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AVM – FACULDADE INTEGRADA
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I
DE
LICENCIATURA EM PEDAGOGIA
DO
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EN
TO
PR
OT
AXÉ NA EDUCAÇÃO INFANTIL
DIANA MATTOS DA SILVA
PROF. DR. VILSON SÉRGIO DE CARVALHO
RIO DE JANEIRO
2O11
2
AVM – FACULDADE INTEGRADA
LICENCIATURA EM PEDAGOGIA
AXÉ NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Apresentação de monografia ao IAVM como
requisito
parcial
para
obtenção
do
grau
licenciatura em Pedagogia.
Por Diana Mattos da Silva
Orientador: Prof. Dr. Vilson Sérgio de Carvalho
Rio de janeiro
2011
de
3
AGRADECIMENTOS
Aos
meus
queridos
incentivadores,
amigos,
familiares e professores, que sempre me apoiaram
e contribuíram com os meus estudos e trabalhos
voltados para implementação da lei 10.639 em meu
trabalho docente.
4
DEDICATÓRIA
Ao meu Pai celeste, aos meus avós e pais, já
falecidos, mas que me forneceram durante a sua
breve estada nesta vida, formação moral e estrutura
necessárias para a minha formação como ser e,
que são hoje motivo de muito orgulho e verdadeira
saudade, fonte de toda inspiração para a minha luta
diária.
5
EPÍGRAFE
“ Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de
sua pele, ou por sua origem, ou sua religião. Para
odiar , as pessoas precisam aprender; e, se elas
podem aprender a odiar, podem ser ensinadas a
amar, pois o amor chega mais naturalmente
coração humano do que o oposto”
Nelson Mandela
ao
6
RESUMO
Esta pesquisa aponta uma forma possível de aplicar a lei 10.639, já a
partir da Educação Infantil, através da utilização dos valores civilizatórios
africanos. Seus capítulos abordam a importância da implementação desta lei além
de explicar porque a Educação Infantil é uma fase propícia para esta
aprendizagem, assim como revelam as contribuições que a utilização dos valores
africanos trazem para o desenvolvimento infantil.
7
METODOLOGIA
Foi feita uma pesquisa pura, com a utilização de material bibliográfico, com
referência em temas voltados para a cultura afro brasileira, constantes em livros e
revistas que tratam do tema.
8
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
08
CAPÍTULO I – MAMA ÀFRICA -CONHECER A LEI E RECONHECER SUA
ORIGEM
11
CAPÍTULO II – EDUCAÇÃO INFANTIL – FASE DE DIVERSIDADE E
DESENVOLVIMENTO
17
CAPÍTULO III – CULTURA AFRO – O VALOR NA EDUCAÇÃO INFANTIL
25
CONCLUSÃO
37
BIBLIOGRAFIA
40
9
INTRODUÇÃO
Este trabalho visa mostrar a importância do conhecimento referente à cultura
afro-brasileira para o educando desde que este ingresse na Educação Infantil,
visto que, a sociedade brasileira em sua formação, recebeu importante influência
africana, no entanto,a mesma por um forte domínio europeu, vem perdendo o seu
valor de cultura, sendo folclorizada. O conhecimento sobre cultura afro-brasileira é
incoerente e, na maioria das vezes, ignorado e esquecido.
Pensando em minimizar as diferenças, através do aumento do conhecimento
referente a cultura afro-brasileira e, conseqüente respeito à cultura de um povo
que se vê muitas vezes sem um referencial, pois não encontrando um parâmetro
de identificação, assume um padrão que lhe é imposto. Então surge a urgência
em inserir-se o tema a partir da Educação Infantil, período em que o aluno
começa a encarar o diferente com respeito, a enxergar a diversidade sóciocultural brasileira e valorizá-la como patrimônio do seu povo.
A criança a partir os dois anos de idade, começa a perceber as diferenças
entre os seres. Então, na Educação Infantil é possível começar a se
desenvolverem os conceitos de identidade e alteridade, tão importantes para o
desenvolvimento do indivíduo, quanto para o desenvolvimento da sociedade, já
que, no caso da tão massacrada população afro descendente este processo de
construção da identidade torna-se ainda mais árduo, pois é uma verdadeira
garimpagem para resgatar valores e conhecimentos culturais visando reconstruir
e restabelecer conceitos que foram erroneamente distorcidos.
A inclusão do estudo de cultura afro brasileira desde a Educação Infantil, vem
a favorecer o desenvolvimento da sociedade como um todo, visto que, a formação
da identidade individual gera a construção da identidade coletiva. E a escola,
10
ciente de que educação e aprendizagem fazem parte de um processo, devem
reverter paradigmas a fim de favorecer o conhecimento dessa diversidade
cultural, assim como oferecer um novo olhar, com novas formas de visualizar a
cultura brasileira.
Garantir a criança um ambiente rico em possibilidades de exploração e
convívio com a diversidade étnico-cultural, é estar garantindo o desenvolvimento
social mais saudável em que as relações humanas desenvolvam-se muito melhor,
com menos ranços sociais estereotipados. Compreender a diversidade nesta fase
da vida ajudará e muito no desenvolvimento humano do indivíduo.
Desta forma, este trabalho quer mostrar que, o trabalho com cultura afrobrasileira, contribui não somente com a questão da formação da identidade do
aluno negro, mas para uma nova perspectiva para a educação, que é o olhar afro,
como novo ponto de visão educativa, que encara o indivíduo como um todo. Este
novo olhar exige muita criatividade para utilizar novas formas e estratégias para
combater ao ideário racista.
O fazer pedagógico deve receber uma nova orientação, buscando agregar a
todos de forma que usufruam das mesmas oportunidades, com igualdade de
condições a fim de que chegue ao exercício pleno da cidadania. Este deve ser o
objetivo da escola sob um novo olhar.
Desta forma, este trabalho, visando cooperar um pouco com este processo
estará dividido em três capítulos que se apresentarão da seguinte forma:
O primeiro capítulo propõe-se a apresentar o porquê do ensino de cultura afro
brasileira, a sua importância para a sociedade brasileira; o segundo capítulo
analisa porque estes conhecimentos devem ser tratados já a partir da Educação
Infantil; e, o terceiro capítulo demonstra como pode ser feito o trabalho com
cultura afro brasileira na Educação Infantil através da utilização dos valores
civilizatórios africanos.
