observatório Ilustrações Raquel Marciano po r 24 DOM Leonardo Araújo e Rogério Gava O marketing nasceu com o foco no cliente. Corriam os anos 50 e novas vozes, como a de Peter Drucker, destacavam pela primeira vez a importância das necessidades e desejos dos consumidores no cenário dos negócios. A chamada postura customer-led, essência de toda a teoria de marketing, consolidou-se no dogma indiscutível da estratégia mercadológica nos 30 anos seguintes. Foi somente no final dos anos 80 que a então inovadora abordagem de orientação para o mercado propôs uma nova visão do tema, relacionando outros componentes do cenário de negócios – concorrência, agentes reguladores, fornecedores – que deveriam ser contemplados na análise estratégica das empresas. A orientação para marketing cedia lugar à orientação para o mercado. Mas se ampliou o foco sobre o cliente, a nova abordagem seguiu tendo o ambiente externo como guia de atenção estratégica. Mais recentemente, a orientação para o mercado passou a ser vista como estratégia reativa, por enxergar o ambiente de negócios como uma realidade “dada”, em relação à qual a empresa deve se adaptar. Esse entendimento gerou, a partir do início da década atual, uma nova corrente de pensamento do marketing estratégico, contemplando a possibilidade de um posicionamento mais proativo das organizações em relação ao seu entorno. A tradicional orientação, com ênfase na reação, cede espaço à abordagem de orientação proativa para o mercado. Nessa perspectiva, nos interessava investigar de que forma as empresas podem guiar ou modelar o ambiente externo a partir de seus próprios objetivos, em vez de somente investirem seus esforços para responder às estruturas e movimentos do entorno. Assim, a proatividade – postura voltada para alterar e influenciar as condições do ambiente de negócios – surgia como alternativa estratégica à histórica atitude reativa de orientação. Com o objetivo de entender como as empresas podem ser mais proativas em suas estratégias de mercado, construímos um modelo que nos permitisse responder a três indagações fundamentais: - Quais são os antecedentes que facilitam (ou dificultam) a adoção de práticas mais proativas voltadas para o mercado? - Como uma estratégia proativa de mercado pode ser implementada? - Quais as vantagens de uma estratégia proativa de mercado? Gerado a partir de extensa revisão de literatura, o modelo foi testado e refinado em pesquisa qualitativa (50 entrevistas em profundidade) com 27 empresas de 13 setores da indústria, comércio DOM 25 A PROATIVIDADE DE MERCADO COMPREENDE A CRIAÇÃO DA MUDANÇA E A AÇÃO ANTECIPADA A PEQUENOS INDÍCIOS DE MUDANÇA e serviços. O objetivo era comprovar se havia aderência dos elementos teóricos relacionados ao modelo com as práticas das empresas atuantes no Brasil. Entrevistamos diretores e gerentes para conhecer a visão de grandes organizações sobre a proatividade de mercado e suas possibilidades no cenário de negócios. Os resultados que se seguem ilustram o que encontramos. Ficou evidente em nossa pesquisa, que “proatividade” é uma daquelas expressões que às vezes ganham diferentes significados e interpretações. Buscamos, então, construir um entendimento do que significa a proatividade no campo da estratégia de mercado. A partir dos insights gerados pela literatura e pelas entrevistas que realizamos, foi possível visualizar dois tipos de comportamento nas atitudes proativas: ações que buscam influenciar o ambiente e iniciar a mudança; ações de antecipação aos primeiros sintomas de mudanças ainda latentes. A partir daí, definimos a proatividade de mercado como “a habilidade de criar a mudança e guiar o mercado e/ou agir antecipadamente aos primeiros sinais de mudanças e suas oportunidades e ameaças”. A proatividade de mercado compreende, ao mesmo tempo, a criação da mudança e a ação antecipada a pequenos indícios de mudanças. Ser proativo, nesse caso, significa criar a mudança no mercado ou agir antes que seus efeitos sejam sentidos. Em contrapartida, a ação posterior às mudanças caracteriza uma postura meramente reativa a elas. Um modelo para a proatividade de mercado O modelo que construímos reúne aquelas três perguntas fundamentais. Em outras palavras, ele relaciona os antecedentes da estratégia, as ações necessárias para colocá-la em prática e, mais importante, o