeira quebra é com a nossa rede de distribuidores [...] E em um segundo momento, aí sim, a gente vai ter os nossos, padarias, food services, restaurantes, enfim, que é o segundo grupo de clientes, digamos assim. E o terceiro, ainda nesse canal, que é o B to B, que é o usuário final, que é o João, que vai lá e compra o pão, que vai lá e compra o quindim, que acaba sendo o usuário final [...] Então, a gente tem três elos de continuação do processo de entrega. Bom, com os distribuidores, nessa primeira quebra, foi intenso o relacionamento no processo de desenvolvimento dos ovos [...] Então, eles foram muito parceiros [...] (C. B. Projeto Ovos). Óleo de Andiroba das Mulheres Pescadoras da Ilha de Marajó: trabalharam com diferentes comunidades, classificando-as segundo níveis de organização. [...] o trabalho lá na Amazônia envolve a relação com comunidades [...] E aí, dentro da Beraca, a gente criou o programa de valorização da biodiversidade [...] E este programa, então, a gente procura aplicar a cada comunidade, respeitando o momento em que elas estão vivendo. Então, você tem comunidades não organizadas, comunidades organizadas e comunidades muito organizadas (U. M. S.; Óleo de Andiroba). 136 Empresa do ramo químico e petroquímico: participação de diferentes atores, com conhecimentos distintos que são compartilhados. Então, é um gerenciamento de portfólio, ao mesmo tempo é um gerenciamento do projeto e ao mesmo tempo é uma uniformização de... É por isso que eu falo, é de maneira simplificada. Porque eu tenho ali, vendas, marketing, P&D, assistência técnica e, às vezes, engenharia. Está todo mundo ali, naquele fórum, discutindo (Empresa Química e Petroquímica). Natureza Processual Sistema de detecção da imunohistoquímica: causou uma mudança de cultura e de técnica. [...] Foi novo no mudo e foi novo aqui. É, no mundo ninguém tinha publicado isso, então foi novo no mundo [...] E foi inovador, porque mudou uma cultura, a maioria das pessoas ou a gente mesmo, usava outro sistema e mudamos isso para melhor (R. M. Sistema de Detecção da Imunohistoquímica). Application Manager 3 (AM 3): quebra de paradigma na abordagem de mercado. [...] eu acho que isso foi uma quebra de paradigma aqui para a empresa, porque a Serasa era pautada em produtos, que são caixinhas. Então você consome lá o produto Concentre, por exemplo. Concentre é um produto relativo à informações restritivas, a anotações. Esse produto tem uma limitação. Então você vem com uma demanda de um cliente aqui que queria usar o Concentre com algo mais. Esse produto não faz esse algo mais [...] Foi aí que a gente conseguiu quebrar aqui em cima o que a gente está chamando de camada de integração. Sei que é uma palavra muito mais técnica, mas é uma camada de software, que eu consigo falar com dois ou mais produtos. Essa camada aqui de cima não enxerga o produto. Enxerga a funcionalidade, que é uma série de funcionalidades que estão aqui embaixo (W. B. S.; AM 3). Nota Fiscal Eletrônica (NF-e): mudança da visão da organização referente às parcerias e utilização de terceiros em seus processos de trabalho. [...] Nós partimos para uma nova parceria com uma empresa que tinha uma solução pronta. E nós implementamos a solução aqui dentro [...] E, antes disso, a gente teve um longo período que foi de formatação do modelo de negócio. Isso que tomou muito mais tempo: que é a parte muito mais comercial de como atuar, de como prestar o serviço para o cliente, em se tratando de uma parceria onde envolve terceiros. A Serasa vinha, naquele momento, no início de... passou naquele momento, uma transição de Serasa S/A para o grupo Serasa Experian. Então, a Serasa, nesse período foi adquirida. Então, a Serasa tinha uma visão diferente do que ela tem hoje. Hoje, é uma empresa mais de mercado, mais aberta para o mercado. Então, essas parcerias são mais fáceis do que eram naquela época (P.G. NF-e). 137 Me Avise: alteração do ritmo de trabalho para lançar o serviço dentro do prazo. [...] então a gente viu que era um mercado potencial e aí foi uma correria contra o tempo, porque o nosso prazo era o lançamento em janeiro e veio, assim, a demanda, eu acho que era meados de outubro... É, não me lembro exatamente à data, quando veio a demanda do pessoal. Eu não me lembro se foi outubro ou setembro. Mas assim, o desafio maior era fazer algo, que fosse em tempo recorde, que fosse uma coisa bem rápida. E aí, a gente teve que correr com toda a questão de aprovação do projeto, de priorização da demanda, que existem algumas regras internas (F. F.; Me Avise). Me Proteja: novo tipo de relacionamento com clientes (B2C); alterações no processo de trabalho, tal como sistema de cobrança. [...] ele foge um pouco do que a gente tem como business normal. Primeiro que é um serviço contínuo, são algumas nuances, mas que muda muito a forma de contabilização e tudo mais. Então, é necessário ver essa cadeia, como é que ela se entende até o final. Que é o caso de a gente vender com cartão de crédito, de uma forma de débito automático, a gente não possuía essa modalidade na empresa. É um pagamento que é antecipado, ele é pré-pago, para utilizar durante o mês. Então, o que acontece? Geralmente, todos os serviços da Serasa, você usa durante o mês e no final vem a fatura para você pagar. Então, tem toda essa mudança e tal. (V. N.; Me Proteja). Serviços de Apoio: o serviço em si significou uma mudança da atividade que a empresa costumava fazer; o entrevistado refere-se ao processo de gestão da inovação (pelo funil de oportunidades) como uma rotina. [...] Você vai ver que ele é um pouco diferente do que a empresa costuma fazer hoje [...] O nosso processo é uma rotina. Esse funil que a gente faz é rotineiro [...] Tem que ser rotina, porque, se você parar de alimentar o funil, tem uma hora que não tem mais projeto para fazer (Serviços de Apoio). Ponjita MR: o produto contempla mudança significativa, novidade, ao incorporar matéria-prima natural. [...] Ele é inovador, primeiro porque foi um passo importante na 3M do Brasil, que é a introdução de fibras naturais. Então, foi uma novidade para toda a equipe, porque primeiro: a gente desconhecia como incorporar a biodiversidade do Brasil em produtos nossos (L. C. P.; Ponjita MR). Projeto Ovos: Ovo em Caixa e Sobremesas Líquidas: envolveu mudanças organizacionais, de processos de trabalho e de abordagem ao mercado. [...] eu sou o diretor de marketing e vendas. E aí, enfim, tem toda a gerência de marketing, de produtos, desenvolvimento de produtos e o pessoal de vendas. Então, isso gera um pouco de inovação. Que, normalmente, a pessoa é desenvolvimento de produto, pesquisa, não necessariamente reporta, vamos chamar assim, ao diretor de marketing, 138 ou ao diretor comercial. Normalmente essa pessoa está ligada... A um departamento técnico, um departamento, às vezes, industrial. Mas nós fizemos essa alteração exatamente para dar velocidade no sistema [...] Então, mais ou menos há seis anos, nós fizemos essa alteração e colocamos dentro de uma diretoria muito mais ligada para negócio, que alinha todo o processo [...] Já é uma inovação organizacional (M. M. S.; Projeto Ovos). Óleo de Andiroba das Mulheres Pescadoras da Ilha de Marajó: mudança dos negócios da empresa, baseados incialmente em commodities. [...] eu acho que o olhar conservador, que existia em relação aos nossos mercados. Porque os nossos negócios estavam apoiados em commodities, em formatos extremamente convencionais, eu acho que nós tivemos que romper com isso. Então, romper com o convencional, tivemos que romper com alguns paradigmas nossos, que permitiu que a gente olhasse esse horizonte e o potencial que existia dentro desse novo negócio, dentro de uma perspectiva extremamente ousada. Então, eu acho que extrapolarmos o conservadorismo, nesse caso, foi determinante para a mudança que aconteceu dentro da empresa e fundamentalmente, para a gente estabilizar e estabelecer esse novo negócio (W. R.; Óleo de Andiroba). Empresa do ramo químico e petroquímico: adotou diferentes metodologias de avaliação de novas oportunidades de negócios, envolvendo novas tecnologias. [...] nós tínhamos uma chamada metodologia de viabilização de projetos, bem complexa e bem completa, que abrangia todas as fases necessárias para você sair de uma ideia proposta em qualquer foro da empresa, até um projeto viabilizado [...] Mais recentemente, adotou-se uma chamada metodologia FEL Front-End Loading One. Mas essa é uma metodologia, que funciona para projetos, uma vez que a tecnologia está dada [...] Esta metodologia anterior, ela não partia disso, você tinha a ideia absolutamente crua [...] Porque, veja bem, o que é interessante nessa metodologia, é que ela garantia o seguinte: se você saísse por esse canal de saída normal, você sairia com uma tecnologia melhor do que a existente, em tempo hábil para ser utilizada. Esse era o ponto (Empresa Química e Petroquímica). Dependência do Contexto Sistema de detecção da imunohistoquímica: conforme exposto anteriormente (em natureza coletiva) o método desenvolvido neste serviço é aplicável em diferentes lugares, portanto não é específico do contexto. Application Manager 3 (AM 3): o conceito de plataforma, como o do AM 3 já é difundido no exterior e aplicável no Brasil, portanto neste sentido não é dependente do contexto. [...] Quando a gente fala de plataforma de decisão de uma maneira mais ampla, o conceito da plataforma já é esse de que você vai reunir 139 informações, não interessa qual seja a fonte [...] Esse é um conceito que vem se formando muito fortemente nos últimos cinco anos, pelo menos no Brasil. Já é um conceito bem mais difundido fora. Já é até a razão de ser da Experian fora do Brasil; já é com essas plataformas de grandíssimo porte que fazem decisão de fraude, cobrança, crédito (L. P.; AM 3). Nota Fiscal Eletrônica (NF-e): aplicável ao contexto brasileiro devido às particularidades fiscais e regulatórias do país. O modelo pioneiro do Chile não pode ser aplicado em sua totalidade no Brasil. [...] no Chile, o desafio era muito menor, dado o porte do país, quantidade de contribuintes, a complexidade tributária, entre outras. E o próprio desafio que eles lançaram, a própria meta, foi menos audaciosa do que a nossa. Então, a solução deles lá é uma visão menos... Como é que eu posso te dizer? Aqui é mais complexa, é uma solução mais robusta. E lá a coisa é mais simplificada. Mas não se pode tirar os méritos: que foi, realmente, o pioneiro; eles saíram na frente e acabaram influenciando os demais países da região (P. G.; NF-e). Me Avise: os procedimentos e informações geradas pelo serviço são aplicáveis aos clientes brasileiros. [...] Ele é novo para os clientes, novo no mercado nacional. Que eu saiba, não tem nas outras empresas da Experian, mas eu não tenho certeza absoluta, para dizer que não tem em lugar nenhum (I. O. Me Avise). Me Proteja: embora o serviço prestado seja específico e útil para os clientes brasileiros, a empresa já possui ampla experiência com este negócio no exterior. [...] E de um ano para cá, nessa empreitada que a Serasa-Experian decidiu abraçar e dar foco, no começo de negócios com pessoas físicas, no que diz respeito a serviços de informação. Então, aqui foi um passo importante, eu acho que o fato de a Serasa ter se tornado uma empresa global, parte de um grupo que já tem larga experiência com os consumidores, deu mais tranquilidade, deu mais apoio, principalmente para o board, de tomar essa decisão de fazer um negócio que lá fora é bastante rentável. E que também tem um valor muito grande para o mercado de crédito e para ajudar os consumidores a cuidarem do seu nome. E aí que veio o trabalho de lançamento do Me Proteja (A.N, Me Proteja). Serviços de Apoio: idealizados a partir de serviços semelhantes nos Estados Unidos e aplicados no Brasil. Os Serviços de Apoio desenvolveu-se em escopo no Brasil, o que o tornou inovador, comparado à ideia original. [...] Em 2005, a gente buscando oportunidades de mercado, alguém foi para os Estados Unidos, foi na Best Buy e conheceu o Geek Spread. O que é Geek Spread? Geek é geek. Nerd, aí, está bem em voga, está bem famoso. Mas é um time de pessoas nerds, mesmo, geeks, os caras que gostam de mexer com computador, que até usam gravatinha de Dilbert, camisa de manga curta, tal, tem um New Beatle preto e branco e tal. Eles têm todo um visual para isso. Que ajuda as pessoas a usar o computador, a instalar o computador em casa, a configurar uma impressora, a usar uma 140 máquina fotográfica. Então, você comprava o computador na Best Buy, passava em um balcãozinho de saída, alguém te oferecia o serviço da Geek Spread (Serviços de Apoio). Ponjita MR: especificidade da matéria-prima da diversidade brasileira. [...] A fibra de curauá vem dessa planta aqui, que é uma bromélia [...] essa planta vem do Pará. Ela é cultivada no Pará, é característica daquela região. Já tentaram plantar em outros locais, mas por enquanto não tiveram muito sucesso. E ela é bem típica daquele tipo de solo, umidade. Então, eles plantam lá, é uma planta da região amazônica (R. P.; Ponjita MR). Projeto Ovos: Ovo em Caixa e Sobremesas Líquidas: Embora as Sobremesas Líquidas sejam produtos únicos no mundo e também sejam resultantes de adequações de receitas culinárias típicas brasileiras, teoricamente elas podem ser incorporadas em outros contextos (países) desde que não existam restrições de tecnológicas em tais países e desde que sejam respeitados os direitos de propriedade industrial e intelectual da empresa. [...] E a gente sempre passa de uma referência caseira, de algum produto que a gente fala: “-Nossa! Tal pessoa, tal lugar tem um produto legal assim, serve. Um restaurante tem um quindim maravilhoso, é receita artesanal ou a minha avó tem receita de tal produto.” A gente sai de uma referência de produto de mercado. Isso é importante. A inovação pode ser reversa [...] Então, na verdade, porque a gente aposta em um produto que já existe: quindim, pudim, fios de ovos. Mas qual é a inovação? Ele é líquido (M. P.; Projeto Ovos). Óleo de Andiroba das Mulheres Pescadoras da Ilha de Marajó: especificidade da biodiversidade brasileira associada às práticas das comunidades locais. [...] Especialmente o óleo da Andiroba, que é um óleo repelente de inseto. Então elas cozinhavam lá as sementinhas. Então, observando esta prática e juntando isso, o programa de valorização da biodiversidade viu uma oportunidade e aí começamos a organizar essas mulheres [...] hoje a andiroba é uma árvore, só para encurtar, é uma árvore preservada. Você não pode cortar na Ilha do Marajó, pela importância dela na economia local (U. M. S.; Óleo de Andiroba). Empresa do ramo químico e petroquímico: similaridade entre o que ocorre na empresa estudada e outras empresas no mundo. [...] Um estudo da década de 1980, um artigozinho chamado: Ten Blind Spots in Technology Management, feito com mais ou menos 160 empresas, parecia que havia sido escrito para a nossa; tudo igualzinho. Mas aí, fomos ver as 160 empresas; lá estavam [...] todo mundo. Por isso, eu estou dizendo para você, 90% das empresas fazem do mesmo jeito [...] (Empresa Química e Petroquímica) 141 Dependência da trajetória e Gatilhos Sistema de detecção da imunohistoquímica: necessidade de conhecer com maior precisão a eficiência de produtos (kits de testes) para determinadas proteínas. Surgiu da gente mesmo [...] Sempre quando você tem dúvida no que usar, eu não posso chutar, eu preciso saber o que eu vou usar. Porque quando: “-Descobriu-se uma proteína nova, que tem valor prognóstico em câncer. Essa proteína, descobriu-se um gene que está diferencialmente expresso em cânceres mais agressivos e esse gene expressa uma proteína X. E a identificação dessa proteína então passa a ter um valor prognóstico para a evolução clínica do paciente.” Ótimo, então eu preciso pegar e testar se essa proteína está presente no tumor daquele paciente ou não, para saber como ele vai evoluir. Então, os fabricantes, a indústria farmacêutica está em cima daquilo ali. Então, eles produzem assim, dezenas de diferentes clones, de diferentes anticorpos e lançam aquilo tudo no mercado [...] Então, identificaram uma coisa nova, logo eles estão lançando um produto para poder identificar aquilo como teste diagnóstico. E diferentes empresas lançam diferentes testes, às vezes a mesma empresa lança dois testes diferentes, três, sei lá. E você tem que validar, para ver qual desses testes seria o mais eficiente para aquele objetivo. E então, você tem que realizar esses estudos de validação, de aprimoramento técnico e tudo mais (R. M. Sistema de Detecção da Imunohistoquímica). Nota Fiscal Eletrônica (NF-e): ideia do antigo CEO da empresa, que vislumbrou uma oportunidade de negócios para a área de Certificação Digital. [...] A nota fiscal eletrônica foi produto de uma visão do nosso antigo CEO [...] Que ele enxergou, com o surgimento do Sped, que é o Sistema Público de Escrituração Digital. E, com base nele... Como o Sped todo é baseado na certificação digital, ele tem muita proximidade, então, com aquela visão da nossa área de projetos, de certificação digital. Ou seja, de soluções que agregam o uso de certificado digital e fomentam o uso de certificado digital. Nesse caso é uma iniciativa do governo. Mas o nosso antigo diretor – agora está nos Estados Unidos – viu nisso uma grande oportunidade. E me elegeu para pesquisar o que a gente poderia oferecer para esse mercado. E aí que nós fomos atrás (P. G.; NF-e). Application Manager 3 (AM 3): surgido do desafio de um cliente. [...] há três anos atrás, que é a origem do projeto, na verdade, nós fomos desafiados por um cliente [...] Toda essa parte da concessão de crédito carecia de uma urgência e de uma resposta mais em real time para uma série de coisas. Então, toda essa validação que eu estou dizendo a você, para que ele aprove... O desejo é aprovar: que ele aprove com certeza (L. P.; AM3). Me Avise: oportunidade identificada junto ao cliente; os serviços previamente disponíveis não atendiam as necessidades dos mesmos. [...] Mas o cliente PME, principalmente o pequenininho mesmo, que tem o PME que já tem uma carteira maior, mas o pequenininho ele dizia: “Não, esse produto não me serve, não me atende, porque eu não tenho uma carteira grande, eu não tenho...” “-Necessidade de estar comprando, de 142 estar usando isso aqui.” [...] Não, não foi em pesquisa não. Foi a equipe do segmento do PME, junto com a força de vendas. Não foi pesquisa formal não, foi acompanhamento do negócio na ponta. Que isso também é uma prática que a gente tem. Existe a área de produtos, uma área de segmentos, a gente sempre está acompanhando, junto à área de vendas, para identificar quais são as dificuldades que eles têm. Se é o produto que não está atendendo, então: “-Vamos atrás.” Então, o agente de produto também vai no cliente, para estar acompanhando o processo de venda, para estar vendo dificuldade, para estar vendo como é que funciona, como é que o produto está sendo utilizado, para ver se ele atende ou não (I. O. Me Avise). Me Proteja: ideia gerada em uma conversa entre duas pessoas, sobre um projeto anterior que não estava em prática. [...] Em uma conversa de trinta minutos. A gente, quando começou esse brainstorming, a gente pegou algumas ideias que já tinham sido lançadas no passado, para aproveitar como uma referência, nada como aproveitar ideias ou projetos, iniciativas anteriores. Então, já tinha isso na Serasa. Uma dela era um projeto chamado Monitoramento Pessoal, cuja ideia tinha vindo de dar o monitoramento pessoal como benefício para quem comprasse o certificado digital. Só que ela não era um plano de negócios, ela era um benefício. Então, ela não tinha um plano de receitas, despesas já pensada. Ela tinha sido pensada: “-Vamos fazer isso para alavancar a venda de certificado digital.” Como ela era muito trabalhosa, o projeto foi engavetado (A. N., Me Proteja). Serviços de Apoio: a ideia do serviço surgiu pela observação de empresas americanas do segmento de varejo. [...] a gente descobriu essa ideia olhando para empresas americanas do segmento de varejo. Então, não tinha a ver com telecom (Serviços de Apoio). Ponjita MR: a empresa já estava trabalhando em um projeto cujo escopo era um novo produto para a limpeza mecânica do corpo. Posteriormente surgiu o desafio do cliente. [...] eu sei que esse projeto surgiu de um projeto anterior, que na ocasião eu não estava na 3M. Eu sei que era um projeto maior e é isso que eu sei te dizer. Que essa é uma necessidade de um novo produto para limpeza mecânica do corpo, veio desse projeto maior (R. P.; Ponjita MR). Projeto Ovos: Ovo em Caixa e Sobremesas Líquidas: o projeto partiu de uma iniciativa do presidente da empresa de oferecer soluções estratégicas para aumentar negócios junto às padarias. [...] a ideia desse projeto começou com o nosso presidente, que teve a visão: “-Olha, vamos entrar, vamos entrar onde ninguém está e vamos entrar em um produto que todas as padarias consomem.” [...] Na verdade, uma vez que ele pensou muito no assunto, ele foi buscar, para ver que soluções poderiam acontecer [...] na verdade, o que ele pensou não foi na solução técnica, ele pensou mais na visão estratégica: o que entra em uma 143 padaria? Então, esse conhecimento ele tem [...] a gente fez um trabalho extenso, como, por exemplo: quantos ovos, em média, são consumidos em uma padaria? Antes de a gente comprar, antes de a gente fazer qualquer tipo de movimento, foi feito uma pesquisa profunda de mercado, não só para saber como o mercado se comporta, mas para identificar o hábito de consumo dentro da padaria. Quem é que compra? Quem é que usa? Qual é o perfil de consumo de ovo dentro da padaria? Quantos por cento vão para bolo? Quantos por cento vão para determinados produtos de confeitaria? Quantos por cento vão para determinados pães? E a gente mapeou isso tudo (O. P.; Projeto Ovos). Óleo de Andiroba das Mulheres Pescadoras da Ilha de Marajó: antes da iniciativa de comprar uma empresa incubada na universidade, o presidente da empresa já idealizava realizar um negócio na Amazônia. Surgiu do seguinte [...] Exatamente eu. Por quê? Porque em 1976, quando eu entrei na faculdade, eu fui fazer uma viagem para a Amazônia. E lá eu olhei aquilo e falei; “-Um dia eu vou fazer um trabalho nesse lugar.” (U. M. S.; Óleo de Andiroba). Empresa do ramo químico e petroquímico: projetos são mais voltados a atender as necessidades dos clientes. [...] E a gente recebe muito input de cliente, para inovação. Seja de tendência lá fora, seja de algo que já está acontecendo lá fora e é uma necessidade deles, aqui. Mas eu acho que a nossa maneira de dependência, por exemplo, está muito voltada para cliente (Empresa Química e Petroquímica). Inconsciência x Resultado de esforço A análise de todos os serviços e produtos inovadores pesquisados (Nota Fiscal Eletrônica (NF-e), Application Manager 3 (AM 3), Me Avise, Me Proteja, Serviços de Apoio, Ponjita MR, Projeto Ovos: Ovo em Caixa e Sobremesas Líquidas, Óleo de Andiroba das Mulheres Pescadoras da Ilha de Marajó, Empresa do ramo químico e petroquímico) resultaram de esforço, ou seja, foram realizados de forma consciente, conforme pode ser observado por trechos de narrativas expostos anteriormente. 4.3.3 A identificação das rotinas de busca nos serviços e produtos inovadores estudados De acordo com Nelson e Winter (1982), há uma hierarquia de rotinas, sendo a rotina de busca, a de ordem maior, como se pode observar na Figura 15 a seguir. Na visão destes autores, conforme intrepretação de Collison e Wilson (2006), rotinas operacionais e de investimento são regidas pelas rotinas de busca. 144 Entretanto conforme apresentado no Quadro 23 a seguir, esta hierarquia nem sempre está presente; há casos em que não ocorreram “rotinas de investimentos”, como por exemplo, nos serviços inovadores da Serasa Experian (Application Manager 3, Nota Fiscal Eletrônica, Me Avise e Me Proteja) e no produto inovador da 3M (PONJITA MR ). Nestas duas situações as “rotinas de busca” geraram diretamente as “rotinas operacionais”. Figura 15: Hierarquia das Rotinas Fonte: Elaborado pela autora, com base na proposta de Collison e Wilson (2006) Tomando-se no Quadro 23, por exemplo, o serviço inovador “Sistema de Detecção na Imunohistoquímica” constatou-se que ele resultou da “rotina operacional” de comparação de reagentes empregados na técnica de trabalho da Imunohistoquímica. No entanto, esta técnica de trabalho da Imunohistoquímica foi possível de ser realizada mediante a automação da área, ou seja, por meio da “rotina de investimentos” que contemplou, por exemplo, a aquisição de equipamentos para o Departamento de Anatomia Patológica do Hospital A. C. Camargo e a mudança de laboratórios. A “rotina de investimentos” foi ativada pela “rotina de busca” que se consistiu na ideia, avaliação e decisão de automação do laboratório de imunohistoquímica. É importante ressaltar que a automação sintetiza várias das dimensões apontadas nesta tese sobre rotinas; é a expressão mais visível das forças e atividades que nortearam este projeto específico de inovação. Ela resume o esforço de otimização de processos da organização. 