GOVERNO MUNICIPAL E DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO LOCAL: ANÁLISE A PARTIR DO MUNICÍPIO DE LUÍS EDUARDO MAGALHÃES-BA/ 2001-2004∗ Vanessa da Silva Vieira1 Palavras-chave: governo municipal; desenvolvimento econômico local; instituições; território. RESUMO – O trabalho discute, a influência da ação do governo municipal no processo de desenvolvimento econômico local ocorrido no município de Luís Eduardo Magalhães na Bahia. Nesta oportunidade serão considerados o processo de descentralização nacional do poder decisório, as novas formas organizacionais intramunicipais, e os novos movimentos internacionais emergidos devido à globalização. Neste contexto, o papel do território destaca-se como articulador e elemento dinâmico das re-organizações locais. ∗ Trabalho apresentado no XV Encontro Nacional de Estudos Populacionais, EBEP, realizado em Caxambú-MG – Brasil, de 18 a 22 de setembro de 2006. 1 Mestrado Multidisciplinar em Cultura, Memória e Desenvolvimento Regional, Universidade do Estado da Bahia – UNEB. 1 GOVERNO MUNICIPAL E DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO LOCAL: ANÁLISE A PARTIR DO MUNICÍPIO DE LUÍS EDUARDO MAGALHÃES-BA/ 2001-2004 Vanessa da Silva Vieira 1- INTRODUÇÃO Analisar as repercussões das ações desenvolvidas pelos diversos agentes, sobretudo as instituições, na constituição e re-organização do território local é papel fundamental da Geografia, e objetivo deste texto em particular. A relevância da discussão, a priori, abrange três aspectos: valorizar as diferentes instituições que atuam no território podendo estar representadas pelos governos, empresas e terceiro setor; valorizar o território, enquanto ator que participa ativa e decisivamente, mediante as suas especificidades, para o fomento de recursos diversos que possibilitam ampliar o dinamismo das localidades e proporcionar bemestar à população; e destacar o local, como termo polissêmico de grandeza diferenciada, capaz de promover mudanças positivas e endógenas, de forma estratégica, na organização espacial, sendo um agente promotor e inovador ao se deparar com os diversos desafios locais. A partir destas colocações, a questão central consiste em responder qual o papel das instituições para o desenvolvimento local? Ademais, como as instituições se articulam com agentes privados e públicos para efetivar as iniciativas locais e qual o papel do território neste contexto? Os pressupostos para estas indagações não se apresentam de forma estanque e exclusiva, pois se aferi que para este contexto de mudanças institucionais e locais ora se destacam os processos de globalização, ora o processo de descentralização e redemocratização, podendo ser derivadas, também, de iniciativas endógenas. Desta forma, busca-se aferir às questões propostas mediante os seguintes procedimentos metodológicos: uma análise teórica-conceitual dos termos instituições, desenvolvimento local, descentralização governamental e território, a partir de um diálogo entre Putnam (2005), Fonseca (2003), Silva (2003) Blumm (1999), Vázquez-Barquero (2001) e Velloso (1995). Após está discussão será realizado um estudo avaliativo entre as cidades de Luís Eduardo Magalhães e Valente, utilizando dados secundários, presentes em trabalhos de campo publicados e reportagens jornalísticas. Com a expectativa de alcançar os objetivos e responder aos pressupostos estabelecidos o referido artigo está estruturado em quatro pontos, mais as considerações finais que são: Introdução; Instituições, Descentralização Governamental, Desenvolvimento Local e Território: Conceitos e Teorias, onde se discute as bases conceituais e teóricas do tema em destaque, analisando contextualmente o papel das instituições ao longo do processo de descentralização governamental e as prerrogativas do desenvolvimento local no Brasil e o papel do território, neste contexto; Ações Institucionais a partir do governo municipal: análise do município de Luís Eduardo Magalhães-Bahia, onde faz-se uma análise sobre o contexto histórico do município, avaliando quais as instituições e como as mesmas se 2 interferem nas iniciativas locais e por fim as Considerações Finais que tem por finalidade responder a partir das análises teóricas e das reflexões críticas sobre as experiências da localidade em questão. 