UNIFAMMA - FACULDADE METROPOLITANA DE MARINGÁ
MARIA DAS GRAÇAS FERNANDES KOGA
ALFABETIZAÇÃO E A IMPORTÂNCIA DA DOMINÂNCIA
LATERAL
MARINGÁ
2011
MARIA DAS GRAÇAS FERNANDES KOGA
ALFABETIZAÇÃO E A IMPORTÂNCIA DA DOMINÂNCIA
LATERAL
Trabalho apresentado ao programa de pós
graduação da Faculdade Metropolitana de
Maringá – UNIFAMMA, do curso de
especialização em Neuropsicologia – Turma I,
como requisito parcial para obtenção de título
de especialista sob orientação do Professor
Doutor Marcos Maestri e co-orientadora
Professora Especialista Luciana Brites.
MARINGÁ
2011
ALFABETIZAÇÃO E A IMPORTÂNCIA DA DOMINÂNCIA
LATERAL
Maria das Graças Fernandes Koga1
Marcos Mestri2
Luciana Mota Dias Brites3
Resumo
O objetivo desta pesquisa bibliográfica é fazer um estudo sobre alfabetização e a
importância da dominância lateral. Utilizou-se como estratégia metodológica a pesquisa
bibliográfica, considerando a faixa etária de 0 a 6 anos, ou seja, período da Educação
Infantil. Quando uma criança inicia o processo de alfabetização, espera-se que tenha
sucesso, porém, muitas crianças não conseguem se alfabetizar. As causas e motivos são
vários e, entre eles, pode-se destacar os problemas psicomotores. No processo de
aprendizagem, a dominância lateral é um dos pré requisitos para a alfabetização, ou
seja, uma criança quando apresenta dificuldades com o desenvolvimento de
aprendizagem, pode estar relacionado com desenvolvimento psicomotor. O cérebro é
dividido em dois hemisférios: direito e esquerdo. Cada um dos hemisférios controla os
movimentos da parte oposta do corpo e utiliza estratégias de processamento diferentes.
O hemisfério direito é responsável por funções, como: fala, escrita, leitura, lógica
matemática e o raciocínio. O hemisfério esquerdo é responsável por: reconhecimento de
rosto, criatividade, sentido musical e intuição. A área motora está localizada no lobo
frontal e é responsável pelo planejamento e execução dos atos motores voluntários.
Palavras-chave: alfabetização; dominância lateral; hemisférios cerebrais
1
Pedagoga, Especialista em Educação Especial, Psicopedagoga clínica e pós-graduanda do curso de
Neuropsicologia da Faculdade Metropolitana de Maringá – UNIFAMMA
2
Doutor em Psicologia-PUCCAMP, Mestre em Educação-UEM e Professor adjunto nos departamentos
de Psicologia da Universidade Estadual de Maringá-UEM e da Faculdade Uningá-UNINGÀ. Orientador.
3
Pedagoga Especialista em Educação Especial, Psicopedagoga clínica e Psicomotricista participante do
grupo Cnpq em Neurodesenvolvimento, Aprendizagem e Escolaridade. Co-orientadora.
5
Abstract
The purpose of this literature is to make a study about literacy and the importance of
lateral dominance. Was used as a methodological strategy bibliographic research,
considering the age group 0 to 6 years, in the other words, the period of early childhood
education. When a child begins the process of literacy, it’s expected to succeed,
however, many children can’t become literate. The causes and reasons are several and,
among them, we can highlight the problems psychomotor. In the process of learning,
lateral dominance is one of the prerequisites for literacy, therefore, when a child has
difficulties with the development of learning, may be related to psychomotor
development. The brain is divided into two hemispheres: right and left. Each
hemisphere controls the movements of the opposite side of the body and uses different
processing strategies. The right hemisphere is responsible for functions such as:
speaking, writing, reading, mathematics and logical reasoning. The left hemisphere is
responsible for: face recognition, creativity, musical sense and intuition. The motor area
is located in the frontal lobe and is responsible for planning and execution of voluntary
motor acts.
Key-words: literacy; lateral dominance; brain hemispheres.
1.Introdução
O objetivo desta pesquisa bibliográfica é fazer um estudo sobre alfabetização e a
importância da dominância lateral durante o período da Educação Infantil, ou seja, de 0
a 6 anos. É notório que o desenvolvimento psicomotor da criança deve ser bem
trabalhado
nessa
faixa
etária,
pois,
caso
contrário,
podem
ocorrer
sérios
comprometimentos relacionados à alfabetização.
