PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ
FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE SÃO JOSÉ
CENTRO UNIVERSITÁRIO MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ
CURSO DE PEDAGOGIA
EDUARDO TASCA
AS OFICINAS NO THEATRO ADOLPHO MELLO:
EXPERIÊNCIAS COM AS OBRAS DE MARIA CLARA MACHADO
São José
2011
PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ
FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE SÃO JOSÉ
CENTRO UNIVERSITÁRIO MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ
CURSO DE PEDAGOGIA
EDUARDO TASCA
AS OFICINAS NO THEATRO ADOLPHO MELLO:
EXPERIÊNCIAS COM AS OBRAS DE MARIA CLARA MACHADO
Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Centro
Universitário Municipal de São José – USJ, como
requisito para a obtenção do grau de licenciado em
Pedagogia.
Orientadora: Prof. Dr. Jaqueline Zarbato Schimitt.
Co-orientador Prof. Me. Diego de Medeiros Pereira.
São José
2011
EDUARDO TASCA
AS OFICINAS NO THEATRO ADOLPHO MELLO:
EXPERIÊNCIAS COM AS OBRAS DE MARIA CLARA MACHADO
Trabalho de Conclusão de Curso elaborado como requisito parcial para a obtenção
do grau de licenciado em Pedagogia do Curso de Pedagogia do Centro Universitário
Municipal de São José – USJ, avaliado pela seguinte banca examinadora:
Orientadora:
Profª. Jaqueline Zarbato Schmitt, Drᵃ.
Profª. Elisiani Cristina de Souza de Freitas Noronha, Me.
Prof. Diego de Medeiros Pereira, Me.
São José, 21 de novembro de 2011.
Dedico este trabalho a minha mãe,
Bernadete, e a minha irmã, Rosiane.
AGRADECIMENTOS
Meus agradecimentos serão em forma de aplausos, aplausos estes a Deus, o
grande criador de tudo, quem me possibilitou escrever mais uma etapa da minha
vida.
A minha mãe Bernadete e ao meu pai Antônio (mesmo estando com o “cara”
lá de cima, tenho certeza que me guia em todos os caminhos e escolhas de minha
vida).
Aos meus GRANDES amigos, Juliano, Natan e Junior, companheiros de
“festas” e de grandes aventuras: “tamo junto”.
Aos meus irmãos, em especial a minha irmã Rosiane pela inspiração em
seguir essa profissão, que exercita tão bem, à princesinha da família, Maria Clara,
pelos estágios particulares.
Ao inseparável Luciano, pelas histórias de vida e muitos aprendizados.
À Mariângela Leite (minha segunda mãe) por me ensinar tudo o que sei e
fazer com que ame cada vez mais estar nos palcos da vida.
À amiga-irmã e companheira de todas as horas, Glaucia.
À Ana Paula e à Franciele, pela amizade de tanto tempo, mesmo com a
distância posso contar sempre (juntos nesta onda de educar).
Às professoras do TAM: Érica, Ângela, Ládice, Glória e Cyntia por seguirem
alimentando à arte, aos ex-alunos por contribuírem com esse trabalho.
À “galera da turma”; quatro anos me aturando hen? Jenny, Beta, Vandy e Jú
(o quarteto fantástico). As Lindas Loiras e claro Japonesas May e Gabi, quantas
risadas, aventuras e aprendizados.
A todos os professores que me ensinaram ao longo desses quatro anos que é
possível ser professor, em especial, à Professora Isabel Andrade.
Ao grande amigo e co-orientador Diego de Medeiros Pereira pelas tardes de
estudos e muitos aprendizados e palcos divididos.
E, por fim, à GRANDE “Jaque” pelos ensinamentos, aprendizados e
experiências trocadas ao longo desse ano. Missão Cumprida?
Agora, só me resta dizer: ACABOU E VALEU!
Educar é fazer a criança abrir os olhos para o
mundo que a rodeia e dar-lhe a possibilidade de se
maravilhar com cada nova descoberta que ela
mesma vai fazendo do mundo que a cerca.
(Maria Clara Machado)
RESUMO
Esta pesquisa visa apresentar discussões sobre a Pedagogia do Teatro, num
trabalho de campo sobre oficinas de teatro. A problemática da pesquisa centra-se
em entender como os trabalhos realizados a partir da montagem de textos de Maria
Clara Machado nas oficinas do Theatro Adolpho Mello contribuíram e contribuem
para o desenvolvimento do repertório artístico-teatral da criança. A análise foi
realizada a partir de entrevistas com professores que atuam ou atuaram no citado
teatro, ministrando oficinas, nos últimos quinze anos, bem como, com exparticipantes das oficinas. A pesquisa foi desenvolvida no Theatro Adolpho Mello,
em São José, onde são ministradas oficinas de teatro, abertas a comunidade
josefense.
Palavras-Chave: Pedagogia do Teatro. Oficinas. Theatro Adolpho Mello. Maria
Clara Machado.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .............................................................................................. 09
2 FUNDAMENTOS DO TEATRO NA EDUCAÇÃO .......................................... 11
2.1 PANORAMA DO ENSINO DE TEATRO NO BRASIL ................................ 11
2.2 O TEATRO EM SÃO JOSÉ ........................................................................ 13
2.3 TEATRO, INFÂNCIA E EDUCAÇÃO ......................................................... 14
2.4 MARIA CLARA MACHADO POR INTEIRO: INVESTIGANDO SUA INFLUÊNCIA
......................................................................................................................... 17
2.5 TEATRO-PROFISSIONAL X TEATRO AMADOR ...................................... 19
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ...................................................... 21
4 ANÁLISE DOS DADOS ................................................................................. 25
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................... 39
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................. 41
9
1 INTRODUÇÃO
A pedagogia do teatro se apresenta como uma área em desenvolvimento que
tem propiciado importantes discussões acerca da fundamentação das práticas
educativas relacionadas ao Teatro.
Através da leitura de alguns autores que abordam o teatro como pedagogia,
visa-se aprofundar a discussão sobre a relação entre esses dois campos
pedagógicos. Logo, a intenção de discutir as influências da autora Maria Clara
Machado sobre a educação, dá-se pela inserção de tal autora teatral neste campo
de saber.
Minhas inquietações partiram de algumas problemáticas no cotidiano das
oficinas realizadas no Theatro Adolpho Mello1, nos últimos quinze anos, como: O
que levou essas crianças a irem para um palco de teatro dar vida a personagens
que para muitos eram encenados antes mesmo de nascerem? Qual a relação que
eles fazem com o teatro e o âmbito escolar? É prazeroso atuar e ao mesmo tempo
aprender algo? Bem como, de um desejo de retornar ao TAM, uma vez que
participei das oficinas ao longo de 10 anos.
Para responder essas e outras questões, resolvi realizar uma pesquisa no
TAM, localizado na Praça Hercílio Luz, no Centro Histórico de São José-SC onde é
desenvolvida desde 1996 uma escola de artes. Tomei como foco de pesquisa, as
montagens teatrais realizadas em tais oficinas a partir das obras de Maria Clara
Machado.
Paralelamente à pesquisa sobre as obras de Maria Clara Machado, montadas
no decorrer destes 15 anos, observei as oficinas realizadas no primeiro semestre de
2011, a fim de compreender o processo pedagógico pelo qual as crianças vivenciam
o fazer teatral.
Maria Clara foi uma das pioneiras no âmbito da pedagogia do teatro no Brasil,
trazendo para os palcos peças infantis nas quais ela desenvolvia uma dramaturgia
própria e pioneira, revelando sua grande importância para a formação das crianças,
1
A partir desse momento irei me referir ao Theatro Adolpho Mello apenas com a utilização da sigla
TAM.
10
partindo do pressuposto de que qualquer um pode interpretar. Ela cria em 1951 junto
com alguns amigos o grupo de teatro amador “O Tablado” situado no Rio de Janeiro,
onde permaneceu trabalhando até sua morte.
Assim, esta pesquisa será realizada com o intuito de perceber de que forma
as oficinas projetadas no TAM com as peças de Maria Clara Machado permitem
discutir outras perspectivas sobre o teatro na educação.
Deste modo, a problemática desta pesquisa visa entender como os trabalhos
realizados a partir da montagem de textos de Maria Clara Machado contribuíram e
contribuem para o desenvolvimento do repertório artístico-teatral da criança. Buscouse á discutir experiências vivenciadas por elas nas oficinas do TAM, a partir de
entrevistas realizadas com professores que atuam ou atuaram no TAM, ministrando
oficinas, nos últimos quinze anos, bem como, com ex-participantes das oficinas.
