“A VOZ DE SANTA TERESA”: PERIÓDICO DE ORIENTAÇÃO PEDAGÓGICA
Tania Maria Rodrigues Lopes
FACED/UFC – Email: [email protected]
Palavras-Chave: reforma educacional, formação de professoras, periódico escolar
Indicativos de reformas e algumas inovações de reformadores
Com o desenvolvimento urbano-industrial e comercial da sociedade brasileira, a partir
das primeiras décadas do século XX, os elevados indicadores de analfabetismo se constituíram um
problema central no contexto de crescimento econômico e social, tornando-se inaceitável o déficit
escolar acumulado, pois as novas tendências e demandas da sociedade sinalizavam a imediata
necessidade de mudanças quanto à regularização, organização e oferta de instrução pública para os
diferentes segmentos da população.
A escassez de verbas, a transferência de responsabilidades entre os entes federados –
União, Estados e Municípios, a ausência de legislação e a expansão da oferta de educação privada, por
meio de organizações religiosas católicas e protestantes, minimizavam o acesso de um segmento da
população em situação de vulnerabilidade econômica e social à escolarização básica, consolidando
índices de analfabetismo em números absolutos, de cerca de mais de 65% da população na
faixa de escolaridade obrigatória, dos 07 aos 15 anos, em 1920 (RIBEIRO, 2003).
A instrução se tornava essencial, assumindo, segundo Nagle, o relevante papel de
recurso mais eficaz para encaminhar o País na senda do progresso (2001). Para Cavalcante,
a instrução pública figurava como condição de construção da nação [...] tendo os governos
estaduais a responsabilidade pela edificação da escola (2011, p. 31). Nessa atmosfera social,
“o entusiasmo pela educação e o otimismo pedagógico” nortearam amplo movimento
reformista em várias unidades da Federação, em especial no Ceará, por meio da Reforma
dirigida pelo educador paulista Lourenço Filho, com a ajuda e apoio de intelectuais cearenses.
As reformas desenvolvidas nos Estados destacaram questões como: padronização
dos programas de estudos e disciplinas, organização do currículo, formação de professores,
aquisição de material escolar e de livros, organização da infra-estrutura para funcionamento
das escolas, por meio da construção e/ou adaptação de prédios pelos municípios; elaboração,
revisão e atualização da legislação, criação dos sistemas de instrução pública com a
organização de equipes responsáveis pelo desenvolvimento administrativo (elaboração de
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regulamentos e outros documentos da instrução) e pedagógico (recenseamento, adoção do
processo
de
seriação,
introdução
de
procedimentos
de
mensuração
objetivando
replanejamento e redirecionamento da oferta educacional), dentre outras ações.
Segundo Azevedo, as reformas representaram um marco divisório entre o novo e
o velho, entre o arcaico e o moderno (1945, p. 645). Na perspectiva de Carvalho, as reformas
nos debates e na pesquisa educacional, são “apresentadas, como compromissos com a
democratização da escola, ligados ao movimento de renovação educacional, representando,
portanto, a inclusão escolar das populações até então marginalizadas (Carvalho, 2011, p.11).
Os processos de reforma envolveram segmentos intelectuais, políticos e a
sociedade, reinserindo no debate a emergência de pensar a instrução pública, frente às
limitações financeiras de Estados e Municípios, situação que pressionou a União a prestar
efetiva colaboração, na campanha para a extinção do analfabetismo e ampliação da rede
escolar primária, objetivando auxiliar os Estados que não possuíam condições e recursos
para completá-la sozinhos. (Nagle, 2001, p.135)
Os
recenseamentos
realizados
pelos
reformadores
pontuaram
algumas
potencialidades e limitações dos sistemas, destacando-se as fragilidades na formação
pedagógica dos professores, em sua grande maioria, desprovidos total ou parcialmente de
preparação adequada para o magistério primário. Os dados também pontuaram limitações de
ordem administrativa e financeira como componentes que afetavam a organização dos
sistemas públicos, particularmente a formação de pessoal para atividades de direção,
acompanhamento pedagógico e docência das escolas.
2. Periódicos e a circulação de ideias pedagógicas
As ideias que nortearam as reformas circularam em periódicos locais e nacionais.
