Especial 175 Anos Trimestral €1 montepio número 16 série SIGA O CORAÇÃO E CONHEÇA UM CAMINHO COM FUTURO. UM CAMINHO PARA PERCORRERMOS JUNTOS… POR TODOS FUTURO DO MUTUALISMO António Tomás Correia, em entrevista, revela perspetivas de presente e futuro O MUNDO EM 2015 Economia, política e ambiente são algumas das áreas nas quais vão ocorrer mudanças no futuro próximo POUPAR E INVESTIR 2015 é o ano das reformas. Conheça as alterações que poderão afetar as suas finanças ii EM 1840 OUSÁMOS MUDAR O MUNDO. O NOSSO. OUSÁMOS TRANSFORMAR AS NOSSAS VIDAS, PROTEGENDO O PRESENTE E GARANTINDO O FUTURO. PARTILHÁMOS UM CAMINHO, UMA HISTÓRIA. FIZEMOS DA UNIÃO A NOSSA FORÇA. DA SOMA DE VONTADES A NOSSA MARCA. HOJE SOMOS MAIS DE 630 MIL. AJUDAMOS A CONSTRUIR O FUTURO DE FAMÍLIAS E COMUNIDADES. FAZEMOS DA SOLIDARIEDADE O PILAR DA NOSSA AÇÃO. SOMOS A MAIOR ASSOCIAÇÃO MUTUALISTA PORTUGUESA E UMA DAS MAIORES DA EUROPA. PARTILHAMOS O CAMINHO QUE INICIÁMOS HÁ 175 ANOS. UM CAMINHO MAIOR QUE CADA UM DE NÓS. UM CAMINHO CAPAZ DE TRANSFORMAR O MUNDO. PORQUE, NO MONTEPIO, ESTAMOS JUNTOS POR UM, JUNTOS POR TODOS. PELO NOSSO FUTURO. MUTUALISMO JUNTOS POR TODOS COMO O MONTEPIO TRANSFORMA O FUTURO DA MARIA. A VIDA DO MANUEL. A NOSSA VIDA. COLABORADORES PÁG. 18 Nesta edição... António Tomás Correia Rui Zink Escritor e professor universitário Presidente do Grupo Montepio PÁG. 30 PÁG. 82 O líder da maior associação portuguesa Polémico mas conservador, irreverente porém tradicional. assinala o 175.° aniversário da Associação Mutualista Montepio com uma análise do mutualismo nas sociedades, destacando o papel de instituições como o Montepio no setor social da Economia e no futuro. À conversa com a Montepio, Rui Zink evoca referências literárias, recorda o percurso académico e revela a paixão pelo Rio Ave, clube do coração. Perfil de um homem que é o espelho da personalidade dissonante do povo português. propriedade #16 série ii diretor António Tomás Correia -adjunto Rita Pinho Branco diretor coordenação Gabinete de Relações Públicas Institucionais Esta revista foi redigida ao abrigo do novo Acordo Ortográfico Atriz e apresentadora Medos, heróis e a noção de felicidade. Filomena Cautela responde ao questionário de Proust do Montepio. A “voz” do Montepio, gostava de ser a Supermulher, viver no mundo inteiro e ser um pouco mais otimista. c o l a b o r a ç õ e s Montepio Geral – Associação Mutualista, Rua do Ouro, 219-241 1100-062 Lisboa Tel. 213 249 540 INVERNO 2014 Filomena Cautela Baptista-Bastos, Eudora Ribeiro, Francisco Moita Flores, Helena C. Peralta, Mafalda Aguilar, Rita Maria, Rita Vaz Silva, Sara Raquel Silva, Susana Marvão, Susana Torrão (texto), Artur, Luís Viegas (fotografia), Ana Seixas (ilustração) p u b l i c i d a d e Isabel Costa (918 708 613) Maria João Siqueira (918 704 396) Fátima Quaresma (913 038 394) Laurinda Barata (918 708 558) Helena Ferraia (918 697 562) Tel. 213 804 010 | Fax 213 804 011 i m p r e s s ã o editor Plot - Content Agency Av. Conselheiro Fernando de Sousa, 19, 6º, 1070-072 Lisboa Tel. 213 804 010 e d i t o r Ana Ferreira g e s tã o e c o o r d e n a ç ã o Catarina Carneiro, Filipa D´Avillez e Miguel Ferreira da Silva Certificado PEFC Este produto tem origem em florestas com gestão florestal sustentável e fontes controladas PEFC/13-31-011 www.pefc.org MONTEPIO INVERNO 2014 d i r e t o r Inês Reis d e Rita Barata Feyo, Sónia Garcia, César Caramelo e João Caetano e a r t e | Revista trimestral | Depósito Legal nº 5673/84 | Publicação periódica | registada sob o nº 120133 t i r a g e m 457 000 exemplares a r t e d e s i g n p r o d u ç ã o LiderGraf - Artes Gráficas, SA Rua do Galhano, 15 (E N 13), Árvore 4480-089 Vila do Conde f i n a l Ana Miranda e Pedro Pinguinha O Montepio é alheio ao conteúdo da publicidade externa. A sua exatidão e/ou veracidade é da responsabilidade exclusiva dos anunciantes e empresas publicitárias. Conheça alguns temas da próxima edição Reportagem ^ ARTE URBANA As paredes da cidade são as telas de um novo movimento artístico português. Conheça os novos artistas urbanos. Observatório ^ PARA ALÉM DO PIB Existem outros índices determinantes para uma estratégia a longo prazo. Conheça os novos indicadores. Empreendedor ^ STARTUPS DE VERÃO Como vender uma ideia. Reunimos um grupo de empresários que revelam à Montepio o segredo do seu sucesso. Errata Na nossa edição de Outono 2014, nº 15, série II, no artigo Agricultura - Alimentar o Mundo em 2050, página 19, parágrafo Banco de Terras, referimos que a Bolsa de Terras disponibilizava 13,5 hectares e que o Estado contribuía com 12 hectares, quando, na realidade, são 13,5 mil hectares que a Bolsa tem à disposição, dos quais 12 mil hectares são a contribuição do Estado. Aceite o desafio, participe na próxima edição e envie-nos as suas sugestões e comentários para [email protected] ou, se preferir, para Revista Montepio, Gabinete de Relações Públicas Institucionais, Rua General Firmino Miguel, 5, Torre 1, 7º, 1600-100 Lisboa EDITORIAL Juntos por todos a celebrar a cidadania O arranque de 2015 ficou marcado na história desta Instituição pelo início das comemorações dos 175 anos de atividade da Associação Mutualista e, também, no mesmo passo, pela revelação da sua nova imagem e assinatura. Novas cores e uma promessa – “Juntos por todos” – trazem ao presente uma identidade construída em 1840 por um grupo de funcionários da Fazenda Pública, mas que, até agora, não se havia afirmado a partir de uma construção própria. Juntos por todos. Juntos em torno de uma associação criada para colocar a economia ao serviço das pessoas. Juntos na afirmação da cidadania e do seu poder. É disso que se trata quanto nos referimos ao Montepio e é esse perfil de organização que faz com que muitos considerem esta “casa” diferente. E o Montepio é isso mesmo, diferente. Diferente na sua natureza associativa, diferente na base cidadã, diferente na capacidade de crescer e agregar mais e mais cidadãos em redor de um projeto associativo que é hoje o maior de Portugal e um dos maiores da Europa, diferente na democracia interna. Numa expressão: diferente por se assumir enquanto instituição de pessoas e não de capitais. Falar de Montepio é, portanto, falar de pessoas – de associados (e não de clientes) –, de fins não lucrativos, mas solidários; da possibilidade de ser parte ativa na definição da sua proteção social a partir de uma lógica nascida da solidariedade responsável. Há 175 anos que defendemos esta causa, que apoiamos o seu crescimento e afirmação e que concretizamos o que definimos por instituição-cidadã. Este mundo que vimos criando também se desenvolve com o seu contributo. Obrigado, pois, por ajudar a levar ao Mundo um dos maiores exemplos de participação cívica. "O que é meu, é teu" A explicação do Mutualismo radica na própria palavra: mútuo. “O que é meu, é teu”. Ou seja, é uma forma de associativismo na qual um grupo de pessoas decide contribuir para um fundo comum, que serve para momentos de necessidade de proteção social, bem-estar, saúde ou qualidade de vida, de cada um/a, na medida da sua contribuição. MONTEPIO INVERNO 2014 GLOCAL Associativismo O MONTEPIO É A MAIOR ASSOCIAÇÃO MUTUALISTA DE PORTUGAL E UMA DAS MAIORES DA EUROPA. INSTITUIÇÃO LÍDER DA ECONOMIA SOCIAL PORTUGUESA, CONCRETIZA OS VALORES DA SOLIDARIEDADE, IGUALDADE, RESPONSABILIDADE E CIDADANIA + = + Mutualismo Cooperativismo Economia Social ORGANIZAÇÕES SOLIDÁRIAS Economia Social 2,8% Em 2010, a Economia Social (ES) representava 2,8% do produto interno português e do VAB (Valor Acrescentado 86 274 Europa Bruto). Este valor é superior, por exemplo, gerado em setores como Associações ao produto o da eletricidade, agricultura, e Outras Cooperativas silvicultura e pesca, Existem mais Existem mais de 2 200. agroindústria. de 52 mil. 14% do emprego na ES (empregam cerca de 31 800 trabalhadores) Representam 64,9% do emprego na Economia Social (empregam cerca de 147 400 trabalhadores) Misericórdias Fundações Existem mais de 380. 14,7% do emprego na ES (empregam cerca de 32 500 trabalhadores) Existem mais de 530. 4,7% do emprego na ES (empregam cerca de 10 700 trabalhadores) Europa MONTEPIO INVERNO 2014 Existem 119. 2% do emprego na ES (empregam 4 600 trabalhadores) *Inclui as caixas económicas anexas Mutualismo O mutualismo concretiza um sistema privado de natureza associativa através de mutualidades que são agrupamentos de pessoas que praticam, no interesse dos seus associados e suas famílias, fins de entreajuda de proteção contra as consequências de riscos sociais. As mutualidades aplicam diversos valores, nomeadamente de solidariedade, liberdade, igualdade, democracia, inclusão social, transparência e independência. Em Portugal, as associações mutualistas atuam, sobretudo, nas áreas da saúde, proteção social e segurança social. 250 Mutualidades existem em 23 países da União Europeia. Sabia que... Cinco países da União Europeia não têm organizações mutualistas devido à ausência de legislação específica sobre o setor - Chipre, Eslováquia, Estónia, Lituânia e República Checa. Mutualidades* + Emprego + Atividade Produtiva + Solidariedade + Capital Social As mutualidades, mútuas e cooperativas de seguros empregam mais de 350 mil pessoas. 73% França TOP 5 UE (2010) 9,7% Roménia 4,6% Espanha 3,5% Alemanha 1,3% Portugal MILHÕES Cidadãos beneficiados pelas mutualidades, mútuas e cooperativas de seguros. +50% 9 300 Mutualidades mútuas e cooperativas de seguros. Total na União Europeia (2010) Mais de metade das seis mil seguradoras europeias são mútuas ou cooperativas de seguros. Correspondem a 28% dos prémios na Europa. 28% Há 4 500 anos Idade Média Primeiros vestígios do Mutualismo. Egito – Associação funerária. 1728 Primeiros Montepios criados nos Países Baixos. Criada a associação mutualista mais antiga do mundo - Unión Tipográfica Italiana de Socorros Mútuos. 3000 A.C. Grécia Antiga e Império Romano – Criação de orfeões, colégios, funerárias. MUTUALISMO 1840 1822 Criado em Portugal o Montepio Geral, maior associação mutualista do país e uma das maiores da Europa. Socialista francês Charles Fourier usa pela primeira vez o termo Mutualismo. 1807 PORTUGAL associações mutualistas Mundo Criação de sociedades filantrópicas em França. Maior Associação Mutualista em Portugal Mutualismo – Números (2010) – Portugal 119 1780 É criada em Lisboa a primeira associação mutualista portuguesa, O Montepio do Senhor Jesus do Bonfim. 630 mil +de 2,5 1 milhão associados MONTEPIO em fevereiro 2015 milhões de associados de beneficiários Movimento mutualista e cooperativo está presente em mais de 30 países. Em 2014, representava: 1MILHÕES 000 12% do emprego total no grupo dos G20 Emprega 250 milhões pessoas de afiliados. Américas 120 Entidades mutualistas em 18 países. +de África 24 MILHÕES de beneficiários. 40 Mutualidades inscritas na União Africana do Mutualismo. €€ € 1,8 milhões de euros em volume de negócios 6 MILHÕES de pessoas beneficiadas. CAMARÕES País com maior representação. 8 associações ligadas ao setor da saúde. MONTEPIO INVERNO 2014 O MEU MUNDO TENDÊNCIAS NA ECONOMIA, SOCIEDADE, VIDA E CULTURA página 12 página 18 O que é o mutualismo e qual o seu impacto nas sociedades? Descrevemos esta ideia de sociedade que integra conceitos como solidariedade, humanismo ou abnegação António Tomás Correia, presidente do Grupo Montepio, traça o caminho para os próximos dez anos. Conheça a visão mutualista que inspira todas as atividades do Montepio TEMA DE FUNDO ENTREVISTA Página 24 EDUCAÇÃO FINANCEIRA Casa de pais, escola de filhos. Aprender a lidar com o dinheiro, desde cedo, poderá vir a revelar-se muito útil na formação de cidadania dos seus filhos Página 34 OBSERVATÓRIO Acompanhe as tendências de 2015. Não falamos só de moda, mas também de economia, sociedade, ciência, cultura e turismo. Porque uma das constantes do mundo é a mudança 1 o meu mundo TEMA DE FUNDO MUTUALISMO O QUE É MEU É TEU 12 TENDO COMO MOTOR A SOLIDARIEDADE, O MUTUALISMO VAI MAIS ALÉM E CONCRETIZA UMA LÓGICA DE RELAÇÃO QUE BENEFICIA IGUALMENTE TODAS AS PARTES. VALORES HUMANOS E AUSÊNCIA DE FINS LUCRATIVOS SÃO ALGUMAS CARATERÍSTICAS DESTA ATIVIDADE QUE SE MOSTRA CADA VEZ MAIS ATUAL E NECESSÁRIA por rita maria A entreajuda é própria do ser humano. A partilha de recursos é o motor de desenvolvimento das sociedades. Na Grécia Antiga esta prática deu origem ao mutualismo. Os problemas da nossa sociedade do século xxi podem não ser os mesmos que existiam nos séculos iv e v a.C., mas esta forma de organização, que promove a reciprocidade e participação de todos os membros da sociedade, mantém-se tão atual e necessária como nos primeiros tempos. MONTEPIO INVERNO 2014 ? AS ASSOCIAÇÕES MUTUALISTAS regem-se pelo Código das Associações Mutualistas, que está atualmente em processo de revisão, assim como pela Lei de Bases da Economia Social. Um sistema livre Os teóricos afirmam que uma obra, programa ou forma de estar só tem continuidade se as pessoas aderirem com liberdade. Defendem que ninguém pode ser obrigado a ajudar, sob pena dessa ajuda ter um ciclo de vida mais curto que o próprio problema. Por outro lado, a história já mostrou que quando, por sua vontade, um grupo de pessoas se junta para prevenir eventuais desequilíbrios sociais, verdadeiros impossíveis acontecem. E assim nasce o mutualismo. Primeiro a necessidade, o desejo de ser parte de uma solução. Depois a organização, a estrutura, os benefícios para todas as partes envolvidas. O mutualismo como o conhecemos hoje – sistema de entreajuda que concede benefícios de proteção social a cada um dos seus membros – mantém os princípios que nortearam a sua origem, há mais de 25 sé- culos, acrescidos dos ideais da Revolução Francesa: liberdade (de adesão e saída), igualdade (dos associados) e fraternidade (um fundo comum que O QUE É Saiba mais sobre mutualismo Para saber mais sobre mutualismo aceda ao site do Montepio (www.montepio. pt). Também pode informar-se através dos livros O Mutualismo em Portugal – – Dois Séculos de História e Suas Origens, 1996, Multinova, de Vasco Rosendo, e O Mutualismo Português: Solidariedade e Progresso Social, 1998, Vulgata, de Carlos Pestana Barros e José C. Gomes Santos. VALORES Economia Social – Mutualismo – Montepio O Montepio é a maior associação mutualista de Portugal e uma das maiores da Europa. Integrada no setor da economia social, orienta toda a atividade para o benefício de uma comunidade de associados, a partir dos valores de confiança, transparência e solidariedade. MONTEPIO INVERNO 2014 13 1 o meu mundo ? O MEU QUE TEMA DE FUNDO mutualismo TAMBÉM É TEU O mutualismo nasce de uma necessidade, cresce na 1 milhão 14 cooperação e realiza-se no bem O movimento mutualista reúne, em Portugal, mais de um milhão de associados comum. Os seus 25% igualdade entre É a percentagem da juntos somos mais população portuguesa que beneficia do mutualismo fortes 14,5 milhões Número de empregados nas empresas de economia social na União Europeia 18 milhões São as pessoas que beneficiam com a ação dos membros da Organización de Entidades Mutuales de las Américas (ODEMA) princípios são os da liberdade de participar, da associados e da fraternidade, pois dilui o risco individual no risco coletivo). A designação provém do latim mutuum, que se traduz por “o meu é teu”. Com efeito, as associações mutualistas podem atuar no campo da saúde, da segurança social ou no âmbito de grupos profissionais – como as que nasceram com a proletarização decorrente da Revolução Industrial. Inserido na esfera da economia social, conhecida também como terceiro setor e que abrange as esferas do associativismo, cooperativismo e mutualismo, a verdade é que as di- ferentes organizações deste setor aliam rentabilidade e solidariedade, gerando empregos, atividade produtiva, solidariedade e capital social. Uma coisa é certa: o seu trabalho visa o fomento ou a proteção social dos seus membros, que podem ser em número ilimitado. Não estamos sozinhos O mutualismo carateriza-se também pela ausência de fins lucrativos e insere-se no setor da economia social. Esta, por sua vez, congrega a EVOLUÇÃO O sistema de proteção mais antigo do mundo IDADE MÉDIA 1789 SÉCULO XIX O mutualismo surge ligado a organismos religiosos e profissionais. Servia, sobretudo, as agremiações de profissionais. Promovia a sua regulamentação e qualidade além de proteger viúvas, inválidos e órfãos. Com a Revolução Francesa ganham força os valores que norteavam o mutualismo e as mutualidades: liberdade de adesão e de saída, igualdade dos associados e fraternidade refletida no fundo comum que dilui o risco individual no coletivo. O liberalismo do século xix destruiu os mecanismos de solidariedade existentes e deu origem a novas classes sociais. Estas encontravam-se desprotegidas e assim o mutualismo tornou-se uma resposta à necessidade de apoio. Associado a grupos profissionais, ganhou a forma de associações mutualistas ou mutualidades. MONTEPIO INVERNO 2014 capacidade de iniciativa e auto-organização dos cidadãos que trabalham no sentido da solidariedade social. Pelo seu papel na criação de uma sociedade mais forte e inclusiva – além de mais justa, mais forte e mais próspera – a economia social tem atraído a atenção de governos e organizações internacionais. Dados sobre o nosso país revelam que existem associações mutualistas em todos os distritos. Já a Association Internacionale de la Mutualité (AIM), sediada em França, mostra que os seus associados se concentram sobretudo na Europa, América do Sul e África, continente no qual Marrocos é o país com mais associações mutualistas, registando atualmente 15 associações membro da AIM. A Organización de Entidades Mutuales de las Américas (ODEMA), que reúne os interesses mutualistas da América do Sul, Central e do Norte, informa no seu relatório de 2013 que entre as suas associadas existem 99 entidades e mais de 18 milhões de beneficiários. BIOLOGIA Os exemplos da Natureza ? PROTEÇÃO MÚTUA Em 1902 o russo Peter Kropotkin causou polémica com o seu livro, A Natureza é pródiga em mutualismo e há vários tipos de relações de mutualismo entre espécies. A mais típica é a dos líquenes, cuja existência se deve à relação entre os fungos – que absorvem e metabolizam os nutrientes e as algas – que realizam a fotossíntese. Os bovinos e as bactérias que neles se instalam A maior associação portuguesa Criada em 1840, a Associação Mutualista Montepio é a maior de Por- tugal e uma das maiores da Europa e tem hoje 630 mil associados que beneficiam de um extenso conjunto de iniciativas em diversas áreas, além do acesso a soluções exclusivas. Qualquer cidadão pode ser associado e ter acesso a soluções mutualistas de poupança e proteção com condições são outro exemplo. Enquanto estes lhes dão abrigo e alimento, estas produzem ácidos que permitem aproveitar melhor os nutrientes das plantas de que se alimentam. As aves que removem os parasitas da pele dos hipopótamos que, por sua vez, as protegem dos predadores é mais um caso de mutualismo entre espécies. O pelicano, que tira de si para dar às crias, é o símbolo do Montepio, que assim mostra a relação intergeracional que deve existir entre pais e filhos, avós e netos, para além da proteção. 1807 1840 1995 É criada em Lisboa a primeira associação mutualista portuguesa, o Montepio do Senhor Jesus do Bonfim. Nasce o Montepio Geral – Associação Mutualista. Foi fundado por um grupo de funcionários públicos e assume-se como promotor e gestor de regimes complementares de Segurança Social, de serviços e equipamentos sociais e de saúde, da economia do bem-estar e da qualidade de vida. É a cabeça do Grupo Montepio. Nasce a Fundação Montepio. No âmbito da sua missão estabelece um contato permanente com a comunidade envolvente e procura conhecer a diversidade do setor da economia social, identificando e promovendo boas práticas de intervenção social. Mutual Aid: A Factor of Evolution, no qual defendia que a evolução das espécies está diretamente relacionada com as relações de proteção mútua que forem capazes de criar entre si e umas com as outras MONTEPIO INVERNO 2014 15 1 o meu mundo TEMA DE FUNDO mutualismo 16 exclusivas, seguras e personalizadas. Na saúde, pode beneficiar dos serviços e estruturas da Residências Montepio – para seniores – e também da redeMut (www.redemut.pt). Esta compreende a prestação de serviços e cuidados de saúde, acessíveis a todos os associados de todas as mutualidades que integram esta rede. E não é tudo. Um Associado Montepio tem direito a serviços e condições exclusivas na compra, venda ou permuta de imóveis, acesso em condições muito especiais aos produtos financeiros das empresas do Grupo, para além da possibilidade de participar em atividades ao ar livre (passeios e visitas), cursos, workshops, concursos e desafios que ajudam a interpretar o mundo e as tendências. Para além da sua obra associativa, a Associação Mutualista está intimamente ligada à economia social e às suas instituições através das atividades da Fundação Montepio. Focando apenas dois exemplos, refere-se a Corrida Montepio que, na sua segunda edição e sob o mote “Corremos uns pelos outros”, reuniu no mês de outubro de 2014 cerca de 60 mil euros entregues na totalidade à Cáritas Portuguesa, para serem aplicados no programa “Prioridade às Crianças”, e a Frota Solidária, criada em 2008 para devolver à sociedade civil os montantes que os contribuintes atribuem à Fundação Montepio através da consignação fiscal, e que já respondeu às necessidades de mobilidade de mais de 100 instituições de solidariedade. No fundo, é uma forma de estar na vida, aproveitando o que esta tem de melhor, incluindo o facto de estar protegido. MONTEPIO INVERNO 2014 Estratégia de união Rita Pinho Branco, diretora de Marketing e Comunicação do Montepio, destaca a “dimensão humana” da nova campanha Nunca a Associação Mutualista tinha tido uma campanha assim. O que motivou esta investida? A marca Montepio é identificada de forma imediata pela generalidade das pessoas na sua dimensão bancária, sendo menos reconhecida na sua vertente mutualista. A verdade é que se trata de uma Associação Mutualista, a maior de Portugal e uma das maiores da Europa. Como tal, e quando celebramos 175 anos de atividade, considerámos ser momento de comunicar esta realidade, afirmando o que nos distingue e diferencia. O que muda com a nova campanha? Diria que muda, de modo fundamental, a visibilidade e a afirmação de uma instituição do setor social da economia, de natureza mutualista e que configura um dos maiores exemplos de cidadania ativa no nosso País. Esta nova campanha, ao comunicar a mensagem “Juntos por todos” afirma a dimensão humana e de partilha do Montepio Geral - Associação Mutualista, revela a sua identidade e confirma a solidariedade e o quadro de valores que a orienta. O que os associados podem esperar de diferente? A diferença encontra-se na afirmação de um projeto que os associados criam e fortalecem a cada dia. A dedicação das equipas, a adequação das modalidades mutualistas e o alargado leque de benefícios, descontos, iniciativas e dinâmicas que a Associação desenvolve a favor da comunidade de associados, e que apertam os laços entre a instituição e os seus membros, esses mantêm-se. A imagem da nova campanha é um caminho. Qual o significado? Desde 1840 que o Montepio Geral Associação Mutualista responde às necessidades de poupança e proteção de pessoas e famílias através de soluções de proteção à fragilidade individual, que diluem os riscos e acautelam o futuro dos associados. O conceito de comunicação que inspirou esta campanha assenta precisamente nessa realidade e recorre a uma metáfora - o “caminho” - para simbolizar a vida, as suas vicissitudes, as dificuldades e os sucessos, mas também para revelar que, quando falamos de mutualismo, as dificuldades são partilhadas e superadas a partir do apoio e da força do grupo. O lema é: Juntos por todos. Qual a ideia representada pelo coração no logótipo ? Na vida e no que às relações humanas diz respeito, as emoções configuram uma das maiores forças. O que sentimos uns pelos outros, os laços que vamos tecendo, as relações que vamos construindo valorizam cada momento das nossas vidas. Numa associação mutualista como o Montepio, que nasce das pessoas e para as pessoas, que melhor forma de simbolizar esta dimensão senão recorrendo a um coração e à cor intensa que o define? Por isso, a nova identidade do Montepio Geral - Associação Mutualista concretiza-se num tom mais quente, para garantir maior proximidade e envolvência, mantendo, ainda assim, a relação cromática com a marca financeira. Os cartazes e materiais têm sempre pessoas. Isto demonstra que os associados estão em primeiro plano? Se considerarmos que a Associação Mutualista reúne mais de 630 mil associados, é de pessoas que falamos e estas pessoas, a razão de ser de todo o projeto que o Grupo Montepio cumpre a cada dia, estão, indiscutivelmen- > DE PESSOAS PARA PESSOAS A nova campanha do Montepio tem um coração no logótipo e coloca as pessoas em PUB primeiro lugar te, no primeiro plano. Uma associação é o resultado da vontade das pessoas, é um exercício de cidadania, de união de esforços, interesses e forças, razão por que o projeto de comunicação que desenvolvemos assumiu rosto e dimensão humanos. A Associação Montepio tem mais de 630 mil associados. Como esperam acabar 2015? Ainda mais perto de cumprir a próxima meta: um milhão de associados. O que vem a seguir a nível de comunicação? Orientamos o nosso trabalho no sentido do aprofundamento da relação e da proximidade da Associação com a sua comunidade de associados, ampliando e completando, a cada momento, o quadro de resposta, benefício e correspondência que enquadram a relação associativa e caraterizam o setor social da economia. É para as pessoas que trabalhamos e isto significa que é nosso objetivo fortalecer os laços tecidos com os associados. MONTEPIO INVERNO 2014 17 1 o meu mundo ENTREVISTA 18 MONTEPIO INVERNO 2014 ANTÓNIO TOMÁS CORREIA MUTUALISMO TEM FUTURO É ESSA A CONVICÇÃO DE TOMÁS CORREIA, QUE VÊ NA LÓGICA MUTUALISTA UMA FORMA DE ANTECIPAR E PROTEGER AS NECESSIDADES DE CADA UM. EM DEZ ANOS, ANTECIPA, O MONTEPIO JÁ TERÁ ULTRAPASSADO O MILHÃO DE ASSOCIADOS. PARA DEIXAR CLARO AOS PORTUGUESES O VERDADEIRO ESPÍRITO DO GRUPO, EM JANEIRO ARRANCOU UMA CAMPANHA DE COMUNICAÇÃO QUE SUBLINHA A LÓGICA MUTUALISTA COMO FORÇA MOTRIZ DE TODAS AS ATIVIDADES MONTEPIO, CAIXA ECONÓMICA INCLUÍDA por susana torrão fotografia artur “Dentro de dez anos entendo que o Montepio tem todas as condições para ser uma instituição com mais de um milhão de associados.” Numa conversa em torno do mutualismo, mas também do Estado Social e da relação que temos com o tempo, Tomás Correia, presidente do Grupo Montepio, partilhou uma visão de futuro na qual as instituições da economia social terão mais peso e os cidadãos serão mais interventivos. Ao fim de mais de 170 anos, qual é o papel do mutualismo em Portugal? O Montepio vive tempos de rejuvenescimento, embora tenha vivido tempos de dificuldade, como, em geral, todo o movimento associativo. Enquanto se foi construindo o Estado Social pensámos que este viria a resolver todos os nossos problemas, da saúde à reforma: o Estado Social cuidava de nós do nascimento até à morte. Creio que a crise veio mostrar que, afinal, o Estado Social, por muito que lutemos por ele, não vai ter condições para cuidar de nós durante uma tão grande longevidade. Esta consciência tem tido como consequência que