A importância de se desenvolver o teatro com as crianças, desde as séries
iniciais, da-se por seu potencial de desenvolver e ampliar o repertório artísticocultural da mesma, assim como auxiliar em aspectos sensíveis como a perda de sua
timidez, potencialização de seu lado lúdico e sua criatividade, sua percepção de
vivência coletiva, entre outros aspectos.
11
2 FUNDAMENTOS DO TEATRO NA EDUCAÇÃO
2.1 PANORAMA DO ENSINO DE TEATRO NO BRASIL
Visando aprofundar as discussões sobre o papel do teatro na educação
brasileira, pesquisei autores que analisam a contribuição do mesmo na sala de aula,
bem como sua relação com a educação. Neste sentido, torna-se necessário fazer
uma análise histórica do teatro no Brasil, para que se compreenda a sua importância
e relevância.
Desde o período colonial o teatro foi utilizado como instrumento educativo,
sob as metodologias da pedagogia tradicional, a inserção do teatro na escola
consistia somente na comemoração de datas cívicas ou montagens de espetáculos
para animar solenidades.
Segundo Santana (2011), a partir dos anos 1940, quando o movimento
escolanovista difundiu-se em um Brasil que passava por transformações políticas da
maior importância e planejava a expansão da escolarização, a arte ganhou status
novo, passando a ser vista como experiência que leva ao aprendizado e ao
desenvolvimento expressivo.
Nota-se que a prática teatral é difundida há bastante tempo como uma
maneira de educar, embora um pouco enfraquecida, e com o passar dos tempos foi
se estabelecendo vínculos, a partir dos quais se conseguiu integrar a disciplina de
educação artística ao currículo educacional.
As primeiras práticas de “teatro-educação”
2
surgiram junto às escolinhas de
arte de Augusto Rodrigues, (Recife – PE, 1913 / Resende – RJ, 1993). Educador,
pintor, desenhista, gravador, ilustrador, caricaturista, fotógrafo, poeta, disseminou
suas oficinas de arte, aos poucos, em colégios experimentais, escolas de magistério,
etc.
Lentamente, o teatro foi inserido no campo da educação, sendo que uma das
primeiras mudanças deu-se com a obrigatoriedade da educação artística no ensino
2
Termo utilizado quando da inserção do teatro na educação brasileira, sendo hoje substituído por
expressões mais adequadas como Pedagogia do Teatro ou Teatro como Pedagogia.
12
de 1° e 2° graus, implementada pela lei federal 5.692 de 1971, prevendo-se a
modalidade “artes cênicas”, para ser ministrada de maneira polivalente junto à
música, artes plásticas e desenho, durante cinquenta minutos por semana, o que se
tornou, na experiência concreta da sala de aula, algo de difícil realização. O texto da
lei ressalta que
Art. 26. Os currículos do ensino fundamental e médio devem ter uma base
nacional comum, a ser complementada, em cada sistema de ensino e
estabelecimento escolar, por uma parte diversificada, exigida pelas
características regionais e locais da sociedade, da cultura, da economia e
da clientela.
§ 1º Os currículos a que se refere o caput devem abranger,
obrigatoriamente, o estudo da língua portuguesa e da matemática, o
conhecimento do mundo físico e natural e da realidade social e política,
especialmente do Brasil.
o
§ 2 O ensino da arte, especialmente em suas expressões regionais,
constituirá componente curricular obrigatório nos diversos níveis da
educação básica, de forma a promover o desenvolvimento cultural dos
alunos. (BRASIL, 1971, p. 23).
No que diz respeito ao ensino superior de teatro, este foi regulamentado em
1965, embora o conservatório Brasileiro de Teatro ofertasse, desde 1939, um curso
alternativo que não tinha delegação de competência para expedir diploma aos
concluintes. Como observa Santana (2000), somente a partir da reforma universitária
de 1968 ocorreu uma expansão expressiva no ensino universitário de teatro, tendo,
até o presente momento em que analisamos os cursos, onze bacharelados e vinte e
uma licenciaturas nas várias regiões do Brasil.
Para Santana (2000, p. 130)
[...] Um primeiro detalhe a ser comentado refere-se à pequena quantidade
de cursos existentes em todo Brasil, considerando-se a exigência
constitucional quanto a oferta de disciplinas na área de arte, dentre elas
Teatro. A maioria dos cursos referentes a essa linguagem artística encontrase na região sudeste, sendo que apenas o Estado de São Paulo conta com
cinco cursos, numero idêntico à somatória dos estados nordestinos. Essas
estatísticas confirmam a existência de um eixo Rio-São Paulo também no
panorama do ensino teatral, em sintonia com o mercado de artes em geral e
a situação da produção teatral em particular, uma vez que ali concentram-se
cerca de 39% dos cursos existentes em todo Brasil.
Assim, no Brasil, a arte inseriu-se na escola através de atividades ligadas ao
desenho geométrico, trabalhos manuais e canto orfeônico, sendo que o teatro e a
dança tinham importância menor. Com a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases
13
(1971), inseriram-se no currículo da escola fundamental as práticas educativas,
artísticas nas quais constava a arte dramática.
A LDB nº 9394, de 1996, no art. 26, inciso 2º outorga que “o ensino da arte
constituirá componente curricular obrigatório, nos diversos níveis da educação
básica, de forma a promover o desenvolvimento cultural dos alunos” (BRASIL, 1996,
p. 26).
Ainda sobre a obrigatoriedade do ensino de artes, segundo o documento
produzido pela UNESCO (1999, s/p):
[...] a área de teatro é importante para o desenvolvimento da criatividade e
da capacidade simbólica de crianças, jovens e adultos, sendo também uma
forma de abrir as portas da escola para a entrada dos valores da
comunidade e suas tradições artísticas e culturais. A ponte entre a sala de
aula e instituições comunitárias artísticas e culturais cria relações entre
crianças, artistas e produtor e culturais. A UNESCO se propõe incentivar a
promoção de um ensino/aprendizagem em arte e teatro visando o
desenvolvimento da criatividade das crianças, jovens e adultos, e à
apreciação de bens artísticos e culturais.
Percebe-se que a legislação aponta os caminhos a serem utilizados na
abordagem do teatro com as crianças, visando à ampliação do repertório artístico e
cultural. Deste modo, torna-se importante analisar a inserção destas discussões no
espaço da pedagogia do teatro desenvolvidas nas oficinas do TAM, no município de
São José.
2.2 O TEATRO EM SÃO JOSÉ
Em 17 de setembro de 1854, foi lançada a pedra fundamental e o Teatro,
inaugurado dois anos depois, em 21 de junho de 1856, chamado inicialmente de
Theatro de São José, anos mais tarde passando a se chamar “Theatro Adolpho
Mello” em homenagem ao ilustríssimo maestro e violonista José Adolpho Ferreira de
Mello, considerado o “Senhor dos céus”, “o Deus da música”.
14
A primeira peça encenada em seu palco foi “O Monge da Serra D'Ossa”, um
monólogo de Francisco Manuel Raposo D‟Almeida no dia 21 de junho de 18563.
Em suas dependências, funcionou também o “Cine York”, o “Cine Rajá” e o
“Clube do Cinema Nossa Senhora do Desterro”. O TAM é a mais antiga casa de
espetáculos de Santa Catarina e a terceira do Brasil. Tem como principal objetivo,
exaltar a arte, colocando-se a disposição para apresentações artísticas, cedendo
seu espaço a espetáculos nacionais e internacionais.4
Tombado pelo patrimônio histórico de São José, compondo o conjunto
arquitetônico da cidade, possui uma estrutura antiga, com obras pintadas pelo artista
plástico catarinense Martinho de Haro. Pertencendo ao roteiro artístico, turístico e
cultural desse município. O TAM também é sede dos projetos desenvolvidos pela
Secretaria de Cultura e Turismo de São José, oferecendo a comunidade Josefense
oficinas de teatro para crianças, adolescentes, adultos e terceira idade.
Em 1994, o Teatro, que esteve por 10 anos sob a responsabilidade do
Governo do Estado de Santa Catarina, retorna à Prefeitura Municipal de São José,
que junto ao Ministério da Cultura, reforma sua estrutura e o transforma numa
Escola de Artes e Casa de Espetáculos.
As oficinas no TAM iniciaram no ano de 1996 com a ideia de criar-se uma
escola de atores, inicialmente foram constituídas turmas de até quinze alunos em
faixa etária escolar.
2.3 TEATRO, INFÂNCIA E EDUCAÇÃO
Têm-se registros de que há muito tempo o homem se expressa por meio do
ato de representar. Sejam para demonstrar suas tristezas, angústias, alegrias,
desejos ocultos, retratar seu cotidiano, seja para cultuar deuses e ou ainda como
uma atividade sócio-cultural. O fato é que a partir de então o teatro passa a integrarse a cultura humana.
