BAURU, domingo, 7 de junho de 2015 13 Aceituno Jr SAÚDE EM RISCO Wellington Oliveira, Willian Severino, Daiane Cristina, Danilo Costa e Fabrício Velasco não abrem mão de ouvir celular com fone de ouvido Eles adoram o fone de ouvido Ouvir música do telefone celular diretamente ‘ao pé do ouvido’ virou mania entre os jovens, que admitem excessos, mas minimizam os riscos NÉLSON GONÇALVES E les não desgrudam do telefone celular. O aparelho, além de ser objeto de “primeira necessidade” no dia a dia, também não “anda sozinho”. O uso está associado, inevitavelmente, ao fone de ouvido. É assim que milhares de jovens se distraem ou curtem som. O comportamento “liberado” também está presente na frente do notebook. Eles confirmam que ficam “largados” na frente da tela por horas. No caso do computador, os jovens até apontam desconfortos, como o olho ressecado ou dores nas costas ou na cabeça após longos períodos de uso contínuo. Mas o hábito de ouvir som em volume elevado, entre- tanto, não gera sensação de incômodo entre os usuários, o que é mais preocupante. Natália Nunes de Almeida, 27 anos, conta que ouve som ao celular com fone de ouvido todo dia. “Eu gosto de ouvir alto e em geral à noite. Eu baixo músicas ou ouço rádio via celular. A maioria dos meus amigos também ouve. Eu sei que faz mal ouvir alto, mas não deixo de ouvir alto por isso. Até agora não percebi nenhuma alteração e meus amigos não falam disso também”, diz. Danilo Costa Rodrigues Torres, 21 anos, diz que cur- te “o som bem alto no retorno ou ida para o trabalho, no ônibus coletivo. Distrai e não fico ouvindo conversa furada dos outros”, comenta, com humor. “Eu não esquento não com os prejuízos ao ouvido. Nunca conversei disso também com meus amigos e não percebo isso”, completa. Wellington Luiz de Oliveira Pereira, 18 anos, também ouve “todo dia no buzão”. “Eu na verdade ouço o máximo de tempo que posso. É mais emocionante. Quando eu tiro o aparelho para conversar, aí sim per- Consequências da má utilização do computador Alex Mita O hábito de ficar horas na frente de um computador tem algumas consequências e cuidados que precisam ser levados em conta pelo usuário. A lubrificação dos olhos, o chamado filme lacrimal segundo os oftalmologistas, tem grande chance de ser afetada pelo uso contínuo e por longos períodos. Segundo o oftalmologista Raul Gonçalves de Paula, é comum a alteração na lubrificação. “Quem fica em frente ao computador pisca menos e, por isso, o olho costuma arder mais. Em locais com ar condicionado esse olho resseca ainda mais. Com o tempo, associado ou não a outros fatores pelo tipo de uso, esse usuário começa a ter, por exemplo, dor de cabeça”, adverte o médico. Raul Gonçalves explica outras correlações a partir do uso em função de novas tecnologias. “Para um agri- Raul aponta a redução da lubrificação dos olhos, que ardem cultor que capina a roça, por exemplo, meio grau de astigmatismo não significa nada. Mas para quem trabalha ou usa um notebook muitas horas todo dia isso faz com que o usuário force para buscar nitidez na imagem. A exposição por muito tempo com esse esforço costuma dar dor de cabeça”, conta. Outra questão é a insuficiência de convergência. “O usuário que tem essa dificuldade costuma forçar o uso da visão mais do que outros, para que não aconteça a troca da linha na imagem na tela. Esse esforço também traz prejuízos e dor de cabeça”, menciona Gonçalves. A postura do usuário diante do computador de mesa ou notebook também tem de ser levada em conta. “A ergonomia tem de ser associada aos casos que comentamos de lubrificação e insuficiência de convergência. É fundamental que o usuário informe sua rotina de uso do equipamento ao seu oftalmo, para que ele possa determinar a situação mais adequada. Pode ser que seja necessário prescrever uma lente para uma situação que, em outro tipo de uso, não seria