E d u c a ç ã o M a t e má t i c a e m R e v i s t a Página 38 Artigo Teórico Vídeo na Sala de Aula de Matemática: Que Possibilidades? Rúbia Barcelos Amaral6 Resumo O presente trabalho visa analisar parte dos resultados de uma pesquisa que investigou as possibilidades do uso de diferentes mídias na sala de aula. Tal análise foi baseada nas discussões que aconteceram em um curso de formação continuada de professores, “Matemática Multimídia”, que debateu sobre os recursos produzidos pelo Projeto M 3 (áudios, softwares, vídeos e experimentos). Neste texto, o foco das reflexões é acerca da utilização de vídeos. Desse modo, serão discutidas questões do tipo “Como usar vídeos na sala de aula?” A partir dos debates no curso e da experiência que os professores vivenciaram em suas aulas, identifiquei três aspectos em destaque. Um deles se refere à utilização do vídeo como material informativo, ou com foco na formação de um conceito matemático; outro se refere à forma de usá-lo, se como introdução de um conceito ou como aplicação deste; e, por fim, os vídeos foram analisados como material didático, considerando a necessidade de integrá-lo a outros recursos presentes na sala de aula. Vale ressaltar que estas são perspectivas que permeiam a prática docente e que, embora não seja preciso escolher “uma” opção como correta, por exemplo, usar o vídeo sempre como introdução, estas decisões são parte da escolha que o professor deve fazer ao preparar uma aula com uso deste recurso. Palavras-chave: Vídeo; Mídias; Educação Matemática. Introdução tware e Experimento), em formato digital. 1. Origem da pesquisa Em particular, o Projeto M³ está focado na A presente pesquisa nasceu do Pro- área de Matemática. jeto M3 - Matemática Multimídia, desen- Esse projeto é composto de uma volvido em nível nacional, no Brasil. O equipe de professores e estudantes dos Governo Federal financiou a elaboração Institutos de Matemática, Física, Artes, de material didático para o Ensino Médio Computação e Faculdade de Educação da em cinco disciplinas (Matemática, Língua Unicamp, além de diversos profissionais Portuguesa, Física, Química e Biologia), externos, que tiveram o desafio de produ- em diferentes mídias (Vídeo, Áudio, Sof- zir material didático de qualidade e com- 6 Professora do Departamento de Matemática e do Programa de Pós-Graduação em Educação Matemática da UNESP, Campus de Rio Claro. E-mail: [email protected] SOCIEDADE BRASILEIRA DE EDUCAÇÃO MATEMÁTICA E d u c a ç ã o M a t e má t i c a e m R e v i s t a Página 39 VÍDEO NA SALA DE AULA DE MATEMÁTICA: QUE POSSIBILIDADES? patíveis com a realidade educacional bra- 2. Pesquisas sobre o uso de vídeos sileira. Todos os recursos educacionais A produção de vídeo para uso na produzidos estão disponibilizados no site Educação não é recente. Iniciativas parti- www.m3.mat.br para livre utilização dos culares e públicas já foram realizadas nes- professores. Foram produzidas quase 400 se sentido, e há estudos realizados sobre mídias, sendo 180 vídeos, com base em essas práticas. De modo amplo, conside- diversos conceitos do currículo de Mate- rando vídeos de maneira geral, como fil- mática do Ensino Médio. Todos os vídeos me, documentário, produções de alunos acompanham um “Guia do professor”, que etc., Moran (1995) aborda diferentes pos- traz sugestões sobre seu uso e também o sibilidades para o uso desse material na aprofundamento do conceito matemático sala de aula. Ele traz propostas de utiliza- explorado, dando suporte ao professor. ção, como “simulação” (para simular uma No entanto, sabemos que apenas experiência química perigosa, por exem- disponibilizar recursos para os professores plo), “conteúdo de ensino” (para mostrar não é o suficiente para que estes sejam determinado assunto), entre outras. Apon- efetivamente utilizados. Com o objetivo ta também usos inadequados, como “tapa- de familiarizar professores de Matemática buraco”, num dia em que o professor fal- com esses