UNIFAMMA - FACULDADE METROPOLITANA DE MARINGÁ MARIA DAS GRAÇAS FERNANDES KOGA ALFABETIZAÇÃO E A IMPORTÂNCIA DA DOMINÂNCIA LATERAL MARINGÁ 2011 MARIA DAS GRAÇAS FERNANDES KOGA ALFABETIZAÇÃO E A IMPORTÂNCIA DA DOMINÂNCIA LATERAL Trabalho apresentado ao programa de pós graduação da Faculdade Metropolitana de Maringá – UNIFAMMA, do curso de especialização em Neuropsicologia – Turma I, como requisito parcial para obtenção de título de especialista sob orientação do Professor Doutor Marcos Maestri e co-orientadora Professora Especialista Luciana Brites. MARINGÁ 2011 ALFABETIZAÇÃO E A IMPORTÂNCIA DA DOMINÂNCIA LATERAL Maria das Graças Fernandes Koga1 Marcos Mestri2 Luciana Mota Dias Brites3 Resumo O objetivo desta pesquisa bibliográfica é fazer um estudo sobre alfabetização e a importância da dominância lateral. Utilizou-se como estratégia metodológica a pesquisa bibliográfica, considerando a faixa etária de 0 a 6 anos, ou seja, período da Educação Infantil. Quando uma criança inicia o processo de alfabetização, espera-se que tenha sucesso, porém, muitas crianças não conseguem se alfabetizar. As causas e motivos são vários e, entre eles, pode-se destacar os problemas psicomotores. No processo de aprendizagem, a dominância lateral é um dos pré requisitos para a alfabetização, ou seja, uma criança quando apresenta dificuldades com o desenvolvimento de aprendizagem, pode estar relacionado com desenvolvimento psicomotor. O cérebro é dividido em dois hemisférios: direito e esquerdo. Cada um dos hemisférios controla os movimentos da parte oposta do corpo e utiliza estratégias de processamento diferentes. O hemisfério direito é responsável por funções, como: fala, escrita, leitura, lógica matemática e o raciocínio. O hemisfério esquerdo é responsável por: reconhecimento de rosto, criatividade, sentido musical e intuição. A área motora está localizada no lobo frontal e é responsável pelo planejamento e execução dos atos motores voluntários. Palavras-chave: alfabetização; dominância lateral; hemisférios cerebrais 1 Pedagoga, Especialista em Educação Especial, Psicopedagoga clínica e pós-graduanda do curso de Neuropsicologia da Faculdade Metropolitana de Maringá – UNIFAMMA 2 Doutor em Psicologia-PUCCAMP, Mestre em Educação-UEM e Professor adjunto nos departamentos de Psicologia da Universidade Estadual de Maringá-UEM e da Faculdade Uningá-UNINGÀ. Orientador. 3 Pedagoga Especialista em Educação Especial, Psicopedagoga clínica e Psicomotricista participante do grupo Cnpq em Neurodesenvolvimento, Aprendizagem e Escolaridade. Co-orientadora. 5 Abstract The purpose of this literature is to make a study about literacy and the importance of lateral dominance. Was used as a methodological strategy bibliographic research, considering the age group 0 to 6 years, in the other words, the period of early childhood education. When a child begins the process of literacy, it’s expected to succeed, however, many children can’t become literate. The causes and reasons are several and, among them, we can highlight the problems psychomotor. In the process of learning, lateral dominance is one of the prerequisites for literacy, therefore, when a child has difficulties with the development of learning, may be related to psychomotor development. The brain is divided into two hemispheres: right and left. Each hemisphere controls the movements of the opposite side of the body and uses different processing strategies. The right hemisphere is responsible for functions such as: speaking, writing, reading, mathematics and logical reasoning. The left hemisphere is responsible for: face recognition, creativity, musical sense and intuition. The motor area is located in the frontal lobe and is responsible for planning and execution of voluntary motor acts. Key-words: literacy; lateral dominance; brain hemispheres. 