Sabe-se que durante o crescimento, a noção de dominância lateral irá definir-se,
se será o lado esquerdo ou lado direito. A maioria dos estudos indica que a dominância
lateral surge na criança, por volta dos 2 a 3 anos, reconhece entre 5 ou 6 anos, mas só
aos 6 ou 7 anos, a dominância lateral está praticamente definida. A dominância lateral
se faz por predominância de um hemisfério cerebral sobre o outro, refletindo na
predileção e um lado do corpo para uma movimentação melhor realizada.
Atualmente, neuropediatras, psicopedagogos, psicólogos, fonoaudiólogos,
pedagogos e outros profissionais, envolvidos na área de educação, reconhecem a
importância do desenvolvimento psicomotor durante os primeiros anos de vida da
criança, Neto (2002). Até aos 6 anos de idade, aproximadamente, a criança vai
desenvolvendo aspectos psicomotores por meio de atividades que estimulem a
6
exploração de conhecimentos relacionados à tomada de consciência do próprio corpo,
afirmação da dominância lateral e orientação em relação a si mesmo, que fará diferença
no início da alfabetização, Rotta (2006).
Diante de tal fato, há uma preocupação em relação aos professores que estão tão
empenhados na aquisição do processo da leitura e a escrita que, muitas vezes, não
sabem lidar com as dificuldades psicomotoras que as crianças apresentam e acabam
rotulando-as com algum distúrbio, sendo que, na verdade, não houve uma adequada
estimulação, Jardini (2010). Muitas das dificuldades seriam resolvidas se os
profissionais da educação e das áreas afins tivessem um olhar mais atento para o
desenvolvimento psicomotor da criança na Educação Infantil, antes do início da
alfabetização.
2.Dominância Lateral e Aprendizagem
2.1 Alfabetização
Nos dias de hoje, o tema “alfabetização” tem tido uma ampla discussão por parte
dos profissionais da educação, envolvendo pais e escolas num todo. Muito se discute
sobre o ato de aprender, ou seja, o processo de aquisição da leitura e escrita, como
ocorre e como é processado. Portanto, ainda há muito para se discutir sobre como isto
acontece, como ocorre o ato de aprender, principalmente, quando se constata o
freqüente número de crianças que não se alfabetizam, apresentando dificuldades em
decorrência de alterações no processo da aquisição da leitura e escrita.
Sabe-se, portanto, que os problemas relacionados são consequências de um
processo
inadequado
de
alfabetização,
causando
sérios
problemas,
mais
especificamente, para os educandos do 1º e 2º anos das séries iniciais.
Alguns educadores, tais como: Renata Jardini (2010), Emília Ferreiro e
Teberosky (1999), Magda Soares (2003), entre outros, criaram métodos ou
metodologias e técnicas referentes à alfabetização. Mas se os professores e
principalmente as crianças não estiverem preparadas, no que se refere à
psicomotricidade, e se estiver relacionada com a dominância lateral, com certeza, essas
crianças apresentarão algum tipo de comprometimento na alfabetização, principalmente
7
as crianças que estão concluindo a Educação Infantil e iniciando as séries iniciais do
Ensino Fundamental.
De acordo com Simonetti (2007), etimologicamente, o termo alfabetização
significa levar à aquisição do alfabeto, ensinar as habilidades de ler e escrever, processo
de aquisição do código escrito e das habilidades de leitura e escrita.
Já Soares (2003) esclarece que aprender a ler e escrever envolve relacionar sons
com letras, fonemas com grafemas, para codificar ou decodificar. Envolve, também,
aprender a segurar um lápis, aprender que se escreve de cima para baixo e da esquerda
para a direita, enfim, envolve uma série de aspectos e entre eles, a dominância lateral.
Sabe-se que a aprendizagem se dá no Sistema Nervoso Central (SNC) e o
desenvolvimento do cérebro acontece nos primeiros anos de vida do educando. E este
período fará diferença na alfabetização, se não for bem explorado e trabalhado de
acordo com cada fase da infância. Rotta esclarece que:
Não há dúvida que o ato de aprender se passa no SNC, onde ocorrem
modificações funcionais e condutuais, que dependem do contingente
genético de cada indivíduo, associado ao ambiente onde este ser está
inserido. O ambiente é responsável pelo aporte sensitivo-sensorial,
que vem pela substância reticular ativadora ascendente e é modificado
pelo sistema límbico, que contribui com os aspectos afetivos
emocionais da aprendizagem (ROTTA, 2006, p. 116).
