ANA MARIA FERREIRA CAVALHEIRO VILA DE SÃO SEBASTIÃO DO ARAPIXI, DOS ARUANS AOS DIAS DE HOJE. EPÍGRAFE O futuro não depende só da inteligência, mas principalmente da ética e da força de vontade. AGUSTIN ALVARES 2 DEDICAÇÃO Dedico este trabalho á Deus, por iluminar minha mente dando-me inspiração para esta realização e todas as pessoas que sempre acreditaram no meu trabalho. ANA MARIA F. CAVALHEIRO. 3 AGRADECIMENTO A Deus, por iluminar meus caminhos concedendo-me a realização de mais um sonho, aos meus familiares pela confiança e ao professor Renato H. de Vilhena pelo apoio moral e intelectual. ANA MARIA F. CAVALHEIRO. 4 PREFÁCIO O crescente interesse pela historia os municípios do Marajó, contrasta com o numero reduzido de títulos sobre o assunto disponível nas livrarias. Vila de São Sebastião do Arapixi, dos Aruans aos dias de hoje, escrito por uma “filha da terra” representa uma importante contribuição para modificar esse quadro. Ana Cavalheiro nos apresenta neste livro um panorama atualizado e sintético da Vila de São Sebastião de Arapixi.(Arapixi quer dizer “tempo ruim”. vocábulo neotupi ou nheengatu, compõe-se de : ara = dia e pixy = feio, mau.(Enciclopédia da Amazônia)). Em linguagem clara e compreensível, analisa a historia da Vila em toda a sua diversidade a partir do estudo de documentos e vestígios materiais. Ana Cavalheiro discute o povoamento inicial e os processos de colonização do território, as atividades econômicas, a religiosidade, as políticas públicas e as variadas estratégias de sobrevivência da população da vila, com dados atualizados. A leitura deste livro certamente contribuirá para o resgate desta parte da historia do Pará tornando-a bem conhecida por novas gerações de estudantes e interessados na área. Renato H de Vilhena Educador 5 SUMÁRIO PREFÁCIO - RENATO H DE VILHENA 05 INTRODUÇÃO 07 ORIGEM DA VILA SÃO SEBASTIÃO DE ARAPIXI 08 A VILA SÃO SEBASTIÃO DE ARAPIXI 09 A FESTIVIDADE DE SÃO SEBASTIÃO DE ARAPIXI 13 OCUPAÇÃO TERRITÓRIAL ATUAL 14 FORMAÇÃO GEOLOGICA 16 HIDROGRAFIA 16 CLIMA 17 VEGETAÇÃO 17 FAUNA 18 PRINCIPAIS ATIVIDADES ECONOMICAS 20 A PESCA 20 EXTRATIVISMO DO AÇAI 22 A PECUÁRIA 23 ASPECTO CULTURAL 24 AS POLÍTICAS PÚBLICAS 25 MEIOS DE TRANSPORTES 26 FUNCIONALISMO PÚBLICO 27 CONSTRUÇÃO CÍVIL MEIOS DE COMUNICAÇÃO 28 ARAPIXI HOJE 31 CONSIDERAÇÕES FINAIS 32 REFERÊNCIAS 35 30 6 INTRODUÇÃO O presente trabalho aborda a historia da vila de São Sebastião de Arapixi localizada no município de Chaves/Pa. Trata-se de um trabalho de investigação sem registros anteriores, tornando-se, assim, um desafio para a realização deste trabalho. O Rio Arapixi pode ser considerado um dos principais acidentes geográficos do arquipélago do Marajó 1 no município de Chaves. A vila de São Sebastião do Arapixi apresenta uma população de aproximadamente 287 habitantes e está localizada na margem direita do referido rio. Sua principal atividade econômica é a pesca artesanal, extrativismo do açaí, pecuária e comércio. A vila, bem como o arquipélago do Marajó, enfrenta vários problemas no que se refere às políticas públicas, pois a população não dispõe dos principais serviços básicos e, nesse sentido, a Vila de São Sebastião de Arapixi sofre de uma intensa dificuldade nos setores básicos para a manutenção de suas atividades, resultando em uma condição de vida de baixa qualidade. No decorrer do trabalho serão abordadas a produção e a organização do espaço da vila de São Sebastião do Arapixi, mostrando a sua origem, a construção do espaço ao longo dos anos, aspectos 1 . Habita a região banhada pelo baixo Tocantins grupo JÊ. (TÊ)?Marajó: tribo indígena, também chamada de Bocobu e Monogó 7 sociais, econômicos, culturais e de lazer, e os serviços básicos existentes na vila. A origem da Vila de São Sebastião do Arapixi O MUNICÍPIO DE CHAVES/PA Todas as tentativas de compreender a história social e econômica dos municípios da região amazônica devem levar em consideração muitos fatos que aqui foram vivenciados e que são frutos da penetração do modo de produção capitalista e da intensificada globalização mundial nessas realidades. Inserido na conjuntura do Arquipélago marajoara o município de Chaves (Figura 1) teve sua origem relacionada ao período colonial, mais precisamente à organização do espaço pelas Missões na aldeia dos índios Aruans, que habitavam todo o litoral do Marajó. Com uma população de 17.572 habitantes distribuídos principalmente na zona rural, o município de Chaves está localizado no Estado do Pará, na zona litorânea do Marajó, pertence à Chaves, Prainha, Arrozal e Arapixi. A área deste município é de 9.695 Km² de Representa 1.948 % do Estado do Pará, 0.3396% da região norte e 0.154% do Brasil (PLANO DIRETOR, 2006). 