Vieses cognitivos e implicações no gerenciamento da atividade agrícola: uma análise entre cafeicultores Rodrigo Lanna F. da Silveira – IE/Unicamp [email protected] Dezembro de 2012 Estrutura da apresentação 1. Introdução 2. Objetivos da pesquisa 3. Base de Dados, Métodos e Resultados 4. Considerações finais A. Introdução Década de 1970 nova visão na literatura econômica vieses cognitivos na tomada de decisão por parte dos agentes econômicos Kahneman e Tversky (1979) Conduta humana mediada pelo sistema cognitivo que processa as informações de acordo com leitura própria intuição e a emoção têm papel relevante. Violação das regras dos axiomas da Teoria Econômica da Utilidade Esperada irracionalidade na tomada de decisão, levando à possibilidade de obtenção de resultados não eficientes. Uma dessas peculiaridades deste processo: excesso de confiança efeito maior que a média, descalibragem em previsões e ilusão de controle. Eventos sujeitos à incerteza seriam mais controláveis do que realmente são risco sobrepujado pelo talento pessoal consequências nas atividades gerenciais. B. Objetivos gerais da pesquisa 1. Dimensionar um quadro do uso de seguro rural e mecanismos de gestão de risco de preço; 2. Analisar aspectos comportamentais dos produtores, tais como: aversão a risco, percepção de risco, excesso de confiança em preços e na gestão administrativa 3. Avaliar os determinantes da decisão de usar mercados futuros e seguro rural. Projeto Fapesp - Equipe: Rodrigo Lanna F. da Silveira (IE/Unicamp) José César Cruz Jr (Ufscar/Sorocaba) Maria Sylvia M. Saes (FEA/USP) Alexadre Gori Maia (IE/Unicamp) C. Base de dados, Métodos e Resultados 244 questionários aplicados a cafeicultores de importantes regiões produtoras entre março e maio de 2010. Itens analisados: Características do produtor Seguro agrícola Idade, escolaridade, membro de cooperativa, existência de outras atividades, região da propriedade e tamanho da produção Avaliação de uso e razões; percepção sobre produtividade Mercados futuros Avaliação de uso e razões; percepção sobre preços Aspectos comportamentais Propensão e percepção ao risco, acompanhamento do mercado, conhecimento sobre instrumentos de gestão de risco de preços, excesso de confiança. Variáveis de comportamento: uso de escala Likert Variável Afirmação PR1 “Preferência em sua intuição para avaliação do melhor momento para vender o café em detrimento ao uso do mercado futuro” PR2 “Prefiro acreditar que não terei problemas com minha safra a utilizar o seguro agrícola” FPR “Mercado de café não é arriscado”. GAM “Acompanho diariamente os preços do café” NDD “Tenho pouco conhecimento sobre os mercados futuros” ECQ “Minha propriedade tem uma gestão da qualidade superior ao da média dos produtores da minha região” ECA “Minha propriedade tem uma gestão administrativa muito boa”. Excesso de confiança em preços Produtor indica a P(preço) estar em intervalos para ago/10 Cálculo das S2 a partir da distribuição histórica Distribuições subjetivas e cálculo da S2 do produtor Teste de hipótese sobre a = das S2 Análise das 244 entrevistas Outras informações: Idade: 1/3 entre 51 a 60 anos; Escolaridade: 51,5% curso superior; Cooperativa: 92% membro de uma cooperativa; Renda em outra atividade: 76% possuem; Tamanho da produção: 37% até mil scs;12% superior a 5 mil scs; Venda antecipada: 61% não vende. Informações: seguro rural Motivos para não contratação Custo elevado de contratação Oferta restrita das seguradoras privadas Burocracia e morosidade para pagamento do seguro Desnecessário Critérios impróprios no cálculo do pagamento do seguro Regras de zoneamento impróprias Outro Falta de informação Falta de interesse Desconhecimento Inadequação do seguro Nº 83 72 49 48 30 22 93 25 40 8 10 % 38,6% 33,5% 22,8% 22,3% 14,0% 10,2% 43,3% 11,6% 18,6% 3,7% 4,7% Informações: seguro rural Desconheço Média Med 1 2 3 4 5 Prefiro acreditar que não terei problemas com minha safra a utilizar o seguro agrícola 16% 9% 18% 14% 34% 9% 3,4 4,0 Custo para se ter o seguro é elevado 8% 7% 4% 8% 32% 41% 3,8 5,0 Critérios para pgto do seguro são impróprios 4% 6% 11% 6% 20% 54% 3,7 4,0 Critérios de zoneamento na contratação são impróprios 5% 7% 8% 7% 16% 59% 3,5 4,0 Burocracia e morosidade para pagamento do seguro rural 9% 3% 7% 8% 24% 50% 3,7 4,0 Perfil dos produtores que usam seguro rural