ANGÉLICA MARIA DOS SANTOS
CARACTERÍSTICAS NARRATIVAS DE VÍDEOS JORNALÍSTICOS NA
TELEVISÃO E NA INTERNET
MARÍLIA- SP
2013
ANGÉLICA MARIA DOS SANTOS
CARACTERÍSTICAS NARRATIVAS DE VÍDEOS JORNALÍSTICOS NA
TELEVISÃO E NA INTERNET
Dissertação apresentada ao Programa de Pós graduação em Educação da Faculdade de Filosofia e
Ciências, da Universidade Estadual Paulista –
UNESP – Campus de Marília, para obtenção do
título de Mestre em Educação.
Área
de
concentração:
Ensino
na
Educação
Brasileira.
Linha de Pesquisa: Abordagens Pedagógicas do
Ensino de Linguagens.
Orientador: Prof.Dr. Juvenal Zanchetta Júnior
MARÍLIA- SP
2013
Santos, Angélica Maria dos.
S237c
Características narrativas de vídeos jornalísticos na
televisão e na internet / Angélica Maria dos Santos. –
Marília, 2013.
104 f. ; 30 cm.
Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade
Estadual Paulista, Faculdade de Filosofia e Ciências, 2013.
Bibliografia: f. 102-104
Orientador: Juvenal Zanchetta Júnior.
1. Telejornalismo. 2. Webcasting.
3. Jornalismo -Inovações tecnológicas. 4.
Educação. 5. Mídia digital. I. Autor. II. Título.
CDD 371.33
ANGÉLICA MARIA DOS SANTOS
CARACTERÍSTICAS NARRATIVAS DE VÍDEOS JORNALÍSTICOS NA
TELEVISÃO E NA INTERNET
Dissertação para obtenção do título de Mestre em Educação, da Faculdade de Filosofia e
Ciências, da Universidade Estadual Paulista – UNESP – Campus de Marília, na área de
concentração de Ensino na Educação Brasileira.
BANCA EXAMINADORA
Orientador: ______________________________________________________
Juvenal Zanchetta Júnior, Doutor, UNESP – Assis/SP
2º Examinador: ___________________________________________________
Raquel Lazzari Leite Barbosa, Doutora, UNESP – Assis/SP
3º Examinador: ___________________________________________________
Sergio Fabiano Annibal, Doutor, UNOESTE – Presidente Prudente/SP
Marília, 23 de Setembro de 2013
Com amor aos meus filhos Gabriel e Leonardo,
pelo apoio, compreensão e confiança.
AGRADECIMENTOS
Por mais que eu busque palavras, reuni-las aqui não traduzirão o reconhecimento de
gratidão que tenho por todos aqueles que me ajudaram a chegar ao final de mais uma etapa,
de uma importante etapa da minha vida.
Porém, não seria justo não citar alguns nomes de pessoas que foram essenciais para
que eu pudesse chegar até aqui. Agradeço então:
ao meu pai Nelson dos Santos, por me ensinar a acreditar que nessa vida é sempre
importante respeitar o próximo em suas individualidades;
a minha mãe Maria Isabel, por me fazer ser forte nos momentos de maior fragilidade;
a minha irmã Eliane, que me permite sempre ser quem eu sou;
a minha irmã Elisangela, que me ensinou a escrever as primeiras palavras;
ao meu irmão José David, pelo exemplo de coragem e apoio;
aos meus sobrinhos, pela alegria da juventude;
aos meus amigos Fábio Marques e Angela Felipe, pelas horas e horas de conversas e
conselhos;
ao meu amigo Carlos Correa, por estar ao meu lado mesmo à distância;
ao meu amigo Francesco, por ouvir meus relatos de alegria, frustração, tristeza e
realização, durante todo esse trajeto;
a Odila Dal Bem, pela prontidão e boa vontade ao atender minhas necessidades;
a Raquel Lazzari Leite Barbosa e Sérgio Fabiano Annibal, pelas considerações
indispensáveis feitas no Exame de Qualificação;
a Érika Nogueira Menegon, pelos desafios que enfrentamos juntas;
a todos meus amigos, familiares e professores que fizeram parte da minha formação.
Agradeço especialmente a duas pessoas:
Victor Hugo dos Santos Gois, meu sobrinho-filho-amigo-irmão, pelas palavras de fé,
coragem e incentivo. Pelas tardes de leitura, reflexão, conversas e risadas que me fizeram
seguir em frente.
Juvenal Zanchetta Jr., meu orientador, que sempre me apoiou, que depositou sua
confiança em mim, fez-me descobrir capacidades que eu desconhecia e também por me fazer
enxergar além do que meus olhos podiam ver.
Enfim, agradeço a Nossa Senhora pela graça de ter posto todas essas pessoas em meu
caminho, ajudando a traçar a minha história.
Sonhar o sonho impossível,
Sofrer a angústia implacável,
Pisar onde os bravos não ousam,
Reparar o mal irreparável,
Enfrentar o inimigo invencível,
Tentar quando as forças se esvaem,
Alcançar a estrela inatingível:
Essa é a minha busca.
[Dom Quixote]
RESUMO
Vivendo na era da convergência midiática, os indivíduos convivem com a evolução dos meios
de comunicação transitando naturalmente por todos eles, porém, não se pode negar a grande
relevância que a internet exerce sobre os mesmos na sociedade atual. Na era das novas
tecnologias o uso dos recursos tecnológicos na escola se faz necessário cada dia mais. Em um
mundo em que a linguagem visual está presente desde os textos informativos até o
entretenimento, conhecer os recursos e contextos de utilização de textos imagéticos é bastante
necessário. Na tentativa de ajudar o ambiente escolar a preparar-se para o uso das novas
tecnologias e como o trabalho com textos é considerado próprio da disciplina de Língua
Portuguesa e a exploração das características dos gêneros textuais jornalísticos é diminuta, o
presente trabalho trata do tema: as características narrativas jornalísticas dos vídeos noticiosos
presentes na televisão. Seguindo os pressupostos da pesquisa qualitativa por considerar o mais
adequado para nossa investigação, procedemos da seguinte forma: nos dois primeiros
capítulos apresentamos o referencial teórico utilizado, que servirá de suporte para análise dos
dados. Já no capítulo seguinte são apresentados os procedimentos metodológicos e, em
seguida, são apresentadas as análises e as considerações finais, apresentando as contribuições
que a pesquisa realizada pode oferecer à educação de jovens do E.M. das escolas brasileiras.
Palavras-Chave: Narrativa midiática. Telejornalismo. Webjornalismo. Educação.
ABSTRACT
Living in the age of media convergence, individuals living with the evolution of the media
(radio, cinema, television) naturally transiting through them all, but you cannot deny the great
importance that the internet has on them in today's society. In the era of new technologies
using the technological resources within the school is needed more every day. In a world
where the visual language is present from informational texts to the entertainment, learn about
the features and contexts in the use of imagistic texts is quite necessary. In an attempt to help
the school environment to prepare for the use of new technologies and how to work with texts
is considered itself the discipline and the Portuguese exploration of the characteristics of
journalistic genres is small, this paper addresses this issue: the characteristics of journalistic
narratives present news videos on television. Following the assumptions of qualitative
research by considering the most appropriate for what we wanted to investigate, proceed as
follows: in the first two chapters present the theoretical framework, which will provide
support for data analysis. In the following chapter presents the methodological procedures and
then presents the analysis and the final considerations, presenting the contributions that
research can offer to youth education of EM Brazilian schools.
Keywords: Narrative media. Telejournalism. Webjournalism. Education.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 9
CAPÍTULO 1- MÍDIA E FORMAÇÃO DE LEITOR .......................................................... 12
1.1 Mídia e tecnologia .......................................................................................................... 12
1.2 O que esperar da mídia como formadora de leitores........................................................ 14
CAPÍTULO 2 - DO CONTAR HISTÓRIAS AO WEBJORNALISMO ............................... 17
2.1 Narração e Narrativa ...................................................................................................... 17
2.2 O texto e os gêneros textuais .......................................................................................... 19
2.3 Telejornalismo e webjornalismo ..................................................................................... 22
2.3.1 A Narrativa Telejornalística e Webjornalística ........................................................ 25
2.4 Gêneros telejornalísticos ................................................................................................ 27
2.5 A reportagem ................................................................................................................. 30
2.5.1 A Reportagem telejornalística .................................................................................. 32
2.5.2 A reportagem no webjornalismo .............................................................................. 34
CAPÍTULO 3 - A METODOLOGIA ................................................................................... 39
3.1 Método e procedimentos ................................................................................................ 39
3.2 Contextualização da pesquisa ......................................................................................... 41
3.3 Os objetos de pesquisa ................................................................................................... 42
3.4 As etapas para coleta de dados ....................................................................................... 43
3.5 Atividades realizadas...................................................................................................... 45
CAPÍTULO 4 - DA ANÁLISE DOS SUJEITOS À ANÁLISE DOS DADOS ..................... 47
4.1 Breve análise dos objetos de pesquisa............................................................................. 47
4.2 A TV ancorada no webjornal perpetua ou modifica expedientes narrativos? ................... 49
4.3 Análise da recepção das características narrativas presentes no JN e na TV UOL ........... 54
4.3.1 Noção de espaço ...................................................................................................... 54
4.3.2 Noção de tempo ....................................................................................................... 59
4.3.3 Noção de sujeito ...................................................................................................... 65
4.3.4 Noção de imagem .................................................................................................... 72
4.3.5 Noção de apresentação ............................................................................................ 79
4.3.6. Noção de desenvolvimento, desdobramento e ação ................................................. 87
CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................... 97
REFERÊNCIAS ................................................................................................................ 101
9
INTRODUÇÃO
O surgimento e desenvolvimento de novos suportes técnicos geram novas
possibilidades de construções narrativas. Podemos assim dizer da escrita em relação à
linguagem humana, da imprensa em relação à literatura, do desenvolvimento da fotografia em
relação ao cinema. A produção narrativa é reorganizada a cada provocação feita ao imaginário
social. O rádio, o cinema, a televisão e desde alguns anos, a internet, são suportes de imenso
prestígio midiático1.
Para muitos estudiosos a década de 1990 representou o anúncio de uma revolução
digital, em que todo o conteúdo midiático estaria disponibilizado em um só lugar, e desta
maneira, a cultura de massa2 deixaria de existir. Para Jenkins (2009) a realidade atual
corresponde parte dessas expectativas. Definindo este momento como a “era da cultura da
convergência”, podemos representá-lo também como um processo de transformação cultural
em que “múltiplos sistemas de mídia coexistem e em que o conteúdo passa por eles
fluidamente” (JENKINS, 2009, p.377).
Vivendo na era da convergência midiática, os indivíduos convivem com a evolução
dos meios de comunicação (rádio, cinema, televisão) transitando naturalmente por todos eles,
porém não se pode negar a grande relevância que a internet exerce sobre os mesmos na
sociedade atual.
A mescla de suportes percebida na mídia contemporânea tende a levar ao
desenvolvimento de recursos técnicos de produção e edição de textos e de imagens cada vez
mais arrojados e acessíveis. Para Silverstone (2005) a velocidade da mudança social e
cultural, mesmo que haja avanços tecnológicos, não pode ser confundida com a velocidade
dos produtos que tais avanços tecnológicos produzirão.
Na era das novas tecnologias o uso dos recursos tecnológicos dentro da escola se faz
necessário cada dia mais. Em um mundo em que a linguagem visual está presente desde os
1
Utilizamos neste trabalho a definição de mídia como sendo um conjunto de meios de comunicação (MC)
voltados a grandes públicos, os meios de “massa”, como a televisão e o rádio, e os meios interativos
contemporâneos, baseados na internet, entre outros equipamentos que permitem a difusão de informação
noticiosa (ZANCHETTA, 2012).
2
“A expressão ‘cultura de massa’ é aquela criada com um objetivo específico, atingir a massa popular, maioria
no interior de uma população, transcendendo, assim, toda e qualquer distinção de natureza social, étnica, etária,
sexual ou psíquica. Todo esse conteúdo é disseminado por meio dos veículos de comunicação de massa”,
disponível em: <http://www.infoescola.com/sociedade/cultura-de-massa/>, acessado em 17 de janeiro de 2013.
10
textos informativos até o entretenimento, conhecer os recursos e contextos de utilização de
textos imagéticos é bastante necessário.
Documentos elaborados pelo Ministério da Educação, como os Parâmetros
Curriculares Nacionais (PCN) (1997, 1998, 2000) para o Ensino Fundamental e Médio,
mencionam o computador como ferramenta didática e discutem o seu uso na sala de aula.
Entretanto, de acordo com Marques, Mattos e Taille (1986) alguns instrumentos que foram
criados fora da escola e com uma finalidade diferente da pedagógica, acabam se tornando
problemáticos quando seu uso é imposto sem que o ambiente seja preparado.
Na tentativa de ajudar o ambiente escolar a preparar-se para o uso das novas
tecnologias e como o trabalho com textos é considerado próprio da disciplina de Língua
Portuguesa e a exploração das características dos gêneros textuais jornalísticos é diminuta, o
presente trabalho trata desse tema: as características narrativas jornalísticas dos vídeos
noticiosos presentes na televisão.
Diante de um cenário que se complica ainda mais com as transformações ocorridas
nos suportes midiáticos contemporâneos, que implicam dificuldade a mais para a escola, cuja
marca é a abordagem em geral compartimentada em disciplinas, em conteúdos e em unidades
específicas, em uma perspectiva didática linear, que prioriza a linguagem verbal escrita.
Pretende-se analisar as narrativas de vídeos telejornalísticos e webjornalísticos, buscando
reunir elementos que possibilitem uma observação acerca de como se dá a recepção das
características narrativas presentes no Jornal Nacional (JN) 3 e na TV UOL 4 pelos alunos do 1º
ano do Ensino Médio e se o telejornalismo ancorado no webjornalismo perpetua ou modifica
expedientes narrativos encontrados no telejornalismo analógico.
O trabalho foi estruturado da seguinte maneira: nos dois primeiros capítulos
apresentamos o referencial teórico utilizado, que servira de suporte para análise dos dados. Já
no capítulo seguinte são apresentados os procedimentos metodológicos e em seguida são
apresentadas as análises e as considerações finais.
Ao longo do primeiro capítulo, contextualizamos o leitor, com informações que
oferecem elementos para um processo reflexivo, expondo elementos presentes em
3
A escolha do JN deveu-se aos seguintes fatores: a) trata-se do programa de televisão com maior audiência
média na história da televisão brasileira; b) é o principal veículo de informação noticiosa entre os brasileiros já
há décadas, em fenômeno que persiste mesmo nos dias de hoje, quando existe enorme competição midiática
(SECOM, 2010).
4
Tomamos a TV UOL (Televisão Universo Online), como representante do webjornalismo por esta ser a
primeira emissora brasileira de televisão a ter a transmissão de sua programação exclusivamente pela internet.
Sua primeira transmissão foi em 1997. A emissora faz parte do portal UOL (Universo Online) e também permite
aos usuários enviarem seus vídeos através do portal, permite ainda o compartilhamento de vídeos de maneira
prática e rápida.
11
documentos oficiais que tratam de questões de ensino e suas tecnologias, bem como na área
de Educação e Comunicação. Tratamos também da relação entre a mídia e a tecnologia e seu
papel como formadora de leitores.
O capítulo 2 é dedicado à narrativa e aos gêneros textuais. Autores como Eco (1994),
Benjamin (1985) e Sodré (2009) foram alguns daqueles que nos ajudaram a dissertar sobre a
narrativa que foi abordada como elemento marcante ao longo da evolução humana. Foi à luz
de obras de autores como Bakhtin (1953, 2006), Bronckarth (2006, 2009) e Marcuschi (2008)
que discorremos sobre o texto e seus gêneros. Dentro dos gêneros textuais o que destacamos
foi a reportagem.
Quanto aos procedimentos metodológicos, o capítulo 3 foi elaborado a fim de
apresentar as principais etapas de seleção e análise do objeto de estudo, bem como as
ferramentas utilizadas para a coleta e análise de dados. O presente trabalho seguiu os
pressupostos da pesquisa qualitativa por considerar o mais adequado para o que desejava
investigar.
Considerando-se o caráter e a heterogeneidade das informações que se observam nas
reportagens que serviram de amostragem, definimos que para a análise avaliativa dos
resultados, utilizamos as semelhanças e as diferenças.
As semelhanças entre as reportagens do JN e da TV UOL foram observadas e
confrontadas de acordo com suas características narrativas. As diferenças entre as mesmas
serviram para definir ou caracterizar particularidades em alguns perfis narrativos.
12
CAPÍTULO 1
MÍDIA E FORMAÇÃO DE LEITOR
Ao longo deste capítulo, pretende-se contextualizar o leitor, oferecendo informações
que contribuam com um processo reflexivo, por meio de exposições de elementos presentes
em documentos oficiais que tratam de questões de ensino e suas tecnologias, bem como na
área de Educação e Comunicação.
1.1 Mídia e tecnologia
Ainda hoje, os brasileiros apresentam dificuldades ao ler textos a partir de jornais e
revistas. Apenas 25% dos brasileiros são plenamente alfabetizados ou capazes de ler textos
mais longos, relacionar suas partes, comparar e interpretar informações, distinguir fato de
opinião, realizar inferências e síntese (ZANCHETTA, 2010). A falta de leitura de textos
impressos, o uso de linguagem escrita fora da norma padrão, por meio das mensagens
instantâneas, a realização de pesquisas sem aprofundamento, no chamado ‘recorta e cola’,
podem, por um lado, pressupor um panorama pessimista na relação escola e uso de novas
tecnologias. A distância entre as práticas pedagógicas, pautadas pelos livros didáticos
impresso e esse universo digital tende a tornar tal cenário ainda mais complexo.
O predomínio da televisão como meio de informação no país, reforça uma realidade
comum há décadas e, mesmo entre famílias com acesso regular à web, o fato se repete. A
cultura nacional é fortemente representada pela oralidade, reforçada pela chegada da televisão
em meados do século passado, quando o audiovisual se fez presente e preponderante.
Na televisão e nos portais brasileiros os programas de curta duração, direcionados à
diversão tem grande espaço. Os fait divers5 aparecem com frequência nos telejornais
brasileiros, principalmente no que diz respeito ao mundo das celebridades. A primeira página
do portal UOL inclui entre seus destaques informações sobre celebridades internacionais e
nacionais e vídeos sobre os temas mais discutidos na atualidade e de cunho humorísticos.
5
O termo francês fait divers (introduzido por Roland Barthes no livro Essais Critiques, em 1964), que significa