A circulação do conhecimento e informações por meio de jornais, livros e revistas
especializadas era de certa maneira limitada, embora necessária, pois contribuía para o
desenvolvimento do pensamento intelectual, a expansão dos processos de comunicação e
circulação de ideias, seja em nível local ou nacional, pois, conforme CAVALCANTE (2011),
isso ajudava a reduzir distâncias e ampliar a oferta de atividades artísticas e culturais.
A criação de revistas e jornais de circulação institucional, objetivando a
divulgação de ideias políticas, administrativas e pedagógicas que qualificavam ações no
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campo educacional, constituiu-se uma das medidas dos reformadores, bem como, contribuiu
para ampliar e fortalecer a divulgação de eventos pedagógicos, artísticos, culturais,
favorecendo assim a troca de experiências entre instituições escolares, aproximação de
projetos e propostas educativas.
No Ceará, muitas dessas ideias e informações circularam por meio do Jornal O
Nordeste, periódico vinculado à Arquidiocese de Fortaleza. Este veículo de informação
política, cultural, econômica e social atendia, além do mais, algumas questões de natureza
pedagógica e administrativa da Diretoria da Instrução Pública e das escolas, divulgando
agendas de políticas, eventos, conferências pedagógicas, documentos oficiais e notificações
diversas das atividades de instituições escolares. Como ressalta Cavalcante, a imprensa local
se constituiu um meio de articulação, divulgação, ressonância política e espetacularização
da reforma e de muitas outras ações no campo educacional (Idem, 2011, p. 35).
Por essa razão, dispõe hoje a área de história educacional no Brasil, de inúmeros
periódicos como fonte privilegiada de pesquisa, se consideradas em suas possibilidades
amplas de informação factual, como salienta a mesma autora,
O jornal é representado como fonte capaz de reconstrução cotidiana [...].
Dia-a-dia, ano a ano, década a década, o século que conheceu a expansão
tecnológica da imprensa poderia ser revisto por qualquer pensador
interessado em conhecer o presente através de um evolver pleno de sinais de
continuidade e descontinuidade, que tão bem caracterizam o movimento da
história, a marcar o que permanece e o que se esvai (Disponível em
http://www.sbhe.org.br/novo/congressos/cbhe2/pdfs/Tema4/0429.pdf).
Com o objetivo de transformar e/ou remodelar a escola antiga, estabelecendo
novos padrões, sobretudo, com a perspectiva de promover a inclusão de parcela significativa
da população, as reformas desenvolvidas nos Estados estabeleceram algumas estratégias, com
a finalidade de produzir mudanças profundas e definitivas no cotidiano escolar, especialmente
focalizando a elevação qualitativa dos níveis de ensino e aprendizagem, fazendo circular
experiências e projetos que poderiam contribuir com a remodelação ou readequação de novos
perfis institucionais.
Nessa perspectiva, a formação dos professores, o método, o currículo, a
concepção de trabalho educativo foram os principais aspectos evidenciados na circulação de
informações e conhecimentos, através de periódicos, que foram sendo reproduzidos em várias
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localidades do País, influenciando experiências nas capitais e médias cidades do interior. As
ideias atravessaram fronteiras e contribuíram para induzir e/ou inovar experiências
educacionais; portanto, alimentavam um aprendizado marcado por apreensão de referenciais e
saberes que circularam entre instituições.
Foi nesse ambiente pedagógico efervescente, que no ano de 1957, o Colégio Santa
Teresa de Jesus, baseando-se em experiências de outras instituições educativas criou o seu
periódico escolar, intitulado “A Voz de Santa Teresa”, objeto de análise nesta comunicação.
3. Aproximações de pesquisa: algumas evidências empíricas
Que em uma casa de educação tudo se faça por amor: ensinar, orientar,
repreender, corrigir. Tudo seja conseqüência, transbordamento de um amor
forte demais para conter-se em um só coração... (A Voz De Santa Teresa –
Ed. Especial. Centenário de nascimento de D. Quintino).
Na perspectiva de desvendar experiências desenvolvidas no Colégio Santa Teresa
de Jesus – CSTJ, localizado na cidade cearense do Crato, buscou-se uma aproximação com os
dados que constituem o acervo documental do Centro de Estudos e Pesquisas Educacionais
Dom Quintino Rodrigues de Oliveira e Silva, Centro Patientia et Doctrina – CEPED.
