Aranha é chamado de 'macaco' por
torcida do Grêmio
Publicado em 28/08/2014, 22:09 /
Atualizado em 29/08/2014, 02:38ESPN.com.br
O jogo entre Santos e Grêmio terminou 2 a 0 para o time alvinegro, mas a cena
mais lamentável veio das arquibancadas. O goleiro Aranha, do time paulista, foi
alvo de críticas racistas por parte da torcida atrás do gol onde estava no no
segundo tempo.
Em uma imagem flagrada pela câmera da ESPN Brasil, é possível ver uma
torcedora da equipe tricolor chamando Aranha de "macaco". Além disso, outros
torcedores - inclusive, um negro - imitaram sons de macaco em direção ao atleta.
O gesto revoltou o goleiro do Santos, que, visivelmente chateado, falou sobre o caso
após o apito final.
"O fato de ter uma campanha contra o racismo no telão da outra vez não é à toa. A
torcida xingar e pegar no pé é normal. Mas daí começaram a falar ‘preto fedido',
‘cambada de preto', fiquei nervoso, mas fiquei me segurando. Fizeram rápido e
pouco um coro de macaco, para não dar tempo de pegar. Pedi para o câmera virar e
mostrar, mas ele não fez isso. Fico p.. com essas coisas acontecerem aqui. Mas isso
dói, dói. Não é possível. Vem falar que eu estava insultando a torcida, virei e falei
que eu era preto sim, negão", afirmou o goleiro.
"Como tomar providência? No meio de tanta gente, fica difícil assim. Graças a
muito esforço, tem leis, mas no futebol a gente sabe que o torcedor usa de várias
maneiras para desestabilizar o torcedor. Sou mais experiente agora", falou Aranha.
A assessoria de imprensa do Santos informou que divulgará uma nota no nome de
Aranha sobre o caso.
Na súmula da partida disponível no site da CBF, o árbitro Wilton Pereira Sampaio
não relatou o ocorrido. Ele apenas registrou que foi lançado um rolo de papel
higiênico da torcida em direção ao goleiro santista. Além disso, o juiz registrou as
reclamações de Felipão, que foi expulso na partida.
Questionado sobre o assunto na entrevista coletiva após a partida, o técnico do
Santos, Oswaldo de Oliveira, pediu que a punição seja mais pesada para as pessoas
que cometem atos racistas. "Essa questão do racismo, a gente podia fazer o
seguinte: parar de falar e as autoridades punirem. Tem que ser tratado com mais
rigor tanto a violência como a manifestação racista", disse o treinador.
"Como já falei, a recorrência é um fator que na verdade é abominável. O Arouca
sofreu uma situação dessas no Paulista e não tenho notícia de ter acontecido algo.
Ao mesmo tempo que fala e não tem punição, isso acaba estimulando esse tipo de
atitude", completou.
Pelo lado do Grêmio, o conselheiro Marcos Chitolina, falou que o clube vai tentar
identificar os responsáveis pelos atos racistas. "Nós temos que identificar isso, a
Arena tem condições tecnológicas disso, buscar imagens tecnológicas, o grêmio
não pode se colocar como clube racista. A Arena tem todas as condições de
identificar esse torcedor, e vamos buscar identificar e vamos nos defender dentro
das formas da lei", afirmou.
Mais tarde, já na madrugada desta sexta-feira, o Grêmio divulgou uma nota oficial
repudiando a ação dos torcedores e prometendo uma ação do departamento
jurídico.
Leia a nota oficial do Grêmio na íntegra:
O Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense lamenta e repudia o ato de racismo ocorrido na
noite desta quinta-feira, durante partida realizada pela Copa do Brasil, na Arena do
Grêmio. O Clube se solidariza com o atleta Aranha e com seu clube, Santos,
ressaltando que atos como esse são fruto de atitudes individuais e isoladas, que em
nada representam a grandiosidade e o respeito da torcida gremista.
Informamos que o Departamento Jurídico do Clube, em conjunto com a
administração da Arena, já está tomando todas as medidas possíveis para que os
envolvidos neste episódio sejam identificados e para que os materiais disponíveis
sejam enviados às autoridades policiais, a fim de tomarem as providências cabíveis
no âmbito criminal.
