CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO
MESTRADO PROFISSIONAL EM ADMINISTRAÇÃO
MARCUS VINICIUS SOUSA SANT ANA
EDUCAÇÃO FINANCEIRA NO BRASIL:
Um estudo de caso
Belo Horizonte
2014
MARCUS VINICIUS SOUSA SANT ANA
EDUCAÇÃO FINANCEIRA NO BRASIL:
Um estudo de caso
Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado Profissional
em Administração, como requisito parcial para obtenção do
título de Mestre em Administração.
Área de Concentração: Redes Empresariais, Inovação e
Competitividade
Linha de pesquisa: Dinâmica organizacional, inovação e
sociedade.
Orientador: Prof. Dr. Ricardo Paiva.
a
a
Coorientadora: Prof . Dr . Iris B.Goulart.
Belo Horizonte
Centro Universitário UNA
2014
DEDICATÓRIA
As minhas irmãs Lívia Sant Ana e Cinthya Sant Ana, que me ajudaram a transformar
este sonho em realidade. A elas, dedico este trabalho.
AGRADECIMENTOS
A Deus, que com muita paciência, iluminou o meu caminho.
Aos meus pais, Miguel e Maria Nicolina, por participarem dos meus sonhos,
incentivando e confiando.
Ao meu irmão e amigo, Valério.
Ao meu amado filho, João Marcus, que sempre foi o meu grande estímulo.
Aos meus orientadores, Ricardo Paiva e Iris Goulart, pelos ensinamentos
transmitidos, pelas críticas e pela confiança depositada em mim. Agradeço o impulso
na realização de atividades que me fizeram crescer cientificamente.
Aos meus professores do mestrado – UNA, pelas importantes contribuições.
EPÍGRAFE
"Os donos do capital vão estimular a classe trabalhadora a comprar bens caros,
casas e tecnologia, fazendo-os dever cada vez mais, até que se torne insuportável".
Karl Marx
RESUMO
A importância da Educação Financeira tem sido apontada como um recurso para
auxiliar empresários e pessoas comuns a tomarem decisões adequadas sobre
finanças, evitando que decisões equivocadas afetem sua vida financeira, profissional
e social. A produção científica estudada nesta pesquisa aponta como benefício de
um Programa de Educação Financeira a possibilidade de fazer a sociedade
repensar os hábitos de consumo, substituindo-os por outros mais sustentáveis,
favorecendo o desenvolvimento de um processo de conscientização. Foi realizada
uma pesquisa de abordagem qualitativa, de caráter exploratório e descritivo, que
constituiu um estudo de caso. Como unidade de análise foi eleito o Programa de
Educação Financeira do Banco Mercantil do Brasil. Para coleta de dados utilizou-se
documentos escritos e eletrônicos disponíveis no sitio do banco na internet e
entrevistas semi-estruturadas, aplicadas a dois gestores responsáveis pelo
desenvolvimento do Programa. As entrevistas foram gravadas, transcritas e
submetidas à análise de conteúdo. O programa pesquisado destina-se
primeiramente aos funcionários e em seguida aos clientes do Banco e segundo os
entrevistados já demonstra resultados em ambos os grupos. Os gestores relataram
os principais desafios enfrentados e descreveram os procedimentos adotados. Foi
realçada a dificuldade de se convencer os demais membros da organização sobre a
importância do programa. Ressaltaram ainda, a relevância do desenvolvimento de
projetos de longo prazo, que atinjam toda a população, independente da idade,
iniciando-se nos primeiros anos da educação infantil e continuando nos demais
níveis. Para os responsáveis pelo programa, a legislação brasileira não tem
contribuído/incentivado a realização de projetos na área de educação financeira,
afirmando que embora haja incentivo do Governo, são realizadas somente algumas
ações pontuais.
Palavras-chave: Educação financeira, Controle Financeiro, Instituição Bancária,
Conscientização Financeira.
ABSTRACT
Financial Education has been regarded as a an important resource to help
businesspeople as well as common people to make suitable financial decisions, thus
avoiding mistaken decisions that may affect their financial, professional and social
life. The scientific production studied in this research shows that one of the benefits
of a Financial Education Program is the possibility to make society rethink its
consumption habits, replacing them with more sustainable ones, favoring the
development of an awareness process. It was a qualitative research, exploratory and
descriptive, that constituted a case study. The Banco Mercantil do Brasil‘s Financial
Education Program was elected as analysis unit. For data collection, the written
electronic documents available at the bank’s site on internet were used, as well as
semi-structured interviews conducted with two managers responsible for developing
the Program. The interviews were recorded, transcribed and submitted to content
analysis. The researched program is primarily designed to the employees and then to
the Bank’s clients and, according to the interviewees, it has already achieved results
in both groups. The managers reported the main challenges faced and described the
procedures adopted. They pointed out their difficulty in convincing the other
organization members of the importance of the program. They also highlighted the
importance of the development of long-term projects that reach all the population,
regardless of their age, beginning in the first years of children education and going on
along the subsequent levels. In the view of those responsible for the program, the
Brazilian legislation has not contributed/encouraged projects in the financial
education area, claiming that although there are Government incentives, only a few
actions are carried out.
Key-words: Financial Education, Financial Control, Banking Institution, Financial
Awareness.
.
ÍNDICE DE QUADROS
QUADRO 1 -
Produção científica sobre o tema Educação Financeira
QUADRO 2 -
Etapas do Método Transteórico de Mudança (TTM)
32
..............................................................................................
35
QUADRO 3 -
Educação Financeira em alguns países...............................
36
QUADRO 4 -
Princípios e recomendações de educação financeira OCDE...................................................................................
40
RELAÇÃO DE SIGLAS
BC BM&FBOVESPA CAPES CDL CONEF CNSEG -
Banco Central
Bolsa de Mercadorias e Futuros - Bolsa de Valores de
São Paulo
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior
Câmara de Dirigentes Lojistas
Comitê Nacional de Educação Financeira Comitê
Nacional de Educação Financeira
A Confederação Nacional das Empresas de Seguros
Gerais, Previdência Privada e Vida, Saúde Suplementar
e Capitalização
COREMEC -
CVM DCN DSOP EAD EJA ENEF ESAF EUA FCG FEBRABAN FECOMERCIO FGV FSA IBGE IC IGQD INSS LDB OCDE NEFE PCN -
Comitê de Regulação e Fiscalização dos Mercados
Financeiro, de Capitais, de Seguros, de Previdência e
Capitalização
Comissão de Valores Imobiliários
Diretrizes Curriculares Nacionais
Diagnosticar Sonhar, Orçar e Poupar
Ensino à Distância
Ensino de Jovens e Adultos
Estratégia Nacional de Educação Financeira
Escola de Administração Fazendária
Estados Unidos da América
Faculdade de Ciências Gerenciais de Jundiaí
Federação Brasileira dos Bancos
Federação do comércio
Fundação Getúlio Vargas
Financial Services Authority
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
Instituto do Consumidor
índice de Qualidade na Gestão de Pessoas
Instituto Nacional do Seguro Social
Lei de Diretrizes e Bases
Organização de Cooperação e de Desenvolvimento
Econômico
National Endowment for Financial Education
Parâmetros Curriculares Nacionais
PEF-BC PEP PNEF PREVIC PRODIN RAC RAE RGPS SERASA SFN SPC SUSEP -
Programa de Educação Financeira do Banco Central do
Brasil
Programa de Educação Previdenciária
Programa Nacional de Educação Fiscal
Superintendência
Nacional
de
Previdência
Complementar
Programa de Orientação e Defesa do Investidor
Revista de Administração Contemporânea
Revista de Administração de Empresas
Regime Geral de Previdência Social
Centralização de Serviços dos Bancos S/A
Sistema Financeiro Nacional
Serviço de Proteção ao Credito
Superintendência de Seguros Privados
SUMÁRIO
1
INTRODUÇÃO .......................................................................... 12
1.1
1.2
1.2.1
1.2.2
1.3
Problema da pesquisa ................................................................................ 17
Objetivos da pesquisa ................................................................................ 17
Objetivo geral .............................................................................................. 17
Objetivos específicos ................................................................................. 17
Justificativa ................................................................................................. 18
2
REFERENCIAL TEÓRICO ........................................................ 21
2.1
2.2
2.3
2.4
2.5
2.6
2.6.1
2.6.2
2.6.3
2.6.4
2.6.5
2.6.6
2.6.7
Conceitos sobre educação financeira ...................................................... 21
A produção científica sobre educação financeira ................................... 27
Métodos de educação financeira .............................................................. 31
A Educação financeira no mundo ............................................................. 34
Educação financeira no Brasil................................................................... 39
Principais programas de educação financeira no Brasil ........................ 47
Banco Central do Brasil ............................................................................. 47
Comissão de Valores Mobiliários (CVM) .................................................. 48
Superintendência Nacional de Previdência Complementar (PREVIC) ... 50
Programas Setoriais – Governo ................................................................ 51
Ministério da Previdência Social (MPAS) ................................................. 51
Programas Setoriais – Sociedade Civil .................................................... 52
Educação financeira em empresas privadas ........................................... 53
3
PROCEDIMENTOS METODOLOGICOS .................................. 57
3.1
3.2
3.3
3.4
Caracterização da pesquisa quanto a abordagem, aos fins e aos meios .
...................................................................................................................... 57
Unidade de análise e sujeitos de pesquisa .............................................. 58
Coleta de dados .......................................................................................... 58
Técnica de análise e interpretação dos dados ........................................ 59
4.
ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DE RESULTADOS ................. 61
4. 1
Análise documental, que apresenta o Programa de Educação
Financeira do Banco Mercantil .................................................................. 61
4.1.1 Família ......................................................................................................... 62
4.1.2 Independência............................................................................................. 65
4.1.3 Maturidade .................................................................................................. 65
4.1.4 Empreendedor ............................................................................................ 66
4.1.5 Artigos ......................................................................................................... 66
4.1.6 O Especialista ............................................................................................. 67
4.1.7 Iniciativa para colaboradores .................................................................... 67
4.1.8 Concurso MB .............................................................................................. 67
4.1.9 Perfil de Consumo ...................................................................................... 67
4.1.10 Serviços ofertados no site do Mercantil do Brasil................................... 68
4.2
Análise de Conteúdo sobre a percepção dos gestores .......................... 68
4.2.1 Conceito e importância de Educação Financeira .................................... 68
4.2.2 Benefícios que o Programa pode gerar .................................................... 70
4.2.3 Definição de público-alvo para o Programa de Educação Financeira ... 71
4.2.4
4.2.5
4.2.6
4.2.7
4.2.8
5
Métodos de educação financeira adotados pelo Programa ................... 73
Principais ações propostas ou em desenvolvimento ............................. 75
Resultados auferidos pelo Programa até o momento ............................. 77
A legislação brasileira e a Educação Financeira ..................................... 78
Principais dificuldades encontradas para implantação do projeto........ 80
CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................. 82
REFERÊNCIAS ......................................................................... 86
ANEXOS ................................................................................... 92
APÊNDICES .............................................................................102
12
1 INTRODUÇÃO
O capitalismo teve uma expansão significativa logo após o período das grandes
guerras mundiais, em meados da década de 1940 no Século XX. A segunda Grande
Guerra marcou a divisão do mundo em duas grandes correntes político-econômicas:
os Capitalistas, liderados pelos Estados Unidos da América (EUA) e os Socialistas,
liderados por uma reunião de países chamada União Soviética. Segundo Coutinho e
Belluzzo (1996), no período de pós-guerra, os Estados Unidos viveram sua “era
dourada”, afirmando-se como um dos países mais ricos no mundo. Por outro lado, a
chamada Cortina de Ferro impedia o conhecimento do que ocorria nos países
socialistas, ficando obscuro o conhecimento de suas políticas educacionais.
No Brasil, a economia obteve crescimento no período pós-guerra em torno de 7% ao
ano, o que significa quase dobrar o seu Produto Interno Bruto (PIB) a cada dez anos
e aumentá-lo em mais de dez vezes no período compreendido entre os anos 1945 a
1980 (COUTINHO; BELLUZO, 1996). O período brasileiro a partir do ano de 1980 foi
denominado pelos economistas como a 'década perdida'. Este conceito surge em
razão da retração das economias internacionais que contribuíram para a
desaceleração do crescimento econômico do Brasil. O estado inflacionário crônico
constituiu uma das principais razões e efeitos sociais mais característicos para a
qualificação da “década perdida'”. Segundo informações do Senado Brasileiro
obtidas em 2013, no decorrer do século XX, principalmente entre os anos de 1985 a
1994, foram registrados altos índices inflacionários de até 764% ao ano, e isso
ocorreu sem que a população brasileira adquirisse o hábito de planejar suas
despesas e investimentos.
A partir da segunda metade da década de 1990, a junção de alguns fatores, como o
controle inflacionário, a estabilidade da moeda e o crescimento econômico passaram
a ser determinantes para o crescimento do consumo interno. A população, que antes
não possuía condições financeiras para adquirir seus bens de consumo, passou a
ter como forte aliado os financiamentos e crediários. Segundo Federação Brasileira
de Bancos (FEBRABAN), as instituições bancárias passaram a ser os grandes
'promovedores de sonhos', embora isto representasse um custo que alcançava os
13
150% de juros ao ano. Ao lado dessas transformações, um novo termo foi
descortinado por Domingos (2008) e utilizado para definir as pessoas que não
obtinham educação financeira, os 'analfabetos financeiros'. Uma inferência oportuna
a este respeito destaca que apenas conhecimentos matemáticos e conhecimento de
planilhas eletrônicas não são suficientes para determinar um conhecimento
financeiro.
A partir do ano de 1993, o Brasil lança um novo plano econômico como tentativa
para abolir a inflação, o Plano Real no ano de 1994. O plano foi elaborado pela
equipe do Governo do Presidente Fernando Henrique Cardoso, e ocorreu em três
etapas: i - equilíbrio das contas públicas; ii - criação da Unidade Real de Valor (URV)
e; iii - o lançamento da moeda denominada Real. Mesmo com índices de inflação
controlados e o país fortalecido economicamente, o Brasil passou por inúmeras
crises econômicas internacionais como: a mexicana, do fim de 1994; a crise asiática,
em 1997; a moratória da Rússia, em 1998 e, especialmente, a crise de 2008-2009,
que gerou fortes tensões econômicas e financeiras na Europa e nos Estados
Unidos. Devido ao fortalecimento da economia brasileira com forte apoio da
estabilidade do Plano Real, o país passou sem grandes impactos pela crise de
2008-2009.
Os Programas voltados para quem tem renda mínima se iniciaram a partir de 1991 e
têm ajudado na política social de inúmeros países, inclusive no Brasil. Segundo
Paugam (1999), estes programas são caracterizados pela introdução de sistemas de
renda mínima garantida, todos sob condições de inserção profissional ou social. No
Brasil, os programas de transferência de renda têm ajudado muitos brasileiros a
saírem da linha de miséria. De acordo com o Instituo de Estatística e Pesquisa
Aplicada (IBGE), em 2013, 90% das famílias brasileiras consideradas pobres
participam destes programas. O crescimento econômico brasileiro acarretou na
ascensão das classes sociais menos favorecidas. Os estudos divulgados pelo IBGE
indicam que desde 2005, cerca de 30 milhões de brasileiros que estavam nas
classes D/E subiram a escada social graças ao aumento de renda e de consumo. As
classes A e B, por sua vez, passaram de 26,4 milhões para 30,2 milhões de pessoas
no mesmo período (IBGE, 2013).
14
Esta mudança de patamar tem levado os indivíduos a buscar produtos e serviços
que antes não eram acessíveis aos integrantes de sua classe. O resultado é um
aumento significativo de despesas que antes não existiam no seu orçamento,
resultando no descontrole de suas contas financeiras pessoais.
A Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) também
publica pesquisa sobre as características do endividamento da população brasileira.
A Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC) é apurada
mensalmente pela CNC desde janeiro de 2010. Os dados são coletados em todas
as capitais dos Estados e no Distrito Federal, com cerca de 18.000 consumidores.
Partindo dessas premissas, na pesquisa realizada pela PEIC (2013) em comparação
com o ano 2012, o número de famílias que relataram possuir dívidas diversas –
cartão de crédito, cheque especial, cheque pré-datado, crédito consignado, crédito
pessoal, carnês, financiamento de carro, financiamento de casa, etc. – se elevou,
alcançando o seu maior patamar em julho de 2013, que foi de 65,2% das famílias,
correspondendo ao segundo maior índice de toda a série histórica da pesquisa. No
ano de 2010, o índice ficou em 59,1%. No ano de 2011, 62,2%. Em 2012, 58,3%, e,
por fim, em 2013, o patamar foi de 62,5% (PEIC, 2013). De acordo com a Câmara
de Diretores Logistas (CDL) (2013), três em cada dez brasileiros já contrataram um
empréstimo consignado, sendo que 47% dos consumidores entrevistados alegaram
que contraíram o empréstimo com o objetivo de quitar dívidas, como as de cartão de
crédito.
No que tange ao número de pessoas inadimplentes registradas no banco de dados
do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) do Brasil e da Confederação Nacional de
Dirigentes Lojistas (CNDL), o índice aumentou 4,39% no mês de junho de 2014 no
total de dívidas não pagas em comparação com o mesmo período do ano de 2013.
É importante esclarecer que a apuração no mês de junho sugere um cenário no qual
as dívidas em atraso e o número de pessoas inadimplentes irão aumentar (SPC,
2014). Diante do exposto, fica evidente a necessidade de preparar o cidadão
brasileiro para usar de forma adequada seus recursos financeiros. Essa
conscientização, que se iniciaria no processo da educação, teria consequências
sobre a estabilidade econômica do país, sobre a redução da criminalidade e sobre o
avanço do processo de desenvolvimento econômico e social.
15
O Brasil tem aproximadamente 190 milhões de habitantes segundo informações do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) (2013), concentrando 80% de
sua população nas cidades e com taxa de fertilidade1de 1.7%. Estes dados indicam
que o Brasil poderá ter uma geração numerosa em idade laboral antes de um
envelhecimento significativo da população brasileira.
Por não haver nos parâmetros curriculares nacionais (PCN), nem nos currículos de
nossas escolas a referência à educação financeira, os problemas relacionados ao
descontrole financeiro são detectados, principalmente, quando se inicia a formação
no curso superior. Até o presente momento, as despesas da maioria dos jovens
ingressantes nas instituições de ensino superior são geralmente custeadas pelas
respectivas famílias ou com elas divididas. Ao ingressar no ensino superior, os
jovens passam a ter acesso facilitado ao crédito, uma vez que os bancos oferecem,
de forma atrativa, a abertura da primeira conta bancária, cheque especial, cartão de
crédito e outros tipos de créditos. Bancos e financeiras trabalham ainda com a
restrição de algumas exigências e com a isenção da cobrança de taxas comuns a
outros clientes. O acesso ao crédito é utilizado para demonstrar status e símbolo de
ascensão social. Entretanto, a falta de uma educação financeira, que poderia ter
sido oferecida a este estudante desde a base de sua formação, favorece o
endividamento nesta fase da vida, gerando um grande impacto na vida pessoal e
profissional desse jovem durante e após o término do curso superior.
Reconhecendo que a política educacional é um importante componente das políticas
públicas, considera-se que adotando políticas educacionais adequadas os governos
atingiriam determinadas metas, uma vez que tais políticas estão relacionadas
diretamente com a realidade social do país. De acordo com essa visão, as
mudanças na sociedade buscam os seus pilares na educação. A preocupação do
governo brasileiro com a falta da educação financeira de sua população é tal, que
uma de suas ações foi disponibilizar em seu portal na internet uma área inteiramente
dedicada este tema.
1
Taxa de fertilidade é um termo usado em demografia para designar o número proporcional de
nascimentos com vida, referidos a uma população de mulheres e um tempo determinados.
16
Ressalta-se que até o ano de 2011, não existia uma política governamental voltada
para a educação financeira, e inexpressivas ações vinham sendo implantadas no
Brasil. Em 2010, o Governo Federal, por meio do Decreto 7397/2010, publicado no
Diário Oficial de União de 22 de dezembro de 2010, instituiu a Estratégia Nacional
de Educação Financeira (ENEF), que começou a promover as diretrizes da
educação financeira no Brasil. Em 2012, foi homologado o Decreto 23/12, que a
partir da data de sua publicação, deu início ao projeto de educação financeira
obrigatória nas escolas públicas, prevendo que ele fosse implantado em 450
escolas. Esta ação é de grande importância para a formação de crianças e
adolescentes que são susceptíveis ao descontrole financeiro em razão do estímulo
ao consumo feito pelo capitalismo, como aborda Sthephani (2005):
Cada indivíduo participante do processo de formação do ser humano tem
uma parte de responsabilidade nesse processo de mudança pela qual a
educação passa. E a educação financeira vem ser um elo entre várias áreas
do conhecimento, no sentido de fazer com que trabalhem juntas e formem
na epistemologia do aluno, conceitos capazes de instrumentalizá-lo para a
construção de sua autonomia (STHEPANI, 2005, p.12).
Diante do contexto apresentado, pode-se prever que se for desencadeada uma
efetiva ação educacional, a população brasileira poderá se apresentar melhor
preparada para enfrentar problemas financeiros.
A Organização de Cooperação e de Desenvolvimento Econômico (OCDE) é uma
organização internacional e intergovernamental criada em 1962 e é composta por 30
democracias que trabalham em conjunto para responder aos desafios econômicos,
sociais e ambientais da globalização. Este conjunto de entidades trabalha para
responder a novos desafios, tais como a governança corporativa, economia da
informação e os desafios referentes ao envelhecimento da população.
Os governos membros usam as experiências em políticas econômicas, sociais e
ambientais, entre outras, procurando respostas para problemas comuns, como
identificar os bons resultados e trabalhar para coordenar políticas domésticas e
internacionais. Os consumidores são confrontados com uma ampla gama de
serviços financeiros para cobrir riscos importantes como, envelhecimento, doença e
perda de habitação. Este é um resultado da redução de pensões e benefícios de
17
saúde pelos governos e corporações. Em consequência, ocorre o surgimento de
produtos financeiros mais complexos como, aplicações financeiras, investimento,
poupança, crédito, seguros. Nesse sentido, as pessoas precisam entender melhor os
conceitos básicos de risco financeiro e suas implicações.
1.1 Problema da pesquisa
Diante do contexto apresentado e para melhor explicitar a percepção de gestores de
empresas privadas sobre o tema proposto, buscou-se com esta pesquisa, responder
ao seguinte questionamento: qual a importância, os objetivos, os métodos, as
ações propostas, os resultados e as dificuldades de um projeto de Educação
financeira desenvolvido por uma instituição bancária?
1.2 Objetivos da pesquisa
1.2.1 Objetivo geral
Analisar a importância, os objetivos, os métodos, as ações propostas,os resultados e
as dificuldades de um projeto de Educação financeira desenvolvido por uma
instituição bancária
1.2.2 Objetivos específicos
Para se alcançar o objetivo geral deste artigo, foram definidos os seguintes objetivos
específicos:
1.
Caracterizar o Programa de Educação Financeira estudado quanto aos
seus fins, princípios orientadores e métodos adotados;
2.
Identificar o conceito e a importância da educação financeira de acordo
com os responsáveis pelo programa.
3.
Identificar os métodos e ações empreendidos pelo Programa de
Educação Financeira objeto da pesquisa;
4.
Identificar as dificuldades encontradas para a realização de projetos de
educação financeira segundo os gestores entrevistados.
18
5.
Propor um programa básico de Educação Financeira, como produto
técnico da análise realizada.
1.3 Justificativa
No que tange a sua relevância, o estudo se justifica, em termos teóricos, por ampliar
a compreensão sobre o tema. Para área acadêmica, possui importância pela
escassez de pesquisas que contemplem a percepção de gestores de educação
financeira de empresas privadas sobre a importância da educação financeira. A
pesquisa se justifica, ainda, por propiciar subsídios a problematizações que
permitam o delineamento de novas perguntas, abordagens teórico-metodológicas,
linhas de pesquisa, assim como novos desenhos de programas que propiciem
elementos para subsidiar a atuação dos docentes de disciplinas ligadas ao tema.
Analisando os sites de produção científica da Comissão de Aperfeiçoamento do
Pessoal de Ensino Superior (CAPES), Scientific Electronic Library Online (Scielo),
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Universidade de Brasília (UNB),
Universidade de São Paulo (USP), Google acadêmico e periódicos especializados,
como Revista de Administração Pública (RAP), a base de pesquisa Gale Cengage
Learning, o livro fundo de pensão e mercado de capitais, além do site da
Organização das Nações Unidas (ONU) acerca da produção científica sobre
educação financeira, verificou-se a existência de raros materiais na área de
tecnólogos como conclusão de cursos, e a inexistência de trabalhos que aprofundem
o tema proposto. Reconhecendo sua importância, decidiu-se investir em pesquisá-lo,
visando a descortinar a percepção de gestores de educação financeira de empresas
privadas sobre o assunto.
A atenção sobre a necessidade de uma capacitação do indivíduo para lidar com
seus recursos tem mobilizado tanto especialistas em educação quanto gestores e
empresários em geral. Nesse sentido, a relevância para a sociedade parte do
pressuposto de que a educação financeira é importante para auxiliar o indivíduo na
gestão de seus recursos financeiros, possibilitando a diminuição dos níveis de
endividamento individuais e familiares. Ela contribui, também, para que o cidadão
possa agir de maneira autônoma e segura em relação aos gastos que podem, por
19
vezes, impedir que o cidadão exija seus direitos e possa mudar ou melhorar sua
condição social.
A relevância desta pesquisa para as organizações é justificada pela falta de
informações e de conhecimento sobre educação financeira, falta esta que tem
levado empresários e pessoas comuns, juntamente com seus familiares, a tomar
decisões equivocadas, afetando financeiramente, profissionalmente e socialmente a
vida de todos por muitos anos (CERBASI, 2010).
De acordo com dados divulgados pela agência de noticias Reuters (2002), cada
funcionário em situação financeira difícil custa cerca de USD 7.000 por ano, pois, em
razão das dificuldades financeiras, o funcionário deixa de dedicar tempo suficiente
ao trabalho. O descontrole financeiro é responsável por acarretar graves problemas,
seja de ordem particular seja profissional, uma vez que:

