Capítulo III
Crítica
O III capítulo inicia-se com uma crítica. José Saramago critica as
desigualdades sociais, o pobre que é cada vez mais pobre, o rico que é cada vez mais
rico, acentuando a diferença que existe entre estas duas classes sociais.
“No geral do ano há quem morra por muito ter comido (…) quem morra por ter
comido pouco durante toda a vida.”
●
“Mas esta cidade, mais que todas, é uma boca que mastiga de sobejo para um
lado e de escasso para o outro, não havendo portanto mediano termo.”
●
A quaresma chega! Esta, tal como o sol, nasce para todos, sejam ricos ou
pobres. No entanto, esta época do ano é retratada como uma farsa, como um ritual
que as pessoas fazem, um mísero teatro. Se por um lado se pode caracterizar os actos
da procissão como um sacrifício, uma forma de castigar o corpo pelos pecados feitos,
por outro, também o podemos entender como um teatro que os homens fazem para as
suas mulheres, um acto de gozo (por parte dos homens) que leva a um ritual de
excitação (por parte das mulheres).
Saramago critica assim o facto de se distorcer o sentido da Quaresma.
●
Págs. 28 e 29
A Quaresma é aproveitada para pôr a fidelidade das mulheres em causa, pois
estas, nesta época, são livres de irem sozinhas, ou com as suas criadas, para as
igrejas, sofrendo o seu percurso ligeiros desvios.
“É a mulher livre uma vez no ano e se não vai sozinha, por não consentir a
decadência pública, quem a acompanha leva iguais desejos e igual necessidade de
satisfazê-los, por isso a mulher entre duas igreja, foi a encontrar-se com um
homem, qual seja, e a criada que a guarda troca uma cumplicidade por outro, e
ambas, quando se reencontram diante do próximo altar, sabem que a Quaresma
não existe e o mundo está felizmente louco desde que nasceu.”
●
Vemos a deturpação do termo igreja, pois esta serve para enganar os homens,
serve de desculpa.
Também na família real vemos algo semelhante: D. Maria Ana é a autora de
“actos/sonhos” que levam a subentender um caso de “infidelidade”, uma vez que esta
sonha com o Infante D. Francisco.
“(…) de repente adormece e acha-se dentro do coche (…) subitamente vê um
homem a cavalo...é o Infante D. Francisco.”
●
“(…)comparando sonho e sonho, observa a rainha de que cada vez, chega o
Infante mais perto, que quererá ele, e ela que quererá.”
●
Terminada a Quaresma tudo volta ao normal, ou seja, as mulheres regressam
aos seus rituais do dia-a-dia.
Esta época do ano deveria ser uma altura de sacrifícios, de recolhimento. Na
obra, Saramago retrata exactamente o contrário, ou seja, as mulheres fazem o
sacrifício de ficarem “presas” em casa, sem liberdade durante todo o ano, com
excepção da Quaresma, onde estas se vêm realmente livres e praticam a
libertinagem.
“É a Quaresma sonho de uns, e virgilia de outros. Passou a Pascoa que
acordou toda a gente, mas reconduziu as mulheres á sombra dos quartos e ao
carrego das saias.”
●
Lisboa também não escapa à critica de Saramago. A cidade é vista como um local
deplorável, impróprio para se habitar.
“(…) da pocilga que é Lisboa.”
●
“(…)a cidade é imunda, alcatifada de excrementos, de lixo, de cães lazarentos
e gatos vadios (…) ”
●
Lisboa cheira mal, cheira a podridão, o incenso dá sentido é fetidez (…)”
●
Capítulo IV
O tema central deste capítulo é a caridade, ou a falta dela!
Saramago conta-nos um pouco da vida de Baltasar Sete-Sóis, da sua
passagem pela guerra e consequente perda da mão.
Num encontro com outros antigos soldados narram-se histórias insólitas.
Uma delas, fala de um caso em que uma mulher é morta e o seu corpo, partido aos
bocados é “distribuído” pela cidade, juntamente com um bebé também morto. A
história macabra “assusta” Baltasar pois para ele a guerra é menos perigosa.
“Na guerra há mais caridade.”
●
Baltasar profere estas palavras porque fica surpreendido com tal acto. Apesar de
os soldados estarem na guerra para matar, fazem-no com a caridade de saberem
que no fundo todos eles são iguais e estão ali com o mesmo propósito e nas mesmas
circunstâncias. Na guerra, ao contrário do que acontece com os condenados ao
degredo e à fogueira, não se mata por ódio ou vingança, mas porque são obrigados a
fazê-lo.
Cátia Daniela
12º 1C
2006/07
Download

A Crítica I