DESSALINIZAÇÃO DE ÁGUAS SALOBRAS E SALINAS POR MEIO DE DESTILAÇÃO SOB VÁCUO Ariovaldo Nuvolari 1, Wladimir Firsoff 2, Ana Paula Pereira da Silveira3, Francisco Tadeu Degasperi 4 1 Prof. Dr. do Dep. de Hidráulica e Saneamento – DHS – FATEC-SP 2 Prof. Pleno do Dep. De Hidráulica e Saneamento DHS – FATEC-SP 3 Aux. Docente Me. do Lab. Saneamento Ambiental e Química- DHS, FATEC-SP 4 Prof. Dr. do Dep. de Sistemas Eletrônicos FATEC-SP [email protected], [email protected], [email protected], [email protected] Resumo O problema da escassez de água potável no mundo gera a necessidade do desenvolvimento de tecnologias de baixo custo, que permitam o tratamento de águas para comunidades que não possuem acesso fácil à água potável. Em várias regiões do planeta, inclusive no Brasil, a única água bruta disponível é salgada ou salobra. O objetivo do GEP (Grupo de estudos e pesquisas) é conhecer os sistemas de dessalinização existentes, as variáveis envolvidas nos seus projetos e, futuramente, propor soluções mais sustentáveis para a dessalinização de águas. Até o momento, além da revisão bibliográfica, foi construído um protótipo e coletados dados experimentais em laboratório que estão permitindo a caracterização de um sistema de destilação, no qual estão sendo avaliados: o comportamento do tempo de destilação e da remoção de sais mediante a utilização de vácuo. Para isto, estão sendo medidos alguns parâmetros de qualidade da água produzida. Os resultados aqui apresentados, embora preliminares, fornecem importantes subsídios para o prosseguimento da pesquisa. 1. Introdução A escassez de água de qualidade, para os diversos usos humanos, quer sejam para: abastecimento público, industrial ou irrigação de culturas agrícolas, vem recrudescendo nas últimas décadas. [1] A situação está se tornando cada vez mais crítica não só em virtude do aumento populacional nas cidades (que exige uma produção cada vez maior de água para suprir a demanda), mas também pelo alto nível de poluição dos corpos d´água, o que vem diminuindo a qualidade das águas brutas, exigindo cada vez mais produtos químicos para se fazer o tratamento, visando a sua potabilização e distribuição. [1] Em várias regiões do planeta, onde a disponibilidade hídrica é baixa, a situação já é tão crítica que a única solução viável, apesar de ser considerada ainda de alto custo, é a dessalinização de águas salobras ou salinas. Não só nas cidades situadas nos países do oriente médio, mas também em algumas cidades da Austrália, Singapura, Argélia, Espanha, Israel, diversas ilhas no mundo todo, algumas regiões costeiras dos EUA, localidades do nordeste brasileiro e ilhas, como a de Fernando de Noronha podem ser citadas como exemplos dessa situação bastante crítica. [1] Buscando conhecer melhor as questões relacionadas com a dessalinização de águas, foi criado o grupo de estudos e projetos denominado: GEP – Dessalinização de águas salobras e salinas, cujos integrantes estão vinculados ao Departamento de Hidráulica e Saneamento da FATEC-SP. O grupo iniciou seus estudos no ano de 2011, não só com a realização de revisões de literatura, mas também com a efetiva montagem de um protótipo para estudo da relação vácuo versus temperatura, tendo como objetivo estudar processos de dessalinização por destilação térmica, aliada à aplicação de vácuo, para futuramente estudar projetos que sejam ambientalmente sustentáveis, utilizando, por exemplo, fontes de energia renováveis. 