Anais do XIV Encontro de Iniciação Científica da PUC-Campinas - 29 e 30 de setembro de 2009 ISSN 1982-0178 FABRICAÇÃO DE ELEMENTO CONSTRUTIVO DE BAIXO CUSTO COM RESÍDUOS DE CONSTRUÇÃO E DEMOLIÇÃO Vanessa Silva Pugliero Faculdade de Engenharia Ambiental CEATEC [email protected] Resumo: O setor da construção civil é também responsável por agredir o ambiente. Neste aspecto, considera-se importante o reuso, a reciclagem de resíduos e a redução do consumo de materiais naturais e não renováveis.Esta pesquisa versa sobre o estudo da resistência à compressão e absorção de concretos contendo agregados reciclados provenientes de resíduos de construção e demolição (RCD) utilizados na fabricação de guias de sarjeta prémoldadas. Para todas as dosagens ensaiadas é possível a aplicação em meio-fio de concreto. Palavras-chave: materiais alternativos, materiais e componentes de construção, processos construtivos. Área do Conhecimento: Engenharias - Construção Civil 1. INTRODUÇÃO O RCD (resíduo de construção e demolição) é um material extremamente heterogêneo, podendo apresentar para uma mesma amostragem, diferentes valores de massa específica, resistência mecânica e absorção de água embora apresentam semelhanças visuais [1]. Os agregados reciclados têm grandes efeitos nas propriedades do concreto. O comportamento mecânico e a durabilidade do concreto são afetados devido à microestrutura dos agregados reciclados que diferem dos agregados naturais em termos de morfologia, composição, densidade e outras micro características [2]. A composição dos resíduos de construção nem sempre é o mesma de um local para outro podendo variar segundo algumas características como: a qualidade da mão-de-obra disponível, técnicas de construção local, disponibilidade e predominância de materiais na região. O RCD brasileiro é composto principalmente por concreto e argamassa, rochas e cerâmica. A resistência do concreto é afetada pela porosidade do agregado reciclado que possui quantidades variáveis de aglomerantes formados por pasta de cimento endurecida e cal [3]. A durabilidade, resistência e permeabilidade do concreto estão relacionadas com a porosidade [4]. É Profª. Drª. Rosa Cristina Cecche Lintz Grupo de Pesquisa: Tecnologia do Ambiente Construído CEATEC [email protected] possível se substituir a areia por RCD em argamassas destinadas à fabricação de elementos em argamassa armada, pois os valores de resistência à compressão e absorção de água obedecem as normas vigentes [5]. No Brasil, as caçambas coletam o entulho das obras, que são transportadas às usinas de reciclagem. O RCD passa pela triagem, britagem e estocagem. Ações integradas com todos os agentes pertencentes à cadeia produtiva do setor podem resolver problemas de geração de resíduos orientando as empresas geradoras. No Brasil, não se costuma separar o RCD conforme sua composição antes dele chegar às usinas de reciclagem. A classificação do RCD é cara e demorada, embora certas classificações são feitas visualmente [6]. Na Classe “A” do CONAMA 307 estão resíduos reciclados na forma de agregados, geralmente empregados em base de pavimentação, em solos de terraplanagem, na fabricação de argamassas e concretos [7]. Devido a tecnologia de britagem desenvolvida no Brasil a reciclagem dos resíduos de construção e demolição (RCD) tornaram-se viáveis [8]. A reciclagem de entulho é vantajosa economicamente, pois converte uma fonte de despesa em renda, para a comunidade. Em muitos países este segmento de reciclagem já possui economia rentável, de forma que as empresas contam com maquinários sofisticados que produzem um RCD de melhor qualidade [9]. Seria vantajoso a reciclagem dos RCD no próprio local da obra, de forma que não houvesse necessidade de transporte do mesmo e nem a extração de novos recursos naturais [10]. 2. PROGRAMA EXPERIMENTAL Esta pesquisa versa sobre o estudo da incorporação de agregados reciclados provenientes de RCD na fabricação de meio-fio. 2.1. Materiais O agregado miúdo empregado é de origem quartzosa natural, proveniente da região de Campinas-SP. Anais do XIV Encontro de Iniciação Científica da PUC-Campinas - 29 e 30 de setembro de 2009 ISSN 1982-0178 Foi determinada a massa específica da areia (2,6 kg/l) segundo a NBR NM52 [11] e a massa unitária da areia (1,66 kg/l), conforme a NBR 7251 [12]. A areia natural apresentou dimensão máxima característica 1,2 mm, classificada como fina, e módulo de finura igual a 1,81 (NBR 7211) [13]. O agregado reciclado escolhido foi do tipo cinza. O agregado graúdo empregado é do tipo basáltico e possui massa específica (2,3 kg/l) segundo a NBR NM53 [14] e a massa unitária (2,05 kg/l), conforme a NBR 7251[12]. A dimensão máxima característica 9,5 mm, e módulo de finura igual a 5,12 (NBR 7211) [13]. O aglomerante utilizado é o Cimento Portland CPV ARI. Absorção absorção (%) 2 1,55 1,5 1,3 1,25 1,15 1 0,7 0,5 0 T0 T1 T2 T3 T4 Traço Figura 1. Absorção de água em porcentagem de cada traço moldado. 