1.Introdução O objetivo desta pesquisa bibliográfica é fazer um estudo sobre alfabetização e a importância da dominância lateral durante o período da Educação Infantil, ou seja, de 0 a 6 anos. É notório que o desenvolvimento psicomotor da criança deve ser bem trabalhado nessa faixa etária, pois, caso contrário, podem ocorrer sérios comprometimentos relacionados à alfabetização. Sabe-se que durante o crescimento, a noção de dominância lateral irá definir-se, se será o lado esquerdo ou lado direito. A maioria dos estudos indica que a dominância lateral surge na criança, por volta dos 2 a 3 anos, reconhece entre 5 ou 6 anos, mas só aos 6 ou 7 anos, a dominância lateral está praticamente definida. A dominância lateral se faz por predominância de um hemisfério cerebral sobre o outro, refletindo na predileção e um lado do corpo para uma movimentação melhor realizada. Atualmente, neuropediatras, psicopedagogos, psicólogos, fonoaudiólogos, pedagogos e outros profissionais, envolvidos na área de educação, reconhecem a importância do desenvolvimento psicomotor durante os primeiros anos de vida da criança, Neto (2002). Até aos 6 anos de idade, aproximadamente, a criança vai desenvolvendo aspectos psicomotores por meio de atividades que estimulem a 6 exploração de conhecimentos relacionados à tomada de consciência do próprio corpo, afirmação da dominância lateral e orientação em relação a si mesmo, que fará diferença no início da alfabetização, Rotta (2006). Diante de tal fato, há uma preocupação em relação aos professores que estão tão empenhados na aquisição do processo da leitura e a escrita que, muitas vezes, não sabem lidar com as dificuldades psicomotoras que as crianças apresentam e acabam rotulando-as com algum distúrbio, sendo que, na verdade, não houve uma adequada estimulação, Jardini (2010). Muitas das dificuldades seriam resolvidas se os profissionais da educação e das áreas afins tivessem um olhar mais atento para o desenvolvimento psicomotor da criança na Educação Infantil, antes do início da alfabetização. 2.Dominância Lateral e Aprendizagem 2.1 Alfabetização Nos dias de hoje, o tema “alfabetização” tem tido uma ampla discussão por parte dos profissionais da educação, envolvendo pais e escolas num todo. Muito se discute sobre o ato de aprender, ou seja, o processo de aquisição da leitura e escrita, como ocorre e como é processado. Portanto, ainda há muito para se discutir sobre como isto acontece, como ocorre o ato de aprender, principalmente, quando se constata o freqüente número de crianças que não se alfabetizam, apresentando dificuldades em decorrência de alterações no processo da aquisição da leitura e escrita. Sabe-se, portanto, que os problemas relacionados são consequências de um processo inadequado de alfabetização, causando sérios problemas, mais especificamente, para os educandos do 1º e 2º anos das séries iniciais. Alguns educadores, tais como: Renata Jardini (2010), Emília Ferreiro e Teberosky (1999), Magda Soares (2003), entre outros, criaram métodos ou metodologias e técnicas referentes à alfabetização. Mas se os professores e principalmente as crianças não estiverem preparadas, no que se refere à psicomotricidade, e se estiver relacionada com a dominância lateral, com certeza, essas crianças apresentarão algum tipo de comprometimento na alfabetização, principalmente 7 as crianças que estão concluindo a Educação Infantil e iniciando as séries iniciais do Ensino Fundamental. De acordo com Simonetti (2007), etimologicamente, o termo alfabetização significa levar à aquisição do alfabeto, ensinar as habilidades de ler e escrever, processo de aquisição do código escrito e das habilidades de leitura e escrita. Já Soares (2003) esclarece que aprender a ler e escrever envolve relacionar sons com letras, fonemas com grafemas, para codificar ou decodificar. Envolve, também, aprender a segurar um lápis, aprender que se escreve de cima para baixo e da esquerda para a direita, enfim, envolve uma série de aspectos e entre eles, a dominância lateral. Sabe-se que a