recursos e discutir acerca de tou, por exemplo, o qual considera que os suas possibilidades e limitações, estruturei alunos acabam associando o vídeo a não um curso, denominado “Matemática Mul- ter aula; ou “vídeo-enrolação”, quando o timídia”. O curso foi o espaço para ricas vídeo não tem relação com o conteúdo discussões acerca do uso das mídias no estudado. ensino de Matemática, e de troca entre os Atualmente, os vídeos disponíveis pares. Nesse cenário, desenvolvi uma pes- na internet de pequenos recortes de aulas quisa cujo foco era analisar as possibilida- são os mais procurados pelos alunos, que des do uso das mídias, especialmente as os assistem quando têm alguma dúvida que foram produzidas pelo Projeto M3, na conceitual. Vídeos dessa natureza também sala de aula. Nesse texto vou centrar-me têm ganhado espaço no âmbito da Educa- na análise feita durante o curso referente ção a Distância, como ressaltam Schneider aos vídeos. Quais as possibilidades para o e Ribeiro (2013). Nessa direção, Dallacos- uso de vídeos na aula de Matemática? ta (2007) fez uma análise de vídeos digitais indexados e seus resultados indicam SOCIEDADE BRASILEIRA DE EDUCAÇÃO MATEMÁTICA E d u c a ç ã o M a t e má t i c a e m R e v i s t a Página 40 VÍDEO NA SALA DE AULA DE MATEMÁTICA: QUE POSSIBILIDADES? que os usos pedagógicos desses recursos que "é claro, a partir de comentários dos podem modificar o planejamento pedagó- alunos, que o vídeo deve ser usado com gico do professor. mais frequência nos processos de ensino e No âmbito da Educação Matemáti- aprendizagem da Matemática”. ca, mais especificamente, há alguns traba- Todas essas referências apontam lhos que se referem ao uso na formação para as potencialidades (e limitações) do (inicial ou continuada) de professores, co- uso de vídeo na Educação, desde a forma- mo Star e Strickland (2008), Sherin ção de professores até a sala de aula. No (2004), Abell e Cennamo (2004), Sherin e entanto, ainda que seja uma mídia presen- Han (2004), Friel e Carboni (2000) e van te na escola há décadas, o que se percebe é Es e Sherin (2002). que seu uso ainda não é frequente. Ou, No âmbito da sala de aula, More ainda, que “a exploração do vídeo pelas (1993) fez um bom resumo sobre o lugar escolas como ferramenta motivacional não do vídeo no âmbito do ensino de Matemá- é nova, no entanto, existe um mau uso tica e Estatística, apresentando também desta produção imagética” (SERAFIM; um desenvolvimento histórico do tema. Já SOUSA, 2011, p. 29). Serafim e Sousa (2011, p. 29) ressaltam Diante desse fato, pode-se afirmar que o vídeo “pode ser utilizado em um que os vídeos constituem um recurso que ambiente interativo de forma a potenciali- ainda pode ser explorado. E, com esse ob- zar expressão e comunicação, pode propor jetivo, procurei analisar como essa mídia uma ação pedagógica que motiva a apren- pode ser usada na aula de Matemática, to- dizagem”, e Wood e Petocz (1999) argu- mando como base as leituras supracitadas mentam como o vídeo é capaz de motivar e as discussões geradas no curso. a aprendizagem e levar à mudança de atitudes; e Lunn e Jaworski (1994) discutem 3. Metodologia os pontos fortes e fracos de vídeo como Como descrito previamente, na um meio para o ensino e aprendizagem. pesquisa aqui apresentada analisei as pos- Eles ressaltam que o vídeo é particular- sibilidades de utilização do vídeo na sala mente bom em trazer a realidade para a de aula, de modo a disseminar suas poten- sala de aula e em mostrar os detalhes visu- cialidades. Para tanto, embasei-me no cur- ais de um processo que utilize gráficos. so “Matemática Multimídia”, realizado na Wood e Petocz (1999, p. 227) acrescentam Unicamp, em 2011, e desenvolvido para SOCIEDADE BRASILEIRA DE EDUCAÇÃO MATEMÁTICA E d u c a ç ã o M a t e má t i c a e m R e v i s t a Página 41 VÍDEO NA SALA DE AULA DE MATEMÁTICA: QUE POSSIBILIDADES? professores, sendo espaço de discussões ções do seu uso na sala de aula. Entre