Ainda Rotta et al (1998), o aprendizado é um processo complexo, dinâmico,
estruturado a partir de um ato motor e perceptivo, que, elaborado corticalmente, dá
origem à cognição. Os distúrbios de áreas específicas do sistema nervoso central (SNC),
relacionadas com a noção do esquema corporal, do espaço e do tempo, constituem as
bases neuropatológicas das alterações perceptomotoras ou dispatognósicas, das quais
poderiam resultar os quadros de dislexia, disgrafia e discalculia.
Para Rotta et al (1998), as altas taxas de reprovações em escolares que
engressam no primeiro ciclo têm despertado a atenção dos especialistas que atendem
crianças em idade escolar. Sabe-se que o aprendizado pode ser afetado por diferentes
fatores, dentre eles, o esquema corporal, a coordenação motora fina, a lateralidade e a
linguagem em seus diferentes aspectos.
Segundo Le Boulch (1986), a escrita, como a linguagem, é essencialmente um
modo de expressão e de comunicação. A escrita, antes de qualquer coisa, é um meio de
comunicação e um meio de expressão pessoal. Entretanto, a constituição do código
8
gráfico e sua decifração reclamam, por outro lado, a atuação das funções psicomotoras,
ou seja, a escrita é, antes de mais nada, um aprendizado motor.
Ainda Le Boulch (1986) salienta que o objetivo do trabalho psicomotor é
proporcionar a motricidade espontânea, coordenada, rítmica, liberada e controlada para
atender as necessidades e as possibilidades da criança ainda na educação Infantil para o
seu sucesso escolar.
Segundo Fonseca (1995), é de suma importância que a criança seja estimulada
no período da Educação Infantil, antes do início do processo de alfabetização, ou seja,
antes que a criança seja exposta ao processo de ensino formal.
A necessidade de uma escolarização mais precoce vem colocando essas crianças
mais cedo na escola e com isto os problemas e dificuldades surgem e preocupam os
profissionais da educação e áreas afins.
2.2 Estabelecimento da dominância lateral
Vários autores como: Le Boulch (1986), Negrine (1987), Fonseca (1995), Neto
(2002) consideram a dominância lateral de suma importância no desenvolvimento
infantil e afirmam que muitos problemas relacionados com a fala e aprendizagem, são
decorrentes da não definição da dominância lateral.
Segundo Fonseca (1996), a dominância lateral tem influências genéticas, assim,
nascemos predeterminados a sermos destros ou canhotos. A dominância lateral definida
é quando a mão, o pé e olho obedecem a dominância funcional de um lado do corpo,
que é determinada pela dominância de um hemisfério cerebral sobre o outro. O que se
espera em nível de maturação, é que a dominância lateral ocorra entre 6 e 7 anos de
idade. A dominância lateral cruzada é quando há discordância na dominância, pelo
menos em um dos órgãos.
Dominância lateral ocorre a partir do momento em que os movimentos se
combinam e se organizam numa intenção motora, que se impõe e justifica a presença de
um lado predominante que irá ajustar a motricidade. Reconhecimento direita-esquerda
decorre da assimetria direita/esquerda e constitui uma primeira etapa na orientação
espacial e é precedida pela distinção frente-atrás (conscientização do eixo corporal - 6
anos).
9
Ainda Fonseca (1996), durante o crescimento, é natural que se defina uma
dominância lateral na criança: se ela será mais forte, mais ágil do lado direito ou do
lado esquerdo. A "lateralidade corresponde a dados neurológicos, mas também é
influenciada por certos hábitos sociais”. Como descobrir a dominância lateral? Não é
fácil e nem difícil, mas é necessário realizar atividades para descobrir a dominância
lateral, se ainda não foi definida, pois a mesma é muito importante durante o período de
alfabetização.
De acordo Canongia (1986), o estabelecimento da dominância lateral surge por
volta dos 3 a 4 anos de idade, mas só pelos 6 ou 7 anos é que a dominância lateral se
fixa. O estabelecimento da lateralidade se faz por predominância de um hemisfério
cerebral sobre o outro. O hemisfério cerebral dominante da motricidade no campo
perceptivo-motor é o que comanda os centros de linguagem. O estabelecimento da
dominância lateral se faz por predominância de um hemisfério sobre outro.