aprendizagem se dá no Sistema Nervoso Central (SNC) e o desenvolvimento do cérebro acontece nos primeiros anos de vida do educando. E este período fará diferença na alfabetização, se não for bem explorado e trabalhado de acordo com cada fase da infância. Rotta esclarece que: Não há dúvida que o ato de aprender se passa no SNC, onde ocorrem modificações funcionais e condutuais, que dependem do contingente genético de cada indivíduo, associado ao ambiente onde este ser está inserido. O ambiente é responsável pelo aporte sensitivo-sensorial, que vem pela substância reticular ativadora ascendente e é modificado pelo sistema límbico, que contribui com os aspectos afetivos emocionais da aprendizagem (ROTTA, 2006, p. 116). Ainda Rotta et al (1998), o aprendizado é um processo complexo, dinâmico, estruturado a partir de um ato motor e perceptivo, que, elaborado corticalmente, dá origem à cognição. Os distúrbios de áreas específicas do sistema nervoso central (SNC), relacionadas com a noção do esquema corporal, do espaço e do tempo, constituem as bases neuropatológicas das alterações perceptomotoras ou dispatognósicas, das quais poderiam resultar os quadros de dislexia, disgrafia e discalculia. Para Rotta et al (1998), as altas taxas de reprovações em escolares que engressam no primeiro ciclo têm despertado a atenção dos especialistas que atendem crianças em idade escolar. Sabe-se que o aprendizado pode ser afetado por diferentes fatores, dentre eles, o esquema corporal, a coordenação motora fina, a lateralidade e a linguagem em seus diferentes aspectos. Segundo Le Boulch (1986), a escrita, como a linguagem, é essencialmente um modo de expressão e de comunicação. A escrita, antes de qualquer coisa, é um meio de comunicação e um meio de expressão pessoal. Entretanto, a constituição do código 8 gráfico e sua decifração reclamam, por outro lado, a atuação das funções psicomotoras, ou seja, a escrita é, antes de mais nada, um aprendizado motor. Ainda Le Boulch (1986) salienta que o objetivo do trabalho psicomotor é proporcionar a motricidade espontânea, coordenada, rítmica, liberada e controlada para atender as necessidades e as possibilidades da criança ainda na educação Infantil para o seu sucesso escolar. Segundo Fonseca (1995), é de suma importância que a criança seja estimulada no período da Educação Infantil, antes do início do processo de alfabetização, ou seja, antes que a criança seja exposta ao processo de ensino formal. A necessidade de uma escolarização mais precoce vem colocando essas crianças mais cedo na escola e com isto os problemas e dificuldades surgem e preocupam os profissionais da educação e áreas afins. 2.2 Estabelecimento da dominância lateral Vários autores como: Le Boulch (1986), Negrine (1987), Fonseca (1995), Neto (2002) consideram a dominância lateral de suma importância no desenvolvimento infantil e afirmam que muitos problemas relacionados com a fala e aprendizagem, são decorrentes da não definição da dominância lateral. Segundo Fonseca (1996), a dominância lateral tem influências genéticas, assim, nascemos predeterminados a sermos destros ou canhotos. A dominância lateral definida é quando a mão, o pé e olho obedecem a dominância funcional de um lado do corpo, que é determinada pela dominância de um hemisfério cerebral sobre o outro. O que se espera em nível de maturação, é que a dominância lateral ocorra entre 6 e 7 anos de idade. A dominância lateral cruzada é quando há discordância na dominância, pelo menos em um dos órgãos. Dominância lateral ocorre a partir do momento em que os movimentos se combinam e se organizam numa intenção motora, que se impõe e justifica a presença de um lado predominante que irá ajustar a motricidade. Reconhecimento direita-esquerda decorre da assimetria direita/esquerda e constitui uma primeira etapa na orientação espacial e é precedida pela distinção frente-atrás (conscientização do eixo corporal - 6 anos). 