UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA ESTELA MARIA RODRIGUES O PROJETO INTEGRADO D E PARTICIPAÇÃO COMUNITÁRIA E O GRUPO DE MULHERES ARTE & SABER NA COMUNIDADE MORAR BEM I NO MUNICIPIO DE SÃO JOSÉ/SC Palhoça 2008 1 ESTELA MARIA RODRIGUES O PROJETO INTEGRADO DE PARTICIPAÇÃO COMUNITÁRIA E O GRUPO DE MULHERES ARTE & SABER NA COMUNIDADE MORAR BEM I NO MUNICIPIO DE SÃO JOSÉ/SC Trabalho de Conclusão de Curso apresentado á Universidade do Sul de Santa Catarina - Unisul, Campus da Grande Florianópolis, para obtenção do título de Bacharel em Serviço Social. Orientadora: Profª. Msc. Vera Nícia Fortkamp de Araújo Palhoça 2008 2 ESTELA MARIA RODRIGUES O PROJETO INTEGRADO DE PARTICIPAÇÃO COMUNITÁRIA E O GRUPO DE MULHERES ARTE & SABER NA COMUNIDADE MORAR BEM I NO MUNICÍPIO DE SÃO JOSÉ /SC Este Trabalho de Conclusão de Curso foi julgado adequado à obtenção do título de Bacharel em Serviço Social e aprovado em sua forma final pelo Curso de Serviço Social da Universidade do Sul de Santa Catarina . Palhoça, 27 de novembro de 2008 ____________________________________________ Prof. e Orientadora Msc Vera Nícia Fortkamp de Aráujo Universidade do Sul de Santa Catarina – UNISUL ____________________________________________ Prof. Msc Janice Merigo Universidade do Sul de Santa Catarina – UNISUL ____________________________________________ Prof. Msc José Gabriel da Silva Universidade do Sul de Santa Catarina – UNISUL 3 AGRADECIMENTOS Aos meus filhos Bruna e Paulo Eduardo que em função da minha dedicação na conclusão desse trabalho entend eram a minha ausência com incentivo e amor que marcou sempre a nossa existência. Ao meu neto Nícolas Eduardo a quem tanto amo. As minhas irmãs Izabel e Júlia pelo apoio constante ao longo de minha vida . A minha madrinha Vera Lúcia pelo incentivo e compreen são, obrigada. Ao colega Leonardo sempre com sua compreensão na minha ausência no trabalho . A minha supervisora de campo Karina Muller Costa, pelos ensinamentos na época de estágio. A minha orientadora Professora Vera Nícia Fortkamp de Araújo por toda a dedicação nos ensinamentos com todas as minhas dificuldades, que persistiu em ampliar meus conhecimentos para que eu pudesse concluir a minha graduação. Á todos os professores do Curso de Serviço Social da Unisul. A amiga Anita por sua amizade sincera ao lon go de minha graduação, um beijo grande. A Coordenadora do Curso de Serviço Social da Unisul Regina Panceri. Um carinho todo especial a todos aqueles que de uma forma ou de outra contribuíram para a conclusão deste trabalho. 4 Dedico este trabalho a minha irmã Zurilda Maria Rodrigues pelo esforço contínuo de me proporcionar um futuro diferente, com ensinamentos pautados por um ideal. 5 RESUMO O estudo aqui apresentado tem como assunto principal abordar o Projeto Integr ado de Participação Comunitária com ênfase no acompanhamento ao Grupo de Mulheres Arte & Saber da Comunidade Morar Bem I no município de São José -SC. É o resultado do estágio curricular obrigatório realizado na SEPLAN – Secretaria de Planejamento e Desenvo lvimento Urbano e Social, vinculado à Política Habitacional através da reflexão em relatórios técnicos do Serviço Social desenvolvidos pela Equipe de Consultoria e Assessoria da Unisul com a Prefeitura Municipal de São José -SC. O objetivo geral foi apresen tar a participação das mulheres no Grupo Arte & Saber da Comunidade Morar Bem I no município de São José -SC. Optou-se por realizar um levantamento através de formulários aplicados com o Grupo de Mulheres Arte & Saber para verificar a participação do grupo. Nos procedimentos metodológicos buscou-se a fundamentação teórica de Grupos e Participação, a prática da cidadania e democracia dentro da Comunidade Morar Bem I. Esse estudo contribui no sentido de trazer para o Serviço Social um desenvolvimento de mudanç a social, de ações da relação com o sujeito indivíduo e o grupo. Palavras-chave: Política habitacional. Participação. Cidadania, Democracia, Serviço Social. 6 LISTA DE SIGLAS BID - Banco Internacional de Desenvolvimento BNH - Banco Nacional de Habitação CEF - Caixa Econômica Federal DI - Desenvolvimento Institucional ER - Entidades Representáveis ESA - Educação Sanitária Ambiental GTR - Geração de Trabalho e Renda HBB - Habitar Brasil BID IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IPCA - Índice de Preço ao Consumidor Amplo MOC - Mobilização e Organização Comunitária OGU - Orçamento Geral da União PAC - Programa de Aceleração e Crescimento PAR - Programa de Arrendamento Residencial PPC - Projeto de Participação Comunitária PPC - Projeto de Participação Comunitária PSH - Programa de Subsídio à Habitação de I nteresse Social SEDU - Secretaria Extraordinária de Desenvolvimento Urbano de São José SEPLAN - Secretaria de Planejamento e Desenvolvimento Urbano e Social SFH - Sistema Financeiro de Habitação TR - Termo de Referência UAS - Urbanização de Assentamento Subnormal UEM - Unidade Executora Municipal 7 LISTA DE FIGURAS Figura 1: Crianças desenvolvendo atividades no Grupo Amizade (b) ................................... 46 Figura 2: Crianças desenvolvendo atividades no Grupo Amizade (c) .................................... 47 Figura 3: As mulheres desenvolvendo atividades no Grupo Arte & Sab er (a) ....................... 66 Figura 4: As mulheres desenvolvendo atividades no Grupo Arte & Saber (b) ....................... 67 Figura 5: As mulheres fazendo crochê no Gr upo Arte & Saber............................................. 68 Figura 6: Trabalhos acabados no Grupo Arte & Saber .......................................................... 68 Figura 7: As mulheres desenvolvendo atividades no Grup oArte & Saber (c) ........................ 69 Figura 8: Oficina de Artes (a) ............................................................................................... 70 Figura 9: Oficina de Artes (b) .............................................................................................. 70 Figura 10: Oficina de Artes (c) ............................................................................................ 71 Figura 11: Oficina de Artes (d) ............................................................................................. 71 Figura 12Oficina de Artes (e) ............................................................................................... 72 Figura 13: Oficina de Artes (f) ............................................................................................. 72 8 LISTA DE QUADROS Quadro 1 - Limites dos Valores de Financiam ento para Ações de Desenvolvimento Institucional. ...................................................................................................... 18 Quadro 2 - Limites de Custos de Projetos Integrados de Urbanização de Assentamentos Subnormais........................................................................................................ 18 9 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1 - Idade das participantes do Grupo de Mulheres Arte & Saber .............................. 56 Gráfico 2 - Número de filhos das participantes do Grupo Arte & Saber ................................ 57 Gráfico 3 - Quanto tempo participa do Grupo ....................................................................... 57 Gráfico 4 - Desenvolve renda com as atividades que aprendeu ............................................. 58 Gráfico 5 - Consegue ensinar o que aprendeu ....................................................................... 58 Gráfico 6 - As mulheres têm interesse em continuar no Grupo de Mulheres Arte & Saber. ... 59 Gráfico 7 - Mudanças na vida com a participação no grupo .................................................. 59 10 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 11 2. A COMUNIDADE MORAR BEM I NO MUNICÍPIO DE SÃO JOSÉ .................. 13 2.1 A POLÍTICA HABITACIONAL DE SÃO JOSÉ E SEUS PROGRAMAS ............ 13 2.2 APRESENTANDO O PROGRAMA HABITAR BRASIL - HBB - BID BANCO INTERAMERICANO DE DESENVOLVIMENTO ......................................................... 16 2.3 O PROJETO INTEGRADO DE PARTICIPAÇÃO COMUNITÁRIA NO MORAR BEM I – SÃO JOSÉ-SC E O SEU DESENVOLVIMENTO A PARTIR DO TERMO DE REFERÊNCIA ................................................................................................................. 21 2.4 ASPECTOS DO TRABALHO DE CONSULTORIA DO SER VIÇO SOCIAL: O PROJETO INTEGRADO DE PARTICIPAÇÃO COMUNITÁRIA NO MORAR BEM I 23 3. A PRÁTICA PROFISSIONAL DO SERVIÇO SOCIAL NA SEPLAN: ABORDAGEM DA INSTRUMENTALIDADE ............................................................... 29 3.1 A PRÁTICA PROFISSIONAL E O COMPROMISSO ÈTICO -POLITÍCO COM ABORDAGEM NO CÓDIGO DE ÉTICA DO ASSISTENTE SOCIAL .......................... 29 3.2 A INSTRUMENTALIDADE NO PROCESSO D E TRABALHO DO ASSISTENTE SOCIAL........................................................................................................................... 33 4. O SERVIÇO SOCIAL TRABALHANDO COM GRUPOS; ASPECTOS CONCEITUAIS, EXPERIÊNCIAS E A PRÁTICA DE INTERVENÇÃO .................... 39 4.1 O TRABALHO SOCIAL COM GRUPOS: ............................................................ 39 4.2 GRUPO AMIZADE – PARTICIPAÇÃO DE CRIANÇAS EM GRUPO ............... 45 4.3 O GRUPO DE MULHERES ARTE & SABER DA COMUNIDADE MORAR BEM I: UMA REFLEXÃO A PARTIR DE PRINCÍPIOS DE PARTICIPAÇÃO ...................... 47 4.4 APRESENTANDO O LEVANTAMENTO COM AS MULHERES DO GRUPO ARTE & SABER ............................................................................................................. 55 5. CONCLUSÃO ............................................................................................................ 61 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 63 ANEXO .............................................................................................................................. 65 11 1. INTRODUÇÃO O presente Trabalho de Conclusão de Curso de Serviço Social é o resultado da experiência prática através das reflexões e investigações em documentos, relatórios sobre as ações desenvolvidas pelo Serviço Social na Comunidade Morar Be m I da Equipe de Consultoria da Unisul na Secretaria de Habitação da Prefeitura Municipal de São José – SEPLAN. Estas reflexões culminaram com a observação e o levantamento realizado no Grupo de Mulheres Arte & Saber da Comunidade Morar Bem I, no sentido de compreender parcialmente como se dá a participação e o s resultados da participação no grupo na comunidade. Assim sendo o trabalho apresentado traz como objetivo principal apresentar o Projeto Integrado de Participação Comunitária no Grupo de Mulheres Arte & Saber na Comunidade Morar Bem I. Diante dessa realidade a Prefeitu ra Municipal de São José, em parceria com o Governo Federal e Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), através do Programa Habitar Brasil, implantou o Projeto Social de Participaç ão Comunitária Morar Bem I, onde a Unisul passa a integrar o Projeto com uma equipe de Consultoria para o trabalho Social e ambiental, com o objetivo de contribuir para melhorar a qualidade de vida e integração da novas famílias que serão advindas de área de risco e de preservação ambiental. Esse trabalho vem contribuir à formação do profissional de Serviço Social no decorrer da academia onde são aprendidos referenciais teóricos metodológicos, ético político s e técnicos operativo, essencial para identificar na prática a realidade social. Isso vem possibilitar o contato com as diversas expressões da questão social presentes na vida cotidiana da Comunidade Morar Bem I, atendida pela Secretaria de Planejamento - SEPLAN no município de São José -SC. Com este Trabalho de Conclusão de Curso é possível conhecer a p articipação das mulheres do Grupo Arte & Saber , por meio do Serviço Social da SEPLAN que atua na comunidade, com acompanhamento de uma Assistente Social e uma estagiária de Serviço Social basicamente através de encontros semanais para a realização de oficinas de artesanatos, palestras e demais atividades. 12 Foram durante estes encontros que c hamou-nos a atenção, a compreensão da visão de mundo das mulheres demonstrada a cada encontro em que desenvolviam ativi dades de práticas de artesanatos e reflexão sobre assuntos diversos que foi se c onstituindo num passo importante inclusive para se rever a prática profissional e para buscar novas formas de ação, diante da realidade apresentada e dos objetivos da prática p rofissional. Nesses encontros percebeu -se que para aquele grupo de mulheres além das confecções de artesanatos, também podem favorecer a geração de trabalho e renda, que além de melhorar suas próprias condições de vida, as de suas famílias, també m fortalece a identidade e o pertencimento de um grupo , onde a participação era o fator preponderante por parte das mulheres. O acompanhamento no Grupo de Mulheres na Comunidade Morar Bem I foi de uma experiência profissional ímpar, indo além, pois trocamos experiências, saberes e habilidades, aprendemos a reconhecer, respeitar e dialogar nossas diferenças e geramos mudanças em nós mesmas, em nossas famílias, em nossa comunidade, transformando assim, nossa visão das coisas, do mundo da realidade. O estudo aqui apresentado divide-se em capítulos para um melhor entendimento do tema em questão. O capítulo dois será abordado sobre a Comunidade Morar Bem I no município de São José apresentando a Política Habitacional , o Programa Habitar Brasil BID, o Projeto de Integrado de Participação Comunitária a partir do Termo de Referência e o Trabalho de Consultoria do Serviço Social . O terceiro capítulo refere-se á Prática Profissional do Serviço Social na Seplan com a abordagem da instrumentalidade, a prática prof issional com abordagem no Código de Ética do Assistente Social, a instrumentalidade no processo de trabalho do Assistente Social. O quarto capítulo refere-se ao Serviço Social trabalhando com grupos, aspectos conceituais de grupo e participação , Grupo Amizade e a participação de crianças, O Grupo de Mulheres Arte & Saber com uma reflexão a partir de princípios de participação . Para finalizar, apresentaremos o levantamento realizado no Grupo de mulheres Arte & Saber com os resultados, a conclusão, fontes bibliográficas utilizadas na fundamentação teórica deste TCC e por fim os anexos. 