Saúde Dona Francisca vê com o coração Especial São Leopoldo/RS - Outubro de 2009 M aria Francisca Batista tem 93 anos. Dona Francisca, como é chamada, queria se aposentar, mas esse benefício é só para quem teve carteira assinada, e benzedeiras não assinam carteira. Uma casa antiga de madeira, que a chuva tratou de arrancar a cor e com apenas quatro cômodos, incluindo o banheiro, é tudo que Dona Francisca construiu ao longo da vida. Nesse mesmo local, a benzedeira garante que passaram pessoas desenganadas pelos médicos e que encontraram a cura por meio de suas mãos e palavras. Em um dos cômodos da casa fica o consultórioaltar, repleto de imagens de Jesus Cristo, Nossa Senhora Aparecida, Iemanjá, entre outras. É ali que Dona Francisca realiza suas benzeduras. “Eu sou católica espiritual. Não faço mal pra ninguém”, esclarece. Mas a mesma memória que guarda as rezas para as benzeduras é a que falha na hora de dizer há quantos anos mora na Brás: “Ah meu filho, faz tanto tempo que moro aqui, que nem me lembro mais”. Também já perdeu a conta de quantas pessoas atendeu ao longo da vida. A benzedeira é mãe de cinco filhos, todos casados. Um deles mora próximo à casa dela e é quem a cuida. Quando jovem, Dona Francisca saiu de sua cidade natal, Cachoeira do Sul, e foi , CUIDE-SE! Foto RICARDO MACHADO RICARDO MACHADO para Porto Alegre trabalhar com um casal de médicos. A essa altura já era viúva de seu primeiro marido e foi nesse período, quando trabalhava na capital, que comprou o terreno na Vila Brás, onde passou a morar com os filhos. Atualmente, mora sozinha, ou melhor, mora com Chiquinho, seu cachorro e fiel escudeiro. Chiquinho é cego, assim como a vista direita de Dona Francisca, que, depois de tantos anos, resolveu se aposentar mais cedo. Mas para quem vê com o coração, os olhos são dispensáveis. FÉ: aos 93 anos, a benzedeira Dona Francisca já viajou pelo país para curar pessoas O começo de um dom Tudo começou quando Maria Francisca tinha apenas 8 anos. Na época, ela cuidava de uma senhora que recém havia tido bebê, mas que estava com leite “empedrado”, ou seja, com dificuldade de amamentar, o que causava inchaço e dor nos seios. Francisca passava o dia inteiro em função da mãe e do bebê. Ela conta que, certo dia, estava varrendo o quintal da casa quando um homem parou na beira da estrada e ficou olhando para ela. “O que o senhor tá me olhando?”, perguntou. “Ai, minha filha, tô com uma saudade de sentar nessa sombra”, respondeu o homem. No instante seguinte, a menina foi buscar uma cadeira e um copo d’água para dar ao visitante. O homem, então, disse à Francisca que sua paciente estaria caída no quarto, mesmo sem ter ido ao local. Quando Francisca foi até lá, ela realmente estava no chão. “Então ele começou a rezar e a benzer e me ensinou. Foi assim É possível curar uma doença com uma benzedeira? Se tratando de doenças, o recomendável sempre é procurar um médico. Ele, com certeza, saberá o caminho mais seguro para curar a doença que lhe atinge. No entanto, a medicina tradicional não exclui a espiritual, ambas podem andar juntas. A fé ajuda na recuperação de uma doença, e a benzedeira, o curandeiro, ou qualquer pessoa que traga energias positivas, pode ajudar. Muitos pesquisadores de saúde pública acreditam que as enfermidades são causadas por uma série de fatores. Assim, a benzedeira, para quem acredita, traz benefícios. Porém, não esqueça que o especialista sempre será o médico, pois ele possui todos os conhecimentos científicos para combater uma doença com eficácia. Fontes: www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u9047.shtml Produzido por Ary Nelson da Silva Júnior que eu aprendi”, explica Francisca, que garante que depois daquele momento a senhora começou a melhorar, até ficar curada. A benzedeira conta que, de repente, o homem já não estava mais ali e ela nunca mais o viu. Esse foi o começo da história de Dona Francisca, que conheceu lugares como Rio de Janeiro e Minas Gerais por conta de suas benzeduras. Segundo ela, pessoas de longe a buscavam para que pudesse resolver os males que a medicina não resolvia. Agora, devido a idade elevada, seus filhos não permitem que ela faça viagens. A história da “médica” sem diploma começou em 1924, quando ainda era menina, e sua aposentadoria só chegará no dia em que o peso da idade não permitir que suas palavras sejam ditas. Enquanto isso, Dona Francisca segue fazendo o que aprendeu naquela tarde que encontrou um desconhecido para ensinarlhe as palavras, que segundo ela, podem curar. EXPEDIENTE REDAÇÃO - Edição: professores Demétrio de Azeredo Soster e Thaís Furtado. Textos e fotos: alunos Amanda Fetzner, Amanda Munhoz Gonçalves, Andrei Silva Andrade, Ângela Loppi Virtuoso, Ary Nelson da Silva Junior, Bárbara Keller, Bernardo de Alencastro, Daniela Lopes Pereira, Fhara C. Wittée, Fernanda Preussler, Gisele Silva da Silva, Katterina Zandonai Fernandes, Larissa Caldas de Oliveira, Luciana Borba Alves, Márcio Rousselet Sarda, Micheli Daiani de Aguiar, Patrícia Spier dos Santos, Ricardo de Jesus Machado, Rodrigo Prux de Oliveira, Schana Marcelino Rodrigues, Thiago Kittler dos Santos, Vinícius Ghise Alves. PRODUÇÃO GRÁFICA - Realizada pela Agência Experimental de Comunicação (AgexCOM). Projeto gráfico e diagramação: Marcelo Garcia. Diagramação: estagiários André Seewald e Maria Maurente e aluno Pedro Barbosa.