9 Ainda Fonseca (1996), durante o crescimento, é natural que se defina uma dominância lateral na criança: se ela será mais forte, mais ágil do lado direito ou do lado esquerdo. A "lateralidade corresponde a dados neurológicos, mas também é influenciada por certos hábitos sociais”. Como descobrir a dominância lateral? Não é fácil e nem difícil, mas é necessário realizar atividades para descobrir a dominância lateral, se ainda não foi definida, pois a mesma é muito importante durante o período de alfabetização. De acordo Canongia (1986), o estabelecimento da dominância lateral surge por volta dos 3 a 4 anos de idade, mas só pelos 6 ou 7 anos é que a dominância lateral se fixa. O estabelecimento da lateralidade se faz por predominância de um hemisfério cerebral sobre o outro. O hemisfério cerebral dominante da motricidade no campo perceptivo-motor é o que comanda os centros de linguagem. O estabelecimento da dominância lateral se faz por predominância de um hemisfério sobre outro. Ainda Canongia (1986), a discriminação da “direita e esquerda" é um conceito muito amplo. Não uma faculdade, mas certo número de realizações em distintos níveis de complexidade, cada um dos quais exige o exercício de diferentes capacidades. A diferenciação entre direita e esquerda requer discriminação que é aprendida pelas crianças bem devagar. A discriminação entre os lados direito e esquerdo do próprio corpo desenvolve-se de forma muito gradual e começa pelos quatro anos de idade mais ou menos. Para Le Boulch (1986), quando uma criança, aos 6 anos, é confrontada com o aprendizado leitura-escrita, o problema psicomotor essencial interessa à organização dos automatismos óculos- manuais que dependem da atividade infantil desde o nascimento, com todas as possibilidades decorrentes. Aos 6 anos, a representação mental do corpo o converte em um objeto do espaço que será à base da descentralização. Mas esta imagem verbalizada e orientada é uma simples imagem reprodutora, estática, portanto, constituída pela associação entre os dados visuais e cinestésicos. Assim, será possível à criança ajustar a sua motricidade às condições atuais do seu espaço de vida e também concluir suas ações de pensamento e, logo, programá-las de acordo com modelos mais ou menos completos. No entanto, a utilização de tal imagem dinâmica, corresponde a um verdadeiro esquema de ação e exige controle da dimensão temporal que, sob seu aspecto perceptivo, representa uma função psicomotora. 10 Quanto à dominância, na medida em que a imagem do corpo “operatório” ocupa o centro de todas as ações realmente efetuadas, ou programadas a partir da representação mental, elas giram em torno do ambiente ou no seu “próprio corpo”, sendo importante interessar-se ainda na Educação Infantil. Para Le Boulch (1982), a criança entre 6 e 7 anos, é capaz de reconhecer direita e a esquerda em outrem, ao mesmo tempo em que a imitação de gestos perde seu caráter de espelho. Também as atividades de expressão e de jogos espontâneos, a coordenação global, num clima tranqüilizado e calmo, desempenha um papel essencial tanto na boa disposição motora global, como no equilíbrio geral da criança. Além disso, estas atividades globais permitem, na maior parte dos casos, a consolidação da dominância lateral e sua conscientização que termina na lateralização direita ou esquerda. É muito importante e necessário à criança ter o lado dominante para a definição de sua dominância lateral. A idade para a definição da mesma, varia de acordo com o meio social onde a criança está inserida ou por meio da estimulação recebida. Por outro lado, há algumas divergências entre os autores sobre idade de uma criança em dominar a direita e esquerda. Como por exemplo: Segundo Jardini (2009), fonoaudióloga e psicopedagoga, afirma que A dominância lateral, que determina se o individuo é canhoto normalmente é atribuída espontaneamente dos 3 a 5 anos. Os destros organizados, que tem pé, mão, orelha, olho, todos