“Deus vai castigar o mundo”
A entrevista da Irmã Lúcia com o Padre Fuentes
pelo Padre Nicholas Gruner, S.T.L., S.T.D. (Cand.)
Talvez não saibam que a entrevista com o Padre Fuentes foi, possivelmente, a última
entrevista sem restrições da Irmã Lúcia. Foi feita há mais de 50 anos, em 26 de Dezembro de
1957. Perguntarão: mas a Irmã Lúcia só morreu no ano 2005; como é que esta pode ser a sua
última entrevista sem restrições?
Simplesmente porque, a partir de 1960, a Irmã Lúcia não estava autorizada a falar sem
uma licença especial do Papa ou do chefe do Santo Ofício (o Cardeal que estava à frente do que
depois se veio a chamar Congregação para a Doutrina da Fé). Nem o Bispo de Fátima nem o
Bispo de Coimbra podiam autorizá-la a falar. Ela não podia receber pessoa alguma de novo sem
uma licença especial, com a excepção de parentes próximos ou de quem já a conhecia antes de
1955.
Até era difícil para os que a conheciam antes de 1955. Por exemplo, o Padre Aparicio, um
jesuíta que foi seu confessor nas décadas de 1930 e 1940, que deixara a Espanha e foi para o
Brasil, creio que em missão, não tenho a certeza. O Padre Aparicio voltou em 1960 para ver a
Irmã Lúcia, que não foi autorizado. Esteve várias semanas à espera de uma autorização, mas ela
não podia falar com ele sem ser autorizada.
Eu próprio recebi um convite para falar com ela em 1992. Como só os Cardeais podiam
ver a Irmã Lúcia ser autorização especial, o Cardeal Padiyara, da Índia, tomou medidas para eu
falar com ele e com ela ao mesmo tempo.
Mas a entrevista foi cancelada nesse dia. Disseram-nos que ela estava doente, embora
tivesse recebido o Presidente das Filipinas meia hora depois.
Portanto, em retrospectiva, esta entrevista é profética. Quando eu comecei (antes de
termos traduzido as obras de Frére Michel), fizemos uma conferência em Roma, no Vaticano, no
dia da abertura do Sínodo Extraordinário, 24 de Novembro de 1985. Esteve presente nessa
conferência, além de vários padres, o Arcebispo Patriarca de Jerusalém, o Patriarca Latino.
O Patriarca disse-me para continuar a promover a Mensagem e a falar publicamente da
Consagração da Rússia, e ele utilizaria os seus contactos particulares. Até agora, nem ele nem eu
conseguimos, mas pelo menos continuamos a falar nisso.
Mas nesta entrevista com a Irmã Lúcia, ela disse coisas extraordinárias. E quando lemos a
entrevista e meditamos nela, temos muito por onde reflectir. Vou tentar dar-lhes uma ideia.
Aqui devo mencionar que esta entrevista foi atacada desde o princípio. Sugeriram que o
Padre Fuentes, que a fez, tinha-a inventado. Mas o facto é que o Padre Fuentes, antes de a
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publicar, teve licença, teve o Imprimatur do Bispo de Fátima, e também de várias autoridades
eclesiásticas.
Apesar disso, a Diocese de Coimbra difundiu um comunicado anónimo em 1961. Até
hoje, ninguém assumiu a responsabilidade deste comunicado anónimo. Mas por causa desde
comunicado, começaram a dizer que o Padre Fuentes tinha inventado tudo. Até o Padre Joaquín
Alonso, que foi o grande arquivista de Fátima e tinha credenciais de teólogo, que passou os
últimos 16 anos da sua vida a documentar as aparições, a pedido do Bispo de Fátima, ao
princípio acreditou no comunicado da Diocese de Coimbra.
Mas em 1975 disse que o que o Padre Fuentes tinha dito afinal era autêntico; na verdade,
tudo o que constava na entrevista estava de acordo com o que a Irmã Lúcia dissera publicamente
noutras ocasiões.
Perguntaram-me ontem sobre a natureza da documentação de Fátima, e até sobre o
processo de difundir essas informações. Repare-se que o Padre Alonso foi nomeado pelo Bispo
de Leiria-Fátima (D. João Venâncio, o segundo Bispo), para documentar Fátima, de modo a
protegê-la contra os ataques modernistas.
Ele, que tinha 24 volumes preparados, também foi censurado em 1976. O Padre Alonso,
que foi um sacerdote claretiano (creio que temos alguns padres claretianos entre nós hoje; pelo
menos estavam presentes no princípio da semana), tinha 24 volumes com 5.793 documentos
inéditos sobre Fátima. Mas até agora, ou seja, uns 32 anos depois, esses 24 volumes sobre Fátima
ainda estão por publicar. Estavam já na tipografia quando foram cancelados.
E embora nos digam – pelo menos é o que o Cardeal Bertone nos tem dito – que já foi
revelado todo o Segredo, porque é que estes 24 volumes de documentos sobre Fátima ainda estão
por publicar?
Na década de 1990, os dois primeiros volumes foram publicados parcialmente. Cada
volume tem cerca de 800 páginas, mas estes dois volumes ficaram por metade. E isto foi tudo.
Não publicaram mais do que estes dois primeiros volumes, e ainda por cima cortados.
Por aqui já podem ver a fortíssima oposição que Fátima tem suportado. Mas não me
culpem por esta oposição; não fui eu que mandei o Padre Alonso escrever esses livros!