fatos diversos que cobrem escândalos, curiosidades e bizarrices, caracteriza-se como sinônimo da imprensa
popular e sensacionalista. Sempre esteve presente desde o início da imprensa, sendo um dos primeiros recursos
editoriais para chamar a atenção e promover a diversão da audiência (DEJAVITE, 2001).
13
Belloni (1995) chegou a algumas conclusões após observar a interação dos jovens com
a televisão, como, por exemplo: expressão verbal pouco linear, empobrecimento do
imaginário do leitor, diminuição da concentração, facilidade de observação e trânsito por
diferentes pontos de vista. A complexidade dessas observações se amplia num cenário de alta
convergência entre diversos suportes digitais.
A recepção midiática se modifica de acordo com o contexto em que a comunicação
acontece. Ao lidar com as novas tecnologias, os jovens acabam por apropriar-se de novos
códigos e linguagens já existentes, porém, com novos usos. A transposição de obras
produzidas originalmente para outros meios de massa, como cinema, televisão e até livros
para o meio virtual é bastante comum. Os alunos, muitas vezes, elaboram produções
mescladas com a obra original, produzindo criações hipertextuais 6, embaralhando o papel do
leitor e autor numa nova criação.
Chartier (2001, p.19) afirma que “a concorrência entre o livro e a tela (algo comum
hoje em dia), há uma resistência, uma presença, não só dos textos impressos, mas dos textos
em geral, porque os novos meios de comunicação são suportes para comunicação tanto de
textos como de imagens”.
O senso comum destaca a diferença entre as habilidades 7 do aluno e do professor em
relação à utilização dos meios tecnológicos. Estudantes de uma forma geral saberiam ‘plugar’,
‘postar’, ‘clicar’, ‘navegar’ com mais propriedade do que gerações anteriores, mais próximas
de meios analógicos, em que aqueles comandos não existiam ou se punham de modo
diferente. Porém, quando se fala de recepção, as condições parecem se inverter: docentes, em
tese, tendem a apreender as informações mais complexas ou mais amplas, a partir de sua
maior experiência de vida e a experiência profissional.
Em função dos objetivos sociais ou pela invenção de novos meios de comunicação, ao
longo do tempo foram criados novos modos de organização textual. Nesse contexto, para que
as necessidades comunicativas sejam atendidas, há o surgimento de novos gêneros textuais,
enquanto outros desaparecem.
6
Hipertexto é o termo que remete a um texto em formato digital, ao qual se agregam outros conjuntos de
informação na forma de blocos de textos, palavras, imagens ou sons, cujo acesso se dá por meio de referências
específicas denominadas hiperlinks, ou simplesmente links. Roland Barthes, que concebeu em seu livro S/Z o
conceito de "Lexia", que seria a ligação de textos com outros textos.
7
Consideraremos aqui habilidade como o saber fazer, a capacidade do indivíduo de realizar algo, como
classificar, montar, calcular, ler, observar e interpretar. A capacidade da pessoa em mobilizar suas habilidades
(saber fazer), seus conhecimentos (saber) e suas atitudes (saber ser) para solucionar determinada situaçãoproblema é chamada por alguns educadores como competência. Assim, entender os conceitos é uma coisa,
interpretá-los é outra e posicionar-se diante disso é outra.
14
1.2 O que esperar da mídia como formadora de leitores
Há milênios o homem não se limita à ação de juntar letras para formar sílabas e com
estas, formar palavras. Dessa forma, a leitura supera o limite da palavra escrita. A leitura se dá
por meio do que está escrito, mas também o que está desenhado, pintado, fotografado e
filmado.
A capacidade de utilizar a leitura para uma prática social passou a ser o objetivo da
educação nos últimos tempos. Utilizar aparelhos celulares de última geração, mandar um
SMS, postar um recado no Twitter, faz parte da compreensão da leitura para sua aplicação
social, passando a ter um significado complexo na sociedade informatizada. Os PCN
(BRASIL, 1998) destaca os recursos tecnológicos e as tecnologias da comunicação e
informação como elementos de transformação social, contribuindo para a criação de novas
formas de comunicação e produção de conhecimento. Ler, no sentido de entender os ícones e
símbolos da nossa sociedade é necessário para que se possa fazer parte dela. Porém, para
compreender a realidade, é preciso aprender a ler no sentido de compreender o mundo, a
partir daquilo que se vê. Há um imenso território da linguagem que as instituições escolares
precisam ensinar os seus leitores a explorar.
As escolas não preparam leitores com uma visão ampla da realidade que os cerca, o
que acaba dificultando o desenvolvimento de uma atitude crítica diante dos mais variados
textos, sejam eles verbais ou não verbais, com os quais estão em contato contínuo. Segundo
Orlandi (2000, p. 40), “a convivência com a música, a pintura, a fotografia, o cinema, com
outras formas de utilização do som e com a imagem, assim como a convivência com as
linguagens artificiais poderiam nos apontar para uma inserção no universo simbólico que não
é a que temos estabelecido na escola. Essas linguagens não são alternativas. Elas se articulam.
E é essa articulação que deveria ser explorada no ensino da leitura, quando temos como
objetivo trabalhar a capacidade de compreensão do aluno”.
Os meios de comunicação, principalmente a televisão e a internet, podem e devem
trabalhar como aliados na formação dos leitores, no entanto a televisão aberta e muitos canais
de internet visam apenas lucro que podem obter por meio da veiculação de anúncios de
grandes patrocinadores ou com programas de baixa qualidade intelectual.
É fundamental que o aluno seja formado para pensar criticamente, pois se ele tem
dificuldade para ler um texto verbal comum, sua dificuldade será ainda maior para ler textos
na internet, compreender programas de televisão, textos publicitários, que são preparados por
uma mídia que tende a manipulação.
15
No entanto, diferindo da realidade, os PCN (1998) propõem que a escola prepare os
jovens estudantes para que aprendam a fazer uso das tecnologias e de suas infinitas
linguagens e possibilidades de comunicação, tendo papel social relevante. É a escola que
deveria fornecer meios para a formação de estudantes participativos e colaboradores de novas
formas culturais; por meio dela que os alunos deveriam aprender a selecionar as relações com
o universo de informações o qual tem acesso diariamente.
A formação do leitor se dá pelo seu preparo para ler os meios de comunicação,
aprendendo a perceber o que as edições escondem, sabendo diferenciar entre os valores dos
produtores dos meios, os que são de acordo com a identidade da sua sociedade, reconhecer
posicionamentos ideológicos. Sendo assim, a escola não pode se esquecer do meio
comunicativo no qual o aluno está inserido. Ou a escola colabora para democratizar o acesso
permanente a esse ecossistema comunicativo ou continuará a operar no sentido da exclusão,
tornando maiores os abismos existentes (BACCEGA, 2003).
Não é pela leitura de um único veículo que se leva o leitor a alcançar o conhecimento e
a formação crítica, mas sim pela comparação entre eles. É pelo acesso contraditório ao
reconhecimento de diversas versões e interpretações de um mesmo fato, que se faz possível
realizar a leitura do mundo além das palavras.
A escola é um agente social fundamental para ajudar a interpretar o mundo, porém,
não é função só da escola. Não podemos deixar de discutir o papel da mídia, em especial a
televisão e a internet, para a formação de um cidadão crítico do mundo, pois é sabido que
exercem grande influência na formação das crianças e dos jovens.
Segundo Belloni (2001), a televisão, ao pretender reproduzir o universo real em sua
complexidade, constrói um simulacro do mundo em que o indivíduo acaba se encontrando,
assumindo as imagens produzidas como se fosse sua vida real. E estas imagens penetram a
realidade, transformado-a, dando-lhe forma.
Ler além das aparências, compreender a multiplicidade de vertentes presentes nos
enunciados da narrativa jornalística, enfim, aprender sobre o mundo editado pela mídia não é
fácil, mas necessário para uma interpretação crítica da mesma.
Debater sobre a responsabilidade social que a imprensa tem, compreender as relações
de poder que estão por trás dos veículos, preparar professores e alunos para ler os sentidos, os
significados implícitos no discurso da imprensa não é simples. Vai além da compreensão de
que a linguagem que a mídia usa contém inúmeras interpretações, razão pela qual a leitura da
mídia na escola não deve se restringir à leitura de um veículo, mas à pluralidade dos meios. É
necessário reconhecer, portanto, que a linguagem é, por natureza, ideológica.
16
A essa diferença substantiva entre a linguagem e o real acrescentam-se as diferenças
adjetivas, quer dizer, as variações próprias às posições históricas e sociais dos agentes que a
produzem e consomem (SANTAELLA, 1996).
Até o momento é comum observar que a internet e outras mídias, como os telejornais,
por exemplo, são utilizados apenas como instrumento de apoio, para complementar as
atividades que são desenvolvidas na sala de aula.
No entanto, além das questões relacionadas ao uso da mídia e as novas tecnologias nas
escolas, pretende-se analisar as narrativas digitais com a intenção de reunir subsídios que
possibilitem seu uso efetivo em ambiente escolar como prática social e cultural, contribuindo
para a formação de um leitor crítico.
Devemos estar atentos que para formar leitores ativos, a relação entre escola e mídia
não pode ser uma simples transferência de suporte. O que se pretende com este trabalho é
envolver as narrativas midiáticas e suas características como objeto de estudo nas escolas, e
não oferecer apenas mais um aparato ou complemento às aulas.
17
CAPÍTULO 2
DO CONTAR HISTÓRIAS AO WEBJORNALISMO
Neste capítulo percorreremos um trajeto que nos levará da narrativa até os gêneros
textuais. Dentro dos gêneros textuais o que destacaremos será a reportagem, mais
precisamente a reportagem telejornalística e webjornalística.
2.1 Narração e Narrativa
A narração tem o objetivo de narrar uma história que pode ser fictícia, real ou mista. A
evolução dos acontecimentos é uma das suas bases e é pautada por verbos de ação e
marcadores temporais. Pode ser objetiva, isto é, apenas informar os fatos sem deixar se
envolver emocionalmente com o que está sendo noticiado, sendo impessoal e direta. Também
pode ser subjetiva, tomando em conta as emoções, os sentimentos envolvidos na história;
ressalta os efeitos psicológicos que os acontecimentos desencadeiam nos personagens.
A palavra ‘narrativa’ deriva do verbo ‘narrar’, cuja etimologia provém do latim
narrare, que remete ao ato de contar, relatar, expor um fato, uma história. Sendo assim,
podemos dizer que narração e narrativa são sinônimas. O dicionário Houaiss (2001, p. 308)
define a palavra narrativa como: “história, conto, narração, ou por fim, modo de narrar”.
Umberto Eco (1994) acredita que as pessoas contam histórias desde os tempos
remotos por sua função consoladora. Diz o autor: “Sempre foi a função suprema do mito:
encontrar uma forma no tumulto da experiência humana” (ECO, 1994, p.93). Para Luiz
Gonzaga Motta (2005) narrativa é a “tradução do conhecimento objetivo e subjetivo do
mundo em relatos”.
A partir dos enunciados narrativos somos capazes de colocar as coisas em
relação umas com as outras em uma ordem e perspectiva, em um desenrolar
lógico e cronológico. É assim que compreendemos a maioria das coisas do
mundo (MOTTA, 2005, p. 2).
Para Walter Benjamin (1985) a palavra narrativa está provida de um significado muito
mais amplo, carregado de um sentido histórico sociológico. Segundo o autor é cada vez mais
raro encontrar pessoas que saibam narrar qualquer coisa com correção. Para ele, com a
18
evolução do tempo foi-se “deixando de existir” a capacidade de contar histórias. Considera
ainda que a chegada da Era da informação chega também a morte da narrativa.
Para Benjamin (1985) a relação entre a narrativa e a informação é antagônica, já que a
primeira oferece espaço para a reflexão, para o espanto e nunca se esgota e a segunda só tem
validade enquanto é novidade, tendo assim um caráter efêmero.
Cada manhã, recebemos notícias de todo o mundo. E, no entanto, somos
pobres em histórias surpreendentes. A razão é que os fatos já nos chegam
acompanhados de explicações. Em outras palavras: quase nada do que
acontece está a serviço da narrativa, e quase tudo está a serviço da
informação (BENJAMIN, 1985, p. 203).
As melhores narrativas escritas são as que se assemelham às histórias orais, contadas
por narradores desconhecidos. Benjamin ainda faz uma diferenciação entre o romance e a
narrativa dizendo que o romance se move em torno do “sentido da vida” enquanto a narrativa
se detém na “moral da história” (BENJAMIN, 1985).
O contraponto está em uma “tradição perdida que era compartilhada e retomada na
continuidade de uma palavra transmitida de pai para filho, continuidade e temporalidade das
sociedades artesanais” em oposição a uma sociedade que vive “o tempo deslocado e
entrecortado do trabalho no capitalismo moderno”. O Romance inaugurou o período moderno
no modo de escrever. Segundo o autor, as novidades que este novo modo trouxe como a
questão da autoria, do individualismo, a escrita para um leitor solitário, o autor isolado, tudo
isso fez com que a narrativa oral tradicional, que era de caráter coletivo e fator de união
social, parecesse antiga, desfazendo as “redes” de narrativas de tradição oral, que sobreviviam
pela memorização dos relatos de vida. A narrativa oral perde valor na sua função de
organizadora da sociedade com o advento do Romance e da Imprensa, ganhando espaço na
escrita. O Romance se impõe como forma de narrar na sociedade burguesa.
A arte de narrar está definhando porque a sabedoria – o lado épico da
verdade - está em extinção. Porém esse processo vem de longe. Nada seria
mais tolo que ver nele um “sintoma de decadência” ou uma característica
“moderna”. Na realidade, esse processo, que expulsa gradualmente a
narrativa da esfera do discurso vivo e ao mesmo tempo dá uma nova beleza
ao que está desaparecendo, tem se desenvolvido concomitantemente com
toda uma evolução secular das forças produtivas (BENJAMIN, 1985, p.
200).
O Folhetim surge em 1830 trazendo capítulos de romances, que iam constituindo aos
poucos em uma novela. Continha traços da prosa com uma estrutura linear, ainda que as
histórias fossem fragmentadas, também apresentavam recursos como intriga e solução, se
19
estruturavam de uma maneira cronológica. O Folhetim que era publicado nos jornais e dessa
forma, uma rede de narrativas de ficção se instalava no ambiente da informação.
2.2 O texto e os gêneros textuais
A ideia de que gêneros textuais são fenômenos históricos realizados socialmente,
contribuindo para organizar e estabilizar a as atividades discursivas do dia a dia, em que pese
genérica, norteia a presente pesquisa. Segundo Marchuschi (2008), a expressão gênero esteve
especialmente ligada aos gêneros literários, de acordo com a tradição ocidental, mas se
modifica nos dias de hoje:
Atualmente, a noção de gênero já não mais se vincula apenas à literatura,
[...] ao dizer que “hoje, gênero é facilmente usado para referir uma categoria
distintiva de discurso de qualquer tipo, falado ou escrito, com ou sem
aspirações literárias (MARCUSCHI, 2008, p. 147).
Não é nossa intenção fazer um mapeamento das correntes8 que se debruçaram sobre a
questão do gênero. Adotamos a perspectiva interacionista sociodiscursiva (ISD), segundo a
visão de Bronckart:
[...] chamamos de texto toda a unidade de produção de linguagem situada,
acabada e auto-suficiente (do ponto de vista da ação ou comunicação). Na
medida em que todo texto se inscreve, necessariamente, em um conjunto de
textos ou em um gênero (BRONCKART, 2009, p.75).
Para o autor, texto corresponde a toda unidade comunicativa ou interativa global e se
configura como uma ação verbal que veicula uma mensagem organizada, com a tendência de
produzir um efeito de coerência sobre o destinatário. A palavra texto tende a ser substituída
pela palavra ação (BRONCKART, 2006).
A situação de interação e as condições sócio-históricas vão caracterizar as
especificidades dos textos. Tais especificidades serão sempre únicas, de acordo com as
escolhas do produtor. Segundo Bronckart (2006) o que vai agrupá-las em determinado gênero
textual serão as propriedades genéricas que se adaptam à situação.
8
Tomamos como referência a proposição de Marcuschi sobre o tema, autor que destaca as seguintes perspectivas
relacionadas à ideia de gênero: a) perspectiva sócio-histórica; b) perspectiva comunicativa; c) perspectiva
sistêmico-funcional; d) perspectiva sociorretórica de caráter etnográfico, voltada para o ensino de segunda
língua; e) perspectiva interacionista e sociodiscursiva, de caráter psicolinguístico e atenção didática voltada para
língua materna; f) perspectiva de análise crítica; g) perspectiva sociorretórica/sociohistórica (MARCUSCHI
2008, p. 152-153).
20
Na escala sócio-histórica, os textos são produtos da atividade de linguagem
em funcionamento permanente nas formações sociais: em função de seus
objetivos, interesses e questões específicas, essas formações elaboram
diferentes espécies de textos, que apresentam características relativamente
estáveis (justificando-se que sejam chamadas de gêneros de textos) e que
ficam disponíveis no intertexto como modelos indexados, para os
contemporâneos e para as gerações posteriores (BRONCKART, 2009, p.
137).
Como existem diferentes formas de manifestação verbal, ou seja, distintas ações,
“adotamos a expressão gênero de texto em vez de gênero de discurso” (BRONCKART, 2009,
p.75).
Segundo este autor, as circunstâncias de produção da linguagem estão relacionadas aos
fatores externos e internos que podem exercer influência sobre a produção textual. “Cada
texto particular exibe, em outros termos, características individuais e constitui, por isso, um
objeto sempre único.” (BRONCKART, 2009, p. 76,). Para produzir um texto, o produtor deve
valer-se de suas representações de mundo.
A vida é dialógica por natureza. Viver significa participar do diálogo:
interrogar, ouvir, responder, concordar, etc. Nesse diálogo o homem
participa inteiro e com toda a vida: com os olhos, os lábios, as mãos, a alma,
o espírito, todo o corpo, os atos. Aplica-se totalmente na palavra, e essa
palavra entra no tecido dialógico da vida humana, no simpósio universal
(BAKHTIN, 2006, p.348).
Na obra de Bakhtin, uma das referências centrais de Bronckart, o conceito de gênero
discursivo teve origem em texto de 1953. O autor define três características básicas dos
gêneros discursivos: tema, organização composicional e estilo, e afirma ainda que gêneros de
discurso são “tipos relativamente estáveis de enunciados, presentes em cada esfera da
atividade humana e sociohistoricamente construídos” (BAKHTIN, 1953; 2006).
A vida social viva e a evolução histórica criam, nos limites de uma língua
nacional abstratamente única, uma pluralidade de mundos concretos, de
perspectivas literárias, ideológicas e sociais, fechadas; os elementos
abstratos da língua, idênticos entre si, carregam-se de diferentes conteúdos
semânticos e axiológicos, ressoando de diversas maneiras no interior destas
diferentes perspectivas (BAKHTIN,1953, p. 96).
Fazemos parte de um universo de textos que aparecem organizados em gêneros e que,
por serem sociais, se encontram sempre em processo de modificação. Durante nossa vida
temos contato com gêneros textuais diversos o que faz com que intuitivamente tenhamos um
conhecimento das regras e das propriedades de gêneros variados, ainda que isso seja
inconsciente (MACHADO, 2009). É por esse conhecimento intuitivo que somos capazes de
21
produzir de modo mais adequado textos que fazem parte dos gêneros com os quais tivemos
mais contato durante a vida. Podemos, então, concluir que:

Gêneros textuais são as diversas espécies de textos utilizados para a
comunicação;

Para a identificação de um gênero, deve-se levar em conta sua situação de
produção, bem como seu conteúdo, estilo e forma de produção;

Os gêneros textuais são fenômenos históricos, que nascem e se desenvolvem
no seio de dada cultura, de certa sociedade;

Os gêneros servem de modelo de produção para um enunciador e funcionam
como horizonte de recepção para o interlocutor, assim como orientam como
escrever orientam também como o texto deve ser lido e interpretado;

Cada gênero apresenta suas próprias características, que não são fechadas,
porém são norteadoras para aquilo que deve e o que pode ser dito e o que deve
e pode ser interpretado;

Cada esfera da atividade humana tem seus gêneros próprios;

Saber ler com desenvoltura é ser capaz de interpretar e de produzir textos
pertencentes a determinados gêneros que circulam na sociedade no dia a dia;

Na escola, os conteúdos das diversas disciplinas são transmitidos por meio de
gêneros diversos;

Conhecer as características de cada gênero ajuda tanto a interpretá-los como a
produzi-los;

O surgimento de novas tecnologias é um fator que impulsiona o surgimento de
novos gêneros.
Portanto, em nossa sociedade, os meios de comunicação, principalmente a partir do
século XIX, com o crescimento urbano mundial, passaram a ter uma importância enorme.
Percebe-se que os veículos institucionalizados (jornais impressos e online, revistas, sites,
emissoras de rádio e televisão, boletins, placas, cartazes...) não têm o ‘monopólio da
informação’, já que podemos informar sem recorrer a nenhum desses meios; mas também é
possível perceber que, hoje, seria quase impossível viver sem esses veículos. Nesse caso, tão
essenciais quanto às informações que surgem a todo o momento são as maneiras de transmitilas e analisá-las.
22
2.3 Telejornalismo e webjornalismo
As telenovelas são responsáveis por motivar nos brasileiros o hábito de assistir
televisão (BUCCI, 2004). Informação e diversão formando um binômio sedutor em um país
com graves problemas estruturais (SQUIRRA, 1989). De certo modo, os telejornais se
encaixaram entre as telenovelas formando um pacto entre ficção e fato que prende o
telespectador diante da televisão.
Os telejornais brasileiros usam estratégias narrativas ficcionais novelescas, embora o
caráter de espetacularização faça parte da sociedade pós-moderna e a cultura de massa latinoamericana seja caracterizada pelo melodrama.
A televisão é mediatizada pelas narrativas. Quase tudo em TV é
narrativizado: é um contar o jogo, os fatos cotidianos, por meio do telejornal,
é o relatar os dramas, nas telenovelas, nas publicidades, etc., ou seja, a
televisão possui uma linguagem narrativa na sua essência. Este narrar tem
origem no folhetim. Muito utilizado em telenovelas, atualmente tem sido
paradigma de vários tipos de programação e tem feito muitos receptores.
Também nos programas jornalísticos, em que a regra é veicular o fato com a
maior objetividade possível, a folhetinização da notícia, tem sido
amplamente incorporada (LANZA, 2005, p.11).
O poder simbólico que a TV e os noticiários exercem no Brasil, assume um controle
social no agendamento cultural e político da sociedade. O imediato e urgente da televisão,
ainda hoje com a imediatez da internet, confere a TV poder e veracidade surpreendentes.
O Brasil sendo um país marcado pela desigualdade no acesso aos bens de consumo
tem a televisão como suporte para o principal meio de informação dos brasileiros: o telejornal.
Assim o telejornal supre uma função pública.
A TV como lugar nada mais é que o novo espaço público, ou uma esfera
pública expandida. [...] se tirássemos a TV de dentro do Brasil, o Brasil
desapareceria. A televisão se tornou, a partir da década de 1960, o suporte do
discurso, ou dos discursos que identificam o Brasil para o Brasil. Pode-se
mesmo dizer que a TV ajuda a dar o formato da nossa democracia (BUCCI,
2004, p.31-32).
O telejornal representa para os brasileiros um lugar de referência, um apoio para as
conversas entre familiares e amigos; um lugar onde as pessoas recorrem para compreender
melhor o mundo a sua volta e as realidades mais distantes. Como dizem Vizeu e Correia
(2008, p. 39) o telejornalismo tem como função tornar comum o que é incomum, real o que é
irreal, trazer para o âmbito familiar, aquilo que não é familiar.
23
O que se vê diariamente é a história política, social e econômica do Brasil e do mundo,
sendo contada nos telejornais. Estas histórias são narradas aos brasileiros conforme o interesse
editorial de cada telejornal, o que significa que o que é transmitido nem sempre corresponde à
realidade.
Entre os inúmeros acontecimentos diários, o telejornalista seleciona aqueles que são
suficientemente importantes para transformar em notícia, segundo a linha editorial da sua
empresa. O processo de edição de um telejornal caracteriza-se por uma sucessão de escolhas e
é por isso que fica impossível passar no telejornal tudo aquilo que foi gravado. O fio condutor
determina o que entra e o que não entra na edição diária de um telejornal.
O texto do telejornal leva aos seus telespectadores uma sensação de organização
social. Segundo Bignell (1997), a intenção de simplificar e organizar o mundo são
características narrativas do telejornal. A aparente organização da sociedade e das instituições
apresentadas na tela, também são intencionais.
Na tela, a sociedade parece organizada, as instituições mostram-se atuantes
(e são criticadas quando não atuam como deveriam), a nação surge
unificada, há igualdade perante a lei, parece haver igualdade de
oportunidades, os processos e os conflitos estão reduzidos a questões
dicotômicas. Constrói-se, enfim, um mundo simbólico, não apenas
sensacional por si mesmo, mas também organizado, para tornar mais fácil
inclusive observar a desordem, a perturbação, o extraordinário (BIGNELL,
1997, citado por ZANCHETTA, 2012).
Como os telejornais têm por objetivo prender a atenção do telespectador, buscam
construir uma relação de identificação com o público, representando na tela um vínculo de
intimidade. É esse público que vai ajudar a definir as características do telejornal.
Mas o fato é que, com todos os nomes que o leitor-telespectador-padrão
possa ter nas redações de jornalismo e de telejornalismo, é sempre ele quem
recebe a maior atenção, os maiores cuidados de um jornalista. Será sempre
ele o balizador dos termos que usaremos e dos que não usaremos. Em nome
dele, buscaremos escrever e falar da maneira mais clara possível. E, por ele,
lamentaremos sinceramente nossos fracassos. Porque não adianta levar ao ar
milhares de palavras se elas não fizerem sentido para aqueles a quem nos
dirigimos (BONNER, 2009, p. 218).
A postura dos apresentadores que aparecem cada dia mais à vontade diante das
câmeras é um indicador da familiaridade com o público. Os convites dos telejornais para a
participação do público, como ‘acesse o nosso site’, ‘envie a sua pergunta’, também confirma
esse desejo de aproximação com o receptor da notícia.
A Rede Globo de Televisão tem sido uma das pioneiras em buscar uma nova
linguagem para o telejornalismo. Há um desejo de envolver o telespectador e fazer com que
24
este se sinta coautor do processo de elaboração do telejornal. Inclusive o JN, que sempre teve
uma postura mais séria de seus apresentadores, arrisca-se em apresentar uma linguagem mais
coloquial, informal, apostando na prestação de serviços para a comunidade e na participação
do público através de sugestões de pauta e imagens.
A mudança no telejornalismo em busca de maior audiência se dá porque quanto mais
audiência, maior o interesse por parte dos patrocinadores. Para garantir a fidelidade do
telespectador, os informativos utilizam uma linguagem mais próxima da oralidade. Começar a
romper com os paradigmas por muitos anos preservados torna-se agora necessário, a ousadia
e a criatividade estão em alta dentro dos telejornais. Na verdade, a tentativa de romper com a
estrutura tradicional é apenas um caminho diferente para chegar ao mesmo ponto, informar.
Os telejornais, como produtos de informação de maior impacto para a maior parte dos
brasileiros, funcionam como expressão coletiva de representação e construção da realidade,
configurando-se assim, em importante espaço de elaboração de sentidos. A concorrência com
a Internet condiciona o telejornalista a buscar novos caminhos, reinventando o telejornalismo.
Com o surgimento do webjornalismo, as características das reportagens tendem a se
modificar. No telejornalismo o tempo é finito, a preocupação com a ordem de apresentação
das notícias é grande para conferir uma idéia de continuidade. No webjornalismo, essa ideia
de linearidade, de sequência, tende a não existir, porque se trata de uma nova realidade, de um
novo modelo de noticiário. O internauta segue um caminho próprio, definido por ele mesmo,
por isso o produtor de notícia na web precisa ter um cuidado com essa realidade, já que o
hipertexto faz com que o usuário defina a ordem de leitura conforme seu interesse pessoal.
Segundo Canavilhas (2001) a técnica da pirâmide invertida, utilizada no
jornalismo e no telejornalismo de maneira eficaz por sua limitação em relação ao suporte, já
não se faz mais necessária no webjornalismo. A necessidade de dar as principais informações
no início da notícia já não existe neste novo suporte. Agora se pode dar ao webjornalista a
liberdade criadora, tirando proveito do hipertexto, adotando uma arquitetura narrativa nova e
permitindo a livre navegação.
Nas edições online o espaço é tendencialmente infinito. Podem fazer-se
cortes por razões estilísticas, mas não por questões espaciais. Em lugar de
uma notícia fechada entre as quatro margens de uma página, o jornalista
pode oferecer novos horizontes imediatos de leitura através de ligações entre
pequenos textos e outros elementos multimídia organizados em camadas de
informação (CANAVILHAS, 2001).
Quando aparecem novas maneiras de comunicação, as mais antigas tendem a se
adaptar e a continuar evoluindo. Para Álvarez (2000), o que é mais importante é que as
25
formas emergentes dos meios de comunicação propagam os traços dominantes das formas
anteriores, (ÁLVAREZ, 2000, p.186, tradução nossa). Dessa forma, no webjornalismo,
podemos encontrar características do telejornalismo, porém adaptadas à nova realidade de
produção. Para Chartier (1998) as funções dentro do webjornalismo já não são mais tão
rígidas quanto eram durante a revolução industrial da imprensa, em que os papéis do editor,
redator, tipógrafo eram claramente separados, agora o editor pode exercer a função de dar o
formato final ao texto e também difundi-lo na Internet.
No webjornalismo já não temos mais um telespectador, nem tampouco um leitor,
agora existe um usuário ativo que interfere nos contratos de leitura entre emissor e receptor.
2.3.1 A Narrativa Telejornalística e Webjornalística
A reportagem é o resultado da união entre a literatura e o jornalismo. Na falta de uma
tradição literária brasileira e de um público leitor significativo, o Folhetim teve um impacto
fundamental na divulgação e formação da narrativa jornalística ampliando a função do jornal
por meio de uma comunicação rápida com o público.
As explicações redundantes, os excessos emocionais, as constantes
referências a situações anteriores que ajudavam no encadeamento da
narrativa são algumas das marcas do romance folhetinesco que acabaram por
passar para os romances publicados posteriormente em forma de livro
(COCO, 1990).
Até os anos 1950, no Brasil, as reportagens usavam os padrões da imprensa francesa, a
partir de então, com a modernização dos textos, foram adotadas as regras do jornalismo norteamericano.
A reportagem passa a ser vista como produto capaz de “instaurar um novo regime de
visibilidade pública regido pela midiatização” (SODRÉ, 2001, p.19). Para Vizeu (2005, p.13)
a notícia é ao mesmo tempo um registro da realidade da sociedade e um produto dela, sendo
assim as características de cada meio influem na estruturação das notícias.
As estratégias buscadas pelos telejornais conseguem produzir uma sensação de
continuidade espacial, colocando o estúdio e a rua como ambientes que se completam
(FECHINE, 2008, p. 110). Construir novos pontos de transmissão e apresentação do
telejornal, acrescentar monitores dentro do estúdio, permitem intervenções do âncora durante
a transmissão de uma reportagem. Conversar com o repórter e o entrevistado que estão em
diferentes lugares também é possível. As funções primordiais da mídia que são esclarecer e
26
enriquecer o debate ficam colocadas em segundo plano, a informação passa a ser uma
mercadoria e tudo o que pode chamar a atenção do público é válido.
A fronteira entre o jornalismo e o entretenimento fica cada vez menor, porque a função
de informar fica atrás da função de seduzir a audiência do público. A veracidade da notícia
deixa de ter o seu principal valor, o mais importante é que a informação seja interessante
(KAPUSCINSKI apud RAMONET, 1999, p.9), fazendo com que o jornalismo use uma
linguagem mais próxima da linguagem publicitária.
A prática do webjornalismo audiovisual e a leitura dos conteúdos audiovisuais na
internet demandam experiências e habilidades novas para o usuário e para o jornalista. Num
período em que as narrativas híbridas estão em ascensão, a maneira de escrever e as
linguagens se misturam, fazendo com que a subjetividade do leitor passe por novos tipos de
interação marcada pela convergência. “Torna-se possível ler uma foto, um filme, uma pintura
ou uma canção, partindo da hipótese semiótica que o mundo é um texto aberto apresentado
em diferentes formas” (CANAVILHAS, 2006, p.6-9).
Ainda que consideremos que haja características narrativas distintas próprias de cada
meio, que a maneira de organizar as ideias seja identificável pelo receptor e pelo usuário, é
possível perceber que os formatos das notícias audiovisuais estão se misturando. Quando há
uma incorporação de diferentes linguagens e suportes na maneira de preparar a notícia
audiovisual, a introdução de outras possibilidades de armazenamento, distribuição e consumo
de informações promovidas pela convergência, nos leva a pensar para onde é que a
hibridização nos conduz e ainda mais, nos faz pensar sobre a complexidade e a diversidade
dos gêneros discursivos.
A introdução de diferentes elementos multimidiáticos altera todo o processo de
produção dos conteúdos jornalísticos e muda consideravelmente a forma de ler as notícias
porque as relações entre produção e recepção estabelecidas pelos meios anteriores são,
efetivamente, quebradas pela navegação não linear (CANAVILHAS, 2001, p.2-3).
Às narrativas jornalísticas audiovisuais, tanto na TV, quanto na internet, nos
referimos como práticas de jornalismo audiovisual porque ao identificar
transformações nas narrativas dos telejornais e apontar características
discursivas do webjornalismo audiovisual observamos que essas distintas
narrativas têm sofrido influências mútuas e passam por um processo de
hibridização mediadas pelas tecnologias digitais. As atividades de ver TV e
acessar internet mais especificamente, assistir ao telejornal e acompanhar as
notícias audiovisuais publicadas na web, começam a se fundir, e demandam
percursos metodológicos mais precisos para a leitura das notícias
(CANAVILHAS, 2001).
27
Os hiperlinks são possibilidades do jornalismo na internet que oferecem diferentes
modos de ler. O som, a imagem, os recursos multimidiáticos contribuem para que o usuário
possa perceber melhor o conteúdo e navegar em busca de informações complementares de
acordo com o seu objetivo.
2.4 Gêneros telejornalísticos
De acordo com Zanchetta (2008, 2012), por ter os seus principais atuantes advindos do
rádio, a televisão em seu jornalismo televisivo também carregou características daquele
suporte. Muitos dos apresentadores dos telejornais não eram jornalistas, mas sim locutores
aproveitados para exercer o papel de apresentadores de telejornal, ou seja, estavam
acostumados à passividade da leitura da notícia e não eram produtores da notícia. Na
atualidade, os telejornais passaram a dar destaque a comentaristas e a televisão passou a ser
menos descritiva e tomou o rumo investigativo.
Os telejornais brasileiros usam estratégias narrativas ficcionais das novelas, embora o
caráter de espetacularização faça parte da sociedade pós-moderna9 e a cultura de massa latinoamericana10 seja caracterizada pelo melodrama. Uma das características da pós-modernidade
é que o sujeito pode estar sozinho fisicamente, porém conectado a uma enormidade de
pessoas através das redes sociais. Os signos da cultura de massa na constituição do senso de
realidade são crescentes nesse contexto. A comunicação deixa de ser somente informação e
passa a ser distração, divertimento e entretenimento. Como registra Muniz Sodré (2002, p. 2125), na atualidade frenética, as relações humanas tendem a virtualizar-se ou telerrealizar-se no
cenário de midiatização, caracterizado por mediações e interações baseadas em dispositivos
teleinformacionais.
A televisão é mediatizada pelas narrativas. Quase tudo em TV é
narrativizado: é um contar o jogo, os fatos cotidianos, por meio do telejornal,
é o relatar os dramas, nas telenovelas, nas publicidades, etc., ou seja, a
9
“Pós-modernidade ou Pós-modernismo é a condição sócio-cultural e estética que prevalece sobre os conceitos
predominantes à era moderna, contrastando-a e dando início a uma nova era. Tem como princípio a consequente
desvalorização dos conceitos ideológicos dominantes na era moderna; a crise das ideologias e dos ideais que
dominaram o século XX, tendo como fator eventual a queda do Muro de Berlim”. Disponível em:<
http://www.icultural1.info/2012/05/pos-modernismo-artistico.html>, acessado em 17de janeiro de 2013.
“A expressão ‘cultura de massa’, posteriormente trocada por ‘indústria cultural’, é aquela criada com um
objetivo específico, atingir a massa popular [latinoamericana], maioria no interior de uma população,
transcendendo, assim, toda e qualquer distinção de natureza social, étnica, etária, sexual ou psíquica. Todo esse
conteúdo é disseminado por meio dos veículos de comunicação de massa”. (Grifos do autor), disponível em:
<http://www.infoescola.com/sociedade/cultura-de-massa/>, acessado em 17 de janeiro de 2013.
10
28
televisão possui uma linguagem narrativa na sua essência. Este narrar tem
origem no folhetim. Muito utilizado em telenovelas, atualmente tem sido
paradigma de vários tipos de programação e tem feito muitos receptores.
Também nos programas jornalísticos, em que a regra é veicular o fato com a
maior objetividade possível, a folhetinização da notícia, tem sido
amplamente incorporada (LANZA, 2005; p.11).
O distanciamento do mundo cotidiano se dá pelo uso de vários recursos narrativos que
são adaptados ao mundo da televisão. Embora na prática apareçam atrelados, faz-se
necessário distinguir alguns desses traços.
De acordo com Zanchetta (2004, 2012), a notícia televisiva passa a ter características
particulares. A narração passa a ser interpretada, perde o caráter de apenas informar. O
apresentador tem um papel muito importante na transmissão da notícia, o que chamamos de
teatralidade: sua postura, semblante, maneira de olhar, tudo isso faz parte de uma montagem
para que o telespectador sinta confiança no que foi dito. A verossimilhança tem como objetivo
aproximar a distância temporal entre o acontecimento e sua publicação, sendo reforçada por
entradas ao vivo e testemunhos de autoridades que, entre outros, garantem a sensação de
veracidade. Os recursos que são usados para prender a atenção do expectador têm a função de
criar um suspense na notícia. Pelo breve tempo que o telejornal tem para dar um grande
número de notícias, os recursos linguísticos somados à imagem tem o papel de transmitir
emoção aquele que acompanha a notícia. Outro atributo dado à notícia é a individualização
que é a tendência que os telejornalistas têm de simplificar ao máximo as informações.
Finalmente, ainda de acordo com o autor, temos as oposições, que são as relações de
confronto que se estabelecem dentro da reportagem ou entre a reportagem e o telespectador.
O caráter narrativo, quase novelesco, que apresenta o telejornal demonstra que a
simplificação da narrativa aproxima-se bastante da linguagem falada e isso acontece de forma
proposital. Tal semelhança, contudo, não deve ser confundida com falta de cuidado na sua
elaboração. Com o objetivo de clareza e a consciência de que está sendo transmitido a
milhões de pessoas e que as realidades destas é a mais distinta, o jornalista deve elaborar o
texto observando a regras de linguagem de modo claro que deve ser dito sem ficar pobre.
O texto do telejornal leva aos seus telespectadores uma sensação de organização
social. A passividade do telespectador diante da tela da televisão não é total. Somente as
imagens não têm o poder de prender a atenção do público, tampouco somente o texto narrado.
A combinação bem pensada destes dois elementos é o que vai prender a atenção de quem está
diante da tela, seduzi-lo e evitar que o mesmo desligue o televisor, mude de canal ou perca o
seu foco de atenção. Segundo Rondelli (1998):
29
[...] essa sedução exercida pelo contar histórias é incrementada pelas
possibilidades da linguagem do próprio meio. Dentre muitas, sua ênfase na
oralidade (lembremo-nos de que sempre há uma matriz oral numa boa
história); a simultaneidade entre o acontecer e sua divulgação, o que torna os
relatos mais excitantes; a presença da imagem que opera não só como
testemunha, mas acrescenta possibilidades ao olhar que não cabem no relato
oral; a possibilidade de aproximação a uma linguagem teatral, em que a
performance sempre emerge como ato possível; o sentido da veracidade
trazida pelas cenas ao vivo; os recursos de edição que trabalham som
(música), imagem e presença de narradores distintos em diferentes locais
relatando o fato de diversos pontos de vista (RONDELLI, 1998, p. 64).
Preparar a junção de imagens com a narração dos fatos, ou somente preparar uma
narração como quem conta uma história a um amigo é o desafio do telejornal. Entretanto,
narrar de uma forma que pareça um familiar contando algo que viu não é tarefa fácil, mas
observar algumas características facilita a construção de um texto acessível sem ser pobre ou
mal escrito. Bonner (2010) contribui com alguns elementos para a elaboração de um texto
com linguagem adequada para um telejornal de audiência plural como o JN. Vejamos:

Conjugação verbal em seu tempo real. Os noticiários receberam uma herança do rádio
e, este da imprensa escrita, por isso há uma tendência a usar os verbos no presente do
indicativo. O telejornal e, em especial o JN, tenta aproximar-se da conversa do dia a
dia das pessoas comuns, assim, os tempos verbais são respeitados como em uma
conversa informal.

Emprego de expressões de rápido entendimento. Quanto mais objetivo for o texto,
mais fácil será a sua compreensão.

Utilização dos adjetivos de maneira restrita e sempre que necessário priorizar o uso
depois do substantivo. A ordem inversa é uma tendência do texto escrito, porém como
o desejo no JN é de assemelhar-se a uma conversa entre pessoas comuns, os textos
serão elaborados como as pessoas comuns usam as palavras no ato da fala.

Elaboração de frases mais curtas e desdobramento de frases muito longas em outras
mais curtas. Frases mais curtas são mais comuns na fala do dia a dia, isso existe
porque a fala exige a respiração durante o seu ato, sendo assim, o jornalista terá essa
marca da respiração durante a leitura.

Construção das frases em ordem direta, evitando intercalação de orações. O uso de
frases sobrepostas tende a levar o telespectador à distração, pela perda da objetividade
30
textual. Lembrar-se sempre que o texto deve ser organizado como um bate papo entre
pessoas conhecidas.
Essas características do telejornal são necessárias porque o telespectador não tem
(embora na atualidade alguns aparelhos já possam contar com recursos que permitam a pausa
e o retrocesso da programação em tempo real) a chance de ‘reler’ a notícia, o que é
perfeitamente possível no jornal escrito ou no webjornal. Na TV, a notícia deve ser
apresentada pensando-se que aquele que está assistindo terá somente aquela oportunidade de
ver e ouvir aquela notícia.
2.5 A reportagem
É a partir da criação da revista Time, em 1923, que o gênero reportagem consolida-se.
Esse novo gênero surgiu para combater a superficialidade da notícia e para fundar o
jornalismo interpretativo.
A reportagem é um dos gêneros jornalísticos. Ela é o tratamento narrativo dado ao
fato. Transmite informações através da televisão, do rádio, da revista, do jornal ou da internet.
O objetivo principal deste gênero jornalístico é transmitir os fatos ao leitor, telespectador ou
internauta de maneira abrangente, desenvolvendo uma investigação em busca das origens do
fato e suas consequências, abrindo assim um debate sobre o fato ou acontecimento fazendo
um desdobramento sobre o que há de mais importante.
Segundo Faria e Zanchetta (2002), a reportagem busca recuperar as informações
apresentadas no dia-a-dia e aprofundá-las; além de informar pontualmente sobre um fato,
observa as suas raízes e o desenrolar dele.
A sua linguagem deve ser clara, objetiva e estar de acordo com a norma culta. Há três
tipos de reportagens mais comuns: as de fatos, de ação e documental (SODRÉ, 1986).
O relato objetivo, respeitando o esquema da pirâmide invertida, com fatos narrados
numa sucessão cronológica são as características da reportagem de fatos.
Chamamos de reportagem de ação “o relato mais ou menos movimentado, que
começa sempre pelo fato mais atraente, para ir descendo aos poucos na exposição dos
detalhes” (SODRÉ, 1986), independe dos modelos como são hierarquizados os
acontecimentos e as informações. Pode ser cronológico, respeitando o esquema da pirâmide
invertida, ou dialético, demonstrando uma ideia.
O terceiro modelo, a reportagem documental é um relato expositivo com a
apresentação de um tema polêmico ou atual de maneira objetiva, pode ter um aspecto
31
denunciante, é mais comum nos documentários de televisão ou cinema. Na abertura do
gênero, há o clímax acompanhado dos elementos do lide, depois o desenvolvimento da
história, incluindo depoimentos, entrevistas, informações complementares e a conclusão.
A reportagem está geralmente dividida em: manchete, lide e corpo. O título, ou a
manchete geralmente usa verbos no presente e anuncia a principal informação do texto. O lide
tem por objetivo resumir o assunto tratado no texto e por fim, o corpo da reportagem
aprofunda o assunto abordado. Apresenta linguagem dinâmica, clara e objetiva.
Tomando a reportagem como gênero jornalístico, poderíamos caracterizá-la segundo
os seguintes aspectos: a) a presença da notícia que situa a reportagem nos limites do
jornalismo interpretativo, analisando e valorizando os momentos reais; b) a descrição da
realidade; c) a originalidade no tratamento e a apresentação dos fatos reais, combinados com
outras formas jornalísticas, como a entrevista ou o inquérito. Sodré e Ferrari (1986) afirmam
que para diferenciar notícia de reportagem podemos observar:
Um fato pode ser tão importante que sua simples notícia ou uma enorme
reportagem a respeito dele vão sempre procurar documentar seus aspectos
referenciais, porque aí está a expectativa do leitor. Já um episódio de restrito
interesse só ultrapassará o mero registro se envolto em circunstancias que
conduzirão o leitor a um posicionamento crítico, revelando-lhe ângulos
insuspeitados, salientando outros apenas entrevistos - enfim, iluminando e
ampliando a visão sobre determinado assunto. Essa, talvez, seja a função
distintiva entre o noticiar e o reportar (SODRÉ; FERRARI, 1986).
As principais características de uma reportagem são: predominância da forma
narrativa; humanização do relato; texto de natureza impressionista; objetividade dos fatos
narrados. Essas características podem aparecer com maior ou menor intensidade de acordo
com o assunto da reportagem. A narrativa sempre deverá estar presente, ainda que seja de
forma variada, caso contrário não será uma reportagem.
A originalidade deve ser trabalhada a partir de fatos já conhecidos, mas que revelam
detalhes desconhecidos.
Quando o jornal diário noticia um fato qualquer, como um atropelamento, já
traz aí, em germe, uma narrativa. O desdobramento das clássicas perguntas a
que a notícia pretende responder (que, o que, como, quando, onde, por quê)
constituirá de pleno direito uma narrativa, não mais regida pelo imaginário,
como na literatura de ficção, mas pela realidade factual do dia-a-dia, pelos
pontos rítmicos do cotidiano que, discursivamente trabalhados, tornam-se
reportagem (SODRÉ; FERRARI, 1986).
Enquanto a notícia se preocupa com a atualidade imediata e urgente, a reportagem
preocupa-se com a investigação e documentação de um tema; tem um tempo mais flexível de
32
apresentação, preocupa-se com a qualidade da imagem, tanto na técnica quanto na estética;
além de dar importância redobrada à fase de edição, quando verdadeiramente se constrói a
história.
Por isso, é a reportagem - onde se contam, se narram as peripécias da
atualidade - um gênero jornalístico privilegiado. Seja no jornal nosso de cada
dia, na imprensa não-cotidiana ou na televisão, ela se afirma como o lugar
por excelência da narração jornalística. E é mesmo, a justo título, uma
narrativa - com personagens, ação dramática e descrições de ambiente separada entretanto da literatura por seu compromisso com a objetividade
informativa (SODRÉ; FERRARI, 1986).
Segundo Sodré (2009), na reportagem os elementos ‘quem’ e ‘o que’ servem para
despertar o interesse humano, sustentando a problemática narrativa. O papel do repórter é
estar presente, diminuir a distância entre o leitor e o acontecimento. Na reportagem, a
narrativa ainda que não seja feita em primeira pessoa, deve carregar um tom que favoreça a
aproximação. Os fatos deverão ainda ser relatados com precisão, o que garantirá a
verossimilhança.
2.5.1 A Reportagem telejornalística
No caso da reportagem telejornalística, a imagem é essencial. Para Jespers, o público
pode ser facilmente sensibilizado por uma imagem. A imagem é capaz de chamar a atenção
para uma questão e mobilizar o público para ela (JESPERS, 1998).
De acordo com Zanchetta (2012), no caso da reportagem escrita “trata-se do texto de
maior fôlego e mais requintado do jornalismo”. O autor ainda cita “três formatos clássicos
para a reportagem, originários do jornalismo impresso, mas encontrados na televisão, com
modificações superficiais”. São eles:
A pirâmide invertida, modelo comum na reportagem sobre fatos. O repórter estrutura
seu texto organizando as informações em ordem decrescente de importância. A sequência é
apresentada da seguinte forma: lide, formando o primeiro parágrafo com as informações de
maior relevância, seguido pelo desenvolvimento da história e sua conclusão.
33
Figura 1 - Pirâmide invertida.
Fonte: Disponível em: <http//renatalopes-webjor.blogspot.com/2010/03>. Acessado em 17 de janeiro de 2013.
A pirâmide normal é aquela que caracteriza a reportagem do tipo cronológico, é mais
comum em reportagens de ação, as que informam sobre crimes ou grandes personalidades. A
narração é sequencial. O lide e as informações mais importantes se destacam antes da linha
cronológica.
Figura 2 - Pirâmide normal.
Fonte: Disponível em: <http//renatalopes-webjor.blogspot.com/2010/04>. Acessado em 17 de janeiro de 2013.
O clímax (culminação) e o remate incisivo é a combinação da pirâmide invertida com
a ordem cronológica (pirâmide normal). O repórter apresenta o caráter mais dramático e
recente da história, seguindo a cronologia, porém ressaltando elementos que aumentem o
clímax, chegando à conclusão (remate) sem perder o interesse do leitor. Apresenta como
sequência o lide, clímax da notícia, desenvolvimento da história e remate incisivo.
34
Figura 3 - Combinação de procedimentos (pirâmide invertida e pirâmide normal).
Os conteúdos das reportagens de televisão são mais extensos do que uma notícia,
contando ainda com as imagens e a participação do repórter. É o repórter quem faz a matéria
e é ele o principal responsável pela sua produção. Deve preocupar-se com as imagens e o
texto, as informações devem estar de acordo com as possíveis entrevistas. Junto com o
repórter, um repórter cinematográfico e um auxiliar devem cuidar da sua postura, voz e
aparência diante do público.
A apresentação da reportagem pode ser feita sob diferentes perspectivas de análise e
compreensão. A tarefa de encontrar um ponto de equilíbrio entre opiniões distintas,
garantindo a objetividade, cabe ao repórter.
Umberto Eco (1979) afirma que ao assistir um telejornal, a participação do
telespectador é apenas aparente, o que configura uma estratégia das emissoras de televisão
para garantir a audiência. “[...] Fácil veículo de fáceis sugestões, a TV é também encarada
como estímulo de uma falsa participação, de um falso sentido do imediato, de um falso
sentido de dramaticidade” (ECO, 1979).
A era visual tornou o homem menos atento. Recebendo informações fragmentadas,
sobre os fatos do presente, passou a ter uma compreensão intuitiva da realidade, o que difere
da informação tradicional que era de ordem histórica. A televisão passa assim a ser um
estímulo à fuga, a partir de fatos sempre urgentes.
2.5.2 A reportagem no webjornalismo
35
Se a reportagem televisiva configura uma recepção fragmentada das informações, a
reportagem webjornalística reforça ainda mais tal característica. Na internet a notícia é
publicada imediatamente e complementada ao longo do dia. A interatividade também é uma
característica presente neste suporte. As mídias tradicionais sempre tiveram algum tipo de
interatividade11, como nas seções de cartas de jornais e TV e nos telefonemas para programas
de rádio, mas no webjornalismo as possibilidades de interatividade são bem maiores. Na
internet o leitor pode enviar comentários sobre uma reportagem e ver imediatamente suas
observações disponíveis para outros leitores. O leitor se sente fazendo parte do processo
jornalístico (CANAVILHAS, 2001).
As reportagens webjornalísticas são também, muitas vezes multimidiáticas,
combinando texto, vídeo, áudio, gráfico e interatividade, usando as ferramentas presentes na
internet.
A era das comunicações é para a imprensa escrita a era da automação. Os
novos procedimentos de impressão, os meios de telecomunicações e
informática, hão de ser os instrumentos modernos que, postos a serviço de
um diário, permitirão não somente diminuir a separação tecnológica entre a
imprensa escrita e os outros meios de comunicação, mas também ampliarão
o campo de ação do mercado do diário de informações (MORGAINE, 1972,
p. 26).
O espaço disponível num webjornal é infinito e, portanto, a reportagem pode ser feita
sem a preocupação com o espaço de tempo dentro de uma programação rígida e com tempo
fixo. Os recursos disponíveis para a produção das reportagens na web facilitam uma estrutura
narrativa não-linear, na qual o próprio usuário escolhe o caminho da leitura que quer seguir.
A regra de funcionamento da pirâmide invertida dentro do jornalismo, sempre
funcionou porque na imprensa escrita, o jornalista tem a preocupação com o espaço do papel
e na imprensa telejornalística, a preocupação maior sempre foi com o tempo. Recorrendo a
esse recurso, o jornalista organiza a notícia colocando a informação mais importante no início
e aquilo que lhe parece menos importante fica para o final, deste modo o leitor somente pode
efetuar a leitura seguindo o roteiro estabelecido pelo jornalista.
[...] consideramos que a técnica em causa está intimamente ligada a um
jornalismo muito limitado pelas características do suporte que utiliza – o
papel. Usar a técnica da pirâmide invertida na Web é cercear o
webjornalismo de uma das suas potencialidades mais interessantes: a
adopção de uma arquitectura noticiosa aberta e de livre navegação
(CANAVILHAS, 2006, p.7).
11
Alguns autores (LEMOS, 1997; BONILLA, 2002) entendem por interatividade quando há comunicação
mediada por tecnologias e interação.
36
Para Canavilhas (2001) embora a eficácia na transmissão rápida e sucinta das notícias
seja inegável, a técnica da pirâmide invertida tende a automatizar o jornalista, tornando seu
trabalho uma rotina, tolhendo sua criatividade e tirando a parte atrativa da leitura.
Na estrutura narrativa do webjornalismo as reportagens podem aparecer divididas em
várias partes ligadas através de links que vão conduzir o leitor a hipertextos e redirecionar a
leitura.
Este gênero se caracteriza assim mesmo por sua exuberância e o emprego de
distintos estilos de redação, mais especificamente, a narração, a descrição, a
exposição e, em menor medida, também, o diálogo [...]. Ficaria de fora
apenas o quinto tipo de texto, a argumentação, que se considera patrimônio
dos gêneros jornalísticos ou de opinião (SALAVERRÍA, 2005, p. 521).
Assim como aconteceu a mudança da organização dos fatos por valor noticioso,
surgindo a pirâmide invertida em substituição ao relato cronológico dos acontecimentos, por
conta da rapidez e economia nas mensagens de telégrafo para garantir a chegada dos dados
essenciais aos seus jornais, pode ser que haja uma mudança na estrutura e organização das
reportagens produzidas para o webjornal, agora que o jornalista ganha maior espaço e
liberdade de produção. Ramón Salaverría (2005) considera que a técnica da pirâmide
invertida é limitadora e que, com as inúmeras possibilidades que o hipertexto apresenta,
outros gêneros jornalísticos podem tirar proveito das suas potencialidades.
A flexibilidade dos meios online permite organizar as informações de acordo
com as diversas estruturas hipertextuais. Cada informação, de acordo com as
suas peculiaridades e os elementos multimídia disponíveis, exige uma
estrutura própria.” (SALAVERRÍA, 2005, p. 108).
Estas estruturas podem ser lineares, reticulares ou mistas (Dias Noci y Salaverría,
2003). A estrutura linear está caracterizada por textos ligados através de um ou mais eixos,
condicionando o grau de liberdade do leitor, que fica preso entre um eixo e outro. A estrutura
reticular não tem eixos predefinidos, é uma rede de navegação livre que abre todas as
possibilidades de leitura. As estruturas mistas podem ser lineares ou reticulares, perdendo um
pouco em relação à liberdade de leitura.
Qualquer que seja a estrutura usada, o que existe é um distanciamento da estrutura da
pirâmide invertida. Embora muitos estudiosos ainda defendam a técnica, é possível perceber
também que de acordo com Canavillas (2001), a introdução de novos elementos textuais faz
com que o usuário explore a notícia de uma maneira mais pessoal. Ele não pode ser visto mais
apenas como “leitor, telespectador ou ouvinte já que a webnotícia integra recursos
multimidiáticos, exigindo uma ‘leitura’ multilinear” (CANAVILHAS, 2001, p. 14).
37
Da tradicional pirâmide invertida, o lide passou a ser o chamado iceberg invertido para
denotar a multiplicidade de informações que podem se desdobrar a partir do hipertexto. O
último modelo é a chamada pirâmide deitada em que aparecem os 5 w's (who, what, when,
where, why). Os dois últimos modelos exigem necessariamente a aliança da capacidade de
redação do jornalista com a habilidade de arquitetar e pensar na informação estrategicamente.
O modelo da pirâmide deitada, segundo seu idealizador, exige uma nova postura do
profissional jornalista, que deverá saber explorar os recursos que a hipertextualidade oferece.
De acordo com ele:
A pirâmide deitada é uma técnica libertadora para utilizadores, mas também
para jornalistas. Se o utilizador tem a possibilidade de navegar dentro da
notícia, fazendo uma leitura pessoal, o jornalista tem ao seu dispor um
conjunto de recursos estilísticos que, em conjunto com novos conteúdos
multimédia, permitem reinventar o webjornalismo em cada nova notícia
(CANAVILHAS, 2006, p.16).
É possível considerar o hipertexto como o principal responsável pela variedade na
elaboração da escrita e na execução da leitura da web reportagem. Gutiérrez Siglic, defende
que em uma arquitetura da informação mais elaborada é possível a redação de “textos mais
profundos e complexos, com uma maior quantidade de dados que podem ser lidos de maneira
não sequencial” (2006, p. 5). Ele indica que a construção dos hiperlinks deve ser feita levando
em consideração conteúdos-chave que permitam um tratamento profundo dos temas.
Canavilhas (2006) defende ainda que não há uma organização dos textos em relação a
sua importância informativa. Na pirâmide deitada, o que ocorre são pistas de leitura que são
distribuídas em quatro níveis de leitura chamados de unidade base, nível de explicação, nível
de contextualização e nível de exploração. A visualização dos quatro níveis de leitura que
formam a pirâmide deitada pode ser feita na figura a seguir:
38
Figura 4 - Pirâmide deitada.
Fonte: Disponível em: <http//diagrama+piramide+deitada+jornalismocanavilhas.jpg>. Acessado em 17 de jan
de 2013.
Para melhor compreensão dos quatro níveis de leitura, é necessário esclarecer que a
unidade básica corresponde ao lide, respondendo às perguntas o quê, quem e onde. O nível de
explicação está relacionado as perguntas por quê e como, enquanto o nível de
contextualização oferece mais informações sobre todas as perguntas que podem estar
relacionadas ao texto, as fotos, vídeos, infográficos e animações. Finalmente, o nível de
exploração faz a ligação com outros arquivos de interesse, inclusive aqueles que não
pertencem ao texto, ou seja, externos.
A diferença, conforme Canavilhas (2006), é de que na “pirâmide deitada” o leitor pode
escolher entre seguir somente um eixo de leitura ou navegar de forma livre no interior da
notícia.
39
CAPÍTULO 3
A METODOLOGIA
Apresentaremos aqui a metodologia que utilizamos para desenvolver esta pesquisa e
como ela se deu. Explicitaremos também a opção e a justificativa metodológica e alguns
pontos relevantes no processo de aplicação e análise.
3.1 Método e procedimentos
Para Bogdan e Biklen (1994, p. 43) “existem vários tipos de estudos qualitativos, cada
um deles sugere métodos específicos para avaliar a possibilidade da sua realização, bem como
os procedimentos a adotar”. O presente trabalho considerou tais características e seguiu os
pressupostos da pesquisa qualitativa por considerar o mais adequado para o que desejava
investigar.
De acordo com estes mesmos autores, nessa modalidade de pesquisa, nada pode ser
considerado como comum “tudo tem potencial para constituir uma pista que nos permita
estabelecer uma compreensão mais esclarecedora do nosso objeto de estudo” (BOGDAN e
BIKLEN, 1994, p. 73).
A imparcialidade diante do objeto de estudo nos trabalhos científicos também era visto
como característica indispensável para eliminar qualquer presença de subjetividade, tornando
assim a pesquisa totalmente objetiva. Porém as novas metodologias redefiniram o papel do
pesquisador, agora ele é visto como instrumento importante na coleta de dados. A
compreensão do fenômeno deve ser construída por questionamentos sobre o objeto e também
pelo questionamento do fenômeno, deste modo, a subjetividade assume um papel relevante.
Para Lüdke e André (1986, p.5) trata-se de um “fenômeno educacional situado dentro de um
contexto social, por sua vez inserido em uma realidade histórica, que sofre toda uma série de
determinações”.
De acordo com os avanços tecnológicos, a presente pesquisa fez-se necessária porque
as inovações já não são apenas exclusividade de pequenos grupos, na atualidade diferentes
segmentos sociais têm acesso à ‘modernidade tecnológica’ e tal realidade torna urgente uma
análise de como se dá a recepção de toda essa informação.
40
A pesquisa qualitativa, pareceu adequada para esse trabalho porque, de acordo com
Lüdke e André (1986), é caracterizada por: enfatizar o processo, não o produto; estabelecer
contato direto do pesquisador com a situação pesquisada; obter dados ricos em descrições de
situações e acontecimentos; levar em conta as perspectivas das pessoas envolvidas; ter como
principal fonte de dados uma situação natural.
Bogdan e Biklen (1994) afirmam que a ação do investigador qualitativo de separar o
ato, a palavra ou o gesto do contexto em que ocorrem significa perder de vista seu significado.
Na presente pesquisa os dados analisados foram coletados em seu ambiente natural, portanto,
mantivemos seu significado original. Essa é uma das cinco características que os autores dão
para a pesquisa qualitativa.
Descrever o trabalho após a coleta de dados será utilizado na elaboração de categorias
que organizarão e sistematizarão a análise. O trabalho descritivo da coleta de dados é outra
característica da pesquisa qualitativa. Para Bogdan e Biklen (1994), a ação que o pesquisador
realiza ao descrever contribui para um olhar mais cuidadoso em busca de informações e
subsídios que colaborem para que o pesquisador entenda por inteiro o seu objeto de estudo.
Coletar o maior número de dados possível para que o processo vá tomando forma,
realizando uma análise de modo indutiva dos dados é a terceira característica da pesquisa
qualitativa. Os autores comparam esse processo a um funil, onde todos os dados são
relevantes e, após o andamento da pesquisa, muitas informações deixam de ser importantes
especificando-se assim, o que se espera da pesquisa.
Considerando que os diferentes modos de representação demonstram os diferentes
significados que as coisas têm para os indivíduos, será a partir daí que elementos estruturais
serão utilizados como significação. O significado é a quarta característica que a abordagem
qualitativa traz. E, finalmente, com já supracitado, Lüdke e André (1986), assim como
Bogdan e Biklen (1994), enfatizam que não é o produto o mais importante neste tipo de
pesquisa, mas sim o processo. Nesse tipo de pesquisa não se espera o produto final, mas sim
que tal processo sirva para que subsídios essenciais sejam desvendados e sua compreensão
facilitada.
Nesta dissertação utilizaremos: observações, entrevistas, questionários e diários de
campo, já que em uma “pesquisa, os instrumentos devem ser cuidadosamente selecionados,
para que se possam levantar dados suficientes, cuja análise permita atingir os objetivos
propostos e responder às perguntas de pesquisa” (VIEIRA-ABRAHÃO, 2006, p. 230). Sendo
assim, na pesquisa qualitativa de cunho etnográfico “o pesquisador faz uso de uma grande
41
quantidade de dados descritivos: situações, pessoas, ambientes, depoimentos, diálogos”
(ANDRÉ, 1995, p. 29), com isso nos respaldaremos nestes referenciais metodológicos.
As entrevistas usadas neste trabalho têm a finalidade de aprofundar questões e
esclarecer os problemas observados. Lançamos mão aqui, de entrevistas semiestruturadas que
podem ser marcadas por uma estrutura geral, permitindo porém, maior flexibilidade.
Neste tipo de instrumento, o pesquisador prepara algumas questões
orientadoras, ou procura ter em mente algumas direções gerais que
orientarão o seu trabalho. É um instrumento que melhor se adequa ao
paradigma qualitativo por permitir interações ricas e respostas pessoais. Este
tipo de entrevista tem a vantagem de permitir que as perspectivas dos
entrevistadores e entrevistados componham a agenda de investigação
(VIEIRA-ABRAHÃO, 2006, p. 223-224).
Conforme ressalta Cavalcanti (1999) o ponto de partida para isso seria a reflexão,
teoricamente embasada, sobre a prática, segundo ela “a partir daí o caminho está aberto para
mudanças que são sempre difíceis e que envolvem um constante ir e vir” (p. 181).
3.2 Contextualização da pesquisa
A observação participante considera o grau de interação e vivência entre o pesquisador
e a realidade estudada.
Como a pesquisa é referente à recepção midiática e não há
muitos trabalhos referente ao tema desenvolvido com alunos do Ensino Médio, optamos por
trabalhar com um grupo de estudantes do 1º ano.
Deste modo, a pesquisa foi desenvolvida em uma escola particular no município de
Assis onde a pesquisadora é professora há mais de 10 anos.
A escolha do colégio se deu pelo fato da pesquisadora ter maior contato com a
professora de redação e com a direção. Tal escolha esteve atrelada também ao fato de que a
escola possui um laboratório de informática bem equipado, com vinte e cinco computadores
com acesso rápido à internet. A professora colaboradora também desenvolve, dentro do seu
plano anual de trabalho, a elaboração de um jornal escrito e, os mesmos alunos, nas aulas de
outro professor, elaboram um telejornal e um webjornal, motivos que fortaleceram
grandemente o interesse da pesquisadora por esse grupo, por estar bastante relacionado com o
tema deste trabalho.
O colégio Rui Barbosa- Anglo Xereta nasceu em 1970 no centro da cidade de Assis.
Em 1975, necessitando de um espaço maior, um grupo de assisenses adquiriu um amplo
terreno no prolongamento da Av. Rui Barbosa. Para a construção da nova sede, um
42
planejamento cuidadoso e criterioso que visava à comodidade dos alunos e a interação com o
meio ambiente foi realizado. No ano de 1976 a escola já funcionava em sua nova sede.
O colégio tem uma característica que preserva desde sua inauguração até os dias
atuais, procura modificar-se e aperfeiçoar-se, não se acomodando, buscando sempre novas
formas e novos caminhos. Essas qualidades foram de grande importância no momento da sua
escolha como campo de pesquisa.
Contando com mais de 100 funcionários, o colégio atua na cidade há mais de 40 anos,
preservando um corpo docente que acredita que o fundamental na área da educação é ter
qualidade e responsabilidade no ensino. É um estabelecimento de ensino que se preocupa com
a cidadania, estimulando os alunos e professores a participação em projetos sociais.
Figura 5 - Vista aérea, 48.000m2, mais de 15 câmeras e zona wi-fi em todo o colégio.
Fonte: Disponível em: <www.angloxereta.com.br/portal_anglo/infra/, acessado em 10 de março de 2013>.
Acessado em 23 de jan de 2013.
Reforçamos aqui a decisão por tomar esta escola como campo de pesquisa por, entre
outros aspectos, ter um laboratório em pleno funcionamento, com grande acesso à internet,
contribuindo assim para a execução da pesquisa.
3.3 Os objetos de pesquisa
Ao optarmos pelo campo de pesquisa, apresentamos nossa proposta à direção e à
professora de redação do colégio, para dar-lhes conhecimento sobre a pesquisa. Descrevemos
a pesquisa e os passos que a professora que iria acompanhar a aplicação da mesma precisaria
percorrer para chegarmos aos objetivos, de modo que fosse possível analisar a pertinência do
estudo proposto dentro daquele espaço.
43
Após a análise feita pela direção e pela professora de redação e sua aprovação, a
pesquisa foi iniciada.
Iniciamos a pesquisa com a aplicação do questionário fechado, no intuito de conhecer
mais amplamente qual seria o perfil dos 36 sujeitos observados, totalizando todos os alunos
da sala. Todos os alunos estavam regularmente matriculados no 1º ano do Ensino Médio,
sendo cinco deles bolsistas, destes, dois recebem bolsas de estudo pelo convênio que a escola
possui com a Autarquia Municipal de Esportes, outros dois são filhos de professores e por
isso estão amparados pela lei para receberem bolsa e um aluno recebe também bolsa integral
por haver conquistado tal direito quando obteve o melhor desempenho no concurso de bolsas,
que a escola promove anualmente para todos os alunos que se interessarem.
O questionário foi organizado e analisado, para que desta maneira fosse possível nos
aprofundar em algumas questões presentes nas entrevistas semiestruturadas feitas com os
alunos que se propuseram continuar a participar da pesquisa.
Após a aplicação do questionário fechado, toda a turma foi convidada a participar da
segunda etapa da pesquisa, quando o questionário semiestruturado foi aplicado ao grupo,
naquele momento os alunos participantes souberam superficialmente do que se tratava a
pesquisa, o que instigou certa curiosidade por parte dos mesmos. As entrevistas aconteceram
individualmente, para que houvesse proximidade suficiente a fim de explorar a conversa e
acompanhar as especificidades de cada sujeito. Uma terceira etapa da pesquisa se deu por
meio de questionário estruturado. Neste momento o grupo já havia sido reduzido a 10 alunos
voluntários, que se disponibilizaram a participar da pesquisa até o final, além do grande
volume de dados que totalizaria se todos os alunos fossem analisados o que geraria uma
grande quantidade de dados cuja análise não seria possível devido ao curto prazo que o
programa apresenta.
3.4 As etapas para coleta de dados
O objetivo da aplicação do primeiro questionário fechado nesta pesquisa é poder
apresentar por meio de representações gráficas e numéricas os acessos que os estudantes têm
ao computador e à internet, além de saber por qual meio este mesmo sujeito tem acesso aos
fatos e acontecimentos diários.
Por meio de seis questões, elaboramos um questionário fechado com o objetivo de
saber se os sujeitos têm acesso ou não ao computador e à internet, onde os mesmos têm mais
facilidade de utilização e como geralmente se informam sobre os acontecimentos.
44
Além do tipo de questionário descrito anteriormente, também optamos pelo
questionário semiestruturado. Neste momento a entrevista já é iniciada com alguns limites
predeterminados, mas que podem ser mais ou menos explorados conforme o conhecimento
que o participante tem sobre determinado tema.
O questionário semiestruturado neste caso foi elaborado de maneira que fosse possível
conhecer melhor o sujeito, buscando informações como idade, série, tempo de estudo na
mesma escola, realidade econômica familiar, qual é o principal meio de informação que
utiliza, quais são os usos que faz da TV e da internet, entre outras. Foi aplicado
individualmente, na própria escola onde eles estudam, por meio de entrevistas.
Em um terceiro momento foi aplicado outro questionário estruturado. Nesta etapa 10
sujeitos já haviam sido selecionados segundo os critérios já descritos anteriormente e as
questões elaboradas tinham a intenção de analisar a recepção das narrativas midiáticas por
meio do telejornalismo e do webjornalismo.
Como já apontamos no capítulo 1 deste trabalho, a opção pelo JN como representante
do telejornal se deu porque este continua sendo o telejornal mais assistido pelos brasileiros e
faz parte da emissora de televisão mais importante do país. Para as análises foram
selecionadas 16 reportagens do JN de acordo com as especificidades que descreveremos mais
adiante. Tomamos a TV UOL como representante do webjornalismo por esta ser a primeira
emissora brasileira de televisão a ter a transmissão de sua programação exclusivamente pela
internet. Sua primeira transmissão foi em 1997. A emissora faz parte do portal UOL
(Universo Online) e também permite aos usuários enviarem seus vídeos por meio do portal,
permite ainda o compartilhamento de vídeos de maneira prática e rápida.
A emissora tem uma programação distribuída em 20 canais, divididos por gêneros.
Além de programas próprios, a TV UOL transmite ainda alguns acontecimentos esporádicos
realizados pela Folha de São Paulo, além de retransmitir em tempo real os canais BandNews e
BandSports, que são ligados à Rede Bandeirantes. Para as análises foram selecionadas 16
reportagens da TV Folha, que é transmitida pela TV UOL.
Para Ludke (1986, p.23) “[...] a vantagem da entrevista sobre outras técnicas é que ela
permite a captação imediata e corrente da informação desejada [...]”. Para a autora quando a
técnica é bem utilizada é possível tratar de temas complexos e claramente individuais.
Por meio das entrevistas estruturadas e semiestruturadas pudemos traçar um panorama
geral das diversas maneiras de como os estudantes se informam sobre os fatos e
acontecimentos diários.
Para Bourdieu:
45
Tentar saber o que se faz quando se inicia uma relação de entrevista é em
primeiro lugar tentar conhecer os efeitos que se podem produzir sem o saber
por esta espécie de intrusão sempre um pouco arbitrária que está no princípio
de troca (especialmente pela maneira de se apresentar a pesquisa, pelos
estímulos dados ou recusados, etc.) é tentar esclarecer o sentido que o
pesquisado faz da situação, da pesquisa em geral, da relação particular na
qual ela se estabelece, dos fins que ela busca e explicar as razões que o
levam a aceitar a participar da troca (BOURDIEU, 2008, P. 695).
O autor discute ainda, sobre a relação entre o pesquisador e o sujeito entrevistado,
diante de uma situação em que as relações sociais e linguísticas podem interferir no
desenrolar da entrevista e também durante sua análise.
É efetivamente sob a condição de medir a amplitude e a natureza da
distância entre a finalidade da pesquisa tal como é percebida e interpretada
pelo pesquisado, e a finalidade que o pesquisador tem em mente, que este
pode tentar reduzir as distorções que dela resultam, ou, pelo menos, de
compreender o que pode ser dito e o que não pode, as censuras que o
impedem de dizer certas coisas e as incitações que encorajam a acentuar
outras (BOURDIEU, 2008, p. 695).
As entrevistas foram individuais, realizadas no laboratório de informática do colégio
no horário das aulas de redação, respeitando a disponibilidade da professora colaboradora.
Em suma, procuramos aqui ter um contato direto da pesquisadora com o campo de
pesquisa e seus sujeitos; utilizar a primeira entrevista estruturada para traçar um panorama
geral do perfil dos estudantes do 1º ano do Ensino Médio acerca dos seus meios de acesso à
informação. Com a entrevista semiestruturada, buscamos aprofundar e estabelecer relação
entre o perfil e as falas do aluno, observar o comportamento dos sujeitos pesquisados e fazer o
registro do campo de pesquisa.
Finalmente, na última etapa da pesquisa, aplicamos o questionário estruturado para
levantar material que nos ajudasse a responder as nossas indagações: O telejornalismo
ancorado no webjornalismo perpetua ou modifica expedientes narrativos encontrados no
telejornalismo analógico? E como se dá a recepção das características narrativas presentes no
JN e na TV UOL por alunos do 1º ano do Ensino Médio?
3.5 Atividades realizadas
Foram selecionadas 32 reportagens sendo 16 do JN e 16 da TV UOL. Um grupo de cinco
alunos assistiu as reportagens do JN e outro grupo, composto por outros cinco alunos, assistiu
as reportagens da TV UOL.
46
Nas atividades realizadas com os alunos foram averiguados os seguintes aspectos de
recepção:

Noção de espaço (lugares reportados na matéria).

Noção de tempo (qual a noção de tempo envolvida).

Noção de sujeito (quais são os personagens centrais da reportagem).

Noção de ação (qual é o assunto central da reportagem).

Noção de desenvolvimento (como o assunto é desenvolvido).

Noção de desdobramento (quais as implicações do tema tratado).

Noção de imagem (qual é o papel da imagem).

Noção de apresentação (qual é o papel dos apresentadores e dos repórteres).
A partir da definição das categorias de análise e da delimitação dos elementos constitutivos
que serão observados, foi elaborada a seguinte grade:

Reportagem.

Fonte.

Número de alunos.

Descrição da tarefa.

Aspecto central observado.

Questões aplicadas aos alunos.