8 Localização do Município de Chaves/Pa Fonte: Revista Nosso Pará (1986) A Vila de São Sebastião do Arapixi A origem do surgimento da Vila de São Sebastião do Arapixi está atrelada aos fatores sociais, econômicos e culturais que se fizeram presentes na organização do espaço marajoara como um todo, bem como de seu território. Além da pesca, sua organização espacial se deu em torno do latifúndio, seja pela atividade pecuária, como pela formação de engenhos. 9 Localização da Vila de São Sebastião do Arapixi CHAVES Vila de São Sebastião do Arapixi Fonte: Cavalheiro (2007). 10 O sítio no qual se estruturou a vila era uma grande área de terra de um Latifundiário da época, pertencente à família do Sr. Olimpío Ferreira Almeida, detentor do comércio local, cuja comercialização de todos os produtos da época concentrava-se na Vila para então serem escoados à capital do Estado. Na época eram comercializados peixes de várias espécies, açaí, suínos, aves como a galinha caipira, bovinos e produtos industrializados como: conservas, sardinha, além de outros produtos necessários ao consumo da população local, uma vez que o comerciante comprava os produtos em Belém e Macapá para revender às famílias da localidade arapixiense, com um custo muito além do normal. Somente quem tinha o poder aquisitivo razoável, era capaz de consumir tais produtos. A origem da Vila está atrelada a influencia da igreja católica que trouxe um numero significativo de fiéis, a presença da concentração do comércio local, o qual apresentava o monopólio do comércio na época do ciclo da borracha. Segundo relato dos moradores antigos da Vila, havia uma casa aviadora, o que provavelmente deu origem à vila, onde o negociante atuava como comprador e fornecedor que, em última instância, dominava a vida econômica da localidade através do controle do crédito e do estabelecimento dos preços locais, o que submeteu muitos seringueiros à escravidão pelas dívidas, já que o comerciante adiantava ao seringueiro ferramentas, gêneros alimentícios e remédios a preços altamente 11 inflacionados, de modo que o mesmo já ficava endividado com o comerciante. Esta era uma maneira de coesão ao fornecer mercadoria a credito a um determinado seringueiro. O comerciante local criava uma relação patrão-cliente que geralmente implicava em certo controle, um meio de servidão. O aviamento consiste num financiamento em espécie e em dinheiro ao produtor rural que, desse modo, compromete sua produção futura em troca de mercadorias de que precisa no presente para sua subsistência e mesmo para obter a própria colheita já comprometida (MIRANDA NETO, 1993, p. 77). Neste contexto, se observa que em função do modo de produção capitalista, o surgimento da Vila de São Sebastião do Arapixi, no município de Chaves/Pa, teve interesses monetários disfarçados em interesses religiosos resultantes de culturas que sofreram influencias de europeus, indígenas e negros. Observa-se, assim, que nos primórdios da colonização, a escravatura intensificou a mestiçagem e as diferenças sociais se mediam pela condição de se nascer escravo ou livre. Com a exploração da borracha é que surgiu a diferença econômica entre os abastados comerciantes e seringalistas de um lado, seringueiros e coletores de outro, determinando grandes diferenças sociais. Os comerciantes e donos da terra formavam a aristocracia de então. Controlavam a vida econômica e 12 política das cidades. Finda a época áurea da borracha, houve um deslocamento dessas famílias para outros centros e hoje os descendentes que permaneceram na região são relativamente pobres e sem o prestígio social de outrora. Na zona da pecuária têm-se os fazendeiros e os comerciantes no alto da pirâmide social. A base é composta pelos vaqueiros, posseiros e itinerantes, mas não há um grande distanciamento entre eles. O mais comum é trocar-se objetos com produtos da roça ou ficar devendo o principal mais juros. Como os preços destes objetos excedem o poder aquisitivo dos caboclos, o estado de dependência financeira aos comerciantes acarreta o controle absoluto da vida daqueles, refletindo-se no controle político da comunidade (MIRANDA NETO, 1993, p. 87). No período da colonização houve uma resistência por parte dos povos indígenas que habitavam o município de Chaves, pois durante a submissão imposta pelos portugueses travaram-se grandes lutas, numa verdadeira saga de vida e morte, conforme relata Azevedo (1999, p. 40): ...no séqüito do governador Francisco Coelho de Carvalho. Tomado da febre, que nele foi constante, do proselytismo, subiu o Amazonas, e embrenhou-se nas matas, a evangelizar as