No que se refere às ações administrativas, caso os responsáveis identificados sejam
sócios do clube, estes serão imediatamente suspensos do Quadro Social e proibidos de
ingressar no estádio.
Reiteramos que o Grêmio tem sido um incentivador de iniciativas que visam coibir
esse tipo de crime e que continuará alerta e atuante na luta contra a discriminação
racial.
Veja outras manifestações sobre o caso de racismo:
Edu Dracena, zagueiro do Santos:
"Isso é lamentável no futebol e na vida. Todo mundo é igual a todo mundo. Não
tem como discriminar ninguém hoje. Você vê no futebol, onde tem espetáculo, uma
pessoa imbecil como essa tem que ser banida do futebol, não pode nem entrar no
estádio. O Aranha foi muito feliz ao denunciar e só assim podemos acabar isso."
"Essas pessoas sozinhas não tem essa atitude. Por estar acompanhado, de querer
chamar a atenção, fazem esse tipo de ofensa."
Zé Roberto, meia do Grêmio: "É lamentável a gente viver no século XXI e estar
passando por uma situação como essa, eu só tenho que lamentar. Como pegou a
imagem clara, tem que haver punição. Infelizmente, a gente vive em um país
racista. Só lamento que, às vezes, numa situação como essa, o próprio clube sai
punido por não ter nada a ver, se tratando de um torcedor do clube."
"Na minha carreira, pelo que me lembre, no tempo que joguei na Alemanha, eu
nunca passei por essa situação. Uma situação desagradável que eu nunca espero
passar;. Não tenho muito o que falar dessa questão, é de ficar indignado, com
tantas raças diferentes, cores diferentes, e viver um episodio desse dentro do
nosso estádio."
"A gente fica muito chateado. Quem teve esse ato de racismo pode ser punido,
embora não sei se adianta muita coisa, porque é uma coisa que está encubada.
Ainda que venha a ter punição, a gente vai continuar vivendo com esse tipo de
situação de racismo."
"Como me falaram que a televisão pegou a pessoa, que seja punido, embora não vá
minimizar muita coisa, porque no Brasil não é novidade. Não deva ter solução. Que
tenha punição, mas não solução eu creio que não tenha não."
Arouca, volante do Santos: "Espero que as autoridades possam tomar atitude,
punir essas pessoas, que tiveram esse tipo de ato, porque não dá pra aceitar mais.
Algumas pessoas olham outras fazendo, olham que não dá em nada e acabam
tomando a mesma atitude. Enquanto não houver uma atitude mais severa, a gente
vai continuar passando por isso."
Robinho, atacante do Santos: "Somos todos iguais. O Grêmio é muito grande, tem
que identificar, não precisa generalizar, não foi a torcida toda, mas a gente fica
chateado."
"Não precisa punir todo mundo, não foram todos os torcedores, tem muitas
câmeras que dão para identificar bem. Tem que ter punição severa para eles, não
vem mais para o estádio. Tem jogador do grêmio que é negro."
Muricy Ramalho, técnico do São Paulo: "Isso é coisa do nosso país. Está nesta
situação, os caras brigam, roubam em cima, isso é um exemplo do país. Nossa
educação é ruim. O cara vai para dentro do campo como na rua esta acontecendo,
xingar as pessoas. E sabe que não vai acontecer nada. Isso está chato. Eu trabalhei
dois anos com o Aranha no Santos. O cara que xingou... Primeiro que deveria ser
preso. E segundo que não teve a chance de conhecer quem é o Aranha. Imagina
como tá o filho do Aranha. Isso é um reflexo do nosso país."
Zinho, gerente de futebol do Santos: “A gente lamenta muito, não cabe mais isso
na sociedade que a gente vive. Esse ato e essa torcedora, a gente fica muito triste.
Não pode uma paixão, um sentimento de um jogo extrapolar para essa esfera. Nós
ficamos muito tristes. Somos solidários ao Aranha e contra qualquer tipo de
preconceito."
"Nós temos nosso departamento jurídico, seria leviano da minha parte falar
qualquer comentário sobre o que o Santos faz ou não, e vamos, primeiro, dar o
apoio ao nosso atleta."
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Aranha é chamado de `macaco` por torcida do Grêmio