11
CAPÍTULO I
MAMA ÁFRICA
CONHECER A LEI E RECONHECER SUA ORIGEM
( Há também que o leão ter o direito que contar sua história)
Provérbio africano
Um vínculo placentário une o Brasil ao continente africano devido à ligação
umbilical construída em dois terços do tempo de existência do nosso país.
Porém,a visão eurocêntrica imposta pelo colonizador cria uma esfinge social, o
que vem dificultando o reconhecimento do negro como sujeito no processo de
construção deste país.
A participação do povo africano neste processo não se deu ao acaso. Os
africano foram trazidos por terem conhecimentos específicos, assim a história do
negro deve ser contada sob uma perspectiva atlântica diasporana, encarando a
diáspora como um processo. Segundo OLIVEIRA(2003):
“Na diáspora africana, o que vem para o Brasil não é a estrutura
físico-espacial das instituições nativas africanas, mas os valores e
princípios negro-africanos. É a isto que doravante chamaremos de
aspectos civilizatórios”(p.83)
12
Assim sendo, esta incapacidade de reconhecer as matrizes formadores da
sociedade brasileira justificam a instituição da lei 10.639/03 que estabelece a
obrigatoriedade do ensino de História da áfrica e Cultura Afro-brasileira nas
instituições de ensino
e da criação das Diretrizes Curriculares Nacionais da
Relações Étnico-Raciias e para o Ensino de História e Cultura Afro- Brasileira,
visando minimizar os danos causados por séculos
de exclusão em uma
sociedade extremamente excludente.
A conquista do direito à história, cumpre a um direito previsto na Constituição
Federal em seus artigos 5º, 206-210; 1º do 242/ 215 e 216, bem como nos
artigos 26, 26-A e 79-B na lei 9.394/96 de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional que asseguram direito á igualdade de condições de vida e de cidadania,
assim como garantem igual direito às histórias que compõem a nação brasileira.
Todos estes dispositivos legais corroboram para que, Estado e sociedade
tomem
medidas visando ressarcir os descendentes de africanos dos danos
causados por séculos de escravidão e negação à sua origem e história.
Transtorno estes que não atingem somente aos afro descendentes, mas a
sociedade como um todo que perde com isso seu eixo formador.
As lutas, não apenas no Brasil, como também em outros povos africanos,
segundo PEREIRA(2006), são fundamentais para o devido entendimento de todo
o processo aqui fundamentado, como cita o autor:
“Todos, como nosso país, for para nós no Brasil é particularmente
importante a referência e o conhecimento das lutas de libertação
que levaram à independência de Angola, Moçambique, Guiné
Bissau, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe. Em colônias
portuguesa
oficial.”(p.16)
e
guardam
ainda
o
português
como
língua
13
Muito pouco foi publicado ou é conhecido no Brasil sobre estes fatos. Essas
lutas tornaram-se um marco para os estudos sobre cultura africana, à partir
destes estudos o tema virou alvo de especialistas no assunto.
Três eventos contribuíram para o aprofundamento nos estudos sobre cultura
africana: o Seminário de Dakar, em 1961; o 1º Congresso de Africanistas no
gana, em 1962 e o Seminário Dar- es Salam na Tanzânia, em 1965. Devido a
este aprimoramento intelectual criou-se um movimento mundial e elaborou-se um
documento oficial sobre historiografia africana, como continua no revelando A.
PEREIRA.
Então conhecer os fatos históricos de um povo é essencial para traçar seus
dados identitários. Como nos diz OLIVEIRA (2003):
“A identidade de um povo normalmente é pesquisada quando este
povo passa por problemas de afirmação social ou, pelo contrário,
quando este povo procura por ascendência ao poder social. Tanto
num caso, quanto no outro, ou seja, tanto num contexto de
dominador ou de dominado, a identidade joga aí um papel
fundamental, o de conferir legitimidade”(p.154)
Legitimidade esta que o povo afro descendente brasileiro começa a galgar,
buscando não apenas reconstruir a identidade deste, mas também reconstruindo
a identidade da sociedade brasileira como um todo, uma vez que esta assegura a
identidade cultural do povo, que concebe muitas vezes, cultura como folclore.
A lei 10.639 reconhece essa legitimidade e afirma a relevância do espaço
escolar para a formação da cidadania. E. PEREIRA(2010) cita dois aspectos
importantes sobre a interferência da cultura africana na cultura brasileira. O
primeiro é o de conhecer o histórico da chegada das diversas culturas africanas
ao Brasil e, em segundo, os desdobramentos desta infusão cultural desde o
passado até o presente.
14
Reforça a tese de E. PEREIRA(2008)
o fato exposto por ele na revista
Diálogo, de ser importante a aprendizagem da cultura afro brasileira na vertente
da diversidade, pois os vários modelos africanos geram várias formas
diferenciadas de cultura. Toda essa diversidade representa dentro da escola, um
enriquecimento às práticas educacionais voltadas para a democracia, já que,
segundo o autor, ajuda a desenvolver cidadãos cientes da responsabilidade social
e os transforma em atores da história.
“Reconhecer as especificidades dos diferentes contingentes
culturais que dão forma a nação brasileira é uma condição
fundamental para construirmos uma sociedade justa e solitária,
que tenha no diálogo e no respeito ao outro o ponto de partida
para a promoção do bem comum.” (2010 - p.23)
A lei 10.639 vem fomentar um movimento diferente no processo educativo
brasileiro. Se no Brasil, nos anos 30 a 50 houve uma desapropriação da
identidade, afro que foi submetida a um processo de folclorização, como explica
M. SANTANA citando que, os mitos gregos são muito bem aceitos enquanto os
mitos africanos são rejeitados e pior, passam a ser demonizados. A dominância
mítica exerce influência nas visões de mundo, ideologias, utopias e sistemas
pedagógicos. Então, OLIVEiRA(2003) explica que se o mito transforma-se em
norma cultural, a introdução de outros mitos pode, através da escola difundi-los
para que agreguem-se ao sistema dominante, servindo como fonte de renovação
que tratam a diversidade de forma positiva e não como forma de exclusão.
Hà uma questão, a Constituição ( art 206) e a LDB ( art 29) citam “ pleno
desenvolvimento da pessoa” e “ desenvolvimento integral da criança” . E, a
UNESCO possui a Declaração Universal sobre a Diversidade Cultural que
reconhece a identidade cultura como direito da pessoa. O nosso sistema
educacional está voltando-se para preparar os indivíduos para valorizar a
diversidade humana tornando-a um patrimônio da humanidade.