145 Empresas de Serviços Empresa Serviço Inovador Rotina Operacional Rotina de Investimentos Rotina de Busca Departamento de Anatomia Patológica do Hospital A. C. Camargo Sistema de Detecção na Imunohistoquímica Comparação de reagentes empregados na Imunohistoquímica Aquisição de equipamentos e mudança dos laboratórios Buscar a Automação da Imunohistoquímica Application Manager 3 (AM 3) Trabalho com terceiros Não houve Nota Fiscal Eletrônica NF-e Validação de procedimentos junto aos clientes Parceria com empresa de solução Fomentar o uso da Certificação Digital Me Avise Alteração da ordem de prioridade das tarefas Não houve Atender Pequenas e Média Empresas dentro do ano fiscal de 2009 Me Proteja Alteração nos procedimentos de cobrança Não houve Atender consumidores finais Serviços de apoio Elaboração de procedimentos de negócios Criação de incubadora e participação em Joint Venture Pesquisar oportunidades fora do core business Rotina de Investimentos Rotina de Busca Não houve Incorporar material de origem natural, biodiversidade do Brasil, como fonte de matéria-prima Serasa Experian Empresa da área de telecomunicações Conhecer a Service Oriented Architecture Empresas de Indústria Empresa Produto Inovador Rotina Operacional 3M do Brasil Ltda. PONJITA MR com fibra natural de Curauá e PONJITA MR com fibra natural de Curauá e espuma de fonte renovável (proveniente de óleo de soja). Ajustes nos equipamentos de manufatura AB Brasil Ind. e Com. de Alimentos Ltda. Projeto Ovos: Ovo em Caixa e Sobremesas Líquidas Oferecer o suporte de assistentes técnicos Aquisição de fábrica, de equipamentos para o processo e para a distribuição. Aumentar a oferta no portifolio de produtos para panificação Contratação de assintentes técnicos Trabalho com comunidades Beraca S. A. Óleo de Andiroba das Mulheres Pescadoras da Ilha de Marajó. Criação de Departamentos Processo de Certificações Treinamentos Aquisição de fábrica, de equipamentos, Aproximação de Entidades Certificadoras, Captação de recursos, Contratação de pessoas Trabalhar com o bioma da Amazônia Quadro 23: Evidências de rotinas no desenvolvimento de serviços e produtos inovadores Fonte: Elaborada pela autora 146 Tomando-se outro exemplo no Quadro 23, o produto inovador “Óleo de Andiroba das Mulheres Pescadoras da Ilha de Marajó”, constatou-se que ele foi viabilizado mediante o estabelecimento de algumas “rotinas operacionais”, tais como o trabalho com comunidades ribeirinhas, a criação do Programa de Valorização da Biodiversidade, a criação da Gerência de Relação com a Comunidade e da Gerência de Recursos Florestais e os procedimentos para obtenção de certificações e treinamentos. Essas “rotinas operacionais” surgiram a partir da “rotina de investimentos”, com a aquisição de uma unidade industrial no Pará, a compra de equipamentos para processamento do óleo, a aproximação de entidades certificadoras, a captação de recursos junto ao governo federal e estadual e a contratação de pessoas, além de intenso treinamento das cooperadas. “A rotina de busca” que orientou todo o processo de obtenção do “Óleo de Andiroba das Mulheres Pescadoras da Ilha de Marajó” ocorreu antes da rotina de investimentos e da rotina operacional. Esta rotina de busca esteve associada à intenção, por parte do presidente da Beraca, em trabalhar com o bioma da Amazônia. Nestes dois exemplos citados, o serviço inovador “Sistema de Detecção na Imunohistoquímica” e o produto inovador “Óleo de Andiroba das Mulheres Pescadoras da Ilha de Marajó”, verifica-se a presença das três rotinas: operacional, de investimento e de busca. O mesmo mecanismo ocorre no caso dos “Serviços de Apoio” (da Empresa da área de telecomunicações) e no caso do “Projeto Ovos: Ovo em Caixa e Sobremesas Líquidas” (da AB Brasil Ind. e Com. de Alimentos Ltda). Cabe aqui ressaltar que todos os serviços e produtos inovadores investigados confirmaram alguns aspectos importantes no estudo das rotinas, expostos no referencial teórico deste trabalho (item 2.1), tais como: 1) A natureza processual das rotinas associada às mudanças. Esta pesquisa constata a existência das “rotinas de busca”, que são evidenciadas pelas mudanças ocorridas no processo de desenvolvimento de todos os serviços e produtos inovadores investigados. 2) O papel das rotinas como gatilhos, apontado por Becker (2004), é confirmado pelo desencadeamento da mudança, iniciado pelas “rotinas de busca”. 147 Empresas de Serviços Empresa Serviço Inovador Área de Origem Motivo Tempo Total Dispendido Investimentos Realizados no Projeto Porte do Cliente Usuário Alcance da Inovação Departamento de Anatomia Patológica do Hospital A. C. Camargo Sistema de Detecção na Imunohistoquímica Serviço Necessidade de aprimoramento da técnica, padronização 1 ano Obtenção de reagentes e treinamento Grande (Hospitais) Mundo Application Manager 3 (AM 3) Serviço Desafio de um banco brasileiro 1 ano Treinamento Grande Brasil Nota Fiscal Eletrônica NF-e Serviço Demanda da legislação fiscal brasileira 2 anos Treinamento Grande (início), PME (depois) Brasil Me Avise Serviço Oportunidade mercado; iniciativa da empresa 4 meses Treinamento PME Brasil Me Proteja Serviço Oportunidade mercado; iniciativa da empresa 6 meses Treinamento Consumidor final Brasil Serviço Oportunidade mercado; iniciativa da empresa 2 anos Aporte de capital para participação em Joint Venture treinamento Grande Mundo Serasa Experian Empresa da área de telecomunicações Serviços de apoio Quadro 24: Elementos sinalizadores dos Serviços Inovadores Fonte: Elaborado pela autora 148 Empresas de Indústria Empresa Produto Inovador Área de Origem Motivo Tempo Dispendido Investimentos Realizados no Projeto Porte do Cliente Usuário Alcance da Inovação 3M do Brasil Ltda. PONJITA MR com fibra natural de Curauá e PONJITA MR com fibra natural de Curauá e espuma de fonte renovável (proveniente de óleo de soja). Serviço Desafio de rede de hipermercados 2 anos (Redução de Custos) Grande (Hipermercado) Mundo AB Brasil Ind. e Com. de Alimentos Ltda. Projeto Ovos: Ovo em Caixa e Sobremesas Líquidas Manufatura Oportunidade mercado; iniciativa da empresa 3 anos Aquisição de fábrica e de equipamento; investimentos na distribuição; comunicação e treinamentos Grande, PME Sobremesas: Mundo Beraca S. A. Óleo de Andiroba das Mulheres Pescadoras da Ilha de Marajó. Manufatura Oportunidade mercado; iniciativa da empresa 11 anos Aquisição de fábrica e de equipamentos, Obtenção de Certificações, Treinamentos, Aportes de Capital Grande Mundo Quadro 25: Elementos sinalizadores dos Produtos Inovadores Fonte: Elaborado pela autora Ovos: Brasil 149 4.4 Análise comparativa entre serviços e produtos inovadores 4.4.1 Sobre a definição dos serviços e produtos inovadores A definição dos serviços e produtos inovadores engloba desde a explicação dos que eles são até uma contextualização dos mesmos. Por exemplo, ao falar sobre o Ovo em Caixa, o respondente fez a seguinte explicação: A gente, na verdade, ao entrar no mercado, a gente criou a imagem do produto. Hoje, todo mundo que já vê o produto pasteurizado, já entende o Brick, já tem essa ideia. E a gente acabou tendo esse Q de inovação dentro do mercado (OP, Projeto Ovos). Sob este item também foi identificado, tanto nas entrevistas sobre serviços quanto nas de produtos inovadores, o termo “conceito de produto” associado a uma solução para atender alguma necessidade de mercado. É curioso observar que tanto os respondentes das atividades de serviços como das atividades de indústria utilizam com frequência o termo “produto” para os “serviços” que realizam e vice-versa A gente está falando de investimentos muito altos, de mecânicas de negócio muito altas, enfim, de toda uma organização, para você realmente estar levando aquele produto novo, estar levando aquela forma nova de apresentar um serviço, enfim, ou entregar um novo serviço (CB, Projeto Ovos). Isto é um indicativo da forma como as pessoas pensam suas atividades e denota a influência mútua de ambas as atividades. 4.4.2 O alcance dos serviços e produtos inovadores e o tipo de inovação realizada O alcance dos serviços e produtos inovadores refere-se às respostas das pessoas quando questionadas sobre em que extensão o produto era inovador. As evidências disponíveis do alcance da inovação encontram-se no APÊNDICE C e ANEXO A. Comparando-se os Quadros 24 e 25 nota-se que houve a predominância de inovações de alcance mundiais no caso de produtos inovadores. O que há em comum entre os casos de inovação de alcance mundial para os dois serviços inovadores (Sistema de Detecção da Imunohistoquímica) e os dois produtos inovadores (Projeto Ovos: Ovo em Caixa e 150 Sobremesas Líquidas e Óleo de Andiroba das Mulheres Pescadoras da Ilha de Marajó) é o fato de eles possuírem rotinas de investimento de maior porte e complexidade, como por exemplo, aquisição de fábrica e equipamentos sofisticados. O histórico do alcance dos serviços e produtos inovadores também contribui para identificar o tipo de inovação realizada. “Os Serviços de Apoio”, o “Projeto Ovos: Ovo em Caixa e Sobremesas Líquidas” e o “Óleo de Andiroba das Mulheres Pescadoras da Ilha de Marajó” apresentam características de inovações radicais, segundo conceito do Modelo de Gallouj e Weinstein (1997). Todos os três tiveram uma projeção de novidade em escala mundial e atenderam a uma demanda existente e desconhecida. Além disto, houve considerável criação de competências e alteração de características técnicas para geração do serviço e dos produtos inovadores. Outros projetos, tais como os serviços inovadores “Application Manager 3”e a “Nota Fiscal Eletrônica”, cujos alcances da inovação foram de impacto nacional, bem como o produto inovador PONJITA MR , apresentam características de inovação do tipo Ad Hoc, conforme definem Gallouj e Weinstein (1997). 4.4.3 A origem dos serviços e produtos inovadores No que diz respeito à origem dos serviços e produtos inovadores, observa-se que apenas o produto PONJITA TM originou-se de um desafio apresentado por uma empresa de serviços. Nota-se, no Quadro 24, que serviços inovadores foram originados por requerentes de serviços. Da mesma forma, no Quadro 25, dos três produtos inovadores investigados, dois originaram-se em manufatura. Esta verificação revela um aspecto importante para os estudos sobre inovação em manufatura e serviços que é o fato de que as atividades de serviços, por si só, geram novas demandas de serviços também em atividades de manufatura. Isto confirma a relevância da abordagem integradora nos estudos de inovação, defendidas por Drejer (2009), Gallouj e Weinstein (1997) e Gallouj e Savona (2009), mostrando que tanto as abordagens tecnológicas quanto as orientadas para serviço, mostradas no Quadro 7 não conseguem explicar os fatos encontrados nesta pesquisa. 151 4.4.4 Tempo dispendido e investimentos realizados no desenvolvimento dos serviços e produtos inovadores Com relação ao tempo e investimento realizados no desenvolvimento dos serviços e produtos inovadores, ao se comparar os Quadros 24 e 25, nota-se que os serviços inovadores pesquisados demandaram menores investimentos e em média foram realizados em tempos menores que os produtos inovadores. No que tange à questão do investimento, pode-se explicar que os serviços inovadores investigados são intensivos em conhecimento e, portanto não demandaram grandes investimentos. A situação inversa foi verificada no caso dos produtos inovadores; dois deles tornaram-se possíveis pela aquisição de fábricas e equipamentos. No caso do produto PONJITA MR o projeto seguiu uma trajetória inversa, ou seja, a de redução de custos ao atender o desafio do cliente. O tempo total médio para obtenção dos produtos inovadores também foi significativamente maior. Isto pode ser explicado pelo fato de que na maioria dos produtos inovadores houve procedimentos que normalmente demandam mais tempo para a execução, tais como aquisição de empresas. 4.4.5 Etapas e dificuldades encontradas no desenvolvimento dos serviços e produtos inovadores As etapas realizadas no desenvolvimento dos serviços e produtos inovadores revelam algumas rotinas operacionais da organização. Alguns respondentes citaram metodologias ao discorrerem sobre as etapas no desenvolvimento dos serviços e produtos inovadores: [...] foi um projeto DFSS (Development For Six Sigma) [...] (RP, PONJITA MR). [...] a gente vem aplicando técnicas de inovação há quatro anos [...] “Como a gente trabalha hoje?” A gente usa o tradicional funil de oportunidades (Serviços de Apoio). Ao se investigar as etapas realizadas no desenvolvimento dos serviços e produtos inovadores também é possível captar os efeitos de coordenação e controle das rotinas, citado por Becker (2004): [...] e você vai montando toda a cadeia, então: o produto, o mercado que vai distribuir, o transporte, o armazenamento....E aí você monta os atrativos para a venda (CB, Projeto Ovos). 152 As dificuldades encontradas e as formas como elas foram superadas indicam a busca de soluções para resolução de problemas, aprendizados resultantes destas situações, bem como o desenvolvimento de competências. Além disto, os entrevistados discorreram sobre como as suas respectivas organizações reagiram frente às novas circunstâncias, corroborando com as explicações de Àlvarez e Merino (2003) sobre os modelos evolucionários: [...] é engraçado, é como se fosse uma estrutura, é uma estrutura viva, apesar de ser uma estrutura sólida, um organizacional sólido, ela tem uma mobilidade boa. Eu acho que ela é aberta a essa mudança. Ela é maleável, esse é o termo...Um grande exemplo era uma empresa focada em produtos de bakery e fermento, uma empresa de origem de fermento, passou a ter um produto que é bolo, pré-misturas para bolo e se adequou ao novo mercado (MP, Projeto Ovos). [...] eu vejo a companhia como uma entidade em crescimento constante. Na verdade, até me preocupa, que ela está crescendo rapidamente, está crescendo muito. E a gente é muito, talvez uma característica da AB Brasil é que ela é uma empresa muito agressiva. Agressiva em que sentido? Eu não vou morrer no mercado, eu vou crescer (OP, Projeto Ovos). [...] Eu acho que sim, eu acho que o olhar conservador, que existia em relação aos nossos mercados. Porque os nossos negócios estavam apoiados em commodities, em formatos extremamente convencionais, eu acho que nós tivemos que romper com isso. Então, romper com o convencional, tivemos que romper com alguns paradigmas nossos, que permitiu que a gente olhasse esse horizonte e o potencial que existia dentro desse novo negócio, dentro de uma perspectiva extremamente ousada. Então, eu acho que extrapolarmos o conservadorismo, nesse caso, foi determinante para a mudança que aconteceu dentro da empresa e fundamentalmente, para a gente estabilizar e estabelecer esse novo negócio (JR, Óleo de Andiroba). 4.4.6 O papel da equipe no desenvolvimento dos serviços e produtos inovadores As narrativas sobre as respectivas equipes que participaram no desenvolvimento de serviços e produtos inovadores evidenciam alguns elementos tais como o nível de complexidade na obtenção dos serviços e produtos inovadores: [...] pelo menos trinta pessoas participaram do projeto: a equipe seis sigma, black belts técnicos e de negócios, de marketing, diretores técnicos e de negócios, gerentes técnicos, gerentes de negócios, gerentes de manufatura, desenvolvedor do produto, líderes do laboratório e negócios, engenheiro de processos, as equipes de suporte tais como EHS, o departamento jurídico e de toxicologia (RP, PONJITA MR). A composição da equipe também revela a presença frequente de fornecedores no processo de desenvolvimento dos serviços e produtos inovadores; este é um fator importante para a inovação, conforme explorado por Pavitt (1984) e Miozzo e Soete (2001). [...] a gente está aliado a grandes parceiros de tecnologia [...] temos contato com muitos especialistas destes fornecedores. São pessoas de renome no mercado, especialistas em um campo específico de atuação, que vem aqui nos trazer 153 informações. E quando a gente tem algum projeto que demanda conhecimento específico que a empresa ainda não tem, a gente trabalha com a locação de profissionais desse fornecedor, montando workshops para que se possam passar os conceitos (WBS, Application Manager 3). [...] porque aqui, a gente não sofre do mal do orgulho, então a gente conversa com os fornecedores: “-Você tem alguma ideia aí? [...] por exemplo, eu estou já ensaiando uns passos com um open innovation aqui dentro. Alguns fornecedores nossos estão desenvolvendo alguns produtos [...] (OP, Projeto Ovos). Além disto, o relacionamento com os fornecedores como exposto pelos entrevistados aponta para o Modelo de Gallouj e Weinstein (1997) e reforça a importância dos conhecimentos e competências dos fornecedores, conforme destacado nessas citações. As narrativas sobre as respectivas equipes que participaram no desenvolvimento de serviços e produtos inovadores mostram aspectos relacionados às formas de trabalho e ambiente das organizações estudadas: [...] o desenvolvimento foi feito com muito comprometimento de todas as partes [...] todos davam muitas opiniões [...] (RP, PONJITA MR). [...] Eu acho que isso é algo assim, é de extremo valor. Quer dizer, a gente não fica se autoiludindo nesse ponto, de querer tapar o sol com a peneira em muitas coisas. As questões são tratadas mais às claras mesmo. “Olha, está projeto está indo mal, esse projeto” [...] Não vai ser ninguém despedido por causa disso. É assim, é justamente esse ambiente que faz curar as coisas. [...] (VN, Me Proteja). 4.4.7 Atitudes inovadoras no desenvolvimento dos serviços e produtos Constatou-se que as atitudes inovadoras mencionadas no desenvolvimento dos serviços e produtos estudados podem, em linhas gerais, serem agrupadas em dois blocos. O primeiro bloco diz respeito às atitudes inovadoras pessoais, por vezes significando características pessoais: [...] pessoas de TI com visão comercial, críticos para pegar uma especificação funcional [...] pensar no negócio do cliente [...] habilidade de sair um pouco fora da caixa [...] alta maleabilidade na hora de pensar a solução [...] (LP, Application Manager 3). O segundo bloco refere-se à trajetória seguida no desenvolvimento dos serviços e produtos inovadores pesquisados e em alguns casos foram explicitadas como situações que fugiram dos padrões normalmente empregados pelas organizações: [...] não veio como projeto [...] escapou às regras, processos da empresa [...] (LP, Application Manager 3). 154 4.4.8 A interface com os clientes: a importância do porte e competências dos clientes das organizações inovadoras pesquisadas Um elemento comum aos serviços e produtos inovadores é que suas respectivas organizações, na maioria, relacionam-se com clientes de grande porte que estabelecem altos padrões de exigência nos serviços prestados e produtos oferecidos. Neste estudo, o porte das organizações que geraram os serviços ou produtos inovadores não se mostrou relevante. Mais importante que isso foi o fato de elas se relacionarem com clientes de grande porte. Neste sentido cabe ressaltar dois pontos. O primeiro ponto é que as organizações, independentemente de seus portes, foram capazes de realizar inovações. Este fato remete ao estudo de Chandy e Tellis (1998) sobre inovações radicais, que afirmam que o efeito do tamanho da empresa é fraco quando os fatores de atitude e fatores organizacionais são considerados (QUADRO 10). Outro ponto identificado foi a importância das relações das empresas estudadas com seus clientes, em sua maioria, de grande porte e com expertise. Em diversas entrevistas este aspecto foi citado: [...] que também é cliente nosso, eles têm questões de SLA. [...] Então, eles atendem outros grupos de empresas de tecnologia e eles têm um tempo para atender esse cliente porque o cliente não pode parar (PG, Nota Fiscal Eletrônica). [...] a gente está trabalhando com clientes que são grandes players do mercado (WBS, Application Manager 3). Neste item também foram investigadas quais competências que os clientes das organizações inovadoras possuem e que, na percepção dos entrevistados, contribuíram para o desenvolvimento dos respectivos serviços e produtos inovadores. A maioria dos relatos está associada às competências distintivas e às competências organizacionais, definidas por Fleury e Fleury (2007), mencionadas no item 2.4: [...] e ora em parceria com os clientes mesmo, que apontavam para uma determinada demanda. Então, temos alguns produtos que o cliente veio com a demanda. [...] E junto com eles, nós desenvolvemos tanto a origem, o processo e o produto semiacabado para ele, que a gente entrega e ele faz o produto final (JR, Óleo de Andiroba). 155 Eu acho que o cliente tem que entender bastante do processo dele. Então, ele tem que ter o conhecimento de crédito e o conhecimento do negócio dele. O que acontece com uma empresa PME, dependendo do tamanho dela, às vezes, a pessoa, o dono daquela empresa, ele vende parafuso, em uma lojinha, em um bairro pequeno. Então, a dificuldade até de tratar com esse público, é porque eu tenho níveis de conhecimento e de esclarecimento diferentes, para poder fazer a mesma abordagem. Então, eu tenho que estar verificando como essas pessoas são, como eu consigo explicar, dentro do universo dela, o benefício daquilo. [...] Então assim, eu acho que a principal competência mesmo é o esclarecimento do negócio e de como funciona ali a área de crédito dela (IO, Me Avise). 4.4.9 Aprendizados na geração dos serviços e produtos inovadores Todas as pessoas entrevistadas mecionaram os aprendizados ocorridos no desenvolvimento dos serviços e produtos inovadores. Em alguns casos, é possível identificar elementos de rotinas, como por exemplo, a sua capacidade de atuar como repositórios de conhecimento, citada por Becker (2004): [...] eu acho que foi um know how construído ao longo desses dez anos, que permite que esse mesmo modelo seja replicado para os demais biomas do Brasil (JR, Óleo de Andiroba). [...] a gente teve que estudar, teve que pesquisar [...] A gente foi conversar com as outras áreas, porque a gente não sabe tudo [...] (OP, Projeto Ovos). [...] nós tivemos muito aprendizado com esse projeto. Essa questão do conhecimento tradicional, das questões legais foi muito importante, foi uma coisa que ficou para outros departamentos, com certeza. E eu acho que a questão da preocupação com o meio ambiente ficou muito mais forte na cabeça da equipe (RP, PONJITA MR). Há casos em que se constatou a existência de facilitadores para o compartilhamento do aprendizado, tais como realização de eventos e a criação de ambientes para a troca de experiências, abordados por Nonaka, von Krogh e Voepel (2006) no item 2.1.2: [...] nós tentamos fazer isso o mais integradamente possível e um instrumento que a gente tem são reuniões gerais, onde participam desde o residente, o pós-graduando, o corpo clínico e o corpo de pesquisadores. Então, há pelo menos duas reuniões gerais, uma onde se varia para todo mundo, onde se varia desde caso clínico, até pesquisa mais básica. Uma outra, que é um seminário de pesquisa básica, onde os clínicos são convidados a ir, os residentes são convidados a ir. Além disso, a gente tem um programa, na busca de novos talentos, que é o programa Residência Doutorado, onde além de o indivíduo aprender o que tem que aprender na residência, a fundação garante a ele a subsistência para ele poder, depois que acabar a residência, mais alguns anos de pesquisador. E aí sim, voltar para o mercado com uma formação completa, de clínico e pesquisador. Então, a gente tem esses dois, primeiro essa coisa da integração através de eventos comuns e esse outro programa, que é um programa que busca talentos novos. (FAS, Sistema de Detecção na Imunohistoquímica). [...] “vamos criar um ambiente que possa ser um ponto de encontro dos funcionários para discutir coisas, ter um momento de reflexão, sair um pouco do dia a dia, do computador, do email, da planilha [...]”(MS, Projeto Ovos). 156 4.4.10 A importância dos aspectos legais e regulatórios no desenvolvimento dos serviços e produtos inovadores O conhecimento, atenção e respeito a alguns aspectos legais e regulatórios foram listados como críticos para o sucesso de alguns serviços e produtos inovadores. Esta observação é particularmente aplicável ao desenvolvimento do serviço “Nota Fiscal Eletrônica” e dos três produtos inovadores, “PONJITA MR.”, “Projeto Ovos: Ovo em Caixa e Sobremesas Líquidas” e o “Óleo de Andiroba das Mulheres Pescadoras da Ilha de Marajó”. Cabe ressaltar que por se tratarem de situações novas, foi reportado que houve intensa troca de informações entre as organizações pesquisadas e algumas instituições governamentais, que por vezes não possuíam métodos, parâmetros para avaliar e emitir pareceres sobre estes serviço e produtos inovadores. Neste sentido é fundamental mencionar o papel das empresas no fortalecimento destas instituições governamentais, ao compartilhar o conhecimento. 4.4.11 Evidências de características comuns às empresas de serviço e produto inovadores Nesta pesquisa foi constatada a evidência de três características comuns às empresas de serviço e produtos investigadas. A primeira característica diz respeito à cultura organizacional, invariavelmente citada como favorável à inovação: [...] a empresa, na verdade, são pessoas, pessoas formam uma empresa. Então, depende do perfil dessas pessoas. Quer dizer, isso começa com a diretoria da empresa, o presidente da empresa. Como é que são essas pessoas? Porque as pessoas procuram pessoas parecidas. Então, o presidente da nossa empresa, a pessoa para a qual eu reporto, é uma pessoa muito inovadora, criativa. Então, ele procura se cercar de pessoas assim. (MS, Projeto Ovos). Então, eu vejo que a principal contribuição nossa, para a inovação, está dentro de um ambiente que já existe dentro da Beraca, de participação e de diálogo principalmente, que envolve formações, equipes multidisciplinares etc. Que irriga esse ambiente com ideias e com soluções o tempo inteiro. Então, inovação não é um assunto tratado uma vez por ano, na reunião de planejamento. Inovação é um ambiente, quer dizer, propício, que nós temos na empresa e que se desenvolve a cada minuto, dentro de um clima e de um ambiente de cooperação e de cumplicidade muito forte, muito grande. E dentro de pessoas, de profissionais que têm suas competências nas mais diversas áreas de atuação e que fomentam o tempo inteiro soluções, alternativas de inovação, que pensam o tempo inteiro em estar na frente, em dar um passo adiante, que estão dispostas a assumirem riscos. Independente das consequências, que muitas vezes não são tão boas, quando você assume riscos. Mas eu acho que esse perfil e esse ambiente que nós temos na Beraca, contribui demais 157 para a inovação dentro da empresa (WR, Óleo de Andiroba). A segunda característica refere-se ao comportamento dos líderes destas organizações: [...] a empresa, na verdade, são pessoas, pessoas formam uma empresa. Então, depende do perfil dessas pessoas. Quer dizer, isso começa com a diretoria da empresa, o presidente da empresa. Como é que são essas pessoas? Porque as pessoas procuram pessoas parecidas. Então, o presidente da nossa empresa, a pessoa para a qual eu reporto, é uma pessoa muito inovadora, criativa. Então, ele procura se cercar de pessoas assim. (MS, Projeto Ovos). Eu acho que no embrião, esse foi um projeto liderado pelo Ulisses diretamente, que é o nosso presidente. Ele, desde o início até hoje abraçou, é a menina dos olhos da empresa. Então, ele, desde o embrião até hoje, é o pai desse projeto. Agora, nós temos hoje, uma equipe ampla dedicada a esse projeto (WR, Óleo de Andiroba). A terceira característica, estímulos para inovar, decorre das duas anteriores (cultura organizacional e comportamento dos líderes das organizações pesquisadas): [...] Nós temos, eu acho que é importante até você saber, que nós temos processos, nós temos um sistema fabril. Está primeiro na fábrica de Pederneiras, eu não sei se a Cláudia ou o Mauro, que as ideias podem vir dos funcionários. E é uma ideia muito interessante, que mudam processos fabris. Mas a pessoa não simplesmente tem que ter a ideia, a ideia fica com quem realmente aplica essa ideia. Não basta, por exemplo, eu chego para você: “-Ah, tive uma ideia.” E você vai lá e coloca em prática em ideia, conversa com o seu chefe. A ideia é sua, não é mais minha. E isso, a gente tem processos, premiações, não estou falando em forma financeira, que valorizem essas ideias, nós valorizamos muito isso. E isso ajuda muito (MP, Projeto Ovos). 