Tive um breve encontro com o Padre Alonso em1981, poucos meses antes de ele morrer.
Os livros de Frére Michel, os seus 3 volumes, baseiam-se muito nas breves obras publicadas do
Padre Alonso, mas há muito mais material que não foi publicado. Foi silenciado.
Assim, não nos surpreende que a própria Irmã Lúcia tenha sido silenciada desde 1960. E,
como hão-de ter reparado, silenciada desde que deu esta entrevista.
O que disse ela naquela altura? O Padre Fuentes começou assim o seu relato: “Quero
contar-vos unicamente a última conversa…” A propósito, quem era o Padre Fuentes? Era vicepostulador das causas de beatificação de Jacinta e Francisco (o postulador normalmente está em
Roma). Por assim dizer, era o postulador no terreno. Era padre na Diocese de Veracruz, no
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México, quando foi nomeado. E tudo o que fez foi certamente apoiado pelo seu Arcebispo, assim
como, segundo creio, pelo Cardeal Primaz do México.
E tudo para nada. Tudo por causa de uma nota anónima! E eu sublinho ‘anónima’ porque
as sociedades Segredas, como a Maçonaria, por exemplo, dão ordens mas ninguém da cadeia de
comando sabe quem deu a ordem. É que numa sociedade Segreda uma pessoa não assume a
responsabilidade pelos seus actos de autoridade. Pelo contrário, numa sociedade aberta, numa
sociedade baseada na lei natural ou seguindo a lei natural, tanto na Igreja como no Estado, a
autoridade que dá uma ordem deve estar disposta a dar o seu nome, a assumir a responsabilidade
pela ordem dada.
Assim sendo, a implicação daquela nota anónima, que veio a causar o despedimento do
Padre Fuentes, tem um defeito fundamental, para não dizer mais.
Foi assim que o Padre Fuentes começou o seu relatório:
“Quero contar-vos unicamente a última conversa que tive com ela, e que
foi a 26 de Dezembro do ano passado (ou seja, de 1957): Encontrei-a no seu
convento muito triste, pálida e macerada; e disse-me.
“Senhor Padre, a Santíssima Virgem está muito triste por ninguém fazer
caso da Sua Mensagem, nem os bons nem os maus: os bons, porque continuam no
seu caminho de bondade, mas sem fazer caso desta Mensagem; os maus, porque,
não vendo que o castigo de Deus já paira sobre eles por causa dos seus pecados,
continuam também no seu caminho de maldade, sem fazerem caso desta
Mensagem. Mas creia-me, Senhor Padre, Deus vai castigar o mundo, e vai castigálo de uma maneira tremenda. O castigo do Céu está iminente”.
Paremos aqui por um momento e situemo-nos em 1957. Doze anos antes houve a 2ª
Guerra Mundial e 50 milhões de mortos. Desde 1957 até ao presente, sem considerarmos, por um
momento, a guerra contra as crianças por nascer, que já fez uns 600 milhões de mortos, tem
havido guerras terríveis e grandes morticínios; embora, segundo se vê nos livros de história, não
aconteceu nada à humanidade desde 1957 que fosse tão destruidor como a 2ª Guerra Mundial.
E qual é este castigo do Céu, que estava iminente? Bem, estamos a vivê-lo. Examinemos
alguns factos. A diferença é que não é tão dramático nos olhos do mundo, e por isso não chega às
primeiras páginas da maioria dos jornais. Em 1960, por exemplo, havia 455.000 padres católicos;
em 1975, havia 405.000 padres católicos; e hoje, no ano 2007, segundo as estatísticas do
Annuario do Vaticano, há cerca de 406,000 padres católicos.
A população católica em 1960 era aproximadamente 700.000.000. Isto são números
oficiais, que podem localizar e consultar, se quiserem. Posso não ser absolutamente exacto, mas
em linhas gerais estou a dar uma ideia correcta. Hoje há mais de mil milhões de Católicos.
Portanto, a população católica aumentou em quase 50%, enquanto que o número de padres
católicos diminuiu em 11%.
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E se virmos as estatísticas sobre a idade média dos padres católicos de hoje, pelo menos
na minha parte do mundo ou na Europa, está a aumentar. Não vou aqui fazer um estudo, porque
devem conhecer os números melhor do que eu, mas as projecções a nível mundial indicam que,
se esta tendência continuar, haverá logo muito menos padres católicos, porque estamos a
envelhecer e alguns de nós aproximam-se do fim da vida, por um processo natural.
A crise na Igreja não se nota apenas no sacerdócio. Por exemplo, na América do Norte,
em 1960, calculava-se que cerca de 70% ou 75% dos Católicos iam à Missa todos os Domingos.
Hoje, a percentagem é de cerca de 25%. Portanto, comparado com o que se passava em 1960, a
frequência da Missa dominical baixou em dois terços
Vejamos ainda outros números: de 1978 a 2004, o número de padres no mundo diminuiu
em 3,5%; o número de religiosos em 27%; e o número de religiosas em 22%. Estes números
estão em contraste com o aumento da população católica. Não sei se houve alguma ordenação
sacerdotal na Irlanda no ano passado; e países como a Irlanda, os Estados Unidos ou o Canadá
não conseguem substituir os padres que deixam de exercer. Estão a importá-los de outras partes
do mundo, incluindo a Índia, embora creia que também aqui haja grande necessidade de padres.
Então qual é este grande castigo que Lúcia diz que foi iminente? Devemos consultar S.