85% dos brasileiros gastam mais que arrecadam (IBGE, 2010);

Mais de 75% dos funcionários públicos estão endividados com o credito
consignado (BACEN, 2010).
O assunto relativo às finanças pessoais tem tomado um grande destaque nos
veículos de comunicação, o que tem levado os pesquisadores a se interessarem
sobre a importância da educação financeira. As pessoas que recebem educação
financeira se mostram mais preparadas para promover o próprio processo de
desenvolvimento, a fim de terem mais oportunidades para fazerem uma
especialização acadêmica e para colaborarem com o desenvolvimento das
empresas nas quais venham a trabalhar e do país onde vivem, justificando, então, a
importância de se estudar o tema proposto. A escolha pelas empresas pesquisadas
se deu por sua relevância para o desenvolvimento do tema e, também, pela
acessibilidade.
Esta dissertação está estruturada em cinco capítulos. Inicialmente é apresentada a
introdução, na qual se faz a contextualização do tema e sua importância, o problema
de pesquisa, os objetivos e a justificativa. O segundo capítulo trata do referencial
teórico, abordando algumas noções de finanças: o conceito, as características, a
20
importância e o sentido da educação financeira. A metodologia adotada é o assunto
do terceiro capítulo, e trata da caracterização da pesquisa, da definição dos
instrumentos de coleta de dados, definição dos sujeitos de pesquisa e das técnicas
de tratamento dos resultados. O quarto capítulo aborda a análise de resultados,
valendo-se da análise do conteúdo das entrevistas realizadas com os gestores e da
análise documental referente ao Programa de Educação Financeira do Banco
Mercantil do Brasil. O último capítulo apresenta as considerações finais, seguido das
referências e do apêndice.
21
2 REFERENCIAL TEÓRICO
O referencial teórico do presente trabalho apresenta as diferentes definições para o
conceito de educação financeira, propondo, como síntese dessa reflexão, o conceito
a ser adotado neste trabalho. Em seguida, expõe os princípios da educação
financeira definidos pela OCDE, órgão ligado à Organização das Nações Unidas
(ONU). Além disso, apresenta modelos e técnicas de educação financeira adotados
em algumas partes do mundo.
2.1 Conceitos sobre educação financeira
Para tornar mais claro o conceito de educação financeira, é oportuno recorrer ao
sentido amplo de Educação e de Finanças, termos básicos para fundamentar o
referido conceito. Segundo Houaiss (2001), educação se refere à ação de
desenvolver as faculdades psíquicas, intelectuais e morais: a educação da
juventude; resultado desta ação, conhecimento e prática dos hábitos sociais; boas
maneiras. A palavra Educação deriva-se do latim educare, no sentido formal, é todo
o processo contínuo de formação e ensino-aprendizagem que faz parte do currículo
dos estabelecimentos de ensino, sejam públicos, sejam privados.
Para Jacob, Sharyl e Malcolm (2000), o termo educação na área de finanças
significa o conhecimento de termos financeiros de mercado, a habilidade com o uso
da matemática financeira para interpretar dados financeiros e a capacidade de tomar
decisões quanto ao uso do dinheiro. A expressão também abrange o conhecimento
de direitos, normas sociais e experiências práticas.
A palavra Finanças, segundo Houaiss (2001), se refere à ciência que consiste na
atividade do manejo do dinheiro ou de títulos que o representem; conjunto de
receitas e despesas. O mesmo termo, segundo Lucci et al. (2006, p.4), “refere-se às
atividades relacionadas ao dinheiro na vida cotidiana das pessoas, como controle do
orçamento, utilização de cartões de crédito, cheques e decisão de investimento”.
Segundo Gitman (2004, p. 4), “podemos definir finanças como a arte e a ciência da
gestão do dinheiro”. O autor menciona que o planejamento financeiro começa na
22
elaboração de planos financeiros de longo prazo, que, por sua vez, orientam planos
e orçamentos de curto prazo (GITMAN, 2004).
Lucci et al. (2006), abordando o sentido da expressão “educação financeira”,
afirmam que ela se refere aos conceitos e atitudes voltados para ações financeiras,
indicando, portanto, o conjunto de atividades, como o controle diário das despesas,
cartão de crédito, financiamentos, empréstimos. Esses autores mostram que a
educação financeira é importante sob inúmeras perspectivas como, por exemplo, a
do bem estar pessoal e das ações socialmente orientadas. Logo, as consequências
de decisões equivocadas financeiramente podem desorganizar financeiramente
tanto a vida pessoal de um indivíduo, como comprometer de sua carreira
profissional.
Segundo Gallery et al. (2011, p.288), educação financeira é "a capacidade de fazer
julgamentos inteligentes e decisões eficazes em relação ao uso e gestão do
dinheiro”. Para Lelis (2006), a educação financeira é importante, pois abrange
informações de como aumentar a renda, reduzir despesas e gerenciar fundos.
Resumindo, a educação financeira é utilizada como ferramenta para a pessoa
administrar o próprio dinheiro.
O conhecimento financeiro,
[...] pode ser enquadrado em duas vertentes: pessoal e profissional. Do
ponto de vista pessoal, é atrelado à compreensão da economia e de como
as decisões das famílias são afetadas pelas circunstâncias econômicas.
Inclui ainda tópicos da gestão de recursos, tais como: orçamento, poupança,
investimento e seguro. No âmbito profissional, o conhecimento financeiro é
vinculado à compreensão de relatórios financeiros, fluxos de caixa e
mecanismos de governança corporativa das empresas (WORTHINGTON,
2
2006 citado por SAVOIA; SAITO; SANTANA, 2007, p.1130).
Para Braunstein e Welch (2002), além do benefício pessoal, a educação financeira
desenvolve saudavelmente o mercado financeiro, uma vez que o estimula a oferecer
melhores serviços:
[...] participantes informados ajudam a criar um mercado mais competitivo e
eficiente. Consumidores conscientes demandam por produtos condizentes
2
WORTHINGTON, A. C. Predicting financial literacy in Australia. Financial Services Review, v. 15, n.
1, p. 59-79, Spring 2006.
23
com suas necessidades financeiras de curto e longo prazo, exigindo que os
provedores financeiros criem produtos com características que melhor
correspondam a essas demandas (BRAUNSTEIN, WELCH; 2002, p. 445).
Para a European Commission (Fin-Focus, 2008), a educação financeira seria usada
para melhor gerenciamento dos riscos financeiros, permitindo maior consciência nas
tomadas de decisões. Pode-se inferir que nos países europeus, especialmente
naqueles que são filiados à Comunidade Econômica Europeia, a educação
financeira vem sendo considerada suporte para a sobrevivência econômica.
Segundo Frankenberg (1999, p. 31), ela se refere ao planejamento financeiro
pessoal como aquele que estabelece e segue uma estratégia precisa, “deliberada e
dirigida para a acumulação de bens e valores que irão formar o patrimônio de uma
pessoa e de sua família”. Este autor considera que o planejamento financeiro deve
ser voltado para o curto ou médio ou longo prazo, e é necessário fazer correções e
revisões periódicas.
De forma mais objetiva, Medeiros (2003) e Lelis (2006) compreendem que a
educação financeira é um tema no qual se discute a importância do dinheiro, a forma
como
se
deve
administrá-lo,
ganhá-lo,
gastá-lo,
poupá-lo
e
consumi-lo
conscientemente. De acordo com esses autores, em face desta necessidade, surge
o tema 'educação financeira'. Analisando-se os conceitos apresentados até o
momento, conclui-se que a educação financeira constitui um recurso que orienta as
pessoas a evitarem o uso inadequado do dinheiro e o gasto inconsciente,
impedindo, assim, o endividamento.
Vale ressaltar que existem dois tipos de endividamento, o passivo e o ativo, que são
abordados por Faria (2006) como:
[...]o endividamento passivo acontece quando há um aumento de dívidas
por consequência de alguma situação inesperada, ou seja, uma
circunstância imprevista, podendo ter diversos fatores geradores. Já o
endividamento ativo se caracteriza por montantes de dívidas, sendo a
maioria equivocada, constituindo resultado de uma má gestão financeira
(FARIA, 2006, p.01).
Um dos principais fatores do endividamento pessoal é a facilidade com que o crédito
é oferecido. De acordo com Horta e Carvalho (2002), crediários, financiamentos,
empréstimos e cartões de crédito são alguns desses tipos de oferta de crédito.
24
Geralmente, a falta do dinheiro para a compra de um bem faz com que o indivíduo
seja atraído para o crediário (parcelamento), deixando de levar em consideração que
as taxas de juros podem ser bastante elevadas. Entende-se, portanto, que o
endividamento é a utilização de recursos de terceiros para fins de consumo. Ao se
apossar desse recurso, o sujeito estabelece um compromisso em devolver, numa
data pré-estabelecida, o montante, normalmente acrescido de juros e correção
monetária (MARQUES; FRADE 2003).
Um endividamento pode ser positivo se o objetivo for o aumento de renda. Como
exemplo, pode-se citar um financiamento para a compra de uma máquina, que
constitui insumo para a realização de uma atividade que vai gerar lucro. Isso pode se
tornar endividamento positivo, pois a aquisição se presta para o aumento da renda.
Porém, se a compra é feita para consumo próprio, sem previsão de retorno, ou tratase simplesmente da aquisição de um bem de luxo, o endividamento é considerado
negativo (TOLOTTI, 2007).
Quando se fala em endividamento, precisa-se primeiramente conhecer alguns
conceitos como o de crédito, que para Sandroni (1999) é,
[...]a transação comercial em que o comprador recebe imediatamente um
bem ou serviço adquirido, mas só fará o pagamento depois de algum tempo
determinado. Outro fator é a falta de planejamento no orçamento pessoal ou
familiar (SANDRONI, 1999, p.11).
Alves (2007, p.15) relata que o problema financeiro das pessoas surge a partir da
falta de educação financeira, tendo como base a falta de planejamento. Em uma
sociedade altamente consumista, quanto maior a renda familiar maior os gastos, e,
conseqüentemente, maior o seu endividamento. Tolotti (2007, p. 51) “relata que o
preço para manter um status elevado é muito pesado para a maioria das pessoas”.
De acordo com este autor, em uma sociedade onde o ter é mais importante que o
ser, as pessoas buscam ser aceitas adquirindo produtos de marca e objetos que
visam diminuir a angústia e o desprestígio social que são afetados. Durkheim (1978)
considera que o indivíduo está sempre se ajustando aos novos ambientes sociais;
por isso, se ele estiver incerto dos valores transmitidos pela família, passa a almejar
25
um estilo de vida mais caro do que o habitual, e, assim, pode se tornar incapaz de
arcar com suas despesas.
Segundo Stephani (2005), quando chega à fase escolar, o indivíduo traz consigo sua
história, ou seja, as concepções de sua família, os conceitos construídos em seu
bairro, sua região, bem como as concepções que foram construídas sob a influência
da mídia. O consumidor pode se endividar devido a diversos fatores: desemprego,
atraso de salário, descontrole nos gastos, dificuldade financeira pessoal, redução da
renda, doenças, má fé, sendo todos estes fatores agravados em época de crise
econômica do país (FIORENTINI, 2004). Para Jacob, Sharyl e Malcolm (2000), a
expressão educação financeira aplica-se a uma vasta escala de atividades
relacionadas ao dinheiro na vida diária das pessoas, que vai desde o controle do
cheque até o gerenciamento de um cartão de crédito, da preparação de um
orçamento mensal até a tomada de um empréstimo, da compra de um seguro ou de
um investimento.
Além disso, educação financeira demanda o conhecimento de,
termos, práticas, direitos, normas sociais e atitudes necessárias ao
entendimento e funcionamento destas tarefas financeiras vitais. Isto também
inclui o fato de ser capaz de ler e aplicar habilidades matemáticas básicas
para fazer escolhas financeiras sábias (JACOB; SHARYL; MALCOLM,
2000, p.8).
Entende-se que o conceito que mais representa a realidade brasileira sobre a
educação financeira é o seguinte:
o processo mediante o qual os indivíduos e as sociedades melhoram sua
compreensão dos conceitos e dos produtos financeiros, de maneira que,
com informação, formação e orientação claras, adquiram os valores e as
competências necessários para se tornarem conscientes das oportunidades
e dos riscos neles envolvidos e, então, façam escolhas bem informados,
saibam onde procurar ajuda, adotem outras ações que melhorem o seu
bem-estar, contribuindo, assim, de modo consistente para formação de
indivíduos e sociedades responsáveis, comprometidos com o futuro
conceito de educação financeira definido pela OCDE em 2005, adaptado
para a realidade brasileira (BRASIL, 2010).
A educação financeira é um assunto presente no cotidiano das empresas e pessoas,
mesmo que ainda pouco discutido no meio empresarial, ela tem revelado ser um
26
assunto preocupante para todos, pois vem refletindo diretamente na vida pessoal e
familiar dos envolvidos de forma negativa. Por causa disso, faz-se necessário um
entendimento maior sobre o tema, isto é, um conhecimento mais abrangente sobre o
gerenciamento do dinheiro no cotidiano das pessoas.
A educação financeira, segundo Hill (2009), pode ser definida como a habilidade que
os indivíduos apresentam para fazer escolhas adequadas ao administrar suas
finanças pessoais durante o ciclo de sua vida. Assim, em 2005, a OCDE define
educação financeira como o processo que permite aos consumidores e aos
investidores entender melhor os conceitos e os produtos financeiros, e avaliar os
riscos e as oportunidades financeiras. Por meio da informação, instrução e/ou de
conselhos objetivos, os consumidores e investidores desenvolvem habilidades e
adquirem confiança que os permitem tomar decisões fundamentadas, que, por sua
vez, contribuiriam para o bem-estar financeiro deles.
Pontuam Savoia, Saito e Santana (2007) que em 2003, a OCDE criou o Financial
Education Project, que visava a uma maior consciência dos indivíduos sobre os
produtos financeiros. De acordo com os autores, este programa possui a finalidade
de analisar o real impacto das iniciativas demandadas nos países, desenvolvendo
técnicas que permitam a comparação dos programas de modo a prover um conjunto
de recomendações que melhorem efetivamente as ações implantadas.
Hogarth (2002) identificou características comuns em várias definições de educação
financeira e descobriu que os indivíduos que são “financeiramente educados”
possuem um melhor discernimento por: (a) obterem conhecimento e serem
educados e informados sobre questões de gestão de dinheiro e ativos; (b)
compreenderem os conceitos básicos da gestão do dinheiro e bens; e (c) utilizarem
o conhecimento e compreensão para planejar e implementar decisões financeiras.
Hogarth (2002) ainda afirma que as avaliações de programas têm demonstrado que
um
conhecimento
sobre
educação
financeira
comportamento e nisso há um ganho financeiro.
leva
a
uma
mudança
de
27
Destaca-se que as mudanças sociais ocorridas nos últimos tempos alteraram a
definição de cidadania. Não se pode mais pensar a cidadania como uma
consequência de ser cidadão, mas como um diferencial da pessoa que atua no
cenário em que está inserida, não apenas usufruindo de seus direitos de cidadão,
mas intervindo e criando novos direitos que lhe são caros (JACOB; SHARYL;
MALCOLM, 2000).
Assim, para possuir a cidadania pressupõe-se que o indivíduo seja agente de sua
transformação. Contudo, para que isso aconteça, é preciso conhecer os meios de se
reivindicar e de criar. Para tanto, entende-se ser fundamental uma boa formação do
cidadão. Nesse contexto, pode-se pensar na união da cidadania com a Matemática
Financeira, uma vez que os cidadãos são cercados de termos financeiros no dia a
dia. Assim sendo, a Matemática Financeira se mostra importante nessa formação
(JACOB; SHARYL; MALCOLM, 2000).
De resto, é necessário registrar que os autores citados realçam a relevância da
educação financeira como importante contribuição para o desenvolvimento das
pessoas e dos países. Verifica-se, portanto, que o tema tem grande valor e constitui
objeto de interesse para o gestor de empresas privadas.
Assim, neste trabalho adotamos como referência o conceito de educação financeira
definido pela OCDE em 2005, que foi adaptado para a realidade brasileira e que
descreve a EF como "[...] processo mediante o qual os indivíduos e as sociedades
melhoram sua compreensão dos conceitos e dos produtos financeiros [...] (BRASIL,
2010) e que serve de como base de sustentação para uma maior consciência dos
indivíduos sobre os produtos financeiros.
2.2 A produção científica sobre educação financeira
Dentre os trabalhos pesquisados, cita-se o trabalho de Pinheiro (2008), que ressalta
a relevância da educação financeira para o campo da previdência complementar. O
autor aborda a experiência da OCDE, precursora em impulsionar a educação
financeira e organizar um guia educativo de princípios e indicações direcionadas
para a previdência complementar. O artigo afirma que o Brasil segue a tendência
28
internacional, incluindo a educação financeira e previdenciária na agenda de
trabalho. Conforme dados da pesquisa de Pinheiro (2008), a população brasileira,
assim como a mundial, precisa de maior conhecimento sobre o produto
previdenciário, podendo desse modo, acarretar importantes implicações para o
desenvolvimento socioeconômico do Brasil.
Diante disso, foi possível verificar que medidas educativas são ferramentas que
precisam ser promovidas e impulsionadas tanto pelo governo quanto pela ação
privada.
Lucci et. al. (2006) tratam da importância do conhecimento dos produtos financeiros,
e afirmam que as pessoas precisam estar preparadas para lidar com circunstâncias
cada vez mais difíceis ao adquirir um bem ou serviço. Foi possível verificar que o
conhecimento sobre finanças estudados na universidade influenciou de forma
positiva a tomada de decisões referente a produtos financeiros. A pesquisa realizou
uma análise dos dados que demonstrou que o nível de conhecimento dos conceitos
e produtos financeiros é inteiramente relativo ao nível de educação financeira
aplicada pelas pessoas no seu dia a dia.
Matta (2007) realizou uma pesquisa cuja finalidade foi averiguar o alinhamento entre
a oferta de informação do Programa de Educação Financeira do Banco Central do
Brasil (PEF-BC) e a busca de informação sobre finanças pessoais realizadas pelos
universitários do Distrito Federal. Concluiu-se que há um alinhamento parcial entre a
oferta e a procura de informação examinada, ou seja, somente uma parte da
demanda é preenchida pela oferta de informação do PEF-BC. Essa pesquisa foi
importante por demonstrar a necessidade de alfabetização financeira das pessoas
demonstrando que quando há oferta de cursos sobre o tema “educação financeira”
existe procura relevante.
Além da formação de uma massa crítica em públicos variados, é possível, durante a
apresentação dos conceitos matemáticos e de suas consequências, observar, no dia
a dia, o comportamento dos indivíduos diante da prática. Essa abordagem à
Matemática Financeira se dá pelo uso de uma das perspectivas da Educação
Matemática, voltadas para construção do cidadão, entendendo que o conhecimento
29
matemático pode se transformar numa ferramenta indispensável para a superação
da dicotomia entre o ensino escolar e o cotidiano, fundamentais para o exercício da
cidadania (MATTA, 2007).
Savoia, Saito e Santana (2007) descrevem ações que amparam o engajamento dos
agentes públicos e privados em programas de educação financeira, abordando
experiências internacionais. Tratam também dos efeitos decorrentes do papel do
governo brasileiro para promoção da educação financeira, indicando que no Brasil
existe uma situação preocupante no que se refere à educação financeira,
especialmente por causa do desequilíbrio na distribuição de renda do país.
No quadro 1 são apresentados os autores identificados nos sites acadêmicos
mencionados, apresentando-se os títulos dos trabalhos e o resumo dos mesmos.
30
Quadro 1 - Autores pesquisados nos sites de pesquisa
Pesquisador
Ano
Título
Periódico
Objetivo
Resumo
Lucci et al.
A Influência da educação
financeira nas decisões
2006 de
consumo
e USP
investimentos
dos
indivíduos
No mundo de numerosos e variados
produtos financeiros, as pessoas
devem estar preparadas para lidar
com situações cada vez mais
complexas ao desejarem adquirir
um bem ou serviço.
O nível de conhecimento dos conceitos financeiros
é diretamente proporcional ao nível de educação
financeira, no que tange somente ao número de
disciplinas ligadas à área de finanças cursadas na
graduação.
Savoia;Saito;
Santana
Discutir a educação financeira no
Paradigmas
da Revista
de Brasil, de forma a avaliar o estágio
2007 educação financeira no Administração das ações referentes ao assunto no
Brasil
Pública (RAP) contexto
nacional
e
sugerir
iniciativas para o seu fomento.
Cinco ações que auxiliam no engajamento dos
agentes públicos e privados no programa de
educação financeira são propostas: evolução,
objetivos, abordagens, riscos e resultados.
Ressalta-se a importância da educação financeira
para o segmento da previdência complementar.
Discute a promoção de práticas educativas como
Educação financeira e Livro Fundo Discutir a relevância, como política (i) melhora dos fundos de pensão, (ii) mudar
previdenciária, a nova de Pensão e pública, da educação financeira hábitos culturais, (iii) enfrentar as consequências
Pinheiro
2008
fronteira dos fundos de Mercado de para o segmento da previdência da transição demográfica e
do risco de
pensão
Capitais
complementar.
longevidade, (iv) permitir que o indivíduo realize
escolhas financeiras adequadas ao seu perfil e (v)
auxiliar as atividades do órgão governamental de
fiscalização dos fundos de pensão.
Observa-se que esforços objetivando a educação
Oferta e demanda de
Verificar o alinhamento entre a
financeira das pessoas são raros no Brasil. São
informação
financeira
oferta de informação do Programa
quase inexistentes os estudos voltados ao tema.
pessoal: o Programa de
de Educação Financeira do Banco
Diante dessa escassez, desenvolveu-se uma
Mata
2007 Educação Financeira do UNB
Central do Brasil (PEF-BC) e a
pesquisa envolvendo um dos raros programas
Banco Central do Brasil
demanda de informação pelos
existentes no país sustentado por um órgão
e os universitários do
universitários do Distrito Federal
público voltado à educação financeira da
Distrito Federal
sobre finanças pessoais.
população.
Fonte: Elaborado pelo autor, a partir de: (LUCI et. al., 2006; SAVOIA; SATO; SANTANA, 2007; PINHEIRO, 2008; MATTA, 2007).
31
Percebe- se diante do quadro apresentado, que os estudos sobre Educação
Financeira são escassos, o que indica a importância da pesquisa em questão.
2.3 Métodos de educação financeira
Por ser uma matéria relativamente nova nos meios educacionais, os modelos e
técnicas usados para disseminar a educação financeira são distintos e utilizam, na
maioria das vezes, a expertise e as ferramentas de especialistas na área e daqueles
que assumem a defesa da inclusão desta disciplina no sistema de ensino.
Um dos métodos usados no Brasil é o CROWN, que tem como principal objetivo
ensinar princípios financeiros aos cristãos. O Crown tem como meta ensinar 300
milhões de pessoas em todo o mundo, até o ano de 2015, a lidar com dinheiro
segundo a perspectiva bíblica. No Brasil, o alcance pretendido é de 10 milhões de
pessoas (CROWN, 2014).
O método Crown (2014) é ministrado em pequenos grupos, que podem variar de dez
a doze participantes, incluindo os líderes ou facilitadores. A duração é de doze lições
referidas e ministradas em um dia específico da semana, no decorrer de doze
semanas consecutivas, com duração de duas horas por lição. A metodologia
aplicada é de estudos das lições e tarefas diárias que depois serão compartilhadas
dentro o grupo. Para tanto, é utilizado o livro O Seu Dinheiro, do mesmo autor do
método, Howard Dayton. Qualquer pessoa pode fazer o curso, desde que
alfabetizada. Os participantes podem ser casais ou indivíduos: a) as pessoas
casadas deverão participar do curso juntamente com seus cônjuges, b) a
participação individual se restringe aos solteiros, separados, divorciados ou viúvos.
Outro método que vem sendo bastante difundido no Brasil é o método Diagnosticar,
Sonhar, Orçar e Poupar (DSOP), criado pelo educador e terapeuta financeiro,
Reinaldo Domingos. Criada em 2008, a Dsop tem levado a educação financeira a
diversos públicos: da infância à idade adulta. Ao criar este método seu idealizador
tentou abranger todos os princípios para se educar financeiramente. A metodologia
é aplicada a indivíduos de diferentes idades, e cada grupo possui um material
32
didático específico. Existe também um curso de Pós-Graduação em Educação e
Coaching Financeiro em pareceria com a UBS escola de negócios (DSOP, 2014).
O objetivo é educar para um consumo sustentável, permitindo a inclusão de
comportamentos que visam à formação de pessoas pensantes, críticos, autônomos