Resumo da reportagem.
Considerando-se o caráter e a heterogeneidade das informações que se observam nas
reportagens que serviram de amostragem, definimos que para a análise avaliativa dos
resultados, utilizamos as semelhanças e as diferenças.
As semelhanças entre as reportagens do JN e da TV UOL foram observadas e
confrontadas de acordo com suas características narrativas. As diferenças entre as mesmas
serviram para definir ou caracterizar particularidades em alguns perfis narrativos.
47
CAPÍTULO 4
DA ANÁLISE DOS SUJEITOS À ANÁLISE DOS DADOS
4.1 Breve análise dos objetos de pesquisa
Após esclarecer a intenção de nossa pesquisa junto à direção da escola e a professora
de Língua Portuguesa responsável pela turma, conseguimos a permissão para primeiramente
aplicar questionários com a turma, contando com uma participação efetiva de 36 alunos do
primeiro ano do Ensino Médio, no período matutino. As entrevistas estruturadas aconteceram
na primeira visita à turma e tinham como objetivo conhecer quantas estudantes tem acesso ao
computador e à internet, em que lugares eles têm esse acesso e também investigar quais
suportes esses estudantes utilizam mais para ter acesso à leitura e informação.
Deste modo, temos:
Alunos que possuem e não posuem
computador e acesso à internet em casa
100%
90%
80%
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
Tem computador
Não tem computador Tem acesso à internet
Não tem acesso à
internet
Gráfico 1:Relação de alunos que possuem e não possuem computador e acesso à internet em casa.
Podemos perceber no gráfico acima que 100% dos alunos do Ensino Médio do
Colégio Rui Barbosa Anglo Xereta têm acesso ao computador em suas casas, isso evidencia
que este tem sido um bem primordial às famílias. A porcentagem é quase total também,
quando se observa o acesso à internet.
48
No que diz respeito sobre onde utilizam o computador conectado à internet, tem-se a
seguinte representação:
Lugares em que se utiliza computador com
acesso à internet
42%
42%
Em casa
Na casa de um amigo
Na escola
11%
5%
Outros
Gráfico 2: Relação de lugares em que os estudantes utilizam computadores com acesso à internet.
Podemos relacionar os 42% dos alunos que apontaram utilizar mais a internet em casa
correspondem ao número do Gráfico 1, em que, aproximadamente, 95% têm internet em suas
casas. E os alunos que não possuem acesso à internet em casa, por meio de um computador?
De acordo com os dados obtidos pelo questionário e representados no Gráfico 2, aqueles que
não possuem o computador conectado à internet em casa compõem a porcentagem que
utilizam computador na escola ou na casa de um amigo, não tendo ninguém que utilize uma
lan house ou que não utilize o computador. Por fim, a maioria marcou a opção “Outros”, na
qual destacaram utilizar Smartphones e Tablets com acesso à internet. Podemos verificar que
é possível afirmar que a escola tem contribuido para o acesso dos alunos à internet,
disponibilizando espaços com sistema wi-fi, o que pode ser demonstrado por uma
porcentagem média de alunos que utilizam este lugar.
Ao questionarmos qual suporte os estudantes mais usam para obter informação sobre o
cotidiano e atualidades, vimos que:
49
Recepção da informação nos diferentes
suportes: Telejornal, Webjornal, Jornal e
Outros
Telejornais
Webjornais
Jornais
Outros
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
Gráfico 3: Porcentagem da utilização por alunos de diferentes suportes para recepção de informações.
Esses dados demonstram que aproximadamente 80% dos estudantes recebem as
informações por meio dos telejornais, enquanto que quase 20% acompanham webjornais e
pouco mais de 1% se informam por jornais impressos. Isso nos mostra a influência que
Telejornal e Webjornal têm na recepção da notícia e a importância de preparar os alunos para
que saibam interpretar as diferentes características presentes nos dois suportes, bem como
relacionar os diferentes suportes e refletir sobre o que lhes é transmitido.
4.2 O telejornalismo ancorado no webjornalismo perpetua ou modifica expedientes
narrativos encontrados no telejornalismo analógico?
Ao longo deste trabalho pudemos observar que o telejornalismo, produzido para a
televisão, atualmente é veiculado em duas estruturas de maior relevância, a tradicional na
televisão, que pode ser chamada analógica e a digital, que é o caso do telejornal disponível na
página web da emissora que veicula o programa. Desta maneira, é possível perceber que as
narrativas telejornalísticas presentes no telejornal, especialmente no JN, também podem ser
definidas como analógica e digital. Na atualidade, podemos encontrar exemplos dessas duas
formas de narrativas ora separadas ora unidas e, em outros momentos, sendo misturadas numa
formação híbrida da narrativa.
Podemos destacar as reportagens que são produzidas pelo JN, estas são preparadas
com recursos analógicos, dentro das características desse modelo de jornalismo com clareza
50
na linearidade, unidirecionalidade, espaço limitado, assincronia temporal, ou seja, expedientes
característicos desse meio. Ao buscarmos a página do JN do site da TV Globo já temos aí
uma caracterização de discursividade analógica circulando digitalmente. No entanto, a
circulação do analógico no digital produz um efeito de sentido diferente, é nesse momento
que podemos perceber que os expedientes narrativos analógicos acabam sendo modificados.
Quando encontramos juntamente com a reportagem, links para mais informações ou acesso a
vídeos que complementarão a informação, encontramos recursos digitais que modificam
aqueles anteriormente analógicos. Isso indica que as narrativas analógica e digital não estão
mais separadas dentro do telejornalismo e webjornalismo, uma vez que as duas estruturas
muitas vezes se intercalam.
O telejornal possui em sua página web uma seção de “fale com a gente”, além das suas
páginas em sites de relacionamento, que servem para ‘curtir’, ‘seguir’, manifestando assim a
interatividade com o público. No entanto, essa interatividade ainda não é comentada, nem
noticiada na edição do dia seguinte, limitando a interatividade. Por ter um tempo restrito de
edição, não é possível que haja a exploração da hipertextualidade. O telejornal ainda é um
produto acabado, uma edição fechada, ainda que haja entradas ao vivo, estas são programadas
e não podem exceder o tempo destinado a elas.
Na página do JN podemos observar que por meio de alguns sites de redes sociais a
interatividade se dá, embora ela só possa ser acompanhada em números e não seja
instantânea, é possível notar características marcantes da web, como podemos observar na
imagem abaixo:
51
Indicação de compartilhamentos
Indicação de curtidas
Figura 6: Reportagem JN em sua página web, com destaque para as marcas da TV digital em uma reportagem da TV analógica.
Fonte:<g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2012>
Sugestão de amigos leitores que estão nas redes sociais.
As reportagens produzidas para os telejornais são reproduzidas para os portais de
notícias das empresas de comunicação. No caso da Rede Globo são reproduzidas as
reportagens dos telejornais. A chegada do portal marca uma nova fase no Jornal Nacional. A
partir desse momento, ele passou cotidianamente a orientar a audiência a buscar ou
complementar informações na sua página na web. Pode-se entender que, nessa nova etapa, o
telejornal de maior audiência no País passou a dividir a missão de informar com um
cibermeio. Para estimular a participação do telespectador no mundo digital, algumas vezes os
âncoras anunciam: “Mais informações sobre o assunto você encontra na nossa página na
Internet.”
Os conteúdos dos telejornais podem ser acessados isoladamente ou na edição completa
do telejornal. Em algumas situações de maior repercussão, embora a pesquisa interativa seja
estimulada, a participação espontânea dos telespectadores através de mensagens enviadas pela
internet acaba não acontecendo de modo dinâmico e síncrono, obtendo um acompanhamento
mais detalhado de determinados casos, com veiculação de reportagens diárias, até que o
assunto se esgote, assim o tempo de espera do telespectador acaba sendo muito maior.
A web constituiu-se como um território de expansão para o telejornalismo. Hoje, quando o
cidadão brasileiro busca informar-se pelo telejornal, ele pode fazer isto pelo computador pessoal
ou pelo telefone celular. Não é obrigado a se submeter à instantaneidade televisiva e a esperar
52
pelas notícias no horário fixado pela grade de programação das emissoras de televisão aberta,
modelo que se convencionou chamar em inglês como broadcast12. Pode-se considerar que, até
agora, nem mesmo a mudança para o patamar tecnológico da televisão digital impôs ao
telejornalismo brasileiro modificações tão significativas no que se refere à exclusividade sobre a
emissão de conteúdos telejornalísticos audiovisuais e à interação com o telespectador.
Quando se trata da narrativa digital, a marca da interatividade se faz muito mais
presente e não possui propriedade linear. Como discutimos no capítulo 2 deste trabalho,
podemos verificar que a estrutura do hipertexto, característico no webjornalismo, proporciona
a leitura multilinear e interativa, uma vez que se torna possível escolher a ordem e o caminho
que se dará a leitura da notícia. Desta maneira, podemos aqui, com o webjornalismo,
possibilitar aos alunos a participação da produção do discurso, por meio dos recursos
hipertextuais, uma vez que eles construirão o seu próprio percurso de leitura, construirão a
narrativa no ritmo que quiserem.
Se observarmos a figura abaixo, que representa a página da TV UOL, a opção de
escolha do leitor é imensa, logo ao lado da tela que veicula a notícia, há inúmeras opções de
outras reportagens que seguem as mesmas características, além de um campo que dá a opção
de escolha de temas totalmente diferentes. O leitor tem a opção de continuar assistindo aquela
matéria, ele pode também ler os comentários enquanto ouve a reportagem, pode optar por
escolher outro tema totalmente diferente. Até mesmo no resumo que aparece logo abaixo do
vídeo, há links que levam a outras matérias.
Observando as figuras a seguir podemos notar os caminhos que podem levar o leitor a
tomar outro caminho diferente do inicial.
12
Diferente de narrowcast, a transmissão fechada, que chega à casa do telespectador por cabo coaxial, fibra ótica
ou, ainda, por miniantenas parabólicas, mediante o pagamento de uma mensalidade, o que caracteriza uma
audiência segmentada. Sistema que no Brasil é chamado de televisão por assinatura ou televisão a cabo. Regido
pela Lei 8.977\1995, da Cabodifusão, que também exige outorga do Congresso Nacional e sanção do presidente
da República.
53
Figura 7: Marcas da TV digital no webjornalismo Fonte:< http://tvuol.uol.com.br=dilma-e-vaiada-apos-gafe-sobrepessoas-com-deficiencia-04024E1B316EC0914326&currentPage=1> acessado em 12-03-2013.
Sugestão de vídeos de outras
Avaliação da reportagem
reportagens
Contato
por e-mail
Indicação
de compartilhamentos
Indicação de curtidas
Indicação de visitantes
Figura 8: Marcas da TV digital no webjornalismo TV UOL Fonte:< http://tvuol.uol.com.br=dilma-e-vaiada-apos-gafesobre-pessoas-com-deficiencia-04024E1B316EC0914326&currentPage=1> acessado em 12-03-2013.
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Como o espaço digital é ilimitado, as reportagens tendem a não ter um tempo padrão,
como as telerreportagens que são limitadas na casa dos dois minutos, por isso não há um
padrão, podendo haver reportagens rápidas e objetivas e outras bastante elaboradas. Porém
uma das características da narrativa digital, ainda que haja um espaço ilimitado, é que seja
54
produzida por meio de textos mais curtos, “[...] as matérias são tratadas de forma mais
objetiva e simples. O leitor de uma tela de computador se assustaria ao dar de cara de uma só
vez com uma grande massa de texto. Seria um convite a não ler mais”, como diz Moura
(2002, p. 49).
Embora estejamos tratando aqui de webjornalismo, ainda assim o caráter dinâmico da
web não pode se perder. A narrativa digital está atrelada ao tempo real e a sua efemeridade.
Tem por objetivo primeiro divulgar a notícia rapidamente, tornando seu site o mais fiel à
realidade instantânea, “[...] o internauta é apressado porque está em uma realidade
onipresente, na qual tudo pode mudar a todo segundo. Aquele que, durante alguns minutos,
conquistar a atenção do internauta em seu site pode ser considerado um vitorioso na rede.”
(MOURA, 2002, p. 52)
Ramón Salaverría e outros autores já prognosticaram as dificuldades a serem
encontradas pelos jornalistas ao migrarem para o ambiente da rede. Os cuidados no momento
da redação, incluindo a atenção contínua, o dinamismo, a concisão e a clareza na exposição da
notícia, são fatores teóricos e empíricos.
Deste modo podemos perceber que os expedientes do telejornalismo analógico se
fazem presentes no webjornalismo, bem como as características do jornalismo digital,
webjornalismo, também se mesclam aos recursos do telejornalismo analógico.
4.3 Análise da recepção das características narrativas presentes no JN e na TV UOL por
alunos do 1º E.M.
Como se dá a recepção das características narrativas presentes no JN e na TV UOL
por alunos do 1º ano do Ensino Médio?
4.3.1 Noção de espaço (lugares reportados na matéria)
Álvarez (1988, p.51), afirma que a “noção de espaço vincula-se essencialmente ao
visual, por mais que exista também uma espacialidade criada pela codificação de distâncias
sonoras.” Quando Cebrián (1983, p. 67) falava da linguagem televisiva como “um texto
irreversível, o que o diferencia de todas as linguagens fixas: escritura, pintura, fotografia etc”,
não imaginava a chegada da era webjornalística. Porém, ainda de acordo com Cebrián (1983),
podemos também fazer uma adaptação e dizer que há nesses meios uma dimensão espacial
que os diferenciam, por exemplo, da linguagem do rádio, sendo um espaço limitado
expressivamente pelo tempo.
55
Trabalhamos com cinco alunos nesta etapa que foram levados a sala de multimídia
onde assistiram a reportagem previamente selecionada. Após assistirem pela primeira vez, os
alunos discutiram alguns aspectos da reportagem. Assistiram ao vídeo pela segunda vez. Em
seguida, receberam o questionário que visava destacar aspectos da reportagem relacionados à
noção de espaço.
Para analisarmos posteriormente este aspecto da reportagem, foram propostas as
seguintes questões:

Onde acontece a reportagem?

Como aparece essa informação?

Você consegue perceber detalhes do lugar? Quais?

É um espaço fechado ou aberto? Como você sabe disso?

É um espaço urbano ou rural? Como é possível afirmar isso?
As matérias que foram abordadas este aspecto de espaço são as seguintes:
Tabela 1 - Reportagens do Jornal Nacional.
Título
da Marcação de consultas no Into será informatizada, diz ministro após filas.
reportagem 1:
Resumo13
da Atendentes vão ligar para quem já passou por uma triagem no Instituto
reportagem 1:
Nacional de Traumatologia e Ortopedia, no Rio. Outra medida prometida é
a realização de cirurgias aos sábados.
O Jornal Nacional mostrou, nesta semana, filas de centenas de pacientes que
precisam marcar consulta ou cirurgia no Instituto
Nacional de
Traumatologia e Ortopedia, o Into, no Rio de Janeiro.
Na segunda-feira (3), mais de mil esperavam por uma senha na fila
gigantesca para serem atendidos no ano que vem. Um número de telefone
foi fornecido, mas muita gente disse que a linha ficou ocupada o tempo
todo.
Nesta quinta-feira (6), o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, anunciou
que, a partir de agora, o sistema de marcação será informatizado e que
atendentes vão ligar para quem já passou por uma triagem no Into. Outra
medida prometida é a realização de cirurgias aos sábados, começando
13
Resumo escrito, das matérias exibidas durante a programação do JN.
56
depois de amanhã.
Título
da Música clássica é usada para melhorar qualidade de vinhos na Itália.
reportagem 2:
Resumo
da A previsão do tempo é sempre acompanhada com atenção pelos
reportagem 2:
agricultores. As condições climáticas são fundamentais para eles, assim
como a qualidade do solo. Mas os correspondentes Ilze Scamparini e
Maurizio Della Costanza mostram que um produtor da Itália descobriu mais
um fator importante no cultivo de uvas.
O que parecia uma intuição romântica tornou-se um método vitorioso. Em
Frassina, nas colinas da região da Toscana, onde se produz um dos vinhos
mais famosos do mundo, o Brunello di Montalcino, a plantação de uvas
reage muito bem ao repertório clássico de Mozart. O homem que sonorizou
o campo, Giancarlo Cignozzi, deixou a profissão de advogado há 12 anos.
“Foi depois de uma viagem à Amazônia, quando um pajé disse que a minha
vida seria feita de vinho e música”, ele conta.
Os vinhedos crescem com a música de Mozart durante 24 horas por dia. As
composições escolhidas usam sempre os mesmos instrumentos: cordas e
piano. As óperas e as grandes orquestras foram excluídas para não estressar
as plantas. A experiência, que começou com 12 caixas acústicas, hoje tem
80 e já apresenta os primeiros resultados científicos.
Um engenheiro agrônomo afirma que a música ajuda a afastar insetos ou
parasitas. O professor Stefano Mancuso, pesquisador da inteligência das
plantas na Universidade de Florença, explica que a vibração da música
estimula a produção de polifenóis, substâncias responsáveis pelo gosto
agradável, e que dão ao vinho aquela característica saudável se consumido
em pequenas doses.
O produtor de 50 mil garrafas por ano acredita que o cultivo musical pode
ser uma forma sustentável para o futuro, e que não faz diferença para os
cachos ouvir uma sinfonia de Mozart ou um sambinha, desde que seja
suave.
Tabela 2 - Reportagens da TV UOL.
Título
da "TV Folha" mostra imagens inéditas do conflito em Gaza.
57
reportagem 1:
da Após oito dias de hostilidades que deixaram dezenas de mortos, Israel e o
Resumo
reportagem 1:
grupo palestino islâmico Hamas chegaram a um cessar-fogo na quarta-feira
passada.
O enviado especial da Folha a Gaza, Marcelo Ninio, esteve no território
palestino durante a ofensiva e faz relato sobre o que viu na região.
da Dilma é vaiada após gafe sobre pessoas com deficiência.
Título
reportagem 2:
da A presidente Dilma Rousseff defendeu nesta terça-feira que o país precisa
Resumo
reportagem 2:
se preparar para lidar com a diversidade entre a população, além de
oferecer oportunidades iguais para todos os cidadãos.
A afirmação foi feita durante a 3ª Conferência Nacional dos Direitos da
Pessoa com Deficiência, em Brasília, onde a presidente foi vaiada por
utilizar termo considerado preconceituoso.
Durante o discurso, Dilma usou o termo "portador de deficiência", o que
provocou reação do público. A presidente logo se desculpou e se dirigiu às
"pessoas com deficiência". "Portador não é muito humano, né? Pessoa é",
disse.
"Concordamos todos com a convenção da ONU quando diz que as
deficiências não devem ser limitadoras da qualidade de vida", disse Dilma
em discurso.
Em relação ao preconceito, disse que "estamos engajados em mudanças em
paradigmas na nossa sociedade em relação à pessoa com deficiência".
Ao trabalharmos tais questões nas reportagens obtivemos os resultados descritos na
tabela a baixo que indica as convergências e divergências de dados coletados e categorizados
pelos dois tipos de jornal, o telejornal e webjornal:
Tabela 3 – Análise das respostas dos alunos para o JN e TV UOL.
JN
Local
TV UOL
onde Nas reportagens do JN Nas
acontece
reportagem?
a os
alunos
reportagens
Análise
do Pudemos perceber que
tiveram webjornal da TV UOL em
ambas
bastante facilidade de também o local onde modalidades
o
as
local
58
identificar o local onde as
as
reportagens onde
acontece
reportagens aconteceram também reportagem
aconteceram.
a
é
foi identificado com identificado de forma
facilidade.
clara
e
sem
questionamentos.
é Alguns
Como
alunos Alguns
identificado o perceberam
local
que
alunos Foi possível
o perceberam
perceber
que que quando perguntados
da âncora anuncia o local durante a reportagem, sobre como é dada a
reportagem?
e
outros
já o repórter repete várias identificação do local da
identificaram que no vezes o nome do local, reportagem, os alunos,
rodapé
de
reportagem
informação
localização,
cada em outras situações, os nas reportagens do JN
vinha
a alunos
leram
no não se confundiram em
de rodapé do vídeo essa nenhum
informação.
Alguns devido
momento,
ao
papel
do
identificado o local da confundiram
a âncora. No entanto, nas
reportagem.
e reportagens da TV UOL,
pergunta
responderam “de que alguns deles se perderam
maneira a informação no
momento
da
era dada”, se era tensa, respostas.
surpreendente,
entre
outros.
Você consegue Os alunos conseguiram Foi
perceber
perceber
detalhes
do como
lugar? Quais?
típicas
possível
detalhes alunos,
reportados,
clima.
dois
veículos
perceber pudemos perceber que
características escombros,
dos
aos Nos
pessoas os alunos conseguiram
lugares feridas, dimensão do observar os detalhes dos
trânsito, local, se era grande ou lugares reportados, não
pequeno.
apresentando
dificuldade.
É um espaço
Os alunos deixaram Neste suporte também Nos dois suportes foi
fechado ou
bastante evidente em ficou bastante claro possível perceber que os
aberto?
suas repostas que foi que
Como você
facilmente
sabe disso? É
reconhecer se o espaço reportagens se davam reconhecer
os
possível perceberam
alunos alunos
se
não
as dificuldades
tiveram
de
espaços
59
um espaço
era aberto ou fechado, em ambientes abertos abertos
urbano ou
por meio de repostas ou fechados, urbanos urbanos ou rurais já que
rural? Como é
como “é possível ver o ou
possível
céu” ou “estão dentro mesmos
afirmar isso?
de um salão”, bem movimentação
rurais,
com
os a
ou
imagem
fechados,
reforça
argumentos: reconhecimento
o
da
de imagem.
como em relação ao carros, escombros de
urbano e rural, pelo prédios, ruas, o que
movimento de carros, caracterizam
ruas (características de ambiente
um
urbano
um ambiente urbano) e plantações,
colinas,
plantações, montanhas animais
(características de um caracterizando
ambiente rural.
e
soltos,
o
ambiente rural
Após observar a tabela acima, é possível afirmar que a noção de espaço é uma
característica narrativa que se perpetua no telejornalismo sendo transferida para o
webjornalismo. Os alunos identificaram facilmente nas duas modalidades, sendo, portanto
uma característica narrativa clara para os estudantes.
4.3.2 Noção de tempo (qual a noção de tempo envolvida)
A narrativa telejornalística e webjornalística têm uma linguagem organizada
fundamentalmente no tempo. Tais meios têm a fugacidade como uma grande característica.
Esse tempo linear, irreversível, mensurável e previsível está sendo
fragmentado na sociedade em rede, em um movimento de
extraordinária importância histórica. No entanto não estamos apenas
testemunhando uma relativização do tempo de acordo com os
contextos sociais (…). A transformação é mais profunda: é a mistura
de tempos para criar um universo eterno que não se expande sozinho,
mas que se mantém por si só, não cíclico, mas aleatório, não
recursivo, mas incursor: tempo intemporal, utilizando a tecnologia
para fugir dos contextos de sua existência e para apropriar, de maneira
seletiva, qualquer valor que cada contexto possa oferecer ao presente
eterno (CASTELLS, 1999, p. 459-460).
60
Castells (1999, p. 460) afirma ainda que “a libertação do capital em relação ao tempo
e a fuga da cultura ao relógio são decisivamente facilitadas pelas novas tecnologias da
informação e embutidas na estrutura da sociedade em rede”.
Trabalhamos com cinco alunos nesta etapa que foram levados à sala de multimídia
onde assistiram a reportagem previamente selecionada. Após assistirem pela primeira vez, os
alunos discutiram alguns aspectos da reportagem. Assistiram ao vídeo pela segunda vez. Em
seguida, receberam o questionário com questões visando destacar aspectos da reportagem
relacionados ao tempo.
Para a análise da noção de tempo nas reportagens, foram propostos os seguintes
questionamentos:

É possível saber quando aconteceu a reportagem?

Quanto tempo durou a reportagem?

Você acha que é uma reportagem curta ou longa? Por quê?

Sobre as características da reportagem de fato, ação ou documental:

Quem aparece mais: os entrevistados, as imagens, as informações ou o repórter?