2.2. Seleção dos traços Foram selecionados cinco traços de concreto e moldados corpos-de-prova, cujo traço de referência, em massa é: 1:2:4:0,48 (cimento:areia:brita:água). A este traço foram substituídos gradativamente a areia e a brita pelos agregados reciclados de mesma granulometria, nas porcentagens: 0%(T0), 10%(T1), 20%(T2) e 30%(T3), 40%(T4). 2.3. Moldagem e ensaio dos corpos-de-prova de concreto A mistura dos concretos foi feita na betoneira intermitente de eixo inclinado (NBR 5738) [14]. Os corposde-prova foram moldados sobre a mesa vibratória e curados submersos em câmara úmida, durante 28 dias, segundo NBR 5738 [14]. Após a cura dos corpos-de-prova cilíndricos estes foram retificados para a execução dos ensaios: resistência à compressão (NBR 5739) [15] e absorção de água por imersão (NBR 9778) [16]. 3. RESULTADOS As figuras 1, 2, mostram os valores obtidos para a absorção de água por imersão e resistência à compressão simples. Resistência a compressão simples 28 dias MPa 35 32,75 29,72 30 25 25,61 23,19 20 21,31 15 10 5 0 T0 T1 T2 T3 T4 Traço Figura 2. Resistência à compressão simples aos 28 dias de cura, de cada traço moldado. 4. CONCLUSÃO Neste trabalho constata-se que, conforme mostra a figura 1, todas as misturas com agregados reciclados apresentaram uma absorção de água por imersão superior ao traço de referência, mostrando a influência da natureza do agregado nesta propriedade. Para a resistência à compressão, aos 28 dias, todas as misturas apresentaram valores inferiores ao do concreto de referência, mas superiores a 20 MPa, podendo ser aplicada na fabricação de meio-fio. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem a PUC-Campinas pelo apoio concedido e a bolsa de estudo FAPIC/Reitoria. REFERÊNCIAS [1] Angulo, S. C. e John, V. M. Determinação de concreto e argamassa em agregados graúdos de RCD reciclados. In: 43º Congresso Brasileiro do Anais do XIV Encontro de Iniciação Científica da PUC-Campinas - 29 e 30 de setembro de 2009 ISSN 1982-0178 [2] [3] [4] [5] [6] [7] [8] [9] Concreto CBC2001, IBRACON, 2001, Foz de Iguaçu. Ryu, J. S. (2002), Na experimental study on the effects of recycled agregate on concrete properties, Magazine of Concrete Research, vol. 1, n.54, p.13-21. Ulsen, C. (2006), Caracterização tecnológica de resíduos de construção e demolição, Tese de Mestrado, Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, São Paulo CARRIJO, P. M. 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Dispõe sobre deposição ambientalmente correta de resíduos de construção e demolição. Resolução nº 307 do CONAMA. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/port/conama/res/res02/r es30702.html> Acesso dia 6 jan. de 2009 às 11h27min. OGLIARI, C.; ROCHA, J. C.; CHERIAF, M.. Lixiviação em Argamassas Produzidas com Agregados Reciclados. In: IV Encontro Nacional e II Encontro Latino-americano sobre Edificações e Comunidades Sustentáveis. Campo Grande, Elecs, 2007. SANTOS, E. C. G.. Aplicação de resíduos de construção e demolição reciclados (RCD-R) em estruturas de solo reforçado. 2007. 168f. Dissertação (Mestrado em Geotecnia)- Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo, São Carlos, 2007. Disponível em < http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/18/181 32/tde-10042007-110106/ > Acesso em 12 de jan de 2009. [10] SILVA, D. S.; PELISSER, F. Concreto com Agregado Reciclado. In: 48º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO CBC2006, setembro 2006, Rio de Janeiro. ISBN 85-98576-093. [11] Associação Brasileira de Normas Técnicas (2003). NBRNM52 - Agregado miúdo - Determinação de massa específica e massa específica aparente. Rio de Janeiro. 6p. [12] Associação Brasileira de Normas Técnicas (1982). NBR7251 - Agregado em estado solto Determinação da massa unitária. Rio de Janeiro. 3p. [13] Associação Brasileira de Normas Técnicas (2005). NBR7211 – Agregados: Determinação da composição granulométrica. Rio de Janeiro. 11p [14] Associação Brasileira de Normas Técnicas (2003). NBR NM53 - Agregado graúdo - Determinação de massa específica, massa específica aparente e absorção de água. Rio de Janeiro. 8p. [15] Associação Brasileira de Normas Técnicas (2003). NBR5738 - Concreto - Procedimento para moldagem e cura de corpos-de-prova. Rio de Janeiro. 6p. [16] Associação Brasileira de Normas Técnicas (2007). NBR5739: Concreto - Ensaio de compressão de corpos-de-prova cilíndricos. Rio de Janeiro, 9p. [17] Associação Brasileira de Normas Técnicas (2005). NBR 9778 - Argamassa e concreto endurecidos - Determinação da absorção de água, índice de vazios e massa específica. Rio de Janeiro. 4p.