e capazes de idealizar e realizar projetos individuais e coletivos, procurando viver o
dia de hoje sem se esquecer do amanhã, atendendo às necessidades básicas e
poupando para garantir sua autonomia financeira.
Atualmente, a Dsop dispõe de uma rede formada por mais de 200 educadores
financeiros e franquias de negócios em todo o Brasil, que compartilham a missão de
disseminar a educação financeira, romper com o ciclo de pessoas com desequilíbrio
financeiro e construir novas gerações e famílias sustentáveis financeiramente
(DSOP, 2014).
Com base no método Dsop (2014), entende-se que as pessoas podem desenvolver
competência para efetuar compras de forma mais consciente, decidindo se é melhor
comprar à vista ou a prazo, se há ou não necessidade de tomar um empréstimo ou
não, e, em caso afirmativo, qual seria a melhor forma de negociá-lo, de fazê-lo e
onde procurar outras opções; se houver recursos excedentes no orçamento mensal,
o que se pode fazer frente às possibilidades, optando por uma aplicação a curto,
médio ou longo prazo, etc.. Além disso, é com a Matemática Financeira que se pode
incentivar o empreendedorismo dos alunos, pois no caso de um investimento em
negócio próprio, pode-se ensinar como calcular o valor de um produto a ser vendido
de forma que o preço se ajuste às necessidades do cliente, sem deixar de atender à
necessidade da remuneração do negócio.
Existe também um pequeno, mas crescente grupo de pessoas que analisa a
instrução financeira pelo método Transteórico de Mudança (TTM). O método se
baseia no trabalho de Prochaska e Di Clemente (1983) e integra as principais teorias
psicológicas em uma teoria de mudança de comportamento. O modelo inicialmente
foi utilizado na área da saúde (SHOCKEY; SEILING, 2004).
33
Entende-se que, com esse método TTM, a educação proporcionada deve vincularse, de forma orgânica e integrada, ao comportamento consumista, assim como deve
relacionar-se às práticas sociais. Com isso, espera-se que o indivíduo tenha uma
formação que o permita desenvolver diferentes competências e habilidades, e,
assim, integrar-se como tal na comunidade em que está inserido. Essa formação
acarretaria em uma mudança no comportamento de consumo do indivíduo, visto que
ele estaria dotado de autonomia e pensamento crítico (PROCHASKA; DI
CLEMENTE, 1983). Este método possui cinco etapas de mudança conforme Quadro
2.
Quadro 2 - Etapas do método Transteórico de Mudança (TTM)
Fase
Período
Características
Précontemplação
individual
Contemplação
individual
Não está pronto para agir e mudar de
comportamento nos próximos seis
meses.
Está se preparando para tomar
medidas e pretende mudança de
comportamento nos próximos seis
meses.
Está pronto para agir e pretende mudar
de comportamento nos próximos 30
dias.
Indivíduos nesta fase irão raramente
procurar ajuda e utilizar informações.
Preparação
individual
Indivíduos nesta fase estão abertos
para os processos educativos.
Indivíduos nesta fase vão procurar
informação de apoio, mas, muitas
vezes, têm a preocupação de que o
processo de mudança pode ser difícil e
eles podem não ter sucesso. Pequenos
passos em direção ao objetivo.
Ação
Mudança de comportamento. O Indivíduos precisam acreditar que
individual
indivíduo não fez a mudança no podem mudar, que podem ser capazes
período de seis meses.
de controlar os estímulos que provocam
a sua recaída em direção a antigos
comportamentos, e criar um sistema de
apoio para ajudá-los em tempos
desafiadores.
Manutenção
Abertamente
têm
mudado
seu Estágio em que frequentemente os
individual
comportamento e têm duração de mais indivíduos têm recaídas. Deve ser
de seis meses.
comprometido com a superação das
tentações para assumir um novo
comportamento. Tornar-se permanente.
Indivíduos nesta fase têm de ser
capazes de avaliar as condições das
recaídas.
Fonte: Elaborado pelo autor a partir de Prochaska e Di Clemente (1983).
Procura-se, igualmente, preparar a pessoa e orientá-la para o mercado de trabalho,
de forma que as competências desenvolvidas permitam-lhe acompanhar as
mudanças sociais, culturais e econômicas, ao passo que, de acordo com seu
interesse, tenha condições de dar continuidade a sua formação ética e profissional.
34
Pode-se dizer, portanto, que esse método acompanha as necessidades e exigências
do mundo atual, propondo que seja praticado um ensino que permita ao educando
interagir com o ambiente em que vive.
2.4 A Educação financeira no mundo
A educação financeira tem sido implantada em inúmeros países, os quais têm criado
instituições para a sua promoção. Analisando os estudos disponíveis nos sites
consultados, foi possível elaborar o Quadro 3, a seguir:
Quadro 3 - Educação Financeira em alguns países
País
Instituição Promotora
Estados
Unidos
Departamento do Tesouro –
Escritório de Educação
Financeira
Inglaterra
Autoridade de Serviços
Financeiros (FSA)
Portugal
Instituto do Consumidor (IC)
Japão
Instituto Nacional para a
Educação do Consumidor
(NICE)
Canadá
Escritório de Assuntos do
Consumidor (OCA)
Nova
Zelândia
NZ Retirement Comission
Comisión Nacional Del
Mercado de Valores (CMNV)
e pelo Banco de España
Fonte: Adaptado de Matta (2007).
Espanha
Objetivos
•Promover o acesso a instrumentos de educação
financeira para tomar decisões sábias quanto ao
gerenciamento financeiro pessoal;
Coordenar as ações da Comissão de Educação e
Instrução Financeira.
• Manter a confiança do mercado;
• Promover o entendimento público do sistema
financeiro, a proteção do consumidor e reduzir o crime
financeiro;
• Elaborar diretrizes para o ensino de educação
financeira nas escolas inglesas.
• Atuar como órgão de defesa do consumidor;
• Promover ações de educação, formação e produção
de meios didático-pedagógicos.
• Sustentar a efetiva e abrangente promoção da
educação do consumidor.
• Atuar no sistema de monitoramento do mercado e
do consumo;
• Atuar como fonte de informação econômicofinanceira para a população canadense.
•Apresentar programas de incentivo ao plano de
aposentadoria, garantindo aos idosos a qualidade de
vida que eles esperam; atuar na educação de jovens.
•Melhorar a cultura financeira da população adulta;
•Inserir disciplinas que desenvolva a educação
financeira nas escolas.
De acordo de acordo com Saito, Savoia e Petroni (2006), nos Estados Unidos da
América, não só as escolas de ensino fundamental oferecem educação financeira,
mas, também, as instituições governamentais como o Federal Reserve e a National
Endowment for Financial Education (Nefe). Ressalta-se que 98% dos bancos
35
americanos estão envolvidos de alguma forma nesse processo, sendo 72% para
capacitar os jovens. Os autores acima afirmam que até o ano de 1985, dos 50
estados americanos 60% já tinham incluído a educação financeira como conteúdo
obrigatório nas escolas secundárias.
No Reino Unido, diferentemente dos Estados Unidos, as escolas não são obrigadas
a oferecer educação financeira, contudo existe uma discriminação de conteúdo por
parte de outras disciplinas como educação moral e cívica, matemática, dentre
outras. O Financial Services Authority (FSA) é um órgão independente que atua no
Reino Unido como responsável pela regulação dos serviços financeiros. As questões
matemáticas não eram vistas como temas dinâmicos, nem abordados no contexto
do cidadão. Na realidade a não obrigatoriedade é compreendida pelo pensamento
lógico de que quando se pensa no uso da Matemática e em suas diversas
aplicações, entende-se que ela está presente em todos os aspectos da sociedade e
das culturas (MATTA, 2007).
Em Portugal, o Instituto do Consumidor, além de atuar como órgão de defesa do
consumidor, promove ações de educação, formação e produção de meios didáticopedagógicos. No Japão, o Instituto Nacional para Educação do consumidor também
desenvolve ações destinadas à educação do consumidor, porém não se menciona
um programa escolar para este fim. Já no Canadá, a educação financeira da
população é oferecida desde o início da escolarização das crianças (MATTA, 2007).
Na Nova Zelândia, uma comissão orienta pessoas que se preparam para a
aposentadoria e ainda atua na educação financeira de jovens. Willis (2009), em seu
trabalho realizado na Universidade da Pensilvânia – Estados Unidos da América
(EUA), afirma que a cada dia os produtos financeiros se tornaram mais complexos e
com isso os consumidores têm dificuldades de compreendê-los. Willis (2009), que é
contra a educação financeira, recomenda a sua substituição por uma busca de
políticas mais adequadas aos consumidores. O autor considera inadequada a
inclusão da educação financeira no processo de alfabetização e afirma que os
métodos para a realização do preparo do consumidor praticamente poderiam ser os
mesmos adotados nas escolas: sala de aula, autoestudo, materiais, sites
informativos, jogos interativos e aconselhamento. Embora os programas variem em
36
conteúdo e metodologia, todos têm o objetivo de trazer bem estar ao consumidor na
tomadas de decisões relacionadas ao uso do dinheiro.
Na Espanha, existe um movimento destinado a incluir a Educação Financeira no
sistema de ensino. Holzmann e Miralles (2005) argumentam que a educação
financeira deve estar inserida no currículo sem que haja necessidade de ser uma
matéria nova, podendo ser tratada em disciplinas que criem a oportunidade de
educar financeiramente crianças e adolescentes.
A eficácia da alfabetização financeira como uma ferramenta política não pode,
portanto, ser empiricamente validada, e uma das explicações possíveis para isso se
refere ao fato de os educadores ainda não terem encontrado o caminho certo para
realizar este tipo de educação (HOLZMANN, MIRALLES, 2005). É necessário,
portanto, pensar na educação dos cidadãos, e a Matemática se apresenta como
uma das disciplinas mais indicadas nesse processo, pois, é por meio dela, que, com
ou sem o uso da tecnologia, pode-se interpretar as facetas do Real.
Os estudos, segundo Bernheim e Garrett (2003), já realizados como suporte para o
modelo de educação financeira sofrem, entretanto, algumas fragilidades, como o
desenvolvimento de programas de educação financeira que utilizam técnicas de
coleta de dados usando auto-avaliação para demonstrar que essa educação é
eficaz. No que se refere ao Brasil, um estudo de educação financeira do consumidor
utilizando auto-relatos sobre os benefícios da poupança admite que a educação
possa afetar a comunicação (o que a pessoa diz), em vez de afetar o
comportamento (como a pessoa direciona suas ações) (BERNHEIM; GARRETT,
2003),
O número de programas de educação financeira tem crescido nos Estados Unidos
rapidamente nos últimos anos. Uma pesquisa feita na Universidade de Ilinois com o
objetivo medir a eficácia destes programas demonstrou que eles não mantiveram os
resultados esperados. Isso de deve principalmente a um desacordo entre
profissionais da área financeira sobre a forma de medir o impacto destes programas.
A pesquisa concluiu que os resultados dos programas de educação financeira estão
muito longe de serem considerados satisfatório. Na verdade, apenas recentemente,
37
alguns estudos têm tentado apresentar o impacto do programa no contexto de um
quadro teórico (SHOCKEY, SEILING, 2004).
Ao avaliar os programas e buscar uma relação entre educação financeira,
conhecimento e mudança de comportamento, encontram-se na literatura os
trabalhos de Braunstein, Welch (2002); Hogarth (2002), Hilgert, Hogarth, e Beverly
(2003); Fox, Bartholomae e Lee (2005); e Lyons (2004). Realçada a fragilidade dos
instrumentos de avaliação desses estudos, as conclusões obtidas ainda não
confirmam a significativa influência da educação financeira sobre a mudança de
comportamento do consumidor.
Entretanto,
a
educação
financeira
geralmente
fornece
dados
positivos.
Especificamente no que dizem respeito ao aconselhamento financeiro, os estudos
indicam que os clientes mostram significativa melhora na compreensão de produtos
financeiros. Segundo Staten, Elliehausen e Lundquist (2002), os indivíduos que
receberam aconselhamento foram capazes de reduzir sua dívida, melhorar a gestão
de cartão de crédito e diminuir sua inadimplência. Hirad e Zorn (2001) verificaram
que os mutuários que participaram da pré-compra de casa própria tiveram uma taxa
19% menor de inadimplência de 90 dias do que aqueles que não fizeram. Embora
exista um consenso de que a educação financeira promova positivamente os
resultados financeiros, é importante reconhecer que os resultados ainda não são
conclusivos. Existe uma grande inconsistência nos resultados finais. Segundo Lyons
(2004), muitas das inconsistências são provenientes de uma falta de compreensão
do que realmente significa ser “financeiramente educado”, bem como do processo
pelo qual uma pessoa se torna financeiramente educada.
Em 2005, a OCDE publicou um relatório intitulado Improving financial literacy:
Analysisofissues and policies. Por meio dos resultados obtidos, verificou-se que os
países pesquisados estão adotando políticas de capacitação da população quanto
aos conceitos dos créditos, investimentos e de instrumentos de seguros e
demonstram a preocupação com a população jovem. Um dos maiores entraves para
o sucesso incide na falta de percepção da população com relação aos benefícios
que a educação financeira traz.
38
Em pesquisa realizada pela OCDE (2005), para aqueles que não são filiados à
organização, foram apresentados alguns princípios e recomendações que são
listados no Quadro 4.
Quadro 4 - Princípios e recomendações de educação financeira - OCDE
Princípios e recomendações de educação financeira - OCDE
1-
A educação deve ser promovida de uma forma justa e sem viés, ou seja, o desenvolvimento
das competências financeiras dos indivíduos precisa ser embasado em informações e
instruções apropriadas, livres de interesse particular.
2-
Os programas de educação financeira devem focar as prioridades de cada país, isto é, se
adaptarem à realidade nacional, podendo incluir, em seu conteúdo, aspectos básicos de um
planejamento financeiro, como as decisões de poupança, de endividamento, de contratação
de seguros, bem como conceitos elementares de avaliar a situação de seus planos de
pensão, necessitando agir apropriadamente para defender seus interesses.
3-
O processo de educação financeira deve ser considerado, pelos órgãos administrativos e
legais de um país, como um instrumento para o crescimento e a estabilidade econômica,
sendo necessário que se busque complementar o papel exercido pela regulamentação do
sistema financeiro e pelas leis de proteção ao consumidor.
4-
O envolvimento das instituições financeiras no processo de educação financeira deve ser
estimulado, de tal forma que a adotem como parte integrante de suas práticas de
relacionamento com seus clientes, provendo informações financeiras que estimulem a
compreensão de suas decisões, principalmente nos negócios de longo prazo e naqueles que
comprometam expressivamente a renda atual e futura de seus consumidores.
5-
A educação financeira deve ser um processo contínuo, acompanhando a evolução dos
mercados e a crescente complexidade das informações que os caracterizam.
6-
Por meio da mídia, devem ser veiculadas campanhas nacionais de estímulo à compreensão
dos indivíduos quanto à necessidade de buscarem a capacitação financeira, bem como o
conhecimento dos riscos envolvidos nas suas decisões. Além disso, precisam ser criados
sites específicos, oferecendo informações gratuitas e de utilidade pública.
7-
A educação financeira deve começar na escola. È recomendável que as pessoas se insiram
no processo precocemente.
8-
As instituições financeiras devem ser incentivadas a certificar que os clientes leiam e
compreendam todas as informações disponibilizadas, especificamente quando forem
relacionadas aos negócios de longo prazo ou aos serviços financeiros com consequências
relevantes.
9-
Os programas de educação financeira devem focar, particularmente, aspectos importantes
do planejamento financeiro pessoal, como a poupança e a aposentadoria, o endividamento e
a contratação de seguros.
Os programas devem ser orientados para a construção da competência financeira,
adequando-se a grupos específicos, e devem ser elaborados da forma mais personalizada
possível.
Fonte: SAITO; SAVOIA; PETRONI, 2006.
10 -
A próxima seção tem por objetivo apresentar a educação financeira no Brasil.
39
2.5 Educação financeira no Brasil
Não se pode discorrer sobre educação financeira no Brasil sem deixar de consultar e
analisar algumas leis que regem esta República, como a Lei de Diretrizes e Bases
da Educação Nacional (LDB) (Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996), que relata
como o princípio da educação constitui obrigação da família e do Estado. Segundo
esta lei, a educação é dever da família e do Estado, e, inspirada nos princípios de
liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno
desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua
qualificação para o trabalho (BRASIL, 1996).
A educação plena requer a formação intelectual, moral e física, nela incluindo,
também, a formação para lidar com as finanças. Nesse sentido, Carvalho (1999)
realça que a escola é o lugar ideal para se implantar uma nova cultura financeira. O
autor, apoiado no Código de Defesa do Consumidor, na pesquisa de mercado e nos
conhecimentos matemáticos envolvidos, acredita que se pode construir atividades
que orientem os alunos na hora de escolher entre comprar à vista ou a prazo, bem
como a recorrer a seus direitos, inclusive quando pagam antecipadamente uma
prestação que tem juros embutidos. Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN)
que definem as diretrizes para a proposta pedagógica dos diversos cursos
ministrados pelas escolas brasileiras sugerem a necessidade de se trabalhar temas
cotidianos dentro da sala de aula (BRASIL, 1998).
Citando o texto dos PCNs, pode-se ver o seguinte comentário, que se relaciona com
a necessidade de se educar financeiramente os alunos, em face do surgimento de
um novo quadro econômico tanto no mundo quanto no Brasil:
[...] com a criação permanente de novas necessidades transformando bens
supérfluos em vitais, a aquisição de bens se caracteriza pelo consumismo.
O consumo é apresentado como forma e objetivo de vida. É fundamental
que nossos alunos aprendam a se posicionar criticamente diante dessas
questões e compreendam que grande parte do que se consome é produto
do trabalho, embora nem sempre se pense nessa relação no momento em
que se adquire uma mercadoria. É preciso mostrar que o objeto de
consumo, seja um tênis ou uma roupa de marca, um produto alimentício ou
aparelho eletrônico etc., é fruto de um tempo de trabalho, realizado em
determinadas condições. Quando se consegue comparar o custo da
produção de cada um desses produtos com o preço de mercado é possível
compreender que as regras do consumo são regidas por uma política de
40
maximização do lucro e precarização do valor do trabalho (BRASIL, 1998,
p.36).
Corroborando as ideias de Carvalho (1999), o mesmo texto dos Parâmetros
Curriculares Nacionais (BRASIL, 1998) acrescenta os aspectos ligados aos direitos
do consumidor, que também necessitam da Matemática para serem mais bem
compreendidos: para analisar a composição e a qualidade dos produtos e avaliar
seu impacto sobre a saúde e o meio ambiente, ou para analisar a razão entre menor
preço/maior quantidade, por exemplo.
Nesse caso, situações de oferta como: compre três e pague dois nem
sempre são vantajosas, pois geralmente são feitas para produtos que não
estão com muita saída; portanto, não há, muitas vezes, necessidade de
comprá-los em grande quantidade. Pode ser ainda que os produtos estejam
com os prazos de validade próximos do vencimento. Habituar-se a analisar
essas situações é fundamental para que os alunos possam reconhecer e
criar formas de proteção contra a propaganda enganosa e contra os
estratagemas de marketing a que são submetidos os potenciais
consumidores (BRASIL, 1998, p.21).
De acordo com os PCNs (BRASIL, 1998, p. 64): “se a escola pretende estar em
consonância com as demandas atuais da sociedade, é necessário que trate de
questões que interferem na vida dos alunos os quais se veem confrontados no seu
dia a dia”. Ainda de acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais,
as questões relativas à globalização, as transformações científicas e
tecnológicas e a necessária discussão ético-valorizativa da sociedade
apresentam para a escola a imensa tarefa de instrumentalizar os jovens
para participar da cultura, das relações sociais e políticas. A escola, ao se
posicionar dessa maneira, abre a oportunidade para que os alunos
aprendam sobre temas normalmente excluídos. Entretanto, mesmo depois
de mais de uma década da promulgação da LDB e de o termo e os
conceitos sobre educação financeira terem sido introduzidos no país, podese observar que ainda existe uma carência de produção acadêmica que
possa fundamentar o tema em questão, como foi verificado na consulta aos
sites específicos já citados neste trabalho (BRASIL, 1998, p. 47).
Referindo-se à educação financeira de jovens brasileiros, observa-se que o tema
não tem sido tratado com destaque pelos documentos oficiais nacionais que
estabelecem as políticas educativas no Brasil, dentre eles as Diretrizes Curriculares
Nacionais para a Educação (DCN) e os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN).
Saito (2007, p.7) afirma que: “[...] não há especificamente trabalhos sobre a
implantação da Educação em Finanças Pessoais nos currículos nacionais”. Saito
41
(2007) e referindo-se à educação financeira, adverte que apesar da relevância do
assunto, o Brasil não têm planejamentos educacionais voltados para o processo de
socialização econômica.
No Brasil, alguns projetos e ações foram desenvolvidos por organismos
governamentais e empresas privadas. Saito (2007) cita as seguintes instituições:
Banco Central do Brasil, que possui o Programa de Educação Financeira (PEF),
uma proposta de orientação da sociedade sobre assuntos econômicos; a Comissão
de Valores Mobiliários (CVM) promove palestras e disponibiliza cartilhas e um site
com o propósito de orientar as pessoas sobre investimentos; a BM&F Bovespa criou
o Programa Educacional BOVESPA com o objetivo de discutir a importância da
Bolsa de Valores em um país e o funcionamento do mercado de ações; a Federação
Brasileira dos Bancos (FEBRABAN) disponibiliza informações sobre uso de produtos
financeiros oferecidos pelas instituições bancárias; a A Centralização de Serviços
dos Bancos S/A (SERASA) criou o Guia Serasa de Orientação ao Cidadão,
buscando auxiliar a gestão dos recursos financeiros; o Banco Itaú que disponibiliza o
Guia do Crédito Consciente para fornecer orientações sobre a elaboração de um
orçamento familiar, além de discutir o uso de empréstimos e financiamentos.
Dentre as iniciativas públicas, no ano de 2007, o governo brasileiro criou um
programa denominado Estratégia Nacional de Educação Financeira (ENEF), com o
intuito de fomentar a cultura financeira no país. Constituído de um grupo de trabalho
com representantes do Banco Central do Brasil, da CVM, da Secretaria de
Previdência Complementar e da Superintendência de Seguros Privados (SUSEP).
Segundo Brasil (2010),
O objetivo do programa é desenvolver uma proposição de Estratégia
Nacional de Educação Financeira, prevendo a promoção de um inventário
nacional de ações e de projetos de educação financeira no país, além de
uma pesquisa que mapeie o grau de conhecimento financeiro da população
brasileira. Além das ações destinadas ao público-alvo para adultos, o ENEF
prevê ações voltadas para as escolas, seguindo uma tendência mundial.
Este organismo tem como principais objetivos promover e fomentar a
cultura de educação financeira no país, ampliar a compreensão do cidadão,
para que seja capaz de fazer escolha consciente quanto à administração de
seus recursos e contribuir para a eficiência e solidez dos mercados
financeiros, de capitais, de seguros, de previdência e de capitalização
(BRASIL, 2010, p. 2).
42
O programa ENEF traz também diretrizes para a educação financeira dos adultos,
apresentando os objetivos e conceitos relacionados ao assunto. As orientações
devem ser transmitidas da forma mais simples possível, observando a capacidade
de compreensão de cada indivíduo, conforme alínea “a” do § 1º do art. 5º, da
Deliberação nº 03 do Comitê de Regularização e Fiscalização dos Mercados
Financeiros, de Capitais, de Seguros, de Previdência e Capitalização (COREMEC)
que relata:
[...] a) público-alvo a ser atingido, estabelecendo a devida segmentação,
conforme a prioridade sugerida: por faixa etária (crianças, jovens, adultos e
terceira idade), escolaridade (fundamental, médio, superior e pósgraduação), de renda (classe econômica), por atividade (pequenos e
médios empreendedores, trabalhadores, professores, profissionais de
mercado, gerentes de bancos, magistrados, membros do Ministério Público
etc.) ou por região (BRASIL, 2010, p.15).
Alguns públicos-alvo, temas e ações foram selecionados pelo ENEF:

Público-alvo: militares; servidores públicos; trabalhadores formais e
informais; profissionais liberais; estudantes universitários; donas de casa,
desempregados;
aposentados;
trabalhadores
rurais;
beneficiários
de
programas sociais; brasileiros residentes no exterior e outros.

Temas:
inclusão
financeira;
proteção
ao
consumidor;
finanças
pessoais; noções de Economia; noções do sistema financeiro nacional;
crédito e microcrédito; consumo consciente; previdência; preparação para a
aposentadoria; investimentos; seguros; capitalização e outros.

Ações: portal; palestras; publicações e cartilhas; seminários; encontros
regionais; concursos; centrais de atendimento; campanhas publicitárias;
cursos; programas de televisão; programas de rádio; feiras; espaços
culturais; visitas programadas e outros.
O ENEF de acordo com Brasil (2010) propõe um plano de ações de curto, médio e
longo prazo sobre educação financeira. Esse plano deverá conter, pelo menos, as
seguintes ações:
a)
Formação de tutores e multiplicadores, para alavancar as ações de
estratégia, sendo fundamental capacitar grande número de pessoas que
43
possam multiplicar conhecimentos de educação financeira para diversos
públicos;
b)
Criação de grupos tutoriais serão constituídas para atuar na formação e
no
acompanhamento
desses
multiplicadores,
esclarecendo
dúvidas,
participando de fóruns de discussão e de processos de avaliação das ações
realizadas;
c)
Constituição de fórum virtual e desenvolvimento de espaço no portal do
ENEF, com a principal finalidade de fomentar discussões entre tutores e
multiplicadores
sobre
temas
de
interesse
da
educação
financeira,
esclarecendo dúvidas e identificando pontos de aprimoramento do ENEF;
d)
Promoção de cursos sobre temas de educação financeira e
desenvolvimento de cursos presenciais e à distância sobre temas
específicos de educação financeira conforme o público-alvo.
O projeto piloto foi implementado em 891 escolas voluntárias do ensino médio,
treinando 1.200 professores e atingindo 27.000 alunos com idades entre 14 a 17
anos. Esse projeto foi realizado em parceria com o Banco Mundial entre maio de
2010 e dezembro de 2011, e é considerado o maior estudo feito na área pelo banco.
Foi realizada uma avaliação do projeto piloto, antes e depois da aplicação do
material. Foram aplicados dois questionários aos alunos, um questionário aos
professores e outro para os pais ou guardiões legais.
Para os alunos, os instrumentos foram desenvolvidos para fornecer medidas sobre:
Educação financeira, Autonomia financeira e Intenção de poupar.
Testes de linha de base foram realizados em agosto de 2010, e o acompanhamento
foi feito em novembro do mesmo ano. O monitoramento qualitativo mostrou que os
professores, antes do programa, tinham pouco interesse sobre o tema, temiam o
excesso de trabalho, a falta de treinamento e o fato de que isso seria imposto pelo
governo. Passado o Módulo I, houve um revés neste cenário, e os professores
mostraram-se conscientes da importância e da necessidade urgente de se trabalhar
o tema. Houve disputas para fazer parte do programa, e as contribuições com ideias
para trabalhar com as famílias foram várias (BRASIL, 2010).
44
Inicialmente, os estudantes apresentaram o mesmo desinteresse sobre o assunto
que os professores, possuíam pouco ou nenhum controle de suas despesas, não
viam importância em assuntos financeiros e tinham pressa para consumir
imediatamente. Depois do Módulo I, eles se mostraram bastante interessados no
assunto e participaram ativamente das aulas. Como resultado, verificou-se que
conseguiram guardar um pouco de dinheiro, desenvolveram maior consideração por
pequenas quantias e trocaram experiências financeiras com seus pares.
Com base no teste, um índice de proficiência financeira de 0 a 100 foi calculado para
os estudantes. Na linha de base, a pontuação média dos grupos de controle e
tratamento
foi
50.
Na
pesquisa
seguinte,
a
proficiência
financeira
era
significativamente mais alta no grupo de tratamento (60) do que no grupo de controle
(56). Além disso, o conhecimento autorrelatado sobre taxas de juros, empréstimos e
financiamentos, seguros, imposto de renda e pagamentos mínimos de faturas de
cartão de crédito era mais de 10% mais elevada no grupo de tratamento do que no
grupo de controle.
As atitudes e o comportamento também revelaram-se diferentes entre os grupos de
tratamento e de controle. A autonomia financeira 46 cresceu dois pontos no grupo
de tratamento em comparação à pontuação de 49 pontos do grupo de controle. A
intenção de poupar [medidas com base na Teoria da Ação Racional de Ajzen e
Fishbein (197347, 198048)] no grupo de tratamento foi 5% mais alta que no grupo
de controle. Essa intenção se refletiu em comportamento real de poupança, posto
que o grupo de tratamento poupou 10% mais que o grupo de controle. Além disso,
uma parcela maior do grupo de tratamento elaborou listas mensais de gastos,
negociou formas de pagamento e buscou modelos ou marcas similares antes de
comprar, e uma fração menor fez compras parceladas.
Assim, o Programa de EF aumentou o conhecimento financeiro dos alunos, trouxe
melhorias nas atitudes financeiras e mudou o comportamento financeiro dos
participantes, visto que passou a ser mais provável que os estudantes no grupo de
tratamento tenham comportamentos financeiros mais inteligentes, conversem com
suas famílias sobre questões financeiras e ajudem na organização do orçamento do
lar.
45
Pode-se destacar a divulgação de vários livros que abordam o sentido de uma
educação financeira, encontrando-se na literatura artigos e livros que vão do
genérico até os destinados a públicos específicos. Para as mulheres, cita-se:
(DSOP) - O que as mulheres querem saber sobre finanças pessoais (VEIGA, 2007).
As mulheres e o dinheiro (ORMAN, 2008). Mulheres boazinhas não enriquecem
(FRANKEL, 2005). Fique rica sem culpa: livre-se dos maus hábitos que empobrecem
sua vida (TRUEMAN, 2007). As leis do dinheiro para as mulheres (BUSSINGER,
2008). Valor feminino: desperte a riqueza que há em você (VILLAS BOAS, 2007).
Outro meio de difusão da educação financeira é por meio do aprendizado nas
escolas. Em São Paulo surgiu um curso de pós-graduação na área de educação
financeira com o nome de 'Pós-graduação em educação e coaching financeiro', com
parceria do Dsop e a Faculdade de Ciências Gerenciais de Jundiaí (FCG), pela
Fundação Getúlio Vargas (FGV), instituição privada. Também no Rio de Janeiro,
surge uma escola voltada exclusivamente para a educação financeira chamada de
Escola de Educação Financeira, que funciona no bairro de Vila Isabel, pela FGV,
instituição privada (2010).
O Governo brasileiro começou em 2011 um projeto piloto com 450 escolas públicas
de ensino médio de São Paulo, do Rio de Janeiro, de Tocantins, do Ceará, do
Distrito Federal e de Minas Gerais. O objetivo é inserir conceitos sobre educação
financeira nas aulas de português, matemática, sociologia e história, utilizando
material didático específico sobre riscos e vantagens de compras a vista, a prazo,
entre outros. Segundo Marchetti (2011), apesar de identificar os esforços
desencadeados para implantação de um projeto de educação financeira no Brasil,
não foram encontrados resultados com esses programas. Provavelmente, isso se
deve ao fato de se tratar de iniciativas isoladas, nem sempre assumidas pelos
gestores educacionais, e pela falta de divulgação do acompanhamento dessa
experiência gerenciada pelo governo brasileiro.
Pesquisa feita pelo Banco Mundial e BM&F Bovespa, em 2010, sobre a Avaliação de
Impacto do Projeto Educação Financeira nas Escolas em 2010, realizada no Rio de
Janeiro, revelou que a educação financeira nas escolas afeta positivamente o
conhecimento dos jovens brasileiros sobre a economia. Pesquisas como SPC Brasil
46
sobre Educação Financeira (2013); SERASA EXPERIAN, renda mais alta não
melhora comportamento financeiro do brasileiro (2013); Federação do Comércio
(FECOMERCIO), Hábitos de Consumo, Endividamento e Educação Financeira do
Jovem de Belo Horizonte (2012); e diversas outros, são realizadas com o intuído de
investigar os hábitos de consumo e endividamentos da população. Um dos principais
artigos usado como referência é do Savoia, Saito e Santana (2007), que mostra o
início da educação financeira no Brasil, bem como a contextualização dela no
mundo.
Conforme
pesquisas
citadas
anteriormente
entende-se
que
as
questões
matemáticas devem ser vistas como temas dinâmicos, sendo abordadas no contexto
do cidadão, explorando sua lógica e seus conceitos e gerando novos
conhecimentos. As atividades não deveriam ser desenvolvidas como forma de
resolução de uma lista de exercícios, mas por meio de atividades apropriadas ao
nível dos alunos e contextualizadas de forma a se tornarem estimulantes e
compatíveis com o contexto social. Estas atividades podem ser realizadas de
diversas maneiras como, por exemplo, na forma de projetos, que permitem a
participação dos alunos, o uso de diferentes materiais e de dados que estimulam o
pensamento sobre a importância de se utilizar a matemática na interpretação da
realidade. Pensando na resolução de problemas concretos, essas atividades levam
o aluno a procurar, nos livros e no professor, subsídios para desenvolver seu
raciocínio diante de diferentes situações.
Especialmente para o desenvolvimento desse tipo de atividade, é perfeitamente
possível pensar no uso da Matemática de diversas maneiras, pois ela está presente
em todos os aspectos da sociedade e é encontrada em todas as culturas. Para
Bishop (2001), é justamente o componente cultural da matemática que permite que
sejam feitas pesquisas, intentando imitar algumas atividades relacionadas ao
conhecimento matemático, levando os alunos à experimentação, à investigação e,
finalmente, à comunicação escrita de suas experiências.
47
2.6 Principais programas de educação financeira no Brasil
A seguir, são apresentados alguns programas de Educação Financeira em
desenvolvimento no Brasil.
2.6.1 Banco Central do Brasil
Com a crescente importância do tema sobre educação financeira, o Banco Central,
em 2012, designou um diretor, para construir uma nova área para tratar desses
assuntos. Foram criados três departamentos: o Departamento de Educação
Financeira, para conduzir assuntos de inclusão e educação financeira; o
Departamento de Atendimento Institucional, para lidar com os questionamentos e
reclamações dos cidadãos; e o Departamento de Comunicação, para gerenciar toda
a comunicação do Banco com a sociedade (BACEN, 2014).
Em 2003, o Banco Central institui um programa sobre educação financeira, o “BC
Cidadania”, cujo objetivo principal é oferecer aos cidadãos meios para adquirir
competências para a tomada de decisões relacionadas às finanças pessoais. Os
campos de ação que compõem o programa são a utilização do dinheiro, o
encorajamento de poupança e uso responsável do crédito, a promoção de mudança
comportamental baseada nas melhores práticas da finança pessoal e o
relacionamento do cidadão com o Sistema Financeiro Nacional (SFN) (BACEN,
2014).
O Banco Central participa e integra o Comitê Nacional de Educação Financeira
(CONEF), responsável por definir planos, programas e ações e por coordenar a
execução da ENEF. No âmbito do comitê, o Banco Central é responsável por:
1.
Exercer periodicamente a presidência, que se dá em regime de rodízio,
entre Banco Central do Brasil, CVM, Superintendência Nacional de
Previdência
Complementar
(PREVIC),
Superintendência
de
Seguros
Privados (SUSEP) e Ministério da Fazenda;
2.
Coordenar o desenvolvimento da educação financeira de adultos, no
âmbito da ENEF;
3.
Exercer a Secretaria-Executiva do Comitê.
48
O programa de educação financeira do Banco Central conta com inúmeras ações
próprias, visando criar condições para que os indivíduos possam administrar seus
recursos financeiros de maneira consciente e, dessa forma, contribuir para
assegurar a estabilidade do poder de compra da moeda e um sistema financeiro
sólido e eficiente (BACEN, 2014).
A conscientização e a melhoria no desempenho financeiro de cada indivíduo têm
contribuído para um melhor desempenho da economia brasileira. Esse fato tem
levado o Banco Central a atuar junto à sociedade, trabalhando para educá-la
financeiramente e inclui-la.
O Banco Central espera que, ao promover ações de educação financeira, possa
atingir a dimensão comportamental, atitudinal e cognitiva. Na esfera atitudinal e na
comportamental, os objetivos são incentivar o hábito de poupança, estimular a
responsabilidade no uso do crédito e promover mudanças de comportamentos com
base nas boas práticas de finanças pessoais (BACEN, 2014).
No âmbito cognitivo, o programa de educação financeira do Banco Central tem por
objetivos proporcionar conhecimentos sobre o uso da moeda, divulgar os canais de
acesso da população ao SFN e divulgar o papel do próprio Banco Central. O
programa é voltado para pessoas que usam os produtos e serviços financeiros.
Entre os diversos segmentos da sociedade brasileira, classificados de acordo com
seu ciclo de vida, os estudantes de ensino superior, além de outros segmentos, são
considerados prioritários (BACEN, 2014).
2.6.2 Comissão de Valores Mobiliários (CVM)
A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) (2014) desenvolve um programa de
orientação e de defesa do investidor (PRODIN) (1998), e dentro deste programa, é
desenvolvida a educação do investidor. Algumas ações deste programa são:

Investidores em geral, como o Portal do Investidor 55, que traz um ambiente
amigável para crianças, quatro cursos online, os Encontros com Investidores
(eventos abertos, realizados em cidades diferentes, com palestras para
49
ampliar o conhecimento dos cidadãos e divulgar o mercado de capitais),
publicações educacionais (cadernos e guias voltados para o investidor);

Grupos específicos, como servidores públicos e seus familiares;

Estudantes universitários, como um concurso de monografias, em parceria
com o mercado, e o Circuito Universitário, um circuito de palestras em
universidades;

Consumidores de serviços financeiros (publicações educacionais com a
SENACON);

Consumidores de serviços financeiros (publicações educacionais com a
SENACON);
A CVM, por meio do Comitê Consultivo de Educação, possui diversos programas em
parcerias com entidades representativas do mercado de capitais reconhecidas. A
partir de 2006, esse Comitê oferece o Prêmio Imprensa para jornalistas, e o
Programa TOP (Treinamento de Professores), uma atualização em mercados de
capitais para professores universitários. A CVM também lançou um canal
educacional (CVM Educacional) no Facebook, no Twitter e no YouTube (CVM,
2014).
A CVM lança, em abril de 2012, o Ambiente Virtual de Aprendizagem, com cursos
online gratuitos que objetivam a disseminação de conhecimentos sobre o mercado
de valores mobiliários, incluindo a educação financeira (CVM, 2014).
O portal oferece novos conteúdos com conceitos básicos sobre finanças pessoais e
investimentos:

Educação Financeira I (Planejamento Financeiro Pessoal): conceitos
básicos
relacionados ao
orçamento
pessoal,
planejamento,
crédito,
endividamento, poupança e investimento.

Investindo em Valores Mobiliários: Oferece conhecimentos básicos,
abordando temas como risco, rentabilidade, perfil do investidor, cuidados ao
investir e mecanismos de proteção e defesa, além de informações sobre
50
diferentes alternativas de investimento (ações, debêntures, fundos e clubes
de investimento etc.) (CVM, 2014).
Os principais direitos e deveres dos acionistas minoritários de companhias abertas
são precedidos de uma introdução aos conceitos básicos (sociedade anônima,
companhia aberta e fechada, capital social, subscrição e integralização, patrimônio,
entre outros), o curso apresenta, em uma forma didática e introdutória, os principais
deveres e os direitos dos acionistas, bem como os procedimentos e regras
aplicáveis a cada um (CVM, 2014).
2.6.3 Superintendência Nacional de Previdência Complementar (PREVIC)
Uma das principais ações de educação financeira da Superintendência Nacional de
Previdência Complementar (PREVIC) é buscar incentivar as administradoras de
planos de previdência privada a desenvolverem seus próprios projetos de educação
financeira, visando aumentar os conhecimentos financeiros de seus empregados,
participantes ativos, pensionistas e beneficiários (BACEN, 2014). Essa estratégia se
comprovou eficiente nos números divulgados em 2013: o número de empregados
que participavam de previdência privada e que estavam engajados em projetos de
educação financeira cresceu de 276.705, em 2010, para 1.604.189.
A PREVIC tem focado a educação financeira em:

Participantes e beneficiários (perfis de investimento, preparação para
aposentadoria, aumento de contribuições e campanhas de adesão);

Patrocinadores (integração, treinamento de multiplicadores e incentivo
à adesão ao sistema);

