“Kuairü mbokaja”– anel de tucum –
O sonho de Deus: um laço-abraço de
solidariedade rodeando toda a humanidade!
fernando lópez sj (*)
"Kuairü mbokaja" significa, em guarani anel de tucum: mbokaja = tucum, kuã = dedo,
irü = companheiro. Com a força simbólica da língua indígena guarani, o anel é o companheiro
do dedo.
Em muitos países de Latino América os pobres utilizam simples anéis de tucum para
expressar o compromisso e união com o companheiro/a até a morte. Nas últimas décadas, o
anel de tucum converteu-se no símbolo utilizado por as pessoas de boa vontade que trabalham
comprometidas solidariamente com os mais pobres e excluídos da sociedade (crianças de rua,
povo das grande lixeiras e favelas, posseiros e sem-terra, indígenas e negros, doentes com
HIV, etc.). Para estas pessoas o compromisso com o Reino de Deus e sua justiça (cf. Mt 6,33)
e com a "vida abundante" (cf. Jo 10,10) dos pequeninos, foi tão radical que chegaram a doar
sua vida... Em Latino América, são centenas os mártires que derramaram generosamente seu
sangue por esta causa.
Hoje, os anéis de tucum estão ampliando o seu sentido simbólico. Representam o
sonho de Deus, o mundo justo, fraterno e solidário com que nós também sonhamos, a “Yvy
marane’y” –Terra sem mal– dos Guarani. O anel de tucum simboliza o compromisso que
assumimos para criar um grande e forte laço de solidariedade rodeando toda a humanidade.
Usar um simples anel de tucum lembra-nos o compromisso solidários com a vida dos
pequeninos, sejam quais forem e estejam onde estiverem...
Quatro aspectos da solidariedade:
1. Solidários na oração. O sentido de transcendência amplia o nosso horizonte e nos faz
sair de nós mesmos para ir ao encontro do outro. A oração nos dá força e esperança,
anima nossa práxis e compromisso. É fundamental que as pessoas que acreditam no
além sejam solidárias na oração, rezando umas pelas outras, para que não ter medo ao
compromisso com os mais pobres, para não desfaleçamos no amor e na justiça.
2. Solidários numa vida simples e austera. O mundo ficou pequeno! A economia
mundial é controlada por uns poucos. O que se joga fora no Norte é carência vital no
Sul. O que gastamos de mais ou gastamos mal numa parte do mundo falta nas outras. É
importante ser solidários num estilo de vida não-consumista e não-depredadora,
buscando modelos econômicos mais solidários, que respeitem e cuidem dos irmãos
mais frágeis e da mãe terra empobrecida. Mostrando que um estilo de vida simples e
austero é possível vivê-lo com alegria. Assim se poderá superar a injustiça da
desigualdade e a miséria e a fome poderão ser erradicadas no III milênio.
3. Solidários no doar-compartilhar o ser, o estar e o ter. Em muitos povos indígenas o
tuxaua mais prestigioso é aquele que partilha tudo com os outros; chegando até doar a
própria vida pelo povo. Não só doar, mas sobre tudo, doar-se generosamente, é um
componente essencial da solidariedade. Desprendermos de nós mesmos faz bem aos
outros, mas muito maior bem faz a nós. Doar-nos ajuda a crescermos em liberdade e
amor gratuito. Três dimensões da doação-partilha solidária:
1) Doar-compartilhar o ser: compartilhar o que somos, nossas
qualidades e capacidades com os outros.
2) Doar-compartilhar o estar: compartilhar nosso tempo e presença
amiga, gratuita junto ao outro.
3) Doar-compartilhar o ter: compartilhar o que temos com quem não
têm ou têm menos que nós.
4. Solidários na missão. Ser solidários em levar a boa nova de esperança, de amor, justiça e
paz a todos os corações, especialmente aos mais pobres cujas vidas estão sendo ameaçadas
pela morte injusta. Solidários na missão de viver a proposta de vida simples e austera e levá-la
a todas as pessoas e estruturas para que desapareçam as desigualdades e injustiças da terra.
Solidários na missão de construirmos o sonho de Deus que é também nosso sonho!
(*) Fernando López S.J. é padre jesuíta e forma parte duma equipe itinerante
que trabalha junto aos ribeirinhos, favelados urbanos e povos indígenas na amazônia.
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Kuairu mbokaja