que pode representar em termos de vantagem competitiva para a empresa. Como acontece a proatividade de mercado? A 26 DOM pesquisa nos levou ao entendimento inicial de que ela pode ocorrer a partir de três dimensões distintas: proatividade de oferta; proatividade de indústria e proatividade de cliente. A proatividade de oferta busca criar a mudança ou antecipar a ação sobre mudanças latentes, por meio de ações focadas em produtos, serviços ou no padrão de valor do mercado. Seu foco está na inovação. A importância de ações inovadoras para a proatividade, destacada pela literatura, ficou também evidente nas entrevistas em profundidade que realizamos. Os efeitos das ações de inovação na oferta foram descritos como capazes de influenciar, de forma marcante, o comportamento dos consumidores. Essas aplicações contemplam, via de regra, a criação de produtos e serviços ou a modificação crucial no padrão de valor da oferta até então vigente (Ver página 27). A segunda dimensão – a proatividade de indústria -, representa as ações que buscam criar a mudança ou agir sobre os sintomas de mudanças ainda subliminares, relacionadas à natureza da competição existente. Envolve a modificação da estrutura e/ou os comportamentos vinculados à cadeia de valor, em relação à concorrência, aos fornecedores, distribuidores ou, até mesmo, aos agentes reguladores da indústria. Essa proatividade pode acontecer, por exemplo, pela eliminação de players concorrentes (via aquisição ou fusões), por parcerias firmadas com fornecedores ou por integrações para frente na cadeia de distribuição – ação típica da indústria moveleira brasileira, com o surgimento de lojas próprias, ou de movimentos como o da Localiza Rent a Car, criando uma nova plataforma de negócios (Ver página 27). Finalmente, na terceira e última dimensão do modelo, a proatividade de cliente, temos um conjunto de modificações que podem ser introduzidas no comportamento dos clientes e consumidores, com o objetivo de criar ou se antecipar às oportunidades (ou ameaças) potenciais. Essas modificações Dois sucessos proativos A proatividade de oferta pode se manifestar pelo desenvolvimento de uma nova categoria de produto, como aconteceu com a bebida H20H, lançada em 2006 pela Pepsi. Nesse caso, ela está relacionada com a percepção estratégica da empresa de antecipar-se na exploração de uma oportunidade de demanda latente no mercado, representada por consumidores sensíveis ao apelo saudável dos sucos e da água, aliado ao sabor dos refrigerantes. O desafio não era simplesmente criar um refrigerante mais leve (com menos gás). Era preciso encontrar uma alternativa de produto mais próximo da categoria água, porém com sabor e leveza atraentes. A composição química do produto – predominância de água, leve concentração de limão e discreta presença de gás – foi estrategicamente batizada de H2OH, nome que reforçava um oportuno posicionamento, descolado do congestionado campo de batalha dos refrigerantes e mais próximo do ascendente mercado de águas. Uma proativa combinação de fatores fez do H2OH um campeão de vendas e acabou roubando parte do mercado dos refrigerantes light, transformando-o em líder da nova categoria. Há casos em que a proatividade de oferta se manifesta por modificações introduzidas em produtos existentes que alteram o padrão de valor atribuído pelo mercado. Quando a Fiat Automóveis se antecipou à concorrência e criou o conceito Adventure, tornando-o tangível nos carros – que ganharam novos atributos funcionais e design diferenciado –, a empresa aumentou a percepção de valor de uma faixa de clientes dispostos a pagar mais por novidades atraentes. Com isso, a Fiat avançou de forma proativa em um território de mercado até então inexplorado, formado por clientes que não desejam um veículo com tração 4 X 4, mas aspiram por liberdade e convívio com a natureza (o próprio nome Adventure traduz este conceito) e valorizam um estilo diferenciado de automóvel. Mudando radicalmente a competição na indústria Um movimento típico e forte de proatividade na indústria foi a iniciativa da Localiza Rent a Car de criar uma nova plataforma de negócios, denominada Seminovos Localiza, dedicada à venda de carros desativados de sua operação no mercado. Com uma estratégia bem engendrada, a empresa conquistou também a liderança em outro mercado, tornando-se