es- sobre o uso de vídeo na sala de aula e de ses encontros se mantinha a troca de ideias compartilhamento das experiências práti- e experiências, pois havia um ambiente on cas com esse recurso. -line em que eram postadas atividades pa- A pesquisa foi desenvolvida segundo uma abordagem qualitativa. Como ra serem desenvolvidas e questões para debate no fórum. afirmam Bogdan e Biklen (1994, p. 209), Observo que, como aponta Lévy os estudos dessa natureza “devem revelar (1997), a tecnologia informática vem reor- maior preocupação pelo processo e signi- ganizar a escrita e a oralidade. Com essa ficado e não pelas suas causas e efeitos”. mídia, o registro das interações (escritas E, nesse sentido, o interesse estava centra- ou orais) pode acontecer mais facilmente. do na análise das potencialidades do uso Todas as atividades e discussões fomenta- do vídeo na aula de Matemática, e não em das no ambiente on-line ficaram registra- seus resultados ou produtos, o que con- das e arquivadas automaticamente, e para templa uma das características centrais da arquivar também as discussões dos encon- pesquisa qualitativa, de acordo com Den- tros presenciais, esses foram zin e Lincoln (2000). gravados. vídeo- Esclareço que o curso “Matemática Com base nesses encontros e inte- Multimídia” contou com a participação de rações on-line, realizei a análise dos ví- 20 professores, que lecionavam desde as deos do Projeto M3. O roteiro foi baseado séries iniciais do Ensino Fundamental ao em quatro grupos, considerados como ca- Ensino Médio. Era uma turma bastante tegorias: vídeos históricos; vídeos que heterogênea e isso permitia a análise dos contêm um problema do cotidiano, vídeos materiais, ainda que primordialmente ela- que apresentam profissões, e vídeos de borados para o Ensino Médio, sob a pers- conteúdo essencialmente matemático. pectiva de classes de diferentes idades. E a partir desse conjunto de vídeos, O curso tinha carga horária de 60h, eu defini a pergunta que norteia essa pes- sendo 30h presenciais e 30h a distância. quisa: “Como usar esses vídeos em sala de Durante cinco sábados, nos encontramos aula?” Para buscar essa resposta, elaborei para conhecer alguns materiais, estudar ainda mais dois questionamentos: “Há di- conceitos matemáticos que os embasavam ferença no uso de acordo com as categori- e discutir sobre potencialidades e limita- as?”, “Como os alunos podem aprender SOCIEDADE BRASILEIRA DE EDUCAÇÃO MATEMÁTICA E d u c a ç ã o M a t e má t i c a e m R e v i s t a Página 42 VÍDEO NA SALA DE AULA DE MATEMÁTICA: QUE POSSIBILIDADES? Matemática a partir do uso desses ví- perspectivas de uso. Analisar esse aspecto deos?”. é parte do processo de entender a concepção teórica que fundamentou a elaboração 4. Vídeos na sala de aula do material. Os vídeos de categoria Com base no percurso descrito, “profissões” do Projeto M3 são certamente uma análise sobre o uso do vídeo na aula de natureza informativa. A intenção é de Matemática foi realizada, a qual discu- apresentar aos alunos diversos profissio- to nesse artigo. Considero que é preciso nais compartilhando as possibilidades de avançar nos aspectos já apresentados pela trabalho na sua área de atuação. literatura. Moran (1995) já nos elucida Analisamos coletivamente que os com alguns direcionamentos práticos so- vídeos de categoria “histórica” também bre o uso de vídeo na sala de aula como, são, em sua maioria, informativos. Neste por exemplo, usá-lo para simular o cresci- caso, a contribuição é resgatar aspectos mento de uma planta, que levaria meses históricos da construção de algum concei- para ser acompanhado de modo real, ou to matemático, que muitas vezes não estu- seja, em experiências que não são possí- damos nas aulas, e apresentá-lo com o uso veis de realizar na sala de aula. de uma mídia diferente da tradicional nar- Essas, entre outras sugestões, já rativa. estão presentes em textos como aqueles Já com relação aos vídeos das cate- citados