O CEPED possui centenas de livros de doutrina católica, periódicos produzidos
por instituições vinculadas à Diocese do Crato, centenas de documentos das diversas
instituições das áreas de educação, saúde e assistência social, fundadas e mantidas pelo
bispado, principalmente livros, revistas, documentos oficiais e pessoais, fotografias, filmes,
muitos dos quais caracterizam a trajetória educativa do CSTJ.
Os primeiros contatos com a Coordenação e direção técnica do CEPED
aconteceram em outubro de 2011, momento em que iniciávamos o processo de aproximação,
exploração e definição do nosso objeto de pesquisa. No intuito de compreender com detalhe,
os significados educativos da citada instituição, que estão presentes em uma diversidade de
documentos, achamos por bem traçar uma perspectiva de estudo sobre formação de
professoras para o atendimento da instrução básica pública, desenvolvida por duas instituições
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no Cariri1 cearense, respectivamente, o CSTJ e a Escola Normal Rural de Juazeiro do Norte –
ENRJN, localizadas nas cidades de Crato e Juazeiro do Norte.
Assim como em outras instituições, no CEPED também se constatou o cuidado
com a história institucional, o legado e contribuições dos protagonistas, como também, a
preservação da memória organizada por meio de documentos escritos, fotografias, quadros,
livros de: atas, matrículas, resultados finais, registros das ações pedagógicas, administrativas,
cívicas e festividades que envolveram as rotinas do CSTJ.
O CEPED está localizado em uma das dependências da Casa Mãe da
Congregação das Filhas de Santa Teresa de Jesus – CFSTJ. O ambiente foi adaptado para
funcionamento do centro de documentação, contendo além do acervo, equipamentos para
digitalização e armazenamento de informações por meio eletrônico, espaço para pesquisa e
leituras. Em uma sala paralela, há um pequeno museu pedagógico, com a finalidade de
preservar objetos pessoais, fotografias e documentos históricos dos fundadores da CFSTJ e do
CSTJ: Dom Quintino e Madre Ana Couto. As fotografias expostas documentam a trajetória
dos protagonistas, colaboradores, professores e alunas que concluíram o curso Normal,
configurando homenagens póstumas, aos que acreditaram e vivenciaram a experiência de
formação das primeiras mestras caririenses.
Trabalhos de pesquisa objetivando o mapeamento das instituições educacionais
criadas na cidade cratense, sob a influência da Diocese do Crato e que focalizam o
desenvolvimento social daquela cidade, já foram desenvolvidos por outros pesquisadores:
Cortez (2000)2, Queiroz (2005)3, Santos (2010)4. Estes estudos contribuem para identificar
percursos metodológicos, referenciais teóricos e, sobretudo, compreender os achados
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A Região do Cariri está localizada ao sul do Estado do Ceará, compõe-se de 26 municípios, sendo dividida em
quatro micro-regiões: Cariri (mais conhecida por Vale do Cariri), Chapada do Araripe, Sertão do Cariri e microregião Serrana de Caririaçu. A primeira abrange os municípios do Crato, Juazeiro do Norte, Barbalha, Missão
Velha e Jardim. A segunda, os municípios de: Araripe, Campos Sales, Nova Olinda, Potengi, Santana do Cariri;
a terceira abrange os municípios de: Abaiara, Aurora, Barro, Brejo Santo, Jati, Milagres, Mauriti, Penaforte e
Porteiras; e a quarta os municípios de: Altaneira, Antonina do Norte, Assaré, Caririaçu, Farias Brito, Granjeiro,
Várzea Alegre. A Região do Cariri é eqüidistante 600 km das principais capitais do Nordeste. Possui uma
população estimada em cerca de um milhão de habitantes (748.181, de acordo com o Censo Demográfico de
1996), distribuídos por 15.934 km². Dados da população em 1996 Cf. Contagem da População – 1996.
Resultados relativos a sexo da população e situação da unidade domiciliar. 2 vol. Rio de Janeiro: Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, Divisão de Bibliotecas e Acervos Especiais, 1997, pp. 167-179.
2
CORTEZ, A. O. O. A construção da “cidade da cultura”: Crato (1889-1960). Dissertação de mestrado: UFRJ,
2000.
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QUEIROZ, Z. F. Projeto de Pesquisa Resgatando a História da Educação no Cariri Cearense. URCA, 2005.
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SANTOS, P. C. de L. Católicos no Cariri: Embates em torno da formação cristã (1860-1965). FACED/UFC,
Tese: 2010.