4.5 Análise de template: a estrutura induzida 4.5.1 Template Inicial Para efetuar a análise de template foram criados códigos seguindo inicialmente o roteiro de entrevistas (Quadro - 14, item 3.5), que foi disposto como um template (Quadro 26). Das entrevistas de cada participante extraíram-se informações que foram ordenadas de acordo com a codificação previamente estabelecida, respeitando o produto ou serviço inovador a que se referiam. Durante este processo de ordenação das informações extraídas das entrevistas, houve modificações na codificação. Ocorreram adições de novos códigos com base nas informações encontradas, exclusões de alguns códigos existentes e em algumas situações, a hierarquia dos códigos foi alterada. 158 1. 2. 3. 4. PROJETO 1) Definição 2) Origem 3) Etapas 4) Dificuldades encontradas EQUIPE 1) Membros 2) Atitudes inovadoras 3) Estímulos para inovar INTERFACE COM O CLIENTE 1) Formas de trabalho: 2) Competências do cliente que ajudaram a empresa a inovar CONCEITOS 1) Inovação radical 2) Rotina 3) Hábito 4) Competência Quadro 26: Template inicial construído com base no Roteiro de Entrevistas Fonte: Elaborado pela autora Tomando-se como exemplo o produto inovador “PONJITA MR ” da 3M, o processo de ordenação das infomações extraídas ocorreu da seguinte forma: 1) Elaboração do template com base nas respostas colhidas na entrevista com a pesquisadora da empresa, a partir do template inicial (Quadro 26). Durante o processo de elaboração do template foram criados novos códigos, resultando o Quadro 27; 2) Elaboração do template com base na entrevista da Especialista em Meio Ambiente e Sustentabilidade, seguindo o mesmo procedimento indicado no item 1, resultando o Quadro 28; 3) Consolidação dos templates (Quadros 27 e 28), mediante a reordenação de hierarquia dos códigos, inserção e remoção de códigos, produzindo o Quadro 29. 159 PONJITA MR - Entrevistada: Pesquisadora 1) PROJETO PONJITA MR 1. Definição: 1. Buscam um conceito de produto robusto. 2. Produto com forte apelo ecológico. 3. Projeto DFSS (Development For Six Sigma) 4. É inovador porque: 1. Nunca ninguém tinha feito esse tipo de material (não –tecido), com fibra natural, para esponja de banho. 2. É inovador para o mundo. 3. O produto e variações de protótipo foram patenteados no Brasil. (proteção intelectual, característica da empresa?)18 2. Origem: 1. A 3M participou de um projeto chamado End to End de uma rede de hipermercados. 3. Etapas: 1. Validação da ideia a cada fase do projeto. 2. Fazer a análise crítca da ideia, com aprovação dos Gate Keepers ou Champions 3. Cada análise crítica da mudança tinha de ser feita junto com a diretoria 4. Dificuldades encontradas: 1. Prever o que o consumidor vai achar. 2) EQUIPE 1. Membros 1. Pelo menos 30 pessoas participaram do projeto 2. Equipe de Seis Sigma (ferramenta utilizada pela empresa) 3. Black belts técnicos e de negócios, de marketing. 4. Diretores técnicos e de negócios (análise crítica da mudança) 5. Gerentes técnicos. 6. Gerentes de negócios. 7. Gerentes de manufatura. 8. Desenvolvedor do produto. 9. Líderes de laboratório e negócios. 10. Engenheiro de processos. 11. Trabalho junto a equipes de suporte tais como EHS (Environmental Health and Safety), Jurídico e Toxicologia. 2. O que tem (teve de fazer): 1. Desenvolvido com muito comprometimento de todas as partes. 3. Atitudes inovadoras: 1. Todos davam muitas opiniões. 2. Um dia o engenheiro de processos quebrou o protocolo. 3. (ideia do engenheiro) foi por perceber o comportamento dos materiais do processo. Ele é uma pessoa de vasta experiência nesse processo 4. Estímulos para inovar: 1. Liberdade de 15% do tempo para trabalhar em algum da pessoa. É aquilo que a empresa não mandou você fazer, aquilo que a rotina não entra ali. É espontâneo. 5. Conhecimento: 1. Tivemos muito aprendizado com esse projeto. 2. Questões legais. 3. Criou-se e fortaleceu-se a cultura que é a preocupação com ecologia. 4. Mudou o pensamento das pessoas. 18 O que está em negrito são observações realizadas pela autora durante o processo de elaboração do template 160 5. 6. Nós somos muito próximos, os técnicos estão todos localizados no mesmo prédio. A troca de conhecimento é muito grande. (proximidade física) O contato com as nossas áreas internacionais é muito importante. 3) INTERFACE COM O CLIENTE 1. Formas de trabalho: 1. Falavam direto com usuários finais. 2. Realizaram pesquisas de opinião. 2. Competências (do cliente intermediário) que ajudaram a 3M a inovar: 1. Possuir política de sustentabilidade. 2. Interesse no tipo de produto em desenvolvimento na 3M. 3. Intenção de educar o consumidor final. 4. Intenção de ser qualificado neste aspecto. 3. Competências (do cliente final) que ajudaram a 3M a inovar: 1. Falar quais eram as necessidades deles, em relação ao que eles já tinham hoje para a limpeza do corpo no banho. 4) CONCEITOS 1. Inovação radical: eu acho que radical é uma coisa assim que, por exemplo, sei lá, 20, 30 anos atrás, não sei, quando inventaram a internet, aquilo foi uma inovação radical, eu acho. Uma coisa assim, que surgiu, não tinha, simplesmente não existia. 2. Rotina: é uma coisa que você tem de cumprir, independente de que aquilo esteja em sua cultura ou não. Eu acho que rotina é uma coisa necessária, independentemente de ser automático. 3. Rotina de inovação: ter o “hábito” de registrar uma ideia que você teve 4. Hábito: é uma coisa que é mais inconsciente, que já está mais automática na mente da pessoa. 5. Hábito de inovação: ter criado a mentalidade de ter liberdade de pensar 6. Competência: é você ter o conhecimento e saber aplicar 5) EMPRESA 1. Alterações na forma de trabalho: 1. Criou um departamento de sustentabilidade há 3 ou 4 anos atrás. 2. Competências para inovar: 1. É ter mente aberta para pensar. 2. Pensar fora da caixa. 3. Se permitir novas ideias. 4. Saber usar o seu conhecimento de novas ideias para produzir uma coisa 5. A 3M possui muitos bons técnicos em diversas áreas. 6. O conhecimento próximo. 7. Cultura de liberdade de pensamento (novamente o termo cultura aparece) 3. Inovação radical na empresa: 1. Sim, com certeza (supressor de poeiras, post it) Quadro 27: Template construído a partir de entrevista realizada com a Pesquisadora Fonte: Elaborado pela autora 161 PONJITA MR - Entrevistada: Especialista em Meio Ambiente e Sustentabilidade 1) PROJETO PONJITA 1. Definição: 1. É inovador porque: 1. Passo importante para a 3M do Brasil, que é a introdução de fibras naturais. 2. Como incorporar a biodiversidade do Brasil em nossos produtos. (competências desenvolvidas? aprendizados?). 3. É inovador em termos de Brasil, internamente para a 3M, para os nossos clientes e no exterior, por ser uma fibra exclusiva do Brasil. 4. Foi um divisor de águas dentro da 3M Brasil especificamente, porque foi um projeto que teve muita projeção interna e externa, puxando o viés de sustentabilidade. 5. Abriu o caminho para produtos que tenham mais atributos ambientais e sociais. 2. Origem: 1. Em 2008 a 3M promoveu um fórum de sustentatibilidade e o principal cliente deste projeto estava entre os convidados. 2. Na ocasião este cliente divulgou o programa End to End que era para ser realizado entre as top ten empresas como um desafio. 3. Melhoramento de um produto existente em pelo menos quatro aspectos ambientais e sociais. 4. O segundo desafio era fazer o estudo levando em consideração o ciclo de vida do produto levando em consideração o life cycle thinking, a lógica do ciclo de vida, neste estudo comparativo entre o produto existente e o novo produto. 3. Etapas: 1. Início: Já estava em andamento antes da proposta do cliente. 2. Início junto ao cliente: 2008 3. Tempo de desenvolvimento (colocado pelo cliente?): aproximadamente 1 ano e meio 4. Lançamento pela 3M: 2009 5. Divulgação do resultado do desafio promovido pelo cliente: 2010 4. Dificuldades encontradas: 1. Contabilizar (métricas) os melhoramentos realizados. 2. Ausência de bancos de dados quantitativos brasileiros, de domínio público para validar o estudo (sugere a necessidade de geração de metodologias próprias) 3. Passar as informações de forma apropriada para o consumidor, respeitando políticas internas da 3M e legislação. 4. Adequar os parâmetros da máquina, dada a variabilidade entre lotes de matéria-prima natural. 5. Estabelecer os parâmetros de qualidade (especificações). 6. Embalagem: de material duplo para mono, escolha das tintas sem metal pesado, a caixa passou de 28% para 100% de material reciclado. 7. Investigar aspectos de segurança ao trabalhar com o curauá. 2) EQUIPE 1. Membros: 1. Entidade independente para avaliação dos projetos. 2. 3M França. 3. Equipe técnica. 4. Desenvolvimento. 5. Engenharia de Embalagens. 6. Marketing 7. O key account do cliente. 8. Diretor. 9. Qualidade. 10. Manufatura. 2. O que tem (teve de fazer): 1. Proposição de metodologia para avaliar desgaste do novo produto comparativamente ao já existente (aprendizado) 3. Atitudes inovadoras: 1. Com este produto a gente conseguiu o melhoramento de várias partes, não só do produto, mas na embalagem primária, na embalagem segundária, no cordão, no processo. (competências desenvolvidas? aprendizados?). 162 2. 4. Fita 3M do Canadá ao invés do filme strech para paletização; redução no volume de resíduo de 85%. 3. Pet reciclado na manta sintética da esponja. 4. Novidade para toda a equipe como incorporar a biodiversidade do Brasil em nossos produtos. (competências desenvolvidas? aprendizados?). 5. Aspecto legal, a questão da propriedade genética. (competências desenvolvidas? aprendizados?). Estímulos para inovar: 3) INTERFACE COM O CLIENTE 1. Formas de trabalho: 1. Diretor teve de ir ao cliente, participar, falar, assinar o acordo, o pacto proposto pelo cliente. 2. Equipe de qualidade: validação para evitar passivo ambiental ou social. 2. 3. Competências (do cliente) que ajudam a 3M a inovar: 1. Houve uma entidade independente para validar os projetos. Faziam propostas para a melhor condução do próprio projeto. 2. Auxiliou a ampliar o escopo da abordagem do estudo em relação aos atributos. Competências (do cliente final) que ajudam a 3M a inovar: 1. VOC (Voice of Customer). Pesquisa com questões relacionadas com o produto que a 3M tem em mente. 4) CONCEITOS 1. Inovação radical: 1. Inovação: você entrar com uma coisa que o mercado quer, mas ele nem estava esperando. Você o surpreende, vai além do que ele estava querendo. 2. Exemplo de filme baseado em nanotecnologia (window film: solução para um conforto térmico, pois permite a passagem de luz e funciona como barreira térmica.) 3. A surpresa para o cliente faz parte da inovação. 4. Ás vezes é uma solução simples, é só o fato de você conhecer as tecnologias disponíveis e agregar. 2. Rotina: 1. É muito do que você estabelece para fazer. 2. Todo dia fazer as mesmas coisas. 3. Todo dia tem aquela sequência de tarefas sempre iguais. 4. Pode ser individual ou coletiva. 5. Rotina de inovação: ir todo o dia ao laboratório fazendo as mesmas análises, mudando algumas coisinhas. 3. Hábito: 1. É aquilo que não depende muito do teu meio externo, mas é seu mesmo. 2. A diferença (entre rotina e hábito) está na sequência. 3. É individual. 4. Hábito de inovação: Um hábito de inovação é eu pensar em como inovar a minha rotina (hábito > rotina; hábito associado à ideia, pensamento) 4. Competência: 1. Competência para inovar: ligar os recursos que você tem com o que você que desenvolver em função do que o mercado te pede. 5) EMPRESA 1. Alterações na forma de trabalho: 2. Foi um processo de doutrinação. Quadro 28: Template construído a partir de entrevista com a Especialista em Meio Ambiente e Sustentabilidade Fonte: Elaborado pela autora 163 PONJITA MR – Consolidação dos templates: Quadro 27 e Quadro 28 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. DEFINIÇÃO 1. Conceito de produto 2. É inovador porque: 1. Novo material (fibra natural) 2. Usa biodiversidade brasileira 3. Divisor de águas (sustentabilidade) ALCANCE DA INOVAÇÃO 1. Mundo 2. Projeção interna e externa ORIGEM 1. Serviços (Rede de Hipermercados) MOTIVO 1. Desafio de cliente 1. Melhoramento produto existente TEMPO DISPENDIDO 1. Início (revela que a ideia pode ser gerada antes do desafio, importante para rotinas de busca ) 2. Início junto ao cliente 3. Tempo de desenvolvimento 4. Lançamento ETAPAS (neste caso refletem a metodologia Six Sigma) 1. Validação da ideia. 2. Análise crítica da ideia DIFICULDADES ENCONTRADAS (conduzem às rotinas operacionais no sentido das resoluções de problemas; são um caminho para o aprendizado) 1. Prever o que o consumidor vai achar 2. Contabilizar melhoramentos 3. Acesso a bancos de dados 4. Informação ao consumidor 1. Respeito às leis (aspecto legal poderá ser uma categoria maior) 2. Respeito às políticas internas da empresa 5. Ajustar parâmetros da máquina 6. Estabelecer parâmetros de qualidade 7. Chegar segurança no trabalho com curauá EQUIPE (revela complexidade do processo) 1. Aproximadamente trinta pessoas 2. Diversas áreas 3. Multidisciplinar ATITUDES INOVADORAS 1. Quebra de protocolo: 1. Engenheiro de Processos 1. Percebeu comportamento de materiais (insight) 2. Pessoa experiente (característica pessoal; conhecimento prévio associado ao lado automático da rotina?) 10. ESTÍMULOS PARA INOVAR 1. Liberdade de 15% do tempo para trabalhar em algum interesse da pessoa (em P&D) 2. Empresa atribui crédito a quem gera a ideia 164 11. APRENDIZADO: 1. Questões legais 2. Proposição de metodologia para avaliar desgaste do novo produto 3. Melhoramento de várias partes do produto e da embalagem 4. Criação e fortalecimento de cultura preocupada com ecologia 5. Mudou o pensamento das pessoas. 1. Condições: 1. Proximidade física dos técnicos 2. Contato entre as pessoas é grande 12. INTERFACE COM CLIENTE 1. Formas de trabalho: 1. Comunicação com usuários finais. 2. Competências que ajudaram a 3M a inovar 1. (do cliente intermediário) 1. Política de sustentabilidade. 2. Interesse no produto em desenvolvimento na 3M. 3. Intenção de educar o consumidor final. 4. Intenção de ser qualificado neste aspecto. 2. (do cliente final) 1. Expor suas necessidades para a limpeza do corpo no banho. 13. CONCEITOS 1. Inovação radical 1. Coisa que surgiu, não existia 2. Inovação radical na empresa 1. Sim, com certeza (supressor de poeiras, post it) 3. Rotina: 1. Você tem de cumprir (obrigatoriedade) 2. Coisa necessária (necessidade) 3. Independe de ser automático 4. É muito do que você estabelece para fazer (controle) 5. Todo dia fazer as mesmas coisas (repetição) 6. Todo dia tem aquela sequência de tarefas sempre iguais (sequência e repetição) 7. Pode ser individual ou coletiva. 4. 5. 6. Rotina de inovação 1. Ter o hábito de registrar uma ideia que você teve (notar mistura da rotina com hábito) 2. Ir todo o dia ao laboratório fazendo as mesmas análises, mudando algumas coisinhas Hábito: 1. É mais inconsciente (automático) 2. Mais automático na mente da pessoa 3. Não depende muito do teu meio externo, mas é seu mesmo (indivíduo) 4. A diferença (entre rotina e hábito) está na sequência. 5. É individual. Hábito de inovação: 1. Ter criado a mentalidade de ter liberdade de pensar 2. Pensar em como inovar a minha rotina (hábito > rotina; hábito associado à ideia, pensamento) 165 7. Competência: 1. Ter o conhecimento e saber aplicar (conhecimento e aplicação / uso) 2. Ligar os recursos que você tem com o que você que desenvolver em função do que o mercado te pede (estabelecer relações) 3. É ter mente aberta para pensar (liberdade) 4. Pensar fora da caixa (abstração) 5. Se permitir novas ideias (liberdade) 6. Saber usar o seu conhecimento de novas ideias para produzir uma coisa (estabelecer relações) 14. EMPRESA 1. Alterações na forma de trabalho: 1. Criou um departamento de sustentabilidade há 3 ou 4 anos atrás (adaptação) 2. Competências para inovar: 1. A 3M possui muitos bons técnicos em diversas áreas. 2. O conhecimento próximo. 3. Cultura de liberdade de pensamento (novamente o termo cultura aparece) Quadro 29: Consolidação dos templates (Quadros 27 e 28) do Produto Inovador PONJITAMR Fonte: Elaborado pela autora O mesmo procedimento realizado para o produto PONJITAMR foi repetido para cada um dos produtos e serviços inovadores investigados. Alguns exemplos dos templates gerados durante o processo de ordenação das informações encontram-se no APÊNDICE C. O template final consolidando todos os serviços e produtos inovadores será discutido a seguir. 4.5.2 Análise do template final de serviços e produtos inovadores consolidados O template final mostra a estrutura subjacente aos serviços e produtos inovadores estudados, a qual foi construída pela identificação dos principais temas encontrados nas respostas das pessoas entrevistadas em cada um dos casos pesquisados. Cabe enfatizar que no processo de consolidação dos templates ocorreu a alteração da hierarquia dos itens e subitens estabelecidos em templates anteriores até atingir a conformação do template final (QUADRO 30). 166 1) DEFINIÇÃO 1. Conceito 2) ALCANCE DA INOVAÇÃO 1. Tipo da inovação 3) ÁREA DE ORIGEM 1. Serviços 2. Indústria 4) TEMPO DISPENDIDO e INVESTIMENTOS REALIZADOS 5) ETAPAS 1. Identificação de rotinas 2. Dificuldades encontradas e formas de superá-las 1. Resolução de problemas 2. Aprendizados 3. Desenvolvimento de competências 6) EQUIPE 1. Nível de complexidade no desenvolvimento do serviço / produto 7) ATITUDES INOVADORAS 1. Atitudes inovadoras pessoais 2. Desvio de padrões 8) INTERFACE COM O CLIENTE 1. Porte dos clientes 2. Expertise 3. Competências 9) APRENDIZADOS 1. Rotinas como repositório de conhecimento 2. Facilitadores de compartilhamento 10) ASPECTOS LEGAIS E REGULATÓRIOS 11) CARACTERÍSTICAS COMUNS ÀS EMPRESAS DE SERVIÇO E DE INDÚSTRIA 1. Cultura organizacional 2. Comportamento dos líderes 3. Motivações 12) CONCEITOS 1. Rotinas 1. Obrigação; 2. Repetitividade; 3. Processos; 4. Procedimentos. 167 2. Hábitos 1. Típico do indivíduo; 2. Subjetivo; 3. Liberdade de pensamento; 4. Criação; 5. Observação; 6. Desejo de mudança; 3. Competências para inovar 1. Testar e validar o novo; 2. Conhecimento; 3. Capacidade de fazer alguma coisa acontecer; 4. Olhar de outra forma; 5. Colocar em prática rapidamente; 6. Mente aberta para pensar; 7. Se permitir novas ideias; 8. Ligar os recursos que você tem com o que o mercado te pede; 9. Atributo que te ajuda a conseguir alguma coisa; 10. Qualificação para determinadas funções; 11. Agilidade no processo; 12. Boa comunicação entre departamentos; 13. Acesso à informação; 14. Ser eficiente e eficaz.; 15. Criar um ambiente propício para que as pessoas possam propor projetos; 16. Trabalhar e abrir espaço para parcerias. Quadro 30: Template Final consolidando Serviços e Produtos Inovadores Fonte: Elaborado pela autora 168 5 CONCLUSÕES O objetivo principal deste estudo foi entender o processo de inovação como sinalizador de rotinas de busca presentes no desenvolvimento de produtos e serviços inovadores. Para atingir tal objetivo foram propostos três objetivos específicos: 1. Identificar os elementos das rotinas de busca na obtenção de produtos e serviços em organizações inovadoras; 2. Entender as competências para inovar existentes nas empresas de serviço e de indústria pesquisadas; 3. Identificar as diferenças das rotinas de busca em organizações inovadoras com atuação em serviços e indústria. Em relação ao primeiro e segundo objetivos específicos, foram abordadas duas perspectivas: a percepção do indivíduo e a perspectiva teórica. Do ponto de vista da percepção individual, de um modo geral constatou-se a conotação negativa associada às rotinas, atribuindo às mesmas características tais como obrigação, repetitividade, processos, procedimentos. Isto corrobora com a afirmação de Lazaric (2007) e também lembra os elementos apontados por Becker (2004). As definições de rotinas encontradas apontam para a visão de Simon e March (1958). As respostas sobre o conceito de hábito, de modo geral, o caracterizam como um fenômeno típico do indivíduo, comportando certa subjetividade. Os hábitos de inovação revelaram-se mais próximos de atividades inovativas, tais como, liberdade de pensamento, criação, observação, desejo de mudança, dentre outras qualificações. A partir destes resultados, como um achado preliminar desta pesquisa, pode-se pensar em circunstâncias que estimulem a criação e favoreçam hábitos de inovação das pessoas nas organizações. No que diz respeito às competências para inovar, observa-se um grande espectro de entendimentos tais como testar e validar o novo, conhecimento, capacidade de fazer alguma coisa acontecer, olhar de outra forma e colocar em prática rapidamente, mente aberta para pensar, se permitir novas ideias, ligar os recursos que você tem com o que o mercado te pede, 169 atributo que te ajuda a conseguir alguma coisa, qualificação para determinadas funções, agilidade no processo, boa comunicação entre departamentos, acesso à informação, ser eficiente e eficaz. São definições que de modo geral remetem a uma perspectiva individual em lidar com o novo, embora algumas respostas façam menção à competência corporativa ou organizacional, como por exemplo, criar um ambiente propício para que as pessoas possam propor projetos e trabalhar e abrir espaço para parcerias. Em relação à perspectiva teórica foram constatadas as dimensões conceituais de rotinas, como as expostas por Becker (2004) – “Padrões de Comportamento Repetidos”, “Natureza Coletiva”, “Natureza Processual”, “Dependência do Contexto”, “Dependência da Trajetória e Gatilhos” – na maioria dos serviços e projetos inovadores estudados, conforme mostrado no Quadro 22. Também foram observadas algumas especificidades tais como no caso do serviço Nota Fiscal Eletrônica (NF-e) que não apresentou “Padrões de Comportamento Repetidos”; além disso, apenas os serviços Nota Fiscal Eletrônica (NF-e) e Me Avise e os produtos PONJITAMR e Óleo de Andiroba das Mulheres Pescadoras da Ilha de Marajó apresentaram evidências de “Dependência do Contexto”. Os serviços Me Avise e Me Proteja mostraram aspectos contrários à dimensão “Natureza Coletiva”. Com relação ao terceiro objetivo específico – “Identificar as diferenças das rotinas de busca em organizações inovadoras com atuação em serviços e indústria” – ao se comparar as atividades (serviços e indústria) nota-se que em ambas as situações, invariavelmente, ocorrem as dimensões conceituais de rotinas “Dependência de Trajetória e Gatilhos” e “Esforço”. Do ponto de vista prático verificou-se que a hierarquia de rotinas (“rotinas operacionais e de investimento sendo regidas pelas rotinas de busca”) apontada por Nelson e Winter (1982) nem sempre se confirma. Há casos em que não ocorreram “rotinas de investimentos”, como por exemplo, nos serviços inovadores da Serasa Experian (Application Manager 3, Nota Fiscal Eletrônica, Me Avise e Me Proteja) e no produto inovador da 3M (PONJITA MR ). Nestas duas situações as “rotinas de busca” originaram diretamente as “rotinas operacionais”. 5.1 Contribuições da tese A principal contribuição desta tese é metodológica, seja no que se refere ao recorte de 170 estudo, centrado em projetos de inovação já realizados, seja no próprio tratamento das informações. Ao estudar os projetos foi possível capturar evidências do processo de inovação que são fundamentais no entendimento da rotina de busca, um construto teórico até hoje pouco operacionalizado. Entretanto a confirmação dessas evidências só será possível a partir de uma ampliação do escopo da pesquisa. Em relação ao tratamento das informações, houve aqui um esforço de articular a percepção do indivíduo com o efetivamente ocorrido no projeto. Neste sentido é uma tentativa de aplicação da proposta multinível de Vromen (2009). Este esforço, entretanto, requer a adoção de uma perspectiva metodológica multiparadigmática. Conforme mencionado anteriormente, nesta pesquisa foi possível confirmar a existência de uma hierarquia das rotinas bem como identificar as rotinas de busca, as de investimentos e as operacionais. Além disto, constatou-se o impacto das rotinas de busca sobre as demais rotinas. Outra contribuição deste estudo reside na constatação da existência de uma estrutura comum, subjacente aos diferentes tipos de serviços e produtos inovadores investigados. Dentre os elementos que compõem esta estrutura encontram-se os clientes das organizações inovadoras; verificou-se que o porte de tais clientes é um fator importante para o desenvolvimento de serviços e produtos inovadores. Os aspectos legais e regulatórios também foram identificados como fatores importantes nesta estrutura, pois podem se constituir em uma barreira à concretização do desenvolvimento de um novo serviço ou produto. Este trabalho também contribuiu para o esclarecimento da origem dos serviços e produtos inovadores, ou seja, constatou-se que atividades de serviços induziram inovações em atividades de serviços e em atividades de indústria. 5.2 Limitações da tese O tipo de pesquisa utilizado não é generalizável, portanto, pode-se dizer que constitui em uma limitação da tese. Outra limitação refere-se à amplitude dos serviços e produtos inovadores estudados, ou seja, seria interessante ampliar o espectro de investigação de modo a contemplar outras atividades de serviços e produtos. 171 5.3 Sugestões para agenda de pesquisas futuras Como parte da agenda de pesquisas futuras sugere-se a investigação em profundidade dos hábitos de inovação. Sugere-se também a realização de mais estudos para confirmação das evidências encontradas nesta tese e realização de um aporte quantitativo. Outra possibilidade de investigação aberta por este trabalho refere-se à possibilidade de se estudar de que forma as inovações que ocorrem em organizações privadas contribuem para o fortalecimento das instituições governamentais que atuam sobre aspectos legais e regulatórios. 