Entidades
de
previdência
privada,
(governança,
treinamento,
responsabilização (accountability), planejamento estratégico e certificação de
gestores).
51
2.6.4 Programas Setoriais – Governo
O Ministério da Fazenda em 2002, oito anos antes da criação do ENEF, por meio da
Escola de Administração Fazendária (ESAF), coordena o Programa Nacional de
Educação Fiscal (PNEF). Esse programa busca desenvolver nos cidadãos a
consciência dos seus direitos e deveres e fazer com que eles possam participar da
destinação dos recursos públicos, encorajando o controle social para o exercício
efetivo da cidadania (BACEN, 2014).
O Ministério da Fazenda desenvolveu diversas parcerias. Em nível federal, são o
Congresso Nacional, os Ministérios da Educação e da Previdência Social, a
Controladoria Geral da União, a Secretaria Federal de Orçamento, a Receita Federal
e a Secretaria do Tesouro Nacional. Em nível estadual e municipal, as secretarias de
educação e de finanças participam do programa (BACEN, 2014).
O PNEF concentra suas atividades no ensino fundamental e no ensino médio, e
apresenta como característica o treinamento de professores para divulgar conteúdos
sobre cidadania fiscal. Recentemente, houve uma grande ampliação do seu público
prioritário, como os servidores públicos, os universitários e a sociedade organizada.
Os gestores de políticas públicas e os líderes de comunidade também se tornaram
públicos prioritários (BACEN, 2014).
2.6.5 Ministério da Previdência Social (MPAS)
A educação financeira ministrada dentro do Ministério da Previdência Social é
destinada a dois público alvo: os segurados do Regime Geral de Previdência Social
(RGPS) e os participantes dos fundos de pensão (PEP, 2014).
Por meio do Programa de Educação Previdenciária (PEP) (2014), o Instituto
Nacional do Seguro Social (INSS) busca alcançar a população economicamente
ativa e mais de 24 milhões de aposentados. O PEP disponibiliza informações sobre
os direitos e as condições de acesso aos beneficiários do sistema da Previdência
Social, no qual são oferecidas orientações sobre como fazer um planejamento
financeiro. Essas informações são disponibilizadas por meio de ações presenciais
52
em mais de cinco mil municípios, pela realização de cursos à distância e, também,
parcerias com outros organismos governamentais nos três níveis federativos.
Os participantes recebem informações por meio de programas de educação
financeira realizados pelas próprias entidades supervisionadas. Esses programas
são supervisionados e encorajados pelos órgãos regulador e supervisor. Os
programas lidam com noções sobre direitos, orçamentos e finanças pessoais, assim
como a preparação para a aposentadoria (PEP, 2014).
2.6.6 Programas Setoriais – Sociedade Civil
A principal bolsa de Valores do Brasil, a Bolsa de Mercadorias e Futuros - Bolsa de
Valores de São Paulo (BM&FBOVESPA), vem ao longo dos anos compreendendo
que os indivíduos educados financeiramente estão melhores preparados para as
tomadas de decisões sobre investimentos e sobre a utilização do dinheiro. Por essa
razão, a BM&FBOVESPA apóia, desde 2007, as ações do ENEF (BM&FBOVESPA,
2014).
A BM&FBOVESPA na sua página da internet possui diversos materiais educativos
como cursos, vídeos e simuladores. Há, também, um curso específico na área de
gestão de finanças pessoais, que pode ser adaptado para diferentes públicos alvos,
como
universitários,
família,
mulheres
adultas,
adolescentes
ou
idosos
(BM&FBOVESPA, 2014).
Pensando em uma melhor capacitação, a BM&FBOVESPA oferece dispositivos que
possam ajudar a melhorar suas capacidades de investimento, como cursos sobre
mercados de ações e títulos do governo em nível básico; macroeconomia, análise
fundamental, gestão de risco para portfólios de ações, tributação de mercado de
ações ou derivativos e mercado de opções em nível intermediário. E o Instituto
Educacional BM&FBOVESPA oferece cursos de especialização, certificações para
profissionais do mercado e MBAs presenciais e online. Outro canal de capacitação
utilizado é permitir o acesso aos vídeos educacionais e eventos da Bovespa. Essa
capacitação está ligada diretamente à conscientização de tomadas de decisão que
possam ajudar a manter o nível dos investimentos (BM&FBOVESPA, 2014).
53
A BM&FBOVESPA acredita que o conhecimento seja a base para criar uma cultura
de poupança e formação de patrimônio em nosso país. A educação financeira é
oferecida com intuito de que os indivíduos possam entender os conceitos dos
mercados de capitais e de derivativos, e, desse modo, possam planejar melhor suas
finanças (BM&FBOVESPA, 2014).
Na prática, isso significa ações com visitas monitoradas à Bolsa de Valores,
palestras regionais, viagens pelo Brasil com unidade móvel de atendimento, aulas
gratuitas, concursos estudantis, parcerias com instituições de ensino, simuladores,
portais interativos e até programa de televisão.
O conjunto das iniciativas de educação financeira da Bolsa de Valores já foi
apresentado como caso de sucesso pela World Federation of Exchanges (WFE), a
Federação Mundial das Bolsas de Valores (BM&FBOVESPA, 2014).
2.6.7 Educação financeira em empresas privadas
O tema educação financeira em empresas privadas tem ganhado destaque na
contemporaneidade, o que pode ser verificado pelo aumento da abordagem do tema
nos sítios dessas empresas. Como primeiro exemplo desse aumento, cita-se a
Federação Brasileira de Bancos (FEBRABAN), que colocou no ar o portal 'Meu bolso
em dia', com dicas e informações sobre administração das finanças pessoais ou
qualquer assunto relacionado a bancos. O portal ajuda a informar sobre
modalidades de crédito, investimentos, títulos do tesouro, câmbio, operações
bancárias cotidianas, como cheques, cartões de débito e de crédito, taxas bancárias,
transferências, conta-salário e contas estudantis, dentre outros temas e faz parte da
Escola de Cidadania Financeira, do Programa FEBRABAN de Educação Financeira,
que destinou sete milhões de Reais para o desenvolvimento do portal (FEBRABAN,
2014).
Além disso, o site possui uma área abordando assuntos como planejamento
financeiro, controle de orçamento, consumo consciente, priorização e resolução de
passivos, formas de evitar o endividamento, etc.. Também, são oferecidas
ferramentas para o planejamento financeiro por meio de um software que se chama
54
jimbo, para auxiliar no orçamento doméstico; calculadoras para comparar opções de
abastecimento de automóveis; testes para avaliar as capacidades de consumo,
gestão do dinheiro, perfis de investimento, utilização segura da Internet
(FEBRABAN, 2014).
A caravana 'Meu bolso em dia' faz parte de um projeto que abrange uma série de
eventos abertos em todo o país, com performances artísticas, jogos e atividades
ligadas à educação financeira. Segundo a entidade, o projeto foi motivado pelo
aumento do consumo, da bancarização e do crédito. No ano 2000, conforme dados
da FEBRABAN, havia 48,2 milhões de contas correntes ativas. Em 2008, esse
número subiu para 82,6 milhões de contas e, em 2013, chegou a 97 milhões de
contas correntes ativas (FEBRABAN, 2014).
Com a ação, a FEBRABAN espera gerar conhecimento que possa produzir, a longo
prazo, transformações positivas no comportamento das pessoas, melhorando sua
qualidade de vida e sua relação com o dinheiro (FEBRABAN, 2014).
Partindo dessas premissas, alguns bancos já disponibilizam em seus sítios na
internet informações sobre o tema Educação Financeira, como é o caso do Banco
Mercantil do Brasil (BMB), que vem desenvolvendo um Programa, com o intuito de
orientar os funcionários e os clientes sobre a maneira de gerenciar o seu dinheiro.
Para isso, dividiu os conceitos de educação financeira em temas como Mercantil do
Brasil e você, família, independência, maturidade e empreendedor. Além disso,
oferece sugestões de leitura sobre o tema, dispondo em seu sitio artigos e indicação
de livros e de revistas (BMB, 2014). Este Programa de Educação Financeira
constitui o estudo de caso abordado na presente dissertação.
Igualmente, o Banco Itaú S/A disponibiliza em seu sítio o programa 'Gerenciar o meu
dinheiro' que tem dentre as orientações, opções de como planejar os seus gastos e
usar conscientemente o seu dinheiro (ITAU, 2014).
Na mesma perspectiva, o banco BRADESCO S/A oferece informações sobre
educação financeira em seu sítio na internet, dentre os temas constam: quem é
você, qual seu momento financeiro, minhas receitas, minhas despesas, meus
55
projetos, produtos financeiros, crédito responsável e ferramentas úteis (BRADESCO,
2014).
Saindo do segmento de bancos, uma empresa privada que oferece em seu sítio
informações e dicas sobre a educação financeira é a MASTERCARD, que direciona
aos seus clientes o programa educacional 'Consumidor Consciente'. A plataforma
educacional oferece ferramentas para auxiliar o consumidor a entender os princípios
de finanças pessoais, a adotar hábitos de consumo responsáveis e a administrar
melhor suas finanças pessoais (MASTERCARD, 2014).
O programa é disponibilizado em três idiomas: inglês, espanhol e português, e é
disponibilizado em países como Brasil, México, Costa Rica, República Dominicana,
Porto Rico e toda a região da América Latina, incluindo o Caribe, dispõe de blogs e
podcasts locais e regionais e de outras ferramentas de conteúdo educacional. O
programa também pode ser adotado por instituições financeiras, comerciantes e
outras entidades que desejam educar seus consumidores quanto às questões
financeiras (MASTERCARD, 2014).
Outra empresa que disponibiliza informações sobre educação financeira é a
Confederação Nacional das Empresas de Seguros Gerais, Previdência Privada e
Vida, Saúde Suplementar e Capitalização (CNSEG), que criou em 2010 o portal
'Tudo sobre Seguros', mantido pela escola nacional de seguros. O objetivo é
fornecer
informações
sobre
seguros,
previdência
privada
suplementar
e
capitalização, além de informar aos consumidores sobre o funcionamento do
mercado e dos produtos (CNSEG, 2014).
O público-alvo do portal 'Tudo sobre Seguros' são os indivíduos, as empresas e a
mídia em geral, interessada em informações sobre seguro. O site busca ser uma
referência no Brasil nos assuntos abordados, mais especificamente, no concernente
a informar e educar consumidores sobre assuntos relacionados a seguros,
contribuindo, assim, para o desenvolvimento do mercado de seguros domésticos em
razão da complexidade dos contratos, da falta de conhecimento do publico e dos
conflitos gerados pela falta de informação (CNSEG, 2014).
56
O portal possui a finalidade de ser uma ferramenta de ajuda, oferecendo uma vasta
gama de produtos do mercado de seguros, além de descrever e explicar
detalhadamente cada produto oferecido, utilizando uma linguagem acessível ao
consumidor. O portal fornece, também, análises e indicadores financeiros, além de
abordar assuntos do momento na indústria de seguros (CNSEG, 2014).
A CNSEG alinhada políticas de sustentabilidade no âmbito da governança
corporativa e social, e, por meio do Programa da Confederação Financeira da
CNSEG, tem promovido encontros para discutir o tema educação financeira
(CNSEG, 2014).
Após as referências conceituais, delineou-se a metodologia adotada para a
pesquisa, disposta no capítulo seguinte.
57
3 PROCEDIMENTOS METODOLOGICOS
Este capítulo descreve o percurso metodológico utilizado na realização desta
pesquisa, apresentando o tipo de pesquisa quanto à abordagem, aos fins e aos
meios, referindo-se aos sujeitos da pesquisa, às técnicas de coleta e de análise e
interpretação dos resultados.
3.1 Caracterização da pesquisa quanto a abordagem, aos fins e aos meios
Considerando que o objetivo proposto neste estudo envolve aspectos relacionais e
subjetivos entre sujeitos de uma organização; sendo interesse a coleta de dados
sobre o significado de um fenômeno a partir da análise de documento e das
percepções dos indivíduos, optou-se, nesta pesquisa, pela abordagem qualitativa.
Segundo Richardson (1999, p.39) a pesquisa qualitativa é “adequada para entender
a natureza de um fenômeno social”. Caracteriza-se como uma tentativa de
detalhamento dos significados apresentados, a qual irá fornecer uma maior
flexibilidade ao autor (BAUER; GASKELL, 2002). A pesquisa constitui um meio para
compreender um fenômeno dentro do contexto do qual é parte. Segundo Godoy
(1995), nessa abordagem, valoriza-se o contato direto e prolongado do pesquisador
com o ambiente e a situação que está sendo estudada.
Quanto aos fins, a pesquisa realizada se caracteriza como um estudo de caráter
exploratório. Diz-se que a pesquisa é exploratória quando existem poucos estudos
sobre o tema pretendido, e o presente trabalho constitui uma tentativa inicial de
abordar o tema, pretendendo-se gerar questões que engendrem outras pesquisas.
Malhotra (2006) apresenta o estudo exploratório com o objetivo de descobrir idéias e
percepções, de características flexíveis e versáteis, sendo, muitas vezes, o ponto de
partida de toda a concepção de pesquisa.
58
Para Yin (2010), os estudos exploratórios têm por objetivo procurar se familiarizar
com um dado fenômeno ou com uma determinada situação, com o intuito de
compreendê-los e de formular o problema com maior rigor.
Quanto aos meios, foi realizado um estudo de caso numa empresa do setor bancário
que vem desenvolvendo um Programa de Educação Financeira.no Brasil. Godoy
(2006) narra que o estudo de caso abrange uma ocasião em particular e possui
como objetivo explanar o contexto real em que se insere.
Para Yin (2010), o estudo de caso é a estratégia escolhida pelo pesquisador para
examinar acontecimentos contemporâneos e quando não se pode manipular
comportamentos relevantes.
De acordo com Ludke e André (1996), um estudo de caso se faz presente onde é
possível compreender de maneira singular uma instância.
3.2 Unidade de análise e sujeitos de pesquisa
A unidade de análise desta pesquisa é o Banco Mercantil do Brasil, que vem
desenvolvendo um Programa de Educação Financeira. Os sujeitos de pesquisa são
dois gestores da empresa que são responsáveis pelo planejamento e realização do
Programa e que foram indicados como representantes que poderiam prestar
informações sobre o assunto. Um deles, Marco Túlio Zerlotini da Silva, exerce o
cargo de coordenador de comunicação externa e gestão sócio-ambiental. Outra
entrevistada foi Daniela Alencar Terra, que exerce o cargo de supervisora de gestão
sócio-ambiental, gerente de marketing e relacionamento. Logo, trata-se de amostra
intencional, não probabilística, selecionada em razão de sua representatividade, pois
os dois entrevistados são os principais responsáveis pelo programa que constitui
objeto de análise.
3.3 Coleta de dados
Yin (2010) sugere três grupos principais de recursos para a coleta de dados quando
se realiza um estudo de caso: questionários, entrevista e análise de documentos. No
59
caso da presente pesquisa, optou-se, entre as ferramentas disponíveis, por aquelas
que se adaptaram aos predicados da pesquisa e ao objeto em análise, que foram a
pesquisa documental e as entrevistas semiestruturadas aplicadas aos dois sujeitos.
A pesquisa documental permitiu colher dados publicados no sítio da instituição na
internet, bem como dados provenientes do Programa que foram repassados ao
pesquisador.
Para a realização das entrevistas com os dois gestores foi utilizado um roteiro
semiestruturado com base no referencial teórico deste trabalho. As entrevistas foram
realizadas na tarde do dia 7 de outubro de 2014, no local de trabalho dos gestores.
As entrevistas foram gravadas, com autorização dos gestores, e transcritas
posteriormente, preservando a fala dos entrevistados. Tal técnica proporcionou as
condições necessárias para a obtenção de informações que ajudaram na análise e
compreensão da percepção desses gestores com relação à importância da
educação financeira no Brasil.
3.4 Técnica de análise e interpretação dos dados
A análise de conteúdo é um método concebido originalmente para a investigação
psicossociológica e estudo de comunicações em massas. Bardin (2009) define este
método como sendo um conjunto de técnicas de análise das comunicações.
Segundo Bardin (2009), existem seis métodos: análise categorial, análise de
avaliação, análise da enunciação, análise proposicional do discurso, análise da
expressão e análise das relações.
O método utilizado foi a análise da enunciação apontada por Bardin (2009). Este
método considera o discurso como um ato, enquanto a análise clássica considera o
material de estudo como um dado. Na produção da palavra, é realizado um trabalho,
um sentido, sendo operadas transformações. O discurso não é visto como um
produto acabado, mas um processo de elaboração, no qual são incluídas
contradições, incoerências e imperfeições.
60
As etapas da análise de conteúdo das entrevistas foram as seguintes: (i) Fase da
pré-análise, quando são transcritas as respostas e o pesquisador realiza a leitura
rápida, com o objetivo de familiarizar-se com o material dos entrevistados. Nesta
fase, deve-se recorrer aos objetivos e pressupostos. Pode-se afirmar que os
objetivos apontam para a escolha da entrevista como recurso mais adequado para a
coleta de informações verbais e não verbais sobre os sujeitos; (ii) Fase de análise do
material, os dados brutos serão trabalhados e decodificados, ou seja, será feito
recorte, agregação e categorização dos conteúdos de forma a facilitar a análise a
ser realizada (BARDIN, 2009).
61
4. ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DE RESULTADOS
Este capítulo compõe-se de dois tópicos: apresentação do Programa de Educação
Financeira do Banco Mercantil do Brasil e análise de conteúdo das entrevistas feitas
com dois gestores do referido programa.
O primeiro tópico resultou da coleta de dados mediante análise documental, as
informações foram fornecidas por meio dos documentos fornecidos pelos
responsáveis pelo Programa de Educação Financeira, somados às consultas feitas
ao site do Banco Mercantil e outros dados obtidos no sitio na internet. Desse modo,
foi possível apresentar, de forma detalhada, o Programa.
4. 1 Análise documental, que apresenta o Programa de Educação Financeira do
Banco Mercantil
Considerada uma das instituições financeiras mais sólidas do país, o Banco
Mercantil do Brasil, com sede na capital mineira, em seu sítio na internet demonstra
uma atenção especial com o tema Educação Financeira, ao abordar o tema elenca
alguns tópicos de real importância e seus desdobramentos.
Percebem-se no lado superior esquerdo de sua página institucional os temas
distribuídos de forma clara e em linguagem de fácil compreensão, iniciando pelo
relacionamento do Banco com o cliente ou visitante do sitio na internet que é:
'Mercantil do Brasil e você'.
O Banco reafirma seu conceito de confiança, solidez e credibilidade e busca
oferecer a seus clientes produtos e serviços para sua comodidade e segurança
financeira. Também chama a atenção para temas ligados à educação financeira e
procura abordar temas que geram dúvidas e impasses. Apresenta dicas e opinião de
especialistas sobre a conquista do primeiro imóvel, educação financeira dos filhos,
orçamento familiar e planejamento da aposentadoria.
62
Na parte central do sitio da Instituição, os temas são: Família; Independência;
Maturidade; Empreendedor; Artigos; O especialista; Iniciativas para colaboradores e;
concurso MB.
4.1.1 Família
O tema dedicado à 'Família' trata do orçamento doméstico, chama atenção para
vários subtemas, direcionando para a janela onde são descritos os assuntos
'Orçamento', 'Investimentos', 'Amor e dinheiro', 'Futuro', 'Dinheiro e filhos',
'Começando a vida a dois', 'Sonho do negócio próprio', 'Sonho da casa própria',
'Dívidas' e 'Organize-se.
O subtema 'orçamento' é o passo inicial para se entender por onde entra o dinheiro e
como ele á gasto dentro do contexto tanto familiar quanto externo. Há dicas de como
fazer um orçamento em termos genéricos, dicas de como discriminar em uma
planilha eletrônica ou no papel todos os gastos, por menores que sejam. Deve-se
ficar atento aos gastos do dia a dia e procurar economizar o mínimo que seja para
poupar ou utilizar no lazer da família. Orienta-se, também, como estimar o
orçamento para os próximos seis meses, além de informar de que forma deve-se
rever mensalmente estes valores.
O subtema 'Investimentos', salienta que é possível poupar com o objetivo de investir,
desde haja um planejamento financeiro. Ressalta que mais importante que o valor
investido é criar o hábito de poupar para investir. O retorno deste investimento será
importante para quando a velhice chegar ou para realizar um sonho de adquirir um
bem importante. Descreve que o investimento deve ter a combinação equilibrada de
maior retorno possível, com a maior liquidez e o mínimo de risco.
Na abordagem do subtema 'Amor e dinheiro' sugere-se que se deve conhecer os
hábitos financeiros do parceiro desde o início do relacionamento amoroso. Destaca
a importância do compartilhamento de decisões que versem sobre a necessidade de
economizar e realizar gastos compartilhados, sem, contudo, perder o espaço dos
sonhos individuais. A falta de clareza das ações econômicas de um casal poderá
acarretar sérios problemas e chegar até influenciar mesmo uma separação conjugal.
63
No subtema dedicado ao 'futuro' são abordados os projetos e sonhos realizados no
presente com objetivo realização em um futuro próximo. Uma decisão financeira
planejada atualmente e correta trará benefícios no futuro. Caso esse aspecto seja
negligenciado as más decisões de hoje impactarão negativamente o futuro.
Com o objetivo de fornecer maior detalhamento sobre o assunto, o tema 'dinheiro e
filhos' foi subdividido em quatro subtópicos. No primeiro aborda-se a temática
'educando com foco na educação dos filhos', uma vez que hoje o poder de escolha
está centrado em suas mãos, escolhendo o que querem ter, por isto a importância
de demonstrar o valor real do trabalho e o custo do dinheiro e sua aplicação de
forma consciente e necessária. Cita-se, também, um site específico sobre o
subtópico 'ensinando a ganhar', que traz um alerta sobre a necessidade dos filhos
compreenderem de que forma o dinheiro é ganhado, criando com isso, um
relacionamento prazeroso com o trabalho e não um sacrifício ou uma coisa negativa.
Orientar os filhos sobre a escolha profissional correta e que o trabalho traz renda e
amadurecimento.
No subtópico 'ensinando a gastar', aborda-se a importância de abrir mão de uma
determinada coisa em prol de outra mais importante, que trará mais prazer e
benefícios. Pais que não educam filhos sobre como gastar, criam adultos sem
limites, iniciando as crianças neste processo no momento em que se interessam
pelas compras. Outro subtópico apresentado é o 'ensinando a poupar', que ensina
de forma lúdica como o tradicional cofrinho para guardar as moedas, é utilizado para
a finalidade incentivar o hábito de poupar, e relacionar que todo esforço para poupar
terá um propósito e também um benefício.
No subtópico 'mesada', indica-se como um bom instrumento para educação dos
filhos, o hábito de poupar, escolher corretamente como comprar, o que comprar,
como estipular um bom orçamento e o valor que o dinheiro tem. Traz detalhes sobre
a idade mais indicada para se iniciar a mesada, a quantia adequada para a idade e
noções de educação futura sobre utilização do cartão de crédito, empréstimos e o
cheque especial.
64
No subtema 'começando a vida a dois' a abordagem suscita a preocupação e dá
dicas de planejamento e tomada de decisões financeiras em conjunto. A
organização das contas e a divisão das despesas comuns, devendo um dos
membros ser o responsável.
Outro subtema abordado é o 'sonho do negócio próprio', este quesito ressalta a
tendência dos brasileiros em terem seu próprio negócio e as responsabilidades e
riscos que isto acarreta, destacando a necessidade de preparação, planejamento e
conhecimento do negócio por parte do novo empresário. Orienta sobre os
compromissos assumidos em cada modalidade de negócio e a busca de orientação
em órgãos especializados com o Sebrae.
Quanto ao 'sonho da casa própria' o subtema é tratado como um sonho geral dos
brasileiros a ser conquistado que trará mais comodidade e segurança para a família,
afirmando ser um ótimo investimento pela solidez do mercado imobiliário, que nos
últimos anos obteve grande valorização. Trata também de orientar sobre o imóvel
considerado como investimento, que se não for alugado, torna-se uma despesa a
mais.
No que concerne ao subtema 'Dívidas, a orientação do banco é que seja
estabelecida uma separação entre dívidas consideradas como boas e as dívidas
ruins. As dívidas consideradas boas são aquelas que aumentam seu patrimônio. As