13 2. A COMUNIDADE MORAR B EM I NO MUNICÍPIO DE SÃO JOSÉ 2.1 A POLÍTICA HABITACIONAL DE SÃO JOSÉ E SEUS PROGRAMAS Para descrever-se sobre a Política Habitacional no município de São J osé, é necessária a consulta em autores que discutem sobre o tema Habitação incluindo acesso aos arquivos que contém documentos sobre a criação da Secretaria de Desenvolvimento Urbano, como também os programas e projetos desenvolvidos. Além disso mantivemo s diálogos com as assistentes sociais envolvidas para esclarecimentos e fornecer informações para seguir a elaboração textual. Em 14 de maio de 2000 foi criada através da Lei nº 1.124, a Secretaria Extraordinária do Desenvolvimento Urbano de São José (SEDU ). A Secretaria tinha como objetivo maior à coordenação e execução do Programa Habitar Brasil BID – Projeto Morar Bem I. Neste mesmo período o município de São José estabelece, através da Lei nº 3.686, de 13 de julho de 2001, normas sobre a política habita cional do município, criando o Conselho Municipal de Habitação e Desenvolvimento Urbano, e o Fundo Municipal de Habitação. De acordo com a referida Lei Municipal, é de competência do município: Artigo 1º, compete ao município promover e disciplinar program as de construção de moradias e melhorias das condições habitacionais, inclusive através de convênios com entidades públicas e privadas, observadas as disposições. O artigo ainda prevê os seguintes objetivos da política habitacional no município: I – Atender as diretrizes e os planos de desenvolvimento para garantir gradativamente, habitação para todas as famílias; II – Atender com prioridade, as famílias de baixa renda e as que vivem em sub habitações, dando ênfase a programas de lotes urbanizados; III – Estimular a pesquisa que vise garantir a melhoria das condições habitacionais do município; IV – Viabilizar recursos orçamentários para garantir as metas e prioridades, visando a sua efetividade e eficácia; 14 V – Garantir a participação da população, po r meio de organizações representativas, na formulação da política habitacional e no controle das ações em todos os seus níveis. Quanto aos objetivos da Política Habitacional do município de São José, o item V apontado acima, de “garantir a participação da população, por meio de organizações representativas”, este será o foco do estudo, como poderemos constatar no desenvolvimento da nossa ação profissional. A consolidação da Secretaria fez com que os outros programas habitacionais fossem direcionados para a mesma, nesse sentido destacamos os de maior vulto como o PARPrograma de Arrendamento Residencial, instituído pelo Governo Federal no ano de 1999. Sendo assim, inicialmente foi instituído no Município, a construção de seis condomínios residenciais. Sã o eles: Residencial Figueira, no Sertão do Marui, com 168 unidades; Parque Residencial Sagrado Coração de Jesus, em Potecas, com 160 unidades; Residencial Villa do Mar em Barreiros, com 128 unidades e o Residencial Santa Maria II em Barreiros com 96 unidades habitacionais. Percebe-se que as famílias interessadas neste s programas habitacionais precisam ter um perfil que siga critérios para serem incluídos , como: A renda dos interessados no PAR deve ser de três a seis salários mínimos e o proponente não pode ter problemas cadastrais com SPC e SERASA. O Programa de Subsídio à Habitação de Interesse Social - PSH atende no momento 107 famílias com financiamento de material de construção para as famílias com renda de até dois salários mínimos e que possuam terren o no município ou autorização de algum proprietário para a construção. A Caixa Econômica Federal é a responsável direta por essa linha de financiamento, enquanto o Sistema Financeiro de Habitação - SFH. Nos diferentes governos do Brasil foram lançados programas que se voltavam ao atendimento da emergencial crise da habitação que impulsionou a Gestão da Política de Habitação a partir da criação de fundos para aquisição da casa própria. A questão da moradia sempre foi presente na história da trajetória do ho mem pela sua sobrevivência básica. Nas sociedades capitalistas exige decisões políticas, a intervenção do Estado, financiamentos para a construção de casas populares, por se tratar de um problema social de longo tempo que atinge as classes sociais de pouco ou nenhum poder financeiro. O crescimento das cidades deu -se a partir do processo de industrialização, porém sem oferecer condições necessárias para que a população economicamente vulnerável pudesse 15 se estabelecer com condições adequadas. Isso fez emer gir problemas sociais principalmente a questão habitacional, tais como: o crescimento demográfico, a aglomeração de populações nos centros urbanos, a valorização do solo urbano (da terra), a segregação social e espacial, entre outros, aumentando assim a exclusão social. A partir da última década é que a gestão da política de habitação ganha valorização e passa a contar com algo inovador, que é o repasse aos municípios a responsabilidade e a oportunidade da promoção de oferta de financiamento para moradias populares. Para facilitar a operacionalização deste projeto de grande magnitude, atualmente sob a gestão do Ministério da s Cidades foram criados programas de apoio, dentre eles: Pró Moradia, Apoio à produção e o Programa Habitar Brasil. Para efeitos de estudo, e de base operativa do exercício da nossa prática profissional, iremos focar o Programa HABITAR BRASIL . Este conta com recursos da União e do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), e tem por objetivo contribuir para elevar os padrões de habit abilidade e de qualidade de vida das famílias que se encontram instaladas em assentamentos considerados subnormais, nas regiões metropolitanas, aglomerados urbanos e capitais de Estado, além de fortalecer a gestão urbana. A Prefeitura Municipal de São José , com a intenção de responder parte das demandas habitacionais do município, aderiu o Programa Habitar Brasil/BID - Projeto Integrado Morar Bem I em Barreiros, próximo as localidades Jardim Zanelato, Metropolitano, José Nitro e bairro Araucária. Com o início da gestão do Prefeito Fernando Melquíades Elias, em janeiro de 2004, a SEDU passou a ser chamada de SEPLAN (SECRETARIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO URBANO E SOCIAL) e a Diretoria de Habitação foi incorporada por esta pasta. A Diretoria de Habitação é formada por um Diretor, Sr. Augusto Bousfield, duas Assistentes Sociais, Karina Muller Costa e Fabiana de Oliveira Cervelin e três estagiárias de Serviço Social da Unisul. A coordenação da UEM (UNIDADE EXECUTORA MUNICIPAL) que acompanha e coordena o Pr ograma Habitar Brasil BIB – Morar Bem I – também continua vinculado a SEPLAN. A equipe de técnicos da Secretaria de Planejamento e Desenvolvimento Urbano e Social-SEPLAN é formada por engenheiros, arquitetos, advogados, sociólogos e 3 estagiários de engenharia. 16 Além da coordenação do Programa HBB/BID do Projeto Morar Bem I, são desenvolvidas por esta Diretoria o cadastro Habitacional Municipal (que serve de subsídio para os futuros programas a serem implantados), o acompanhamento do PAR (Programa de Arrendamento Residencial) e a elaboração de projetos conforme os recursos disponibilizados pela OGU ( Orçamento Geral da União) através do Ministério das Cidades , que podemos encontrar nos arquivos da Seplan. 2.2 APRESENTANDO O PROGR AMA HABITAR BRASIL - HBB - BID BANCO INTERAMERICANO DE DE SENVOLVIMENTO Ao fazer a presente descrição do Programa Habitar Brasil – BID, busca-se a interação a partir de estudos realizados em documentos e trabalhos de Conclusão de Curso do Serviço Social para uma melhor compreensão do P rograma HBB e o Projeto Integrado Morar Bem I, sobre a sua estrutura organizacional. O Projeto Morar Bem I tem por meta atender 600 famílias residentes em áreas de risco ou de prevenção permanente , neste caso oriundas das encostas dos morros do Pedregal e Metropolitano situados no município de São José, com veremos no próximo item. O Programa HBB destina recursos para o fortalecimento institucional dos municípios e para execução de obras e serviços de infra -estrutura urbana e de ações de intervenção social e ações ambientais que correspondem a mobilizações dos moradores, para se organizarem em grupos de acordo com as necessidades individuais e coletivas, ações de educação para preservação do meio ambiente com novas atitudes , por meio, respectivamente, do Subprograma de Desenvolvimento Institucional (DI) e do Subprograma de Urbanização de Assentamentos Subnormais (UAS). A relação de necessidades que o programa pode atender – Subprograma de Desenvolvimento Institucional (DI) – objetiva fortalecer a capacidade dos municípios para atuar na melhoria das condições habitacionais da população, com foco especial nas famílias de baixa-renda. O subprograma de urbanização de Assentamentos Subnormais (UAS), desenvolve obras e serviços para regularização e urbanização de a ssentamentos precários complementados com ações voltadas para o desenvolvimento comunitário da população residente, e a regularização fundiária. 17 Busca-se então transcrever conforme aponta Brugnara (2005, p. 13-15): Legislação básica: São aplicáveis ao Programa as diretrizes e as regras do contrato de Empréstimo celebrado entre União e o BID, o Regulamento Operacional, o Manual de Orientações dos Subprogramas DI e UAS e seus anexos. Fontes dos recursos Subprograma de Desenvolvimento Institucional (DI): - Orçamento Geral da União (OGU), máximo de 98% do valor do investimento; - Contrapartida do proponente, mínimo de 2% do valor investido. Subprograma de Urbanização de Assentamentos Subnormais (UAS): - Orçamento Geral da União (OGU), máximo de 95% do valor do inves timento; - Contrapartida do proponente, mínimo de 5% do valor investido. Destinatários finais do Programa : Famílias de baixa renda, predominantemente na faixa de até 3 salários mínimos, que residam em assentamentos precários - favelas, mocambos, palafitas, entre outras – localizados em regiões metropolitanas, aglomerações urbanas e capitais de estados. Participantes e suas principais funções: - Ministério das Cidades (Mcidades) : Órgão gestor do Programa, com atribuições de promover treinamentos, planejar, o rganizar, coordenar e controlar sua execução; - Caixa Econômica Federal (CEF) : Empresa pública contratada pela União para operacionalização do Programa através dos projetos em que se desdobra, orientando suas formulações e realizando as atividades de análi se, aprovação, acompanhamento e avaliação dos projetos integrados ; - Municípios, Distrito Federal e, eventualmente, Estados : Proponente e agente executor das ações e dos projetos financiados com recursos do Programa, responsáveis pela implementação das açõ es e dos projetos financiados pelo Programa; - Entidade Representativa dos Beneficiários – ER: Organizações comunitárias responsáveis pela representação dos beneficiários finais das ações e dos projetos financiados pelo Subprograma UAS, com atribuição de p articipar efetivamente de todas as etapas do trabalho voltado para sua comunidade. 18 Requisitos complementares para acesso aos recursos : 1. Apresentação de um Plano Estratégico Municipal para Assentamentos Subnormais (PEMAS). Caso o proponente não tenha condi ções de apresentar o PEMAS em sua versão definitiva, poderá pleitear apoio do Programa; 2. Constituir equipe técnica multidisciplinar para coordenar a execução do programa em nível municipal ou estadual que fique diretamente responsável pela implementação dos projetos dos subprogramas UAS e DI. Informações gerais sobre as operações do programa : a) Tipo de operação: contrato de repasse de recursos financeiros sem retorno ; b) Características de localização específica e geral: municípios integrantes de regiões metropolitanas, em aglomerações urbanas e em capitais de estados ; c) Limites operacionais: Limites dos Valores de Financiamento para Ações de Desenvolvimento Institucional. População do Município (IBGE, 1996) Até 250 mil De 250 mil a 1 milhão Mais de 1 milhão Valor Máximo(R$) 1.000.000,00 2.000.000,00 3.000.000,00 Quadro 1 - Limites dos Valores de Financiamento para Ações de Desenvolvimento Institucional. Fonte: Brugnara (2005, p. 13-15). Limites de Custos de Projetos Integrados de Urba nização de Assentamentos Subnormais: Custo do projeto integrado R$ 9.000.000,00 Custo de Urbanização por família R$ 8.000,00 Custo de Unidade Habitacional Básica (UHB) por família R$ 8.000,00 Custo do Módulo hidráulico por família R$ 1.500,00 Custo de Melhorias Habitacionais por família R$ 1.500,00 Custo de Obras Especiais Trabalho de Participação Comunitária 25% do custo total do Projeto Repasse limitado a R$ 320,00 por família Quadro 2 - Limites de Custos de Projetos Integrados de Urbanização de Assentamentos Subnormais . Fonte: Brugnara (2005, p. 13-15). 