Precipitação, Coagulação e Floculação 13 de Março de 2007 1de30 Natureza das Impurezas na Água • As dimensões das impurezas nas águas podem variar 6 ordens de grandeza entre – iões e moléculas em solução (~1Å = 10-10 m) – partículas em suspensão (até dimensões da ordem de 0,1mm = 10-4 m). • Estas partículas em suspensão podem ter características químicas diversas e interessa que sejam eliminadas até um nível compatível com a utilização que se pretende dar à água. • Começa-se por rever alguns aspectos gerais sobre reacções químicas com formação de precipitados. 2de30 Formação de Precipitados Iões núcleos micelas (1000 Å) (1Å) (10 Å) (ou partículas coloidais) Cristalículos (microcristais) Agregados cristalinos Dispersões coloidais Peptização coagulação Precipitados gelatinosos ou floculentos 3de30 Mecanismo de Formação de Dispersões Coloidais • Partículas sólidas com pequenas dimensões (ex. micelas) podem ter iões fixados à superfície. • Essa iões podem estar fixados por processos de adsorção ou por ionização (ácida) de grupos que se encontram na superfície de sólidos. • Nas águas naturais ocorrem muitas vezes partículas de silicatos que, aos pH correntes em águas, estão ionizados ficando as partículas em suspensão com cargas negativas à superfície. 4de30 Formação de Dupla Camada Eléctrica • Esquema para ilustrar a formação da dupla camada eléctrica numa partícula de silicato em suspensão Camada primária com carga negativa Camada de contra-iões onde predominam iões positivos em solução e que permite assegurar a electroneutralidade deste sistema 5de30 Estabilização de Suspensões Coloidais (Dupla Camada Eléctrica) • Como se viu no esquema, à volta de cada partícula existe uma dupla camada eléctrica: – camada primária de iões fixos à superfície das partículas em suspensão. – camada de contra-iões em solução e que vão contrabalançar a carga eléctrica da camada primária. • Atendendo à semelhança de cargas eléctricas que as rodeiam, estas partículas em suspensão vão exercer entre si forças repulsivas que dificultam a sua aproximação e coalescência podendo permanecer assim muito tempo sem precipitar. 6de30 Diagramas de Potenciais: Atractivos e Repulsivos No caso da concentração salina mais baixa pode haver dois mínimos • Nesta figura estão representados os potenciais atractivo (VA) e repulsivo (VR) bem como o resultante (VT) para duas concentrações de sais (CS’>CS). • Se duas partículas chocarem e conseguirem transpor a barreira de potencial poderão coalescer. 7de30 Estabilidade e Classificação de Colóides • A maior parte dos sistemas coloidais são metaestáveis ou instáveis relativamente à situação de separação de fases. • Colóide estável significa que as partículas não vão formar agregados a uma velocidade apreciável. • A formação destes agregados de micelas bem como a velocidade a que se podem formar são aspectos importantes no tratamento de águas. 8de30 Coagulação e Floculação: Terminologia (1 de 2) • As palavras Coagulação e Floculação têm sido muitas vezes usadas em Química como equivalentes para referir a formação de agregados de partículas coloidais. • Convém ver o contexto em que estas palavras são usadas pois há autores que usam estas designações com significado específico diferente como, por exemplo, a coagulação de sangue. • Para conseguir a agregação de micelas, há que proceder de modo a diminuir ou mesmo suprimir as forças repulsivas. • Em tratamentos de águas, o termo Coagulação aplica-se usualmente à desestabilização das partículas coloidais para formação do pequenos agregados designados por coágulos. 