necessária”, cita. Para minimizar os efeitos, o usuário tem de combinar conscientização com educação para o uso. “Ergonomia é muito importante. A tela tem de estar na altura dos olhos, inclinada 10 graus para frente, o cotovelo tem de estar posicionado na mesma altura do teclado e os pés devem ficar no chão, com os joelhos em posição de 90 graus em relação à cadeira. Esses detalhes fazem a diferença para não forçar a musculatura, por exemplo, do pescoço”. A doutora Andréa Cintra Lopes, professora associada da Faculdade de Odontologia de Bauru, associa os riscos à perda de audição ao número de horas de uso dos fones auriculares ou intensidade. “A quantidade de intensidade sonora bem como o tempo que se fica exposto a eles são fatores determinantes da capacidade de prejudicar a audição”, menciona. A questão é que no Brasil a desinformação é latente, o que amplifica a possibilidade de danos. “Algumas pesquisas identificam o conhecimento da população acerca de deficiência auditiva. E há desconhecimento [ [ Riscos estão ligados a horas de uso e intensidade de grande parte da população quanto a fatores de risco, como identificar, e como cuidar da audição”, adverte Lopes. A docente informa que a perda auditiva induzida por música (PAIM) tem as mesmas características da perda auditiva induzida por ruído, ou seja, “um entalhe nas frequências de 4.000 Hz a 6.000 Hz, irreversível, podendo ou não progredir proporcionalmente se a exposição não for cessada”. Entre perda auditiva por música e por ruído, Andréa Cintra esclarece que a única diferença é no conceito. “Isso porque o ruído é definido como um som inde- 35% dos problemas auditivos no Brasil são atribuídos à exposição a sons muito altos sejado e a música como algo prazeroso”, conceitua. Outro ponto. A exposição a níveis de ruído de 100 dB NPS somente é permitida uma hora por dia. “Ficar exposto à música durante duas horas e meia excede os limites seguros para a audição humana, e de acordo com Novak (2005), o uso de fones hoje é muito diferente do que víamos no passado. Aparelhos de CD e MP3, em especial o iPod, seriam os principais responsáveis pela perda de audição”, menciona. A pesquisadora revela que o autor investigou estudantes universitários e descobriu que o uso de fones se estende por grande parte do dia, o que provocou o fenômeno dos “ouvidos velhos em corpos jovens”. “Ou seja, o dano na audição está cada vez mais precoce”, complementa. cebo a diferença no volume, mas isso ainda não me preocupa”, comenta. Wellington também informa que se esquece da postura à frente do computador. “Já senti o olho ressecado depois de horas no computador. Arde os olhos. Quando acontece isso eu levanto ou pouco para dar um tempo e volto. O problema é que fico largado, sem posição na frente do computador também”, explica. Willian Felipe Severino, 18 anos, também aponta que a música com fone no ônibus coletivo relaxa. “Eu tenho preocupação com o volume e procuro pôr em um volume que as pessoas não ouçam. Mas quando tem muito barulho eu também aumento o volume. E aí eu sinto a diferença quando paro de ouvir, mas nunca parei pra pensar nos prejuízos ao ouvido”, cita. No notebook, Willian conta que perde a noção de postura. “Uso o computador de todo jeito. Ele já caiu na minha cara, porque eu dormi com ele perto. Quando uso muito tempo a vista parece que fica cansada. Parece que o olho fica meio ressecado”, confessa. Alertas de perda auditiva zDificuldade para escutar em reuniões familiares, salas de concerto, teatro, trabalho; zDificuldade para escutar a televisão e/ou telefone; zDificuldade para entender a conversação em um grupo de pessoas; zPedir aos outros que repitam as falas; zVirar a cabeça de lado, direcionando-a para os sons ou para quem fala; zElevar o volume da TV, rádio ou equipamento de som; zEvitar reuniões sociais; zFingir entender a mensagem recebida.