3
4
Em apêndice o texto original da peça.
Informações recolhidas em: Agenda Cultural de São José Ano 1 N° 05,Setembro,2011
15
Segundo Arcoverde (2008) a história do teatro feito para crianças no Brasil
teve início com os Padres Anchieta e Manoel da Nóbrega, como forma auxiliar,
didática e pedagógica, de catequese. Somente a partir da década de 1970, que o
teatro para a infância5 passou a ser visto também como uma atividade artística.
O teatro para crianças teve a sua origem na moral cristã, no didatismo e na
moral européia, e, este quadro, começa a mudar durante a década de 70, passando
o teatro para a infância a ser um gênero específico.
Arcoverde (2008) afirma que o contato da criança com o teatro se dá
basicamente pela escola ou pela igreja. É claro que, em geral, em ambas as
instituições o espetáculo é marcado mais pelo viés pedagógico do que pelo estético
ou artístico, propriamente ditos.
Trabalhar com o teatro na sala de aula inclui uma série de vantagens obtidas:
o aluno aprende a improvisar, desenvolve a oralidade, a expressão corporal, a
impostação de voz, aprende a se entrosar com as pessoas, desenvolve o
vocabulário, trabalha os lados emocional, sensível, lúdico, motor, etc.
O teatro proporciona ainda o desenvolvimento do diálogo com outras áreas
artísticas como as artes plásticas, por exemplo, por meio de pintura corporal,
confecção de figurino e montagem de cenário, oportuniza a pesquisa, desenvolve a
redação, trabalha a cidadania, religiosidade, ética, sentimentos, interdisciplinaridade,
incentiva a leitura, propicia o contato com obras clássicas, fábulas, reportagens,
ajuda os alunos a se desinibirem e adquirirem autoconfiança desenvolve habilidades
adormecidas, estimula a imaginação e a organização do pensamento, entre outras.
Na realização de cenas dramáticas destaca-se o exercício do “fazer de
conta”, fingir, imaginar ser outro, criar situações lúdico-criativas, etc. Atuamos todos
os dias, em casa, na escola, no trabalho, a atuação é o meio pelo qual nos
relacionamos com o outro.
O teatro na escola, de acordo com os PCN‟s,(Brasil,1998) tem o intuito de
que o aluno desenvolva um maior domínio do corpo, tornando-o expressivo; um
melhor desempenho na verbalização, uma melhor capacidade para responder às
situações emergentes e uma maior capacidade de organização e domínio de tempo.
5
Optou-se por utilizar o termo “teatro para a infância” ao invés de teatro infantil, uma vez que autores
contemporâneos têm discutido que o termo “teatro infantil” diminui a importância deste, dado que o
adjetivo “infantil” tende a desvalorizar a ação e compará-la à brincadeira sem muita importância.
16
O teatro oferece aos jovens e adultos possibilidades de compartilhar
descobertas, ideias, sentimentos, atitudes, ao permitir a observação de diversos
pontos de vista, estabelecendo a relação do indivíduo com o coletivo e
desenvolvendo a socialização.
A experiência do teatro na escola amplia a capacidade de diálogo, a
negociação, a tolerância, a convivência com a diversidade. No processo de
construção dessa linguagem, a criança estabelece com os seus pares uma relação
de trabalho, combinando sua imaginação criadora com a prática e a consciência da
observação de regras. Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais de Arte:
O teatro como diálogo entre palco e plateia pode se tornar um dos
parâmetros de orientação educacional nas aulas de teatro; para tanto,
deverá integrar-se aos objetivos, conteúdos, métodos e avaliação da área.
(BRASIL, 1998, p. 43).
Seguindo essa discussão sobre a importância do teatro para a sociedade,
pode-se dizer que a escola tem papel fundamental de oportunizar o contato da
criança com a arte, como aponta Bourdieu, (1998, p. 62)
[...] obrigar e autorizar a instituição escolar a desempenhar a função que lhe
cabe, de fato e de direito, ou seja, a de desenvolver em todos os membros
da sociedade, sem distinção, a aptidão para as práticas culturais que a
sociedade considera como as mais nobres.
O teatro estimula o indivíduo no seu desenvolvimento mental e psicológico,
mas, apesar disso, o teatro é arte, arte que precisa ser estudada não apenas em
níveis pedagógicos, mas também como uma atividade artística que tem as suas
características como tal.
O teatro precisa ser levado à sala de aula como arte, assumindo o seu papel
como obra artística. Por meio dele, a criança vai se deparar com uma das mais
antigas manifestações culturais, e, diante dessa manifestação, aprenderá e verá que
o teatro pode discutir as questões existenciais do homem no mundo. É dentro dessa
perspectiva que o teatro tem a sua função estética, catártica, questionadora,
17
transformadora, política e social – uma obra de arte enquanto atividade artística que
expressa o homem e os seus sentimentos.
2.4 MARIA CLARA MACHADO POR INTEIRO: INVESTIGANDO SUA INFLUÊNCIA
A visão de “teatro-infantil” com função pedagógica começa a ser quebrada na
década de 50 com o surgimento de O Tablado, dirigido por Maria Clara Machado.
Maria Clara Machado é uma das pessoas que mais escreveu peças para o teatro
para crianças no Brasil. Em 1955, ela escreveu sua peça mais famosa, Pluft, o
Fantasminha – a história de um fantasma criança que tem medo de gente.
Maria Clara Machado celebraria em 2011, 90 anos e os 60 anos de seu filho
querido, o grupo de teatro amador O Tablado. Sandroni (2001, p. 02) retrata que
Maria Clara, nascida em Belo Horizonte no dia 3 de abril de 1921, filha do escritor
Aníbal Machado, definiu-se da seguinte forma: “Sou mineira até não poder mais,
mas vivo aqui desde os quatro anos, gosto mesmo é do mar de Ipanema”
(SANDRONI, 2001, p. 02).
Maria Clara cursou o colégio São Paulo e em 1938 entrou para o Movimento
Bandeirante. Inicialmente, o Movimento Bandeirante destinava-se à formação de
meninas e moças – tendo um papel fundamental na ampliação e participação
feminina na sociedade da época. A partir da década de 1960, no entanto, apostando
na proposta de co-educação, o Movimento Bandeirante abre suas portas aos
meninos e rapazes, essa formação exerceu grande influência em sua vida.
Ela decidiu ser enfermeira e atuou como bandeirante no ambulatório do
Patronato Operário da Gávea, mas logo percebeu não ter vocação para esse
trabalho. Decidiu montar um teatro de bonecos para as crianças do Patronato e
instalou o ateliê, onde preparava os cenários e as roupas, na garagem de sua casa.
No início encenava teatro de bonecos em festas infantis, época em que Maria Clara
escreveu e apresentou sua primeira peça, o auto de Natal O boi e o burro a caminho
de Belém, obtendo grande sucesso. Segundo Sandroni (2001, p. 03)
18
[...] em 1949-1950 esteve em Paris, ao voltar fundou o grupo amador O
Tablado, trabalhou como diretora e atriz, de início em peças de autores
estrangeiros e em 1953 reescreveu e dirigiu “O boi e o burro a caminho de
Belém”, agora com atores. No mesmo ano montou “O rapto das cebolinhas”
e ganhou o Prêmio da prefeitura do Distrito Federal para o teatro infantil, o
que ocorreu também no ano seguinte com “A bruxinha que era boa” [...].
Maria Clara recebeu muitos prêmios, entre eles O golfinho de Ouro do Museu
da Imagem e do Som e o prêmio Moliére da Air France, ambos para melhor autor
teatral em 1978. Em 1991 a Academia Brasileira de Letras concedeu-lhe o Prêmio
Machado de Assis pelo conjunto da obra. Em 1995 produziu seu maior sucesso
Pluft, o fantasminha traduzido para vários idiomas. Segundo Maria Clara Machado
(1972, p. 01):
[...] educar é fazer a criança abrir os olhos para o mundo que a rodeia e darlhe a possibilidade de se maravilhar com cada nova descoberta que ela
mesma vai fazendo do mundo que a cerca. Despertar no aluno a
necessidade de uma atitude criadora é a grande tarefa do professor, é
chamar a atenção do aluno sobre sua capacidade de inventar e de
transformar. “Fazendo de conta” a criança está muito mais perto da verdade
do que verbalizando seus problemas com uma psicóloga.