9de30 Coagulação e Floculação: Terminologia (2 de 2) • Os coágulos ainda apresentam dificuldades de separação sendo necessário um passo complementar: • A Floculação refere-se ao passo em que as partículas se vão juntar para formar agregados de maiores dimensões que se designam por flocos e que são mais fáceis de separar da fase líquida. • Havendo diversos factores em jogo, é conveniente dispor de ensaios destinados a avaliar os comportamentos das partículas sólidas em suspensão: No “Jar test” há um copo em que se tem um agitador accionado por motor eléctrico (20 a 200rpm) e onde a amostra de água pode ser ensaiada avaliando os efeitos que pode ter a adição de determinado agente químico e em diferentes condições. 10de30 Uso de Agentes Químicos para Desestabilização de Colóides • Pode adicionar-se agentes químicos para contrariar a acção as forças repulsivas que resultam das duplas camadas eléctricas que se formam nas partículas em suspensão na águas. • Deve ter-se em atenção o objectivo em vista que é o tratamento das águas pelo que estes agentes não devem ser contaminantes tóxicos naquilo que se pretende que venha a ser uma água potável. • Há diferentes mecanismos em jogo que podem ser usados para atingir este fim e isso deve ser realizado de modo simples e rápido. 11de30 Mecanismos de Desestabilização de Colóides • Como se discutirá a seguir, os mecanismos em jogo podem ser: 1. “Compressão” da dupla camada eléctrica diminuindo ea espessura da camada de contra-iões. 2. Adsorção de iões para neutralização de carga eléctrica da camada primária. 3. Arrastamento num precipitado volumoso de hidróxido de alumínio ou hidróxido de ferro(III). 4. Uso de polímeros: Adsorção e formação de pontes entre partículas 12de30 Desestabilização de Colóides 13 de Março de 2007 13de30 1) “Compressão” da Dupla Camada • Em ensaios (do tipo “jar test”) são obtidas curvas como as apresentadas na figura e que permitem avaliar o comportamento do sistema: redução da turbidez com o aumento de concentração de electrólito. • Nesta figura vê-se que iões de maior carga são mais efectivos (regra de Shultze-Hardy). • A adição dum electrólito reduz a espessura da camada de contra-iões diminuindo os potenciais repulsivos. Isso permite explicar a desestabilização dos colóides por este mecanismo. 14de30 2) Adsorção e Neutralização de Carga • Uma amina orgânica ao pH da água está na forma de ião alquilamónio e vai ser adsorvida à superfície da partícula sólida neutralizando a carga da camada primária. • Excesso de amina adsorvida vai promover a re-estabilização o colóide pois vai formar-se uma camada primária agora com carga positiva. Embora existam forças de atracção entre os iões positivos e as cargas negatívas da camada primária, nesta fixação de aminas à superfície da partícula sólida, predominam forças de Van der Waals. 15de30 3) Arrastamento num Precipitado • Juntando à água sais de Al(III) ou Fe(III), a valores de pH próximos de 7 formam-se precipitados de hidróxidos dos iões metálicos. • Estes precipitados bastante volumosos permitem o aprisionamento e susequente arrastamento de partículas em suspensão na água. Neste diagrama, deve prestar-se atenção à descida de turvação que ocorre a concentrações altas de Al(III). O efeito observado a concentrações mais baixas será discutido no diapositivo 11. 16de30 Diagramas de Especiação do Al(III) • Figura com fracções de alumínio(III) em diferentes formas. Simbologia é ilustrada com os exemplos das espécies predominantes na solução mais concentrada (0,1m): Al3+ (1,0), Al13(OH)327+ (13,32) e Al(OH)4- (1,4). 17de30 Diagramas de Especiação do Al(III) e Curva de Solubilidade • A cada espécie corresponde uma linha recta devido a que as escalas dos eixos são logarítmicas. A curva que aparece a traço mais grosso corresponde à soma das concentrações: solubilidade do alumínio em equilíbrio com o hidróxido de alumínio sólido. 18de30 Dosagens: Zonas de Sobressaturação • Para assegurar uma precipitação rápida é necessário usar concentrações bastante superiores aos limites de solubilidade e as dosagens de coagulante são apontadas para as zonas de sobressaturação assinaladas na figura. 