João Eudes para o explicar. S. João Eudes, cita Jeremias (3:14-15), em que Deus diz: “Voltai
atrás, ó filhos prevaricadores… e eu dar-vos-ei pastores segundo o Meu coração”. É uma
passagem famosa, e certamente a conhecem.
S. João Eudes, a propósito, era um santo que não só promoveu a devoção ao Imaculado
Coração de Maria e ao Sagrado Coração de Jesus – foi o primeiro santo a fazê-lo – como também
foi um grande educador de seminaristas e de padres. E ele comentou que, se o Seu povo não
voltassem a Deus, então Deus castigaria o Seu povo, enviando-lhe maus sacerdotes. Que seriam
sacerdotes mais em nome de que na realidade. Que se assemelhariam a lobos devoradores. Isto,
diz S. João Eudes, é o pior dos castigos que Deus nos pode enviar: lobos vorazes como pastores
de almas. E parece que é a essência do castigo iminente a que Lúcia se referiu.
Voltemos ao que escreveu o Padre Fuentes. Lúcia continuou:
“Senhor Padre, o demónio está travando uma batalha decisiva contra a
Virgem Maria. E como sabe que é o que mais ofende a Deus e o que, em menos
tempo, lhe fará ganhar um maior número de almas, trata de ganhar para si as almas
consagradas a Deus, pois que desta maneira o demónio deixa também o campo das
almas dos fiéis desamparado e mais facilmente se apodera delas”.
Aqui Lúcia esboçou o plano do demónio. É, antes de mais, atacar as almas consagradas. E
ao conseguir que abandonem as suas vocações, ou levando-os a subverter as suas vocações, o
demónio conseguirá levar muitas almas para o inferno.
E Lúcia continuou assim:
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“O que aflige o Imaculado Coração de Maria e o Sagrado Coração de Jesus
é a queda das almas dos Religiosos e dos Sacerdotes. O demónio sabe que os
religiosos e os sacerdotes que caem da sua bela vocação arrastam numerosas almas
para o inferno. O demónio quer tomar posse das almas consagradas. Tenta
corrompê-las para adormecer as almas dos leigos e levá-las deste modo à
impenitência final.
“Utiliza todos os truques, chegando ao ponto de sugerir um atraso na
entrada na vida religiosa. O que resulta disto é a esterilidade da vida interior, e
entre os leigos uma frieza (falta de entusiasmo) quanto a renunciar aos prazeres e
dedicar-se totalmente a Deus”.
Repare-se que ela dizia isto em 1957, e, como já referi, entre 1965 e 1970 cinquenta mil
padres deixaram o seu ministério. É, sem dúvida, uma crise como nunca se vira na história da
Igreja.
Mas então ela disse que há soluções? Em primeiro lugar, disse-nos:
“Senhor Padre, não esperemos que venha de Roma um chamamento à
penitência, da parte do Santo Padre, para todo o mundo; nem esperemos também
que tal apelo venha da parte dos Senhores Bispos para cada uma das Dioceses;
nem sequer, ainda, das Congregações Religiosas. Não. Nosso Senhor usou já
muitos destes meios e ninguém fez caso deles. Por isso, agora... agora que cada um
de nós comece por si próprio a sua reforma espiritual: que tem que salvar não só a
sua alma mas também todas as almas que Deus pôs no seu caminho…
“O demónio faz tudo o que está em seu poder para nos distrair e nos retirar
o amor à oração; seremos todos salvos ou seremos todos condenados
“Senhor Padre, a Santíssima Virgem não me disse que nos encontramos nos
últimos tempos do mundo, mas deu-mo a entender por três motivos:
“O primeiro, porque me disse que o demónio está travando uma batalha
decisiva contra a Virgem Maria B e uma batalha decisiva é uma batalha final, onde
se vai saber de que lado será a vitória e de que lado será a derrota. Por isso, agora,
ou somos de Deus ou somos do demónio: não há meio termo.
“O segundo, porque me disse, tanto aos meus primos como a mim, que
eram dois os últimos remédios que Deus dava ao mundo: o Santo Rosário [ou o
Santo Terço] e a devoção ao Coração Imaculado de Maria; e, se são os últimos
remédios, quer dizer que são mesmo os últimos, que já não vai haver outros.
“E o terceiro porque B sempre B nos planos da Divina Providência, quando
Deus vai castigar o mundo, esgota primeiro todos os outros meios; depois, ao ver
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que o mundo não fez caso de nenhum deles, só então (como diríamos no nosso
modo imperfeito de falar) é que Sua Mãe Santíssima nos apresenta, envolto num
certo temor, o último meio de salvação.
“Porque se desprezarmos e repelirmos este último meio, já não obteremos o
perdão do Céu: porque cometemos um pecado a que no Evangelho é costume
chamar >pecado contra o Espírito Santo= e que consiste em repelir abertamente,
com todo o conhecimento e vontade, a salvação que nos é entregue em mãos;
“E também porque Nosso Senhor é muito bom Filho, e não permite que
ofendamos e desprezemos Sua Mãe Santíssima B tendo como testemunho patente a
história de vários séculos da Igreja que, com exemplos terríveis, nos mostra como
Nosso Senhor saiu sempre em defesa da Honra de Sua Mãe Santíssima.
“São dois os meios para salvar o mundo, dizia-me a Irmã Lúcia de Jesus: a
oração e o sacrifício.”