2. Materiais e métodos Através da revisão bibliográfica, pode-se constatar que existem duas grandes vertentes nos processos de dessalinização. Uma delas é a destilação e a outra é a separação por membranas. Num primeiro momento, o grupo iniciou os estudos utilizando o processo de destilação, procurando conhecer melhor os aspectos relacionados à destilação com aplicação de vácuo. Para dar início aos trabalhos, no início de 2011, foi utilizada uma água de poço à qual foi adicionada certa quantidade de sais marinhos. Foi aqui denominada amostra 1 e pela quantidade de sais presentes, classificada como uma água salobra. Nessas amostras foram feitas as primeiras destilações (com pressões de 700 mm Hg, ou seja, com pressão atmosférica e também com pressão de 620 mm Hg). O 2º e o 3º ensaios foram feitos com a bomba desligada até atingir a ebulição, porém, com esse procedimento o terceiro ensaio teve que ser abortado em função de ter ocorrido sucção direta de parte da amostra. Posteriormente, foi coletada uma amostra de água marinha no litoral paulista, na região do Guarujá (amostra 2). Com essa amostra foram feitas destilações com as seguintes pressões: 550, 500, 450, 400, 350, 300, 250, 200 e 180 mm Hg. Para evitar sucção direta, a bomba de vácuo começou a ser ligada quando atingida a temperatura de 50ºC. Uma vez que os resultados de salinidade, obtidos nas amostras de destilado dessa primeira série de destilações foram insatisfatórios na remoção de sais, transformando a água salina numa água salobra, foi realizada então, com essa água (denominada amostra 3), uma série de redestilações, utilizando as seguintes pressões: 600, 500, 400, 300 e 200 mm Hg. Finalmente, juntando as amostras ainda restantes da primeira série de destilações, fez-se a correção de pH para valor 8,0 e feita uma única redestilação com pressão de 200 mm Hg. Essa foi denominada amostra 4. A decisão de se fazer a correção de pH dessa água é decorrente de um fenômeno observado em todas as amostras destiladas. O pH baixou consideravelmente em todas elas, ficando geralmente num valor abaixo de 2,0, ou seja, uma água considerada altamente ácida. Na caracterização dessas amostras, que foi feita antes e depois de cada destilação ou redestilação, foram analisados os seguintes parâmetros: cor, turbidez, pH e condutividade. Volume utilizado em cada destilação: 250 mL. Nos ensaios realizados no ano de 2011, as destilações foram realizadas até a completa secagem da amostra de água. Para aumento de temperatura foi utilizada uma manta de aquecimento, anotando-se a temperatura medida com um termômetro ao longo do tempo de ensaio. Aplicação de vácuo no sistema: O laboratório de saneamento da FATEC – SP está localizado numa altitude aproximada de 720 metros. Foi estimada uma pressão atmosférica de 700 mm Hg. Para diminuir a pressão no sistema, foi utilizada uma bomba de vácuo. A pressão foi mantida fixa em cada destilação. Quando possível, iniciava-se com bomba desligada, até que a água atingisse 50º C. No entanto, para pressões mais baixas houve necessidade de se ligar a bomba desde o início do processo, para evitar a sucção direta. A bomba de vácuo, atualmente utilizada, consegue baixar a pressão até um valor de 180 mm Hg. Primeira etapa: No primeiro ano de ensaios (2011), não houve preocupação em se fazer diversas repetições, para depois aplicar métodos estatísticos nos resultados (obtenção de média, desvio padrão, etc), como é de praxe em pesquisas dessa natureza. A finalidade inicial era testar o protótipo, saber até que pressão ele poderia chegar, se haveria algum tipo de problema, já que o presente grupo de estudos iniciou as pesquisas em dessalinização sem nenhum conhecimento prévio do assunto. Segunda etapa: Desde o início do ano de 2012, tem sido utilizado um balão de fundo redondo de 1000 mL, com um volume de amostra de 500 mL, destilando então, somente parte do volume inicial (mais ou menos a metade), ao contrário do que vinha sendo feito no ano de 2011. O grupo optou por fazer desta forma para poder ser observado o comportamento da amostra em relação à condutividade e principalmente ao pH. Para tanto, foi fixado um tempo de destilação, inicialmente de 36 minutos, mas que pode vir a ser alterado em função dos resultados. Agora tendo como objetivo ensaiar em triplicata com as mesmas pressões utilizadas nos ensaios do ano de 2011. Até o presente momento, foram realizados em triplicata apenas os ensaios com pressão atmosférica, pois ocorreu um problema com a bomba de vácuo. Nos ensaios realizados até o momento, foram utilizados os equipamentos e vidrarias disponíveis no Laboratório de Saneamento Ambiental e Química, pertencente ao Departamento de hidráulica e Saneamento da FATEC-SP, sendo montados protótipos alternativos, até se chegar ao que foi finalmente utilizado. Duas primeiras tentativas foram abandonadas por apresentarem algum tipo de problema operacional. O protótipo final atualmente utilizado é apresentado nas Fig. 1 e 2, porém ainda poderá ser alvo de melhorias nas próximas etapas. Fig. 01 - Banco de ensaio atual - vista lateral Fig. 02 - Banco de ensaios atual – vista frontal 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 Termômetro; TÊ inclinado a 10°; Balão de fundo redondo; Condensador Liebig;. Condensador Freidrichs; KITASSATO 500 ml; Suporte universal; Fixador de vidraria; Fixador de vidraria; Fixador de suportes; Trava entre suportes; Rolha; Mangueira plástica cristal; Mangueira de borracha látex;. Mangueira de borracha látex; Conjunto: motor-bomba de vácuo; Manta de aquecimento; 3. Resultados e discussões A amostra 1 foi utilizada apenas nos três primeiros ensaios de destilação; o 1º com pressão atmosférica, o 2º com pressão de 620 mm Hg e o 3º com pressão de 550 mm Hg. Foram feitos com a bomba de vácuo sendo ligada apenas quando ocorria a ebulição. O terceiro ensaio teve que ser abortado em função de ter ocorrido a sucção direta de parte da amostra. Os resultados destes ensaios são apresentados na tabela 1. Tabela 1. Caracterização da amostra 1 água salobra COR TURBIDEZ CONDUTIVID. pH (UC) (UNT) ( S/cm) AB DEST AB DEST AB DEST. % R. AB DEST. 15/03 700 19 1 1,20 0,19 15.010 1.273 91,5 5,53 2,71 21/03 620 13 14 1,36 0,38 14.800 2.450 83,5 5,72 2,59 28/03 550 (*) 29 1,35 - 12.150 - 7,01 Médias: 20,3 7,5 1,30 0,29 13.987 1.862 87,5 6,09 2,65 OBS: AB = água bruta (amostra 1); DEST. = destilado; % R. = percentual de remoção de sais DATA PRESSÃO (mm Hg) A amostra 2 é uma água marinha natural, coletada próximo ao posto de coleta de amostras da CETESB, na praia de Pernambuco, no balneário de Guarujá-SP, em dia normal (sem chuvas). Com a amostra 2 foram feitas destilações com as seguintes pressões: 550, 500, 450, 400, 350, 300, 250, 200 e 180 mm Hg. Os resultados destes ensaios são apresentados na tabela 2. Tabela 