19de30 Uso de Polímeros com Formação de Pontes entre Partículas em Suspensão • A adição de polímeros à água permite a formação de pontes entre partículas e que resultam da adsorção entre as partículas em suspensão e as moléculas de polímero. • Este polímeros podem ser neutros mas até podem ter carga do mesmo sinal das partículas a precipitar. Verifica-se que um excesso de polímero também vai fazer com que as partículas voltem a ficar em suspensão. Na figura seguinte, estão indicados mecanismos que permitem explicar estes efeitos. 20de30 Uso de Polímeros • Este mecanismo é especialmente útil para a fase de floculação e as reacções 1 e 2 dão uma descrição do mecanismo de actuação destes polímeros. • As outras reacções permitem explicar as possibilidades de resuspensão das partículas de sólido devido a excesso de polímero. 21de30 Coagulação: Condições e Dosagens • A discussão das dosagens óptimas de coagulantes bem como a utilidade de coadjuvantes de precipitação pode ser facilitada mediante um diagrama de coagulação como o que se apresenta na figura seguinte. • No gráfico, estão assinaladas as zonas de coagulação em função de concentração de colóide existente inicialmente na água e concentração de agente coagulante adicionado. 22de30 Dosagem de Coagulante e Concentração de Colóides • Um efeito que tinha sido referido no diapositivo 4 pode observar-se na figura (linha S2 assinalada com seta). • Para concentrações baixas de coagulante, há uma coagulação na zona 2 . O aumento de concentração provoca re-suspensão na zona 3. Na zona 4, há arrastamento pelo precipitado (“sweep floc”). 23de30 Considerações sobre Técnicas e Materiais Utilizados • Pode observar-se na figura que é mais fácil a coagulação para concentrações maiores de colóides o que pode justificar a adição de auxiliares de coagulação como a bentonite ou sílicas activadas nos casos das concentrações baixas de colóide. • Tanto para estes materiais como para os polielectrólitos ou outros agentes químicos utilizados no tratamento de águas tem que haver respeito por normas de segurança para não haver o perigo de introduzir contaminantes tóxicos nas águas para consumo humano. 24de30 Transporte de Partículas (Floculação) 13 e 20 de Março de 2007 25de30 Transporte de Partículas (Floculação) • Agitação térmica das partículas (movimentos brownianos). • Movimentos no seio do fluído (agitação mecânica). • Diferenças de velocidade de descida por acção da gravidade (as partículas mais rápidas podem chocar com as mais lentas). 26de30 Movimentos Brownianos (Floculação pericinética) • Agitação térmica das partículas dN 4 cef kT ( N )2 dt 3 Nº N 1 t / t1 / 2 cef = “collision efficiency factor” = viscosidade 27de30 Agitação do Fluído (Floculação Ortocinética ) (1/2) • Deve ter-se em conta que a velocidade do fluído varia de ponto para ponto e também é variável ao longo do tempo. • A ocorrência de colisões está favorecida porque nem todas as partículas se movem à mesma velocidade. • Um gradiante médio de velocidade ( G ) pode dar conta da existência destas 28de30 diferenças de velocidades do fluído. Agitação do fluído (Floculação ortocinética) (2/2) dN 2 cef G d 3 ( N ) 2 dt 3 N 4 ln cef G t No d0 N0 3 6 V = volume do tanque e p G V = volume ocupado pelas partículas coloidais 29de30 Projecto de Unidades de Floculação • Facilitar contactos entre partículas: G , configuração do tanque e tempo de retenção. • Aglomeração suficiente para ser possível a remoção por sedimentação e/ou filtração. • Considerando valores fixos de G, cef e , fica cinética de 1ª ordem com tempo de retenção total: 1/ m 0 N m m tCMF 0 1 4 cef G N m CMF = ”Completely Mixed Flow reactor” ou CSTR “Continuous Stirred Tank Reactor” 30de30