A autora ainda afirma que
[...] a criança tem a tendência normal de imitar espetáculos de televisão,
cinema ou teatro. Isto não tem importância. Deixamos que ela mesma
tivesse a sua concepção “de como fazer”, que ela mesma tente imitar o que
viu e gostou. Imitando, sem o auxílio da professora, ela estará ainda
criando. O resultado, muitas vezes, é desastroso do ponto de vista artístico,
é, porém uma maneira saudável de deixar a criança livre para extravasar
sua maneira de perceber o mundo (MACHADO, 1972, p. 04).
O teatro de Maria Clara Machado atingiu o panorama internacional. Suas
peças foram traduzidas para o francês, inglês, alemão, holandês, sueco, russo,
espanhol, árabe, etc. sendo que as mais procuradas são: Pluft, Fantasminha, O
Rapto das Cebolinhas, A Bruxinha que era Boa, O Cavalinho Azul e A Menina e o
Vento. Maria Clara Machado foi também tradutora de várias histórias infantis para as
editoras como: “Cedibra”, “Livros de Ouro” e “Expressão e Cultura”.
A Editora “Losange” de Buenos Aires editou em espanhol um livro com as
seguintes peças: A Menina e o Vento, Pluft,
Fantasminha e O Cavalinho Azul,
19
traduzidas por Maria Julieta Drummond de Andrade. Em 1979, no Centro de Estudos
Brasileños, foi editada, na versão de Maria Julieta Drummond de Andrade, Teatro
Infantil com as seguintes peças: O rapto das cebolinhas, A bruxinha que era boa e O
cavalinho azul.
2.5 TEATRO-PROFISSIONAL x TEATRO AMADOR
Se o jogo dramático libera a criatividade, o espetáculo teatral alimenta esta
criatividade. Um espetáculo de teatro elaborado com consciência por parte do artista
é um estímulo inesgotável para a sensibilidade da criança. A emoção artística leva a
criança a um mundo de fantasias e de sonhos. O mistério teatral é justamente esta
identificação profunda de cores, ritmos, música, movimento e palavra com a alma do
espectador. Maria Clara Machado (1972, p. 6) afirma que:
[...] Se ela vive no mundo do faz-de-conta, transformar este faz-de-conta em
realidade é tarefa de todo educador-criador. É difícil, nesta década de
computadores provar a importância do espetáculo teatral bem feito na alma
da criança. Não há estatística que mostre o maior ou menor grau de
sensibilidade captado numa sala de teatro. Mas, para o observador
sensível, a transformação que sofre o pequeno público durante um
espetáculo é inesquecível! E talvez esta seja a grande emoção do
realizador.
As diferenças entre o teatro profissional e o teatro dito amador, é que o
amador pode ser feito por qualquer pessoa, por um grupo que resolve se reunir sem
visar lucros. Muitos o fazem por “amor a arte” sem haver a necessidade de ser um
ator profissional. No teatro realizado nas oficinas do Teatro Adolpho Mello, não há
uma busca profissional e sim, estudantes que estão iniciando um desenvolvimento
artístico, seja para perder a timidez, para melhorar sua relação com as pessoas,
ampliar sua imaginação; brincando de criar peças teatrais, a criança desenvolve
seus lados lúdico, criativo e estético.
O teatro profissional, em geral, é executado por atores profissionais, que
vivem exclusivamente desta arte, são devidamente remunerados, contam com uma
equipe técnica e de produção, tem disponibilidade para viagens em turnê.
Deste modo, pode-se dizer que o Teatro realizado em oficinas educativas
20
possui um caráter amador, com um viés pedagógico, sem necessidade de formar
artistas, mas sim, crianças sensíveis, que respeitem a arte, que compreendam os
códigos específicos dessa linguagem, ampliando o seu repertório e capital cultural.
A seguir apresentar-se-á o percurso metodológico desta pesquisa, apontando
as discussões que contribuíram para o desenvolvimento da análise que será
apresentada posteriormente.
21
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
A pesquisa qualitativa se dá através da observação direta e intensiva, que
compreende a observação sistemática, participante, como elemento de análise da
realidade social. Além disso, a utilização de entrevistas estruturadas também
contribui para o aprofundamento das análises da pesquisa. Assim, esta pesquisa se
configura como qualitativa, pois como destaca Gil
[...] a pesquisa tem um caráter pragmático, é um processo formal e
sistemático de desenvolvimento do método científico. O objetivo
fundamental da pesquisa é descobrir respostas para problemas mediante o
emprego de procedimentos científicos (GIL, 1991, p. 42).
Numa metodologia de base qualitativa o número de sujeitos que irão compor
o quadro das entrevistas dificilmente pode ser determinado a priori este dependerá
da qualidade das informações obtidas em cada depoimento, assim como da
profundidade e do grau de recorrência e divergência destas informações, retrata
Duarte (2002).
Deste modo, essa pesquisa qualitativa seguiu os procedimento da pesquisa
de campo. Pois, procede à observação de fatos e fenômenos exatamente como
ocorrem na realidade, à coleta de dados referentes aos mesmos e, finalmente, à
análise e interpretação desses dados, com base numa fundamentação teórica
consistente, objetivando compreender e explicar o problema pesquisado.
Como qualquer outro tipo de pesquisa, na análise de campo parte-se do
levantamento bibliográfico para posteriormente realizar-se as observações das
oficinas e entrevistas com os sujeitos participantes. A proposta de se fazer as
entrevistas deve-se pela possibilidade de compreender de que maneira as oficinas
contribuem e são reconhecidas como importantes na vivência de alunos/as e
professores/as.
Em relação a isso, pode-se dizer que as análises das oficinas no TAM visam
inserir reflexões sobre as relações entre teatro e educação, com enfoque na
problematização das oficinas, e não como mera descrição. Fato que justifica a
relevância social da pesquisa, pois estas oficinas são propiciadas às crianças de
22
várias faixas etárias que residem no município de São José, de forma gratuita e de
fácil acesso.
Além disso, a pesquisa considera que há uma relação dinâmica entre o
mundo real e o sujeito, isto é, um vínculo indissociável entre o mundo objetivo e a
subjetividade do sujeito que não pode ser traduzido em números, uma vez que
pontuamos a análise através da contribuição das oficinas nas vivências dos
estudantes.
A interpretação dos fenômenos e a atribuição de significados são bases no
processo de construção de uma pesquisa qualitativa. O ambiente da pesquisa é a
fonte direta para a coleta de dados, mas também é o lugar de “crescimento
intelectual” tanto do pesquisador quanto dos grupos que participam das oficinas.
Desta maneira, os caminhos percorridos ao longo da pesquisa, devem inserir
significados sociais e culturais diante do objeto da pesquisa, neste caso, a
significação do teatro na educação.
Também foram levantados dados com os ex-alunos, sobre o que conhece e
pensam sobre do trabalho de Maria Clara Machado, buscando observar a relevância
do trabalho teatral desenvolvido a partir dos textos de tal autora.
Para aprofundar a análise, foram realizadas observações das oficinas
oferecidas no TAM, com o intuito de que tais observações contribuam para a
investigação do perfil dos/as alunos/as e também da maneira como os
professores/as, fazem o elo entre teatro e educação.
Richardson (1999) destaca que a observação constitui elemento fundamental
para a pesquisa, principalmente para aquelas que possuem um enfoque qualitativo,
porque está presente desde a formulação do problema, passando pela construção
da pesquisa e se encaminhando até a interpretação dos dados, ou seja, ela
desempenha papel imprescindível no processo de pesquisa.
Neste sentido, a observação foi realizada com o intuito de registrar as
construções das oficinas por parte dos/as professores/as, bem como do empenho e
interesse dos estudantes, para que fossem analisadas posteriormente as
implicações do olhar do pesquisador com as narrativas dos sujeitos envolvidos nas
oficinas.
Foram observadas em torno de oito aulas, visando compreender como se dá
a proposta nas oficinas para fomentar o desenvolvimento cognitivo da criança,
23
desde quando inicia na oficina até a montagem do espetáculo e sua apresentação.
No que diz respeito às narrativas dos sujeitos envolvidos no processo das
oficinas, foram realizadas entrevistas com seis professoras que desenvolvem e/ou
desenvolveram trabalhos com os textos de Maria Clara Machado, bem como com
alunos e pessoas ligadas à cultura local de São José.
O levantamento de dados foi desenvolvido por meio de um questionário
estruturado, a partir do qual levantei dados dos funcionários do TAM, sobre a
importância das oficinas que foram ministradas de 1996 a 2011.
Para Queiroz (1988), a entrevista estruturada é uma técnica de coleta de
dados que supõe uma conversação continuada entre informante e pesquisado e que
deve ser dirigida por este de acordo com seus objetivos. Desse modo, da vida do
informante só interessa aquilo que vem se inserir diretamente no domínio da
pesquisa. Logo, a metodologia empregada na pesquisa deu condições para que se
efetivasse a análise dos dados, o que apresentaremos a seguir.