172 REFERÊNCIAS ABELL, P.; FELIN, T.; FOSS, N. Building micro-foundations for the routines, capabilities, and performance links. Managerial & Decision Economics, v. 29, n. 6, p 489-502. 2008 ABERNATHY, W. 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Explique o motivo que o (a) leva a pensar assim. 7) O que você faz para buscar uma inovação para a empresa em que trabalha? 8) De que forma você acha que as inovações da empresa em que você trabalha são geradas? 187 Bloco 2: 4) Fazendo uma retrospectiva de sua vivência nesta empresa, descreva como você acha que a empresa mudou, com relação à busca para inovar. 5) O que motivou essa(s) mudança(s) que você mencionou. 6) Alguma forma de trabalho voltado à inovação foi abandonada ou criada por causa dessa(s) mudança(s)? Bloco 3: 1. Defina o que você compreende como competência para inovar. 2. Quais das suas competências o (a) ajudam a inovar? 3. Que competências a empresa em que você trabalha possui para inovar e quais ela precisa desenvolver? 4. A empresa em que você trabalha abandonou alguma competência para inovar para se adaptar a uma nova situação? 5. A empresa pode facilmente mudar seu esquema e processos organizacionais para atender as necessidades de um novo produto /serviço? Bloco 4: 1) Defina inovação radical. Dê um exemplo. 2) Como você busca uma inovação radical para a empresa em que trabalha? 3) A empresa em que você trabalha já fez alguma inovação radical? Em caso positivo o que ela fez? 4) Como a empresa em que você trabalha busca uma inovação radical? 5) A empresa introduz regularmente novos produtos que são radicalmente diferentes daqueles que já existem no mercado? 6) É sempre a primeira a introduzir produtos / serviços radicalmente inovadores? 7) Defina rotina e hábito. Qual a diferença entre as duas definições para você? 8) O que você definiria como uma rotina em busca da inovação? E um hábito de inovação? 188 Roteiro 2. Esclarecimentos iniciais: ● Agradecimento; ● Confidencialidade e devolutiva; ● Informações gerais sobre o projeto; (tese de doutorado sobre inovação em diferentes atividades) ● Informações gerais sobre o método da pesquisa. (entrevistas semi-estruturadas) Data: Empresa: Setor ou Atividade: Nome do entrevistado: Idade: Escolaridade / Formação: Posição ou função que desempenha na empresa: Tempo de experiência na empresa e na posição: Bloco 1: Projeto 6. Como surgiu a ideia do projeto na empresa? 7. Como foi desenvolvido o projeto? (etapas, duração) 8. Quais foram as principais dificuldades encontradas neste projeto e como elas foram superadas? 9. Houve um registro destas dificuldades e soluções para formalizar o aprendizado da situação? 10. Você considera este produto inovador? Por quê? (Em caso positivo, em que extensão? - novo para a empresa? Novo para os clientes existentes da empresa? Novo no mundo?) 189 Bloco 2: Equipe participante dos projetos 6) Por favor, descreva a(s) equipe(s) que participou (param) de todas as etapas do projeto, desde sua concepção até hoje. (Nome do departamento, quantas pessoas e respectivas formações, suas atividades diárias e como elas fazem) 7) Em sua opinião o que os participantes destes projetos fizeram para inovar? 8) De que forma os participantes destes projetos foram estimulados a inovar? 9) Como os participantes destes projetos compartilham suas experiências e aprendizados? (Há algum mecanismo formal para isto?) 10) Alguma forma de trabalho voltado à inovação foi abandonada ou criada por causa desses projetos? Bloco 3: Interface com cliente 1. Seus clientes contribuiram para a inovação deste projeto? Como isto ocorreu? 2. Quais das competências de seus clientes que ajudam a empresa a inovar? 3. Que competências empresa possui para inovar e quais ela precisa desenvolver? 4. A empresa abandonou alguma competência para inovar para se adaptar a uma nova situação? 5. A empresa pode facilmente mudar seu esquema e processos organizacionais para atender as necessidades de um novo produto /serviço? Bloco 4: Conceitos 7. Defina inovação radical. Dê um exemplo. 8. Como você busca uma inovação radical para a empresa em que trabalha? 9. A empresa já fez alguma inovação radical? Em caso positivo o que ela fez? 10. Como a empresa busca uma inovação radical? 11. Defina rotina e hábito. Qual a diferença entre as duas definições para você? 12. O que você definiria como uma rotina em busca da inovação? E um hábito de inovação? 190 APÊNDICE C Desenvolvimento e evolução dos templates 191 Application Manager 3 Consolidação dos templates dos entrevistados: Gerente de Plataformas de Decisão na Diretoria de Pessoa Física e Área de Desenho de Soluções. 1) DEFINIÇÃO 1. Conceito de produto. 2. Service Oriented Architecture – SOA 3. Situações e riscos diferentes 4. É inovador porque: 1. Mudou abordagem de mercado. 2. Mudou a maneira de pensar 3. Faz com que os produtos da empresa se comuniquem 2) ALCANCE DA INOVAÇÃO 1. Novo para o mercado brasileiro 3) ORIGEM 1. Serviços (banco) 4) MOTIVO 1. Demanda de grande banco brasileiro 1. Possuia estratégia de concessão de crédito 2. Consumia alguns serviços da Serasa 3. Queria conhecer não correntistas 4. Fornecer crédito massificado 5. Em tempo real 6. Aprovar com certeza 7. Serasa Experian faz o que o cliente não consegue aprovar na hora 8. Serasa Experian agregou serviços para conceção de cartão 5) TEMPO DISPENDIDO 1. Início: 2007 2. Tempo de desenvolvimento: ~3000 horas (~ 6 meses) 3. Lançamento: 2008 6) ETAPAS 1. Faseado (modular?) 7) DIFICULDADES ENCONTRADAS 1. Incorporar fornecedores / terceiros no processo; 192 2. Mudar a cabeça da área comercial de vendedor para consumidor 3. Quebra de paradigma porque a Serasa Experian era pautada em produtos (caixinhas) 8) EQUIPE 1. 2. Membros 1. 15 pessoas 2. Equipe Comercial 3. Equipe de Produtos 4. Tecnologia (TI) – ponto focal 5. Fornecedores (Importante para Modelo de Gallouj) O que teve de fazer: 1. Quebrar paradigma de usar serviço de terceiro (inovação organizacional) 2. Criar uma área para gerir fornecedor (inovação organizacional) 3. Saber ouvir (atitudes pessoais) 4. Saber identificar (atitudes pessoais) 5. Saber relacionar o que (o cliente) está falando com o que o mercado está fazendo 6. Identificar o perfil do seu interlocutor 9) ATITUDES INOVADORAS 1. Pessoas de TI com visão comercial crítica para pegar uma especificação funcional 10) ESTÍMULOS PARA INOVAR 1. 11) APRENDIZADO 1. 12) INTERFACE COM CLIENTE 1. Modelo mental do AM3 surgiu no cliente. 13) METODOLOGIAS USADAS NO DESENVOLVIMENTO 14) ASPECTOS LEGAIS OU REGULATÓRIOS 1. 15) EMPRESA 193 Application Manager 3 Entrevistado: Gerente de Plataformas de Decisão na Diretoria de Pessoa Física 1) Definição 1. Conceito de produto. 2. Depende do desejo do cliente. 3. Situações muito diferentes, com riscos diferentes (amplitude de aplicação características serviço). 4. Esforço tecnológico grande. 5. Não veio como projeto; escapou às regras / processos da empresa 6. É inovador porque: 1. Muda a forma como a Serasa Experian vê o mercado. 2. Faz com que os produtos da Serasa Experian se comuniquem entre si. 3. Novo para o mercado brasileiro. 2) Origem 1. A gente não tem um programa de inovação. 2. É o mercado que pede. 3. Os pontos de contato com o mercado trazem a inovação para dentro. 4. Cliente: 1. Grande banco brasileiro 2. Já possuia estratégia própria de concessão de crédito. 3. Já consumia alguns serviços da Serasa Experian. 4. Começou com cartão de crédito e que são não correntistas. 5. Início: 2007 6. Tempo de desenvolvimento: ~ 3000 horas (~ 6 meses). 7. Lançamento: 2008 8. Motivo: 1. Fornecer crédito massificado. 2. Em tempo real. 3. Aprovar com certeza. 4. Serasa Experian faz o que cliente não consegue aprovar na hora. 5. Serasa Experian agregou serviços para concessão de cartão. 194 3) Etapas: 1. Faseado: não precisa ficar excepcional de cara, conta com sucesso do produto. 4) Dificuldades encontradas: 1. Colocar a parte do workflow de serviços dentro do portifolio, incorporar fornecedores no processo (quarteirização de etapas). 2. Desafio de mudar a cabeça da área comercial de vendedor para consultor. 3. Cliente já tinha 15 empresas contratadas ou subcontratadas. 4. Cliente juntava fornecedores de forma conveniente. 5) Superação das dificuldades: 1. Apresentação de cases de sucesso. 2. Treinar a equipe. 2. EQUIPE 1) Membros: 1. 15 pessoas 2. Equipe comercial 3. Equipe de produtos 4. Tecnologia (TI) – ponto focal 2) O que tem (teve) de fazer: 1. Perguntas certas. 2. Entender o que o produto tem de fazer no cliente (especificação funcional). 3. Entender o processo de concessão de crédito. 4. Fazer os departamentos e unidades de negócios conversarem (Pessoa Física e Pessoa Jurídica). 3) Atitudes inovadoras: 1. Pessoas de TI com visão comercial críticos para pegar especificação funcional. 2. Pensar no negócio do cliente. 3. Habilidade de sair um pouco fora da caixa. 4. Alta maleabilidade na hora de pensar a solução. 4) Estímulos para inovar. 3. INTERFACE COM O CLIENTE 1) Formas de trabalho: 1. Característica do mercado de crédito brasileiro. 2. Falta de clareza de informações de desempenho dos clientes (fragilidade). 3. Dificuldade em saber o quanto está contribuindo para o negócio do cliente. 195 4. Contratos de no disclosure. 2) Competências que ajudam a Serasa Experian a inovar: 1. Atenção para o mercado. 2. Clareza do negócio. 4. CONCEITOS 1) Inovação radical 1. Alguma coisa que tenha feito uma ruptura. 2. Algo capaz de mudar mesmo a vida das pessoas, a dinâmica do cotidiano. 3. Que traga novos hábitos. 4. Exemplo: carro a álcool, celular, microondas. 2) Rotina: 1. Grupo de processos ou ações que a gente faz de maneira mais corriqueira. 2. Tem uma periodicidade para acontecer. 3. Talvez englobe uma coisa que está mais no processo. 4. Ciclo de inovação: no passado (até a chegada da Experian) existia o período para ter ideia, depois o período de ver quais servem; maturar. 5. Não fazia tão parte de nosso dia a dia pensar em qualquer alternativa que pudesse trazer um ganho para o negócio no sentido de inovação. 6. Tinha uma sistemática para tratar mais da rotina, mas não da inovação de produtos e processos. 7. A gente nunca teve isso aqui. 8. É uma coisa que não faz parte do nosso dia a dia: pensar em inovação. 9. É uma coisa que está bem apartada, fica restrita a alguns fóruns. 10. Rotina é mais coletiva 3) Hábito: 1. Tem ações boas e ruins. 2. Que estão fora do padrão. 3. Pode ser um vício, mau hábito. 4. Tem periodicidade. 5. Tem regularidade. 6. Além de englobar uma coisa que está mais no processo, envolve um pouco, talvez, de quebra-galho. 7. Coisas que você vai amoldando em um processo maior. 8. A Serasa Experian precisa de alguma estruturação para criar nas pessoas esse 196 hábito, esse desejo de mudar. 9. Talvez começando pela rotina o hábito possa: 1. Ser uma coisa que possa atingir cada vez mais pessoas. 2. Talvez começar de forma sistemática 3. Um pouco chata no começo. 4. Para algumas pessoas vai fazer mais sentido 5. Elas sim possam ter o hábito de começar a inovar. 5. EMPRESA: 1) Alterações na forma de trabalho: 1. Possuia um Grupo de Dinamização de Projetos (GDP) – pessoas diferentes. 2. Segue uma metodologia de projetos. 3. Aquisição pela Experian foi ganho de know how. 4. Ciclo de inovação: no passado (até a chegada da Experian) existia o período para ter ideia, depois o período de ver quais servem; maturar. 5. Não fazia tão parte de nosso dia a dia pensar em qualquer alternativa que pudesse trazer um ganho para o negócio no sentido de inovação. 6. Tinha uma sistemática para tratar mais da rotina, mas não da inovação de produtos e processos. 7. A gente nunca teve isso aqui. 8. É uma coisa que não faz parte do nosso dia a dia: pensar em inovação. 9. É uma coisa que está bem apartada, fica restrita a alguns fóruns. 2) Competências para inovar: 1. Portifólio de produtos extenso. 2. Exposição de mercado, segmentos, clientes de diferentes portes. 3. Tecnologia de crédito. 4. Grande conhecimento. 5. Falta processo estruturado de inovação. 3) Inovação radical na empresa: 1. Na Serasa Experian vive-se de inovação incremental. 2. A gente dá um passinho pequenininho. 3. Hoje só tenho produtos que auxiliam as empresas de cobrança. 4. O radicalismo estaria associado a eu trazer todo o departamento de crédito de um banco para dentro da Serasa. 5. Radical seria uma verticalização: 197 1. 6. 7. 8. Deixa de fornecer só a informação e passa a assumir um serviço mesmo. Quando penso em inovar: 1. Penso em inovar em processos; 2. Trazer mais uma etapa de um ciclo para cá, dentro da minha estrutura. O AM3: 1. Não deixa de ser muito diferente disso. 2. Não estou tirando de vez um departamento de crédito do cliente. 3. Mas estou tirando uma série de contratinhos que ele mantinha. Foi em 1991: 1. Quando a informação de crédito foi aberta para o varejo também. 2. Eu não sei se isso é uma quebra de paradigma ou se é uma inovação. 3. Foi uma iniciativa do grupo que estava na gestão na época, passar, disponibilizar as informações daqui para o mercado. E, com isso, trazer também muita informação do mercado para cá. 9. A próxima grande onda vai ser o cadastro positivo: 1. Não é uma inovação mundial. 2. É uma coisa que está aí há muito tempo. 3. É difícil colocar em prática. 4. Eu acho que é mais uma questão de convencimento do mercado que a informação positiva é importante. 5. Diz respeito ao histórico de crédito. 6. As pessoas passam a ser tratadas de maneiras diferentes porque são diferentes. 198 Application Manager 3 Análise de resultados das respostas do Gerente de Plataformas de Decisão na Diretoria de Pessoa Física O respondente com frequência refere-se ao serviço da empresa como um produto e não como um serviço. Sua linguagem denota o pensamento subliminar de empresa de manufatura, embora esteja atuando em serviços. (portifolio de produtos extenso) Nota-se que o respondente associou o termo inovação radical a novos hábitos e como exemplo mencionou produtos, embora trabalhe em serviços. (carro a álcool, celular, microondas) No entendimento do respondente a empresa realiza inovações incrementais (a gente dá um passinho pequenininho). A ideia de inovação radical do respondente está associada à inovação organizacional (citar autor para explicar) (o radicalismo estaria associado a eu trazer todo o departamento de crédito de um banco para dentro da Serasa Experian) O respondente reconhece que o AM3 é de certa forma, uma inovação radical (Radical seria uma verticalização. Deixa de fornecer só a informação e passa a assumir um serviço mesmo. Quando penso em inovar, penso em inovar em processos; trazer mais uma etapa de um ciclo para cá, dentro da minha estrutura. O AM3 não deixa de ser muito diferente disso; não estou tirando de vez um departamento de crédito do cliente, mas estou tirando uma série de contratinhos que ele mantinha. O respondente demonstra dúvida ao exemplificar uma inovação radical realizada pela sua empresa e cita o fato quando a informação de crédito foi aberta para o varejo também. Na opinião do respondente a Serasa Experian precisa de alguma estruturação para criar nas pessoas o hábito de mudar: A Serasa Experian precisa de alguma estruturação para criar nas pessoas esse hábito, esse desejo de mudar. Talvez começando pela rotina o hábito possa ser uma coisa que possa atingir cada vez mais pessoas. Talvez começar de forma sistemática, um pouco chata no começo. Para algumas pessoas vai fazer mais sentido. Elas sim possam ter o hábito de começar a inovar. (checar a escrita).Por este entendimento depreende-se ser possível criar o hábito; além disso, a pessoa inconscientemente cita a importância do hábito de inovar fazer sentido, o que se explica por WEICK. 199 Application Manager 3 Entrevistado: Área de Desenho de Soluções. 1. Definição: 1. Camada de integração, camada de software que consegue falar com dois ou mais produtos. 2. Service Oriented Architecture – SOA. 3. Há uma questão conceitual forte, que é pensar em produto e pensar em serviço. 4. É inovador porque: 1. Quebrou o paradigma de produto. 2. Mudou a maneira de pensar. 3. Mudou a maneira de abordar o mercado. 2. Origem: 1. Começou com uma demanda específica. 2. O cliente precisava de um parceiro que pudesse ajudá-lo a conhecer os não clientes. 3. Demanda que não se encaixa em nenhum portfólio que a gente tem pronto, solução customizada (ad hoc). 4. O modelo mental do AM3 surgiu no cliente (banco). 3. Etapas: 4. Dificuldades encontradas: 1. Quebra de paradigma porque a Serasa Experian era pautada em produtos, que são caixinhas. 1) EQUIPE 1. Membros: 1. Área comercial, área de produtos, área de desenho de soluções. 2. Fornecedores. 2. O que tem (teve) de fazer: 1. Quebrar o paradigma de usar o serviço de terceiro (validação telefônica de call center). 2. Criar uma área para gerir o fornecedor (terceiro) 3. Saber ouvir. 4. Saber identificar. 5. Saber relacionar o que (o cliente) está falando com o que o mercado está 200 fazendo. 6. Identificar o perfil do seu interlocutor. 3. Atitudes inovadoras: 2) INTERFACE COM O CLIENTE 1. Formas de trabalho: 2. Competências que ajudam a Serasa Experian a inovar: 1. Grandes players do mercado (sugerindo porte ou expertise). 2. Grande anseio de crescimento. 3. Conhecimento do próprio negócio. 4. Compartilhamento das necessidades. 3) CONCEITOS 1. Inovação radical: 1. Consumir música pela internet. 2. Vender música em formato eletrônico. 2. Rotina: 1. Algo mais imposto. 2. Caráter de obrigação. 3. Mais coletivo. 3. Hábito: 1. Mais natural. 2. Mais espontâneo. 3. Individual. 4. Talvez consiga trazer mais inovação. 4. Competência: 1. Conhecimentos, Habilidades e Atitudes. 2. Habilidade é algo mais intrínseco ao ser humano. A minha capacidade de realizar uma atividade (conceito de habilidade igualado à capacidade) 4) EMPRESA 1. Competências para inovar: 1. Disponibilidade de informação. 2. Inovação radical na empresa: 201 1. Tenho presenciado frentes de trabalho na empresa falando de inovação. 2. Tudo o que se faz aqui em relação à inovação está ligado a uma demanda ou possibilidade de demanda, para não ser aquela inovação solta. 3. Orientada para o mercado. 3. Como busco uma inovação: 1. Leio bastante (sites, revista, artigos, jornal, livros). 2. Converso com pessoas. 3. Acabo fazendo correlações. 4. Acaba surgindo uma ideia. 202 Application Manager 3 Análise de resultados das respostas da pessoa da Área de Desenho de Soluções. Confirmação da ideia de inovação modular: essa alguma coisa pode ser tudo o que ele me pediu ou pode ser o mínimo necessário para que ele coloque aquilo para funcionar. (ideia de modularidade) Indicativos de que o serviço foi viabilizado por uma nova tecnologia. No entanto, primeiro houve a aproximação para a identificação da necessidade do cliente e posteriormente foi buscada a solução tecnológica que viabilizou o serviço. Neste sentido, a inovação em serviço direcionou o uso da tecnologia: Depois a gente conseguiu criar uma arquitetura, do ponto de vista de tecnologia, que me facilitasse a replicação desse modelo. (Mesmo caso da NF-e) Existem algumas ondas aí, o tal do SOA, que é o Service Oriented Architecture, a arquitetura orientada a serviços. E isso tudo provê, para quem é de tecnologia, essas funcionalidades de você consumir coisas isoladas e transformá-las em uma coisa única. Elemento que justifica a classificação de Gallouj (Ad hoc): Demanda que não se encaixa em nenhum portfólio que a gente tem pronto, solução customizada. Presença de fornecedores na inovação: A gente está aliado a grandes parceiros de tecnologia...Temos contato com muitos especialistas destes fornecedores. São pessoas de grande renome no mercado, especialistas em um campo específico de atuação, que vem aqui nos trazer informações. E quando a gente tem algum projeto que demanda conhecimento específico que a empresa ainda não tem, a gente trabalha com a locação de profissionais desse fornecedor, montando workshops para que se possam passar os conceitos. 203 PONJITA MR – Consolidaçãodo templates das entrevistas: Pesquisadora e Especialista em Meio Ambiente e Sustentabilidade 1. DEFINIÇÃO 1. Conceito de produto 2. É inovador porque: 1.Novo material (fibra natural) 2.Usa biodiversidade brasileira 3.Divisor de águas (sustentabilidade) 2. ALCANCE DA INOVAÇÃO 1. Mundo 2. Projeção interna e externa 3. ORIGEM 1. Serviços (Rede de Hipermercados) 4. MOTIVO 1. Desafio de cliente 1.Melhoramento produto existente 5. TEMPO DISPENDIDO 1. Início (revela que a ideia pode ser gerada antes do desafio, importante para rotinas de busca) 2. Início junto ao cliente 3. Tempo de desenvolvimento 4. Lançamento 6. ETAPAS (neste caso refletem a metodologia Six Sigma) 1. Validação da ideia. 2. Análise crítica da ideia 7. DIFICULDADES ENCONTRADAS (conduzem às rotinas operacionais no sentido das resoluções de problemas; são um caminho para o aprendizado) 1. Prever o que o consumidor vai achar 2. Contabilizar melhoramentos 3. Acesso a bancos de dados 204 4. Informação ao consumidor 1.Respeito às leis (aspecto legal poderá ser uma categoria maior) 2.Respeito às políticas internas da empresa 5. Ajustar parâmetros da máquina 6. Estabelecer parâmetros de qualidade 7. Chegar segurança no trabalho com curauá 8. EQUIPE (revela complexidade do processo) 1. Aproximadamente trinta pessoas 2. Diversas áreas 3. Multidisciplinar 9. ATITUDES INOVADORAS 1. Quebra de protocolo: 1. Engenheiro de Processos 1. Percebeu comportamento de materiais (insight) 2. Pessoa experiente (característica pessoal; conhecimento prévio associado ao lado automático da rotina?) 10. ESTÍMULOS PARA INOVAR 1. Liberdade de 15% do tempo para trabalhar em algum interesse da pessoa (em P&D) 2. Empresa atribui crédito a quem gera a ideia 11. APRENDIZADO: 1. Questões legais 2. Proposição de metodologia para avaliar desgaste do novo produto 3. Melhoramento de várias partes do produto e da embalagem 4. Criação e fortalecimento de cultura preocupada com ecologia 5. Mudou o pensamento das pessoas. 1.Condições: 1. Proximidade física dos técnicos 2. Contato entre as pessoas é grande 205 12. INTERFACE COM CLIENTE 1. Formas de trabalho: 1.Comunicação com usuários finais. 2. Competências que ajudaram a 3M a inovar 1.(do cliente intermediário) 1. Política de sustentabilidade. 2. Interesse no produto em desenvolvimento na 3M. 3. Intenção de educar o consumidor final. 4. Intenção de ser qualificado neste aspecto. 2.(do cliente final) 1. Expor suas necessidades para a limpeza do corpo no banho. 13. CONCEITOS 1. Inovação radical 1.Coisa que surgiu, não existia 2. Inovação radical na empresa 1.Sim, com certeza (supressor de poeiras, post it) 3. Rotina: 1.Você tem de cumprir (obrigatoriedade) 2.Coisa necessária (necessidade) 3.Independe de ser automático 4.É muito do que você estabelece para fazer (controle) 5.Todo dia fazer as mesmas coisas (repetição) 6.Todo dia tem aquela sequência de tarefas sempre iguais (sequência e repetição) 7.Pode ser individual ou coletiva. 4. Rotina de inovação 1.Ter o hábito de registrar uma ideia que você teve (notar mistura da rotina com hábito) 2.Ir todo o dia ao laboratório fazendo as mesmas análises, mudando algumas coisinhas 5. Hábito: 206 1.É mais inconsciente (automático) 2.Mais automático na mente da pessoa 3.Não depende muito do teu meio externo, mas é seu mesmo (indivíduo) 4.A diferença (entre rotina e hábito) está na sequência. 5.É individual. 6. Hábito de inovação: 1.Ter criado a mentalidade de ter liberdade de pensar 2.Pensar em como inovar a minha rotina (hábito > rotina; hábito associado à ideia, pensamento) 7. Competência: 1.Ter o conhecimento e saber aplicar (conhecimento e aplicação / uso) 2.Ligar os recursos que você tem com o que você que desenvolver em função do que o mercado te pede (estabelecer relações) 3.É ter mente aberta para pensar (liberdade) 4.Pensar fora da caixa (abstração) 5.Se permitir novas ideias (liberdade) 6.Saber usar o seu conhecimento de novas ideias para produzir uma coisa (estabelecer relações) 14. EMPRESA 1. Alterações na forma de trabalho: 1.Criou um departamento de sustentabilidade há 3 ou 4 anos atrás (adaptação) 2. Competências para inovar: 1.A 3M possui muitos bons técnicos em diversas áreas. 2.O conhecimento próximo. 3.Cultura de liberdade de pensamento (novamente o termo cultura aparece) 207 PONJITA MR Entrevistada: Pesquisadora 1) PROJETO PONJITA MR 1. Definição: 1. Buscam um conceito de produto robusto. 2. Produto com forte apelo ecológico. 3. Projeto DFSS (Development For Six Sigma) 4. É inovador porque: 1.Nunca ninguém tinha feito esse tipo de material (não –tecido), com fibra natural, para esponja de banho. 2.É inovador para o mundo. 3.O produto e variações de protótipo foram patenteados no Brasil. (proteção intelectual, característica da empresa?) 2. Origem: 1. A 3M participou de um projeto chamado End to End de uma rede de hipermercados. 3. Etapas: 1. Validação da ideia a cada fase do projeto. 2. Fazer a análise crítca da ideia, com aprovação dos Gate Keepers ou Champions 3. Cada análise crítica da mudança tinha de ser feita junto com a diretoria 4. Dificuldades encontradas: 1. Prever o que o consumidor vai achar. 2) EQUIPE 1. Membros: 1. Pelo menos 30 pessoas participaram do projeto 2. Equipe de Seis Sigma (ferramenta utilizada pela empresa) 3. Black belts técnicos e de negócios, de marketing. 4. Diretores técnicos e de negócios (análise crítica da mudança) 5. Gerentes técnicos. 6. Gerentes de negócios. 7. Gerentes de manufatura. 8. Desenvolvedor do produto. 9. Líderes de laboratório e negócios. 10. Engenheiro de processos. 11. Trabalho junto a equipes de suporte tais como EHS (Environmental Health and Safety), Jurídico e Toxicologia. 2. O que tem (teve de fazer): 1. Desenvolvido com muito comprometimento de todas as partes. 3. Atitudes inovadoras: 1. Todos davam muitas opiniões. 2. Um dia o engenheiro de processos quebrou o protocolo. 208 3. (ideia do engenheiro) foi por perceber o comportamento dos materiais do processo. Ele é uma pessoa de vasta experiência nesse processo 4. Estímulos para inovar: 1. Liberdade de 15% do tempo para trabalhar em algum da pessoa. É aquilo que a empresa não mandou você fazer, aquilo que a rotina não entra ali. É espontâneo. 5. Conhecimento: 1. Tivemos muito aprendizado com esse projeto. 2. Questões legais. 3. Criou-se e fortaleceu-se a cultura que é a preocupação com ecologia. 