Idade: média de 52 anos. Escolaridade: 47% com formação universitária. Renda em outra atividade: 74% produtores possuíam renda em outras atividades. Tamanho da produção: 52% produtores com produção esperada para a safra 2010 igual ou maior que 2.000 sacas. Propensão ao risco 1 e 2: índice médio de 3,1 pontos para a concordância em relação à preferência pela intuição na hora do melhor momento para vender o café. Grau de percepção do risco : índice médio de 2,6 pontos para a concordância em relação à afirmação do mercado de café não ser arriscado. Grau de acompanhamento diário do mercado: índice médio de 3,6 pontos. Excesso de confiança na gestão: índice médio de 3,5 pontos em relação à afirmação de que se possuía uma gestão administrativa superior aos demais produtores da região. Informações: mercados futuros 21 produtores realizavam operações exclusivamente na BM&FBOVESPA. Razão de hedge: 2/3 dos produtores abaixo de 50%. Somente 3 com parcela > a 70% de sua produção. Fatores para o não uso ou baixa utilização: margem, ajuste e corretagem. Fatores para não buscar conhecer: percepção de que é para os grandes, percepção de alto custo e risco, desinteresse em gerenciar risco. Importante: a razão de uso de outros instrumentos não foi significativa! Perfil dos produtores que usam os mercados futuros Idade: média de 52 anos. Escolaridade: 70%, 21 produtores, com formação universitária. Renda em outra atividade: 25 produtores possuíam renda em outras atividades. Tamanho da produção: 23 produtores com produção esperada para a safra 2010 igual ou maior que 2.000 sacas. Propensão ao risco: índice médio de 2,3 pontos para a concordância em relação à preferência pela intuição na hora do melhor momento para vender o café. Grau de percepção do risco: índice médio de 2,2 pontos s para a concordância em relação à afirmação do mercado de café não ser arriscado. Grau de acompanhamento diário do mercado: índice médio de 4,3 pontos. Excesso de confiança na gestão: índice médio de 3,3 pontos em relação à afirmação de que se possuía uma gestão administrativa superior aos demais produtores da região. Excesso de confiança em preços: 12 produtores (40% deste grupo) apresentaram tal atributo. Variáveis de comportamento Porcentagem de produtores que assinalaram cada uma das 5 escalas de concordância para cada variável Escala de concordância Likert 1 2 3 4 5 Med Média Desvio padrão Propensão ao risco (PR) 19,3% 14,3% 18,9% 13,4% 34,0% 3,00 3,20 1,59 Falta percepção ao risco (FPR) 42,0% 16,0% 11,1% 9,9% 21,0% 2,00 2,52 1,60 Desconhecimento sobre instrumentos de gestão de risco de preços (NDD) 16,5% 18,5% 9,9% 46,9% 4,00 3,61 1,54 Confiança relativa à safra 16,0% 9,5% 18,1% 13,6% 4,00 3,44 1,73 Acompanhamento do mercado (GAM) Gestão da qualidade (ECQ) Gestão administrativa (ECA) 11,5% 9,4% 7,0% 15,2% 27,5% 22,1% 11,9% 23,0% 21,3% 5,00 4,00 4,00 3,85 3,51 3,71 1,43 1,32 1,32 8,2% 9,0% 9,8% 9,8% 34,2% 52,5% 29,5% 38,5% Excesso de confiança em preços quando σ2 foi calculada partir: da amostra de preços total, 95 produtores apresentaram ECP (39% da amostra). dos meses de safra, 116 cafeicultores (48% da amostra) apresentaram ECP. 1º Análise Caracterizar os produtores que possuem excesso de confiança em relação a aspectos sócio-econômicos e comportamentais. Método: • Análise fatorial: obter um número reduzido de m fatores comuns que expliquem em boa medida a variabilidade total das n variáveis observáveis X (m<n). • Análise de cluster: distribuir os produtores em grupos de comportamento mutuamente exclusivos. Coeficientes, comunalidade e variabilidade explicada para cada fator da análise fatorial Variável Fator 1 Fator 2 Fator 3 Comunalidade PR 0,191 0,768 0,018 0,626 FPR -0,493 -0,039 0,837 0,945 NDD 0,249 0,712 0,038 0,570 GAM 0,651 -0,369 -0,097 0,569 ECQ 0,798 -0,116 0,358 0,779 ECA 0,850 -0,012 0,208 0,766 % 35,4 20,8 14,7 % Acum 35,4 56,2 70,9 Variab. Total Fator 1: Confiança na gestão e conhecimento do mercado. Além disso, tal grupo é caracterizado por boa percepção do risco, dado o baixo FPR. Fator 2: Propensão ao risco e desconhecimento de derivativos. Fator 3: Falta de percepção ao risco. 