Asazonalidadedoleite A pecuária leiteira nacional apresenta duas características marcantes. A primeira é a presença da produção leiteira em todo o território nacional. A segunda característica é que não existe padrão de produção, havendo desde propriedades de subsistência, sem técnica e produção diária menor do que dez litros, até produtores com tecnologias avançadas e produção diária superior a 60 mil litros. O clima predominante no Brasil é o tropical, caracterizado por temperaturas elevadas e estações do ano bem definidas, com inverno seco e verão chuvoso. A escassez de chuvas no período da seca, conjugado com o frio nos meses de julho a agosto, são o principal causador da queda do volume de leite na entressafra, motivado principalmente pela redução da disponibilidade e qualidade nutricional das pastagens, o que exige suplementação do rebanho com volumoso e/ou concentrado. Segundo Gomes (2001), a sazonalidade do preço do leite pode ser explicada por três argumentos: I) a memória do produtor safrista cria o clima para redução do preço no início da época chuvosa, mesmo que a produção não tenha aumentado significativamente, II) o menor custo de produção no verão devido abundância de pastagens em relação ao inverno, quando o consumo de concentrado é maior e III) as imperfeições do mercado em nível industrial que potencializa os efeitos da memória safrista e do menor custo de produção na época das águas. A sazonalidade da produção de leite é tema de grande importância para o setor lácteo já que afeta diretamente os produtores de leite pela redução de sua receita na época da entressafra, devido à queda do volume de leite no período, ao mesmo tempo em que eleva os custos de produção, seja pela necessidade de oferecer ao gado volumoso suplementar (cana e ureia, silagem de milho, silagem de sorgo), seja pelo maior uso de concentrados e o maior gasto com mão de obra. (JUNQUEIRA et al., 2008) Por outro lado, com a redução da oferta do leite no mercado, há um consequente aumento no preço pago ao produtor, o que pode ser uma vantagem se a propriedade se adaptar para diminuir os custos e aumentar a produção. A sazonalidade da produção de um ano pode ser calculada dividindo-se o volume de produção nos meses da safra (janeiro a março + outubro a dezembro) pelo volume de produção nos meses de entressafra (abril a setembro). O mesmo pode ser feito em relação aos preços do leite. No gráfico 1, percebe-se que, tanto para a sazonalidade de preços quanto para a da produção, não existe um padrão claro. Há, aparentemente, uma tendência de redução das duas sazonalidades, a partir de 2009, principalmente na de preços (que chega a ser negativa em 2012, ou seja, preços na safra foram maiores que os da entressafra); por outro lado, a diferença dos preços médios entre safra e entressafra, que vinha em queda, subiu bastante em 2014. (GALAN, 2015) A sazonalidade do leite em 2014 não parece ser diferente da de anos anteriores. Ao mesmo tempo, a produção nacional vem crescendo a ritmo robusto, o que mostra que uma boa parte dos produtores vem ganhando dinheiro com a sua atividade (ou, no pior dos cenários, procurando produzir mais, ampliando sua escala para atingir níveis de custos que aumentem os seus lucros). Por outro lado, o produtor de leite não parece estar incorrendo em custos de insumos maiores que a variação dos preços que recebe. Um ponto de atenção é direcionado à necessidade de aumento da produtividade da mão de obra que apresenta uma “inflação” muito maior do que o repasse de preços do leite. (GALAN, 2015) Gráfico 1 – Sazonalidade da produção e do preço ao produtor no período de 2000 a 2014. 25,00% 20,00% 15,00% Produção 10,00% Preço 5,00% 0,00% 200020012002200320042005200620072008200920102011201220132014 -5,00% Fonte: Galan (2015) Os pecuaristas estão diminuindo os impactos da sazonalidade com a utilização de novas tecnologias no campo no período de seca e, assim, garantindo uma remuneração compatível nos dois períodos. São Paulo costuma ser o estado que apresenta menor sazonalidade. Isso pode ser explicado pelo maior uso de tecnologia na produção de leite, com muitos animais em sistemas de semi-confinamento ou confinamento, independente do período do ano. (JUNQUEIRA et al, 2008) Em consequência desse movimento sazonal, o mercado de produtos voltado a animais leiteiros mais especializados também pode ser afetado. Por exemplo, segundo os produtores de sucedâneos lácteos, a época de maior venda desse tipo de produto inicia-se em abril, prolongando-se ao longo do período da seca, correspondente à entressafra. Isso provavelmente está ligado ao fato que fazendas mais tecnificadas, principais clientes que utilizam sucedâneos lácteos, tendem a concentrar os partos nesse período para explorar melhor os preços altos, já que as mesmas normalmente não dependem da qualidade do pasto (muito ligada às épocas de chuvas) para que a produção ocorra. Além disso, o uso dos sucedâneos pode compensar se o preço do litro do produto diluído for menor do que o preço do leite, o que costuma ocorrer com a alta dos preços na entressafra. A sazonalidade do leite é um problema na pecuária leiteira nacional, porém, através de uma análise das tendências do mercado e um bom planejamento, é possível utilizar essa tendência a favor do produtor. Referências Bibliográficas GALAN, V. B. Produtor perde parte dos ganhos acumulados nos últimos anos. Revista Leite Integral, n. 70, ano 9, p. 64 – 66, janeiro/2015. GOMES, S.T. Evolução e perspectivas da produção de leite no Brasil. In: GOMES A.T. O Agronegócio do leite no Brasil. Juiz de Fora: EMBRAPA-CNPGL, 2001. 262p. JUNQUEIRA, R. V. B.; ZOCCAL, R. MIRANDA, J. E. C. Análise da sazonalidade da produção de leite no Brasil. In: X Minas Leite, 2008.