Ainda Canongia (1986), a discriminação da “direita e esquerda" é um conceito
muito amplo. Não uma faculdade, mas certo número de realizações em distintos níveis
de complexidade, cada um dos quais exige o exercício de diferentes capacidades. A
diferenciação entre direita e esquerda requer discriminação que é aprendida pelas
crianças bem devagar. A discriminação entre os lados direito e esquerdo do próprio
corpo desenvolve-se de forma muito gradual e começa pelos quatro anos de idade mais
ou menos.
Para Le Boulch (1986), quando uma criança, aos 6 anos, é confrontada com o
aprendizado leitura-escrita, o problema psicomotor essencial interessa à organização dos
automatismos óculos- manuais que dependem da atividade infantil desde o nascimento,
com todas as possibilidades decorrentes. Aos 6 anos, a representação mental do corpo o
converte em um objeto do espaço que será à base da descentralização.
Mas esta
imagem verbalizada e orientada é uma simples imagem reprodutora, estática, portanto,
constituída pela associação entre os dados visuais e cinestésicos.
Assim, será possível à criança ajustar a sua motricidade às condições atuais do
seu espaço de vida e também concluir suas ações de pensamento e, logo, programá-las
de acordo com modelos mais ou menos completos. No entanto, a utilização de tal
imagem dinâmica, corresponde a um verdadeiro esquema de ação e exige controle da
dimensão temporal que, sob seu aspecto perceptivo, representa uma função
psicomotora.
10
Quanto à dominância, na medida em que a imagem do corpo “operatório” ocupa
o centro de todas as ações realmente efetuadas, ou programadas a partir da
representação mental, elas giram em torno do ambiente ou no seu “próprio corpo”,
sendo importante interessar-se ainda na Educação Infantil.
Para Le Boulch (1982), a criança entre 6 e 7 anos, é capaz de reconhecer direita
e a esquerda em outrem, ao mesmo tempo em que a imitação de gestos perde seu caráter
de espelho. Também as atividades de expressão e de jogos espontâneos, a coordenação
global, num clima tranqüilizado e calmo, desempenha um papel essencial tanto na boa
disposição motora global, como no equilíbrio geral da criança.
Além disso, estas
atividades globais permitem, na maior parte dos casos, a consolidação da dominância
lateral e sua conscientização que termina na lateralização direita ou esquerda.
É muito importante e necessário à criança ter o lado dominante para a definição
de sua dominância lateral. A idade para a definição da mesma, varia de acordo com o
meio social onde a criança está inserida ou por meio da estimulação recebida. Por outro
lado, há algumas divergências entre os autores sobre idade de uma criança em dominar
a direita e esquerda. Como por exemplo:
Segundo Jardini (2009), fonoaudióloga e psicopedagoga, afirma que
A dominância lateral, que determina se o individuo é canhoto
normalmente é atribuída espontaneamente dos 3 a 5 anos. Os destros
organizados, que tem pé, mão, orelha, olho, todos dominantes à
direita, tem o hemisfério cerebral esquerdo comandando e não têm
dúvidas para esta escolha. O mesmo se dá para os canhotos
organizados, tendo o hemisfério direito dominando as atividades. O
problema ocorre quando a criança não tem opção defenida e ambas as
mãos para realizar as atividades. É fundamental, nessas crianças, que a
partir dos 3 – 4 anos de idade faça-se um inventário familiar sobre a
ocorrência da opção manual, e caso haja indefenição da criança, deve
ser pesquisada e eleita a preferência, em várias situações, para ser
estimulado o braço de melhor desempenho e “inibido” o outro, ou
seja, treinar mais frequentemente o membro eleito. Com correta
preensão do lápis, que se faz com uso dos 3 dedos, indicador, polegar
e dedo médio, que se denomina “movimento de pinça”. O ser humano
é o único capaz de desenvolver esse movimento, sendo superior na
escala evolutiva. Para tal, deve-se apoiar o pulso na mesa para
realizar o movimento estando o cotovelo paralelo à mesa, nunca
erguido (p. 24 e 25).
Uma criança só terá condições de reconhecer direita e esquerda a partir de 5 ou 6
anos e a reversibilidade, segundo Fonseca, só depois dos 8 anos que é a possibilidade
11
de reconhecer a mão direita ou a mão esquerda de uma pessoa à sua frente, não podendo
ser abordada antes dos 6 anos, 6 anos e meio.