dominantes à direita, tem o hemisfério cerebral esquerdo comandando e não têm dúvidas para esta escolha. O mesmo se dá para os canhotos organizados, tendo o hemisfério direito dominando as atividades. O problema ocorre quando a criança não tem opção defenida e ambas as mãos para realizar as atividades. É fundamental, nessas crianças, que a partir dos 3 – 4 anos de idade faça-se um inventário familiar sobre a ocorrência da opção manual, e caso haja indefenição da criança, deve ser pesquisada e eleita a preferência, em várias situações, para ser estimulado o braço de melhor desempenho e “inibido” o outro, ou seja, treinar mais frequentemente o membro eleito. Com correta preensão do lápis, que se faz com uso dos 3 dedos, indicador, polegar e dedo médio, que se denomina “movimento de pinça”. O ser humano é o único capaz de desenvolver esse movimento, sendo superior na escala evolutiva. Para tal, deve-se apoiar o pulso na mesa para realizar o movimento estando o cotovelo paralelo à mesa, nunca erguido (p. 24 e 25). Uma criança só terá condições de reconhecer direita e esquerda a partir de 5 ou 6 anos e a reversibilidade, segundo Fonseca, só depois dos 8 anos que é a possibilidade 11 de reconhecer a mão direita ou a mão esquerda de uma pessoa à sua frente, não podendo ser abordada antes dos 6 anos, 6 anos e meio. Meur e Staes (1984), também abordam o tema lateralidade e dominância lateral com propriedade. Os autores definem, com clareza, a diferença entre ambos, como observamos na citação a seguir: Não devemos confundir lateralidade (dominância de um lado em relação a outro, no nível da força e da precisão) e conhecimento “esquerda-direita” (domínio dos termos “esquerda” e “direita”). O conhecimento “esquerda-direita” decorre da noção de dominância lateral. É a generalização, da percepção do eixo corporal, a tudo que cerca a criança; esse conhecimento será mais facilmente apreendido quanto mais acentuado e homogêneo for à lateralidade da criança. Com efeito, se a criança percebe que trabalha naturalmente “com aquela mão” guardará sem dificuldade que “aquela mão” é à esquerda ou à direita. Caso haja hesitação na escolha da mão, noção de “esquerda-direita” não poderá firmar-se com segurança. Da mesma forma, em caso de lateralidade cruzada, a criança confundirá facilmente os termos “esquerda” e “direita”, por ser ora mais forte do lado direito (por exemplo, o pé), ora mais forte do lado esquerdo (a mão). O conhecimento “esquerda-direita” faz parte da estruturação espacial por referir-se à situação dos seres e das coisas, mas está de tal forma vinculado à noção de dominância lateral que colocamos essa aprendizagem imediatamente após a da lateralidade. O conhecimento estável da esquerda e da direita só é possível aos 5 ou 6 anos e a reversibilidade (possibilidade de reconhecer a mão direita ou a mão esquerda de uma pessoa à sua frente) não pode ser abordada antes dos 6 anos, 6 anos e meio (MEUR e STAES, 1984, p.12 e 13) Segundo Meur e Staes (1984), é válido e muito importante realizar atividades para verificar a dominância lateral da criança ainda na Educação Infantil. As atividades sugeridas pelos autores são: A nível dos membros inferiores (pé) *Do ponto de vista da força: - pede-se à criança que percorra um trajeto com um pé, depois com o outro; o lado escolhido para o primeiro trajeto é muitas vezes o lado dominante, mas a observação dos pulos revelará maior facilidade de um lado: é esse lado que determina a dominância; - convida-se a criança a chutar uma bola após uma corrida de dois a três metros: o pé escolhido para o chute é o dominante; - pede-se à criança que lance com precisão uma bola em um barril colocado a alguns metros: o pé posicionado à frente é o lado forte dos membros inferiores. *Do ponto de vista da precisão: - fazer com que leve, com um pé, uma bola ou uma lata até determinado lugar; 12 - fazer com que desenhe no chão, com um pé: um círculo, um