um player que dita tendências e influencia modelos de negócios em ambos os setores – aluguel de carros e venda de carros usados. Especificamente neste último campo, a força inovadora do negócio é capaz de guiar os movimentos dos concorrentes em relação à comunicação promocional, políticas de preços, estrutura de pontos-de-vendas e processos de atendimento. Esse é um forte exemplo de proatividade ligada à formulação de uma estratégia de negócios, que transcende os limites operacionais do mercado de origem. A proatividade também se manifestou no próprio conceito “seminovos”, inovador numa época em que todo o setor focava a venda de “carros usados”. DOM 27 28 DOM Modificando o comportamento do consumidor A proatividade de cliente tem seu foco concentrado na criação e/ou modificação de necessidades e preferências dos consumidores finais. O produto Activia da Danone representa um bom exemplo neste caso, direcionando o consumo regular do produto para um mínimo de 15 dias, tempo requerido para o bacilo DanRegulares agir terapeuticamente no combate aos problemas de intestino lento, que afligem parcela significativa de pessoas. O Activia conquistou a liderança do mercado de iogurtes funcionais não apenas por suas propriedades terapêuticas, mas também pela capacidade da empresa em influenciar e educar milhares de consumidores potenciais, com uma comunicação franca, empática e persuasiva, que dá relevância à proposta de valor do produto. No campo da mudança de preferências, a proatividade de cliente está presente também nas ações da Natura, no posicionamento de sua linha Chronos, cremes para o rosto de mulheres na faixa dos 30 anos, com oferta segmentada de produtos também para as faixas de 45 anos e mais de 60. O conceito Chronos guiou de forma proativa as preferências das consumidoras por cremes para nutrir e fortalecer a estrutura da pele, com a idéia de “ficar em paz com o seu tempo e ter uma boa relação com a idade”. Trata-se de um conceito holístico de beleza que nega a aspiração enquadrada no padrão estético “ficar mais jovem”, resultando em direcionamento de preferências de consumo. QUADRO 1 | Dimensões, níveis e aplicações para a proatividade de mercado OFERTA INDÚSTRIA DIMENSÕES NÍVEIS APLICAÇÕES FOCO Produto Serviço - Criação de produtos e serviços até então inexistentes - Modificação de produtos e/ou serviços - Eliminação de produtos e/ou serviços (canibalismo) INOVAÇÃO Padrão de Valor - Criação de valor - Modificação de valor - Eliminação de valor FOCO NATUREZA DA COMPETIÇÃO Fornecedores - Aquisição de fornecedores - Tornar-se o próprio fornecedor - Parcerias / alianças / exclusividade de fornecimento Competidores - Aquisição de concorrentes - Fusões, alianças e parcerias entre concorrentes - Guiar movimentos da concorrência Canais Agentes Reguladores CLIENTE DIMENSÃO INTERNA Estratégia Proativa de Mercado DIMENSÃO EXTERNA Proatividade de mercado e seus antecedentes A essa altura, você deve estar se perguntando: então, basta escolher o caminho que mais se adapte a minha empresa e começar a agir proativamente? Não é tão simples assim. Na vida organizacional, nada existe por decreto, ou seja, nenhuma empresa é proativa apenas por força de vontade. Sintetizando estudos que desenvolvemos, relacionados à gestão da alta gerência e da estrutura organizacional, concluímos que existem vários requisitos para que a proatividade de mercado possa se desenvolver, aos quais chamamos de “antecedentes”, e fomos a campo testá-los em nossa pesquisa de validação conceitual do modelo. A análise prévia da literatura, respaldada pelos insights de campo, revelou duas dimensões básicas dos antecedentes: a alta gerência e o sistema organizacional. A alta gerência focaliza os comportamentos e práticas de diretores, gerentes e líderes da organização em seu papel preparatório para a proatividade de mercado. Quanto mais os líderes apresentarem determinadas características, maior a probabilidade de a empresa tornar-se proativa em suas estratégias. O mesmo vale para a dimensão do sistema organizacional, que agrupa as estruturas e processos empresariais e suas práticas subjacentes. Assim, na alta gerência seis fatores aparecem como pré-requisitos para a proatividade de merca- do: liderança proativa, capacidade de assumir riscos, visão de futuro, tolerância ao erro, canibalismo