Meur e Staes (1984), também abordam o tema lateralidade e dominância lateral
com propriedade. Os autores definem, com clareza, a diferença entre ambos, como
observamos na citação a seguir:
Não devemos confundir lateralidade (dominância de um lado em
relação a outro, no nível da força e da precisão) e conhecimento
“esquerda-direita” (domínio dos termos “esquerda” e “direita”). O
conhecimento “esquerda-direita” decorre da noção de dominância
lateral. É a generalização, da percepção do eixo corporal, a tudo que
cerca a criança; esse conhecimento será mais facilmente apreendido
quanto mais acentuado e homogêneo for à lateralidade da criança.
Com efeito, se a criança percebe que trabalha naturalmente “com
aquela mão” guardará sem dificuldade que “aquela mão” é à esquerda
ou à direita. Caso haja hesitação na escolha da mão, noção de
“esquerda-direita” não poderá firmar-se com segurança. Da mesma
forma, em caso de lateralidade cruzada, a criança confundirá
facilmente os termos “esquerda” e “direita”, por ser ora mais forte do
lado direito (por exemplo, o pé), ora mais forte do lado esquerdo (a
mão). O conhecimento “esquerda-direita” faz parte da estruturação
espacial por referir-se à situação dos seres e das coisas, mas está de tal
forma vinculado à noção de dominância lateral que colocamos essa
aprendizagem imediatamente após a da lateralidade. O conhecimento
estável da esquerda e da direita só é possível aos 5 ou 6 anos e a
reversibilidade (possibilidade de reconhecer a mão direita ou a mão
esquerda de uma pessoa à sua frente) não pode ser abordada antes dos
6 anos, 6 anos e meio (MEUR e STAES, 1984, p.12 e 13)
Segundo Meur e Staes (1984), é válido e muito importante realizar atividades
para verificar a dominância lateral da criança ainda na Educação Infantil. As atividades
sugeridas pelos autores são:
A nível dos membros inferiores (pé)
*Do ponto de vista da força:
- pede-se à criança que percorra um trajeto com um pé, depois com o
outro; o lado escolhido para o primeiro trajeto é muitas vezes o lado
dominante, mas a observação dos pulos revelará maior facilidade de
um lado: é esse lado que determina a dominância;
- convida-se a criança a chutar uma bola após uma corrida de dois a
três metros: o pé escolhido para o chute é o dominante;
- pede-se à criança que lance com precisão uma bola em um barril
colocado a alguns metros: o pé posicionado à frente é o lado forte dos
membros inferiores.
*Do ponto de vista da precisão:
- fazer com que leve, com um pé, uma bola ou uma lata até
determinado lugar;
12
- fazer com que desenhe no chão, com um pé: um círculo, um
quadrado etc.
A nível dos membros superiores (mão)
Pede-se à criança que faça diversos gestos do dia-a-dia e observa-se
qual a mão utilizada. É evidente que o material apresentado à criança
não deve influir na escolha da mão.
*Do ponto de vista da força:
- lançar uma bola no jogo de “acerte no alvo”;
- bater um prego;
- abrir uma lata de conserva (a mão dominante segurará o
abridor).
*Do ponto de vista da precisão:
- com uma mão lançar uma bola em um cesto;
- distanciar um elástico com o polegar e o indicador;
- pregar um alfinete em um mural;
- pentear-se;
- recortar papel com tesoura;
- colar selo em um envelope.
No nível dos olhos
- por meio do visor de uma máquina fotográfica;
- por meio do caleidoscópio;
- fazendo apontar: mostra-se um ponto preciso de um cartaz e
pede-se à criança que o indique com o dedo, estendendo o
braço;
- fazendo olhar pelo buraco da fechadura.
Pode-se observar:
- uma lateralidade homogênea: a criança é destra ou canhota do
olho, da mão e do pé;
- uma lateralidade cruzada: a criança é, por exemplo, destra da
mão do olho, canhota do pé;
- uma ambidestreza: a criança é tão forte e destra do lado
esquerdo quanto do lado direito;
A lateralidade é importante na evolução da criança:
- influi na idéia que a criança tem de si mesma, na formação de seu
esquema corporal, na percepção da simetria de seu corpo;
- contribui para determinar a estruturação espacial: percebendo o eixo
de seu corpo, a criança percebe também seu meio ambiente em
relação a esse eixo: “o banco está melhor do lado da mão que
desenha”.