O público alvo desta pesquisa foram os alunos que frequentaram as oficinas
no TAM, em São José, bem como os professores/as que ministraram as referidas
oficinas entre os anos de 1996 e 2011.
As oficinas acontecem com encontros realizados duas vezes por semana no
período matutino e vespertino com duração de duas horas/aulas. Uma das
exigências para participar das oficinas é estar devidamente matriculado e
alfabetizado em alguma escola.
As idades das crianças variam, algumas turmas são mistas, mas a prioridade
é que fiquem as crianças separadas dos adolescentes. Sendo assim criou-se faixas
etárias para distribuir as mesmas nas oficinas: crianças de 7 á 11 anos, de 12 á 16
anos e adultos.
As aulas têm no máximo vinte estudantes inicialmente, mas com o decorrer
das oficinas alguns saem por motivos particulares. Numa breve observação
realizada em uma das aulas, constatou-se que inicialmente trabalha-se com a
improvisação e com jogos teatrais, propiciando o autoconhecimento da criança e
conhecendo os demais integrantes da turma. Após algumas aulas são apresentados
textos que serão lidos, um é escolhido e será trabalhada com a turma.
Após seguidas leituras, o professor pergunta quem se identificou com cada
24
personagem e é feita a divisão dos mesmos para a montagem da peça e
apresentação no final do ano, com venda simbólica de ingressos, dando prioridade
as escolas da rede municipal de ensino.
Feita a contextualização do campo de coleta de dados, apresentar-se-á a
análises realizadas.
25
4 ANÁLISE DOS DADOS
Nesta parte da pesquisa, apresentamos os resultados das análises realizadas
no TAM, apontando as perspectivas sobre a utilização das obras de Maria Clara
Machado nas oficinas. Além disso, apresentamos as reflexões realizadas com os/as
professores/as
ao
longo
da
pesquisa.
Foram
realizadas
entrevistas
com
questionários que visavam apontar as implicações e discussões sobre a utilização
dos textos de Maria Clara Machado nas oficinas, bem como da importância destas
oficinas.
Ao investigar as narrativas dos/as professores/as, visou-se apontar alguns
caminhos teóricos e metodológicos utilizados nas oficinas, bem como a concepção
dos/as professores/as a respeito delas. Por isso, escolheu-se trazer as narrativas
dos/as professores na íntegra.
A professora Mariângela Leite, inicia sua entrevista com a seguinte frase: A
vida é uma peça de teatro que não permite ensaios! Por isso cante, dance, ria, ame
e viva intensamente antes que a cortina se feche e a peça termine sem aplausos!
(Charles Chaplin).
Sobre a trajetória como professora afirma que é professora primária da Rede
Estadual de Ensino, Professora de Educação Artística: Habilitação Artes Cênicas
(UDESC), com Pós-Graduação em Arte – Educação
Ao apresentar as questões sobre o conhecimento dos textos de Maria Clara
Machado, a professora afirma que:
Pessoalmente, não montei nenhuma peça dessa autora, mas li vários de
seus textos no processo de escolha de peças para as oficinas de teatro.
Tive acesso a várias obras e a história da dramaturga, escritora de peças
infantis, uma das mais lidas dentro e fora do Brasil. Ela, não só soube falar
diretamente para crianças, como conseguiu através de seus textos
expressar seu universo. Viveu oitenta anos, faleceu em 2001, solteira,
escreveu e viveu em prol da leitura, “ler a vida, a gente precisa saber ler os
livros”, cita Maria Clara Machado.
Percebe-se com a narrativa da professora que há uma admiração pelo
trabalho da autora MCM6. Ainda sobre a importância de Maria Clara Machado e o
6
Utilizar-se-á a partir desse momento a sigla MCM – Maria Clara Machado, sempre que se referir à
26
teatro, ao ser questionada sobre a utilização dos textos da autora, Mariângela
esclarece que:
Tive oportunidade de acompanhar as seguintes montagens da dramaturga
Maria Clara Machado na Oficina do Theatro Adolpho Mello:
-Plulf, O Fantasminha, 03 montagens;
-Rapto das Cebolinhas, 01 montagem;
-O Cavalinho Azul, 02 montagens;
A peça Plulf Fantasminha, até hoje, é a mais completa. Passa por humor,
poesia, situações de simplicidade, tudo aliado ao carisma do Plulf.
De certa maneira, a professora explicita os modelos de peças que reconhece
com idéias gosta de trabalhar, encaminha para a relação do teatro com o humor.
Nesse caminho de análise, a professora destaca que em relação à montagem das
peças:
Quando da montagem de uma peça os alunos escolhiam os textos. Sistema
usado para que os mesmos se envolvessem no processo de escolha.
Apesar de estarem entre os textos analisados obras de Maria Clara
Machado, nunca tive a oportunidade de montar uma de suas peças. No
entanto, acompanhei várias montagens e assisti suas apresentações
através dos grupos de teatro, no Adolpho Mello. Quando estamos nos
processos de montagens das peças, os professores se apóiam formando
uma equipe disponibilizando-se a trabalhar como sonoplasta, iluminador,
contra-regra, figurinista, bilheteria e muito mais.
O apoio entre os professores/as, trabalhando em várias etapas do processo
de montagem das peças dá uma noção do envolvimento deles nas oficinas. O que
pode ser percebido também em relação ao trabalho com os alunos, como destacou
a professora:
Procuro trabalhar no máximo com 20 alunos, pois os textos, em sua maioria,
são limitados em seus personagens. No decorrer das aulas, as desistências.
Isso torna difícil uma montagem com muitos personagens. Então, quando o
número de alunos se confirma, texto definido, e os personagens escolhidos
e divididos, começa o processo de ensaio. Trabalhamos técnicas teatrais,
sua linguagem, teoria básica à faixa etária. Mudanças de personagens, se
necessário. Tudo feito em comum acordo. Na leitura do texto já começa a
marcação de palco e o processo da montagem final. Quanto à avaliação, a
própria palavra assusta, caso seja necessária, muda-se o personagem, em
função da confiança do aluno no seu desenvolvimento. Referente à faixa
etária: 07 a 11 anos – a maior dificuldade encontra-se nos pais, que querem
o “melhor” papel para seus filhos, além das interferências nas oficinas
teatrais. Mas, isso está melhorando, afinal a visão da comunidade tem que
mudar.
autora.
27
A preocupação com os ensaios, com a desistência, com cada etapa da peça,
mas principalmente com a percepção de criar uma confiança nos alunos, para que
possam desenvolver melhor sua atuação, evidenciam o caráter pedagógico que as
oficinas propõem. E que de acordo com a professora, a formação do trabalho se dá
pedagogicamente, utilizando vários dramaturgos e suas metodologias, Acerca desse
fato destaca-se alguns elencados pela professora:
- Berthold Brecht,
- Augusto Boal,
- Viola Spolin: que se apóia nas proposta de Constantin Stanislavski
que utiliza processo de ensino-aprendizagem com aulas de improvisação
teatral. Compreende-se a improvisação não só como uma das etapas
iniciais desse processo criativo, mas, sim, ao longo das atividades
aplicadas, entre jogos teatrais, ensino, atividade criadora, aluno: ator –
percepção – lúdico.
A utilização da improvisação, com caráter criativo, insere nas crianças uma
visão mais lúdica das oficinas, num processo contínuo de aprendizado e crescimento
teatral. E que se reflete na melhoria do aprendizado na escola, pois as oficinas,
como afirma a professora, tem uma relação com a escola de maneira plena.
Durante os anos que trabalho com as oficinas de teatro, sempre tivemos a
preocupação em compartilhar escola – teatro, atentos ao rendimento
escolar. O resultado é gratificante. Porque a arte deve ser reconhecida
como área de conhecimento que oferece múltiplas alternativas de
aprendizagem no desenvolvimento do educando.
Essa inserção e valorização dos aspectos teatrais, mas também dos aspectos
pedagógicos, como o rendimento escolar, inserem uma preocupação com o
comprometimento dos alunos, pois a professora aponta que:
Difícil dizer pelo fato de não trabalhar textos da Maria Clara Machado, mas a
semelhança de textos leva-me a responder que nossos alunos vivenciam
desde montagem do espetáculo, escolhas das personagens, identificação
com o papel e suas atuações. O resultado final é a estreia, ator-plateia e os
aplausos. Observamos que quando o aluno encena, nunca é ele mesmo,
nunca é uma realidade, mas sim, vive outro alguém, pois este é o seu
momento mágico. Isso em qualquer texto, em qualquer peça.
A estreia configura-se como o momento de aglutinação de todo o esforço
28
despendido nas oficinas, é „um momento mágico‟, como destaca a professora.