19 Esses custos referem-se a dezembro de 1999 e são atualizados com base na variação do índice do Sistema Nacional de Pesquisa de Custos e Índices da Construção Civil (SINAPI), à exceção do Trabalho de Participação Comunitária, que será atualizado com base na variação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), ambos publicados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE ,1996), isso de acordo com Brugnara (2005,p.13-15). Composição básica do investimento por projeto (Subprograma DI): - Elaboração e implementação de estudos e projetos; - Treinamento; - Aquisição de Equipamentos. Composição básica do investimento por projeto (Subprograma UAS): - Terreno e regularização fundiária ; - Indenização de benfeitorias aos proprietários: em caso de remanejamento ou reassentamento; - Projetos e estudos preliminares: limitado a 1,5% do valor de obras do projeto; - Remanejamento/ Alojamento provisório/ reassentamento de famílias; - Infra-estrutura básica e equipamentos comunitários públicos; - Habitacional: unidade básica, cesta básica de materiais de construção e recuperação e/ou melhoria; - Administração e gerenciamento; - Trabalho de participação comunitária. Condições das aplicações: Os recursos financeiros foram repassados de forma não onerosa aos Estados, DF e municípios, de acordo com as etapas do empreendimento executadas e comprovadas. Como pode-se constatar a estrutura da qual está firmado o citado Programa Habitar Brasil/BID, consta o item “trabalho de participação comunitária ” que nos chama a atenção no sentido de minimizar a exclusão dos moradores no processo de construção das moradias acompanhado da participação em grupo s organizados. Nesta apresentação do Programa Habitar Brasil BID, pode-se observar que este tem regras e diretrizes a serem cumpridas, por todos os envolvidos desde a Secretaria – 20 SEPLAN responsável pelo assentamento das famílias, Ministério das Cidades, Caixa Econômica Federal e a Instituição que presta Consultoria e Assessoria à Prefeitura Municipal de São José, isto é a UNISUL, neste momento no desenvolvimento das ações na mobilização e organização comunitária, portanto, cada um no desempenho de seu pap el social. A nossa sociedade nós podemos construí -la de forma democrática participativa, na qual graças à propriedade comunitária de meios de produção, todos os membros da sociedade tenham parte na gestão e controle dos processos produtivos e tenham parte eqüitativa no usufruto dos benefícios conseguidos com seu trabalho e seu esforço (BORDENAVE, 1986, p. 81). Por isso, em acordo com o pensamento de Bordenave, há que se concordar que, a afirmação de uma concepção de sociedade que se traduza em princípios democráticos, a participação é fundamental e que se concretiza no empenho de todos os envolvidos , seja o poder público, os profissionais e a população. Conforme Gohn (2001, p. 28): os mecanismos informais de integração social na redes societárias que criam identidades são mais importantes do que as políticas sociais de empregos precários e assistencialistas; a dimensão sócio -relacional é fundamental para motivar a participação e combater a exclusão dos excluídos -definidos nas estatísticas como aqueles que, com determinadas rendas mínimas, ou sem rendas, não se tornam incluídos ou mais participativos via a mera integração em uma nova frente de trabalho. O trabalho de participação comunitária como um eixo de ações do Serviço Social, tem sua importância para a inclusão dos moradores de um conjunto habitacional, nos espaços de decisões, seja em reuniões, assembléias e ou grupos organizados. A integração social numa comunidade também pode vir a acontecer, através de atividades de lazer, como a org anização de festas populares, rua de lazer e outros onde à participação de um expressivo número de moradores , é de acordo com as suas necessidades, desejos e na disponibilidade e exercício da sua cidadania. Ressalta-se que neste estudo ora realizado sobre o Programa Habitar Brasil – BID é importante lembrar que anteriormente no ano de 2000, a Professora da Unisul do Curso de Serviço Social Darlene de Moraes Silveira, coordenou uma pesquisa no município de São José que permitiu conhecer esta realidade e os p roblemas a serem enfrentados. 21 Tal constatação vem demonstrar a necessidade da execução de uma política governamental que incorpore uma política de Planejamento Urbano á Política Habitacional com a participação da população. 2.3 O PROJETO INTEGRADO DE PARTICIPAÇÃO COMUNITÁRIA N O MORAR BEM I – SÃO JOSÉ-SC E O SEU DESENVOLVIMENTO A PARTIR DO TERMO DE REFERÊNCIA A Prefeitura Municipal de São José/SC realizou em 2000, uma pesquisa censitária nas comunidades, Metropolitano e Pedregal objetivando o levantamento d e moradores das áreas priorizadas para a intervenção do Programa Habitar Brasil/BID. Nesse levantamento foram cadastrados um total de 600 famílias em sub habitações sendo 470 no Metropolitano e 130 no Pedregal. Este processo deu origem ao Projeto Integrado Morar Bem I. Ressalta-se que inicialmente o Projeto Morar Bem I tinha uma equipe de consultoria responsável pelo trabalho Social do Programa que constava de uma Coordenadora Socióloga, Ivonette Pitta, uma Assistente Social Valbia Campos Pereira e duas e stagiárias de Serviço Social além de uma Consultora de Trabalho Social para o PPC a Socióloga Ana Maria Loreci Santin e uma consultora para ESA a Arquiteta Roseane Pallavizini , mas que logo se dissolve e a Prefeitura Municipal de São José publica edital co m licitação para contratação de empresa de consultoria para apoiá -la no Projeto Morar Bem I. Contudo, a nova equipe de profissionais especializados assumem o Projeto Morar Bem I em julho de 2004, a Assistente Social Darlene de Moraes Silveira como Coordenadora do Trabalho Social e Mobilização Comunitária (até 2007), Vera Nícia Fortkamp de Araújo como Assistente Social Técnica , a Pedagoga Giovana Lindair Dal Zotto como articuladora institucional da Unisul com a Prefeitura Municipal de São José , Maria de Lourdes H. Teixeira Socióloga, Elizabeth Ferreira Assistente Social e José Gabriel da Silva engenheiro agrônomo como Coordenador de Educação Sanitária e Ambiental. No período de maio à outubro de 2007 assume a coordenação do Trabalho Social e de Mobilização Co munitária a Assistente Social Vera Nícia Fortkamp de Araújo , e passam a compor a nova equipe a Assistente Social Janice Merigo e a articuladora institucional da UNISUL Geórgia Maria Ferro Benetti, permanecendo o professor José Gabriel da Silva engenheiro agrônomo. 22 Em novembro de 2007 com a saída da professora Vera Nícia Fortkamp de Araújo a coordenação do Trabalho Social e de Mobilização Comunitária é repassada para a Assistente Social Janice Merigo. Sendo que este profissionais permaneceram até o final do contrato do Projeto HBB e a UNISUL em 2008. Atualmente, as unidades habitacionais para as 600 famílias já chegaram ao seu término conforme previsto, e o seu reassentamento realizado na Comunidade Morar Bem I . Ver-se-á, o processo para a efetivação do Projeto Integrado Morar Bem I. a partir do constatado em documentos (Ed ital de licitação,2004). Sendo assim, a Prefeitura Municipal de São José, por meio da Secretaria Municipal de Administração lançou uma licitação datada de 23/06/2004. Esta objetiva a contratação de empresa de consultoria para apoiar a Prefeitura Munic ipal de São José na continuidade da implementação de Projeto Integrado de Urbanização e Assentamento sub normal Comunitário nas Comunidades Metropolitano e Pedregal. O Curso de Serviço Social da Unisul sob a coordenação da professora Darlene de Moraes Silveira, apresenta proposta para a participação da licitação , conforme Edital referente ao processo de nº 5.233/2004. Ao ser aprovada passa a ser contratada, seguindo o Termo de Referência estabele cido entre as partes. Consta no Termo de Referência de junho de 2004 o item”Antecendentes” que passaremos a descrever: “A Prefeitura Municipal de São José -SC assinou com a União em 19 de dezembro de 2001, o Contrato de Repasse nº 0118.727 -75/01 – SEDU-PR/CAIXA para a implementação de projeto Integrado de Urbanização de Assentamento Subnormal (UAS), dentro do Programa Habitar Brasil -BID nas comunidades Metropolitano e Pedregal localizadas no Distrito de Barreiros, no mun icípio de São José-SC, atendendo 600 famílias. O Projeto Integrado Morar Bem I está sendo desenvolvido através da implantação de projetos de urbanização, habitação e partic ipação comunitária em nova área no Distrito de Barreiros, nas proximidades da área de intervenção. O Projeto tem como obje tivo melhorar a qualidade de vida e integração das novas famílias que serão reassentadas, advindas de áreas de risco e de preservação ambiental, localizadas em encostas nas Comunidades Metropolitano e Pedregal, no contexto geral do bairro. O projeto físico prevê a construção de 600 unidades habitacionais, com 41,00m ² cada, a serem edificadas em terreno de 128,00m ² e obras de infra-estrutura compostas de arruamento, drenagem e pavimentação das ruas do conjunto habitacional implantação dos sistemas de água, esgoto sanitário e fornecimento de energia elétrica e iluminação pública, 23 implantação de 1(um) coletor de lixo, construção de Centro Comunitário com 119,21m ² e 2 (duas) quadras de esporte e áreas de lazer, totalizando 2.063,00m ², construção de 01(uma) Creche com 6 (seis) salas, com 551,49m ²; ampliação da capacidade de atendimento do Colégio Marista e Municipal São José, com a construção de mais de 9 (nove) salas de aula totalizando 739,43m²; Posto de Saúde com 259,17m ² e Centro de Atividades Econômicas com 108,44m², para formação e capacitação de mão de obra, além das obras de tratamento urbanístico e recuperação das àreas degradadas. ” O Projeto de Participação Comunitária - PPC (2001), no Volume V do Projeto Integrado, visa à promoção da efetiva participação dos moradores nas ações a serem desenvolvidas na nova área a ser urbanizada, desde a etapa de planejamento, implementação, sustentabilidade e avaliação, através do incentivo e fortalecimento da organização comunitária. Portanto, o projeto acima citado é com vistas a desenvolver o processo de reassentamento de famílias de determinadas áreas do município de São José que vivem em habitações subnormais, em áreas de risco, para nova área urbanizada fortalecendo a promoção social e trazendo ganhos de habitabilida de, representados pela viabilização de unidades residências adequadas e em condições dignas de moradia. 2.4 ASPECTOS DO TRABALHO DE CONSULTORIA DO SE RVIÇO SOCIAL: O PROJETO INTEGRADO DE PARTICIPAÇÃO COMUNITÁRIA NO MORAR BEM I Conforme já apontado, o Projeto de Participação Comun itária, prevê a participação de moradores nas ações, a serem desenvolvidas em conjunto com a equipe de consultoria e assessoria na Comunidade Morar Bem I , que apontem para o exercício da cidadania. Na política habitacional do muni cípio temos a compreensão desta como direito do cidadão, que passa a integrá -la de forma participativa e organizada. Portanto, torna -se fundamental a garantia da participação dos moradores e esta ser viabilizada desde a fase preliminar de construção das ca sas até a implantação do projeto de urbanização e a mobilização e organização comunitária. 24 Assim, os beneficiários sujeitos de direitos que são, passam a ser tratados como protagonista da transformação de sua realidade , a partir do momento que se organizam em grupos específicos. O Projeto Integrado no decorrer de seu processo de desenvolvime nto passou por várias modificações, desde a equipe técnica, que o integraram como também os entraves institucionais e de construção das habitações. Então, em agosto de 2004 o Curso de Serviço Social da Universidade do Sul de Santa Catarina – UNISUL inicia o apoio técnico a Prefeitura Municipal de São José para a atuação no Programa Habitar Brasil/BID – Projeto Integrado Morar Bem I, em Barreiros, Município de São José. Este apoio técnico denominado Assessoria e Consultoria à Prefeitura Municipal de São José é para atender demandas tanto institucional como populacional e se constitui em um instrumental técnico que compõe o processo de trabalho do Serviço Social, demandas que a Prefeitura Municipal de São José encontrava limitações para o devido atendimento. Conforme Suzin e Almeida (1999, p. 66): “A assessoria insere-se nos processos de trabalho do assistente social a partir de tais demandas e desafios. O profissional é requisitado a interferir na organização, na dinâmica das instituições, e para resolver conflitos, sejam interpessoais e grupais. ” Para isto, utiliza-se de metodologia que dêem conta do trabalho de acompanhamento, sem no entanto, vincular-se a ele como um trabalhador assalariado. Portanto, o Projeto Integrado Morar Bem I em Barreiros, município de São José, prevê a assessoria e consultoria por equipe técnica e especializada , cujo vínculo de trabalho é liberado pela Unisul. Ainda, para Suzin e Almeida (1999, p. 66) estas conceituam: “Assessoria é todo o trabalho que um profissional realiza em forma de acompanhamento ou monitoramento de outra pessoa ou grupo que executa determinadas atividades em uma ou várias organizações ”. O Assistente Social como assessor ne cessita alcançar um perfil que contemple um conjunto de capacidades e habilidades. O Projeto com uma equipe de consultoria especializada e com qualificação da prática profissional para o trabalho social, tem como propósito de associar-se à equipe técnica da Prefeitura Municipal de São José na con cessão de serviços para o desenvolvimento das atividades ainda não realizadas para a integração das novas famílias reassentadas. 25 Encontramos no Relatório de maio de 2004 do Projeto Integrado Morar Bem I de Silveira e Araújo o destaque das ações desenvolvidas no início da intervenção da equipe de consultoria: A assessoria e o acompanhamento: à Comissão Provisória de Moradores e ás subcomissões de apoio social, de trabalho e renda, de educação, de lazer e de transporte; A mobilização e a capacitação de lideranças visando à auto -gestão e o fortalecimento da organização comunitária; A integração entre as pessoas da comunidade; A promoção de atividades sócio -culturais de arte-educação e recreativas com intuito de valorizar a cidadania e a educação ambiental; A organização do Grupo de Adolescentes, do Grupo Arte e Saber , do Grêmio Esportivo; A realização de palestras educativas com temas como a preservação d o meio ambiente, valorização e utilização adequada da água e sis tema de esgoto, formação de agentes de saúde e lideranças comunitárias - com enfoque para a fitoterapia; A capacitação de educadores; descoberta e valorização de talentos da comunidade; A criação da Associação de Moradores; A Realização de seminários de se nsibilização educação ambiental e visitas à escola de meio ambiente do município de São José. Pode-se observar que os serviços prestados pelo Serviço Social na Assessoria e Consultoria seguem ações previstas no Projeto, com a introdução de demandas comuni tárias, constituindo-se em grandes desafios frente aos problemas a serem enfrentados. Segundo as autoras Suzin e Almeida (1999, p. 72) com base no que foi definido pelo Instituto de Consultores de Organização do Reino Unido (l974 in Kurb, 1979, p. 3) estes apresentam a definição de consultoria como: O serviço prestado por uma pessoa ou grupo de pessoas independentes e qualificadas para identificação e investigação de problemas que digam respeito à política, organização, procedimentos e métodos, de forma a recomendarem a ação adequada e proporcionarem auxílio na implementação dessas recomendações . 