A respeito do Rosário, a Irmã Lúcia disse: " Olhe, Senhor Padre, a
Santíssima Virgem, nestes últimos tempos em que vivemos, deu uma nova eficácia
à oração do Santo Rosário. De tal maneira que agora não há problema, por mais
difícil que seja, seja temporal ou, sobretudo, espiritual B que se refira à vida
pessoal de cada um de nós; ou à vida das nossas famílias, sejam as famílias do
mundo sejam as Comunidades Religiosas; ou à vida dos povos e das nações.
“Não há problema, repito, por mais difícil que seja, que não possamos
resolver agora com a oração do Santo Rosário. Com o Santo Rosário nos
salvaremos, nos santificaremos, consolaremos a Nosso Senhor e obteremos a
salvação de muitas almas.
“E depois, a devoção ao Imaculado Coração de Maria, Mãe Santíssima,
vendo nós Nela a sede da clemência, da bondade e do perdão, e a porta segura para
entrar no Céu.
“Diga-lhes também, Senhor Padre, que os meus primos Francisco e Jacinta
sacrificaram-se porque viram a Santíssima Virgem sempre muito triste em todas as
Suas aparições. Nunca Se sorriu para nós; e essa tristeza e essa angústia que
notávamos na Santíssima Virgem, por causa das ofensas a Deus e dos castigos que
ameaçavam os pecadores, sentíamo-las até à alma. E nem sabíamos o que mais
inventar para encontrarmos, na nossa imaginação infantil, meios de fazer oração e
sacrifícios.
“Uma outra coisa que santificou estas crianças foi a visão do inferno”.
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Uma vez, Francisco estava a conversar com um peregrino, na presença de Lúcia, e o
peregrino perguntou-lhes: “Nossa Senhora disse-lhes que rezassem pelos pecadores?” E Lúcia
deu-lhe uma resposta muito surpreendente. Ela disse, “não”. E Francisco uma vez que estiveram
sozinhos, tentou corrigir-lhe a dizer, “mas em verdade Ela pediu-nos rezar pelos pecadores.”
Lúcia respondeu, “Não; pediu-nos que rezássemos e nos sacrificássemos pelos pecadores”. Nossa
Senhora disse aos pastorinhos em 19 de Agosto: “Vão muitas almas para o inferno por não haver
quem se sacrifique e peça por elas.” Muitas almas.
Já houve quem se interrogasse: como é que a alma de uma pessoa pode ir para o inferno,
só porque eu não rezo por ela? Porque eu não me sacrifico por ela? E a resposta, claro está, é que
essa pessoa vai para o inferno por causa dos seus pecados. Mas para obter a graça do
arrependimento e a graça da conversão, a graça de uma boa confissão, é preciso ganhá-la. É claro
que a graça principal foi obtida por Nosso Senhor, mas, como S. Paulo disse, eu compenso em
mim pela falta dos sofrimentos em Cristo.
Como disse o Papa Pio XII, em Mistici Corporis (Sobre o Corpo Místico de Cristo), a sua
encíclica de 1943, “É um grande mistério, mas verdadeiro, que o número de almas salvas
depende da maneira como os Católicos cooperam com a graça de Deus”. Nossa Senhora disse a
mesma coisa: “Vão muitas almas para o inferno por não haver quem se sacrifique e peça por
elas.”
E portanto quando Nossa Senhora disse-lhes isto, pouco depois os pastorinhos arranjaram
uma corda áspera e grossa; cortaram-na em três partes e ataram-na à cintura. Quando Jacinta a
pôs à cintura, gritou. E Lúcia disse-lhe: “Se dói assim tanto, não a uses!” Ao que Jacinta
respondeu: “Não, quero oferecer este sacrifício pelos pecadores”. Quando Nossa Senhora
apareceu em 13 de Setembro, disse aos pastorinhos: “Deus está contente com os vossos
sacrifícios. Não quer que durmam com a corda à cinta, mas apenas que a usem durante o dia”.
Porque até então, os pastorinhos estavam a usá-la até deitados de noite. Mas como não podiam
dormir assim, Nossa Senhora disse-lhes para não fazerem essa penitência durante a noite. Mas
continuaram a usá-la durante o dia. E, como Lúcia nos conta, santificou Jacinta e Francisco.
Mas Lúcia falou-nos da sua missão. Algumas pessoas perguntam a si próprias porque é
que ela não avisou o mundo a respeito das guerras:
“Senhor Padre, a minha missão não é indicar ao mundo os castigos
materiais que decerto virão sobre a terra se, antes, o mundo não fizer oração e
penitência. Não. A minha missão é indicar a todos o perigo iminente em que
estamos de perder para sempre a nossa alma, se persistirmos em continuar
agarrados ao pecado.”
Também falou sobre a Rússia nesta entrevista:
“Diga-lhes, Senhor Padre, que a Santíssima Virgem repetidas vezes B tanto
aos meus primos Francisco e Jacinta como a mim B nos disse: >Que muitas nações
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desaparecerão da face da terra, que a Rússia seria o instrumento do castigo do Céu
para todo o mundo, se antes não alcançássemos a conversão dessa pobre Nação.”
Ora a única maneira de alcançar a conversão dessa pobre nação, como já mencionei, é
usar o meio pelo qual Nossa Senhora disse que Deus prometera salvar a Rússia: “Por este meio”,
ou seja, pelo meio da Consagração. Nada mais dará resultado.
