Artigos > | 17 | ZERO HORA > SÁBADO | 13 | JUNHO | 2009 Craconha: um espectro ronda os jovens nismos de buscas substituíram a reflexão dos livros e trazem, de forma brusca e fria, qualquer tipo de inforos jovens de todos os tempos sempre foi difí- mação, até mesmo “como se iniciar no sexo” ou “satiscil aceitar passivamente as lições dos adultos, fazer” o parceiro em posições mirabolantes mostradas mesmo quando os pais ainda tinham tempo nos milhares de sites pornô. No entanto, a virtualidade das relações atuais não impara com eles conversar e tentar, aos poucos, mostrarlhes os lados bons e ruins da vida, formando bases pa- pede que o jovem seja exposto à realidade das drogas. ra que tomassem a decisão correta no momento certo. Pelo contrário, o paradoxo da “solidão virtual” e a necesOs amigos eram a turma da escola, da rua ou do bair- sidade de afirmação nos momentos de convívio real paro. Amigos reais, de “carne e osso”, com quem intera- recem deixá-lo mais vulnerável a esse risco. giam diariamente, olho no olho, trocando experiências Nesse contexto, como fazê-los entender o perigo das e confidências nem sem- drogas e impedir que as experimentem? Como compepre reais, mas que fomen- tir com a internet, onde existem centenas de sites que O tráfico acredita tavam um sadio convívio “provam” que a maconha não faz mal ou que trazem social. E se não fosse tão declarações de um ministro e de um ex-presidente da ter descoberto sadio assim, lá estavam República em favor de sua legalização? Que tempo e ara chave para os vigilantes pais, prontos gumentos têm os pais e a escola para isso? a intervir sobre as amizaComo se não bastasse, o crime organizado logo perimpedir que os des, pois elas eram visí- cebeu como “fidelizar” essa clientela prioritária, uma adolescentes veis e reais. vez que as estatísticas mostram que a maioria dos joNo século 21, no entan- vens, caso tenha sorte e não suba alguns degraus no deixem de falta tempo para tudo, vício, abandona a maconha na vida adulta. Na medida ser clientes após to, principalmente para con- em que virou moda defender a legalização dessa droalgum tempo versar e para educar os ga, a estratégia agora é diluir pedras de crack dentro filhos. Afastados das ruas da já muito “batizada” maconha, somando essa praga pelo medo da violência, a bosta, ervas secas de todo tipo e tantas outras porgrande parte dos jovens orbita entre o lar, a escola e as carias que ela já contém. Criando a chamada “cracofestas. No lar, ou estão na internet ou na televisão; na nha” e comercializando-a como se fosse uma “erva” de escola, assistem às aulas e fazem trabalhos; nas festas, a maior “qualidade”, o tráfico acredita ter descoberto a música alta e a dança sem proximidade impedem qual- chave para impedir que os adolescentes deixem de ser quer conversa além de monossílabos. clientes após algum tempo. Sem tempo para relações afetivas reais mais profunEssa nova, disfarçada e traiçoeira forma de viciar retidas, os jovens interagem através da frigidez do meio vir- ra completamente dos jovens a capacidade de decidir se tual. Os comunicadores instantâneos e os sites de rela- e quando abandonarão o uso da “inofensiva” e “legalizácionamento ocuparam o lugar das reuniões de “turma”, vel” maconha, pois o crack não lhes dá essa opção! Sem dando a falsa impressão de que há dezenas de amigos dúvida, este é o grande espectro que ronda a juventude. em volta. Por ali, tudo se “fala”, sem qualquer censura; até mesmo namoros são feitos virtualmente. Os meca- *Educador do Colégio Militar IOTTI LEONARDO ARAUJO* A Os reeducandos do Estado S uperlotação nos presídios, falta de vagas, caos no Presídio Central, rodízio de presos no regime semiaberto, prisão domiciliar decretada para autor de roubo, este é o quadro atual do sistema carcerário gaúcho e a política carcerária adotada pelo Estado para reeducar os seus detentos. Sim, pasmem, reeducar. Num Estado democrático de direito pautado na dignidade da pessoa humana como valor fundamental, a função precípua do sistema carcerário repressivo é (ou deveria de ser) a reeducação. Conforme preceitua a Beneficiam-se, criminologia moderna e o assim, aqueles Direito Penal democrático, nossos detentos devem ser que deveriam tratados como reeducandos, ser reeducados cabendo ao Estado sua ressocialização. Reeducandos, pelo Estado pois cabe ao sistema penale perde a carcerário