O CRÉDITO RURAL NA REGIÃO NOROESTE DE SÃO PAULO PRODUTORA DE UVA DE MESA SOB A ÓTICA INSTITUCIONAL [email protected] APRESENTACAO ORAL-Instituições e Desenvolvimento Social na Agricultura e Agroindústria KELLY WOLFF CORDEIRO; CICERO ANTÔNIO DE OLIVEIRA TREDEZINI. UFMS, CAMPO GRANDE - MS - BRASIL. O Crédito Rural na Região Noroeste de São Paulo Produtora de Uva de Mesa Sob a ótica Institucional Grupo de Pesquisa: Instituições e Desenvolvimento Social na Agricultura e Agroindústria Resumo A produção de uva de mesa destaca-se entre as principais atividades econômicas da região noroeste do Estado de São Paulo. Entretanto, o arranjo institucional se não estiver estruturado pode se tornar um obstáculo ao desenvolvimento da produção. Sendo assim, este trabalho analisa o ambiente institucional existente na região noroeste do Estado de São Paulo. Utilizou-se como técnica a coleta de dados, pesquisa bibliográfica e informações coletadas diretamente nas instituições ligadas a viticultura. Pode-se concluir que a viticultura apresenta possibilidades de crescimento e expansão por ter instituições que dão suporte financeiro aos produtores. Mas notou-se a necessidade de criação de uma cooperativa de crédito como sistema alternativo ao sistema tradicional financeiro. Palavras-chaves: Ambiente Institucional, Crédito Rural, Uva de Mesa Abstract The production of table grape stands out among the main economic activities in the northwestern region of São Paulo. However, the institutional arrangement that is unstructured may become a hindrance to production. Thus, this paper analyzes the institutional environment in the northwest of São Paulo. It was used as a technique to collect data, literature and information collected directly in the institutions related to viticulture. It can be concluded that winemaking has possibilities for growth and expansion to have institutions that give financial support to producers. But noted the need to establish a credit system as an alternative to the traditional financial system. Key Words: Institutional Arrangement, Rural Credit, xxxx 1. Introdução 1 Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2010, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural No período de modernização da agricultura brasileira as políticas agrícolas tendiam a focar os setores mais expressivos, ou seja, os produtores de commodities destinadas ao mercado internacional. Isso se justificava, pois era necessário para minimizar os desequilíbrios na balança comercial do país. A implicação dessa política foi a marginalização do segmento familiar, o qual não fazia parte das políticas de crédito rural, de preços mínimos e de seguro da produção. Schneider et al (2004) diz que até o início da década de 90 não havia política nacional e específica para atender este grupo da agricultura brasileira, pois era visto de modo bastante impreciso pela burocracia estatal. Nos anos 90, a agricultura brasileira estava passando por um período de instabilidade visto que o processo de abertura comercial e desregulamentação dos mercados resultava em forte concorrência com os países do Mercosul. Associado a isso, a instabilidade dos anos 80 reduziu a disponibilidade de crédito o que por sua vez restringiu a capacidade de produção e atuação dos produtores. Em função disso, o sindicato dos trabalhadores associados a Confederação Nacional dos Trabalhadores da Agricultura (CONTAG) e ao Departamento Nacional de Trabalhadores Rurais da Central Única dos Trabalhadores ( DNTR/CUT) se organizaram para reivindicar espaço nas políticas públicas visando uma reestruturação produtiva. De acordo com esse cenário, visualiza-se a importância do crédito rural para a agricultura brasileira, pois este é uma das variáveis significativas que compõem o ambiente institucional no meio rural. Por isso, estudar o crédito rural na região Noroeste de São Paulo voltado para a agricultura familiar produtora de uva de mesa tem relevância acadêmica e prática. Além disso, a viticultura na região noroeste é uma atividade de destaque sócio econômico, visto que 80% da produção total de uvas rústicas produzidas no Estado é originária dessa região. Com relação as uvas finas, a produção esta distribuída no Estado, mas as regiões de Itapetininga, Jales e Sorocaba representam juntas 80% da produção estadual (TARSITANO, 2001). Outro ponto de destaque é a predominância das pequenas propriedades, sendo que em média a área das propriedades não ultrapassam 25 hectares, dos quais 3,3 são utilizados para produção de uva (RAMALHO, 2009). Esta área de produção de uva permite a sobrevivência das famílias no campo em função da produtividade e do preço da uva no mercado. A viticultura na região Noroeste de São Paulo pode ser uma atividade promotora do desenvolvimento social e econômico ao aproveitar os recursos naturais, pois o clima favorece a duas safras de uvas ao ano e na geração de postos de trabalho em decorrência da cultura da uva ser intensiva em mão-de-obra. Entretanto, existem variáveis que favorecem ou não o empreendimento rural. À medida que muda o ambiente institucional, ocorrem avanços tecnológicos, que alteram o ambiente competitivo, de modo que todos os agentes econômicos envolvidos no processo produtivo do agronegócio são afetados. No caso da viticultura os fatores institucionais referem-se às mudanças ocorridas em termos uso do solo e água, questões ambientais, pesquisa e crédito rural. 