o mutualismo seja visto como um meio de cada um, juntamente com os outros, encontrar formas alternativas de proteção e de complemento do que o Estado Social pode – ou possa – continuar a oferecer-nos. Este é um problema só português? É um problema mundial, que decorre de dificuldades que podem centrar-se em três pontos: por um lado uma crise de emprego, que terá como consequência que cada vez menos empregados terão de fazer face, em termos de Estado Social, aos custos deles próprios e de todos os que deixam de contribuir; um problema de equidade, em que há grandes dificuldades na repartição de rendimentos; uma crise de pensamento ao nível da distribuição das responsabilidades em termos intergeracionais. Estas questões ligam-se depois com outras mais técnicas, relacionadas com MONTEPIO INVERNO 2014 19 1 o meu mundo ENTREVISTA António Tomás Correia 20 problemas como o rendimento dos ativos que hão-de proporcionar condições para pagar pensões ou a questão do aumento da esperança de vida – hoje aponta-se para que em 2050 a esperança de vida ronde os 100 anos. O que levanta questões ao nível da vida ativa já que as pessoas, se vivem mais, passarão também a trabalhar mais tempo. Também levanta essas questões. Mas essa reflexão não está feita. As pessoas vão trabalhar mais tempo mas se hoje, com um número de anos de trabalho mais reduzido, temos dificuldades de emprego, como é que vamos enquadrar ainda mais pessoas no mercado de trabalho com uma vida ativa muito mais longínqua? Há toda uma reflexão, que do meu ponto de vista passa pela transformação do modo como encaramos a vida em sociedade e a economia, que faz com que o mutualismo seja visto como um meio para encontrar mecanismos de proteção. É isso que distingue o mutualismo? O mutualismo é concretizado através de associações que vivem de acordo com determinados princípios, nomeadamente um, muito importante, que diz respeito à democracia interna – são as pessoas que discutem o modo como a sua associação deve funcionar, que regras deve respeitar e como deve organizar-se. As associações, sendo instrumentos que pro- curam acrescentar valor para as disponibilidades que os associados lhes confiam, encontram mecanismos de rentabilização cujo proveito é distribuído exclusivamente pela associação, para cumprir os fins para que foi criada. Ou seja, todos os rendimentos acabam por destinar-se aos associados. Há outras instituições de capital privado, como por exemplo as companhias de seguros, que aparentemente visam o mesmo objetivo mas nas quais parte dos resultados são canalizados para o capital. Falou da crise no movimento associativo. Consegue identificar o momento em que recomeçou a haver maior dinamismo nesta área? As coisas não acontecem com um click, vão acontecendo. Há qualquer coisa que, sem se dar por ela, vai ocorrendo no desenvolvimento da sociedade e, neste caso, no desenvolvimento do movimento mutualista. Recordo-me que quando cheguei ao Montepio tínhamos um pouco menos de 200 mil associados e que me diziam “já temos muitos associados, não há muita possibilidade de continuar a crescer neste registo”. E o que é facto é que o Montepio teve das maiores taxas de crescimento de toda a sua vida nos últimos anos. Como explica isso? Pelo facto de as pessoas terem tomado consciência dos problemas e das necessidades, elegendo o mutualismo como instrumento apto a satisfazer essas necessidades, sobretudo na cobertura ao nível da reforma, da saúde, etc. Não se passa de 200 mil associados em 166 anos para os 630 mil em pouco mais de meia dúzia de anos. Há aqui um fenómeno que produz um movimento no sentido da congregação de esforços, que se traduz na adesão a uma associação e a um movimento mutualista que acaba por mobilizar uma parte importante da nossa população, intergeracional, interclassista, sem atender a questões como a idade, a religião, o género, a ideologia, etc. O Montepio é muito transversal à sociedade portuguesa e o mesmo acontece com o movimento mutualista. O espírito mutualista acentua-se em alturas de crise económica? A crise é um elemento que coloca questões. Interrogamo-nos sobre o que vai acontecer amanhã. Um dos problemas que temos atualmente é a gestão do tempo. Vivemos muito numa lógica de curto prazo. Se a economia corre bem, se tudo corre bem, não temos que nos preocupar muito com aquilo que possa acontecer daqui por dez anos. Com o Estado Social era a mesma coisa, acreditávamos que funcionava e não havia com que nos preocuparmos por causa disso. E durante cerca de uma década houve a ilusão de que as coisas também corriam bem financeiramente. Foram muito mais anos. O meu pai tinha a certeza de que a minha vida seria melhor do que a dele, que a dos meus filhos seria muito melhor do que a minha, etc. Hoje vivemos o inverso. Aquilo que sabemos é que os nossos filhos dificilmente terão uma vida tão boa como a nossa e nos nossos netos nem queremos pensar! IDENTIDADE No trabalho está o ganho Tomás Correia considera ter-se tornado uma pessoa melhor no Montepio. Mas é nas suas raízes que radicam as premissas que lhe norteiam a vida: é do trabalho que tudo vem MONTEPIO INVERNO 2014 e um homem nada mais tem do que a sua honra, pelo que a palavra dada terá sempre de ser cumprida. Natural de Pedrógão Grande, retém os preciosos ensinamentos do tio-avô – homem alto e vertical, na postura e nas atitudes – que ainda hoje lhe servem de exemplo. A infância e a adolescência passou-as entre as Beiras e a lezíria, para onde os “ratinhos” – nome dado aos pedrogueses devido à sua baixa estatura – vinham trabalhar durante alguns meses. Chegou a Lisboa com 14 anos, em 1960, uma cidade que hoje mal reconhece. Claro que muitas pessoas dizem que tínhamos menos exigências, mas isso é conversa fiada. O que é facto é que hoje as pessoas têm muito mais dificuldades. O que se passa hoje ao nível do emprego é brutal. Tinha a certeza de ter emprego, podia escolher a área de atividade em que queria trabalhar, tinha a certeza que se me concentrasse no trabalho e na aprendizagem podia chegar cada vez mais longe. Hoje não há essa certeza. Era muito fácil deslocar-me, hoje perdemos horas nos transportes, a qualidade de vida piorou, sobretudo nas grandes cidades. O tempo é gerido numa lógica de curto prazo. O que significa que raramente pensamos a vida em termos de futuro porque o dia-a-dia, que é muito exigente, nos consome. Raramente há tempo para dizer: vou fazer isto hoje com uma determinada lógica de concretização e daqui a dez anos isto terá o impacto x, y ou z. Como diz um autor cujo nome não me recordo, o que andamos a fazer é transformar o presente na lixeira do futuro. E com isto matamos a esperança. Há um desafio hoje que é o de pensar o futuro e reconstruir a esperança. E isso passa por quê? Passa muito por questões de sustentabilidade: das organizações, do planeta, dos países, das regiões. Mas não há tempo para pensar, vivemos num quadro mediático que nos impede de pensar melhor as coisas. E o mutualismo permite recentrar as coisas numa lógica de longo prazo? É exatamente isso que eu penso. Apesar de tudo, as pessoas começam a dar-se conta de que se não tratarem do seu futuro dificilmente alguém tratará, muito menos o Estado Social. E quando refletem sobre isso acabam por construir ou procurar soluções que vão ao encontro dessa proteção do futuro. E é aqui que eu penso que o mutualismo, e a economia social num contexto muito mais alargado, fazem sentido. Em Portugal, tenho esperança que com esta crise que está a ser muito vio- lenta – e vai continuar a sê-lo, não tenhamos ilusões acerca disso – finalmente tenhamos aprendido alguma coisa. No sentido de criar um quadro sustentável de funcionamento do país que nos evite voltar atrás constantemente e viver sob a tutela dos nossos credores internacionais. Sei que vamos levar muitos anos a recuperar da situação de catástrofe em que nos encontramos, mas se tivermos consciência que este é um problema que não queremos voltar a viver, certamente seremos capazes de construir soluções, modelos de funcionamento, modos de abordar a nossa vida coletiva que nos protejam de novas catástrofes desta natureza. Se formos capazes de o fazer, e desejo sinceramente que sim, teremos outra vez de pensar o tempo em termos de futuro e estaremos a reconstruir a esperança. E se formos por aí, é minha convicção que o mutualismo e a economia social desempenharão um papel importantíssimo na sociedade portuguesa. De que forma? Entre outras coisas, numa componente cidadã. Creio que a nossa sociedade vive uma grande crise de cidadania. E essa crise vem de onde? Vem muito daquilo que já Eça descrevia: somos uma sociedade dependente dos favores do Estado, que procura construir as suas soluções de vida com recurso a mecanismos em que cada um não aposta nas suas capacidades mas procura, em primeiro lugar, encontrar soluções que lhe facilitem a vida, mecanismos que não funcionam com base na interajuda mas que, na velha gíria portuguesa, funcionam com base na cunha para tudo. Isto em vez de, de uma forma cidadã, nos empenharmos no nosso trabalho, nos contributos que podemos dar à sociedade e a nós próprios, tornando-nos muito mais exigentes para com a sociedade e para com quem tem a responsabilidade de nos governar, perante as organizações que têm o dever de nos servir. No fundo, dan- do o nosso contributo para que todas as organizações, a partir do próprio aparelho de Estado – os institutos públicos, as empresas, as associações –, tenham uma atitude que vá ao encontro das necessidades do Homem. Todas estas organizações devem servir o cidadão. Em termos práticos, como é que uma associação como o Montepio pode fomentar essa intervenção cidadã? Desde logo funcionando com regras que obedecem a uma democracia muito intensa e a uma pluralidade de opiniões que se manifestam livremente. Mas o Montepio não se fecha sobre si próprio e sobre a relação com os seus associados e tem tentado abrir-se à sociedade e estar presente nos eventos levados a cabo pela sociedade civil. Pode parecer pouco mas o nosso auditório é um espaço aberto a todas as iniciativas da sociedade civil. Temos os chamados espaços Atmosfera m – um no Porto e outro em Lisboa – que são espaços que o Montepio disponibiliza para que a sociedade possa levar a cabo os seus eventos e que nós cedemos às organizações que nos contactam. Além disso, procuramos apoiar ativamente iniciativas que conduzam à capacitação das diversas organizações da economia social. Somos parceiros de praticamente todas as instituições ou centros de saber que em Portugal se dedicam às questões da economia social. Quando olhamos para as questões da música, praticamente não há novos projetos criativos que não tenham o apoio do Montepio. Como selecionam os projetos a apoiar? São projetos que devem acrescentar valor à cultura e ao saber portugueses. Não censuramos. A única coisa que nos preocupa, e queremos ter essa convicção quando apoiamos, é que se trata de um projeto que vai ao encontro de uma forte parcela do sentir da nossa sociedade. Não haverá disco de fado que não tenha o apoio do Montepio. O último fruto fantástico do apoio MONTEPIO INVERNO 2014 21 1 o meu mundo ENTREVISTA António Tomás Correia 22 do Montepio é a Gisela João. Cantava no Senhor Vinho mas não conseguia apoios para gravar um disco. O Montepio apoiou-a e estamos muito satisfeitos por ser hoje considerada a grande revelação da música portuguesa na área do fado. Esta é uma forma de estarmos atentos e abertos às iniciativas da sociedade e das pessoas. Falamos pouco das pessoas, mas elas devem ser o centro das nossas preocupações. Não se perderia nada se voltássemos à ideia da Revolução Francesa, quando o Homem era o centro da norma jurídica. O Homem é o destino de todas as nossas atividades. É bom que tenhamos capacidade para voltar a esta ideia. Qualquer coisa que façamos que não faça sentido para a pessoa, não deve ter sentido de realizar. O Montepio é uma instituição mutualista mas também é uma caixa económica. Como conjugam os ideais de entreajuda do mutualismo com uma lógica financeira? Reconheço que, em geral, a sociedade portuguesa olha para o Montepio e vê nele um banco. Quer queiramos quer não, muitas pessoas pensam no Montepio como uma instituição financeira. Somos uma associação mutualista que tem todo um grupo empresarial no qual cabe a atividade bancária, a atividade seguradora, a atividade de gestão de património, etc. Queremos alterar esta situação. Trabalhamos ativamente no sentido de começarmos a ser vistos por aquilo que na realidade somos: uma associação mutualista que desenvolve uma série de atividades; e depois termos desdobramento para explicar também por que desenvolvemos essas atividades e atuar em conformidade. Queremos transmitir uma ideia que vá ao encontro da nossa realidade e queremos que cada vez mais pessoas nos vejam como uma MONTEPIO INVERNO 2014 PERFIL Percurso profissional Licenciado em Direito pela Universidade Clássica de Lisboa, Tomás Correia inicia a carreira na Caixa Geral de Depósitos (CGD), em 1967. Foi administrador e Banco Simeón. Em 2004 assume funções no Grupo Montepio Geral, como vogal do Conselho de Administração. É presidente do Conselho de Administração da CGD, entre 1995 e 2003, onde ocupou vários cargos, inclusive como presidente do Banco Luso Español, Banco de Extremadura desde 2008. Foi ainda presidente da Mesa da Assembleia Geral da Associação Portuguesa de Bancos entre 2012 e 2014. associação mutualista. Este é um trabalho que já dura há bastante tempo e que vai demorar muito tempo. Passa a haver uma separação clara entre a Associação e a Caixa Económica. É isso? No início de janeiro levámos a cabo uma campanha na qual afirmámos o Montepio enquanto associação mutualista. Continuaremos a ter atividade na área da banca, seguros e gestão de patrimónios. O que é importante é que todas estas instituições estejam subordinadas à associação mutualista, aos seus princípios e valores, que trabalhem para cumprir os princípios e valores da associação e que acrescentem valor à própria associação. A atividade bancária não viverá de si e para si, mas de uma forma subordinada às orientações da associação mutualista – tudo faremos para que o país nos veja assim –, e os resultados que obtenha acrescentarão valor à associação e serão destinados a servir os associados e o país, através de todas as atividades de responsabilidade social que desenvolvemos. Daqui por dez anos como pensa que será o Montepio enquanto associação mutualista? Entendo que o Montepio tem todas as condições para ser uma instituição com mais de um milhão de associados, com intervenções nas áreas em que já intervém atualmente, mas com outras, muito mais profundas, na área da saúde, do turismo, daquilo que são as necessidades das pessoas, de uma forma cada vez mais alargada, funcionando de modo complementar às ofertas do Estado Social. Esse Montepio futuro corresponderá a uma sociedade na qual a economia social tem mais peso e as pessoas são mais interventivas? É esse um dos nossos objetivos. Uma das coisas que tenho dito é que a economia social em Portugal tem muito pouco peso quando comparada com o peso que tem nos nossos congéneres europeus. Temos sensivelmente metade do peso na economia que têm as nossas congéneres europeias. Portugal tem de suprir esse gap. A economia social deve crescer. Faz sentido para termos um país com preocupações que permitam entender e viver à dimensão humana e não num quadro em que, por vezes, as pessoas não têm lugar. Não pretendemos crescer só para nos congratularmos com isso. Podemos crescer mas se o país, as regiões onde estamos, se as pessoas que nos rodeiam não crescerem connosco, isso não faz sentido nenhum. E os portugueses estão dispostos a isso? Não só es tão disp os tos como querem. Os portugueses estão fartos de uma vida de incertezas, de dificuldades, em que não há a certeza do que vai acontecer no futuro e se mata a esperança a cada dia. Os portugueses precisam de algo que lhes devolva a esperança. E a economia social e as suas instituições são excelentes instrumentos para ajudar a devolver a esperança às portuguesas e aos portugueses. MONTEPIO INVERNO 2014 23 1 o meu mundo EDUCAÇÃO FINANCEIRA CRIANÇAS ABC DO DINHEIRO 24 APRENDER A LIDAR COM O DINHEIRO É ALGO QUE DEVE COMEÇAR NA INFÂNCIA, PARA QUE AS CRIANÇAS SE TORNEM ADULTOS RESPONSÁVEIS. DEVIDO À CRISE, A EDUCAÇÃO FINANCEIRA É AGORA UM DOS TEMAS QUENTES EM TODO O MUNDO por helena c. peralta ilustração ana seixas De pequenino se torce o pepino, diz o ditado popular. Pretende passar a mensagem de que é desde cedo que se educam as crianças, para que mais tarde possam manter sólido o mundo em que vivemos. Educação a todos os níveis, incluindo a financeira, que é vista atualmente como uma ferramenta essencial à participação na construção de uma sociedade moderna. MONTEPIO INVERNO 2014 A importância dos comportamentos e dos conhecimentos financeiros tem sido cada vez mais reconhecida a nível mundial, pois um grau mais elevado de literacia financeira – que é a capacidade de fazer julgamentos informados e tomar decisões tendo em vista a gestão do dinheiro – leva a que os cidadãos organizem com maior responsabilidade os seus orçamentos familiares. A crise que se instalou em 2008 a nível mundial, resultado de um excesso de crédito subprime nos Estados Unidos, que rapidamente se estendeu à Europa e ao resto do mundo, forçou uma alteração da realidade financeira. “A redução na concessão de crédito obrigou a desalavancar (diminuição do endividamento) e, paralelamente, existiu um aumento do desemprego e da tributação. As famílias foram obriga- das a serem mais cautelosas e a definirem prioridades. A poupança passou a ser uma prioridade”, explica Ricardo Ferreira, economista e fundador da Escola Financeira. Este projeto foi lançado em Portugal em 2008, com o estalar da crise, e pretende ser um espaço de educação e promoção da cidadania. Crianças e jovens estão a crescer e a desenvolver-se num mundo cada vez mais complexo e, mais tarde ou mais cedo, terão de debater-se com questões financeiras a vários níveis. A OCDE – Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico recomenda que a instrução financeira se inicie o mais cedo possível e que tenha lugar nas escolas, como parte do seu currículo escolar. Esta entidade realizou pela primeira vez, em 2012, o estudo PISA – Avaliação da Literacia Financeira dos Estudantes, através de inquéritos a quase 30 mil adolescentes de 15 anos, em 18 economias distintas, e concluiu que os jovens estão muito confusos no que ao dinheiro diz respeito. O estudo aferiu que um em cada sete estudantes de 13 países da OCDE é incapaz de tomar decisões simples sobre os seus gastos diários, e apenas um em cada dez consegue resolver questões financeiras mais complexas. Neste estudo, a zona Xangai-China atingiu a pontuação mais alta, seguida da comunidade flamenga da Bélgica, da Estónia e da Austrália. Nos EUA, por exemplo, quase 18% dos estudantes inquiridos não atingem a fasquia desejável em termos de literacia financeira. Ou seja, conseguem distinguir a diferença entre o que necessitam e o que desejam e só são capazes de tomar pequenas decisões relativas aos gastos diários. Literacia financeira em Portugal ainda é baixa Portugal não participou nesta investigação, pelo que os dados nacionais são mais diminutos. O Banco de Portugal realizou um inquérito à literacia financeira da população portuguesa, P&R Paula Guimarães Responsável pelo Programa de Educação Financeira do Montepio A responsável pelo programa faz o balanço de quatro anos de atividade, que envolveu mais de 80 voluntários formação presencial, desenvolvida pelos colaboradores do Montepio no contexto do programa de também o Grupo Auchan que, desde a primeira hora, se disponibilizou para acolher as crianças do Grupo Montepio. Como surgiu o Programa de Educação Financeira (PEF) do Montepio e qual foi a necessidade sentida aquando da sua criação? Este programa nasceu do reconhecimento da importância do tema para todos os nossos stakeholders e da necessidade de responder afirmativamente ao repto lançado pelo ESBG (associação de bancos europeus), entidade a que pertencemos em representação de Portugal. Inicialmente destinava-se a colaboradores, clientes e associados, bem como a adultos provenientes de contextos vulneráveis e a crianças que frequentassem estabelecimentos de ensino público e privado. Como se desenrola este programa? O Programa assenta em voluntariado de competências, e decorre em diversas fases pedagógicas. Ao longo destas os formandos aprendem conceitos financeiros básicos, descobrem a importância do orçamento familiar mas, sobretudo, descobrem os valores da partilha, do mutualismo e do planeamento. A metodologia seguida depende da faixa etária e há sempre o cuidado de adaptar linguagens e exemplos à realidade de cada grupo. A mensagem de proximidade foi, mais tarde, complementada com a informação disponibilizada no portal de educação financeira do Montepio. Quais os parceiros Montepio envolvidos e de que forma participam? Todas as escolas e professores são claramente parceiros extraordinários, mas devemos referir na fase da visita ao supermercado, e a ANJAF que assegura a formação dos públicos adultos. Por último, na fase de atualização e revisão do Programa para Crianças contámos também com o precioso auxílio da Fundação Gonçalo da Silveira. Considera importante introduzir a educação financeira nas escolas? De que forma? Pelas razões já invocadas entendemos que o território da escola é muito importante para a transmissão destes conceitos, mas da nossa experiência resulta a convicção de que a abordagem deve ser feita fora dos currículos obrigatórios e por pessoas da comunidade educativa, que não sejam professores. Trata-se de uma matéria que deve ser encarada de forma lúdica e em estreita sintonia com a realidade. MONTEPIO INVERNO 2014 25 1 o meu mundo EDUCAÇÃO FINANCEIRA crianças jj EDUCAÇÃO FINANCEIRA DAS CRIANÇAS E ADOLESCENTES AUTOR Ricardo Ferreira EDITORA Escolar Editora PVP € 13,50 26 em 2010, para avaliar e melhor compreender os seus comportamentos. Detetou-se que 11% dos portugueses não têm conta bancária, e a mesma percentagem entende que o planeamento financeiro é pouco ou nada importante. Cerca de 7% dos entrevistados não conhecem o saldo das suas contas e 40% desconhecem as comissões aplicadas pelos bancos. São 35% aqueles que afirmam que escolheram o seu banco por indicação de familiares ou amigos e 54% dos inquiridos admitem que contrataram produtos sugeridos pelos próprios balcões. SEMANADA OU MESADA? Os primeiros passos das finanças pessoais Ou seja, o desconhecimento relativo a esta área das nossas vidas ainda é grande. Muitos especialistas acreditam que a educação financeira pode ser a chave para melhorar a qualidade de vida individual e das sociedades. E nada melhor do que começar essa mesma educação em criança. Quando iniciou a atividade da Escola Financeira, Ricardo Ferreira começou por implementar cursos de formação para adultos, no âmbito de projetos promovidos por empresas e posteriormente por universidades seniores, em juntas de freguesia e associações. “Mas à medida que o número de formandos ia aumentando, constatei que a mudança a prazo só poderia acontecer se trabalhássemos a partir da infância. Os adultos, por vezes, já se encontram em situações difíceis, o que dota as formações de um caráter de emergência e não preventivo”, explica. Este segmento envolve não só as crianças como os próprios encarregados de educação e professores. Foi, pois, fundamental adaptar a linguagem e o material didático de apoio às diferentes idades e em função dos resultados. Outro projeto de Ricardo foi a criação de um manual, Educação Financeira das Crianças e Adolescen- SEMANADA 1.a FASE 1€ QUANTO? Comece por dar 1€ de duas em duas semanas. EXPLIQUE a importância de poupar e os riscos de gastar o dinheiro de imediato. Recorra a exemplos práticos. ACOMPANHE o comportamento do seu filho perante o novo desafio. Ricardo Ferreira deixa aqui as suas sugestões do que entende ser o mais correto a fazer. Esta é uma das mensagens que deixa aos pais na sua obra Educação Financeira das Crianças e Adolescentes. Dos 3 aos 4 anos MONTEPIO INVERNO 2014 tes, “um elemento fundamental para sensibilizar para a premência da educação financeira e, indubitavelmente, um veículo de promoção do projeto”. Uma ideia prioritária na educação financeira é a noção de poupança. Como explica, o termo “poupança” deixou progressivamente de estar no topo das prioridades de muitas famílias. Mesmo em tempos financeiramente conturbados, o objetivo dos nossos avós era tentarem acumular algumas poupanças de forma a fazer face a situações inesperadas. Para tal, eram bastante cuidadosos nos gastos supérfluos. Mesmo durante períodos económicos difíceis, existia uma preocupação constante em poupar. “Com a adesão à Comunidade Europeia, em 1986, o acesso ao crédito por parte das famílias tornou-se mais fácil e barato, criando-se um efeito ilusório de que seria possível ter mais produtos e serviços. Com este progressivo tombar da poupança na hierarquia das prioridades familiares foi-se afirmando uma ideia negativa face ao termo, uma vez que a palavra era associada a restrição”, refere Ricardo Ferreira. Por isso, defende que com a crise a poupança tem de aumentar obrigatoriamente. 2.a FASE O CONCEITO DE SEMANADA começa agora a ser levado mais a sério. CONVERSAR COM A CRIANÇA é fundamental de forma a definir, com precisão, quais as despesas que são cobertas pela semanada e que tipo de encargos serão pagos à parte (livros escolares, material escolar, aulas de apoio). Dos 7 aos 10 anos PUB Iniciativas privadas para crianças e jovens Ensinar as crianças a lidarem com o dinheiro e, sobretudo, a pouparem e a serem conscientes nos seus gastos é um tema que está em cima da mesa em vários países. Uma das medidas que o atual governo tem preparadas – consta do anteprojeto das Grandes Opções do Plano (GOP) para o próximo ano – é a introdução da educação financeira nas escolas. No entanto, ainda se desconhece como será feita esta inclusão. Sabe-se que os desafios são vários. Pode ler-se no relatório do programa Todos Contam, do Plano Nacional de Formação Financeira, que “a implementação da educação financeira nas escolas coloca, desde logo, a questão da perspetiva a adotar para a sua abordagem. Esta dificilmente poderá passar por uma receita única e abrangente (uma disciplina, um módulo de formação, um curso, um projeto, um seminário, uma conferência, um livro) para ensinar os jovens a tornarem-se financeiramente mais capazes”. Enquanto o governo não introduz a educação financeira nas escolas, há organizações privadas que têm tomado a dianteira. Por exemplo, a Fundação António Cupertino Miranda iniciou em 2009 um projeto designado “No Poupar é que está o Ganho”, através do Museu da Moeda, destinado à sensibilização de crianças e adolescentes. “O museu foi pioneiro na deteção da falta de literacia financeira em Portugal e a educação financeira assumiu assim um papel de grande relevância dentro da programação deste espaço”, afirma Sónia Santos, responsável pelo Serviço Educativo da fundação. A procura tem crescido e “este ano letivo conta com a inscrição de 64 turmas de 14 escolas, num total de cerca de 1 600 alunos, isto só em projetos de continuidade”, explica. Um parceiro fundamental tem sido a Faculdade de Economia da Universidade do Porto, que apoia tanto na criação e validação de conteúdos, como na própria monitorização junto das turmas inscritas. A fundação conta também com a ajuda da Câmara Municipal do Porto na divulgação junto das escolas e com a ajuda de 17 voluntários. Outro projeto privado nesta área é o do Montepio. Esta instituição mutualista também criou o seu Programa de Educação Financeira (PEF), no âmbito da responsabilidade social do grupo, destinado a adultos e a crianças, também com o objetivo de estimular MESADA INÍCIO DA MESADA 10% GASTOS DIÁRIOS A mesada começa a ser apropriada para os gastos diários, como lanches, revistas e coleções, carregar o telemóvel e para poupar (deve poupar-se 10% do valor da mesada). A partir dos 10 anos 1 Os pais não devem impedir os filhos de gastar o dinheiro, para que estes aprendam por si. 2 Deverão promover-se incentivos à poupança e evitar-se montantes extra. 