4. Mudou o pensamento das pessoas. 5. Nós somos muito próximos, os técnicos estão todos localizados no mesmo prédio. A troca de conhecimento é muito grande. (proximidade física) 6. O contato com as nossas áreas internacionais é muito importante. 3) INTERFACE COM O CLIENTE 1. Formas de trabalho: 1. Falavam direto com usuários finais. 2. Realizaram pesquisas de opinião. 2. Competências (do cliente intermediário) que ajudaram a 3M a inovar: 1. Possuir política de sustentabilidade. 2. Interesse no tipo de produto em desenvolvimento na 3M. 3. Intenção de educar o consumidor final. 4. Intenção de ser qualificado neste aspecto. 3. Competências (do cliente final) que ajudaram a 3M a inovar: 1. Falar quais eram as necessidades deles, em relação ao que eles já tinham hoje para a limpeza do corpo no banho. 4) CONCEITOS 1. Inovação radical: eu acho que radical é uma coisa assim que, por exemplo, sei lá, 20, 30 anos atrás, não sei, quando inventaram a internet, aquilo foi uma inovação radical, eu acho. Uma coisa assim, que surgiu, não tinha, simplesmente não existia. 2. Rotina: é uma coisa que você tem de cumprir, independente de que aquilo esteja em sua cultura ou não. Eu acho que rotina é uma coisa necessária, independentemente de ser automático. 3. Rotina de inovação: ter o “hábito” de registrar uma ideia que você teve 4. Hábito: é uma coisa que é mais inconsciente, que já está mais automática na mente da pessoa. 5. Hábito de inovação: ter criado a mentalidade de ter liberdade de pensar 6. Competência: é você ter o conhecimento e saber aplicar 5) EMPRESA 1. Alterações na forma de trabalho: 209 1. Criou um departamento de sustentabilidade há 3 ou 4 anos atrás. 2. Competências para inovar: 1. É ter mente aberta para pensar. 2. Pensar fora da caixa. 3. Se permitir novas ideias. 4. Saber usar o seu conhecimento de novas ideias para produzir uma coisa 5. A 3M possui muitos bons técnicos em diversas áreas. 6. O conhecimento próximo. 7. Cultura de liberdade de pensamento (novamente o termo cultura aparece) 3. Inovação radical na empresa: 1. Sim, com certeza (supressor de poeiras, post it) 210 PONJITA MR Análise das respostas da Pesquisadora Há uma sobreposição de modelos de Gallouj no caso de departamentos de apoio ao desenvolvimento do produto (em momentos diferentes)? Ou eles fazem parte das características técnicas e não materiais do produto? Por exemplo, o Departamento Jurídico teve de se relacionar com o governo para tratar do assunto de sustentabilidade. Notar a quantidade de pessoas envolvidas e recursos necessários para atender as demandas do projeto. Quando questionada sobre o que considerou como atitude inovadora, a respondente citou a quebra de protocolo de um engenheiro: E nós estávamos trabalhando muito em cima do incerto, era muito novo para a gente. E um dia nós fizemos várias formulações e a gente estava meio que percebendo como que ia sendo o comportamento dessas variações e um dia o engenheiro de processos resolveu quebrar o protocolo. Nós tínhamos lá uma receita de dez formulações, ele olhou e falou assim: “-Vamos eliminar essas aqui debaixo, vamos fazer diferente? Vamos fazer assim?”, “-Vamos.” E foi o nosso melhor protótipo, foi em cima dele que a gente passou a trabalhar o resto do projeto e foi ele que foi lançado. No que diz respeito ao conhecimento, a respondente mencionou o seguinte: Nós tivemos muito aprendizado com esse projeto. Essa questão do conhecimento tradicional, das questões legais foi muito importante, foi uma coisa que ficou para os outros departamentos, com certeza. E eu acho que a questão da preocupação com o meio ambiente ficou muito mais forte na cabeça da equipe. Também há elementos de cultura citados pela respondente: Então, criou-se uma cultura diferente, fortaleceu-se essa cultura, vamos dizer assim, na cabeça de todo mundo. Que são pessoas de pensamentos diferentes. O pessoal técnico pensa muito diferente do pessoal de negócios. E eu acho que esse projeto deu uma boa nivelada nessas preocupações com a ecologia, com o impacto do produto. Seguramente, em várias outras questões também foram assim, mudou o pensamento das pessoas. (cultura como resultado do processo de inovação, não como motivador?) Então, a grande pergunta foi: “-Como você toma banho? Quais são os seus hábitos? E o que você acha que você precisa de diferente?” 211 E a grande voz, como disse, o grande conceito, a voz principal que nós seguimos, que direcionaria para a inovação é: produto natural, usar produto natural. Isso é uma coisa que era uma necessidade que o consumidor trouxe para a gente: “-Eu quero um produto natural.” Notar na definição de competência a ideia de conhecimento aplicado. uma empresa tem lá as rotinas de procedimento que todo mundo cumpre. Que eu acho que é até mais fácil de instituir do que um hábito. Eu estou entendendo, associando o hábito à cultura e eu acho que a empresa tem a cultura coletiva dela. E o que eu acho que é mais difícil de criar do que uma rotina. Uma rotina você fala: “-Olha, a rotina hoje, para a gente fazer o processo é assim: a gente tem que receber o pedido de compra do mercado, tem que fazer o produto assim e assim. Preenche esse e esse formulário, fala com esse e com esse advogado.” Isso, eu entendo como uma coisa mais concreta, a rotina. O hábito, que eu estou considerando, estaria relacionado mais à cultura da empresa, que eu acho que é coletivo também, mas é uma coisa mais subjetiva, mais difícil de instituir. Uma empresa como a 3M, por exemplo, que é uma empresa já muito bem estabelecida, já é um hábito que vem de longo tempo, que vai se adaptando, lógico, mas como é muito organizada, é mais fácil de implementar, eu acho. Então, por exemplo, nós temos a nossa cultura de sermos éticos. É uma coisa da rotina, que está lá no formulário para você preencher? É. Mas eu acho que o mais importante é estar dentro de cada um, que é essa confiança que o Espeleta falou, de todo mundo, quando vai para o mercado, levar essa cultura de ser ético da 3M. Eu acho que isso é um hábito assim. (rotina como meio de construir o hábito?) Notar a mistura de conceitos (rotina e hábito): Uma rotina de inovação? Nossa! Eu acho, olha, eu estou dizendo muito do meu ponto de vista técnico, talvez esteja muito restrito, limitado. Mas, talvez assim, você ter o hábito de registrar uma ideia nova que você teve se preocupar na possível patente que aquela ideia pode gerar e proteger a sua ideia dos concorrentes. 212 PONJITA MR Entrevistada: Especialista em Meio Ambiente e Sustentabilidade 1) PROJETO PONJITA 1. Definição: 1. É inovador porque: 1.Passo importante para a 3M do Brasil, que é a introdução de fibras naturais. 2.Como incorporar a biodiversidade do Brasil em nossos produtos. (competências desenvolvidas? aprendizados?). 3.É inovador em termos de Brasil, internamente para a 3M, para os nossos clientes e no exterior, por ser uma fibra exclusiva do Brasil. 4.Foi um divisor de águas dentro da 3M Brasil especificamente, porque foi um projeto que teve muita projeção interna e externa, puxando o viés de sustentabilidade. 5.Abriu o caminho para produtos que tenham mais atributos ambientais e sociais. 2. Origem: 1. Em 2008 a 3M promoveu um fórum de sustentatibilidade e o principal cliente deste projeto estava entre os convidados. 2. Na ocasião este cliente divulgou o programa End to End que era para ser realizado entre as top ten empresas como um desafio. 3. Melhoramento de um produto existente em pelo menos quatro aspectos ambientais e sociais. 4. O segundo desafio era fazer o estudo levando em consideração o ciclo de vida do produto levando em consideração o life cycle thinking, a lógica do ciclo de vida, neste estudo comparativo entre o produto existente e o novo produto. 3. Etapas: 1. Início: Já estava em andamento antes da proposta do cliente. 2. Início junto ao cliente: 2008 3. Tempo de desenvolvimento (colocado pelo cliente?): aproximadamente 1 ano e meio 4. Lançamento pela 3M: 2009 5. Divulgação do resultado do desafio promovido pelo cliente: 2010 4. Dificuldades encontradas: 1. Contabilizar (métricas) os melhoramentos realizados. 2. Ausência de bancos de dados quantitativos brasileiros, de domínio público para validar o estudo (sugere a necessidade de geração de metodologias próprias) 3. Passar as informações de forma apropriada para o consumidor, respeitando políticas internas da 3M e legislação. 4. Adequar os parâmetros da máquina, dada a variabilidade entre lotes de matéria-prima natural. 5. Estabelecer os parâmetros de qualidade (especificações). 6. Embalagem: de material duplo para mono, escolha das tintas sem metal pesado, a caixa passou de 28% para 100% de material reciclado. 7. Investigar aspectos de segurança ao trabalhar com o curauá. 213 2) EQUIPE 1. Membros: 1. Entidade independente para avaliação dos projetos. 2. 3M França. 3. Equipe técnica. 4. Desenvolvimento. 5. Engenharia de Embalagens. 6. Marketing 7. O key account do cliente. 8. Diretor. 9. Qualidade. 10. Manufatura. 2. O que tem (teve de fazer): 1. Proposição de metodologia para avaliar desgaste do novo produto comparativamente ao já existente (aprendizado) 3. Atitudes inovadoras: 1. Com este produto a gente conseguiu o melhoramento de várias partes, não só do produto, mas na embalagem primária, na embalagem segundária, no cordão, no processo. (competências desenvolvidas? aprendizados?). 2. Fita 3M do Canadá ao invés do filme strech para paletização; redução no volume de resíduo de 85%. 3. Pet reciclado na manta sintética da esponja. 4. Novidade para toda a equipe como incorporar a biodiversidade do Brasil em nossos produtos. (competências desenvolvidas? aprendizados?). 5. Aspecto legal, a questão da propriedade genética. (competências desenvolvidas? aprendizados?). 4. Estímulos para inovar: 3) INTERFACE COM O CLIENTE 1. Formas de trabalho: 1. Diretor teve de ir ao cliente, participar, falar, assinar o acordo, o pacto proposto pelo cliente. 2. Equipe de qualidade: validação para evitar passivo ambiental ou social. 2. Competências (do cliente) que ajudam a 3M a inovar: 2.Houve uma entidade independente para validar os projetos. Faziam propostas para a melhor condução do próprio projeto. 3.Auxiliou a ampliar o escopo da abordagem do estudo em relação aos atributos. 3. Competências (do cliente final) que ajudam a 3M a inovar: 4.VOC (Voice of Customer). Pesquisa com questões relacionadas com o produto que a 3M tem em mente. 4) CONCEITOS 1. Inovação radical: 1. Inovação: você entrar com uma coisa que o mercado quer, mas ele nem estava esperando. Você o surpreende, vai além do que ele estava querendo. 2. Exemplo de filme baseado em nanotecnologia (window film: solução para um conforto térmico, pois permite a passagem de luz e funciona como barreira térmica.) 214 3. A surpresa para o cliente faz parte da inovação. 4. Ás vezes é uma solução simples, é só o fato de você conhecer as tecnologias disponíveis e agregar. 2. Rotina: 1. É muito do que você estabelece para fazer. 2. Todo dia fazer as mesmas coisas. 3. Todo dia tem aquela sequência de tarefas sempre iguais. 4. Pode ser individual ou coletiva. 5. Rotina de inovação: ir todo o dia ao laboratório fazendo as mesmas análises, mudando algumas coisinhas. 3. Hábito: 1. É aquilo que não depende muito do teu meio externo, mas é seu mesmo. 2. A diferença (entre rotina e hábito) está na sequência. 3. É individual. 4. Hábito de inovação: Um hábito de inovação é eu pensar em como inovar a minha rotina (hábito > rotina; hábito associado à ideia, pensamento) 4. Competência: 1. Competência para inovar: ligar os recursos que você tem com o que você que desenvolver em função do que o mercado te pede. 5) EMPRESA 1. Alterações na forma de trabalho: 1. Foi um processo de doutrinação. 215 PONJITA MR Análise das respostas da Especialista em Meio Ambiente e Sustentabilidade Então, eles estabeleceram o seguinte: “-Olha, nós vamos convidar dez empresas para desenvolver um projeto relacionado ao melhoramento de um produto existente. E esse produto vai ter que melhorar pelo menos em quatro aspectos ambientais e sociais o produto existente.” Então, esse era o desafio do cliente da 3M. No caso da entidade independente que avaliou os projetos, como se encaixa no modelo de Gallouj? Por exemplo, quando pergunto sobre as dificuldades encontradas, de certa forma consigo identificar a origem das competências, rotinas, visto que as pessoas buscarão formas de resolver um problema. (isso não é previsto pelo modelo de Gallouj). Lembrar de estabelecer um comparativo com o artigo que mostra as rotinas (automatização) pedidos. No caso de rotinas de inovação isto é mais difícil, portanto a pergunta sobre dificuldades encontradas é útil. Lembrar atributos descritos na embalagem do produto. 216 Projeto Ovos: Ovo em caixa e sobremesas líquidas Análise de template: MS 1) Definição 1. Temos um grande projeto de inovação que mudou a cara da empresa. 2. Empresa inovadora: aquela que procura sair do lugar comum, aquele dia a dia (rotina?), para se destacar das demais. 3. 1. A empresa é inovadora porque acredita que pode ganhar mais dinheiro. 2. Não tem nenhum sentimento nobre em ser inovador. A empresa em que trabalho é inovadora porque é diferente das demais que trabalhei. 2. CONCEITOS 1) Inovação radical 1. Por exemplo, a pílula anticoncepcional. O avião supersônico tinha tudo para dar certo, por que não deu? 2) Rotina: 1. É tudo o que você é obrigado a fazer. 2. É ISO 9000 (padronização?) 3) Hábito: 1. É uma coisa que você tem prazer em fazer. 2. Só existe hábito de inovação. 3. EMPRESA: 1) Alterações na forma de trabalho: 1. Criado um ambiente para ser ponto de encontro dos funcionários, para reflexão, sair do dia a dia. 2) Competências para inovar: 1. O fator humano; são as pessoas que você tem. 2. Competência: é um atributo que te facilita conseguir alguma coisa. 3. Competências pessoais que ajudam a inovar: relação interpessoal, competência para colocar junto pessoas para um objetivo comum. 3) Inovação radical na empresa: 1. Como busco uma inovação radical para a empresa: 1. Observando o que existe nos países de primeiro mundo. 217 Projeto Ovos: Ovo em caixa e sobremesas líquidas Análise das respostas de MS Elemento de cultura de inovação: a empresa, na verdade, são pessoas, pessoas formam uma empresa. Então, depende do perfil dessas pessoas. Quer dizer, isso começa com a diretoria da empresa, o presidente da empresa. Como é que são essas pessoas? Porque as pessoas procuram pessoas parecidas. Então, o presidente da nossa empresa, a pessoa para a qual eu reporto, é uma pessoa muito inovadora, criativa. Então, ele procura se cercar de pessoas assim. Então, por exemplo, esse ambiente que você está vendo aqui, nós construímos, ele não tem dono, ele tem uma televisão. Você pode entrar no computador ali, é uma espécie de uma lan house. Pelo menos, computador de empresa corporativa é cheio de barreira. Ali, você pode entrar onde quiser, porque não passa pelo servidor da empresas, é livre. Você pode ver televisão, pode sentar no sofá, comer. Então, isso cria esse ambiente. É muito comum, ao invés de a gente fazer uma reunião em uma sala fechada... Mas a gente senta naquele sofá ali, duas ou três pessoas e fica batendo papo ali. Isso já estimula esse tipo de coisa. Então, esse aqui é um meio andar, aqui no 11º, que só tem essa função, para te mostrar o grau de... Que a gente quer transformar. Quer dizer, é um local de encontro. Você pode passar o seu dia aqui, não tem problema. Eu estou aqui há seis anos e já encontrei esse tipo de cultura. Então, eu não acho que ela mudou. A empresa tem esse jeito. Vide elementos de alteração na forma de trabalho: “-Vamos criar um ambiente que possa ser um ponto de encontro dos funcionários para discutir coisas, ter um momento de reflexão, sair um pouco do dia a dia, do computador, do e-mail, da planilha “-Ótima ideia, vamos fazer.” Aí, criamos um grupinho de trabalho, quatro ou cinco pessoas daqui do prédio mesmo. Nós temos uns quatro andares, aqui no prédio. Nós temos o 3°, o 9°, o 10°, 11º e 12º, cinco andares. O papel da liderança: A empresa pode ter várias faces, a corporação. E sempre é o fator humano. Para qualquer coisa que você me perguntar, eu vou responder isso... Não tem nada a ver qual é o tipo da empresa. Eu acho que o exemplo que vem da diretoria da empresa, da cúpula da empresa é muito importante. Porque é ele que vai... Que vai nortear. Eu acho que o 218 que dificulta a maioria das empresas, é uma queda de posicionamento. Você não pode ter a diretoria pensando de uma maneira, o outro... Você tem um departamento de marketing superinovador, supercriativo, mas, se a cúpula da empresa não é assim, não muda. Motivações para inovar: ... E como a gente tem um resultado muito grande de uma eficiência muito grande em lançar coisas que dão certo, ter ideias que dão certo, as pessoas se sentem à vontade em trazer essas ideias e essas sugestões, porque sabem que aquilo gera alguma coisa. Repostas evidenciam presença de cultura e liderança; este último aspecto talvez influenciado pela posição que o respondente ocupa (pessoal). 219 Projeto Ovos: Ovo em caixa e sobremesas líquidas Análise de template: CB 1) Definição 1. É inovador porque: 1. Inovação é tudo que você pode trazer para o seu mercado consumidor, seu mercado de atuação, dentro do nosso contexto, que a gente entende, que não tem ainda, mesmo que ele já tenha em outros países, mesmo que ele já tenha outra forma. É um novo, para aquele mercado que está sendo atendido. Então, dentro desse primeiro contexto, ele já seria inovador. 2. Outro aspecto, é a tecnologia mesmo, que ele envolve. Em si, o produto é inovador, porque ele desenvolve, não sei se nós desenvolvemos, mas não é o termo certo, mas nós tivemos uma combinação de tecnologias existentes e conseguimos lançar um produto que não tem, que são as sobremesas líquidas. 3. Os ovos líquidos são uma inovação no mercado brasileiro pela pasteurização. A grande inovação está no ovo pasteurizado em caixinha. 4. As sobremesas líquidas são inéditas, não existem: 1. São feitas com base em ovos (plataforma tecnológica?), que é o quindim, brigadeirão, pudim de leite e manjar (lançamento). 2. Hoje, tanto para o mercado de consumo, quanto para o mercado de padaria, de food service, o que você tem é ela seca, em pó, mas não tem a líquida (que tipo de inovação seria na ótica de Gallouj? Mudou a forma e embalagem) 3. A líquida confere uma textura e um sabor diferenciado. 4. Ganhou um prêmio em 2009 na feira de alimentação internacional (França), como inovação do Brasil. (buscar evidências) 5. Ovos líquidos: novos sob o aspecto da embalagem, mas a forma líquida já existe tanto no Brasil quanto fora dele. 6. As sobremesas líquidas não existem no Brasil. 2) Origem: 1. Ovos Líquidos: 1. Oportunidade identificada no mercado. 1. Completar o portifolio de produtos oferecidos. 2. Atender uma necessidade de mercado. 2. Início: 2006 – aquisição da Sohovos (tecnologia ovo líquido) 3. Tempo de desenvolvimento: 1 ano à 1 ano e meio, 2 anos 4. Lançamento: 2008 ou 2009. Sobremesas líquidas lançaram em 2009. 2. Sobremesas líquidas: 220 3) Etapas (descrita como simultâneas): 1. 2. Aquisição da fábrica: 1. Análise financeira do ativo. 2. Análise do maquinário disponível. Análise de viabilidade (potencialidade) do produto: 1. Análise de portifólio. 2. Como poderia oferecer o ovo líquido ao mercado? 3. O mercado já trabalhava com embalagens PET 5 litros. A padaria necessita de unidades menores. 4. Capacidade da rede de distribuição. Já transportam fermento fresco, mas a temperatura é igual? 5. Quem tem refrigeração? (questões misturadas aos aspectos técnicos) 6. 3. 4. Qual a temperatura que o produto terá de circular? (questões misturadas aos aspectos técnicos) Análise técnica (pesquisa e desenvolvimento): 1. Fazer pesquisa de mercado para compra de maquinário. 2. Qualificação do produto. 3. Estabilidade. Capacitação da fábrica (armazenamento, refrigeração) 4) Dificuldades encontradas: 1. De ordem técnica, referente à característica do produto, seu transporte e armazenamento. 2. Demanda uma temperatura específica. 3. A rede de distribuição não estava preparada. 4. Necessidade de investimento por parte da rede de distribuição. 5. Como adequar a rede de distribuição para estar apta para transportar esse produto e achar atrativo? 6. Além disso, o produto tem de ser refrigerado no depósito da distribuição. 7. A AB Brasil fez um processo de implantação de câmaras refrigeradas, de negociação e financiamento de algumas delas (recursos empregados, vetor de características técnicas, materiais e não materiais). 8. O mercado já trabalhava com embalagens PET 5 litros. A padaria necessita de unidades menores. 9. É necessário manter o ovo em determinada temperatura. Surgiu a ideia da pasteurização. 10. Necessidade de processo totalmente a vácuo, sem nenhum tipo de contato. 11. Aquisição de maquinário para embalagens SIG (aspectos tecnológicos do 221 desenvolvimento). 12. Embalagens provenientes da Alemanha. 13. Relativo à inovação, criar demanda para as sobremesas líquidas, no mercado que ninguém conhece. 5) Registro das dificuldades: 1. Não têm um processo metódico para acompanhar o desenvolvimento de um novo produto. 2. EQUIPE 1) Membros: 1. Pesquisa e Desenvolvimento. 2. Marketing (que coordena os projetos na AB Brasil). 3. Vendas. 4. Industrial. 5. Suprimentos. 2) O que tem (teve) de fazer: 1. Fazem testes piloto quando é um desenvolvimento de produto em determinada área. 3) Atitudes inovadoras: 4) Estímulos para inovar. 1. A inovação, na realidade, ela é meio um DNA da empresa (ver artigo HBR DNA) 2. Ela é meio estimulada por fatores, por oratividades, pela formação da cultura mesmo. 3. Você acaba tendo, tendo uma cultura corporativa, você forma através de atos e pensamentos. 4. Os líderes têm e que acabam não... Os seguidores vendo, mirando e acreditando. E quando você vê, você tem uma cultura corporativa formada em cima daqueles valores. 5. ... O nosso presidente da AB Brasil... Então, é muito forte da forma de gestão dele. Então, consequentemente é muito forte na sua gerência, na sua diretoria, a gerência, é muito forte na empresa. 6. Porque a gente está sempre buscando alguma coisa inovadora. Inovadora, não só sob o aspecto inédito, mas inovadora na ótica de um pouco mais que eu possa trazer de diferente para a empresa. Então, desde um mercado novo, desde um novo cliente, desde um novo produto... Nova forma de entregar. 7. Mas em bakery a gente, bakery são pães, bolos, tudo que você forneia, digamos assim, a gente ainda tem muito a crescer, no mercado de consumo mais ainda. Então, essa potencialidade acaba estimulando. 222 3. INTERFACE COM O CLIENTE 1) Tres tipos de clientes: 1. Rede de distribuidores terceirizada que atua em B2B. 2. Clientes diretos: padarias, food services, restaurantes. 3. Cliente indireto: consumidor final. 2) Formas de trabalho: 1. Intenso relacionamento com distribuidores no processo de desenvolvimento do projeto OVOS: 1. Dificuldades que eles viam, por exemplo, manter a refrigeração, o território que rodavam. 2. Informações sobre barreiras de preços nas padarias. 3) Competências do cliente que ajudam (ram) a AB Brasil a inovar: 1. Rede de distribuição que busca crescimento. 2. A AB Brasil cresceu por meio de aquisições de empresas. 3. Ex-funcionários tornaram-se distribuidores, fomentados pela AB Brasil. 4. Rede de distribuidores extremamente fiel à empresa. 5. Rede de distribuidores aposta, confia na empresa e seus projetos. 4. CONCEITOS 1) Inovação radical: 1. É você lançar um produto ou uma entrega de um serviço, que você não sabe que você precisa, o teu consumidor não sabe que precisa. 2. É alguma coisa que você nem imagina que é possível, você não sabe que não sabe. 3. Breakthrough = inovação 2) Rotina: 1. Faz constantemente, dentro de tarefas pré-programadas ou programadas. 2. Independem do hábito. 3. Não precisam do hábito. 4. Tem que ser feita, independe de quem a faz. 5. Independe da onde eu esteja 6. Independe do momento. 7. Institucionalização de algumas atividades que precisam ser feitas tanto no âmbito da empresa, quando na vida pessoal. 8. Garantem que a coisa ande. 9. Rotina de inovação: 1. Por exemplo, as reuniões frequentes dentro da AB para discutir ideias gerais e daí surgem as inovações. 223 2. Independe das pessoas presentes, as áreas estarão presentes. 3. É estar ocorrendo este processo, esta metodologia. 3) Hábito: 1. Não necessariamente é uma rotina. 2. É temporal, tanto o bom quanto o mau hábito. 3. É predominantemente individual. 4. Quando expresso no plural, se torna um fator cultural. 5. Hábito de inovação: 1. Ao participar em feiras, eventos no exterior, ir ao supermercado, sentar em uma padaria e ficar olhando como uma pessoa compra o pão, como ela come, se come com a mão, se abre e põe um pedaço, se morde. 2. O hábito da observação é o hábito da busca. 3. É um pouco cultural, mas não deixa de ser individual, porque nem todos nós fazemos as mesmas coisas. 4) Competência: 1. Características que uma pessoa ou uma empresa tem, que a qualifica para determinadas funções. 2. Características pessoais, como competências que você desenvolve por estímulo. 5. EMPRESA: 1) Características da empresa: descentralizada, bastante informal, as decisões são tomadas rápido, a gente tem total autonomia como divisão, há uma dinâmica de negócio muito forte. 2) Alterações na forma de trabalho: 1. Criada metodologia das reuniões, forma como falar sobre coisas novas ou ter o momento para falar sobre coisas novas. 2. Com o projeto OVOS a empresa abriu mais uma porta que são os hotéis, motéis, navios que têm a preocupação de contaminação, com ingredientes pasteurizados. 3. Esta rede demanda outro tipo de atendimento, pois é uma venda mais qualificada, técnica. Isso impactou o trabalho dos distribuidores. 3) Competências que a empresa possui para inovar: 1. Busca por coisas diferentes. 2. Precisa desenvolver metodologias de acompanhamento; o registro do que não deu certo ou de como deu certo, aconteceu, se perde um pouco. Desenvolver o processo de registro do que aconteceu, da melhores práticas. 3. Algumas competências se tornam menos presentes em uma empresa mais inovadora, por exemplo, controles. (alteração na forma de trabalho durante o processo de inovação) 4) Sobre a mudança de esquema e processos organizacionais para atender às necessidades de um novo produto e serviço: 224 1. Facilmente não; não por indisposição, mas porque é complexo; qualquer processo inovador é complexo. 