PERCEPÇÃO DO PORTADOR DE HANSENÍASE SOBRE SEU COTIDIANO Maria de Jesus Lima Almeida1, NOVAFAPI Tânia Maria Melo Rodrigues2, NOVAFAPI Gisleanne Lima de Sousa3, NOVAFAPI Vânia Pereira da Silva4, NOVAFAPI Waydna Sousa do Carmo5, NOVAFAPI INTRODUÇÃO A hanseníase, popularmente conhecida como lepra, é uma doença infecto-contagiosa, causada pela bactéria Mycobacterium leprae, de evolução lenta que se apresenta através de sinais e sintomas dermatoneurológica, as quais são: lesão na pele e nos nervos periféricos, (olhos, mãos e pés)1. A principal característica apresentada é a exposição de riscos aos nervos periféricos, por provocar incapacidades físicas e deformidades, trazendo diversos problemas para o portador, tais como: diminuição da capacidade de trabalho, limitação da vida social, problemas psicológicos, comprometimento em sua vida afetiva e sexual, contribuindo para uma baixa auto-estima devido ao preconceito contra a doença 1. Desde a antiguidade a hanseníase tem atormentado a humanidade, isso se justifica pelo fato da doença ter ficado com uma terrível imagem na história e na memória da humanidade de doença contagiosa, mutilante e incurável, tendo como conseqüência uma atitude de rejeição, discriminação e exclusão do doente da sociedade. Além disso, durante muitos anos os doentes foram confinados e tratados em hospitais colônias ou leprosários, o que resultou no estigma e preconceito contra o portador2. Dessa forma, este estudo tem como objeto a percepção do portador de hanseníase sobre seu cotidiano. Com isso esperamos contribuir pra implementação e fortalecimento de ações educativas para amenizar o estigma, o medo, o preconceito e consequentemente exclusão social do cliente. “O Brasil é o segundo país do mundo em número absoluto de pacientes, somando até agora cerca de 80 mil vítimas da enfermidade e perde apenas para a Índia” (3,83). Mas este país é mais populoso que o nosso, e ainda, conseguiu chegar aos índices proposto em debates. Atualmente no Brasil o índice está de 1,47 pacientes para cada dez mil pessoas. No Piauí no ano de 2005 foram registrados 2880 casos da doença, sendo no município de Teresina no ano de 2006 foram notificados no total de 324 casos novos até o final de maio4. Frente a este panorama, definiram-se como objetivos: conhecer a percepção do portador de hanseníase sobre seu cotidiano e descrever a percepção da pessoa com hanseníase sobre seu cotidiano. METODOLOGIA Trata-se de uma pesquisa de abordagem qualitativa descritiva, onde possibilitou uma melhor compreensão sobre a percepção do portador de hanseníase sobre seu cotidiano. O cenário da pesquisa foi à unidade -ASA- Centro de Saúde Maria Imaculada em Teresina-PI. Os sujeitos foram os pacientes (paucibacilar e multibacilar) em tratamento na referida instituição. Os dados foram coletados a partir de um roteiro de entrevista semiestruturada gravada em fita cassete, onde os depoimentos foram transcritos na integra e anteriormente submetido a um pré-teste. Os resultados foram obtidos com base nas entrevistas onde as informações foram selecionadas de acordo com a caracterização dos sujeitos e o consolidado das falas a partir da construção de categorias. Após leituras exaustivas dos depoimentos chegamos até o momento em que suas respostas se tornaram, repetidas e saturadas, logo surgiu as seguintes categorias: Conhecendo a doença; o impacto do diagnóstico; cotidiano modificado pelo diagnóstico; convivendo com a família. Na coleta dos dados participaram da pesquisa 14 pessoas: Os sujeitos foram caracterizados de acordo com o sexo, idade, ocupação, religião, classificação da doença, tempo de tratamento e em seguida a caracterização quanto ao conhecimento sobre a doença e por fim a percepção sobre o seu cotidiano. Quadro 01. Os sujeitos foram caracterizados de acordo com faixa etária sexo e estado civil. 2006. Idade/anos N0 pessoas Sexo N0 pessoas Est. civil N0 pessoas 21-40 04 Masculino 06 Casados 07 41-60 03 Feminino 08 Solteiros 03 61-70 05 Separados 03 71-80 02 Viúvo 01 14 Total 14 14 Total Total Observou se a população deste estudo foi composta, na sua maioria, por pessoas do sexo feminina, predominantemente casadas, e na faixa etária entre 61 a 70 anos. Talvez isso se deva ao fato da doença se manifesta se após muitos anos de exposição. A sociedade brasileira não aprendeu a valorizar a população idosa, pois, muitas vezes, o idoso é considerado uma pessoa inútil, encargo social indesejável, um individuo sem contribuição a dar. Esse assunto piora quando o individuo, além da condição de idoso, é afetado com uma doença preconceituosa como no caso da hanseníase5. Quadro 02. Distribuição dos sujeitos segundo a escolaridade, religião e ocupação. 