quadrado etc. A nível dos membros superiores (mão) Pede-se à criança que faça diversos gestos do dia-a-dia e observa-se qual a mão utilizada. É evidente que o material apresentado à criança não deve influir na escolha da mão. *Do ponto de vista da força: - lançar uma bola no jogo de “acerte no alvo”; - bater um prego; - abrir uma lata de conserva (a mão dominante segurará o abridor). *Do ponto de vista da precisão: - com uma mão lançar uma bola em um cesto; - distanciar um elástico com o polegar e o indicador; - pregar um alfinete em um mural; - pentear-se; - recortar papel com tesoura; - colar selo em um envelope. No nível dos olhos - por meio do visor de uma máquina fotográfica; - por meio do caleidoscópio; - fazendo apontar: mostra-se um ponto preciso de um cartaz e pede-se à criança que o indique com o dedo, estendendo o braço; - fazendo olhar pelo buraco da fechadura. Pode-se observar: - uma lateralidade homogênea: a criança é destra ou canhota do olho, da mão e do pé; - uma lateralidade cruzada: a criança é, por exemplo, destra da mão do olho, canhota do pé; - uma ambidestreza: a criança é tão forte e destra do lado esquerdo quanto do lado direito; A lateralidade é importante na evolução da criança: - influi na idéia que a criança tem de si mesma, na formação de seu esquema corporal, na percepção da simetria de seu corpo; - contribui para determinar a estruturação espacial: percebendo o eixo de seu corpo, a criança percebe também seu meio ambiente em relação a esse eixo: “o banco está melhor do lado da mão que desenha”. Aconselha-se a não empregar os termos “esquerda” e direita” sem que a lateralidade esteja bem definida (MEUR e STAES, 1984, p. 11 e 12). Ainda Meur & Staes (1984) assinalam que: o intelecto se constrói a partir da atividade física. As funções motoras (movimento) não podem ser separadas do desenvolvimento intelectual (memória, atenção, raciocínio) nem da afetividade (emoções e sentimentos). Para que o ato de ler e escrever se processe adequadamente, é 13 indispensável o domínio de habilidades a ele relacionado, considerando que essas habilidades são fundamentais manifestações psicomotoras. Já Fonseca (1996) destaca o caráter preventivo da psicomotricidade, afirmando ser a exploração do corpo, em termos de seus potenciais uma "propedêutica das aprendizagens escolares", especialmente, a alfabetização. Para o autor, as atividades desenvolvidas na escola como a escrita, a leitura, o ditado, a redação, a cópia, o cálculo, o grafismo, e, enfim, os movimentos estão ligados à evolução das possibilidades motoras e as dificuldades escolares estão, portanto, diretamente relacionadas aos aspectos psicomotores. Todavia, a Psicomotricidade não pode ser analisada fora do comportamento e da aprendizagem e, este, para além de ser uma relação inteligível entre estímulos e respostas, é antes do mais, uma seqüência de ações, ou seja, uma seqüência espaço-temporal intencional. O esquema corporal diz respeito à consciência do próprio corpo, incorporando suas partes posturais e de atitudes, tanto em repouso, como em movimento. É preciso que a criança conheça e compreenda seu corpo para controlar melhores seus movimentos. Meur e Staes (1984). Nessa conscientização de seu próprio corpo, em diferentes posições, o domínio corporal é o primeiro elemento do comportamento e é através do movimento dinâmico que se consegue o controle do corpo tão importante e necessário para o pleno desenvolvimento bio-psico-social da criança. 