2INSTITUIÇÕES, DESCENTRALIZAÇÃO GOVERNAMENTAL, DESENVOLVIMENTO LOCAL E TERRITÓRIO: CONCEITOS E TEORIAS. A pesquisa de Fonseca (2003) esclarece que instituições é um termo polissêmico. Entre estes há um que significa criações humanas com a finalidade de dar forma às interações sociais, possuindo caráter formal e não-formal. A primeira é compostas por normas formais escritas, incluindo regras políticas e judiciais, regras econômicas e contratos, prescindindo, muitas vezes, de uma força coercitiva exterior para torná-las exeqüíveis. As não-formais possuem um caráter moral e estão baseadas em laços de confiança, não exigindo contratos que comprovem a sua legitimidade. Enquanto conjunto de normas prevê-se que as instituições, formais ou não, tem seu desempenho avaliado e interpretado constantemente pela sociedade (BOUDON & BOURRICAUD, 1993). Estas significações institucionais aproximam-se do perfil do trabalho, que busca avaliar a importância das instituições e do seu desempenho para as transformações ocorridas localmente, neste caso, nos municípios. Ainda estudando o trabalho de Fonseca (2003), o mesmo destaca através de suas pesquisas o novo istitucionalismo, como uma concepção que valoriza a heterogeneidade dos entornos políticos, sociais, econômico. Este destaque contribui, numa análise superficial, para duas questões: a primeira que há uma intermediação entre mercado e território através das normas institucionais; a segunda é que quando se absorve esta concepção, inibe os “pacotes prontos” das instituições governamentais estaduais e federais que deveriam ser apenas executados pelos governos locais. Factualmente, a importância das instituições não está apenas no seu desempenho, mas, sobretudo, na qualidade e significado da função que a mesma exerce segundo as necessidades da comunidade. Neste ponto, considera-se o estudo de Putnam (2005), quando o mesmo afirma que uma instituição obtém um desempenho eficiente de acordo com a destreza que a mesma conduz seus negócios internos. Apesar de autores durkhunianos (In: BOUDON & BOURRICAUD, 1993) defenderem que as instituições estão cristalizadas e funcionam apenas de forma coercitiva, acredita-se que as instituições são construídas contextualmente donas de um caráter flexível e sua eficiência é proporcional ao seu nível democrático, baseado no novo institucionalismo, isto significa que quanto mais pessoas participarem da construção das instituições maiores resultados positivos alcançarão Putnam (2005) e Fonseca (2003). As instituições não agem de forma estanque e depende de vários fatores para o seu funcionamento. É preciso compreender o contexto social, histórico, econômico e/ou cultural em que estas exercem seu papel. Ademais, é importante considerar neste caso que as instituições locais, são influenciadas por fatores externos. No Brasil, as instituições governamentais municipais tiveram contribuições decisivas do processo de descentralização governamental iniciado neste referido país, no final dos anos de 1980. A luz dos trabalhos de Velloso (1995), Blumm (1999) e Fonseca (2003) pode-se acompanhar parte deste processo. É sabido que a centralização brasileira consiste em algo histórico, sendo percebida desde o período colonial, com pequenos intervalos de frágeis políticas descentralizadoras e longas fases de centralização política e econômica. Segundo Velloso (1995), o modelo de política territorial centralizador que conduziria o desenvolvimento do território brasileiro por meio século, de 1930 a 1980, um dos mais longos e marcantes da história, foi influenciado 3 por vários fatos que marcaram o seu início e declínio. Com efeito, a queda da bolsa de Nova York, em 1929, contribuiu para a ascensão de um Estado intervencionista em várias partes do mundo. No Brasil, diante este contexto, emergiu um modelo nacional-desenvolvimentista, caracterizado pelo Estado Nacional de Compromisso que prevaleceu até o final dos anos de 1980, sobrecarregando esta instituição de funções (idem). Entretanto, esta fase foi marcada por sucessivos períodos de turbulências políticas e econômicas, a exemplo do