3 Não se deve confundir resultados escolares com mesada. 4 Se o seu filho pedir um aumento, deverá perceber as razões que motivam o pedido e analisar se o aumento é necessário ou antes resultado de má gestão. 5 É necessário definir as despesas cobertas pela semanada e os restantes encargos pagos à parte. 1 o meu mundo EDUCAÇÃO FINANCEIRA crianças ff POUPANÇA EM AÇÃO O Montepio criou o Programa de Educação Financeira que conta com diversos materiais didáticos, entre eles o portal ei.montepio.pt 28 a poupança e prevenir sobreendividamento. Esta iniciativa tem sido distinguida por várias entidades, nomeadamente pela Organização Mundial da Família, e foi ainda aplicada junto dos técnicos responsáveis pela coordenação de equipas na área do Rendimento de Inserção Social. Deste programa surgiu o Ei - Educação, Informação (ei.montepio.pt), portal que serve de ferramenta para ajudar a organizar as finanças pessoais. Este portal garante a todos os cidadãos o acesso a conteúdos informativos relevantes e didáticos na área da educação financeira e destina-se a cinco públicos diferentes, entre eles crianças e educadores. Segundo a responsável pelo programa, Paula Guimarães, “entre 2009 e 2013 o Programa de Educação Financeira para Crianças abrangeu 5 277 crianças com idades compreendidas entre os 6 e os 10 anos. As 707 ações do programa, desenvolvidas em 226 turmas, foram implementadas por mais de 80 colaboradores voluntários”. Como educar em casa Porém, quer chegue ou não às escolas, os pais são os primeiros a encarregarem-se do ensino financeiro dos seus filhos. Como devem as crianças MONTEPIO INVERNO 2014 ser educadas para gerirem o seu dinheiro? Bárbara Romão, psiquiatra da Infância, refere que é importante que os mais jovens percebam desde cedo o valor do dinheiro, e isto acontece por volta dos 4 anos. É nesta altura que surgem as primeiras perguntas sobre o tema e é fundamental fazê-los entender que este recurso não é ilimitado. “Depois de entrarem na escola primária começam a fazer perguntas mais concretas: quanto custam as coisas, quanto é que os pais ganham. Devemos responder sempre de forma a que entendam e não fugir aos temas difíceis. As crianças reagem bem ao que lhes explicam”, diz. Nesta fase, é aconselhável deixá-los fazer algumas compras e serem eles a pagar e a receber o troco. Talvez o velho mealheiro tenha caído em desuso, mas incentivar a fazer poupança é também uma atitude positiva por parte dos pais, pois as crianças divertem-se a juntar dinheiro. Quando chegam ao segundo ciclo, por volta dos 10 anos, o caso muda de figura. Começam a ter o cartão da escola, que necessitam de carregar para almoçar, lanchar ou comprar material na papelaria, ou vão ao cinema com os amigos. Aqui convém dar pouco de cada vez, como dois ou três euros, para evitar gastos supérfluos. “A crise também veio ajudar as crianças a terem consciência das dificuldades dos pais e, em certos casos, os próprios adultos, que não sabiam dizer não”, comenta Bárbara Romão. Para esta especialista, por volta dos 12 anos já se pode começar a dar uma semanada para aprenderem a gerir o seu dinheiro. De início pequena, mas poderá ser aumentada conforme as necessidades. Começar com uma quantia elevada e ir depois reduzindo conforme os gastos é que é desaconselhado. Pelos 15, 16 anos, os adolescentes já pedem um pouco mais para saírem com os amigos e uma mesada é a melhor forma de os orientar. Assim, sabem que apenas têm aquele dinheiro disponível para o mês inteiro e se o gastarem todo ao início não terão mais. A responsabilidade de ensinar as crianças a lidarem com o dinheiro é dos pais e deve começar cedo. Não faz sentido esperar que cheguem à escola para serem educadas pelos professores. Este é um trabalho conjunto de pais, educadores e sociedade em geral para termos, no futuro, adultos financeiramente mais responsáveis. PUB YOU RELAX, iMow O novo iMow, robô corta-relva Mais rápido, mais inteligente, mais eficiente Ótima notícia para si e para o seu jardim: o novo iMow robô corta-relva define novos padrões no corte, cujo resultado é um relvado muito bonito em menos tempo do aquele que poderia esperar. O seu iMow é um dos tipos mais rápidos, que gosta das coisas simples, sem complicações e que está lá sempre que é preciso! Melhor notícia: ao mesmo tempo que ele corta, você tem o tempo livre para fazer as coisas que mais ama – relaxar, jogar, ficar livre para fazer o que quiser. Descubra todas as vantagens do iMow em www.viking-jardim.pt Uma empresa do grupo STIHL 1 o meu mundo ENTREVISTA RUI ZINK Um português sem papas na língua 30 TEM MEDO DE MUITA COISA MAS NÃO DE FALAR. ESCRITOR, PRESTES A LANÇAR UMA PRIMEIRA EDIÇÃO EM BENGALI, E PROFESSOR UNIVERSITÁRIO, RUI ZINK FALA NESTA ENTREVISTA À MONTEPIO DA SUA PAIXÃO PELA LITERATURA, DOS PORTUGUESES E DAS SUAS IDIOSSINCRASIAS por rita vaz silva fotografia artur Foi o primeiro português a apresentar, em 1997, uma tese de doutoramento sobre Banda Desenhada. Não se considera um rebelde e é adepto da disciplina e do civismo, mas admite o fascínio por tudo o que está do outro lado, pela marginalidade. No seu discurso, nos seus romances (um dos quais contemplado com o prémio do P.E.N. Clube Português), nas suas aulas e em tudo o que faz, Rui Zink é um agent provocateur que se serve do humor para espalhar sementes de mudança. Leciona uma cadeira de Literaturas Marginais na Universidade Nova de Lisboa. O que é literatura marginal? É aquela que se desvia do central, que as pessoas duvidam se é ou não MONTEPIO INVERNO 2014 literatura. Ou seja, é a poesia visual, a poesia popular, o cante alentejano, a ficção científica, a banda desenhada. São tipos de literatura que usam o papel mas que enfrentam uma desconfiança de que se possa fazer algo de bom nesse género. E depois há os sítios onde a palavra também dança mas onde o suporte já não é o papel: a televisão, a rádio. O teatro radiofónico, a performance poética que é meio pintura, meio teatro, meio literatura, podem ser literatura. Eu gosto destas misturas, da mestiçagem. Acho que os melhores portugueses são aqueles que saem e voltam diferentes. É um marginal na literatura e na vida? Não. Como dizia o Lou Reed: “Hey baby take a walk on the wild side.” Sempre gostei de ver o que está do outro lado, deve ser o meu lado meio índio, meio cowboy. No século xix, as pessoas em Boston diziam: “Aqueles tipos que estão lá para fora, na Califórnia, a caçar bisontes, esses indivíduos já não são bem brancos, já viraram indígenas.” Mas a verdade é que hoje o símbolo da América são os cowboys, são os pioneiros. As pessoas que têm medo do desconhecido são as pessoas que mandam e têm uma certa inveja das pessoas que ousam viajar. E na arte aquilo que é marginal um dia pode tornar-se o principal. Como na vida... Sim. Por exemplo, a cultura portuguesa não é portuguesa sem as viagens. A viagem marítima é aquilo que nos define, é a nossa grande glória, aquilo que nos dá a nossa identidade. Os portugueses têm esse lado conquistador, rebelde, mas também têm fama de mansos e conservadores. O mais interessante no nosso caso é que sempre tivemos consciência da nossa pequenez e por isso é que somos grandes. Essa noção de que não somos BIOGRAFIA Quem é Rui Zink? T “Lembro-me que o meu avô gostava muito do Montepio e foi aí que tive a minha primeira conta bancária. Conheço pouco como funciona o mutualismo, mas é uma ideia boa de organização civil e republicana e tem a ver com uma época em que se acreditava no progresso, na educação e no bem comum.” o centro do mundo é a nossa qualidade, ao contrário de outros povos que pensam que são o centro do mundo e não sabem que não são. O nosso grande mal é só termos duas fronteiras, uma com Espanha e outra com o mar. Ou será a nossa sorte? Sim, por um lado, protegeu-nos das guerras mas também nos protegeu das ideias. A Alemanha tem 14 fronteiras. Portugal só tem uma. Sempre fomos periféricos tanto para o Mediterrâneo como para a Europa, e o facto de estarmos longe e com apenas um vizinho maior do que nós tornou o país conservador. Por outro lado, temos muita curiosidade em relação ao que vem de fora. Por exemplo, ao contrário de Inglaterra, achamos que os bons livros são os que vêm do estrangeiro e isso Tem 53 anos, é casado há 22, tem dois filhos e quatro gatos. Polémico e irreverente, Rui Zink tornou-se conhecido da maioria dos portugueses, entre 1994 e 1997, ao (tema da sua dissertação de mestrado). Trabalhou nos EUA como leitor de Língua Portuguesa na Universidade do Michigan e, entre 2009 e 2010, foi professor convidado na Universidade de integrar o painel do programa de “escárnio e maldizer” da SIC, a “Noite da Má Língua”. Natural de Lisboa, o escritor e professor auxiliar na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa (onde se licenciou em Estudos Portugueses) foi o primeiro português a escrever uma tese de doutoramento sobre Banda Desenhada e admira autores “marginais” como Alberto Pimenta, Ana Hatherly e José Vilhena Massachusetts, Dartmouth. Podia ter sido artista plástico mas aos 14 anos decidiu-se pelas Humanidades. Entre as suas obras, que combinam o romance, o ensaio e as novelas gráficas, destacam-se Apocalipse Nau (1996), Os Surfistas (2001), Dádiva Divina, galardoado com o Prémio P.E.N. Clube Português (2005), A Instalação do Medo (2012) e O Destino Turístico (2008), obra da antologia Best European Fiction 2012. tem graça porque, de um certo modo, torna-nos mais abertos e, por outro, torna-nos mais inseguros. Uma das marcas da cultura portuguesa é a extrema insegurança. Os portugueses levaram tantos pontapés durante tantos anos e ainda não se habituaram à liberdade passados 40 anos. Se quiserem uma expressão que define Portugal é o medo de pisar o risco. MONTEPIO INVERNO 2014 31 1 o meu mundo ENTREVISTA Rui Zink 32 A nossa história parece mostrar o contrário. Foi sempre uma minoria que não teve medo. Eu acho que fomos empurrados para a aventura, raramente fomos à aventura por querer. Houve sempre uma alegre irresponsabilidade. Um dos absurdos portugueses é o nosso prato nacional: é peixe mas não é fresco, num país com tanta costa, e vem da Noruega. Somos o país do bacalhau e da pimenta, duas coisas que não temos. Somos um país curioso mas com pouca curiosidade, somos um país divertido mas com pouco humor. Admira alguém por não ter medo? O Alberto Pimenta, a Ana Hatherly, cuja arte foi sempre desdenhada e que começa agora, aos 80 anos, a receber homenagens, o Miguel Vale de Almeida. O Miguel Esteves de Cardoso: as crónicas dele são uma prova de liberdade, escreve sempre sobre o que lhe apetece. É uma pessoa com medo? Tenho imensos medos. Não tem medo de falar. Esse não tenho. Mas tenho medo da dor física. Sou um corajoso num país onde felizmente não nos dão tiros por dizermos o que pensamos. Se estivesse na Síria era provável que tivesse medo de falar. Aqui podem tentar lixar-nos no emprego, não nos dar trabalho. A vingança portuguesa é no bolso. Digo sempre aos mais jovens: digam mal dos políticos mas não das empresas, senão a vossa carreira é má. Temos muito a cultura da bazófia, de querer mostrar coragem batendo no mais fraco. Eu fui ensinado desde criança a não bater nos mais fracos, o que é estúpido porque bater nos mais fortes não é prático. A minha carreira seria melhor se eu tivesse o gosto e o hábito de bater nos mais fracos. Ser servil com quem manda e arrogante com quem serve é uma coisa muito portuguesa. E ser da corte, exibindo o chama- MONTEPIO INVERNO 2014 do sorriso de assessor. O ministro ainda não disse a piada e eles já estão a rir. E o lado bom de Portugal? Não damos tiros na oposição, só fazemos com que não tenha emprego, que não ganhe dinheiro. Isso é uma coisa boa. Outra coisa boa é a solidariedade em certos momentos e o nosso compadrio. As pessoas dizem mal do compadrio mas sem compadrio não se poderia viver em sociedades com um Estado abusivo como nós tivemos durante tantos anos. É uma aliança informal que permite que pessoas sem bens possam sobreviver. No velório da minha mãe perguntei a uma sua amiga de infância como tinha a minha família sobrevivido em 1938 quando o meu avô foi preso. E ela disse: “Foi com a ajuda das pessoas todas.” Durante ano e meio, a minha mãe, com 13 anos na altura, o meu tio com 12, a minha avó, uma doméstica na casa dos 30, conseguiram sobreviver sem o salário do meu avô porque houve solidariedade social no bairro onde viviam. Quando começou a interessar-se pela literatura? Quando aprendi a ler, aos 6 anos. A minha família não tinha dinheiro, não havia televisão, mas tinha livros em casa. Li os Cinco, os Sete, o Júlio Verne todo com os meus 10, 11 anos. Quando ia para a terra da minha avó, em Soure, havia uma carrinha da Gulbenkian que parava ao pé da Várzea e eu ia lá todos os dias, trazia um ou dois livros. Houve alturas em que estava mais interessado noutras coisas mas nos momentos-chave da minha vida acabei por voltar sempre à leitura. Quando me comecei a apaixonar violentamente, por exemplo, ler Dostoievski ajudou-me imenso a lidar com a turbulência que me ia na cabeça. E percebi que os livros podem ser importantes para dizer coisas que o padre ou o psicanalista não dizem. Seguiu essa paixão. Estudou literatura, tornou-se professor da disciplina e escritor. Sempre me interessei pela área artística. Pintava, desenhava, e até muito tarde na minha juventude não sabia para que lado iria. Ainda fiz algumas exposições. Mas a partir dos 14 anos as Humanidades foram o caminho óbvio. Gosta de dar aulas? Ser professor é uma boa atividade para quem gosta de pintar ou de escrever. É uma forma de rendimento honesta que não distrai demasiado da arte. Com que idade começou a escrever? Comecei a ter noção do que era a escrita aos 14 anos. Escrevi o primeiro livro aos 18 mas não foi publicado, graças a Deus. Chamava-se “Maionese Fatal” e, como todos os primeiros livros, era involuntariamente um pastiche. Mas ajudou-me porque me incutiu disciplina. Escrevia cinco páginas por dia e cumpria a quota. A ideia de “trabalho é trabalho, conhaque é conhaque” criei mais ou menos pelos 18 anos. E ainda é assim hoje em dia? Essa disciplina ficou e sem ela não se pode escrever. É uma regra do anarquismo que aprendi com o meu avô. O anarquismo não é a indisciplina, é ter uma disciplina interior que dispensa haver um polícia: limpa o que sujaste, dá lugar aos mais velhos, respeita os outros como gostavas que te respeitassem. Esta é a essência. É uma autorresponsabilização e é fundamental para a arte. Como se caraterizaria enquanto escritor a alguém que nunca leu uma das suas obras? Se escrevo é porque acho que tenho coisas válidas a dizer, não tenho falsas modéstias. Acho que sou um bom autor, com uma voz própria, uma cabeça minha. Há dias em que acho que não presto para nada e outros em que penso que sou o Shakespeare do século xxi. Vai variando conforme a minha disposição, uns dias deprimido, outros em euforia. É uma pessoa otimista? Sou um otimista desconfiado, isto é, estou sempre atento ao que pode correr mal. Fui amaldiçoado com uma visão periférica, que chamo de imaginação, e que é ver uma série de possibilidades numa coisa que está a acontecer, sendo que algumas dessas possibilida- HOBBIES Além da escrita G osta de ver futebol no café da esquina e diz ser um excelente treinador de copo na mão. É varzinista. Antigamente des são más. Como qualquer pai tenho medo em relação aos meus dois filhos e estou sempre com o credo na boca. Mas o nosso maior inimigo é o nosso medo. Se ficarmos na nossa casca sufocamos, mais vale arriscar. Portanto, sou um otimista atento. Deu aulas nos EUA. Que diferenças notou entre o ensino português e o norte-americano? Foi uma experiência muito boa. Senti uma falta terrível do oceano quando estava no Michigan, a mais de dois mil quilómetros do mar. Essa era uma grande diferença. Outra era a simplicidade, o conforto e a facilidade com que se tratava dos assuntos e as bibliotecas abertas 24 horas por dia. Lá existe uma força da palavra, uma responsabilização individual, um sentido cívico que não temos. Tem saudades de fazer televisão? Tenho saudades de ganhar dinheiro. A televisão vive sobretudo da borla. Ganhei em alguns momentos e noutros não. Foi na TV que se tornou conhecido. Sim, tem vantagens, mas trouxe desvantagens porque se faz inimigos. Atualmente não sou pago para escrever para jornal nenhum, não sou pago para colaborar com qualquer rádio ou televisão. Não sei se beneficiei ou não. Mas diverti-me muito. Tem mais de 5 mil seguidores no Facebook e reparamos que gosta muito de escrever sobre gatos. Quando o meu filho mais velho saiu de casa de repente, a casa ficou vazia e a minha mulher foi pondo lá em casa um gato, dois, três... neste momento, temos quatro gatos e um filho adolescente. Gosto de chatear as pessoas que têm cães. Sem inimigos a vida não tem piada e se não chatearmos alguém, acabamos por nos chatear a nós próprios. Gosto de rabujar, umas vezes sai com humor, outras vezes não. Os ga- ia ao cinema, ao teatro, fazia desporto, saía à noite. Agora fica em casa, lê, vê televisão e lança “bocas” no Facebook. “É uma evolução.” tos ajudam-me a rabujar com humor. São espantosos, têm personalidade própria e é como ter deuses em casa. Como consegue estar casado há 22 anos e ao mesmo tempo gostar de chatear alguém? Não é incompatível, é divertido. O casamento é uma instituição maravilhosa. Os primeiros 20 anos foram duros mas agora não. A minha esposa tem mais humor do que eu e ganha sempre. Quando me quer enervar, consegue. Porque é que os primeiros 20 anos foram difíceis? Porque o casamento é uma chatice, é contranatura, é uma violência. Porque ainda não encontrámos, e se calhar não vamos encontrar, uma fórmula adequada de sermos felizes e completos. Entre muitas outras coisas, o casamento é tentar ter uma coisa que não foi feita para durar muito tempo com outra pessoa. O casamento só é eterno se as pessoas morrerem novas e agora vivemos muitos anos e o amor morre muitas vezes. O lado bom é que como é uma morte metafórica, pode ressuscitar. Como encara o futuro? Estou sempre a tentar novos projetos, mas tenho sempre dificuldade em dar-lhes forma. Vivo muito o dia-a-dia, e no fim de cada um faço um balanço. Há quase um século, James Joyce adaptou a longa viagem de Ulisses para um só dia em Dublin: uma ideia simples mas luminosa. A vida inteira num só dia. Acho que ser adulto é perceber que o paraíso é o quotidiano, e todos os dias são mundos onde cabe a vida toda. MONTEPIO INVERNO 2014 33 1 o meu mundo OBSERVATÓRIO TENDÊNCIA O MUNDO EM 2015 34 NÃO SÃO ESPERADAS GRANDES REVOLUÇÕES NO MUNDO EM 2015, MAS HÁ AINDA MUITO PARA FAZER EM TERMOS ECONÓMICOS, POLÍTICOS, SOCIAIS E AMBIENTAIS. PEQUENAS MUDANÇAS PODERÃO AJUDAR A CONSTRUIR UM FUTURO MELHOR. CONHEÇA AS TENDÊNCIAS ATUAIS PARA CADA UMA DAS ÁREAS: ECONOMIA, SOCIEDADE, CIÊNCIA, CULTURA E TURISMO por helena c. peralta ilustração ana seixas Dizem que, por vezes, a realidade pode ir ainda mais longe do que a própria imaginação. Porém, não foi isto que aconteceu no filme de Robert Zemeckis, Regresso ao Futuro II. Neste filme de ficção realizado em 1989 e protagonizado por Michael J. Fox, no ano de 2015 – mais especificamente a 21 de outubro – já existiriam carros e skates voadores, telefones inseridos nos óculos, previsões meteorológicas ao segundo, entre muitos outros gadgets futuristas. MONTEPIO INVERNO 2014 O jornal Chicago Tribune dedicou um artigo a este filme no qual avalia quais destas previsões tecnológicas já são uma realidade e as que estão ainda longe de o ser. Segundo os especialistas contactados pelo jornal, em 2015 estão apenas disponíveis algumas destas invenções, como a possibilidade de ter um smartphone nos óculos ou drones para cobertura jornalística, ou até mesmo um hidratador de comida, ainda que muito embrionário. Quanto aos veículos voadores, ainda vamos ter de aguardar uns bons anos para os vermos a sobrevoarem as nossas cidades. Não se espera que o mundo em 2015 seja muito diferente do que foi jj EQUILÍBRIO GEOPOLÍTICO As tensões entre a Rússia e o Ocidente, a China, que poderá ultrapassar os Estados Unidos como superpotência, e a reação da Europa ao terrorismo e nacionalismos internos serão questões de peso em 2015 ECONOMIA 35 Desafios trazem incertezas várias A economia mundial já devia estar em franca recuperação durante 2015. Mas apesar do crescimento de 3,4% previsto pelo Banco Mundial a nível global, o planeta vai ainda enfrentar uma situação nebulosa. Um estudo intitulado A Era da Austeridade, realizado por Isabel Ortiz, diretora no Iniciative for Policy Dialoge, e por Matthew Cummins, refere que, em 2015, cerca de 6,3 milhões de pessoas serão afetadas pelas medidas de austeridade, ou seja, 90% da população mundial. Falam mesmo numa pandemia de austeridade já que, analisando 314 relatórios do FMI relativos a 174 países, se verifi- ca que praticamente todas as economias reduziram os seus orçamentos. Para o economista João César das Neves, a crescente incerteza política, nomeadamente na Ucrânia, e a fragilidade de algumas regiões, como a Rússia, Brasil, Japão e Estados Unidos, levam a uma situação mundial menos favorável. Também o Fórum Económico Mundial prevê, no seu Outlook On the Global Agenda 2015, que a geopolítica se torne uma questão central, com consequências a nível económico, político e social, sobretudo com a intensificação do nacionalismo. Nesta matéria assume particular relevo a tensão crescente entre a Rússia e o Ocidente. Outra importante movimentação surge na Ásia, já que se acredita que a China possa vir rapidamente a suplantar os Estados Unidos como superpotência mundial. As disputas entre a China e o Japão aumentam a concorrência a oriente e ameaçam a economia dos Estados Unidos, apesar de estar mais saudável. Já no que à Europa diz respeito, que, em bloco, continua a ser a região com o maior PIB mundial, também pairam algumas incertezas. Para João César das Neves, com a nova Comissão Europeia e uma nova presidência, liderada por Jean-Claude Juncker, poderão surgir algumas novidades. “O principal problema da Europa é a desconfiança entre credores e devedores, o que cria uma situação de tensão latente entre os Estados-membros”, refere, a propósito, o economista. Para este, uma mudança de atitude é fundamental para que tudo corra da melhor forma. Um dos desafios atuais da Europa é combater o perigo de deflação, que cria obstáculos ao crescimento económico. Para travá-la, o Banco Central Europeu está a manter as taxas diretoras a níveis muito baixos, o que, por outro lado, também não incentiva a poupança. PRINCIPAIS TENDÊNCIAS NA ECONOMIA 1 Incerteza geopolítica afeta crescimento económico mundial 2 Políticas de austeridade vão continuar em diversos países 3 Desemprego continua a aumentar no mundo 4 Caso BES vai continuar a ter impacto na economia portuguesa 5 Dívida pública e défice nacionais mantêm-se elevados 6 PIB português deverá crescer 1,5% MONTEPIO INVERNO 2014 1 o meu mundo OBSERVATÓRIO o mundo em 2015 36 em 2014, mas há, com certeza, tendências que vão dar continuidade ao progresso civilizacional em áreas tão distintas como a científica, a cultural, a social e a económica. Por vezes damos mais importância aos desenvolvimentos científicos e tecnológicos por serem aqueles que mais marcam visualmente o futuro, mas não são apenas estas inovações que contam. De facto, atualmente a sociedade é marcada pela tecnologia, que dita o grau de desenvolvimento em que se vive. A computação está em toda a parte, a Internet revolucionou o mundo e a forma das pessoas se relacionarem entre si. As redes sociais criaram um novo eu, o eu jornalista que tudo sabe e tudo divulga, ainda que sem confirmação de qualquer veracidade. As máquinas inteligentes estão na ordem do dia: smartphones, smart cars, smart grids, smart cities. A impressão 3D, uma tecnologia ainda a dar os primeiros passos, poderá alterar a forma como comemos e vivemos. Poderá permitir, num futuro próximo, revolucionar a arquitetura, as construções e as cidades. Os avanços tecnológicos no conhecimento do espaço estão também a dar cartas. É já em julho deste ano que a sonda New Horizon vai passar perto de Plutão para recolher informação, nove anos depois de ser lançada. Apesar do envelhecimento de algumas regiões, estima-se que a população mundial cresça a um ritmo acelerado. A forma como as pessoas se vão acomodar num planeta com recursos finitos e escassos é uma das grandes questões do mundo moderno. Como dar emprego e alimentar toda a população, que se prevê que chegue, em 2050, aos 9 mil milhões? Como resolver o problema da sustentabilidade, incluindo a ambiental? Estes temas continuarão a ser deba- MONTEPIO INVERNO 2014 ff ÁSIA Uma importante movimentação surge na Ásia, já que se acredita que a China possa vir rapidamente a suplantar os EUA como superpotência mundial PRINCIPAIS TENDÊNCIAS NA CIÊNCIA 1 A China vai continuar a ser um dos maiores investidores em investigação e ciência 2 CIÊNCIA E INVESTIGAÇÃO Ciências da saúde em alta A nível mundial vamos continuar a assistir, durante 2015, ao crescimento da investigação na China. Este país tornou-se o segundo maior investidor em ciência e investigação, ultrapassando o Japão e ficando apenas atrás dos Estados Unidos. Já na Europa espera-se que comece a sério, como afirma o físico Carlos Fiolhais, o Horizonte 2020, o programa comunitário de investigação e inovação, dotado de 77 mil milhões de euros destinados à investigação. Raquel Seruca, investigadora e vice-presidente do Instituto de Patologia e Imunologia Molecular da Universidade do Porto, refere que a investigação científica está a beneficiar de uma abordagem multidisciplinar, que tende a continuar em 2015. A especialista avança que há um grande investimento na saúde pública, nomeadamente no combate a doenças como a malária e o ébola. Na área da Física, Carlos Fiolhais, docente e investigador na Universidade de Coimbra, prevê que a continuada expansão das nossas possibilidades de cálculo continue a dar aso a simulações sobre matéria condensada e matéria complexa. O interesse pelo sistema solar vai continuar. No caso português, Fiolhais espera que em 2015 haja uma inversão na política científica de retração do investimento. “É previsível que a mudança de política traga a necessária reposição de confiança na gestão da ciência em Portugal, que neste momento está muito abalada”!, diz. A investigação beneficia de uma abordagem multidisciplinar muito importante 3 Acentua-se a investigação no campo da saúde, sobretudo das doenças da pobreza, como a malária 4 Doenças neurodegenerativas e cancro estão a atrair maior atenção da comunidade científica 5 Novas tecnologias, sobretudo na imagem, estão ser muito úteis nas ciências da saúde 6 Na Física continuará a expansão das possibilidades de cálculo. A Universidade de Coimbra instalará o maior supercomputador português 7 Interesse pelo sistema solar vai continuar, estando prevista para julho a passagem da sonda New Horizon pelo planeta Plutão 8 Entra em funcionamento o acelerador LHC, o maior acelerador de partículas construído pelo homem ARTES E CULTURA Marketing domina as manifestações culturais A s manifestações artísticas acompanham o homem desde sempre. Há vestígios de que já nas comunidades primitivas dos primeiros povos o homem recorria à pintura para manifestar ou registar as cultural no mundo e que se acentuará ainda mais durante este ano. Para este especialista, o valor da cultura deve ser articulado com a educação e a ciência numa sociedade que se quer do conhecimento e da aprendizagem. suas preocupações. Muitas são, atualmente, as formas de arte que educam as sociedades no sentido de exprimirem os seus sentimentos e expressarem a sua criatividade. Falamos de manifestações como a música, o cinema, o teatro, a dança, a literatura e a pintura, entre muitas outras não menos importantes. A arte é cada vez mais global e, como explica Guilherme d’Oliveira Martins, presidente da direção do Centro Nacional de Cultura, associação para o debate e defesa da diversidade cultural fundada em 1945, “a criação cultural é cada vez mais dominada pela diversidade de meios de comunicação, desde os tradicionais às novas tecnologias de informação”. Esta é, pois, uma das tendências mais transversais da atividade Guilherme d’Oliveira Martins refere que o multilinguismo, resultado de uma cada vez maior globalização, obriga a cuidar com especial atenção a língua materna, em articulação com uma língua estrangeira. A qualidade e importância da língua, neste caso em particular a portuguesa, nem sempre é uma prioridade. Outra tendência comum e que deverá ser quebrada é a ideia de que a cultura não tem preço, que não é um luxo destinado a apenas alguns eleitos, mas sim um instrumento essencial de criatividade e de resposta à inércia da crise. INFANTILIZAÇÃO DA ARTE Richard Zimler, escritor, afirma que a influência neoliberal na sociedade ocidental dita que PRINCIPAIS TENDÊNCIAS NA CULTURA 1 A criação cultural é cada vez mais dominada pela diversidade de meios de comunicação 2 O valor da cultura no mundo contemporâneo articula-se com a educação e a ciência a cultura que não seja comercial não é rentável, e se não é rentável não tem espaço na sociedade. E, infelizmente, esta tendência está instalada, sem sinais de volte-face. “O propósito é vender, ganhar dinheiro. Não posso concordar com isso. A cultura é a base da nossa sociedade e sem ela um povo não tem identidade”, diz. Ou seja, a tendência atual é para que a cultura seja usada apenas como uma ferramenta para ganhar dinheiro. Os editores de livros, por exemplo, só editam o que é comercial. A concentração dos grupos editores, bem como os de media e de produtores de espetáculos, leva a uma busca ainda maior pelo lucro. “Atualmente o mundo cultural é dominado pelo marketing, pelo que vende, seja na nn CINEMA A moda são os filmes inspirados em personagens de BD. É uma forma de recuperar arquétipos de heróis dos “quadradinhos” para o circuito das salas de cinema e de DVD literatura, no cinema, no teatro, na música, na dança”, afirma. Surge o primeiro sucesso, original, e multiplicam-se os clones, que seguem a mesma fórmula vencedora. Tudo em busca das audiências. Outra tendência bem atual, na sua opinião, é a demasiada infantilização. Ou seja, os livros mais comerciais, mesmo para adultos, procuram temas quase infantis, como os vampiros, bruxas e feiticeiras, entre outros. 