Vejamos agora a resposta, não só à mensagem da Irmã Lúcia ao Padre Fuentes, mas
também à Mensagem de Fátima em geral. Houve uma resposta que dizia: “Façamos o que nos
pedem”, que é a resposta certa; e também “Sejamos generosos até onde pudermos” e “Contemos
isto aos outros”.
Analisemos, por uns momentos, algumas das outras respostas. Houve um padre jesuíta
que foi constantemente louvado, o Padre Edouard Dhanis, que era belga, e todos os argumentos
teológicos contra Fátima, dentro da Igreja Católica, reduzem-se aos do Padre Dhanis. Não há
outras objecções; até o Padre Martindale, ou o Cardeal Journet, acabam por se referir aos
argumentos essenciais do Padre Dhanis.
O Padre Dhanis morreu em 1978. Esperaria que os seus argumentos já estivessem hoje
esgotados. Houve uma controvérsia dentro da Companhia de Jesus; o Padre Dhanis escreveu em
1944 a sua primeira objecção a Fátima de uma maneira, como direi, aparentemente moderada
(escreveu sobre este assunto de 1944 a 1953), e foi mesmo censurado pelos próprios jesuítas.
Também havia um padre monfortiano, o Padre Jedin, que o censurou, mas a melhor refutação do
Padre Dhanis foi feita pelos próprios jesuítas da Província de Portugal, especialmente por um que
era professor no Instituto Bíblico, o Biblicum, em Roma que também é dirigido pelos Jesuítas.
Mas, infelizmente, o Superior Geral dos Jesuítas então em exercício imiscuiu-se no caso,
e na prática silenciou os argumentos dos opositores do Padre Dhanis. Este, na opinião da maioria
dos teólogos, Dhanis ganhou, porque aqueles teólogos nunca tiveram conhecimento dos
argumentos contrários, que foram publicados em jornais que não tinham uma grande circulação.
Mas o Frère Michel, no primeiro volume da sua trilogia Toda a verdade sobre Fátima: A
Ciência e os factos, que está hoje esgotado (já é uma obra muito rara, embora ainda tenhamos
alguns), dedicou as últimas 150 páginas a tratar do Padre Dhanis, e de como ele foi refutado.
Talvez a maneira mais simples de explicar o caso – precisaria de mais tempo para lhes
dar todos os pormenores – seja dizer que os confessores da Irmã Lúcia, que também eram
jesuítas, convidaram o Padre Dhanis a ir a Portugal para estudar a documentação primária e, já
agora, para falar com a Irmã Lúcia. O Padre Dhanis recusou, até mesmo ver a documentação;
preferia manter as suas teorias sem verificar os factos.
A posição do Padre Dhanis é mais ou menos esta: Houve realmente um Milagre do Sol, e
portanto não podemos dizer que Nossa Senhora não apareceu em Fátima. Portanto, nada tem a
objectar ao que Lúcia e os pastorinhos disseram em 1917, e aceita mais ou menos literalmente o
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que foi dito. Chamou a isto Fátima I.
Mas depois continua, dizendo que há uma Fátima II, que consiste nas aparições de 1925 e
1929, e assim por diante, e, também, inclui as aparições do Anjo em 1916 na Fátima II. Porque,
como vêem, estas coisas não lhe agradavam.
É isto que acontece com uma Mensagem profética. Deus, como disse, envia um profeta
porque quer corrigir uma ideia errada ou deformada. O profeta é preciso para fazer uma
correcção. Como diz S. Tomás, este é o papel de um profeta. O profeta deve recordar aos fiéis o
que devem fazer, mas já, para salvarem as suas almas.
O Céu enviou à Igreja uma admoestação, através da Mensagem de Fátima, porque há
certos preconceitos que apareceram na teologia, ou certas escolas de teologia, ou porque inclui
pessoas com outros tipos de preconceito, como sendo os de origem política.
Por exemplo, há quem pense que podemos salvar o mundo na ordem natural desde que o
Governo faça tudo. Há muitos nomes para isto, mas o facto é que há uma doutrina social católica
que diz que não é bem assim, Chama-se a isso, entre outras coisas, o princípio da
subsidiariedade: Deus tem muitos níveis de autoridade no mundo e na Igreja, e essa autoridade
deve estender-se ao nível mais baixo possível.
Por exemplo, numa sociedade civil o chefe de família não depende do Presidente da
Câmara para decidir onde vai pôr a cama no seu quarto. É um assunto que é decidido pelo chefe
da família, sem dúvida depois de consultar a mulher; assim como são outros assuntos domésticos
e como se devem fazer as coisas no seu lar. E basicamente chegou aqui e parou. Os ingleses têm
uma expressão: “O homem é rei na sua casa”, ou seja, é rei do seu próprio castelo. Assim, cada
nível de autoridade tem o princípio da subsidiariedade (que é o termo usado na teologia por Pio
XI).
Há quem pense que a ideia de um Governo central, que trata de tudo e manda em todos e
diz-lhes exactamente o que devem fazer em todas as situações é uma solução para os problemas.
Sem discutirmos os prós e os contras de todas as teorias sociais, a verdade é que algumas destas
teorias influenciam a maneira como os teólogos vêem as coisas restantes, incluindo a Mensagem
de Fátima. E preferem impor à Mensagem de Fátima os seus preconceitos: não pode ser a Rússia;
a Rússia não pode ser a fonte de todos esses erros; a Rússia não está a espalhar os seus erros pelo
mundo; a Rússia não causou a 2ª Guerra Mundial; e assim por diante.