regime ditatorial entre 1964 e início de 1980, a crise do petróleo na década de 70 e a instabilidade dos anos 80 refletida na crise fiscal e no esgotamento do modelo de substituição de importações, bem como na aceleração inflacionária e déficit no balanço de pagamento, apontando para o declínio do nacional-desenvolvimentismo. Em 1988, a nova Constituição Federal tornou-se um marco importante na promoção de mudanças no Estado, principalmente nos aspectos relacionados à cidadania, justiça social, planejamento governamental, autonomia municipal, participação da sociedade local e incentivo a busca de recursos alternativos e inovadores. Apesar disso foi adotada uma política governamental ancorada nas propostas neoliberais por intermédio do então presidente da Repúiblica Fernando Collor de Mello, que viabilizou o processo de privatização e inserção competitiva, via reestruturação industrial e, inclusive, desconcentração do poder decisório que marcaram um novo ciclo de políticas direcionadas para o desenvolvimento territorial (Velloso, 1995). Diante destas colocações percebe-se que as esferas municipais herdaram deste processo a autonomia e a necessidade de incrementar formas inovadoras para conseguirem sobreviver mediante as características competitivas da economia global, sem o assistencialismo do governo federativo. Tendo em conta o papel histórico desenvolvido pelos municípios brasileiros, as instituições políticas, econômica, culturais, educacionais, entre outras, representam um viés para mudanças qualitativas em muitos governos locais (FONSECA, 2003). Neste contexto, o território configura-se como elemento dotado de autonomia e identidade que se coloca como um ator importante através dos seus recursos específicos para as ações dos governos e outras iniciativas locais. O território é, assim, definido por relações institucionais. A redemocratização brasileira, advinda das inovações institucionais de 1988, permitiu que muitos municípios brasileiros assumissem um protagonismo jamais visto (FONSECA, 2003). Entretanto, as desigualdades regionais existentes no Brasil não permitem que os resultados da descentralização do poder decisório e da redemocratização sejam homogêneos (BLUMM, 1999). Nos municípios onde o governo local optou por uma política mais moderna e menos assistencialista, tomando iniciativas empreendedoras, buscando parcerias das mais diversas, que contemplassem as necessidades da comunidade, pôde-se observar certas mudanças estruturais nos setores econômicos, sociais e de infra-estrutura. Porém, nos municípios onde os governos locais optaram por uma gestão tradicional, centrada nas relações de dependência e subordinação às esferas estaduais e federais não conseguiram avançar, limitando as obrigações do governo local. Neste caso se os munícipes não dispõem de uma base cooperativa e cívica (Putnam, 2005) que elabore um plano estratégico alternativo para o desenvolvimento ou dinamismo local, estarão fadados a fazerem parte de um amplo conjunto de locais amorfos a espera de políticas assistencialistas. A capacidade organizacional dos municípios através destas parcerias com diferentes atores e agentes, bem como o protagonismo local para a captação de recursos e a busca por benefícios à comunidade municipal expressam algumas características do que venha a ser desenvolvimento local. Este, envolve um conjunto complexo de organizações de origem pública, privadas e não-governamentais, que buscam parcerias no propósito de tornar exeqüíveis os projetos e programas locais que visam uma mudança de estrutura econômica e, 4 sobretudo, a inclusão social. Para isso, deve-se contar com a modernização das técnicas de produção que promova o bem-estar da população (VÁZQUEZ-BARQUERO, 2001). O desenvolvimento local parte do princípio da existência de municípios mais autônomos e inovadores que se desvinculam dos assistencialismos provenientes das esferas governamentais, estaduais e nacionais (FONSECA, 2003). Todavia, no Brasil, as esferas municipais passam por um complexo paradoxo, isto é, a mesma redemocratização que pode contribui para a descentralização do poder decisório e dos recursos tributários, traz também sérias dificuldades para