Aconselha-se a não empregar os termos “esquerda” e direita” sem
que a lateralidade esteja bem definida (MEUR e STAES, 1984,
p. 11 e 12).
Ainda Meur & Staes (1984) assinalam que: o intelecto se constrói a partir da
atividade física. As funções motoras (movimento) não podem ser separadas do
desenvolvimento intelectual (memória, atenção, raciocínio) nem da afetividade
(emoções e sentimentos). Para que o ato de ler e escrever se processe adequadamente, é
13
indispensável o domínio de habilidades a ele relacionado, considerando que essas
habilidades são fundamentais manifestações psicomotoras.
Já Fonseca (1996) destaca o caráter preventivo da psicomotricidade, afirmando
ser a exploração do corpo, em termos de seus potenciais uma "propedêutica das
aprendizagens escolares", especialmente, a alfabetização. Para o autor, as atividades
desenvolvidas na escola como a escrita, a leitura, o ditado, a redação, a cópia, o cálculo,
o grafismo, e, enfim, os movimentos estão ligados à evolução das possibilidades
motoras e as dificuldades escolares estão, portanto, diretamente relacionadas aos
aspectos psicomotores. Todavia, a Psicomotricidade não pode ser analisada fora do
comportamento e da aprendizagem e, este, para além de ser uma relação inteligível
entre estímulos e respostas, é antes do mais, uma seqüência de ações, ou seja, uma
seqüência espaço-temporal intencional.
O esquema corporal diz respeito à consciência do próprio corpo, incorporando
suas partes posturais e de atitudes, tanto em repouso, como em movimento. É preciso
que a criança conheça e compreenda seu corpo para controlar melhores seus
movimentos. Meur e Staes (1984). Nessa conscientização de seu próprio corpo, em
diferentes posições, o domínio corporal é o primeiro elemento do comportamento e é
através do movimento dinâmico que se consegue o controle do corpo tão importante e
necessário para o pleno desenvolvimento bio-psico-social da criança.
2.3 O cérebro e os hemisférios direito e esquerdo
O cérebro é uma estrutura, localizada no interior do crânio, que pode ser
visualizado e manipulado. Sua arquitetura é caracterizada por diferentes células,
substâncias químicas como neurotransmissores, hormônios e enzimas (NETO, 2011).
O cérebro é divido em dois hemisférios: direito e esquerdo. Cada um dos
hemisférios controla os movimentos da parte oposta do corpo. Os movimentos que
fazemos com a mão esquerda, pé esquerdo e olho esquerdo são inteiramente controlados
pelo hemisfério direito do cérebro. Os dois hemisférios podem sincronizar e dar
harmonia aos movimentos, mas um hemisfério não interfere na atividade do outro. Os
hemisférios cerebrais são responsáveis pela inteligência e pelo raciocínio. O cerebelo
ajuda a manter o equilíbrio e a postura.
Segundo Riesgo e Rotta (2006), são dois os hemisférios cerebrais: o esquerdo e
o direito. Estão separados e, ao mesmo tempo, unidos pelo corpo caloso. Os hemisférios
14
cerebrais são divididos em lobos, apesar de arbitrários, é de valor didático, para que se
possam entender as funções de cada lobo.
O lobo frontal tem várias funções. O planejamento da fala está na área
de Broca, localizada no giro frontal inferior esquerdo, nos destros, e o
planejamento dos atos motores fica na porção mesial do lobo frontal,
na área motora suplementar. Também é responsável por todos os
movimentos do corpo, na área frontal posterior. No que se refere à
aprendizagem pode-se afirmar que o lobo frontal participa da
linguagem falada, do controle do humor e dos impulsos, além de todos
os aprendizados que envolvam o movimento do corpo. Na criança é
um dos últimos lobos a completar a maturação, o que ocorre entre os 5
e 7 anos de idade (RIESGO, 2006, p. 38).
O lobo frontal está relacionado com funções intelectuais tais como o raciocínio e
o pensamento abstrato; comportamento agressivo e sexual; fala (área de Broca),
linguagem e iniciação do movimento, tanto treinado quando postural. A área rotulada
como (giro pré-central) inicia especificamente o movimento treinado, e os impulsos
desta área motora são conduzidos, ao longo do tracto corticospinal, diretamente aos
neurônios motores dos nervos cranianos/espinais. (NETO, 2011).