2 Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2010, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural Dentro desse contexto, o problema a ser analisado é: o ambiente institucional existente na região de Jales – SP, ligado ao financiamento rural voltado a produção de uva fina de mesa, apresenta-se estruturado para atender as necessidades dos produtores familiares? Dessa forma, busca-se identificar os elementos do ambiente institucional na região Noroeste de São Paulo que estão inseridos no sistema financeiro. Portanto, este estudo tem por objetivo refletir sobre o arranjo institucional existente na região e especificamente identificar e caracterizar as instituições ligadas ao financiamento rural na região pesquisada por meio da abordagem institucional. Existem diversos trabalhos que enfocam a teoria institucionalista como base para identificação, análise e estudo do ambiente institucional no meio rural, como por exemplo, o trabalho feito pelo IPEA em 2004 utilizando o mesmo referencial teórico para estudar o crédito rural nas regiões do país. Além desse, o trabalho do Gasques e Conceição em 2001 com a mesma temática, reforça a viabilidade de se usar este ferramental teórico. Sendo assim, busca-se aplicar na região de Jales –SP a teoria institucionalista na análise de credito. 1.1 A Produção de Uva de Mesa na Região de Jales – SP A região Noroeste de Jales, representada pelo EDR1 de Jales – SP, é composta por 22 municípios que utilizam em torno de 310 mil hectares e conforme Tondato et. al (2009), possui em 8.340 unidades produtivas agrícolas. A região tem como bases econômicas a bovinocultura e agricultura, sendo que inserida nesta última esta a viticultura com relevante expressão na economia da região (TARSITANO, 2001). A cultura da videira foi introduzida na região de Jales, em 1965, por Massaharu Nagata, que trouxe de Moji das Cruzes/SP, entre 13 e 15 estacas do porta-enxerto da cultivar 420-A, como experiência. Nessa época, as microrregiões de Campinas, Jundiaí e Moji das Cruzes concentravam 97% das videiras do estado de São Paulo. Em 1966, Massaharu Nagata trouxe o material vegetativo da uva Itália e efetuou enxertia do tipo garfagem. A partir deste fato, iniciaram-se os plantios e as adaptações da cultura na região, testando, até hoje, novas variedades, períodos de podas, entre outras tecnologias para melhor produtividade (TERRA et al., 1998 apud TONDATO, 2006). Em meados da década de 80, os agricultores preocuparam-se em substituir a cultura do café por outras culturas. A atividade que teve preferência entre os agricultores foi a fruticultura. Dentro da fruticultura, a citricultura atingiu a maior área plantada. Para esta diversificação agrícola, uma das opções foi a viticultura, que desde o final da década de 60 já estava presente na região, mas poucas parreiras existiam até final dos anos 70 (PELINSON, 2000). 1 EDR: Escritório de Desenvolvimento Rural, designado também por Regional de Jales. No Estado de São Paulo existem 40 EDRs. O EDR de Jales é composto pelos seguintes municípios: Aparecida D’Oeste, Aspásia, Dirce Reis, Dulcinópolis, Jales, Marinópolis, Mesópolis, Nova Canaã Paulista, Palmeira D’Oeste, Paranapuã, Pontalinda, Rubnéia, Santa Albertina, Santa Clara D’Oeste, Santa Fé do Sul, Santa Rita D’Oeste, Santa Salete, Santana da Ponte Pensa, São Francisco, Três Fronteiras, Urânia e Vitória Brasil. 3 Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2010, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural Figura 2 – Distribuição dos produtores na região de Jales – SP, na safra 2007/2008. Fonte: CATI, 2010. A Figura 2 mostra a localização da concentração de produtores de uva fina de mesa no EDR de Jales – SP. Dentre os 22 municípios os que mais se destacam são: Palmeira D’Oeste, São Francisco, Jales e Urânia. Com relação a quantidade produzida de uvas, a produção esta distribuída entre esses municípios como mostra a Tabela 1. Município Produção Valor em R$ 2007 2008 2007 2008 Palmeira D'Oeste 7.200 7.480 10.800 15.708 Jales 3.414 5.850 7.169 12.285 Urânia 3.438 3.510 7.220 7.371 São Francisco 1.400 1.680 2.940 3.528 Tabela 1 Produção de Uva de Mesa em toneladas e valor da produção em Mil Reais Fonte: SIDRA/IBGE, 2010 O município Palmeira D’Oeste foi responsável, no ano de 2008, por 32,4% do total da produção do EDR, na sequência a cidade de Jales produziu 25,4%, seguida de Urânia e São Francisco com 15,2% e 7,3% respectivamente. A colheita do ano de 2008 teve uma variação positiva de 93,9%, indicando o crescimento da viticultura na região e a importância econômica pode ser verificada pelo 4 Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2010, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural valor em Reais da produção como mostra a Tabela 1, lembrando que a produtividade das uvas rústicas é em média 20 Kg/hectare. De acordo com informações do censo feito pela Coordenadoria de Assistência Técnica Integral, denominado Levantamento das Unidades de Produção Agropecuária do Estado de São Paulo (LUPA) em 2008, o número de produtores de uva fina de mesa esta em 557 com área mínima de cultivo de 0,1 ha e máxima de 12 há, já para as uvas rústicas, as áreas variam entre 0,1 e 25 ha, os dois tipos de uvas perfazem um total de 942,9 hectares de área plantada. A mão-de-obra utilizada na produção é caracteristicamente familiar, pois a própria família trabalha no cultivo da uva. E ainda associa-se sistema de parceria de meação que é disseminado entre os produtores. Este sistema favorece a produtividade pois, o parceiro necessita produzir da melhor forma para que seu rendimento seja alto, e a mão-de-obra familiar tende a ser mais cuidadosa no manejo das uvas. Além disso, outro fator positivo para a produção é o tempo dos produtores no cultivo da uva. Segundo Ramalho (2009), 97% dos viticultores estão na atividade há mais de 5 anos. Isso indica tradição e experiência, em função do tempo para atuar nesta atividade. 