2. Mas a AB Brasil a disponibilidade muito grande; a gente analisa todas as opções. 5) Inovação radical na empresa: 2. 1. Visão de fora para dentro (não dentro do contexto de inovação radical, mas mencionado. Open innovation?). 2. AB Mauri no mundo tem um grupo de inovação, que é o pessoal que está à frente dos grupos de Pesquisa e Desenvolvimento. (elemento indicador de que P&D guia os processos de inovação?) 3. Sobremesas líquidas. Não sabe se foi radical totalmente porque já existem sobremesas e produtos líquidos. 4. Acho que não é uma característica da indústria de alimentos, acho que ela á mais evolutiva. (no sentido de incremental?) 5. Exemplos do mercado de alimentos: congelados, produtos desidratados. Como busco uma inovação radical para a empresa? 1. Sair totalmente da caixa. 2. Imaginar um mundo puro. 3. Imaginar tendências. 4. As pessoas inovadoras se desprendem de limites, de conceitos existentes. 6) Metodologias de desenvolvimento de produtos: 1. Reuniões mensais com Pesquisa e Desenvolvimento, com a área de novos produtos para atualização e acompanhamento de novos desenvolvimentos. 2. Brainstormings semestrais – geração de ideias. 3. Ideias de novos produtos (mais segmentado/departamentalizado que serviços?): 1. P&D: novas tecnologias, novas tendências. 2. Marketing: demanda nova, mercado não atendido, complementação de linha, produto inovador. (são todas possibilidades de inovação pelo modelo de Gallouj) 3. Produção industrial: melhoria de um processo produtivo. 4. Pesquisas de mercado: avaliação de marca, sua evolução, como está a aceitação dos produtos, grau de satisfação (este item não é usado para desenvolvimento de produto 5. Aprendizados: sazonalidade do mercado de ovos. 225 Projeto Ovos: Ovo em caixa e sobremesas líquidas Análise das respostas de CB Passa a ideia de um trabalho de forma conjunta quando reporta que as etapas ocorrendo simultaneamente; é como se a inovação ocorresse em rede – vários problemas, situações disparando novas necessidades: e você vai montando toda a cadeia, então: o produto, o mercado que vai distribuir, o transporte, o armazenamento....E aí você monta os atrativos para a venda. Tudo muito ligado, tudo mais ou menos simultâneo, entre aspas, em uma determinada época tem um P&D mais forte, que é no produto em si. No segundo momento você vai ter a questão da distribuição, do transporte, de um armazenamento mais forte. E em um terceiro momento você vai ter: “-Como é que eu trabalho o mercado para apresentar esse produto?” Mas, na realidade, os três estão trabalhando muito em paralelo. E quem coordena isso, pelo menos aqui na AB é a área de marketing. Notar a definição de inovação e o fato de serem combinadas tecnologias. Notar elemento de cultura e papel da liderança: A inovação, na realidade, ela é meio um DNA da empresa, ela é meio estimulada por fatores, por oratividades, pela formação da cultura mesmo. E assim, como é que funciona mais ou menos assim? Como é que eu entendo? Você acaba tendo, tendo uma cultura corporativa, você forma através de atos e pensamentos. Os líderes têm e que acabam não... Os seguidores vendo, mirando e acreditando. E quando você vê, você tem uma cultura corporativa formada em cima daqueles valores. A AB tem isso muito forte na figura dos presidentes da AB Brasil. Característico da rotina, não saber exatamente como as coisas começaram (em alterações de formas de trabalho): Eu acho que foi criada. Não sei te dizer exatamente o que veio primeiro, a galinha ou o ovo, literalmente, nesse caso. Se foi o projeto que gerou ou essas técnicas geraram o projeto. Mas eu acho que foi mais o projeto, que solidificou essa metodologia, que é um pouco daquilo que eu te contei, das reuniões, da forma que a gente encontrou, de estar sempre falando sobre coisa novas ou de ter o nosso momento para discutir coisas novas. Desde essas reuniões mensais, que a gente faz com novos produtos, que é para discutir mesmo produtos em desenvolvimento, até esses brainstormings, que a gente faz em uma periodicidade maior, que é para discutir novas ideias. Mas essa forma de trabalho, em que tem mais duas reuniões, em questão de operação, mas no que essas quatro áreas estão envolvidas. Então, essa constância de momentos, em que quatro áreas geradoras de ideias ou desenvolvedoras de ideias, ou seja, que transformam essas ideias realmente, na prática de produção, estão juntas, são momentos muito ricos. E fora do dia a dia da operação, em que você tem possibilidade de falar de novos negócios, de novos produtos, do que a concorrência está fazendo, uma demanda que surgiu em algum 226 lugar: “-Olha, lá na AB Mauri, na Austrália está desenvolvendo fermento dessa forma.” Aqueles momentos em que a gente troca isso. E que são geradores de ideias e potencialidades. Então, eu acho que essa constância de reuniões desses quatro grupos e os quatro geralmente estão envolvidos, essas quatro áreas, acabou se tornando uma forma de a gente ter um acompanhamento dessas unidades de inovação. Evidência importante para o modelo de Gallouj na parte relacionamento com clientes: Bom, com os distribuidores, nessa primeira quebra, foi intenso o relacionamento no processo de desenvolvimento dos ovos. Por quê? Porque você tem ali toda a questão da distribuição do produto. Então, o quanto eles estão capacitados? O que eles tinham de capacidade? Dificuldades que eles viam? Então, eles falaram: “-O meu caminhão roda cinco horas no dia ou roda tal perímetro. Eu não mantenho a minha câmara congelada durante esse período todo.”... Então, eles foram muito parceiros, desenvolvendo: “-Não, não, aqui a gente não consegue entregar. Aqui a gente precisa de uma câmara a tal potencialidade.” Aqui nesse canal, como é que eles interagiram também: “-Nesse grupo de padarias, eu não consigo entrar, porque demanda umas questões de custos, de preço.” Evidências importantes para Cultura e rotinas: Então, a gente tem essa característica, não vou te dizer, saber realmente as origens, mas acho que tem um pouco a ver com a questão da cultura. A gente está sempre buscando uma forma nova de entregar, de vender um produto novo, uma embalagem diferenciada. Essa busca pela inovação, exatamente qual é essa competência? Eu não sei qual é o nome dela, mas enfim, é essa a característica. Evidência de alteração de rotina no processo de inovação (note o mesmo ocorreu com a SE): Olha, eu não sei se abandonar, exatamente isso, eu acho que você deixa... Algumas competências ficam menos importantes? Não é nem menos importantes, elas se tornam menos presentes, quando você tem uma empresa que tem uma característica mais inovadora, que exige uma certa dinâmica ou quando você está em um processo de inovação. Uma das competências que eu acho que acabam, naquele momento, se tornando menos presentes, é a competência dos controles, digamos assim. Então, você acaba, por quê? Porque controle precisa de tempo e precisa de dinheiro, não tem outra. Então, você acaba, muitas vezes, passando por cima de uma série de etapas, de uma série de processos, em função do momento que você está da busca da inovação, da busca do inédito. Então, essa, que eu não sei bem como é que chama essa competência de controle, mas de alguma forma a gente acaba abrindo mão disso, em função de você ter um dinamismo maior. Notar na resposta a alternância entre a menção de produto e serviço: A gente está falando de investimentos muito altos, de mecânicas de negócio muito altas, enfim, de toda uma organização, para você realmente estar levando aquele produto novo, estar levando aquela forma nova de apresentar um serviço, enfim, ou entregar um novo serviço. Conceitos de inovação radical e incremental; o radical é definido como sinônimo de breakthrough enquanto o incremental é mais intuitivo: Eu acho que uma inovação radical é você lançar um produto ou uma entrega de um serviço, que você não sabe que você precisa, o 227 teu consumidor não sabe que precisa. Porque tem um negócio uma vez que eu li, que eu acho legal, que fala assim, que o consumidor, considerando tanto a pessoa jurídica, quanto a pessoa física, ele sempre olha para frente pelo espelho retrovisor. E é o que a gente acaba fazendo mesmo, a gente pensa assim: “-Ah, o que eu poderia ter para escrever, em vez de papel?” A gente pega o que a gente tem hoje e imagina melhorias sobre aquilo. Aí também que se desenha o futuro. Acho que alguma coisa que é breakthrough, que é inovação, é alguma coisa que você nem imagina que é possível, você não sabe que não sabe. Sabe aquela coisa? E quando vem, você fala: “-Uau, como eu vivi tantos anos sem isso”? Sobre as carecterísticas pessoais de inovadores e o processo de inovação radical: Eu acho que uma das características desses grandes inovadores que conseguem fazer isso no plano real, de realmente criar coisas ou produtos novos, é porque eles vão lá para frente e voltam, eles quebram o elo de desenvolvimento de um... De uma evolução de um pensamento, eu acho que eles vão lá e voltam. Evidências da percepção de como ocorre a inovação em setores, bem como elas se originaram (se por via tecnológica): eu acho que não é uma característica da indústria de alimentos, eu acho que ela é mais evolutiva. De vez em quando você tem um breaktrough, sei lá, talvez quando começaram os congelados, em algum momento, alguém começou a trabalhar com os congelados. Talvez tenha sido radical, porque veio por tecnologias que foram possíveis. Talvez, quando começou-se também os produtos desidratados, mas eu acho que não é uma característica muito forte da indústria de alimentos. 228 Projeto Ovos: Ovo em caixa e sobremesas líquidas Análise de template: MP 1) Definição 1. Quando a gente vislumbra uma inovação, é para atender uma demanda de mercado e uma tendência, na verdade, a praticidade. 2. Às vezes o seu próprio dia a dia, você se identifica com o produto. 3. A gente entra com essa solução. 2) Origem 1. É inovador porque: 1. Não havia um substituto seguro para o ovo in natura. Os consumidores conviviam com o fator de risco. 2. A AB Brasil ofereceu uma solução para um problema, desde a forma, a apresentação do produto, sheflife, armazenamento diferenciado, inovando o dia a dia das pessoas. 3. Outra inovação é que você pode comprar só a gema e só a clara. 4. Oferece economia, praticidade e segurança para o cliente. 5. Inovador para a América do Sul e Central também. 6. A grande inovação em termos de produto foi a linha de sobremesas líquidas. É a única no mercado mundial. 7. Sobremesas líquidas: inovação reversa (partem de receitas caseiras, produtos conhecidos). 8. Ovo líquido em caixa: não reversa. 2. Início: 2006 3. Tempo de desenvolvimento: 4. Lançamento: 5. Motivo: 1. Faltava um produto para completar o mix de produtos, no caso, o ovo. 2. Surgiu um projeto de adquirir uma empresa que processasse ovos. 3. Problema: Fator de risco do ovo é a contaminação (salmonela). 4. Vislumbrava projeto maior: pasteurização Ultra High Temperature (UHT) 5. A pasteurização normal não é tão eficiente quanto a UHT. 6. Garantia de melhor qualidade e segurança alimentar para o produto. 7. Maior Shelf Life e maior operação logística (áreas de cobertura maiores). 229 3) Etapas: 4) Dificuldades encontradas: 1. O ovo ainda é uma lenda, é uma embalagem perfeita. 2. A grande dificuldade é que o ovo é na verdade uma medida padrão. Você fala em ovo, não fala em gramas. Houve quebra de paradigma grande. 3. As pessoas tinham de acreditar que era 100% ovo; acredita ter sido a mesma situação na passagem de tomate para molho de tomate. 4. As pessoas aprenderem a medir em gramas. 5. Previam esta dificuldade. 5) Superação das dificuldades: 1. Treinaram pessoas para atuar junto à rede de distribuição e junto aos padeiros. 2. Conversão de receitas culinárias. 3. Pré-existência na confiança da marca. 4. Registro de dificuldades: 1. Quem vivenciou essa primeira etapa tem um maior conhecimento, talvez não registro na forma de um dossiê que alguém possa ler e ali tem tudo. 2. Sim, até antes do início do projeto. Oriundas de pesquisas e também registradas pelo serviço de atendimento ao consumidor. 6) O que tiveram de fazer: 1. Depois de criada a ideia a gente entra com o focus group. 2. EQUIPE 1) Membros: 1. Envolvida a presidência no início (evidência do nível de importância do projeto. Verificar demais). 2. Área de Marketing: 3 gerentes de produto e um gerente de marketing. 3. Qualidade: 3 pessoas. 4. Equipe comercial: 5 pessoas. 5. Equipe comercial: 7 pessoas. 2) O que tem (teve) de fazer: 1. Treinamentos. 2. Promover visitas dos usuários à fábrica. 3. Comunicação (filmes mostrando como era o processo). 3) Atitudes inovadoras: 1. O gerente de P&D chegou com a ideia de sobremesas líquidas, seguida de reação de surpresa. 4) Estímulos para inovar. 1. Reconhecimento do indivíduo gerador da ideia. 230 2. Sistema de microunidades de negócios. 3. INTERFACE COM O CLIENTE 1) Os clientes são: 1. Os distribuidores. 2. Os padeiros. 2) Como os clientes contribuíram para inovação neste projeto: 1. Geraram uma demanda. 2. Expressaram uma necessidade, um desejo. 3. No caso específico deste projeto, não contribuíram com a inovação. 3) Formas de trabalho: 1. . 4) Competências dos clientes que ajudam a AB Brasil a inovar: 1. Grande competência é o espírito de parceria. 2. Bom atendimento (dos distribuidores) ao que o mercado demanda. 3. Confiança que (os distribuidores) têm na empresa e repassam para o cliente final. 4. CONCEITOS 1) Inovação radical: 1. É uma coisa que quebra um paradigma, alguma coisa que você usa habitualmente no seu dia a dia. 2. Exemplo: o projeto genoma. Você criar uma nova vida humana a partir de uma célula. Os transgênicos também. 3. Muda o que já tem. 4. Oferece alguma coisa que não existe. 2) Rotina: 1. Tem de fazer no dia a dia. 2. Pode ser baseada no hábito ou não. 3. Não tem conotação ruim. 4. Não quer dizer repetição automática. 5. Acontece no dia a dia. 6. Muitas vezes tem de fazer repetidamente. 7. Mais coletiva. 3) Hábito: 1. O hábito degrada a percepção. 2. Fazer automático. 3. Mais pessoal, individual. 231 4. Pode levar a uma rotina boa ou ruim. 1. Hábito de inovação: 1. Não leva a uma inovação. 2. Talvez leve a procedimentos. 3. Pode ser favorável a uma inovação, se você persistir nisso, com uma visão, sem ficar fechado nesse dia a dia. 4) Competência: 1. É você ter um conhecimento 2. Ser aberto a ouvir. 3. Não ter um conhecimento fechado. 4. Ver o que acontece ao redor. 5. Saber ouvir. 6. Saber executar no tempo certo. 7. Ter bom relacionamento interpessoal. 8. Compartilhar a informação. 9. Competência para inovar: timing certo, bom conhecimento, não teme dividir a informação. 5. EMPRESA: 1) Reuniões mensais de para o desenvolvimento de produtos, reuniões comerciais onde se consegue o feedback do mercado e reuniões com a qualidade, que dão um retono de como está o produto. 2) Alterações na forma de trabalho: 1. Não. O único fator que permite as inovações em produtos é essa comunicação entre as áreas, eficiência de comunicação. 2. Sobre alterações de esquemas e processos organizacionais para atender as necessidades de um novo produto e serviço: sim, é como se fosse uma estrutura viva sólida, tem boa mobilidade; é maleável. Aberta à mudança. 3. Com a mudança do tipo de produto vendido, por exemplo, de fermento para ovos em caixa, houve uma grande mudança: 1. Processos de atendimento. 2. Processo de qualidade (maior demanda). 3. Mindset das pessoas. 4. A estrutura enxuta da empresa favorece. 3) Competências para inovar: 1. Boa comunicação entre os departamentos (primordial). 2. Grande agilidade no processo. 232 3. Acesso à informação. 4. Embora a hierarquia exista, há facilidade no acesso aos gestores (diretor, presidente). Eles são muito participativos. (questão cultural?) 4) Inovação radical na empresa: 1. 2. Como busca uma inovação radical para a empresa: 1. Mantém-se informada sobre o mercado e sobre tudo. 2. Busca associar coisas. Uma coisa que gera um grande impacto. 1. Sobremesas líquidas: 1. Não existe no mercado. 2. Oferece uma solução para uma demanda já existente que não tinha sido percebida. 3. Está concorrendo a um prêmio de inovação na França. 4. Nasceu no Brasil e teve uma projeção mundial. 5. É uma inovação radical para alimentos. 233 Projeto Ovos: Ovo em caixa e sobremesas líquidas Análise das respostas de MP Origem do projeto mostra a presença de uma visão inicial de oferecer uma solução maior: Então, se partiu de um primeiro produto, mas a gente já tinha uma visão de mercado para atuar com outros produtos. É uma visão que marketing, juntamente com desenvolvimento de produtos teve uma ideia. Na verdade foi: “-Não, vamos fazer tal produto, mas, sei lá, oferecer uma base? Que base?”, “-Puxa, a gente tem a fábrica de ovos, em vez de oferecer em pó, por que a gente não oferece líquido? A gente tem as pré-mesclas, para misturas em pó para bolo.” Em ideias, em conversas. Às vezes o seu próprio dia a dia, você se identifica com o produto. Uma mulher, que antes era uma dona de casa, hoje em dia tem que trabalhar, cada vez mais trabalha. A figura da dona de casa, claro, existe, tem muito valor, mas existe a mulher que trabalha e não tem mais tempo de fazer aquela receita de carinho: “-Ah, aquele quindim.” (Bem elaboradinho, com detalhes.) É, mas gostaria de fazer ou seria uma coisa diferente que ela fez. Então, a gente entra com essa solução. Evidências de rotinas (?) de comunicação (todas as áreas se ouvem): Nós temos reuniões mensais para o desenvolvimento de produtos, reuniões comerciais, onde a gente consegue um feedback muito grande no mercado, do que está no mercado. E reuniões com o pessoal da qualidade, que sempre vão dando um retorno, também de como é que está o produto. Então, é uma conversa. E tem uma reunião também por mês, que é onde todos se reúnem. Então, sempre é uma conversa, uma dinâmica muito boa e todas as áreas se ouvem. Isso é importante na AB, isso dá uma linearidade no projeto, que é bastante interessante. ...o único fator aqui, a AB Brasil falando, que permite essas inovações em produtos é essa comunicação entre as áreas, eficiência de comunicação. Eficiência assim, elas se conversam sempre, elas não trabalham em separado. Ideia de inovação como surpresa: Isso, na hora, o próprio Gerente de P&D chegou com a ideia, para mim foi uma grande surpresa. Sobre a inovação reversa: a gente sempre passa de uma referência caseira, de algum produto que a gente fala: “-Nossa! Tal pessoa, tal lugar tem um produto legal assim, serve. Um restaurante tem um quindim maravilhoso, é receita artesanal ou a minha avó tem receita de tal 234 produto.” A gente sai de uma referência de produto de mercado. Isso é importante. A inovação pode ser reversa. É uma inovação reversa, na verdade, em muitos casos. Que já existe no mercado... Exatamente. É uma informação, o que eu chamaria de uma inovação reversa... Então, na verdade, porque a gente aposta em um produto que já existe: quindim, pudim, fios de ovos. Mas qual é a inovação? Ele é líquido. E a gente teve casos que não foi reverso, que é o caso do ovo, que a gente partiu de um ponto para chegar em outro, na verdade. Sobre competências para inovar dos clientes (distribuidores): a grande competência é o espírito de parceria. Referente ao processo de evolução e adaptação: É engraçado, é como se fosse uma estrutura, é uma estrutura viva, apesar de ser uma estrutura sólida, um organizacional sólido, ela tem uma mobilidade boa. Eu acho que ela é aberta a essa mudança. Ela é maleável, esse é o termo... Um grande exemplo era uma empresa focada em produtos de bakery e fermento, uma empresa de origem de fermento, passou a ter um produto que é bolo, pré-misturas para bolo e se adequou ao novo mercado. Alterações de forma de trabalho decorrentes da inovação: Fermento era um produto que se autovendia... . De repente a gente aparece com um novo produto, que não se autovende, que era o ovo. Então, foi uma grande mudança. Até processos de atendimento de qualidade mudaram, uma demanda muito maior. A forma, o mindset das pessoas muda muito, muda. Nesse ponto, eu acho que a nossa equipe... Para mim, isso favorece, por ser enxuta, favorece, por não ser muito burocrática, favorece. Referente ao processo de evolução e adaptação: É engraçado, é como se fosse uma estrutura, é uma estrutura viva, apesar de ser uma estrutura sólida, um organizacional sólido, ela tem uma mobilidade boa. Eu acho que ela é aberta a essa mudança... Ela é maleável, esse é o termo... Um grande exemplo, era uma empresa focada em produtos de bakery e fermento, uma empresa de origem de fermento, passou a ter um produto que é bolo, pré-misturas para bolo e se adequou ao novo mercado. Referente à motivação para inovar: Nós temos, eu acho que é importante até você saber, que nós temos processos, nós temos um sistema fabril ... que as ideias podem vir dos funcionários. E é uma ideia muito interessante, que mudam processos fabris. Mas a pessoa não simplesmente tem que ter a ideia, a ideia fica com quem realmente aplica essa ideia. Não 235 basta, por exemplo, eu chego para você: “-Ah, tive uma ideia.” E você vai lá e coloca em prática em ideia, conversa com o seu chefe. A ideia é sua, não é mais minha. E isso, a gente tem processos, premiações, não estou falando em forma financeira, que valorizem essas ideias, nós valorizamos muito isso. E isso ajuda muito. Sobre a valorização das ideias inovadoras na AB Brasil, motivações para inovar, sobre ter a ideia e executar, chamadas microunidades de negócios: Então, esse novo sistema que está sendo implantado é muito legal, eles têm uma autonomia, eles se sentem muito valorizados. Porque a ideia não é do chefe, a ideia é dele. E ele vai atrás, o que gera um pouco mais de conhecimento, ele não ficar restrito ao mundo dele, de ir lá, fazer exatamente uma tarefa. Ele já vai atrás de um equipamento, tem uma ideia maior... Sobre como a pessoa busca uma inovação radical, manter-se informado e fazer associações são dois temas comuns (SE, OX, AB Brasil): Buscando informação, sempre no dia a dia me mantendo informada sobre o mercado. Não só sobre o mercado de alimentos, sobre tudo.... às vezes de uma ação que não tem a ver com alimento, você associa isso ao seu dia a dia e pode trazer uma inovação para um produto, alguma coisa assim. 236 Projeto Ovos: Ovo em caixa e sobremesas líquidas Análise de template: (OP) 1. PROJETO OVOS 1) Definição para ovo em caixa: 1. Criou uma imagem do produto. 2. Todo mundo vê o produto pasteurizado, já entende o Brick, já tem essa ideia. 3. É inovador porque: 4. 1. O ovo pasteurizado ninguém tinha. 2. A padaria geralmente compra o ovo refugo (não padronizado) 3. Quebra paradigma: ovo para caixa (pesar). 4. A tecnologia proposta é nova. 5. Embalagem brick; barreira tecnológica para a concorrência. 6. Viabiliza o produto de forma nacional. Abordagem do produto inovador relacionada à competitividade do cliente. (vide comentários do respondente) 2) Definição para sobremesas líquidas: 1. Então, isso foi uma ideia de pesquisa e desenvolvimento. 3) Origem: 1. Ideia surgiu do presidente: 2. Aumentar a presença no mercado de padarias. 3. Não adianta brigar por preço. 4. O foco da empresa é qualidade. 5. Oferecer alguma coisa que ninguém tem. 6. Oferecer algo que todas as padariam consomem. 7. Não pensou na solução técnica. 8. Pensou na visão estratégica: o que entra em uma padaria? 9. Atender uma necessidade de mercado. 2. Início: 3. Tempo de desenvolvimento: aproximadamente 1,5 ano. 4. Lançamento: 5. Motivo: 1. . 4) Etapas: 1. Projeto era uma plataforma. 237 2. Segue caminho chamado Processo de Desenvolvimento de Produtos (PDP). 3. Geração de avaliação de oportunidade. 4. Geração da ideia e necessidade do consumidor. 5. Viabilidade tecnológica. 6. Desenvolvimento do produto. 7. Preparo para o lançamento. 5) Dificuldades encontradas: 1. Nunca tinham feito nada com ovo. 2. Desconhecimento. 3. Fábrica de ovos, sistemática de produção diferente do que está acostumado, não tem nada igual (rotinas ou hábitos?) 4. Do ponto de vista de mercado: consumidor vê caixa e acha que pode deixar fora da geladeira. 5. Aspectos legais. Burocracia. 6) Superação das dificuldades: 1. 2. Ovo líquido: 1. Do ponto de vista técnico tiveram de estudar e aprender. 2. Educar os distribuidores quanto ao uso do produto (geladeira). Sobremesas líquidas: 1. Estudar. 2. Conversar com outras áreas. 7) O que tiveram de fazer: 1. Pesquisa de mercado para saber como o mercado se comporta. 2. Identificar hábito de consumo dentro da padaria. (notar uso da palavra hábito). 3. Amostragem extremamente significativa. 4. Adquiriu máquina da Alemanha, tecnologia não disponível no Brasil. 5. Focus groups com padeiros e donas de casa. 6. Mudar o foco da abordagem, da pesquisa. 7. Entender a mecânica de consumo e a mecânica de compra foi um ponto de inovação. 8. Contratar grande número de assistentes técnicos para estar no mercado a toda hora. 8) Facilidades: 1. Já possuíam cadeia logística refrigerada para aproximadamente 85% do Brasil. 238 2. EQUIPE 1) Membros: 1. Cada um teve um carinho muito grande. 2. Todo mundo contribuiu. 2) O que tem (teve) de fazer: 1. . 3) Atitudes inovadoras: 1. A ideia do presidente de embalar o ovo e dar acesso a ele de uma forma que nunca foi feita antes. 4) Estímulos para inovar: 1. Era um desafio muito grande. 3. INTERFACE COM O CLIENTE 1) Competências dos clientes que ajudam a AB Brasil a inovar: 1. Porte do cliente importante para a adoção (vide comentários; aparentemente porte pode se tornar uma categoria do template). 2. Preparo técnico do cliente, mais exigente. 3. Ajudaram a ter uma ideia da embalagem econômica (aspectos técnicos) 4. Validação do processo (embalagem). 5. Trabalham forte a questão de custos (custo de conveniência). 6. Ser competitivo. É a gôndola dele estar em um preço mais barato. 7. Ofertar produto sem contaminação. 8. Competência do navio é entretenimento. Dentro de entretenimento está a alimentação. Na alimentação reside o problema (necessidade) de armazenagem (navios de cruzeiro). 4. CONCEITOS 1) Inovação radical: 1. Definição: gerar algo fora do padrão atual. Muitas vezes é óbvia, mas ninguém pensou nela. 2. Atinge de forma contundente a necessidade do usuário ou consumidor. 3. Exemplos: telefonia celular, Pão Certo, Sobremesas líquidas, Mistura para fio de ovos. 2) Rotina: 1. O que você faz de forma sistemática, no seu dia a dia. 2. Pesquisa e Desenvolvimento vive de rotina. 3. O caminho do desenvolvimento do produto é sempre o mesmo, não importa qual é o produto. 