26 Neste sentido a contribuição dos profissionais que compõe a equipe de consultoria é de fornecer propostas estratégicas de Consultoria em Serviço Social n a perspectiva do trabalho do Assistente Social ser pró -ativo e como consultor é necessário, como afirmam as autoras acima a: Leitura das novas demandas; enfrentando desafios; preparando para os novos tempos; visão estratégica e holística; processo decisório co mpartilhado; adequação as necessidades dos clientes; trabalho desenvolvido com os clientes e excelência organizacional com qualidade assegurada (SUZIN; ALMEIDA, 1999, p. 84). O profissional do Serviço Social na equipe de consultoria deve ter a habilidade para decifrar a realidade a ser trabalhada com senso crítico, apresentando propostas criativas, denunciando e esclarecendo o processo de qualquer tipo de exploração e de dominação política. Coube a Equipe Técnica de Consultoria da UNISUL – EC-UNISUL composta de professores desenvolver ações voltadas ao Projeto de Participação Comunitária, atuando no processo de Mobilização Organização Comunitária – MOC, bem como em Educação Sanitária Ambiental – ESA, considerando as exigências da Prefeitura Municipal d e São José para a contratação de empresa de Consultoria, com prática profissional em desenvolvimento comunitário. O trabalho de Consultoria e Assessoria da EC -UNISUL visa à efetiva participação dos moradores no processo de mobilização e organização comunitária a partir da perspectiva sócio-ambiental, o que significa desenvolver ações de caráter pedagógico que envolvam a preservação ambiental. Tem na mobilização e na organização da população a formação de grupos comunitários contribuindo desta forma para a valorização da construção da cidadania, com estímulo a participação da elevação da auto-estima e da criação de oportunidades para o ato de expressar-se com vistas a melhoria da qualidade de vida. Três eixos passaram a definir as ações da Equipe de Consulto ria da Unisul: 1- Qualidade de Vida 2- Participação – protagonismo comunitário 3- Perspectiva sócio-ambiental 27 Já o propósito institucional da UNISUL, é o de assegurar a articulação entre ensino, pesquisa e extensão, necessária à qualificação formativa e a produção do conhecimento, concretizando a missão institucional, que prevê “Educação inovadora com qualidade em suas funções e serviços de ensino, pesquisa e extensão, para formar o cidadão e contribuir com o desenvolvimento regional sustentável”. Como afirmam Araújo, Dalzotto e Silveira(2004,p.6). Ainda conforme as autoras Araújo , Dalzotto e Silveira (2004, p. 6): O trabalho se desenvolve a partir da articulação com as diferentes áreas de conhecimento, bem como dos serviços existentes na UNISUL colocando -os a disposição do desenvolvimento da comunidade em tela. Considerando a efetiva integração destas famílias a política habitacional, o trabalho social volta -se para a articulação desta política as demais políticas públicas do município. Portanto, para além de pensar a infra-estrutura e os equipamentos sociais de acesso aos moradores do Projeto Integrado Morar Bem I, as ações envolvem a consolidação da cidadania e de acesso aos direitos. Ressalta-se que o trabalho da Equipe de Consultoria e Assessoria da Unisul realizado pelos professores assegurou a articulação e integração de vários cursos como: Serviço Social, Psicologia, Naturologia Aplicada, Enfermagem, Nutrição, Design, Comunicação, Engenharia, colocando o saber acadêmico disponibilizado para a Comunidade Morar Bem I. Como afirmam as autoras Araújo, Dalzotto e Silveira (2004,p.6) : o trabalho Social envolve desafios cotidianos, considerando à implementação da política habitacional em tela, tais como: a criação de novos hábitos e atitudes frente à apropriação da habitação; fomento à participação comunitária como exercício da cidadania, superando vicissitudes vinculadas a benesses pessoais; garantindo a manutenção da qualidade de vida conquistada; superação da cultura política paternalista e clientelista em rela ção a programas habitacionais; a recuperação, a conservação, o manejo e defesa do meio ambiente. O trabalho da Equipe de Consultoria dos profissionais de Serviço Social da Unisul inicialmente se constituía na constante Mobilização Comunitária da Comunida de Morar Bem I com visitas domiciliares, esclarecendo sobre a intervenção na Comunidade, com propostas de constituição de grupos envolvendo as várias faixas de idades, enfatizando da importância e do valor da participação dos moradores em grupos organizados. 28 Isso demonstra que o trabalho social deve estar articulado com o que prevê a política habitacional, de que o Projeto de Participação Comunitária, é com vistas a “promoção da efetiva participação dos moradores nas ações a serem desenvolvidas na nova área a ser urbanizada”, nas várias etapas do seu processo de implementação. Como resultado da Mobilização e Organização Comunitária, podemos citar desde a organização da Comissão para a criação da Associação de Moradores, Associação de Pais e Professores do Centro de Educação Infantil, o Grupo de Adolescentes, a constituição do “Grupo Amizade” com crianças de entre 4 a 11 anos que se reuniam agregados ao “Grupo Arte e Saber” de mulheres, o “Gr upo de Idosos”, entre outros. 29 3. A PRÁTICA PROFISSION AL DO SERVIÇO SOCIAL NA SEPLAN : ABORDAGEM DA INSTRUM ENTALIDADE 3.1 A PRÁTICA PROFISSION AL E O COMPROMISSO È TICO-POLITÍCO COM ABORDAGEM NO CÓDIGO DE ÉTICA DO ASSISTENTE SOCIAL Conhecer a realidade da instit uição na qual se desenvolve a prática profissional é fundamental para conhecer o próprio objeto de trabalho sobre o qual se deve incidir a ação transformadora do trabalho como também ter conhecimento da população a quem se dirigem os serviços do profissional. A contar da nossa experiência no processo de formação prof issional vinculado ao período de estágio obrigatório realizado na SEPLAN da Prefeitura Municipal de São José, percebemos que na implementação da política habitacional, a qual se destina a suprir uma necessidade básica, ela vem proporcionar o bem estar da população beneficiária e esta se constitui em um dos instrumentos de trabalho do Serviço Social. Esta requer a articulação das várias esferas do poder, tanto a nível público como privado, havendo um gradativo envolvimento do s moradores das comunidades conte mpladas com projetos habitacionais e o quanto é fundamental e importante o acesso à moradia na vida das pessoas, desde que possam participar nas decisões sobre o processo de construção destas. Acompanhar a construção da sua própria casa é de fundamental im portância para as pessoas, pois é a sua morada, com as suas características, o que significa, que podem expressar suas necessidades preferenciais, o jeito de ser, gerando satisfação, por um direito que está sendo adquirido. A construção habitacional popula r executado pelo poder público municipal, envolve órgãos financiadores o que vem viabilizar o direito a moradia, como princípio primordial a todos os cidadãos(ãs) deste país. Por tratar-se de um problema estrutural e social das sociedades capitalistas a f alta de moradia para os trabalhadores, os projetos habitacionais são uma alternativa para que haja a inclusão social. Como afirma Gonçalves (2000, p. 249): “A moradia é uma das necessidades básicas à reprodução social e da força de trabalho. A busca de um abrigo sempre esteve presente na trajetória do homem na sua incessante luta pela sobrevivência ”. 30 A especulação imobiliária, o acesso à terra, são impecilhos para aqueles que não têm condições de pagar um aluguel ou comprar a sua casa. Tal situação leva muitos a se sujeitarem a morar em barracos precários e ou em áreas públicas ou privadas. Para facilitar a operacionalização deste projeto de grande magnitude atualmente sob a gestão do Ministério das Cidades foram criados programas de apoio, dentre eles: Pr ó moradia, Apoio à produção, Programa Habitar Brasil. O programa HABITAR BRASIL, conta com recursos da União e do Banco do Brasil Interamericano de Desenvolvimento (BID), e tem por objetivo contribuir para elevar os padrões de habitabilidade e de qualidade de vida das famílias que se encontram instalados em assentamentos considerados subnormais, nas regiões metropolitanas, aglomerados urbanos e capitais de Estados, além de fortalecer a gestão urbana. No momento que são contemplados com moradia em um conjun to habitacional é necessário a sua participação e envolvimento em grupos organizados. Para tanto, profissionais prestam o devido acompanhamento a estes moradores e na perspectiva de valorização do ser humano e de estar estimulando o protagonismo e a amplia ção da cidadania, principalmente quando se organizam. Segundo Araújo, Dalzotto e Silveira (2004, p. 4): Compõem a política habitacional, a compreensão desta como direito do cidadão, que passa a integrá-la de forma participativa. Portanto, torna -se fundamental a garantia da participação dos moradores e esta deve ser viabilizada desde a fase preliminar de construção das casa até a implantação do projeto de urbanização. Assim os “beneficiários” sujeitos de direitos que são, passam a ser tratado como protagoni sta da transformação de sua realidade. Esse envolvimento dos moradores em projetos habitacionais nas ações de caráter sócio-ambientais desenvolvidas mostra ser gradativo, conforme os relatórios emitidos pela Equipe de Consultoria da Unisul no período de 2004 à 2008. O trabalho social envolve desafios cotidianos, considerando à implementação da política habitacional em tela, tais como: a criação de novos hábitos e atitudes frente à apropriação da habitação; fomento à participação comunitária como exercíci o da cidadania, superando vicissitudes vinculadas a benesses pessoais; garantindo a manutenção da qualidade de vida conquistada; superação da cultura política paternalista e clientelista em relação a programas habitacionais; a recuperação, a conservação, o manejo e defesa do meio ambiente (ARAÚJO; DALZOTTO; SILVEIRA, 2004, p. 5). 31 Contando, assim, com o acompanhamento de profissionais especializados do Serviço Social para realizar esta articulação na perspectiva de uma participação da população beneficiária da política habitacional. A atuação do Assistente Social ocorre tradicionalmente na implementação e execução das políticas públicas e privadas. Planeja -se e executa-se programas e projetos de atenção social nos três níveis de governo e em organizações nã o governamentais: empresas, sindicatos e movimentos populares. Com o processo de descentralização e reorganização do Estado, confirmados na Constituição Federal de 1988 verifica-se uma tendência na ampliação das políticas públicas municipais. Iamamotto (1998, p. 16) pontua que essas mudanças vão demandar : um profissional propositivo em não apenas executivo, capaz de formular projetos de trabalho, negociá-los com os empregadores, defender seu espaço ocupacional em um mercado cada vez mais competitivo. Enfim um profissional capaz de formular, gerir, implementar e avaliar políticas e projetos sociais . As demandas da população desprovida de moradia adequada e digna são inúmeras e é necessário que se busque a implementação das políticas que são de responsabili dades do pode público municipal. As instituições governamentais se constituem em grande campo de trabalho dos Assistentes Sociais. Tal constatação requer que se conheça sua realidade e contradições, e é aí que passamos a intervir, e a operacionalizar as aç ões profissionais através da concretização das políticas sociais do projeto ético-político profissional embasado pelo Código de Ética. Compreendendo que a ética profissional é construída na prática cotidiana, onde exercitávamos o fazer profissional, enfren tando situações de confronto que exigiam um posicionamento frente as demandas por habitação, e ter a instrumentalidade, como possibilidade de atendimento, de respostas aos cidadãos(ãs). Abordar a instrumentalidade no processo de trabalho do Serviço Social utilizada durante o exercício da prática profissional na SEPLAN, veio a possibilitar o atendimento das demandas por moradia e demais necessidades básicas. O Assistente Social dispõe de vários instrumentos para realizar seu trabalho, portanto em nossa experiência da prática profissional utilizamos das “entrevistas”, das “visitas domiciliares”, de “reuniões”, de pesquisas, da observação principalmente no Grupo Arte & Saber, entre outros. 32 Estes nos possibilitaram compreender melhor o objetivo d a intervenção profissional, no sentido de propiciar aos moradores do Conjunto Habi tacional Morar Bem I acesso às informações que possam contribuir para as demandas que apresentam, facilitando a identificação das necessidades e carências. Vale ressaltar que a nossa prátic a deu-se na direção da construção e fortalecimento do projeto ético-político, de afirmação da ética profissional alicerçada nos princípios de respeito que é imprescindível e condicionante fundamental à realização da instrumentalidade no desenvolver do exer cício da profissão. Então, com base na Resolução do CFESS nº 273/93 de 13 de março de 1993 que: “Institui o Código de Ética Profissional dos Assistentes Sociais e dá outras providências , trazemos para esta nossa reflexão os Pr incípios Fundamentais, com o propósito de melhor nos apropriar e ter o domínio fazendo -se presente em todas as nossas ações”. 1 – Reconhecimento da liberdade como valor ético central e das demandas políticas a ela inerentes – autonomia, emancipação e plena expansão dos indivíduos sociais; 2 – Defesa intransigente dos direitos humanos e recusa do arbítrio e do autoritarismo; 3 – Ampliação e consolidação da cidadania, considerada tarefa primordial de toda sociedade, com vistas à garantia dos direitos civis e sociais e políticos das classes trabalhadoras; 4 - Defesa do aprofundamento da democracia, enquanto socialização da participação política e da riqueza socialmente produzida; 5 - Posicionamento em favor da eqüidade e justiça social, que assegure universalidade de acesso aos bens e servi ços relativos aos programas e políticas sociais, bem como sua gestão democrática; 6 – Empenho na eliminação de todas as formas de preconceito, incentivando o respeito à diversidade, à participação de grupos socialmente discriminados e à discussão das difer enças; 7 – Garantia do pluralismo, através do respeito às correntes profissionais democráticas existentes e suas expressões teóricas, e compromisso com o constante aprimoramento intelectual; 8 – Opção por um projeto profissional vinculado ao processo de co nstrução de uma nova ordem societária, sem denominação – exploração de classe, etnia e gênero; 33 9 – Articulação com os movimentos de outras categorias profissionais que partilhem dos princípios deste Código e com luta geral dos trabalhadores; 10 – Compromisso com qualidade dos serviços prestados à população e com o aprimoramento intelectual, na perspectiva de competência profissional; 11 – Exercício do Serviço Social sem ser discriminado, nem discriminar, por questões de inserção de classe social, gênero, et nia, religião, nacionalidade, opção sexual, idade e condição física. A partir destes princípios éticos tem -se o compromisso e a responsabilidade de garanti-los em todas as nossas ações como instrumentos fundamentais para viabilizar a profissão. Os princípios citados impulsionam um trabalho direcionado à garantia de direitos, articulado à política habitacional para que todos tenham o direito à moradia. 