2. Caracterização da amostra 2 – água marinha DATA COR (uC) PRESSÃO (mm Hg) AB DEST TURBIDEZ (UNT) AB DEST 04/04 550 16 1 0,74 1,09 25/04 500 0 0 2,19 0,42 06/05 450 0 0 1,07 0,27 09/05 400 0 0 0,66 0,27 16/05 350 6 21 0,71 0,24 23/05 300 0 0 0,55 0,20 30/05 250 0 0 0,84 0,22 06/06 200 20 11 0,16 0,23 13/06 180 6 12 0,50 0,62 Médias: 5,3 5,0 0,82 0,40 OBS: AB = água bruta (amostra 2); DEST. remoção CONDUTIVID. ( S/cm) AB pH DEST % R. AB DEST. 45.300 6.580 85,5 6,54 2,35 53.000 5.440 89,7 6,85 1,99 53.900 13.960 74,1 6,94 1,77 53.800 13.960 74,1 6,71 1,77 54.000 16.070 70,2 7,42 1,50 53.700 13.530 74,8 7,22 1,75 54.200 10.460 80,7 7,46 1,94 54.000 17.380 67,8 7,10 1,65 54.400 10.980 79,8 6,67 1,87 52.922 12.040 77,4 6,99 1,84 = destilado; % R. = percentual de A amostra 3 é o destilado; ou a água resultante da primeira série de destilações. Com a amostra 3 foram feitas redestilações com as seguintes pressões: 600, 500, 400, 300 e 200 mm Hg. Os resultados destes ensaios são apresentados na tabela 3. Tabela 3. Caracterização da amostra 3 – destilado da 1ª série PRESSÃO DATA (mm Hg) COR (uC) TURBIDEZ (UNT) CONDUTIVID. ( S/cm) Tabela 4. Caracterização da amostra 4 – destilado da 1ª série COR TURBIDEZ CONDUTIVIDADE. pH (uC) (UNT) DATA PRESSÃO ( S/cm) (mm Hg) DEST DEST DEST DEST DEST DEST % DEST DEST 1 2 1 2 1 2 R. 1 2 04/10 200 6,0 5,0 0,15 0,16 9.530 4.640 51,3 8,0 2,0 OBS: DEST 1 = destilado da 1ª série; DEST 2 = destilado; % R. = percentual de remoção Na tabela 5 é apresentado um resumo dos resultados obtidos nas diversas destilações: pressões aplicadas, temperaturas (inicial, final e teórica), tempo de início de ebulição e de secagem completa da amostra (250 mL) e amostra ensaiada. Tabela 5. Pressões, temperaturas, tempos: de início de ebulição e de secagem das amostras TEMPERATURAS (º C) TEMPO (minutos) PRESSÃO (mm Hg) INICIAL FINAL TEÓRICA Início de Secagem da (*) ebulição amostra 700 24,0 96,5 97,5 8,0 60,0 620 23,0 95,0 94,0 13,0 60,0 550 24,0 93,0 91,5 13,0 53,0 500 22,0 91,5 89,0 13,0 56,0 450 22,0 86,0 86,0 13,0 54,0 400 22,0 84,0 83,0 13,0 53,0 350 20,0 80,5 79,5 13,0 54,0 300 21,0 77,0 76,0 13,0 50,5 250 18,0 72,0 71,5 14,0 50,0 200 19,0 67,0 66,0 14,0 48,0 180 19,0 65,0 64,0 14,0 51,0 600 22,0 94,0 93,5 14,5 63,0 500 21,0 90,0 89,0 14,2 62,0 400 22,0 84,0 83,0 13,5 59,0 300 22,0 77,0 76,0 14,0 58,0 200 24,0 67,0 66,0 6,0 52,0 200 19,0 68,0 66,0 11,5 53,0 (*) Temperatura teórica de ebulição em função da pressão Nº da amostra ensaiada 1 1 2 2 2 2 2 2 2 2 2 3 3 3 3 3 4 Nas Tabelas 6 a 8 são apresentados os resultados das três replicações para os ensaios de destilação com pressão atmosférica realizados no ano de 2012. Foram analisados os parâmetros: turbidez, pH, condutividade, densidade, volume ensaiados, tanto para a água bruta, quanto para o destilado e o concentrado obtidos, além das diferenças de volume e tempos de início de ebulição. Tabela 6. Resultados do 1º ensaio de destilação com pressão atmosférica PARÂMETROS DE CONTROLE DO PROCESSO 2012 - 1º ENSAIO DA 1ª FASE - PRESSÃO ATMOSFÉRICA = 700 mm Hg pH DEST 1 DEST 2 DEST 1 DEST 2 DEST 1 DEST 2 % R. DEST 1 DEST 2 16/08 600 6,0 0,8 1,50 0,42 11.490 8.270 28,0 1,38 1,85 06/09 500 17,0 0,0 0,09 0,27 14.711 11.000 25,0 1,71 1,68 13/09 400 0,0 0,0 0,10 0,19 11.600 10.750 7,3 1,79 1,76 20/09 300 0,0 9,0 0,30 0,27 14.340 9.650 32,7 1,87 1,70 27/09 200 8,0 4 0,59 0,16 10.370 7.460 28,0 1,37 1,75 6,2 4,6 0,52 0,26 