2 Referencial Teórico É comum dizer que a economia institucional surge com o artigo de Veblen, em 1898 chamado Why is Economics not na Evolutionary Science, em que é questionada a rigidez da teoria neoclássica o que por sua vez dificulta o processo de evolução da teoria econômica. Além deste texto, outro autor importante para o surgimento do termo “economia institucional” é Walton Hamilton. Mas foi Veblen quem se destacou na apresentação e no estudo do institucionalismo como programa de pesquisa, visto que é considerado o fundador do que se chama de “velha economia institucional” (CAVALCANTE, 2007). A percepção de Veblen quanto ao caráter estático da teoria neoclássica o fez adicionar na análise as instituições,visto que estas não eram levadas em consideração nos modelos. As instituições para este autor tem relevância visto que estas possuem papel fundamental na evolução da sociedade. Ao passo que o programa neoclássico se baseava em suposições acerca do comportamento do consumidor e hipóteses pouco condizentes com a realidade. O conceito de economia evolucionária para Veblen (1998) se baseia no que ele chama de processo, ou seja, a explicação de algum fato ou fenômeno não é feita com algum objetivo e sim no envolvimento das causas e efeitos. O interesse econômico determina o processo de crescimento cultural, no qual a economia evolucionária seria uma teoria cumulativa das instituições, ou seja, um processo de mudança aditivo que ocorre com o tempo. O processo cumulativo da adaptação dos meios aos fins é uma constante na vida dos indivíduos ao longo do tempo, e isso que dizer que, ocorrem modificações que se acrescentam uma a outra fazendo o processo avançar. Isto se assemelha ao processo de causação existente nas correntes evolucionárias. De certa forma, pode-se afirmar um paralelo com a teoria Darwiniana, em que viver é um processo contínuo de adaptação, 5 Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2010, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural dessa mesma forma ocorre com as instituições, visto que a evolução da sociedade, assim como do homem, é um processo de adaptação ou seleção natural e da mesma forma ocorre com as instituições (CONCEIÇÃO, 2002). O conceito de instituições na ótica deste autor esta baseado nos hábitos mentais ou seja, nos costumes adquiridos no dia-a-dia. Pode-se dizer também que as instituições são o conjunto de hábitos ou formas de pensamento comum aos homens. Associando-se a linha darwiniana, as instituições são para Veblen (1998) o produto do presente, o qual modela o futuro por meio de um processo seletivo e de adaptação advinda dos costumes e hábitos dos homens (CONCEIÇÃO, 2002). Seguindo a linha evolucionária da corrente institucionalista, surge Geoffrey Hodgson quarenta anos após Veblen, sendo, portanto, considerado um neoinstitucionalista, mas ligado a vertente norte-americana visto que resgata a importância do hábito e das crenças individuais (ALBERT et.al., 2007). Apoiando-se na definição de instituição de Veblen, a qual é vista como hábito mental, Hodgson opta pelo modelo reconstitutivo de cima para baixo, o qual é o contrário do modelo usado por Menger ao explicar o surgimento da moeda (HODGSON, 2001). A utilização de um modelo de cima para baixo deixa implícito uma critica a Menger, visto que o modelo de baixo para cima pressupõe a inexistência de instituições. Nas palavras de Hodgson (2001) “o estado de natureza sem instituições é inalcançável tanto na teoria como na realidade”. Para este teórico, qualquer interação individual depende de alguma instituição pré-existente, ainda que seja uma instituição elementar. É importante reconhecer que as preferências individuais podem ser moldadas pelo ambiente institucional, e por isso, um modelo reconstitutivo de cima para baixo precisa fazer parte da explicação da evolução das instituições (CAVALCANTE, 2007). Ao contrário de Menger, Hodgson diz que para se explicar o surgimento ou emergência de uma instituição sempre se pressupõe a preexistência de outra instituição. Complementando o conceito de instituições de Veblen, Hodgson (2003) define da seguinte forma: Institutions are durable systems of established and embedded social rules and conventions that structure social interactions. Language, money, law, systems of weights and measures, table manners, firms (and other organisations) are all institutions (HODGSON, 2003, p.7). 2 As instituições são então definidas como as regras, restrições, os costumes e idéias que de alguma maneira influenciam nas preferências individuais. Além disso, são instituições, as firmas e qualquer outro tipo de organização. Corroborando com Hodgson, Conceição (2002), aponta que o termo instituições engloba desde normas, leis e comportamentos até organizações, firmas e o próprio mercado. 2 Tradução dos autores: As instituições são sistemas duradouros de regras estabelecidas e intrínseco nas convenções sociais que estruturam as interações sociais. Linguagem, dinheiro, direito, sistemas de pesos e medidas, modos à mesa, as empresas (e outras organizações) são instituições. 6 Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2010, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural I N S T I T U I Ç Õ E S Normas Valores Regras Atuam no Presente Moldam o Futuro Indivíduo s Firmas Mercados I N S T I T U I Ç Õ E S Figura 1 – Aspectos formadores de Instituições ao longo do tempo Fonte: elaborado pelos autores A Figura 1 aglutina aspectos teóricos acerca do que é instituição e de como as mesmas são formadas ao longo do tempo de acordo com os referenciais descritos acima. As instituições na forma de normas, valores e regras, podem ser visualizadas em um campo macroanalítico e atuam limitando ou direcionando o comportamento dos indivíduos, firmas e mercados, os quais estão em um campo mais restrito ou microanalítico. Essa forma de visualizar as instituições converge com a visão evolucionária de Hodgson e Veblen, pois as instituições são resultados de processos, ou seja, encadeamentos de acontecimentos que transformam os costumes ou as leis para que se altere ou crie novas instituições. Além disso, pode ocorrer casos em que algumas instituições sejam extintas. Um exemplo prático são as alterações nas legislações de crédito rural. O Programa de Valorização da Pequena Produção Rural (PROVAP) foi criado em 1994, mas foi substituído pelo Programa de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF) em 1996 que facilitou a entrada dos produtores rurais familiares no mercado financeiro. Os produtores rurais familiares (indivíduos) influenciaram mudanças no sistema de financiamento rural (instituições), a ponto de terem linhas específicas de crédito, o que não ocorria nos anos 1980, exemplificando a idéia de processo de Veblen e Hodgson. 