A dominação de um hemisfério do cérebro é mais evidente nas funções
complexas, as mais simples, ambos podem controlar. É possível treinar as habilidades da
mão não preferencial e torná-la tão hábil quanto à outra. Isto acontece principalmente
quando se aprende a tocar instrumentos musicais. Nos outros animais não existe esta
lateralidade, não há preferência pelo uso das patas.
No artigo de Rotta, Ferreira e Guardiola (1998) destacam que os hemisférios
cerebrais possuem funções distintas. Os autores explicam como ocorre o processo: A
dominância hemisférica é controlada pelos centros da linguagem que, na maioria das
pessoas, se localiza no hemisfério esquerdo, ou dominante, ou maior. Atualmente se
atribui ao hemisfério direito um papel importante na percepção do esquema corporal e
do espaço gráfico e da construção, já que o hemisfério direito predomina na função de
perceber e analisar os modelos visuais. O hemisfério esquerdo predomina em relação à
linguagem, mas o direito é mais importante para a percepção das melodias. Também se
notam as diferenças entre ambos os hemisférios em relação à memória; o esquerdo está
relacionado à memória verbal, e o direito com as localizações espaciais, fisionomias e
melodias.
Sabe-se da importância dos hemisférios cerebrais para a realização das
atividades, independente do que seja. Assencio-Ferreira (2005), aborda o tema como:
15
Os dois hemisférios cerebrais são idênticos quando visualizados
macroscopicamente. É impossível perceber diferenças anatômicas
grosseiras entre o lado direito e o lado esquerdo. Entretanto,
funcionalmente, eles são muito diferentes, existindo atividades
nervosas superiores que são desenvolvidas
unicamente por um dos
lados.
O entendimento da localização dos centros cerebrais
controladores linguagem/fala/escrita depende da compreensão do
conceito de hemisfério dominante, que em 98% da população, é o
Hemisfério Cerebral Esquerdo. Os movimentos do corpo (braço e
perna) são comandados pelo hemisfério cerebral do lado oposto.
Quando uma pessoa é destra, ou seja, tem maior agilidade e força do
lado direito do corpo, significa que o hemisfério dominante é o
esquerdo. Quando uma pessoa é canhota, o hemisfério dominante é o
direito (p.38/39).
Segundo Grunspun (1985), constata-se, que sob condições normais, as
habilidades manuais, as funções da linguagem falada, escrita e leitura, a visão, o comer
e as habilidades dos pés são controlados por um dos hemisférios cerebrais, considerado
hemisfério dominante e à função, chamamos de dominância lateral.
Conclui-se, portanto, de acordo com alguns autores como: Fonseca (1996),
Guillarme (1983), Canongia (1986), Le Boulch (1982) que é de suma importância o
estabelecimento da dominância lateral para a criança na primeira infância de 0 a 6 anos.
É neste período que ocorrem as maiores e mais rápidas modificações de
desenvolvimento. Esta fase é considerada um pré requisito que faz parte da sua
aprendizagem e do seu pleno desenvolvimento bio-psico-social.
3. Conclusão
Este artigo é o resultado de um estudo, onde abordou-se a alfabetização e a
dominância lateral, ressaltando a importância da relação de ambos os temas. Alfabetizar
não é uma tarefa fácil e as implicações que ocorrerem durante esta fase, tão importante
na vida de uma criança, certamente fará diferença durante o período do processo de
aquisição da leitura e escrita.
Segundo Fonseca (1995), durante o crescimento é natural que se defina uma
dominância lateral na criança: se ela será mais forte, mais ágil do lado direito ou do lado
esquerdo. A "lateralidade corresponde a dados neurológicos, mas também é
influenciada por certos hábitos sociais”. Como descobrir a dominância lateral? Não é
fácil e nem difícil, mas é necessário realizar atividades que possa descobrir a
16
dominância lateral, se ainda não foi definida, pois a mesma é de suma importância
durante o período de alfabetização.
Para Meur & Staes (1984), o intelecto se constrói a partir da atividade física. As
funções motoras (movimento) não podem ser separadas do desenvolvimento intelectual
(memória, atenção, raciocínio) nem da afetividade (emoções e sentimentos). Para que o
ato de ler e escrever se processe adequadamente, é indispensável o domínio de
habilidades a ele relacionado, considerando que essas habilidades são fundamentais
manifestações psicomotoras.