muitos municípios, como inserir-se no processo de produtividade competitivo e estabelecer parcerias econômicas e políticas expressivas. Neste caso, o governo municipal é impelido a pedir ajuda as esferas superiores, invalidando o processo democrático e provocando uma nova relação de subordinação e dependência, isto é, os municípios não conseguem exercer a autonomia que lhes foram outorgada (Blumm, 1999). A discussão precedente infere que as especificidades existentes em cada ponto territorial são imprescindíveis para o desenvolvimento ou não de ações políticas municipais inovadoras que desfrutem de forma legítima os desdobramentos dos processos de renovação democrática e de descentralização. Tais especificidades estão vinculadas ao entorno sócio, cultural, político e econômico das instituições municipais . Segundo Fonseca (2003), estas especificidades, contribuem para responder porque nem todos os arranjos institucionais são eficazes para proporcionar o desenvolvimento econômico e político endógeno do território. Além disso, os governos e demais agentes precisam perceber as diversas possibilidades de desenvolvimento do território, considerando seus aspectos sociopolíticos, seus laços de coesão e projeto social, como também sua identidade para que o mesmo não esteja totalmente vulnerável às condições e fatores exógenos (SILVA, 2003). Neste sentido, quando as instituições começam a agir para promover o dinamismo local o território deixa de significar extensão territorial e passa a destacar-se como co-ator do engendramento das inovações locais. Finalizando este item, ressalta-se que o estudo realizado por Putnam (2005), em diferentes comunidades italianas, durante 20 anos, obteve a seguinte conclusão: o contexto social e a história condicionam profundamente o desempenho das instituições. Quando o solo regional é fértil, as regiões sustentam-se das tradições regionais, mas quando o solo regional é ruim, as novas instituições definham (PUTNAM, 2005, p.191). Compreende-se aqui que o solo regional fértil refere-se a um entorno cultural, político e econômico construído historicamente por relações institucionais, sendo o território organizado através de um processo prenhe de relações complexas que devem estar abertas às re-organizações necessárias para sua permanência e desenvolvimento de modo democrático e dinâmico. Do contrário, as instituições perecerão numa condição ociosa e letárgica inibindo o desenvolvimento do território e o atendimento das necessidades sociais básicas. A seguir segue-se o exemplo da localidade de Luís Eduardo Magalhães que a partir de sue entorno está desenvolvendo a dinamização do território devido as suas peculiaridades espaciais e institucionais. 3- AÇÕES INSTITUCIONAIS A PARTIR DO GOVERNO MUNICIPAL: ANÁLISE DO MUNICÍPIO DE LUÍS EDUARDO MAGALHÃES. A finalidade deste ponto consiste em destacar o papel das instituições no município de Luís Eduardo Magalhães, localizado na Região Oeste da Bahia, a 947 Km da capital do Estado, Salvador. 5 Se o entendimento por desenvolvimento local passa pela idéia de processo de crescimento e mudança estrutural ocorridas devido ás transferências de recursos das atividades tradicionais para as modernas (BARQUERO, 2001), então, pode-se inferir a existência deste desenvolvimento no município analisado e que será aprofundado posteriormente. Ademais é necessário compreender quais as instituições e de que forma as mesmas se integram às iniciativas locais, percebendo, ainda, a atuação do território junto às instituições representativas. 3.1 – ANÁLISE SOBRE LUÍS EDUARDO MAGALHÃES O município de Luís Eduardo Magalhães (figura1) localizado na Região Oeste da Bahia, situa-se num contexto onde a modernização da agricultura é bastante afluente, proporcionando, desta forma, a dinamização da produção de grãos. Criado pela Lei n º 7.619 de 30 de março de 2000, nasce com uma população total de 20.169 habitantes, com um grau de urbanização de aproximadamente 82% e com uma produção agrícola de valor bruto anual estimado em R$ 155 milhões (CAR – Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional –, 2002). Neste instante surgem algumas inquietações: se a história é fundamental para