3.2 A INSTRUMENTALIDADE NO PROCESSO DE TRABA LHO DO ASSISTENTE SOCIAL A instrumentalidade no exercício da profissão passa a ter intencionalidades . Passaremos então, a descrever e refletir sobre a entrevista, suas etapas, a visita domiciliar, observação, reunião e relatórios. Para que o desenvolvimento da entrevista ocorra é necessário o domínio da técnica sobre as bases éticas, humanas e profissional. Temos d a Lewgoy e Silveira (2007, p. 2) o seguinte conceito: “É um dos instrumentos que, dialeticamente articulado aos demais, vai compor a palheta do instrumental que viabiliza a operacionalização mos processo s de trabalho do assistente social”. No atendimento do Plantão Social na Seplan onde os usuários chegam para preencherem seus cadastros do PAR – Programa de Arrendamento Residencial , percebe-se que a necessidade por uma moradia digna é urgente, contudo cada um coloca dentre esta necessidade outros problemas que vão além da moradia, é então o momento em que se dá a entrevista, com objetivos específicos para ambas as partes. 34 Ao Assistente Social cabe estimular a relação de diálogo, esclarecendo os objetiv os da entrevista, colocando-se a “serviço” do usuário e de suas necessidades e/ou manifestações. Deve demonstrar confiança e compreensão, tendo o cuidado de não apresentar manifestações preconceituosas e de pré-julgamento (Silveira, 2006, p. 1). Sendo assim, por meio da prática na SEPLAN observa-se através da entrevista a importância do diálogo, de que temos a disponibilidade para a escuta dos diversos problemas que vivem e nos trazem para conhecimento, além do acesso a moradia e o que representa na vida das pessoas. Para elas, além da apropriação do espaço físico para morar também buscam por dignidade, esperança por direitos e por cidadania que não tem. Para elucidar a entrevista acima descrita esta exige várias etapas como apresenta as autoras Lewgoy e Silveira (2007, p. 4): Para o Serviço Social, a entrevista como um dos instrumentos de intervenção profissional, requer também conhecimentos e habilidades na condução para que se alcance os objetivos a que se propõe. Ao realizar a entrevista esta exige por parte do entrevistador técnica e habilidade para dar uma direção adequada de acordo com os objetivos propostos. A entrevista, como outros instrumentos, exige um rito para o seu desenvolvimento que chamaremos de etapas, sendo o planejamento, a primeira. Pl anejar significa organizar, dar clareza e precisão à própria ação; transformar a realidade numa direção escolhida: agir racional e intencionalmente: explicitar os fundamentos e realizar um conjunto orgânico de ações. Nesse sentido, é importante que o ass istente social se organize para realizar a entrevista, considerando que sua ação esteja sustentada pelos eixos teóricos , técnico e éticopolítico. O planejamento é uma mediação teórico -metodológica. Para tanto, o entrevistador tem de conhecer a política so cial a qual se destina o trabalho da instituição; deve seguir a especificidade para qual ela terá de responder. Sendo esse estudo voltado para a área da habitação teremos que conhecer as políticas de habitação e as suas particularidades , como conhecer também a instituição e o seu marco de referência, as relações políticas, sua estrutura, os imediatismos, o assistencialismo que desvia da assistência como política de direito . O segundo passo é estabelecer a finalidade da entrevista, os objetivos e o instrumento da coleta de dados. O terceiro é delimitar o horário e o espaço físico onde será 35 realizada a entrevista, ou seja, um local que propicie a comunicação, o relacionamento e o respeito ao usuário. A segunda etapa da entrevista é a sua execução propriamente dita e se constitui de momentos que se entrecruzam através de estágios do prelúdio ou etapa social, da coleta de dados ou focalização, do contrato, da síntese, e da avaliação. A coleta de dados requer habilidades do entrevistador na identificação e na seleção das necessidades e demandas apresentadas pelos entrevistados. As informações colhidas servirão de subsídios para a avaliação das prioridades e definição das situações que, ao longo das entrevistas, serão questionadas e aprofundadas, tendo como referênc ia os objetivos definidos anteriormente, ou (re) definidos no seu processo. Durante a entrevista, o assistente social tem de assegurar a apreensão do conteúdo comunicado, tanto pela linguagem verbal como pela não -verbal, e assim compreender a realidade que se apresenta através dos sentimentos, dos desejos e das necessidades sociais. A escuta aos usuários constituía -se em fator fundamental para expressarem suas angústias e dificuldades A grande maioria dos usuários procurava informações sobre o andamento do Projeto das Obras de construção de casas, outros sobre a possibilidade de inclusão no Projeto Habitacional. Esta inclusão era fundamental livrando-se assim do aluguel, que na sua grande maioria apresentavam dificuldades para efetuar o pagamento além das dificuldades encontradas de morar em morros, sem estrutura alguma, em locais cedidos e com excesso de pessoas num mesmo aglomerado inabitável . A inclusão do usuário constitui a maior demanda, e o maior desafio para o Serviço Social na SEPLAN. Tendo em vista que a disponibilidade de casas para morar é através de projetos habitacionais e destina-se exclusivamente aos moradores em situação de risco, ou área de preservação permanente como no caso aqui estudad o, dos morros do Metropolitano e Pedregal do municí pio de São José. Estes são os que constituem de maior urgência, embora existam outra áreas que necessitam de atenção por parte do poder público municipal, através da intervenção do Serviço Social que faz o uso constante da entrevista , como da visita domiciliar. Na abordagem externa com os usuários fez-se visita domiciliar. Para a autora Amaro (2003, p. 1), a visita domiciliar: 36 É uma prática profissional investigativa ou atendimento, realizada por um ou mais profissionais, junto ao indivíduo em seu próprio meio social ou familiar. No geral a visita domiciliar, como intervenção reúne três técnicas para desenvolver; a observação, a entrevista e a história ou relato oral. Na intervenção do Serviço Social durante a visita domiciliar juntamente com o Diretor da Defesa Civil de São José houve o atendimento ao usuário em sua moradia, isto é barraco onde apontava todos os problemas como aqueles decorrentes de rachaduras, afundamentos de pisos, constatando que a casa estava em situação de risco , além da miséria generalizada. Elaborou-se o relatório e ao mesmo tempo , juntamente com o usuário preenchemos um cadastro do PAR para ver a possibilidade de inseri -lo nas casas da Comunidade Morar Bem I. Amaro (2003, p. 5) pontua também que: Muitas vezes o fato de estar junto com o usuário, compartilhando de fragmentos de seu cotidiano, facilita a compreensão de sua s dificuldades, favorece o clima de confiança e acaba por fortalecer o aspecto eminentemente humano, da relação constituída. Ouvir o relato de sua história d e vida em relação a moradia, era uma constante durante os diálogos. Observou-se a reciprocidade na relação do ouvir e do falar, o diálogo sempre esteve presente, ouve a relação de subjetividade , a necessidade de maiores informações e as estratégias para obtê-las deram-se de forma amistosa, pois o fato de receber a visita de técnicos, reunia a esperança de além de ouvi -los serem atendidos nas suas reivindicações, isto é de inclusão à moradia com dignidade . A ética é fundamental, no decorrer da visita domiciliar , deixando de lado nossos valores pré-estabelecidos temos que estar nos posicionando, e nos empenhando na eliminação de todas formas de preconceito . Os resultados de uma visita domiciliar também servem de pauta de reunião. É oportuno dizer que a observação é uma constante na prática profissional e que está articulada aos demais instrumentos de trabalho do Serviço Social. É na observação que acontece o contato direto entre o Assistente Social e o usuário e o contexto que envolve as diferentes manifestações das expressões da questão social. 37 Tem o objetivo de obter informações sobre a realidade social. A importância desta técnica reside no fato de viabilizar a captação de uma variedade de situações/expressões que não são obtidas mediante a entrevista. Entende-se que a observação exige tempo, concentração sobre o que se quer constatar ou descobrir. É observando que os nossos sentidos aprendem detalhes que podem passar despercebidos, caso não haja concentração sobre o que est á sendo observado. Foi possível a observação em uma das reuniões com a presença da Assistente Social e a Secretária da Seplan com 3 integrantes da Associação de Moradores Morar Bem I na SEPLAN. Esta teve como objetivo discutir a possibilidade de uma Cooperativa de Mat erial Reciclável – Projeto de Geração de Trabalho e Renda que é de responsabilidade da Prefeitura Municipal de São José, para os moradores da comunidade Morar Bem I . A pauta da reunião constava de: - Cooperativa de Material Reciclável; - Projeto de Trabalho e Renda; - Programa de Aceleração e Crescimento-PAC. A reunião se desenvolveu dentro da maior tranqüilidade , onde naquele momento não houve a deliberação do projeto, e posteriormente seria marcada uma outra reunião em local a ser definido. Traz-se então para responder a mais es te instrumental de trabalho que é a reunião, o conceito oferecido por Magalhães (2006, p. 53): È um instrumento técnico, utilizado com o objetivo de solucionar problemas na equipe, discutir casos, redimensionar o trabalho realizado, solucionar problemas, avaliar atividades ou simplesmente estudar. Considerando a reunião como parte do instrumental cotidiano, é importante que seja elaborada um pauta com os assuntos a serem tratados, para que seus objetivos não se percam e a reunião não acabe se transformando em um encontro “social” que fuja aos objetivos do trabalho da equipe. Para tanto este instrumento técnico utilizado pelo Serviço Social em muitos casos é utilizado à reunião para discussão e deliberação de questões pertinentes à projetos que dizem respeito à participação dos usuários. Houve também a orientação das Assistentes Sociais Jussara e Izolete sobre o Programa de Aceleração e Crescimento -PAC, Programa do Governo Federal com o Trabalho Social que desenvolve ações de saneamento, pavimentação, educação ambiental dos moradores do município de São José . 38 A observação, analítica e sinteticamente, a interpretação do visitador deve observar a totalidade significativa da vida do sujeito, manifesta em suas narrativas pormenorizadas, nas conversas tro cadas, sem descartar sua correlação com as inúmeras situações e expressividades observadas (AMARO, 2003, p. 3). Observou-se que houve o respeito à individualidade ao desenvolvimento do trabalho, as informações sobre os direitos dos usuários e o conhecimento e habilidade do Serviço Social nas ações emergenciais . Através de relatórios técnicos foi possível acompanhar as atividades desenvolvidas nos grupos, pois no Termo de Referência do Projeto HBB consta à exigência destes serem mensais, o registro do traba lho social realizado com a comunidade que é feito pela coordenadora da E.C. UNISUL e encaminhado a Prefeitura Municipal de São José, que por sua vez transfere para a Caixa Econômica Federal e envia ao Ministério das Cidades. Segundo a autora Magalhães (2006, p. 60): O relatório é a descrição ou relato do que foi possível conhecer por meio do estudo, ou seja, um parecer ou exposição dos fundamentos de um voto ou de uma apreciação ou, ainda, qualquer exposição pormenorizada de circunstâncias, fatos, ou objetos. Nestes relatórios constam as atribuições da E.C.UNISUL que estão relaciona das as atividades a serem desenvolvidas. Dentro dessa perspectiva, os elementos da competência técnico -operativa passam a ser adotadas pelo profissional na medida em que durante a sua formação, este passa a conhecê-los e discuti-los teoricamente articulando -os com a prática, traduzindo -se na articulação entre representantes da SEPLAN, os profissionais da Equipe de Consultoria à Comunidade e seus grupos. Ou seja, nesse processo o assistente social tem a oportunidade de mostrar sua intenção, através de instrumentos como os relatórios técnicos cuja elaboração compõe o processo de trabalho do Serviço Social. Neste caso, para a nossa formação profissional, os relatórios das quais apropriáva-se fizeram parte do processo de intervenção profissional, já que lá estavam informações fidedignas, que demonstram as reais intenções da Equipe de Consultoria, principalmente de organizar a comunidade em gr upos, na perspectiva de desenvolver os objetivos previstos no Projeto HBB. 39 4. O SERVIÇO SOCIAL TRA BALHANDO COM GRUPOS; ASPECTOS CONCEITUAIS, EXPERIÊ NCIAS E A PRÁTICA DE INTERVENÇÃO 4.1 O TRABALHO SOCIAL CO M GRUPOS: O trabalho Social na Comunidade Morar Bem I desenvolvido na SEPLAN pelos técnicos se desenvolve em conjunto com a programação desenvolvida pelos grupos organizados pela comunidade e assessorados atualmente pela Assistente Social Janice Merigo que coordena os trabalhos através dos encontros semana is como o Grupo Arte & Saber, o que já vinha sendo uma prática das primeiras coordenadoras assistentes sociais em assessorar os grupos; inicialmente as Assistentes Sociais Darlene de Moraes Silveira e Vera Nícia Fortkamp de Araújo. Nesse instante, para o aprofundamento desse estudo, foi necessário recorrer a autores que conceituassem grupos na perspectiva deste ser um dos in strumentos de intervenção do Serviço Social sobre uma dada realidade social e como também leituras dos relatórios técnicos da Equipe d e Consultoria e Assessoria da Unisul da Comunidade Morar Bem I. Buscando elucidar sobre o assunto, pode -se dizer que: “Grupo é um conjunto de pessoas em uma ação interativa com objetivos compartilhados. Ação interativa que significa o aspecto relacional entre os componentes de um grupo .” (SILVEIRA, 2006, p. 2). O Serviço Social ao trabalhar