3 Cuidar da qualidade do ensino da língua materna é fundamental 4 A política da cultura numa sociedade moderna terá de articular o conhecimento do passado e a criação contemporânea 5 É necessária a compreensão de que a cultura não é um luxo mas um instrumento essencial de criatividade e de resposta à inércia 6 Demasiada infantilização das artes, tanto nos livros como nos filmes, muito inspirados em BD e super-heróis 7 Marketing e rentabilidade dominam manifestações culturais 8 Tendência atual para os famosos escreverem livros, ou para se fazerem biografias dos mesmos, no sentido de criar audiência 37 1 o meu mundo jj POPULAÇÃO OBSERVATÓRIO o mundo em 2015 Se, em Portugal e na Europa, o aumento da 38 tidos em 2015, e com uma urgência cada vez maior. As previsões mundiais dizem que 2015 será um ano de grandes incertezas a nível político e económico. Conflitos na Ucrânia e Rússia, Síria, Coreia do Norte, a instabilidade em Israel e na Palestina e várias movimentações separatistas deixam antever problemas geopolíticos com implicações económicas. Apesar disso, as projeções do Banco Mundial apontam para uma recuperação da economia global, com o Produto Interno Bruto (PIB) a crescer, em média, 3,4%. A Índia, por exemplo, registará um aumento de 6,4%. Porém, Arturo Bris, conceituado professor de Finanças do IMD Business School, na Suíça, e diretor do centro de competitividade da mesma instituição, alerta para a possibilidade de uma nova crise global a partir de abril de 2015. Diz que apesar de muitas economias estarem já a recuperar da crise iniciada em 2008, há sinais de uma nova ameaça. Aponta, para isso, a existência de uma bolha no mercado de ações, que têm tido um desempenho excecional durante o último ano, e que mais tarde ou mais cedo explodirá. Fala ainda de um setor bancário sombra na China que, se entrar em colapso, arrasta a economia mundial. Há ainda a ameaça de uma crise energética, espoletada pelos EUA. No entanto, uma coisa é certa: é preciso perseverança e acreditar na aposta da investigação e busca do conhecimento. ? O QUE SIGNIFICA Num contexto de mundo em plena explosão demográfica, mas profundamente desequilibrado, os movimentos migratórios são o outro tema incontornável de reflexão. MONTEPIO INVERNO 2014 população está em risco, esta situação contrasta com o aumento previsto da população mundial, que pode atingir os 9 mil milhões já em 2050 SOCIEDADE Os pobres ficam cada vez mais pobres A nível social, 2015 assistirá ao agravar das tendências já sentidas. Duas delas prendem-se com as desigualdades na repartição do rendimento e com o preocupante aumento da pobreza a nível mundial. E sempre que os pobres ficam mais pobres os conflitos sociais agravam-se, trazendo dificuldades na coesão social. Segundo o Outlook On the Global Agenda 2015, relatório do Fórum Económico Mundial realizado anualmente, 1% dos americanos controlam um quarto da riqueza nacional. E, nos últimos 20 anos, apenas uma ínfima percentagem viu o seu rendimento aumentar 20 vezes, quando comparado com o rendimento do cidadão médio. Manuel Carvalho da Silva, sociólogo investigador e responsável pelo Observatório sobre Crise e Alternativas do CES – Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, refere que 2015 vai continuar a ser um ano de políticas que aumentam as desigualdades, o que gera disfunções geracionais e afeta as relações familiares. A austeridade económica, sobretudo em Portugal, está a retirar direitos às pessoas e a forçar a uma mobilidade social descendente. Maria João Valente Rosa, socióloga e demógrafa responsável pela Pordata, entende que um dos maiores desafios é o envelhecimento da população. Esta não é uma tendência que afete apenas Portugal, que já é um dos países mais envelhecidos do mundo, mas atinge outras sociedades, sobretudo na Europa, onde os níveis de natalidade são persistentemente baixos. PRINCIPAIS TENDÊNCIAS A NÍVEL SOCIAL 1 Aumento das desigualdades e da pobreza mundial 2 População a envelhecer nas zonas económicas mais desenvolvidas 3 Movimentos migratórios acentuam-se em todo o mundo 4 Estilo de vida consumista acentua-se 5 Cresce a tendência dos consumidores emocionais a nível mundial 6 Tendência do Do it yourself (DIY) cresce em todo o mundo com a ajuda da Internet 7 Surgimentos de novas dinâmicas sociais 8 Agrava-se a mobilidade social descendente em Portugal TURISMO jj O TURISMO Ainda há muito mercado para explorar O turismo é uma das áreas de atividade que mais receitas movimenta em todo o mundo. Entre 2000 e 2013 gerou um volume de negócios de 873 mil milhões de euros, sendo a Europa o destino que mais de mar e praia. Ou seja, o Turismo está a sofrer algumas mudanças significativas. Mafalda Patuleia, diretora do curso de Turismo da Universidade Lusófona, refere que uma das grandes tendências atuais nesta indústria é a procura valor arrecadou, seguida pela Ásia e Pacífico. Porém, apenas um terço da Humanidade viaja, pelo que ainda há potencial de crescimento nesta atividade. O incremento anual deste negócio ronda os 4% ou 5% em média, nos últimos anos, o que é superior ao crescimento do PIB de muitos países de destino. Os tradicionais mercados emissores de turistas – a Alemanha, os EUA e o Reino Unido – estão em decréscimo de viagens, mas a China está em grande crescimento, sendo um mercado a explorar. As viagens de lazer estão a aumentar a um ritmo mais acelerado. Também o turismo de cidade está a assistir a uma maior procura, crescendo 47% no último quinquénio, contra os 16% dos destinos de autenticidade e identidade de cada região. Ou seja, a globalização começa a ser questionada por uma nova procura, mais sofisticada, informada e responsável, que prefere o chamado turismo de afinidades, destinado a criar laços afetivos, e oferece o que a região tem de diferente e exclusivo. Portugal, por exemplo, aposta cada vez mais num turismo gastronómico, que dá a conhecer o que de melhor tem cada região a nível alimentar. A culinária está na moda um pouco por todo o mundo, os chefs são vistos como estrelas, os pratos são obras de arte. O Guia Michelin, edição de 2015, premiou mais 14 restaurantes portugueses com estrelas, uma distinção que lhes dá visibilidade a nível mundial. EM 2015 Há economias que vivem exclusivamente do produto turístico PRINCIPAIS TENDÊNCIAS NO TURISMO 1 Maior procura de autenticidade e identidade das regiões 2 TURISMO DE NICHOS Outra tendência atual é a cada vez maior segmentação do produto turístico. Miguel Júdice, presidente do grupo Thema Hotels and Resorts, refere que há cada vez mais nichos, destinados a diferentes estilos de vida e desejos. Fala na expressão “exclusividades das massas” para identificar esta tendência. Há uma procura crescente para o ecoturismo, o turismo do bem-estar físico e espiritual, o arqueológico, da natureza e de experiências, entre muitos outros. Grande parte das vendas dos hotéis é hoje feita pela Internet, relembra Miguel Júdice, e as redes sociais têm tido um forte impacto na promoção de muitos destinos. Uma outra tendência, que vai continuar a sentir-se, é a extensão das marcas de luxo ao turismo, como refere Mafalda Patuleia. Veja-se o caso dos hotéis de luxo Armani, em Milão e no Dubai, nos quais o esplendor do design que carateriza o estilista italiano é visível. Por outro lado, os alojamentos intimistas, mais acolhedores e próximos dos lares dos viajantes, são outro segmento em explosão. O turismo atual é feito de muitas hipóteses de escolha, uma para cada tipo de turista, apostando-se cada vez mais na personalização do cliente. Turismo gastronómico é uma tendência que veio para ficar 3 Produtos turísticos cada vez mais segmentados, com a aposta crescente em nichos de mercado, como o ecoturismo, o turismo da saúde e o turismo espiritual, entre outros 4 Novas tecnologias estão mais presentes na hotelaria 5 Internet é estrela na escolha de destinos e reservas self made 6 Personalização do cliente 7 Extensão das marcas, sobretudo de luxo, no turismo 8 Aposta crescente em espaços intimistas que se tornam o prolongamento das próprias residências MONTEPIO INVERNO 2014 39 1 o meu mundo CRÓNICA FRANCISCO MOITA FLORES SIDÓNIO PAIS E A INVESTIGAÇÃO CRIMINAL 40 Em Dezembro passou mais um ano sobre o assassinato do Presidente Sidónio Pais. Na estação do Rossio, quando se preparava para embarcar, junto aos arcos que dão acesso ao cais, ouviram-se dois ou três disparos e o Presidente caiu. Muito perto estavam jornalistas dos jornais O Século e Diário de Notícias. Foram duas das muitas testemunhas que viram dois graves ferimentos no peito e abdómen do Presidente. A Polícia reagiu com brutalidade. Abateu um dos presumíveis autores e prendeu o outro, Júlio da Costa, que haveria de ir para o Governo Civil. Sidónio acabaria por sucumbir aos ferimentos quando o transportavam para o hospital de S. José. Esqueçamos, por agora, este trágico acontecimento. Em Setembro, três meses antes do fatídico evento, Sidónio Pais assinara os decretos que criavam o Instituto de Medicina Legal e a Polícia de Investigação Criminal, a PIC, pai e mãe da atual Polícia Judiciária. Ao longo do séc. xix construíra-se uma percepção clara de que a Justiça liberal e republicana era farta produtora de injustiça. O experimentalismo de Bernard, a que se associara o positivismo de Comte, a revolução pasteureana, democratizando o microscópio, permitiram a organização da emancipação do conhecimento científico e o rompimento de preconceitos e verdades absolutas herdadas do Ancien Régime. É neste contexto que a autópsia ganha uma dimensão nunca vista, sobretudo depois dos estudos de Xavier Bichat e Balthazar. Que o estudo de impressões digitais (dactiloscopia) se torna emergente com as pesquisas de Galton, Vucevicth e Bertillon. Que a balística ganha estatuto forense com os trabalhos de Reiss. Portugal entrou neste espantoso movimento de colocar a Ciência ao serviço da Justiça. Estudos, entre muitos, de Rudolfo Xavier da Silva que, em 1908, haveria de conseguir a primeira identificação de um indivíduo por impressões MONTEPIO INVERNO 2014 digitais, de Azevedo Neves, director da Morgue e mais tarde do Instituto de Medicina Legal, de Asdrúbal d’Aguiar, de Miguel Bombarda, de Júlio de Matos, de Sobral Cid, são nomes que marcaram o arranque das ciências forenses em estreita colaboração com os seus colegas europeus. Tal verificação leva Edmond Locard, conhecido como pai da investigação criminal moderna, a declarar “guerra” aos velhos procedimentos judiciais e policiais. Segundo ele, a Ciência e os métodos a ela associados seriam o caminho para encontrar uma “justiça justa” que abdicava definitivamente da tortura, que mostraria que A matou B por uma sucessão de evidências cientificamente testadas a que chamou de prova material. É esta a natureza da PIC, criada por Sidónio Pais. E a sua morte é uma metáfora sobre as duas formas de processo. Júlio da Costa confessou sob tortura. Depois proclamava-se inocente. Foi preso e libertado várias vezes sem que houvesse julgamento. E porquê? Porque os exames periciais ao cadáver de Sidónio, realizados em Janeiro, revelaram outra verdade. Até os jornalistas, testemunhas isentas e afastadas da conspiração, mentiram sem saber que os olhos os enganavam. A Ciência ganhava carta de alforria mas era demasiado frágil para se opor e contraditar a tempestade de emoções, de paixões revoltadas, de justicialismo primário em que agonizava a iª República. A História entregou-se à leitura oficial dos acontecimentos e a Justiça, discretamente à confiança da Ciência. E Júlio da Costa acabou por morrer sem saber se era herói, assassino ou um mero curioso apanhado no meio da fúria assassina. NOTA: O autor continua a escrever segundo a chamada norma antiga. A MINHA CIDADE CAMINHOS A PERCORRER EM MOBILIDADE, URBANISMO, SOLIDARIEDADE página 42 página 47 Aproveite os tempos de lazer para um périplo pela serra da Estrela. A serra não é só neve. Descubra as cidades, as gentes e a gastronomia da montanha Quando a tradição se reinventa. Conheça uma marca que usa o material que lhe dá o nome para produzir peças de design que fazem sucesso no Japão ROTEIRO EMPRESA 2 a minha cidade ROTEIRO EM FOCO QUANDO A SERRA É ESTRELA 42 OS DIAS MAIS FRIOS CONVIDAM A UMA VISITA À SERRA DA ESTRELA. QUER SEJAMOS PRATICANTES EXPERIENTES OU ESQUIADORES AMADORES DE FIM DE SEMANA ESTE É O DESTINO NACIONAL DE ATIVIDADES DE INVERNO, QUE TAMBÉM INCLUEM A GASTRONOMIA, AS ALDEIAS RURAIS E OS PASSEIOS PELA NATUREZA por susana marvão A serra da Estrela é, por excelência, o destino de neve português. Os últimos anos têm sido particularmente animados, sobretudo no que diz respeito aos investimentos realizados e às infraestruturas criadas para melhor receber. Estas mais-valias são o novo farol turístico da região, que atualiza assim a sua oferta em relação às congéneres europeias dos Alpes ou da Sierra Nevada. Além destes melhoramentos, alia-se todo um património pleno de autenticidade que cativa visitantes, nacionais e estrangeiros, pelas paisagens, aldeias, monumentos, gentes e gastronomia. MONTEPIO INVERNO 2014 11 CURADORIA Conheça o processo de fabrico, da cura à prova, no Museu do Queijo, em Peraboa 11 SE TIVER ALGUM TEMPO DISPONÍVEL e não estiver muito cansado das brincadeiras na neve, visite o Miradouro do Fragão e do Corvo, a Vila de Sortelha e a aldeia Lapa dos Dinheiros A Estância de Ski Serra da Estrela situa-se nas terras mais altas da montanha, na Torre, concelho de Seia, precisamente onde habitualmente são registadas as temperaturas nacionais mais baixas, que por vezes podem atingir a marca de -20°C. No entanto, a serra da Estrela não é só conhecida pela neve. O queijo Serra da Estrela, um dos mais apreciados queijos portugueses, tem aqui a sua Denominação de Origem Protegida (DOP). A serra dá também o nome ao seu cão pastor e de guarda, o fiel serra-da-estrela, “primo” da raça são-bernardo. E, se é verdade que a desertificação humana da serra tem tido algum impacto na genuinidade do queijo Serra da Estrela – pelo menos na versão de produção que chega às grandes superfícies – aqui, mesmo aqui, ainda podemos provar um queijo que mantém as caraterísticas originais. A não perder e um sabor a levar no regresso a casa. Mas vamos por partes. Se quiser vir à serra da Estrela “apenas” para fazer esqui ou snowboard, é fácil. A Estância de Ski Serra da Estrela tem à disposição toda uma panóplia de serviços e atividades em pacote. Pode optar pelo mais básico, que junta ao alojamento o forfait (acesso aos meios mecânicos) ou pelo que já contempla o aluguer de material e aulas. Se o esqui ou o snowboard forem demasiado radicais para si, pode optar por andar de trenó, de donuts, ou por um passeio de moto de neve. Sem esquecer a simples caminhada de raquetas. Só um requinte de malvadez: a estância tem um programa que sugere um piquenique gourmet… a dois mil metros de altitude. Mais do que esqui Mas a serra da Estrela não é só esqui ou snowboard. Há muito mais para conhecer, o que pode tornar a sua aventura na neve ainda mais proveitosa. A gastronomia beirã é um bom exemplo disso: temos o caldo da panela e a famosa açorda de bacalhau com tomate, a miga esturricada, o bacalhau à Margarida da praça ou então as couves do lagar. Nos pratos de carne, a aposta terá de ser na caça: almôndegas de lebre, bifes de lebre ou uma perdiz estufada com beringelas. E o javali no forno. Ou então o clássico cabrito assado no forno. Nos doces, prove os nógados, as pantufas ou as papas de carolo. Ah, e o pudim de abóbora. E as broinhas de requeijão. E mesmo só por último, as gargantas de freira e as filhozes. MONTEPIO INVERNO 2014 43 2 a minha cidade ROTEIRO serra da Estrela 11 A PROVAR Queijo da Serra e um copo de vinho tinto. Bom proveito No mapa 44 A serra da Estrela atinge os 1993 metros, na Torre, de acordo com medições realizadas pelo Instituto Geográfico do Exército e consagradas pelo marco geodésico aí localizado. Este ponto, que é o mais alto de Portugal Continental, é limite para quatro freguesias: Unhais da Serra (concelho da Covilhã), São Pedro (concelho de Manteigas), Loriga e Alvoco da Serra (concelho de Seia). Para completar os dois mil metros foi construída, no século xix, uma torre de sete metros. Obrigatório é aproveitar ao máximo e desfrutar da estrada que liga Manteigas ao topo da serra. Chegados à Torre, existe um miradouro que oferece uma vista magnífica, que nos dias mais claros se estende até ao mar, na Figueira da Foz. Lá em cima ocorre-nos as palavras de Miguel Torga: “do seu trono a majestade, a esfinge de pedra exige a atenção inteira”. MONTEPIO INVERNO 2014 A oferta de hotéis neste destino é bastante competente e diversificada. Destacamos o Hotel dos Carqueijais, uma unidade de charme situada a 1 100 metros de altitude, com vista privilegiada para o vale da Cova da Beira. Ideal para uma escapada romântica, o hotel conjuga na perfeição a proximidade da cidade da Covilhã, a 5 quilómetros de distância, com a da Estância de Ski Serra da Estrela, a 15 quilómetros. Equipado com 50 quartos, dos quais dez são de luxo, e uma suite, esta unidade tem disponíveis sessões de relaxamento puro no Dharma SPA, para que o corpo fique em harmonia com a serenidade da paisagem envolvente. Outra opção de alojamento, mais próxima do ambiente serrano, é o turismo de aldeia. Pode encontrar um bom exemplo em Chão do Rio, Seia. Esta localidade dispõe de casas rústicas, em pedra, disponíveis para alugar, juntando ao charme da aldeia amenities como bicicletas gratuitas. São oito hectares de pomares e serra com rebanho de ovelhas incluído. Outra hipótese de turismo de aldeia são as Casas do Pastor, também em Seia. São construções do século xix, em granito, e em pleno Parque Natural da Serra da Estrela. Os quartos são tradicionais e estão equipados com cozinha, varandas e uma deliciosa zona de estar com lareira. Um conselho: vá ao site booking.com, veja as ofertas que por lá existem e não se esqueça de ler os comentários de quem já pernoitou nos locais. Boa viagem. SEIA Um concelho para quatro estações É o ponto de partida perfeito para se desvendar os segredos da montanha. Em Seia, está a prova de que esta região, afinal, é um artística. Caso opte por fazê-lo aproveite para almoçar no restaurante deste museu, cujo menu, que contempla a gastronomia tradicional desta destino para as quatro estações, como se adivinha pelas praias fluviais da Caniça, de Vila Cova à Coelheira, Loriga ou Sandomil. Outra das grandes riquezas de Seia, que urge descobrir, são as aldeias de montanha. Deixe-se maravilhar pelas freguesias de Alvoco da Serra, Cabeça, Lapa dos Dinheiros, Loriga, Sabugueiro, Sazes da Beira, Teixeira, Valezim e Vide. Na Quinta Fonte do Marrão encontramos o Museu do Pão, onde é possível explorar este alimento na sua vertente etnográfica, política, social, histórica, religiosa e localidade, ronda os 20 euros. As crianças até aos 4 anos não pagam. Aconselha-se a visita, também em Seia, ao Museu do Brinquedo, que contempla mais de oito mil peças, portuguesas e internacionais. O preço da entrada é de três euros. Para jovens até aos 17 anos e seniores com mais de 65 anos a entrada é de dois euros. Depois tem sempre ao seu dispor pequenos percursos terrestres, nomeadamente na mata do Desterro, zona florestal situada na margem direita do rio Alva. Porque nem só de neve se vive na serra da Estrela. PUB 2 a minha cidade ROTEIRO serra da Estrela 5 1C arya Tallaya 1 Guarda A cidade mais alta de Portugal 46 A Guarda, a 1 056 metros, conquista facilmente quem por lá passa. A catedral é o exemplo perfeito da conjugação do estilo gótico com o manuelino. No centro histórico podemos encontrar vestígios do antigo bairro judeu onde residiu uma das mais importantes comunidades judaicas em Portugal. No Museu da Guarda encontramos um acervo que nos permite conhecer a região desde a Pré-História até à atualidade. Este é um bom ponto de partida para descobrir a rota das aldeias históricas (Sortelha, Belmonte, entre outras) e das judiarias. Antes de sair da cidade faça uma paragem no jardim José de Lemos para umas tapas no DuPepe Café, e no Teatro Municipal da Guarda. ONDE COMER Digujá Francesinha, para comer esta especialidade, que não fica em nada atrás das portuenses, e o Cidália para provar a gastronomia regional. ONDE FICAR O Carya Tallaya Casas de Campo faz a conjugação perfeita da arquitetura rústica com uma decoração contemporânea e sofisticada. Tem quatro casas, piscina exterior e uma lareira no pátio que convida a dois dedos de conversa. PREÇO A partir de 90€ com pequeno-almoço. www.caryatallayacasasdecampo.com MONTEPIO INVERNO 2014 Casas de Campo 2C asa das Penhas Douradas 2 3P ousada da Serra da Estrela 4 Sortelha 3 5 I greja de 4 Santiago Covilhã Da universidade se faz o futuro Situada a 700 metros de altitude, esta é uma cidade dinamizada pela Universidade da Beira Interior, que ergueu a Covilhã após a crise da indústria têxtil. É preciso recuar à Idade Média para encontrar os primórdios da produção de lanifícios por estas paragens. Este é apenas um dos pormenores que vai aprender no Museu dos Lanifícios (5€, www. museu.ubi.pt). Aconselhamos um passeio pela zona dos Paços do Concelho, centro nevrálgico da Covilhã, do qual sobressai a Igreja de Santa Maria e a Capela do Calvário. Os apreciadores de queijo da serra não podem deixar de passar em Peraboa, no Museu do Queijo (3€). Penhas Douradas Com muito charme Em pleno Parque Natural da Serra da Estrela, a 1 500 metros de altitude, situa-se uma pitoresca aldeia, recortada pela estrada e por vários chalets com telhados triangulares. Tem vista para Manteigas e para o deslumbrante vale glaciar do rio Zêzere. ONDE COMER Restaurante Cozinha D’Avó, que serve gastronomia beirã recriada com todo o sabor. www. naturaimbhotels. com ONDE FICAR Pousada da Serra da Estrela, antigo Sanatório dos Ferroviários. O edifício foi recuperado pelo arquiteto Souto de Moura e conta com 93 quartos, piscina interior e exterior, e uma envolvência típica das Penhas da Saúde. www.pousadas. pt ONDE FICAR A Casa das Penhas Douradas Design Hotel & Spa tem 17 quartos e uma suite. Construída em madeira e cortiça, transmite um conforto único. Tem uma piscina interior, com vista panorâmica, hidromassagem, um spa e um restaurante gourmet que tem mesmo de experimentar. 2 a minha cidade EMPRESA INOVAR REINVENTAR A TRADIÇÃO APROVEITANDO O CONHECIMENTO DOS TECELÕES DA VILA DE MANTEIGAS, A BUREL FACTORY QUER FAZER PROGREDIR UMA ARTE E LEVAR UMA TRADIÇÃO PORTUGUESA AO MUNDO. E ESTÁ A SER BEM SUCEDIDA! O JAPÃO É O SEU MAIOR MERCADO Isabel Costa, proprietária e fundadora da Burel Factory, é rápida a afirmar que “escolhemos o burel pela sua tradição, pela sua história e por ser tão português e antigo. Andámos à volta com o tecido para ver as suas potencialidades e perguntámos: o que podemos fazer com isto? E está à vista, podemos fazer quase tudo!” 47 2 a minha cidade 11 RENASCIDOS As Mantecas são uma EMPRESA Burel Factory coleção que inclui mantas, cachecóis e écharpes. São padrões tradicionais que glossário agora respiram novos Conheça o significado do vocabulário da tecelagem fôlegos - Cardamento Processo final de desembaraçamento das fibras efetuado por um par de aparelhos denominados cardas. 