2.3 O cérebro e os hemisférios direito e esquerdo O cérebro é uma estrutura, localizada no interior do crânio, que pode ser visualizado e manipulado. Sua arquitetura é caracterizada por diferentes células, substâncias químicas como neurotransmissores, hormônios e enzimas (NETO, 2011). O cérebro é divido em dois hemisférios: direito e esquerdo. Cada um dos hemisférios controla os movimentos da parte oposta do corpo. Os movimentos que fazemos com a mão esquerda, pé esquerdo e olho esquerdo são inteiramente controlados pelo hemisfério direito do cérebro. Os dois hemisférios podem sincronizar e dar harmonia aos movimentos, mas um hemisfério não interfere na atividade do outro. Os hemisférios cerebrais são responsáveis pela inteligência e pelo raciocínio. O cerebelo ajuda a manter o equilíbrio e a postura. Segundo Riesgo e Rotta (2006), são dois os hemisférios cerebrais: o esquerdo e o direito. Estão separados e, ao mesmo tempo, unidos pelo corpo caloso. Os hemisférios 14 cerebrais são divididos em lobos, apesar de arbitrários, é de valor didático, para que se possam entender as funções de cada lobo. O lobo frontal tem várias funções. O planejamento da fala está na área de Broca, localizada no giro frontal inferior esquerdo, nos destros, e o planejamento dos atos motores fica na porção mesial do lobo frontal, na área motora suplementar. Também é responsável por todos os movimentos do corpo, na área frontal posterior. No que se refere à aprendizagem pode-se afirmar que o lobo frontal participa da linguagem falada, do controle do humor e dos impulsos, além de todos os aprendizados que envolvam o movimento do corpo. Na criança é um dos últimos lobos a completar a maturação, o que ocorre entre os 5 e 7 anos de idade (RIESGO, 2006, p. 38). O lobo frontal está relacionado com funções intelectuais tais como o raciocínio e o pensamento abstrato; comportamento agressivo e sexual; fala (área de Broca), linguagem e iniciação do movimento, tanto treinado quando postural. A área rotulada como (giro pré-central) inicia especificamente o movimento treinado, e os impulsos desta área motora são conduzidos, ao longo do tracto corticospinal, diretamente aos neurônios motores dos nervos cranianos/espinais. (NETO, 2011). A dominação de um hemisfério do cérebro é mais evidente nas funções complexas, as mais simples, ambos podem controlar. É possível treinar as habilidades da mão não preferencial e torná-la tão hábil quanto à outra. Isto acontece principalmente quando se aprende a tocar instrumentos musicais. Nos outros animais não existe esta lateralidade, não há preferência pelo uso das patas. No artigo de Rotta, Ferreira e Guardiola (1998) destacam que os hemisférios cerebrais possuem funções distintas. Os autores explicam como ocorre o processo: A dominância hemisférica é controlada pelos centros da linguagem que, na maioria das pessoas, se localiza no hemisfério esquerdo, ou dominante, ou maior. Atualmente se atribui ao hemisfério direito um papel importante na percepção do esquema corporal e do espaço gráfico e da construção, já que o hemisfério direito predomina na função de perceber e analisar os modelos visuais. O hemisfério esquerdo predomina em relação à linguagem, mas o direito é mais importante para a percepção das melodias. Também se notam as diferenças entre ambos os hemisférios em relação à memória; o esquerdo está relacionado à memória verbal, e o direito com as localizações espaciais, fisionomias e melodias. Sabe-se da importância dos hemisférios cerebrais para a realização das atividades, independente do que seja. Assencio-Ferreira (2005), aborda o tema como: 15 Os dois hemisférios cerebrais são idênticos quando visualizados macroscopicamente. É impossível perceber diferenças anatômicas grosseiras entre o lado direito e o lado esquerdo. Entretanto, funcionalmente, eles são muito diferentes, existindo atividades nervosas superiores que são desenvolvidas unicamente por um dos lados. O entendimento da localização dos centros cerebrais controladores linguagem/fala/escrita depende da compreensão do conceito de hemisfério dominante, que em 98% da população, é o Hemisfério Cerebral Esquerdo. Os movimentos do corpo (braço e perna) são comandados pelo hemisfério cerebral do lado oposto. Quando uma pessoa é destra, ou seja, tem maior agilidade e força do lado direito do corpo, significa que o hemisfério dominante é o esquerdo. Quando