CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO MESTRADO PROFISSIONAL EM ADMINISTRAÇÃO MARCUS VINICIUS SOUSA SANT ANA EDUCAÇÃO FINANCEIRA NO BRASIL: Um estudo de caso Belo Horizonte 2014 MARCUS VINICIUS SOUSA SANT ANA EDUCAÇÃO FINANCEIRA NO BRASIL: Um estudo de caso Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado Profissional em Administração, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Administração. Área de Concentração: Redes Empresariais, Inovação e Competitividade Linha de pesquisa: Dinâmica organizacional, inovação e sociedade. Orientador: Prof. Dr. Ricardo Paiva. a a Coorientadora: Prof . Dr . Iris B.Goulart. Belo Horizonte Centro Universitário UNA 2014 DEDICATÓRIA As minhas irmãs Lívia Sant Ana e Cinthya Sant Ana, que me ajudaram a transformar este sonho em realidade. A elas, dedico este trabalho. AGRADECIMENTOS A Deus, que com muita paciência, iluminou o meu caminho. Aos meus pais, Miguel e Maria Nicolina, por participarem dos meus sonhos, incentivando e confiando. Ao meu irmão e amigo, Valério. Ao meu amado filho, João Marcus, que sempre foi o meu grande estímulo. Aos meus orientadores, Ricardo Paiva e Iris Goulart, pelos ensinamentos transmitidos, pelas críticas e pela confiança depositada em mim. Agradeço o impulso na realização de atividades que me fizeram crescer cientificamente. Aos meus professores do mestrado – UNA, pelas importantes contribuições. EPÍGRAFE "Os donos do capital vão estimular a classe trabalhadora a comprar bens caros, casas e tecnologia, fazendo-os dever cada vez mais, até que se torne insuportável". Karl Marx RESUMO A importância da Educação Financeira tem sido apontada como um recurso para auxiliar empresários e pessoas comuns a tomarem decisões adequadas sobre finanças, evitando que decisões equivocadas afetem sua vida financeira, profissional e social. A produção científica estudada nesta pesquisa aponta como benefício de um Programa de Educação Financeira a possibilidade de fazer a sociedade repensar os hábitos de consumo, substituindo-os por outros mais sustentáveis, favorecendo o desenvolvimento de um processo de conscientização. Foi realizada uma pesquisa de abordagem qualitativa, de caráter exploratório e descritivo, que constituiu um estudo de caso. Como unidade de análise foi eleito o Programa de Educação Financeira do Banco Mercantil do Brasil. Para coleta de dados utilizou-se documentos escritos e eletrônicos disponíveis no sitio do banco na internet e entrevistas semi-estruturadas, aplicadas a dois gestores responsáveis pelo desenvolvimento do Programa. As entrevistas foram gravadas, transcritas e submetidas à análise de conteúdo. O programa pesquisado destina-se primeiramente aos funcionários e em seguida aos clientes do Banco e segundo os entrevistados já demonstra resultados em ambos os grupos. Os gestores relataram os principais desafios enfrentados e descreveram os procedimentos adotados. Foi realçada a dificuldade de se convencer os demais membros da organização sobre a importância do programa. Ressaltaram ainda, a relevância do desenvolvimento de projetos de longo prazo, que atinjam toda a população, independente da idade, iniciando-se nos primeiros anos da educação infantil e continuando nos demais níveis. Para os responsáveis pelo programa, a legislação brasileira não tem contribuído/incentivado a realização de projetos na área de educação financeira, afirmando que embora haja incentivo do Governo, são realizadas somente algumas ações pontuais. Palavras-chave: Educação financeira, Controle Financeiro, Instituição Bancária, Conscientização Financeira. ABSTRACT Financial Education has been regarded as a an important resource to help businesspeople as well as common people to make suitable financial decisions, thus avoiding mistaken decisions that may affect their financial, professional and social life. The scientific production studied in this research shows that one of the benefits of a Financial Education Program is the possibility to make society rethink its consumption habits, replacing them with more sustainable ones, favoring the development of an awareness process. It was a qualitative research, exploratory and descriptive, that constituted a case study. The Banco Mercantil do Brasil‘s Financial Education Program was elected as analysis unit. For data collection, the written electronic documents available at the bank’s site on internet were used, as well as semi-structured interviews conducted with two managers responsible for developing the Program. The interviews were recorded, transcribed and submitted to content analysis. The researched program is primarily designed to the employees and then to the Bank’s clients and, according to the interviewees, it has already achieved results in both groups. The managers reported the main challenges faced and described the procedures adopted. They pointed out their difficulty in convincing the other organization members of the importance of the program. They also highlighted the importance of the development of long-term projects that reach all the population, regardless of their age, beginning in the first years of children education and going on along the subsequent levels. In the view of those responsible for the program, the Brazilian legislation has not contributed/encouraged projects in the financial education area, claiming that although there are Government incentives, only a few actions are carried out. Key-words: Financial Education, Financial Control, Banking Institution, Financial Awareness. . ÍNDICE DE QUADROS QUADRO 1 - Produção científica sobre o tema Educação Financeira QUADRO 2 - Etapas do Método Transteórico de Mudança (TTM) 32 .............................................................................................. 35 QUADRO 3 - Educação Financeira em alguns países............................... 36 QUADRO 4 - Princípios e recomendações de educação financeira OCDE................................................................................... 40 RELAÇÃO DE SIGLAS BC BM&FBOVESPA CAPES CDL CONEF CNSEG - Banco Central Bolsa de Mercadorias e Futuros - Bolsa de Valores de São Paulo Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior Câmara de Dirigentes Lojistas Comitê Nacional de Educação Financeira Comitê Nacional de Educação Financeira A Confederação Nacional das Empresas de Seguros Gerais, Previdência Privada e Vida, Saúde Suplementar e Capitalização COREMEC - CVM DCN DSOP EAD EJA ENEF ESAF EUA FCG FEBRABAN FECOMERCIO FGV FSA IBGE IC IGQD INSS LDB OCDE NEFE PCN - Comitê de Regulação e Fiscalização dos Mercados Financeiro, de Capitais, de Seguros, de Previdência e Capitalização Comissão de Valores Imobiliários Diretrizes Curriculares Nacionais Diagnosticar Sonhar, Orçar e Poupar Ensino à Distância Ensino de Jovens e Adultos Estratégia Nacional de Educação Financeira Escola de Administração Fazendária Estados Unidos da América Faculdade de Ciências Gerenciais de Jundiaí Federação Brasileira dos Bancos Federação do comércio Fundação Getúlio Vargas Financial Services Authority Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística Instituto do Consumidor índice de Qualidade na Gestão de Pessoas Instituto Nacional do Seguro Social Lei de Diretrizes e Bases Organização de Cooperação e de Desenvolvimento Econômico National Endowment for Financial Education Parâmetros Curriculares Nacionais PEF-BC PEP PNEF PREVIC PRODIN RAC RAE RGPS SERASA SFN SPC SUSEP - Programa de Educação Financeira do Banco Central do Brasil Programa de Educação Previdenciária Programa Nacional de Educação Fiscal Superintendência Nacional de Previdência Complementar Programa de Orientação e Defesa do Investidor Revista de Administração Contemporânea Revista de Administração de Empresas Regime Geral de Previdência Social Centralização de Serviços dos Bancos S/A Sistema Financeiro Nacional Serviço de Proteção ao Credito Superintendência de Seguros Privados SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO .......................................................................... 12 1.1 1.2 1.2.1 1.2.2 1.3 Problema da pesquisa ................................................................................ 17 Objetivos da pesquisa ................................................................................ 17 Objetivo geral .............................................................................................. 17 Objetivos específicos ................................................................................. 17 Justificativa ................................................................................................. 18 2 REFERENCIAL TEÓRICO ........................................................ 21 2.1 2.2 2.3 2.4 2.5 2.6 2.6.1 2.6.2 2.6.3 2.6.4 2.6.5 2.6.6 2.6.7 Conceitos sobre educação financeira ...................................................... 21 A produção científica sobre educação financeira ................................... 27 Métodos de educação financeira .............................................................. 31 A Educação financeira no mundo ............................................................. 34 Educação financeira no Brasil................................................................... 39 Principais programas de educação financeira no Brasil ........................ 47 Banco Central do Brasil ............................................................................. 47 Comissão de Valores Mobiliários (CVM) .................................................. 48 Superintendência Nacional de Previdência Complementar (PREVIC) ... 50 Programas Setoriais – Governo ................................................................ 51 Ministério da Previdência Social (MPAS) ................................................. 51 Programas Setoriais – Sociedade Civil .................................................... 52 Educação financeira em empresas privadas ........................................... 53 3 PROCEDIMENTOS METODOLOGICOS .................................. 57 3.1 3.2 3.3 3.4 Caracterização da pesquisa quanto a abordagem, aos fins e aos meios . ...................................................................................................................... 57 Unidade de análise e sujeitos de pesquisa .............................................. 58 Coleta de dados .......................................................................................... 58 Técnica de análise e interpretação dos dados ........................................ 59 4. ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DE RESULTADOS ................. 61 4. 1 Análise documental, que apresenta o Programa de Educação Financeira do Banco Mercantil .................................................................. 61 4.1.1 Família ......................................................................................................... 62 4.1.2 Independência............................................................................................. 65 4.1.3 Maturidade .................................................................................................. 65 4.1.4 Empreendedor ............................................................................................ 66 4.1.5 Artigos ......................................................................................................... 66 4.1.6 O Especialista ............................................................................................. 67 4.1.7 Iniciativa para colaboradores .................................................................... 67 4.1.8 Concurso MB .............................................................................................. 67 4.1.9 Perfil de Consumo ...................................................................................... 67 4.1.10 Serviços ofertados no site do Mercantil do Brasil................................... 68 4.2 Análise de Conteúdo sobre a percepção dos gestores .......................... 68 4.2.1 Conceito e importância de Educação Financeira .................................... 68 4.2.2 Benefícios que o Programa pode gerar .................................................... 70 4.2.3 Definição de público-alvo para o Programa de Educação Financeira ... 71 4.2.4 4.2.5 4.2.6 4.2.7 4.2.8 5 Métodos de educação financeira adotados pelo Programa ................... 73 Principais ações propostas ou em desenvolvimento ............................. 75 Resultados auferidos pelo Programa até o momento ............................. 77 A legislação brasileira e a Educação Financeira ..................................... 78 Principais dificuldades encontradas para implantação do projeto........ 80 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................. 82 REFERÊNCIAS ......................................................................... 86 ANEXOS ................................................................................... 92 APÊNDICES .............................................................................102 12 1 INTRODUÇÃO O capitalismo teve uma expansão significativa logo após o período das grandes guerras mundiais, em meados da década de 1940 no Século XX. A segunda Grande Guerra marcou a divisão do mundo em duas grandes correntes político-econômicas: os Capitalistas, liderados pelos Estados Unidos da América (EUA) e os Socialistas, liderados por uma reunião de países chamada União Soviética. Segundo Coutinho e Belluzzo (1996), no período de pós-guerra, os Estados Unidos viveram sua “era dourada”, afirmando-se como um dos países mais ricos no mundo. Por outro lado, a chamada Cortina de Ferro impedia o conhecimento do que ocorria nos países socialistas, ficando obscuro o conhecimento de suas políticas educacionais. No Brasil, a economia obteve crescimento no período pós-guerra em torno de 7% ao ano, o que significa quase dobrar o seu Produto Interno Bruto (PIB) a cada dez anos e aumentá-lo em mais de dez vezes no período compreendido entre os anos 1945 a 1980 (COUTINHO; BELLUZO, 1996). O período brasileiro a partir do ano de 1980 foi denominado pelos economistas como a 'década perdida'. Este conceito surge em razão da retração das economias internacionais que contribuíram para a desaceleração do crescimento econômico do Brasil. O estado inflacionário crônico constituiu uma das principais razões e efeitos sociais mais característicos para a qualificação da “década perdida'”. Segundo informações do Senado Brasileiro obtidas em 2013, no decorrer do século XX, principalmente entre os anos de 1985 a 1994, foram registrados altos índices inflacionários de até 764% ao ano, e isso ocorreu sem que a população brasileira adquirisse o hábito de planejar suas despesas e investimentos. A partir da segunda metade da década de 1990, a junção de alguns fatores, como o controle inflacionário, a estabilidade da moeda e o crescimento econômico passaram a ser determinantes para o crescimento do consumo interno. A população, que antes não possuía condições financeiras para adquirir seus bens de consumo, passou a ter como forte aliado os financiamentos e crediários. Segundo Federação Brasileira de Bancos (FEBRABAN), as instituições bancárias passaram a ser os grandes 'promovedores de sonhos', embora isto representasse um custo que alcançava os 13 150% de juros ao ano. Ao lado dessas transformações, um novo termo foi descortinado por Domingos (2008) e utilizado para definir as pessoas que não obtinham educação financeira, os 'analfabetos financeiros'. Uma inferência oportuna a este respeito destaca que apenas conhecimentos matemáticos e conhecimento de planilhas eletrônicas não são suficientes para determinar um conhecimento financeiro. A partir do ano de 1993, o Brasil lança um novo plano econômico como tentativa para abolir a inflação, o Plano Real no ano de 1994. O plano foi elaborado pela equipe do Governo do Presidente Fernando Henrique Cardoso, e ocorreu em três etapas: i - equilíbrio das contas públicas; ii - criação da Unidade Real de Valor (URV) e; iii - o lançamento da moeda denominada Real. Mesmo com índices de inflação controlados e o país fortalecido economicamente, o Brasil passou por inúmeras crises econômicas internacionais como: a mexicana, do fim de 1994; a crise asiática, em 1997; a moratória da Rússia, em 1998 e, especialmente, a crise de 2008-2009, que gerou fortes tensões econômicas e financeiras na Europa e nos Estados Unidos. Devido ao fortalecimento da economia brasileira com forte apoio da estabilidade do Plano Real, o país passou sem grandes impactos pela crise de 2008-2009. Os Programas voltados para quem tem renda mínima se iniciaram a partir de 1991 e têm ajudado na política social de inúmeros países, inclusive no Brasil. Segundo Paugam (1999), estes programas são caracterizados pela introdução de sistemas de renda mínima garantida, todos sob condições de inserção profissional ou social. No Brasil, os programas de transferência de renda têm ajudado muitos brasileiros a saírem da linha de miséria. De acordo com o Instituo de Estatística e Pesquisa Aplicada (IBGE), em 2013, 90% das famílias brasileiras consideradas pobres participam destes programas. O crescimento econômico brasileiro acarretou na ascensão das classes sociais menos favorecidas. Os estudos divulgados pelo IBGE indicam que desde 2005, cerca de 30 milhões de brasileiros que estavam nas classes D/E subiram a escada social graças ao aumento de renda e de consumo. As classes A e B, por sua vez, passaram de 26,4 milhões para 30,2 milhões de pessoas no mesmo período (IBGE, 2013). 14 Esta mudança de patamar tem levado os indivíduos a buscar produtos e serviços que antes não eram acessíveis aos integrantes de sua classe. O resultado é um aumento significativo de despesas que antes não existiam no seu orçamento, resultando no descontrole de suas contas financeiras pessoais. A Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) também publica pesquisa sobre as características do endividamento da população brasileira. A Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC) é apurada mensalmente pela CNC desde janeiro de 2010. Os dados são coletados em todas as capitais dos Estados e no Distrito Federal, com cerca de 18.000 consumidores. Partindo dessas premissas, na pesquisa realizada pela PEIC (2013) em comparação com o ano 2012, o número de famílias que relataram possuir dívidas diversas – cartão de crédito, cheque especial, cheque pré-datado, crédito consignado, crédito pessoal, carnês, financiamento de carro, financiamento de casa, etc. – se elevou, alcançando o seu maior patamar em julho de 2013, que foi de 65,2% das famílias, correspondendo ao segundo maior índice de toda a série histórica da pesquisa. No ano de 2010, o índice ficou em 59,1%. No ano de 2011, 62,2%. Em 2012, 58,3%, e, por fim, em 2013, o patamar foi de 62,5% (PEIC, 2013). De acordo com a Câmara de Diretores Logistas (CDL) (2013), três em cada dez brasileiros já contrataram um empréstimo consignado, sendo que 47% dos consumidores entrevistados alegaram que contraíram o empréstimo com o objetivo de quitar dívidas, como as de cartão de crédito. No que tange ao número de pessoas inadimplentes registradas no banco de dados do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) do Brasil e da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), o índice aumentou 4,39% no mês de junho de 2014 no total de dívidas não pagas em comparação com o mesmo período do ano de 2013. É importante esclarecer que a apuração no mês de junho sugere um cenário no qual as dívidas em atraso e o número de pessoas inadimplentes irão aumentar (SPC, 2014). Diante do exposto, fica evidente a necessidade de preparar o cidadão brasileiro para usar de forma adequada seus recursos financeiros. Essa conscientização, que se iniciaria no processo da educação, teria consequências sobre a estabilidade econômica do país, sobre a redução da criminalidade e sobre o avanço do processo de desenvolvimento econômico e social. 