48 - Fio cardado Processo de fiação de fibras naturais, como a lã, em que são utilizadas fibras mais curtas e que, por isso, não é penteado. A aparência é a de um tecido mais irregular. - Fio penteado O fio passa por um equipamento que tem a função de retirar as fibras mais curtas e as impurezas. - Cerzir Remendar um tecido danificado com pontos muito miúdos, quase invisíveis. - Teia ou urdidura Fios paralelos e fixos no sentido do comprimento do tear, entre os quais passam os fios da trama. - Trama Conjunto de fios, no sentido transversal do tear, que, com a ajuda de uma agulha, é passado entre os fios da teia por uma abertura denominada cala. - Xerga Estado do tecido à saída do tear, antes de receber qualquer acabamento. MONTEPIO INVERNO 2014 Esta aventura começou em 2010, na vila de Manteigas, serra da Estrela, com a Casa das Penhas Douradas Design Hotel e SPA. “O desafio de investir na vila decorreu do contacto com a comunidade de Manteigas. Quisemos criar alguma coisa que gerasse emprego e dinamizasse a zona para evitar que as pessoas saíssem. Como as fábricas tinham fechado era importante conseguir captar os jovens”, explica Isabel Costa. O objetivo era colocar em prática um projeto sustentável que aproveitasse a arte e o saber dos tecelões da vila de Manteigas, onde existe um grande conhecimento na indústria dos lanifícios. Foi numa sala da antiga fábri- 11 TONS DA SERRA A linha Burel Factory inclui 39 cores e 16 pontos diferentes. Verde clorofila, sarrubeco ou mescla dourada são nomes de cores inspirados na serra da Estrela. MANTEIGAS Burel Factory A Burel Factory (www. burelfactory.com) distingue-se por trabalhar um tecido muito resistente e por ter conseguido reinventar a sua versatilidade. Evoluiu das capas e casacos ideais para os dias frios na montanha para inúmeras ideias e soluções. Apresentam uma vasta gama de texturas, padrões e cores nas áreas da decoração, moda, material de escritório ou produtos para crianças e animais. Mas todas as peças mantêm o mesmo toque tradicional, genuíno, 100% made in Portugal. “Acreditamos nas potencialidades incríveis do burel e nos saberes e fazeres da vila. Queremos pegar no passado e torná-lo presente” (Isabel Costa, proprietária e fundadora da Burel Factory) PUB ca Lanifícios Império, a “Sala das Linhas”, que nasceu a Burel Factory, com o objetivo de manter vivas as tradições da região. A Burel Factory adquiriu a matéria-prima e os equipamentos da antiga fábrica Império, que já se en- contrava em processo de insolvência. O passo seguinte foi recuperar o enorme saber das pessoas da vila. “Já existia esse conhecimento, só tivemos de o aproveitar”, recorda a responsável pela Burel Factory. Esse conhecimento profundo e enraizado foi considerado o ponto forte e fator diferenciador da fábrica. Para Isabel Costa era igualmente importante preservar o equipamento. Conta que “o espólio de máquinas é muito interessante. Algumas têm mais de 100 anos e são feitas em madeira”. Depois de comprar a antiga fábrica foi necessário recuperar as máquinas e levá-las para outro edifício, onde fica atualmente a fábrica da Burel. Apesar da aquisição a Burel Factory manteve o nome Lanifícios Império by Trend Burel, para que não se perdesse o nome de uma empresa que já existe desde 1947, “que tem a sua história, sendo que a nossa lógica é manter e honrar a tradição”, defende a proprietária. Tornar novidade o que já foi... Para tornar o sonho possível a Burel Factory associou-se a vários criativos, artistas, designers e estilistas numa iniciativa multidisciplinar. O desafio foi criar peças únicas, originais e muito criativas que demonstrem claramente a versatilidade do burel e a qualidade do “produto português”. Com um investimento inicial de 300 mil euros, a Burel Factory tem agora um espaço de design onde se utiliza este produto, 100% nacional, de uma forma muito diferente e inovadora. Reinventam-se formas e criam-se peças originais e contemporâneas tais como capas para computadores ou para iPad, malas, almofadas, bancos e até produtos para animais de estimação. Mas a sua aplicação não é meramente “doméstica”. 49 2 a minha cidade EMPRESA Burel Factory O burel começou também a ser usado como isolante acústico em escritórios, espaços comerciais, hotéis, espaços de lazer e habitação. Hoje trabalham na Burel Factory 16 pessoas e outras três na loja do Chiado, em Lisboa. Em 2012 teve início a produção de mantas. Em março de 2013 a Burel Factory começou a laborar também nos tecidos. “Temos consciência de que este é um projeto de nicho e não de massas. É especial, único, cheio de alma e paixão por cada peça que produzimos”, refere Isabel Costa, que considera que fazer progredir uma arte e um ofício é “um desafio grandioso, sobretudo no interior do país e dentro do atual contexto cultural e económico”. 11 CONTINUAR A MEADA A Burel Factory ficou com o espólio da Lanifícios Império, incluindo teares e matéria-prima. Este trabalho é ainda visível na Casa das Penhas Douradas Design Hotel e SPA 50 Mostrar o burel ao mundo A Burel Factory quer que este tecido tipicamente português viaje pelo mundo. Para atingir esse objetivo, lançou mãos ao Japão, o primeiro e o maior mercado da Burel Factory. A equipa vai todos os anos a Tóquio apresentar as novidades: novas coleções, novos produtos e os revestimentos mais recentes. E porque no mundo dos têxteis é preciso estar sempre a inovar e a seguir tendências, os designers da Burel Factory trabalham as cores, atualizam os padrões e lançam coleções inovadoras que são apresentadas duas vezes por ano nas feiras de tecidos de Tóquio. Isabel Costa conta que escolheram o Japão como o primeiro local para apresentarem o projeto porque “é um mercado muito exigente e com clientes muito rigorosos. O que funciona lá, funciona em qualquer parte”. Com o tempo foi-se estabelecendo uma relação de confiança. Hoje, Isabel considera que os japoneses são extremamente éticos e organizados. Aquilo que os distingue é que “não copiam produtos e estão muito MONTEPIO INVERNO 2014 à frente no que diz respeito a tendências e gostos”. “Estamos a começar tudo”, explica, mas a produção, essa, já se situa nos 70% para o mercado nacional e 30% além-fronteiras. “Há um património de tecidos muito importante e queremos levá-lo a conhecer o mundo”, diz Isabel Costa. Daí ser fundamental a participação em feiras na Europa e Japão. Atualmente a Burel Factory está também a receber encomendas dos Estados Unidos da América, Suíça, Áustria, Bélgica, Finlândia e Alemanha. Pensar o futuro Regressando a Portugal, Isabel Costa prefere falar sobre o impacto na economia de Manteigas apenas daqui a alguns anos. Ainda assim, a empresa já é um dos maiores investidores da região e assume-se como o maior empregador. “Mas daqui a cinco anos fazemos outra vez o balanço.” Para a responsável da Burel Factory o futuro é simples e claro, porque “queremos ser autossuficientes. Penso que daqui a um ano já conseguimos atingir esse objetivo”. Apesar da dinâmica entre a Casa das Penhas Douradas Design Hotel e SPA e a fábrica de tecidos Burel ter surgido naturalmente, a ideia é que se mantenham como projeto conjunto. “É muito importante para nós que a Burel Factory tenha vários componentes. Por isso vamos incluir um museu e um centro criativo na fábrica. Queremos que Manteigas e as Penhas Douradas sejam encaradas como um destino, e é aí que entra o hotel.” Por isso, já sabe. Se rumar a norte já pode visitar a fábrica da Burel, aberta ao público. A MINHA ECONOMIA PRODUTOS FINANCEIROS, SUGESTÕES E EMPREENDEDORISMO página 52 FINANÇAS PESSOAIS Tudo o que precisa de saber sobre rentabilizar as suas economias em 2015. Análise às novas regras do IRS, fiscalidade verde e dicas de investimento e poupança página 58 MODALIDADES MUTUALISTAS Conheça o que o Montepio pode fazer por si e pela sua família. São 11 modalidades com vantagens em todos os prazos e concebidas para as várias fases da vida página 62 página 66 Comprar ou arrendar? Traçamos um perfil ao mercado imobiliário português e contamos-lhe tudo o que mudou. Fique por dentro com a opinião dos especialistas Descomplicámos o cálculo da taxa que dita quanto paga pela sua casa. Fique a saber como se calcula, os diferentes prazos e como se comportou a Euribor antes e depois da crise IMOBILIÁRIO EURIBOR 3 a minha economia FINANÇAS PESSOAIS FINANÇAS PESSOAIS S NÇA IDA D E V E RDE S F AL ISC EN TO 2015 É O ANO DAS REFORMAS DO IRS E DA FISCALIDADE VERDE. MAS O ORÇAMENTO DO ESTADO TAMBÉM TROUXE NOVIDADES, BOAS E MÁS. TODOS OS PORTUGUESES, SEM EXCEÇÃO, SENTEM (DESDE JANEIRO) OS EFEITOS DAS NOVAS MEDIDAS. O QUE ESPERAR DE 2015? SAIBA QUAIS AS MUDANÇAS QUE AFETARÃO AS SUAS FINANÇAS, PELO MENOS ATÉ DEZEMBRO DO IR U PA 52 REFORMA INV IM EST IMPOSTOS por mafalda aguilar Uma vez que a crise ainda se faz sentir, continua a ser muito importante adotar ou reforçar hábitos de poupança. Saiba como ter finanças saudáveis em 2015 e melhorar a gestão do seu orçamento familiar, quais as melhores apostas de investimento e as aplicações que deve evitar. MONTEPIO INVERNO 2014 PO GUIA PARA POUPAR E INVESTIR EM 2015 ORÇAMEN TO O que mudou com a entrada do novo ano O ano 2015 ainda não será o do fim da austeridade. A necessidade de prosseguir o equilíbrio das contas públicas (leia-se, atingir um défice orçamental abaixo dos 3% do PIB) continua a impor sacrifícios à generalidade dos portugueses. É certo que 2015 é o primeiro ano sem a troika, mas mantiveram-se, grosso modo, as medidas de austeridade aplicadas no passado, embora algumas tenham sido apresentadas com uma nova roupagem (mais leve), como é o caso da Contribuição Extraordinária de Solidariedade (CES) e dos cortes salariais no Estado. Ao mesmo tempo, a Fiscalidade Verde introduziu novos impostos e agravou outros (o preço a pagar pelo alívio do IRS). Sobretaxa continua a sobrecarregar famílias Todos os meses, até ao final do ano, continuará a ser aplicada a sobretaxa de 3,5% de IRS, mas está previsto um mecanismo de crédito fiscal que permitirá a sua devolução, parcial ou total, em 2016, caso a receita de IVA e IRS exceda, em conjunto, o valor inscrito no Orçamento do Estado (OE) para 2015. IRS com quociente “à francesa” Já a Reforma do IRS, que entrou em vigor em janeiro, traz vantagens fiscais para as famílias que serão sentidas, sobretudo, no próximo ano, quando as Finanças procederem à liquidação do imposto relativo a 2015. A pedra-de-toque da reforma do IRS é o quociente familiar, inspirado no modelo francês segundo o qual, Simulador IRS 2014 Saiba quanto vai pagar a mais ou receber de IRS este ano com o simulador do Ei Montepio em bit.ly/1yjYLzC além dos cônjuges, os dependentes e ascendentes (desde que vivam com a família e não tenham rendimentos superiores à pensão mínima do regime geral) passam a ser considerados na divisão do rendimento coletável, com uma ponderação de 0,3. Este novo método, que diminui o valor sobre o qual incide o IRS, vem substituir o anterior quociente conjugal, que dividia o rendimento coletável por dois (no caso de um casal). Uma família com dois filhos e um avô a seu cargo, por exemplo, verá o seu rendimento coletável dividido por 2,9 (2+0,3+03+0,3). Nova categoria de deduções Em matéria de deduções à coleta, o “novo” IRS manteve, no essencial, o figurino anterior. Assim, tenha presente que continua a ser possível abater à coleta os encargos com educação, saúde, casa, lares e pensões de alimentos, mas os limites são mais generosos. A principal novidade é a criação de uma nova categoria de deduções à coleta (que constará na declaração de IRS a entregar em 2016), designada de “despesas gerais familiares”, onde se incluem praticamente todas as compras de bens ou serviços (supermercado, roupa, calçado, gás, eletricidade, telefone, viagens). É possível deduzir 35% destes gastos, com um limite de 250 euros por cada sujeito passivo. Outra mudança diz respeito ao limite global de deduções à coleta. Os rendimentos coletáveis até 7 000 euros continuam a não ter tetos nas deduções. Já sobre os rendimentos entre os 7 000 e 80 000 euros é aplicada uma fórmula que fará com que o teto global seja diferente para cada contribuinte, oscilando entre 1 000 e 2 500 euros. Para rendimentos acima de 80 000 euros o limite são 1 000 euros, quando antes não tinham direito a qualquer dedução. Nas deduções pessoais deixa de existir a dedução por sujeito passivo, mas as deduções por dependente e ascendente são aumentadas. Cada filho passa a valer 325 euros, a que se somam 125 euros se a criança tiver menos de 3 anos. A dedução por ascendente com rendimentos até ao valor da pensão mínima sobe para 300 euros, podendo chegar aos 410 euros se existir apenas uma pessoa nesta situação. Se, por um lado, a reforma do IRS se traduz numa redução do imposto a pagar pelas famílias, por outro a Fiscalidade Verde cria novas taxas sobre os combustíveis e sacos de plástico (utilizados no supermercado) e agrava o Imposto sobre Veículos (ISV). IRS… a quanto obrigas Lembre-se que, de 2016 em diante, o Fisco só terá em conta para efeitos de dedução em sede de IRS as despesas comprovadas por fatura com número de identificação fiscal. É ainda necessário que as faturas sejam enviadas pelas empresas que as emitem à Autoridade Tributária e Aduaneira (AT). Ao longo do ano, mantenha-se atento à sua página no Portal das Finanças e verifique se constam todas as faturas que vai pedindo com o número de contribuinte. Se faltar alguma despesa poderá introduzi-la no site, tendo até dia 15 de março de cada ano para reclamar se for caso disso. REPOSIÇÃO Função pública com menos cortes O s funcionários públicos com vencimentos acima dos 1 500 euros brutos também têm mais folga financeira este ano, por via da devolução de 20% do corte salarial a que estavam sujeitos. Porém, as progressões e promoções das carreiras mantêm-se congeladas e os prémios de desempenho permanecem condicionados. Além disso, o pagamento das horas de trabalho extraordinário para os funcionários do Estado com horário semanal de 35 horas continua reduzido a metade. MONTEPIO INVERNO 2014 53 3 a minha economia EMPRESAS poupar e investir 15% É A PERCENTAGEM que pode ser deduzida no IVA suportado por qualquer membro da família em contas de cabeleireiros, oficinas, restaurantes e alojamentos, até um limite de 250 euros por agregado, conforme previsto no e-fatura. 10 É O MONTANTE COBRADO (em cêntimos) por cada saco de plástico utilizado nos supermercados. Por isso, lembre-se de levar os sacos que tem em casa antes de ir às compras. 54 21% É A TAXA DE IRC que as empresas com lucros pagam este ano, menos dois pontos face aos anteriores 23%. CES afeta menos pensionistas O ano de 2015 trouxe algum alívio para os pensionistas, sobretudo aqueles que recebem reformas médias e altas, uma vez que a CES passou a incidir apenas sobre pensões superiores a 4 611,42 euros, quando antes atingia reformas a partir dos 1 000 euros, e quem sofre cortes perde menos dinheiro. Deste ano em diante, os pensionistas, sem exceção, passam a beneficiar de uma dedução específica de 4 104 euros (montante que é abatido automaticamente ao rendimento bruto), tal como acontece com os trabalhadores por conta de outrem. Na lei anterior, esta dedução começava a diminuir a partir dos 1 607 euros brutos, desaparecendo a partir dos 3 100 euros ilíquidos. MONTEPIO INVERNO 2014 POUPAR Comece agora! A chegada de um novo ano serve muitas vezes de pretexto para novas resoluções, e em tempo de crise uma das promessas mais comuns diz respeito à poupança. No entanto, a maioria destas resoluções não tem consequências. De acordo com um estudo da University of Scranton, publicado no Journal of Clinical Psychology, apenas 8% das pessoas alcançam os objetivos a que se propuseram no arranque do ano. Por isso, quem deseja organizar-se financeiramente “deve começar hoje e não esperar por uma data em especial”, defende João Martins, autor do livro A Economia lá de Casa, argumentando que, “tal como nas dietas, só funcionam aquelas mudanças que tomamos por necessidade e força de vontade”. Para o também presidente da APEFI – Associação para o Posicionamento Estratégico e Financeiro, adiar estas decisões tem a desvantagem de piorar as probabilidades de sucesso. “Se não começamos hoje e esperamos por outro dia, isso significa que ainda não estamos preparados para assumir esse compromisso. Acontece que na data escolhida também não estaremos”, sublinha o responsável, concluindo que “este tipo de decisões adiadas acaba geralmente por se desmoronar mais rapidamente do que decisões tomadas com efeito imediato”. Mais fácil poupar do que melhorar a forma física Poupar pode parecer uma missão impossível, sobretudo quando os rendimentos são muito limitados, mas é menos difícil do que parece à partida. Segundo um estudo da Fidelity as resoluções financeiras são mais fáceis de manter do que outras, como fazer mais exercício, parar de fumar ou encontrar um novo emprego. O que custa mesmo é começar. E, para aqueles que já tomaram a decisão de me- lhorar a sua saúde financeira, João Martins sugere uma primeira medida: “Pague-se a si em primeiro lugar.” Na prática, explica, esta regra “significa que quando recebemos o salário devemos retirar imediatamente a nossa parte, ou seja, a poupança que nos vai facilitar o futuro”. O também autor do livro Dinheiro à Vista indica que se deve colocar logo de parte entre 5% e 10%. “Será com o valor remanescente que a nossa vida se deve organizar e, caso não seja possível, isso mostra que estamos literalmente a viver acima das nossas possibilidades.” Telecomunicações e energia “debaixo de olho” Para quem já tem hábitos de poupança, uma das prioridades é analisar os gastos com as telecomunicações e considerar diferentes opções de mercado. Tipicamente, este tipo de despesa “representa uma fatia exageradamente grande nos orçamentos dos portugueses”, refere João Martins. Além disso, as famílias devem refletir sobre os custos com a energia. “Importa prepararmos com antecedência o nosso lar para o inverno, de forma a não gastarmos demasiada eletricidade ou gás em aquecimento devido a perdas de calor que podiam ser facilmente reparadas. Hoje em dia, com o preço em grande alta, não devemos descurar esta categoria.” “No pagar a dívida é que está o ganho” Na opinião de João Martins, as folgas orçamentais devem ser canalizadas para o pagamento de dívidas com juros mais elevados, nomeadamente cartões de crédito, uma estratégia que poderá permitir poupanças significativas. Para quem diz que já não consegue cortar mais no orçamento doméstico, João Martins dá um conselho: “Não ter medo de arriscar uma nova vida em consonância com a situação financeira real.” Por que não começar em 2015? Top 3 das resoluções financeiras 1 Colocar mais dinheiro de parte 2 Pagar as dívidas 3 Gastar menos FONTE: FIDELITY INVESTMENTS > 2015 CONTINUARÁ a ser um ano desafiante para a maioria dos INVESTIR 2015: um ano desafiante para os investidores “São vários os desafios que se colocam nos mercados financeiros durante 2015.” Quem o afirma é Miguel Gomes da Silva, diretor da sala de mercados do Montepio. Isto num ano em que se perspetiva uma recuperação económica desigual: “O motor da economia mundial deverá assentar nos países desenvolvidos, como os Estados Unidos da América e o Reino Unido, enquanto a Europa deverá descolar de um crescimento anémico mas a uma velocidade reduzida, em torno de 1,5%, e os países emergentes como o Brasil, a Índia, a China ou mesmo a Rússia deverão acusar algum ‘aquecimento’ e ver reduzida a sua perspetiva de crescimento”, antecipa o responsável. Em 2015 os mercados ainda deverão estar condicionados por políticas monetárias distintas. Nos Estados Unidos, a Reserva Federal deverá começar a subir as taxas de juro na primeira metade do ano, face à evolução positiva da economia do país. Já na Zona Euro, as taxas de juro permanecerão próximas de zero, tendo mesmo o Banco Central Europeu (BCE) avançado com um programa alargado de Quantitative Easing (QE), compra de grandes quantidades de dívida pública, para estimular a economia da região e combater a baixa inflação prolongada. Para Miguel Gomes da Silva, “as tensões geopolíticas entre a Rússia e o Ocidente serão também decisivas” para a evolução dos mercados. portugueses ao nível da gestão do orçamento familiar, mas perspetivam-se melhorias significativas para 2016 no que ao IRS diz respeito Petróleo, uma incógnita Em 2015 o petróleo será um dos investimentos mais desafiantes, depois de ter perdido 45% do seu valor no ano passado. E a tendência de queda mantém-se este ano. Mas quanto mais poderá cair o preço do petróleo? Esta é a pergunta de um milhão de dólares para 2015. “É uma incógnita que de- P&R Rui Serra Economista-chefe Montepio O ano de 2015 será melhor ou pior para os portugueses? A nossa expetativa é que a economia portuguesa reembolso da sobretaxa de IRS previsto no OE para 2015 – o chamado crédito fiscal – que, contudo, não será fácil de produza mais em 2015 do que em 2014 e que os portugueses possam consumir mais bens e serviços. Ou seja, que o ano de 2015 possa ser melhor. Prevemos que o PIB cresça 1,6% em 2015, depois de um crescimento de 0,9% em 2014. concretizar. Em relação ao IMI, existem boas e más notícias. Por um lado, a cláusula de salvaguarda deste imposto terminou e a proposta de OE 2015 nada referia sobre a sua manutenção. Por outro lado, o documento contempla o alargamento do universo de famílias que ficam isentas. Que fatores mais pesarão no orçamento das famílias ao longo do ano? Em temos genéricos, as famílias pagarão mais impostos (nomeadamente ao nível dos impostos especiais sobre o consumo) e contribuições ao Estado. Este é um dos motivos para que a carga fiscal suportada pelos portugueses (o peso na economia da receita fiscal e das contribuições sociais) chegue aos 37% do PIB este ano, um novo máximo histórico. Em compensação, os pensionistas e funcionários públicos poderão sentir algum alívio a partir de 2015. Uma potencial boa notícia para as famílias reside na possibilidade do Quem é mais beneficiado este ano: empresas ou famílias? Em 2015, alguns impostos são agravados, outros são introduzidos e alguns aliviados. Em termos gerais, fica-se com a sensação de que as empresas são mais beneficiadas com este orçamento. A descida da taxa de IRC de 23% para 21%, nos termos da reforma do IRC, era já esperada e garantida. Ainda que não tenha sido uma surpresa, esta é a medida do OE 2015 que mais afetará a vida das empresas este ano, ao beneficiarem de um alívio da carga fiscal que será progressivo até 2016. MONTEPIO INVERNO 2014 55 3 a minha economia EMPRESAS poupar e investir pende fundamentalmente de dois fatores: crise geopolítica com a Rússia e crescimento mundial. Neste momento, ambos os fatores se posicionam para acreditar que o petróleo negociará em níveis baixos durante um largo período de tempo, tendo já caído abaixo da barreira dos 50 dólares. Certo é que a queda do preço do petróleo para um mínimo de mais de cinco anos “está a estrangular as economias exportadoras da matéria-prima, como a Rússia, a Venezuela ou Angola”, alerta Miguel Gomes da Silva. Pelo contrário, os países importadores de petróleo, como a China e a Índia, estão a ganhar com a quebra do preço desta commodity. Cambial no radar Na opinião do diretor da sala de mercados, o mercado cambial, espelho da atividade económica de um país ou conjunto de países e de tensões geopolíticas, também deve estar no radar dos investidores, “sobretudo dos que compram ativos noutras moedas que não a sua”. E as bolsas? Ao nível global, “as ações deverão ter um comportamento positivo em 2015, sobretudo nos Estados Unidos da América com a economia a viver um ciclo de expansão económica e na Europa na sequência do anúncio do programa de Quantitative Easing”, antecipa Miguel Gomes da Silva. Apesar de estar otimista em relação ao desempenho das bolsas europeias este ano, o responsável do Montepio alerta que “há ainda fatores que podem comprometer o crescimento económico dos países europeus, sobretudo na Zona Euro: a questão dos défices excessivos não está sanada e o risco político não desapareceu”. Tendo presente estes riscos, “será prudente acompanhar o investimento em ações europeias com uma diversificação geográfica fora da Zona Euro, como o Reino Unido e até os Estados Unidos da América”, aconselha. Para 2015, o diretor da sala de mercados do Montepio insiste na máxima financeira de “não colocar os ovos todos no mesmo cesto”, sobretudo nos investimentos em que o mais importante é preservar o capital sem perder de vista algum retorno. Assim, os investidores com este perfil devem “espalhar o investimento por vários tipos de ativos em várias geografias”. STOP N' PLAY Música para os seus investimentos 56 PLAY: melhores apostas ^ AS AÇÕES norte-americanas estão entre as apostas de 2015. Após conquistar valorizações de dois dígitos nos últimos três anos, o principal índice norte-americano S&P 500 ainda terá margem para ganhos. ^ NA PRAÇA nacional “existem motivos para acreditar que as ações de empresas como a Jerónimo Martins, CTT e EDP terão um bom desempenho em 2015”, refere Miguel Gomes da MONTEPIO INVERNO 2014 Silva. “A banca poderá ser uma agradável surpresa, dependendo de eventuais movimentos de fusão no setor e evolução dos indicadores macroeconómicos, nomeadamente desemprego e investimento”. ^ O DÓLAR deverá continuar a ganhar força contra o euro em 2015, depois de ter valorizado mais de 10% no ano que passou. “O mercado cambial tende a refletir a política de taxas de juro das respetivas economias. Sendo expectável que o crescimento económico nos EUA seja mais forte do que na Zona Euro, é esperada uma subida das taxas de juro do dólar mais cedo e mais rápida que do euro. Assim, é natural que o euro continue a perder valor para a moeda norte-americana ao longo de 2015”, explica o responsável. ^ COMMODITIES 2015 será o ano do cacau e da carne, como antecipou Ole Hansen, especialista em commodities do Saxo Bank, na conferência “Bolsa em 2015: Que mercados? Oportunidades?” STOP: investimentos a evitar ^ EM 2015 os investidores devem reduzir a sua exposição aos países emergentes devido às perspetivas de abrandamento económico nestas economias, aconselha Miguel Gomes da Silva. ^ NA BOLSA, as energéticas ligadas ao petróleo deverão igualmente “ser alvo de uma análise cuidada antes de qualquer investimento em ações destas empresas”, tendo em conta “a instabilidade do preço do barril e a indefinição geopolítica”. ^ O OURO também não oferece grandes perspetivas de ganhos em 2015. “Uma vez que a moeda norte-americana deverá continuar a valorizar-se, uma eventual subida do ouro será absorvida pela valorização do dólar”, explica o responsável do Montepio, aconselhando quem pretenda investir no metal amarelo “que o faça através de instrumentos financeiros denominados em euros, como ETF sobre o XAUEUR”. 