15
O ECA (1990), LDB (1996), PNE ( 2001), Lei 10639 ( 2003), Diretrizes
Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico Raciais ( 2004) ,
Lei 11645( 2008), são instrumentos que vem sendo criados tentando assegurar
uma nova forma de resgate pelos danos causados, ao afro descendente como a
sociedade brasileira .
O Conselho Nacional de Educação contribui para a implementação das leis
no momento em que compartilha as responsabilidades pelos órgãos federativos,
sistemas educacionais e instituições envolvidas. Assim sendo, a educação das
relações étnico raciais, gerencia a aprendizagem para negros, brancos e
indígenas, para
que em conjunto, construam uma sociedade justa , onde o
espaço democrático da escola favoreça a eliminação do racismo, assim como a
emancipação dos grupos.
Para empreender a construção dessas pedagogias é necessário fortalecer
entre negros e despertar nos brancos a consciência negra. Trata-se da ampliação
do foco da aprendizagem para a diversidade, fazendo-se necessário repensar as
relações étnico raciais.
‘Entre os negros poderão oferecer conhecimentos e segurança
para orgulharem-se da sua origem africana; para os brancos,
poderão permitir que identifiquem , as influências , a contribuição,
a participação e a importância da história e da cultura dos negros
no seu jeito de ser, viver e relacionar-se.”(p. 22)
O Brasil, por ser um país multi-étnico e pluricultural, deve ter uma educação
voltada para a inclusão de todos, garantindo o direito de aprender e de ampliar
seus conhecimentos. Ou seja, e educação volta-se no momento para as relações
étnico raciais como mostra o parecer homologado pelo CNE em 2004.
TEODORO (1987) cita que:
16
“A soma das identidades individuais, dentro do contexto
determinado, forma a identidade cultural de um grupo étnico ou de
uma sociedade que transmite pela cultura, pelo ensino e pela
educação. Daí a necessidade do sistema educacional levar em
conta as diversidades que compõem uma mesma cultura a fim de
não criar problemas de ordem psíquica nos educandos”(p.46)
Desta forma, se faz necessário que a escola esteja voltada para romper
preconceitos, rejeitar estigmas e procurar resgatar fatos históricos visando a
valorização de dados culturais, devendo esta transformar-se em espaço de
discussão e reflexão da positividade desta diversidade, que deve ser encarada
como fato natural, de acordo com o processo de constituição da população
brasileira.
Sendo assim, não somente a escola, mas toda a sociedade brasileira, através
de um maior conhecimento dessa diversidade, rompe com um padrão único e
passa a valorar a multiplicidade. Ou seja, daí da posição que cria uma falsa
sensação de igualdade e passa a encarar a diversidade como natural e muito
positiva em suas especificidades.
Aprender sobre essa diversidade, conviver e enfrenta-la é função da
educação escolar.
“A aceitação da diferença como exemplo da diversidade
humana é um dos caminhos para a construção
verdadeiro processo educativo( SKILIAR)
de um
17
CAPÍTULO II
EDUCAÇÃO INFANTIL
FASE DE DIVERSIDADE E DESENVOLVIMENTO
(O conhecimento é como um jardim: se não for cultivado, não pode ser colhido)
Provérbio africano
A escola é o local propício para a formação do cidadão. A Educação Infantil
então, por estar voltada para favorecer o exercício da cidadania e da convivência
deve inserir-se num trabalho voltado para a diversidade humana e igualdade de
direitos, pois as crianças desde pequenas observam diferenças e estas devem,
desde então, aprender a encara-las como naturais à partir do conhecimento da
formação da sociedade.
A LDB em seu artigo 29 prevê que:
“A Educação Infantil, primeira etapa da educação básica, tem
como finalidade o desenvolvimento integral da criança até os seis
anos de idade, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e
social, complementando a ação da família e da comunidade.”
18
Ou seja, de acordo com a LDB, o objetivo principal da educação infantil é
estimular o desenvolvimento mais amplo da criança, que deve acontecer sob a
observância do contexto onde esta esteja inserida. Portanto, nada mais justo do
que inseri-la no contexto da diversidade, que é o contexto constituinte da
sociedade brasileira. Aprender a encarar as diferenças é então, também função
da Educação Infantil.
A Educação Infantil tem um caráter democrático, voltado para a formação da
consciência cidadã, todavia surge a necessidade de garantir a prestação de
atendimento mais amplo, pois independente ao grupo social ou étnico ao qual
atenda a Educação Infantil, este ainda é insuficiente em nosso país. Há também
que se encarar que, considerando a diversidade étnica , a maior concentração da
população negra, não é atendida pela Educação Infantil e que, o atendimento dos
que recebem, geralmente é feito em instituições públicas ou filantrópicas , o que
não vem atendendo a demanda. A Educação infantil deve então favorecer a sua
função de espaço de socialização.
Como bem nos afirma Vigotsky(1998):
“A construção do conhecimento deve levar em conta
o
crescimento social e cultural da criança e do adolescente , que
afeta não apenas o conteúdo, mas também o método de
raciocínio dos estudantes”(p.6)
Portanto, levar em consideração estes fatores históricos formadores da
sociedade brasileira é essencial para a compreensão do processo de
aprendizagem do educando que deve levá-lo a construção de um conhecimento
pautado na sua cultura, uma vez que, como cita o autor é do entrelaçamento
entre o desenvolvimento das funções psicológicas superiores , a sua origem
sócio-cultural e os processos naturais, que são biológicos, que surge o
comportamento da criança.
19
O
autor
relata
ainda
que
aprendizado
e
desenvolvimento
estão
interrelacionados e são necessários à formação do pensamento científico, pois
Vigotsky
aprofunda-se
nos
estudos
da
interação
existente
entre
os
comportamentos sociais e biológicos, sendo este um processo dialético.
Para Vigotsky(2007) essas funções são reforçadas na pré-escola através do
brinquedo e da imaginação, no momento em que esta projeta-se nas atividades
que envolvem a sua cultura, espelhando assim uma atitude que adquirirá no
futuro.
