„„OSWALDO LUIZ RAMOS
Oswaldo Luiz Ramos nasceu com o destino traçado. Ser
médico para ele era mais que uma vocação, era uma predestinação: seguir e multiplicar os passos de Jairo Ramos. Talvez
sua maior vitória, entre tantas possíveis de citar, tenha sido a
de ter escrito uma página da história da medicina brasileira, na
segunda metade do século XX, tão original e marcante quanto a
de seu pai, na primeira metade do século passado. É realmente
notável que duas gerações seguidas tenham assistido dois homens tão diferentes, pai e filho, gerarem tantos frutos igualmente benfazejos e duradouros na realidade médica do Brasil.
Oswaldo Ramos formou-se médico pela Escola Paulista de Medicina
(EPM) em 1951 e lá realizou a parte mais importante de sua obra como
pesquisador, educador e fomentador. Obteve o título de Master of Science
na McGill University de Montreal, Canadá, em 1955, e foi fellow da Columbia University de Nova Iorque entre 1958 e 1959. Em 1961 tornou-se
livre-docente em Clínica Médica da EPM e, em 1971, professor titular da
disciplina de Nefrologia do Departamento de Medicina da EPM.
Sua atuação de fomento no âmbito estadual começou na década de
1950, quando esteve entre os que lutaram pela criação da residência médica, coordenando, depois, a Comissão de Residência Médica da EPM
entre 1965 e 1975. Na década de 1960 chefiou a disciplina de Metabolismo e Nutrição da EPM, posteriormente renomeada de Nefrologia, e,
na década de 1970, participou decisivamente da instalação do programa
de Pós-graduação da EPM, hoje o mais conceituado do país na área médica. Na década de 1980 implantou, e coordenou até 1993, com apoio
da Fundação Rockfeller, o Programa de Epidemiologia Clínica da EPM.
Ainda na década de 1990, coordenou, por meio da Fundação Oswaldo
Ramos, a construção e implantação do Hospital do Rim, de São Paulo,
tendo sido, até falecer, o seu presidente honorário. Entre 1989 e 1993 foi
Presidente da Comissão de Pós-graduação e, de 1990 a 1998, chefe do
Departamento de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), antiga EPM.
Foi da Comissão de Ensino Médico e da Comissão Nacional de Residência Médica do Ministério da Educação, tendo também coordenado, na
década de 1980, o Sistema Integrado de Procedimentos de Alta Complexidade na área de nefrologia, normatizando os procedimentos de diálise e
transplante no Brasil. Fundou e dirigiu a Sociedade Brasileira de Nefrologia e a Sociedade Brasileira de Investigação Clínica e, em 1994, foi eleito
membro da Academia Brasileira de Medicina. Teve seu reconhecimento
internacional consolidado em 1980, quando foi convidado a participar da
seleta Chamber for High Blood Pressure Research, da American Heart Association. Essa expressiva carreira de cientista e professor, perenizada pela
centena de artigos publicados em revistas internacionais, não impediu o
exercício, enquanto clínico, da profissão médica.
O clínico Oswaldo Ramos era famoso pela argúcia do raciocínio, pela
simpatia irresistível e pela generosidade do diagnóstico. Nada além do
que fora prognosticado por Jairo como características essenciais ao bom
médico. Na prática do consultório, aliava a precisão do cientista biológico
com a curiosidade do investigador de almas, sempre em benefício da saúde do paciente em um sentido global. Foi com essa experiência adquirida,
e honrando a tradição paterna, que assumiu em 1988 a coordenação do
livro Atualização terapêutica, tendo sido responsável por todas as edições
publicadas desde então até a do ano de sua morte.
– Luiz Fernando Ramos
Quando Jairo Ramos, aos 33 anos de idade, assinou a 1 de
junho de 1933 o manifesto de fundação da Escola Paulista de
Medicina (EPM), seu primogênito, Oswaldo Luiz Ramos, nascido
a 17 de maio de 1928, tinha 5 anos de idade. Ao aposentar-se
em 1996, em mensagem dirigida ao Departamento de Medicina, Oswaldo Ramos registrou sua “feliz vivência de 45 anos
como docente da EPM”.