3 Procedimentos Metodológicos 7 Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2010, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural O conhecimento científico é resultado da investigação cientifica que ocorre via métodos. Este conhecimento se caracteriza por ser metódico e que pode ser demonstrado e comprovado. Em virtude disso, possui a característica de ser provisório, uma vez que pode ser testado, enriquecido e reformulado (VERGARA, 2006). O método de pesquisa utilizado para avaliar a dinâmica institucional de financiamento da região produtora de uva fina de mesa de Jales - SP foi o indutivo. O método indutivo é um processo por meio do qual infere-se uma verdade geral ou universal não contida nas partes examinadas, partindo de dados particulares suficientemente constatados (COLLIS, HUSSEY, 2005). Esta pesquisa utilizou o estudo de casos como método de procedimento. Foi utilizada, também, a entrevista semi-estruturada feitas em abril de 2008 e maio de 2009. Estas entrevistas oferecem perspectivas para que o entrevistado tenha liberdade e espontaneidade necessárias, tornando a pesquisa mais interessante (COLLIS, HUSSEY, 2005). As entrevistas foram delineadas com base em questões apoiadas em teorias e hipóteses relevantes para o desenvolvimento do trabalho. A técnica de interpretação adotada para tal estudo é o de estudo de caso, o qual visa uma analise detalhada de um ambiente, de um sujeito ou de uma situação particular (GODOY, 1995). Associado ao estudo de caso será utilizado em conjunto a metodologia de análise dos mapas cognitivos, os quais, são utilizados para representar padrões de relações entre conceitos e também descreve a localização de um indivíduo dentro da sua realidade (VERGARA, 2006). O que neste estudo, seria o produtor demandante de crédito rural inserido no sistema financeiro O ambiente que será explorado esta delimitado na cidade de Jales, uma vez que esta é o centro regional da produção de uva fina de mesa e, portanto concentra as instituições a serem analisada, tais como a Cooperativa Agrícola Mista dos Produtores da Região de Jales Ltda., Banco do Brasil, Banco Nossa Caixa e a Cooperativa de Crédito CredCitrus. E também com produtores rurais para obter a percepção dos mesmos sobre as instituições visitadas. As informações obtidas nas entrevistas com representantes institucionais possibilitarão entender o funcionamento e o relacionamento das instituições com os produtores de uva. A transposição das conclusões obtidas das instituições ligadas a produção de uva de mesa na região Noroeste de São Paulo para outras de mesma espécie, confirma a escolha adequada do método indutivo. 4. AMBIENTE INSTITUCIONAL 4.1 Principais Linhas de Crédito Rural Estadual As ações de políticas públicas no Estado de São Paulo voltadas para financiamento de atividades rurais têm passado por modificações para atender melhor as necessidades dos produtores rurais. Em 1959 o governador do Estado de São Paulo, Carlos Alberto Alves de Carvalho Pinto, publicou a Lei nº 5.444 no dia 17 de outubro do referido ano a qual tratava das medidas de caráter financeiro relativas ao Plano de Ação do Governo. No art. 3º desta lei, o 8 Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2010, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural Poder Executivo ficou autorizado a criar cinco fundos, cada um direcionado para uma área especifica, sendo que na alínea C da referida lei, trata do Fundo de Expansão Agropecuária, o qual tinha por objetivo fazer financiamentos de médio e longo prazo com operações de crédito de até 60% do montante dos investimentos que visassem desenvolver tanto a agricultura quanto a pecuária e também fomentar a industrialização dos produtos no Estado. Em 16 de julho de 1992 foi instituída a Lei nº 7.964 que deu nova denominação e estabeleceu novos objetivos para o Fundo de Expansão Agropecuária. Este fundo passou a se chamar Fundo de Expansão da Agropecuária e da Pesca. Acrescentou como objetivo deste fundo beneficiar os produtores que não eram atendidos pelo Sistema Nacional de Crédito Rural (SNCR), passou-se a financiar investimentos na infra-estrutura da produção para as atividades rurais e pesqueiras e também para atividades de formação de recursos humanos e capacitação de mão-de-obra. Outro acréscimo é a instituição das subvenções econômicas. A última mudança ocorrida nesta linha de financiamento ocorreu no ano de 2002 em que o governador em exercício neste período do Estado de São Paulo outorgou a Lei nº 11.247 em 4 de novembro de 2002 que substituiu a Lei nº 5.444 de 17 de novembro de 1959. Dessa forma, o Fundo de Expansão da Agropecuária e da Pesca passou a ser denominado como Fundo de Expansão do Agronegócio Paulista - O Banco do Agronegócio Familiar (D.O.E, 2002). O FEAP tem como instituição responsável a Secretaria de Agricultura e Abastecimento (SAA) e possui abrangência estadual. Esta linha de crédito é destinada para financiamentos de investimento para produtores rurais e pescadores artesanais. Os produtores beneficiários, pessoa física, são os que possuem renda agropecuária anual de até R$ 400.000,00 e que represente no mínimo 80% da renda total bruta. Já para os cadastrados como pessoa jurídica, a renda bruta anual não pode ultrapassar R$ 2.400.000,00. Para as associações de produtores rurais, o teto é de R$ 3.000.000,00 e que apresentem a Declaração de Regularidade emitida pelo Instituto de Cooperativismo e Associativismo (ICA). O agente financeiro desta linha é o Banco Nossa Caixa S.A. E as condições de financiamento são: taxa de juros de 3% ao ano, com prazos de pagamento variando entre 2 e 7 anos incluindo carência de 2 a 3 anos. Como