15 O Brasil tem aproximadamente 190 milhões de habitantes segundo informações do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) (2013), concentrando 80% de sua população nas cidades e com taxa de fertilidade1de 1.7%. Estes dados indicam que o Brasil poderá ter uma geração numerosa em idade laboral antes de um envelhecimento significativo da população brasileira. Por não haver nos parâmetros curriculares nacionais (PCN), nem nos currículos de nossas escolas a referência à educação financeira, os problemas relacionados ao descontrole financeiro são detectados, principalmente, quando se inicia a formação no curso superior. Até o presente momento, as despesas da maioria dos jovens ingressantes nas instituições de ensino superior são geralmente custeadas pelas respectivas famílias ou com elas divididas. Ao ingressar no ensino superior, os jovens passam a ter acesso facilitado ao crédito, uma vez que os bancos oferecem, de forma atrativa, a abertura da primeira conta bancária, cheque especial, cartão de crédito e outros tipos de créditos. Bancos e financeiras trabalham ainda com a restrição de algumas exigências e com a isenção da cobrança de taxas comuns a outros clientes. O acesso ao crédito é utilizado para demonstrar status e símbolo de ascensão social. Entretanto, a falta de uma educação financeira, que poderia ter sido oferecida a este estudante desde a base de sua formação, favorece o endividamento nesta fase da vida, gerando um grande impacto na vida pessoal e profissional desse jovem durante e após o término do curso superior. Reconhecendo que a política educacional é um importante componente das políticas públicas, considera-se que adotando políticas educacionais adequadas os governos atingiriam determinadas metas, uma vez que tais políticas estão relacionadas diretamente com a realidade social do país. De acordo com essa visão, as mudanças na sociedade buscam os seus pilares na educação. A preocupação do governo brasileiro com a falta da educação financeira de sua população é tal, que uma de suas ações foi disponibilizar em seu portal na internet uma área inteiramente dedicada este tema. 1 Taxa de fertilidade é um termo usado em demografia para designar o número proporcional de nascimentos com vida, referidos a uma população de mulheres e um tempo determinados. 16 Ressalta-se que até o ano de 2011, não existia uma política governamental voltada para a educação financeira, e inexpressivas ações vinham sendo implantadas no Brasil. Em 2010, o Governo Federal, por meio do Decreto 7397/2010, publicado no Diário Oficial de União de 22 de dezembro de 2010, instituiu a Estratégia Nacional de Educação Financeira (ENEF), que começou a promover as diretrizes da educação financeira no Brasil. Em 2012, foi homologado o Decreto 23/12, que a partir da data de sua publicação, deu início ao projeto de educação financeira obrigatória nas escolas públicas, prevendo que ele fosse implantado em 450 escolas. Esta ação é de grande importância para a formação de crianças e adolescentes que são susceptíveis ao descontrole financeiro em razão do estímulo ao consumo feito pelo capitalismo, como aborda Sthephani (2005): Cada indivíduo participante do processo de formação do ser humano tem uma parte de responsabilidade nesse processo de mudança pela qual a educação passa. E a educação financeira vem ser um elo entre várias áreas do conhecimento, no sentido de fazer com que trabalhem juntas e formem na epistemologia do aluno, conceitos capazes de instrumentalizá-lo para a construção de sua autonomia (STHEPANI, 2005, p.12). Diante do contexto apresentado, pode-se prever que se for desencadeada uma efetiva ação educacional, a população brasileira poderá se apresentar melhor preparada para enfrentar problemas financeiros. A Organização de Cooperação e de Desenvolvimento Econômico (OCDE) é uma organização internacional e intergovernamental criada em 1962 e é composta por 30 democracias que trabalham em conjunto para responder aos desafios econômicos, sociais e ambientais da globalização. Este conjunto de entidades trabalha para responder a novos desafios, tais como a governança corporativa, economia da informação e os desafios referentes ao envelhecimento da população. Os governos membros usam as experiências em políticas econômicas, sociais e ambientais, entre outras, procurando respostas para problemas comuns, como identificar os bons resultados e trabalhar para coordenar políticas domésticas e internacionais. Os consumidores são confrontados com uma ampla gama de serviços financeiros para cobrir riscos importantes como, envelhecimento, doença e perda de habitação. Este é um resultado da redução de pensões e benefícios de 17 saúde pelos governos e corporações. Em consequência, ocorre o surgimento de produtos financeiros mais complexos como, aplicações financeiras, investimento, poupança, crédito, seguros. Nesse sentido, as pessoas precisam entender melhor os conceitos básicos de risco financeiro e suas implicações. 1.1 Problema da pesquisa Diante do contexto apresentado e para melhor explicitar a percepção de gestores de empresas privadas sobre o tema proposto, buscou-se com esta pesquisa, responder ao seguinte questionamento: qual a importância, os objetivos, os métodos, as ações propostas, os resultados e as dificuldades de um projeto de Educação financeira desenvolvido por uma instituição bancária? 1.2 Objetivos da pesquisa 1.2.1 Objetivo geral Analisar a importância, os objetivos, os métodos, as ações propostas,os resultados e as dificuldades de um projeto de Educação financeira desenvolvido por uma instituição bancária 1.2.2 Objetivos específicos Para se alcançar o objetivo geral deste artigo, foram definidos os seguintes objetivos específicos: 1. Caracterizar o Programa de Educação Financeira estudado quanto aos seus fins, princípios orientadores e métodos adotados; 2. Identificar o conceito e a importância da educação financeira de acordo com os responsáveis pelo programa. 3. Identificar os métodos e ações empreendidos pelo Programa de Educação Financeira objeto da pesquisa; 4. Identificar as dificuldades encontradas para a realização de projetos de educação financeira segundo os gestores entrevistados. 18 5. Propor um programa básico de Educação Financeira, como produto técnico da análise realizada. 1.3 Justificativa No que tange a sua relevância, o estudo se justifica, em termos teóricos, por ampliar a compreensão sobre o tema. Para área acadêmica, possui importância pela escassez de pesquisas que contemplem a percepção de gestores de educação financeira de empresas privadas sobre a importância da educação financeira. A pesquisa se justifica, ainda, por propiciar subsídios a problematizações que permitam o delineamento de novas perguntas, abordagens teórico-metodológicas, linhas de pesquisa, assim como novos desenhos de programas que propiciem elementos para subsidiar a atuação dos docentes de disciplinas ligadas ao tema. Analisando os sites de produção científica da Comissão de Aperfeiçoamento do Pessoal de Ensino Superior (CAPES), Scientific Electronic Library Online (Scielo), Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Universidade de Brasília (UNB), Universidade de São Paulo (USP), Google acadêmico e periódicos especializados, como Revista de Administração Pública (RAP), a base de pesquisa Gale Cengage Learning, o livro fundo de pensão e mercado de capitais, além do site da Organização das Nações Unidas (ONU) acerca da produção científica sobre educação financeira, verificou-se a existência de raros materiais na área de tecnólogos como conclusão de cursos, e a inexistência de trabalhos que aprofundem o tema proposto. Reconhecendo sua importância, decidiu-se investir em pesquisá-lo, visando a descortinar a percepção de gestores de educação financeira de empresas privadas sobre o assunto. A atenção sobre a necessidade de uma capacitação do indivíduo para lidar com seus recursos tem mobilizado tanto especialistas em educação quanto gestores e empresários em geral. Nesse sentido, a relevância para a sociedade parte do pressuposto de que a educação financeira é importante para auxiliar o indivíduo na gestão de seus recursos financeiros, possibilitando a diminuição dos níveis de endividamento individuais e familiares. Ela contribui, também, para que o cidadão possa agir de maneira autônoma e segura em relação aos gastos que podem, por 19 vezes, impedir que o cidadão exija seus direitos e possa mudar ou melhorar sua condição social. A relevância desta pesquisa para as organizações é justificada pela falta de informações e de conhecimento sobre educação financeira, falta esta que tem levado empresários e pessoas comuns, juntamente com seus familiares, a tomar decisões equivocadas, afetando financeiramente, profissionalmente e socialmente a vida de todos por muitos anos (CERBASI, 2010). De acordo com dados divulgados pela agência de noticias Reuters (2002), cada funcionário em situação financeira difícil custa cerca de USD 7.000 por ano, pois, em razão das dificuldades financeiras, o funcionário deixa de dedicar tempo suficiente ao trabalho. O descontrole financeiro é responsável por acarretar graves problemas, seja de ordem particular seja profissional, uma vez que: 85% dos brasileiros gastam mais que arrecadam (IBGE, 2010); Mais de 75% dos funcionários públicos estão endividados com o credito consignado (BACEN, 2010). O assunto relativo às finanças pessoais tem tomado um grande destaque nos veículos de comunicação, o que tem levado os pesquisadores a se interessarem sobre a importância da educação financeira. As pessoas que recebem educação financeira se mostram mais preparadas para promover o próprio processo de desenvolvimento, a fim de terem mais oportunidades para fazerem uma especialização acadêmica e para colaborarem com o desenvolvimento das empresas nas quais venham a trabalhar e do país onde vivem, justificando, então, a importância de se estudar o tema proposto. A escolha pelas empresas pesquisadas se deu por sua relevância para o desenvolvimento do tema e, também, pela acessibilidade. Esta dissertação está estruturada em cinco capítulos. Inicialmente é apresentada a introdução, na qual se faz a contextualização do tema e sua importância, o problema de pesquisa, os objetivos e a justificativa. O segundo capítulo trata do referencial teórico, abordando algumas noções de finanças: o conceito, as características, a 20 importância e o sentido da educação financeira. A metodologia adotada é o assunto do terceiro capítulo, e trata da caracterização da pesquisa, da definição dos instrumentos de coleta de dados, definição dos sujeitos de pesquisa e das técnicas de tratamento dos resultados. O quarto capítulo aborda a análise de resultados, valendo-se da análise do conteúdo das entrevistas realizadas com os gestores e da análise documental referente ao Programa de Educação Financeira do Banco Mercantil do Brasil. O último capítulo apresenta as considerações finais, seguido das referências e do apêndice. 21 2 REFERENCIAL TEÓRICO O referencial teórico do presente trabalho apresenta as diferentes definições para o conceito de educação financeira, propondo, como síntese dessa reflexão, o conceito a ser adotado neste trabalho. Em seguida, expõe os princípios da educação financeira definidos pela OCDE, órgão ligado à Organização das Nações Unidas (ONU). Além disso, apresenta modelos e técnicas de educação financeira adotados em algumas partes do mundo. 2.1 Conceitos sobre educação financeira Para tornar mais claro o conceito de educação financeira, é oportuno recorrer ao sentido amplo de Educação e de Finanças, termos básicos para fundamentar o referido conceito. Segundo Houaiss (2001), educação se refere à ação de desenvolver as faculdades psíquicas, intelectuais e morais: a educação da juventude; resultado desta ação, conhecimento e prática dos hábitos sociais; boas maneiras. A palavra Educação deriva-se do latim educare, no sentido formal, é todo o processo contínuo de formação e ensino-aprendizagem que faz parte do currículo dos estabelecimentos de ensino, sejam públicos, sejam privados. Para Jacob, Sharyl e Malcolm (2000), o termo educação na área de finanças significa o conhecimento de termos financeiros de mercado, a habilidade com o uso da matemática financeira para interpretar dados financeiros e a capacidade de tomar decisões quanto ao uso do dinheiro. A expressão também abrange o conhecimento de direitos, normas sociais e experiências práticas. A palavra Finanças, segundo Houaiss (2001), se refere à ciência que consiste na atividade do manejo do dinheiro ou de títulos que o representem; conjunto de receitas e despesas. O mesmo termo, segundo Lucci et al. (2006, p.4), “refere-se às atividades relacionadas ao dinheiro na vida cotidiana das pessoas, como controle do orçamento, utilização de cartões de crédito, cheques e decisão de investimento”. Segundo Gitman (2004, p. 4), “podemos definir finanças como a arte e a ciência da gestão do dinheiro”. O autor menciona que o planejamento financeiro começa na 22 elaboração de planos financeiros de longo prazo, que, por sua vez, orientam planos e orçamentos de curto prazo (GITMAN, 2004). Lucci et al. (2006), abordando o sentido da expressão “educação financeira”, afirmam que ela se refere aos conceitos e atitudes voltados para ações financeiras, indicando, portanto, o conjunto de atividades, como o controle diário das despesas, cartão de crédito, financiamentos, empréstimos. Esses autores mostram que a educação financeira é importante sob inúmeras perspectivas como, por exemplo, a do bem estar pessoal e das ações socialmente orientadas. Logo, as consequências de decisões equivocadas financeiramente podem desorganizar financeiramente tanto a vida pessoal de um indivíduo, como comprometer de sua carreira profissional. Segundo Gallery et al. (2011, p.288), educação financeira é "a capacidade de fazer julgamentos inteligentes e decisões eficazes em relação ao uso e gestão do dinheiro”. Para Lelis (2006), a educação financeira é importante, pois abrange informações de como aumentar a renda, reduzir despesas e gerenciar fundos. Resumindo, a educação financeira é utilizada como ferramenta para a pessoa administrar o próprio dinheiro. O conhecimento financeiro, [...] pode ser enquadrado em duas vertentes: pessoal e profissional. Do ponto de vista pessoal, é atrelado à compreensão da economia e de como as decisões das famílias são afetadas pelas circunstâncias econômicas. Inclui ainda tópicos da gestão de recursos, tais como: orçamento, poupança, investimento e seguro. No âmbito profissional, o conhecimento financeiro é vinculado à compreensão de relatórios financeiros, fluxos de caixa e mecanismos de governança corporativa das empresas (WORTHINGTON, 2 2006 citado por SAVOIA; SAITO; SANTANA, 2007, p.1130). Para Braunstein e Welch (2002), além do benefício pessoal, a educação financeira desenvolve saudavelmente o mercado financeiro, uma vez que o estimula a oferecer melhores serviços: [...] participantes informados ajudam a criar um mercado mais competitivo e eficiente. Consumidores conscientes demandam por produtos condizentes 2 WORTHINGTON, A. C. Predicting financial literacy in Australia. Financial Services Review, v. 15, n. 1, p. 59-79, Spring 2006. 23 com suas necessidades financeiras de curto e longo prazo, exigindo que os provedores financeiros criem produtos com características que melhor correspondam a essas demandas (BRAUNSTEIN, WELCH; 2002, p. 445). Para a European Commission (Fin-Focus, 2008), a educação financeira seria usada para melhor gerenciamento dos riscos financeiros, permitindo maior consciência nas tomadas de decisões. Pode-se inferir que nos países europeus, especialmente naqueles que são filiados à Comunidade Econômica Europeia, a educação financeira vem sendo considerada suporte para a sobrevivência econômica. Segundo Frankenberg (1999, p. 31), ela se refere ao planejamento financeiro pessoal como aquele que estabelece e segue uma estratégia precisa, “deliberada e dirigida para a acumulação de bens e valores que irão formar o patrimônio de uma pessoa e de sua família”. Este autor considera que o planejamento financeiro deve ser voltado para o curto ou médio ou longo prazo, e é necessário fazer correções e revisões periódicas. De forma mais objetiva, Medeiros (2003) e Lelis (2006) compreendem que a educação financeira é um tema no qual se discute a importância do dinheiro, a forma como se deve administrá-lo, ganhá-lo, gastá-lo, poupá-lo e consumi-lo conscientemente. De acordo com esses autores, em face desta necessidade, surge o tema 'educação financeira'. Analisando-se os conceitos apresentados até o momento, conclui-se que a educação financeira constitui um recurso que orienta as pessoas a evitarem o uso inadequado do dinheiro e o gasto inconsciente, impedindo, assim, o endividamento. Vale ressaltar que existem dois tipos de endividamento, o passivo e o ativo, que são abordados por Faria (2006) como: [...]o endividamento passivo acontece quando há um aumento de dívidas por consequência de alguma situação inesperada, ou seja, uma circunstância imprevista, podendo ter diversos fatores geradores. Já o endividamento ativo se caracteriza por montantes de dívidas, sendo a maioria equivocada, constituindo resultado de uma má gestão financeira (FARIA, 2006, p.01). Um dos principais fatores do endividamento pessoal é a facilidade com que o crédito é oferecido. De acordo com Horta e Carvalho (2002), crediários, financiamentos, empréstimos e cartões de crédito são alguns desses tipos de oferta de crédito. 24 Geralmente, a falta do dinheiro para a compra de um bem faz com que o indivíduo seja atraído para o crediário (parcelamento), deixando de levar em consideração que as taxas de juros podem ser bastante elevadas. Entende-se, portanto, que o endividamento é a utilização de recursos de terceiros para fins de consumo. Ao se apossar desse recurso, o sujeito estabelece um compromisso em devolver, numa data pré-estabelecida, o montante, normalmente acrescido de juros e correção monetária (MARQUES; FRADE 2003). Um endividamento pode ser positivo se o objetivo for o aumento de renda. Como exemplo, pode-se citar um financiamento para a compra de uma máquina, que constitui insumo para a realização de uma atividade que vai gerar lucro. Isso pode se tornar endividamento positivo, pois a aquisição se presta para o aumento da renda. Porém, se a compra é feita para consumo próprio, sem previsão de retorno, ou tratase simplesmente da aquisição de um bem de luxo, o endividamento é considerado negativo (TOLOTTI, 2007). Quando se fala em endividamento, precisa-se primeiramente conhecer alguns conceitos como o de crédito, que para Sandroni (1999) é, [...]a transação comercial em que o comprador recebe imediatamente um bem ou serviço adquirido, mas só fará o pagamento depois de algum tempo determinado. Outro fator é a falta de planejamento no orçamento pessoal ou familiar (SANDRONI, 1999, p.11). Alves (2007, p.15) relata que o problema financeiro das pessoas surge a partir da falta de educação financeira, tendo como base a falta de planejamento. Em uma sociedade altamente consumista, quanto maior a renda familiar maior os gastos, e, conseqüentemente, maior o seu endividamento. Tolotti (2007, p. 51) “relata que o preço para manter um status elevado é muito pesado para a maioria das pessoas”. De acordo com este autor, em uma sociedade onde o ter é mais importante que o ser, as pessoas buscam ser aceitas adquirindo produtos de marca e objetos que visam diminuir a angústia e o desprestígio social que são afetados. Durkheim (1978) considera que o indivíduo está sempre se ajustando aos novos ambientes sociais; por isso, se ele estiver incerto dos valores transmitidos pela família, passa a almejar 25 um estilo de vida mais caro do que o habitual, e, assim, pode se tornar incapaz de arcar com suas despesas. Segundo Stephani (2005), quando chega à fase escolar, o indivíduo traz consigo sua história, ou seja, as concepções de sua família, os conceitos construídos em seu bairro, sua região, bem como as concepções que foram construídas sob a influência da mídia. O consumidor pode se endividar devido a diversos fatores: desemprego, atraso de salário, descontrole nos gastos, dificuldade financeira pessoal, redução da renda, doenças, má fé, sendo todos estes fatores agravados em época de crise econômica do país (FIORENTINI, 2004). Para Jacob, Sharyl e Malcolm (2000), a expressão educação financeira aplica-se a uma vasta escala de atividades relacionadas ao dinheiro na vida diária das pessoas, que vai desde o controle do cheque até o gerenciamento de um cartão de crédito, da preparação de um orçamento mensal até a tomada de um empréstimo, da compra de um seguro ou de um investimento. Além disso, educação financeira demanda o conhecimento de, termos, práticas, direitos, normas sociais e atitudes necessárias ao entendimento e funcionamento destas tarefas financeiras vitais. Isto também inclui o fato de ser capaz de ler e aplicar habilidades matemáticas básicas para fazer escolhas financeiras sábias (JACOB; SHARYL; MALCOLM, 2000, p.8). Entende-se que o conceito que mais representa a realidade brasileira sobre a educação financeira é o seguinte: o processo mediante o qual os indivíduos e as sociedades melhoram sua compreensão dos conceitos e dos produtos financeiros, de maneira que, com informação, formação e orientação claras, adquiram os valores e as competências necessários para se tornarem conscientes das oportunidades e dos riscos neles envolvidos e, então, façam escolhas bem informados, saibam onde procurar ajuda, adotem outras ações que melhorem o seu bem-estar, contribuindo, assim, de modo consistente para formação de indivíduos e sociedades responsáveis, comprometidos com o futuro conceito de educação financeira definido pela OCDE em 2005, adaptado para a realidade brasileira (BRASIL, 2010). A educação financeira é um assunto presente no cotidiano das empresas e pessoas, mesmo que ainda pouco discutido no meio empresarial, ela tem revelado ser um 26 assunto preocupante para todos, pois vem refletindo diretamente na vida pessoal e familiar dos envolvidos de forma negativa. Por causa disso, faz-se necessário um entendimento maior sobre o tema, isto é, um