Há um livro que nós não temos aqui, mas que lhes recomendo muito. Foi escrito por
Cornélia Ferreira e chama-se The New World Order (A Nova Ordem Mundial). É um livro muito
pequeno, mas metade dele consiste num capítulo intitulado “Rakovsky”. Rakovsky era um
homem bem perigoso; e o capítulo é, na realidade, a descrição do seu interrogatório numa prisão
de Stálin, onde estava a jogar a sua própria vida. E de facto, descreve como a 2ª Guerra Mundial
foi começada exclusivamente pela Rússia; diz como haviam de proceder para começar a guerra.
É interessante, para não dizer mais, o facto de a entrevista ter sido feita na noite de 25 para 26 de
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Janeiro de 1938, na mesma altura do Grande Sinal no céu predito em Fátima para assinalar que a
2ª Guerra Mundial não tardaria a começar.
Devo avisá-los de uma coisa, antes de lerem este capítulo: vão reviver uma conversa entre
dois homens muito perigosos. Até eu me deixo levar de tal maneira pela lógica que tenho que
recusar e dizer: “Mas isto é mau”! Mas não há melhor maneira para compreender como eles
pensam e actuam: está tudo ali. Esta entrevista é muito elucidativa para compreendermos o modo
de pensar do inimigo.
E assim, em vez de sobrepormos os nossos preconceitos à Mensagem de Fátima e
impormos o que Frère Michel aponta como uma “solução modernista” para os problemas,
deixando intactos os nossos preconceitos, devemos abordar Fátima por meio da interpretação –
como Santo Agostinho nos diz que interpretemos a Bíblia. Santo Agostinho diz-nos que o
caminho para interpretar a Bíblia é a primeira interpretação óbvia, a interpretação literal. Diz que
devemos interpretar a Bíblia literalmente, a não ser que se oponha à recta razão ou contrarie a Fé.
E se abordarmos a Mensagem de Fátima tendo presente essa regra, podemos compreendêla. Por outro lado, se abordarmos a Mensagem de Fátima com os preconceitos do homem
moderno, sejam eles preconceitos teológicos ou políticos, a Mensagem de Fátima fica distorcida.
Infelizmente, é isto o que parece ter acontecido; em primeiro lugar, a definir Fátima como uma
revelação privada, em vez de uma revelação pública e profética. E isto leva a uma ideia que se
implanta na cabeça: “Bem, podemos pôr isso de parte, porque, afinal, não é mais do que uma
revelação ‘particular’”.
Ora bem, não é uma revelação particular. Foi autenticada pela Igreja; foi confirmada por
um milagre público, observado por 70.000 pessoas; e a Mensagem é endereçada a toda a
humanidade, como o Papa João Paulo II disse. Portanto, a Mensagem não é, de modo nenhum,
particular; é pública.
Mas se quiserem começar a partir do preconceito – “Bem, eu não gosto desta parte da
Mensagem de Fátima, e portanto não a vou aceitar” – deixem chamar-lhes a atenção para o facto
de que, quando vamos a esta Mensagem, creio que devemos levar-lhe a graça do nosso Rosário
diário.
Tomemos o exemplo dos discípulos a caminho de Emaús, no dia da Ressurreição. Nosso
Senhor apareceu a estes dois discípulos, mas eles não O reconheceram. Como dizem as Sagradas
Escrituras, “tinham os olhos velados” (Lucas 24:16). E assim, viram-n’O, de certa maneira, da
maneira que a sua fé era. A sua fé era incompleta.
E Ele perguntou-lhes: “Porque estais tristes?” Responderam-lhe: “Não ouviste falar do
grande profeta que os sacerdotes mandaram matar? Serás o único peregrino em Jerusalém que
não ouviu falar disto?” E assim Ele começou a falar-lhes das Sagradas Escrituras, explicando-as
e como profetizavam que Cristo, o Messias, deveria sofrer e morrer pelos nossos pecados. E eles
começaram a compreender. Tinham fé em Nosso Senhor, mas não tinham muita compreensão
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dela, e por isso Ele explicou-lha. Mas os seus olhos ainda não estavam bem abertos, e ainda não
reconheciam Nosso Senhor. Chegaram a Emaús, que era o seu ponto de destino.
Nosso Senhor fingiu que queria prosseguir, mas eles insistiram em que ficasse, dizendoLhe: “Fica connosco, já está a entardecer”. Ao insistirem em que ficasse, mostraram a sua
amizade. E então partiram o pão. E na altura em que partiam o pão com Nosso Senhor, os seus
olhos abriram-se (cf. Lucas 24:13-31)
Qual era a diferença? A diferença foi que mostraram caridade, que praticavam a caridade,
e ao praticarem o que tinham aprendido, os seus olhos abriram-se. E parece-me que o mesmo se
aplica à compreensão da Mensagem de Fátima; por isso é que Nossa Senhora insistiu que
rezássemos o Rosário. Se rezarmos o Rosário enquanto estudamos a Mensagem de Fátima, os
nossos olhos abrir-se-ão mais.
Eu conheço os meus preconceitos; contrapondo-os uma e outra vez à Mensagem de
Fátima, passo a ver coisas que dantes não via. E assim, creio que esta é a resposta que devemos
adoptar, especialmente porque há tanta gente a querer apresentar-nos outra solução.