garantia, esta deve ser de pelo menos 150% do valor contratado, podendo ser formada de penhor e aval ou outras formas. Esta política atende a diversas áreas da agricultura, tais como: agregação de valor e qualidade do café, apicultura, apoio a pequenas agroindústrias, avicultura de corte, bubalinocultura, café, caprinocultura, flores e plantas ornamentais, maquinas e equipamentos comunitários, olericultura em ambiente protegido, ovinocultura, pecuária de leite, piscicultura em tanques-redes, piscicultura convencional, produção de mudas cítricas, pupunha, qualidade do leite, sericicultura, turismo rural e fruticultura. Cada área tem condições de financiamento específicas. Para a fruticultura, destinase crédito para implantação ou renovação de pomares de frutas tropicais, subtropicais e temperadas, ou seja, é financiado todos os tipos de itens necessários para fazer a instalação ou a manutenção do pomar, com um teto máximo de crédito de R$ 100.000,00 com pagamento em até 84 meses incluso carência de 48 meses. 9 Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2010, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural Existem duas especificações extras, caso seja requerido financiamento para equipamentos de irrigação, deve-se apresentar a licença de outorga de água emitida pelo Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE) da Secretaria de Saneamento e Energia do Estado de São Paulo. A outra exigência é para a renovação dos pomares cítricos, as mudas devem ser originadas de viveiros registrados na Coordenadoria de Defesa Agropecuária (CDA). Apesar desta linha de financiamento ter baixo custo do capital, ela é pouco utilizada pelos produtores de uva da região de Jales – SP. Um dos principais motivos que levam a baixa demanda é a falta de conhecimento deste crédito rural pelos produtores. Outro financiamento, com abrangência no Estado de São Paulo relacionado ao FEAP, é o Pró-Trator, o qual também tem como agente financeiro o Banco Nossa Caixa S.A. Foi instituído pelo Decreto nº 53.653 em quatro de novembro de 2008 com objetivos de melhorar a produtividade e competitividade e reduzir as desigualdades e gerar empregos. Os produtores devem se enquadrar no mesmo perfil do FEAP para pleitearem financiamento para aquisição de tratores que tenham entre 50 e 120 cavalos. O programa conta com 6.000 tratores que serão financiados sem juros para os produtores, ficando o custo do capital para o Estado de São Paulo, além disso o pagamento pode ser feito em até 5 anos com carência de até 3 anos, isso variará em função do tipo de trator negociado. Além dessas duas políticas de financiamento, direcionadas para investimento, existe uma política de abrangência estadual voltada para o seguro rural. Tal linha se chama Projeto Estadual de Subvenção do Premio de Seguro Rural (PESPSR). O principal objetivo é ajuda financeira do governo para a atividade rural por meio da subvenção estadual do prêmio de seguro rural nas modalidades de seguro aquícola, de florestas, pecuário e agrícola em casos de intempéries climáticas. Este projeto, assim como as outras políticas citadas acima, estão vinculados a Secretaria de Agricultura e Abastecimento, mas conforme a Lei nº 11.244 de 2002, a gestão dos recursos destinados para subvenção esta a cargo do FEAP direcionando o crédito para os agricultores, pecuaristas e pescadores artesanais, e também para os grupos como cooperativas e associações que estejam ligadas a programas de desenvolvimento da economia estadual. As seguradoras credenciadas para fazer o papel de intermediadora entre o produtor e o programa de subvenção são: Allianz Seguros S/A, Cia de Seguros Aliança do Brasil, Mapfre Vera Cruz Seguradora S/A, Nobre Seguradora do Brasil S/A, Porto Seguro Cia de Seguros Gerais e Seguradora Brasileira Rural S/A. A subvenção econômica é uma política relevante, pois os riscos são inerentes a atividades rurais. Ramos (2007) diz que a ocorrência de sinistros nesta atividade é alto e que os prêmios de seguros são elevados para o produtor pagar, o que se torna uma barreira a entrada e permanência na atividade para os produtores de menor porte ou os familiares. O produtor que utiliza o seguro rural garante estabilidade de renda o que permite se manter na atividade e também favorece os investimentos e tecnologia por ter mais segurança financeira se comparado com o produtor que não utiliza este serviço. Em função disso, a Secretaria de Agricultura e Abastecimento (SAA) tem trabalhado para melhorar a operacionalização do projeto de subvenção no Estado de São Paulo. 10 Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2010, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural A SAA em conjunto com a Companhia de Processamento de Dados do Estado de São Paulo criou um sistema denominado SUSER, o qual facilita no processo de concessão e também funciona como uma base de dados que pode ser usada para relatórios gerenciais. Conforme Ramos (2007), este projeto de subvenção vem apresentando resultados positivos no sentido de ter a demanda crescente por este serviço. Outra característica do projeto é incentivar o uso deste recurso pelos produtores a médio prazo. Além disso, é um modo de mostrar para os produtores a importância do seguro rural, mesmo sem o subsídio do Estado, pois é um investimento que proporciona segurança para permanecer na atividade. 