2006 Escolaridade Analfabeto Ens.Fundamental Incompleto Ens. Fundamental Completo Ens.Médio Completo Ens. Superior Incompleto Total N0 de Religião pessoas 02 Católico 07 Evangélico N0 pessoas Ocupação N0 pessoas 13 01 06 01 01 - 02 - 02 - Dona de casa Policial militar Agente de Saúde Servidor Público Aposentado Universitária Total 14 Total 14 01 02 03 01 14 Verificamos em relação à escolaridade que predominou o ensino fundamental incompleto, seguido da religião católicos, e da ocupação donas de casa, dados compatíveis visto que a maioria eram mulheres e com baixa escolaridade. A capacidade de trabalho para algumas pessoas é uma forma de se auto-realização, principalmente para os homens que são chefes de famílias, responsáveis por garantir o alimento da sua família e a possibilidade de ficar incapacitado de trabalhar é algo que afeta seu amor próprio e papel de homem na família6. Quadro 03. Os sujeitos de acordo com o tempo de tratamento, classificação da doença e entrada no Serviço de Saúde. 2006 Entrada no N0pessoas Classificação N0 pessoas Meses de N0pessoas Tratamento Serviço de Saúde 10 PB 03 Entre 10 e 60 04 Caso Novo Transferência 04 MB 11 Entre 70 e 90 05 Reincidiva Total 00 14 Total 14 Entre 10 e 12 Total 05 14 Verificamos a predominância dos casos novos bastante animadores devido o sucesso no tratamento em não ocorrer nenhum caso de reincidiva. No entanto destacou se um número importante dos casos multibacilares, dado preocupante para os serviços de saúde, pelas possíveis reações medicamentosas, efeitos da doença, permanência da cadeia epidemiológica no meio, maior numero de indivíduos exposto, diagnostico tardio e também uma maior demora no tratamento (12 meses). Dos dados obtidos surgiram as seguintes categorias. 4.1 Conhecendo a doença: A maioria dos entrevistados relatou não possuir conhecimentos anteriores sobre a hanseníase e percebe-se nos relados, sentimento de culpa pela desinformação sobre a doença e raiva por iniciarem tardiamente o tratamento. Foi o Dr. Campelo que me encaminhou pra cá, já vim pra cá com a papelada. E um médico já de idade médico de pele e agente caminhando de em médico pra outro sem saber o que era só sentindo a dor se tivesse pegado do começo não tinha ficado assim... (entrevistado 08). Este desconhecimento sobre a patologia foi observado também, em estudo realizado em Campinas, mostrando que 25% dos entrevistados mostraram não saber praticamente nada a respeito da hanseníase, os demais conheciam apenas informativos dos cartazes no centro de saude7. 4.2.O impacto do diagnostico: Observamos que os usuários se sentiram fragilizados ao receberem o diagnostico da doença trazendo desejo de morrer, estigma, exclusão social e da família, mudanças nos seus hábitos. Pra mim o mundo iria se acabar, as pessoas iriam se afastar de mim, fiquei muito desesperada, nervosa porque não esperava. (entrevistado 12). O diagnóstico de hanseníase é responsável por mudanças no comportamento dos pacientes, diante da sociedade, onde a maioria demonstra sofrimento, diminuição da autoestima e dificuldade nos relacionamentos8. 4.3. Cotidiano modificado pelo diagnóstico: Nesta categoria perguntamos as pessoas se havia alguma conseqüência o fato de estar com hanseníase e verificamos que a hanseníase trouxe grandes mudanças em seu cotidiano, como demonstra as seguintes entrevistas: Mudou muita coisa pra mim ,porque eu não presto,porque ela deixou problema pra mim,sinto dormência ,não sinto a perna,então tenho dificuldade pra andar.(entrevistado12). Em relação às incapacidades físicas, os resultados apresentados revelam claramente que aos portadores a doença apresenta dificuldades no seu cotidiano, em conseqüência das incapacidades físicas, debilidades pelos efeitos dos medicamentos, alteração da sensibilidade ou comprometimento físico e que ainda refletem em problemas psicológicos. Com isto equivalem-se aos resultados obtidos no Estudo realizado no Município de São Carlos, que também mostraram que a maioria dos hansênicos sente-se fragilizados porque precisam afasta-se do trabalho8. 