12.502 9.426 24,2 1,62 1,75 Médias: A amostra 4 é resultado da mistura da água remanescente (destilado) da primeira série de destilações, sendo que o pH foi corrigido, utilizando-se 54 mL de uma solução de NaCO2 a 1,0%, passando o pH inicial de 1,76 para o valor 8,0. Com essa água foi feita apenas uma redestilação com pressão de 200 mm Hg. Ver resultados na tabela 4. OBS: DEST 1 = destilado da 1ª série; DEST 2 = destilado; % R. = percentual de remoção PARÂMETRO NA ÁGUA BRUTA NFM 0,30 7,71 49.900 NO DESTILADO COR (uC) NFM TURBIDEZ (UNT) 0,47 pH 4,13 CONDUTIVIDADE 151 (mS/cm) DENSIDADE (g/cm3) 1,01 1,01 VOLUME (mL) 500 280 Diferença de volume - 80 (mL) TEMPO DE INÍCIO 11,5 DE EBULIÇÃO (min) OBSERVAÇÃO: NFM = não foi medido NO CONCENTRADO NFM 55,3 7,61 131.800 1,20 140 Tabela 7. Resultados do 2º ensaio de destilação com pressão atmosférica PARÂMETROS DE CONTROLE DO PROCESSO 2012 - 2º ENSAIO DA 1ª FASE - PRESSÃO ATMOSFÉRICA = 700 mm Hg PARÂMETRO NA ÁGUA NO NO BRUTA DESTILADO CONCENTRADO COR (uC) NFM NFM NFM TURBIDEZ (UNT) 0,81 0,37 0,48 pH 6,85 4,36 7,65 CONDUTIVIDADE (mS/cm) 49.700 206 91.600 DENSIDADE (g/cm3) 1,01 1,01 1,20 VOLUME (mL) 500 275 250 Diferença de volume (mL) +25 TEMPO DE INÍCIO DE 14,5 EBULIÇÃO (min) OBSERVAÇÃO: NFM = não foi medido Tabela 1. Resultados do 3º ensaio de destilação com pressão atmosférica PARÂMETROS DE CONTROLE DO PROCESSO 2012 - 3º ENSAIO DA 1ª FASE - PRESSÃO ATMOSFÉRICA = 700 mm Hg PARÂMETRO NA ÁGUA NO NO BRUTA DESTILADO CONCENTRADO COR (uC) NFM NFM NFM TURBIDEZ (UNT) 0,78 0,58 4,18 pH 6,7 7,64 7,75 CONDUTIVIDADE (mS/cm) 50.100 98 100.600 3 DENSIDADE (g/cm ) 1,01 1,01 1,20 VOLUME (mL) 500 260 200 Diferença de volume (mL) - 40 TEMPO DE INÍCIO DE 12,5 EBULIÇÃO (min) OBSERVAÇÃO: NFM = não foi medido Conforme já explicitado, os resultados obtidos até o presente momento são preliminares e servirão para nortear os próximos passos da pesquisa. Os resultados aqui apresentados permitiram várias observações, como por exemplo: Cor e turbidez: para esses parâmetros tanto os valores iniciais como os finais estão bem próximos dos padrões de potabilidade estabelecidos na Portaria MS nº 2.914/2011, portanto, não merecendo cuidados adicionais. Condutividade: A condutividade média da amostra nº 01 ficou próximo a 14.000 S/cm, o que a classifica como uma água salobra. A condutividade média do destilado (ensaios feitos com pressões de 700 e 620 mm Hg) ficou próxima de 1.900 S/cm, com uma remoção média de condutividade na faixa de 87,5 %. Percebe-se que estas foram as maiores taxas de remoção. Porém, esse destilado ainda permanece na faixa de água salobra, o que indicaria a necessidade de uma maior remoção de sais, havendo, portanto a necessidade de redestilações. A condutividade média da amostra nº 2 ficou na faixa de 53.000 S/cm, o que a classifica como uma água salina. A condutividade média do destilado ficou na faixa de 12.000 S/cm, com uma remoção média de condutividade de 77,4 %. Os ensaios foram feitos com pressões de 550, 500, 450, 400, 350, 300, 250, 200 e 180 mm Hg (esta última pressão de 180 mm Hg é o limite da bomba de vácuo utilizada). Até o ensaio feito com pressão de 350 mm Hg percebe-se uma tendência de diminuição do percentual de remoção à medida que a pressão de ensaio ia diminuindo. No entanto, os dados posteriores não refletiram tal tendência de forma pronunciada. A condutividade média da amostra nº 3 ficou na faixa de 12.500 S/cm, o