“No brinquedo, a criança projeta-se nas atividades adultas, de sua
cultura e ensaia seus futuros papéis e valores. Assim o brinquedo
antecipa o desenvolvimento; com ele a criança começa a adquirir
motivação,
as
habilidades
e
atitudes
necessárias
à
sua
participação social, a qual só pode ser completamente atingida
com a assistência de seus companheiros da mesma idade e mais
velhos.”(p.113)
A diferença nos estudos de Vigotsky (2007) está exatamente na abordagem
histórico-social que o autor dá ao processo de desenvolvimento humano. Fato
que em muito interrelaciona-se com a importância do estudo de cultura afrobrasileira na Educação Infantil, por esta ser constituinte da nossa cultura, torna
fundamental fazer esta ação já nos primeiros anos de construção do
conhecimento.
Cavalheiro (2007) cita que esta é uma fase fundamental do desenvolvimento
humano, e considera esta educação a base da formação do futuro sujeito social.
É nesta fase que ocorre a primeira socialização do indivíduo, o que torna possível
compreensão do mundo, que deve ser apresentado pela escola e pela família.
Ainda segundo a autora, a experiência escolar amplia e intensifica a socialização
da criança que, e o resultado é a formação da sua identidade que possibilita a
construção da personalidade.
20
Então, Cavalheiro(2007) diz que;
“O entendimento da problemática étnica no cotidiano da Educação
Infantil é condição sine qua non para se pensar em um projeto
novo para a educação que possibilite
o desenvolvimento e a
inserção social dos futuros cidadãos da nação brasileira,
desenvolvendo neles um pensamento menos comprometido com
a visão dicotônica de inferioridade / superioridade dos grupos
étnicos.”(p.37)
De acordo com a autora esta é uma ação preventiva contra possíveis
atitudes de preconceito e discriminação, já que evitam que estas sejam
interiorizadas numa fase em que as crianças estão muito sensíveis a influências
externas. Estas ações devem ser positivas, no sentido de tratar da diversidade
étnica como fato natural dentro do contexto histórico de formação da sociedade
brasileira e, passem a valorizar a sua cultura e os seus fatores étnicos.
Se faz necessário explicar nesta fase a criança, as diferentes características
existentes dentro da nossa sociedade, para que, a partir de então, esta reconheça
e entenda as características que recebe e vê na relação que estabelece com o
outro observando as diferenças e encarando-as com naturalidade.
Para Wallon (2001) , o desenvolvimento da inteligência depende das
experiências oferecidas pelo meio e do grau de apropriação que o sujeito faz
delas. Diz ainda que, a cada estágio do desenvolvimento infantil ocorre uma
reformulação e/ou reorganização dos estágios ocorrendo uma interação entre
sujeito e ambiente. Sendo os estágios:
•
Estágio impulsivo emocional (0 a 1 ano) – predomínio de relações
emocionais com o ambiente, fase de construção sujeito, onde são
desenvolvidas condições sensório-motoras;
21
•
Estágio sensório motor (1 a 3 anos) - predomínio de relações cognitivas
com o meio, A criança desenvolve a inteligência prática e a capacidade
de simbolizar;
•
Personalismo (3 a 6 anos) - predomínio das relações afetivas. Ocorre a
construção da consciência de si, através das interações sociais que
dirigem o interesse das crianças para as pessoas. A criança faz uma
mistura entre o afetivo e o pessoal;
•
Estágio categorial (6 anos) A criança dirige seu interesse para o
conhecimento a conquista do mundo exterior.
Portanto, pelo que nos demonstra Wallon (2001), é na fase da Educação
infantil que a criança inicia o processo de conhecimento de si e do mundo.
Já segundo Evaristo (2006), garantir as crianças um ambiente rico em
possibilidades de exploração e convívio com a diversidade é estar possibilitando
um desenvolvimento saudável no campo das relações humanas, porque através
da observação do cotidiano infantil há comportamentos e questionamentos
comuns da criança em cada fase:
•
Dos 8m aos 2 anos – percebem características físicas;
•
2 e 3 anos – ganham consciência de gênero, cor textura de cabelo e
outros atributos físicos;
•
4 anos – tentam explicar características físicas. Ganham maior
consciência de sua estética e, sobre semelhanças e diferenças;
•
5 anos - começam a construir identidade étnica de grupo, assim como a
sua identidade individual. Começam a perceber as diferenças entre
grupos étnicos e raciais;
22
•
6 a 8 anos – tornam-se conscientes da história construída dia- a dia,
recebem forte influência da mídia e dos adultos e desenvolvem sentido de
pertencimento a um ou mais grupos.
Vê-se que, tanto na teoria de Wallon (2001), quanto as fases expostas por
Evaristo, deixam claro que, esta fase do desenvolvimento em que estão as
crianças durante a Educação Infantil é de suma relevância para a formação da
personalidade.
Como também diz Vigotsky (2007), a imitação é uma forma muito utilizada
pela criança como forma de reconstruir aquilo que observam no outro. Felipe diz
que cabe ao adulto ajudar na construção da autoestima infantil, fornecendo a
criança uma imagem positiva de si, aceitando-a e apoiando-a sempre que for
possível. Segundo os Referenciais Curriculares Nacionais para a Educação
Étnico-raciais a autoestima que a criança desenvolve é decorrente da estima que
se tem por ela.
Também Piaget e Bruner (2008) ,
expressam
que as fases do
desenvolvimento cognitivo são enriquecidas por estímulos. Bruner explica que a
criança tende a representar o mundo com o qual interage em várias etapas que
são para ele:
*Representação enativa – onde a criança representa o mundo pela ação;
•
Representação icônica – onde a criança já possui imagem ou representação
mental dos objetos;
* Representação simbólica – a criança representa o mundo por símbolos;
Bruner 2008) diz ainda que, a idade em que passarão pelos estágios vai
depender do ambiente em que esteja inserida. A criança deve, desde cedo, ser
23
exposta a estímulos variados, que é o que também explica Evaristo (2006),
ressaltando que, as crianças desde pequenas observam as diferenças entre as
pessoas e necessitam de explicações simples e reais.