nesse trabalho. Procurei, então, gorias “problemas cotidianos” e “conteúdo contribuir com novas reflexões. Para tan- matemático”, nós analisamos também que to, identifiquei três eixos de análise. estes sozinhos poderiam se enquadrar em informativos, mas que são propícios a tor- 4.1 Formativo ou informativo? Uma das questões que proponho ná-los, pela mediação do professor, em vídeos formativos. para reflexão é analisar o vídeo como Seguramente que a atuação do pro- meio de informação (portanto uma mídia fessor sempre pode contribuir para a “informativa”), ou como um caminho para aprendizagem dos alunos. O que nos cha- a formação de um conceito (“formativo”). ma a atenção nesses vídeos é o fato de que Certamente que para formar é preciso tam- neles aparecem discussões matemáticas. bém informar, mas a diferença aqui pro- Especialmente aqueles embasados em pro- posta está no foco de cada uma dessas blemas cotidianos, há sempre uma resolu- SOCIEDADE BRASILEIRA DE EDUCAÇÃO MATEMÁTICA E d u c a ç ã o M a t e má t i c a e m R e v i s t a Página 43 VÍDEO NA SALA DE AULA DE MATEMÁTICA: QUE POSSIBILIDADES? ção matemática para solucionar o proble- los. Duas são as possibilidades principais: ma em questão. Apenas assisti-los faz do usá-lo como forma de introduzir um con- vídeo uma mídia informativa. Mas a partir teúdo ou como forma de mostrar uma apli- deles é possível resgatar os problemas cação de um conteúdo previamente estu- com os alunos e retomar a solução mate- dado em aula. mática, ampliando-a. Muitos dos vídeos Quando o vídeo é usado para intro- apresentam soluções não muito simples de duzir um conceito, o aluno assiste a uma acompanhar na tela, em poucos minutos. discussão nova, que é aprofundada no de- Ampliar a resolução matemática do pro- correr da aula, tornando o vídeo o incenti- blema é um caminho para aprofundar con- vador das discussões matemáticas e moti- ceitos matemáticos na sala de aula, trans- vador para novos conceitos. Assim como formando a iniciativa do uso do vídeo Moran (1995), Wood e Petocz (1999, p. num processo formativo. E, para isso, as 224) consideram que o vídeo “é melhor diferentes sugestões de dinâmica de análi- usado para introduzir e motivar um tópico, se propostas por Moran (1995) podem ser para iniciar uma discussão, apresentar uma usadas, envolvendo os alunos nesse pro- situação para análise, a introdução de uma cesso formativo, solicitando-lhes um papel simulação ou para resumir um tópico”. Outra opção é iniciar a aula como ativo. Saliento que não se deve procurar normalmente o professor faz, abordando definir qual das duas opções é melhor. um determinado conteúdo, apresentando Ambas têm contribuições para o ensino da exemplos, exercícios etc. Como fecha- Matemática, apenas com objetivos dife- mento da aula, depois que os alunos já têm rentes. Estar consciente disso é parte do domínio do conceito em questão, um ví- processo de aprendizagem do professor deo pode ser apresentado como aplicação quanto à escolha e à forma de utilizar o desse conteúdo estudado. Neste caso, os vídeo em suas aulas. alunos conseguem acompanhar mais facilmente a resolução dos problemas e assistir 4.2 Introdução de conteúdo ou aplicação de conceito? Outro aspecto que analisamos no âmbito do ensino de Matemática com uso de vídeos refere-se ao momento de utilizá- uma segunda vez o vídeo, com pausas, só é necessário no caso das contas muito longas, para que os alunos possam conferilas, ou acompanhá-las passo a passo. Novamente vale observar que não SOCIEDADE BRASILEIRA DE EDUCAÇÃO MATEMÁTICA E d u c a ç ã o M a t e má t i c a e m R e v i s t a Página 44 VÍDEO NA SALA DE AULA DE MATEMÁTICA: QUE POSSIBILIDADES? se deve considerar que existe um caminho tendeu dessa nova função – logarítmica – certo e outro errado de utilizar os vídeos. que o vídeo nos apresentou?). Chega então São opções que o professor deve fazer ao o momento de aprofundar o conteúdo. O preparar sua aula e ter