Oswaldo Ramos diplomou-se médico pela EPM em 1951 (ano no qual,
de modo pioneiro no país, fora criado, nesta Escola, o Departamento de
Medicina). Obteve o título de Master of Science in Experimental Medicine
pela Universidade McGill, Canadá (1955) e, a seguir, foi research fellow da
Columbia University de 1958 a 1959. Neste período estudou, experimentalmente, a função hepática em cães e publicou dois trabalhos (Journal of Clinical Investigation 1960; 39: 161-170 e 1960; 39: 1570-1577) que continuam
a receber citações na literatura científica internacional. Obteve na EPM, em
1961, o título de livre-docente em Clínica Médica. O trabalho resultante de
sua tese (Portal hemodynamics and liver cell function in hepatic schistosomiasis. Gastroenterology 1964; 47: 241-247) colocou a hepatologia brasileira no
mapa-múndi. A partir desse ponto dedicou-se à nefrologia.
Membro ativo desde 1957 da Seção de Metabolismo e Nutrição, em
1967 era chefe da disciplina de Nefrologia, no Departamento de Medicina
da EPM. Presidiu a Sociedade Brasileira de Nefrologia (fundada em 1960)
no biênio 1968-1970. Em 1970 chegou a professor titular da disciplina
de Nefrologia; foi o primeiro professor titular do Departamento após a
aposentadoria de Jairo Ramos em 1965. Chefiou o Departamento de Medicina nos períodos de 1970-1973 e 1990-1996. Sua contribuição para a
criação e desenvolvimento da disciplina de Nefrologia e sua liderança na
condução do Departamento de Medicina foram fundamentais. Participou
da publicação de mais de uma centena de trabalhos em periódicos de circulação internacional das áreas de nefrologia e de hipertensão e foi responsável direto pela orientação de vários dos atuais docentes da disciplina
de Nefrologia da Unifesp.
Em meados de 1983 os membros da disciplina de Nefrologia da EPM
fundaram o Instituto Paulista de Estudos e Pesquisas em Nefrologia e
Hipertensão, com a finalidade de expandir o atendimento nefrológico na
área clínica e subsidiar pesquisas básicas e clínicas. O Instituto, transformado em Fundação (Fundação Oswaldo Ramos), é hoje órgão suplementar
da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e inaugurou, em setembro
de 1998, hospital de 11 andares, que abriga grupos de excelência que
desenvolvem pesquisa nas áreas de hemodinâmica glomerular, hipertensão arterial e transplante renal. O Hospital do Rim e Hipertensão desde
(1928-1999)
2000 vem sendo um dos centros mundiais que mais realizam transplantes
renais, fato registrado pela revista Lancet, em fevereiro de 2001.
Oswaldo Ramos teve atuação importante como educador e como
formulador de políticas educacionais: na EPM/Unifesp foi presidente da
Comissão de Pós-graduação; na Capes coordenou a área de Medicina e foi
membro de seu Conselho Técnico e Científico; no Ministério da Educação
presidiu Comissão de Especialistas responsável pela primeira avaliação
dos cursos de medicina do país. Símbolo de sua liderança na Unifesp é o
“Centro de Pesquisas Clínicas e Cirúrgicas”. Por iniciativa do Departamento
de Medicina, o Conselho Universitário da Unifesp aprovou a ideia de transformar um edifício de seis andares, adquirido para abrigar a administração
da universidade, em edifício destinado a laboratórios de pesquisa básica
de disciplinas das áreas clínicas e cirúrgicas. Com recursos da Sociedade
Paulista para o Desenvolvimento da Medicina (mantenedora do Hospital
São Paulo) e da Fapesp, decidido apoio do Reitor Hélio Egydio Nogueira e
sob a liderança de Oswaldo Ramos (já formalmente aposentado), o edifício
foi aumentado até 16 andares, com área total construída de 5.500 m2. Ao
todo, 13 andares foram destinados a laboratórios de grupos de pesquisa,
consolidados e emergentes. Inaugurado em novembro de 1997, o “Centro
de Pesquisas Clínicas e Cirúrgicas” teve seus laboratórios ocupados por
grupos com comprovada produtividade científica, após avaliação por comissão ad hoc de pesquisadores externos à Universidade.
Oswaldo Ramos foi editor do Atualização terapêutica desde sua 14ª edição (1988) até a 19ª edição, esta de 1999, ano de seu falecimento. Nas seis
edições sob sua responsabilidade, Oswaldo Ramos venceu o desafio de editar o livro que, segundo suas palavras (prefácio da 16ª edição), “vem socorrendo o médico brasileiro no angustiante desafio de decidir qual a terapêutica mais adequada para as principais síndromes médico-cirúrgicas, além de
resumir as bases etiofisiopatogênicas e o quadro clínico destas síndromes”.
Ao receber, em 1994, Oswaldo Ramos como membro titular da Academia Brasileira de Medicina, Clementino Fraga Filho afirmou que naquele
momento a Academia acolhia “um expoente da profissão médica no Brasil”.­
– Durval Rosa Borges
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