Sabe-se que as habilidades manuais, as funções da linguagem falada, escrita e
leitura, a visão, o comer e as habilidades dos pés, são controlados por um dos
hemisférios cerebrais, considerado hemisfério dominante e essa função chama-se
dominância lateral.
O hemisfério direito controla o lado esquerdo do corpo, responsável pela
criatividade, discriminação visuo-espacial e localização no espaço, percepção de perigo,
sentido musical e intuição. Pico de maturidade dos dois aos sete anos.
Já o hemisfério esquerdo controla o lado direito do corpo, responsável pela
linguagem (fala, leitura e escrita), lógica-matemática, informação analítica (organização
parte por parte, sequenciação) e planejamento para execução. Pico de desenvolvimento
dos seis aos dez anos.
Desta forma, pode-se dizer que a questão da psicomotricidade e a
hemisfericidade são fatores relevantes e podem comprometer o processo de
alfabetização das crianças no período da Educação Infantil e, quanto melhor for à
especificidade hemisférica, melhor será o rendimento motor e cognitivo.
Por fim, torna-se necessário que os profissionais da educação, envolvidos com a
alfabetização estejam sempre atentos às dificuldades psicomotoras que as crianças,
desta faixa etária, poderão apresentar, evitando assim, sérios problemas no processo de
alfabetização das mesmas.
17
Referências
ASSENCIO-FERREIRA, Vicente José. O que todo professor precisa saber sobre
neurologia. São José dos Campos: Pulso, 2005
CANONGIA, Marly Bezerra. Psicomotricidade em Fonoaudiologia. Rio de Janeiro:
Neotecnica Edição, 1986.
FERREIRO, Emília e TEBEROSKY, Ana. Psicogênese da Língua Escrita. Porto
Alegre: Artes Médicas Sul, 1999.
FONSECA, Vítor da. Manual de observação psicomotora: Significação
Psiconeurológica dos Fatores Psicomotores. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995.
FONSECA, Vitor da. Psicomotricidade. 4ª ed. São Paulo: Martins Fonte, 1996.
GUILLARME, Jean Jaques. Educação e reeducação psicomotoras. Porto Alegre:
Artes Médicas, 1983.
GRUNSPUN, Haim. Distúrbios Neuróticos da Criança. Rio de Janeiro: Livraria
Atheneu, 1985.
JARDINI, Renata Savastano Ribeiro. Boquinhas na Educação Infantil: Livro do
professor. Araraquara: Pulso. 2009.
JARDINI, Renata Savastano Ribeiro. Alfabetização e reabilitação pelo método das
boquinhas: fundamentação teórica. 2ª ed. São Paulo: R. Jardini, 2010.
LE BOULCH, Jean. O desenvolvimento psicomotor: do nascimento aos 6 anos. Porto
Alegre: Artes Médicas, 1986.
LE BOULCH, Jean. A educação pelo movimento. Porto Alegre: Artes Médicas, 1982.
MEUR, de A.; STAES L., Psicomotricidade – Educação e Reeducação: Níveis
Maternal e Educação Infantil. São Paulo: Manole, 1984.
NEGRINE, Airton da Silva. A coordenação psicomotora e suas implicações. Porto
Alegre: Pallotti, 1987.
NETO, Francisco Rosa. Manual de avaliação motora. Porto Alegre: Artmed, 2002.
BRUNO NETO, Rafael. Neuropsicologia: o desenvolvimento da consciência,
aprendizagem e transtornos. UEM, Maringá, 2011. CD-ROM.
ROTTA, Newra Tellechea; OHLWEILER, Lygia; RIESGO, Rudimar Dos
Santos. Transtornos de aprendizagem: abordagem neurobiológica e multidisciplinar.
Porto Alegre: Artmed, 2006. Capítulos 2 e 8.
18
ROTTA, Newra Tellechea et al. Associação entre desempenho das funções corticais e
alfabetização em uma amostra de escolares de primeira série de Porto Alegre. Arq.
Neuro-psiquiatria, Porto Alegre, v. 56, n. 2, jun. 1998.
SIMONETTI, Amália. O desafio de alfabetizar e letrar. Fortaleza: Editora Flávio
Martins. 2007.
SOARES, Magda. Letramento e alfabetização: as muitas facetas. 26ª edição.
ANPED: GT Alfabetização, leitura e escrita, out. 2003.
Download

Aluno: Maria das Graças Fernandes Koga