As informações quem, quando, onde, como e por quê aparecem em que sequência?
As matérias que foram abordadas este aspecto de espaço são as seguintes:
Tabela 4 - Reportagens do Jornal Nacional.
Título
da Combate às drogas é próximo desafio em favelas retomadas no RJ.
reportagem 1:
Resumo
da Na região funcionava a maior cracolândia da cidade. Quase 200 foram
reportagem 1:
levados por assistentes sociais, mas não demorou para que antigos locais
usados pelos dependentes voltassem a ser ocupados.
A retomada de quatro favelas na Zona Norte do Rio de Janeiro, nesse
domingo (14), pelas forças de segurança, deu esperança a milhares de
moradores, mas há muitos desafios. Na região funcionava a maior
cracolândia da cidade.
De casa em casa, policiais avançam na busca por suspeitos, armas e drogas.
Mas o que mais chamou a atenção, nesta segunda-feira (15), foi uma área de
lazer no meio de uma rua. A piscina e a churrasqueira fotografadas pelo G1,
segundo investigadores, só podiam ser usadas pelos traficantes.
61
Enquanto eles se divertiam, nos arredores das favelas crescia um dos piores
retratos da condição humana. As comunidades do Jacarezinho e de
Manguinhos eram conhecidas por abrigar a maior cracolândia do Rio de
Janeiro.
Ainda durante a ocupação, os usuários da droga começaram a ser recolhidos
para abrigos da prefeitura, mas muitos preferiram fugir.
Quase 200 pessoas foram levadas por assistentes sociais até agora, mas
nesta segunda-feira (15) de manhã a equipe do Jornal Nacional flagrou um
grupo deixando uma das unidades.
Não demorou para que antigos locais usados pelos dependentes voltassem a
ser ocupados. Os usuários estavam debaixo de um viaduto da Avenida
Brasil, tentando se esconder atrás de tapumes de obras.
Em uma praça, que não fica muito longe da Favela de Manguinhos, a polícia
chegou para desmontar um acampamento usado por várias pessoas que
fumavam crack, pelo menos 60. Mas a ação da polícia não intimidou os
usuários da droga. Havia um grupo próximo ao local fumando de novo.
Enquanto os policiais recolhiam roupas velhas e pedaços de mobília,
homens, mulheres e até adolescentes preparavam e fumavam o crack no
meio da rua.
Um rapaz fumava e repassava para outros usuários. Foi só os policiais
saírem para eles voltarem para a praça.
Título
da Engenheiros produzem gasolina baseados em mistura de ar com água.
reportagem 2:
Resumo
da Aconteceu na Inglaterra. Ainda é só uma experiência, mas muito importante
reportagem 2:
nas pesquisas pra reduzir o aquecimento do planeta.
Um grupo de engenheiros britânicos conseguiu produzir gasolina de uma
forma absolutamente diferente. A equipe se baseou na mistura de ar com
água. Ainda é só uma experiência, mas muito importante nas pesquisas para
reduzir o aquecimento do planeta.
A chaminé funciona ao contrário: em vez de expelir gases poluentes, ela
suga da atmosfera dióxido de carbono, o principal ingrediente do novo
combustível. A fórmula também conta com outro produto natural e
abundante: a água. O resultado é uma mistura explosiva.
62
Até ontem o combustível que move o motorzinho da motoneta
simplesmente não existia: era apenas água e ar. Em 24 horas de
processamento dentro de uma pequena usina no interior da Inglaterra, o
hidrogênio extraído da água e o gás carbônico capturado do ar viraram
metanol, que por sua vez foi transformado em gasolina. A grande vantagem
é que os motores, como o da motoneta, são convencionais, não precisam ser
adaptados para funcionarem com o novo combustível.
O cientista e diretor da empresa que desenvolveu a fórmula explica que, por
meio de um processo conhecido como eletrólise, eles separam o oxigênio do
hidrogênio. Paralelamente, no pé da torre de captação, existe um minirreator
que separa o dióxido de carbono encontrado no ar que respiramos.
“Não fizemos nenhuma mágica”, diz o responsável pela produção de
combustível. “A tecnologia já era conhecida há muito tempo. Nós apenas
descobrimos como misturar os ingredientes na proporção certa.”
O resultado é impressionante. Os inventores admitem que em pequena
escala o processo ainda é caríssimo. Um litro de gasolina feito de água e ar,
por enquanto, custa R$ 20. Mas em larga escala, pode se tornar competitivo.
Vários investidores já se prontificaram a financiar a produção em massa. O
plano prevê o abastecimento de carros com gasolina feita de água e ar a
partir de 2015.
Tabela 5 - Reportagens da TV UOL.
Título
da Dia de balada multiplica lixo nas ruas de bairro boêmio paulistano.
reportagem 1:
Resumo
da O que era percepção geral do morador de ruas lotadas de bares e boates
reportagem 1:
agora está comprovado. Um único dia de balada pode juntar dez vezes o
volume de lixo de um dia útil.
Um levantamento feito em cinco ruas dos bairros de Vila Madalena e
Pinheiros a pedido da Folha para a Inova, empresa responsável pelo serviço
de varrição na região, mostra que 55% do lixo é produzido nos dias de
balada.
Dia de balada multiplica lixo nas ruas de bairros boêmios de SP
63
"O principal é copo, bituca de cigarro, guardanapo de papel, maço de
cigarro e garrafa long neck. Tem pouco alumínio, porque os catadores
recolhem as latinhas", explica Anrafael Vargas, diretor da Inova, empresa
que desde dezembro cuida da limpeza urbana na região noroeste.
A rua Wisard, na Vila Madalena, que abriga uma infinidade de bares
frequentados por jovens de classe média, é a campeã da sujeira na região.
da 'Fui esquecido', diz pivô do impeachment de Collor.
Título
reportagem 2:
Resumo
da Vinte anos depois de a Câmara aprovar a abertura do processo de
reportagem 2:
impeachment de Fernando Collor --o que selou a queda do então presidente
da República--, o potiguar Eriberto França reclama: "Fui esquecido. Minha
dignidade tem que ser resgatada. No meio político é 'estou bem' e o resto
que se dane".
Há um ano e meio desempregado, ele é desde 1992 o "motorista que
derrubou o presidente", mas faz questão de reafirmar logo de cara: "Eu
nunca fui motorista do presidente. Nunca dirigi para ele".
Eriberto, hoje com 47 anos, trabalhava como assessor de Ana Acioli,
secretária particular de Fernando Collor. Uma espécie de "faz-tudo". Dirigia
para ela e cuidava de tarefas financeiras ligadas ao ex-presidente e sua
família.
Pagava contas da Casa da Dinda, por exemplo. Tudo com dinheiro enviado
por Paulo César Farias (morto em 1996), tesoureiro da campanha
presidencial de Collor e acusado de liderar um esquema de corrupção no
Planalto.
Foi Eriberto quem comprou o famoso Fiat Elba, carro usado por Rosane
Collor que virou prova do esquema de PC Farias. "Eu comprei, né, com o
cheque", recorda.
Os alunos tiveram a oportunidade de responder tais questionamentos para as
reportagens descritas acima nas duas tabelas e com isso pudemos construir a tabela seguinte
que indica possíveis convergências e divergências nas respostas coletadas, que foram
categorizadas em telejornal e webjornal:
64
Tabela 6 - Análise das respostas dos alunos para o JN e TV UOL.
JN
Sobre
o
TV UOL
tempo Em relação ao tempo Nesse
cronológico não
cronológico:
possível
É possível saber saber
aos
Análise
veículo
os De acordo com as
foi alunos também não respostas dadas pelos
alunos conseguiram
quando
alunos,
pudemos
a perceber quando a analisar
quando aconteceu reportagem aconteceu, reportagem
possível
que
foi
para
eles
reportagem? porém em relação ao aconteceu, mas de perceber
a
tempo tempo de duração da maneira
Quanto
durou
a reportagem
reportagem?
E possível
foi perceberam que o prende
a
você acha que é perceberem
ainda
se
ao
tempo
o
que
um é mais longo do que caracteriza
suas
intuitivo. no JN. Acharam as reportagens
curta ou longa? Acharam
Por quê?
o
eles tempo de reportagem cronológico,
de
reportagem modo
uma
intuitiva, telejornal
que
as reportagens
mais mais
como
curtas
e
reportagens curtas e longas e detalhadas.
objetivas. O webjornal
objetivas.
como não tem essa
preocupação com o
tempo,
se
permite
fazer reportagens mais
longas e detalhadas
como foi observado
pelos alunos.
as Nas
Sobre
reportagens
do Segundo as respostas Aqui
características da telejornal, de acordo dos
alunos,
reportagem
de com as respostas dos reportagens
fato,
ou alunos,
ação
durante
documental, quem reportagens
aparece mais:
as webjornal,
e
entrevistados
imagens,
As sequência
sobre
possível
que
a
diferença
assim entre os dois veículos
a
se se intercalam com as notícia.
entrevistado.
as ora um, ora outro. As Porém, em relação à
informações ou o repostas
repórter?
do principal
sequência
os presença de imagens apresentação
Os entrevistados, intercalam, aparecendo do
as
nas constatar
as como no telejornal a é
imagens
é
a sequência
das
das informações,
as
de
da
65
informações
quem,
informações
respostas nos levam
quando, confirmam o formato a perceber que não
onde, como e por da pirâmide invertida, há uma ordem exata
quê aparecem em sendo que apenas as de informações.
que sequência?
informações quando e
onde
variam
de
posição em relação à
sequência
das
perguntas.
Nesse aspecto, observam-se algumas diferenças entre o JN e a TV UOL. Neste
momento é que se torna interessante o olhar atento do aluno para tais detalhes. Os sujeitos
percebem claramente a diferença de produção entre uma reportagem e outra. Há aqueles que
preferem a objetividade resumida já comum no dia a dia de todo brasileiro, no entanto, com a
apresentação de outros modelos de reportagens levamos esses alunos a assumirem um papel
crítico e perceberem que pode haver mais por traz daquele resumo.
4.3.3 Noção de sujeito (quais são os personagens centrais da reportagem)
A narração dentro da reportagem deve realçar a ação das reportagens, fazendo com
que o telespectador ou webespectador se familiarize e queira saber um pouco mais sobre esse
sujeito.
O repórter pode produzir o perfil da personagem de duas maneiras, uma delas é
deixando que se apresente sozinho e a outra é quando o repórter passa para o receptor a
experiência que tem com o personagem, manifestando sua opinião.
Para conhecer melhor os protagonistas é preciso saber bastante sobre eles para
compreendê-los e os apresentar, mas não em demasia para não transformar a reportagem num
retrato.
Para avaliarmos este aspecto, trabalhamos o questionário com cinco alunos que foram
levados a sala de multimídia onde assistiram a reportagem previamente selecionada. Após
assistirem pela primeira vez, os alunos discutiram alguns aspectos da reportagem. Assistiram
ao vídeo pela segunda vez. Em seguida, receberam o questionário com questões visando
destacar aspectos da reportagem relacionados ao personagem.
66
Na busca de conhecer o que os alunos entendem da noção de personagem, foram
propostas as perguntas abaixo:

Quem é a personagem principal? Qual a sua profissão?

Como está vestida?

Como é fisicamente?

Onde está?

Parece feliz? Você sabe dizer por quê?

Quem apresenta a personagem?

Como ela é apresentada?

Quem aparece falando ao celular? Você acha essa imagem importante?
As matérias que foram abordadas este aspecto de espaço são as seguintes:
Tabela 7 - Reportagens do JN.
Título
da Nobel de Economia vai para dois americanos.
reportagem 1:
Resumo
da Eles se debruçaram sobre um problema do mundo real: como combinar de
reportagem 1: maneira justa e eficiente recursos limitados em um mercado diferente do
tradicional, que não envolve preço.
O prêmio Nobel de Economia deste ano vai para dois americanos. Eles
fizeram pesquisas diferentes que se complementam. Alvin Roth, professor
da Universidade de Harvard, e Lloyd Shapley, da Universidade da
Califórnia em Los Angeles (Ucla), se debruçaram sobre um problema do
mundo real: como combinar de maneira justa e eficiente recursos limitados
em um mercado diferente do tradicional, que não envolve preço.
As teorias têm uso prático. Nos Estados Unidos, os modelos desenvolvidos
pelos economistas são usados em softwares que direcionam a doação de rins
para pacientes, facilitando os transplantes realizados no país. Esses modelos
também são aplicados no processo de seleção de alunos para o segundo grau
das escolas de cidades como Nova York, Boston e Washington. O sistema
aumenta a chance de os estudantes conseguirem uma vaga na escola
desejada.
Alvin Roth ficou surpreso com a premiação. "Quando o telefone tocou,
67
havia uma pessoa com sotaque sueco do outro lado, dizendo que eu havia
ganhado e que aquilo não era uma pegadinha", contou ele.
Título
da JN visita presídio onde estão alguns dos bandidos mais perigosos do país.
reportagem 2:
Resumo
da Penitenciária Federal de Porto Velho não tem registro de maus-tratos, de
reportagem 2: doenças contagiosas ou de superlotação, mas é o pesadelo dos criminosos.
Suspeitos de mandar matar PMs de SP foram transferidos para lá.
Os repórteres do Jornal Nacional entraram na penitenciária federal onde
estão alguns dos bandidos mais perigosos do Brasil, em Rondônia. Rodrigo
Alvarez, Marcos Di Gênova e Wílson Araújo mostram por que o presídio
que não tem registro de maus-tratos, de doenças contagiosas ou de
superlotação é o pesadelo dos criminosos.
A penitenciária para onde foram os presos transferidos de São Paulo é um
lugar onde criminoso jamais é chamado pelo apelido. Não tem direito a
cigarro, não fala no celular e só tem as algemas abertas depois de se ajoelhar
na cela, com as mãos imóveis, para o lado de fora.
Você vai ler nessa reportagem, pela primeira vez, os procedimentos da
Penitenciária Federal de Porto Velho. A rotina de alguns dos homens mais
perigosos do Brasil.
Os internos passaram as últimas 22 horas trancados, e finalmente saem das
celas. Eles se cumprimentam. Estão livres. Duas horas de banho de sol. Só
que com chuva, não tem sol, mas isso não muda nada.
São no máximo 13 presos em cada uma das 16 alas. Ao todo, 208 vagas.
E tem gente nova na enfermaria. O nome é Roberto Soriano. O apelido,
Betinho Tiriça. Ele é acusado de 10 tipos de crimes, sem nenhuma
condenação. Segundo a polícia, o homem foi flagrado duas vezes dando
ordens para matar PMs em São Paulo.
A chegada nunca é tranquila.
“Dá insônia, dá crise de ansiedade. Se conseguir conversar com algum
interno e você perguntar: ‘o que você sente aqui?’ A maioria deles é assim,
tristeza”, detalha um enfermeiro.
Todo preso que entra no Sistema Penitenciário Federal passa por 20 dias de
isolamento. O interior da cela é praticamente só concreto, em Porto Velho.
68
Não tem tomada, não entra equipamento eletrônico, não entra televisão,
rádio, nada. Os presos não controlam a luz, não controlam também o
chuveiro. O único privilégio que dá para dizer que eles têm é uma entrada de
luz constante.
Na cela um, sem direito a banho de sol, Francisco Antônio Cesário da Silva
recebe livros. Fora da prisão ele é o Piauí, chefe do crime na favela
paulistana de Paraisópolis, com uma longa ficha que vai de assassinato a
falsificação de identidade. Além de uma condenação por sequestro.
Na prisão anterior, segundo a polícia, mandava ordens para matar policiais.
Agora não manda nada. Faz requerimentos oficiais.
Na tarde desta terça, a Justiça Federal decidiu prorrogar o isolamento de
Piauí e Tiriça por mais 10 dias. Com isso, eles perdem o direito à visita
íntima.
“Deveria ser acabado, proibida a visita íntima nas prisões federais. Se não
for o único ponto vulnerável no local hoje, é o principal disparado”, afirma o
diretor do presídio, Jones Ferreira Leite.
Os mais comportados têm quatro horas-extras por semana, em um programa
de reinserção social.
“Aquele que chega com problema de comportamento ou acusado de casos
graves, de atentados contra autoridades policiais, eles têm que observar a
recuperação dos demais. Então ele vai ver isso e vai querer também
participar”, fala o juiz corregedor Marcelo Lobão.
As videoconferências com parentes que moram longe também são só para os
bem comportados.
Um dos presos condenado por dois assassinatos, agora tem uma novidade
para a família. “O excelentíssimo juiz federal daqui assinou o meu retorno.
Fiquei sabendo hoje”, conta ele.
O retorno é para uma prisão comum em Alagoas. A mãe se ajoelha e
agradece a Deus.
O presídio federal não oferece riscos ao interno. É limpo, tem atividades
educacionais, mas o preso lá fica longe da família e dos comparsas e acaba
desarticulado.
Mesmo que seja para uma prisão superlotada e arriscada, a saída da
69
Penitenciária de Porto Velho é sempre comemorada.
Pagava contas da Casa da Dinda, por exemplo. Tudo com dinheiro enviado
por Paulo César Farias (morto em 1996), tesoureiro da campanha
presidencial de Collor e acusado de liderar um esquema de corrupção no
Planalto.
Foi Eriberto quem comprou o famoso Fiat Elba, carro usado por Rosane
Collor que virou prova do esquema de PC Farias. "Eu comprei, né, com o
cheque", recorda.
Tabela 8 - Reportagens da TV UOL.
Título
da Menina eternizada em foto de Salgado ainda é sem-terra.
reportagem 1:
Resumo
da Aos cinco anos de idade, Joceli Borges foi retratada pela famosa câmera
reportagem 1:
de Sebastião Salgado ao lado dos pais, que peregrinavam pelo interior do
Paraná em busca de um lote de terra.
Aquele rosto sujo de olhar provocativo virou capa de livro e ganhou
espaço na mídia, em museus e em galerias do Brasil e do exterior.
Passados 16 anos, a jovem de 21 anos continua uma trabalhadora rural
sem-terra.
Título
da Ex-usuária de crack diz encontrar no filho razão para recomeçar.
reportagem 2:
Resumo
da Em janeiro deste ano, a reportagem da Folha acompanhou a busca de
reportagem 2:
Teresa Beatriz Viega, 68, faxineira, analfabeta, por sua nora, Desirée
Mendes Pinto, 34.
Usuária de crack, Desirée estava no quarto mês de gestação.
Dias depois, ela foi presa pela Polícia Militar e condenada a seis anos de
prisão por tráfico de drogas.
Menos de uma semana após a reportagem encontrá-la na penitenciária,
Desirée voltou para casa. Um habeas corpus garantiu sua liberdade
enquanto recorre da condenação.
"Onde achei que era o fim, foi o recomeço de tudo", diz Desirée com o
filho nos braços.
70
Tabela 9 - Análise da noção de personagem pelos alunos tanto para reportagens do JN quanto para a TV UOL.
JN
Quem
é
TV UOL
a Em
todas
Análise
as Os alunos conseguiram Em ambos os veículos foi
personagem
reportagens
os observar com facilidade possível perceber que os
principal?
alunos
o nome do personagem personagens
conseguiram
principal
das
da reportagens
foram
identificar o nome reportagem.
apresentados
do
bastante clareza.
personagem
principal
com
da
reportagem.
Qual a sua
Por
essa Todos
profissão?
informação
os
alunos Percebe-se aqui que pela
ser conseguiram saber a duração
apenas
profissão
mencionada
da
das webreportagem ser maior,
pelo personagens reportadas tornou-se mais fácil para
repórter, durante a neste meio, ou pela os alunos saberem qual a
reportagem,
todos
os
nem informação
direta profissão
dos
alunos (informação na tela) ou personagens.
conseguiram saber indireta
qual a profissão (mencionada durante a
dos
personagens reportagem).
ou confundiram as
suas profissões.
Como está
Em
relação
à Os mesmos aspectos Neste
aspecto,
as
vestida? Como é roupa, os alunos que foram observados características físicas e a
fisicamente?
limitaram-se a dar no telejornal também vestimenta
respostas
simples puderam
como:
calça, observados
camisa,
etc.
ser personagens
observadas
nas pelos alunos foram iguais
vestido, respostas que os alunos nos dois suportes.
Sobre
aspectos
dos
os deram
sobre
físicos reportagens
restringiram-se
a webjornal.
dizer forte, fraco,
gordo, magro.
as
do
71
Onde está?
As
reportagens Os alunos conseguem As reportagens do JN
Parece feliz?
permitem
Você sabe dizer
alunos perceberem como se sentem os perceberem a reação dos
por quê?
se os personagens personagens e qual é o personagens
estão
aos saber com facilidade permitem
felizes
ou motivo.
aos
alunos
principalmente por meio
não e qual é o
de recursos narrativos e
motivo,
de
imagéticos. No caso da
maneira
bastante
TV UOL, o que mais
clara.
facilita a percepção é a
imagem unida ao som. O
tom dramático da música
de fundo ou o tom de voz
do
repórter
prepara o
aluno para a imagem que
vai receber.
Quem apresenta Os
alunos Os alunos conseguem Neste
a personagem?
respondem que o perceber
Como ela é
repórter é aquele sempre a reportagem é das
apresentada? O
que
que mais chama
reportagem no JN. repórter.
Há
atenção na
Em geral o que casos
em
personagem?
chama a atenção personagens
apresenta
que
caso,
podemos
nem averiguar que a mudança
a apresentada
características
de
pelo apresentação
da
alguns reportagem
do
que telejornalismo
tende
diferenciar-se
a
no
são a idade das secundários introduzem webjornalismo, que tem
personagens e suas a reportagem e depois um maior espaço para
histórias de vida.
os
personagens apresentar os personagens
principais assumem a e
narração,
sem
desenvolver
a narração
com
aparição da figura do interferências.
repórter. O que chama
a atenção também são a
idade e as histórias de
vida.
uma
menos
72
Em relação à noção de personagem os alunos recebem de maneira variada as
características narrativas dos dois meios avaliados. É possível perceber que pelo fato das
reportagens do webjornal serem mais longas, ou serem produzidas sem uma preocupação
grande com o tempo de duração, facilita a observação de maiores relacionados ao
personagem.
4.3.4 Noção de imagem (qual é o papel da imagem)
No telejornalismo e no webjornalismo a importância da imagem é bastante
considerável. Para Rezende (2000) a importância da imagem na organização da notícia é tão
grande que, para muitos, o que é mostrado na tela é o que acontece na vida real, é de fato a
realidade. No entanto, sabemos que para transformar os acontecimentos em notícias, os
editores acabam ‘tratando’ as imagens gravadas pelos repórteres cinematográficos,
construindo assim, um sentido para a notícia. Tratar neste contexto, significa dar uma forma
diferente às imagens para atingir um objetivo de eficiência da narratividade jornalística, seja
na TV ou na web.
Cinco alunos foram levados a sala de multimídia onde assistiram a reportagem
previamente selecionada. Após assistirem pela primeira vez, os alunos discutiram alguns
aspectos da reportagem. Assistiram ao vídeo pela segunda vez. Em seguida, receberam o
questionário com questões visando destacar aspectos da reportagem relacionados à imagem.
Para trabalharmos o aspecto de imagem, propomos que os alunos respondessem as
seguintes perguntas, a partir dos vídeos assistidos:

As imagens trazem informações além daquelas que os textos trazem?

Qual a imagem mais importante da reportagem? Por quê?

Aparecem pessoas jovens na reportagem? Por quê?

Como as pessoas estão vestidas?

O lugar é bem iluminado? Por quê?

Você acha que há alguma imagem sem função na reportagem assistida? Qual (quais)?