A Igreja enfrenta estes inimigos mortais, sejam eles os Protestantes, ou os Maçons, ou os
Comunistas, ou quaisquer outros adversários da centena que existe. Como Santo Agostinho nos
disse, só há, na realidade, duas cidades; ou dois estandartes, como dizia Santo Inácio: o
estandarte de Cristo (Santo Agostinho chamava-lhe a Cidade de Deus) e o estandarte do demónio
(A Cidade do Homem, como Santo Agostinho lhe chamou), como se lê no retiro de Santo Inácio.
E estas duas cidades ou civilizações foram construídas com o fim de servir a Deus, ou de servir
os interesses pessoais e, em última análise, do demónio.
E assim reduzem-se toda a inimizade do mundo, como lemos nas Sagradas Escrituras, no
3º capítulo do Génesis: “Porei inimizade entre ti e a Mulher, e a tua semente e a d’Ela. Ela
esmagar-te-á a cabeça, e tu atirar-te-ás ao calcanhar (Génesis 3:15) E como disse o Cardeal inglês
Manning no Século XIX, todos os conflitos são baseados nesta única inimizade. E assim, como
Lúcia disse, temos de escolher um dos lados e ser ou pelo demónio, ou por Deus. Não há meio
termo.
E uma das maneiras de distinguir, do qual lado uma pessoa está, é-nos contada nas
Sagradas Escrituras e no 4º Mistério Gozoso quando Simeão diz a Nossa Senhora: “A tua alma
será trespassada por uma espada, para que, de muitos corações, se revelem os pensamentos”
(Lucas 2:35). Muita gente diz que ama a Deus, que ama a Nosso Senhor, mas não amam a Nossa
Senhora. E esta é uma maneira de determinar se uma pessoa é ou não por Deus. A alma de Nossa
Senhora foi trespassada e Ela sofre porque as pessoas não A amam. Eles rejeitam-n’A e rejeitam
a Sua Mensagem. E isto revela os pensamentos ocultos de muitos.
Isto não é para julgarmos ninguém, mas devemos ser inocentes como as rolas e sábios
como as serpentes. Nosso Senhor disse-nos que nos ia enviar como ovelhas entre lobos. (Mt.
10:16). Por isso, devemos manter-nos alerta. A Mensagem de Fátima é o plano de Nossa Senhora
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para a vitória, e Ela vencerá. Ela disse que “por fim, o Meu Imaculado Coração triunfará”. Esta
expressão, “por fim”, aponta para o facto de haver um grande combate.
A maior parte de nós, incluindo eu, não compreendiam que havia, na verdade, um
conflito, porque parte do problema tinha consistido em esconder o conflito, o que levava as
pessoas a adormecerem, por não terem consciência de que as suas almas, e as das pessoas ao seu
cargo, estavam a ser atacadas.
A primeira tentativa para silenciar Fátima foi, de facto, a detenção dos pastorinhos. Só
lhes pediam uma de duas coisas; ou contavam o Segredo, ou negavam ter visto Nossa Senhora.
Se contassem o Segredo que já tinham declarado não estar autorizados a revelar desacreditá-losia como testemunhas, e o mesmo acontecia com a alternativa, dizerem que não tinham visto
Nossa Senhora. Parece muito simples, mas, na realidade, tratava-se de uma tentativa de minar a
credibilidade da Mensagem. Era só o que o Administrador maçónico pedia.
Há várias maneiras de combater. É claro que há um combate físico, entre dois lados, um
dos quais será mais forte. Recordo-me de uma vez em que apanhei um indivíduo a roubar coisas
do meu escritório. Tive de chamar a Polícia. E um dos polícias, um homenzarrão que teria uns
dois metros de altura, disse: “Se isto voltar a acontecer, chame-nos e nós dominamo-lo”. Neste
caso, usava-se força física contra força física.
Outra maneira de combater é usar razões falsas. E se alguém está a usar a razão errada,
precisamos de alguém capaz de pensar bem e exprimir-se bem. É isto o que os advogados, se
trabalharem bem, fazem em tribunal: denunciam a razão errada e mostram a razão certa. E se
encontrarem falsos testemunhos, denunciam-nos como tais.
O combate contra Fátima tem sido nestas áreas: tentando intimidar fisicamente os
pastorinhos e usando razões falsas. Mas há um terceiro método de combater Fátima, que é
silenciá-la. Até 1960, pelo menos na minha parte do mundo, falavam de Fátima às crianças na 2ª
ou 3ª classe. E toda a gente sabia de Fátima.
O Dr. David Allen White é professor de Literatura; foi Protestante antes, mas converteuse. E em1960, apesar de ser Protestante, estava à espera da revelação do Terceiro Segredo. E ele
recorda-se de como ficou desapontado e como as pessoas se sentiram defraudadas e o Segredo
perdeu credibilidade aos seus olhos. É assim: a terceira maneira de silenciar Fátima é, de facto,
simplesmente não falar dela. Não contar toda a história. Não a dar a conhecer e não a defender.
E o Padre Kramer sublinhou que, nesta feroz perseguição que está a vir (que espero que
não aconteça no nosso tempo, mas parece que vem a caminho), querem exterminar o próprio
nome de Cristo, e portanto exterminar quem acreditar n’Ele, para apagar o Seu nome para as
gerações futuras.
Quando nos querem silenciar, a primeira defesa é falar ainda mais alto. Um dia, quando
Nosso Senhor ia caminhando, dois cegos ouviram o barulho da multidão que passava e
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perguntaram: “O que se passa? Que barulho é esse?” E alguém lhes disse que era Jesus de Nazaré
que passava. E eles começaram a gritar: “Jesus, filho de David, tem compaixão de nós!” Os
presentes não queriam ouvir os gritos, estavam a interromper-lhes as conversas, e alguns deles
disseram-lhes: “Calem a boca!” Mas eles gritavam ainda mais alto: “Jesus, filho de David, tem
compaixão de nós!”