com grupos , exige a compreensão de que ele surge de um determinado contexto social e que se deve considerar os aspectos da cultura, dos valores, do simbólico, das suas o rigens regional e quais são as expectativas levantadas pelo grupo. E para esta compreensão Silveira (2006, p. 2) pontua que: a compreensão de que o grupo é uma totalidade dinâmica (não abstrato), autônoma e compõe um determinado contexto social. Deve ser compreendido em razão deste contexto e das ideologias que o cercam (do nível conceitual, cultural, simbólico e de expectativas expressas pelo grupo). Compreensão diagnóstica do sujeito individuo e do grupo, para além das questões imediatas ou emergentes. É no contexto da Comunidade Morar Bem I que grupos organizados foram se formando através da Mobilização e Organização Comunitária realizada semanalmente pelos técnicos da Equipe de Assessoria e Consultoria. Ainda, Silveira (2006, p. 2): 40 O Serviço Social com grupos envolve a definição de finalidades, de atribuições e de papéis a partir da realidade de cada grupo. O trabalho com grupos não inscreve -se em modelos pré-concebidos e desenvolve o processo de trabalho na perspectiva de mudança social, porém, a mu dança só se efetiva quando emerge do próprio grupo . Foi no decorrer das visitas técnicas na Comunidade Morar Bem I que pass ou-se a conhecer o grupo de mulheres Arte & Saber, e o quanto a intervenção de Serviço Social contribuía no processo de mudanças na vida das mulheres seja nas atitudes em relação a educação dos filhos como nas relações com seus companheiros no contexto comunitário entre outros. A ação profissional é marcada pelo movimento dialético entre singularização e generalização no que se refe re a compreensão diagnóstica e a flexibilização de ação. Indissociabilidade, na prática de planos de ações da relação com o sujeito indivíduo e o grupo, assim como com o contexto comunitário organizacional (SILVEIRA, 2006, p. 2). As mulheres participantes do Grupo Arte e Saber disponibilizam de um tempo para se organizar em grupo, por meio de atividades artesanais e sócio -educativa. O profissional de Serviço Social deve estar atento para o desenvolvimento de habilidades da comunicação, da criatividade en volvendo técnicas e dinâmicas de intervenção grupal que envolve a identificação e o acionamento das habilidades pessoais e do grupo (SILVEIRA, 2006, p. 2). Observava-se nas nossas visitas técnicas ao Grupo Arte e Saber, o quanto os profissionais do Serviço Social que acompanham o grupo eram criativos ao aplicarem dinâmicas de grupo cujo objetivo era diante das necessidades expressas por suas participantes . A comunicação era fundamental para que se expressassem verbalmente, minimizando a timidez, o medo de falar em público. Salienta-se da importância do ato de falar ao exporem as experiências pessoais para as participantes do grupo, que dentro de um esforço conjunto compartilham as próprias habilidades, cujo potencial se desenvolvia, e que estes momentos se constituíram em uma oportunidade para se expressarem. Zimerman (1997, p.27) afirma que: 41 o ser humano é gregário por natureza e somente existe, ou subsiste, em função de seus inter-relacionamentos grupais. Sempre, desde o nascimento, o indivíduo participa de diferentes grupos, numa constante dialética entre a busca de sua identidade individual e a necessidade de uma identidade grupal e social. O autor, em seus escritos, vai ampliar o conceito de grupos ao dizer: Um conjunto de pessoas constitui um grupo, um conjunto de grupos constitui uma comunidade e um conjunto interativo das comunidades configura uma sociedade. A importância do conhecimento e a utilização da psicologia grupal decorre justamente do fato de que todo indivíduo pass a a maior parte do tempo de sua vida convivendo e interagindo com distintos grupos (ZIMERMAN, 1997, p. 27). Então podemos dizer que a Comunidade Morar Bem I é constituída de vários grupos organizados. Embora saiba-se que na Comunidade Morar Be m I mais famílias se apresentam em suas novas organizações familiares . Como se vê, todos estão constantemente vivendo em grupos. Essa constatação nos leva a crer que: Um grupo não é um mero somatório de indivíduos pelo contrário, se constitui como uma nova entidade, com leis e mecanismos próprios e específicos. Podemos dizer que assim como todo indivíduo se comporta como um grupo (de personagens internos), da mesma forma todo grupo se comporta como se fosse uma individualidade. Todos os integrantes de um grupo estão reunidos em torno de uma tarefa e de um objetivo comum (ZIMERMAN, 1997, p. 29). Isso demonstra que o social, o indivíduo experimenta em grupos externos ao familiar, e aqui em nosso estudo é a experiência com grupo de comunidade de um conjunt o habitacional, onde mulheres donas de casa se agregam para satisfazer necessidades comuns ao mesmo tempo coletivas exemplificando, quando pensam e discutem sobre a situação das escolas em que seus filhos freqüentam. Uma forma de participação onde mostra q ue cada ser é diferente e tem a sua identidade própria e que ao mesmo tempo sofre influência um do outro, quando discutem situações que são experiênciadas por muitos. Dependendo da convivência em diferentes grupos cada um desempenha um papel na sociedade com sua característica e maneira de ser , e que traz consigo um pouco do vivido de cada um dos seus antepassados. Zimerman (1997, p. 27) pontua que: 42 Que o mundo em que vivemos sempre apresentou características próprias de cada um ou de cada época, sendo int eressante vermos algumas tradições que, apesar de tudo, conseguiram permanecer, enquanto outras se perderam, sofreram transformações, ou novos valores forma introduzidos no jeito de nos relacionarmos ou de convivermos . A diminuição da grande família, o dis tanciamento dos avós, tios e outros, tudo isso gera uma nova identidade, um novo padrão referencial de convivência e de desenvolvimento . Com o afastamento dos membros das famílias para irem em busca de novas oportunidades de vida, estes passam a compor o utros grupos ou mesmo como no caso aqui em estudo, quando são remanejados para morarem em novo conjunto habitacional . Cria-se uma nova conduta de relacionamento não só com a família, mas também para uma nova vida com grupos dentro de uma comunidade, onde b usca-se conhecimentos e alcança-se mudanças, além da integração social. O indivíduo dependendo de sua rotina de suas necessidades e atividades vai se agregando em grupos na sociedade em que estão inseridos. Segundo Araújo (2004, p. 77): O grupo como mediador da cidadania, e espaço de convivência humana, em que os princípios de alteridade, de autonomia tornam -se elementos que permitem fluir sentimentos, desejos, paixões, indignação, acertos, desacertos, escolha, opção, que são tão pessoais quanto coletivos, e que o que todos devem buscar e querem sentir , é o estar bem, é a felicidade. Sabendo-se que isso só se constrói com o outro numa perspectiva de formação de uma única comunidade humana. Portanto, o Serviço Social ao trabalhar com o Social , deve ter a compreensão que ao intervir em uma determinada comunidade, é fundamental conhecer se aproximar dos grupos já organizados e valorizá -los, pois este se constituem em um espaço de desenvolvimento pessoal e grupal e de participação dos moradores como facilitadores de cidadania, de expressão de desej os, necessidades, tristezas e alegrias. Tal referência é no modo de compreender estes grupos que necessitam de apoio, suporte e inclusive de locais apropriados para reuniões práticas de atividades sociais, recreativas e culturais. Também é fundamental se oferecer espaço físico adequado para que mulheres, crianças, jovens e adultos desenvolvam seus potenciais participando e gerando atividades em grupos. Assim, reforçar, fomentar e potencializar os indivíduos e suas comunidades através de grupos, estes são forças poderosas para diminuir o estresse e a violência social que 43 abatem nosso mundo. Toda a atividade que tem a ver com o “humano”, com o psicossocial, a participação comunitária é fundamental. Segundo Gohn (2001, p. 29): Participação na criação do conhecimento, de um novo conhecimento, participação na determinação das necessidades essenciais da comunidade, participação na busca de soluções e, sobretudo, na transformaç ão da realidade. Participação de todos aqueles que tomam parte no processo de educação e de desenvolvimento . A participação com um número expressivo da comunidade ocorria nas Assembléias onde eram convidados pelo Serviço Social , que realizava a visita técnica de casa em casa. Nestas assembléias realizadas no Centro Comunitário, todos iam se fazer representar para reivindicar direitos e ações que estavam previstas , porém, não concretizadas. A principal função da participação deve ser o caráter educati vo que exerce sobre as pessoas. Isso porque “a participação pode aumentar o valor da liberdade para o indivíduo, capacitando-o a ser (e permanecer) seu próprio senhor” (PATEMAN, 1992, p. 40 apud GOHN, 2001, p. 22). O melhor local para a aprendizagem da par ticipação é, para Mill, o nível local. È nesse nível que ele aprende a se autogovernar e aprende sobre democracia (GOHN, 2001, p. 23). Produz-se uma “energia social” que é o somatório das participações individuais e que quando bem direcionada deixa esses grupos mais abertos, pois conseguem se situar melhor num espaço coletivo que é deles, e que somente ali é que têm a oportunidade de reivindicar o que lhes é direit o. A teoria de Cole sobre participação assenta -se também sobre pressupostos de Rosseau, ou seja, a vontade, e não a força, é a base da organização social e política. Ele preconiza a necessidade de os homens atuarem por meio de associações para satisfazer suas necessidades. Cole sustentava que seria apenas “pela participação em nível local, em associações locais, que o indivíduo poderia aprender a democracia .” (COLE; PETEMAN, 1992, p. 55 apud GOHN, 2001, p. 23). Sendo assim, a democracia ela se vive não se ensina, os cidadãos (ãs) passam a ter a liberdade de expressar as suas necessidade s, a compreender que participar dentro da sua comunidade é um direito, e que são estes que conhecem suas necessidades. 44 Participação na criação do conhecimento, de um novo conhecimento, participação na determinação das necessidades essenciais da comunidade, partic ipação na bisca de soluções e, sobretudo, na transformação da realidade. Par ticipação de todos aqueles que tomam parte no processo de educação e de desenvolvimento (FAUNDES, 1993, p. 32 apud GOHN, 2001, p. 29). Como exposto, a participação em grupos co munitários, vem facilitar o processo de construção da cidadania e falar sobre cidadania faz parte desse estudo , o autor Nogueira (2001, p. 84) pontua que: Aprendemos a ver a cidadania como uma progressiva incorporação de grupos e indivíduos a novos e mais elevados estágios de vida comunitária, consubstanciados em direitos e garantias. Os processos de organização da cidadania, porém, não avançam de modo harmonioso e pacífico, mas sim, através de recuos, saltos e irregularidades, e sempre em meio a fortíssim as tensões políticas e sociais. Elas variam de país para país e, no interior de cada país, atingem de modo desigual seus diversos grupos específicos. Os profissionais do Serviço Social devem utilizar estratégias de cooperar, no sentido de criar oportunidades para que ocorra uma integração do grupo no sentido de participação e modificação dentro das necessidades da comunidade, permitindo que a confiança seja um elemento fundamental na medida em que o respeito pelas pessoas s eja uma prática.. Com o seguido desrepeito a seus direitos, com a repetição de episódios irracionais como os que assistimos cotidianamente pela televisão, com o rebaixamento generalizado das chamadas “virtudes cívicas”, os cidadãos vão perdendo a confian ça nas instituições, nos governos, nos políticos. Muitos grupos e indivíduos congelam se em seus particularismos, desistindo do coletivo, do “geral”, da busca de soluções acordadas para os problemas comuns. Passam a viver o todo apenas como recurso para viabilizar os próprios interesses. Tornam -se indiferentes, fechados em si, concentrados (NOGUEIRA, 2001, p. 86). No processo sistemático da assessoria aos grupos, o profissional de Serviço Social através, de dinâmicas de grupo têm a intenção de estimular mudanças para que através da participação, façam a diferença e descubram as reais possibilidades e capacidades para que se concretizem a transformação pessoal e da sua comunidade, mesmo diante dos entraves que têm para enfrentar, encontrar então as possíveis soluções. 45 4.2 GRUPO AMIZADE – PARTICIPAÇÃO DE CRIA NÇAS EM GRUPO Queremos exemplificar que a participação pode-se evidenciar desde a infância . Quanto à participação de crianças em grupo, o grupo Amizade, composto por crianças com idades variadas estas se reuniam, nas mesmas tardes em que suas mães participavam do Grupo Arte e Saber, com atividades sócio -educativas, conduzidas por acadêmicas da Psicologia e Pedagogia da Unisul. Segundo Potyara (2002, p. 72): “É portanto, na interação com outras pessoas q ue o indivíduo aprende a viver em sociedade, a obedecer regras com expressões da vontade coletiva e a manter e reforçar objetivos e cr enças”. É em grupos, que desde crianças o ser humano expressa suas n ecessidades, fortalecendo desde cedo o processo de par ticipação, que reconhece-se como uma estratégia de desenvolvimento fundamental para a abordagem dos problemas sociais. Constatamos, no relatório de maio de 2007 as seguintes atividades desenvolvidas pelas crianças, no grupo amizade denominado por elas mesm as. - O grupo se caracteriza pelo fato de acompanhar as mães ou cuidadoras durante a participação das mesmas nas atividades do grupo Arte & Saber. Inicialmente as atividades com as crianças eram compatíveis com as atividades do grupo Arte & Saber; - Oficinas desenvolvidas: atividades manuais e de artesanato, biscuit, bijuteria, brinquedos e jogos com sucata, papel reciclado - cartões; - Confecção de um guia turístico da comunidade a partir da identificação geográfica e equipamentos sociais, comerciais e cul turais da comunidade; - Horta Comunitária – construção de um canteiro e as reflexões relacionadas à terra, ao cultivo de hortaliças, bem como ao meio ambiente ; - Oficinas e a comercialização de biscoitos; - Apresentações para a recepção aos novos moradores – dança, poesia e teatro; - Oficinas de contação de estória e jogos pedagógicos, atividades recreativas, relatos de sua experiência escolares e a interpretação das mesmas através de trabalho de colagem, atividades lúdicas estimulando o desenvolvimento cognitivo; 46 - Construção de uma maquete com as representações e equipamentos sociais da comunidade. Figura 1: Crianças desenvolvendo atividades no Grupo Amizade (b) Fonte: Projeto HBB (2007). No decorrer do trabalho percebemos que as crianças se envolviam também em atividades lúdicas e suas idades eram diferenciadas. 