surgirem territórios organizados, por que Luís Eduardo Magalhães, relativamente novo, expressa este ímpeto de organização baseado em seu vigor econômico, e características culturais e políticas tão expressivas? A hipótese, apriorística, é que esta organização territorial tenha absorvido grande parte da cultura dos seus imigrantes sulistas, principalmente os gaúchos, que através de uma mentalidade cívica, da ética do trabalho, do heroísmo e de provar sua capacidade inata de não negacear contribuiu para a individualização do município em todo Oeste baiano (HAESBERT, 1997). Entretanto neste mesmo trabalho, Haesbert afirma que a chegada dos imigrantes na década de 70 no século XX na região que originou o município de Luís Eduardo, estava influenciada por diferentes dinâmicas no âmbito mundial, nacional e regional; e setores econômico, político e cultural, ou seja, o legítimo processo de ampliação dos espaços capitalistas na fase da globalização agroindustrial, financeira e técnicainformacional, e não apenas o pensamento mítico da modernização sulista. Segundo Silva (2003), a eficácia da mais nova fronteira agrícola da Bahia foi a mola propulsoras para que este povoado obtivesse a configuração de cidade. O fato do município já nascer planejado e da permanência definitiva dos imigrantes corroborou para que os moradores reinvidicassem a implantação e instalação de equipamentos urbanos importantes na promoção do bem-estar na nova localidade onde vivem e da fundação de uma agrovila. Para Putnam (2005) uma comunidade com mentalidade cívica é aquela que busca adquirir do governo melhores condições de vida e bem-estar comum a todos, isto é, uma comunidade que luta pelos seus direitos não apenas exigindo saúde, educação e saneamento, mas participa ativamente da construção da sociedade através da formação e fortalecimento de associações civis e particulares o que tende a influenciar na eficiência do governo democrático. À parte, as particularidades do município de Luís Eduardo Magalhães, a que se considerar que estas reivindicações e consciência da necessidade de buscar bem-estar refletem na organização de instituições governamentais, culturais e privadas que atendam as expectativas da sociedade e dos diferentes atores que nela atuam. A CAR – Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional – (2002) afirma que o governo econômicas municipal tem desenvolvido iniciativas fundamentais para maior satisfação social e entre elas destacam-se: Cursos de capacitação de mão-de-obra, através de redes e parcerias; Redução progressiva do ISS; Isenção do IPTU do imóvel onde se instalar a indústria, pelo prazo de cinco anos; Dispõe do Centro Industrial do Cerrado (CIC) e disponibiliza infra-estrutura para instalação 6 Figura 1 Localização do Município de Luís de indústria internas e externas; atração de feiras, como a Agrishow – Feira Internacional de Tecnologia Agrícola e outras influentes eventos. Segundo Fonseca (2005) alguns municípios vêm executando importantes mobilizações locais, através da interação intermunicipal baseado em encontros, seminários, congressos, feiras, que buscam conjuntamente superar problemas socioeconômicos. Estas mobilizações estão, também, relacionadas aos pactos territoriais de caráter local. A Agrishow, sediada em Luís Eduardo, é um exemplo destes pactos, realizados mediante a ação de agentes públicos, privados e do terceiro setor, onde são envolvidos municípios contíguos a exemplo de Barreiras, São Desidério e Angical. A Agrishow é um empreendimento milionário cuja realização está diretamente ligada à Prefeitura de Luís Eduardo Magalhães e expositores, em sua maioria representante de máquinas agrícolas (HERMES, 2005). Constitui-se também como um viés importante para a consolidação das inovações institucionais e econômicas. Além da Agrishow outros eventos de caráter municipal são realizados: Seminário de Grãos; Debate sobre Reflorestamento e Reserva local e o Congresso de Irrigação do Cerrado Brasileiro entre outros com apoio do governo municipal de Luís Eduardo Magalhães. Segundo o secretário de agricultura municipal, Eduardo Yamashita, a Prefeitura de Luis Eduardo Magalhães desenvolve um trabalho junto a outras