Já para Piaget (2008), o desenvolvimento acontece em quatro estágios e ,
não há rigidez entre as idades em que as crianças atingiram cada fase, o que
pode variar individualmente. As fases são: sensório-motor pré-operatório,
operatório concreto e operatório formal., mas a criança da Educação Infantil
estaria nas duas primeiras fases que são:
•
Fase sensório – motora (0 a 2 anos) – a criança percebe e age sobre o
ambiente
•
Fase pré – operacional (2 a 6 anos) - a criança desenvolve a capacidade
de simbolizar
Nesta fase Piaget (2008) cita uma variedade de características do pensamento
infantil
como:
egocentrismo,
centralização,
animismo,
realismo
nominal,
classificação, inclusão de classe e seriação. Por todas estas características é
possível perceber que, é nesta fase que a criança começa a realizar uma série de
distinções, devendo-se então, aproveitar para incluir a percepção da diversidade
étnica, que é percebida pela criança, porém não é esclarecida pela sociedade.
Vigotsky (2007) ainda cita outro ponto relevante para o desenvolvimento
social, que é a aquisição da fala. Esta é muito importante dentro do trabalho da
educação Infantil, pois através dela a criança planeja como solucionar um
problema, fala e ações fazem parte de uma mesma função psicológica mais
complexa, é por meio desta que o indivíduo abstrai e generaliza o pensamento.
Consoante com o pensamento dos diversos autores e teóricos apresentados e
, independentemente do grupo social ou étnico ao qual atendam, é necessário
ressaltar que a Educação Infantil deve estar voltada para atender a sua função
24
social de atendimento das necessidades das crianças, como está relatado nas
Orientações e ações para a Educação das relações Étnico Raciais(MEC,2006):
“Que as instituições de Educação Infantil reconheçam seu papel e
função social de atender às necessidades
das criança
constituindo-se em espaço de socialização, convivência entre
iguais e diferentes
e suas formas de pertencimento como
espaços de cuidar e educar, que permita às crianças explorar o
mundo, novas vivências e experiências, ter acesso a diversos
materiais, como livros,brinquedos, jogos, momentos para o lúdico,
permitindo uma inserção e uma interação com o mundo e com as
pessoas presentes nessa
socialização de forma ampla e
formadora.”(p.35)
A LDB Amplia e assegura direitos ao declarar ao declarar que, a Educação
Infantil oferecida em creches e pré – escolas é parte integrante da educação
básica compreendida como a primeira etapa, pois é neste processo de interação
contínua entre o ser e o meio que se constrói o conhecimento.
Segundo Cavalheiro (2007), os estudos apresentados indicam que o sistema
formal de educação brasileira apresenta poucos pontos para a identificação
favorável do aluno negro. Ainda segundo a autora , as pesquisas que se referem
a questões étnicas na Educação Infantil são menores ainda. Eliete Aparecida
Godoy afirma que, as crianças negras nesta faixa etária ainda se sentem
desconfortáveis em assumir sua condição étnica porque, segundo a pesquisadora
as crianças demonstram uma interiorização negativa das diferenças raciais.
A Educação Infantil deve então, oferecer a alunos negros ou brancos a
oportunidade de serem aceitos, respeitados e atuantes dentro da sociedade
brasileira. O desenvolvimento psicossocial se dá neste período da vida, de acordo
com Piaget,(2010) o conceito do “eu” para o autor é o mais importante de todas
as fases da vida. É importante que a criança tenha na escola e em casa modelos
que possa imitar para formar uma autoimagem positiva.
25
CAPÍTULO III
CULTURA AFRO
O VALOR NA EDUCAÇÃO INFANTIL
(Uma filha tola ensina sua mãe a como carregar as crianças)
Provérbio africano
A utilização de uma prática pedagógica que respeite a diversidade cultural,
enfatiza uma postura de combate a discriminação e ao racismo no interior da
escola. O acesso ao conhecimento, a valorização da cultura e dos saberes
sociais, tornam-se a efetivação, a partir da escola de um direito social.
Gomes (2006) destaca que é necessário incluir alternativas pedagógicas
como: literatura, história, geografia, política, arte, memória também pela
perspectiva do povo africano. Cita ainda que,para a escola brasileira a cultura
negra ocupa um lugar na vida social e escolar, haja visto que, fazemos parte de
uma nação miscigenada.
“A cultura negra possibilita aos negros a construção de um ‘nós’,
de uma história e de uma identidade. Diz respeito a consciência
cultural,à estética, à corporeidade, à musicalidade, à religiosidade,
marcadas por um processo de africanidade e recriação cultural.
Esse nós possibilita o posicionamento do negro diante do outro e
destaca
aspectos
relevantes
ancestralidade.”(p.37)
da
sua
história
e
de
sua
26
Sob esta ótica, há princípios básicos que são valorizados dentro da cultura
afro e que são totalmente mescláveis com o processo pedagógico. Ao utilizar os
saberes referenciais afro, estamos saindo do lugar comum e, implementando um
fazer pedagógico que, favorece o desenvolvimento global da criança, seja a qual
grupo étnico pertença, em igualdade de condições galgando alcançar a cidadania
plena.
Circularidade,
oralidade,
corporeidade,
musicalidade,
ludicidadade,
ancestralidade, cooperatividade, religiosidade e axé, que são os valores
civilizatórios africanos e, plenamente aplicáveis à Educação Infantil.
As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação da Relações Étnico
Raciais(MEC,2005) prevê que:
“O ensino de história e cultura afro-brasileira e africana , a
educação das relações étnico raciais , tal como explica o presente
parecer, se desenvolverão no cotidiano das escolas , nos
diferentes níveis e modalidades de ensino como conteúdo de
disciplinas, particularmente, Educação Artística, Literatura e
História do Brasil, sem prejuízo das demais, em atividades
curriculares ou não,trabalhos em sala de aula, nos laboratórios de
ciências e informática , na utilização da sala de leitura, biblioteca ,
brinquedoteca , áreas de recreação, quadra de esportes e outros
ambientes escolares.” (p.21)
Nota-se então que, os elementos estruturadores das sociedades africanas,
são congruentes com as solicitações feitas nos referenciais. Estes elementos são
eixos centrais que estruturavam de forma geral, as sociedades africanas, apesar
das suas especificidades e, mesmo depois da diáspora, foram mantidos por seus
descendentes e são, estruturalmente diferentes dos impostos pelo sistema
colonial português a sociedade brasileira.
27
A visão de mundo africana possibilita a integração social dos seus participantes
e, aplica-la a Educação Infantil estimulará a integração das crianças.
Oliveira(2003) nos explica que , estes elementos criam uma estrutura
organizacional comum aos países africanos, originando uma cosmovisão africana
que sedimenta a organização social política e cultural. Há conforme o autor, um
pensamento sincrônico dos africanos, que constrói um universo, exprime um
entendimento holístico do mundo.