dívidas considerads ruins são, o consumo acima do padrão financeiro, que devem
ser evitadas. É sugerido pelo que seja feito o planejamento eficaz ao contrair dívidas
de longo prazo, a fim de evitar que a dívida vire uma bola de neve. A palavra chave
deste tema é controle e planejamento.
O subtema 'Organize-se, sugere como primeiro passo que seja realizado um
orçamento prévio, em papel ou na planilha do computador e como dica indica-se o
programa JIMBO, desenvolvido pela Federação Brasileira dos Bancos como
referência (Febraban).
65
4.1.2 Independência
O segundo tema abordado é designado como 'Independência' e busca focar a saída
do ambiente familiar para ter sua própria vida e independência financeira. Ressalta a
importância do planejamento financeiro e conhecer os novos gastos que agora
surgem, orientando como suas receitas devem cobri-los. O conteúdo subdivide-se
em cinco subtemas, 'Planejando conquistas', 'Investindo em você', 'De olho no
futuro', 'Orçamento' e 'Organize-se'.
Planejando conquistas enfoca a saída da casa dos pais, oferece dicas de como
planejar a compra do primeiro veículo, comprar o primeiro apartamento, a
importância de iniciar a poupança para garantir um futuro melhor ou a conquista de
um sonho e a criação do hábito de investir.
Investindo em você, evidencia a importância dos cursos superiores, do
aperfeiçoamento profissional e como os intercâmbios enriquecem o currículo e
abrem novas fronteiras de conhecimento.
De olho no futuro, alerta sobre o momento da aposentadoria que deve ser encarada
como um investimento prioritário e quanto mais cedo se iniciar, melhor será.
O quesito orçamento orienta sobre a utilização consciente do cartão de crédito e o
perigo de não se pagar a fatura mensal do cartão integralmente e alerta sobre as
altas taxas de juros cobradas nesta modalidade. Também procura desmistificar que
quanto mais se ganha melhor será a sua saúde financeira, além de orientar para o
planejamento adequado de suas finanças.
O tópico organize-se alerta sobre a importância do planejamento financeiro e cita
novamente o programa JIMBO da FEBRABAN.
4.1.3 Maturidade
O terceiro tema abordado é denominado de 'Maturidade' e traz dicas sobre como se
preparar para desfrutar de uma boa aposentadoria e se dedicar ao lazer,
66
entretenimentos, um hobby e as viagens, indicando um programa do Ministério do
Turismo que estimula viagens para a melhor idade. Subdivide-se em três
modalidades: 'Tempo e Dinheiro', 'Orçamento' e 'Organize-se'. Com relação ao
Tempo e Dinheiro, para você e sua família, orienta a gastar seu dinheiro com
viagens, lazer e hobby. No que concerne ao 'Orçamento', sugere-se cuidados que se
deve ter com o novo orçamento como aposentado, a diminuição das receitas e o
controle dos gastos. Especial atenção para não se endividar nos empréstimos
consignados, que pode comprometer o orçamento. E o tema organize-se, cita
novamente o planejamento financeiro e o aplicativo JIMBO disponível no sítio da
FEBRABAN.
4.1.4 Empreendedor
A quarta temática é dedicado ao Empreendedor. Traz dicas de como conhecer bem
e planejar um novo negócio, saber quem são os concorrentes, o que mercado
oferece e sinaliza para o futuro e conhecer a fundo as finanças da empresa.
Subdivide-se em: 'Administração', 'Dinheiro e futuro' e 'Previna-se'. A administração
trata do conhecimento do negócio e suas finanças. Indica o Sebrae como alternativa
para possibilitar uma melhor capacitação do empreendedor. No quesito Dinheiro e
futuro, aborda-se o planejamento à longo prazo, discute a importância de se
dimensionar o negócio e ter um planejamento eficaz antes do início das atividades
da empresa. Por fim, no tópico 'previna-se' são repassadas orientações quanto a
aposentadoria
e,
também
sobre
investimentos.
Orienta
como
planejar
a
aposentadoria, sobre os planos complementares de previdência privada e fomo
preparar a sucessão na gestão da empresa.
4.1.5 Artigos
Após a apresentação dos quatro temas principais é disponibilizado um link com
artigos voltados para o controle das finanças abordando aspectos como:
Campanhas de recuperação de crédito; Seguro de vida, Retratos da educação
financeira; Consumismo infantil; Programas de fidelidade; Como acabar com suas
dívidas; Como anda a educação financeira dos jovens brasileiros?; A segurança da
vida financeira; A inflação traz novos hábitos; Previdência privada: investimento à
67
longo prazo; Rússia 2018: aí vou eu!; Pequenas despesas, grandes gastos;
Casamento: não basta querer, tem que planejar; Consumismo e melhorando a sua
renda. Há ainda, a possibilidade de fazer uma assinatura e receber os artios por email.
4.1.6 O Especialista
Na seção 'Especialista' é apresentado o currículo e as atividades do consultor
financeiro e economista Carlos Eduardo Costa, o responsável pelas orientações e
dicas do site.
4.1.7 Iniciativa para colaboradores
Nesta seção é realizada a apresentação do Programa de Educação Financeira do
Banco Mercantil do Brasil. O banco oferece a seus colaboradores ações específicas
de educação financeira, como palestras e consultorias, sendo que a cada semestre
são sorteadas dez vagas de consultoria financeira para esses colaboradores.
4.1.8 Concurso MB
É ofertado nesta seção um concurso cultural denominado como Educação
Financeira MB, cabendo ao ganhador um bônus de 10 mil Reais e uma consultoria
financeira presencial e à distância, a quem responder melhor à pergunta: Por que
preciso de uma consultoria financeira?. São sugeridas algumas dicas para esta
resposta e convida-se ao participante a conhecer melhor o site de Educação
Financeira e também o consultor financeiro.
4.1.9 Perfil de Consumo
Ainda na parte central, porém na extrema direita, é oferecido um teste para avaliar o
perfil de consumo do consumidor denominado de 'Qual é o seu perfil'. O teste foi
elaborado pelo consultor financeiro Carlos Eduardo Costa, e é composto por
perguntas que oferecem a opção de multipla escolha sobre o cotidiano do
planejamento doméstico, suas compras e receitas, trazendo ao final uma conclusão
68
sobre seu perfil dando dicas de como ser melhor nas finanças e orientando sobre
algumas correções a serem feitas.
4.1.10 Serviços ofertados no site do Mercantil do Brasil
É ofertado no site um Glossário, com as palavras e termos mais usados na
educação financeira, apresentados em ordem alfabética.
Na seqüência são sugeridas leituras, abordando temas relacionados com economia,
dinheiro, finanças entre outros, escritos por especialistas no assunto.
Por fim, no quesito dúvidas frequentes, são enumeradas oito questões de cunho
mais conceitual respondidas por um consultor.
4.2 Análise de Conteúdo sobre a percepção dos gestores
As respostas dos dois gestores que foram entrevistados, depois de transcritas,foram
submetidas à análise de conteúdo, sendo organizadas em categorias pré-definidas.
Vale ressaltar que tais categorias foram definidas levando em conta o referencial
teórico, que, por sua vez, serviu de ponto de orientação para as questões
formuladas.
4.2.1 Conceito e importância de Educação Financeira
A educação financeira é:
uma questão que era associada à forma que a pessoa, a relação que ela
tem com o dinheiro e com a utilização dos recursos e produtos que um
banco oferece. E aí a gente começou a debater então a geração de
conteúdo de conscientização, que é esse conteúdo de educação financeira
que a gente disponibiliza hoje (MARCOS).
Ao comentário do primeiro gestor, foi acrescida a observação da segunda gestora:
E pelo próprio movimento que a gente está vivendo mesmo: do governo de
estimular a educação financeira nas escolas, o movimento dos bancos
também de disponibilizar conteúdo, de fazer ações. Então a gente foi
estudando isso, e vendo como que isso poderia ser encaixado aqui dentro
(DANIELA).
69
Observa-se que o conceito emitido pelos dois entrevistados coincide com as
definições apresentadas por Gallery et al. (2007, p.288) e Lellis (2006) citados no
referencial teórico. Segundo os primeiros a educação financeira se refere á
capacidade de fazer julgamentos inteligentes e decisões eficazes em relação ao uso
e gestão do dinheiro e o segundo realça a importância da educação financeira para
aumentar a renda e reduzir despesas, permitindo que as pessoas administrem seu
dinheiro.
Logo, infere-se que a proposta que vem sendo desenvolvida pelo Banco Mercantil
do Brasil tem um suporte teórico adequado.
Tratando-se de um banco e para que o projeto não fosse confundido com a busca
de clientes, com o convencimento deles para a compra de produtos, ou seja, que ela
fosse usada como um recurso manipulativo, os entrevistados colocaram suas
ponderações.
Desassociado dessa questão da oferta do crédito. Você vê que todo
conteúdo nosso, a gente tem uma preocupação muito grande em construir
esse conteúdo. A gente fala do produto, mas a gente não vende o produto
dentro do conteúdo da educação financeira. Olha, aqui nesse conteúdo e no
desenvolvimento da consciência da educação financeira, eu não vou falar
do que é certo e do que é errado. Eu vou falar do que você precisa fazer
para conquistar aquilo que você quer atingir. Então é essa linha que a gente
adota com relação à educação financeira, do nosso conteúdo. Então,
tentando responder o seu roteiro, do que você fala, do quê a gente entende
como educação financeira, e qual a importância que a gente acredita nela, é
nesse sentido. A educação financeira vem para fazer com que as pessoas
tenham consciência da relação que elas têm com o dinheiro. E nesse
sentido ela vai poder lançar mão ou não dos produtos financeiros que o
banco oferece. Mas no Mercantil do Brasil a gente não criou um conteúdo,
onde a gente fale: olhe, já que você está precisando viajar, o seu desejo é
viajar, a gente tem aqui um crédito pessoal para você. Não! Não se fala isso
no conteúdo. Eu posso falar da organização e do que você pode lançar mão
para viajar. Mas em nenhum momento a gente liga. A gente não tem esse
objetivo. A gente desassociou da oferta mesmo (MARCOS).
São duas diretrizes básicas do programa. Essa que o Marco falou de
desassociar o produto e de não ter certo e errado. A gente pretende mostrar
e fazer com que a pessoa olhe para a realidade dela, e veja o que te atende
mesmo. Dentro do que você quer e da sua realidade (DANIELA).
É importante realçar este caráter ético da proposta. Ao apresentar um programa de
educação financeira, acessível a clientes e não-clientes, uma organização bancária
70
pode ter como finalidade atrair as pessoas para seus produtos, mas ficou evidente a
intenção de não ligar a oportunidade de esclarecer as pessoas sobre a melhor
aplicação de seu dinheiro com a compra de produtos disponíveis no banco. A
conseqüência da aprendizagem feita pode até ser a compra de produtos do banco,
mas o respeito à ética deve ser mantido, tanto para evitar que o cliente se sinta
manipulado como para garantir que se está lidando com uma organização que
respeita o provável cliente.
4.2.2 Benefícios que o Programa pode gerar
Interrogados sobre os benefícios que o Programa de Educação Financeira pode
gerar, os entrevistados deram as seguintes respostas:
Essa pergunta aqui: quais são os benefícios que um projeto possa gerar,
isso a gente considera que o projeto ajuda na conscientização. Trabalha
conscientização... A DANIELA é responsável por uma supervisão dentro da
minha coordenação que trabalha muito esses conceitos da conscientização
por meio da multiplicação. Então isso é talvez uma das principais diretrizes
da área dela. Eu vou trabalhar com a transformação, da atitude da pessoa
por meio da conscientização e de que modo isso possa ser multiplicado
(MARCOS).
Como o processo de conscientização é um resultado complexo, que depende da
mudança de atitude do aprendiz e que, por este motivo, depende da mudança de
valores, um dos entrevistados realçou a dificuldade enfrentada pelo Programa e o
tempo que ele exige para se concretizar.
E isso é muito forte no programa de educação financeira também. Só que
trabalhar conscientização não é da noite para o dia. Né! Então como a
gente tem dois anos atuando nesse sentido, a gente considera que ainda é
muito recente para estarmos colhendo frutos concretos, ou declaradamente
dizer que estamos no caminho certo.
Na verdade, recentemente nós realizamos uma pesquisa sobre educação
financeira, e já vou te adiantar que infelizmente a gente não vai pode
disponibilizar esse conteúdo [...] (MARCOS).
Retornando à fundamentação teórica deste trabalho, verifica-se que os países da
Comunidade Econômica Européia alertam para este objetivo da educação financeira
De acordo com a European Commission (Fin-Focus, 2008), a educação financeira
seria vem permitindo maior consciência nas tomadas de decisões. Conscientizando
71
as pessoas, a educação financeira nesses países tem sido considerada suporte para
a sobrevivência econômica.
4.2.3 Definição de público-alvo para o Programa de Educação Financeira
Ao definir o público ao qual o Programa de Educação Financeira se destina, foi a
seguinte a fala dos entrevistados.
O que mais faz sucesso no programa é o site, que é uma das ações
destinadas a disponibilizar o conteúdo do nosso programa de educação
financeira. Mas uma das coisas que mais faz sucesso é justamente alinhado
a esse conceito que a Daniela está falando aqui de identificar qual é a sua
situação e qual é a relação que você precisa desenvolver com o dinheiro,
que é o que a gente chama de Consultório Financeiro.
O Consultório Financeiro, até então, é um programa, é uma ação destinada
aos funcionários do banco (MARCOS).
Ficou evidente, a partir desta fala, que a primeira intenção do Banco, ao propor o
Programa de Educação Financeira, é formar o colaborador. É transformá-lo num
multiplicador da aprendizagem feita. Estender aos clientes o benefício desta
oportunidade é uma intenção que será atingida no futuro.
Mas ano que vem a gente está querendo oferecer também para cliente, mas
inicialmente o que a gente está fazendo é para o funcionário. Então, durante
os dois últimos anos a gente ofereceu o Consultório Financeiro para alguns
funcionários. Isso é feito da forma de sorteio mesmo, as pessoas se
disponibilizam para poder fazer esse Consultório. O que que é esse
Consultório? Um consultor vai até a casa do cara [...] (MARCOS).
Primeiro ele faz uma consulta. E depois de dois meses ele volta. A gente
não tem acesso a quem participa. É sigiloso. Então é só o Carlos Eduardo
que sabe [...] A gente não sabe nem quem se inscreveu (DANIELA).
Ainda visando a preservar a ética nas relações, os dois gestores realçaram que não
têm acesso aos clientes que buscam o programa de Educação financeira.
A gente tem números, do tipo de quantos se inscreveram, para saber, por
exemplo, quais são os assuntos mais pertinentes desse Consultório. O que
as pessoas estão mais [...] Qual é o nível de conhecimento dos conceitos. A
gente tem noção, né. A gente foi confirmando com esse tempo que o nível
de conhecimento relacionado com educação financeira para um bancário é
mais elevado do que para as pessoas que não sejam bancárias, que não
estejam ligadas ao universo financeiro (MARCOS).
72
Sobre os resultados obtidos pelo público-alvo, os entrevistados deram algumas
informações, embora não se possa fazer generalização para os clientes que usam o
recurso. A avaliação da qual eles dispõem é dos funcionários que vêm participando
e registram o seguinte:
A gente fez um amplo estudo, envolvendo funcionários, usuários do site,
usuários do nosso internet banking, e o público geral por meio de uma
plataforma de pesquisa. A gente fez uma varredura bem interessante, e a
gente pode fazer umas comparações. Uma delas é essa que a gente está
falando, onde o bancário, ou melhor, o colaborador do Mercantil do Brasil,
porque eu não posso colocar isso de uma forma genérica, ele tem em tese
uma postura, uma consciência para educação financeira melhor, digamos
assim, que a população de uma forma geral (MARCOS).
O comentário feito tem uma relação direta com o novo papel dos funcionários de um
banco, que é o de não apenas gerenciarem os recursos financeiros das pessoas,
mas tornarem-se consultores financeiros de seus clientes. Este novo papel resulta
no repasse das ações mecânicas do banco (depósito, retirada de dinheiro,
pagamentos) aos caixas eletrônicos enquanto ações mais esclarecedoras para os
clientes passaram a constituir atividades dos funcionários e, de forma especial, aos
gerentes. Aí se justifica a educação financeira para o funcionário.
Retomando o referencial teórico deste trabalho, verifica-se que foram abordados
programas que stão sendo desenvolvidos nos Estados Unidos, no Canadá, na
Inglaterra, na Nova Zelandia, Espanha e Japão e mereceram destaque os
programas das Universidades Pensilvania e Illinois. Na Espanha, foi possível
verificar o desenvolvimento de projetos nas escolas de vários níveis. No Brasil, a
partir de 2011, o governo iniciou um trabalho em parceria com escolas do Rio de
Janeiro e São Paulo e numa avaliação preliminar tem-se afirmado que os resultados
são positivos. Todos os projetos estudados realçaram que a educação financeira
deve iniciar bem cedo, pois quando vai para o ensino fundamental o aluno já leva
uma aprendizagem feita com seus pais e na comunidade onde ele vive. (Stephani,
2005).
Entretanto, o caso estudado não constitui ação de uma escola e sim de um banco e
se destina aos funcionários e aos clientes desta organização. Contudo, como afirma
Hill (2009, o aprendizado referente á educação financeira melhora não apenas as
73
pessoas, mas exerce uma influência positiva e racional sobre o consumo e o
desenvolvimento financeiro. Daí, justificar-se o preparo dos funcionários de uma
organização bancária e dos clientes dessa organização.
4.2.4 Métodos de educação financeira adotados pelo Programa
A Educação Financeira é um tema novo que ainda não integra de maneira formal o
currículo da escola brasileira. Os programas que foram analisados no referencial
teórico abordam a questão de maneira diversificada e não existe um consenso em
suas maneira de propor como se ensina o assunto.
Um método que vem sendo bastante difundido no Brasil é o método Diagnosticar,
Sonhar, Orçar e Poupar (DSOP), que foi criado em 2008 pelo educador e terapeuta
financeiro, Reinaldo Domingos e tem levado este tipo de ensinamento a diversos
públicos, da infância à idade adulta.
Nesse sentido, não se pode considerar que o Programa que ora se analisa tenha
uma metodologia definida, explicitada nos instrumentos que utiliza. Por isto, a fala
dos entrevistados referiu-se inicialmente à expectativa que se tem em relação aos
efeitos que o Programa tem sobre o funcionário:
Esse trabalho, então, tem nos mostrado que o funcionário do Mercantil do
Brasil tem um nível de consciência interessante em relação ao mercado e
que a gente precisa aproveitar disso. Que talvez seja então um ponto que
vai nos orientar sobre ações futuras. Por exemplo, só para você ter uma
noção, da discussão que a gente está tendo. Será que realmente
Consultório Financeiro da forma como a gente estruturou é o que eles
demandam? É o que eles precisam já que eles tem uma conduta com
relação ao dinheiro mais eficiente? Talvez agora a gente precise discutir um
outro patamar na relação com o funcionário. Então isso é o que vai
direcionando e aí quando você pergunta se a gente tem dados concretos,
essa pesquisa é uma delas. O volume de acesso ao site também nos
orienta! Porque nos temos uma estrutura, aqui está falando um pouquinho
sobre metodologia de educação financeira. Ela basicamente está
concentrada na disponibilização desse conteúdo e ela é formada dentro
daquela metodologia que a gente vê não especificamente para um público,
mas sim para um perfil de atuação na relação com o dinheiro (MARCOS).
Um método é um caminho que se escolhe para alcançar determinado objetivo. Por
isto, falar das preocupações que cercam um programa implica em mencionar a
74
metodologia, ou seja, o caminho que está orientando os responsáveis pelo
Programa:
Olha: qual é a minha preocupação? O que eu preciso fazer para ter o
dinheiro dentro da minha família? Qual é a relação com o dinheiro no meu
ambiente familiar, que é o meu universo? Qual é a relação com o dinheiro
daquela pessoa que tem um perfil de independência, ao contrário da família,
né?! Ou seja a pessoa que mora sozinha, que tem isso, é completamente
diferente de uma relação com dinheiro para quem tem uma família. Da
mesma forma um pouco da fase da vida que é a maturidade. Aquela pessoa
que tem mais... A própria pesquisa nos indica que as pessoas mais
maduras tendem a ter uma preocupação maior com a educação financeira
do que as pessoas mais novas. Que é um dado da pesquisa. E o último
grupo pra mim é aquela pessoa que quer empreender, que quer
desenvolver uma vida....quer dizer, que tenha um perfil empreendedor
mesmo, que é ter o seu próprio negócio. Então inicialmente essa foi o nosso
caminho....dividir por esses perfis, e essa foi a metodologia que a gente
achou e fomos gerando conteúdos; para gerar maior dinamismos a gente
cria conteúdos quinzenais. O Carlos, ele escreve. Essa é a parte física, fixa
de cada um desses universos que eu te expliquei. Esses quatro perfis
(MARCOS).
Foram mencionados ainda recursos alternativos, como os comentários sob a forma
de artigos e os testes destinados a estabelecer interação com os usuários do
Programa.
A cada quinze dias a gente publica um artigo do Carlos que é pautado
muitas vezes pela situação ou por uma situação de um momento específico
ou de uma necessidade que o público mesmo nos demanda. Por exemplo,
acho que um dos artigos mais interessantes, não vou falar colocar em
ordem não, mas pra mim, eu acho que uma das abordagens mais
interessantes foi quando a gente estava tendo a Copa e o Carlos fez um
artigo falando assim: estamos falando de Copa, mas se você quiser ir para
a Copa lá na Rússia daqui a quatro anos? Como é que você se organiza
para isso? Então ele pegou um foco bem interessante. E isso gerou uma
multiplicação interessante no site, e tudo mais.
E por fim, para gerar um pouco mais de interação, a gente tem dentro desse
conteúdo os testes, que por enquanto são dois, e que a gente ainda está
querendo desenvolver isso. Na verdade o que a gente percebe, até a
pesquisa nos mostra isso, que o usuário do site, ele tem uma avaliação
muito positiva do conteúdo que está aí. 70%, esse dado eu posso te falar
[...] 70% das pessoas que visitaram o site, que visitam o site e que
participaram da pesquisa, indicam que o conteúdo é um conteúdo
interessante para o seu desenvolvimento [...] (MARCOS).
Realce especial foi dado também ao Programa Consultor Financeiro, um dos
recursos que vem sendo utilizado.
No Consultório financeiro por exemplo a gente mede inscrições, o interesse
das pessoas em participar, o número de pessoas atendidas. A gente além
do Consultório Financeiro para colaboradores, a gente tem uma palestra
anual, que acontece pela concentração de funcionários, acontece aqui em
75
Belo Horizonte, que a maior parte dos funcionários está aqui, acontece aqui.
Então a gente disponibiliza em dois horários para que as pessoas possam
vir e é sempre sobre um tema que a gente pesquisou, que é de interesse
deles, né. No ano passado, como foi o primeiro ano do projeto, do
programa, a gente pegou uma abordagem mais geral do que era a
educação financeira, qual era a importância, com quais assuntos estão
relacionados. Este ano a gente já viu que as pessoas querem um pouco
mais, então a gente já vai abordar uma questão mais detalhada (DANIELA).
Não se pode, portanto, enquadrar o programa objeto desta pesquisa em uma das
metodologias abordadas no referencial teórico. Verifica-se que se trata de uma
metodologia que vem sendo construída e que, com base no acompanhamento que é
feito, vem tornando a relação com os usuários mais dinâmica, mais interativa.
Hogarth (2002) ainda afirma que as avaliações de programas têm demonstrado que
um
conhecimento
sobre
educação
financeira
leva
a
uma
mudança
de
comportamento e nisso há um ganho financeiro. Nesse sentido, pode-se afirmar que
o Programa de Educação Financeira do Banco Mercantil vem sendo acompanhado e
sua metodologia vem sendo avaliada e indica que está se processando uma
mudança de comportamento tanto dos funcionários do estabelecimento quanto
daqueles que utilizam o programa.
4.2.5 Principais ações propostas ou em desenvolvimento
Nessa categoria, foram selecionadas falas dos entrevistados que apontam ações
propostas ou efetivadas que os mesmos consideram que geraram bons resultados.
Sobre resultado, tudo que a gente faz a gente procura ter resultado. Procura
verificar números e verificar até que ponto aquele indicador é importante ou