É possível saber do que se trata a reportagem sem o som? Por quê?
As reportagens trabalhadas com os estudantes foram as seguintes:
Tabela 10 - Reportagens do JN.
Título
da Exposição em São Paulo exibe relíquias do Vaticano.
73
reportagem 1:
Resumo
da Na exposição estão réplicas de esculturas, roupas e pinturas que raramente
reportagem 1:
deixam o Vaticano.
Em São Paulo, uma exposição mostra algumas relíquias do Vaticano que
quase nunca saem da Itália.
Quem diria: para pintar a imagem mais famosa da criação do mundo,
Michelangelo ficou meses deitado de barriga para cima. O cenário tenta
recriar o que foi usado pelo artista para pintar o teto da Capela Sistina.
“E pensar que até a roupa dele se desfez enquanto ele estava lá pintando”,
reflete a professora Vanda Lúcia do Carmo.
Na exposição estão réplicas de esculturas, roupas e pinturas que raramente
deixam o Vaticano. Do tamanho de uma moeda, um relicário guarda
fragmentos de ossos de vários santos da Igreja Católica. Há uma sala inteira
dedicada ao papa João Paulo II. Até um poema escrito por ele, que foi ator
antes de virar padre.
“Ele esteve no Brasil três vezes, e tudo isso marcou. Nós criamos uma
relação de muito carinho com ele”, lembra o cônego Antonio Pereira,
vigário episcopal.
Em 2002, três anos antes de morrer, o papa João Paulo II imortalizou a
própria mão em uma peça. O artista plástico sugeriu que ele usasse uma
luva, mas o papa usou uma frase que ficou bastante conhecida: “Sou velho,
mas ainda sou capaz de lavar as próprias mãos.”
“Depois de uma hora de muita discussão, aí fizeram o molde com a mão
dele sem luvas, sem nenhum tipo de proteção”, conta a diretora da
exposição, Stephanie Myorkis.
As pessoas se emocionam como se estivessem tocando mesmo a mão de
João Paulo. Fazem silêncio, rezam e pedem.
“Pedi saúde, paz para todo mundo”, diz uma mulher.
Título
da Dependentes químicos encontram dificuldades em tratamento em SP.
reportagem 2:
Resumo
da Coordenador do Grupo de Pesquisas de Álcool e Drogas da USP diz que, no
reportagem 2:
mundo todo, os tratamentos mais eficientes contra o uso de drogas começam
com a internação.
74
Um levantamento feito em São Paulo mostrou a dificuldade no tratamento
da dependência de drogas. Quem necessita de internação não consegue
encontrar vaga em clínicas de saúde pública.
Na hora da chuva, eles se escondem sob a marquise da Sala São Paulo, um
importante palco de espetáculos. Alguns metros adiante, um grupo fuma
crack. Numa outra rua perto, a quantidade de dependentes é ainda maior.
Um pouco mais espalhada, reproduzida em outros bairros, a velha
cracolândia de São Paulo resiste. Essa realidade, traduzida em números
divulgados pela Secretaria Municipal da Saúde mostra um esforço que
parece grande para resultados pequenos.
Segundo a secretaria, nos últimos três anos e três meses, agentes de saúde
fizeram cerca de 250 mil abordagens, muitas vezes com o mesmo usuário;
5% das conversas acabaram em encaminhamento para cuidados médicos.
Entre os números e o que se vê nas ruas, existe também um drama ainda
sem registro nas estatísticas. São os dependentes e suas famílias que
procuram e não encontram lugar para internação. Quantos são eles? Por que,
apesar de tantos programas de combate ao uso de drogas, ainda é tão difícil
encontrar tratamento eficaz?
Uma mãe procura respostas: “Ele queria ser internado e lá, infelizmente não
deram essa chance para ele. Aí, eu me senti incapaz. Eu me senti de mãos e
pés atados. Eu não sabia o que fazer”.
Depois de muita conversa, quando ele finalmente procurou ajuda, a mãe viu
o serviço público de saúde liquidar a esperança de deixar o filho longe da
cocaína e do LSD.
Outro homem usa drogas desde criança. Já passou por vários serviços, mas
não consegue a internação, que seria a sua grande chance de se livrar da
dependência química. “Eu necessito de verdade de uma casa de recuperação,
em que eu fique o tempo necessário para que eu me recupere de verdade”,
diz o dependente.
O coordenador do Grupo de Pesquisas de Álcool e Drogas da Universidade
de São Paulo diz que, no mundo todo, os tratamentos mais eficientes contra
o uso de drogas começam com a internação. “Não adianta querer só
conversar com o paciente. Não adianta querer acolher de uma forma mais
75
maternal. Ele precisa de cuidados médicos intensivos, agudos, emergenciais,
porque muitos pacientes precisam de uma internação como a fase número 1,
para eles poderem deixar as drogas”, afirma Arthur Guerra de Andrade,
psiquiatra da USP.
Na capital paulista, o tratamento na rede pública com internação para
usuários de droga é oferecido há quatro anos. Segundo a Secretaria
Municipal de Saúde, há 374 vagas e eventualmente outros 1003 leitos de
alas psiquiátricas podem ser ocupados.
Tabela 11 - Reportagens retiradas da TV UOL.
Título
da Agricultores terão que deixar suas terras devido ao Rodoanel.
reportagem 1:
Resumo
da Agricultores portugueses isolados há três gerações na serra da Cantareira
reportagem 1:
terão de se mudar devido à obra do Rodoanel Norte, com a qual o governo
estadual pretende desafogar o trânsito da marginal Tietê.
Propriedade da família Alcântara Machado, a fazenda Santa Maria é a
morada e o sustento de cerca de 200 filhos e netos de portugueses.
A Dersa afirma que o cadastro das famílias começará ainda neste mês e será
concluído até o final do ano. Só quando a licitação da obra terminar, o que
deve coincidir com o fim do cadastramento, é que as desapropriações serão
iniciadas.
Os moradores da fazenda estão numa espécie de limbo indenizatório por não
se enquadrarem claramente em nenhuma das duas categorias possíveis:
desapropriação e reassentamento. Na primeira, o proprietário deve receber o
valor de mercado do imóvel. Na segunda, a família é indenizada pela casa
que construiu em ocupação irregular ou é reassentada em apartamento da
CDHU quitado. A Dersa não esclareceu qual delas será utilizada no caso
Santa Maria.
A Folha procurou o advogado Antônio Rudge de Alcântara Machado, 76.
Ele é um dos donos da Santa Maria e neto de José de Alcântara Machado de
Oliveira (1875-1941).
O advogado afirma que seu desejo é "tentar realocar" as famílias dentro da
fazenda. Ele guarda boas lembranças do lugar: quando criança, costumava
76
brincar com os filhos dos portugueses. "Tem senhores que me conheceram
de calça curta, me chamam de Toninho. Há laços afetivos".
da Fazer careta ajuda a prevenir rugas e adia uso do botox.
Título
reportagem 2:
Resumo
da Uma boa careta pode fazer mais do que divertir os outros. Exercitar os
reportagem 2:
músculos da face com regularidade ajuda a prevenir e atenuar rugas,
adiando o uso do botox e outros recursos estéticos.
Neste videocast, a fisioterapeuta Marilia Fazio, do Espaço Tanggüh, ensina
alguns exercícios para o rosto. Ela ministrará um workshop sobre o tema no
próximo dia 22.
Tabela 12 - Análise da noção de imagem pelos alunos tanto para reportagens do JN quanto para a TV UOL.
JN
As
TV UOL
imagens Alguns
alunos Todos
trazem
responderam
que
informações
imagens complementam imagens
Análise
os
alunos É possível perceber que
as responderam que as no suporte da web as
imagens chamam mais
além daquelas as informações que o complementam
que os textos texto
os atenção que na TV.
dá, levando a textos verbais.
informação além do que
trazem?
se ouve, mas também
pelo que é visto.
a Dos
Qual
imagem
alunos Os
alunos Nesta pergunta o que
mais participantes dois não conseguiram perceber diferenciou as respostas
importante da conseguiram responder que a imagem mais nos dois suportes foi
reportagem?
a pergunta em uma das importante é aquela principalmente
pelo
Por quê?
reportagens. Os outros que resume o assunto tempo de veiculação da
deram como resposta da reportagem. Todos reportagem e o foco
sempre a imagem que os
alunos dado às imagens. Nas
resumia a reportagem e participantes
reportagens do JN as
responderam
imagens têm um tempo
perceberam isso.
basicamente que é por
de
duração
na
tela
causa do assunto tratado
menor, enquanto na TV
na matéria
UOL as imagens ficam
77
em destaque por mais
tempo.
Aparecem
As
respostas
pessoas jovens aparecem
aqui As
respostas
variadas alunos
dos Nos dois suportes os
participantes alunos perceberam que
na
justamente porque as demonstram que de de
reportagem?
reportagens tratam de acordo com o público intenção que há por traz
Por quê?
temas
variados.
acordo
dos
a
É alvo da reportagem é da reportagem, ou seja,
possível perceber pelas o tipo de pessoa que qual
respostas
com
alunos aparece.
público
atingir,
quer
serão
os
que se o tema é voltado
personagens
para os jovens,
apresentados: crianças,
destacadas
são
pessoas
jovens,
jovens e se é voltado
idosos.
adultos
ou
para o idoso ou criança,
aparecem pessoas que
chamam atenção para
esse público
as Ao
Como
pessoas
observarem
a Neste
suporte
os Os
dois
estão vestimenta das pessoas alunos também foram oferecem
vestidas?
O entrevistadas
lugar é bem mesmo
ou
aos
que que as roupas são e
papel adequadas
vestimenta
iluminado?
exercem
Por quê?
secundário, os alunos ambientes reportados, representação
podem perceber que as bem
como
com
o que
confere
ambiente que elas estão. reportagem
E
assim
como0
as veracidade
roupas, a iluminação autenticidade.
também
adequada.
lhes
parece
que
aos reforçam o aspecto de
da
a verdade, o que é sempre
vestimentas das pessoas iluminação do espaço, esperado
condizem
alunos
até capazes de perceber recursos de iluminação
aquelas
um
suportes
a espectador
pelo
seja
mais web ou pela TV.
e
pela
78
Você acha que Os alunos responderam Todos
os
alunos Observando
as
alguma que todas as imagens responderam que as respostas dadas pelos
há
sem têm função dentro da imagens
imagem
na reportagem
que alunos,
é
possível
aparecem
nas perceber que a imagem
reportagem
reportagens
são exerce
assistida?
fundamentais.
função
sempre
função
uma
de
complementar o que o
Qual (quais)?
som narra.
É
possível Todos
os
alunos Neste suporte todos os Quando nos referimos
saber do que conseguiram saber do alunos
se
trata
reportagem
sem
o
Por quê?
a que
se
trata
apresentada
áudio.
A
à
a saber qual é o tema de constatamos
reportagem quando ela cada
som? foi
conseguiram somente
reportagem reportagens
sem apresentada,
porém apresentam
resposta em dois casos, alguns mais
as
do
JN
imagens
presente
tornam que para compreender também em seu texto
possível
deduzir
assunto
que
tratado.
que
objetivas,
unânime foi que as dos alunos afirmaram característica
imagens
imagem,
o o assunto tiveram que narrativo. No que diz
será recorrer à legenda que respeito às reportagens
algumas
das da TV UOL, o fato de
reportagens
alguns alunos terem que
apresentavam.
recorrer
às
legendas
para complementar as
informações dadas pelas
imagens nos leva a
pensar que, por serem
mais
extensas,
as
imagens não sejam tão
objetivas.
A recepção das imagens é uma das características narrativas mais importantes dentro
da reportagem televisiva e na web. Considerando tal importância podemos perceber que, por
meio das análises feitas até o momento, podemos reafirmar que a reportagem televisiva
recorre essencialmente à imagem. Na opinião de Jean-Jacques Jespers (1993), uma
79
reportagem pode facilmente sensibilizar o público, chamar a sua atenção para uma questão e
potencialmente mobilizá-lo. Contribui, também, para aumentar os seus conhecimentos, mas
através de um trabalho de elaboração mais complexo do argumento e da realização.
No telejornalismo e no webjornalismo a importância da imagem é bastante
considerável. Para Rezende (2000) a importância da imagem na organização da notícia é tão
grande que, para muitos, o que é mostrado na tela é o que acontece na vida real, é de fato a
realidade. No entanto, sabemos que para transformar os acontecimentos em notícias, os
editores acabam ‘tratando’ as imagens gravadas pelos repórteres cinematográficos,
construindo assim, um sentido para a notícia. Tratar neste contexto, significa dar uma forma
diferente às imagens para atingir um objetivo de eficiência da narratividade jornalística, seja
na TV ou na web.
4.3.5 Noção de apresentação (qual é o papel dos apresentadores e dos repórteres)
Os apresentadores de um telejornal desempenham papel essencial nas estratégias pelo
telejornalismo para estabelecer vínculos de relações de identidades e de pertença com seu
público. O seu papel é indiscutivelmente importante. É o profissional que abre a porta das
notícias para o público. No entanto, esse profissional deve apenas transmitir a notícia da
melhor maneira possível, tendo uma postura que não cause estranhamento e demonstre
sempre segurança ao telespectador.
A webTv, pode ser entendida em alguns momentos como a migração do tipo de
linguagem da TV, que mesclam recursos multimídia e criam linguagens próprias ao meio.
Neste suporte o papel do apresentador se diferencia, mesclando muitas vezes com o papel do
repórter.
Cinco alunos foram levados a sala de multimídia onde assistiram a reportagem
previamente selecionada. Após assistirem pela primeira vez, os alunos discutiram alguns
aspectos da reportagem. Assistiram ao vídeo pela segunda vez. Em seguida, receberam o
questionário com questões visando destacar aspectos da reportagem relacionados à
apresentação.
Questões aplicadas aos alunos:

Quem apresenta a reportagem?

Como é apresentada?

Há repórter?

Qual é a importância do apresentador?
80

Qual é a importância do repórter?

Quem é mais importante: o repórter ou o apresentador? Por quê?

O que é apresentar uma reportagem?

O que é fazer uma reportagem?

O apresentador opina sobre o assunto?

O repórter opina sobre o assunto?
As reportagens trabalhadas com os estudantes foram as seguintes:
Tabela 13 - Reportagens do JN.
Título
da Atrasos quase dobram custo da obra de transposição do Rio São Francisco.
reportagem 1:
Resumo
da Pela previsão inicial, transposição do Rio São Francisco já deveria estar
reportagem 1:
pronta, mas avançou apenas 43%. Custo seria de R$ 4,5 bilhões, mas há
dois anos o valor subiu para R$ 6,8 bilhões e agora está em R$ 8,2 bilhões.
Ao longo das últimas semanas, o Jornal Nacional tem mostrado os efeitos da
pior seca dos últimos 30 anos na região Nordeste. Ironicamente, isso
acontece em um ano em que deveria estar pronta uma obra gigantesca para
amenizar esse problema. Ela não só não terminou, como ainda teve o custo
praticamente dobrado.
A transposição do Rio São Francisco foi uma ideia defendida pelo então
ministro da Integração Nacional Ciro Gomes e acolhida pelo presidente
Lula, no primeiro mandato. A obra começou em 2007. Dois anos depois,
eles visitaram os canteiros, acompanhados da então ministra-chefe da Casa
Civil, Dilma Rousseff. A transposição livraria dos efeitos da seca cerca de
12 milhões de sertanejos. Levaria água do Rio São Francisco a quase 400
municípios de quatro estados. Pela previsão inicial, a obra já deveria estar
pronta, mas avançou apenas 43%, de acordo com o Ministério da Integração
Nacional.
Menos de um mês antes de deixar o cargo, o então presidente Lula falou
sobre o prazo de conclusão da obra. “Está previsto a gente inaugurar
definitivamente a obra até 2012, o que será a redenção da região mais
sofrida do nordeste brasileiro. E o povo do Nordeste vai poder decidir a
81
utilização dessa água", declarou Lula.
Operários se empenharam para retirar a mata. Outros tantos cavaram o
canal. A esperança se espalhou pelo sertão. A água escorreria por entre
paredes de concreto. Só que a obra parou e o serviço já feito vai precisar ser
novamente executado. No Lote 11, em Custódia, as placas de concreto estão
sendo refeitas, enquanto centenas de quilômetros de terra escavada esperam
pelo acabamento.
“Os gastos, evidentemente, vão crescendo, porque as obras vão sendo
refeitas, os projetos vão sendo refeitos, e tudo isso significa custos
adicionais”, explica Gil Castello Branco, secretário-geral do Contas Abertas.
Inicialmente, a obra custaria R$ 4,5 bilhões. Há dois anos, o valor subiu
para R$ 6,8 bilhões. Agora, está em R$ 8,2 bilhões.
Hoje, as obras de construção civil estão paradas em seis dos 14 lotes da
transposição. Em quatro deles, os contratos com o governo foram rompidos.
Os consórcios alegam que o valor da licitação é menor do que o custo real.
“A transposição passou de ser uma esperança, e hoje está sendo um grande
problema”, revela Marcelo Manuel dos Santos, da Comissão Pastoral da
Terra.
O Tribunal de Contas da União investiga os gastos.
“Irregularidade tem muitas, porque desde o início desse projeto, 2003 para
cá, ele vem se debatendo com dificuldades exatamente porque falta o
projeto, obra que se inicia sem projeto. Você sabe como começa, mas não
vai saber como termina”, avalia Raimundo Carreiro, ministro do TCU.
O TCU determinou a abertura de um processo para fiscalizar o que
aconteceu em cada trecho e punir os eventuais responsáveis pelas
irregularidades. O Ministério da Integração Nacional admite problemas de
gestão e está revisando os contratos com as construtoras.
“Existe problema de gestão no ministério, existe, claro que existe”, diz
Robson Botelho, diretor do departamento do Proj. Estrat. do Ministério da
Integração Nacional. “Passamos o ano de 2011 praticamente todo
negociando com as empresas a continuidade delas nas obras. Parte delas
ficou. Outras querem sair”.
O ministério afirma também que as construtoras que abandonaram os
82
trabalhos foram multadas em 2% do valor do contrato, e que elas ainda estão
obrigadas a entregar o serviço pronto sem ônus para os cofres públicos.
A ministra do Planejamento, Miriam Belchior, deu um novo prazo para a
conclusão da obra.
“A obra foi iniciada com um projeto básico, e durante a execução de uma
parte das atividades se desenvolveu o projeto executivo. Nesse momento, se
percebeu uma diferença entre o projeto natural e o projeto executivo, e
estamos fazendo todo o aditamento dos contratos dentro da lei, dos 25% que
a lei permite, mas que as pessoas não percam a confiança. Aquele pessoal
tem fé. A água vai chegar, sim, em 2015”, declarou a ministra.
Por meio da assessoria, o ex-presidente Lula declarou que não vai comentar
questões administrativas do atual governo.
Título
da Onda de violência em SP provoca saída do secretário de Segurança.
reportagem 2:
Resumo
da O anúncio foi feito depois de mais uma noite violenta na região
reportagem 2:
metropolitana da cidade.
A onda de violência em São Paulo nos últimos dias provocou a saída do
secretário estadual de Segurança. O anúncio foi feito depois de mais uma
noite violenta na região metropolitana da cidade.
Cinco homens foram presos em São José do Rio Preto, em uma barreira da
Operação Divisas, de combate à entrada de armas e drogas no estado de São
Paulo. Eles viajavam em uma caminhonete roubada. Quatro eram policiais
militares de Goiás, que voltavam do Paraguai com munição e comprimidos
proibidos no Brasil.
Em Vargem, na divisa com Minas Gerais, 17 quilos de pasta base de
cocaína foram apreendidos com um adolescente que estava em um ônibus.
Na região metropolitana de São Paulo, 12 pessoas morreram entre a noite
desta terça e a madrugada desta quarta. Para a polícia, dez desses casos têm
características de execução.
Perto das 21h, homens, mulheres e crianças viram quando dois bandidos
chegaram de moto a um bar no Butantã, Zona Oeste da capital paulista.
Segundo as testemunhas, eles não falaram nem desceram da moto, e
começaram a atirar. Três jovens ficaram feridos. José Roberto da Silva, de
83
20 anos, morreu. Ele trabalhava em uma fábrica de bijuterias.
O número de vítimas não foi maior porque quatro pessoas se esconderam
atrás de um carro que estava estacionado na frente do bar. Os cacos de vidro
das janelas continuam caídos no chão. O JN conversou com parentes e
amigos das vítimas que estavam lá na hora. Eles contaram detalhes do que
aconteceu, mas têm medo de gravar entrevista e se tornar alvo de outro
atentado.
Em Itaquaquecetuba e em Guarulhos, na Grande São Paulo, cinco homens
foram baleados e mortos também em bares.
“Mirou para atirar o que estava na frente”, relatou uma mulher.
Entre os alvos dos ataques desde esta terça estão dois policiais. O soldado
Ricardo dos Santos trocou tiros com dois homens em São Mateus, na Zona
Leste. O PM foi baleado na nuca e está em estado grave. Um suspeito foi
preso e o outro morreu.
Na manhã desta quarta, outro policial militar foi vítima de uma emboscada,
na
Zona
Leste.
Ele não se feriu. Os dois suspeitos foram baleados. Um deles morreu.
Tabela 14 - Reportagens da TV UOL.
Título
da Banqueiro mandava vender fundo sem avisar do risco.
reportagem 1:
Resumo
da O banqueiro Luis Octavio Indio da Costa, ex-dono do Banco Cruzeiro do
reportagem 1: Sul, orientava pessoalmente sua equipe de gerentes a "empurrar" aos clientes
um fundo de investimento de altíssimo risco e sem garantia como se fossem
produtos triviais, informa o repórter Toni Sciarreta na edição deste domingo
da Folha.
O "TV Folha" mostra no vídeo abaixo o áudio obtido com exclusividade de
uma dessas apresentações do ex-presidente do Cruzeiro do Sul em que ele
pedia aos funcionários que conseguissem a autorização dos clientes para
migrar aplicações em CDB (Certificados de Depósito Bancário), que têm
garantia de até R$ 70 mil do FGC (Fundo Garantidor de Créditos), para dois
FIP (Fundo de Investimento em Participações), que não têm garantia e hoje
estão quebrados.
84
Voltados a grandes investidores (fundos de pensão, bancos, seguradoras), os
FIPs aplicavam em títulos de dívidas de uma empresa de participações da
família Indio da Costa, que hoje não valem mais nada, e só poderiam ser
resgatados em 2015.
MALANDRAGEM
No áudio, Indio da Costa, que estava preso desde 22 de outubro e foi
liberado na sexta-feira após um habeas corpus concedido pela Justiça
Federal, explica aos funcionários que não é a primeira vez que fizera uma
"malandragem" dessa.
A "malandragem" aconteceu quando o banco mantinha clubes de
investimento --grupos reunidos para fazer aplicações conjuntas, como
fundos de investimento, o que é ilegal e foi motivo de processo na CVM
(Comissão de Valores Mobiliários).
OUTRO LADO
O advogado Roberto Podval, que defende Luis Octávio Indio da Costa, disse
que conhece o áudio e que, nas partes que ouviu, não localizou nenhuma
ilegalidade nas orientações e nas afirmações feitas pelo banqueiro.
Disse que quem aderiu a esses fundos assinou um contrato que alertava
sobre os riscos do investimento.
Podval afirmou que o Banco Cruzeiro do Sul cumpriu o compromisso de
permitir os resgates sempre que fossem pedidos por meio do mercado
secundário de cotas até a intervenção feita pelo Banco Central.
O advogado disse ainda que seu cliente tinha R$ 35 milhões nesses fundos e
que, como os demais cotistas, também perdeu dinheiro com essa aplicação.
Título
da Meninas indígenas trocam virgindade por doce no AM.
reportagem 2:
Resumo
da Na cidade que possui a maior população indígena do país, meninas
reportagem 2: indígenas são exploradas sexualmente e chegam a trocar sua virgindade por
doces, frutas e celulares.
São Gabriel da Cachoeira, na fronteira do Brasil com a Colômbia, possui 29
mil índios de 22 etnias.
Para a presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do
Adolescente, Irmã Justina Zanato, é muito difícil combater esse tipo de
85
exploração sexual, pois os abusadores são brancos, ricos e influentes na
região. "Ele têm o poder que grita mais alto, que é o dinheiro", lamenta.
Tabela 15 - Análise da noção de apresentação pelos alunos tanto para reportagens do JN quanto para a TV UOL.
JN
TV UOL
Análise
Quem
Os alunos responderam Os
apresenta a
que neste suporte quem responderam
reportagem?
apresenta a reportagem neste
Como é
são os apresentadores próprio repórter é que apresentação
apresentada?
do telejornal. Afirmam exerce a função de bastante diferentes nos
Há repórter?
ainda que no momento apresentar
da
apresentação
destacados
principais
alunos É
pontos
as
Ela
há
que
as
o características
de
são
a dois
suportes.
é Enquanto
o
JN
da maneira direta, sem o da notícia, por meio do
para
reportagens principais
apresentadas
observar
de perpetua a ‘abertura’
os apresentada
reportagem (lide) e em destaque
todas
que aqui,
suporte
são reportagem.
possível
os papel do apresentador,
pontos a TV UOL, leva o
um (lide).
aluno para dentro da
repórter.
notícia,
sem
avisos
prévios.
Qual é a
Os alunos responderam Na TV UOL os alunos Podemos perceber que,
importância do
que
apresentador?
apresentador
Qual é a
papel de anunciar a confundido
importância do
notícia
repórter?
apresentada, dando um As notícias não são desaparecer, e que o
no
breve
JN
o destacam que papel quando se trata do
tem
o do
que
repórter
com
o na modalidade web,
será papel do apresentador. esse
resumo
causando
e ‘anunciadas’ por um papel
uma apresentador
expectativa
no específico.
telespectador
é papel do apresentador,
e
papel tende
que
a
o
apresentador tem que é
É
o de fazer o anúncio da
o repórter que exerce a notícia, passa a ser
repórter é aquele que função de anunciar e desnecessário,
expõe a notícia, explica desenvolver
a tornando o leitor muito
e, em mostra possíveis reportagem.
mais independente em
soluções.
sua observação durante
Uma
das
86
respostas
é
bastante
o momento em que
interessante, o aluno
responde
que
assiste a reportagem.
o
apresentador é o lide do
jornal escrito.
O que é
Os alunos responderam Embora neste suporte Em relação a diferença
apresentar uma
que
reportagem? O
uma reportagem não é apresentador não seja apresentar
que é fazer uma
necessário saber sobre separada da figura do reportagem e o que é
reportagem?
ela, basta ter em mãos repórter,
para
apresentar a
presença
os
do entre
para
fazer
a
que
uma
dois
grupos
apresentação perceberam
uma não exige participação elaboração
que
de
reportagem, demanda- ativa na elaboração da reportagem
se tempo, investigação, reportagem.
averiguação dos fatos, para
entrevistas,
ou
seja,
fazer
a
uma
exige
Porém, muito
mais
uma participação
pesquisas; reportagem, o repórter repórter
o
é
alunos fazer uma reportagem,
um resumo e ler o que responderam também os
está escrito. No entanto, que
o
do
do
que
a
repórter precisa estar atento a apresentação.
precisa demonstrar que todos
os
detalhes,
está o mais próximo averiguando toda a
possível
dos
fatos veracidade
reportados.
informações
das
que
recebe.
O apresentador
No
JN,
os
alunos Os
opina sobre o
responderam
assunto? O
apresentadores
repórter opina
demonstram
sobre o
opinião no final da reportagem.
bem
familiarizada
assunto?
reportagem
por
isso
que
alunos Percebe-se
os responderam que o momento
repórter
não
neste
que
opina alunos têm a figura do
sua sobre o assunto da apresentador
e
o
os
do
JN
e
percebem
repórter, em algumas
quando estes opinam.
situações,
No
expressa
também sua opinião.
caso
reportagens
das
da
TV
UOL, como o repórter
87
exerce
o
papel
de
apresentador, os alunos
não
conseguem
perceber claramente se
este opina sobre o que
está
reportando
ou
consegue se distanciar
da notícia.
O webjornalismo transforma os apresentadores em mais um dos elementos à
disposição do internauta. Neste cenário, as características do telejornal perdem a
grandiosidade em meio à multimidialidade. O âncora perde o lugar central que a TV lhe
confere, recebendo agora, uma nova função, que é a de estar virtualmente à disposição do
internauta.
Não se trata mais do âncora que entra no ambiente doméstico do telespectador para
ordenar a exibição de conteúdos, mas de um apresentador do específico vídeo a que o
internauta escolhe assistir e quer acessar. Na tela do computador, os papéis se invertem. Se, na
televisão, âncoras e repórteres atuam sobre o público com o roteiro preestabelecido, na web
passam a ficar à mercê do interesse do internauta em seu roteiro de navegação. Não há mais
garantia de audiência assegurada, como na televisão.
4.3.6. Noção de desenvolvimento, desdobramento e ação
Nem sempre os temas, principalmente os factuais, podem ser previstos nas pautas de
um telejornal o de um webjornal e preparados com antecedência. É impossível prever um
atentado, crime, acidente. Assuntos factuais devem ser cobertos e noticiados no mesmo dia, às
vezes estas matérias tornam-se aquelas com maior destaque no dia.
Para elaborar, estruturar, desdobrar e desenvolver uma matéria, existem os produtores
e profissionais que passam o dia em função de saber as principais notícias. Essas informações
podem ser transformadas em notas simples, notas cobertas (off de fundo mais imagens) e/ou
matérias dos repórteres. Nesse caso, as matérias já pautadas com antecedência são
desmarcadas pelos produtores e assistentes de pauta, a mando da chefia de reportagem. Isso é
importante: não se deve deixar o entrevistado esperando em vão. Isso demonstra respeito com
as pessoas e a preservação das fontes.
88
Para que se possa perceber que se trata de uma reportagem de ação, podemos observar,
por exemplo, que a linguagem do repórter muitas vezes se torna quase poética. O repórter
passa a fazer parte da narrativa, correndo riscos, participando de rituais, comendo comidas
exóticas, entre outros. Dessa forma, a reportagem ganha maior realismo, com fatos
dramatizados.
Os cinco alunos foram levados a sala de multimídia onde assistiram a reportagem
previamente selecionada. Após assistirem pela primeira vez, os alunos discutiram alguns
aspectos da reportagem. Assistiram ao vídeo pela segunda vez. Em seguida, receberam o
questionário com questões visando destacar aspectos da reportagem relacionados ao
desenvolvimento, desdobramento e ação.
Nesta atividade optamos por unir em uma única observação aspectos relacionados à
noção de desenvolvimento, desdobramento e ação, nas quais foram trabalhados os seguintes
questionamentos:

Qual é a primeira informação que aparece na reportagem: quem, como, onde, quando
ou por quê?