conhecimento mais abrangente sobre o gerenciamento do dinheiro no cotidiano das pessoas. A educação financeira, segundo Hill (2009), pode ser definida como a habilidade que os indivíduos apresentam para fazer escolhas adequadas ao administrar suas finanças pessoais durante o ciclo de sua vida. Assim, em 2005, a OCDE define educação financeira como o processo que permite aos consumidores e aos investidores entender melhor os conceitos e os produtos financeiros, e avaliar os riscos e as oportunidades financeiras. Por meio da informação, instrução e/ou de conselhos objetivos, os consumidores e investidores desenvolvem habilidades e adquirem confiança que os permitem tomar decisões fundamentadas, que, por sua vez, contribuiriam para o bem-estar financeiro deles. Pontuam Savoia, Saito e Santana (2007) que em 2003, a OCDE criou o Financial Education Project, que visava a uma maior consciência dos indivíduos sobre os produtos financeiros. De acordo com os autores, este programa possui a finalidade de analisar o real impacto das iniciativas demandadas nos países, desenvolvendo técnicas que permitam a comparação dos programas de modo a prover um conjunto de recomendações que melhorem efetivamente as ações implantadas. Hogarth (2002) identificou características comuns em várias definições de educação financeira e descobriu que os indivíduos que são “financeiramente educados” possuem um melhor discernimento por: (a) obterem conhecimento e serem educados e informados sobre questões de gestão de dinheiro e ativos; (b) compreenderem os conceitos básicos da gestão do dinheiro e bens; e (c) utilizarem o conhecimento e compreensão para planejar e implementar decisões financeiras. Hogarth (2002) ainda afirma que as avaliações de programas têm demonstrado que um conhecimento sobre educação financeira comportamento e nisso há um ganho financeiro. leva a uma mudança de 27 Destaca-se que as mudanças sociais ocorridas nos últimos tempos alteraram a definição de cidadania. Não se pode mais pensar a cidadania como uma consequência de ser cidadão, mas como um diferencial da pessoa que atua no cenário em que está inserida, não apenas usufruindo de seus direitos de cidadão, mas intervindo e criando novos direitos que lhe são caros (JACOB; SHARYL; MALCOLM, 2000). Assim, para possuir a cidadania pressupõe-se que o indivíduo seja agente de sua transformação. Contudo, para que isso aconteça, é preciso conhecer os meios de se reivindicar e de criar. Para tanto, entende-se ser fundamental uma boa formação do cidadão. Nesse contexto, pode-se pensar na união da cidadania com a Matemática Financeira, uma vez que os cidadãos são cercados de termos financeiros no dia a dia. Assim sendo, a Matemática Financeira se mostra importante nessa formação (JACOB; SHARYL; MALCOLM, 2000). De resto, é necessário registrar que os autores citados realçam a relevância da educação financeira como importante contribuição para o desenvolvimento das pessoas e dos países. Verifica-se, portanto, que o tema tem grande valor e constitui objeto de interesse para o gestor de empresas privadas. Assim, neste trabalho adotamos como referência o conceito de educação financeira definido pela OCDE em 2005, que foi adaptado para a realidade brasileira e que descreve a EF como "[...] processo mediante o qual os indivíduos e as sociedades melhoram sua compreensão dos conceitos e dos produtos financeiros [...] (BRASIL, 2010) e que serve de como base de sustentação para uma maior consciência dos indivíduos sobre os produtos financeiros. 2.2 A produção científica sobre educação financeira Dentre os trabalhos pesquisados, cita-se o trabalho de Pinheiro (2008), que ressalta a relevância da educação financeira para o campo da previdência complementar. O autor aborda a experiência da OCDE, precursora em impulsionar a educação financeira e organizar um guia educativo de princípios e indicações direcionadas para a previdência complementar. O artigo afirma que o Brasil segue a tendência 28 internacional, incluindo a educação financeira e previdenciária na agenda de trabalho. Conforme dados da pesquisa de Pinheiro (2008), a população brasileira, assim como a mundial, precisa de maior conhecimento sobre o produto previdenciário, podendo desse modo, acarretar importantes implicações para o desenvolvimento socioeconômico do Brasil. Diante disso, foi possível verificar que medidas educativas são ferramentas que precisam ser promovidas e impulsionadas tanto pelo governo quanto pela ação privada. Lucci et. al. (2006) tratam da importância do conhecimento dos produtos financeiros, e afirmam que as pessoas precisam estar preparadas para lidar com circunstâncias cada vez mais difíceis ao adquirir um bem ou serviço. Foi possível verificar que o conhecimento sobre finanças estudados na universidade influenciou de forma positiva a tomada de decisões referente a produtos financeiros. A pesquisa realizou uma análise dos dados que demonstrou que o nível de conhecimento dos conceitos e produtos financeiros é inteiramente relativo ao nível de educação financeira aplicada pelas pessoas no seu dia a dia. Matta (2007) realizou uma pesquisa cuja finalidade foi averiguar o alinhamento entre a oferta de informação do Programa de Educação Financeira do Banco Central do Brasil (PEF-BC) e a busca de informação sobre finanças pessoais realizadas pelos universitários do Distrito Federal. Concluiu-se que há um alinhamento parcial entre a oferta e a procura de informação examinada, ou seja, somente uma parte da demanda é preenchida pela oferta de informação do PEF-BC. Essa pesquisa foi importante por demonstrar a necessidade de alfabetização financeira das pessoas demonstrando que quando há oferta de cursos sobre o tema “educação financeira” existe procura relevante. Além da formação de uma massa crítica em públicos variados, é possível, durante a apresentação dos conceitos matemáticos e de suas consequências, observar, no dia a dia, o comportamento dos indivíduos diante da prática. Essa abordagem à Matemática Financeira se dá pelo uso de uma das perspectivas da Educação Matemática, voltadas para construção do cidadão, entendendo que o conhecimento 29 matemático pode se transformar numa ferramenta indispensável para a superação da dicotomia entre o ensino escolar e o cotidiano, fundamentais para o exercício da cidadania (MATTA, 2007). Savoia, Saito e Santana (2007) descrevem ações que amparam o engajamento dos agentes públicos e privados em programas de educação financeira, abordando experiências internacionais. Tratam também dos efeitos decorrentes do papel do governo brasileiro para promoção da educação financeira, indicando que no Brasil existe uma situação preocupante no que se refere à educação financeira, especialmente por causa do desequilíbrio na distribuição de renda do país. No quadro 1 são apresentados os autores identificados nos sites acadêmicos mencionados, apresentando-se os títulos dos trabalhos e o resumo dos mesmos. 30 Quadro 1 - Autores pesquisados nos sites de pesquisa Pesquisador Ano Título Periódico Objetivo Resumo Lucci et al. A Influência da educação financeira nas decisões 2006 de consumo e USP investimentos dos indivíduos No mundo de numerosos e variados produtos financeiros, as pessoas devem estar preparadas para lidar com situações cada vez mais complexas ao desejarem adquirir um bem ou serviço. O nível de conhecimento dos conceitos financeiros é diretamente proporcional ao nível de educação financeira, no que tange somente ao número de disciplinas ligadas à área de finanças cursadas na graduação. Savoia;Saito; Santana Discutir a educação financeira no Paradigmas da Revista de Brasil, de forma a avaliar o estágio 2007 educação financeira no Administração das ações referentes ao assunto no Brasil Pública (RAP) contexto nacional e sugerir iniciativas para o seu fomento. Cinco ações que auxiliam no engajamento dos agentes públicos e privados no programa de educação financeira são propostas: evolução, objetivos, abordagens, riscos e resultados. Ressalta-se a importância da educação financeira para o segmento da previdência complementar. Discute a promoção de práticas educativas como Educação financeira e Livro Fundo Discutir a relevância, como política (i) melhora dos fundos de pensão, (ii) mudar previdenciária, a nova de Pensão e pública, da educação financeira hábitos culturais, (iii) enfrentar as consequências Pinheiro 2008 fronteira dos fundos de Mercado de para o segmento da previdência da transição demográfica e do risco de pensão Capitais complementar. longevidade, (iv) permitir que o indivíduo realize escolhas financeiras adequadas ao seu perfil e (v) auxiliar as atividades do órgão governamental de fiscalização dos fundos de pensão. Observa-se que esforços objetivando a educação Oferta e demanda de Verificar o alinhamento entre a financeira das pessoas são raros no Brasil. São informação financeira oferta de informação do Programa quase inexistentes os estudos voltados ao tema. pessoal: o Programa de de Educação Financeira do Banco Diante dessa escassez, desenvolveu-se uma Mata 2007 Educação Financeira do UNB Central do Brasil (PEF-BC) e a pesquisa envolvendo um dos raros programas Banco Central do Brasil demanda de informação pelos existentes no país sustentado por um órgão e os universitários do universitários do Distrito Federal público voltado à educação financeira da Distrito Federal sobre finanças pessoais. população. Fonte: Elaborado pelo autor, a partir de: (LUCI et. al., 2006; SAVOIA; SATO; SANTANA, 2007; PINHEIRO, 2008; MATTA, 2007). 31 Percebe- se diante do quadro apresentado, que os estudos sobre Educação Financeira são escassos, o que indica a importância da pesquisa em questão. 2.3 Métodos de educação financeira Por ser uma matéria relativamente nova nos meios educacionais, os modelos e técnicas usados para disseminar a educação financeira são distintos e utilizam, na maioria das vezes, a expertise e as ferramentas de especialistas na área e daqueles que assumem a defesa da inclusão desta disciplina no sistema de ensino. Um dos métodos usados no Brasil é o CROWN, que tem como principal objetivo ensinar princípios financeiros aos cristãos. O Crown tem como meta ensinar 300 milhões de pessoas em todo o mundo, até o ano de 2015, a lidar com dinheiro segundo a perspectiva bíblica. No Brasil, o alcance pretendido é de 10 milhões de pessoas (CROWN, 2014). O método Crown (2014) é ministrado em pequenos grupos, que podem variar de dez a doze participantes, incluindo os líderes ou facilitadores. A duração é de doze lições referidas e ministradas em um dia específico da semana, no decorrer de doze semanas consecutivas, com duração de duas horas por lição. A metodologia aplicada é de estudos das lições e tarefas diárias que depois serão compartilhadas dentro o grupo. Para tanto, é utilizado o livro O Seu Dinheiro, do mesmo autor do método, Howard Dayton. Qualquer pessoa pode fazer o curso, desde que alfabetizada. Os participantes podem ser casais ou indivíduos: a) as pessoas casadas deverão participar do curso juntamente com seus cônjuges, b) a participação individual se restringe aos solteiros, separados, divorciados ou viúvos. Outro método que vem sendo bastante difundido no Brasil é o método Diagnosticar, Sonhar, Orçar e Poupar (DSOP), criado pelo educador e terapeuta financeiro, Reinaldo Domingos. Criada em 2008, a Dsop tem levado a educação financeira a diversos públicos: da infância à idade adulta. Ao criar este método seu idealizador tentou abranger todos os princípios para se educar financeiramente. A metodologia é aplicada a indivíduos de diferentes idades, e cada grupo possui um material 32 didático específico. Existe também um curso de Pós-Graduação em Educação e Coaching Financeiro em pareceria com a UBS escola de negócios (DSOP, 2014). O objetivo é educar para um consumo sustentável, permitindo a inclusão de comportamentos que visam à formação de pessoas pensantes, críticos, autônomos e capazes de idealizar e realizar projetos individuais e coletivos, procurando viver o dia de hoje sem se esquecer do amanhã, atendendo às necessidades básicas e poupando para garantir sua autonomia financeira. Atualmente, a Dsop dispõe de uma rede formada por mais de 200 educadores financeiros e franquias de negócios em todo o Brasil, que compartilham a missão de disseminar a educação financeira, romper com o ciclo de pessoas com desequilíbrio financeiro e construir novas gerações e famílias sustentáveis financeiramente (DSOP, 2014). Com base no método Dsop (2014), entende-se que as pessoas podem desenvolver competência para efetuar compras de forma mais consciente, decidindo se é melhor comprar à vista ou a prazo, se há ou não necessidade de tomar um empréstimo ou não, e, em caso afirmativo, qual seria a melhor forma de negociá-lo, de fazê-lo e onde procurar outras opções; se houver recursos excedentes no orçamento mensal, o que se pode fazer frente às possibilidades, optando por uma aplicação a curto, médio ou longo prazo, etc.. Além disso, é com a Matemática Financeira que se pode incentivar o empreendedorismo dos alunos, pois no caso de um investimento em negócio próprio, pode-se ensinar como calcular o valor de um produto a ser vendido de forma que o preço se ajuste às necessidades do cliente, sem deixar de atender à necessidade da remuneração do negócio. Existe também um pequeno, mas crescente grupo de pessoas que analisa a instrução financeira pelo método Transteórico de Mudança (TTM). O método se baseia no trabalho de Prochaska e Di Clemente (1983) e integra as principais teorias psicológicas em uma teoria de mudança de comportamento. O modelo inicialmente foi utilizado na área da saúde (SHOCKEY; SEILING, 2004). 33 Entende-se que, com esse método TTM, a educação proporcionada deve vincularse, de forma orgânica e integrada, ao comportamento consumista, assim como deve relacionar-se às práticas sociais. Com isso, espera-se que o indivíduo tenha uma formação que o permita desenvolver diferentes competências e habilidades, e, assim, integrar-se como tal na comunidade em que está inserido. Essa formação acarretaria em uma mudança no comportamento de consumo do indivíduo, visto que ele estaria dotado de autonomia e pensamento crítico (PROCHASKA; DI CLEMENTE, 1983). Este método possui cinco etapas de mudança conforme Quadro 2. Quadro 2 - Etapas do método Transteórico de Mudança (TTM) Fase Período Características Précontemplação individual Contemplação individual Não está pronto para agir e mudar de comportamento nos próximos seis meses. Está se preparando para tomar medidas e pretende mudança de comportamento nos próximos seis meses. Está pronto para agir e pretende mudar de comportamento nos próximos 30 dias. Indivíduos nesta fase irão raramente procurar ajuda e utilizar informações. Preparação individual Indivíduos nesta fase estão abertos para os processos educativos. Indivíduos nesta fase vão procurar informação de apoio, mas, muitas vezes, têm a preocupação de que o processo de mudança pode ser difícil e eles podem não ter sucesso. Pequenos passos em direção ao objetivo. Ação Mudança de comportamento. O Indivíduos precisam acreditar que individual indivíduo não fez a mudança no podem mudar, que podem ser capazes período de seis meses. de controlar os estímulos que provocam a sua recaída em direção a antigos comportamentos, e criar um sistema de apoio para ajudá-los em tempos desafiadores. Manutenção Abertamente têm mudado seu Estágio em que frequentemente os individual comportamento e têm duração de mais indivíduos têm recaídas. Deve ser de seis meses. comprometido com a superação das tentações para assumir um novo comportamento. Tornar-se permanente. Indivíduos nesta fase têm de ser capazes de avaliar as condições das recaídas. Fonte: Elaborado pelo autor a partir de Prochaska e Di Clemente (1983). Procura-se, igualmente, preparar a pessoa e orientá-la para o mercado de trabalho, de forma que as competências desenvolvidas permitam-lhe acompanhar as mudanças sociais, culturais e econômicas, ao passo que, de acordo com seu interesse, tenha condições de dar continuidade a sua formação ética e profissional. 34 Pode-se dizer, portanto, que esse método acompanha as necessidades e exigências do mundo atual, propondo que seja praticado um ensino que permita ao educando interagir com o ambiente em que vive. 2.4 A Educação financeira no mundo A educação financeira tem sido implantada em inúmeros países, os quais têm criado instituições para a sua promoção. Analisando os estudos disponíveis nos sites consultados, foi possível elaborar o Quadro 3, a seguir: Quadro 3 - Educação Financeira em alguns países País Instituição Promotora Estados Unidos Departamento do Tesouro – Escritório de Educação Financeira Inglaterra Autoridade de Serviços Financeiros (FSA) Portugal Instituto do Consumidor (IC) Japão Instituto Nacional para a Educação do Consumidor (NICE) Canadá Escritório de Assuntos do Consumidor (OCA) Nova Zelândia NZ Retirement Comission Comisión Nacional Del Mercado de Valores (CMNV) e pelo Banco de España Fonte: Adaptado de Matta (2007). Espanha Objetivos •Promover o acesso a instrumentos de educação financeira para tomar decisões sábias quanto ao gerenciamento financeiro pessoal; Coordenar as ações da Comissão de Educação e Instrução Financeira. • Manter a confiança do mercado; • Promover o entendimento público do sistema financeiro, a proteção do consumidor e reduzir o crime financeiro; • Elaborar diretrizes para o ensino de educação financeira nas escolas inglesas. • Atuar como órgão de defesa do consumidor; • Promover ações de educação, formação e produção de meios didático-pedagógicos. • Sustentar a efetiva e abrangente promoção da educação do consumidor. • Atuar no sistema de monitoramento do mercado e do consumo; • Atuar como fonte de informação econômicofinanceira para a população canadense. •Apresentar programas de incentivo ao plano de aposentadoria, garantindo aos idosos a qualidade de vida que eles esperam; atuar na educação de jovens. •Melhorar a cultura financeira da população adulta; •Inserir disciplinas que desenvolva a educação financeira nas escolas. De acordo de acordo com Saito, Savoia e Petroni (2006), nos Estados Unidos da América, não só as escolas de ensino fundamental oferecem educação financeira, mas, também, as instituições governamentais como o Federal Reserve e a National Endowment for Financial Education (Nefe). Ressalta-se que 98% dos bancos 35 americanos estão envolvidos de alguma forma nesse processo, sendo 72% para capacitar os jovens. Os autores acima afirmam que até o ano de 1985, dos 50 estados americanos 60% já tinham incluído a educação financeira como conteúdo obrigatório nas escolas secundárias. No Reino Unido, diferentemente dos Estados Unidos, as escolas não são obrigadas a oferecer educação financeira, contudo existe uma discriminação de conteúdo por parte de outras disciplinas como educação moral e cívica, matemática, dentre outras. O Financial Services Authority (FSA) é um órgão independente que atua no Reino Unido como responsável pela regulação dos serviços financeiros. As questões matemáticas não eram vistas como temas dinâmicos, nem abordados no contexto do cidadão. Na realidade a não obrigatoriedade é compreendida pelo pensamento lógico de que quando se pensa no uso da Matemática e em suas diversas aplicações, entende-se que ela está presente em todos os aspectos da sociedade e das culturas (MATTA, 2007). Em Portugal, o Instituto do Consumidor, além de atuar como órgão de defesa do consumidor, promove ações de educação, formação e produção de meios didáticopedagógicos. No Japão, o Instituto Nacional para Educação do consumidor também desenvolve ações destinadas à educação do consumidor, porém não se menciona um programa escolar para este fim. Já no Canadá, a educação financeira da população é oferecida desde o início da escolarização das crianças (MATTA, 2007). Na Nova Zelândia, uma comissão orienta pessoas que se preparam para a aposentadoria e ainda atua na educação financeira de jovens. Willis (2009), em seu trabalho realizado na Universidade da Pensilvânia – Estados Unidos da América (EUA), afirma que a cada dia os produtos financeiros se tornaram mais complexos e com isso os consumidores têm dificuldades de compreendê-los. Willis (2009), que é contra a educação financeira, recomenda a sua substituição por uma busca de políticas mais adequadas aos consumidores. O autor considera inadequada a inclusão da educação financeira no processo de alfabetização e afirma que os métodos para a realização do preparo do consumidor praticamente poderiam ser os mesmos adotados nas escolas: sala de aula, autoestudo, materiais, sites informativos, jogos interativos e aconselhamento. Embora os programas variem em 36 conteúdo e metodologia, todos têm o objetivo de trazer bem estar ao consumidor na tomadas de decisões relacionadas ao uso do dinheiro. Na Espanha, existe um movimento destinado a incluir a Educação Financeira no sistema de ensino. Holzmann e Miralles (2005) argumentam que a educação financeira deve estar inserida no currículo sem que haja necessidade de ser uma matéria nova, podendo ser tratada