ressocializá-los, na sociedade medida em que falharam na socialização (educação) como um todo sua a família, a comunidade, a escola, a sociedade e o próprio Estado, cabendo, novamente, ao mesmo Estado reeducá-los, para que possam voltar a conviver de forma harmoniosa e salutar na sociedade. Falha a educaçãosocialização (formal e informal) e peca novamente, a reeducação-ressocialização. Importante ressaltar que, para que o Estado cumpra sua função reeducadora-ressocializadora, é necessário que o autor de um crime seja condenado em defini- tivo por sentença penal condenatória transitada em julgado. Não é, porém, o que está ocorrendo. Atualmente, conforme estatísticas oficiais, existem presos preventivamente (segregação cautelar), sem condenação, aproximadamente 5.875 presos, ocupando, aproximadamente, 43% das vagas do sistema prisional que deveriam ser destinadas para os condenados ao cumprimento de pena no sistema fechado. A prisão preventiva, ou cautelar, somente é admitida em casos extremos e graves, expressamente previstos em lei. É a exceção e não a regra, a regra é a liberdade. Assim estabelece a nossa Constituição Federal. Em nosso sistema atual, a lógica se inverte. Primeiro, prende-se preventivamente (sem haver qualquer condenação), para depois soltarem-se os condenados (por decisão judicial) que deveriam cumprir pena, por falta de vagas ou de condições adequadas de salubridade dos presídios. Segundo estatísticas oficiais do Ministério da Justiça – Departamento Penitenciário Nacional, atualizados até junho de 2008, o déficit de vagas no sistema prisional gaúcho era de aproximadamente 9.574, tendo se agravado nos últimos meses. Neste cenário, o Poder Judiciário atua com a missão primordial de garantir os direitos e garantias fundamentais dos cidadãos, principalmente o direito à liberdade e à dignidade, o Ministério Público bravamente luta para garantir a aplicação e o cumprimento da lei penal e a sociedade assiste atônita ao quadro geral, que parece não ter solução a curto prazo. Beneficiam-se, assim, aqueles que deveriam ser reeducados pelo Estado e perde a sociedade como um todo. *Advogado Artigos para esta página: 2.400 caracteres ou 40 linhas de 60 espaços. Fax: (51) 3218-4799. E-mail: [email protected] BRASÍLIA Ana Amélia Lemos ± [email protected] Sem penduricalhos A s medidas provisórias serviram de cabide para governo, base governista e oposição pendurarem todo tipo de penduricalhos, anexando assuntos completamente alheios ao objetivo central da MP. Nesta semana, o presidente da Câmara, Michel Temer, num canetaço, decidiu acabar com a farra e proibiu emendas que desvirtuem o núcleo das medidas provisórias. O recurso vinha sendo usado como esperteza para “furar a fila” quando o governo tinha pressa em decisões em áreas prioritárias. Parlamentares da base e até da oposição aproveitavam a carona e penduravam mais emendas. Em boa hora, Michel Temer acabou com a condenável distorção legislativa. Eleitoral Se depender da disposição do relator Mendes Ribeiro Filho (PMDB, foto), o uso da internet na campanha eleitoral de 2010 será liberado. O gaúcho é responsável pela regulamentação dessa ferramenta nas eleições do ano que vem. Eleitoral 2 Mendes Ribeiro Filho, porém, fará ressalvas ao uso de provedores tradicionais pelos candidatos, em 2010. O parlamentar acolherá parte das sugestões contidas nos projetos de Manuela D’Ávila (PC do B) e Nelson Proença (PPS), que tratam do mesmo assunto. BANCO DE DADOS GUNNAR NILSSON* ± [email protected] Eleitoral 3 O relator Mendes Ribeiro Filho ficou de plantão em Brasília, no feriado, para poder concluir seu relatório até terça-feira, quando deverá apresentá-lo à Comissão Especial da Câmara. Precatórios Na guerra da OAB contra a emenda constitucional dos precatórios, um dos mais ativos membros é o gaúcho Walter do Carmo Barletta, da comissão de precatórios da OAB/DF, que concorda que, mantida inalterada, fica instituído o calote oficial nos credores. Drogas Como nenhum dos 11 Centros de Atenção Psicossocial do Ministério da Saúde que serão instalados no RS atenderá à Região Norte, o deputado Luciano Azevedo (PPS) decidiu questionar o governo federal. Drogas 2 Os CAPs irão cuidar do tratamento e prevenção à dependência do álcool e outras drogas, e o deputado Luciano Azevedo acionou a Comissão de Saúde da Assembleia para fazer a reivindicação ao Ministério.