Influenciado pelas obras de MCM, que no TAM são utilizados de diferentes
maneiras, como a professora salienta:
Quando Professora Primária, o Colégio recebia vários livros de
teatro e tinha uma coleção de quatro volumes com quatro
textos cada, da dramaturga Maria Clara Machado. Falo pelo
meu trabalho, em paralelo, junto as professoras das oficinas de
teatro no Adolpho Mello que executaram peças com textos de
Maria Clara Machado. Textos motivadores, estimulantes. Os
alunos “viajam” nos personagens, onde se ressalta a
criatividade nos mesmos. Como sugestão que daria seria a
ampliação de atendimento a um maior número de alunos
através das oficinas para que conheçam a obra da citada
autora.
Os textos motivadores, a imaginação, a criatividade destacadas pela
professora apresentam a influência de MCM para a formação teatral das crianças,
seja de forma direta com as peças, ou indireta com as utilizações de seus textos em
outras atividades. Refletindo assim, a importância de trabalhar com o teatro na
educação, pois:
Sim, isso está muito claro em nossas ações. Pois, quando o
professor tem o privilégio de trabalhar Artes fora do contexto
escolar com alunos das redes municipal, estadual e particular
de ensino, em nossas oficinas, estimula-se a liberdade, a
diversidade de gênero, desembaraço, os preconceitos, de
forma diferenciada de uma sala de aula estabelecida pelo atual
sistema opressor da educação tradicional. Os meus 25 anos
como professora das oficinas de teatro me dizem que cada
trabalho é sempre o primeiro. A motivação é diária. A alegria
também. A tristeza fica pelo fato dos que desistem. Hoje, tenho
um ex-aluno que é colega de trabalho e amigo cursando
doutorado na área de teatro. Como também, filhos de exalunos. Amo Teatro! Amo o acadêmico Eduardo Tasca!
Sucesso, sempre! Obrigada.
A professora Glória Medeiros, licenciada em artes cênicas pela UDESC
destaca em sua narrativa a importância que o teatro tem para “auxiliar a criança,
como um ser que pensa, sente e faz, no seu crescimento cultural e na formação
como indivíduo, seja no seu pedagógico ou artístico, assistido ou encenado”.
Sobre a utilização dos textos de Maria Clara Machado, esclarece que:
29
Geralmente a escolha do texto depende do perfil da turma (idade, tempo de
oficinas, enfim). No decorrer do ano eu avalio o desenvolvimento da
concentração, do foco, integração do grupo, a valorização e a importância
do trabalho em grupo, o comprometimento.
Para Glória Medeiros, o importante é inicialmente analisar o perfil dos alunos
presentes na turma para depois se definir o texto que será utilizado para a
montagem da peça. A professora valoriza o desenvolvimento da criança ao longo
das oficinas. Em relação à utilização das peças nas oficinas aponta que:
A arte de brincar, a luta pela criatividade, atenção, disciplina e o individuo e
o grupo improvisação teatral expressão corporal (ouvir/falar/ver) sentimento,
a emoção, técnicas vocais leitura de textos/ dramatização. Teatro e a
educação caminham de mãos dadas. Teatro como educação é um defensor
de ideias, de se criar, dentro do ambiente educacional, em ambiente livre,
de criação, entendimento, sem preconceito, aceitando as diferenças de
ideias, valores de cultura e as diferenças entre indivíduos.
A professora defende a importância do uso da pedagogia teatral, como forma
de educação, mostrando que é possível se fazer um bom trabalho com as crianças,
usando o teatro como ferramenta essencial para seu desenvolvimento. Sobre a
importância das oficinas no TAM, aponta que:
Sem dúvidas. Fazer as oficinas do Theatro Adolpho Mello, é estar presente
na cultura viva, é viajar na máquina do tempo; transformados pela arte. Aqui
se aprende a ser outro, no seu encanto particular.
Glória acredita nas oficinas como forma de educação, mantendo vivo esse
trabalho desenvolvido ao longo de tantos anos e afirmando que não pode-se deixar
esse campo educacional se acabar, pois, com as portas do TAM abertas, mantémse a cultura local viva para as pessoas.
Além da professora Glória, entrevistou-se a professora Érica Veiga, pedagoga
formada pela Univali, também formada em artes cênicas pela UDESC e pósgraduada na formação do ator também pela UDESC.
Em relação a Maria Clara Machado, Érica aponta:
Maria Clara Machado trabalha um conjunto de elementos organizados
e direcionados ao público infanto- juvenil com um poder atrativo muito
grande. Seus textos são criativos, bem humorados e poéticos,
essenciais para o universo infantil, buscando através da
experimentação o desenvolvimento expressivo da criança.
30
A professora salienta a importância das peças de Maria Clara Machado,
valorizando a necessidade de experimentação e desenvolvimento criativo e
expressivo dos sujeitos que participam das oficinas.
Ao ser questionada sobre o trabalho nas oficinas no TAM ela destaca que:
As maiores dificuldades que encontro no início das oficinas passa pela
defasagem que as crianças apresentam ao se depararem com a
interpretação do texto. Elas lêem mas não compreendem. Daí a
necessidade dos trabalhos de interpretação.
O que a professora apresenta sobre a defasagem é um dado importante de
análise, pois nos mostra que muitas vezes as crianças não avançam como
esperado, justamente pela deficiência em áreas de compreensão de texto, pela falta
ou dificuldade de leitura. O que encaminha para a contribuição das oficinas, pois
neste espaço os alunos têm possibilidade de ampliar suas leituras e interpretações
de vida.
A professora aponta ainda sobre as oficinas que:
Várias ações pedagógicas são desenvolvidas durante a oficina de teatro.
Uma delas e a que melhor me adaptei são os “jogos teatrais” de Viola
Spolin. Uma técnica de ensino preciosa não só para o teatro profissional e
amador como também para os programas escolares em todos os níveis.
Estas técnicas inovam o valor pedagógico, com aplicações na dança, na
psiquiatria, na educação, nas abordagens da dramaturgia com resultados
efetivos e de grande importância para o desenvolvimento da criatividade tão
necessária ao universo teatral.
Segundo Spolin, (1979, p.3)
[...] Todas as pessoas são capazes de atuar no palco. Todas as pessoas
são capazes de improvisar. As pessoas que desejarem são capazes de
aprender a ter valor no palco. Aprendemos através da experiência, e
ninguém ensina nada a ninguém. Isto é válido tanto para as crianças que se
movimentam inicialmente chutando o ar, engatinhando e depois andando,
como para o cientista com as suas equações.
Quando questionada sobre o comportamento dos alunos e a interação deles,
a professora Érica destaca que:
31
Sem dúvida nenhuma ao percebe-se o crescimento de cada aluno ao final
da oficina. Alunos com extrema dificuldade de comunicação, de timidez, de
memória, de interpretação de textos, de dicção, de oralidade, etc.,
conseguem depois de trabalhados, apresentar um desenvolvimento
significante.
Pode-se dizer que as oficinas contribuem fortemente para a ampliação dos
conhecimentos dos alunos, como percebe-se na fala da professora, pois o fato de
interpretaram textos, de desenvolveram a oralidade contribui para que ampliem suas
potencialidades educativas.
Além disso, a professora comenta que a relevância do trabalho nas oficinas
do TAM e socialmente reconhecida, pois segundo ela,“há mais de 15 anos
desenvolvemos estas oficinas e quando da inscrição, temos uma lista de espera por
não conseguirmos atender a todos que nos pro curam”.
Desenvolver e continuar com as oficinas favorece a compreensão das
crianças da importância do teatro, bem como valoriza o trabalho exercido por
profissionais no TAM.
Realizou-se entrevista com a professora Ângela Gonçalves, formada em
educação física pela UDESC e pós-graduada em atividade física e saúde pela
UFSC. Acerca do trabalho com MCM, ela afirma que: “trabalhar os textos de Maria
Clara Machado é transformar o imaginário infantil em arte’.
É importante salientar que a professora não tem formação específica na área,
teatral mas atua nas oficinas. Sobre a formação dos profissionais que atuam nas
oficinas, pode-se dizer que, há uma defasagem na formação de teatro. Segundo
Vicente Concílio (2008, p. 73)
[...] diante da escassez de profissionais licenciados em teatro, a situação
que se configura é o preenchimento de vagas de ensino de teatro por
profissionais com pouca ou nenhuma formação pedagógica, mas muitas
vezes de reconhecida formação teatral.
Percebe-se que a professora narra suas oficinas a partir de sua experiência.
Assim, ao ser questionada sobre a escolha dos textos, retrata:
Deve ser descontraído e de fácil entendimento, deve-se escolher o texto
sempre pensando na faixa etária da criança, deixar ela ler e se adaptar com
o texto proposto.