não para que a gente possa propor outras ações. Então o site a gente
verifica acesso, pra gente saber tirar dali quais informações podem nos
ajudar a propor outras iniciativas (DANIELA).
Em seguida, são listadas ações que estão sendo propostas e ainda não efetivadas
Esse artigo da Copa “bombou” em relação a outro artigo, qual que é o
assunto que está mais interessante [...] Mas teoricamente a gente tem uma
coisa né Daniela, que está muito próxima com o resultado da pesquisa, que
é outro dado que a gente pode fornecer para você também sem problema
nenhum. Os públicos pesquisados demonstram um interesse maior com
questões associadas ao consumo consciente e controle de gastos, esses
são os principais pontos que eles falam. E isso também está um pouco
demonstrado nesse acesso. Quando eu falo mais de uma conduta
76
consciente de consumo, talvez as pessoas tenham mais interesse, né! Por
exemplo uma preocupação que também está um pouco associada a isso,
uma preocupação de como vou transmitir isso para os meus filhos
(MARCOS).
Tem aqui nessa questão que você está falando que quais são as principais
ações e propostas, acho que a gente pode concentrar dessa forma: é a
disponibilização do conteúdo, e tudo que a gente faz para que ele seja mais
interativo, como a geração de artigos, a disponibilização de testes, isso
tudo... Ou seja, o desenvolvimento de um conteúdo mais interativo, que é a
ação que a gente está falando. Para o público interno, a gente tem o
Consultório Financeiro. Até então a gente ainda está estudando a
efetividade dessas palestras, estamos estudando a possibilidade de
realização de cursos, estamos estudando a possibilidade de ampliar essa
ações junto a clientes. Então eu não consigo ainda falar que a gente está
fazendo isso tudo, porque a gente está justamente no momento de estudar
qual é o próximo passo do programa. Mas basicamente, as ações são
direcionadas sobre como trabalhar a conscientização e que isso possa ser
multiplicado (DANIELA).
Como se trata de uma organização bancária é natural que o Programa de Educação
Financeira não perca de vista o cliente e o fornecedor e a ligação entre os dois
pontos foi realçada do seguinte modo.
Existe hoje um nível que a gente está considerando que é de transmissão
da informação. O desenvolvimento de produtos específicos voltados para a
educação financeira é uma coisa que pra gente ainda talvez esteja naquela
coisa de universo ideal que está associando o Mercantil do Brasil à um
fornecedor [...] Então isso Vinícius, eu não consigo te responder agora
porque eu acho que depende de qual é o caminho que a gente vai fazer.
Agora eu acho que inevitavelmente a gente vai acabar discutindo isso e
passando por essa questão se a gente quiser avançar nesse sentido, a
oferecer um produto com conteúdo. Teve uma época, por exemplo, no
nosso crédito consignado a gente tinha uma figura que a gente poderia
considerar como um consultor e um dos produtos que a gente tinha era um
produto que ele desenvolveu que era a palestra oferecida para público
diversos, ele chegava dentro de um congresso por exemplo de servidores
públicos do Estado de tal lugar ele oferecia, o banco oferecia esse serviço
como um serviço de conscientização, e ele usava isso (MARCOS).
As reivindicações dos beneficiários também foram mencionadas e se apresentaram
como ações que a organização ainda não consegue tornar efetivas.
A gente não tem um aplicativo, uma das coisas que a pesquisa indica é que
os pesquisados gostariam mais de ter uma relação financeira, um controle
financeiro de uma forma mais eletrônica. Então gente percebe que
precisaria oferecer alguma coisa nesse sentido. Outros produtos, como por
exemplo, a gente conseguir ter, que o colaborador seja realmente uma
pessoa quase que um consultor mesmo. Eu estou oferecendo muito mais
que um gerente, muito mais que um escriturário, estou oferecendo a você
uma pessoa que tem capacidade de te orientar financeiramente como
produto.
77
São caminhos possíveis, mas que a gente ainda não consegue vislumbrar
dentro da estrutura do Mercantil do Brasil ainda. Então hoje a gente está
focado na disponibilização de informações (MARCOS).
Este tópico abordou ações que integram um programa específico, que vem sendo
desenvolvido pelo Banco Mercantil do Brasil. Comparando este programa a outros
que foram mencionados no referencial teórico, verifica-se que ele tem uma
originalidade, um caminho novo que vem sendo aberto pelo Banco e que tem como
objetivo atender à sua clientela interna e externa.
Os comentários evidenciam que novas ações deverão ser desencadeadas a partir
da demanda dos beneficiários e que as metodologias a serem adotadas deverão
responder a tais deficiências identificadas por eles.
4.2.6 Resultados auferidos pelo Programa até o momento
A referência aos resultados auferidos pelo Programa está diretamente relacionada
ao item anterior e é assim expressa pelos entrevistados:
E quando você pergunta de resultados aqui, a gente tem esses resultados
todos que a Daniela acabou de falar. Acho que o principal é esse resultado
da pesquisa que vai mostrando pra gente alguns dados que talvez nem
sejam muito diferentes do mercado. Por exemplo, eu te falei que o
colaborador tem um perfil de conhecimento maior, de uma forma geral o
público feminino tende a ser, tende a ter menos organização (MARCOS).
Os resultados auferidos são relacionados pelos gestores a uma tentativa de corrigir
o que socialmente tem sido identificado nas pessoas, nos prováveis clientes.
Um dos principais fatores que indicam que a pessoa está desorganizada
financeiramente é a compra por impulso. Talvez por isso que talvez esteja
um pouco mais associado ao perfil feminino mas inclui o masculino também.
A pesquisa também indica que o público jovem tem menos preocupação
com relação a isso que o público mais velho. Que é uma coisa que nos
orienta e nos demonstra uma necessidade de introduzir essa informação,
assim uma questão mais educativa (MARCOS).
O Programa de Educação Financeira é proposto e desenvolvido por uma
organização bancária e por este motivo os resultados dizem respeito não apenas ao
78
aprendizado feito pelos beneficiários, mas também aos resultados previstos pelo
Banco Mercantil, ou seja, ao retorno dos clientes esclarecidos pelo programa.
Um dos dados da pesquisa que também deixou a gente bem satisfeito é
ouvir, por exemplo, na parte onde estava tudo aberto e as pessoas podiam
fazer comentários, que existia um número interessante de pessoas que
falavam: que bacana que um banco está fazendo isso. Que legal que é uma
instituição financeira que está me perguntando sobre isso. Ou seja, estão
demonstrando interesse nesse assunto e isso eu tenho interesse também.
Que legal que tem banco preocupado com isso no Brasil. Tem até uma
frase como essa lá, não sei se especificamente assim, mas é uma coisa que
vai nos mostrando interesse tanto da população quanto do próprio banco.
Ou seja, posso mostrar isso internamente e falar assim: olha só como a
gente está sendo muito bem visto. A gente está colhendo o fruto desse
conteúdo que a gente está falando. Por que na hora que uma pessoa tiver
sensibilizada com relação a isso, a hora que essa pessoa precisar desse
produto ela vai pensar em quem primeiro? (MARCOS).
Os funcionários já mostram uma compreensão melhor. A resposta dos
clientes virá. E também, isso é, a gente precisa também acompanhar um
pouco o que o mercado faz, né. Não é muito comum mais a gente ver
associado a educação financeira à um produto. Normalmente não. Sites [...]
(DANIELA).
Medeiros (2003) e Lelis (2006) compreendem que a educação financeira é um tema
no qual se discute a importância do dinheiro, a forma como se deve administrá-lo,
ganhá-lo, gastá-lo, poupá-lo e consumi-lo conscientemente. De acordo com esses
autores, em face desta necessidade, é que surge o tema 'educação financeira'.
Analisando-se os conceitos apresentados até o momento, conclui-se que a
educação financeira constitui um recurso que orienta as pessoas a evitarem o uso
inadequado do dinheiro e o gasto inconsciente, impedindo, assim, o endividamento.
Nesse sentido, acredita-se que o programa desenvolvido pelo banco está
conseguindo atingir o seu objetivo uma vez que procura orientar os funcionários e
clientes sobre o tema.
4.2.7 A legislação brasileira e a Educação Financeira
Nesta seção, os entrevistados responderam questões concernentes à legislação e à
educação brasileira; os relatos estão dispostos a seguir:
E quando você pergunta como que a gente percebe essa questão de
legislação, eu acho que a gente, estava até conversando um pouco antes
de você chegar, acho que existem muitas coisas para serem melhoradas
79
nesses conceitos. Você mesmo falou que é uma coisa nova para se
debater. Eu acho que cada um tem o seu papel. O setor privado, e mais
especificamente a gente, banco, tem um papel importantíssimo nesse
processo. Então o que a gente puder entregar para a sociedade, para que
ela possa se formar melhor, a gente vai colher como fruto lá na frente. Ou
seja, uma pessoa que sabe lidar melhor com dinheiro também
consequentemente vai lidar melhor também com os produtos bancários que
ofereço. Então isso é natural (MARCOS).
A gente está tentando, e vem desenvolvendo o nosso papel, de uma forma
que a gente percebe que existem passos que devem ser cumpridos. E por
outro lado, quando você fala de legislação, eu acho que cada um tem o seu
papel. Repetindo essa expressão. Existe sim uma necessidade de uma
legislação específica que possa demonstrar que o setor público também
está preocupado nesse sentido (DANIELA).
No Brasil o governo Brasileiro criou o programa ENEF que é responsável pelas
diretrizes para a educação financeira dos adultos, apresentando os objetivos e
conceitos relacionados ao assunto. As orientações devem ser transmitidas da forma
mais simples possível, observando a capacidade de compreensão de cada
indivíduo, conforme alínea “a” do § 1º do art. 5º, da Deliberação nº 03 do Comitê de
Regularização e Fiscalização dos Mercados Financeiros, de Capitais, de Seguros,
de Previdência e Capitalização (COREMEC).
Salienta-se que o ENEF instituiu como público-alvo, temas e ações os militares, os
servidores públicos, trabalhadores formais e informais, profissionais liberais,
estudantes
universitários,
donas
de
casa,
desempregados,
aposentados,
trabalhadores rurais, beneficiários de programas sociais, brasileiros residentes no
exterior e outros. Os temas abordados foram inclusão financeira; proteção ao
consumidor; finanças pessoais; noções de Economia; noções do sistema financeiro
nacional; crédito e microcrédito; consumo consciente; previdência; preparação para
a aposentadoria; investimentos; seguros; capitalização e outros. Além disso, como
ações implementadas foram disponibilizadas no portal informações referentes à
educação financeira, palestras, ublicações e cartilhas, seminários, encontros
regionais, concursos, centrais de atendimento, campanhas publicitárias, cursos,
programas de televisão, programas de rádio, feiras, espaços culturais, visitas
programadas e outros.
80
4.2.8 Principais dificuldades encontradas para implantação do projeto
Os respondentes afirmam que as principais dificuldades encontradas pelo banco
para implantar o projeto foi quebrar o paradigma, uma vez que foi preciso sair de
uma estrutura de banco tradicional e há o anseio em melhorar posturas com o
objetivo de construir uma nova imagem pautada em ações práticas.
Eu acho que antes de falar de educação financeira, a gente é banco. Como
é que o produto vai estar misturado com a educação financeira. Você vai
falar que cartão de crédito é ruim, e aí como que vai ser? Aí a gente, essa
foi a primeira barreira assim (DANIELA).
Eu acho que o setor bancário vem construindo ao longo do tempo essa
forma de querer ser visto de uma maneira diferenciada, com ações práticas.
Não é simplesmente falando que eu sou bonzinho. Eu venho mudando e
tentando modificar essa imagem por meio de ações. E é um caminho longo.
É, acho que foi conseguir identificar que é uma abordagem comercial é
diferente. [...] se você fosse um correntista Mercantil do Brasil, você entraria
num sistema onde você vai encontrar [...] seu internet banking, à dois
cliques, de uma forma muito fácil, você adquire um produto de crédito, ta lá
uma linha de crédito disponível para você de 10 mil, 15 mil reais que você
pode colocar isso na sua conta corrente rapidamente. Existem outros
objetivos comerciais com isso (MARCOS).
De acordo com o entrevistado Marcos, o banco precisa vender seus produtos
porque esse é o negócio dele. Entretanto, é possível agregar outro conceito que
educar as pessoas para a utilizar o crédito de forma mais consciente. Completa
afirmando que a perpetuação do Mercantil do Brasil é importantíssima. Se por
exemplo, fosse oferecido um conteúdo que estivesse gerando evasão de
investimentos, acredita que ninguém iria sustentar esse conteúdo.
Com essa ação o mercantil segue a iniciativa da FEBRABAN no intuito de gerar
conhecimento que possa produzir, em longo prazo, transformações positivas no
comportamento das pessoas, melhorando sua qualidade de vida e sua relação com
o dinheiro (FEBRABAN, 2014).
A entrevistada Daniela, afirma que outro desafio consiste em quebrar a barreira
entre a teoria e a prática, uma vez que,
81
a gente disponibiliza conteúdo e realiza ações, pensando numa mudança de
hábitos, numa melhoria. Então acompanhar isso e ver como efetivamente
as ações estão provocando mudanças nos hábitos das pessoas, esse é um
outro desafio (DANIELA).
É muito subjetivo. Isso a gente vive, por a gente estar dentro de uma área
de comunicação e marketing, isso é da nossa natureza. Nos últimos anos
as principais discussões que envolvem área de comunicação e marketing,
qualquer encontro que a gente vai participar, é isso: como mensurar
resultados? Como que eu vou demonstrar resultado? E principalmente de
um banco! (MARCOS).
Quanto aos números obtidos, o entrevistado Marcos complementa que é importante
perguntar qual resultado foi gerado e se o conteúdo que foi criado foi responsável
por gerar mudanças de comportamento. É um desafio muito grande identificar como
isso vai gerar indicadores. Na percepção do entrevistado é prioritário distinguir entre
dois públicos importantíssimos, o primeiro é fazer o funcionário entender e transmitir
o posicionamento do banco e o segundo é fazer o cliente que está se relacionando
com o banco entender esse posicionamento.
Apresentados os resultados do estudo, foram tecidas as seguintes considerações
finais, nas quais se incluem as limitações do estudo e as sugestões para estudos
futuros.
82
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esta pesquisa teve como objetivo geral analisar a importância, os objetivos, os
métodos, as ações propostas, os resultados e as dificuldades de um projeto de
Educação financeira desenvolvido por uma Instituição Bancária. A intenção do autor
foi identificar, a partir deste programa, caminhos que possam ser apresentados a
escolas e organizações diversas para promover o desenvolvimento de uma
consciência crítica do cidadão sobre o uso adequado de seus recursos financeiros.
Em termos metodológicos, tratou-se de um estudo de caso, com abordagem
qualitativa e descritiva de caráter exploratório. Os dados foram coletados em
documentos impressos fornecidos pela instituição bancária estudada e em seu sitio
na internet. Foram também aplicadas entrevistas semiestruturadas, dois gestores do
programa de Educação Financeira do Banco Mercantil do Brasil. As entrevistas
foram gravadas, transcritas e submetidas à análise de conteúdo.
O primeiro objetivo foi alcançado na medida em que, com base nos documentos
fornecidos pelos responsáveis pelo Programa de Educação Financeira do Banco
Mercantil do Brasil e nas informações coletadas no site da empresa, foi possível
organizar o referido projeto quanto aos fins, aos princípios orientadores e alguns dos
métodos adotados.
No que diz respeito ao conceito e à importância da educação financeira segundo os
gestores entrevistados, verificou-se que a percepção dos gestores quanto ao tema
confere com os conceitos encontrados na literatura. Ressalta-se que se trata de uma
aprendizagem de como controlar as finanças, baseada na construção de hábitos e
costumes.
Com relação aos benefícios de um programa de educação financeira, foi apontado a
possibilidade de fazer a sociedade repensar os hábitos de consumo, substituindo-os
por outros mais sustentáveis, sendo para isso relevante promover projetos de
educação financeira voltados para esse novo perfil dos brasileiros. Segundo os
entrevistados, programas de Educação Financeira ajudam na conscientização sobre
83
o bom uso do dinheiro e são pautados na mudança de comportamento, hábitos e
costumes.
A respeito dos métodos utilizados pelo Programa, verificou-se que os mesmos são
originais, não repetindo abordagens utilizadas por outros programas que foram
analisados. Esses métodos, assim como as ações desencadeadas são decorrentes
de situações que requerem a busca de respostas. Verificou-se que não existe um
método padrão indicado para educação financeira, uma vez que cada pessoa
aprende de acordo com suas características pessoais, seus valores e suas
experiências vividas. Nesse caso, cursos com aulas práticas, palestras de motivação
e dinâmicas com linguagem acessível ao público em geral deveriam ser realizados.
Os entrevistados registraram a importância do desenvolvimento de projetos em
longo prazo que possam atingir toda a população, independente de idade ou de
nível de escolaridade. Dentre um conjunto de ações que deveriam ser inseridas para
conscientizar os cidadãos comuns sobre como gerenciar seu dinheiro e evitar o
endividamento, está a promoção da educação financeira continuada para todas as
idades, principalmente para as crianças e os jovens sobre a maneira de gerenciar de
forma eficaz a sua dinheiro. Ressaltou-se que o Programa estudado atende
inicialmente aos funcionários do Banco, na expectativa de que exerçam o papel de
multiplicadores do programa para os clientes.
Os gestores indicam que a legislação brasileira não tem contribuído/incentivado para
a realização de projetos na área de educação financeira. Há incentivo por parte do
governo com projetos como a Estratégia Nacional de Educação Financeira (ENEF),
com base na proposta de ensino de instituições financeiras nacionais e do Banco
Mundial; e a Lei 171/09 e o Decreto 23/12 que estabelecem a obrigatoriedade da
educação financeira em escolas públicas e privadas, porém, na percepção dos
entrevistados, são realizadas somente algumas ações pontuais.
Os benefícios apontados pelos gestores após a educação financeira e o alcance do
equilíbrio econômico das pessoas treinadas são a melhoria na saúde dos
empregados do Banco e o reconhecimento dos clientes, que passam a valorizar
mais a instituição que lhes oferece tal oportunidade.
84
Tomando como exemplo o Programa de Educação Financeira do Banco Mercantil
do Brasil, e a citação de outros programas em desenvolvimento no Brasil, pode-se
inferir que as empresas estão se preocupando mais com a saúde financeira dos
empregados e da comunidade, uma vez que a produtividade no trabalho de uma
pessoa endividada diminui.
A principal dificuldade encontrada para implantação do projeto de educação
financeira pela organização estudada consistiu em convencer os membros da
organização de que a educação financeira é importante e que deve ser implantada,
apesar dos sacrifícios exigidos.
Os projetos identificados no levantamento da produção científica sobre o tema não
são exclusivamente dedicados à educação financeira e estão conectados a outros
temas. Alguns desses projetos seguem os princípios da Educação Mundial:
Aprender a Aprender, Aprender a Ser, Aprender a Fazer e Aprender a Conviver.
Além disso, os programas todos são baseados nos eixos temáticos Autonomia,
Cidadania, Diversidade, Família, Empreendedorismo e Sustentabilidade, o que
oferece às pessoas um aprendizado completo. De acordo com os entrevistados o
programa de educação financeira é um dos pilares do “Programa Cuidar das
Pessoas” que envolve sete saúdes (baseados na Organização Mundial de Saúde).
Conclui-se que educação financeira é importante no sentido de evitar que a
população consuma sem necessidade e caia nas armadilhas dos financiamentos,
comprometendo e reduzindo parte de sua renda com o pagamento de juros com
cartão de crédito, cheque especial, crediários, empréstimos consignados e gerando
com isso, o endividamento negativo.
Salienta-se que o ato de consumir não é errado, desde que haja controle com
relação ao que está sendo consumido e do comportamento adotado frente às
questões financeiras. Recomenda-se adaptar os conceitos de Adam Smith citados
no livro A riqueza das nações, e incentivar os indivíduos a utilizarem a compra
inteligente. Diante disso, a educação financeira se torna imprescindível. Sugere-se
que o dinheiro seja utilizado a serviço de si próprio, e não o indivíduo viver a serviço
do dinheiro.
85
Quanto às limitações que se impuseram ao estudo, cita-se a dificuldade de acesso a
programas que estão sendo desenvolvidos por inúmeras organizações e a
impossibilidade de realização de observações diretas no dia a dia do trabalho
gerencial. Além disso, por se tratar de um estudo de caso, o presente trabalho tem
uma reduzida possibilidade de generalização.
Sugere-se, para estudos futuros, a realização de pesquisas com os gerentes de
empresas privadas, públicas, consultorias, bem como comparar suas percepções,
permitindo a ampliação da percepção sobre o tema.
Por fim, espera-se que a presente pesquisa possa colaborar para elucidar a
importância da educação financeira, e que essa contribuição não se limite apenas ao
campo acadêmico, mas que possa colaborar para a promoção do tema de forma
mais efetiva em organizações escolares e empresariais.
86
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92
ANEXOS
Anexo 1 : Ofício à responsável pelo Programa de Educação Financeira do
Banco Mercantil do Brasil
Belo Horizonte, 3 de outubro de 2014
Prezada Sra. Daniela Alencar Terra
Supervisão Gestão Socioambiental
Sou consultor organizacional e neste momento estou concluindo, no Centro
Universitário UNA, em Belo Horizonte, minha dissertação de Mestrado sobre o tema
Educação Financeira.
A pesquisa que devo apresentar consiste no estudo de um caso, ou seja de
um Programa de Educação Financeira que esteja em execução.
Ao tomar conhecimento que o Banco Mercantil vem desenvolvendo um
Programa de Educação Financeira, dirigi-me à senhora, para solicitar-lhe que me
permita estudar o mesmo, tanto do ponto de vista de seus objetivos e ações quanto
dos resultados que vem obtendo.
Por este motivo, o primeiro passo consiste numa entrevista com o(a)
responsável pelo Programa de Educação Financeira, conforme o roteiro anexo. O
segundo passo, para o qual solicito sua ajuda, consiste em ter acesso ao referido
programa, a fim de identificar seus pontos principais e apresentá-los no estudo de
caso. Finalmente, o terceiro passo será ouvir os beneficiados pelo programa e
novamente conto com seu auxilio.
Registro, de antemão, meu mais sincero agradecimento e me comprometo a
estar no endereço enviado no horário sugerido.
Atenciosamente
Vinicius Santana
Mestrando
93
Anexo 2: Educação Financeira no sítio da internet do Banco Mercantil do Brasil
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APÊNDICES
Apêndice A - Roteiro de entrevista com os gestores do Programa de Educação
Financeira
1)
Como gestor do Projeto, o que o senhor entende por educação financeira e
qual a importância acredita que ela tenha?
2)
De acordo com seu ponto de vista, quais os benefícios acredita que um
projeto como este possa gerar? O senhor considera que projetos como este ajudam
na conscientização do brasileiro para o uso adequado do dinheiro?
3) Levando em consideração seu conhecimento sobre Educação Financeira, para
qual público-alvo os projetos devem ser desenvolvidos?
3)
Quais os métodos de educação financeira que o projeto adota? Tem dado
bons resultados?
4)
Quais as parcerias que o banco faz para a realização deste projeto?
5)
Quais as principais ações propostas ou em desenvolvimento para o projeto de
Educação Financeira?
6)
Quais os resultados auferidos por este projeto? Como esses resultados têm
sido medidos em termos concretos?
7)
A legislação brasileira tem contribuído/incentivado para a realização de
projetos na área de Educação Financeira? Por favor, justifique sua resposta.
8)
Quais foram as principais dificuldades encontradas para implantação do
projeto de Educação Financeira desenvolvido por sua instituição?
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