4.4. Convivendo com a família: Verificamos que a maioria dos entrevistados que não houve mudança no ambiente familiar, reagiram de maneira normal e ainda prestava apoio e incentivo do tratamento, no entanto, nem todas as famílias estavam cientes da importância de dar apoio a seu parente com hanseníase, tendo casos que a pessoa foi afastada do convívio familiar. No começo minha família ficou triste, preocupada e depois agente foi indo assistindo as reuniões, aí foi entendendo. (entrevistado 10) Minha mãe se afastou de mim, meu pai, meus irmãos quando descobriram mais minha madrinha e padrinho não me abandonou... a mãe separou o prato de comida,roupa,copo e falou se quiser compra outra geladeira nova e comprei ...(entrevistado 06). O apoio familiar frente ao diagnóstico reflete conforto durante o processo de tratamento e a integração do conhecimento sobre a doença proporciona qualidade de vida por não provocar rejeição e afastamento dos seus familiares6 Ainda hoje tem muitos tabus e preconceito com o doente. Existem uma grande resistência da maioria das pessoas em pensar que, não seja igual a varias outras doenças, em que, recebendo tratamento, tenha cura. Isso porque, prevalece a idéia de que contrair hanseníase é adquirir lepra, o mal que no passado, era associado ao imundo, ao impuro, ao pecado ao castigo de Deus5. Considerações Finais A realização deste estudo nos possibilitou conhecer a percepção do portador de hanseníase sobre o seu cotidiano. Nesta pesquisa os resultados mostraram que a hanseníase causa um grande impacto no cotidiano das pessoas. Foi possível identificar sentimentos, como desespero, medo, raiva, culpa tristeza, depressão, estigma, preconceito, aversão a hanseníase. Confirmou-se também que os estigma e o preconceito, é uma situação marcante, contra os portadores de hanseníase esta relacionada a falta de conhecimentos sobre a doença.Também pela historia antiga que ela carrega Observamos que a hanseníase trouxe grandes mudanças no cotidiano das pessoas em tratamento, como tiveram as atividades do dia-a-dia alterada, tanto pelo PQT quanto pelas conseqüências físicas que a patologia ocasionou, além de terem que comparecer todo mês a unidade de saúde para tomar os remédios, a mudança na coloração da pele, mostrou-se que eles se sentiam constrangidos pelas curiosidades das pessoas. Consideramos o estudo relevante aos profissionais de saúde pela comprovação da necessidade dos trabalhos educativos tanto para o cliente quanto para a família tendo em vista ainda hoje a interferência da patologia no cotidiano destas pessoas. Nesta perspectiva acreditamos que a pesquisa possa contribuir com o serviço de atenção básica na medida em que proporciona uma reavaliação da pratica dos profissionais, envolvidos, contribuindo para o resgate da cidadania e do respeito para com essas pessoas. REFERENCIAS 1 Ministério da Saúde (BR). Secretária de Políticas de Saúde. Departamento de Atenção Básica. Guia para o controle de hanseníase. Brasília (DF); 2002.p.12-63. 2. Ministério da Saúde (BR). Um guia para eliminar a hanseníase como problema de saúde pública, 1995.p.80-90. 3 Chaim CO. O drama da hanseníase no Brasil. Revista Isto É. São Paulo (SP). 1905-26. Abr./2006.p.20-24 4. Ministério da saúde. Fundação Municipal de Saúde de Teresina. Gerencia Epidemiológica. 2006. 5 Souza MM, Silva GB, Henriques MERM. Significado de ser idoso/doente de hanseníase. Revista eletrônica de Enfermagem, v07, n.03, p328-333.2005. Disponível em <http://www.fen.ufg.br/revista.com. br>.Acesso em: 27/09/06. 6 Mendes VO. Repercussões da hanseníase no cotidiano de pessoas e de seus familiares. 2004. Monografia (Graduação em Enfermagem) Centro de Ciências da Saúde, Universidade Estadual Vale do Acaraú-UVA, Sobral-Ceará, 2004. Disponível em: <http://www.sciello.br>.Acesso em: 16/05/06. 7Queiroz MS, Carrasco MAP. O doente de hanseníase em Campinas: uma perspectiva antropológica. Cad. Saúde Pública. Rio de Janeiro, (periódico na internet), v.11, n. 3, Set /1995. Disponível em: <http://www.sciello.br>.Acesso em: 20/09/06. 8 Simões MJS,Delello D.Estudo do Comportamento Social dos Pacientes de Hanseníase do Município de São carlos-SP.Revista Espaço para a Saúde.v.7,n.1,pg10-15.2005.Disponível em: <http://www.sciello.br>.Acesso em: 29/08/06. 1 Professora Mestre da Faculdade NOVAFAPI, [email protected]. Professora Especialista da Faculdade NOVAFAPI, [email protected]. 3 AcademicadeEnfermagemFaculdadeNOVAFAPI, [email protected] 4 Acadêmica de EnfermagemFaculdadeNOVAFAPI,[email protected] 5 Acadêmica de Enfermagem FaculdadeNOVAFAPI,[email protected] 2