4. A mecânica, a rotina é a mesma. 239 5. 6. Está divida em dois níveis: 1. Individual: Dinâmica, de acordo com a necessidade. 2. Coletivo: diz respeito à empresa, ao grupo. Ligada à cultura organizacional. Rotina de inovação: nosso formato de trabalho PDP; está se tornando um hábito. 3) Hábito: 1. É aquilo que você faz de forma impensada. 2. Hábito é mais inimigo da inovação do que a rotina. 3. O hábito é perigoso; por exemplo, hábito de usar uma matéria-prima que você já está acostumado e conhece muito pode te coibir de usar coisas novas. 4. Eu tenho medo do hábito porque ele pode gerar barreiras. 5. Para evitar o hábito frequentamos feiras, palestras, a gente conversa, ouve outras pessoas. 6. Hábito é individual 7. Hábito talvez possa ser transferido. 4) Competência: 1. Definição: habilidade para fazer de forma correta. 2. Ser eficiente e eficaz. 3. Saber fazer 4. Ter conhecimento. 5. Competência para inovar: 1. Requer experiência. 2. Vontade da pessoa e da empresa para inovar. 5. EMPRESA: 1) Na AB Brasil todo processo começa por marketing 2) Alterações na forma de trabalho: 1. Reuniões mensais ou semanais (compartilhar o conhecimento): 1. 2. Chances de manifestar dúvidas como observado na Serasa Experian. Mantiveram a sistemática do Processo de Desenvolvimento de Produtos (PDP) existente desde 2002. 3) Competências da empresa para inovar: 1. A maior competência são as pessoas (confunde com recursos?). 2. Visão clara que as pessoas trabalham juntas. 3. Bom relacionamento entre as pessoas. 4. A área de Pesquisa e Desenvolvimento tem livre acesso a outras áreas da empresa. 240 5. Processo de desenvolvimento fluido. 6. Competência da empresa: capacidade de fazer o que tem de ser feito, sendo eficaz e eficiente. 7. Capacidade inovadora: origina da competência mais básica, junto com a vontade de ser inovadora. 4) Reconhecimento dos profissionais: 1. Recursos materiais para o trabalho. 2. Treinamento. 3. Segurança. 4. Revisões salariais. 5. Atribui o crédito a quem teve a ideia. 5) Inovação radical na empresa: 1. 2. 3. É fruto do nível da dificuldade que é imposta para a gente. Um processo de vencer desafios. Exemplos: Pão Certo, Sobremesas líquidas, Mistura para fio de ovos. 6) Facilidade em mudar seu esquema de processos organizacionais: Sim. 241 Projeto Ovos: Ovo em caixa e sobremesas líquidas Análise das respostas de OP Dinâmica (velocidade) lançamento dos produtos e formas de inovar: Tem produto nosso aqui que às vezes, em uma semana a gente desenvolve. Os produtos que levam mais tempo aqui, que a gente sofre mais, são aqueles que levam um ano, um ano e pouco. A gente raramente tem um projeto que leve dois anos, três anos. Mas quando o projeto é longo, no nosso ponto de vista, estamos falando em um ano. E acontece, principalmente quando a gente está falando de... Que aqui dento da empresa, a gente divide os novos produtos em quatro categorias: uma a gente chama de melhoria, que você faz: “-Olha, vou mudar uma embalagem aqui. Vou mudar um sabor, que não ficou legal. O cliente não gostou.” Você vai lá e faz melhorias, faz pequenas alterações no produto. O segundo... É que eu sempre, são quatro, eu dou esse treinamento, mas tenho que ficar lembrando. É melhoria, extensão de linha. A extensão de linha, como o próprio nome fala, não tem nada de especial, você lançou um produto de abacaxi, lança um de morango, de maracujá. Você tem um outro, que a gente chama de novo produto, que é efetivamente uma coisa nova. E você tem uma outra, que chama-se plataforma. Então, nós estamos falando em melhoria, extensão, novo produto e plataforma. A plataforma tem esse nome por quê? Porque a partir dela, você vai gerar uma família de produtos ou várias famílias de produto. Procedimento, metodologia para inovar: como isso era uma plataforma, ele segue todo caminho que a gente chama de PDP, Processo de Desenvolvimento de Produtos. Ele vai pela avaliação da oportunidade: “-Olha, existe um mercado, existe oportunidade. A gente tem interesse.” Você passa para a geração de ideias e necessidade do consumidor. Nisso você vai gerar a ideia, porque: “-Ok, vamos entrar em ovo?”, “-Vamos. Mas como que a gente vai entrar em ovo? Hoje tem empresas que estão vendendo em pet de seis litros, tem gente que está vendendo em garrafinha fechada à mão.”, “-Não.” Por que a gente entrou com o Brick? A gente gerou uma barreira tecnológica para a concorrência. Inovação criando barreira tecnológica e financeira (qual seria segundo a definição de Gallouj?): Hoje tem empresas que estão vendendo em pet de seis litros, tem gente que está vendendo em garrafinha fechada à mão.”, “-Não.” Por que a gente entrou com o Brick? A gente gerou uma barreira tecnológica para a concorrência. Então, quando você pega o ovo e embala em um Brick, você gera uma barreira financeira e tecnológica, porque quem quiser fazer um Brick vai ter que comprar uma máquina dessas. Então, vai ter que investir bastante nisso. Definição do produto: A gente, na verdade, ao entrar no mercado, a gente criou a imagem do produto. Hoje, todo mundo que já vê o produto pasteurizado, já entende o Brick, já tem essa ideia. E a gente acabou tendo esse Q de inovação dentro do mercado. 242 A importância do porte do cliente e preparo técnico na adoção da inovação: E quanto maior o cliente, mais ele fica refém do produto. Por quê? Porque ele tem uma nutricionista e a nutricionista não quer saber de dor de cabeça. Ela fala: “-Não, de jeito nenhum, eu pago mais caro. Não tem salmonela, reduz risco, porque é pasteurizado, o risco de patogênicos é muito menor.” Então, quanto mais técnico, quanto mais preparado, em termos de informação, for um cliente, mais fácil é o nosso trabalho Treinamento da distribuição e aprendizados (surpresas da inovação): E a gente fez isso em todo o Brasil, nós tivemos convenções, de entrar um sujeito vestido de caixinha de ovo. E você: “-Vamos entender o que é isso? Qual é o apelo de venda?”, “-É contra a salmonela.” Ninguém nem sabia que ia dar um rendimento melhor, que a gente não sabia também que o padeiro usava mal. Usava mal, não, o ovo que ele recebia era um ovo não padronizado. Só quando a gente começou a vender é que a gente descobriu isso, que são... (Sutilezas?) Um detalhe, uma sutileza. Como é que você pode imaginar que o sujeito, em vez de receber um ovo de 50 gramas, que é um ovo grande, o ovo dele vem 48 gramas. E você: “-Puxa vida, dois gramas faz diferença?” Pensa no consumo de ovo de uma padaria, que faz bolo, faz um monte de coisa, se você está falando dois gramas em cinquenta, é 4%. Quatro por cento do volume dele, às vezes... (É bem considerável.) Exatamente. Só que esse é um tipo de coisa que você não descobre, mesmo em pesquisa, nunca vai passar pela sua cabeça que era tão despadronizado. Elemento indicador da cultura de inovação: Então, isso foi uma ideia de pesquisa e desenvolvimento. Porque aqui na AB Brasil todo processo começa por marketing, mas a gente tem liberdade de apresentar ideias. Elementos indicadores do aprendizado: ...a gente teve que estudar, teve que pesquisar... A gente foi conversar com as outras áreas, porque a gente não sabe tudo.... A gente começou a perguntar sobre o que ajudava o ovo a durar mais, o que ajudava o ovo a durar menos..... juntou com o que a gente sabia, mais o que a gente não sabia, que a gente foi correr atrás de literatura. Aqui, por incrível que pareça, a gente ainda usa livro, artigo, essas coisas. Elementos indicadores da responsabilidade ética e respeito às leis: ...a gente fax tudo que manda a lei. (mesmo aspecto encontrado nas demais organizações investigadas). Diponibilidade para canibalizar rotinas, para a mudança: A gente está no mercado há 80 anos, mas em áreas totalmente diferentes desse produto. Então, de repente, tudo aquilo que a gente está acostumado a fazer, talvez não fosse o melhor approach. E a gente viu que não era o melhor approach. E com isso a gente teve que, não diria, mudar a sistemática de pesquisa, mas a gente teve que mudar o foco da pesquisa, para entender uma série de coisas. Porque uma coisa é a venda do fermento e a outra coisa é a venda do ovo, que são coisas totalmente diferentes. Porque, por exemplo, o fermento, o consumo dele é sazonal, varia. No inverno, é mais frio, usa mais fermento, no verão, é mais quente, usa menos fermento. A gente já está 243 acostumado com a mecânica. E ovo, quem é que toma a decisão de compra? É o mesmo cara que compra o fermento? Às vezes não, por incrível que pareça. Característica de inovação radical (lucros provenientes do novo): Esse produto, quando começou, ele era uma área minúscula, dentro da fábrica de ovos. E, hoje, é o que mais vende dentro da fábrica de ovos. Então, ele saiu de nada ao carro-chefe. Como a inovação (rotinas de inovação) funcionam como gatilhos para disparar novos procedimentos e realmente são de ordem maior: Então, a gente teve que entender a mecânica de consumo e a mecânica de compra. Isso foi um ponto da inovação. Outro ponto foi que a gente tem um produto, que apesar de ter que ser mantido refrigerado, ele sempre teve uma grande resistência às pequenas flutuações de temperatura, ao longo do processo de ter transporte e estocagem. Por outro lado, o ovo não admite. Então, isso nos obrigou a pensar no seguinte: “-O que nós temos que fazer para que seja viável esse tipo de produto, em termos logístico.” Então, a gente teve que rever muita coisa, até os próprios distribuidores. Se eu não estou enganado, a companhia ajudou a compra de resfriadores para os seus caminhões, para as suas frotas, a companhia teve que ter esse cuidado. Na parte de pesquisa: “-Puxa, como é que vai fazer o ovo durar mais tempo e tal?” Esse é um ponto. Na parte de produção, o cara está acostumado a fazer ovo líquido e embalar em caminhão de não sei quantas toneladas, para fazer panetone, para fazer macarrão, para fazer... E de repente você fala: “-Olha, você vai fazer agora, caixinha de um quilo.” Então, todo mundo teve que dar uma cota de contribuição. Porque vinha um outro detalhe: você embala um caminhão de, sei lá, 10, 15 toneladas, como caminhão tanque. Você vai lá e mete um mangote e está resolvido. E agora, e com não sei quantas toneladas de ovo em caixa, clara em caixa e gema em caixa? É o seguinte: quando você carrega um caminhão tanque, você [palavra inaudível] um produto. Quando você parte para um produto em caixinha, você passa a ter um portfólio. Então, a companhia teve que readequar a forma de produção, de estocagem, de controle de estoque, de logística. Tudo isso teve que ser repensado, tudo isso a gente teve que mudar. Elementos de cultura e liderança: Ele deve ter feito a mesma coisa com todo mundo. E eu acho muito legal isso também, que é o seguinte: embora ele seja o presidente da empresa, ele não é um ser inalcançável e inatingível. Ele é uma pessoa, todo mundo aqui adora, ele chega, cumprimenta um por um. Não tem essa coisa do: “-Eu sou o cara.” Pelo contrário, pessoa extremamente humana. E ele tem essa coisa, ele está com uma ideia, ele sabe o seguinte: “Olha, eu acho que esse tipo de avaliação, fulano vai me ajudar.” Então, ele chama: “- Fulano, olha só, o que você acha disso aqui?” Ele: “-Puxa, legal.” Ele gosta. Ele deve ter conversado com as outras áreas também, se interessado, levantado. Então, é que, sei lá, eu vejo assim, isso aqui é muito fruto da visão dele, ele teve um insight muito bem dado e todo mundo gostou da ideia e foi atrás. Eu acho que valeu á pena. Abordagem do produto inovador relacionada à competitividade do cliente: Interessante, a nossa argumentação de venda é a seguinte: “-Eu estou te vendendo rendimento, dependendo do teu caso, eu estou te vendendo higiene, estou te vendendo segurança alimentar, estou te vendendo facilidade de armazenagem, estou te vendendo conveniência de recebimento. Todos 244 os dias, uma vez por semana, qualquer horário que você queira.” A gente nunca vendeu ovo, esse é outro ponto muito importante. A nossa argumentação de venda não é venda de ovo. Elemento de adaptação ao mercado: ... eu vejo muito a companhia como uma entidade em crescimento constante. Na verdade, até me preocupa, que ela está crescendo rapidamente, está crescendo muito. E a gente é muito, talvez uma característica da AB Brasil é que ela é uma empresa muito agressiva. Agressiva em que sentido? Eu não vou morrer no mercado, eu vou crescer. Então, se você pegar a AB Brasil nos últimos anos, a gente, a área de panificação, por exemplo, a gente multiplicou por dez o nosso volume. Estamos falando em cinco anos. A importância dos fornecedores para Pesquisa e Desenvolvimento: Porque aqui, a gente não sofre do mal do orgulho, então, a gente conversa com os fornecedores: “-Você tem alguma ideia aí?” A gente troca, a gente vai lá e a gente, sabe?... Por exemplo, eu estou já ensaiando uns passos com um open inovation aqui dentro. Alguns fornecedores nossos estão desenvolvendo alguns produtos, a gente já tem um que está fazendo agora trabalho já, que já está fazendo custeio. Sobre a transferência de hábito (notar Becker fala em rotinas para a transferência): A rotina está dividida em dois níveis: individual e o coletivo. A rotina coletiva é aquela que diz respeito à empresa, ao grupo... Agora, rotina é coletiva, porque ela está muito ligada à cultura organizacional, na minha opinião. Você não tem hábito organizacional, você tem rotina.... Hábito, eu vejo como uma coisa muito particular, uma coisa muito sua e você pode tentar incutir nas outras pessoas, que também acaba acontecendo... Então, de repente, seria até um outro ponto, que o hábito pode ser de repente, transferido. E isso é um outro perigo, se for uma coisa boa, ok. Mas e se não for uma coisa boa? É um problema. 245 Projeto Óleo de Andiroba das Mulheres Pescadoras da Ilha de Marajó Análise de template: (US) 1) Definição 1. É inovador porque: 1. Introduzir a Andiroba no mercado cosmético (mercado nunca explorado; nova aplicação de produto?) 2. Criação do Programa de Valorização da Biodiversidade, geralmente realizado por ONGs e não entidades privadas. 3. A relação é inovadora (ganha-ganha entre empresa e comunidade). Três premiações internacionais. 4. As pessoas (mulheres pescadoras) saíram de uma situação em que estavam, de fora do mercado para dentro do mercado, sem mudar a maneira delas de viver. 2) Origem 1. Início: 2001 – aquisição da Brazmazon, 2003 iniciou o projeto. 2. Tempo de desenvolvimento: 3. Lançamento: 4. Motivo: 3) Etapas: 1. 2000 – Uma empresa cliente da Beraca convida a empresa para participar como fornecedora de matéria-prima. 2. Proprietário da Beraca vê um artigo na Gazeta Mercantil sobre professores / pesquisadores que já processavam óleo de Andiroba (maior facilidade de acesso, no mangue) 3. 4. 2001 -Aquisição da Brazmason em 2001. 5. 2003 - Início do projeto com as mulheres pescadoras. 6. 2005 - Treinamento para as mulheres em como se organizar. 7. Organização da comunidade Coopemaflima. 8. Beraca inicia processo para agregar valor à relação: 1. 9. Certificadora orgânica francesa (Ecocert) para treinar a cooperativa. 2006 – Cooperativa recebe a certificação de produto orgânico. 10. 2007 / 2008 – Fundação L´Occitane visitou a cooperativa e fez um aporte de capital para a Coopemaflima. 11. 2008 – Construção da sede da Coopemaflima. 246 12. 2010 – Obtenção de recursos do Governo Federal para compra de equipamentos para produção de óleo e da Secretaria de Desenvolvimento Florestal para o plantio de ervas aromáticas e medicinais. 4) Dificuldades encontradas: 1. Desconhecimento do território e forma de trabalhar na Amazônia. 2. Distância da região Amazônica. 3. Transformar um projeto laboratorial em escala industrial. 4. Desconhecimento por parte dos clientes quanto ao uso da Andiroba. 5. O trabalho na Amazônia envolve relação com comunidades: 1. Comunidades não organizadas (foco deste trabalho) 2. Comunidades organizadas. 3. Comunidades muito organizadas. 6. Desconfiança por parte das mulheres para se agrupar em cooperativas. 5) Superação das dificuldades: 1. Contratação de um professor doutor nascido no Pará. 2. Criação do Programa de Valorização da Biodiversidade: 1. Questão ambiental. 2. Questão Social. 3. Questão de Certificação. 3. Uma empresa cliente da Beraca, com boa reputação, lançou uma linha de produtos fundamentada em produtos Amazônicos, que contribuiu para a aceitação da Andiroba, que era desconhecida no mercado. (adoção da inovação?) 4. Os produtos naturais ganharam importância na vida das pessoas. (Contingência externa. Vide caso da SE no projeto Me Proteja, não se trata de uma contingência externa também o fato de as pessoas estarem sujeitas ao furto da identidade?) 5. Obtenção da certificação Forest Stewarship Council (manejo florestal) 6) O que tiveram de fazer: 1. Treinamento das pessoas. 2. Realizar testes para comprovação científica do uso da Andiroba. 3. Provar que não estavam desmatando a floresta (produtos florestais, não madeireiros). 2. EQUIPE 1) Membros: 1. Gerente de relações com a comunidade. 2. Engenheira florestal. 3. Advogada. 247 4. Treinamento (segurança e práticas). 5. Administrativo: fecha acordo de preços. 6. Compras: negociação. 2) O que tem (teve) de fazer: 1. Descobrir pessoas da região Amazônica para trabalhar com a Beraca. 2. Capacitação de liderança (mulheres). 3) Atitudes inovadoras: 1. Como surgiu a ideia de trabalhar com produtos Amazônicos: em 1976, durante uma viagem para lá feita de navio. A vastidão e beleza da natureza (notar que origem está muito antes do projeto). 2. Estudar, conhecer como poderia transformar estudos acadêmicos em produto vendável em escala industrial. 3. As mulheres compraram terreno com a venda da Andiroba (proatividade) 4. Criação da cooperativa e treinamento intensivo em todos os aspectos. 4) Estímulos para inovar. 1. 3. INTERFACE COM O CLIENTE 1) Formas de trabalho: 1. Relações contratuais. 2. Transparência e satisfação nas relações. 2) Competências que ajudam os clientes da Beraca a inovar: 1. 2. Desconhecimento por parte dos clientes quanto ao uso da Andiroba (oportunidade). Direcionamento para onde ir para poder atendê-los no que precisam. 3. É um desafio porque não existem muitos estudos ligados à indústria cosmética. 4. Cliente inovador, que busca inovação. 5. Duas possibilidades de relação com o cliente: 1. Inovação solicitada pelo cliente. 2. A Beraca apresenta uma inovação, pesquisada por ela, que acredita ser de interesse do cliente (Pull and Push). 6. Cliente de grande porte, inovador, que procuram coisas que não existem no mercado (naturais, orgânicos, sustentáveis). 7. Clientes fornecem avenidas, linhas pelas quais navegam (clareamento de pele, antienvelhecimento, queda de cabelo, coloração) (seriam plataformas?). 8. Exemplo: empresa cliente colocou um de seus altos executivos estudando por dois anos o cabelo da mulher brasileira. 4. CONCEITOS 1) Inovação radical: 248 1. Exemplo computadores e celular. 2) Rotina: 1. A rotina pode ser recheada de bons hábitos (relação de pertencer - rotina contendo hábitos). 2. As empresas possuem rotinas. 1. Rotina de inovação: 1. Ler tudo que é relativo ao que faço. 2. Participar em eventos. 3. Ter cabeça investigativa (exercício). 4. Saber escolher, focar, dizer não há algumas coisas. 3) Hábito: 1. Você cria. 2. Não nasce com você. 3. Os maus hábitos vêm com você. 4. Os bons hábitos você tem de buscar. 5. Hábito é mais individual 6. Hábito de inovação: 1. Quando vou a lugares novos, pego meu carro para olhar. 2. Vou ao supermercado e vejo o que tem. 3. Pergunto ao taxista o que ele pensa o que acha. 4. A partir daí, você pinça conceitos. 4) Competência: 1. É trabalhar e abrir espaços para parcerias (na Amazônia). 2. Habilidade de valorizar o trabalho das comunidades indígenas e angariar o reconhecimento delas também. (confiança na parceria? – elemento da relação) 3. Conhecimento científico. 4. Saber usar o canal de vendas. 5. EMPRESA: 1) É inovadora por que: 1. Tem realizado feito inédito na Amazônia. 2) O que faz buscar uma inovação para a empresa: 1. Forte motivação pessoal: 1. Morte do pai. 2. Propósito de mudar o paradigma de que o Brasil só exporta commodity. 3. Comportamento irrequieto. 249 4. Desafio da inovação. 5. Crença, religiosidade. 3) Compartilhamento (domínio) do conhecimento: 1. Estão escrevendo um manual sobre bioprospecção (contato com as pessoas e natureza): 1. Conhecem os líderes das comunidades. 2. Possuem seus endereços (GPS) 3. Quando e quanto as comunidades produzem. 4. Em que estado de organização se encontra cada comunidade. 5. Como está a relação com cada comunidade (relação medida em compra) 4) Alterações na forma de trabalho: 1. Tivemos que focar os negócios. 5) Como (pessoa entrevistada) busca inovação radical: 1. Ela acontece. 2. Quando aparece e você te a habilidade e a capacidade de identificar e trazer isso para o mundo real. 250 Projeto Óleo de Andiroba das Mulheres Pescadoras da Ilha de Marajó Análise das respostas de US O que faz buscar uma inovação radical para a empresa (motivação pessoal: figura do empreendedorismo do pai):... Eu creio que se eu fosse projetar o que a empresa é hoje, eu não imaginaria que ela chegasse a ser como é. No melhor dos meus sonhos, eu não teria chegado onde cheguei. Não que a minha empresa seja perfeita, que nós estamos realizados. Não: há muito o que fazer, hoje, dentro da empresa; e a há muito o que fazer, também, nos dias que virão. Mas da onde nós saímos e até onde nós chegamos, eu creio que foi uma condução. Uma condução... E os drives dessa condução foram o meu pai, que foi um cara empreendedor por si só. . Ele, como uma grande geração dos nossos pais, que começaram do nada. Meu pai se formou em contabilidade lá no Instituto Gammon em Lavras. Veio para São Paulo com uma mão na frente e outra atrás. Começou como um cara de vendas e chegou a ser gerente de vendas de uma multinacional que fechou aqui no Brasil. Uma multinacional química. ...E meu pai sacava essas coisas. E ele usou aquele produto que a fábrica de soda-cloro aproveitava a soda e um pouquinho do cloro; o resto ela punha em um emissário e soltava no mar como ácido clorídrico. Que era uma desgraça. E ele pegou aquele... (Resíduo.) Exatamente. Por isso que a coisa se replica. Porque os resíduos das sementes que nós estamos trabalhando na praia, não deixam de ser uma réplica do que meu pai fez lá atrás com aquilo que se perdia. Então, eu não sei. Como eu disse: nós somos meio conduzidos; está meio no sangue isso aí. E montou essa empresa em 1956, acreditando naquilo que era o valor dele, que é o que ele sabia, que é mercado e a capacidade que ele tinha de negociação. Meu pai era um grande negociador, comerciante. E, aí, ele venceu. Ele foi muito bem no que ele fez. Ele era distribuidor. A Beraca começou com isso. Naquela época, como Sabará Indústria e Comércio. E eu nasci e fui criado com esse pai que eu tive que não era o rei do carinho. Mas ele me ensinou a trabalhar, me ensinou a ser honrado, ensinou que as coisas... Vale mais o bom nome do que as muitas riquezas. Esse é um texto até da Bíblia Sagrada: e que a gente deve preservar o nome. E, muitas vezes, em detrimento até a si próprio. E com isso bem-diante dos nossos olhos, a gente não teve muita opção, sabe? Meu pai morreu, eu tinha 19 anos. O que eu ia fazer da vida? Largar lá não dava. Viver do quê? Eu não estava formado ainda. Tive que correr atrás. O que faz buscar uma inovação radical para a empresa (crença e religiosidade):... Porque a nossa história tem essa gênesis. Por isso o nome Beraca. Beraca está escrito ali na Bíblia, Segunda Crônicas 20:26. O que é Beraca?... Por um vale, que se chamou vale de Beraca. Que em hebraico, quer dizer benção. Importância das parcerias: Então, por quê? Porque é uma questão de competência. Se eu fizer muito bem-feito o que eu faço dentro da minha competência, mas eu abrir espaço para parceiros... Porque na Amazônia, você não vai trabalhar lá dentro sozinho: isso não existe. É um universo. É muito complexo e desconhecido para nós, aqui, do Sul. 251 Capacidade de estabelecer as parcerias: O fair trade... Eu sempre digo isso, que, agora, é o assunto do momento; que eles chamam de ABS, que é access benefit-sharing. Esse é o assunto da COP 10 em Nagóia, que vai ter. A Beraca participa da elaboração do que será a proposta de ABS já que a tal da Rio + 20, que é a Rio-92... Então, em 2010, vai ser apresentada a proposta do que você remunera no acesso e como é que você divide os seus benefícios. E a minha proposta é muito simples: se você dá tudo que você tem, você não tem nada. E o fair trade não é faire se ele for um trade só. Eu acho que o fair relationship, ele sim; aí sim. Se existe uma cadeia que se perpetua, é sustentável. Não adianta chegar lá e falar: “Quanto vale?”, “-R$ 2,00.”, “-Tá: te dou R$ 3,00.” E nunca mais volto. Não adiantou nada: isso não é sustentável. Essa é a minha opinião. Por mais que a certificadora fair trade FLOA, que seja, chegue para mim e diga: “-Não, eu preciso regular a sua transação.”, “-Eu não quero regular a minha transação; eu quero regular a minha relação. Você tem isso aí no seu manual?”, “-Não, não tem.”, “-Vamos fazer o seguinte, cara: senta aí e vem aprender com a gente. Porque aqui no Brasil, na Amazônia, a gente faz diferente.” ...E, hoje, o Brasil tem essa representatividade e essa competência de apresentar soluções inovadoras nessa relação pessoas-pessoas. ...Então, em termos, novamente, de competência: nós estamos criando uma competência local para levar contribuições ricas para o que será a relação futura de negócios entre os povos. Habilidade enquanto competência: Agora, a habilidade que nós tivemos foi: “-Está bom. Eu valorizo o seu universo.” E eu disse isso para o Bonifácio José, que é o presidente da Fundação de Assuntos Indígenas; primeiro presidente indígena da história, porque sempre foi branco. Nada a ver. E um dia ele esteve aqui. Eu, conversando com ele, vai daqui, vai de lá, eu falei: “-Olha, Bonifácio, sabe quando vai dar certo uma relação com a gente? O dia que você valorizar o que eu faço tanto quanto eu valorizo o que você faz. Você vai descobrir, um dia, que eu tenho valor, cara.”