tribus do 13 Xingu, ainda então mal conhecidas. De lá regressou, caminho Europa, onde foi buscar mais companheiros, e requerer socorros materiais ao governo de Madrid. Voltou somente em 1645, trazendo consigo mais quatorze missionários. A embarcação, em que ia com eles o governador Pedro de Albuquerque, primeiro nomeado depois da restauração, só sobrou perdida nos baixos, que ficam á entrada da Bahia do Sol. Da tripulação e passageiros, com estes o governador, salvou-se parte nos botes. Os restantes náufragos, em cujo número Luiz Figueira e onze dos religiosos, passaram-se a uma jangada, feita com os destroços da nau. A correnteza e os ventos levaram-nos á margem oposta, na ilha de Joanes, onde pereceram victimas da ferocidade dos aruans. Assim terminou, como em toda parte, pelo sacrifício da mais adiantada vanguarda, este primeiro episodio da conquista (MACIEL apud AZEVEDO, 199, p 40). Os relatos feitos pelos portugueses aos índios da nossa região foi documentado através do Frei Antonio de Merceana, capelão da Feliz Luzitania (forte do presépio), fundado em 1616; foi quem primeiro escreveu sobre a chegada dos portugueses à nossa região, em carta de 27 de novembro de 1618, já registrando a existência dos Nhengaíbas e Aruans da ilha do Marajó, que ficavam a recebê-los na entrada de Joanes, e os Tupinambás mais na região de Belém, resistindo à captura para o jugo português, prática essa que vinha sendo exercida com 14 todos os índios desde o início da colonização do Grão Pará. Conforme se pode observar na citação, os missionários também tiveram um papel significativo no processo de colonização na região Amazônica: Os missionários é a solução encontrada para atrair o gentio. Praticamente, são eles os colonizadores que obtêm maior sucesso; onde expedições militares e entradas falham, eles triunfam. O fato é que alguns núcleos de povoamento amazônicos surgem de uma missão. Com habilidade e tirocínio, catequizam os índios e desenvolvem as terras conquistadas. (MIRANDA NETO 1993. P 56) No início do século XVI com a chegada dos europeus ao Brasil, foram atiçados conflitos entre as tribos com a intenção de enfraquecer a resistência indígena para facilitar o processo de colonização. Índios brigavam por um lado e, por outro, os “brancos”. Holandeses, franceses e ingleses se uniram contra os portugueses pela disputa do território marajoara, englobando as riquezas e especiarias da região. O Arapixi por um longo período exportou borracha, óleos vegetais, peixes, peles e sementes oleaginosas além do gado. A borracha é encontrada na região dos furos de Marajó, obtida de cinco diferentes espécies de árvores, sendo mais importantes e encontradiças, a seringueira e o caucho. A seringueira, cujo nome provém das seringas de borracha fabricadas pelos indígenas já antes mesmo da 15 entrada dos brancos nas terras amazônicas, apresenta diversas variedades das quais a mais importante é a Hevea Brasiliensis. Ela vive em estado nativo nas altas bacias dos rios Juruá, Purus e Madeira, e também na região dos furos, a ocidente do grande arquipélago do Marajó. Os primeiros negros chegaram à Amazônia não por intermédio dos portugueses, mas graças aos ingleses. Nas feitorias que montaram entre a costa de Macapá e a zona de estreitos, esses ingleses pretenderam realizar um empreendimento agrário de vulto, constante, principalmente, de plantio de cana para a fabricação de açúcar e rum. O braço africano foi trazido porque não desejavam entrar em conflito com o gentio local. Após a expulsão dos holandeses, franceses e ingleses, os lusobrasileiros se apropriaram dos engenhos, plantações e casas-fortes por eles construídos. A terra era propicia ao cultivo da cana-de-açúcar. Além disso, havia muita lenha e muita água. A cana-deaçúcar foi introduzida na Amazônia no inicio da colonização. Muitas fazendas dos mercedários, carmelitas e franciscanos eram dotadas de plantações de cana e engenhos. Os negros de origem africana contribuíram para o devassalamento do território municipal, inclusive do distrito de Arapixi, dedicando-se à agricultura e criação de gado, uma das principais atividades econômicas local. Num retrocesso espantoso, a Amazônia, que já havia começado 16 as primeiras culturas e estava desenvolvendo a agropecuária, volta à economia extrativa de sentido predatório. Uma febre de riqueza domina os homens. As grandes secas nordestinas ocasionam levas de sertanejos - os paroaras, que irão modificar a estrutura étnico-social da Amazônia. A Festividade de São Sebastião A festividade de São Sebastião teve início a partir de 1903, realizada por uma família humilde que residia em uma localidade chamada Niterói, a 