em disciplinas que criem a oportunidade de educar financeiramente crianças e adolescentes. A eficácia da alfabetização financeira como uma ferramenta política não pode, portanto, ser empiricamente validada, e uma das explicações possíveis para isso se refere ao fato de os educadores ainda não terem encontrado o caminho certo para realizar este tipo de educação (HOLZMANN, MIRALLES, 2005). É necessário, portanto, pensar na educação dos cidadãos, e a Matemática se apresenta como uma das disciplinas mais indicadas nesse processo, pois, é por meio dela, que, com ou sem o uso da tecnologia, pode-se interpretar as facetas do Real. Os estudos, segundo Bernheim e Garrett (2003), já realizados como suporte para o modelo de educação financeira sofrem, entretanto, algumas fragilidades, como o desenvolvimento de programas de educação financeira que utilizam técnicas de coleta de dados usando auto-avaliação para demonstrar que essa educação é eficaz. No que se refere ao Brasil, um estudo de educação financeira do consumidor utilizando auto-relatos sobre os benefícios da poupança admite que a educação possa afetar a comunicação (o que a pessoa diz), em vez de afetar o comportamento (como a pessoa direciona suas ações) (BERNHEIM; GARRETT, 2003), O número de programas de educação financeira tem crescido nos Estados Unidos rapidamente nos últimos anos. Uma pesquisa feita na Universidade de Ilinois com o objetivo medir a eficácia destes programas demonstrou que eles não mantiveram os resultados esperados. Isso de deve principalmente a um desacordo entre profissionais da área financeira sobre a forma de medir o impacto destes programas. A pesquisa concluiu que os resultados dos programas de educação financeira estão muito longe de serem considerados satisfatório. Na verdade, apenas recentemente, 37 alguns estudos têm tentado apresentar o impacto do programa no contexto de um quadro teórico (SHOCKEY, SEILING, 2004). Ao avaliar os programas e buscar uma relação entre educação financeira, conhecimento e mudança de comportamento, encontram-se na literatura os trabalhos de Braunstein, Welch (2002); Hogarth (2002), Hilgert, Hogarth, e Beverly (2003); Fox, Bartholomae e Lee (2005); e Lyons (2004). Realçada a fragilidade dos instrumentos de avaliação desses estudos, as conclusões obtidas ainda não confirmam a significativa influência da educação financeira sobre a mudança de comportamento do consumidor. Entretanto, a educação financeira geralmente fornece dados positivos. Especificamente no que dizem respeito ao aconselhamento financeiro, os estudos indicam que os clientes mostram significativa melhora na compreensão de produtos financeiros. Segundo Staten, Elliehausen e Lundquist (2002), os indivíduos que receberam aconselhamento foram capazes de reduzir sua dívida, melhorar a gestão de cartão de crédito e diminuir sua inadimplência. Hirad e Zorn (2001) verificaram que os mutuários que participaram da pré-compra de casa própria tiveram uma taxa 19% menor de inadimplência de 90 dias do que aqueles que não fizeram. Embora exista um consenso de que a educação financeira promova positivamente os resultados financeiros, é importante reconhecer que os resultados ainda não são conclusivos. Existe uma grande inconsistência nos resultados finais. Segundo Lyons (2004), muitas das inconsistências são provenientes de uma falta de compreensão do que realmente significa ser “financeiramente educado”, bem como do processo pelo qual uma pessoa se torna financeiramente educada. Em 2005, a OCDE publicou um relatório intitulado Improving financial literacy: Analysisofissues and policies. Por meio dos resultados obtidos, verificou-se que os países pesquisados estão adotando políticas de capacitação da população quanto aos conceitos dos créditos, investimentos e de instrumentos de seguros e demonstram a preocupação com a população jovem. Um dos maiores entraves para o sucesso incide na falta de percepção da população com relação aos benefícios que a educação financeira traz. 38 Em pesquisa realizada pela OCDE (2005), para aqueles que não são filiados à organização, foram apresentados alguns princípios e recomendações que são listados no Quadro 4. Quadro 4 - Princípios e recomendações de educação financeira - OCDE Princípios e recomendações de educação financeira - OCDE 1- A educação deve ser promovida de uma forma justa e sem viés, ou seja, o desenvolvimento das competências financeiras dos indivíduos precisa ser embasado em informações e instruções apropriadas, livres de interesse particular. 2- Os programas de educação financeira devem focar as prioridades de cada país, isto é, se adaptarem à realidade nacional, podendo incluir, em seu conteúdo, aspectos básicos de um planejamento financeiro, como as decisões de poupança, de endividamento, de contratação de seguros, bem como conceitos elementares de avaliar a situação de seus planos de pensão, necessitando agir apropriadamente para defender seus interesses. 3- O processo de educação financeira deve ser considerado, pelos órgãos administrativos e legais de um país, como um instrumento para o crescimento e a estabilidade econômica, sendo necessário que se busque complementar o papel exercido pela regulamentação do sistema financeiro e pelas leis de proteção ao consumidor. 4- O envolvimento das instituições financeiras no processo de educação financeira deve ser estimulado, de tal forma que a adotem como parte integrante de suas práticas de relacionamento com seus clientes, provendo informações financeiras que estimulem a compreensão de suas decisões, principalmente nos negócios de longo prazo e naqueles que comprometam expressivamente a renda atual e futura de seus consumidores. 5- A educação financeira deve ser um processo contínuo, acompanhando a evolução dos mercados e a crescente complexidade das informações que os caracterizam. 6- Por meio da mídia, devem ser veiculadas campanhas nacionais de estímulo à compreensão dos indivíduos quanto à necessidade de buscarem a capacitação financeira, bem como o conhecimento dos riscos envolvidos nas suas decisões. Além disso, precisam ser criados sites específicos, oferecendo informações gratuitas e de utilidade pública. 7- A educação financeira deve começar na escola. È recomendável que as pessoas se insiram no processo precocemente. 8- As instituições financeiras devem ser incentivadas a certificar que os clientes leiam e compreendam todas as informações disponibilizadas, especificamente quando forem relacionadas aos negócios de longo prazo ou aos serviços financeiros com consequências relevantes. 9- Os programas de educação financeira devem focar, particularmente, aspectos importantes do planejamento financeiro pessoal, como a poupança e a aposentadoria, o endividamento e a contratação de seguros. Os programas devem ser orientados para a construção da competência financeira, adequando-se a grupos específicos, e devem ser elaborados da forma mais personalizada possível. Fonte: SAITO; SAVOIA; PETRONI, 2006. 10 - A próxima seção tem por objetivo apresentar a educação financeira no Brasil. 39 2.5 Educação financeira no Brasil Não se pode discorrer sobre educação financeira no Brasil sem deixar de consultar e analisar algumas leis que regem esta República, como a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) (Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996), que relata como o princípio da educação constitui obrigação da família e do Estado. Segundo esta lei, a educação é dever da família e do Estado, e, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho (BRASIL, 1996). A educação plena requer a formação intelectual, moral e física, nela incluindo, também, a formação para lidar com as finanças. Nesse sentido, Carvalho (1999) realça que a escola é o lugar ideal para se implantar uma nova cultura financeira. O autor, apoiado no Código de Defesa do Consumidor, na pesquisa de mercado e nos conhecimentos matemáticos envolvidos, acredita que se pode construir atividades que orientem os alunos na hora de escolher entre comprar à vista ou a prazo, bem como a recorrer a seus direitos, inclusive quando pagam antecipadamente uma prestação que tem juros embutidos. Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) que definem as diretrizes para a proposta pedagógica dos diversos cursos ministrados pelas escolas brasileiras sugerem a necessidade de se trabalhar temas cotidianos dentro da sala de aula (BRASIL, 1998). Citando o texto dos PCNs, pode-se ver o seguinte comentário, que se relaciona com a necessidade de se educar financeiramente os alunos, em face do surgimento de um novo quadro econômico tanto no mundo quanto no Brasil: [...] com a criação permanente de novas necessidades transformando bens supérfluos em vitais, a aquisição de bens se caracteriza pelo consumismo. O consumo é apresentado como forma e objetivo de vida. É fundamental que nossos alunos aprendam a se posicionar criticamente diante dessas questões e compreendam que grande parte do que se consome é produto do trabalho, embora nem sempre se pense nessa relação no momento em que se adquire uma mercadoria. É preciso mostrar que o objeto de consumo, seja um tênis ou uma roupa de marca, um produto alimentício ou aparelho eletrônico etc., é fruto de um tempo de trabalho, realizado em determinadas condições. Quando se consegue comparar o custo da produção de cada um desses produtos com o preço de mercado é possível compreender que as regras do consumo são regidas por uma política de 40 maximização do lucro e precarização do valor do trabalho (BRASIL, 1998, p.36). Corroborando as ideias de Carvalho (1999), o mesmo texto dos Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1998) acrescenta os aspectos ligados aos direitos do consumidor, que também necessitam da Matemática para serem mais bem compreendidos: para analisar a composição e a qualidade dos produtos e avaliar seu impacto sobre a saúde e o meio ambiente, ou para analisar a razão entre menor preço/maior quantidade, por exemplo. Nesse caso, situações de oferta como: compre três e pague dois nem sempre são vantajosas, pois geralmente são feitas para produtos que não estão com muita saída; portanto, não há, muitas vezes, necessidade de comprá-los em grande quantidade. Pode ser ainda que os produtos estejam com os prazos de validade próximos do vencimento. Habituar-se a analisar essas situações é fundamental para que os alunos possam reconhecer e criar formas de proteção contra a propaganda enganosa e contra os estratagemas de marketing a que são submetidos os potenciais consumidores (BRASIL, 1998, p.21). De acordo com os PCNs (BRASIL, 1998, p. 64): “se a escola pretende estar em consonância com as demandas atuais da sociedade, é necessário que trate de questões que interferem na vida dos alunos os quais se veem confrontados no seu dia a dia”. Ainda de acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais, as questões relativas à globalização, as transformações científicas e tecnológicas e a necessária discussão ético-valorizativa da sociedade apresentam para a escola a imensa tarefa de instrumentalizar os jovens para participar da cultura, das relações sociais e políticas. A escola, ao se posicionar dessa maneira, abre a oportunidade para que os alunos aprendam sobre temas normalmente excluídos. Entretanto, mesmo depois de mais de uma década da promulgação da LDB e de o termo e os conceitos sobre educação financeira terem sido introduzidos no país, podese observar que ainda existe uma carência de produção acadêmica que possa fundamentar o tema em questão, como foi verificado na consulta aos sites específicos já citados neste trabalho (BRASIL, 1998, p. 47). Referindo-se à educação financeira de jovens brasileiros, observa-se que o tema não tem sido tratado com destaque pelos documentos oficiais nacionais que estabelecem as políticas educativas no Brasil, dentre eles as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação (DCN) e os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN). Saito (2007, p.7) afirma que: “[...] não há especificamente trabalhos sobre a implantação da Educação em Finanças Pessoais nos currículos nacionais”. Saito 41 (2007) e referindo-se à educação financeira, adverte que apesar da relevância do assunto, o Brasil não têm planejamentos educacionais voltados para o processo de socialização econômica. No Brasil, alguns projetos e ações foram desenvolvidos por organismos governamentais e empresas privadas. Saito (2007) cita as seguintes instituições: Banco Central do Brasil, que possui o Programa de Educação Financeira (PEF), uma proposta de orientação da sociedade sobre assuntos econômicos; a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) promove palestras e disponibiliza cartilhas e um site com o propósito de orientar as pessoas sobre investimentos; a BM&F Bovespa criou o Programa Educacional BOVESPA com o objetivo de discutir a importância da Bolsa de Valores em um país e o funcionamento do mercado de ações; a Federação Brasileira dos Bancos (FEBRABAN) disponibiliza informações sobre uso de produtos financeiros oferecidos pelas instituições bancárias; a A Centralização de Serviços dos Bancos S/A (SERASA) criou o Guia Serasa de Orientação ao Cidadão, buscando auxiliar a gestão dos recursos financeiros; o Banco Itaú que disponibiliza o Guia do Crédito Consciente para fornecer orientações sobre a elaboração de um orçamento familiar, além de discutir o uso de empréstimos e financiamentos. Dentre as iniciativas públicas, no ano de 2007, o governo brasileiro criou um programa denominado Estratégia Nacional de Educação Financeira (ENEF), com o intuito de fomentar a cultura financeira no país. Constituído de um grupo de trabalho com representantes do Banco Central do Brasil, da CVM, da Secretaria de Previdência Complementar e da Superintendência de Seguros Privados (SUSEP). Segundo Brasil (2010), O objetivo do programa é desenvolver uma proposição de Estratégia Nacional de Educação Financeira, prevendo a promoção de um inventário nacional de ações e de projetos de educação financeira no país, além de uma pesquisa que mapeie o grau de conhecimento financeiro da população brasileira. Além das ações destinadas ao público-alvo para adultos, o ENEF prevê ações voltadas para as escolas, seguindo uma tendência mundial. Este organismo tem como principais objetivos promover e fomentar a cultura de educação financeira no país, ampliar a compreensão do cidadão, para que seja capaz de fazer escolha consciente quanto à administração de seus recursos e contribuir para a eficiência e solidez dos mercados financeiros, de capitais, de seguros, de previdência e de capitalização (BRASIL, 2010, p. 2). 42 O programa ENEF traz também diretrizes para a educação financeira dos adultos, apresentando os objetivos e conceitos relacionados ao assunto. As orientações devem ser transmitidas da forma mais simples possível, observando a capacidade de compreensão de cada indivíduo, conforme alínea “a” do § 1º do art. 5º, da Deliberação nº 03 do Comitê de Regularização e Fiscalização dos Mercados Financeiros, de Capitais, de Seguros, de Previdência e Capitalização (COREMEC) que relata: [...] a) público-alvo a ser atingido, estabelecendo a devida segmentação, conforme a prioridade sugerida: por faixa etária (crianças, jovens, adultos e terceira idade), escolaridade (fundamental, médio, superior e pósgraduação), de renda (classe econômica), por atividade (pequenos e médios empreendedores, trabalhadores, professores, profissionais de mercado, gerentes de bancos, magistrados, membros do Ministério Público etc.) ou por região (BRASIL, 2010, p.15). Alguns públicos-alvo, temas e ações foram selecionados pelo ENEF: Público-alvo: militares; servidores públicos; trabalhadores formais e informais; profissionais liberais; estudantes universitários; donas de casa, desempregados; aposentados; trabalhadores rurais; beneficiários de programas sociais; brasileiros residentes no exterior e outros. Temas: inclusão financeira; proteção ao consumidor; finanças pessoais; noções de Economia; noções do sistema financeiro nacional; crédito e microcrédito; consumo consciente; previdência; preparação para a aposentadoria; investimentos; seguros; capitalização e outros. Ações: portal; palestras; publicações e cartilhas; seminários; encontros regionais; concursos; centrais de atendimento; campanhas publicitárias; cursos; programas de televisão; programas de rádio; feiras; espaços culturais; visitas programadas e outros. O ENEF de acordo com Brasil (2010) propõe um plano de ações de curto, médio e longo prazo sobre educação financeira. Esse plano deverá conter, pelo menos, as seguintes ações: a) Formação de tutores e multiplicadores, para alavancar as ações de estratégia, sendo fundamental capacitar grande número de pessoas que 43 possam multiplicar conhecimentos de educação financeira para diversos públicos; b) Criação de grupos tutoriais serão constituídas para atuar na formação e no acompanhamento desses multiplicadores, esclarecendo dúvidas, participando de fóruns de discussão e de processos de avaliação das ações realizadas; c) Constituição de fórum virtual e desenvolvimento de espaço no portal do ENEF, com a principal finalidade de fomentar discussões entre tutores e multiplicadores sobre temas de interesse da educação financeira, esclarecendo dúvidas e identificando pontos de aprimoramento do ENEF; d) Promoção de cursos sobre temas de educação financeira e desenvolvimento de cursos presenciais e à distância sobre temas específicos de educação financeira conforme o público-alvo. O projeto piloto foi implementado em 891 escolas voluntárias do ensino médio, treinando 1.200 professores e atingindo 27.000 alunos com idades entre 14 a 17 anos. Esse projeto foi realizado em parceria com o Banco Mundial entre maio de 2010 e dezembro de 2011, e é considerado o maior estudo feito na área pelo banco. Foi realizada uma avaliação do projeto piloto, antes e depois da aplicação do material. Foram aplicados dois questionários aos alunos, um questionário aos professores e outro para os pais ou guardiões legais. Para os alunos, os instrumentos foram desenvolvidos para fornecer medidas sobre: Educação financeira, Autonomia financeira e Intenção de poupar. Testes de linha de base foram realizados em agosto de 2010, e o acompanhamento foi feito em novembro do mesmo ano. O monitoramento qualitativo mostrou que os professores, antes do programa, tinham pouco interesse sobre o tema, temiam o excesso de trabalho, a falta de treinamento e o fato de que isso seria imposto pelo governo. Passado o Módulo I, houve um revés neste cenário, e os professores mostraram-se conscientes da importância e da necessidade urgente de se trabalhar o tema. Houve disputas para fazer parte do programa, e as contribuições com ideias para trabalhar com as famílias foram várias (BRASIL, 2010). 