4.2 Principais Linhas de Crédito Rural Federal O primeiro programa voltado para os produtores familiares surgiu em 1994 com o presidente Itamar Franco. Neste governo foi criado o Programa de Valorização da Pequena Produção Rural (PROVAP), que utilizava recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), com o objetivo de liberar crédito a taxas de juros acessíveis aos produtores para que a produção em menor escala pudesse se tornar mais dinâmica no processo de desenvolvimento local através da oferta de serviços e da criação de postos de trabalho no campo. Esta política publica não vingou em função da dificuldade dos produtores em atender os requisitos do sistema financeiro. No ano seguinte ao surgimento do PROVAP, no governo do Fernando Henrique Cardoso, este programa passou por alterações, tanto na área de abrangência quanto na concepção do que é agricultura familiar. Então, em 1996 ocorreu a institucionalização do que se conhece hoje por Pronaf pelo Decreto Presidencial nº 1.946 de 28 de junho de 1996. O objetivo deste programa de acordo com o Decreto acima citado é: “promover o desenvolvimento sustentável do segmento rural constituído pelos agricultores familiares, de modo a propiciar-lhes o aumento da capacidade produtiva, a geração de empregos e a melhoria de renda”. De acordo com o Ministério do Desenvolvimento Agrário e Secretaria da Agricultura Familiar, o Pronaf visa fortalecer e valorizar o agricultor familiar com vistas a integrá-lo na cadeia do agronegócio e fomentar o aumento de renda e agregação de valor no produto e na propriedade com a modernização tanto do sistema de produção quanto do produtor. Para atingir este objetivo geral, estabeleceu-se no Manual de Operacionalização do Pronaf quatro objetivos específicos, quais sejam: adequar as políticas públicas às realidades dos agricultores familiares; viabilizar a infra-estrutura necessária para a melhorar o desempenho produtivo; aumentar o nível de profissionalização dos agricultores pelo acesso de novos padrões de tecnologias e de gestão social; e incentivar o acesso dos agricultores aos mercados de insumos e produtos. Operacionalmente, existem quatro grandes áreas de atuação do Pronaf, são elas: crédito de custeio e investimento destinado as atividades produtivas rurais; financiamento de infra-estrutura e serviços a municípios de todas as regiões do país em que tais regiões dependam de unidades agrícolas; capacitação e treinamento dos produtores familiares por 11 Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2010, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural meio de cursos aos agricultores e equipes técnicas responsáveis pela implementação de políticas publicas ligadas ao desenvolvimento; e por fim, financiamento de pesquisa e extensão rural com objetivo de gerar e transferir tecnologias para os produtores. Quanto ao publico alvo, se caracteriza como agricultor familiar de acordo com a Lei nº 11.326/06 os que atenderem os seguintes requisitos simultaneamente: não tenha propriedade com área maior que 4 módulos fiscais; que use predominantemente mão-deobra familiar, podendo ter no máximo dois funcionários permanentes; que a renda seja originada principalmente da atividade ligada ao estabelecimento, ou seja, 30% para o grupo B, 60% para o C, 70% para o D e 80% para o E; e por ultimo, o empreendimento deve ser dirigido pela própria família, a qual deve residir na propriedade. Além dessas condições o Ministério do Desenvolvimento Agrário, especifica que podem fazer financiamento do Pronaf mesmo aqueles que sejam posseiros, arrendatários, parceiros ou assentados do Programa Nacional de Reforma Agrária (PNRA) e Programa de Crédito Fundiário (PCF). Além da porcentagem da renda advinda da atividade, há restrição quanto ao valor da renda bruta anual para cada grupo. Mas de modo geral, para ser beneficiário do programa a renda bruta total familiar deve estar entre R$ 4.000,00 e R$ 110.000,00, incluído neste valor rendas originadas dentro ou fora do estabelecimento por algum membro da família, com exceção de benefícios sociais e proventos previdenciários de atividades rurais. A fim de direcionar melhor as linhas de financiamento foi estabelecido alguns grupos dentro do Pronaf que são: A, B, C, D, E, Mulher, Jovem, Semi-Árido, Florestal e Agroindústria. Como o foco é a produção de uva de mesa, será especificado os cinco primeiros grupos. O grupo A engloba os agricultores assentados da Reforma Agrária, que eram atendidos pelo Programa Especial de Crédito para a Reforma Agrária (PROCERA) extinto em 1999. O grupo A/C são os assentados da reforma agrária e que começam a receber o primeiro financiamento para custeio depois de ter recebido o de investimento inicial do PROCERA. O grupo B compreende os agricultores com renda bruta anual familiar de até R$ 4.000,00. Os grupos C, D e E são os que possuem maiores rendas brutas familiares, sendo que o C a renda varia entre R$ 4.000,00 e R$ 18.000,00. Na sequência o grupo D são os agricultores com renda entre R$ 18.000,00 e R$ 50.000,00. E por fim, o grupo E com renda entre R$50.000,00 e R$110.000,00. Para financiar esta política, existem instituições que provém o capital necessário para estas ações financeiras. As principais são o BNDES e o Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), o qual de acordo com Schneider et al (2004), representa 80% dos recursos. Além destas duas instituições, estão presentes também os Fundos Constitucionais, o do nordeste chamado de Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste e o do centro- oeste é o Fundo Constitucional de Financiamento do Centro-Oeste. Há também os recursos vindos do Tesouro Nacional e dos depósitos compulsório depositados no Banco Central pelos bancos comerciais. A operacionalização do crédito ocorre entre as instituições que compõem o Sistema Nacional de Crédito Rural (SNCR) que são agrupados em básicos, como o Banco do Brasil, Banco do Nordeste e Banco da Amazônia e os que são denominados como vinculados, como o: BNDES, Bancoob, Bansicredi. 