1.0 Km de distância da Vila. Com o passar dos anos a festividade ganhou inúmeros devotos, cujo espaço se tornou pequeno. Então, a família Almeida, também devota do Santo, decidiu juntamente com a família que originou a festividade, mudar o espaço dos festejos do Santo para outro lugar, onde comportaria maior número de pessoas, automaticamente maior número de consumidores para o comércio da família Almeida. O que parecia ser “bondade” não passava de mero interesse capitalista. Por volta de 1920 a 1930, foi doada pela família Almeida, uma área de terra medindo 100 x 100 metros para construção de um pavilhão com capela dentro do salão para a realização dos festejos culturais. No período de 1942 a 1947, já existiam as capelas de São Sebastião, Nossa Senhora da Conceição, os pavilhões para festejo de São Sebastião e Nossa Senhora 17 da Conceição e aproximadamente 20 casas residenciais e duas casas comerciais. As relações sociais dos moradores da Vila estão diretamente ligadas à religiosidade com o festejo do Santo padroeiro da Vila, São Sebastião, que acontece no período de 09 a 20 de janeiro, reunindo moradores de várias localidades do município de Chaves, do Estado do Pará e outros estados, como Macapá. Além desse evento social, acontecem as festividades de Nossa Senhora das Graças no mês de maio, Nossa Senhora do Perpetuo Socorro no mês de julho e Nossa Senhora de Nazaré no mês de outubro todos os festejos são realizados na igreja de São Sebastião. Além da igreja católica há a presença da igreja da Assembléia de Deus afastada da vila, centro comunitário, ginásio de esporte, piscina coletiva, escola e praça. Fonte: Cavalheiro (2007) 18 Ocupação Territorial Atual Com uma população de 325 habitantes e 138 casas construídas, a vila de São Sebastião de Arapixi está localizada na margem direita do rio Arapixi, com coordenadas 00º15’499’’S e 49º16’062’’W. Por se tratar de uma localidade isolada e distante da sede do município de Chaves e da capital do Estado do Pará, a localidade de Arapixi está distante de Belém a 167 Km² em linha reta e da sede do município a 61,8 Km² em linha reta. A localidade de Arapixi apresenta sete distritos, são eles: Camarãotuba, rio Ubim, rio do Egito, rio Santo Antonio, rio São Francisco, rio Cajueiros e rio Cajutuba (PLANO DIRETOR, 2006). A Vila de São Sebastião de Arapixi apresentava um grande desgaste com relação à ocupação, em função da erosão provocada pelas marés (fluvial), bem como pela ação das águas da chuva (pluvial). Atualmente esse problema foi contornado pela construção do cais de arrimo na frente da Vila. O rio principal da Vila é o rio Arapixi, que nasce nos mondongos e desemboca no rio Amazonas próximo ao encontro deste com o oceano Atlântico. É um rio sinuoso e navegável em dois terços de sua extensão por pequenas embarcações, serve de ancoradouro aos barcos e canoas na foz do rio e também como ponto de lazer. Os terrenos sofrem alterações de acordo com o período climático, ou seja, em épocas de chuva os terrenos ficam 19 alagados e no período de seca os terrenos secam e a vegetação de campo circundado por vegetação de grande porte. A Vila de São Sebastião de Arapixi remonta à ocupação desordenada em seu espaço geográfico, pelos moradores da localidade de Arapixi e bem como de outras localidades. De acordo com depoimentos de moradores antigos, Arapixi sofreu ocupação de Índios, negros e imigrantes portugueses. O surgimento da Vila também teve grande influência da igreja católica que trouxe um número significativo de fieis e a presença da concentração do comércio local, este que apresentava o monopólio do comércio na época. Imagem Atual da Vila de São Sebastião do Arapixi Fonte: Prefeitura Municipal de Chaves (2006). 20 Formação Geológica Chaves tem uma geologia bem homogeneizada é representada pelos aluviões quaternário subatuais. A vila de São Sebastião de Arapixi esta em terreno caracterizado por planícies aluviais e zonas alagadas na parte central, seu solo é argiloso e areno quartzoso onde pode ser representado por areia quartzosas e solo argiloso encontrados nos campos. Hidrografia O Rio Arapixi no município de Chaves no distrito de Arapixi è um rio que nasce nos mondongos e desemboca no rio Amazonas, è um rio extenso bastante sinuoso e navegável em dois terços de sua extensão. O Rio não seca apenas varia o volume de água com as estações (seca ou chuvosa) e com as marés, tem dois afluentes o Rio Santo Antonio e o Rio Egito o qual no período chuvoso dá acesso por embarcações pequenas as localidades de Cururu e Mocoões e as cidades de Santa Cruz do Arari e Belém. Em sua foz serve de ancoradouro para barcos e canoas. O Rio Arapixi