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relevantes que estabelecem interfaces com este projeto de investigação, relativamente, à
exploração ampliada dos sentidos e significados da formação de professoras para atendimento
das demandas de instrução primária, entre as décadas de 1920 e 1970, inserindo no cenário
das instituições escolares do Estado, o CSTJ e a ENRJN, como importantes referências neste
campo. Nesse sentido, Queiroz afirma:
A cidade do Crato se destaca, não só por ter sido a primeira Vila, mas pela
sua participação e resistência nos acontecimentos da história do Ceará e do
Brasil, como também por seu potencial de desenvolvimento reconhecido
historicamente, particularmente por meio da criação de instituições de
educação, como base propulsora e/ou dinamizadora do referido
desenvolvimento regional (2005).
Criada em 1957, o periódico “A Voz de Santa Teresa” tinha por objetivo maior,
destacar o trabalho desenvolvido no CSTJ, por meio de divulgação de eventos pedagógicos,
cívicos e festivos, bem como, disseminar doutrina cristã, princípios do catolicismo, normas de
comportamento e de convivência pacífica no meio social, além de apresentar forte conteúdo
de teor doutrinário em relação ao adequado comportamento, formação e habilidades da
mulher para o casamento, a vida em família, a educação dos filhos; enfim, à convivência
ordeira no contexto social.
5. O modelo teresiano no periódico “A Voz de Santa Teresa”
A boa escola é a que atende as necessidades do adolescente, entendido que
o eixo escolar é o aluno e não o professor (Ano III – nº. 08 – 30/07/1959).
Nos primeiros anos de circulação, o periódico aqui examinado era publicado a
cada trimestre, sendo que depois a publicação passou a ser semestral. Os textos apresentam
um conteúdo de doutrina e formação, focados no catolicismo romano. Muitos artigos,
poemas, textos exaltam a vida e obras dos fundadores da CFSTJ, D. Quintino e Madre Ana
Couto, como pode ser percebido no fragmento abaixo:
Poucas pessoas disseminaram tanto o bem, entre nós, quanto àquela humilde
serva do Senhor, que a clarividência de D. Quintino, providencialmente
arrancou do anonimato, para confiar-lhe uma congregação religiosa e a
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educação de meninas. Começou Madre Ana Couto em casa modesta, cercada
de dificuldades de todas as espécies. Mas tinha a decisão das almas eleitas e
sabia confiar em Deus. Em pouco tempo a sua obra benfazeja se multiplicou.
Disseminou colégio em toda zona sul cearense (J. de Figueiredo Filho,
Jornal A Ação de 21/02/1947).
Outros textos exaltam ações dos colaboradores, rotinas e eventos da Congregação,
além de destacar mensagens voltadas para a formação moral das meninas e moças, foco em
temas pedagógicos e psicológicos, relacionados à formação de professores, visando uma
orientação, tanto do aspecto teórico, quanto metodológico, entendidos como necessários ao
trabalho docente. Na maioria dos exemplares acessados, consta a epígrafe “A educação é
obra do educador – e do educando, sob as vistas paternais do grande educador – Deus”.
Muitos textos publicados não indicam a autoria; alguns abordam teorias que
permeavam a formação da professora para a instrução primária, sobretudo em relação aos
modernos métodos pedagógicos; outros abordavam as primeiras discussões sobre processos
de avaliação nas escolas; além de veicular extensa quantidade de dados e informações sobre a
expansão da rede de escolas vinculadas à CFSTJ e suas realizações, as alterações na
legislação e a reafirmação do projeto teresiano de educação, fortalecido pelo ideário católico.
Segundo o vaticano, um colégio católico deve ser animado por três princípios: espírito de
família, espírito missionário e espírito de cultura, agindo como comunidade de amor;
comunidade missionária e comunidade de cultura (Ed. Especial, s/autoria, ano III, 1959).
Em alguns exemplares, constatou-se o debate nacional sobre a educação enquanto
obra do homem em sociedade e não do homem isolado, evidenciando abordagem pautada
numa reorganização em três sociedades estabelecidas por Deus:
1.
A família instituída por deus tem a prioridade de natureza e de direitos
em relação à sociedade civil. A ela assiste o dever de instruir e educar seus
filhos em tudo aquilo que é necessário à consecução do seu fim;
2.