32
Nota-se a diferença na opinião dessa professora, se comparada às demais,
talvez pela formação ser em outra área, o que não traz um vivência com os textos de
MCM. Ao retratar o uso de textos de Maria Clara Machado, afirma: “Trabalho com os
textos por serem simples, principalmente para as crianças, por serem divertidos e
muito criativos”.
A intenção não é trabalhar com textos simples nas oficinas, mas com
materiais que dêem subsídios para o desenvolvimento criativo, interpretativo, de
convivência social, de agrupamento, de definições de leitura e oralidade. Enfim,
percebe-se na narrativa da professora que desvincula a importância das oficinas,
pois destoa das demais narrativas apresentadas.
Quando questionamos sobre a relevância das oficinas, a professora salienta:
É de suma importância, para o desenvolvimento da criança, do adulto e até
do idoso, transformando-os em seres de personalidades mais marcantes,
além de formar um público para o teatro e para a cultura em geral.
A concepção da professora nos encaminha para a necessidade de realizar
oficinas voltadas ao público em geral, pois, como ela mesma afirmou, a importância
sobre o desenvolvimento da criança e do adulto, marca-se como elemento de
desenvolvimento cultural. A professora, também destaca o uso do teatro como forma
de educação, apontando que:
É essa a oportunidade do conhecimento das atitudes do ser humano
fazendo uma relação com a vida cotidiana e o imaginário mostrando-lhes o
certo e o errado, o belo e o feio, através das experiências teatrais vividas
pelos alunos.
Ao apontar que o teatro amplia os conhecimento e atitudes, a professora nos
encaminha para a importância e necessidade de valorização das oficinas do TAM,
assim como das experiências teatrais vividas pelos alunos, sendo estas,
significativas em sua vivência. Ao destacar a função pedagógica das oficinas afirma:
As ações pedagógicas desenvolvidas nas oficinas são principalmente ao
percepto cognitivo (olhar, sensibilidade ao tato, expressão facial e fala com
maior segurança, noção espaço-temporal, se movimenta melhor e age com
mais prudência e desenvoltura diante das dificuldades encontradas nas
cenas, que reflete também no seu dia-a-dia).
33
A professora encaminha suas ações pedagógicas, desenvolvidas nas
oficinas, pelo campo da expressão que os alunos podem desenvolver por meio do
teatro. A mudança na desenvoltura dos alunos mostra o crescimento não só
intelectual, como sensível.
A seguinte entrevista foi realizada com a professora Ladice de Jesus Almeida,
formada em Pedagogia pela UFSC. Segundo a professora:
Trabalhar utilizando textos de Maria Clara Machado é de suma importância,
pois seus textos são de fácil compreensão e sempre abordando temas
clássicos sempre atuais.
Da mesma forma como abordado pela professora Ângela, Ladice também
afirma que gosta de trabalhar com os textos de Maria Clara Machado, por ser de
fácil entendimento, porém o foco das oficinas é fazer com que as crianças
desenvolvam um lado artístico e que possa ser significativo para seu aprendizado
natural.
A mesma afirma que:
Opta, sempre que possível, pelos textos de Maria Clara Machado,
principalmente por ser uma autora Brasileira e que conseguiu transformar os
clássicos da literatura, sempre os mantendo atuais.
Do ponto de vista da professora, ela não leva em consideração que os textos
de Maria Clara Machado são uma fonte de ensinamentos para as crianças, pois com
textos escritos há tanto tempo se mostram cada vez mais atuais, passando uma
mensagem pura e singela para as pessoas de qualquer idade.
A mesma nos aponta que:
Fazer parte do corpo docente das oficinas do Theatro Adolpho Mello é
gratificante principalmente porque não se restringe apenas a apresentação
de peças teatrais. Através dos trabalhos desenvolvidos nas oficinas, a
criança desenvolve varias habilidades: desenvoltura, improvisação, melhoria
da leitura, e interpretação de textos além de sentir-se mais segura e
confiante.
Para a professora, fazer com que as crianças desenvolvam habilidades
muitas vezes esquecidas por ela mesma faz com que se sinta orgulhosa em
34
trabalhar com as oficinas do TAM, a mesma valoriza essa prática pedagógica e
acredita que se deva manter por muito tempo. Segundo a mesma, as ações
pedagógicas desenvolvidas são: “Disciplina, limites, leitura, pesquisa, produção de
textos, entre outras”. Ela acredita no teatro como forma de educação a partir do
momento em que a criança amplia seus conhecimentos, e se insere em um mundo
que muitas vezes desconhecido.
A mesma cita pontos importantíssimos para o desenvolvimento das crianças
como forma de educar através do Teatro, o que torna mais importante acreditar
nesse campo educacional. Sobre o Teatro na vida das pessoas a mesma situa que:
As oficinas ministradas no TAM são muito importantes, a inclusão do teatro
na vida das pessoas, as oficinas do TAM fazem parte da cultura local e a
comunidade participa e usufrui de todo o trabalho produzido nas oficinas.
Ela acredita nas oficinas do Teatro Adolpho Mello como uma ferramenta
cultural na vida da comunidade, mantendo cada vez mais viva neste meio de
aprendizagem.
Para a professora Cintya Lents formada em Pedagogia pela Univali:
Trabalhar com crianças sem utilizar os textos de Maria Clara Machado
sendo que é considerada a maior autora de teatro infantil do mundo.
Aponta que é muito importante se trabalhar o teatro com os textos de MCM,
pois são “ricos” e também por se tratar da maior autora de teatro para crianças no
mundo. Ela aponta o desenvolvimento da criança da seguinte forma:
Muitas crianças são levadas ao teatro para desenvolver seu lado tímido, sua
oralidade sua entonação de voz, o que se torna visível com poucos meses
de oficinas.
A mesma deixa claro que as crianças após entrarem nas oficinas
desenvolvem um sensível lado um pouco esquecido o que indica que as oficinas do
TAM são muito válidas para o desenvolvimento artístico-cultural das mesmas.
Cyntia discorre sobre o teatro como forma de educação, observando as diferentes
formas de educar, cita os quatro pilares da educação (UNESCO,1999), os quais
35
apontam que deve-se resgatar a criatividade dos alunos e o teatro é capaz de
realizar essa função.
Podemos citar parte do documento que explicita a resposta da professora:
Aprender para conhecer supõe, antes de tudo, aprender a aprender,
exercitando a atenção, a memória e o pensamento. Desde a infância,
sobretudo nas sociedades dominadas pela imagem televisiva, o jovem deve
aprender a prestar atenção às coisas e às pessoas. A sucessão muito
rápida de informações midiatizadas, o "zapping" tão frequente, prejudicam
de fato o processo de descoberta, que implica duração e aprofundamento
de apreensão. Esta aprendizagem da atenção pode revestir formas diversas
e tirar partido de várias ocasiões da vida (jogos, estágios em empresas,
viagens, trabalhos práticos de ciências...). (UNESCO,1999).
Para finalizar ela defende a continuidade das oficinas com um espaço
[...] destinado para todas as idades. Muitas vezes as peças apresentadas
têm uma qualidade superior á muitas outras companhias profissionais,
enquanto as portas do TAM estiverem abertas a arte será espalhada para
todos.
Nota-se
que
a
professora
valoriza
muito
as
práticas
pedagógicas
desenvolvidas no TAM, assim como as montagens das peças, deixando claro que é
possível se fazer teatro mesmo com poucos recursos.
Percebe-se a necessidade de ressaltar a importância do ensino do teatro não
só em todos os níveis da instrução escolar, mas também em todos os contextos de
ação cultural que façam uso de seu potencial agregador. E para que essa
importância se configure, é preciso reafirmar que o exercício de sua prática
pedagógica quando feito sem cuidado, avaliação, parâmetros e qualidade,
compromete a sobrevivência desta linguagem.
Segundo Pupo (2001, p.182)
[...] É essencial que um processo de ensino do teatro manifeste seu
compromisso com a qualidade da formação dos indivíduos, assumindo sua
responsabilidade para com o potencial artístico de qualquer interessado em
praticar arte.
Além de entrevistar os professores, compreende-se que é importante também
trazer as narrativas dos alunos que participaram das oficinas do TAM, isso porque
nos permite ampliar e aprofundar as discussões sobre como as peças foram
36
significativas, como foi o aproveitamento das oficinas.
Nas entrevistas com os/as alunos/as fiz-se um questionário direcionado
visando analisar o que cada um deles pontuava sobre as contribuições das oficinas.
Encaminhou-se questionários para ex alunos/as, mas apenas três responderam.