banha a vila de São Sebastião de Arapixi, além de servir como via de transporte e fonte de alimentos e de renda para parte da população que mora no distrito de Arapixi e que sobrevive da pesca, é do rio que esta população retira o 21 seu sustento, pois a pesca é praticada tanto para subsistência como para obtenção de renda. Fonte: Cavalheiro (2007) Clima Apresenta equatorial características úmido com inerente amplitude do clima térmica mínima,temperatura em torno de 27º C mínima superior a 18º C e máxima de 38º C. Pelo fato da Vila está situada na margem do Rio próximo aos campos, no período da seca sua temperatura é bastante elevada com pouca ventilação. Nos seis primeiros meses do ano que são mais chuvosos a temperatura diminui. 22 Vegetação A vegetação de Arapixi é bastante diversificada, nos leitos dos rios, próximos às margens espraiadas, crescem alguns vegetais característicos destas áreas como: aningas e aturiá. As matas propriamente ditas são compostas por árvores de grande porte e produtivas, os vegetais que mais se distinguem na mata densa são: a seringueira, a andirobeira, o anoeirázeiro, o assacuzeiro entre outras varias espécies. Já nas áreas de várzea encontramos também palmeiras como: miritizeiros e os açaizeiros entre outras. Nos campos a vegetação é rasteira composta por capimaçú, capim rasteiro, capim de bolota ou de botão, algodão bravo, malva, batatarana e arvores como o jenipapeiro e carobeira. Encontram-se também as canaranas e as aningas, nas ribanceiras dos rios, encontramos com freqüência o mururé e a canarana. No litoral a vegetação é característica de cada tipo de solo, nas praias cresce o auriá, o junco-da-praia e a jaranduba. Nas várzeas litorâneas encontramos o mangue e a jaranduba. 23 Fonte: Cavalheiro (2007) Fauna A fauna Arapixiense é rica em variedades, com uma boa oferta da fauna terrestre, aquática e alada. Terrestre Dentre os animais terrestres encontramos os maracajás, o quati, o guaxinim, o porco do mato e entre os roedores destacam-se a capivara, a cotia, a paca, o cuandu(porco espinho), além de ratos. Entre os desdentados encontramos o tamanduá-bandeira, o tatu, a preguiça. O marsupial encontrado na região é a mucura. Na fauna ofídica os mais conhecidos são a surucucu, bastante perigosa e venenosa, a jararaca, a cascavel que possui veneno violentíssimo, destacam-se também as não venenosas como a sucuri, que mede mais de três metros de comprimento sendo capaz de esmagar sua presa, com 24 sua força incrível, a jibóia, inofensiva ao homem e que pode viver em cativeiro, a pepeua, que quando irritada apresenta aspecto pouco sedutor, a cutimbóia com sua agilidade locomove-se com rapidez açoitando o capim com sua cauda. Fonte: Cavalheiro (2007) Aquática Os quelônios são encontrados nos rios e campos, como as tartarugas, os jabutis, as peremas, o muçuã, característico dos campos marajoaras cuja carne é excelente e os casquinhos apreciados em muitos lugares. Dentre os peixes característicos do Marajó os mais conhecidos e encontrados no Arapixi são: o tucunaré, o apaiari, o aracú, o jeju, o matupiri, o cachorro de padre, o tambaqui, o tamuatá, o mandií, a traíra, a pescada, o 25 pirarucu e o poraquê( o temido peixe elétrico) e as piranhas, pequenas e ferozes. Fonte: Cavalheiro (2007) São encontrados também crocodilianos como o jacaré açu, que chega a medir três metros de comprimento, o jacaré – tinga, o jacaré-de-papo-amarelo, o jacaré-coroa, espécies que estão desaparecendo em conseqüência das caçadas. Aladas Em Arapixi encontramos varias espécies de aves, dentre elas: a garça, o tuiuiú, o pato, o marreco, o gavião, 26 a arara, o periquito, o papagaio, a saracura, a cigana, o colhereiro e o elegante beija-flor, o japiim, o amistoso anupreto que pousa na costa do gado, o teu-teu possuidor de canto inebriante. Encontramos também insetos como o carapanã(ou muriçoca), os vum-vuns, as mutucas, os maruins, o pirilampo(vaga-lume), moscas varejeiras.Além de baratas, escorpião, formigas e saúvas, as cigarras, as abelhas entre outros insetos Principais Atividades Econômicas A vila de São Sebastião do Arapixi desenvolve atividades econômicas nos três setores da economia: primário, secundário e terciário. No setor primário se desenvolve a pecuária, o extrativismo animal e vegetal. Destacando no setor secundário, a construção civil e no terciário temos a prestação de serviços como professores, enfermeiros, serviços gerais, além do comércio, desenvolvido principalmente na Vila, atualmente com cinco casas comerciais, que dão suporte de abastecimento aos moradores, além dos autônomos que vendem seus produtos de porta em porta(peixe, açaí, camarão). A economia