44 Inicialmente, os estudantes apresentaram o mesmo desinteresse sobre o assunto que os professores, possuíam pouco ou nenhum controle de suas despesas, não viam importância em assuntos financeiros e tinham pressa para consumir imediatamente. Depois do Módulo I, eles se mostraram bastante interessados no assunto e participaram ativamente das aulas. Como resultado, verificou-se que conseguiram guardar um pouco de dinheiro, desenvolveram maior consideração por pequenas quantias e trocaram experiências financeiras com seus pares. Com base no teste, um índice de proficiência financeira de 0 a 100 foi calculado para os estudantes. Na linha de base, a pontuação média dos grupos de controle e tratamento foi 50. Na pesquisa seguinte, a proficiência financeira era significativamente mais alta no grupo de tratamento (60) do que no grupo de controle (56). Além disso, o conhecimento autorrelatado sobre taxas de juros, empréstimos e financiamentos, seguros, imposto de renda e pagamentos mínimos de faturas de cartão de crédito era mais de 10% mais elevada no grupo de tratamento do que no grupo de controle. As atitudes e o comportamento também revelaram-se diferentes entre os grupos de tratamento e de controle. A autonomia financeira 46 cresceu dois pontos no grupo de tratamento em comparação à pontuação de 49 pontos do grupo de controle. A intenção de poupar [medidas com base na Teoria da Ação Racional de Ajzen e Fishbein (197347, 198048)] no grupo de tratamento foi 5% mais alta que no grupo de controle. Essa intenção se refletiu em comportamento real de poupança, posto que o grupo de tratamento poupou 10% mais que o grupo de controle. Além disso, uma parcela maior do grupo de tratamento elaborou listas mensais de gastos, negociou formas de pagamento e buscou modelos ou marcas similares antes de comprar, e uma fração menor fez compras parceladas. Assim, o Programa de EF aumentou o conhecimento financeiro dos alunos, trouxe melhorias nas atitudes financeiras e mudou o comportamento financeiro dos participantes, visto que passou a ser mais provável que os estudantes no grupo de tratamento tenham comportamentos financeiros mais inteligentes, conversem com suas famílias sobre questões financeiras e ajudem na organização do orçamento do lar. 45 Pode-se destacar a divulgação de vários livros que abordam o sentido de uma educação financeira, encontrando-se na literatura artigos e livros que vão do genérico até os destinados a públicos específicos. Para as mulheres, cita-se: (DSOP) - O que as mulheres querem saber sobre finanças pessoais (VEIGA, 2007). As mulheres e o dinheiro (ORMAN, 2008). Mulheres boazinhas não enriquecem (FRANKEL, 2005). Fique rica sem culpa: livre-se dos maus hábitos que empobrecem sua vida (TRUEMAN, 2007). As leis do dinheiro para as mulheres (BUSSINGER, 2008). Valor feminino: desperte a riqueza que há em você (VILLAS BOAS, 2007). Outro meio de difusão da educação financeira é por meio do aprendizado nas escolas. Em São Paulo surgiu um curso de pós-graduação na área de educação financeira com o nome de 'Pós-graduação em educação e coaching financeiro', com parceria do Dsop e a Faculdade de Ciências Gerenciais de Jundiaí (FCG), pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), instituição privada. Também no Rio de Janeiro, surge uma escola voltada exclusivamente para a educação financeira chamada de Escola de Educação Financeira, que funciona no bairro de Vila Isabel, pela FGV, instituição privada (2010). O Governo brasileiro começou em 2011 um projeto piloto com 450 escolas públicas de ensino médio de São Paulo, do Rio de Janeiro, de Tocantins, do Ceará, do Distrito Federal e de Minas Gerais. O objetivo é inserir conceitos sobre educação financeira nas aulas de português, matemática, sociologia e história, utilizando material didático específico sobre riscos e vantagens de compras a vista, a prazo, entre outros. Segundo Marchetti (2011), apesar de identificar os esforços desencadeados para implantação de um projeto de educação financeira no Brasil, não foram encontrados resultados com esses programas. Provavelmente, isso se deve ao fato de se tratar de iniciativas isoladas, nem sempre assumidas pelos gestores educacionais, e pela falta de divulgação do acompanhamento dessa experiência gerenciada pelo governo brasileiro. Pesquisa feita pelo Banco Mundial e BM&F Bovespa, em 2010, sobre a Avaliação de Impacto do Projeto Educação Financeira nas Escolas em 2010, realizada no Rio de Janeiro, revelou que a educação financeira nas escolas afeta positivamente o conhecimento dos jovens brasileiros sobre a economia. Pesquisas como SPC Brasil 46 sobre Educação Financeira (2013); SERASA EXPERIAN, renda mais alta não melhora comportamento financeiro do brasileiro (2013); Federação do Comércio (FECOMERCIO), Hábitos de Consumo, Endividamento e Educação Financeira do Jovem de Belo Horizonte (2012); e diversas outros, são realizadas com o intuído de investigar os hábitos de consumo e endividamentos da população. Um dos principais artigos usado como referência é do Savoia, Saito e Santana (2007), que mostra o início da educação financeira no Brasil, bem como a contextualização dela no mundo. Conforme pesquisas citadas anteriormente entende-se que as questões matemáticas devem ser vistas como temas dinâmicos, sendo abordadas no contexto do cidadão, explorando sua lógica e seus conceitos e gerando novos conhecimentos. As atividades não deveriam ser desenvolvidas como forma de resolução de uma lista de exercícios, mas por meio de atividades apropriadas ao nível dos alunos e contextualizadas de forma a se tornarem estimulantes e compatíveis com o contexto social. Estas atividades podem ser realizadas de diversas maneiras como, por exemplo, na forma de projetos, que permitem a participação dos alunos, o uso de diferentes materiais e de dados que estimulam o pensamento sobre a importância de se utilizar a matemática na interpretação da realidade. Pensando na resolução de problemas concretos, essas atividades levam o aluno a procurar, nos livros e no professor, subsídios para desenvolver seu raciocínio diante de diferentes situações. Especialmente para o desenvolvimento desse tipo de atividade, é perfeitamente possível pensar no uso da Matemática de diversas maneiras, pois ela está presente em todos os aspectos da sociedade e é encontrada em todas as culturas. Para Bishop (2001), é justamente o componente cultural da matemática que permite que sejam feitas pesquisas, intentando imitar algumas atividades relacionadas ao conhecimento matemático, levando os alunos à experimentação, à investigação e, finalmente, à comunicação escrita de suas experiências. 47 2.6 Principais programas de educação financeira no Brasil A seguir, são apresentados alguns programas de Educação Financeira em desenvolvimento no Brasil. 2.6.1 Banco Central do Brasil Com a crescente importância do tema sobre educação financeira, o Banco Central, em 2012, designou um diretor, para construir uma nova área para tratar desses assuntos. Foram criados três departamentos: o Departamento de Educação Financeira, para conduzir assuntos de inclusão e educação financeira; o Departamento de Atendimento Institucional, para lidar com os questionamentos e reclamações dos cidadãos; e o Departamento de Comunicação, para gerenciar toda a comunicação do Banco com a sociedade (BACEN, 2014). Em 2003, o Banco Central institui um programa sobre educação financeira, o “BC Cidadania”, cujo objetivo principal é oferecer aos cidadãos meios para adquirir competências para a tomada de decisões relacionadas às finanças pessoais. Os campos de ação que compõem o programa são a utilização do dinheiro, o encorajamento de poupança e uso responsável do crédito, a promoção de mudança comportamental baseada nas melhores práticas da finança pessoal e o relacionamento do cidadão com o Sistema Financeiro Nacional (SFN) (BACEN, 2014). O Banco Central participa e integra o Comitê Nacional de Educação Financeira (CONEF), responsável por definir planos, programas e ações e por coordenar a execução da ENEF. No âmbito do comitê, o Banco Central é responsável por: 1. Exercer periodicamente a presidência, que se dá em regime de rodízio, entre Banco Central do Brasil, CVM, Superintendência Nacional de Previdência Complementar (PREVIC), Superintendência de Seguros Privados (SUSEP) e Ministério da Fazenda; 2. Coordenar o desenvolvimento da educação financeira de adultos, no âmbito da ENEF; 3. Exercer a Secretaria-Executiva do Comitê. 48 O programa de educação financeira do Banco Central conta com inúmeras ações próprias, visando criar condições para que os indivíduos possam administrar seus recursos financeiros de maneira consciente e, dessa forma, contribuir para assegurar a estabilidade do poder de compra da moeda e um sistema financeiro sólido e eficiente (BACEN, 2014). A conscientização e a melhoria no desempenho financeiro de cada indivíduo têm contribuído para um melhor desempenho da economia brasileira. Esse fato tem levado o Banco Central a atuar junto à sociedade, trabalhando para educá-la financeiramente e inclui-la. O Banco Central espera que, ao promover ações de educação financeira, possa atingir a dimensão comportamental, atitudinal e cognitiva. Na esfera atitudinal e na comportamental, os objetivos são incentivar o hábito de poupança, estimular a responsabilidade no uso do crédito e promover mudanças de comportamentos com base nas boas práticas de finanças pessoais (BACEN, 2014). No âmbito cognitivo, o programa de educação financeira do Banco Central tem por objetivos proporcionar conhecimentos sobre o uso da moeda, divulgar os canais de acesso da população ao SFN e divulgar o papel do próprio Banco Central. O programa é voltado para pessoas que usam os produtos e serviços financeiros. Entre os diversos segmentos da sociedade brasileira, classificados de acordo com seu ciclo de vida, os estudantes de ensino superior, além de outros segmentos, são considerados prioritários (BACEN, 2014). 2.6.2 Comissão de Valores Mobiliários (CVM) A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) (2014) desenvolve um programa de orientação e de defesa do investidor (PRODIN) (1998), e dentro deste programa, é desenvolvida a educação do investidor. Algumas ações deste programa são: Investidores em geral, como o Portal do Investidor 55, que traz um ambiente amigável para crianças, quatro cursos online, os Encontros com Investidores (eventos abertos, realizados em cidades diferentes, com palestras para 49 ampliar o conhecimento dos cidadãos e divulgar o mercado de capitais), publicações educacionais (cadernos e guias voltados para o investidor); Grupos específicos, como servidores públicos e seus familiares; Estudantes universitários, como um concurso de monografias, em parceria com o mercado, e o Circuito Universitário, um circuito de palestras em universidades; Consumidores de serviços financeiros (publicações educacionais com a SENACON); Consumidores de serviços financeiros (publicações educacionais com a SENACON); A CVM, por meio do Comitê Consultivo de Educação, possui diversos programas em parcerias com entidades representativas do mercado de capitais reconhecidas. A partir de 2006, esse Comitê oferece o Prêmio Imprensa para jornalistas, e o Programa TOP (Treinamento de Professores), uma atualização em mercados de capitais para professores universitários. A CVM também lançou um canal educacional (CVM Educacional) no Facebook, no Twitter e no YouTube (CVM, 2014). A CVM lança, em abril de 2012, o Ambiente Virtual de Aprendizagem, com cursos online gratuitos que objetivam a disseminação de conhecimentos sobre o mercado de valores mobiliários, incluindo a educação financeira (CVM, 2014). O portal oferece novos conteúdos com conceitos básicos sobre finanças pessoais e investimentos: Educação Financeira I (Planejamento Financeiro Pessoal): conceitos básicos relacionados ao orçamento pessoal, planejamento, crédito, endividamento, poupança e investimento. Investindo em Valores Mobiliários: Oferece conhecimentos básicos, abordando temas como risco, rentabilidade, perfil do investidor, cuidados ao investir e mecanismos de proteção e defesa, além de informações sobre 50 diferentes alternativas de investimento (ações, debêntures, fundos e clubes de investimento etc.) (CVM, 2014). Os principais direitos e deveres dos acionistas minoritários de companhias abertas são precedidos de uma introdução aos conceitos básicos (sociedade anônima, companhia aberta e fechada, capital social, subscrição e integralização, patrimônio, entre outros), o curso apresenta, em uma forma didática e introdutória, os principais deveres e os direitos dos acionistas, bem como os procedimentos e regras aplicáveis a cada um (CVM, 2014). 2.6.3 Superintendência Nacional de Previdência Complementar (PREVIC) Uma das principais ações de educação financeira da Superintendência Nacional de Previdência Complementar (PREVIC) é buscar incentivar as administradoras de planos de previdência privada a desenvolverem seus próprios projetos de educação financeira, visando aumentar os conhecimentos financeiros de seus empregados, participantes ativos, pensionistas e beneficiários (BACEN, 2014). Essa estratégia se comprovou eficiente nos números divulgados em 2013: o número de empregados que participavam de previdência privada e que estavam engajados em projetos de educação financeira cresceu de 276.705, em 2010, para 1.604.189. A PREVIC tem focado a educação financeira em: Participantes e beneficiários (perfis de investimento, preparação para aposentadoria, aumento de contribuições e campanhas de adesão); Patrocinadores (integração, treinamento de multiplicadores e incentivo à adesão ao sistema); Entidades de previdência privada, (governança, treinamento, responsabilização (accountability), planejamento estratégico e certificação de gestores). 51 2.6.4 Programas Setoriais – Governo O Ministério da Fazenda em 2002, oito anos antes da criação do ENEF, por meio da Escola de Administração Fazendária (ESAF), coordena o Programa Nacional de Educação Fiscal (PNEF). Esse programa busca desenvolver nos cidadãos a consciência dos seus direitos e deveres e fazer com que eles possam participar da destinação dos recursos públicos, encorajando o controle social para o exercício efetivo da cidadania (BACEN, 2014). O Ministério da Fazenda desenvolveu diversas parcerias. Em nível federal, são o Congresso Nacional, os Ministérios da Educação e da Previdência Social, a Controladoria Geral da União, a Secretaria Federal de Orçamento, a Receita Federal e a Secretaria do Tesouro Nacional. Em nível estadual e municipal, as secretarias de educação e de finanças participam do programa (BACEN, 2014). O PNEF concentra suas atividades no ensino fundamental e no ensino médio, e apresenta como característica o treinamento de professores para divulgar conteúdos sobre cidadania fiscal. Recentemente, houve uma grande ampliação do seu público prioritário, como os servidores públicos, os universitários e a sociedade organizada. Os gestores de políticas públicas e os líderes de comunidade também se tornaram públicos prioritários (BACEN, 2014). 2.6.5 Ministério da Previdência Social (MPAS) A educação financeira ministrada dentro do Ministério da Previdência Social é destinada a dois público alvo: os segurados do Regime Geral de Previdência Social (RGPS) e os participantes dos fundos de pensão (PEP, 2014). Por meio do Programa de Educação Previdenciária (PEP) (2014), o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) busca alcançar a população economicamente ativa e mais de 24 milhões de aposentados. O PEP disponibiliza informações sobre os direitos e as condições de acesso aos beneficiários do sistema da Previdência Social, no qual são oferecidas orientações sobre como fazer um planejamento financeiro. Essas informações são disponibilizadas por meio de ações presenciais 52 em mais de cinco mil municípios, pela realização de cursos à distância e, também, parcerias com outros organismos governamentais nos três níveis federativos. Os participantes recebem informações por meio de programas de educação financeira realizados pelas próprias entidades supervisionadas. Esses programas são supervisionados e encorajados pelos órgãos regulador e supervisor. Os programas lidam com noções sobre direitos, orçamentos e finanças pessoais, assim como a preparação para a aposentadoria (PEP, 2014). 2.6.6 Programas Setoriais – Sociedade Civil A principal bolsa de Valores do Brasil, a Bolsa de Mercadorias e Futuros - Bolsa de Valores de São Paulo (BM&FBOVESPA), vem ao longo dos anos compreendendo que os indivíduos educados financeiramente estão melhores preparados para as tomadas de decisões sobre investimentos e sobre a utilização do dinheiro. Por essa razão, a BM&FBOVESPA apóia, desde 2007, as ações do ENEF (BM&FBOVESPA, 2014). A BM&FBOVESPA na sua página da internet possui diversos materiais educativos como cursos, vídeos e simuladores. Há, também, um curso específico na área de gestão de finanças pessoais, que pode ser adaptado para diferentes públicos alvos, como universitários, família, mulheres adultas, adolescentes ou idosos (BM&FBOVESPA, 2014). Pensando em uma melhor capacitação, a BM&FBOVESPA oferece dispositivos que possam ajudar a melhorar suas capacidades de investimento, como cursos sobre mercados de ações e títulos do governo em nível básico; macroeconomia, análise fundamental, gestão de risco para portfólios de ações, tributação de mercado de ações ou derivativos e mercado de opções em nível intermediário. E o Instituto Educacional BM&FBOVESPA oferece cursos de especialização, certificações para profissionais do mercado e MBAs presenciais e online. Outro canal de capacitação utilizado é permitir o acesso aos vídeos educacionais e eventos da Bovespa. Essa capacitação está ligada diretamente à conscientização de tomadas de decisão que possam ajudar a manter o nível dos investimentos (BM&FBOVESPA, 2014). 53 A BM&FBOVESPA acredita que o conhecimento seja a base para criar uma cultura de poupança e formação de patrimônio em nosso país. A educação financeira é oferecida com intuito de que os indivíduos possam entender os conceitos dos mercados de capitais e de derivativos, e, desse modo, possam planejar melhor suas finanças (BM&FBOVESPA, 2014). Na prática, isso significa ações com visitas monitoradas à Bolsa de Valores, palestras regionais, viagens pelo Brasil com unidade móvel de atendimento, aulas gratuitas, concursos estudantis, parcerias com instituições de ensino, simuladores, portais interativos e até programa de televisão. O conjunto das iniciativas de educação financeira da Bolsa de Valores já foi apresentado como caso de sucesso pela World Federation of Exchanges (WFE), a Federação Mundial das Bolsas de Valores (BM&FBOVESPA, 2014). 2.6.7 Educação financeira em empresas privadas O tema educação financeira em empresas privadas tem ganhado destaque na contemporaneidade, o que pode ser verificado pelo aumento da abordagem do tema nos sítios dessas empresas. Como primeiro exemplo desse aumento, cita-se a Federação Brasileira de Bancos (FEBRABAN), que colocou no ar o portal 'Meu bolso em dia', com dicas e informações sobre administração das finanças pessoais ou qualquer assunto relacionado a bancos. O portal ajuda a informar sobre modalidades de crédito, investimentos, títulos do tesouro, câmbio, operações bancárias cotidianas, como cheques, cartões de débito e de crédito, taxas bancárias, transferências, conta-salário e contas estudantis, dentre outros temas e faz parte da Escola de Cidadania Financeira, do Programa FEBRABAN de Educação Financeira, que destinou sete milhões de Reais para o desenvolvimento do portal (FEBRABAN, 2014). Além disso, o site possui uma área abordando assuntos como planejamento financeiro, controle de orçamento, consumo consciente, priorização e resolução de passivos, formas de evitar o endividamento, etc.. Também, são oferecidas ferramentas para o planejamento financeiro por meio de um software que se chama 54 jimbo, para auxiliar no orçamento doméstico; calculadoras para comparar opções de abastecimento de automóveis; testes para avaliar as capacidades de consumo, gestão do dinheiro, perfis de investimento, utilização segura da Internet (FEBRABAN, 2014). A caravana 'Meu bolso em dia' faz parte de um projeto que abrange uma série de eventos abertos em todo o país, com performances artísticas, jogos e atividades ligadas à educação financeira. Segundo a entidade, o projeto foi motivado pelo aumento do consumo, da bancarização e do crédito. No ano 2000, conforme dados da FEBRABAN, havia 48,2 milhões de contas correntes ativas. Em 2008, esse número subiu para 82,6 milhões de contas e, em 2013, chegou a 97 milhões de contas correntes ativas (FEBRABAN, 2014). Com a ação, a FEBRABAN espera gerar conhecimento que possa produzir, a longo prazo, transformações positivas no comportamento das pessoas, melhorando sua qualidade de vida e sua relação com o dinheiro (FEBRABAN, 2014). Partindo dessas premissas, alguns bancos já disponibilizam em seus sítios na internet informações sobre o tema Educação Financeira, como é o caso do Banco Mercantil do Brasil (BMB), que vem desenvolvendo um Programa, com o intuito de orientar os funcionários e os clientes sobre a maneira de gerenciar o seu dinheiro. Para isso, dividiu os conceitos de educação financeira em temas como Mercantil do Brasil e você, família, independência, maturidade e empreendedor. Além disso, oferece sugestões de leitura sobre o tema, dispondo em seu sitio artigos e indicação de livros e de revistas (BMB, 2014). Este Programa de Educação Financeira constitui o estudo de caso abordado na presente dissertação. Igualmente, o Banco Itaú S/A disponibiliza em seu sítio o programa 'Gerenciar o meu dinheiro' que tem dentre as orientações, opções de como planejar os seus gastos e usar conscientemente o seu dinheiro (ITAU, 2014). Na mesma perspectiva, o banco BRADESCO S/A oferece informações sobre educação financeira em seu sítio na internet, dentre os temas constam: quem é você, qual seu momento financeiro, minhas receitas, minhas despesas, meus 55 projetos, produtos financeiros, crédito responsável e ferramentas úteis (BRADESCO, 2014). Saindo do segmento de bancos, uma empresa privada que oferece em seu sítio informações e dicas sobre a educação financeira é a MASTERCARD, que direciona aos seus clientes o programa educacional 'Consumidor Consciente'. A plataforma educacional oferece ferramentas para auxiliar o consumidor a entender os princípios de finanças pessoais, a adotar hábitos de consumo responsáveis e a administrar melhor suas finanças pessoais (MASTERCARD, 2014). O programa é disponibilizado em três idiomas: inglês, espanhol e português, e é disponibilizado em países como Brasil, México, Costa Rica, República Dominicana, Porto Rico e toda a região da América Latina, incluindo o Caribe, dispõe de blogs e podcasts locais e regionais e de outras ferramentas de conteúdo educacional. O programa também pode ser adotado por instituições financeiras, comerciantes e outras entidades que desejam educar seus consumidores quanto às questões financeiras (MASTERCARD, 2014). Outra empresa que disponibiliza informações sobre educação financeira é a Confederação Nacional das Empresas de Seguros Gerais, Previdência Privada e Vida, Saúde Suplementar e Capitalização (CNSEG), que criou em 2010 o portal 'Tudo sobre Seguros', mantido pela escola nacional de seguros. O objetivo é fornecer informações sobre seguros, previdência privada suplementar e capitalização, além de informar aos consumidores sobre o funcionamento do mercado e dos produtos (CNSEG, 2014). O público-alvo do portal 'Tudo sobre Seguros' são os indivíduos, as empresas e a mídia em geral, interessada em informações sobre seguro. O site busca ser uma referência no Brasil nos assuntos abordados, mais especificamente, no concernente a informar e educar consumidores sobre assuntos relacionados a seguros, contribuindo, assim, para o desenvolvimento do mercado de seguros domésticos em razão da complexidade dos contratos, da falta de conhecimento do publico e dos conflitos gerados pela falta de informação (CNSEG, 2014). 