da oferta e visão de longo prazo. Liderança proativa: estilo de liderança pautado pela busca de novas formas de atuação e maneira de pensar os problemas. O líder proativo estimula a criatividade, o intra-empreendedorismo e a exploração de novas oportunidades, promovendo também o livre debate entre idéias antagônicas. Capacidade de assumir riscos: visão do risco como elemento natural no processo empresarial. A alta gerência não avessa ao risco adota estratégias e ações inovadoras, mesmo prevendo que muitas delas poderão fracassar. Visão de futuro: diretores e gerentes com visão de futuro muitas vezes confiam mais em sua intuição e crenças a respeito do negócio, do que na pesquisa de mercado tradicional. Uma visão de futuro compartilhada e disseminada na organização também aglutina seus membros em torno dos objetivos traçados e os estimula a persegui-los. Tolerância ao erro: uma alta gerência tolerante ao erro concede ao seu staff a “liberdade de errar”, enxergando o erro como oportunidade de aprendizagem coletiva. Líderes tolerantes ao erro o consideram um elemento inerente ao processo de inovação e à busca de novas oportunidades. Canibalismo da oferta: envolve a busca pela obsolescência dos próprios produtos e serviços, antes que isso ocorra por ação da concorrência. Uma alta gerência habituada ao canibalismo, o enxerga não como uma disfunção estratégica, mas como oportunidade de crescimento e expansão dos negócios. Gestão de longo prazo: visão não-imediatista sobre o alcance dos objetivos e resultados da organização. Essa gestão entende que muitas vezes pode ser necessário sacrificar retornos financeiros do presente em função de possíveis ganhos no futuro. Já em relação ao sistema organizacional, a pesquisa nos revelou cinco antecedentes essenciais: capacidade de inovação; cultura baseada na flexibilidade; competição interna (times competitivos), capacidade de educar o mercado; gestão do comportamento proativo. Capacidade de inovação: capacidade da organização de promover o desenvolvimento contínuo de novos produtos e serviços (inovação). PROATIVIDADE DE MERCADO podem envolver, por exemplo, a alteração das preferências e hábitos de consumo, fazendo com que os consumidores passem a adotar novos hábitos ou modifiquem os já existentes (Ver página 29). O Quadro 1 resume a proatividade de mercado a partir de suas dimensões, níveis e aplicações fundamentais. Da esquerda para a direita, podemse traçar diferentes combinações e caminhos pelos quais uma empresa pode agir de forma proativa em relação ao mercado. Por exemplo: será mais eficaz para determinada empresa buscar a proatividade na dimensão indústria, no nível da concorrência e por meio de aquisições; já outra empresa, por força de suas peculiaridades, verá com melhores olhos as possibilidades de atuação proativa na dimensão dos clientes, buscando moldar as preferências de seu público-alvo. Em suma, o que importa não é o caminho traçado, mas a eficiência com que ele será percorrido e a relação custo-benefício. - Aquisição de distribuidores/revendedores - Tornar-se o próprio distribuidor/revendedor - Criação de nova estrutura de distribuição - Criar obstáculos - Alterar obstáculos - Eliminar obstáculos FOCO Necessidades - Criar necessidades - Modificar necessidades - Eliminar necessidades COMPORTAMENTO Preferências - Criar preferências - Modificar preferências - Eliminar preferências DOM 29 Cultura baseada na flexibilidade: tipo de cultura organizacional marcada pela flexibilidade em oposição à rigidez hierárquica e centralizadora. Em seu interior, desenvolve aspectos como a criatividade, o intra-empreendedorismo, a inovação e a tomada de risco. Competição interna: estímulo à competição positivamente gerenciada entre pessoas e/ou grupos distintos dentro da organização, visando promover a geração de novas idéias e conceitos. Assim, equipes podem ser motivadas a competir na concepção de projetos, na busca de soluções ou superação de desafios. Capacidade de educar o mercado: habilidade da organização em preparar o mercado para a introdução de produtos e serviços totalmente inovadores, influenciando os consumidores a aceitá-los, aumentando assim a probabilidade de sucesso. Gestão do comportamento proativo: habilidade da organização em promover o comportamento proativo de seus membros, por meio da