da localidade de Arapixi está ligada diretamente às condições climáticas e à navegabilidade dos rios: na cheia a principal atividade é a pesca e a extração do açaí e toda a movimentação financeira é 27 gerada a partir deste ciclo determinando o aquecimento do comércio local, e as vias de escoamento dessa produção, quando ocorrem viagens mais freqüentes em embarcações particulares. No período de seca, o transporte torna-se mais difícil, haja vista que os rios secam impossibilitando a chegada dos barcos e o transporte então, passa a ser através de animais. A pesca A pesca é relativamente importante para a subsistência do ribeirinho. As famílias pescam tanto para o consumo próprio como dispõe também de algum excedente para a venda. O pescador é determinado pela dualidade geográfica, que vai determinar a área de atuação desse homem. O pescador marítimo no litoral e o pescador fluvial nos rios e lagos, a pesca funciona também como atividade complementar sobre a qual a natureza determina o modo de vida. As maneiras mais comuns de pesca são: a tarrafa, que é uma espécie de rede circular que é manejada por um homem, a pesca de arrastão que é uma rede retangular manejada por dois homens, o cacurí que é uma rede usada nos lagos e o espinhel que é uma linha da vários metros de comprimento com anzóis. 28 Pesca Tradicional com Rede Fonte: Cavalheiro (2007) Pesca Tradicional com Tarrafa 29 Extrativismo do açaí. O açaizeiro é a palmeira mais abundante nos terrenos de várzea do Arapixi, seu fruto bastante apreciado pelos paraenses, em Arapixi o açaí surge como um dos produtos principais vendidos nas casas, os compradores que vem em busca desse produto são de varias regiões do Marajó, principalmente de Ponta de Pedras. Os ribeirinhos, apanhadores de açaí saem de suas casas pela manha logo cedo para a coleta dessa preciosidade, retornando a tarde, ao chegar em casa o açaí é colocado em paneiros denominados de “rasas” onde é medido e comercializado. Geralmente esse produto é levado para ser comercializado em Belém e Macapá pelos compradores e atravessadores, que são pessoas tanto da região quanto de outros lugares, contudo ressalto que apesar da sazonalidade, o açaí também é bastante consumido pela população local, inclusive na vila existem duas casas que comercializam diariamente o produto. 30 Fonte: Cavalheiro (2007). A Pecuária O gado é criado na região por grandes e pequenos criadores e proprietários de terras. É importante ressaltar que a pecuária não é a principal fonte de renda, mas, no entanto é uma atividade que dá suporte de subsistência a várias famílias, sendo alguns vendidos e abatidos na própria região para o consumo local. Os vaqueiros vão a busca desses animais no campo, depois prendem em currais para embarcar. Esses embarques são feitos em caiçaras ou em beiras de rios, são levados para o Afuá, Belém e Macapá. 31 Os tipos de gado mais comuns são: o gado vacum e o búfalo, sendo que estes são a maioria devido a sua resistência e peso. Além disso, existe também a criação de porcos que é praticada na região por pequenos criadores e que se destina tanto para a subsistência como para a obtenção de renda. Fonte: Cavalheiro (2007). 32 Praça - Lazer dos Moradores da Vila Fonte: Cavalheiro (2007) Aspectos Culturais Entre as principais atividades culturais da Vila se destaca: a festividade de São Sebastião no mês de janeiro, com a realização da procissão do santo, leilão, alvorada, derrubada do mastro, peregrinação, campeonatos de 33 futebol, desfile de rainhas e bonecas da festividade de São Sebastião, interativas e passeios nas brincadeiras embarcações pequenas; a festividade de Nossa Senhora das Graças no mês de maio, com realização de procissão da santa,alvorada, peregrinação, leilão campeonato de futebol e festa dançante; a festividade de Nossa Senhora do perpetuo Socorro no mês de julho, acompanhada de peregrinação, alvorada, procissão,torneio esportivo, leilão e festa dançante; a festividade de Nossa Senhora de Nazaré, no mês de outubro com a realização de peregrinação, círio, missa, alvorada, torneio esportivo, corrida de cavalos, leilão e festa dançante. Além de outras manifestações como datas comemorativas e atividades escolares. 