.... Mas se houver uma parceria... Porque se você usar a minha competência e eu usar a sua, nós colaborarmos nisso e isso for justo, essa cadeia se liga desde a floresta, em preservação e uma remuneração social adequada ali, para aquilo que você valoriza... Conhecimento como competência:...mas aí tem o conhecimento científico que é superimportante. Que também tem que estar nessa cadeia. E, aí, você tem todo um canal de venda. Que os projetos na Amazônia tropeçam aqui: porque não tem competência para colocar aquele produto de uma maneira adequada. O momento da ideia de fazer um negócio na Amazônia, do insight, da inovação:... Surgiu do seguinte. Eu. Exatamente eu. Por quê? Porque em 1976, quando eu entrei na faculdade, eu fui fazer uma viagem para a Amazônia. E lá eu olhei aquilo e falei; “-Um dia eu vou fazer um trabalho nesse lugar.” ... Por causa da riqueza e por causa da... Como é que eu falo? Por se uma coisa única. É único. O Brasil tem essa riqueza, muito pouco explorada, no bom sentido, pelos brasileiros. 252 Assim, a vastidão nos faz sentir muito pequenos. A gente, diante de uma vastidão e você olha aquele. Porque eu fui de navio, eu fui de barco. Para um garoto de 18 anos, que eu tinha na época, foi um negócio muito forte para mim. Só que eu não tinha a mínima ideia de como é que eu ia fazer algum negócio naquilo ali...Pensei: “-Nem que fosse algum dia, eu ainda venho para cá de novo, vou fazer alguma coisa. Tem muita riqueza aqui, muita floresta, muito fruto.” ... Um insight, exatamente. A questão da apropriação das rendas devido ao desenvolvimento de relação com a comunidade:... Agora, o que eu digo sempre: “-Se eles me valorizarem, como eu os valorizo, acho que nós temos um bom negócio aí.” Porque eles estão lá. Até hoje não conseguiram fazer. Então nós temos um valor na cadeia. Certo? E isto, quando eles percebem e aí todo mundo me pergunta, faz a mesma pergunta: “-Escuta. Como é que você garante que esse cara que você está investindo não vai vender para outro?” Eu não garanto. O que garante é a palavra. .... E, aliás, eu quero que ele venda para muitos e ele vá muito bem. Agora: “-Ah, mas ele pode te trair.” O que é traição nesse caso? A floresta está lá, não tem cerquinha. Você não pode chegar lá, botar uma cerquinha e falar: “-Pertence à Beraca.” A não ser que eu compre. A Amazônia está lá, gente. Certo? Agora, se eu fizer bem feito, eu sei que eu vou fazer uma transformação que vai ficar marcada na cabeça e nos corações das pessoas que estão lá. E enquanto eu mantiver essa plantinha regada, o quanto eles vão ser fiéis àquilo que a gente fez. É uma relação diferente A questão da apropriação da apropriação do conhecimento e respeito às leis:... Existe o tal do conhecimento tradicional, que esse ajuda muito, mas ele é muito delicado. Você precisa ser muito cauteloso, porque você tem que repartir tudo aquilo que você aprender de comunidade ribeirinhas ou indígenas. Você tem que repartir da onde você teve aquela informação. Isso é o CGEN, que é a lei ou o projeto de lei brasileiro, de acesso à biodiversidade brasileira. Então o CGEN determina que: 1. Onde você conseguir uma informação tradicional, você reparta. Você tem uma relação contratual com o grupo aonde você conseguiu aquela informação. 2. Que você tenha uma relação, com o meio ambiente, sustentável. 3. Se aquilo se tornar um produto, porque pode ser para pesquisa que você fez o acesso. Certo? Você tem que também determinar que tipo de remuneração você ai dar para os grupos e a localidade da onde você tirou aquele primeiro acesso. Você fez aquele primeiro acesso à biodiversidade brasileira. ... E a Beraca trabalha seguindo esses padrões, que são padrões brasileiros. E muito interessantes... Então a gente tem muito cuidado com as informações que nós vamos buscar. Sobre como busca uma inovação radical:... eu acho que ela acontece. Eu acho que, se você tiver a sua rotina usando os dois: os seus hábitos de inovação e a sua rotina, ela acaba caindo na tua mão.... Agora, eu criei um ambiente em que eu recebo informação e troco informação e 253 estou checando. Eu tenho as minhas rotinas e os meus hábitos. E uma hora aquilo aparece e você tem a habilidade,e a capacidade de identificar e trazer isso para o mundo real. 254 Projeto Óleo de Andiroba das Mulheres Pescadoras da Ilha de Marajó Análise de template: (W e J) 1) Definição 1. É inovador porque: 1. Processo que iniciou há dez anos. A empresa já está alcançando quase 40 países ao redor do mundo e pensa que potencialmente este negócio pode se tornar seu core business. 2. Inovador para o mundo. 3. Olhar a sustentabilidade por todos os ângulos. 4. Participação ativa na regulamentação / legislação do setor. 5. Valor associado às marcas e à imagem corporativa dos clientes por estarem associados à prática da sustentabilidade. 6. Motivou a abertura em um escritório e Paris, com ênfase neste mercado. 7. Demanda induzida: desafio de enfrentar produtos sintéticos que possuem similar funcionalidade e são mais baratos porque não naturais, não são orgânicos, não são sustentáveis. (químicos de grande escala de produção?) 8. Mudança de posição na cadeia de fornecimento: de óleos para moléculas. 2) Origem: 1. Início: 1. Aproximação de pesquisadores da Universidade Federal do Pará; 2. Conhecimento de um projeto incubado na universidade sobre a extração de óleo de espécies da biodiversidade amazônica. 3. Identificação do potencial de algumas espécies para a indústria cosmética. 4. 1999 tornaram-se sócios minoritários de uma empresa, a Brasmazon. 2. Tempo de desenvolvimento: 3. Lançamento: 4. Motivo: 3) Etapas: 1. Instalação de uma operação industrial em Ananindeua. 4) Dificuldades encontradas: 1. Barreira cultural. 2. Desconhecimento da relação com os povos tradicionais, primitivos da floresta. 3. Revela a ausência do poder público no sentido de fomentar, por exemplo, cooperativas. 4. Dificuldade de encontrar mão-de-obra qualificada na região. 255 5. Legislação local não prevê algumas especificidades da atividade cooperativa da região. 5) Superação das dificuldades: 1. Criação do Programa de Valorização da Biodiversidade: 1. Gerência de relação com a comunidade: nível de organização, nível de regulação, exigência governamental. 2. Gerência de recursos florestais: trato da biodiversidade, manejo sustentável. 6) O que tiveram de fazer: 1. Necessidade de treinamento para qualificação das pessoas. 2. Enfrentar desafios. 3. Promover encontros com as comunidades “Beracom” conduzindo-as para dentro da planta para que conhecessem como a Beraca processa a matéria-prima da floresta. 2. EQUIPE 1) Membros: 1. Líderança do presidente. 2. Gerência de relação com as comunidades 3. Gerência de recursos florestais. 4. Relação com entidades certificadoras: Ecocert, por exemplo. 5. Área jurídica. 6. Especialista em inovação de produtos da biodiversidade. 7. Relação com as universidades. 8. Gerência industrial em Ananindeua. 9. Braço de distribuição, em São Paulo 2) O que tem (teve) de fazer: 1. Contratar algumas competências. 3) Estímulos para inovar: 1. Inputs comerciais 2. Ações conjuntas, investimentos da empresa e necessidade de mercado. 3. Motivado e impulsionados por aquilo que a gente acredita. (acreditar) 4) Atitudes inovadoras: 3. INTERFACE COM O CLIENTE 1) Formas de trabalho: 256 2) Competências dos clientes que ajudam a Beraca a inovar: 1. Apontar determinada demanda. 2. Parceria no desenvolvimento. 4. CONCEITOS 1) Inovação radical: 1. W: extrapolar o convencional; é um radicalismo. Ex.: carro movido à hidrogênio. 2. J: Algo que não foi pensado, diferente, viável. Resíduo que virou produto. 2) Rotina: 1. Definição: 1. W: Rotina é um desastre; é o ser humano se tornar um objeto estático. 2. J: Rotina é a imposição. 3. Rotina de inovação: 1. W: Cumprir o script de planejamento. 3) Hábito: 1. 2. Hábito: 1. W: Aquilo que quero fazer bem-feito, que quero fazer com excelência, pode see tornar um hábito. 2. J: Aquilo que faço com frequência, não necessariamente com prazer, mas é aquilo que estou predisposto a fazer ou faço periodicamente. 3. J: Hábito é mais inerente à pessoa. 4. W: tanto hábito quanto rotinas são induzidos pelo coletivo. (cultura, ambiente organizacional?) Hábito de inovação: 1. . 4) Competência: 1. Competência para inovar: 1. Ser visionário. 2. Olhar fora da caixa. 3. Quebra de padrão, pode até ser conduzida tecnicamente. 4. Uma enorme dose de ousadia. 5. Assumir riscos; não ter medo de assumir riscos. 6. Se expor a um negócio completamente diferente do tradicional, do caminho convencional de um desenvolvimento ou de uma nova aquisição. 257 5. EMPRESA: 1) Competências da empresa para inovar: 1. Ousadia 2. Pessoas capacitadas (back office), retaguarda. 2) É inovadora por que: 1. Ambiente contribui para a inovação dentro da empresa. 2. Ambiente resiliente. 3. Ambiente de liberdade e de confiança. 4. Todos os departamentos são convidados a inovar (engajamento) 3) O que faz para buscar uma inovação para a empresa: 1. Algumas inovações radicais no conceito de gestão. Implementação de ferramentas para conceder ao gestor informações mais ágeis, confiáveis. (inovações organizacionais baseadas em TI) 4) Compartilhamento (domínio) do conhecimento: 1. Know how construído para novos biomas do Brasil 5) Alterações na forma de trabalho: 1. Abandonar o olhar conservador que existia em relação aos mercados. 2. Algumas inovações radicais no conceito de gestão. Implementação de ferramentas para conceder ao gestor informações mais ágeis, confiáveis. (inovações organizacionais baseadas em TI). 6) Como (pessoa entrevistada) busca inovação radical: 258 Projeto Óleo de Andiroba das Mulheres Pescadoras da Ilha de Marajó Análise das respostas de W e J Relação e Barreira cultural:... Eu acho que a principal barreira foi cultural. ... Porque a relação com a comunidade tradicional, com os povos tradicionais da floresta, não era um universo conhecido da nossa empresa. Então, a gente contou muito com o apoio dos pesquisadores locais para estreitar essa interlocução entre a comunidade tradicional e o mundo dos negócios. Então, os povos tradicionais, historicamente foram explorados por diversas indústrias: a indústria da madeira, a indústria da borracha, enfim, por diversos ciclos de exploração. E a nossa proposta era diferente, era tornar a comunidade não só a detentora da propriedade ou da terra que ela está utilizando, mas principalmente ela iria se tornar uma comunidade organizada, em forma de cooperativa ou associação e se tornaria também empreendedora, dona do seu próprio negócio. Que não dependeria exclusivamente da nossa atividade, além da nossa atividade, ela poderia derivar para outros mercados. Dificuldades impostas pelos aspectos regulatórios:... Tem outras dificuldades também, que pode complementar. Quando tem esse aspecto social lá, esse aspecto cultural e que demonstra também a ausência do poder público lá, como um potencializador ou alguém que fomenta a organização dessas associações.... E a regularização também. Então, por exemplo, a gente hoje, a gente tem dificuldade de ingressar com matéria-prima dentro da nossa planta, oriunda dessas comunidades. Porque como nós somos uma pessoa jurídica, a gente está sujeito ao fisco e temos que ingressar com nota fiscal e tal. E a legislação local é muito confusa. Estou dizendo de dentro do estado do Pará mesmo, especificamente. E para fazer o ingresso dessa mercadoria, então, eu tenho que passar pela Receita Federal, tirar uma nota fiscal avulsa, para que eu possa ingressar com essa mercadoria, com essa matéria-prima legalmente dentro da empresa. E a legislação lá acaba inviabilizando esse processo, porque eles criam leis para que eu tire hora pela internet... Coisas que o ribeirinho não tem acesso, não tem conhecimento e não tem acesso. Sobre o conhecimento adquirido e réplica das rotinas:... eu acho que foi um know how construído ao longo desses dez anos, que permite que esse mesmo modelo seja replicado para os demais biomas do Brasil. Sobre transmissão do conhecimento adquirido e rotinas enquanto padrões:... Assim, colocando literalmente aquela pergunta que você colocou, se você entrasse hoje na empresa assim. Acho que você não teria muito problema. Dentro da nossa planta existe, como um processo de qualidade, a gente tem uma série de procedimentos-padrão, que são os POPs. E isso, eu estou falando dentro da Beraca, dentro da porta da planta para dentro. Então, esses procedimentos guiam os processos dentro da empresa, então, a aderência para qualquer outra pessoa que por ventura for fazer, se torna mais fácil. Sobre o modelo de negócio e contribuição na institucionalização: O trabalho, nesse modelo de 259 negócio, o que é muito importante? Porque além do diálogo com a comunidade... nós temos uma participação muito ativa em política pública. Então, nós participamos ativamente, por exemplo, da regulamentação do CGEN, que é Conselho de Gestão do Patrimônio Genético do Brasil. É uma legislação, é um ambiente legal que está sendo criado para preservar e cuidar de tudo aquilo que diz respeito à nossa biodiversidade. Então, isso foi encabeçado pelo Ministério do Meio Ambiente e a Beraca, desde o embrião desse projeto, participa das discussões no Ministério, participando da regulamentação do CGEN. Então, outra coisa importante que está sendo criada é uma legislação própria, também transversal, com a participação do Ministério do Meio Ambiente, Ministério do Desenvolvimento Social, Desenvolvimento Agrário, Mapa etc., Conab, que é a construção da lei do mercado de produtos da sócio-biodiversidade. Então, isso tende a se tornar também um marco legal no Brasil, que vai estabelecer uma política... Que na verdade, já existe essa política, nós já aderimos a essa política, inclusive, como empresa, uma política chamada Política de Garantia de Preços Mínimos, PGPM. Que é regulamentado pela Conab, que garante que as frutas, sementes, as raízes que nós compramos das comunidades, exista uma prática de preço justo. Sobre a hierarquia das rotinas. Rotina de busca funcionando como um gatilho para a rotina de investimento: ... E que já motivou a abertura de um escritório em Paris, para nós internacionalizarmos de vez a empresa com essa atuação, com ênfase nesse mercado. Sobre a liderança: ... Eu acho que no embrião, esse foi um projeto liderado pelo Ulisses diretamente, que é o nosso presidente. Ele, desde o início até hoje abraçou, é a menina dos olhos da empresa. Então, ele, desde o embrião até hoje, é o pai desse projeto. Competências que a ajudam a Beraca a inovar: Desenvolvimento em conjunto com o cliente: ... E ora em parceria com os clientes mesmo, que apontavam para uma determinada demanda. Então, temos alguns produtos que o cliente veio com a demanda, levamos. E junto com eles, nós desenvolvemos tanto a origem, o processo e o produto semiacabado para ele, que a gente entrega e ele faz o produto final. Então, o comercial é um grande norte para que as pessoas, que aqui dentro a gente consiga fazer esse desenvolvimento. Notar a palavra vetor: ...Existem casos onde o cliente queria desenvolver um, queria que a matéria-prima fosse extraída de uma área em específico, uma matéria-prima em específico, de uma determinada região. E aí sim, a gente tem que fazer o desenvolvimento da área, fazer a pesquisa, verificar a viabilidade, não só a viabilidade econômica, mas a viabilidade físicoquímica do insumo em si, para ver se é apropriado. Então, sem sombra de dúvida, o cliente é um grande vetor desse desenvolvimento sim. Sobre a hierarquia das rotinas. Rotina de busca funcionando como um gatilho para a rotina operacional, mudança do modelo de negócios: ... Que a gente passa a ser um fornecedor de 260 especialidade de moléculas, de princípios ativos desses produtos e não mais um fornecedor de óleo, que pode se tornar uma commodity a qualquer momento. Mudança nas formas de trabalho para se adaptar ao novo modelo de negócios: ... – Eu acho que sim, eu acho que o olhar conservador, que existia em relação aos nossos mercados. Porque os nossos negócios estavam apoiados em commodities, em formatos extremamente convencionais, eu acho que nós tivemos que romper com isso. Então, romper com o convencional, tivemos que romper com alguns paradigmas nossos, que permitiu que a gente olhasse esse horizonte e o potencial que existia dentro desse novo negócio, dentro de uma perspectiva extremamente ousada. Então, eu acho que extrapolarmos o conservadorismo, nesse caso, foi determinante para a mudança que aconteceu dentro da empresa e fundamentalmente, para a gente estabilizar e estabelecer esse novo negócio. Ambiente e cultura da empresa propícios para a inovação: ... – Então, eu vejo que a principal contribuição nossa, para a inovação, está dentro de um ambiente que já existe dentro da Beraca, de participação e de diálogo principalmente, que envolve formações, equipes multidisciplinares etc. Que irriga esse ambiente com ideias e com soluções o tempo inteiro. Então, inovação não é um assunto tratado uma vez por ano, na reunião de planejamento. Inovação é um ambiente, quer dizer, propício, que nós temos na empresa e que se desenvolve a cada minuto, dentro de um clima e de um ambiente de cooperação e de cumplicidade muito forte, muito grande. E dentro de pessoas, de profissionais que têm suas competências nas mais diversas áreas de atuação e que fomentam o tempo inteiro soluções, alternativas de inovação, que pensam o tempo inteiro em estar na frente, em dar um passo adiante, que estão dispostas a assumirem riscos. Independente das consequências, que muitas vezes não são tão boas, quando você assume riscos. Mas eu acho que esse perfil e esse ambiente que nós temos na Beraca, contribui demais para a inovação dentro da empresa. O conflito entre o hábito e a rotina: ... – E é engraçado, que é aí que eu acho que o hábito e a rotina entram em choque, porque se o cara tem o hábito de se ater à rotina, ele não extrapola. Não é verdade? Agora, se o cara tem o hábito ou ele tem a necessidade até, de enfrentar desafios, de criar, de ser desafiado, eu acho que ele se desapega à rotina, ele não consegue ficar dentro daquela rotina e ele acaba buscando outras coisas, além dessa rotina. Hábito e a rotina induzidos pelo coletivo e sua possibilidade de ligação com a cultura / ambiente organizacional: ... – Eu acho que tanto a rotina, como o hábito, eu acho que são induzidos ou são influenciados pelo coletivo. Agora, a maneira como eu respondo, reajo a essa indução, é uma decisão pessoal, individual. Então, se a rotina vai me dominar, é uma decisão individual, mesmo que o ambiente seja construído ou seja um ambiente que me induza a ser uma pessoa dominada pela rotina, que eu pessoalmente posso decidir não ser dominado pela rotina, assim como no hábito... Por uma decisão pessoal, eu posso me livrar dessa influência ou dessa indução e tomar decisões diferentes. Então, eu acho que o ambiente, dentro da rotina ou que estimula a rotina, ou que estimula o hábito, tem uma forte indução do coletivo. Agora, a questão de eu cultivar bons hábitos ou de ser uma pessoa moldada pela rotina é totalmente pessoal. 261 Hábito, rotina e ambiente da empresa: ... – Eu acho que a coisa se diferencia, quando eu estou preso na rotina e quando o hábito faz parte ou está incorporado ao ambiente da empresa, que é o nosso caso. Eu acho que é o nosso caso, o hábito da inovação permite que a gente não fique travado às regras do convencional, às regras da tradição. Evidência de adaptação (resiliência): Então, acho que o nosso ambiente é extremamente resiliente, ele responde aos desafios, responde às perguntas que nós mesmos criamos. E isso faz da nossa empresa uma empresa realmente inovadora. Crença como motivador / elemento para a inovação: Nós somos motivados e impulsionados por aquilo que a gente acredita, aquilo que depois, às vezes a gente pode desenvolver um único produto ao longo do ano, mas que ele foi criado pela percepção de várias pessoas e pela participação de diferentes elementos. Então, eu acho que isso tem a força de um hábito de inovação, diferente de uma rotina que está presa a um conjunto de práticas ou de imposições, que eu acho que prejudica. 262 ANEXO A Evidências de produtos e serviços inovadores 3M do Brasil Ltda. AB Brasil Ind. e Com. de Alimentos Ltda. Beraca S.A. Hospital A. C. Camargo Serasa Experian 263 264 265 266 267 AB Brasil Ind. e Com. de Alimentos Ltda. 14/06/2010 SOBREMESAS LÍQUIDAS FLEISCHMANN GANHAM SIAL D‟OR BRASIL Misturas líquidas para pudim, quindim e brigadeirão da marca foram eleitas como o melhor lançamento de 2009 por júri internacional. Em maio deste ano um júri internacional se reuniu em Paris, na França, para escolher os melhores produtos lançados em 30 países, no período de novembro de 2008 a dezembro de 2009, para o Sial d‟Or, prêmio promovido pela Sial (Salão Internacional da Alimentação), uma das maiores feiras mundiais do setor. Pelo Brasil, foi eleita a linha de sobremesas líquidas Fleischmann, composta pelo pudim de leite, brigadeirão e quindim. O produto venceu principalmente pelo caráter de inovação da categoria, tecnologia utilizada para a produção e sucesso comercial. Durante a votação foram analisados requisitos como inovação na categoria, durabilidade do produto no mercado, sucesso comercial e apreciação pessoal de cada membro do júri. Competiram produtos de categorias como laticínios, não-laticínios, mercearia salgada e mercearia doce, bebida alcoólica, bebida não-alcoólica, vinhos, congelados salgados e congelados doces. A segunda etapa do prêmio, quando será conhecido o Global Sial d`Or, ou seja, o vencedor entre os melhores de cada país, acontece durante o Sial 2010, de 17 a 21 de outubro, em Paris, França. http://www.lead.com.br/site/releases.php?id_cliente=91&id_release=91&PHPSESSI... 05/12/2010 268 269 270 271 272 273 274 275 ANEXO B Exemplos de entrevistas da literatura 2.1 Estilos gerenciais (atitudes gerenciais) (Webster, 2004) Inflexibilidade do gerenciamento: contendo 8 itens, em escala de 7 pontos para medir o quão difícil é para a firma mudar em resposta às condições externas. Estilo sistemático: contendo 6 itens, em escala de 7 pontos para medir se os gerentes fazem análises sistemáticas mais do que utilizam métodos intuitivos para tomar decisões. Estilo agressivo: contendo 5 itens, em escala de 7 pontos para medir o quão confiantes e agressivos os gerentes são. Técnicas de comunicação: contendo 4 itens, em escala de 7 pontos para medir em que extensão o nível gerencial busca se comunicar com os empregados. 2.2 Extensão de aprendizagem (Webster, 2004) Contendo 11 itens, em escala de 7 pontos para medir em que extensão em que a firma aprende sobre novos processos e produtos. 2.3 Extensão da apropriabilidade (Webster, 2004) Contendo 16 itens, em escala de 7 pontos para medir a eficiência de proteção das vantagens das inovações de produto e processos. 2.4 Inércia (Collison e Wilson, 2006) 2.4.1 Conhecimento: (a) conhecimento especialista individual. (b) conhecer pessoas (“know-who” / networks). (c) conhecer “o que” (“know-what”) (rotinas e procedimentos). 2.4.2 Rotinas para: (a) Aprendizagem individual. (b) Nível organizacional: acumulação, assimilação, disseminação, integração, alavancagem. 2.4.3 Rotinas de controle: Para direcionar as rotinas dos itens 2.4.2: Mecanismos de financiamento e alocação de capital. Sistemas de gerenciamento de recursos humanos e incentivos, arquitetura / estrutura organizacional, procedimentos de gerenciamento de projetos, para a alocação de funções, responsabilidades, linhas de reporte treinamento pessoal e recursos de desenvolvimento. 2.5 Estabilidade e Variabilidade (Éssen, 2008) Elementos apontados pela autora: 1. fontes de variabilidade na execução do trabalho pelas pessoas. 2. contexto cultural em que a rotina se situa em níveis macro e micro. Relacionadas ao objetivo 3: Investigar a formação e destruição de competências para inovar fomentadas pelas rotinas de busca. Investigar o nível de radicalidade da inovação promovido pelas rotinas de busca e respectivas competências. 276 3.1 Disposição para canibalizar capacidades (Nijssen et al., 2005 – primeiro estudo – adaptado de Chandy e Tellis, 1998) (todos os ítens utilizaram escala Likert de 7 pontos, variando de “Concordo Plenamente” à “Discordo Totalmente”. Os ítens marcados com (R) estão em escala reversa. Os ítens marcados com um asterisco foram deletados da análise final. A empresa pela qual sou responsável como CEO (Chief of Executive Office)... 1. Pode facilmente mudar seu esquema e processos organizacionais para atender as necessidades de um novo produto. 2. Facilmente substitui um conjunto de habilidades por um diferente conjunto de habilidades para adotar uma nova tecnologia. 3. Pode facilmente mudar a maneira que realiza as tarefas para adequar as rotinas que um novo produto pode demandar. 4. Acha difícil mudar os procedimentos estabelecidos para satisfazer as necessidades de um novo produto (R)* 3.2 Disposição para canibalizar rotinas organizacionais (Chandy e Tellis, 1998; Nijssen et al., 2005; Nijssen et al., 2006) Nossa empresa.... 1. Pode facilmente mudar seu esquema e processos organizacionais para atender as necessidades de um novo produto /serviço. 2. Muda rapidamente a maneira que realiza suas tarefas para adequar as necessidades de um novo produto / serviço. (3.3) Inovação radical de produto (Mahajan e Wind, 1992; Price e Muller, 1986; Chandy e Tellis, 1998) (todos os ítens utilizaram escala Likert de 7 pontos, variando de “Concordo Plenamente” à “Discordo Totalmente”. Os ítens marcados com um asterisco estão em escala reversa. 1. Esta SBU facilmente introduz produtos que são radicalmente diferente dos existentes no mercado*. 2. Esta SBU está atrasada na introdução de inovações radicais de produtos*. 3. Por favor indique o número de inovações radicais de produtos introduzidas pela sua SBU nos últimos 3 anos (escala numérica). 4. % das vendas totais provenientes de inovações radicais de produtos introduzidos nos últimos 3 anos. (Menor 1%; 1-5%; 5-10%; 10-20%; 20-30%; Maior que 30% - escala ordinal). (3.3) Radicalidade de um novo produto (Nijssen et al., 2005 – segundo estudo) (todos os ítens utilizaram escala Likert de 5 pontos, variando de “Discordo Totalmente” à “Concordo Plenamente”. Nossa empresa.... 1. Regularmente introduz novos produtos que são radicalmente diferentes daqueles que já existem no mercado. 2. É conhecida na indústria por determinar a velocidade de uso de produtos inovadores. 3. É sempre a primeira a introduzir produtos radicalmente inovadores. (3.3) Radicalidade de um novo produto (Chandy e Tellis, 1998; Nijssen et al., 2006) Nossa empresa.... (a) É reconhecida na indústria por seus produtos / serviços inovadores. (b) Conduz a forma de introdução de inovações radicais de produtos / serviços.