3 a minha economia MUTUALISMO POUPANÇA E PROTEÇÃO SOLUÇÕES À MEDIDA DA SUA VIDA 58 SE O MUTUALISMO FOSSE UM TECIDO TERIA 11 PADRÕES, O MESMO NÚMERO DE MODALIDADES MUTUALISTAS MONTEPIO PROJETADAS PARA AS VÁRIAS FASES DA VIDA DOS SEUS ASSOCIADOS. MAS QUE PRODUTOS SÃO ESTES QUE ASSENTAM TÃO BEM À SUA ECONOMIA? Para quem está a ler este artigo, expressões como modalidade mutualista ou solução mutualista não são, certamente, novidade. Com mais de um milhão de subscrições acumuladas, as modalidades mutualistas têm uma missão fundamental: proteger o presente e garantir o futuro. E cumprem a sua missão através de 11 soluções que abrangem as várias fases da vida. Modalidades ao milímetro 1 008 557 SUBSCRIÇÕES totais de modalidades em 31 de dezembro de 2013 1,74 NÚMERO MÉDIO de subscrições por Associado Quer seja numa idade jovem, durante a vida ativa, no momento de constituir família ou na reforma, os associados são convidados a ligarem as suas necessidades às soluções criadas pela maior associação mutualista do país. As soluções mutualistas são regimes complementares ao sistema público de Segurança Social, e nascem da vontade comum de um grupo de pessoas em se associarem para protegerem o futuro e partilharem os riscos, num sistema livre, democrático e voluntário de proteção complementar à que já existe no sistema público de contribuições obrigatórias. É a vida que dita o tipo de prote- As 3 modalidades mais subscritas em 2013 % de subscrições MONTEPIO INVERNO 2014 39,9 28,9 22,5 Montepio Capital Certo Montepio Poupança Complementar Montepio Proteção 5 em 5 Uma medida mutualista Qual é o seu perfil? Saiba como o seu ciclo de vida está protegido pelas soluções mutualistas e como é concebido, à medida da sua vida, o mutualismo da Associação Mutualista Montepio. ção que hoje está presente na Associação Mutualista Montepio e que inspira a oferta de soluções para um grupo de diferentes associados. A procura pela modalidade certa para o Associado certo deve começar com uma pergunta simples: “Quero poupar ou proteger um capital ou um encargo?” Embora tenham o mutualismo como elo de ligação, são os perfis dos associados que podem guiar as escolhas. Em que fase está? Quem pensa em constituir poupanças pode contar com soluções mutualistas para todas as idades e para todas as fases da vida. Por exemplo, enquanto o Montepio Poupança Complementar é uma modalidade que pode ser subscrita por associados de qualquer idade e acompanhá-los ao longo de toda a vida, outras soluções são mais orientadas para um determinado período da vida. A Montepio Poupança Reforma é uma modalidade com um regime fiscal semelhante a um Plano Poupança Reforma (PPR) e que se ajusta aos associados que querem garantir uma poupança no momento de descanso de uma vida ativa de trabalho. Por outro lado, a modalidade Montepio Capital Certo emite Séries que permitem a pou- É a fase em que se começam a adquirir os bons hábitos de poupança. O arranque de um caminho promissor. MONTEPIO POUPANÇA COMPLEMENTAR JOVEM Designação da modalidade Montepio Poupança Complementer para jovens com menos de 18 anos, para acompanhar os associados ao longo de toda a sua vida, permitindo-lhes constituir uma poupança flexível a médio e longo prazo. MONTEPIO PROTEÇÃO 18-30 Modalidade que serve para um adulto garantir um montante de capital definido à partida a um jovem, quanto este atinge uma idade entre os 18 e os 30 anos. 3 perguntas para chegar à solução mais ajustada ao seu perfil 1 Quero poupar ou proteger alguém? POUPANÇA PROTEÇÃO As modalidades mutualistas estão, 2 3 Quero efetuar uma proteção dos riscos normalmente, separadas em duas única ou ir poupando regularmente? morte, invalidez ou velhice/reforma? grandes áreas: na Proteção, o objetivo Há modalidades que permitem ir Algumas soluções mutualistas estão é proteger um beneficiário face aos poupando regularmente e outras que ajustadas a quem pretende proteger-se riscos de morte, invalidez ou velhice do apenas permitem entregas únicas da morte ou invalidez, outras fazem Associado; na Poupança, a principal ideia de capital. mais sentido para quem pretende é economizar e valorizar poupanças. Quero poupar uma quantia proteger-se na velhice. MONTEPIO INVERNO 2014 59 3 a minha economia MUTUALISMO poupança e proteção O momento de constituir família, de tomar as decisões estruturais que vão marcar o rumo das poupanças do casal. 60 pança, a médio e longo prazo, sendo as emissões mais comuns a 5 anos e 1 dia, com um rendimento mínimo garantido, em cada ano, a uma taxa fixa definida logo na emissão. Nas modalidades de proteção, a fase da vida pode ser ainda mais relevante para a necessidade dos associados. A compra de uma nova habitação pode levar à proteção por uma modalidade como o Montepio Proteção – Crédito Habitação. Também a preocupação dos pais com o futuro dos filhos pode ser o mote para a subscrição do Montepio Proteção 18 – 30, uma modalidade mista que combina a poupança de capital para o futuro do jovem com a proteção desse capital face ao risco de eventual desaparecimento dos pais. Mas também é possível que um Associado esteja a pensar na redução do rendimento mensal depois de passar de um salário em idade ativa para uma pensão da Segurança Social, na idade de reforma. O Montepio Pensões de Reforma pode ter a resposta para estes associados, construindo um complemento vitalício de reforma. MONTEPIO INVERNO 2014 MONTEPIO POUPANÇA COMPLEMENTAR ATIVO Designação da modalidade Montepio Poupança Complementar para associados na vida ativa, pensada para acompanhá-los ao longo de toda a sua vida, permitindo-lhes constituir uma poupança flexível a médio e longo prazo. MONTEPIO PROTEÇÃO 5 EM 5 É uma modalidade que permite a constituição de uma poupança a ser paga de 5 em 5 anos e que, ao mesmo tempo, cobre o risco de morte de quem a subscreve, garantindo nessa eventualidade o recebimento pelos beneficiários indicados dos pagamentos previstos. MONTEPIO PROTEÇÃO VIDA O Montepio Proteção Vida é uma modalidade mutualista criada para proteger financeiramente familiares ou outros beneficiários do Associado na eventualidade da sua morte. Pode ser transformada numa renda mensal temporária ou vitalícia. Pode ser subscrita até aos 65 anos. MONTEPIO PROTEÇÃO INVALIDEZ Modalidade criada para precaver uma situação de invalidez, assegurando ao associado entre 3 000 € e 50 000 €, mediante o pagamento de uma quota mensal. Pode ser subscrita até aos 59 anos. MONTEPIO PROTEÇÃO – CRÉDITO À HABITAÇÃO MONTEPIO PROTEÇÃO – CRÉDITO INDIVIDUAL MONTEPIO PROTEÇÃO – OUTROS ENCARGOS Modalidades mutualistas que estão concebidas para garantir o pagamento de um encargo, no caso de morte ou invalidez do subscritor ou subscritores. No caso do Montepio Proteção – – Outros Encargos pode também optar por proteger diretamente a família, com o recebimento de um capital em caso de morte ou invalidez. glossário 7 termos que deve perceber A reforma prepara-se na vida ativa. Depois de anos de trabalho é necessário manter comportamentos de gestão económica e poupança. Há soluções para todos. Porque há desafios que são transversais, atingem todas as idades e reúnem todas as gerações num objetivo. Associado É considerado o Associado Efetivo, pessoa individual, admitida na Associação Mutualista Montepio, que pague a joia, a quota associativa mensal e subscreva e mantenha, pelo menos, uma modalidade mutualista. Beneficiário Titular do direito aos benefícios. Sempre presente no universo de modalidades mutualistas. Capital subscrito Capital coberto pago aos beneficiários nas modalidades de Proteção ou mistas. MONTEPIO POUPANÇA REFORMA É uma modalidade mutualista destinada a quem quer poupar por mais de 5 anos e tem como objetivo acumular uma poupança regular após os 60 anos. Tem um regime fiscal equiparável aos PPR. MONTEPIO PENSÕES DE REFORMA Modalidade para os associados com mais de 35 anos e menos de 60 que pretendem destinar mensalmente uma parte do seu rendimento para poderem receber uma pensão mensal vitalícia que pode começar a ser paga a partir dos 56 anos. MONTEPIO CAPITAL CERTO Com esta modalidade, os associados podem poupar pelos prazos determinados nas Séries emitidas. No tipo de Série mais corrente, podem efetuar uma entrega única inicial, poupando por um prazo de 5 anos e 1 dia e obtendo um rendimento mínimo garantido fixo, pré-definido, e capitalizado, ao longo daquele prazo, podendo ainda receber um rendimento complementar no final do mesmo. Modalidade É o nome dado ao regime complementar de Segurança Social, de iniciativa individual ou coletiva, de natureza mutualista, que permite aos associados subscritores constituírem/garantirem uma solução de poupança e/ou proteção para benefício próprio ou de terceiros. Rendimento garantido Rendimento mínimo que está assegurado nas modalidades de Poupança. Rendimento complementar Rendimento adicional bruto que poderá acrescer ao Rendimento Mínimo Garantido, quando previsto, em Modalidades de Poupança. Subscrição É o ato da adesão individual e autónoma a uma modalidade individual. SÉNIOR MONTEPIO POUPANÇA COMPLEMENTAR SÉNIOR Designação da modalidade Montepio Poupança Complementar para os associados a partir dos 55 anos. Está pensada para acompanhar os associados ao longo de toda a sua vida, permitindo-lhes constituírem uma poupança flexível a médio e longo prazo. A SABER Modalidades mutualistas no contexto das soluções de poupança e proteção As modalidades mutualistas coexistem com um vasto leque de soluções de poupança e proteção, como os seguros de capitalização, os seguros de proteção ou os planos poupança reforma, distinguindo-se destes por dois aspetos fundamentais: > Finalidades dos objetivos das associações mutualistas. > Natureza jurídica das associações mutualistas. MONTEPIO INVERNO 2014 61 3 a minha economia IMOBILIÁRIO MERCADO NOVOS MOTORES DO IMOBILIÁRIO RESIDENCIAL 62 TRAÇÁMOS O PERFIL AO MERCADO IMOBILIÁRIO RESIDENCIAL E COMERCIAL. PARTILHAMOS AS OPINIÕES DOS ESPECIALISTAS E DICAS PARA COMPRAS E VENDAS SEGURAS. BONS NEGÓCIOS! por mafalda aguilar Conheça o ponto de situação do setor imobiliário, quais as perspetivas para 2015 e segredos para comprar e vender um imóvel. Se está à procura de casa, saiba também quais as zonas mais desejadas do país. “Há sem dúvida um ‘fim de crise’ no mercado imobiliário residencial, no sentido em que os preços deixaram de cair”, defende Ricardo Guimarães, diretor da Confidencial Imobiliário (Ci), empresa especializada na produção de indicadores de análise de mercado. No entanto, o responsável ressalva que “afirmar que a crise já chegou ao MONTEPIO INVERNO 2014 fim pode ser um equívoco caso se pretenda com isso dizer que regressámos ao ponto de partida, ou seja, antes da crise”. Em meados de 2013 os preços de venda no mercado imobiliário residencial começaram a estabilizar e, desde então, registou-se uma tendência de subida, ainda que “ténue”, num movimento de recuperação face à que- da acumulada “em cerca de 20%” desde que rebentou a crise do crédito de alto risco norte-americano, em 2007. Todavia, esta retoma não é uniforme no mercado nacional, “sendo mais visível em Lisboa e no centro do Porto, em especial no contexto do forte investimento em reabilitação urbana”, destaca Ricardo Guimarães. O novo paradigma O mercado imobiliário residencial foi duramente castigado pela convulsão financeira global, depois de cerca de duas décadas com forte aposta no crescimento da oferta e na promoção do acesso à habitação através da compra e do financiamento bancário, lembra o diretor da Ci – Confidencial Imobiliário, frisando que “este modelo não foi uma especificidade nacional mas o resultado da política de convergência dos mercados monetários na Europa e da consolidação do mercado de crédito financeiro”. A crise veio provocar a rutura deste paradigma, abrindo-se um novo ciclo no mercado imobiliário residencial, orientado para a reabilitação urbana e para o arrendamento, os novos motores deste segmento. “Hoje, numa fase em que a crise começa a esmorecer e a economia a estabilizar, vejo o mercado residencial como um setor mais maduro, no qual se abrem como alternativas válidas a compra e o arrendamento, e no qual se valorizam os centros urbanos como alvo da atenção dos investidores”, frisa Ricardo Guimarães. O especialista conclui, “como nota de síntese, que, ao contrário do que sucedia antes, hoje o imobiliário residencial pode ser visto como um mercado de investimento, enquanto no passado se estruturava como um mercado de consumo. É uma mudança significativa”. > MUDANÇA DE CASA É uma das decisões mais importantes que tomamos na vida. Será que vai mudar de casa em 2015? Previsão para 2015 O que se pode esperar de 2015 para o mercado imobiliário residencial? Por um lado, a incerteza quanto ao Governo que sairá das eleições legislativas deste ano, o que “terá reflexos nas expetativas dos agentes económicos, podendo haver muitas decisões de investimento adiadas”. Ricardo Guimarães salienta que, por outro lado, “começam a sair os primeiros avisos para projetos cofinanciados pelo Horizonte 2020, havendo expetativas relevantes quanto ao incentivo à P&R Ricardo Guimarães Diretor da Confidencial Imobiliário Qual o peso dos investidores estrangeiros no mercado imobiliário residencial português? Os estrangeiros têm sido os investidores chineses, mas o mercado tem revelado procura de diversas proveniências, desde o Médio Oriente ganho quota entre os compradores de imóveis desde 2013, com a entrada em vigor do regime relativo às autorizações de residência (os vistos gold) e do regime fiscal orientado para os residentes não habituais. Essa quota deverá exceder os 15%. Contudo, a incidência deste tipo de procura não é uniforme em todo o país, orientando-se em especial para a região de Lisboa e para o Algarve. O regime fiscal para residentes não habituais é o que mais tem contribuído para essa dinâmica, gerando uma procura de origens diversificadas, desde franceses, ingleses e alemães. ao Brasil. No segmento de luxo, quais são os compradores estrangeiros mais dinâmicos? Este mercado tem sido alvo de atenção especialmente pelos investidores que procuram Portugal no âmbito dos vistos gold. Os protagonistas têm Qual o impacto dos vistos gold na habitação de gama alta? Um dos efeitos tem sido a criação de uma nova indústria de investimento liderada por agentes de origem chinesa, que adquirem imóveis para reabilitação tendo em vista a revenda a concidadãos que, por sua vez, são os destinatários dos vistos de residência. Isso tem-se sentido, por exemplo, na alienação de imóveis da Câmara Municipal de Lisboa realizada em hasta pública. Os efeitos dessa procura são evidentes pela evolução dos preços em Lisboa, numa primeira fase no Parque das Nações e, numa segunda, nas zonas históricas. A consequência tem-se sentido nos preços com valorizações relevantes em Lisboa, onde os preços de venda na gama alta rondam os 5 500 euros/m2, depois de terem estado em 3 750 em meados de 2012. MONTEPIO INVERNO 2014 63 3 a minha economia IMOBILIÁRIO mercado reabilitação urbana, em ligação com o arrendamento residencial ou eficiência energética”. O Horizonte 2020 é um Programa-Quadro Comunitário de Investigação & Inovação que contempla um orçamento global superior a 77 mil milhões de euros para o período 2014-2020. A estes estímulos somam-se algumas medidas do Orçamento do Estado para 2015, nomeadamente a introdução em Portugal de veículos de investimento em imobiliário com elevada atratividade fiscal (REITS). “Naturalmente, em 2015 não é de esperar que haja impactos significativos dessa medida, mas a sua introdução coloca o imobiliário como um ativo de investimento com potencial de atratividade, ajudando a reforçar o sentimento de oportunidade que o merca- OPINIÃO DO ESPECIALISTA Segredos para vender ou comprar 64 A compra de casa própria é uma decisão muito importante e, como tal, deve envolver alguns cuidados. Para tornar mais seguro o processo de compra de uma casa, o presidente da APEMIP, Luís Lima, aconselha o recurso a um mediador imobiliário, argumentando que este profissional “poderá aconselhá-lo sobre a localização, dimensão do imóvel, qualidade da construção ou condições atuais do imóvel”, apresentando ainda uma base de dados para que a escolha seja bem fundamentada e dando apoio em decisões como a escolha do banco que dá mais vantagens, taxas de juro, modalidades e prestações, seguros obrigatórios e complementares, encargos adicionais e fiscalidade. Antes de adquirir um imóvel deverá MONTEPIO INVERNO 2014 efetuar um estudo sobre as implicações legais e outras. “Neste aspeto, as mediadoras imobiliárias mais qualificadas colaboram com gabinetes jurídicos habilitados a esclarecer o cliente sobre todas as dúvidas que possam surgir em matérias legais, bem como a preparar e a acompanhar toda a tramitação legal que envolve a compra de um imóvel”, sublinha. Contudo, na escolha de uma mediadora também deverá ter em conta alguns cuidados, como “verificar se a entidade mediadora está devidamente licenciada pelo Instituto da Construção e do Imobiliário – InCI, devendo o número da sua licença AMI ser visível em todos os locais de atendimento, por forma a garantir que o profissional tem formação técnica e especializada comprovada em diversas áreas”, explica Luís Lima, notando ainda que o agente imobiliário é igualmente obrigado por lei a ter um seguro obrigatório de responsabilidade civil, ao qual o cliente poderá recorrer em caso de responsabilidade comprovada do mediador em qualquer litígio. Os serviços de uma agência imobiliária são identicamente “vantajosos” no processo de venda de casa, uma vez que o imóvel será apresentado por especialistas que poderão potenciar as suas principais caraterísticas e qualidades, sendo ainda anunciado em diversos meios, tanto em Portugal como no estrangeiro, defende Luís Lima. Porém, existe pelo menos uma desvantagem do recurso à mediação imobiliária: a cobrança de uma comissão de venda. do apresenta, depois de ter ajustado nos preços em cerca de 20%, e numa altura em que é possível apurar taxas de retorno no arrendamento residencial na casa dos 7%.” Na opinião do diretor da Ci, “para 2015 vale a pena começar a perguntar não pela valorização dos imóveis mas pela evolução do retorno dos mesmos”. Comprar ou arrendar? A pergunta não parece suscitar grandes dúvidas à maioria dos portugueses. “Efetivamente, os portugueses preferem ser proprietários da casa onde habitam e na verdade nunca abandonaram este ‘velho hábito’.” Quem o defende é Luís Lima, presidente da Associação dos Profissionais e Empresas de Mediação Imobiliária de Portugal (APEMIP). Para o responsável, a opção pela compra de casa, em vez do arrendamento, tem por detrás uma questão cultural, mas o fator financeiro tem igualmente um papel importante. “As rendas praticadas no mercado de arrendamento são, muitas vezes, mais elevadas do que uma prestação do crédito à habitação, e por isso a compra acaba também por ser mais vantajosa em algumas situações.” Contudo, a conjuntura económica do país, que se refletiu de forma negativa nas finanças e na situação laboral das famílias portuguesas, aliada a uma contração da concessão de crédito, acabou por fazer com que houvesse uma migração para o mercado de arrendamento urbano, adiantou Luís Lima, insistindo que “esta migração decorre da situação conjuntural e não da decisão das famílias”. Cidades “na moda” No momento de escolher onde comprar casa, a localização é um dos principais fatores críticos, sustenta Luís Lima. E em Portugal quais são as cidades mais “na moda”? “No que diz respeito ao mercado interno, a procura foca-se essencialmente em Lisboa e no Porto. Já no que diz respeito ao investimento estrangeiro, a procura centra-se (também) em Lisboa e no Algarve”, adianta o presidente da APEMIP. De acordo com o Portal CasaYES, no segmento residencial Lisboa é mesmo a cidade mais procurada de Portugal, com destaque para as zonas do Lumiar, Belém, Benfica e Olivais. Não é de admirar que Lisboa e Porto sejam as cidades eleitas para comprar casa em Portugal. A capital e a Invicta ocupam os lugares cimeiros do ranking “City Brand”, que analisa a performance dos 308 municípios portugueses nas vertentes de Negócios (Investimento), Visitar (Turismo) e Viver (Talento). No estudo da Bloom Consulting, Lisboa é a cidade com a melhor “marca” em Portugal, sendo considerada a preferida para viver, visitar e realizar negócios (as três categorias examinadas). O Porto surge na segunda posição do ranking nacional. A capital nortenha é a quarta melhor cidade do país para morar, a terceira para fazer turismo e a segunda para atrair investimento, de acordo com a mesma avaliação, que teve em conta variáveis como o número de novas empresas, a taxa de ocupação hoteleira e os níveis de desemprego e criminalidade, assim como o poder de compra de cada munícipe face à média nacional. “O ranking é indiscutivelmente liderado por dois pesos pesados: Lisboa e Porto”, conclui Filipe Roquette, diretor-geral da Bloom Consulting, Lisboa em análise frisando que ambas as cidades permanecem como “portas de entrada de Portugal” tanto para investidores como para turistas. Imobiliário comercial em Portugal anuncia retoma O investimento imobiliário comercial em Portugal viveu um ano muito positivo em 2014, com o volume a mais do que duplicar para cerca de 700 milhões de euros, de acordo com as consultoras de imobiliário Cushman & Wakefield (C&W) e JLL. No ano passado, os investidores estrangeiros continuaram a dar cartas no segmento comercial, protagonizando os maiores negócios. “O volume de investimento no total de 2014 confirma uma retoma plena do mercado imobiliário nacional e da sua projeção internacional, já que a quase totalidade deste volume foi transacionado por investidores estrangeiros”, comenta Pedro Lancastre, diretor-geral da JLL. Ano recorde à vista Este ano há mais operações de relevo na calha, que estão a ser negociadas, adianta Pedro Lancastre, defendendo que “2015 poderá ser mesmo um ano recorde em termos de investimento”. Também Eric van Leuven, managing partner da C&W, encara “2015 com confiança”, antecipando que “o excesso de liquidez em muitas geografias e a procura de rendibilidade continuarão a beneficiar o mercado português”. FONTE: CONFIDENCIAL IMOBILIÁRIO / SIR - 2014 MONTEPIO IMÓVEIS É o portal onde encontra uma carteira diversificada de imóveis com condições especiais de financiamento e vantagens exclusivas. Estão disponíveis apartamentos, moradias ou terrenos, escritórios, prédios, armazéns e lojas, para arrendar ou comprar. Benefícios para os associados Os associados têm acesso a serviços e condições exclusivas. Por exemplo, pode receber uma oferta de 1 000 euros em artigos de decoração e 300 euros em serviços de mudanças. Opção Permuta O Montepio disponibiliza aos associados a possibilidade de realizarem permutas, em condições a apreciar caso a caso, desde que o valor do imóvel a permutar seja inferior a 50% do valor do imóvel Montepio a adquirir. SAIBA MAIS www.montepioimoveis.pt 387 511€ Preço médio de venda de um apartamento T2 no Parque das Nações, o valor mais elevado no país para esta tipologia. 531 450€ 131 114€ Preço médio de venda de imóveis na Área Metropolitana de Lisboa Valor médio de venda mais elevado no mercado nacional relativo a apartamentos T3, localizados no Parque das Nações. MONTEPIO INVERNO 2014 65 3 a minha economia DESCODIFICADOR O QUE É A EURIBOR? A sigla Euribor pode ser traduzida por Euro Interbank Offered Rate, um indicador fixado através da média das taxas às quais um conjunto de bancos europeus empresta dinheiro entre si no mercado interbancário. A Euribor pode assumir diferentes prazos: uma ou duas semanas, um, dois, três, seis, nove ou doze meses. Trata-se de um indexante que é utilizado no crédito à habitação, crédito automóvel e pessoal, entre outros produtos financeiros mais complexos. EURIBOR COMO INFLUENCIA A NOSSA VIDA? 66 Em Portugal, a Euribor é o indexante mais recorrente no crédito à habitação. Condiciona o orçamento familiar e tem oscilações que fazem diferença na carteira de quem compra casa. As taxas Euribor estão presentes numa das mais importantes decisões da vida: o momento em que se pede crédito à habitação. É necessário escolher o prazo da Euribor ao qual será indexado o empréstimo. Esta é uma decisão que é tomada para muitos anos (décadas). As duas taxas mais recorrentes são a Euribor a três e a seis meses. COMO É QUE A EURIBOR AFETA O CRÉDITO À HABITAÇÃO? A prestação da casa é revista periodicamente consoante o prazo da Euribor escolhida como indexante do crédito à habitação. Assim, se escolheu a Euribor a três meses, a sua prestação será atualizada trimestralmente. Se tiver escolhido a Euribor a seis meses essa revisão será semestral. Se o indexante for a Euribor a doze meses, a atualização será anual. Exemplo: Se o contrato de crédito for feito em abril e a taxa for a Euribor a três meses, as revisões da prestação ocorrerão em julho, outubro, janeiro, abril e assim sucessivamente. COMO SE CALCULA? As taxas Euribor são calculadas diariamente com base nos dados solicitados a um “painel de bancos”, com excelente saúde financeira, selecionados pela Federação Europeia de Bancos Europeus. Para se chegar ao valor de cada taxa calcula-se uma média, da qual se exclui 15% aos valores mais elevados e a mesma percentagem sobre os mais baixos. A prestação da casa determina-se através do cálculo da média mensal da Euribor relativa ao mês anterior àquele em que se verifica a revisão do crédito. Some os valores das cotações de todos os dias úteis e depois divida esse valor pelo número de dias para obter a média mensal. Evolução das principais taxas Euribor — EURIBOR/12 MESES — EURIBOR/6 MESES — EURIBOR/3 MESES 4,733% 4,703% 4,665% 3,025% 2,945% 2,859% 1,251% Sabia que… As Euribor são também um bom indicador da tendência para os juros das contas poupança. A maioria dos depósitos a prazo segue a evolução desta taxa para definir a remuneração paga aos depositantes. 