Indique a ordem em que as informações anteriores aparecem.

Os verbos estão no presente?

A reportagem apresenta início, desenvolvimento e conclusão a respeito do tema
tratado?

O que aconteceu na reportagem?

Como aconteceu?

Quais foram as consequências das ações apresentadas na reportagem?

Qual é o assunto da reportagem?

Como ele é apresentado?

O que acontece na reportagem?

O repórter participa da reportagem? Ele aparece como personagem durante a
reportagem?
Para isso, foram selecionadas as seguintes reportagens:
Tabela 16 - Reportagens do Jornal Nacional.
Título
da Idosa recebe café com leite na veia e morre no Rio.
reportagem 1:
89
Resumo
da
reportagem 1:
Segundo a família, a idosa de 80 anos recebia soro e medicamentos por
uma veia no pescoço, e a alimentação por uma sonda no nariz.
No estado do Rio, a polícia investiga a suspeita de que a paciente de um
posto médico teria morrido depois de receber uma injeção de café com leite
na
veia.
A filha já se preparava para levar a mãe de volta para casa: “A minha mãe
estava bem, conversando, disse que estava com saudade dos netos.”
Dona Palmerina Pires Ribeiro estava internada há dez dias com uma
infecção renal, em um posto de atendimento médico em São João de Meriti,
na Baixada Fluminense. Ela teria alta esta semana. Mas, no domingo, a
idosa de 80 anos começou a passar mal. A filha Loreni Ribeiro disse que a
mãe teve convulsões logo depois de receber atendimento de uma estagiária.
“Eu falei: você está aplicando leite na veia dela, café com leite na veia dela,
tira isso daí”, conta.
Dona Palmerina morreu quatro horas depois. Segundo a família, a idosa
recebia soro e medicamentos por uma veia no pescoço, e a alimentação por
uma sonda no nariz.
“Quando a alimentação é feita inadvertidamente na veia, ela cai diretamente
no coração, e de lá vai para o pulmão, levando até a crise convulsiva e,
consequentemente, ao óbito”, explica o cirurgião-geral Armando Carreiro.
A Secretaria de Saúde de São João de Meriti abriu sindicância para
esclarecer o caso e afastou tanto a estagiária quanto as enfermeiras que
deveriam supervisionar o estágio. Segundo a família da paciente, na hora do
procedimento não havia profissional responsável por perto.
“O conselho federal não autoriza, não permite que nenhum estagiário possa
estar atuando sem a supervisão direta do profissional de enfermagem”,
reforça Antônio Marcos Gomes, do Conselho Federal de Enfermagem.
A secretaria não divulgou os nomes das estagiárias, nem das enfermeiras.
Alegou que o caso ainda está sendo investigado.
Título
da Bebê é assassinado por bandidos em fuga em São Paulo.
reportagem 2:
Resumo
da
reportagem 2:
Nesta sexta-feira (16), mais um preso suspeito de ordenar a morte de
90
policiais foi isolado em um presídio federal.
Uma criança de 1 ano e oito meses foi assassinada por bandidos em fuga na
Grande São Paulo. Nesta sexta-feira (16), mais um preso suspeito de ordenar
a morte de policiais foi isolado em um presídio federal.
O comboio saiu do presídio de Presidente Bernardes com o segundo chefe
de facção criminosa transferido nas últimas duas semanas. No aeroporto,
Roberto Soriano, o Tiriça, foi obrigado a tirar parte da roupa, e passou por
uma última revista. Ele entrou na lista de transferências porque, segundo a
polícia, mandou uma carta aos comparsas ordenando novas mortes de
policiais. Do interior de SP, o bandido encapuzado foi para um presídio
federal, em Porto Velho.
Em outra frente da ação, a Polícia Militar tenta sufocar o crime nas áreas de
maior atuação das quadrilhas. O policiamento foi reforçado em quatro
favelas de São Paulo e de Guarulhos. Só em Paraisópolis, foram 77 prisões.
Mas os ataques continuam. Em uma noite com cinco assassinatos, um
segurança foi executado no local de trabalho. Um motorista, perseguido e
morto, no salão de beleza. E mais um ônibus incendiado. Na porta de casa,
um policial civil só escapou porque acertou uma bala em um homem que já
chegou atirando.
Em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo, uma família foi atacada
pelo simples fato de atrapalhar o caminho de criminosos. Eles tinham saído
na noite desta quinta, de carro, para jantar. Por acaso, ficaram frente a frente
com os bandidos, que atiraram e acertaram o menino Pedro Henrique, de 1
ano e oito meses. O ataque foi em uma avenida de São Bernardo depois que
os bandidos atiraram em um adolescente na porta de casa.
“A arma parece que teria engasgado, e eles largaram essa vítima para trás
porque tinham muitas pessoas ali que vieram em socorro desse menor e
empreenderam fuga”, conta o delegado Kazuyoshi Kawamoto.
Na fuga, o carro dirigido pelo padrasto de Pedro Henrique atrapalhava o
91
caminho, e os criminosos ultrapassaram pela outra pista atirando. Um
disparo acertou a cabeça do menino. No velório, um parente contou que o
padrasto de Pedro Henrique confundiu os bandidos com amigos.
“Aí ele pensou que estava brincando com ele. Aí ele foi devagar, porque o
carro era muito rebaixado e não passava na lombada. Quando passaram a
terceira lombada, aí ele ultrapassou o carro e começaram a atirar”, relata.
O cartaz foi da festa de aniversário de Pedro Henrique. O enterro foi em um
cemitério em Diadema. No fim da tarde, em mais um sinal do clima tenso
em São Paulo, um capitão da PM matou um adolescente que tentava assaltálo no trânsito - com uma arma de brinquedo.
Título
da
reportagem 3:
Resumo
Saliva do carrapato é a mais nova aliada para o combate ao câncer.
da
reportagem 3:
A partir da glândula que produz a saliva, cientistas desenvolveram em
laboratório uma proteína que mata células cancerígenas. Se tratamento for
considerado seguro, testes em humanos serão liberados.
Pesquisadores do Instituto Butantan em São Paulo apresentaram um
ajudante no combate a alguns tipos de câncer, o carrapato.
Engordados no laboratório e colados na mesa. É assim que os carrapatos
produzem saliva para os pesquisadores. O bicho que se alimenta de sangue e
pode transmitir doenças graves é estudado no mundo inteiro porque a saliva
dele não deixa o sangue coagular.
No Instituto Butantan, os cientistas fizeram uma nova descoberta. A partir
da glândula que produz a saliva, eles desenvolveram em laboratório a
Amblyomin-X, uma proteína que mata células cancerígenas.
Os testes foram feitos em dois grupos de camundongos com melanoma, o
tipo mais grave de câncer de pele. Os que não foram tratados morreram em
um mês. No grupo que recebeu a proteína durante 42 dias, o melanoma
desapareceu.
92
Em outro teste, depois de 15 dias, os tumores se espalharam pelo pulmão do
animal que não recebeu o tratamento e praticamente não atingiram o pulmão
do que foi tratado.
A proteína só mata as células doentes.
“Quando nós fazemos tratamentos, ou regride a massa tumoral ou cura o
animal. Além disso, todo o resto do organismo normal se mantém
preservado e o animal fica saudável”, aponta a pesquisadora do Instituto
Butantan Ana Marisa Chudzinski.
Uma nova etapa da pesquisa vai começar agora. Por determinação da
Agência Nacional de Vigilância Sanitária, os pesquisadores vão fazer mais
uma rodada de testes em animais, seguindo padrões internacionais, para
avaliar, por exemplo, a dose ideal para o tratamento. Essa nova fase deve
durar um ano. Se o tratamento for considerado seguro, os testes em humanos
serão liberados.
Os pesquisadores estão otimistas porque testes de laboratório em células
humanas com tumores de mama, pele e pâncreas já deram bons resultados.
O bicho que surgiu há 60 milhões de anos pode dar um novo rumo à
indústria de medicamentos no Brasil.
“Seria a primeira vez que o Brasil passaria a desenvolver uma molécula
desde a sua descoberta até a produção industrial. Então acho que para o
Brasil é um marco, muda de patamar”, ressalta Chudzinski.
Tabela 17 - Reportagens da TV UOL.
Título
da Ruivos organizam 1º Encontro Nacional, em SP.
reportagem 1:
Resumo
da A cidade de São Paulo recebeu neste mês o primeiro Encontro Nacional de
reportagem 1:
Ruivos do país. Cerca de 50 pessoas, todas de cabelos vermelhos, se
encontraram ao longo de três dias para trocar experiências vividas por conta
de suas características físicas raras --apenas cerca de 2% da população
93
mundial é ruiva.
O grupo também quer ser reconhecido pelo Censo do IBGE (Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística). "Eles [IBGE] colocam negros,
brancos, pardos, amarelos e índios. A gente não está dentro dessa
classificação", diz Kristofer de Oliveira, organizador do encontro.
Título
da Populações ribeirinhas do rio Negro estão contaminadas, aponta estudo.
reportagem 2:
Resumo
da As populações ribeirinhas do rio Negro, no norte do Amazonas, estão
reportagem 2:
expostas à contaminação por mercúrio num nível superior ao tolerável à
saúde humana, aponta um novo estudo do Inpa (Instituto Nacional de
Pesquisas da Amazônia).
A contaminação ocorre por meio da ingestão prolongada de peixes
piscívoros, como tucunaré e piranha, informa a reportagem de Kátia Brasil.
Os sintomas são problemas neurológicos e perda da coordenação motora,
entre outros.
A pesquisa foi feita em 2011 com mechas de cabelo de 50 pessoas, de 14
comunidades diferentes, e apontou uma concentração de mercúrio no
organismo de 3,14 ppm a 58,35 ppm durante o ano.
A Organização Mundial da Saúde considera tolerável uma taxa de 50 ppm
para a população em geral e 10 ppm para mulheres grávidas. Segundo a
bióloga Graziela Balassa, 32, autora do estudo, a situação das mulheres em
idade reprodutiva é a mais preocupante: 85% delas apresentaram
concentrações de mercúrio superiores a 10 ppm.
Título
da
reportagem 3:
Resumo
Guaranis-caoivás vivem espremidos no Mato Grosso do Sul.
da O "TV Folha" foi conferir como vivem os índios da etnia guarani-caiová, na
reportagem 3:
região do cone sul de Mato Grosso do Sul, próximo à fronteira com o
Paraguai.
Guaranis-caiovás vivem em confinamento em MS
O repórter Daniel Carvalho e o repórter-fotográfico Eduardo Knapp
visitaram a tribo, que é a segunda maior população indígena do país,
segundo o IBGE, e vive espremida em reservas ou em acampamentos
improvisados em fazendas e às margens de rodovias.
94
Eles dizem querer voltar para o local de onde foram expulsos, seus tekohás,
terras sagradas onde afirmam que seus antepassados viveram e hoje estão
enterrados.
Mas a terra agora está nas mãos dos fazendeiros, que cultivam soja, cana e
gado em áreas adquiridas do governo desde o fim da Guerra do Paraguai
(1864-70).
Os índios relatam ataques e enfrentam disputas judiciais. Aqueles que não
resistem ao clima tenso ajudam a colocar o Estado no topo do ranking de
suicídios. Também há registro de homicídios em enfrentamentos
relacionados à luta pela terra.
Tabela 18 - Análise das noções de desenvolvimento, desdobramento e ação pelos alunos.
JN
Qual
é
a
TV UOL
primeira Para esta pergunta Neste
informação que aparece as
respostas
na reportagem: quem, dividiram
ordem
em
Indique
que
em responderam que os alunos perceberam
a
primeira que
a A ordem em geral informação
primeira
dada
em
uma reportagem é de
varia ‘quem’ se trata, sendo
ordem
quando, onde e sendo que quem que
por quê.
a
que informação
as foi, quem, como aparece é ‘quem’.
informações anteriores (ou como, quem), A
aparecem.
suporte É possível observar que
se todos os alunos em ambos os suportes
como, onde, quando ou ‘quem’ e como’.
por quê?
Análise
no
telejornal
a
sempre está em sequência: como, onde,
primeiro lugar, e quando e por quê se
as
outras mantêm,
informações
seguem
ordem
para
enquanto
tendência
a
do
uma webjornalismo é não ter
diversa uma
sequência
cada engessada. No entanto,
reportagem, sendo o
fechamento
das
que ‘por quê’ em reportagens se dá, nos
geral,
encerrado
aparece dois
suportes,
a explicando o motivo do
95
reportagem.
O
que
acontece
alunos Neste
apresenta reportagens
início, desenvolvimento uma
ver
aparece
de notícia,
o
diferenciar-se. Podemos
pirâmide também percebem causada pelos alunos.
a
participação Pela observação feita
como Em algumas das dorepórter durante pelos
os a
se
alunos,
a
reportagem, reportagem de ação é
dão porém
conta
nesse percebida por eles nos
da suporte, os alunos dois meios, no entanto,
participação
relatam
efetiva
que
do profissional
repórter,
o o telejornalismo
a uma
escrever
frases narrador,
‘ele
função
é ‘contador
‘parece história’.
tem
uma tendência maior à
parece ter mais dramaticidade,
chegando
louco’,
enquanto
Aqui os alunos afirmar pela estranheza
Ele invertida.
como
do
a formato tradicional da
a sequência
O telejornalismo
alunos
as
com telejornal continuam no
no fim.
personagem durante a reportagens
reportagem?
que
começo, meio e webjornalismo tende a
das ações apresentadas conhecida
repórter participa da como
é
reportagens
ponto clareza
foram as consequências sequência
reportagem?
os aqui
sequência. perceberam
do tema tratado? Quais podemos
reportagem?
todos
têm alunos
e conclusão a respeito Nesse
na
suporte, A análise que fazemos
A perceberam que as nem
reportagem?
reportagem
na Os
acontecimento.
chama
de atenção para o ‘correde corre’ diário, enquanto
de a web reportagem tende
a narração.
que ele quer viver
ali’.
No telejornalismo da web, o fato das matérias serem disponibilizadas em um menu on
demand (sob demanda), quebra a estrutura narrativa padrão do telejornalismo convencional,
onde as matérias são disponibilizadas de acordo com critérios editoriais fechados: uma na
sequência da outra, e o telespectador assiste às matérias de acordo com a ordem préestabelecida por estes critérios, é a tal “ordem linear”; no webtelejornalismo o internauta
telespectador (webtelespectador) pode quebrar esta ordem e não levar em consideração a
forma como as matérias são disponibilizadas no menu. (AMARAL, 2007, p.4)
96
Ninguém que acessa a rede está disposto a ficar totalmente imerso nas imagens como
um telespectador tradicional numa sala de estar. O internauta não está assistindo ao
computador. Ele está navegando na internet e deve estar também fazendo várias coisas ao
mesmo tempo. (BRASIL, 2002, p.370)
É necessário refletir sobre a estrutura da notícia no webjornalismo, visando todas as
suas potencialidades narrativas. É uma notícia que possui características que são
potencializadas pelo meio, que requer uma maneira própria de planejamento, organização e
elaboração de uma história. Os webjornalistas têm a chance de criar infinitos roteiros de
leitura, dando ao leitor opções entre os vários níveis de informação, sabendo sempre que
assuntos relacionados podem ser linkados, levando a sites externos ou outras web reportagens,
valorizando ou comprometendo seu trabalho.
Os recursos multimídia podem ser utilizados na composição da narrativa e não
simplesmente disponibilizados para consulta ou como ilustrações de textos. As informações
personalizadas podem aproximar cada vez mais o leitor do veículo, criando uma relação de
fidelização. A elaboração de estratégias de persuasão e as construções interessantes e criativas
da narrativa é uma estratégia de prender a atenção e indicar a criação de uma gramática
própria para o webjornalismo.
97
Considerações finais
O webjornal é um produto que nasceu do telejornal, desse modo, suas etapas de
produção de conteúdo continuam sendo iguais, onde a informação é compartimentada,
selecionada e reorganizada num processo de reconstrução da realidade.
As análises realizadas até aqui, no que diz respeito aos formatos narrativos que são
apresentados tem como objetivo oferecer elementos contidos nas reportagens do telejornal e
do webjornal que podem ser utilizados na sala de aula.
Um dos elementos indispensáveis à formação de indivíduos críticos e reflexivos que
possam exercer sua cidadania (BRASIL, 1998) é a capacidade de participar de várias práticas
sociais que se utilizam da leitura e da escrita (SEE, 2012, módulo 5).
Ao longo desse trabalho, pode-se notar que a recepção das reportagens
webjornalísticas pelos alunos do E.M., constitui uma ferramenta valiosa na atualidade. Mais
do que conectividade, o acesso aos vídeos, a decisão da maneira e o momento em que querem
assisti-los representa a democratização da produção de conteúdo. Ao analisar a receptividade dos
vídeos produzidos pela TV e pela Web TV, o que se pretendeu foi realizar um exercício que
primasse pela observação de dois movimentos: a perpetuação e a evolução das características
narrativas.
Neste novo patamar de representação, é possível identificar que os atributos da
hipertextualidade produzem um desaparecimento do ritual de apresentação consolidado no
telejornal e a possibilidade de expansão da informação jornalística audiovisual no
ciberespaço, com o fortalecimento da reportagem. A reflexão sobre a linguagem multimídia
aponta que o jornalismo audiovisual sofre uma perda de hegemonia na produção de imagens
noticiosas, quando, cada vez mais, legitima imagens produzidas por câmeras alheias ao seu
processo interno de construção da informação.
Esse derramamento da representação imagética na linguagem multimídia não se dá em
outros meios comunicação. Não é igual quando o ouvinte que comenta o que ouviu no rádio
com amigos, nem tampouco do telespectador que, a partir do que assiste, escreve um artigo no
jornal ou uma carta para a produção do programa. O texto produzido pelo público internauta
tem outra materialidade, que se caracteriza pela possibilidade de se conectar ao webjornal e
nele deixar uma marca pessoal, o comentário. A partir do momento em que abriu espaço para
o comentário ou para o compartilhamento em redes sociais, o webjornal inovou ao permitir,
dentro da sua arquitetura, um lugar de participação ao internauta por meio daquilo que se
desenrola nas suas páginas. O webjornal traz ao jornalismo audiovisual um novo código
98
capaz de produzir intertextualidade entre a instância de produção cultural e o público e, a
partir disto, gerar a possibilidade efetiva de novos significados compartilhados socialmente.
Códigos podem ser considerados, como visto anteriormente e de acordo com John Fiske,
links, ligações diretas ou atalhos entre produtores, a instância de produção cultural e o público
(FISKE, 1990, p.4).
Na multimidialidade do ambiente hipertextual, a relação entre a produção do
webjornal e o público foi modificada em alguma medida inovadora, se comparada ao
antecessor telejornal. Os comentários deixados na página do webjornal ou, a partir dela, nas
redes sociais indicam uma potencialidade de significados tecidos e compartilhados pelo
público, agora efetivamente atrelados ao produto jornalístico no ciberespaço.
O enfrentamento de realidades como estas também devem permear discussões acerca
da relação entre tecnologias e educação; os jovens devem saber analisar e avaliar criticamente
as práticas usuais em rede. O acesso ainda é um dos fatores mais valorizados na educação. A
existência de laboratórios com monitores que orientem os alunos ou a distribuição de laptops
às escolas públicas pelo governo (SOARES; VALENTINI, 2011) não são condições
suficientes para o desenvolvimento de competências digitais.
Segundo Livingstone (2004), embora ainda seja muito discutido nos discursos
acadêmicos e políticos, o conceito de letramento digital pode ser definido pela capacidade de
acessar, analisar, avaliar e criar em diversos contextos.
Segundo Guimarães et al. (2010, p.13), “o artefato tecnológico em si é importante,
mas não é essencial para um trabalho para apropriação das TICs e seus textos pelos sujeitos
envolvidos em um processo educativo”. O que esperamos é que todos os alunos tenham o
domínio da linguagem e sejam capazes de reconhecer e produzir narrativas de maneira crítica
e sem amarras.
O presente trabalho é concluído salientando que os questionamentos aqui apresentados
são apenas o início para um grande caminho a ser percorrido, já que o webjornalismo está em
constante desenvolvimento e suas características narrativas em formação e transformação,
bem como o telejornal, que está passando por um processo de adaptação ao novo desafio.
De acordo com esses diversos estudiosos, sobre a ideia do uso das tecnologias em sala
de aula, é unanime o destaque feito para o fato de que para estudar os impactos de sua
eficiência no ensino, faz – se imprescindível compreender, antes de tudo, qual o perfil desse
novo aluno que chega às salas de aula.
Segundo Palloff e Pratt (2004), o novo aluno, do século XXI, desse atual mundo
globalizado, está envolvido a tudo que está ao seu redor e por isso compartilha detalhes sobre
99
suas vidas, trabalhos e outras experiências entre o meio educacional, percebendo que a
aprendizagem pode acontecer em qualquer lugar e a qualquer momento.
Portanto, para que se observe que essa nova realidade e que todo o seu processo de
ensino-aprendizagem e estrutura educacional possam funcionar corretamente e atinjam o
respectivo foco, antecipadamente deve-se estar preparado para possibilitar o desenvolvimento
de novas competências, tais como comunicação interpessoal e em grupo, resolução de
problemas, capacidade de síntese, capacidade de abstração, capacidade de análise, permitindo
aos profissionais da educação e aos alunos dar saltos cognitivos e não mais reproduzir
fórmulas ou teoremas, ou o simples ato de manusear máquinas e softwares.
É importante entendermos que a educação tem um papel fundamental: produzir e
socializar o saber, tornando o estudante o eixo central desse processo. Faz-se necessário
colocar o aluno em contato com gêneros textuais que são produzidos fora da escola, em
diferentes áreas de conhecimento, para que ele reconheça as particularidades do maior número
possível deles, e possa preparar-se para usá-los de modo competente quando estiver em
espaços sociais não escolares.
Aproximar o aluno das situações originais de produção dos textos não escolares, como
situações de produção de textos jornalísticos, científicos, literários, médicos, jurídicos, entre
outros, proporciona condições para que ele compreenda como nascem e utilizam os diferentes
gêneros textuais, apropriando-se, a partir disso, de suas peculiaridades, o que facilita o
domínio que deverá ter sobre eles.
Até o momento, em meio a diversas experiências docentes, percebe-se que a proposta
do ensino de gêneros e tipos textuais inserida no livro didático e nas Escolas, na atualidade,
nos envolve em uma discussão interessante, pois o livro visa muito às características
estruturais (narração, argumentação, descrição, exposição e injunção) dos textos e esquece-se
de trabalhar também com os gêneros.
Com isso, adota-se uma visão gramaticalista de trabalho, com enfoque nas categorias
textuais de forma descontextualizada, o que provoca um distanciamento da realidade do aluno
em suas necessidades de utilização da linguagem, e, consequentemente, estimula o desgosto
e/ou desprezo pela aula de Português, e assim ao hábito à leitura e produção textual.
Para superar a divisão entre pensar conforme a nova concepção e ensinar de acordo
com a antiga, o professor deve lembrar seus alunos que escrever é processo. Depende de
preparação e revisão, o que exige realizar várias tarefas de escrita para produzir um único
texto. Tarefas às vezes sequenciais, às vezes simultâneas, além de idas e vindas até que o
resultado seja satisfatório.
100
O uso de recursos, até então não vistos como didáticos, possibilita melhor esse avanço
e o carisma do aluno pelo interesse não apenas da aula, mas da prática dela. A ideia aqui não é
propor a introdução em massa das tecnologias da informação em sala de aula, e sim
sensibilizar para a necessidade de adaptarmos as nossas aulas para o contexto do século XXI,
uma vez que o público que hoje ocupa os bancos escolares espera das Instituições de Ensino
uma melhor preparação e orientação para atuarem de forma efetiva nas mais diversas
situações sociais, da atualidade.
101
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ANGÉLICA MARIA DOS SANTOS - Faculdade de Filosofia e Ciências