que a classifica como água salobra, porém com valores de pH bastante baixos, na faixa de 1,6 (água bastante ácida). A condutividade média do destilado ficou na faixa de 9.400 S/cm, com uma remoção média de condutividade de 24,2 %, o que nos pareceu bastante baixa e provavelmente devido ao pH baixo, uma vez que ao se corrigir o pH (ver amostra nº 4), o percentual de remoção subiu para 51,3 %. Os ensaios na amostra nº 3 foram feitos com pressões de 600, 500, 400, 300, 250 e 200 mm Hg. No ensaio feito com pH corrigido (amostra nº 4), a condutividade média ficou na faixa de 9.500 S/cm e para o destilado 4.640 S/cm. Esse ensaio foi feito com pressão de 200 mm Hg, bem próximo do limite da bomba de vácuo. pH: Com exceção dos ensaios feitos com a amostra nº 3, cuja água já era destilada anteriormente e na qual o valor do pH já era bem baixo, em todos os outros ensaios houve uma tendência de diminuição do pH final em relação ao pH das amostras iniciais. Nos ensaios feitos com a amostra nº 01 (pressões de 700 e 620 mm Hg), o valor do pH médio da amostra ficou na faixa de 6,1 e do destilado na faixa de 2,7. Nos ensaios feitos com a amostra nº 02 (pressões de 550, 500, 450, 400, 350, 300, 250, 200 e 180 mm Hg), o valor do pH médio da amostra ficou na faixa de 7,0 e do destilado na faixa de 1,8. Nos ensaios feitos com amostra nº 03 (pressões de 600, 500, 400, 300, e 200 mm Hg), o valor do pH médio ficou na faixa de 1,6 e do destilado na faixa de 1,8. No ensaio feito com a amostra nº 03 (água redestilada com valor de pH corrigido para 8,0), também houve a mesma tendência de redução do valor do pH, após destilação, obtendo-se no destilado um valor de pH igual a 2,0. Os volumes ensaiados foram sempre de 250 mL, com secagem total da amostra e com recuperação bem próxima de 100%. Os tempos de início de ebulição variaram de 6,0 a 14,5 minutos. O menor tempo (6,0 minutos) foi obtido no ensaio com pressão de 200 mm Hg, na redestilação (amostra 3) e com temperatura inicial de 24,0º C. O segundo menor tempo (8,0 minutos) foi obtido para pressão atmosférica, da primeira destilação (amostra 1) e com temperatura inicial de 24º C. Para todos os outros ensaios o tempo de início de ebulição ficou na faixa de 13,0 a 14,5 minutos. Os tempos de secagem das amostras variaram de 48,0 minutos (pressão de 200 mm Hg – amostra 2, com temperatura inicial de 19,0º C) até 63,0 minutos (com pressão de 600 mm Hg – amostra 3 e temperatura inicial de 22º C). Deve-se ressaltar certa tendência, já esperada, de diminuição do tempo de secagem da amostra à medida que a pressão aplicada foi diminuindo. Com relação aos ensaios realizados no ano de 2012, foi utilizado o mesmo protótipo, com alteração apenas do balão de aquecimento que agora tem o dobro do volume utilizado até aqui, ou seja, 1.000 mL. Adotou-se um volume inicial de amostra de 500 mL e destilação até próximo de 50,0 % da amostra. Com isso buscou-se reproduzir o que é geralmente feito na prática de dessalinização nas grandes usinas. Com essa metodologia foi possível obter informações sobre os parâmetros anteriormente relatados para três tipos de águas: água bruta inicial (cerca de 500 mL); água destilada (cerca de 250 mL) e água concentrada em sais (cerca de 250 mL). Far-se-á 3 repetições para cada pressão de ensaio; Cabe ressaltar que até o momento foram realizados os três ensaios com pressão atmosférica. Uma primeira mudança que chamou atenção nesta