consciência de que vídeo é passado novamente, mas agora o cada escolha tem objetivo diferente. Nada professor vai parando, a cada passagem impede que o professor alterne o modo de (ou conjunto delas) para discutir com os utilização, ou tome como mais convenien- alunos. É a hora de aproveitar as soluções te uma das alternativas, de acordo com o apresentadas no vídeo como início para a ritmo da classe em que leciona. Pode, ain- explicação do conceito a ser estudado na da, considerar que para determinado tema aula. Assim, há uma relação entre a mídia uma estratégia é mais conveniente, ou que usada e o conteúdo explorado em aula. o vídeo para o tema em estudo seja mais Como apresentado, não é preciso adequado para ser usado como introdução que o professor escolha uma das opções ou aplicação. Também uma categoria de como “a” correta, e sim optar, quando da vídeo pode ser mais sugestiva, como o ca- utilização, pela maneira em que mais se so da “histórica”, que tende a ser assistida sente seguro, ou que acredita ser mais ade- no início da aula, como forma de apresen- quada para sua realidade, ou ainda mais tar a origem do conceito a ser estudado. pertinente para um determinado conceito. O que os professores participantes Também podem ser programadas outras da pesquisa gostaram de fazer em suas formas de usar os vídeos. Essas foram as aulas, duas principais maneiras estruturadas pe- e que (especialmente mais para recomendaram as categorias los professores que analisaram o material “problemas cotidianos” e “conteúdo mate- durante o curso em que se baseou essa mático”) é iniciar a aula assistindo todo o pesquisa. vídeo (com 10 min de duração média). Depois, fazer questionamentos 4.3 Vídeo como material pedagógico (previamente preparados) sobre os conteú- Uma análise também realizada pe- dos matemáticos discutidos, fomentando a los professores participantes da pesquisa curiosidade do aluno (por exemplo: que se refere a usar o vídeo como material di- função é essa que o ator usou para resolver dático. Observo que este eixo de análise esse problema? Você já estudou função está intrínseco aos demais: ao escolher o exponencial, pode me explicar o que en- uso como introdução ou aplicação, por SOCIEDADE BRASILEIRA DE EDUCAÇÃO MATEMÁTICA E d u c a ç ã o M a t e má t i c a e m R e v i s t a Página 45 VÍDEO NA SALA DE AULA DE MATEMÁTICA: QUE POSSIBILIDADES? exemplo, não está deixando de considerá- dia) na sala de aula. Superar essas dificul- lo como material pedagógico. Neste eixo, dades práticas e enfrentar o desafio de in- o que faço é focar na perspectiva dos pro- tegrar as diferentes mídias é um aprendi- fessores acerca do uso de vídeo como ma- zado importante, não só para o professor, terial didático, apresentando especificida- mas para toda a comunidade da escola. des sob esse olhar. Isso porque são muitos Além disso, alguns materiais po- os recursos disponíveis para o professor, dem não ser considerados positivos por bem como metodologias de ensino. Pode- todos os professores. E se não o vê como se exemplificar com os softwares educaci- uma opção para contribuir às suas aulas, o onais (para explorar diversos temas, como professor prefere não utilizá-lo. A equipe funções, geometria etc.) e modelagem ma- do Projeto M3 já escutou algumas críticas temática, respectivamente. E saber lidar ao material, e não apenas elogios. Um dos com essa diversidade é um desafio contí- vídeos, por exemplo, mostra uma costurei- nuo para o professor. A própria coleção de ra conversando com um organizador de materiais do Projeto M3 oferece mídias de um evento, que lhe explica, por telefone, naturezas diferentes (lembrando: vídeos, como encontrar o preço mais adequado softwares, áudios e experimentos). Livros para o ingresso de uma “roda de samba”, a didáticos também estão presentes em to- partir da solução de equações de segundo das as escolas públicas brasileiras. Cada grau. Não é natural que uma pessoa enten- um desses