Assim, com base nas informações destes, apresentar-se-á algumas contribuições
das oficinas com a obra de MCM para os sujeitos que apreenderam e vivenciaram as
peças de teatro.
Ao serem questionados sobre o que pensam das oficinas, acerca da
importância de se trabalhar com o teatro, cada aluno destacou um olhar bem
particular sobre as mesmas:
Para Thaise Rodrigues: As oficinas são ótimas. O teatro possibilita o
aperfeiçoamento da relação interpessoal, bem
capacidades motoras e aumenta o nível de atenção.
como
desenvolve
Para o aluno Juliano: As oficinas possuem grande significado na vida
pessoal. Além de permitir a interação e convivência, abre diversas
oportunidades para que possamos desenvolver nossos medos, nossas
dificuldades. Isso tudo de maneira agradável. Por isso acredito ser muito
importante essa relação, esse trabalho do teatro na vida das pessoas.
Para a aluna Claudinéia: As oficinas do teatro são ótimas, é uma
oportunidade oferecida aos moradores gratuitamente, com excelentes
professores! E trabalhar com teatro é muitíssimo importante, é mágico, é
uma experiência única!
Todos demonstraram que as oficinas foram significativas, pois seu
crescimento como ser humano se deu em grande parte através do teatro. Esses
relatos mostram que é possível usar o teatro como parte da formação do indivíduo. A
segunda questão visava saber, o que os levou a participar das oficinas.
(Para Thaise) a necessidade de gastar energia.
(Para Juliano) à possibilidade de poder atuar (Para Claudinéia) à dança, na
qual já atuava, e em conjunto com amigos decidimos participar e foi
maravilhoso!
Neste questionamento os três apontam diferentes aspectos que os levaram
às oficinas, porém se encaixam no contexto teatral, pois a dança, a necessidade de
gastar energia e a atuação, são aspectos constituintes das oficinas do TAM.
Seguindo com os questionamentos sobre as oficinas, salientamos as
discussões sobre as obras de Maria Clara Machado, focando na seguinte questão:
37
as oficinas com as obras de Maria Clara Machado foram significativas para seu
desenvolvimento teatral?
(Para Thaise), Sim. Retirar lição/moral de um livro ou peça de teatro foi um
modo mais divertido de aprender.
(Juliano disse que): infelizmente não me recordo de nenhuma peça, com as
obras de Maria Cara Machado. No entanto, assim como outros clássicos
infantis, acredito que as obras da autora são essenciais. Principalmente no
que diz respeito ao teatro com crianças, pois, além de desenvolvê-la, coloca
em contato com uma cultura muito rica.
(Para Claudinéia), foram muito significativas, me ajudaram demais no meu
trabalho dentro das oficinas!
Pela narrativa dos ex-alunos pode-se observar que as obras de MCM, estão
bastante presentes nas oficinas, sendo trabalhadas desde as primeiros turmas há
quinze anos, compreendo que a as obras são de uma relevância significativa para a
construção do indivíduo.
Com base nas oficinas que participaram, questiou-se os ex-alunos se
consideram que seu aprendizado nas oficinas foi bom? Por quê?
(Thaise disse que): Sim, o desenvolvimento corporal e mental através de
atividades lúdicas foi muito válido. A diminuição da timidez é um dos
benefícios das oficinas.
(Claudinéia falou que): Foi muito bom, por que você é uma pessoa antes de
fazer teatro e outra depois, é difícil colocar em palavras, o que eu posso
dizer de verdade é: experimente!
(E para Juliano) Foi bom. Como foi citado anteriormente, me permitiu
trabalhar com alguns medos e dificuldades e me permitiu aprender a
interagir mais adequadamente com as pessoas.
Segundo as respostas, um dos pontos mais valorizados e buscados pelos
alunos que frequentam as oficinas é a perda da timidez, pois quando você está no
palco, atuando em um espetáculo após meses de ensaio,torna-se algo muito
gratificante, e recomenda-se a prática teatral para o desenvolvimento pessoal.
A última questão focalizou a continuação da participação nas oficinas,
questionando-se eles continuaram e/ou continuam a fazer teatro? Por quê?
38
(Thaise destacou que): Um indivíduo é construído aos poucos, caso
continuasse a fazer teatro, talvez, seu desempenho profissional seria ainda
melhor.
(Claudinéia disse que): Sim, continua, por que é sempre bom estar em
contato com velhas e novas experiências, amigos e desafios!
(Juliano falou que) Não. Com os dias corridos há grande dificuldade em aliar
o tempo. Tendo que fazer aquilo que é preciso com aquilo que lhe dá
prazer. Mas sempre que possível, procuro estar envolvido com algumas
peças locais.
Os ex-alunos entrevistados enfatizam a necessidade de continuarem nas
oficinas, pois só assim estariam buscando seu aperfeiçoamento como pessoa e
também no campo profissional. Com os dias corridos e as dificuldades de horários,
alguns não tem a oportunidade de frequentarem mais as oficinas, mas sempre que
possível,fazem-se presentes para prestigiar ou até estarem por trás das cortinas,
pois quem uma vez é encantado com a mágica do TAM, jamais conseguirá
abandoná-lo.
Ao longo da pesquisa com professores e alunos percebeu-se a importância e
a valorização que estes apontam para as oficinas em suas vidas. Por parte dos
professores, ficou evidente o quanto as obras de MCM são objeto de análise, pois as
utilizam como um dos recursos para aprofundar a questão da pedagogia do teatro,
enfocando o quanto há de crescimento intelectual, artístico e humano na utilização
dos textos de MCM.
Os alunos ressaltaram as mudanças no comportamento em relação ao teatro.
A oportunidade de fazerem parte de um grupo que frequenta as oficinas contribuiu
de várias maneiras para sua aprendizagem, seja na escola, seja na vida.
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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Analizar as oficinas do Theatro Adolpho Mello, para realizar esse trabalho de
conclusão de curso, para mim foi algo que me realizou profundamente, intelectual e
pessoalmente, pois pude pesquisar sobre um lugar mágico que encanta tantas
pessoas ao longo de 156 anos. Assim, manter vivo esse espaço é uma tarefa que
envolve a população e o governo municipal. Pude perceber a influência deste
espaço para a sociedade josefense.
Por isso, busquei, através da pesquisa, aprofundar a relação teatro-criança,
para saber se é possível uma educação integrada utilizando o teatro como uma
ferramenta para seu desenvolvimento pessoal, social e cultural. Uma vez que, como
um espaço cultural, seria importante dialogar com um grupo que mais vivencia o
valor da imaginação, ou seja, as crianças que frequentam as oficinas.
Através da problemática apresentada no início, acredito ter atingido meus
objetivos para com esse trabalho, pois a discussão proposta por meio da análise de
questionários realizados junto aos professores, conseguiu esclarecer as minhas
inquietações acerca do projeto inicial, as oficinas realizadas no TAM.
Percebi que as oficinas têm uma dinâmica de existência e que as obras de
MCM contribuem significativamente para esse espaço de construção do teatro. As
oficinas marcaram muito minha vida, pois tenho orgulho de ter feito parte de uma
das primeiras turmas, quando ainda não se acreditava neste projeto que é
desenvolvido e levado a sério há tanto tempo.
Apesar das oficinas não serem para fins profissionais, talentos são
descobertos a cada ano naquele palco e a continuidade do trabalho é essencial para
o desenvolvimento pessoal de cada um. Através das entrevistas realizadas, pude
perceber a importância do teatro como forma de educar, pois as professoras que lá
ministram aulas diariamente observam o crescimento de cada aluno ao longo do
ano, ex-alunos também se mostraram satisfeitos em fazer parte dessa escola de
artes.
As narrativas das professoras apontaram para o entendimento de que as
peças de MCM são de fundamental importância na ação teatral. Cada uma trouxe
seu olhar sobre o que significam as oficinas, o que nos encaminha para a
valorização não só do espaço do teatro, mas das ações pedagógicas desenvolvidas.
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Já as narrativas dos ex-alunos mostraram o quanto avançaram em vários
segmentos de suas vidas com a experiência do teatro. A inserção, valorização,
exibição se configuraram como elementos formadores de novas identidades para
esses sujeitos.
Esse trabalho visa deixar um material para a comunidade, uma vez que
muitos não sabem da existência das oficinas que são gratuitas e abertas a toda
população. Acho de suma importância que todos que tenham a oportunidade de um
dia frequentar esse espaço mágico, seja no papel de estudante ou apenas plateia,e
faça pois as portas do TAM continuaram abertas sempre que existirem pessoas com
desejo de vivenciar a arte teatral.
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TASCA, Eduardo. As oficinas no Theatro Adolpho Mello