47 Figura 2: Crianças desenvolvendo atividades no Grupo Amizade (c) Fonte: Projeto HBB (2007). 4.3 O GRUPO DE MULHE RES ARTE & SABER DA COMUNIDADE MORAR BEM I: UMA REFLEXÃO A PARTIR DE PRINCÍPIOS DE PARTICIPAÇÃO A Secretaria de Habitação SEPLAN do município de São José semanalmente disponibilizava a estagiária do Curso de Serviço Social para acompanhar o Grupo de Mulheres Arte & Saber concomitante a este acompanhamento, fazíamos as leituras dos Relatórios Mensais para melhor compreender a história, toda a dinâmica do Grupo Arte & Saber. O acompanhamento sistemático da Assessoria de Assistentes Sociais nas atividades desenvolvidas do Grupo Arte & Saber, demonstrou a dinamicidade das suas participantes, e a diversidade de ações coletivas. Percebeu-se que os objetivos e as atividades do grupo são avaliadas continuamente e que estão con dizentes com as finalidades, e quando trabalhadas juntas temos uma visão de realização comum, podemos dizer sim que existe a cooperação com a realidade do trabalho desenvolvido. 48 Pode-se confirmar que os conteúdos recebidos e assimilados no Curso de Serviço Social e o entendimento teórico -prático da profissão, se concretizam na observação e vivência do trabalho desenvolvido pela Equipe de Consultoria e Assessoria no Grupo de Mulheres Arte & Saber. O Grupo Arte & Saber, surgiu em 10 de fevereiro de 2005 após mobilização da E. C. Unisul – Equipe de Consultoria da Unisul, em conjunto as agentes e saúde, que após convites nas casas do Conjunto Habitacional Morar Bem I, aceitaram em participar de um primeiro encontro, seguidos de outros. Portanto, para além de verificar o surgimento do grupo de mulheres Arte & Saber, apersentarse-á o seu objetivo, e as suas pri ncipais atividades que foram concretizadas a partir da Assessoria do Serviço Social desde a sua fundação. Segundo Araújo (2004, p. 1): O grupo Arte & Saber de Mulheres é um espaço democrático, que tem por objetivos “trocar saberes desde habilidades de trabalhos manuais de artesanato” como conhecer e experienciar o novo que se abre nas relações de troca com o outro , através da solidariedade, o prazer de passar o seu conhecimento enfim, através d e ações que se traduzem no exercicio e ampliação da cidadania. Dentre as atividades desenvolvidas pelo Grupo de Mulheres Arte & Saber encontra-se no Relatório da Equipe de Consultoria da Unisul (2004 à 2007 , p. 13) a seguinte descrição: - Troca de saberes através de trabalhos manuais e de artesanato tais como: crochê, fuxico, pintura em tecido, pintura em vidros, confecção de biscuit, tricô, decupagem em sabonetes, confecção de enfeites natalinos e páscoa em feltro, papel (reaproveitamento), reciclagem ), bijuterias, produção de brinquedos e jogos pedagógicos com garrafas pet ; - Oficinas de contação de estórias com as crianças do Centro de Educação Infantil – CEI; - Oficinas e comercialização de biscoitos, doces, balas, conversas e pães; - Decoração natalina no Centro Comunitário; - Oficinas temáticas de formação: educação de filhos – no contexto familiar e no ensino formal com a busca de vagas nas escolas; conflitos intergeracionais; melhorias para a comunidade; violência; sessões de filme 49 com debate; reflexão sobre a identidade pessoal, auto estima; Lei Maria da Penha, cuidados com o meio ambiente. - Oficinas de formação envolvendo práticas naturais de saúde: direitos e saúde e da mulher; depressão; doenças respiratórias e do aparelho circulatório; hipertensão; confecção de sabonetes e xampus medicinais, pomadas, gel para dor, travesseiros calmantes, chás medicinais; - Participação na criação do horto e no cultivo e na manutenção da horta comunitária. Oficinas ministradas no Centro Comunitár io e no Laboratório de fitoterapia da Unisul ; - Dinâmicas de expressão corporal com exercícios de alongamento, para integração grupal, para desenvolvimento e fortalecimento da auto -estima; - Recepção aos novos moradores; - Preparação e organização do Grupo para a comercialização dos produtos confeccionados a partir das oficinas; - Encaminhamentos para as políticas de assistência social e demais políticas públicas do município. No relato de Araújo, no decorrer das orientações do Trabalho de Conclus ão de Curso em setembro de 2008 na Unisul - Pedra Branca diz que: Na questão da abordagem das dinâmicas que foram trabalhadas com o Grupo Arte & Saber verificamos que todas as mulheres participavam , assumiam responsabilidades na comunidade. Mas apenas esta vontade não basta, é necessário ter ainda a disponibilidade, o compromisso com o coletivo, e o olhar sobre as necessidades d a comunidade, a capacidade de desenvolver habilidades para reivindicações, competência, a fim de que a participação de cada um seja no sentido de ampliar a cidadania . Em leituras realizadas no Trabalho de Conclusão de Curso de Freitas (2005), nos despertou o interesse, o conteúdo das atas elaboradas pela Equipe de Consultoria da UNISUL, apresentada pela autora. Tal conteúdo, referente às atas é que nos permitiu fazer a articulação com a teoria que o autor Bordenave (l986, p. 76) aborda sobre os princípios de participação. São eles: - A participação é uma necessidade humana e, por conseguinte, constitui um direito das pessoas. 50 O ser humano possui certas necessidades óbvias, como alimento, o sono e a saúde. Mas também possui necessidades não -óbvias, como o pensamento reflexivo, a auto valorização, a auto expressão e a participação que compreende as anteriores. Privar os homens de sa tisfazerem estas necessidades equivale a mutilar o desenvolvimento harmônico de sua personalidade integral. Ex: Quanto às prioridades para comunidade nas seguintes áreas; Saúde, Educação, Lazer, Esporte e Organização Comunitária, p or parte da Equipe de Consultoria da Unisul foi reforçada a importância das discussões coletivas para o exercício de práticas democráticas e de participação comunitária. A partir das áreas abordadas na reunião mensal seguiu -se para a definição de prioridades e estratégias de ação. Novamente, foi um encontro profícuo quanto à paulatina ampliação da participação comunitária e da apropriação por um maior número de moradores das necessidades de alternativas para a comunidade. - A participação justifica-se por si mesma, não por seus resultados. Sendo uma necessidade e um direito, a participação não consiste apenas numa opção metodológica para cumprir mais eficientemente certos objetivos; ela deve ser promovida ainda quando dela resulte a rejeição dos objetivos estabelecidos pelo promotor ou uma perda da eficiência operativa. Ex: Reunião do Grupo Arte & Saber sobre importância do grupo, papéis dos participantes; confecção de fuxicos. Foram passadas as informações, conteúdos de participação comunitária, proporcionando à t rocas de experiências e a participação das integrantes. Nem todas levam jeito com a costura, algumas gostam mais de crochê e esta diferenças proporcionam crescimento no grupo. - A participação é um processo de desenvolvimento da consciência crítica e de aquisição de poder. Quando se promove a participação deve -se aceitar o fato de que ela transformará as pessoas, antes passivas e conformistas, em pessoas ativas e críticas. Além disso, deve -se antecipar que ela ocasionará uma descentralização e distribuição do poder, antes concentrando numa autoridade ou num grupo pequeno. Se não está disposto a dividir o poder, é melhor não iniciar em movimento de participação. 51 Ex. Por parte da Equipe de Consultoria da Unisul foi reforçada a importância das discussões coletivas para o exercício de práti cas democráticas e de participação comunitária. A partir das áreas abordadas em reunião mensal seguiu-se para a definição de prioridades e de estratégias de ação. Novamente, foi um encontro profícuo quanto à paulatina ampliação da participação comunitária e da apropriação por um maior número de moradores das necessidades de construção de alternativas para a comunidade. - A participação leva à apropriação do desenvolvimento pelo povo. Toda vez que o povo participa do planejamento e execução de uma atividade ou processo, ele se sente proprietário do mesmo e co -responsável de seu sucesso ou fracasso. Um projeto participativo não se acaba quando se retiram as fontes externas de assistência, pois as pessoas o c onsideram”seu”. Ex: Divulgação da pesquisa na Comunidade Morar Bem I para estimular o repasse de saber, criatividade e integração, através de contato com a diretora do CEI, que cederá a cozinha para o almoço dos pesquisadores e a infra estrutura necessária. Contato com os professores para divulgação da pesquisa junto ás crianças. Fixação de cartazes informando sobre a pesquisa - A participação é algo que se aprende e aperfeiçoa. Ninguém nasce sabendo participar, mas como se trata de uma necessida de natural, a habilidade de participar cresce rapidamente quando existem oportunidades de praticá-la. Com a prática e a autocrítica, a participação vai se aperfeiçoando, passando de uma etapa inicial mais diretiva a uma etapa superior de maior flexibilidad e e autocontrole até culminar na autogestão . Ex: No início das atividades desenvolvidas pelo Grupo Arte & Saber, as componentes do grupo estão ainda inibidas umas com as outras, não desenvolvendo todo o seu potencial e a integração entre as participan tes do próprio grupo, e com as demais, principalmente com a Associação AMOBEM, visando a busca de direitos e cidadania. Percebe -se que os interesses na se limitam somente às atividades artesanais, e que seus problemas do cotidiano doméstico tornam-se temas de palestras. A espontaneidade começa a aflorar. 52 - A participação pode ser provocada e organizada, sem que isto signifique necessariamente manipulação. Em grupos sociais não acostumamos à participação, pode ser necessário induzi-los à mesma. È claro que, ao fazê-lo, pode haver ocasionalmente intenções manipulatórias, mas também pode haver um honesto desejo de ajudar a iniciar um processo que vai continuar de maneira cada vez mais autônoma. Ex: No acompanhamento do Grupo Arte & saber observo u-se a integração cada vez mais positiva entre o grupo e com outros grupos da comunidade, sob forma de manifestações de satisfação das reuniões, embora se constate uma variação no comparecimento de seus integrantes nas reuniões de quintas -feiras. Sinais de solidariedade de alguma forma sempre aparecem no sentido de não estarem só, mas há preocupação com o todo. - A participação é facilitada com a organização, e a criação de fluxos de comunicação. Por consistir numa tarefa coletiva, a participação se torna mais eficiente com a distribuição de funções e a coordenação dos esforços individuais, o que demanda organização. Além disto, ao consistir na colocação em comum de talentos, experiências, conhecimentos, interesses e recursos, a participação requer meios de expressão e troca. Exige também que as pessoas aprendam a se comunicar, quer dizer, a usar bem diversos meios de comunicação e métodos de discussão e debate que sejam produtivos e democráticos. Ex: A mobilização comunitária para a participação da reunião da Diretoria da AMOBEM – Associação de Moradores e as providências necessárias para a realização destas atividades e a preparação para Oficina de Biscuit. Foram discutidas estratégias de motivação como elaboração de convite para a reunião, contatos com liderança para os convites. - Devem ser respeitadas as diferenças individuais na forma de participar . Nem todas as pessoas participam da mesma maneira. Há pessoas tímidas e outras extrovertidas, umas gregárias e outras que gostam de segui -los. O sucesso da participação descansa em parte no aproveitamento da diversidade 53 de “carismas”, sem exigir comportamentos uniformes e pouco naturais das pessoas. Ex. Observou-se que o grupo vem apresentando oscilação de participação de seus integrantes, porém quem está freqüentando manifesta o interesse em programar e verificar o porque da infrequência de algumas integrantes. Nesse sentido, foram propostas algumas alternativas que são: rever a programação de atividades e realizar contatos pessoais para identificar o motivo de ausências. - A participação pode resolver conflitos mas também pode gerá -los. É um erro esperar que a participação traga necessariamente a paz e a ausência de conflitos. O que ela traz é uma maneira mais evoluída e c ivilizada de resolvê-los. A participação tem inimigos externos e internos: em nossa sociedade classista e hierárquica nem sempre se aceita o debate com “inferiores” na escala social ou de autoridade. Dentro do próprio grupo haverá pessoas que, mesmo admiti ndo que todos são iguais, consideram -se “mais iguais” que os demais. Ex: Palestra sobre o alcoolismo que foi organizada a partir do objetivo d e proporcionar conhecimentos sobre como lidar adequadamente com familiares que apresentam consumo de álcool , bem como evitar a inserção dos jovens Foi uma necessidade apresentada por integrantes do Grupo Arte & Saber. Com número reduzido de participantes foi realizada a palestra com perguntas e depoimentos. - Não se deve “sacralizar” a participação: ela não é panacéia nem é indispensável em todas as ocasiões. O fato de um grupo ter adotado um enfoque participatório não quer dizer que todo o mundo deve participar em tudo, todo o tempo. Isto poderia acarretar ineficiência e anarquia. É claro que é o próprio grupo que deve decidir, participavamente, quando tais ou quais membros devem participar ou não, em qual atividade, e quais assuntos devem ser objeto de consulta geral ou somente objeto de decisão por um grupo delegado. A participação não equivale a uma assembléia permanente, nem pode prescindir de utilizar mecanismos de representação. 