Tentaram calá-los, mas a reacção deles era gritar ainda mais alto, até que o Senhor lhes
perguntou: “O que querem que Eu faça?” (Cf. Mt. 20:29-32)
Tem que ser esta a nossa resposta. Temos que falar mais alto, propagar a Mensagem de
Fátima, propagar a história de Fátima.
Nossa Senhora está triste porque nem os bons lhe prestam a devida atenção. Não é que
não queiram rezar o Terço, mas não Lhe dão a atenção que merece. Os bons continuam o seu
caminho sem dar importância à Sua Mensagem.
Creio que é uma questão de prioridades. Há muitas coisas que exigem o nosso tempo. É
verdade que temos deveres quotidianos, orações a rezar todos os dias, tanto pelas nossas almas
como pelas dos outros. Ma é uma verdade que Nossa Senhora de Fátima nos encoraja a rezar
todos os dias o Rosário, e nós devemos rezar o Rosário todos os dias. E, portanto, a primeira
coisa que devemos fazer é aplicar a Mensagem às nossas vidas.
Mas também há muitas abordagens pastorais diferentes. E estou certo de que muitas, se
não todas, são boas. Mas devíamos focar-nos em Fátima como a nossa prioridade. Como disse o
Papa Leão XIII, todas as graças vêm até nós de Deus Pai, passando pela Humanidade Sagrada de
Jesus Cristo, através da Santíssima Virgem Maria. Até as graças dos Sacramentos nos vêm pelas
mãos da Santíssima Virgem Maria.
Se todas as graças vêm através d’Ela, então Ela deve ser importante tanto na nossa vida
espiritual como nas vidas espirituais das pessoas que nos foram confiadas. É preciso para nós, ao
nível prático de cada dia, dar-Lhe a devida importância.
Mas note-se que até nos maiores planos para a paz, nos nossos países, nas nossas
comunidades, nas nossas dioceses, e sem dúvida em todo o mundo, não devemos tentar resolver
estes problemas apenas por meios naturais. É verdade que Deus espera que usemos os meios
naturais indicados, com prudência, mas isso não chega. A não ser que o Senhor construa a casa,
os trabalhadores trabalharão em vão. A não ser que o Senhor guarde a cidade, os guardiães
estarão vigilantes em vão. (Salmo 126:1)
Recentemente comemorou-se aqui, na Índia, o seu Dia Nacional, e eu vi nos jornais as
fotografias dos mísseis e do poder do Estado Indiano. Mas para utilizar os termos do Salmista
nas Sagradas Escrituras, a menos que o Senhor guarde a cidade, todas estas coisas serão inúteis.
Portanto, se queremos que o Senhor guarde o nosso país, devemos ser fiéis a Ele, devemos estar
do Seu lado. E a maneira de assim ser é, acima de tudo, viver e promover a Mensagem de Fátima
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sempre que pudermos.
Como Lúcia nos disse: “não esperemos que venha de Roma um chamamento à
penitência, da parte do Santo Padre, para todo o mundo; nem esperemos também que tal apelo
venha da parte dos Senhores Bispos para cada uma das Dioceses; nem sequer, ainda, das
Congregações Religiosas.” Não devemos ficar à espera.
Será isto um incitamento à revolta contra o Papa ou contra os Bispos ou contra os
religiosos? De modo nenhum. Não estamos proibidos de aceitar e viver e difundir a Mensagem
de Fátima. Como disse S. Paulo, não há leis contra estas coisas, assim como não há leis contra a
caridade, a alegria, a paz, a continência, a fé, e a castidade. Não há leis contra estas coisas, e não
pode haver lei ou autoridade da Igreja que nos proíba de falar em Nossa Senhora de Fátima e na
Sua Mensagem, porque, afinal, a própria Igreja as aprovou.
Toda a autoridade na Igreja foi dada para que seja espalhado o Evangelho, e não para que
seja abafado. E não há lei nenhuma que nos impeça de dizer ao nosso povo que reze o Rosário.
Não há lei nenhuma que nos impeça de dizer ao nosso povo que jejue. Não há lei nenhuma que
nos impeça de os encorajar a fazer Horas Santas. Podemos e devemos fazer tudo isto.
E Lúcia disse-nos que, nos tempos que correm, não devemos esperar até que alguém nos
diga para o fazermos.
Se Deus os fez compreender a Mensagem de Nossa Senhora até este ponto, usem as
graças que têm, ponham a trabalhar as graças recebidas, como S. Paulo disse a Timóteo (1
Timóteo 4:14). Usem essas graças para promover a Sua Mensagem e para diminuir a tristeza de
Nossa Senhora. E não nos deixemos ficar à parte, por considerarmos sem importância a Sua
Mensagem. É da maior importância. Devia ser a nossa maior prioridade, depois dos deveres
perante o Estado que nos são definidos, porque a Mensagem de Fátima não se opõe a nenhum
deles.
Irei falar mais sobre a Mensagem quando me referir ao Movimento de Sacerdotes por
Fátima. Quem quiser compreender melhor aquilo que tenho dito sobre este assunto, encontrará
tudo neste livrinho, O Movimento de Sacerdotes por Fátima.
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“Deus vai castigar o mundo”