A fuga de um Mundo perdido
É verão, a tarde está agradável. Mais agradável estaria se o sol não estivesse
quadrado, mas está… 2021, dois estão presos, crimes foram cometidos. Um
condenado em Portugal e o outro à espera de julgamento. Que fazer? Conversar!
Numa altura em que cada vez mais se dá valor aos recursos naturais e a água
ganha a verdadeira importância, eles falam… e conversam… e pensam…
-Viste as notícias?! Parece mesmo que a água está a escassear pelo mundo
todo…
-Os outros países deviam era pôr os olhos em Portugal. Já há algum tempo
que temos esse problema resolvido… isso era antigamente. Depois que fizeram os
reservatórios, onde se guardam as águas das chuvas, espalhados por todo o lado,
nunca mais houve aqueles problemas das secas, que punham em causa a agricultura
e a distribuição em certas zonas. Até para isso era preciso a ajuda dos bombeiros… E
depois, com as estações de tratamento de águas, água potável é coisa que não falta
em Portugal!
-Mas nunca é de mais poupar ou, pelo menos, não desperdiçar.
-Isso é! Ainda bem que temos chuveiros que se desligam sozinhos e que as
águas dos banhos são direcionadas para as sanitas.
-Pois, antigamente era um tal gastar água com as velhas torneiras. Muitas
vezes, ficavam ligadas à espera que alguém as fosse desligar e nenhuma dessa água
era aproveitada…
-Acredita! Olha, era as torneiras velhas e os interruptores… Já viste que quase
não existem?! Já nem se dá pela presença dos detetores, que ligam as luzes
automaticamente.
-Bom é fazer algo de útil para a sociedade, ao mesmo tempo que fazemos
exercício físico nas “ecobikes”. Enquanto pedalamos, produzimos energia elétrica que
chega para a que se gasta nos E.P. de Portugal e ainda sobra para as escolas,
hospitais, tribunais, etc… Afinal de contas, somos nove mil reclusos a “pedalar” esta
ideia, reduzindo a pegada ecológica e a fatura também. Mas, no início, contam os
mais velhos, isto não ia ser possível…
-É tudo impossível enquanto alguém não faz com que seja possível. Imagina o
que o Estado tinha poupado naqueles anos da crise, quando havia catorze mil
reclusos…
-Nós falhámos à sociedade, uns de uma maneira, outros de outra… somos
reclusos, mas não deixámos este mundo! Queremos contribuir, dentro do possível,
para um Portugal melhor, um Mundo melhor!...
-E a cena da reciclagem… viste os trabalhos feitos pelos reclusos que
participaram naquele concurso Europeu?
-Vi, vi! Brutais… e era tudo lixo…
-Opá, tal como nas casas, nas empresas, etc, também nós, nos E.P., tínhamos
que fazer reciclagem. Sabemos ser o melhor para todos! Depois, lá fora, até podem
juntar tudo, mas, cá dentro, estamos de consciência limpa.
-Mas olha que nem todos o faziam. É pena que só há pouco tempo os hábitos
tenham mudado e agora até fica mal a quem não recicla, né?!
-Impressionante é saber que tudo isto demorou tanto tempo a acontecer!
-Ya, não sei em que “mundo” vivam eles, mas se pensassem um pouco no
futuro e pusessem em prática as ideias há mais tempo, em vez de gastarem dinheiro
em cartazes e ações de sensibilização, isto não estava assim tão mau!... Temos a
sorte de fazer parte da época das mudanças!
-Sim! E ainda bem que alguém fez realmente alguma coisa, em vez de se
deixar ficar pelas ideias e intenções do que deveria ter sido feito.
-De boas intenções está o mundo cheio!
Claro que o presente destes indivíduos ainda poderá ser alterado. Pode ser
que não sejam presos… Pode ser que haja uma mudança no nosso presente e que
haja uma maior consciencialização para que tenhamos num futuro próximo o Mundo
melhor que todos queremos.
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2.ª menção honrosa - Joel Cabral Vilarinho