34 Procissão de São Sebastião do Arapixi, no período de 20 de janeiro. Fonte: Cavalheiro, 2006. A vila apresenta uma composição política ligada à festividade de São Sebastião do Arapixi, onde os moradores da localidade de Arapixi elegem seus representantes através de votos a cada ano, que são: presidente, vice-presidente, tesoureiro, 1º secretário, 2º secretário, dirigente da comunidade, comissão do mastro, comissão de leilão, comissão de liturgia e procissão, 35 comissão de esmolagem, homenagens especiais, coordenação de concurso e conselho fiscal. As Políticas Públicas na Vila de São Sebastião do Arapixi Em relação às Políticas Públicas a vila não dispõe dos serviços de saneamento básico, Mas a maioria das ruas é pavimentada, porém há a presença de pontes de madeira; o abastecimento de água da população da vila ocorre através de água encanada advinda de duas caixas dàgua através de poço artesiano. No entanto, não existe serviço de rede de esgoto. O serviço de iluminação pública ocorre através de grupo gerador, que funciona de dezoito horas às vinte duas horas. A coleta de lixo é realizada três vezes por semana. No que se refere ao Sistema de Segurança, a Vila não dispõe desse serviço exceto em épocas de festividades. 36 Fonte: Cavalheiro, 2007. Meios de transportes Os recursos de transporte marítimos e aéreos da Vila são escassos, porém os mais usados pelos moradores são a lancha da prefeitura (Arquimimo Almeida) e pequenas embarcações como canoa e botes, que servem para o deslocamento da população para as localidades vizinha. As grandes embarcações servem para escoar os produtos comercializados em Belém e Macapá, bem como 37 para transportar passageiros para as grandes cidades. Apesar da existência de uma pista de pouso para aviões de pequeno porte, esse transporte é pouco usado pelos moradores devido ao alto custo das passagens. Meios de transportes mais usados pelos ribeirinhos da Vila de São Sebastião do Arapixi Fonte: Cavalheiro, 2007. 38 Funcionalismo Público Municipal A vila de São Sebastião conta com um (01) posto de saúde com o intuito de amenizar os problemas de profissionais saúde da população qualificados para com atender diariamente a comunidade, sendo uma técnica de enfermagem e uma assistente. Quando a população necessita de um atendimento mais específico ocorre a transferência para a cidade de Chaves ou para Belém. Na realização área de educacional muitos objetivando sonhos a a Prefeitura Municipal de Chaves construiu na vila uma escola toda em alvenaria com quatro (04) salas de aula atendendo alunos de educação infantil ao ensino médio, com quatro (04) professores de Educação Infantil à 04ª série do ensino fundamental e doze (12) professores de 5ª á 8ª série do ensino fundamental (sistema modular de ensino), e 04 professores atendendo o ensino médio 1º ano(sistema modular de ensino) tendo também três (03) servente, um(01) almoxarife e 39 quatro (04) serviços gerais que prestam serviços e zelam pela comunidade. Na região de arapixi existem mais nove (09) professores e três (03) serventes em nove comunidades diferentes. Posto de saúde Escola 40 Construção civil Neste setor destacam-se os carpinteiros e ajudantes que trabalham nas construções das casas que aumentam a cada ano, os pedreiros e ajudantes que prestam seus serviços nas construções e ampliações dos prédios públicos como escolas, posto de saúde, centro cultural, ginásio poliesportivo, piscina e etc. Destacando que a maior parte das construções são de madeira. Ginásio poliesportivo Fonte: Cavalheiro, 2007. 41 Piscina Fonte: Cavalheiro, 2007. Centro cultural 42 Meios de comunicação O meio de comunicação da vila é rádio (comunicação- fonia), que é fornecido pela prefeitura. No ano de 2007 foram disponibilizados para a vila 04 telefones públicos, abastecidos através de placa solar, algumas além linhas de já disponibilizadas para residências. Fonte:Cavalheiro, 2007. Arapixi hoje Todas as figuras mostradas anteriormente, refletem a Vila de São Sebastião do Arapixi, hoje, dentre as quais estão: A igreja, a Assembléia de Deus, a praça, as ruas, o posto 43 de saúde, a escola, o Ginásio poliesportivo, a piscina, o centro cultural, etc. Vale ressaltar ainda: Caixa dágua. Hotel Fonte: Cavalheiro, 2007. 44 Usina de geração de energia elétrica Placa solar (telefones públicos) Fonte: Cavalheiro, 2007. 45 CONSIDERAÇÕES FINAIS A Vila de São Sebastião de Arapixi é um espaço social, produto da ação humana, que vem sendo transformada pela sociedade, mas que permite a permanência do ribeirinho através de seus atributos sociais, culturais, econômicos e educacionais, tornando-se um ambiente agradável e sendo considerado um espaço percebido de apreensão pelos sentimentos de afeto dos moradores. Observou-se que este espaço que vem passando por processos de mudanças através das múltiplas experiências e situações vivenciadas, alcançando importantes conquistas que o fazem elevar sua dignidade e permite a permanência no lugar sem perder totalmente seus costumes e valores. A comercialização é o consumo do açaí e do pescado são importantes fatores que permitem a sobrevivência do ribeirinho na vila, o que foi possível observar é que a maioria do ribeirinho morador da vila se dedica a atividade basicamente ligada ao extrativismo vegetal e 46 animal nos quais se destacam no extrativismo vegetal a coleta do açaí e no animal a pesca onde se captura varias espécies como: camarão, apaiari, aracu, tamuatá, piranha e outros que serve como fonte de alimento como também fonte de renda familiar, garantindo sua sobrevivência o ano inteiro.Haja vista que a sazonalidade do açaí não prejudica.Pois ao acabar o período do açaí o ribeirinho se dedica a pesca começa-se novamente o ciclo que se torna relevante nesse processo. Fonte: Cavalheiro, 2007. 