0,996% 0,700% 1,504% 1,224% 1,001% 1,937% 1,606% 1,343% 0,543% 0,319% 0,188% 02-01-2008 02-01-2009 04-01-2010 03-01-2011 0,555% 0,323% 0,387% 0,169% 0,284% 0,076% 02-01-2012 02-01- 2013 02-01-2014 02-01-2015 Antes e depois da crise ^ Euribor a seis meses rondava os 5% antes da crise de 2008 ^ Prestação mensal de 851,7 euros num empréstimo ^ Euribor a seis meses situa-se atualmente nos 0,1% ^ Prestação desce para 455,4 euros, segundo o simulador de 150 mil euros, a trinta anos, indexado à Euribor a seis do Banco de Portugal, o que equivale a uma poupança meses com spread de 0,5% de 396,3 euros MONTEPIO INVERNO 2014 A MINHA VIDA IDEIAS E DESCOBERTAS EM LAZER, FAMÍLIA, SAÚDE, CULTURA página 68 página 72 página 76 Em vez de destinos imagine iguarias e venha descobrir os nossos melhores sabores. Percorra o continente e as ilhas, a partir de produtos tradicionais certificados O Montepio e o escritor Pedro Miguel Rocha encheram um contentor de cultura. O resultado foi uma panóplia de conversas que deu origem ao “Contentor 13” Na Nazaré descobrimos como as sete saias convivem com as maiores ondas do mundo. Apanhe o funicular e venha conhecer os segredos de uma terra que vive do mar TRADIÇÕES INICIATIVA CIDADE À LUPA página 78 PASSEIOS COM HISTÓRIA Traçamos-lhe a Rota do Românico em 58 monumentos, um percurso que traz ao presente a memória da fundação de Portugal 4 a minha vida TRADIÇÕES GASTRONOMIA DESCOBRIR SABORES NOS DIAS MAIS FRIOS APROVEITE PARA CONHECER PORTUGAL ATRAVÉS DE PALADARES COM CERTIFICADO DE AUTENTICIDADE. UM PRETEXTO PARA DESVENDAR CAMINHOS DE HISTÓRIA E CULTURA DE UM PAÍS QUE, APESAR DE PEQUENO EM TAMANHO, TEM UMA ENORME OFERTA NO QUE TOCA AOS DELEITES DO PALATO Alentejo AZEITE DE MOURA, PALADAR MEDITERRÂNICO por sara raquel silva fotografia artur 68 Presunto de Barrancos, azeite de Moura, queijo de Serpa e de São Jorge, ananás dos Açores e anona da Madeira são alguns dos produtos que integram o Qualigeo Atlas, criado em 2002, em Itália, que reúne os melhores produtos da gastronomia do Velho Continente. Em 2009, Portugal ocupou o quarto lugar deste atlas alimentar. Tendo em conta a dimensão do país face aos vencedores (França, Espanha e Itália), é obra! FESTAS A celebrar os produtos com caráter MONTEPIO INVERNO 2014 O número de produtos regionais portugueses certificados com Denominação de Origem Protegida (DOP) ascende às centenas. A gastronomia e os vinhos são responsáveis por cerca de 600 mil viagens por ano, segundo dados do Turismo de Portugal, e envolvem 20 milhões de outros visitantes com interesses paralelos, como a cultura e a natureza. É frequente encontrar um país tão pequeno com tamanha diversidade de produtos certificados e DOP? “Nem por sombras”, responde Ana Soeiro, fundadora da Associação Nacional de > FESTA DO SÁVEL E LAMPREIA GONDOMAR | MARÇO A gastronomia é o ingrediente principal. Destaque para o sável e lampreia, iguarias que neste mês são o prato forte. www.cm-gondomar.pt > FEIRA RURAL TORRES VEDRAS ABRIL A OUTUBRO No primeiro sábado de cada mês, 250 bancas animam o Centro Histórico com produtos biológicos certificados, queijos, doçaria e muito mais. www.cm-tvedras.pt Entre os azeites DOP produzidos em Portugal, o de Moura é dos mais afamados. É obtido juntando a finura da azeitona Cordovil ao sabor frutado da Galega, e ao leve picante e cor da Verdeal. Para conhecer o processo de produção deste azeite visite o Lagar de Varas de Fojo, imóvel de interesse nacional e exemplar único na Península Ibérica. É um lagar comu- > FESTIVAL DA GINJA ÓBIDOS | JUNHO Uma viagem merecida para explorar o sabor único da ginja de Óbidos, muitas vezes servida em copos de chocolate. www.obidos.pt nitário que trabalhava à maquia, ou seja, qualquer pessoa que tivesse azeitona poderia aí transformá-la, deixando uma compensação em azeite ao dono do lagar. Divide-se em três espaços distintos: a zona das tulhas onde a azeitona era depositada, a sala de moagem onde era depois transformada em pasta, e a zona das varas onde a massa era prensada. > FESTA DA CEREJA FUNDÃO 6 A 10 DE JUNHO Oportunidade para comprar cerejas da Beira e degustar pratos confecionados com cereja, segundo uma perspetiva inovadora. www.cm-fundao.pt Madeira ANONA, EXÓTICA SENSAÇÃO Todos conhecem a banana da Madeira, mas a doce anona, menos popular no continente, é também um fruto DOP, denominação gerida pela Associação dos Agricultores da Madeira. Oriunda do Peru, encontrou nas terras e clima desta ilha o local certo para prosperar. Existem duas variedades: a lisa, cuja polpa é condensada, feculenta, dura e doce, com poucas sementes, e a escamosa, com polpa sumarenta, branca, mole e bastante doce. O aumento da sua produção deu ori- > FESTIVAL DO CARACOL SALOIO LOURES | JULHO Todos os anos, no Pavilhão Paz e Amizade, em Loures, o caracol é o prato principal. Os participantes são os restaurantes locais. www.cm-loures.pt gem, em 1990, à Festa da Anona, celebrada em Santana, onde o visitante pode assistir a concertos e saborear pratos e bebidas tradicionais. Experimente este fruto fresquinho no pitoresco Mercado dos Lavradores, no Funchal. > EXPOFACIC CANTANHEDE 23 DE JULHO A 2 DE AGOSTO Encontrará variados expositores e tasquinhas com iguarias gastronómicas de todo o país. www.expofacic.pt > FESTIVAL DO MARISCO OLHÃO | AGOSTO Conhecido pelo marisco, todos os anos Olhão organiza o Festival do Marisco, no Jardim Pescador Olhanense, junto à ria Formosa. www.cm-olhao.pt Serra da Estrela QUEIJO DA SERRA, REPASTO DIVINAL O queijo Serra da Estrela, com maior ou menor cura, é um produto DOP obtido por esgotamento lento da coalhada após coagulação, pelo cardo, do leite cru proveniente de ovelhas da raça Bordaleira serra da Estrela ou da raça Mondegueira. com um sabor inconfundível. É apreciado um pouco por todo o mundo, sendo considerado um dos melhores queijos portugueses. A época mais indicada para o comprar é entre fevereiro e março e o melhor local para provar um exemplar genuíno é mesmo no seu habitat natural, em terras da Serra da Estrela. > FESTIVAL DA SARDINHA PORTIMÃO | AGOSTO Este festival junta o melhor da gastronomia algarvia, com variados pratos de sardinha, à mostra de artesanato e a concertos. www.festivaldasardinha.pt > FESTIVAL DO BACALHAU ÍLHAVO | AGOSTO Integra espetáculos, gastronomia, venda de padas de vale de Ílhavo, provas de vinhos, cinema ao ar livre, artesanato e show-cooking. www.cm-ilhavo.pt MONTEPIO INVERNO 2014 69 4 a minha vida TRADIÇÕES gastronomia 70 Municípios e de Produtores para a Valorização e Qualificação dos Produtos Tradicionais Portugueses (QUALIFICA). “Além de algumas caraterísticas naturais que permitem produzir, por exemplo, o vinho do Porto ou o Alvarinho, o facto de Portugal não ter sofrido uma grande industrialização, como aconteceu noutros países europeus, permitiu que mantivéssemos as tradições mais vivas”. E, acrescenta: “Além de que, até há poucos anos, a comunicação com o exterior era muito limitada.” Para Ana Soeiro, o grande desafio é manter a pureza dos produtos tradicionais – “que muitas vezes de tradição só têm um nome” – e incluí-los nos grandes roteiros turísticos do país. “As pessoas sentem, ao mesmo tempo, uma grande nostalgia e uma vontade de fazer algo de novo na vida”, afirma. “No Douro as vindimas são uma atração turística, mas Portugal tem muito mais para oferecer. Quem conhece o melão casca de carvalho riscado, de sabor picante, do vale do Sousa, ou a maçã que nasce rasteira ao chão em Sintra? Ninguém.” Na opinião da responsável da QUALIFICA temos que promover eventos e experiências que divulguem o que oferecemos de único ao mundo. “É uma forma de combater a desertificação do país e preservar o património”, acrescenta. Porque concordamos, deixamos-lhe aqui algumas sugestões (ver caixas). > FESTA DAS VINDIMAS RÉGUA | SETEMBRO Participe no evento de uma das zonas vinícolas por excelência do país. www.douronet.pt, www.douro-turismo.pt, www. cavesvinhodoporto.com MONTEPIO INVERNO 2014 Óbidos e Alcobaça GINJA, NÉCTAR DOS DEUSES Aveiro OVOS MOLES, DOCE TENTAÇÃO São a imagem de marca da cidade da ria. Encontra-os nas melhores pastelarias que rodeiam o Rossio de Aveiro no interior de barricas de madeira ou revestidos a massa de hóstia, em forma de peixinhos, conchas ou búzios. A receita original é secreta e poucas famílias > FEIRA DO COGUMELO BELMONTE | ENTRE OUTUBRO E DEZEMBRO Decorre na Pousada Convento de Belmonte e é promovido pela mesma. www. conventodebelmonte.pt a conhecem. Foi criada pelas freiras dos vários conventos ali existentes que, até ao século xix, utilizavam a clara de ovo para engomar os hábitos e as gemas para confecionar este doce. Os ovos moles de Aveiro foram o primeiro produto nacional de confeitaria > FESTIVAL DA BATATA-DOCE ALJEZUR | NOVEMBRO Visite restaurantes e tasquinhas e saboreie iguarias elaboradas com batata-doce. www.festivalbatatadoce.cmaljezur.pt certificado com Indicação Geográfica Protegida (IGP), em 2006. Os ovos de onde se tiram as gemas têm de ser da região. Os produtores certificados com IGP são os membros da Associação de Produtores de Ovos Moles de Aveiro e a empresa SATIVA. > FESTA DA CASTANHA MARVÃO | NOVEMBRO Todos os anos festeja-se a castanha neste certame onde não falta vinho nacional de qualidade e artesanato. www.cm-marvao.pt Licor obtido a partir da ginja macerada, esta bebida espirituosa é servida com a fruta curtida no fundo do copo, popularmente chamada “com elas”, ou, quando pura, “sem elas”. A receita original foi criada pelos monges de Cister e muito bem preservada por algumas empresas que optam por não acrescentar corantes ou conservantes no fabrico deste néctar. Destaque para a Oppidum que foi medalha de ouro no Beverage Tasting Institute em Chicago. A ginja de Óbidos e Alcobaça (fruto) está atualmente em avaliação para obter a certificação de IGP. A região “demarcada” compreende os concelhos de Óbidos, Alcobaça, Nazaré, Caldas da Rainha, Bombarral, Cadaval e parte do concelho de Porto de Mós. 4 a minha vida XXXXXXXXXXXXX xxxxxxxxxxxxx Porto VINHO DO PORTO, TESOURO DURIENSE Açores VINHO LAJIDO “PICO”, UMA PÉROLA Descrito pelos enólogos, o vinho Lajido V.L.Q.P.R.D. “Pico” parece um poema: cor amarelo-dourada profunda, aroma vinoso, complexo, a lembrar especiarias. Intenso e persistente. Quente e seco. Obtido a partir das castas Arinto, Verdelho e Terrantez, da Região Demarcada do Pico, chegou a ser um dos vinhos favoritos da corte russa. As vinhas são protegidas da intempérie por alvéolos quadrangulares de basalto. O calor absorvido e devolvido pela rocha às videiras, durante a época da maturação, explica os açúcares do mosto, que atinge um teor de álcool de 14-15°. Para o adquirir no continente recorra à Garrafeira Nacional. Nos Açores, dirija-se à Cooperativa Vitivinícola da Ilha do Pico. O vinho do Porto é um vinho licoroso, produzido na Região Demarcada do Douro – a primeira do mundo, criada por Marquês de Pombal. Além do clima único onde as vinhas crescem, tem a particularidade de a fermentação ser interrompida numa fase inicial (dois ou três dias depois do início) através da adição de uma aguardente vínica neutra. Torna-se assim naturalmente doce, dado que o açúcar das uvas não se transforma completamente em álcool. É também mais graduado do que os restantes vinhos (entre 19˚ e 22˚ de álcool) e pode ser de três tipos: branco, ruby e tawny. Para o degustar e saber um pouco mais da sua história, sugerimos que se desloque a Vila Nova de Gaia e visite uma das muitas caves junto ao rio Douro. Será uma experiência inesquecível. A mulher que mudou o negócio Leonor Freitas é o rosto da Casa Ermelinda Freitas, uma das empresas nacionais que mais se destaca no mercado vitivinícola mundial. “A marca sobrepôs-se à minha identidade, o que, como calcula, é uma enorme honra.” Leonor Freitas representa a quarta geração de mulheres empreendedoras e apaixonadas pelas vinhas de Fernando Pó, em Palmela. Foi a primeira mulher da família a “sair de casa para ir estudar”. “Formei-me em Serviço Social e trabalhei no Ministério da Saúde”, recorda. Em 1997 viu-se confrontada com duas opções: “Vender a empresa ou regressar para ajudar a minha mãe.” No mesmo ano assumiu a gestão e lançou o Terras do Pó, o primeiro vinho com o selo Casa Ermelinda Freitas. Em 2002 houve um excesso de produção e o cliente habitual deixou de querer comprar. “Foi um grande susto e, em simultâneo, uma viragem.” Dois dias depois, veio a solução: “Lançámos o Bag-in-box, as caixinhas que serviram para escoar o nosso vinho e que foram um sucesso.” Leonor expandiu e internacionalizou a marca, tendo arrecadado mais de 400 prémios. A mulher que mudou o mercado tem como “braço direito” o enó-logo Jaime Quendera e nos filhos a continuidade do negócio na família. Um dos seus “sonhos” é a Revista Montepio entrevistar, em 2115, a 10.ª geração da sua família. “Adoraria que a casa continuasse na família, a respeitar a tradição e a inovar.” MONTEPIO INVERNO 2014 71 4 a minha vida INICIATIVA CULTURA HISTÓRIAS FORA DA CAIXA 72 À BEIRA TEJO, NUM DOS CONTENTORES DO VILLAGE UNDERGROUND, SURGIU A IDEIA DE COLOCAR 13 ESCRITORES LUSÓFONOS À CONVERSA. O “CONTENTOR 13” CHEGOU À RTP 2 NO INÍCIO DO ANO E JÁ ESTÁ NA CALHA UMA NOVA SÉRIE por susana torrão fotografia pmr – produções culturais São 13 escritores com a língua portuguesa como elo de ligação. Desde o início de janeiro que as noites de quinta-feira, do canal 2 da RTP, são animadas por conversas em torno da literatura, da ficção e da realidade. “Contentor 13” é um projeto do escritor Pedro Miguel Rocha, apoiado pelo Montepio desde a primeira hora. MONTEPIO INVERNO 2014 “Quando, em maio, o Village Underground abriu, aluguei aqui um espaço porque me interessava a ideia de estar numa aldeia criativa onde todos pudéssemos aproveitar as sinergias”, explica Pedro Miguel Rocha. Com o escritório instalado em pleno centro de Lisboa, não tardaram a aparecer por ali vários amigos dedicados à escrita. “Pensei que seria interessante passar estas conversas para um programa de televisão e foi assim que nasceu o “Contentor 13”, que é o contentor onde tenho o escritório e é apoiado pelo Montepio”, refere Pedro Miguel Rocha. Inicialmente foi pensado para o Canal 180, também instalado nos contentores de Alcântara, mas o projeto acabou por crescer e por ser aceite pela RTP. Lídia Jorge, Valter Hugo Mãe, João Tordo, Manuel Jorge Marmelo ou Tiago Salazar são alguns dos nomes com presença confirmada no “Contentor 13”. O programa vai para o ar às quintas-feiras à noite e na calha está já uma nova série, desta feita com cantores portugueses. ^^ NÃO PERCA na próxima edição da Revista Montepio duas entrevistas muito diferentes a dois autores portugueses: Lídia Jorge e Afonso Cruz 1 Afonso Cruz 2 José Eduardo ESCRITORES Agualusa Galiza no coração 3 Patrícia Reis 4 Lídia Jorge 5 Manuel Jorge Marmelo 6 Rui Zink 1 5 7 Tiago Salazar 8 Valter Hugo Mãe 2 6 3 7 4 8 Pedro Miguel Rocha nasceu em 1973 em Vouzela. Hoje, em Lisboa, divide o seu tempo entre o ensino, a escrita e a televisão. Conhecido como “o escritor português de alma galega”, região espanhola presente em todas as suas obras, é um grande defensor de uma maior aproximação social e cultural entre Portugal e a Galiza. Em 2010 foi finalista do Prémio Literário Esfera das Letras. O primeiro livro surge em 2009 com o título Juntos Temos Poder. A partir daí publicou mais três: Chegámos a Fisterra (2010), O Eremita Galego (2011), romance com o qual ganhou o Prémio Literário Maria Ondina Braga, e Contos Peregrinos (2014). MONTEPIO INVERNO 2014 73 4 a minha vida CRÓNICA BAPTISTA-BASTOS DAVIDA CONJUGAL “Cheiras um bocadinho a copos”, diz ela. “Estive a beber umas cervejas com uns amigos”, diz ele. “Senta-te a ver televisão, enquanto faço um café bem forte.” Vai à cozinha. Diz de lá: “Não. Vou fazer um chá de Lúcialima que dizem ser muito bom nestas circunstâncias.” 74 Ele pega num livro, mas não está com a atenção suficientemente desperta. Entrou na reforma há quatro meses, porque a empresa alemã, onde trabalhou quarenta anos, deslocou-se para a Índia. Tem uma boa reforma. Mas é um excelente tradutor de alemão técnico e, por igual, de textos literários. Encontrou-se, ocasionalmente, com alguns colegas, foram comemorar o encontro na Cervejaria Ribadouro, à entrada do Parque Mayer, cervejas e petiscos, uma certa nostalgia na conversa. A mulher traz-lhe o chá. “Está muito quente”, diz. “Assim é que faz bem. Logo vem cá jantar a Amélia e traz o miúdo.” A Amélia foi por eles adoptada, com seis meses. Têm três filhos naturais, dois netos, e todos gostam muito uns dos outros. Como gostam muito uns dos outros, andam deprimidos porque a Amélia divorciou-se há pouco tempo, e o facto abalou muito toda a família. Rodeavam a Amélia de atenções e de carinho redobrados. A Amélia é uma bela mulher, e conversa muito com a mãe adoptiva que, por sua vez, aprecia desabafar com ela. “Ainda bem que vem cá jantar com o miúdo”, diz ele. “Esqueci-me de te dizer que arranjei um trabalho, numa editora nova, a Parsifal, que adquiriu os direitos de um livro praticamente desconhecido de Hermann Broch.” Ela: “Ainda bem. Assim ocupas o tempo e ficas feliz. Já bebeste o chá?” A reforma permite-lhe continuar a ajudar a família, embora os filhos estejam razoavelmente bem. O mais novo envolve-se em política e, nesse assunto, é o mais esclarecido de todos, incluindo ele próprio. No tempo do Delgado ainda MONTEPIO INVERNO 2014 participou nos movimentos populares, e dizia, por graça, que se metera nos acontecimentos porque não gostava do nariz de Salazar. Não era nada disso. Um amigo de infância e de adolescência fora preso como comunista, e a prisão causara-lhe grande sobressalto, porque o Tribunal Plenário condenara o amigo a cinco anos, com “medidas de segurança”, o que equivalia quase a prisão perpétua. Relacionava-se com inimigos do regime, dava dinheiro para o Socorro Vermelho, organização clandestina de apoio aos presos políticos e às suas famílias, mas não se comprometia para além disso. Dizia: “Isto não vai com palavras. Além disso, o regime existe enquanto os Estados Unidos o quiserem.” O filho, agora, é o mais activo da família. Vai às manifestações do 1.º de Maio, e integra-se em todos os protestos que lhe pareçam justos. “Tem cuidado!”, alertava a mãe. “Agora, as coisas são outras, embora haja sempre perigo”, dizia o pai. Mas sentia um secreto orgulho pelo filho mais novo ser assim. Por vezes, discutiam a actualidade internacional. Como praticamente só lia jornais e revistas alemãs, estava presumivelmente mais bem informado. “Combinámos, eu e os meus antigos colegas, encontrarmo-nos uma vez por mês”, diz ele. “Oh!, diabo! Toma cuidado com os copos”, diz ela que veio sentar-se com ele. “Tu nunca foste dessas coisas. Nem me recordo, durante estes anos todos, de alguma vez te ver embriagado. Um pouco alegre, isso sim, e eras muito engraçado, nessas ocasiões. Esqueci-me de te dizer que vou comprar umas pizzas, e junto-as com fatias de carne assada e puré de batata. Não gostas de pizzas, mas estou farta de cozinhar para esta gente toda, desculpa lá o mau jeito.” Afaga a cabeça do marido, agora com a atenção dirigida para um documentário sobre Almada Negreiros. Lembra-se de o ver à porta da Brasileira do Chiado, exuberante, a querer sempre dar nas vistas. Também se lembra de outros grandes, desse tempo antigo, Jorge Barradas, José de Lemos, Aquilino Ribeiro, Manuel da Fonseca, Armindo Rodrigues. Por vezes, cumprimentava este e aquele, e ficava feliz quando, por acaso, algum deles lhe retribuía o cumprimento. “Vou-te dizer uma coisa: não tenho nenhuma saudade do tempo em que fui novo”, diz ele. “Não que não tens”, diz ela. Tocam à campainha da porta. NOTA: O autor continua a escrever segundo a chamada norma antiga. PUB 4 a minha vida CIDADE À LUPA DE MALA SEMPRE FEITA 1 N A Z A R É GPS SAIBA MAIS SOBRE A NAZARÉ NA VERSÃO IPAD N 39° 35’ 7.42” W 9° 4’ 6.34” A NAZARÉ FOI NOVAMENTE INSCRITA NO MAPA MUNDIAL PELO HAVAIANO MCNAMARA, QUE NO INVERNO DE 2013 AÍ SURFOU UMA ONDA COM CERCA DE 30 METROS por sara raquel silva 76 Quando se fala da Nazaré fala-se de mar. Aliás, a povoação que lhe deu origem ficava na Pederneira, atraída pela pesca na lagoa. Era um dos mais importantes portos de mar dos coutos do Mosteiro de Alcobaça e, na época dos Descobrimentos, um dos mais ativos estaleiros do reino. É aí que fica a Casa da Câmara, na Praça Bastião Fernandes, exemplar da arquitetura civil decorada com elementos seiscentistas. Merece ainda visita a Igreja da Misericórdia, de ampla fachada do barroco clássico tardio. Este ponto altaneiro oferece ainda diversos miradouros sobre as povoações da Praia e do Sítio. Este é o local para onde a população se deslocou após a decadência da Pederneira, dado o assoreamento da Lagoa e aparecimento da Praia, em 1700. Aí, não deixe de passar pelo Miradouro do Santuário de N. S. Nazaré, pelo Museu da Nazaré, e Forte de São Miguel Arcanjo - atual “quartel” do projeto North Canyon, levado a cabo pelo surfista Garrett McNamara. MONTEPIO INVERNO 2014 2 3 5 A lenda de D. Fuas Roupinho 4 1 Teatro Chaby Pinheiro 2 Tradicional secagem de peixe ao sol 3 Igreja da Misericórdia 4 As famosas sete saias 5 Ascensor da Nazaré 6 Forte de São Miguel Arcanjo É um belíssimo posto para observar a praia do Norte, célebre pelas suas ondas entre os surfistas. Por fim, o terceiro núcleo da Nazaré: a Praia que só no século xix é que reuniu condições para a fixação da população neste local, que começa a ser procurado para “ir a banhos”. Até aos dias de hoje. Conta a lenda da Nazaré que na manhã de 14 de setembro de 1182, encontrando-se a região em paz com os mouros, D. Fuas Roupinho, alcaide do castelo de Porto de Mós, andava à caça nas suas terras quando avistou um veado. Dirigiu-se para o litoral e, de súbito, ficou tudo encoberto por um denso nevoeiro que se levantava do mar. Quando o cavaleiro se deu conta, estava no topo da falésia em perigo de vida. Percebeu estar ao lado da gruta onde se venerava uma pequena imagem, de Nossa Senhora com o Menino e rogou, num grito desesperado, à Virgem Maria: “Senhora, Valei-me!” Milagrosamente o cavalo estacou, fincando as patas no bico rochoso suspenso sobre o vazio. Para agradecer à santa, o cavaleiro mandou erguer a Capela da Memória. … uma experiência… 6 para os dias de escassez. A atividade realiza-se diariamente por um grupo de peixeiras, no estendal, na praia, a sul. Era, e ainda é, vendido nos mercados da região. PASSEIO DE FUNICULAR É um dos transportes deste género com maior tráfego em Portugal, atingindo um milhão de passageiros por ano. E é fácil perceber porquê. A vista sobre a praia e o mar é soberba, além de que à chegada o viajante fica a dois passos da Ermida de Nossa Senhora da Nazaré, revestida por belíssima azulejaria oitocentista. TEATRO CHABY PINHEIRO Pequeno teatro romântico, tipo italiano, do início do século xx, projetado pelo arquiteto Ernesto Korrodi. Foi inaugurado em 1926, na presença do conceituado ator Chaby Pinheiro, que lhe deu o nome. Os frescos e as pinturas da tela da boca de cena são do pintor português Frederico Aires. PEIXE SECO É uma das imagens de marca e uma tradição que terá surgido com a necessidade de conservar o peixe Se preferir uma aproximação mais contemporânea, procure pela marca “Maria da Nazaré” (Rua da Liberdade, nº 88, www.peixeseco.com), lançada por Inês, Samuel e Isaura Fialho. Inês trabalha com a mãe na secagem do peixe e Samuel criou uma embalagem na qual explica esta tradição antiga. A marca é uma homenagem à avó, com 91 anos, entretanto reformada. Além de uma apresentação estética inovadora, a embalagem contém a explicação do processo de secagem do peixe, ao mesmo tempo que oferece a oportunidade de provar a iguaria, uma vez que cada pacote inclui um carapau seco/enjoado. AS MULHERES DAS SETE SAIAS Quem vai à Nazaré espera sempre encontrar a tradicional nazarena, vestida com sete saias. Hoje, só em dias de festa – Carnaval e Páscoa – saem à rua com este traje colorido, cuja origem é muito discutida. Uns dizem que as diversas camadas eram usadas pelas mulheres para se aquecerem – cabeça incluída – enquanto esperavam pelos pescadores na praia. De acordo com outras opiniões, estas usariam sete saias para ajudar a contar as ondas do mar. Isto porque o barco só encalhava quando viesse o mar raso, e as mulheres sabiam que só de sete em sete ondas o mar acalmava. Na Nazaré, a utilização terapêutica da água do mar remonta ao final do século xix, quando começou o hábito de “ir a banhos” por motivos de saúde e bem-estar. Surgiram então os banhos quentes salgados da Nazaré, que faziam parte das temporadas balneares da sociedade da época. A tradição é hoje mantida na Barra Talasso - Centro de Talassoterapia da Nazaré, inaugurado em 2013, em pleno areal da praia. Os princípios ativos da água do mar e dos elementos de base marinha (algas, argilas, ar marítimo e sol), além das águas aquecidas, estão na base de uma vasta gama de serviços de talassoterapia com fim preventivo e curativo. E a quem não apetece banho turco, um duche Vichy, hidromassagem ou uma série de cuidados estéticos corporais e faciais, como envolvimentos de algas ou drenagem linfática, no quentinho, mesmo junto ao mar? O SURF McNamara colocou a Nazaré no mapa mundial para todos os amantes de surf quando apanhou uma onda com cerca de 30 metros no dia 1 de novembro de 2011. Mas os célebres canhões são só acessíveis a 0,01% dos surfistas, mesmo experientes. Não importa: consoante as condições do mar, a Praia da Nazaré é excelente para iniciados e as praias do Norte e Sul oferecem boas condições mesmo aos sufistas experientes. Quer tentar? Contacte a Nazaré Surf School. Ligações úteis www.nazaresurfschool.pt www.talassobarra.com www.peixeseco.com MONTEPIO INVERNO 2014 77 4 a minha vida PASSEIOS COM HISTÓRIA ROTA DO ROMÂNICO REDESCOBRIR O PASSADO QUALQUER UM DOS 58 MONUMENTOS DA ROTA DO ROMÂNICO SERVE DE PONTO DE PARTIDA PARA UMA VIAGEM INICIADA HÁ 900 ANOS. DESCUBRA OS CONTORNOS DA HISTÓRIA E O PERCURSO DOS POVOS QUE, DESDE HÁ MUITO, HABITAM O VALE DO SOUSA, TÂMEGA E DOURO por susana torrão 78 fotografia banco de imagem rota do românico ^^ CASTELO DE ARNOIA (Celorico de Basto) Na lápide de Múnio Moniz, SAIBA MAIS ROTA DO ROMÂNICO Tel. 255 810 706 | 918 116 488 www.rotadoromanico.com [email protected] MONTEPIO INVERNO 2014 alcaide do castelo, lê-se 1034, o que atesta a antiguidade da fortificação 1 A Rota do Românico surgiu em 1998 enquanto projeto de desenvolvimento para a região do vale do Sousa. Dezassete anos depois, o turismo é a face mais conhecida da iniciativa. Composta por 58 monumentos, a Rota do Românico transporta-nos aos tempos das famílias Ribadouro e Sousões, nomes grandes do Condado Portucalense. Ao longo de 2015, e parte de 2016, o Montepio convida os seus associados a mergulharem em 900 anos de História da Arte nacional. “A rota só tem sentido quando se percebe o conjunto.” Quem o afirma é Rosário Machado, presidente da Rota do Românico. A responsável destaca o caráter estruturado e a vertente pedagógica do projeto – a rota faz parte do programa do quarto ano das escolas dos concelhos da região –, mas assume que o motor da iniciativa é o turismo. “Este território tem uma conjugação de caraterísticas valiosas – a ligação ao Porto, os rios e a densidade populacional –, mas o que desde sempre uniu todos estes concelhos foi o facto de, enquanto território, terem associado todo um ADN histórico importante mas esquecido”, explica. O românico é o elemento agregador de toda a região. Em 2003, arrancaram os trabalhos de conservação e restauro, e em 2008, abriram ao público as visitas guiadas. Sendo inicialmente um projeto da região do vale do Sousa, em 2010 a Rota do Românico passou 2 HISTÓRIA Rota do Românico em datas 3 1 Mosteiro de Stª Maria de Pombeiro (Felgueiras) 2 Mosteiro de São Pedro de Cête (Paredes) 4 3 Mosteiro de Ferreira (Paços de Ferreira) 4 Igreja de Tarouquela (Cinfães) 5 Torre de Vilar (Lousada) 5 a integrar seis municípios das regiões do Tâmega e Douro. O “passa palavra” e a vontade da descoberta são dois dos aspetos a que Rosário Machado atribui o sucesso da iniciativa. “Temos vindo a crescer todos os anos, sempre acima dos 50%. Em 2013 sentimos algum declínio, mas em 2014 voltámos a crescer: 75%, o maior aumento desde a abertura”, afirma. > 1998 É criada a Rota do Românico enquanto projeto estruturado de desenvolvimento regional para a região do vale do Sousa. São identificados, inventariados e investigados os vários monumentos. > 2003 Têm início os trabalhos de conservação e recuperação dos monumentos. > 2008 Iniciam-se as visitas guiadas. > 2010 Seis municípios das regiões do Douro e Tâmega juntam-se à Rota do Românico, que adquire assim a sua dimensão atual. Por terras de Ribadouro e Sousões A rota é composta por 58 monumentos. São pequenas ermidas, igrejas, pontes, antigos paços e mosteiros. Rosário Machado explica que “é necessário olhar para um mosteiro e perceber o território em que está implantado”. Há monumentos que se destacam, quer pela dimensão quer pela impor- MONTEPIO INVERNO 2014 79 4 a minha vida PASSEIOS COM HISTÓRIA rota do românico 1 Marmoiral de Sobrado (Castelo de Paiva) 2 Mosteiro do Salvador de 1 Visita Montepio MOSTEIRO DE SANTA MARIA DE CÁRQUERE RESENDE ^ QUANDO 19 de abril, 15h ^ PREÇO 1,5€; gratuito para crianças com menos de 10 anos ^ INSCRIÇÕES [email protected] 80 tância histórica. É o caso do Paço de Sousa ou do Mosteiro de Santa Maria de Cárquere. “Estão ligados à família Ribadouro. Na altura, o Condado Portucalense era dominado por seis famílias nobres e o herdeiro do condado era educado pela família mais importante: Egas Moniz, que pertencia aos Ribadouro e foi aio de D. Afonso Henriques, está sepultado no Paço de Sousa”, explica a responsável. Rosário Machado realça ainda os mosteiros de Santa Maria de