56 O portal possui a finalidade de ser uma ferramenta de ajuda, oferecendo uma vasta gama de produtos do mercado de seguros, além de descrever e explicar detalhadamente cada produto oferecido, utilizando uma linguagem acessível ao consumidor. O portal fornece, também, análises e indicadores financeiros, além de abordar assuntos do momento na indústria de seguros (CNSEG, 2014). A CNSEG alinhada políticas de sustentabilidade no âmbito da governança corporativa e social, e, por meio do Programa da Confederação Financeira da CNSEG, tem promovido encontros para discutir o tema educação financeira (CNSEG, 2014). Após as referências conceituais, delineou-se a metodologia adotada para a pesquisa, disposta no capítulo seguinte. 57 3 PROCEDIMENTOS METODOLOGICOS Este capítulo descreve o percurso metodológico utilizado na realização desta pesquisa, apresentando o tipo de pesquisa quanto à abordagem, aos fins e aos meios, referindo-se aos sujeitos da pesquisa, às técnicas de coleta e de análise e interpretação dos resultados. 3.1 Caracterização da pesquisa quanto a abordagem, aos fins e aos meios Considerando que o objetivo proposto neste estudo envolve aspectos relacionais e subjetivos entre sujeitos de uma organização; sendo interesse a coleta de dados sobre o significado de um fenômeno a partir da análise de documento e das percepções dos indivíduos, optou-se, nesta pesquisa, pela abordagem qualitativa. Segundo Richardson (1999, p.39) a pesquisa qualitativa é “adequada para entender a natureza de um fenômeno social”. Caracteriza-se como uma tentativa de detalhamento dos significados apresentados, a qual irá fornecer uma maior flexibilidade ao autor (BAUER; GASKELL, 2002). A pesquisa constitui um meio para compreender um fenômeno dentro do contexto do qual é parte. Segundo Godoy (1995), nessa abordagem, valoriza-se o contato direto e prolongado do pesquisador com o ambiente e a situação que está sendo estudada. Quanto aos fins, a pesquisa realizada se caracteriza como um estudo de caráter exploratório. Diz-se que a pesquisa é exploratória quando existem poucos estudos sobre o tema pretendido, e o presente trabalho constitui uma tentativa inicial de abordar o tema, pretendendo-se gerar questões que engendrem outras pesquisas. Malhotra (2006) apresenta o estudo exploratório com o objetivo de descobrir idéias e percepções, de características flexíveis e versáteis, sendo, muitas vezes, o ponto de partida de toda a concepção de pesquisa. 58 Para Yin (2010), os estudos exploratórios têm por objetivo procurar se familiarizar com um dado fenômeno ou com uma determinada situação, com o intuito de compreendê-los e de formular o problema com maior rigor. Quanto aos meios, foi realizado um estudo de caso numa empresa do setor bancário que vem desenvolvendo um Programa de Educação Financeira.no Brasil. Godoy (2006) narra que o estudo de caso abrange uma ocasião em particular e possui como objetivo explanar o contexto real em que se insere. Para Yin (2010), o estudo de caso é a estratégia escolhida pelo pesquisador para examinar acontecimentos contemporâneos e quando não se pode manipular comportamentos relevantes. De acordo com Ludke e André (1996), um estudo de caso se faz presente onde é possível compreender de maneira singular uma instância. 3.2 Unidade de análise e sujeitos de pesquisa A unidade de análise desta pesquisa é o Banco Mercantil do Brasil, que vem desenvolvendo um Programa de Educação Financeira. Os sujeitos de pesquisa são dois gestores da empresa que são responsáveis pelo planejamento e realização do Programa e que foram indicados como representantes que poderiam prestar informações sobre o assunto. Um deles, Marco Túlio Zerlotini da Silva, exerce o cargo de coordenador de comunicação externa e gestão sócio-ambiental. Outra entrevistada foi Daniela Alencar Terra, que exerce o cargo de supervisora de gestão sócio-ambiental, gerente de marketing e relacionamento. Logo, trata-se de amostra intencional, não probabilística, selecionada em razão de sua representatividade, pois os dois entrevistados são os principais responsáveis pelo programa que constitui objeto de análise. 3.3 Coleta de dados Yin (2010) sugere três grupos principais de recursos para a coleta de dados quando se realiza um estudo de caso: questionários, entrevista e análise de documentos. No 59 caso da presente pesquisa, optou-se, entre as ferramentas disponíveis, por aquelas que se adaptaram aos predicados da pesquisa e ao objeto em análise, que foram a pesquisa documental e as entrevistas semiestruturadas aplicadas aos dois sujeitos. A pesquisa documental permitiu colher dados publicados no sítio da instituição na internet, bem como dados provenientes do Programa que foram repassados ao pesquisador. Para a realização das entrevistas com os dois gestores foi utilizado um roteiro semiestruturado com base no referencial teórico deste trabalho. As entrevistas foram realizadas na tarde do dia 7 de outubro de 2014, no local de trabalho dos gestores. As entrevistas foram gravadas, com autorização dos gestores, e transcritas posteriormente, preservando a fala dos entrevistados. Tal técnica proporcionou as condições necessárias para a obtenção de informações que ajudaram na análise e compreensão da percepção desses gestores com relação à importância da educação financeira no Brasil. 3.4 Técnica de análise e interpretação dos dados A análise de conteúdo é um método concebido originalmente para a investigação psicossociológica e estudo de comunicações em massas. Bardin (2009) define este método como sendo um conjunto de técnicas de análise das comunicações. Segundo Bardin (2009), existem seis métodos: análise categorial, análise de avaliação, análise da enunciação, análise proposicional do discurso, análise da expressão e análise das relações. O método utilizado foi a análise da enunciação apontada por Bardin (2009). Este método considera o discurso como um ato, enquanto a análise clássica considera o material de estudo como um dado. Na produção da palavra, é realizado um trabalho, um sentido, sendo operadas transformações. O discurso não é visto como um produto acabado, mas um processo de elaboração, no qual são incluídas contradições, incoerências e imperfeições. 60 As etapas da análise de conteúdo das entrevistas foram as seguintes: (i) Fase da pré-análise, quando são transcritas as respostas e o pesquisador realiza a leitura rápida, com o objetivo de familiarizar-se com o material dos entrevistados. Nesta fase, deve-se recorrer aos objetivos e pressupostos. Pode-se afirmar que os objetivos apontam para a escolha da entrevista como recurso mais adequado para a coleta de informações verbais e não verbais sobre os sujeitos; (ii) Fase de análise do material, os dados brutos serão trabalhados e decodificados, ou seja, será feito recorte, agregação e categorização dos conteúdos de forma a facilitar a análise a ser realizada (BARDIN, 2009). 61 4. ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DE RESULTADOS Este capítulo compõe-se de dois tópicos: apresentação do Programa de Educação Financeira do Banco Mercantil do Brasil e análise de conteúdo das entrevistas feitas com dois gestores do referido programa. O primeiro tópico resultou da coleta de dados mediante análise documental, as informações foram fornecidas por meio dos documentos fornecidos pelos responsáveis pelo Programa de Educação Financeira, somados às consultas feitas ao site do Banco Mercantil e outros dados obtidos no sitio na internet. Desse modo, foi possível apresentar, de forma detalhada, o Programa. 4. 1 Análise documental, que apresenta o Programa de Educação Financeira do Banco Mercantil Considerada uma das instituições financeiras mais sólidas do país, o Banco Mercantil do Brasil, com sede na capital mineira, em seu sítio na internet demonstra uma atenção especial com o tema Educação Financeira, ao abordar o tema elenca alguns tópicos de real importância e seus desdobramentos. Percebem-se no lado superior esquerdo de sua página institucional os temas distribuídos de forma clara e em linguagem de fácil compreensão, iniciando pelo relacionamento do Banco com o cliente ou visitante do sitio na internet que é: 'Mercantil do Brasil e você'. O Banco reafirma seu conceito de confiança, solidez e credibilidade e busca oferecer a seus clientes produtos e serviços para sua comodidade e segurança financeira. Também chama a atenção para temas ligados à educação financeira e procura abordar temas que geram dúvidas e impasses. Apresenta dicas e opinião de especialistas sobre a conquista do primeiro imóvel, educação financeira dos filhos, orçamento familiar e planejamento da aposentadoria. 62 Na parte central do sitio da Instituição, os temas são: Família; Independência; Maturidade; Empreendedor; Artigos; O especialista; Iniciativas para colaboradores e; concurso MB. 4.1.1 Família O tema dedicado à 'Família' trata do orçamento doméstico, chama atenção para vários subtemas, direcionando para a janela onde são descritos os assuntos 'Orçamento', 'Investimentos', 'Amor e dinheiro', 'Futuro', 'Dinheiro e filhos', 'Começando a vida a dois', 'Sonho do negócio próprio', 'Sonho da casa própria', 'Dívidas' e 'Organize-se. O subtema 'orçamento' é o passo inicial para se entender por onde entra o dinheiro e como ele á gasto dentro do contexto tanto familiar quanto externo. Há dicas de como fazer um orçamento em termos genéricos, dicas de como discriminar em uma planilha eletrônica ou no papel todos os gastos, por menores que sejam. Deve-se ficar atento aos gastos do dia a dia e procurar economizar o mínimo que seja para poupar ou utilizar no lazer da família. Orienta-se, também, como estimar o orçamento para os próximos seis meses, além de informar de que forma deve-se rever mensalmente estes valores. O subtema 'Investimentos', salienta que é possível poupar com o objetivo de investir, desde haja um planejamento financeiro. Ressalta que mais importante que o valor investido é criar o hábito de poupar para investir. O retorno deste investimento será importante para quando a velhice chegar ou para realizar um sonho de adquirir um bem importante. Descreve que o investimento deve ter a combinação equilibrada de maior retorno possível, com a maior liquidez e o mínimo de risco. Na abordagem do subtema 'Amor e dinheiro' sugere-se que se deve conhecer os hábitos financeiros do parceiro desde o início do relacionamento amoroso. Destaca a importância do compartilhamento de decisões que versem sobre a necessidade de economizar e realizar gastos compartilhados, sem, contudo, perder o espaço dos sonhos individuais. A falta de clareza das ações econômicas de um casal poderá acarretar sérios problemas e chegar até influenciar mesmo uma separação conjugal. 63 No subtema dedicado ao 'futuro' são abordados os projetos e sonhos realizados no presente com objetivo realização em um futuro próximo. Uma decisão financeira planejada atualmente e correta trará benefícios no futuro. Caso esse aspecto seja negligenciado as más decisões de hoje impactarão negativamente o futuro. Com o objetivo de fornecer maior detalhamento sobre o assunto, o tema 'dinheiro e filhos' foi subdividido em quatro subtópicos. No primeiro aborda-se a temática 'educando com foco na educação dos filhos', uma vez que hoje o poder de escolha está centrado em suas mãos, escolhendo o que querem ter, por isto a importância de demonstrar o valor real do trabalho e o custo do dinheiro e sua aplicação de forma consciente e necessária. Cita-se, também, um site específico sobre o subtópico 'ensinando a ganhar', que traz um alerta sobre a necessidade dos filhos compreenderem de que forma o dinheiro é ganhado, criando com isso, um relacionamento prazeroso com o trabalho e não um sacrifício ou uma coisa negativa. Orientar os filhos sobre a escolha profissional correta e que o trabalho traz renda e amadurecimento. No subtópico 'ensinando a gastar', aborda-se a importância de abrir mão de uma determinada coisa em prol de outra mais importante, que trará mais prazer e benefícios. Pais que não educam filhos sobre como gastar, criam adultos sem limites, iniciando as crianças neste processo no momento em que se interessam pelas compras. Outro subtópico apresentado é o 'ensinando a poupar', que ensina de forma lúdica como o tradicional cofrinho para guardar as moedas, é utilizado para a finalidade incentivar o hábito de poupar, e relacionar que todo esforço para poupar terá um propósito e também um benefício. No subtópico 'mesada', indica-se como um bom instrumento para educação dos filhos, o hábito de poupar, escolher corretamente como comprar, o que comprar, como estipular um bom orçamento e o valor que o dinheiro tem. Traz detalhes sobre a idade mais indicada para se iniciar a mesada, a quantia adequada para a idade e noções de educação futura sobre utilização do cartão de crédito, empréstimos e o cheque especial. 64 No subtema 'começando a vida a dois' a abordagem suscita a preocupação e dá dicas de planejamento e tomada de decisões financeiras em conjunto. A organização das contas e a divisão das despesas comuns, devendo um dos membros ser o responsável. Outro subtema abordado é o 'sonho do negócio próprio', este quesito ressalta a tendência dos brasileiros em terem seu próprio negócio e as responsabilidades e riscos que isto acarreta, destacando a necessidade de preparação, planejamento e conhecimento do negócio por parte do novo empresário. Orienta sobre os compromissos assumidos em cada modalidade de negócio e a busca de orientação em órgãos especializados com o Sebrae. Quanto ao 'sonho da casa própria' o subtema é tratado como um sonho geral dos brasileiros a ser conquistado que trará mais comodidade e segurança para a família, afirmando ser um ótimo investimento pela solidez do mercado imobiliário, que nos últimos anos obteve grande valorização. Trata também de orientar sobre o imóvel considerado como investimento, que se não for alugado, torna-se uma despesa a mais. No que concerne ao subtema 'Dívidas, a orientação do banco é que seja estabelecida uma separação entre dívidas consideradas como boas e as dívidas ruins. As dívidas consideradas boas são aquelas que aumentam seu patrimônio. As dívidas considerads ruins são, o consumo acima do padrão financeiro, que devem ser evitadas. É sugerido pelo que seja feito o planejamento eficaz ao contrair dívidas de longo prazo, a fim de evitar que a dívida vire uma bola de neve. A palavra chave deste tema é controle e planejamento. O subtema 'Organize-se, sugere como primeiro passo que seja realizado um orçamento prévio, em papel ou na planilha do computador e como dica indica-se o programa JIMBO, desenvolvido pela Federação Brasileira dos Bancos como referência (Febraban). 65 4.1.2 Independência O segundo tema abordado é designado como 'Independência' e busca focar a saída do ambiente familiar para ter sua própria vida e independência financeira. Ressalta a importância do planejamento financeiro e conhecer os novos gastos que agora surgem, orientando como suas receitas devem cobri-los. O conteúdo subdivide-se em cinco subtemas, 'Planejando conquistas', 'Investindo em você', 'De olho no futuro', 'Orçamento' e 'Organize-se'. Planejando conquistas enfoca a saída da casa dos pais, oferece dicas de como planejar a compra do primeiro veículo, comprar o primeiro apartamento, a importância de iniciar a poupança para garantir um futuro melhor ou a conquista de um sonho e a criação do hábito de investir. Investindo em você, evidencia a importância dos cursos superiores, do aperfeiçoamento profissional e como os intercâmbios enriquecem o currículo e abrem novas fronteiras de conhecimento. De olho no futuro, alerta sobre o momento da aposentadoria que deve ser encarada como um investimento prioritário e quanto mais cedo se iniciar, melhor será. O quesito orçamento orienta sobre a utilização consciente do cartão de crédito e o perigo de não se pagar a fatura mensal do cartão integralmente e alerta sobre as altas taxas de juros cobradas nesta modalidade. Também procura desmistificar que quanto mais se ganha melhor será a sua saúde financeira, além de orientar para o planejamento adequado de suas finanças. O tópico organize-se alerta sobre a importância do planejamento financeiro e cita novamente o programa JIMBO da FEBRABAN. 4.1.3 Maturidade O terceiro tema abordado é denominado de 'Maturidade' e traz dicas sobre como se preparar para desfrutar de uma boa aposentadoria e se dedicar ao lazer, 66 entretenimentos, um hobby e as viagens, indicando um programa do Ministério do Turismo que estimula viagens para a melhor idade. Subdivide-se em três modalidades: 'Tempo e Dinheiro', 'Orçamento' e 'Organize-se'. Com relação ao Tempo e Dinheiro, para você e sua família, orienta a gastar seu dinheiro com viagens, lazer e hobby. No que concerne ao 'Orçamento', sugere-se cuidados que se deve ter com o novo orçamento como aposentado, a diminuição das receitas e o controle dos gastos. Especial atenção para não se endividar nos empréstimos consignados, que pode comprometer o orçamento. E o tema organize-se, cita novamente o planejamento financeiro e o aplicativo JIMBO disponível no sítio da FEBRABAN. 4.1.4 Empreendedor A quarta temática é dedicado ao Empreendedor. Traz dicas de como conhecer bem e planejar um novo negócio, saber quem são os concorrentes, o que mercado oferece e sinaliza para o futuro e conhecer a fundo as finanças da empresa. Subdivide-se em: 'Administração', 'Dinheiro e futuro' e 'Previna-se'. A administração trata do conhecimento do negócio e suas finanças. Indica o Sebrae como alternativa para possibilitar uma melhor capacitação do empreendedor. No quesito Dinheiro e futuro, aborda-se o planejamento à longo prazo, discute a importância de se dimensionar o negócio e ter um planejamento eficaz antes do início das atividades da empresa. Por fim, no tópico 'previna-se' são repassadas orientações quanto a aposentadoria e, também sobre investimentos. Orienta como planejar a aposentadoria, sobre os planos complementares de previdência privada e fomo preparar a sucessão na gestão da empresa. 4.1.5 Artigos Após a apresentação dos quatro temas principais é disponibilizado um link com artigos voltados para o controle das finanças abordando aspectos como: Campanhas de recuperação de crédito; Seguro de vida, Retratos da educação financeira; Consumismo infantil; Programas de fidelidade; Como acabar com suas dívidas; Como anda a educação financeira dos jovens brasileiros?; A segurança da vida financeira; A inflação traz novos hábitos; Previdência privada: investimento à 67 longo prazo; Rússia 2018: aí vou eu!; Pequenas despesas, grandes gastos; Casamento: não basta querer, tem que planejar; Consumismo e melhorando a sua renda. Há ainda, a possibilidade de fazer uma assinatura e receber os artios por email. 4.1.6 O Especialista Na seção 'Especialista' é apresentado o currículo e as atividades do consultor financeiro e economista Carlos Eduardo Costa, o responsável pelas orientações e dicas do site. 4.1.7 Iniciativa para colaboradores Nesta seção é realizada a apresentação do Programa de Educação Financeira do Banco Mercantil do Brasil. O banco oferece a seus colaboradores ações específicas de educação financeira, como palestras e consultorias, sendo que a cada semestre são sorteadas dez vagas de consultoria financeira para esses colaboradores. 4.1.8 Concurso MB É ofertado nesta seção um concurso cultural denominado como Educação Financeira MB, cabendo ao ganhador um bônus de 10 mil Reais e uma consultoria financeira presencial e à distância, a quem responder melhor à pergunta: Por que preciso de uma consultoria financeira?. São sugeridas algumas dicas para esta resposta e convida-se ao participante a conhecer melhor o site de Educação Financeira e também o consultor financeiro. 4.1.9 Perfil de Consumo Ainda na parte central, porém na extrema direita, é oferecido um teste para avaliar o perfil de consumo do consumidor denominado de 'Qual é o seu perfil'. O teste foi elaborado pelo consultor financeiro Carlos Eduardo Costa, e é composto por perguntas que oferecem a opção de multipla escolha sobre o cotidiano do planejamento doméstico, suas compras e receitas, trazendo ao final uma conclusão 68 sobre seu perfil dando dicas de como ser melhor nas finanças e orientando sobre algumas correções a serem feitas. 