É da alçada da sociedade civil, suprir as deficiências da família, no
caso de incapacidade, incúria, etc., dos pais. Sua ação é supletiva, preenche
o que falta e provê por meios que estão de conformidade com os direitos
naturais da criança.
3.
A Igreja é a sociedade sobrenatural, em que o homem nasce pelo
batismo para a vida da graça. É uma sociedade de ordem sobrenatural e
universal. A ela cabe a supremacia (Ano VI – Nº. 18, 07/1962, p. 25)
A leitura dessas publicações periódicas, como é o caso de “A Voz de Santa
Teresa”, proporcionam identificar quais temas orientavam as práticas e os interesses
principais, numa determinada época. Dessa forma, os estudos desenvolvidos sobre o assunto
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priorizam sistematizar orientações de política e elementos pedagógicos relativos à formação
de professores em duas escolas caririenses. Assim, o periódico analisado apresenta algumas
características norteadoras de tais práticas, destacando, no exemplar publicado Junho de 1963,
as percepções sobre qualidade intelectual do processo de profissionalização docente:
Qualidades intelectuais – o educador deve possuir conhecimentos suficientes
e aumentados sem cessar por estudos que são para ele um dever; uma
inteligência bem equilibrada; acima de tudo, um juízo reto, um grande bom
senso; o espírito de observação e de reflexão, indispensável para conhecer e
dirigir os alunos; a ciência profissional, isto é o conhecimento raciocinado
dos métodos e das leis da didática; o gosto pelo ensino, que leva a dedicar-se
inteiramente ao emprego e a exercê-lo com perfeição sempre maior (Ano
VII - Nº. 22 e 23).
Aspectos psicológicos da adolescência foram reiteradamente explorados nos
exemplares localizados, enquanto perspectiva de abordagem dos problemas afetivos e
emocionais, oriundos das relações interpessoais e sociais; assim como, da influência das
mídias sobre o ensino, a aprendizagem e a formação, como são caracterizadas no artigo
“Aspectos psicológicos da adolescência IV – problemas sexuais”.
Antigamente a formação do jovem para a pureza era baseada na inocência e
na fuga das ocasiões com uma vida retraída e resguardada. Hoje, com o
cinema, o teatro, os livros que andam por aí, com a vida profissional fora de
casa, fica evidente que a pureza desejada deve ser construída a base de
conhecimento e de formação da vontade. Ora, tudo isso assusta o
adolescente que, dada sua inexperiência, torna-se, em geral, retraído,
acanhado e até preocupado com as modificações que nota em todo o seu ser.
(Irmã Maria Giovanni – FST, Ano VIII – Nº. 27 e 28 – Dezembro de 1964).
Os textos enfocam de forma sutil a autoridade masculina e a conseqüente
submissão feminina, colocando o homem como provedor da família, responsável por garantir
segurança; a mulher é apresentada como responsável pelo lar, cuidando da ornamentação,
alimentação, dos filhos, garantindo equilíbrio e serenidade ao marido e, sobretudo, harmonia
familiar.
O periódico “A Voz de Santa Teresa” se concretizou como um veículo de
divulgação das ações desenvolvidas nas escolas vinculadas à CFSTJ, como instrumento
importante na formação de professoras, dentro dos novos preceitos pedagógicos, bem como
na condição de ferramenta de apresentação, discussão, avaliação e estímulo à utilização das
ideias pedagógicas renovadoras, pois
A finalidade da educação é o progresso espiritual do homem, compete a
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religiosa educadora, vivendo no meio das almas jovens que Deus lhes
confiou, executar este nobre trabalho formativo do desabrochamento da
personalidade por um completo aperfeiçoamento moral dos seus educandos
(Ano I – Nº. 03 – 16/07/58).
E ainda:
Possuindo muito para que muito possa dar, a religiosa forma pelo verdadeiro
processo educativo, não só criaturas letradas de inteligência extraordinária,
mas criaturas de grandeza moral, jovens de caracteres nobres, almas puras,
vontades varonis, fruto de sua intensa vida interior, santidade religiosa,
firmada em Deus, refletida nesta total dedicação na tarefa sublime da
salvação das almas imortais (idem).
Salientemos que a própria criação e circulação da revista, a partir de 1957,
desponta como uma das ações de renovação implementadas pela congregação, na perspectiva
de intercambiar experiências, saberes e conhecimentos.