12 Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2010, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural Em 2008 o Banco Central do Brasil emitiu a Resolução Nº 3.559 que alterou algumas disposições do Manual de Crédito Rural para financiamento. As principais mudanças foram as alterações nas taxas de juros e nos grupos. Os grupos C, D e E foram unificados e são chamados de Agricultura Familiar. Para este grupo, foram estabelecidos faixas tanto para investimento e custeio e taxas de juros específicas, a Tabela X mostra os dados com mais detalhes. Tabela 1 Faixas de Financiamento e Taxas de Juros Agricultura Familiar - Grupos C, D e E Tipos Faixa Até R$ 5 mil De R$ 5 mil a R$ 10 mil Custeio De R$ 10 mil a R$ 20 mil De R$ 20 mil a R$ 30 mil Até R$ 7 mil De R$ 7 mil a R$ 18 mil Investimento De R$ 18 mil a R$ 28 mil De R$ 28 mil a R$ 36 mil Taxa de Juros a.a. 1,5% 3% 4,5% 5,5% 1% 2% 4% 5% Fonte: Resolução Nº 3.559 Banco Central, 2008 Essa alteração no Pronaf trouxe mais benefícios para os produtores, pois as taxas de juros foram reduzidas e os limites de créditos foram ampliados. Pelos dados, nota-se que o foco do governo com essa política de financiamento é fomentar o investimento na agricultura, pois a linha com este objetivo possui taxas de juros mais baixas. Essa é uma forma de estimular e manter os agricultores no campo gerando renda não somente com atividade agrícola, pois pelo Pronaf consegue-se também crédito para atividades não agrícolas. Outra linha existente é o Seguro da Agricultura Familiar é direcionado especificamente para os agricultores que fazem financiamentos na modalidade de custeio do PRONAF. Por isso, as instituições responsáveis são o Ministério do Desenvolvimento Agrário e a Secretaria da Agricultura Familiar – SAF, as quais atuam pontualmente com as instituições locais, como bancos, CATI e prefeituras municipais. A instituição desta política ocorreu no âmbito do Programa de Garantia de Atividade Agropecuária (PROAGRO). Este seguro possibilita ao produtor familiar produzir seguramente e com certa garantia de renda, pois o SEAF garante o valor financiado mais 65% da receita líquida esperada com o empreendimento mas com limite de R$2.500,00 ao ano por agricultor. A adesão a este crédito é automática para os produtores que fazem operações de custeio e opcional para os produtores que tenham renda bruta anual superior a R$ 110.000,00. No momento da adesão, além dos documentos necessários para o Pronaf, deve ser levado também um croqui com as seguintes especificações: local da lavoura com especificações de limites e pontos de referência. Outra exigência, caso a operação tenha 13 Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2010, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural um valor superior a R$ 12.000,00, é levar documento que conste as análises químicas e físicas do solo dentro do prazo de validade que é respectivamente de 2 e 10 anos. As intempéries climáticas cobertas por este seguro são: geadas, granizo, seca, chuva excessiva, variação de temperatura, ventos fortes e frios e doença fúngica ou praga sem controle. O seguro não cobre incêndio na lavoura, enchentes, evento fora da vigência e eventos em locais não apropriados para a agricultura sendo sujeitos a riscos freqüentes. Não serão cobertos pelo programa aqueles que não utilizarem o manejo adequado, que plantarem culturas diferentes da financiada ou ainda, os que produzirem variedades que não estão aptas para a região conforme indica o Zoneamento Agrícola. O Governo Federal via Ministério do Desenvolvimento Agrário – MDA, faz anualmente o Zoneamento Agrícola com vistas gerir os riscos tanto para os agricultores quanto para as seguradoras e o governo também. É com o zoneamento que se indicam as melhores culturas para determinados tipos de solo. E se o agricultor não respeitar as recomendações do zoneamento não estará apto a ser um beneficiário do programa. Além desses casos, o produtor adepto do programa não será beneficiado caso a perda da produção seja igual ou inferior a 30% da receita bruta esperada. Dessa forma, apenas perdas superiores a 30% ativarão o seguro. Quando ocorrer perdas maiores que o gatilho, o produtor deve encaminhar ao banco a Comunicação de Ocorrência de Perdas – COP, a qual deve ser feita o mais próxima do sinistro. Caso a perda ocorra em função de secas, em que os efeitos apresentam um hiato temporal maior do que as chuvas excessivas, a COP deve ser feita quando as perdas estiverem definidas, mas entregue antes da colheita. O ambiente institucional voltado para políticas de financiamento existente para a região de Jales – SP voltado para a agricultura esta resumido na Figura 3, a qual mostra as principais políticas por abrangência e modalidade de financiamento, pois este trabalho não visa tratar de todas as políticas existentes, mas sim das que constam no site da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral do EDR de Jales – SP e que tenham ligação com a uva de mesa. 14 Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2010, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural C R É D I T O R U R A L I, C e Com. PRON Seguro SEAF FEDERA FEAP Investiment Pró - Trator ESTADU Seguro PESPS P R O D U T O R R U R A L Figura 3 – Resumo das Políticas de Crédito Rural Fonte: Elaborado pelos autores 5. Organização Institucional no EDR de Jales – SP 15 Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2010, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural O Estado de São Paulo possui um arranjo institucional voltado para a agricultura com o foco em investimento, custeio e comercialização que atuam por meio de instituições tradicionais, como bancos comerciais. O sistema financeiro existente é mostrado na Figura 4. A instituição que representa o banco privado é o Banco Nossa Caixa S.A., o qual disponibiliza as linhas do Feap e do Pronaf. E a que representa os bancos públicos é o Banco do Brasil. Essas duas instituições representam as instituições tradicionais no sistema financeiro que atuam como intermediários entre os produtores e as políticas públicas. Apesar do Feap ser uma linha estadual e ter baixas taxas de juros, o Pronaf que é mais conhecido e utilizado pelos produtores. Os motivos que levam essa preferência é que os produtores desconhecem o Feap e os conhecem não tem interesse, dizem que o custo do dinheiro é alto e o principal, tem dificuldades com a burocracia para fazer a operação de crédito. Figura 4 – Organização Institucional para o Financiamento Rural Fonte: Elaborado pelos autores Outra instituição tradicional é o Banco do Brasil, a qual no EDR de Jales – SP tem destaque por ser a 3ª agência da rede em maior número de operações de Pronaf no Brasil, isso indica a forte demanda pelos serviços quanto ao crédito. O banco possui o setor de agronegócios que é composto por uma equipe que tem algo grau de conhecimento sobre o mercado de uvas de mesa assim como seus custos e necessidades de financiamento dos produtores. 