prefeituras da região, com objetivo de organizar caravanas de produtores. Esta ação permite democratizar o acesso à tecnologia, não considerando o porte do produtor, a iniciativa busca promover, também, uma 7 maior integração dos municípios da região oeste da Bahia. Na Feira Internacional Agrícola estes municípios têm a oportunidade de expor suas potencialidades através de estande municipais (idem). Neste sentido, considera-se esta ação como um pacto territorial onde os municípios próximos, tem oportunidade de se reunirem para demonstrar suas inovações e produções agrícolas, abrindo desta forma, caminhos para investimentos produtivos local e regional. Ademais, o governo municipal, enquanto instituição proporciona a amenização das incertezas e dos riscos inerente à competitividade da globalização, podendo viabilizar a difusão de informação e de produção a preços mais baixos, otimizando, desta forma, a superação de conflitos e controvérsias relacionadas às lacunas deixadas pelo mercado e contratos (FONSECA, 2005). O desempenho institucional e econômico do município está progressivamente ganhando destaque, ultrapassando as fronteiras locais e regionais, alcançando a rede internacional do mercado agrícola. Aprioristicamente, avalia-se que o município de Luís Eduardo Magalhães tem ativado os determinantes para o desenvolvimento econômico local, considerando os padrões teóricos de Vázquez-Barquero (2001). Flexibilidade institucional, criando parcerias intermunicipais, estaduais e internacionais com agentes públicos e privados; introdução e difusão das inovações do conhecimento, substituindo formas tradicionais do sistema de engenharia por inovações tecnológica e difusão do conhecimento através das feiras realizadas, possibilitando, então, a abertura de novos mercados para produtos e produtores; desenvolve uma organização flexível da produção, permitindo que empresas endógenas desfrutem de economias geradas externas e internamente, por fim vem contribuindo para o desenvolvimento urbano do território, permitindo através dos investimentos em infra-estrutura a formação de parcerias externas e o surgimento de novos rendimentos. Com efeito, a Agrishow é uma excelente oportunidade para otimizar todos estes processos que favorecem ao desenvolvimento econômico local, através de parcerias entre governo e empresas. É um empreendimento no qual fica demonstrado a rede de parcerias intra e inter municipais com órgãos públicos e privados, contribuindo na desmistificação do “mito da necessidade” 2 de aportes assistencialistas para os municípios nordestinos. A segunda edição da Agrishow, realizada de 14 a 17 de junho do ano de 2005, a terceira maior feira internacional de tecnologia agrícola do mundo, recebeu vinte e cinco mil visitantes, gerando R$ 210 milhões em financiamento e cerca de mil empregos diretos. A Agrishow, empreendimento de iniciativa municipal, oportuniza a criação e renovação de parcerias com importantes organizações governamentais como: EBDA (Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola); ADAB (Agência de Defesa Agropecuária da Bahia); Ministério da Agricultura; Secretaria de Agricultura do Estado da Bahia; CODEVASF (Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco); Fundeagro (Fundo para o Desenvolvimento do Agronegócio do Algodão); Banco do Brasil (HERMES, 2005). A análise da cidade de Luís Eduardo Magalhães permiti avaliar que seu governo favorece a criação de um entorno territorial propício para o desenvolvimento econômico local, agregando parcerias importantes com a esfera governamental estadual e federal, e também com o setor privado através das isenções oferecidas às empresas. É um exemplo singular no estado da Bahia, onde as ações institucionais de caráter empreendedor do governo municipal, juntamente à mentalidade econômica, cultural e social dos imigrantes e a competitividade produzida pelo processo de globalização foi fundamental para a atual expressividade econômica. Com efeito, a visão empreendedora do governo municipal ainda não alcançou algumas áreas carentes de infraestrutura da cidade (SILVA, 2003), o que 2 Ver CASTRO, I. E. O mito da necessidade. Discurso e prática do regionalismo nordestino. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1992. 8 permite afirmar a necessidade de um repensar socioeconômico sobre as políticas implementadas pelo governo municipal. 4 - CONSIDERAÇÕES FINAIS As instituições através de um complexo conjunto de organizações públicas e privadas, internas e externas colaboram na promoção de iniciativas locais que se desdobrem em bens sociais e eficiência econômica. O governo municipal de Luís Eduardo Magalhães tem investido em ações institucionais empreendedoras, buscando parcerias com governo estadual e federal, setor privado e associações. Dentre as principais ações do governo municipal se destaca a atração do Agrishow que divulga o potencial da cidade, favorecendo a instalação de novos investimentos produtivos. Há também outras mobilizações locais e regionais que visam criar pactos territoriais entre alguns municípios próximos, contribuindo para a configuração de localidades mais autônomas, com mais iniciativas para buscar investimentos. Por fim, qual o papel do território neste contexto? O território é, então, visto como ator que produz circunstâncias através dos seus conteúdos que são: os recursos competitivos, comparativos e organizacionais utilizados nas ações institucionais do governo municipal contribuindo para a dinamização do município. Com efeito, território, instituição e município conformam uma tríade imprescindível diante das novas estratégias que precisam ser executadas devido aos atuais movimentos nacionais de descentralização e ao competitivo processo da globalização. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BLUMM, M. H. N. Autonomia política local: as relações entre o Poder Executivo de Salvador e o Congresso Nacional, 1993 a 1996. Dissertação (Mestrado em Administração) – Escola de Administração da Universidade Federal da Bahia, Salvador, 1999. BOUDON, R. BOURRICAD, F. Dicionário Crítico de Sociologia. São Paulo: Ática, 1993, p. 300-307. CAR – COMPANHIA DE DESENVOLVIMENTO E AÇÃO REGIONAL, BAHIA. PDMS – PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO MUNICIPAL SUSTENTÁVEL. Perfil Municipal de Luís Eduardo Magalhães. Salvador, 2002. FONSECA, A. A. M. da. Descentralização e estratégias institucionais dos municípios para captação de recursos: um estudo comparativo entre Feira de Santana, Ilhéus e Vitória da Conquista / Bahia – 1997/2003. Tese (Doutorado em Geografia) – Curso de Geografia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2003. ______. Inovação institucional e a criação de pactos territoriais nos municípios baianos. In: Seminário Nacional Infra-Estrutura, Organização Territorial e Desenvolvimento Local, 4., 2005 , Salvador-Ba. Anais do 4 º Seminário Nacional Infra-Estrutura, Organização Territorial e Desenvolvimento Local. Salvador: CEPEX / UCSAL, 2005. CD-ROM. 9 HAESBERT, R. Des-territorialização e identidade: a rede “gaúcha” no Nordeste. Niterói: EDUFF, 1997. HERMES, M; MELO, J. Agrishow: Luis Eduardo Magalhães. Jornal A Tarde, Bahia, 27 jun. 2005. Caderno Especial. PUTNAM, R. D. Comunidade e democracia: a experiência da Itália moderna. 4 ª ed. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 2005. Tradução Luis Alberto Monjardim. SANTOS, E. M. C. A APAEB e a Re-organização espacial no semi-árido da Bahia. Revista Humanas: UEFS. Departamento de Ciências Humanas e Filosofia, ano 1, n. 1, jan./jun. 2002. SILVA, A. L. V. et al. APAEB: uma história de fibra luta e subsistência. Valente: APAEB, 1993. SILVA, S. B. de M. e. A cidade de Luís Eduardo Magalhães e sua relação com a agricultura moderna. In: Estudos sobre globalização, território e Bahia. Salvador: UFBA. Mestrado em Geografia, Departamento de Geografia, 2003. SILVA, S. B. de M. e; SILVA, B. N. Reinventando o território: tradição e mudança na região do sisal – Bahia. . In: Estudos sobre globalização, território e Bahia. Salvador: UFBA. Mestrado em Geografia, Departamento de Geografia, 2003. VÁZQUEZ–BARQUERO, A. Desenvolvimento Endógeno em tempos de globalização. Porto Alegre: Fundação de Economia e Estatística, 2001. Tradução de Ricardo Brinco. VELLOSO, J. P.; ALBURQUEQUE, R. C. de (coord.) Governabilidade e Reforma. Rio de Janeiro: José Olympio. Fórum Nacional, 1995. 10