Considerações finais
As fontes de pesquisa em História e História da Educação passam por profundas
transformações nas últimas décadas, assim como as produções do campo são compartilhadas
por meio de publicações escritas e, também, pelo uso de tecnologias da informação e
comunicação. As iniciativas de pesquisa e publicação dessas áreas caracterizam uma corrida
às fontes disponíveis em centros de documentação, bibliotecas, assim como por meio do
acesso às novas tecnologias, com banco de dados organizados em sistemas complexos. Nessa
busca, porém, é possível identificar que ainda existem instituições que apresentam elevado
nível de dificuldade para preservar, divulgar e publicizar o acervo, seja por questões éticas,
administrativas ou financeiras.
O CEPED, responsável pela organização e divulgação da história da CFSTJ e do
CSTJ, é um campo vasto de fontes de pesquisa, que inclui documentos escritos, fotografias,
livros e periódicos, que são verdadeiras relíquias, pois remetem às práticas pedagógicas
desenvolvidas nas primeiras décadas do Século XX. Identificamos a existência de fontes
primárias, grande quantidade de documentos escritos inexplorados, outras fontes e recursos
que podem contribuir positivamente para a reconstituição da história da CFSTJ e o CSTJ. No
processo de identificação, catalogação e exploração das fontes, o periódico A Voz de Santa
Teresa desponta como uma singular referência para recompor os procedimentos teóricos,
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metodológicos, éticos e morais adotados na formação das professoras primárias do Cariri
cearense.
Pela exploração de fontes já empreendida, foi possível constatar que o periódico
em análise se tratava de um importante instrumento de divulgação das ideias, valores,
princípios e condutas para a formação da juventude feminina Caririense e, também das
professoras primárias. Os textos carregam fortes fundamentos morais, sobretudo de extração
doutrinária do catolicismo romano. Nesse sentido, os artigos publicados colocam em
evidência o teor doutrinal, moral e pedagógico dos processos formativos. A escrita dos textos
é atribuída, nos exemplares até aqui explorados, aos próprios formadores, religiosas,
colaboradores da sociedade cratense e tem como objetivo tornar público e disseminar os
valores institucionais tomados como adequados, na formação das moças, conforme ideário da
elite local.
O estudo dessa publicação periódica pode abrir ainda possibilidades de
vislumbrar, quais seriam os temas de interesse numa determinada época, a maneira como
teriam sido abordados, quem eram seus autores e seus leitores.
Referências
CARVALHO, M. M. C. de. A Reforma Sampaio Doria, política e pedagogia:
problematizando uma tradição interpretativa. In MIGUEL, M. E. B.; VIDAL, D. G. e
ARAÚJO, J. C. S. (Orgs.) Reformas Educacionais: as manifestações da Escola Nova no
Brasil (1920-1946). Campinas, SP: Autores Associados; Uberlândia/MG: EDUFU, 2011 (Co.
Memória a educação).
CAVALCANTE, M. J. M. A Reforma da Instrução Pública de 1922 no Ceará: impacto sobre
Lourenço filho, a escola Normal e a elite ilustrada. In MIGUEL, M. E. B.; VIDAL, D. G. e
ARAÚJO, J. C. S. (Orgs.) Reformas Educacionais: as manifestações da Escola Nova no
Brasil (1920-1946). Campinas, SP: Autores Associados; Uberlândia/MG: EDUFU, 2011 (Co.
Memória a educação).
NAGLE, J. Educação e Sociedade na Primeira República. 2ª. Ed. Rio de Janeiro: DP&A,
2001.
11
NOGUEIRA, R. F. de S. A prática pedagógica de Lourenço Filho no Estado do Ceará.
Fortaleza: Edições UFC, 2001.
RIBEIRO, M. L. S. (2003). Historia da Educação Brasileira: a organização escolar. 18ª.
Edição: versão ampliada. Campinas, SP: Autores Associados (Coleção Memória da
Educação).
Periódico:
A Voz de Santa Teresa, (Ano I – Nº. 03 – 16/07/58; Ano III – nº. 08 – 30/07/1959; Ed. Especial,
s/autoria, ano III, 1959; Ano VI – Nº. 18, 07/1962, p. 25; Ano VII - Nº. 22 e 23; Ano VIII – Nº. 27 e
28 – Dezembro de 1964).
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