3 principais fatores da AF utilizados pela análise de cluster para agrupar os produtores relativamente homogêneos Grupo Produtores Média n % Fator 1 Fator 2 Fator 3 1 87 35,7 0,386 -0,582 -0,662 2 64 26,2 0,373 0,954 -0,509 3 29 11,9 0,024 0,705 1,623 4 32 13,1 -0,189 -1,173 1,056 5 32 13,1 -1,630 0,208 0,292 Grupo 1 – Confiança na gestão e conhecimento do mercado (87 prod., 36% do total). Grupo 2 – Propenso ao risco e desconhecimento de derivativos (64 prod., 26% do total). Grupo 3 – Falta de percepção ao risco (29 prod., 12% do total). Grupo 4 – Avesso ao risco e conhecimento de derivativos (32 produtores, 13% do total). Grupo 5 – Baixa confiança na gestão e baixo conhecimento de mercado (32 prod., 13% do total). Proporções, valores médios e percentuais de características dos produtores segundo grupos de percepção Variável Grupo 1 2 3 4 5 0,494 0,547 0,690 0,250 0,313 (AB) (A) (A) (C) (BC) 0,414 0,406 0,621 0,188 0,281 (AB) (AB) (A) (B) (B) 4.586 2.258 1.788 3.510 6.318 (A) (A) (A) (A) (A) 0,747 0,766 0,759 0,781 0,750 (A) (A) (A) (A) (A) 53,3 54,5 58,7 53,8 51,9 (AB) (AB) (A) (AB) (B) Fundamental 19,5 28,1 24,1 15,6 18,7 Médio 23,0 32,8 27,6 25,0 21,9 Superior 57,5 39,1 48,3 59,4 59,4 ECP 1 ECP 2 Tamanho da Prod. Renda de Outra Ativ Idade • ECP1: G3 (mercado não é arriscado) + G2 (alta propensão ao risco e alto NDD). Obs. Grupo 4 (alta aversão ao risco e baixo NDD) foi o que menos teveECP1. • ECP2: Grupo 3 • Produtores c/ idade média mais alta tendem a ter ECP. • Tamanho da produção, renda em outra atividade e escolaridade não possuem hierarquia estatisticamente significativas nos grupos em análise. Escol. (% coluna) + Não significativo a 10% pelo teste 2 para tabelas de contingência (c2=7,1347) (A) (B) (C) representam hierarquia dos valores médios. Médias com a mesma letra não são significativamente diferentes a um nível de significância de 5% pelo teste de Duncan. + 2º Análise Avaliar os determinantes do uso de mecanismos de gestão de risco de preço e seguro. Método: Logit multinomial para uso de contratos futuros UF = f (ID, ESC, TP, COOP, ROT, POI, FPR, GAM, PR, NDD, ECP, ECA) ESC, COOP e ROT: dummies POI, FPR, GAM, PR, NDD e ECA: questões com escala Likert de concordância de cinco pontos. Método: Logit para uso de seguro US = f (ID, ESC, TP, COOP, ROT, POI, FPR, GAM, PR, ECP, ECA) Estimação do modelo logit multinomial para uso de contratos futuros. Intercepto ln (P0/P2) Beta p-valor 9,956 0,000 Idade -0,012 0,574 Ensino Superior -1,041 0,056 Associativismo -0,536 Renda em outras atividades Variável *** ln (P1/P2) Beta p-valor 6,998 0,009 -0,008 0,676 0,204 0,697 0,624 -1,220 0,218 -0,523 0,444 -1,053 0,103 ln (Tamanho da Produção) -0,960 0,000 -0,693 0,000 POI -0,181 0,289 -0,023 0,889 Propensão ao risco 0,407 0,021 0,488 0,004 Falta de percepção do risco 0,149 0,425 0,241 0,177 -0,522 0,427 0,051 0,036 0,051 0,920 -0,407 0,512 -0,179 0,089 0,014 0,712 Acompanhamento do mercado Excesso de confiança na gestão Excesso de confiança em preços * *** ** ** * *** P2: conhece e usa P1: não usa, mas conhece P0: desconhecimento *** *** * ** *** Significativo a 1%; ** Significativo a %; * Significativo a 10%. Ensino superior aumenta a propensão a conhecer e usar; Tamanho da produção: quanto maior a produção, maior a chance de usar; Produtores mais propensos ao risco são menos propensos a utilizarem; Aqueles que mais acompanham o mercado são mais propensos a utilizarem; Excesso de confiança na gestão: quanto maior a confiança, menor a chance de usar. 3º Análise: Estimação do modelo logit para uso de seguro Variável Intercepto Beta 0,0830 p-valor 0,7416 D1 (Zona da Mata) 0,0598 0,5205 D2 (Sul de MG) 0,1928 0,0034 D3 (PR) 0,1092 0,6008 D4 (BA) -0,0764 0,6478 D5 (CE) 0,5244 0,0138 ** D6 (Cerrado) 0,1713 0,0766 * D7 (ES) 0,0998 0,4677 Idade -0,0008 0,7115 Ensino Superior -0,0237 0,5122 Associativismo 0,0849 0,4355 Renda em outras atividades -0,0126 0,8469 ln (Tamanho da Produção) Propensão ao risco 0,0379 -0,0374 0,0426 0,0427 Falta de percepção do risco 0,0131 0,4379 -0,0298 0,1550 Excesso de confiança na gestão *** ** ** E. Conclusões Alto percentual de produtores de café que não utilizam instrumentos de gestão de risco. Necessidade de investimentos em capital humano (educação) Fatores determinantes ao conhecimento e respectivo uso dos mercados futuros: Escolaridade, tamanho da produção, propensão ao risco, grau de confiança na gestão e grau de acompanhamento do mercado. Fatores determinantes ao uso de seguro: Tamanho da produção e propensão ao risco.