contratação, desenvolvimento, reconhecimento e retenção dos talentos voltados à proatividade. Os antecedentes funcionam, portanto, como terreno fértil para que a proatividade de mercado nasça e se desenvolva. Sua existência em maior ou menor grau é que vai determinar se há espaço para ações proativas dentro das estratégias mercadológicas de uma empresa. Reatividade e proatividade: lados de uma mesma moeda Reatividade e proatividade são perspectivas antagônicas e excludentes na estratégia de marketing ou podem conviver de modo complementar? Somos defensores da segunda opção, tendo surgido em nossa pesquisa a idéia de integração entre posturas reativas e proativas. Conceitos articulados por alguns autores e nossa investigação apontaram uma visão da reatividade e da proatividade, não como uma dicotomia, mas como pontos sobre um mesmo continuum. Como a resposta ao mercado é uma ação estratégica vital para a sobrevivência das organizações e pedra de toque no contexto da administração estratégica, não afastamos essa premissa. Mas entendemos que as empresas precisam dedicar parte de seus esforços para libertarem-se da chamada “tirania de servir ao mercado”, expressão dos autores Prahalad e Hamel. Em vez de altera30 DOM rem comportamentos mais ou menos proativos, na maioria das vezes as organizações apenas se contentam em responder ao que o mercado pede, tendendo mais para o lado da reatividade. Está na hora de equilibrar essa balança. Em tempos de competição tão acirrada e de mudanças velozes e intensas nos mercados, uma postura somente reativa pode fazer a empresa perder terreno. Mudando as regras do jogo Imagine um barco em alto mar, à mercê de ondas implacáveis que lhe dão o rumo sem margem para manobras. Pois bem, nosso barco é a empresa e, as ondas, o mercado. O capitão do navio e seus marujos (gestores e membros da organização) estão bastante ocupados respondendo (reagindo) às ondas e fazem exclusivamente isso. Esse é o paradigma determinista, o quadro da reatividade: responder ao que o ambiente externo apresenta. Imagine agora algum poder de discernimento para o capitão do barco e seus marujos. Uma possibilidade de conduzi-lo por outros caminhos, deixando as intempéries para trás; ou de alterar as condições do ambiente, lançando mão de alguma ferramenta tecnológica ou inovação. Esse é o quadro da proatividade de mercado: não apenas responder às imposições do ambiente, mas procurar alterá-las em favor da empresa. Em qual barco você se encontra? Determinismo ambiental e escolha estratégica Talvez seja estranho, e um exagero, pensar as empresas como únicas responsáveis pelo seu próprio destino. Mas entendemos que os gestores têm, pelo menos em parte, o poder de construir sua própria estrada, em vez de se guiar unicamente pelos caminhos traçados. As empresas não podem fazer tudo, mas podem fazer alguma coisa. Elas têm uma escolha estratégica, e aí termina o determinismo. Como na vida, no âmbito dos negócios não há somente uma opção. CONCLUSÃO A estratégia proativa de mercado nasce do entendimento de que as empresas também podem “quebrar as regras do jogo”, em vez de somente responder a elas. E quem define novas regras é quem passa a ditá-las – os outros terão que se adaptar a elas. Em outros termos: a proatividade de uns faz com que outros sejam ainda mais reativos. Em vez de tentar jogar sempre melhor, o que na prática é quase impossível, pode-se vencer mudando as regras do jogo e gastando menos tempo, esforço e recursos. É uma questão de criar novas oportunidades de mercado ou antecipar oportunidades e ameaças latentes, ainda não vislumbradas no horizonte competitivo. Ser proativo é, sobretudo, enxergar antes e além. Para se aprofundar no tema JAWORSKI, B. J.; KOHLI, A. K.; SAHAY, A. Market-driven versus driving markets. Journal of the Academy of Marketing Science, v. 28, n. 1, pp. 45-54, 2000. KUMAR, N.; SCHEER, Lisa; KOTLER, P. From market-driven to market-driving. European Management Journal, v. 18, n. 2, pp. 129-142, 2000. SANDBERG, Birgitta. Creating the market for disruptive innovation: market proactiveness at the launch stage. Journal of Targeting, Measurement and Analysis for Marketing, v. 11, n. 2, pp. 184-196, 2002. Leonardo Araújo é professor e pesquisador da Fundação Dom Cabral. Rogério Gava é professor e pesquisador associado da Fundação Dom Cabral. DOM 31