Consoante com a fala do autor, Medeiros (2010) nos expõe que:
“A escola pode contribuir muito para reverter uma lógica
excludente se, de fato, se comprometer com uma proposta que
valorize postos de vista diferentes e que inclua na sua prática,
uma metodologia capaz de desvelar as maneiras encontradas
pelas pessoas e por diferentes povos para se expressar, para
sentir e para viver as suas vidas.” (p.13)
Sendo assim, os elementos que alicerçam a cultura africana, devem entrar na
escola para alcançar o ‘status’ de saber socialmente valorizado. Devemos ter uma
ação pedagógica que valorize e estimule a ação. Estabelecendo correlação entre
os valores civilizatórios africanos e a metodologia proposta para a Educação
Infantil, podemos constatar que são associáveis e aplicáveis, visando o
desenvolvimento globalizado do indivíduo.
Vejamos agora :
Circularidade – O círculo é um fator de profunda relevância dentro da cultura
africana. Neste, princípio e fim tem a mesma ordem, estão hierarquicamente
postos em situação de igualdade.
Piaget (2010) cita a necessidade de um ambiente que estimule a interação,
então a organização das cadeiras, as rodas de leitura, brincadeiras de roda ,
como a dança, são exemplos de situações onde, o círculo reforça a ideia de
igualdade de condições e possibilidades de participação. Este valor pode ser
28
aplicado à Educação Infantil, com grandes ganhos para o processo, pois são
momentos onde a circularidade estimula um trabalho e uma visão
diferenciada da atual.
Neste processo, todos estão em situação de paridade de localização,
possibilidade,atenção, enfim, cria-se um ambiente muito mais acolhedor e
para a criança da Educação Infantil. Craidy e Kaercher (2001) comentam que
o espaço físico e social é fundamental para o desenvolvimento da criança,
pois cooperam para estruturar funções motoras, sensoriais, simbólicas,
lúdicas e relacionais.
Oralidade – esta metodologia valoriza o diálogo, que é um meio de troca de
saberes e tem suma importância dentro da tradição africana. Oliveira (2003)
relata que além de ser a expressão do preexistente, a palavra está
intimamente ligada a uma dimensão histórica. É aqui que ela liga-se ao
conhecimento e sua transmissão.
Vigotsky (2007)
esclarece que , o momento de maior significado no
curso do desenvolvimento intelectual, que dá origem às formas puramente
humanas de inteligência prática e abstrata , acontece quando a fala e a
atividade prática , estão em duas linhas completamente divergentes de
conhecimento e convergem. Para ele, a linguagem ocupa um papel principal,
neste desenvolvimento, pois, além de possibilitar a interação entre os
indivíduos, é através dela que o sujeito abstrai e generaliza o pensamento.
O povo africano trás uma tradição oral muito forte, a palavra tem muito
valor nesta sociedade, pois os saberes são transmitidos pelas gerações
através das palavras e, estas foram incorporadas ao vocabulário brasileiro
que leva a ter uma sonoridade e sotaque característico do povo brasileiro. A
linguagem é um dos aspectos mais perceptíveis da contribuição africana à
cultura brasileira, mas que é muito pouco estudado.
29
Corporeidade – Lima(2009) diz que o corpo é a forma como a pessoa
expressa a sua personalidade e identidade. As manifestações corporais
africanas se davam através da dança e da estética.
Em geral as danças são circulares, o que reforça a ideia de igualdade de
condições e possibilidades de participação. Além da saúde do corpo, as
danças de matriz africana ressaltam a sensualidade e, não se envergonham
da vitalidade e da beleza, o que é motivo de celebração.
Outro aspecto referente à corporeidade, ainda segundo Lima(2009) é a
estética, que para este povo , é utilizada também como forma de expressar
diferentes sentimentos e, foi absorvida pelo gosto da nossa sociedade em
enfeitar o corpo e o cabelo.
A corporeidade, além de lidar com a questão do movimento, tão
necessário e importante na Educação Infantil relaciona-se também com a
questão da auto-estima que a criança está desenvolvendo.
A postura
corporal possibilita uma maneira de estabelecer vínculos. De acordo com as
Orientações e Ações Educativas para as Relações Étnico-raciais (MEC2006):
“Falar em autoestima das crianças significa compreender a
singularidade, de cada um em seus aspectos corporais, culturais e
étnico-raciais. As crianças possuem uma natureza singular que as
caracteriza como seres que pensam e sentem o mundo de um
jeito muito próprio.”(p.44)
As Orientações (2006) citam ainda que, dependendo da forma como é
tratada a questão étnico-racial, as crianças desenvolvem uma postura
positiva ou negativa em relação ao seu corpo, sua cultura e o seu jeito de
ser.
30
Enfim, passar referenciais positivos referentes a cor da pele, aos traços
físicos , aos penteados irá trazer um referencial histórico que deve ser
compartilhado, lembrando que, Vigotsky (2010) cita a imitação utilizada pela
criança como forma de apropriação de padrões sócio-culturais, portanto,
deve-se reconhecer o aspecto integrador e global das vivências corporais
que favorecem a construção da auto-imagem.
Musicalidade – A musicalidade foi algo muito presente na vida dos
africanos trazidos para o Brasil. Foi um dos bens culturais trazidos nos
tumbeiros. Também na Educação Infantil o cotidiano é repleto de
musicalidade.
Conforme Craidy e Kaercher (2001), as crianças aprendem que os sons
se combinam e ela via adquirindo a compreensão dos sons que compõem a
sua cultura e torna-se capaz de utiliza-los em trocas sociais . As autoras
ainda dizem que a música pode transformar-se no momento onde serão
criados os primeiros vínculos.
O manuseio de materiais sonoros também é de suma importância na
Educação Infantil. A percursividade é uma marca dos africanos na nossa
música. Os tambores e outros instrumentos de percussão, são importantes
por associarem-se aos sons do coração, expressando então uma emoção.
Toda esta musicalidade era transmitida no trabalho, na religiosidade e no
lazer.
No desenvolvimento do trabalho da Educação Infantil a educação
musical envolve ritmo, audição e ação, associando-se estreitamente á
questão da corporeidade.
Ludicidade – A ludicidade é encarada numa perspectiva em favor da
vida
e é tida como fatos de existência . Trindade (2007) declara que a
31
ludicidade é o princípio do prazer, alegria e gozo e marcam a cultura
brasileira pois este princípio garante uma alegria de viver.