54 A participação é compatível com o funcionamento de uma autoridade escolhida democraticamente. “A participação deve e pode ser um instrumento de reforço dos canais democráticos de representação e não a eterna devolução ao povo dos problemas da própria comunidade”. Deste modo, com a demarcação rigorosa dos canais de participação, a autoridade pública cumpre o seu papel e assume suas respo nsabilidades de governar com o mandato que recebeu das urnas. Ex: Mobilização Comunitária para a reunião mensal onde serão levantadas as necessidades da comunidade. Ressaltou -se a importância da participação como um momento de opinar sobre comunidade que se quer. Foi relembr ada a necessidade de divulgar junto aos vizinhos sobre a reunião. Todos estes “princípios de participação” que ora se apresenta na forma de teoria e relatos de experiências relatadas em documentos técnicos devem ser lidos e entendidos dentro do processo geral, histórico, de construção de uma sociedade democrática participativa, na qual com o empenho do Serviço Social junto ao Grupo Arte & Saber, propriedade comunitária dos meios de produção, todos os membros da sociedade tenham parte na gestão e controle dos processos produtivos e tenham parte eqüitativa no usufruto dos benefícios conseguidos com seu trabalho e seu esforço , as atividades desenvolvidas caminharam para tal . Segundo Araújo (2004, p. 76): O comportamento que os indivíduos, têm, no plano dos seus desejos – isto é a subjetividade enquanto satisfação e realização, primeiramente, se dá no indivíduo como pessoa, porém à medida em que é identificada com a do outro, passa a ser coletiva. Porque ela não se faz só para si, mas para os outros também, d aí a satisfação ser de todos, do coletivo. São todos conspirando para a mesma satisfação . Então, diante do exposto até o momento, para melhor ilustrar a prática profissional, que foi além do atendimento dos cidadãos(ãs) na SEPLAN e da análise de relatos vivenciados pelo Serviço Social, passar -se-à a apresentar um levantamento realizado com as participantes do Grupo de Mulheres Arte & Saber 55 4.4 APRESENTANDO O LEVANTAMENTO COM AS MULHERES DO GRUPO ARTE & SABER A reflexão teórica até então apresentada em torno das concepções sobre grupos articulada com a participação é que se deve a realização de um levantamento junto as participantes do Grupo Arte & Saber de mulheres; abordando -se então a entrevista com estas mulheres para identificar as percepções sobre a participação, para avaliar até que ponto estas mulheres estavam satisfeitas com as ações desenvolvidas pelo grupo na Comunidade Morar Bem I. Segundo Chizzotti (l991, p. 11): A pesquisa investiga o mundo em que o homem vive e o própr io homem. Para esta atividade, o investigador recorre à observação e à reflexão que faz sobre os problemas que enfrenta, e à experiência passada e atual dos homens na solução destes problemas, a fim de munir -se dos instrumentos mais adequados à sua ação e intervir no seu mundo para construí -lo adequado à sua vida. Nesta tarefa, confrontase com todas as forças da natureza e de si próprio arregimenta todas as energias da sua capacidade criadora, organiza todas as possibilidades da sua ação e seleciona as melhores técnicas e instrumentos para descobrir objetos que transformem os horizontes de sua vida. Transformar o mundo, criar objetos e concepções encontrar explicações e avançar previsões, tr abalhar a natureza e elaborar as sua ações, idéias, são subjacentes a todo esforço de pesquisa. Ressaltamos que, o nosso esforço para conseguir junto a SEPLAN uma condução para acompanhar o Grupo de Mulheres na Comunidade Morar Bem I, era constante, sendo que o atendimento interno desses órgãos aos usuários deveria u ltrapassar este limite de espaço e ir para o externo, isto é estar no local onde tudo é possível acontecer. A prática profissional desenvolvida no estágio curricular obrigatório possibilita a busca de estratégias e alternativas para o desenvolvimento do tr abalho. Diante das dificuldades de obter uma condução para o deslocamento da SEPLAN até a comunidade Morar Bem I, insistíamos e procurávamos demonstrar o interesse e a necessidade de estarmos acompanhando as atividades programadas pelo Grupo de mulheres, que nos aguardavam. Para a realização deste levantamento junto ao Grupo de Mulheres Arte & Saber, tomamos como universo a ser pesquisado as mulheres presentes na tarde do encontro em que fazíamos a visita técnica. 56 As entrevistas foram realizadas durante as atividades no Grupo de mulheres Arte & Saber no Centro Comunitário da comunidade Morar Bem I , foram utilizados formulários para o planejamento e obtenção de dados quantitativos e ao mesmo tempo estabelecer uma compreensão simultânea por todas as entrevi stadas, tanto nas perguntas como nas respostas. Este formulário constou de perguntas fechadas aplicadas no Grupo de Mulheres Arte & Saber da Comunidade Morar Bem I com dez (10) mulheres para obter-se informações do grau de participação e os resultados do grupo com as atividades desenvolvidas pela Equipe de Consultoria da Unisul. Então passar-se-á a apresentação dos resultados deste levantamento com o Grupo Arte & Saber. Idade das participantes 9% Até 20 anos 45% De 21 a 30 anos 46% De 31 a 40 anos Gráfico 1 - Idade das participantes do Grupo de Mulheres Arte & Saber Fonte: Merigo, Araújo e Rodrigues (2008) Verifica-se no Gráfico 1 que as participantes de Grupo de Mulheres Arte & Saber apresentam: 9% tem idade até 20 anos, 45% tem idade de 21 à 30 anos , 46% tem idade de 31 à 40 anos. A faixa de idade de suas participantes são na sua maioria, de mulheres consideradas jovens. 57 Número de Filhos 18% Sem filhos 9% 27% 1 filho 2 filhos 3 filhos 37% 9% Mais de 3 filhos Gráfico 2 - Número de filhos das participantes do Grupo Arte & Saber Fonte: Merigo, Araújo e Rodrigues (2008) Nesse levantamento com as mulheres do Grupo Arte & Saber pode-se verificar, como demonstrado no Gráfico 2, o número de filhos das participantes: 9% não têm filhos, 9% têm 2 filhos, 18% mais de três filhos, 27% têm 1 filho, 37% têm 3 filhos.Observa-se então, que a grande maioria das mulheres são aque las que possuem um maior número de filhos. Quanto tempo participa do grupo 18% 6 meses 1 ano 82% Gráfico 3 - Quanto tempo participa do Grupo Fonte: Merigo, Araújo e Rodrigues (2008) No Gráfico 3, verifica-se o tempo de participação das Mulheres no Grupo Arte & Saber: 82% das mulheres participam do Grupo à 6 meses , 18% das mulheres participam do Grupo à 1 ano. 58 Desenvolve renda com as atividades que aprendeu 45% Sim 55% Não Gráfico 4 - Desenvolve renda com as atividades que aprendeu Fonte: Merigo, Araújo e Rodrigues (2008). As mulheres do Grupo Arte & Saber da Comunidade Morar Bem I , como apresenta o Gráfico 4 que 55% desenvolve renda com as atividades que aprendeu , 45% não desenvolve renda com as atividades que aprendeu . Consegue ensinar o que aprendeu 9% Sim Não 91% Gráfico 5 - Consegue ensinar o que aprendeu Fonte: Merigo, Araújo e Rodrigues (2008) Já no Gráfico 5, as mulheres do Grupo Arte & Saber da Comunidade Morar Bem I: 91% consegue ensinar o que aprendeu com Os trabalhos manuais e artesanatos 59 desenvolvidos pela Equipe de Consultoria da Unis ul, 9% não consegue ensinar o que aprendeu. Interesse em continuar no grupo 0% Sim Não 100% Gráfico 6 - As mulheres têm interesse em continuar no Grupo de Mulheres Arte & Saber. Fonte: Merigo, Araújo e Rodrigues (2008) Das mulheres que preencheram os formulários todas tem i nteresse em continuar no Grupo de Mulheres Arte & Saber da Comunidade Morar Bem I , conforme observa-se no Gráfico 6. Mudanças na vida com a participação no grupo 0% Sim Não 100% Gráfico 7 - Mudanças na vida com a participação no grupo Fonte: Merigo, Araújo e Rodrigues (2008) 60 O Gráfico 7 mostra que todas as mulheres do Grupo Arte & Saber confirmaram que houve mudanças na vida com a participação no grupo percebeu -se as experiências trocadas, respeito diálogo, satisfação a cada encontro. 61 5. CONCLUSÃO Ao desenvolver a prática de estágio junto a SEPLAN- Secretaria de Planejamento na Prefeitura Municipal de São José, foi possível acompanhar a experiência do Serviço Social. Pode-se observar a dinâmica estabelecida entre universidade, instituição e usuários. No plano teórico-metodológico constatou-se as demandas da população em relação aos problemas habitacionais. Pode-se citar entre as demandas as de procura por projetos habitacionais em que pudessem se inscrever desde que p ossam a comprovar a sua renda de até 3 salários mínimos. Outra demanda constatada é a procura por transferência das unidades habitacionais segundo suas necessidades. Com a experiência a mais no Grupo de Mulheres Arte & Saber na Comunidade Morar Bem I no município de São José a relação de grupo trouxe a articulação das polí ticas sociais aos usuários da comunidade em tela, como também a participação e cidadania . Ressalta-se que com o levantamento realizado através de formulários aplicados com o Grupo de Mulheres Arte & Saber, as idades das participantes são de 20 à 40 anos, q ue a maioria das mulheres desenvolvem renda com atividades que aprenderam, e todas tem interesse em continuar a participar no grupo, pois as mulheres afirmaram que houve mudanças na vida pessoal de cada uma depois que começaram a participar do Grupo Arte & Saber Na Comunidade Morar Bem I. A prática de estágio permitiu observar o que acontece no grupo Arte & Saber daquela comunidade. A democracia e cidadania andam juntas pelo trabalho realizado pela Equipe de Consultoria da Unisul e Prefeitura Municipal de S ão José, existe uma articulação com outros grupos da comunidade onde hoje já são capazes de lutar por seus objetivos e direitos, na perspectiva da qualidade de vida. Para os moradores da Comunidade Morar Bem I, em especial para as mulheres, este trabalho vem mostrar um melhor entendimento dos avanços da participação das mulheres no âmbito dos direitos de ter cidadania , que são possibilitados no acompanhamento de grupos por meio de intervenção do Serviço Social. Um dos aspectos evidenciados como contribuição do Serviço Social na SEPLAN durante o acompanhamento do Grupo de mulheres Arte & Saber , é a forma como este vem organizando as formas de participação e o estímulo a novas relações sociais , exercendo assim a função de um educador político. 62 Acredita-se que este trabalho servirá como referência para prestar informações de forma organizada e sistemática para aqueles que desejarem aprofundar seus conhecimentos sobre o tema estudado. Sugere-se que retorne os trabalhos de profissionais e/ ou acadêmicos do Curso de Serviço Social da UNISUL como também de áreas afins, para o desenvolvimento de atividades sócio-educativas com as crianças em quanto suas mães permanecem entretidas com a programação do Grupo Arte & Saber . 63 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGR ÁFICAS AMARO, Sarita. Visita domiciliar – Guia para uma abordagem complexa. Porto Alegre: AGE, 2003. ARAÚJO, Vera Nícia Fortkamp . Os coordenadores de grupos de convivência de idosos como facilitadores da construção da cidadania. Dissertação de Mestrado apresentado ao Programa de Pós-Graduação em Serviço Social da Universidade Federal de Santa Catarina, como requisito para obtenção do grande mestre . Florianópolis: UFSC, 2004. ARAÚJO, Vera Nícia Fortkamp; DAL ZOTTO, Giovana Lindair ; SILVEIRA, Darlene de Moraes. Política habitacional: participação comunitária e direitos: eixo temático: lutas sociais e direitos. Florianópolis, 2004. BORDENAVE, Juan E. Diaz . O que é participação. 4ª ed. São Paulo: Brasiliense, 1986. BRUGNARA, Joyce Adriano . O serviço social e o processo de mobil ização e organização comunitária junto ao projeto integrado HBB/PMSJ – Morar Bem I. novembro/2005. CEFSS. Código de Ética do Assistente Social, Conselho Federal de Serviço Social . Brasília/DF/ Lei 8662/93. CHIZOTTI, Antonio. Pesquisa em ciências humanas e sociais. 4ª ed. São Paulo: Cortez, 2000. FREITAS, Glauce Mery P. Ações da equipe de consultoria Unisul : Relato do Desenvolvimento do Grupo Organizado Arte e Saber na Comunidade Morar Bem I do Projeto Integrado Habitar Brasil – BID. Florianópolis, novembro/2005. GOHN, Maria da Glória. Conselhos gestores e participação sócio -política. São Paulo: Cortez, 2001 – Coleção Questões da nossa época vol. 84. GONÇALVES, Maria C. V. Favelas teimosas: lutas por moradia. Brasília: Thesaurus, 2000. IAMAMOTO, Marilda V. O serviço social na contempora neidade: trabalho e formação profissional. São Paulo: Cortez, 1998 . LEWGOY, Alzira Maria Baptista; SILVEIRA , Esalba Carvalho. Revista Virtual Textos e Contextos, nº 8, ano VI, 2007. MAGALHÃES, Selma Marques . Avaliação e linguagem: relatórios, laudos e pareceres . 2ª 64 ed. São Paulo: Veras, 2006. MERIGO, J.; ARAUJO, V. N. F.; RODRIGUES, E. M. Elaboração dos gráficos. 2008. NOGUEIRA, Marco Aurélio. Em defesa da política. Série Livre Pensar, vol. 6. São Paulo: Senac, 2001. POTYARA, A. P. Necessidades humanas à crítica dos mínimos sociais . 2. ed. São Paulo: Cortez, 2002. SÃO JOSE. Proposta de Reassentamento de Habitações Subnormais das Comunidades Metropolitano e Pedregal para nova área urbanizada situada no Bairro Araucá ria – Distrito de Barreiros – Prefeitura Municipal de São José, 2007. SILVEIRA, Darlene de Moraes . Instrumentos do serviço social . 2005 (Material Didático) ______. Serviço social com grupos . 2006 (Material Didático). SILVEIRA, Darlene de Moraes; ARAÚJO , Vera Nícia Fortkamp; SILVA, José Gabriel. Projeto Integrado Morar Bem I , maio/2007. SUZIN, Arlete Boeira; ALMEIDA, Sônia Maia . Assessoria – Um novo Instrumental no processo de Trabalho do Serviço Social - CRESS 10ª Região – Porto Alegre, 1999. ZIMERMAN, Davi E. Como trabalhamos com grupos . Porto Alegre: Artes Médicas, 1997. 65 ANEXO 66 ANEXO A – Fotos do arquivo do Projeto HBB Figura 3: As mulheres desenvolvendo atividades no Grupo Arte & Saber (a) Fonte: Arquivos do Projeto HBB 67 Figura 4: As mulheres desenvolvendo atividades no Grupo Arte & Saber (b) Fonte: Arquivos do Projeto HBB 68 Figura 5: As mulheres fazendo crochê no Grupo Arte & Saber Fonte: Arquivos do Projeto HBB Figura 6: Trabalhos acabados no Grupo Arte & Saber Fonte: Arquivos do Projeto HBB 69 Figura 7: As mulheres desenvolvendo atividades no GrupoArte & Saber (c) Fonte: Arquivos do Projeto HBB 70 Figura 8: Oficina de Artes (a) Fonte: Arquivos do Projeto HBB Figura 9: Oficina de Artes (b) Fonte: Arquivos do Projeto HBB 71 Figura 10: Oficina de Artes (c) Fonte: Arquivos do Projeto HBB Figura 11: Oficina de Artes (d) Fonte: Arquivos do Projeto HBB 72 Figura 12Oficina de Artes (e) Fonte: Arquivos do Projeto HBB Figura 13: Oficina de Artes (f) Fonte: Arquivos do Projeto HBB