47 A normalização no funcionamento no setor educacional onde se atende alunos da educação infantil ao 1º ano do ensino médio é outro fator relevante que permite a permanência do ribeirinho que busca na educação um futuro promissor aos filhos, pois morar na vila é ter acesso à escola que conta com uma infraestrutura melhor, o que diferencia de outras comunidades. Considerando que o ribeirinho que não e proprietário de terra onde possa construir sua moradia e sendo difícil comprar um lote por ser muito caro, na vila ele consegue através de doações sendo apenas necessário pagar uma taxa de R$50,00 a 80,00 anual o que vem a ser um fator responsável pela fixação do ribeirinho neste espaço através da facilidade de fixar residência própria ganhado seu lote de terra. 48 Fonte: Cavalheiro, 2007. O ribeirinho da vila de São Sebastião de Arapixi apesar de vim acompanhando grandes mudanças em seu espaço através de múltiplas experiências ainda se preocupa em conservar certos valores de sua cultura que o identificam como parte desse território nesse sentido a identidade do ribeirinho com o lugar é outro fator que permite o ribeirinho permanecer na vila ligado por laço de afetividade que o mesmo criou ao longo dos anos definido a vila como um lugar agradável, tranqüilo, calmo e bom de morar. Além disso, são poucos os lugares que proporcionam a continuidade da cultura das populações tradicionais em especial o ribeirinho 49 que além de ver a vila como fornecedor de sobrevivência, a enxerga também como fonte de renda, conseguindo dar condições para usar seus próprios mecanismos acumulados que acabam sendo transformados e comercializados garantindo sua sobrevivência a qual é um exemplo de como um patrimônio natural e capaz de sustentar o processo produtivo do ribeirinho na vila buscando seu desenvolvimento social, econômico e cultural. Vale ressaltar também que ao comparar o custo de vida do ribeirinho da vila com o custo de vida em outro lugar é bem mais baixo o que acaba sendo um outro atrativo para o ribeirinho permanecer no local que além de não possuir condições financeiras para comprar uma casa em outro lugar, está arraigado aos seus saberes baseados na combinação de suas técnicas rudimentares e artesanais o que o torna incapaz de executar outra atividade que não esteja relacionada ao espaço no qual ele se insere. 50 Considerando que a vila de São Sebastião de Arapixi é considerada um espaço viável a subsistência do ribeirinho por vários fatores como comercialização do açaí e do pescado, a educação, a identidade com o lugar, a facilidade de fixar residência própria o custo de vida baixo e a infra-estrutura. Dessa forma se faz necessário que os órgãos públicos viabilize incentivos que venha beneficiar esses ribeirinhos com renda fixa, saúde publica de qualidade e investimento em saneamento básico, também e de competência do poder publico local promover políticas que venha propiciar benefícios aos ribeirinhos nas praticas de econômicas suas como principais a atividades implantação de cooperativas, onde se considera que o ribeirinho precisa que seus valores sejam respeitados influenciando seu caráter socioeconômico e estimulando cada vez mais a permanência dessa população nesse espaço tão significante para eles. 51 REFERENCIAS FERREIRA, João Vicente. O Pará e seus municípios. Belém, 2003, p. 686. MACIEL, Ana Amélia de Araújo. O manto do Marajó: Chaves: de aldeia dos índios Aruans à Cidade. Imperatriz: Ética, 2000. MIRANDA NETO, Marajó : desafio da Amazônia. Belém: Editora Cejup, 1993 MONTENEGRO, Augusto. Álbum do Estado do Pará. Paris: Chaponet, 1908. MONTEIRO, Benedicto. Historia do Pará. Belém: Editora Amazônia, 2005. PARÁ, Plano Diretor Municipal – POM – PA, Registro de Informações Municipais Preliminares, Chaves, 2006. WEINSTEIN, Bárbara. A borracha na Amazônia expansão e decadência 1850/1920; tradução Lolio Lourenço de Oliveira, São Paulo: HUCITEC. Editora da universidade e São Paulo, 1993 ( Estudos históricos; 20). 52 53