4.1.10 Serviços ofertados no site do Mercantil do Brasil É ofertado no site um Glossário, com as palavras e termos mais usados na educação financeira, apresentados em ordem alfabética. Na seqüência são sugeridas leituras, abordando temas relacionados com economia, dinheiro, finanças entre outros, escritos por especialistas no assunto. Por fim, no quesito dúvidas frequentes, são enumeradas oito questões de cunho mais conceitual respondidas por um consultor. 4.2 Análise de Conteúdo sobre a percepção dos gestores As respostas dos dois gestores que foram entrevistados, depois de transcritas,foram submetidas à análise de conteúdo, sendo organizadas em categorias pré-definidas. Vale ressaltar que tais categorias foram definidas levando em conta o referencial teórico, que, por sua vez, serviu de ponto de orientação para as questões formuladas. 4.2.1 Conceito e importância de Educação Financeira A educação financeira é: uma questão que era associada à forma que a pessoa, a relação que ela tem com o dinheiro e com a utilização dos recursos e produtos que um banco oferece. E aí a gente começou a debater então a geração de conteúdo de conscientização, que é esse conteúdo de educação financeira que a gente disponibiliza hoje (MARCOS). Ao comentário do primeiro gestor, foi acrescida a observação da segunda gestora: E pelo próprio movimento que a gente está vivendo mesmo: do governo de estimular a educação financeira nas escolas, o movimento dos bancos também de disponibilizar conteúdo, de fazer ações. Então a gente foi estudando isso, e vendo como que isso poderia ser encaixado aqui dentro (DANIELA). 69 Observa-se que o conceito emitido pelos dois entrevistados coincide com as definições apresentadas por Gallery et al. (2007, p.288) e Lellis (2006) citados no referencial teórico. Segundo os primeiros a educação financeira se refere á capacidade de fazer julgamentos inteligentes e decisões eficazes em relação ao uso e gestão do dinheiro e o segundo realça a importância da educação financeira para aumentar a renda e reduzir despesas, permitindo que as pessoas administrem seu dinheiro. Logo, infere-se que a proposta que vem sendo desenvolvida pelo Banco Mercantil do Brasil tem um suporte teórico adequado. Tratando-se de um banco e para que o projeto não fosse confundido com a busca de clientes, com o convencimento deles para a compra de produtos, ou seja, que ela fosse usada como um recurso manipulativo, os entrevistados colocaram suas ponderações. Desassociado dessa questão da oferta do crédito. Você vê que todo conteúdo nosso, a gente tem uma preocupação muito grande em construir esse conteúdo. A gente fala do produto, mas a gente não vende o produto dentro do conteúdo da educação financeira. Olha, aqui nesse conteúdo e no desenvolvimento da consciência da educação financeira, eu não vou falar do que é certo e do que é errado. Eu vou falar do que você precisa fazer para conquistar aquilo que você quer atingir. Então é essa linha que a gente adota com relação à educação financeira, do nosso conteúdo. Então, tentando responder o seu roteiro, do que você fala, do quê a gente entende como educação financeira, e qual a importância que a gente acredita nela, é nesse sentido. A educação financeira vem para fazer com que as pessoas tenham consciência da relação que elas têm com o dinheiro. E nesse sentido ela vai poder lançar mão ou não dos produtos financeiros que o banco oferece. Mas no Mercantil do Brasil a gente não criou um conteúdo, onde a gente fale: olhe, já que você está precisando viajar, o seu desejo é viajar, a gente tem aqui um crédito pessoal para você. Não! Não se fala isso no conteúdo. Eu posso falar da organização e do que você pode lançar mão para viajar. Mas em nenhum momento a gente liga. A gente não tem esse objetivo. A gente desassociou da oferta mesmo (MARCOS). São duas diretrizes básicas do programa. Essa que o Marco falou de desassociar o produto e de não ter certo e errado. A gente pretende mostrar e fazer com que a pessoa olhe para a realidade dela, e veja o que te atende mesmo. Dentro do que você quer e da sua realidade (DANIELA). É importante realçar este caráter ético da proposta. Ao apresentar um programa de educação financeira, acessível a clientes e não-clientes, uma organização bancária 70 pode ter como finalidade atrair as pessoas para seus produtos, mas ficou evidente a intenção de não ligar a oportunidade de esclarecer as pessoas sobre a melhor aplicação de seu dinheiro com a compra de produtos disponíveis no banco. A conseqüência da aprendizagem feita pode até ser a compra de produtos do banco, mas o respeito à ética deve ser mantido, tanto para evitar que o cliente se sinta manipulado como para garantir que se está lidando com uma organização que respeita o provável cliente. 4.2.2 Benefícios que o Programa pode gerar Interrogados sobre os benefícios que o Programa de Educação Financeira pode gerar, os entrevistados deram as seguintes respostas: Essa pergunta aqui: quais são os benefícios que um projeto possa gerar, isso a gente considera que o projeto ajuda na conscientização. Trabalha conscientização... A DANIELA é responsável por uma supervisão dentro da minha coordenação que trabalha muito esses conceitos da conscientização por meio da multiplicação. Então isso é talvez uma das principais diretrizes da área dela. Eu vou trabalhar com a transformação, da atitude da pessoa por meio da conscientização e de que modo isso possa ser multiplicado (MARCOS). Como o processo de conscientização é um resultado complexo, que depende da mudança de atitude do aprendiz e que, por este motivo, depende da mudança de valores, um dos entrevistados realçou a dificuldade enfrentada pelo Programa e o tempo que ele exige para se concretizar. E isso é muito forte no programa de educação financeira também. Só que trabalhar conscientização não é da noite para o dia. Né! Então como a gente tem dois anos atuando nesse sentido, a gente considera que ainda é muito recente para estarmos colhendo frutos concretos, ou declaradamente dizer que estamos no caminho certo. Na verdade, recentemente nós realizamos uma pesquisa sobre educação financeira, e já vou te adiantar que infelizmente a gente não vai pode disponibilizar esse conteúdo [...] (MARCOS). Retornando à fundamentação teórica deste trabalho, verifica-se que os países da Comunidade Econômica Européia alertam para este objetivo da educação financeira De acordo com a European Commission (Fin-Focus, 2008), a educação financeira seria vem permitindo maior consciência nas tomadas de decisões. Conscientizando 71 as pessoas, a educação financeira nesses países tem sido considerada suporte para a sobrevivência econômica. 4.2.3 Definição de público-alvo para o Programa de Educação Financeira Ao definir o público ao qual o Programa de Educação Financeira se destina, foi a seguinte a fala dos entrevistados. O que mais faz sucesso no programa é o site, que é uma das ações destinadas a disponibilizar o conteúdo do nosso programa de educação financeira. Mas uma das coisas que mais faz sucesso é justamente alinhado a esse conceito que a Daniela está falando aqui de identificar qual é a sua situação e qual é a relação que você precisa desenvolver com o dinheiro, que é o que a gente chama de Consultório Financeiro. O Consultório Financeiro, até então, é um programa, é uma ação destinada aos funcionários do banco (MARCOS). Ficou evidente, a partir desta fala, que a primeira intenção do Banco, ao propor o Programa de Educação Financeira, é formar o colaborador. É transformá-lo num multiplicador da aprendizagem feita. Estender aos clientes o benefício desta oportunidade é uma intenção que será atingida no futuro. Mas ano que vem a gente está querendo oferecer também para cliente, mas inicialmente o que a gente está fazendo é para o funcionário. Então, durante os dois últimos anos a gente ofereceu o Consultório Financeiro para alguns funcionários. Isso é feito da forma de sorteio mesmo, as pessoas se disponibilizam para poder fazer esse Consultório. O que que é esse Consultório? Um consultor vai até a casa do cara [...] (MARCOS). Primeiro ele faz uma consulta. E depois de dois meses ele volta. A gente não tem acesso a quem participa. É sigiloso. Então é só o Carlos Eduardo que sabe [...] A gente não sabe nem quem se inscreveu (DANIELA). Ainda visando a preservar a ética nas relações, os dois gestores realçaram que não têm acesso aos clientes que buscam o programa de Educação financeira. A gente tem números, do tipo de quantos se inscreveram, para saber, por exemplo, quais são os assuntos mais pertinentes desse Consultório. O que as pessoas estão mais [...] Qual é o nível de conhecimento dos conceitos. A gente tem noção, né. A gente foi confirmando com esse tempo que o nível de conhecimento relacionado com educação financeira para um bancário é mais elevado do que para as pessoas que não sejam bancárias, que não estejam ligadas ao universo financeiro (MARCOS). 72 Sobre os resultados obtidos pelo público-alvo, os entrevistados deram algumas informações, embora não se possa fazer generalização para os clientes que usam o recurso. A avaliação da qual eles dispõem é dos funcionários que vêm participando e registram o seguinte: A gente fez um amplo estudo, envolvendo funcionários, usuários do site, usuários do nosso internet banking, e o público geral por meio de uma plataforma de pesquisa. A gente fez uma varredura bem interessante, e a gente pode fazer umas comparações. Uma delas é essa que a gente está falando, onde o bancário, ou melhor, o colaborador do Mercantil do Brasil, porque eu não posso colocar isso de uma forma genérica, ele tem em tese uma postura, uma consciência para educação financeira melhor, digamos assim, que a população de uma forma geral (MARCOS). O comentário feito tem uma relação direta com o novo papel dos funcionários de um banco, que é o de não apenas gerenciarem os recursos financeiros das pessoas, mas tornarem-se consultores financeiros de seus clientes. Este novo papel resulta no repasse das ações mecânicas do banco (depósito, retirada de dinheiro, pagamentos) aos caixas eletrônicos enquanto ações mais esclarecedoras para os clientes passaram a constituir atividades dos funcionários e, de forma especial, aos gerentes. Aí se justifica a educação financeira para o funcionário. Retomando o referencial teórico deste trabalho, verifica-se que foram abordados programas que stão sendo desenvolvidos nos Estados Unidos, no Canadá, na Inglaterra, na Nova Zelandia, Espanha e Japão e mereceram destaque os programas das Universidades Pensilvania e Illinois. Na Espanha, foi possível verificar o desenvolvimento de projetos nas escolas de vários níveis. No Brasil, a partir de 2011, o governo iniciou um trabalho em parceria com escolas do Rio de Janeiro e São Paulo e numa avaliação preliminar tem-se afirmado que os resultados são positivos. Todos os projetos estudados realçaram que a educação financeira deve iniciar bem cedo, pois quando vai para o ensino fundamental o aluno já leva uma aprendizagem feita com seus pais e na comunidade onde ele vive. (Stephani, 2005). Entretanto, o caso estudado não constitui ação de uma escola e sim de um banco e se destina aos funcionários e aos clientes desta organização. Contudo, como afirma Hill (2009, o aprendizado referente á educação financeira melhora não apenas as 73 pessoas, mas exerce uma influência positiva e racional sobre o consumo e o desenvolvimento financeiro. Daí, justificar-se o preparo dos funcionários de uma organização bancária e dos clientes dessa organização. 4.2.4 Métodos de educação financeira adotados pelo Programa A Educação Financeira é um tema novo que ainda não integra de maneira formal o currículo da escola brasileira. Os programas que foram analisados no referencial teórico abordam a questão de maneira diversificada e não existe um consenso em suas maneira de propor como se ensina o assunto. Um método que vem sendo bastante difundido no Brasil é o método Diagnosticar, Sonhar, Orçar e Poupar (DSOP), que foi criado em 2008 pelo educador e terapeuta financeiro, Reinaldo Domingos e tem levado este tipo de ensinamento a diversos públicos, da infância à idade adulta. Nesse sentido, não se pode considerar que o Programa que ora se analisa tenha uma metodologia definida, explicitada nos instrumentos que utiliza. Por isto, a fala dos entrevistados referiu-se inicialmente à expectativa que se tem em relação aos efeitos que o Programa tem sobre o funcionário: Esse trabalho, então, tem nos mostrado que o funcionário do Mercantil do Brasil tem um nível de consciência interessante em relação ao mercado e que a gente precisa aproveitar disso. Que talvez seja então um ponto que vai nos orientar sobre ações futuras. Por exemplo, só para você ter uma noção, da discussão que a gente está tendo. Será que realmente Consultório Financeiro da forma como a gente estruturou é o que eles demandam? É o que eles precisam já que eles tem uma conduta com relação ao dinheiro mais eficiente? Talvez agora a gente precise discutir um outro patamar na relação com o funcionário. Então isso é o que vai direcionando e aí quando você pergunta se a gente tem dados concretos, essa pesquisa é uma delas. O volume de acesso ao site também nos orienta! Porque nos temos uma estrutura, aqui está falando um pouquinho sobre metodologia de educação financeira. Ela basicamente está concentrada na disponibilização desse conteúdo e ela é formada dentro daquela metodologia que a gente vê não especificamente para um público, mas sim para um perfil de atuação na relação com o dinheiro (MARCOS). Um método é um caminho que se escolhe para alcançar determinado objetivo. Por isto, falar das preocupações que cercam um programa implica em mencionar a 74 metodologia, ou seja, o caminho que está orientando os responsáveis pelo Programa: Olha: qual é a minha preocupação? O que eu preciso fazer para ter o dinheiro dentro da minha família? Qual é a relação com o dinheiro no meu ambiente familiar, que é o meu universo? Qual é a relação com o dinheiro daquela pessoa que tem um perfil de independência, ao contrário da família, né?! Ou seja a pessoa que mora sozinha, que tem isso, é completamente diferente de uma relação com dinheiro para quem tem uma família. Da mesma forma um pouco da fase da vida que é a maturidade. Aquela pessoa que tem mais... A própria pesquisa nos indica que as pessoas mais maduras tendem a ter uma preocupação maior com a educação financeira do que as pessoas mais novas. Que é um dado da pesquisa. E o último grupo pra mim é aquela pessoa que quer empreender, que quer desenvolver uma vida....quer dizer, que tenha um perfil empreendedor mesmo, que é ter o seu próprio negócio. Então inicialmente essa foi o nosso caminho....dividir por esses perfis, e essa foi a metodologia que a gente achou e fomos gerando conteúdos; para gerar maior dinamismos a gente cria conteúdos quinzenais. O Carlos, ele escreve. Essa é a parte física, fixa de cada um desses universos que eu te expliquei. Esses quatro perfis (MARCOS). Foram mencionados ainda recursos alternativos, como os comentários sob a forma de artigos e os testes destinados a estabelecer interação com os usuários do Programa. A cada quinze dias a gente publica um artigo do Carlos que é pautado muitas vezes pela situação ou por uma situação de um momento específico ou de uma necessidade que o público mesmo nos demanda. Por exemplo, acho que um dos artigos mais interessantes, não vou falar colocar em ordem não, mas pra mim, eu acho que uma das abordagens mais interessantes foi quando a gente estava tendo a Copa e o Carlos fez um artigo falando assim: estamos falando de Copa, mas se você quiser ir para a Copa lá na Rússia daqui a quatro anos? Como é que você se organiza para isso? Então ele pegou um foco bem interessante. E isso gerou uma multiplicação interessante no site, e tudo mais. E por fim, para gerar um pouco mais de interação, a gente tem dentro desse conteúdo os testes, que por enquanto são dois, e que a gente ainda está querendo desenvolver isso. Na verdade o que a gente percebe, até a pesquisa nos mostra isso, que o usuário do site, ele tem uma avaliação muito positiva do conteúdo que está aí. 70%, esse dado eu posso te falar [...] 70% das pessoas que visitaram o site, que visitam o site e que participaram da pesquisa, indicam que o conteúdo é um conteúdo interessante para o seu desenvolvimento [...] (MARCOS). Realce especial foi dado também ao Programa Consultor Financeiro, um dos recursos que vem sendo utilizado. No Consultório financeiro por exemplo a gente mede inscrições, o interesse das pessoas em participar, o número de pessoas atendidas. A gente além do Consultório Financeiro para colaboradores, a gente tem uma palestra anual, que acontece pela concentração de funcionários, acontece aqui em 75 Belo Horizonte, que a maior parte dos funcionários está aqui, acontece aqui. Então a gente disponibiliza em dois horários para que as pessoas possam vir e é sempre sobre um tema que a gente pesquisou, que é de interesse deles, né. No ano passado, como foi o primeiro ano do projeto, do programa, a gente pegou uma abordagem mais geral do que era a educação financeira, qual era a importância, com quais assuntos estão relacionados. Este ano a gente já viu que as pessoas querem um pouco mais, então a gente já vai abordar uma questão mais detalhada (DANIELA). Não se pode, portanto, enquadrar o programa objeto desta pesquisa em uma das metodologias abordadas no referencial teórico. Verifica-se que se trata de uma metodologia que vem sendo construída e que, com base no acompanhamento que é feito, vem tornando a relação com os usuários mais dinâmica, mais interativa. Hogarth (2002) ainda afirma que as avaliações de programas têm demonstrado que um conhecimento sobre educação financeira leva a uma mudança de comportamento e nisso há um ganho financeiro. Nesse sentido, pode-se afirmar que o Programa de Educação Financeira do Banco Mercantil vem sendo acompanhado e sua metodologia vem sendo avaliada e indica que está se processando uma mudança de comportamento tanto dos funcionários do estabelecimento quanto daqueles que utilizam o programa. 4.2.5 Principais ações propostas ou em desenvolvimento Nessa categoria, foram selecionadas falas dos entrevistados que apontam ações propostas ou efetivadas que os mesmos consideram que geraram bons resultados. Sobre resultado, tudo que a gente faz a gente procura ter resultado. Procura verificar números e verificar até que ponto aquele indicador é importante ou não para que a gente possa propor outras ações. Então o site a gente verifica acesso, pra gente saber tirar dali quais informações podem nos ajudar a propor outras iniciativas (DANIELA). Em seguida, são listadas ações que estão sendo propostas e ainda não efetivadas Esse artigo da Copa “bombou” em relação a outro artigo, qual que é o assunto que está mais interessante [...] Mas teoricamente a gente tem uma coisa né Daniela, que está muito próxima com o resultado da pesquisa, que é outro dado que a gente pode fornecer para você também sem problema nenhum. Os públicos pesquisados demonstram um interesse maior com questões associadas ao consumo consciente e controle de gastos, esses são os principais pontos que eles falam. E isso também está um pouco demonstrado nesse acesso. Quando eu falo mais de uma conduta 76 consciente de consumo, talvez as pessoas tenham mais interesse, né! Por exemplo uma preocupação que também está um pouco associada a isso, uma preocupação de como vou transmitir isso para os meus filhos (MARCOS). Tem aqui nessa questão que você está falando que quais são as principais ações e propostas, acho que a gente pode concentrar dessa forma: é a disponibilização do conteúdo, e tudo que a gente faz para que ele seja mais interativo, como a geração de artigos, a disponibilização de testes, isso tudo... Ou seja, o desenvolvimento de um conteúdo mais interativo, que é a ação que a gente está falando. Para o público interno, a gente tem o Consultório Financeiro. Até então a gente ainda está estudando a efetividade dessas palestras, estamos estudando a possibilidade de realização de cursos, estamos estudando a possibilidade de ampliar essa ações junto a clientes. Então eu não consigo ainda falar que a gente está fazendo isso tudo, porque a gente está justamente no momento de estudar qual é o próximo passo do programa. Mas basicamente, as ações são direcionadas sobre como trabalhar a conscientização e que isso possa ser multiplicado (DANIELA). Como se trata de uma organização bancária é natural que o Programa de Educação Financeira não perca de vista o cliente e o fornecedor e a ligação entre os dois pontos foi realçada do seguinte modo. Existe hoje um nível que a gente está considerando que é de transmissão da informação. O desenvolvimento de produtos específicos voltados para a educação financeira é uma coisa que pra gente ainda talvez esteja naquela coisa de universo ideal que está associando o Mercantil do Brasil à um fornecedor [...] Então isso Vinícius, eu não consigo te responder agora porque eu acho que depende de qual é o caminho que a gente vai fazer. Agora eu acho que inevitavelmente a gente vai acabar discutindo isso e passando por essa questão se a gente quiser avançar nesse sentido, a oferecer um produto com conteúdo. Teve uma época, por exemplo, no nosso crédito consignado a gente tinha uma figura que a gente poderia considerar como um consultor e um dos produtos que a gente tinha era um produto que ele desenvolveu que era a palestra oferecida para público diversos, ele chegava dentro de um congresso por exemplo de servidores públicos do Estado de tal lugar ele oferecia, o banco oferecia esse serviço como um serviço de conscientização, e ele usava isso (MARCOS). As reivindicações dos beneficiários também foram mencionadas e se apresentaram como ações que a organização ainda não consegue tornar efetivas. A gente não tem um aplicativo, uma das coisas que a pesquisa indica é que os pesquisados gostariam mais de ter uma relação financeira, um controle financeiro de uma forma mais eletrônica. Então gente percebe que precisaria oferecer alguma coisa nesse sentido. Outros produtos, como por exemplo, a gente conseguir ter, que o colaborador seja realmente uma pessoa quase que um consultor mesmo. Eu estou oferecendo muito mais que um gerente, muito mais que um escriturário, estou oferecendo a você uma pessoa que tem capacidade de te orientar financeiramente como produto. 