uma pessoa é canhota, o hemisfério dominante é o direito (p.38/39). Segundo Grunspun (1985), constata-se, que sob condições normais, as habilidades manuais, as funções da linguagem falada, escrita e leitura, a visão, o comer e as habilidades dos pés são controlados por um dos hemisférios cerebrais, considerado hemisfério dominante e à função, chamamos de dominância lateral. Conclui-se, portanto, de acordo com alguns autores como: Fonseca (1996), Guillarme (1983), Canongia (1986), Le Boulch (1982) que é de suma importância o estabelecimento da dominância lateral para a criança na primeira infância de 0 a 6 anos. É neste período que ocorrem as maiores e mais rápidas modificações de desenvolvimento. Esta fase é considerada um pré requisito que faz parte da sua aprendizagem e do seu pleno desenvolvimento bio-psico-social. 3. Conclusão Este artigo é o resultado de um estudo, onde abordou-se a alfabetização e a dominância lateral, ressaltando a importância da relação de ambos os temas. Alfabetizar não é uma tarefa fácil e as implicações que ocorrerem durante esta fase, tão importante na vida de uma criança, certamente fará diferença durante o período do processo de aquisição da leitura e escrita. Segundo Fonseca (1995), durante o crescimento é natural que se defina uma dominância lateral na criança: se ela será mais forte, mais ágil do lado direito ou do lado esquerdo. A "lateralidade corresponde a dados neurológicos, mas também é influenciada por certos hábitos sociais”. Como descobrir a dominância lateral? Não é fácil e nem difícil, mas é necessário realizar atividades que possa descobrir a 16 dominância lateral, se ainda não foi definida, pois a mesma é de suma importância durante o período de alfabetização. Para Meur & Staes (1984), o intelecto se constrói a partir da atividade física. As funções motoras (movimento) não podem ser separadas do desenvolvimento intelectual (memória, atenção, raciocínio) nem da afetividade (emoções e sentimentos). Para que o ato de ler e escrever se processe adequadamente, é indispensável o domínio de habilidades a ele relacionado, considerando que essas habilidades são fundamentais manifestações psicomotoras. Sabe-se que as habilidades manuais, as funções da linguagem falada, escrita e leitura, a visão, o comer e as habilidades dos pés, são controlados por um dos hemisférios cerebrais, considerado hemisfério dominante e essa função chama-se dominância lateral. O hemisfério direito controla o lado esquerdo do corpo, responsável pela criatividade, discriminação visuo-espacial e localização no espaço, percepção de perigo, sentido musical e intuição. Pico de maturidade dos dois aos sete anos. Já o hemisfério esquerdo controla o lado direito do corpo, responsável pela linguagem (fala, leitura e escrita), lógica-matemática, informação analítica (organização parte por parte, sequenciação) e planejamento para execução. Pico de desenvolvimento dos seis aos dez anos. Desta forma, pode-se dizer que a questão da psicomotricidade e a hemisfericidade são fatores relevantes e podem comprometer o processo de alfabetização das crianças no período da Educação Infantil e, quanto melhor for à especificidade hemisférica, melhor será o rendimento motor e cognitivo. Por fim, torna-se necessário que os profissionais da educação, envolvidos com a alfabetização estejam sempre atentos às dificuldades psicomotoras que as crianças, desta faixa etária, poderão apresentar, evitando assim, sérios problemas no processo de alfabetização das mesmas. 17 Referências ASSENCIO-FERREIRA, Vicente José. O que todo professor precisa saber sobre neurologia. São José dos Campos: Pulso, 2005 CANONGIA, Marly Bezerra. Psicomotricidade em Fonoaudiologia. Rio de Janeiro: Neotecnica Edição, 1986. FERREIRO, Emília e TEBEROSKY, Ana. Psicogênese da Língua Escrita. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 1999. FONSECA, Vítor da. 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