A ludicidade então se encaixa integralmente ao trabalho da Educação
infantil que tem no brinquedo e no jogo fortes meios para o desenvolvimento
infantil, pois o brincar é uma atividade própria da criança.
Wallon(2007) explica a importância do brincar para a criança e como este
também é um processo em evolução:
•
Brincadeiras são funcionais – são as que tem algum efeito como levantar
ou abaixar;
•
As brincadeiras de ficção – são as que envolvem um faz- de –conta, que
é uma atividade de interpretação mais complexa.
•
As brincadeiras de aquisição – são as que desenvolvem atenção
•
As brincadeiras de produção - as crianças transformam e recriam o
brinquedo.
Ainda segundo Craidy e Kaercher(2001) :
“A criança expressa-se pelo ato lúdico e é através deste atos que
a infância carrega consigo as brincadeiras . elas perpetuam e
renovam a cultura infantil, desenvolvendo formas de convivência
social, modificando –se e recebendo novos conteúdos, a fim de se
renovar a cada nova geração. É pelo brincar e repetir a
brincadeira que a criança saboreia a vitória de um novo saber
fazer , incorporando-o a cada novo brincar.”(p.103)
Declaram ainda que o brincar é uma forma de linguagem, que a criança
que utiliza para construir-se como sujeito, às utiliza na construção de normas
32
para si e para o outro, uma vez que, proporciona a troca de pontos de vista,
a percepção do outro e cria formas de interação.
Vigotsky (2007) declara que o brinquedo fornece ampla estrutura básica
para as mudanças da necessidade e da consciência, conforme a criança
avança em seu desenvolvimento, vai apresentando também mudanças na
sua atividade lúdica. A criança com um nível real e um potencial, então o
brinquedo serve como auxiliar
para atingir a zona de desenvolvimento
proximal da criança e fazê-la avançar em seu processo de aprendizagem.
Ancestralidade – é o princípio da transmissão do conhecimento, pois de
acordo com as tradições africanas, o processo de aprendizagem acontece
durante toda vida, através das trocas em sociedade, pela utilização da
oralidade, o conhecimento é transmitido do mais velho para os mais novos.
O respeito aos mais velhos é um conceito difundido dentro das comunidades
africanas.
Inclusive, nas Orientações e ações para a Educação das Relações ÉtnicoRaciais (MEC,2006) está relatado que o processo de aprendizagem somente
pode acontecer através da interrelação entre novos e velhos visto que estes
, por terem mais tempo de vida contribuem mais para a sociedade.
OLIVEIRA (2003) cita que, sem a tradição não há formação da identidade
e que, é no passado que estão as explicações para o presente. Observamos
então, que a Ancestralidade relaciona-se ao trabalho da Educação Infantil
cooperando com atividades relacionadas ao tempo.
Nas comunidades africanas são os griots responsáveis pela transmissão
da história do seu povo, este insere-se na dinâmica do seu povo, apreende
os significados de cada acontecimentos e os interpreta de acordo com o
tempo presente. Além disso, esta contagem de tempo é marcada pelos
33
fenômenos naturais. A ancestralidade também é marcante na religiosidade,
no culto aos ancestrais.
Oliveira (2003), ainda afirma que:
“A ancestralidade, por sua vez, não é a afirmação do eu, egóico,
narcisista; na ancestralidade o que conta é a história de um povo,
o arsenal simbólico adquirido por este durante
o percurso do
tempo. Quem conta a história do eu é sua tradição. A história do
eu está vinculada à história dos ancestrais. O eu faz parte do
todo e é importante justamente na medida em que compõe esse
todo, e não o contrário.”(p. 118)
Para Evaristo (2007), a criança da Educação Infantil está em fase de
construção da identidade e conhecer a sua história.
Craidy e kaercher (2001) relatam que as atividades envolvendo tempo
devem atender as necessidades biológicas , psicológicas e sócio-históricas,
então, baseadas na lei 11645/08 que configura o ensino de história e cultura
afro-brasileira e indígena . Em uma sociedade miscigenada como a
brasileira, a ancestralidade coopera para o trabalho da Educação Infantil.
Cooperatividade/Solidariedade – Não existe na cultura africana com
individualismo, tudo é baseado na troca, no coletivo e na cooperação. A
cultura africana favorece um caráter de integração social.
Segundo Oliveira (2003), este processo de socialização dentre os
africanos, é o processo de formação do indivíduo e de sua personalidade,
que é um processo coletivo, de responsabilidade social.
Nas Orientações, dizem que não existe aprendizagem sem troca, afeto e
solidariedade.
34
Cavalheiro (2007) cita que , o contato das crianças de Educação Infantil,
com outras de mesma idade , mas oriundas de grupos diferentes, estimula a
criação de outras formas de enxergar o mundo.
“A Educação é entendida como um processo social, no qual os
cidadãos
tem acesso ao conhecimento produzido e deles se
apropriam de forma a se prepararem para o exercício da
cidadania” (P. 21)
VigotsKy (2010) atribui uma dimensão sócio histórica do funcionamento
psicológico e interação social, na construção do ser humano. A interação do
homem com o mundo se dá através do outro, com isso, o cooperativismo
envolve a todos os envolvidos no processo educativo, que é de
responsabilidade de todos.
Religiosidade – Tudo é sagrado e divino na cultura africana e sempre é
utilizada
como fator de definição e organização social e política das
sociedades africanas.
Como a escola é laica, a instrução religiosa da criança é de
responsabilidade da família, mas a escola deve favorecer atividades que
favoreçam o diálogo, o respeito mútuo e a valorização de diferentes culturas,
visto que, o objetivo da religião é o de promover a paz.
Dentro da sociedade brasileira há uma diversidade muito grande de
manifestações culturais que tem cunho religioso, e a sua aprendizagem
contribuirá para uma convivência respeitosa e a alteridade .
Oliveira (2003) expõe que as religiões africanas são comunitárias e
expressam as concepções de vida e de universo. Valoriza a ancestralidade
e o conhecimento profundo da realidade social e da natureza, que pode ser
aproveitada nos estudo de efeitos da natureza. Pela observação,
investigação e experimentação que aproveitem conceitos referentes á
35
natureza, meio ambiente, corpo humano, alimentação, saúde, relaciona-las
aos diversos aspectos, e também a questão das religiões de matriz africana
como outras formas de manifestação religiosa.