Pombeiro, casa dos Sousas, ou Sousões, Travanca, ligado à ordem beneditina e de Arouca, local do sepulcro de Santa Mafalda. Viajar no espaço e no tempo “Quem nos visita pode esperar uma viagem aos tempos da formação de Portugal. A descoberta dessas raízes é feita através de um conjunto de elementos que engloba os recursos naturais, gastronomia e os afetos”, garante Rosário Machado. Para a responsável, a Rota do Românico marca a diferença ao permitir a descoberta do tempo histórico in loco através do estilo românico e da sua carga simbólica. Os “intér- MONTEPIO INVERNO 2014 2 pretes do património”, técnicos formados em História e História de Arte que guiam a visita, têm a seu cargo projetos de investigação – alguns em parceria com equipas da Universidade do Porto – sobre a Rota do Românico e um conhecimento profundo sobre o restante património da região. “Queremos marcar a diferença. Contar a história de forma credível, fruto da investigação que fazemos”, salienta Rosário Machado. Alguns monumentos são verdadeiras “enciclopédias”. “No Mosteiro de Santa Maria de Pombeiro, por exemplo, conseguimos perceber o que é o românico, mas também percebemos, pela escala, a fase inicial do gótico, e pela ornamentação um exemplo do barroco no seu auge. Há monumentos que têm altares maneiristas e outros que nunca foram alterados”, revela Rosário Machado. A história de cada região determina a evolução de cada edifício. Da dinâmica económica ao poder e influência dos senhores feudais, sem esquecer a importância da igreja numa determinada localidade, tudo ajuda a explicar porque determinado monumento foi sendo sucessivamente alterado enquanto outro se manteve intocável. “Pelo românico apercebemo-nos da evolução da história e a forma como os homens e as ideologias foram tirando partido do património. Além da perícia dos mestres canteiros é também interessante verificar as sucessivas intervenções a que o monumento foi sendo sujeito e narrar a história por trás dessas alterações”, afirma Rosário Machado. Paço do Sousa (Penafiel) Recuperação, um esforço permanente O trabalho de investigação, conservação e recuperação do património é um dos segredos do sucesso da rota. “Em 1998 alguns monumentos estavam praticamente em ruínas. O românico está normalmente associado a monumentos religiosos, mas sendo esta uma região que tem sido permanentemente habitada esses espaços continuaram a ser ocupados, o que impediu que se degradassem”, explica Rosário Machado. O trabalho vai continuar em 2015. Destaque para a abertura de dois centros de interpretação da Rota do Românico: um em Lousada, que funciona como porta de entrada da rota, e outro em Abragão, Penafiel, dedicado à escultura românica. Este último está associado a uma descoberta curiosa, conta Rosário Machado: “A igreja de Abragão só tem a nave românica e, ao lado, existia uma casa de ferreiro, construída no século xvii com pedras que tinham pertencido à igreja. Com o início das obras apercebemo-nos de que as pedras eram muito trabalhadas e a opção foi desmontar e inventariar pedra a pedra, algo que não é comum. No final percebeu-se que essas pedras pertenciam ao portal e a uma rosácea da igreja que nem sequer se sabia que tinha existido.” É impossível devolver estes elementos ao edifício original, mas o novo centro de interpretação vai permitir que os visitantes os admirem ao pormenor. Quão bem conhece Lisboa? Joana Vasconcelos, Vhils, Maria de Medeiros, Rodrigo Leão, Carminho, José Avillez, Manuel Alves, José Sarmento de Matos, Nicolau Breyner e outros lisboetas apresentam Lisboa em livro e filme documentário “Afinal, a melhor maneira de viajar é sentir” Participe! O Montepio tem para oferecer 70 exemplares do livro Show Me Lisbon. Envie um e-mail para revistamontepio@ montepio.pt, partilhe connosco as suas melhores histórias de Lisboa e habilite-se a ganhar um livro! Álvaro de Campos O projeto Show me Lisbon teve o apoio do Montepio, da Câmara Municipal de Lisboa, do Porto de Lisboa, da EDP, da Top Atlântico e da RTP e foi editado em livro e filme-documentário, com 52 minutos. A fotografia ficou a cargo do consagrado fotógrafo João Pina, que vive em Buenos Aires e tem o seu trabalho publicado em jornais como o New York Times ou El País, tendo exposto nas principais salas do mundo. PUB O livro Show me Lisbon segue-se a Show me Rio – lançado no verão de 2013 com o apoio da Prefeitura do Rio de Janeiro – como a segunda aposta de Show me Cities, projeto que pretende revelar um conjunto de cidades pelo olhar de quem lá vive. Com o livro os leitores vão poder conhecer um pouco melhor Lisboa, através das pessoas que lá vivem, das suas opiniões e sentimentos. Show me Lisbon revela a cidade de treze lisboetas – de nascença ou por opção, de gerações, áreas e meios diversos –, sendo o resultado final um retrato de Lisboa dinâmico, descontraído e realista, que aborda temas como a definição de “ser lisboeta”, a luz, o Tejo, a gastronomia, os sons, a história, as misturas étnicas, o fado ou as fachadas da cidade. OFERTA! Show me Lisbon MONTEPIO PRIMAVERA 2014 4 a minha vida Fotografia: Goncalo Gaioso TESTEMUNHO perguntas a... Esta entrevista foi realizada seguindo as premissas do famoso Questionário de Proust, que pretende refletir a personalidade do entrevistado. 82 O nome e popularidade deste questionário estão relacionados com as respostas dadas pelo FILOMENA CAUTELA Começou por ser conhecida do grande público como atriz. Nos últimos anos tem-se dedicado à apresentação nos programas “5 Para a Meia Noite”, “Agora na RTP” e “Cá Estamos”, este último transmitido no canal Globo Portugal. O ano de 2015 marca o regresso à ficção nacional, desta feita numa nova telenovela. Além destes projetos ainda tem tempo para dar voz à Dona Poupança, uma formiga muito responsável, escritor francês Marcel Proust. personagem principal do programa de Educação Financeira do Montepio. Qual a figura histórica com que mais se identifica? Tantas... Julgo até que fui muitas delas em vidas passadas: Frida Khalo, Emmeline Pankhurst, Janis Joplin, Virginia Woolf... Qual o seu maior medo? Que aconteça algo aos meus familiares mais próximos. Qual a sua ideia de felicidade perfeita? Sentimento de realização pessoal, profissional, e a capacidade de proporcionar o mesmo aos meus. Qual o seu maior feito? Fazer com o que a minha mãe tivesse orgulho de mim. Se morresse e ressuscitasse como uma pessoa ou animal, quem escolheria ser? A Supermulher, com todos os poderes do Super-Homem, voar, superforça, visão raio-X, e os poderes dos cavaleiros Jedi do filme Star Wars (sim, todos temos uma criança dentro de nós). Quem são os seus heróis na vida real? A minha mãe e todos aqueles que todos os dias, perante a diversidade extrema, levantam a mão e dizem o que lhes vai na alma. Onde gostaria de viver? No mundo inteiro. Não quereria um jato mas um cartão de milhas infinitas e capacidade de viajar sempre e para sempre. O que aprecia mais nos seus amigos e família? O amor incondicional que sabem mostrar. A consciência do mundo MONTEPIO INVERNO 2014 que nos rodeia e a partilha de valores já tão raros. Se pudesse mudar algo em si, o que seria? Ui... Tanta coisa. Mas seria mais otimista, e gostava de ser um bocadinho mais burra... honestamente. Qual o seu realizador favorito? Tenho muitos, realmente é muito difícil. Entre portugueses e estrangeiros, na verdade depende do dia, da disposição. Vou de Almodóvar, a Manuel de Oliveira, a Tarantino, a João César Monteiro... Qual o seu escritor favorito? A situação é a mesma, dependendo do dia: Oscar Wilde, Saramago, Kerouac, Marguerite Yourcenar, Paul Auster, Valter Hugo Mãe, Virginia Woolf, Cortázar. E a lista continua... O MEU MONTEPIO NOTÍCIAS INSTITUCIONAIS, INICIATIVAS, PROJETOS E COMUNICADOS página 84 página 85 página 86 página 88 Lisboa já respira uma nova atmosfera m. Desde fevereiro a capital usufrui de um novo espaço de cidadania com a assinatura do Montepio O Montepio apoia dez instituições sociais. Saiba como a iniciativa "Reis Por Um Dia" ajuda a melhorar a vida de associados e clientes Invista em si e na sua família com os descontos e benefícios para associados. Destaque para os serviços de assistência médica domiciliária noturna da redeMut Não perca todas as atividades e iniciativas que desenvolvemos este trimestre para os associados Montepio CULTURA INICIATIVA DESCONTOS AGENDA 5 o meu montepio CULTURA ATMOSFERA M DÊ VOZ À SUA CIDADANIA O ATMOSFERA M CHEGOU A LISBOA. A CAPITAL RECEBE DE BRAÇOS ABERTOS O SEU NOVO ESPAÇO DE CULTURA 1 fotografia luís viegas 84 No ano em que se assinalam os 175 anos de Associação Mutualista, o Montepio inaugurou, em Lisboa, o atmosfera m, o novo espaço de cidadania da capital. Entre os convidados encontrava-se o antigo Presidente da República Jorge Sampaio, recebido pelo presidente do Grupo Montepio António Tomás Correia, por Vítor Melícias, presidente da Assembleia Geral do Montepio, e pelos administradores da instituição. A noite começou com o cante alentejano dos Cantadores da Aldeia Nova de São Bento e a exposição “Mulheres Guerreiras”, com fotografia de Tracy Richardson e textos de Adelaide de Sousa. No auditório principal foram várias as personalidades que fizeram questão de salientar a resiliência, credibilidade e referência que a Associação Mutualista Montepio tem revelado ao longo da sua história. Destaque para as mensagens do ministro da Solidariedade, Emprego e Segurança Social, Pedro Mota Soares, dos anti- MONTEPIO INVERNO 2014 3 1 Cante alentejano no atmosfera m 2 Jorge Sampaio, Tomás Correia e Fernanda Freitas 3 Tomás Correia e Jorge Sampaio à entrada do atmosfera m 4 Exposição "Mulheres Guerreiras" 5 Tomás Correia e Ana Mesquita na recriação de Francisco Álvares Botelho gos Presidentes da República António Ramalho Eanes e Jorge Sampaio, de Luís Barbosa, presidente da Cruz Vermelha Portuguesa, Eugénio Fonseca, presidente da Caritas, Diogo Infante e Rosa Mota. Já António Tomás Correia destacou ainda a capacidade de uma “instituição que se reinventa a cada passo, moderna no tempo, que mobiliza 650 mil portugueses”. A cerimónia ficou completa com a apresentação do retrato do fun- dador da Associação Mutualista, Francisco Álvares Botelho, da autoria de Ana Mesquita, seguida de um apontamento de fados pelo guitarrista Mestre António Chaínho, Hélder Moutinho e Ana Vieira. A noite terminou com uma atuação de Herman José. O atmosfera m consagra a Associação Mutualista no seu eixo de comunicação com o público. Veja na página 90 a agenda do atmosfera m para Lisboa e Porto. 4 “O Montepio renova-se com as pessoas. Construímos um país à dimensão do seu povo” António Tomás Correia Presidente Grupo Montepio A construir um mundo melhor Montepio transforma presentes de Natal em donativos 2 5 Foi num ambiente de emoção e reconhecimento que os representantes das dez instituições de solidariedade social selecionadas pela Fundação e colaboradores Montepio receberam, este ano, um donativo de 20 mil euros cada. A iniciativa, designada por “Reis Por Um Dia” por ter lugar no Dia de Reis, consiste na transformação, em donativos, do montante que o Montepio afetaria à aquisição de presentes de Natal destinados a associados e clientes. Recorde-se que esta iniciativa teve início em 2007 e já apoiou perto de 70 instituições de solidariedade social de todo o país. Em 2014, o Montepio apoiou dez instituições (ver caixa ao lado), num total de 200 mil euros. António Tomás Correia, presidente do Montepio, elogiou o trabalho, a resiliência e a generosidade das instituições contempladas. “É cada vez mais devido a instituições de solidariedade social, como as que hoje destacamos, merecedoras da nossa confiança e investimento, que se constroi, diariamente, um mundo melhor.” 85 DONATIVOS 10 instituições apoiadas ^ Operação Nariz Vermelho ^ ASMEE – Associação de Socorros Mútuos dos Empregados do Estado ^ Associação Acreditar ^ Ajuda de Berço ^ Associação Protetora dos Diabéticos de Portugal ^ Associação Patas Felizes ^ Associação Vale de Acór ^ Comunidade Vida e Paz ^ CRIB – Centro de Recuperação Infantil de Benavente ^ Espaço T MONTEPIO INVERNO 2014 VANTAGENS REDEMUT Como posso beneficiar deste serviço? Ao ser Associado/a Montepio beneficia dos serviços prestados em qualquer região do país, sem ter que pagar qualquer quota adicional. Usufrua dos serviços de saúde prestados nas seguintes mutualidades: > A Benéfica e Previdente – Associação Mutualista (Porto) Clínica da Benéfica Rua Passos Manuel, n.° 7, 1.° Tel. 222 005 603 > CSC – Associação de Socorros Mútuos dos Empregados do Comércio de Lisboa Clínica de S. Cristóvão Largo de S. Cristovão, n.° 1 Tel. 218 813 300 > Associação de Socorros Mútuos João de Deus (Silves) Clínica João de Deus Rua Comendador Vilarinho, n.° 9 Tel. 282 440 030 86 > Associação de Socorros Mútuos Nossa Senhora da Nazaré (Torres Novas) Largo José Lopes Santos, Ed. Montepio Torres Novas Tel. 249 836 451 > A Lacobrigense – Associação de Socorros Mútuos (Lagos) Clínica Lacobrigense Rua Dr. José Francisco de Matos Nunes da Silva, Lote 5, Loja A Tel. 282 770 050 > Montepio Rainha D. Leonor – Associação Mutualista (Caldas da Rainha) Casa de Saúde Rua do Montepio Rainha D. Leonor, 9 > Casa da Imprensa Associação Mutualista Lisboa (sede) Rua da Horta Seca, n.° 20 Porto (delegação) Rua Fernandes Tomás, 424, 4.°, salas 1-3 > A Mutualidade da Moita – Associação Mutualista (Moita) Policlínica da Moita Zona Envolvente da Praça de Toiros, Lote 24 Tel. 212 893 163 > A Previdência Portuguesa (Coimbra) Consultas na Sede Rua da Sofia, n.° 193 Tel. 239 828 055/6 > A Vilanovense – Associação Mutualista (Vila Nova de Gaia) Clínica da Liga de Gaia Rua Serafim Rodrigues da Rocha, n.° 39 Tel. 223 771 011 > Associação de Socorros Mútuos dos Empregados do Estado (Lisboa) Clínica D. Pedro V Rua da Madalena, n.° 10-22 Tel. 218 861 451 > União Mutualista Nossa Senhora da Conceição – Associação Mutualista (Montijo) Centro Clínico da U. M. N. S. Conceição Tel. 212 310 035 Rua Serpa Pinto, n.° 67 > Associação de Socorros Mútuos de Ponta Delgada (Açores) Centro Médico da ASM Ponta Delgada Rua Machado dos Santos, n.° 20, 1.° Tel. 296 201 897 MONTEPIO INVERNO 2014 O que é a redeMut? Nascida por iniciativa de um conjunto de associações mutualistas portuguesas a redeMut tem como objetivo a prestação de cuidados de saúde à comunidade de associados que a integram. Farmácias Os associados beneficiam ainda de descontos nas farmácias das seguintes mutualidades: 10% desconto A LACOBRIGENSE LAGOS sobre medicamentos de venda livre (não sujeitos a receita médica), cosmética e veterinária www.alacobrigense-asm.pt 10% a 20% desconto A VILANOVENSE VILA NOVA GAIA 10% sobre medicamentos de venda livre (não sujeitos a receita médica), produtos de saúde, dermocosmética e cosmética, 10% sobre medicamentos sujeitos a receita médica (na parte não comparticipada), 20% em aros e lentes oftálmicas www.avilanovense.pt 5% desconto A MUTUALIDADE MOITA sobre medicamentos de venda livre (não sujeitos a receita médica) e cosmética www.mutualidadedamoita.pt 10% desconto UNIÃO MUTUALISTA NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO MONTIJO sobre os medicamentos de venda livre (não sujeitos a receita médica), produtos de saúde, dermocosmética, cosmética, veterinária e sobre os medicamentos sujeitos a receita médica (na parte não comparticipada) www.umutualista.pt 10% a 30% desconto ASM DOS EMPREGADOS DO ESTADO (ASMEE) LISBOA 15% sobre medicamentos de venda livre (não sujeitos a receita médica) e cosmética. Até 10% sobre medicamentos sujeitos a receita médica (não comparticipados) 30% em aros e lentes oftálmicas 25% em óculos de sol www. asmee.pt 12% desconto ASM JOÃO DE DEUS SILVES sobre medicamentos de venda livre (não sujeitos a receita médica), produtos de saúde, dermocosmética, cosmética, veterinária e sobre medicamentos sujeitos a receita médica (na parte não comparticipada) www.asmjoaodedeus.pt O acesso a todas estas clínicas e farmácias é exclusivo a associados, não sendo extensivo ao respetivo agregado familiar. Para identificação junto dos serviços é suficiente a apresentação do Cartão de Associado Montepio. LINHA DE ATENDIMENTO REDEMUT: Linha de Atendimento - 808 500 300 (dias úteis das 9h00 às 20h00): Para a marcação de consultas e exames complementares, bem como todos os pedidos de informação relativos à redeMut ou esclarecimento do preçário dos serviços de saúde. Serviço de assistência médica domiciliária noturna Como complemento aos serviços médicos prestados durante o dia nas clínicas das associações aderentes, a redeMut oferece, gratuitamente, aos seus associados a possibilidade de acederem ao Serviço de Assistência Médica Domiciliária Noturna, de cobertura nacional, assegurado pela Residências Montepio - Serviços de Saúde. Com este novo serviço, os associados beneficiam de: > Consultas de Clínica Geral ao domicílio, nos dias úteis entre as 20h00 e as 7h00, e aos sábados, domingos e feriados, ao longo das 24 horas, mediante pagamento de uma taxa de utilização de 20 euros. > Transporte de urgência gratuito para o hospital, quando determinado pelo médico. > Serviço de aconselhamento gratuito, por telefone, 24 horas. Para usufruir deste serviço é necessária a adesão ao serviço e a emissão de um cartão de identificação da redeMut, pessoal e intransmissível. Descontos para associados Montepio Novos acordos celebrados CONSUMO AUTO CHAVECA E JANEIRA SULPNEUS CENTRO MÉDICO DA POVOAÇÃO SÃO BRÁS DE ALPORTEL, FARO E PORTIMÃO SEIXAL CONSUMO LOJA BENEDITA CALDAS DA RAINHA, RIO MAIOR, SANTARÉM E LEIRIA MY KIDS ELVAS NEAR, LDA VIPAÇOR VILA PRAIA DA VITÓRIA E ANGRA DO HEROÍSMO BEM-ESTAR INDIGO MEMORY CLÍNICA MÉDICA PORTAS DA CIDADE MARCO DE CANAVEZES CLINIFORMSAUDE, LDA JAIME OCULISTA COGE - SANTA CASA MISERICÓRDIA DE ESPINHO GUARDA COBERTURA NACIONAL SAÚDE ESPINHO EQUIPAMENTO HOSPITALAR INSTITUTO PORTUGUÊS DE REUMATOLOGIA ORTOMEDIFAR MAIA LISBOA SAÚDE MEDIGAIA DR FERNANDO SOUSA FARMÁCIAS FARMÁCIA DUQUE D’AVILA LISBOA FARMÁCIA SALUTAR MEDILIFE SANTA CASA MISERICÓRDIA MACHICO LISBOA FARMÁCIA PINTO LEAL VILA NOVA DE GAIA PORTO FARMÁCIA PALMA VITASLIM - CLINICA DE NUTRIÇÃO DE COIMBRA MACHICO SINTRA SANUS CLINIC COIMBRA LISBOA FARMÁCIA SOUSA MOURÃO SORRISO MEL MEDICINA DENTÁRIA LOJA AMSTER FARMÁCIA TEJO TAGUS CLINIC PHIVE - HEALTH E FITNESS CENTER FARMÁCIA UNIÃO TELMA ANTUNES MEDICINA DENTÁRIA DESPORTO E BEM-ESTAR BENEDITA, GOUVEIA E COIMBRA COIMBRA X5 HEALTH CLUB SANTA MARIA DA FEIRA FORMAÇÃO D´ORFEU - ASSOCIAÇÃO CULTURAL ÁGUEDA LISBOA VILA FRANCA DE XIRA, ALENQUER LISBOA SAÚDE HOSPITAL NOSSA SENHORA DA ARRÁBIDA SETÚBAL SAÚDE CONSULTÓRIOS/CLÍNICAS CASCAIS EXTERNATO DAS PEDRALVAS CLIFALA INSTITUTO ESPANHOL LISBOA ODD SCHOOL LISBOA UNIVERSIDADE EUROPEIA LISBOA COIMBRA MONTIJO CONDEIXA-A-NOVA E COIMBRA SAÚDE HOSPITAIS/CASAS DE SAÚDE CENTRO TERAPEUTICO HUMANIZAR-TE LISBOA Serviço de Assistência Médica Domiciliária Noturna Para utilizar este serviço contacte a Residências Montepio - Serviços de Saúde, através do 707 207 001 - Dias úteis entre as 20h00 e as 7h00, sábados, domingos e feriados durante 24 horas. Para aceder ao Serviço de Assistência Médica Domiciliária Noturna é necessária a adesão prévia ao Cartão redeMut. O pedido de emissão de Cartão pode ser efetuado através da Linha Associado - 213 248 112 ou aos Balcões Montepio. VENDAS NOVAS POVOAÇÃO – ILHA DE SÃO MIGUEL PORTO COIMBRA CLÍNICA MÉDICA CALENDÁRIO DO TEMPO LISBOA MATOSINHOS COLÉGIO QUINTA DO LAGO LINHA DE ATENDIMENTO ÓTICAS CCO - ÓPTICA- CENTRO CLÍNICO OCULAR PORTO GONDEMAR CLÍNICA DENTÁRIA VANDA GANDUM PALMELA E SETÚBAL CLÍNICA FISIÁTRICA DR PAULO MAIA REABILITAÇÃO FÍSICA CLÍNICA PROJECTO SAÚDE LOULÉ 87 FISIOMIMO ALCOCHETE TURISMO UNIDADES HOTELEIRAS CASA DIOCESANA DE VILAR PORTO TURISMO AGÊNCIAS DE VIAGEM PASSEPARTOUT COIMBRA E ANADIA PORTO CONHEÇA OS BENEFÍCIOS RESULTANTES DESTES ACORDOS EM GUIA DE DESCONTOS - ENTIDADES PARCEIRAS | MONTEPIO Acordos anulados CENTRO CLÍNICO MATERNO INFANTIL CLINÉVORA – CLÍNICA MÉDICA DE ÉVORA CLÍNICA CAMPOS ROSA CLÍNICA DENTÁRIA DO CENTRO MÉDICO DO PARQUE MEDIGUARDA CONSULTÓRIO MÉDICO UNIVERSIDADE FERNANDO PESSOA MONTEPIO INVERNO 2014 25 AGENDA QUINTA DA BACALHÔA ATIVIDADES EXCLUSIVAS DA ASSOCIAÇÃO MUTUALISTA MONTEPIO NÃO PERCA PASSEIOS, ATIVIDADES AO AR LIVRE, CURSOS, VISITAS ORIENTADAS OU WORKSHOPS CRIADOS A PENSAR EM SI E NA SUA FAMÍLIA. MARQUE NA AGENDA, RESERVE O DIA E INSCREVA-SE PARA UMAS HORAS OU UM DIA BEM PASSADOS WORKSHOP DIA 12 | 10h | MAFRA DIÁRIOS GRÁFICOS “VIVA O BURRO” 30€ Associados, 40€ Não associados AR LIVRE DIA 18 | 9h | MANTEIGAS ROTAS NA SERRA “TRILHO DOS PÓIOS BRANCOS” 2,5€ CONFERÊNCIAS VISITA ORIENTADA ACADEMIA DAS CIÊNCIAS DE LISBOA “AS REAIS FÁBRICAS-LOCAL DE FORMAÇÃO PROFISSIONAL “, COM CARLOS FONTES MUSEU DO QUEIJO (VISITA ORIENTADA COM DEGUSTAÇÃO DE QUEIJOS) DIA 13 | 17h | LISBOA Gratuito DIA 18 | 15h | PERABOA 3,5€ VISITA ORIENTADA 12 VISITA ORIENTADA AO ZOO DA MAIA ABRIL DIA 18 | 15h | RESENDE QUINTA DA MASSÔRA 8€ (inclui duas provas de vinhos acompanhadas de petiscos regionais) VISITA ORIENTADA DIA 19 | 15h | RESENDE ROTA DO ROMÂNICO MOSTEIRO DE SANTA MARIA DE CÁRQUERE 1,5€ (maiores de 10 anos), gratuito a menores de 10 anos inclusive VISITA ORIENTADA 88 DIA 14 | 17h | LISBOA DIA 9 E 10 | 9h | PORTO INICIE-SE NAS NOVAS TECNOLOGIAS E APRENDA A NAVEGAR NA INTERNET Gratuito DIA 15 | PASSEIO PEDESTRE "GRANDE ROTA 23" DIA 11 | 9h | PORTO “ELABORE O SEU CV “ E “SAIBA ESTAR NA ENTREVISTA DE EMPREGO” Gratuito VISITA ORIENTADA DIA 12 | 17h | LISBOA ACADEMIA DAS CIÊNCIAS DE LISBOA “APOGEU E DECADÊNCIA DAS FÁBRICAS DE LANIFÍCIOS", COM MANUEL SANTOS SILVA 15h | MAIA ZOO DA MAIA 5€ MONTEPIO INVERNO 2014 6€ (inclui prova de vinhos) AR LIVRE DIA 25 | 9h | CACHOPO – TAVIRA MEALHA – CASAS BAIXAS 5€ 26 Gratuito VISITA ORIENTADA WORKSHOP 15h30 | AZEITÃO PALÁCIO E QUINTA DA BACALHÔA Gratuito INICIAÇÃO À INTERNET PARA SÉNIORES DIA 25 | ACADEMIA DAS CIÊNCIAS DE LISBOA “O PAPEL DAS REAIS FÁBRICAS NA ECONOMIA DE PORTUGAL", COM JOSÉ LUÍS CARDOSO DIA 18 | 10h30 | MIRANDA DO CORVO PARQUE BIOLÓGICO DA SERRA DA LOUSÃ 8€ VISITA ORIENTADA SOB O TEMA "VARINAS DE LISBOA" VISITA ORIENTADA DIA 26 | 10h | LISBOA WORKSHOP CLUBE PELICAS VARINAS DE LISBOA ATMOSFERA M FAZ O TEU BRINQUEDO A PARTIR DE MATERIAIS RECICLADOS VISITA ORIENTADA DIA 18 | Gratuito 15h/17h30 | PORTO Gratuito DIA 27 | 15h | LISBOA ACADEMIA DAS CIÊNCIAS DE LISBOA Gratuito 9 17 CASA DE TORMES RUÍNAS DE CONIMBRIGA WORKSHOP VISITA ORIENTADA DIÁRIOS GRÁFICOS PERCURSO DE ANA PLÁCIDO DIA 9 | MAIO DIA 23 | 10h | SINTRA 3 0€ Associados, 40€ Não associados AR LIVRE 11H | VISITA GUIADA À CASA DE TORMES 15H | PASSEIO PEDESTRE CAMINHO DE S. JACINTO VILAR DE MOUROS COM “ESPECIAL ANIMAMINHO DESCIDA DO RIO COURA EM CANOA” CLUBE PELICAS VISITA ORIENTADA TARDE DE CINEMA – ATMOSFERA M CLÁSSICOS DA DISNEY – DUMBO VISITA GUIADA AO CENTRO HISTÓRICO MEDIEVAL DE CAMINHA DIA 9 | BAIÃO DIA 9 | AR LIVRE 10h | COLARES FAROL DO CABO DA ROCA G ratuito VISITA ORIENTADA DIA 2 | 10h | PORTIMÃO 10H | MUSEU PORTIMÃO 15H | CENTRO DE INTERPRETAÇÃO DE ALCALAR 2 € (Museu) 1,5€ (Centro de Interpretação) 3€ (Visita orientada conjunta) Gratuito até aos 15 anos de idade PASSEIO COM HISTÓRIA DIA 3 | 10h | LISBOA LISBOA COSMOPOLITA Gratuito INICIAÇÃO À INTERNET PARA SÉNIORES DIAS 7 E 8 | 9h | PORTO INICIE-SE NAS NOVAS TECNOLOGIAS E APRENDA A NAVEGAR NA INTERNET DIA 16 | DIA 23 | 10h | VILAR DE MOUROS 15€ DIA 23 | 15h | PORTO G ratuito DIA 1 | Gratuito VISITA ORIENTADA 10€ VISITA ORIENTADA 15h | PORTO 15h30 | CAMINHA Gratuito 30 MUSEU DO CARMO 15h | PORTIMÃO - ALVOR BATISMO DE MERGULHO EM PISCINA 7 ,5€ 10€ (inclui diploma personalizado) A partir dos 8 anos AR LIVRE DIA 17 | 89 9h30 | FARO CANOAGEM NA RIA FORMOSA 3 € PASSEIO COM HISTÓRIA DIA 17 | 10h | CONIMBRIGA MUSEU E RUÍNAS DE CONIMBRIGA 5 € 17 CANOAGEM NA RIA FORMOSA VISITA ORIENTADA DIA 30 | 10h | LISBOA MUSEU DO CARMO 2€ Gratuito WORKSHOP DIA 9 | 9h | LISBOA “ELABORE O SEU CV” E “SAIBA ESTAR NA ENTREVISTA DE EMPREGO” Gratuito SAIBA MAIS www.montepio.org Informações e inscrições Gabinete de Dinamização Associativa [email protected] T. 213 249 230/1 MONTEPIO INVERNO 2014 AGENDA UM ESPAÇO PARA PENSAR E AGIR COM UMA AGENDA DINÂMICA, O ATMOSFERA M, AGORA TAMBÉM EM LISBOA, CONTINUA A APOSTAR EM EVENTOS CULTURAIS, FORMAÇÃO E TERTÚLIAS, DINAMIZANDO UM ESPAÇO DE CIDADANIA E CULTURA CONCEBIDO PARA USUFRUTO DOS ASSOCIADOS MONTEPIO E RESPETIVAS FAMÍLIAS Sabia que... 90 As atividades permanentes que os associados Montepio poderão usufruir são: f Book crossing f Clube de leitura f Formações e cursos livres f Atividades do Clube Pelicas FINS DE SEMANA PARA PAIS E FILHOS f Hora do Conto f Ateliers de escrita criativa f FILHOsofia f Ilustração infantil f Filminhos à solta ABRIL | mês da liberdade PORTO/LISBOA Tertúlias DIA 1 Convidámos os autores e promotores das exposições para uma reflexão sobre o que representam as imagens que nos rodeiam. DIA 6/8 Deve haver limites para o humor? DIAS 13/15 O papel das redes sociais na promoção da liberdade DIAS 20/22 25 de abril em Portugal: o fim da censura? DIAS 27/29 Vivemos numa Europa livre? Outras datas DIA 2 Dia do Livro Infantil DIA 7 Dia Mundial da Saúde DIA 23 Dia Mundial do Livro e dos Direitos de Autor Os espaços atmosfera m encerram de 3 a 5 de abril. MAIO | mês das famílias PORTO/LISBOA DIAS 4, 6, 11, 13, 18, 20, 25 E 27 Tertúlias, RUTIS, GEPE 1ª SEMANA Seminário de ética e deontologia – Ordem dos Nutricionistas DIAS 4/6 Uma família: muitas gerações Dia 6 Filminhos à solta pelo País DIA 8 Encontro Nacional de Centros de Recursos para a Inclusão DIA 9 Café Memória DIAS 11/13 Desafios das famílias monoparentais DIA 16 Torneio de xadrez do Clube Pelicas DIAS 18/20 Como aumentar a família? – Desafios demográficos nacionais DIA 23 Palestra – Saúde Familiar e Qualidade de Vida DIAS 25/27 Famílias "do coração": quando há laços tão fortes quanto o sangue DIA 26 Integração de crianças invisuais e surdas no pré-escolar, Clínica da Educação DIA 30 Oficina “Constrói o teu brinquedo” Clube Pelicas JUNHO | mês das crianças PORTO/LISBOA Exposições da Associação da Promoção Cultural da Criança, Rutis, GEPE DIAS 1, 3, 8, 15, 17, 22, 24, 29 Tertúlias DIAS 1/3 Brincar será um luxo? DIA 8 Tertúlia – Nutrição para Pais e Filhos DIA 13 Café Memória DIAS 15/17 Existe uma nova educação? DIA 20 Oficina de Biscuit – Clube Pelicas DIAS 20, 22, 23 BioMed Woman – Conferência Internacional DIAS 20, 22, 23 Summer School Advanced – IBMC/ Universidade do Porto DIAS 22/24 Redes sociais: amiga ou inimiga das crianças? DIA 26 Auto motivação e entusiasmo na aprendizagem, Clínica da Educação DIA 29 Direitos das crianças: quem os assegura? TEMA E EXPOSIÇÃO ESPERAMOS POR SI Mais informações sobre as atividades dos atmostera m em www.montepio.pt/ atmosferam MONTEPIO INVERNO 2014 PORTO | Rua Júlio Dinis, n.° 158/160 | contactos T.: 220 004 270 e-mail [email protected] | horário Segunda-feira a sábado, das 9h30 às 19h30 (Biblioteca das 13h00 às 19h00) | Encerrado aos domingos e feriados LISBOA | Rua Castilho, n.° 5 | contactos T.: 210 002 730 e-mail [email protected] | horário Segunda-feira a sexta, das 9h00 às 19h00 | Sábados, das 11h00 às 17h00 Encerrado aos domingos e feriados Liberdade de expressão Os eventos do início do ano, em Paris e não só, colocaram de novo a questão: quais as fronteiras do humor e da liberdade de expressão? Celebramos em abril a liberdade, de pensamento e opinião, visível no trabalho dos artistas que cobrem as paredes dos atmosfera m. PUB PUB