recursos traz suas contribuições da e acompanhe uma solução desse tipo de para os processos de ensino e aprendiza- equação simplesmente ouvindo uma expli- gem. cação oral. Mesmo nós, professores de Nesse cenário, os vídeos acabam Matemática, que estamos mais habituados sendo uma opção pouco utilizada. Algu- a resolver estas e outras equações, não o mas razões que podem justificar esse fato fazemos oralmente, especialmente longe foram apontadas pelos professores, como fisicamente do interlocutor. Mas este mes- a falta de preparo para saber integrar os mo vídeo recebeu elogios de outra equipe vídeos aos demais recursos; e a dificulda- de trabalho que o analisou, por considerar de que ainda existe (ao menos em grande o problema interessante e realmente próxi- parte do Brasil) em deslocar os alunos pa- mo de situações cotidianas, além de bem ra uma sala de vídeo, ou instalar os recur- apresentado, num vídeo agradável de as- sos necessários (como projetor multimí- sistir (é interessante observar que no vídeo SOCIEDADE BRASILEIRA DE EDUCAÇÃO MATEMÁTICA E d u c a ç ã o M a t e má t i c a e m R e v i s t a Página 46 VÍDEO NA SALA DE AULA DE MATEMÁTICA: QUE POSSIBILIDADES? a resolução é escrita, à medida que os dois momento de usar o vídeo na aula? Ao se- personagens conversam. Então, para o es- lecionar um vídeo é preciso decidir se este pectador, é possível acompanhar a resolu- será usado no início da aula, para instigar ção do problema). os alunos à curiosidade por algum concei- Essas discordâncias são frutíferas e naturais. Cada professor tem seu ponto de to, ou no final, como forma de ilustrar um conceito explorado no decorrer da aula. vista quanto ao material pedagógico que Não obstante, o terceiro aspecto dispõe. Ademais, são opiniões que não se chama a atenção para o fato de que os ví- generalizam. As pessoas que não gostaram deos podem ser considerados como outros do vídeo citado podem gostar de outros, recursos, um material pedagógico. Dessa fazendo uso dessa mídia. Não obstante, o forma, foi destacado que é preciso consi- fundamental é que sejam disponibilizadas derá-lo como parte do cenário da sala de opções de escolha, e que os professores aula, e refletir sobre como integrá-los aos possam fazer uso de variados recursos em demais recursos existentes, como livro suas aulas. É nessa direção que o material didático, computador etc. Além disso, do Projeto M3, entre outros, visa contribuir também nos leva a pensar essa integração para a prática docente dos professores de frente às diferentes metodologias de ensi- Matemática. no: “Como o uso de modelagem pode acontecer com uso de vídeo?”, por exem- 5. Considerações finais plo. Neste texto procurei avançar nas Certamente, as questões abordadas discussões acerca do uso de vídeo na sala nesse texto não se findam nele e estão de aula de Matemática. Para tanto, busquei abertas para contínuos debates. destacar três aspectos. O primeiro deles nos leva a refletir sobre o tipo de trabalho Referências Bibliográficas que se deseja realizar a partir do vídeo, ou seja, a perspectiva é fazer do vídeo um instrumento de informação ou uma ferramenta para iniciar um processo de formação de algum conteúdo matemático? Além dessas opções, convido os leitores a refletir também sobre outra escolha: qual o ABELL, S. K.; CENNAMO, K. S. Videocases in elementary science teacher preparations. In: BROPHY, J. (Ed.). Using video in teacher education. Amsterdam: Elsevier Science, 2004. p.103-129. BOGDAN, R. C.; BIKLEN, S. K. Investigação qualitativa em educação. Por to: Porto Editora, 1994. SOCIEDADE BRASILEIRA DE EDUCAÇÃO MATEMÁTICA E d u c a ç ã o M a t e má t i c a e m R e v i s t a Página 47 VÍDEO NA SALA DE AULA DE MATEMÁTICA: QUE POSSIBILIDADES? DALLACOSTA, A. Os usos pedagógicos dos vídeos digitais indexados. Tese (Doutorado em Informática na Educação). Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, 2007. 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