segunda etapa dos ensaios, foi a redução na condutividade do destilado, que foi muito superior aos ensaios realizados no ano de 2011, assim como a não ocorrência da queda brusca do pH. Já se tem uma explicação para a questão do pH; descobriu-se que, ao se destilar o volume completo da amostra bruta, ocorre o aumento da concentração de sais desta água, até a sua saturação, o que faz com que os íons antes dissolvidos nessa água passem a ficar em estado de suspensão. Esses íons em suspensão acabam sendo carreados com o vapor de água para o produto final da destilação (destilado). Estes íons, quando em estado de vapor são altamente energizados, podendo através de hidrólise da água, resultar na formação de HCl com a junção dos íons H+ e Cl-. Assim, para que tal fenômeno não ocorra, é necessário realizar a destilação de volume tal, que não transforme o concentrado em uma solução saturada de íons, e o grupo conseguiu isto, destilando apenas metade do volume inicial da amostra bruta, que resultou numa menor condutividade da água destilada e pH mais próximo de neutro. 4. Conclusões Os resultados até aqui obtidos são preliminares e servirão apenas para nortear os próximos passos da pesquisa. Deve-se ressaltar que os ensaios, nessa primeira fase, foram feitos uma única vez (sem repetições). Portanto não houve tratamento estatístico dos mesmos e a sua validade deverá ser comprovada numa 2ª fase em que essas repetições serão feitas. Os resultados até aqui obtidos podem, embora não definitivamente, induzir às seguintes conclusões: Para os parâmetros cor e turbidez não houve preocupação em se saber percentuais de remoção, uma vez que as amostras utilizadas já se encontravam dentro de padrões bem próximos da potabilidade; Os percentuais de remoção de condutividade foram diminuindo à medida que a pressão aplicada foi diminuindo. Porém em nenhum momento foi atingida a faixa desejável de condutividade da água doce, ou seja, todos os destilados de primeira e de segunda fase ficaram na faixa de condutividade de águas salobras, o que nos leva a concluir que haveria necessidade de outras redestilações. Excetuando-se a primeira destilação (pressão atmosférica de 700 mm Hg, utilizando a amostra nº 1 e com temperatura inicial de 24ºC), e a quinta redestilação (pressão de 200 mm Hg, utilizando a amostra nº 3 e temperatura inicial de 24ºC), respectivamente com tempos de 8 minutos e 6 minutos, os demais ensaios apresentaram tempos de início de ebulição bem próximos, na faixa de 13,0 a 14,5 minutos, independentemente da temperatura inicial, concluindose (preliminarmente), que a temperatura inicial não tem grande influência no tempo de início de ebulição. Quanto ao tempo de secagem das amostras, apesar dos valores obtidos não terem apresentado total coerência, houve uma diminuição do tempo de secagem com a diminuição da pressão aplicada. Em função da revisão bibliográfica até aqui elaborada, decidiu-se por uma mudança de metodologia de ensaio, passando a não mais permitir a secagem completa da amostra e sim trabalhando com um volume de destilado de 50 % da amostra inicial. Com essa providência resolvem-se dois problemas: o da alta condutividade e do baixo pH do destilado. Referências Bibliográficas [1] NUVOLARI; FIRSOFF; SILVEIRA. Dessalinização de Águas Salobras e Salinas. Relatório interno do GEP – Grupo de Estudos e Pesquisas. Dep. de Hidráulica e Saneamento – FATEC-SP. São Paulo, 2011.