AXÉ ( Força Vital ) – Tudo tem energia e é sagrado. Os elementos
integram-se entre si e influenciam uns aos outros, transformando-se .
O universo africano é integrado e, tem origem no movimento gerado por
esta integração a energia da vida.
Oliveira (2003) cita que, esta relação não restringe-se apenas a relação
do homem com a natureza porém abrange a realidade social. A Força Vital é,
para o autor, fonte de energia que rege o universo.
Para Pereira (2006), os ancestrais é que exercem a função de interagir
com a força vital, trazendo equilíbrio e harmonia global na estruturação
social.
As integrações de todos os membros envolvidos no processo de ensino
aprendizagem da Educação Infantil, fazendo tanto a cultura de escola quanto
a cultura escolar transformem a escola em um sistema complexo de
relações, onde o esforço para encarar a alteridade , encaminhe o trabalho
para chegarmos a uma democracia racial, nos revela Medeiros (2010).
“Uma cultura de escola que priorize as experiências vividas e que
, desse modo,procura implementar práticas narrativas , lúdicas e
de fruição estética no cotidiano escolar.”(p. 14)
O autor cita ainda que vários conceitos da cultura africana fazem parte
do cotidiano de cada brasileiro, independente da sua origem étnica.
Craidy e kaercher (2001) explicam que educação é o processo pelo
qual a criança passa não somente a absorver a cultura do seu grupo , mas
36
quando começa a produzi-la e transforma-la , pois a educação acontece em
um processo dinâmico.
Portanto força vital e educação são correlatas e conversam entre si, já
que ambas tratam de transformação e dinamismo , com muito AXÉ
37
CONCLUSÃO
Como exposto na pesquisa apresentada, podemos constatar que os
valores civilizatórios africanos podem ser aplicados na Educação Infantil,
visando um desenvolvimento global da criança.
E, com todo axé, que envolve o trabalho da Educação Infantil, que,
somente com muita integração, transformação e dinamismo que concluo este
trabalho, afirmando que o trabalho com os Valores Civilizatórios Africanos
contribui sobremaneira para o trabalho com a Educação infantil.
Valor, por ser algo que impulsiona.
Civilizatório no sentido de produção de modos de viver , ser e estar no
mundo.
Os Valores Civilizatórios Africanos mostram que podem e devem ser
utilizados na Educação Infantil para começar a introduzir a criança em seu
meio cultural, como forma de minorar situações de desrespeito e
discriminação que, podendo formar as novas gerações para encarar a
diversidade de forma positiva, pelo aspecto da construção e do
enriquecimento cultural.
Estes elementos norteadores da estruturação das sociedades africanas
integram-se entre si, sendo interligados e quase interdependentes, o que trás
uma visão muito mais ampla de homem e de mundo, pois esta relação
proposta enxerga a tudo e todos pelos mais variados ângulos, e favorece e
estimula a interação social.
As crianças, na fase da Educação Infantil, estão em fase de interação
para gerar o conhecimento e, estes ‘erês’ estão cheios de axé, e nada como
38
dinamismo e interação para transformar uma sociedade. E não estou falando
da comunidade negra, estou pensando em sociedade brasileira onde, negros
ou não estão inseridos no contexto da diversidade étnica, mas que ainda
carrega sérias questões nas relações étnico-racias, que também não são
mais apenas os negros que estão como reféns, porém todo ser que seja
diferente.
Proporcionar a esta criança, lançar um novo olhar ,não somente para as
questões étnicas, mas para as questões de estruturação de mundo.
Vislumbrar a natureza, a sociedade, saúde, a relação com o outro, enfim ,
lançar uma nova ótica, um outro ponto de vista e poder fazer pensar, estar
estimulando este pensamento é sim função da escola, já a partir da
Educação infantil.
É bem verdade que há de se melhorar a qualidade e quantidade de
atendimento para esta primeira etapa da Educação. A oferta não atende a
demanda de nenhuma etnia. As leis são novas, e não basta criar leis, é
necessário mudar a cabeça da sociedade para valorizar esta fase da
educação.
Mas, de qualquer forma os fazeres pedagógicos tem que se renovar, a
sociedade tem que se transformar e, os alunos estão cheios de axé ,e nós
como educadores temos que utilizar e transformar nosso espaço com muito
Axé.
A lei 10.639 em seu artigo 26-A, torna obrigatório o ensino de cultura
história e cultura afrobrasileira nos estabelecimentos do ensino fundamental,
ainda não citando a Educação Infantil. Para realizar a pesquisa, o material
encontrado referente ao que tange a Educação Infantil, foi bastante escasso,
mas se pensarmos em políticas públicas voltadas para a Educação Infantil
são poucos, os investimentos ainda são parcos em nosso país. Ainda não há
um pensamento voltado para investimentos em Educação de base em nossa
39
sociedade como também não há um pensamento voltado para a
reconstrução da visão do negro e o entendimento de diversidade que é
constituinte de nosso país.
Por acreditar na educação de base como solução dos problemas
educacionais brasileiros e, como forma de reestruturar uma sociedade
colonial, acostumada a utilizar um padrão social como único, porém que
desconhece a sua formação e que,nem tão pouco, aprendeu a respeitar-se.
O trabalho com valores civilizatórios africanos pode sim contribuir para o
desenvolvimento global da criança como também para inseri-la em um
contexto de respeito pelo diverso que compõe a sociedade brasileira.
Como alguns dos grandes pensadores em educação citam a importância
do mundo social para o desenvolvimento da criança, nos embuti a
responsabilidade de apresentarmos esta sociedade em que está imersa, que
é uma sociedade de constituição multi – étnica em sua constituição. Com
valores e influências diversas, esta formação deve ser aprendida sob um
enfoque positivo, com um olhar que valorize a todos, e os valores
civilizatórios africanos que, até por seu posicionamento circular, não são
excludentes e, contrariamente a isto, colocam a todos com ampla e
igualitária possibilidade de participação.
Pela sua ancestralidade resgata, às novas gerações a sua história,
emergindo-as num contexto de respeito pelo que passou, uma atitude de
busca pelo seu passado conquistando um novo olhar para o contexto onde
está inserida.
Repleta de energia, que é o AXÉ que falta, ao processo educativo
brasileiro.
40
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Diana Mattos da Silva - AVM Faculdade Integrada