16 Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2010, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural Comparando a quantidade de operações entre Feap e Pronaf entre os anos de 2000 e 2009 fica claro a maior contratação do Pronaf, os dados estão dispostos na Figura 5. Figura 5 – Valores em Mil Reais e Número de Contratos, Feap e Pronaf no EDR de Jales – SP Fonte: Pesquisa de campo na CATI, 2009. As instituições, da Figura 4, que estão em um circulo com linha cheia, são as que estão efetivamente funcionando e viabilizando crédito rural para os produtores de uva de mesa. Entretanto, há as que estão em um circulo pontilhado, indicando que existem mas não atuam como fomentadores do crédito rural. A Cooperativa CredCitrus tem uma filial na cidade de Jales e que atende a região. Mas suas ações estão voltadas para outras culturas, como a laranja e o limão, sendo que os produtores de uva não tem buscado esta cooperativa como fonte de crédito. Por ser uma cooperativa, só pode fazer operações de financiamento quem é cooperado, então, essa se torna uma restrição para os produtores de uva obterem crédito por um sistema alternativo. Nessa mesma linha, esta a Cooperativa Agrícola Mista dos Produtores da Região de Jales Ltda – CoopJales que poderia atuar de forma mais expressiva que atualmente. Esta cooperativa enfrentou problemas financeiros no período pós Plano Real, o que levou a saída de cooperados, restando hoje 40 produtores cooperados. Esta instituição poderia resgatar os produtores de uva para que possam agir em conjunto para buscar financiamentos para transporte, como caminhões refrigerados, e de reativação da infraestrutura tanto de armazenamento já existente e sem funciomento. Como o ambiente institucional tradicional esta consolidado e os produtores algumas vezes não tem conhecimento das linhas disponíveis para a agricultura familiar, ou não entendem as regras formais para se fazer uma operação de crédito, faz-se necessário um ambiente institucional alternativo composto por cooperativas de crédito, sendo que estas serão os agentes coordenadores. As políticas de financiamento existentes para custeio, investimento, comercialização e seguro demandam tempo e conhecimento por parte dos produtores, visto que estes em geral, tem que se dirigir a outras instituições, como a Coordenadoria de 17 Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2010, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural Assistencia Técnica Integral para obter a Declaração de Aptidão as linhas, para depois se dirigir aos bancos munidos dos documentos necessários. Ter uma cooperativa como agente coordenador tiraria da margem do sistema financeiro os produtores que movimentam poucos recursos e que demandam pequenos empréstimos. Sendo assim, o modelo que surgiu no ano de 1995, chamado de modelo Cresol ou Cooperativa de Crédito Rural com Interação Solidária. Atualmente, existem centrais desse sistema nos Estados do Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina. 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS Com o estudo pode-se observar que há várias linhas de financiamento que pode ser usada pelos produtores de uva de mesa; porém,quando disponível, é pouco conhecido por parte dos produtores. Além disso, conforme Barros et al (2002), apesar de apresentar um elevado valor de produção e gerar inúmeros empregos, percebe-se que a viticultura recebe, proporcionalmente ao valor bruto da produção, menos atenção e dinheiro que às grandes commodities agrícolas. Em virtude das características edafoclimáticas da região de Jales – SP a produção de uva de mesa, tanto rústica quanto fina, tem potencial para crescer. Associado às questões climáticas esta a capacidade de produção de duas safras anuais na região, fato que confere rentabilidades diferenciadas, pois a segunda safra ocorre em período do ano que é marcado pela baixa oferta no mercado. Considerando que a viticultura é predominantemente familiar com pequenas propriedades e as famílias se sustentam da produção da uva, a qual é cultivada em áreas com menos de 4 hectares, o ambiente institucional ligado ao crédito atende parte das necessidades dos produtores. Conforme Barros et. al.(2002), os produtores de uva compram com capital próprio os insumos de produção. Essa informação contrapõe o destaque da agencia do Banco do Brasil em operações de Pronaf. Mas, indica a necessidade de adequação institucional quanto ao crédito. Por isso a sugestão de ter uma cooperativa de crédito semelhante ao sistema Cresol atenderia a necessidade dos menores produtores. 7. REFERÊNCIAS CATI – COORDENADORIA DE ASSISTÊNCIA TÉCNICA INTEGRAL. 2009. Disponível em: < http://www.cati.sp.gov.br/Cati/_principal/index.php> Acesso em: 12 ago. 2008. CAVALCANTE, C. M. Análise Metodológica da Economia Institucional. 2007. 103f. Dissertação (Mestrado em Economia). Faculdade de Economia. Universiade Federal Fluminense, Niterói, Rio de Janeiro. COLLIS, J. ; HUSSEY, R. Pesquisa em Administração. São Paulo, SP: Bookman, 2005. Trad. Lucia Simoni 18 Campo Grande, 25 a 28 de julho de 2010, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural CONCEIÇÃO, O. A.C. A contribuição das abordagens institucionalistas para contribuição de uma teoria econômica das instituições. Ensaios FEE, Porto Alegre, v.23, n.1, p.77-106, 2002 GODOY, A. S. Introdução à Pesquisa Qualitativa e suas Possibilidades. 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