77 São caminhos possíveis, mas que a gente ainda não consegue vislumbrar dentro da estrutura do Mercantil do Brasil ainda. Então hoje a gente está focado na disponibilização de informações (MARCOS). Este tópico abordou ações que integram um programa específico, que vem sendo desenvolvido pelo Banco Mercantil do Brasil. Comparando este programa a outros que foram mencionados no referencial teórico, verifica-se que ele tem uma originalidade, um caminho novo que vem sendo aberto pelo Banco e que tem como objetivo atender à sua clientela interna e externa. Os comentários evidenciam que novas ações deverão ser desencadeadas a partir da demanda dos beneficiários e que as metodologias a serem adotadas deverão responder a tais deficiências identificadas por eles. 4.2.6 Resultados auferidos pelo Programa até o momento A referência aos resultados auferidos pelo Programa está diretamente relacionada ao item anterior e é assim expressa pelos entrevistados: E quando você pergunta de resultados aqui, a gente tem esses resultados todos que a Daniela acabou de falar. Acho que o principal é esse resultado da pesquisa que vai mostrando pra gente alguns dados que talvez nem sejam muito diferentes do mercado. Por exemplo, eu te falei que o colaborador tem um perfil de conhecimento maior, de uma forma geral o público feminino tende a ser, tende a ter menos organização (MARCOS). Os resultados auferidos são relacionados pelos gestores a uma tentativa de corrigir o que socialmente tem sido identificado nas pessoas, nos prováveis clientes. Um dos principais fatores que indicam que a pessoa está desorganizada financeiramente é a compra por impulso. Talvez por isso que talvez esteja um pouco mais associado ao perfil feminino mas inclui o masculino também. A pesquisa também indica que o público jovem tem menos preocupação com relação a isso que o público mais velho. Que é uma coisa que nos orienta e nos demonstra uma necessidade de introduzir essa informação, assim uma questão mais educativa (MARCOS). O Programa de Educação Financeira é proposto e desenvolvido por uma organização bancária e por este motivo os resultados dizem respeito não apenas ao 78 aprendizado feito pelos beneficiários, mas também aos resultados previstos pelo Banco Mercantil, ou seja, ao retorno dos clientes esclarecidos pelo programa. Um dos dados da pesquisa que também deixou a gente bem satisfeito é ouvir, por exemplo, na parte onde estava tudo aberto e as pessoas podiam fazer comentários, que existia um número interessante de pessoas que falavam: que bacana que um banco está fazendo isso. Que legal que é uma instituição financeira que está me perguntando sobre isso. Ou seja, estão demonstrando interesse nesse assunto e isso eu tenho interesse também. Que legal que tem banco preocupado com isso no Brasil. Tem até uma frase como essa lá, não sei se especificamente assim, mas é uma coisa que vai nos mostrando interesse tanto da população quanto do próprio banco. Ou seja, posso mostrar isso internamente e falar assim: olha só como a gente está sendo muito bem visto. A gente está colhendo o fruto desse conteúdo que a gente está falando. Por que na hora que uma pessoa tiver sensibilizada com relação a isso, a hora que essa pessoa precisar desse produto ela vai pensar em quem primeiro? (MARCOS). Os funcionários já mostram uma compreensão melhor. A resposta dos clientes virá. E também, isso é, a gente precisa também acompanhar um pouco o que o mercado faz, né. Não é muito comum mais a gente ver associado a educação financeira à um produto. Normalmente não. Sites [...] (DANIELA). Medeiros (2003) e Lelis (2006) compreendem que a educação financeira é um tema no qual se discute a importância do dinheiro, a forma como se deve administrá-lo, ganhá-lo, gastá-lo, poupá-lo e consumi-lo conscientemente. De acordo com esses autores, em face desta necessidade, é que surge o tema 'educação financeira'. Analisando-se os conceitos apresentados até o momento, conclui-se que a educação financeira constitui um recurso que orienta as pessoas a evitarem o uso inadequado do dinheiro e o gasto inconsciente, impedindo, assim, o endividamento. Nesse sentido, acredita-se que o programa desenvolvido pelo banco está conseguindo atingir o seu objetivo uma vez que procura orientar os funcionários e clientes sobre o tema. 4.2.7 A legislação brasileira e a Educação Financeira Nesta seção, os entrevistados responderam questões concernentes à legislação e à educação brasileira; os relatos estão dispostos a seguir: E quando você pergunta como que a gente percebe essa questão de legislação, eu acho que a gente, estava até conversando um pouco antes de você chegar, acho que existem muitas coisas para serem melhoradas 79 nesses conceitos. Você mesmo falou que é uma coisa nova para se debater. Eu acho que cada um tem o seu papel. O setor privado, e mais especificamente a gente, banco, tem um papel importantíssimo nesse processo. Então o que a gente puder entregar para a sociedade, para que ela possa se formar melhor, a gente vai colher como fruto lá na frente. Ou seja, uma pessoa que sabe lidar melhor com dinheiro também consequentemente vai lidar melhor também com os produtos bancários que ofereço. Então isso é natural (MARCOS). A gente está tentando, e vem desenvolvendo o nosso papel, de uma forma que a gente percebe que existem passos que devem ser cumpridos. E por outro lado, quando você fala de legislação, eu acho que cada um tem o seu papel. Repetindo essa expressão. Existe sim uma necessidade de uma legislação específica que possa demonstrar que o setor público também está preocupado nesse sentido (DANIELA). No Brasil o governo Brasileiro criou o programa ENEF que é responsável pelas diretrizes para a educação financeira dos adultos, apresentando os objetivos e conceitos relacionados ao assunto. As orientações devem ser transmitidas da forma mais simples possível, observando a capacidade de compreensão de cada indivíduo, conforme alínea “a” do § 1º do art. 5º, da Deliberação nº 03 do Comitê de Regularização e Fiscalização dos Mercados Financeiros, de Capitais, de Seguros, de Previdência e Capitalização (COREMEC). Salienta-se que o ENEF instituiu como público-alvo, temas e ações os militares, os servidores públicos, trabalhadores formais e informais, profissionais liberais, estudantes universitários, donas de casa, desempregados, aposentados, trabalhadores rurais, beneficiários de programas sociais, brasileiros residentes no exterior e outros. Os temas abordados foram inclusão financeira; proteção ao consumidor; finanças pessoais; noções de Economia; noções do sistema financeiro nacional; crédito e microcrédito; consumo consciente; previdência; preparação para a aposentadoria; investimentos; seguros; capitalização e outros. Além disso, como ações implementadas foram disponibilizadas no portal informações referentes à educação financeira, palestras, ublicações e cartilhas, seminários, encontros regionais, concursos, centrais de atendimento, campanhas publicitárias, cursos, programas de televisão, programas de rádio, feiras, espaços culturais, visitas programadas e outros. 80 4.2.8 Principais dificuldades encontradas para implantação do projeto Os respondentes afirmam que as principais dificuldades encontradas pelo banco para implantar o projeto foi quebrar o paradigma, uma vez que foi preciso sair de uma estrutura de banco tradicional e há o anseio em melhorar posturas com o objetivo de construir uma nova imagem pautada em ações práticas. Eu acho que antes de falar de educação financeira, a gente é banco. Como é que o produto vai estar misturado com a educação financeira. Você vai falar que cartão de crédito é ruim, e aí como que vai ser? Aí a gente, essa foi a primeira barreira assim (DANIELA). Eu acho que o setor bancário vem construindo ao longo do tempo essa forma de querer ser visto de uma maneira diferenciada, com ações práticas. Não é simplesmente falando que eu sou bonzinho. Eu venho mudando e tentando modificar essa imagem por meio de ações. E é um caminho longo. É, acho que foi conseguir identificar que é uma abordagem comercial é diferente. [...] se você fosse um correntista Mercantil do Brasil, você entraria num sistema onde você vai encontrar [...] seu internet banking, à dois cliques, de uma forma muito fácil, você adquire um produto de crédito, ta lá uma linha de crédito disponível para você de 10 mil, 15 mil reais que você pode colocar isso na sua conta corrente rapidamente. Existem outros objetivos comerciais com isso (MARCOS). De acordo com o entrevistado Marcos, o banco precisa vender seus produtos porque esse é o negócio dele. Entretanto, é possível agregar outro conceito que educar as pessoas para a utilizar o crédito de forma mais consciente. Completa afirmando que a perpetuação do Mercantil do Brasil é importantíssima. Se por exemplo, fosse oferecido um conteúdo que estivesse gerando evasão de investimentos, acredita que ninguém iria sustentar esse conteúdo. Com essa ação o mercantil segue a iniciativa da FEBRABAN no intuito de gerar conhecimento que possa produzir, em longo prazo, transformações positivas no comportamento das pessoas, melhorando sua qualidade de vida e sua relação com o dinheiro (FEBRABAN, 2014). A entrevistada Daniela, afirma que outro desafio consiste em quebrar a barreira entre a teoria e a prática, uma vez que, 81 a gente disponibiliza conteúdo e realiza ações, pensando numa mudança de hábitos, numa melhoria. Então acompanhar isso e ver como efetivamente as ações estão provocando mudanças nos hábitos das pessoas, esse é um outro desafio (DANIELA). É muito subjetivo. Isso a gente vive, por a gente estar dentro de uma área de comunicação e marketing, isso é da nossa natureza. Nos últimos anos as principais discussões que envolvem área de comunicação e marketing, qualquer encontro que a gente vai participar, é isso: como mensurar resultados? Como que eu vou demonstrar resultado? E principalmente de um banco! (MARCOS). Quanto aos números obtidos, o entrevistado Marcos complementa que é importante perguntar qual resultado foi gerado e se o conteúdo que foi criado foi responsável por gerar mudanças de comportamento. É um desafio muito grande identificar como isso vai gerar indicadores. Na percepção do entrevistado é prioritário distinguir entre dois públicos importantíssimos, o primeiro é fazer o funcionário entender e transmitir o posicionamento do banco e o segundo é fazer o cliente que está se relacionando com o banco entender esse posicionamento. Apresentados os resultados do estudo, foram tecidas as seguintes considerações finais, nas quais se incluem as limitações do estudo e as sugestões para estudos futuros. 82 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Esta pesquisa teve como objetivo geral analisar a importância, os objetivos, os métodos, as ações propostas, os resultados e as dificuldades de um projeto de Educação financeira desenvolvido por uma Instituição Bancária. A intenção do autor foi identificar, a partir deste programa, caminhos que possam ser apresentados a escolas e organizações diversas para promover o desenvolvimento de uma consciência crítica do cidadão sobre o uso adequado de seus recursos financeiros. Em termos metodológicos, tratou-se de um estudo de caso, com abordagem qualitativa e descritiva de caráter exploratório. Os dados foram coletados em documentos impressos fornecidos pela instituição bancária estudada e em seu sitio na internet. Foram também aplicadas entrevistas semiestruturadas, dois gestores do programa de Educação Financeira do Banco Mercantil do Brasil. As entrevistas foram gravadas, transcritas e submetidas à análise de conteúdo. O primeiro objetivo foi alcançado na medida em que, com base nos documentos fornecidos pelos responsáveis pelo Programa de Educação Financeira do Banco Mercantil do Brasil e nas informações coletadas no site da empresa, foi possível organizar o referido projeto quanto aos fins, aos princípios orientadores e alguns dos métodos adotados. No que diz respeito ao conceito e à importância da educação financeira segundo os gestores entrevistados, verificou-se que a percepção dos gestores quanto ao tema confere com os conceitos encontrados na literatura. Ressalta-se que se trata de uma aprendizagem de como controlar as finanças, baseada na construção de hábitos e costumes. Com relação aos benefícios de um programa de educação financeira, foi apontado a possibilidade de fazer a sociedade repensar os hábitos de consumo, substituindo-os por outros mais sustentáveis, sendo para isso relevante promover projetos de educação financeira voltados para esse novo perfil dos brasileiros. Segundo os entrevistados, programas de Educação Financeira ajudam na conscientização sobre 83 o bom uso do dinheiro e são pautados na mudança de comportamento, hábitos e costumes. A respeito dos métodos utilizados pelo Programa, verificou-se que os mesmos são originais, não repetindo abordagens utilizadas por outros programas que foram analisados. Esses métodos, assim como as ações desencadeadas são decorrentes de situações que requerem a busca de respostas. Verificou-se que não existe um método padrão indicado para educação financeira, uma vez que cada pessoa aprende de acordo com suas características pessoais, seus valores e suas experiências vividas. Nesse caso, cursos com aulas práticas, palestras de motivação e dinâmicas com linguagem acessível ao público em geral deveriam ser realizados. Os entrevistados registraram a importância do desenvolvimento de projetos em longo prazo que possam atingir toda a população, independente de idade ou de nível de escolaridade. Dentre um conjunto de ações que deveriam ser inseridas para conscientizar os cidadãos comuns sobre como gerenciar seu dinheiro e evitar o endividamento, está a promoção da educação financeira continuada para todas as idades, principalmente para as crianças e os jovens sobre a maneira de gerenciar de forma eficaz a sua dinheiro. Ressaltou-se que o Programa estudado atende inicialmente aos funcionários do Banco, na expectativa de que exerçam o papel de multiplicadores do programa para os clientes. Os gestores indicam que a legislação brasileira não tem contribuído/incentivado para a realização de projetos na área de educação financeira. Há incentivo por parte do governo com projetos como a Estratégia Nacional de Educação Financeira (ENEF), com base na proposta de ensino de instituições financeiras nacionais e do Banco Mundial; e a Lei 171/09 e o Decreto 23/12 que estabelecem a obrigatoriedade da educação financeira em escolas públicas e privadas, porém, na percepção dos entrevistados, são realizadas somente algumas ações pontuais. Os benefícios apontados pelos gestores após a educação financeira e o alcance do equilíbrio econômico das pessoas treinadas são a melhoria na saúde dos empregados do Banco e o reconhecimento dos clientes, que passam a valorizar mais a instituição que lhes oferece tal oportunidade. 84 Tomando como exemplo o Programa de Educação Financeira do Banco Mercantil do Brasil, e a citação de outros programas em desenvolvimento no Brasil, pode-se inferir que as empresas estão se preocupando mais com a saúde financeira dos empregados e da comunidade, uma vez que a produtividade no trabalho de uma pessoa endividada diminui. A principal dificuldade encontrada para implantação do projeto de educação financeira pela organização estudada consistiu em convencer os membros da organização de que a educação financeira é importante e que deve ser implantada, apesar dos sacrifícios exigidos. Os projetos identificados no levantamento da produção científica sobre o tema não são exclusivamente dedicados à educação financeira e estão conectados a outros temas. Alguns desses projetos seguem os princípios da Educação Mundial: Aprender a Aprender, Aprender a Ser, Aprender a Fazer e Aprender a Conviver. Além disso, os programas todos são baseados nos eixos temáticos Autonomia, Cidadania, Diversidade, Família, Empreendedorismo e Sustentabilidade, o que oferece às pessoas um aprendizado completo. De acordo com os entrevistados o programa de educação financeira é um dos pilares do “Programa Cuidar das Pessoas” que envolve sete saúdes (baseados na Organização Mundial de Saúde). Conclui-se que educação financeira é importante no sentido de evitar que a população consuma sem necessidade e caia nas armadilhas dos financiamentos, comprometendo e reduzindo parte de sua renda com o pagamento de juros com cartão de crédito, cheque especial, crediários, empréstimos consignados e gerando com isso, o endividamento negativo. Salienta-se que o ato de consumir não é errado, desde que haja controle com relação ao que está sendo consumido e do comportamento adotado frente às questões financeiras. Recomenda-se adaptar os conceitos de Adam Smith citados no livro A riqueza das nações, e incentivar os indivíduos a utilizarem a compra inteligente. Diante disso, a educação financeira se torna imprescindível. Sugere-se que o dinheiro seja utilizado a serviço de si próprio, e não o indivíduo viver a serviço do dinheiro. 85 Quanto às limitações que se impuseram ao estudo, cita-se a dificuldade de acesso a programas que estão sendo desenvolvidos por inúmeras organizações e a impossibilidade de realização de observações diretas no dia a dia do trabalho gerencial. Além disso, por se tratar de um estudo de caso, o presente trabalho tem uma reduzida possibilidade de generalização. Sugere-se, para estudos futuros, a realização de pesquisas com os gerentes de empresas privadas, públicas, consultorias, bem como comparar suas percepções, permitindo a ampliação da percepção sobre o tema. Por fim, espera-se que a presente pesquisa possa colaborar para elucidar a importância da educação financeira, e que essa contribuição não se limite apenas ao campo acadêmico, mas que possa colaborar para a promoção do tema de forma mais efetiva em organizações escolares e empresariais. 86 REFERÊNCIAS ALVES, F. 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Por este motivo, o primeiro passo consiste numa entrevista com o(a) responsável pelo Programa de Educação Financeira, conforme o roteiro anexo. O segundo passo, para o qual solicito sua ajuda, consiste em ter acesso ao referido programa, a fim de identificar seus pontos principais e apresentá-los no estudo de caso. Finalmente, o terceiro passo será ouvir os beneficiados pelo programa e novamente conto com seu auxilio. Registro, de antemão, meu mais sincero agradecimento e me comprometo a estar no endereço enviado no horário sugerido. Atenciosamente Vinicius Santana Mestrando 93 Anexo 2: Educação Financeira no sítio da internet do Banco Mercantil do Brasil 94 95 96 97 98 99 100 101 102 APÊNDICES Apêndice A - Roteiro de entrevista com os gestores do Programa de Educação Financeira 1) Como gestor do Projeto, o que o senhor entende por educação financeira e qual a importância acredita que ela tenha? 2) De acordo com seu ponto de vista, quais os benefícios acredita que um projeto como este possa gerar? O senhor considera que projetos como este ajudam na conscientização do brasileiro para o uso adequado do dinheiro? 3) Levando em consideração seu conhecimento sobre Educação Financeira, para qual público-alvo os projetos devem ser desenvolvidos? 3) Quais os métodos de educação financeira que o projeto adota? Tem dado bons resultados? 4) Quais as parcerias que o banco faz para a realização deste projeto? 5) Quais as principais ações propostas ou em desenvolvimento para o projeto de Educação Financeira? 6) Quais os resultados auferidos por este projeto? Como esses resultados têm sido medidos em termos concretos? 7) A legislação brasileira tem contribuído/incentivado para a realização de projetos na área de Educação Financeira? Por favor, justifique sua resposta. 8) Quais foram as principais dificuldades encontradas para implantação do projeto de Educação Financeira desenvolvido por sua instituição?