Notas
VISITANDO SÍTIOS ELETRÔNICOS DE EMPRESAS OPERADORAS DE
PLANOS E SEGUROS DE SAÚDE PRIVADOS: O QUE É QUALIDADE DE
VIDA?
VISITING WEB SITES OF PRIVATE COMPANIES OF HEALTH
INSURANCE AND HEALTH PLANS: WHAT IS LIFE QUALITY?
Resumo
Tatiana Vasques Camelo,
Osnir C. da Silva Júnior,
Liliana Angel Vargas,
Fátima T. Scarparo Cunha,
Universidade Federal do Estado do
Rio de Janeiro, CCBS/Escola de
Enfermagem Alfredo Pinto.
E-mail: [email protected]
O presente estudo surgiu a partir da disciplina “Enfermagem:
Qualidade de vida e sociedade”, oferecida no curso de Pósgraduação em Enfermagem –Mestrado, da Universidade Federal do
Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), e apresentado como requisito
parcial para aprovação nesta disciplina. Originou-se a partir das
discussões em sala de aula sobre as várias concepções de qualidade
de vida. Relacionaram-se as concepções de saúde e doença aos
conceitos de qualidade de vida. O objetivo foi investigar sob qual
concepção de qualidade de vida os planos e seguros de saúde
privados elaboram seus produtos. A metodologia utilizada foi do tipo
teórico-bibliográfica, configurando um estudo exploratório de análise
documental e abordagem quanti-qualitativa. Os dados foram
coletados a partir de visitas a oito sites de planos e seguros de saúde
privados, em que se buscaram textos ou oferta de produtos
relacionados à qualidade de vida. O estudo encontra-se em fase de
construção, possuindo, portanto, resultados parciais.
Palavras-chave: Qualidade de vida, Saúde Suplementar
The present study started during the course “Nursing: Life quality and
society”, offered by the Nursing Master of Science Program at Federal
University of the State of Rio de Janeiro (UNIRIO), and presented as
partial requirement for approval in this discipline. It arose from the
discussions in classroom about the several conceptions of life quality,
where the conceptions of health and disease were related to the
concepts of life quality. This work aims to investigate which
conception of life quality the private health insurance and private
health plans elaborate their products. The methodology used on this
study was of the theoretical-bibliographical type, configuring an
exploratory study of documental analysis and quanti-qualitative
approach. The data were collected on 8 web sites of private health
insurance and private health plans, where texts or products offers
related to life quality were looked for. The study is in a construction
phase, possessing therefore, partial results.
Keywords: life quality, supplementary health.
Visitando sites de empresas operadoras de planos de saúde
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Abstract
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Considerações Iniciais
O presente estudo surgiu a partir das discussões na disciplina Qualidade de vida e
sociedade, ministrada no segundo semestre do curso de Pós-graduação – Mestrado da
Escola de Enfermagem Alfredo Pinto, da Universidade Federal do estado do Rio de
Janeiro – UNIRIO.
Um dos objetivos da disciplina foi o de analisar a qualidade de vida, na perspectiva
da prática e da produção do conhecimento em Enfermagem. No decorrer das aulas, foram
levantadas inúmeras ocorrências em que o termo qualidade de vida era aplicado em
diversas situações do cotidiano profissional, individual e coletivo.
O estudo propõe-se a investigar sob qual concepção de qualidade de vida os
planos e seguros de saúde privados elaboram seus produtos.
Justifica-se pelo fato de que o sistema de saúde suplementar atende hoje
aproximadamente 35 milhões de pessoas, tornando-se, desta forma, uma realidade no
cotidiano, seja do profissional da área de saúde, ou do cliente/usuário de seus produtos.
Além disso, vive-se numa sociedade capitalista, em que a saúde também passou a
ser vista como produto, tratada como uma mercadoria como qualquer outra, submetida às
regras de produção, financiamento e distribuição do tipo capitalista1.
Neste
sentido,
não há mais como o mercado privado de saúde ser visto apenas como um serviço
complementar, já que faz parte da realidade de vida de milhões de brasileiros. Por este
motivo, o sistema privado precisa ser abordado.
Muitos destes planos ou seguros de saúde oferecem a seus clientes “benefícios”,
como descontos em farmácias, serviços de remoção, etc. Atualmente, tornou-se comum a
utilização do termo qualidade de vida em seus produtos, discursos e propagandas.
Visto que qualidade de vida é um termo polissêmico, que abrange muitos
significados refletindo conhecimentos, experiências e valores de indivíduos e
coletividades2, busca-se retratar qual concepção é por eles utilizada.
Acredita-se que o significado de qualidade de vida depende da situação na qual é
aplicada, podendo assim variar entre referenciais subjetivos e conceitos mensuráveis,
objetivos.
O primeiro irá depender ou variar de acordo com os valores, culturas, crenças,
espaço e histórias do indivíduo ou coletividade. Já o segundo, ocorre quando se analisam
dados quantificáveis. Um bom exemplo deste tipo de compreensão é o Índice de
Desenvolvimento Humano (IDH), desenvolvido pelo programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento, tendo como parâmetros: níveis de renda, saúde e educação de
determinada população.
Ao relacionar qualidade de vida e saúde, há que se definir e ter como base a
concepção de saúde que se quer utilizar. Neste sentido, qualidade de vida agrega valores
biológicos, emocionais e econômicos e políticos.
Sob o viés biológico, pode-se dizer que ele está intimamente relacionado ao
modelo biomédico positivista. Nesse modelo, saúde é considerada como ausência de
doença, que é vista como um mau funcionamento dos mecanismos biológicos3.
Importante salientar que, sob este enfoque, incluem-se também os chamados
fatores de risco a doenças ou agravos. A título de exemplificação, pode-se citar: estilo de
vida que pode condicionar estresse, obesidade, tabagismo, entre outros.
Já do prisma econômico-político, pode-se conceituar qualidade de vida como
resultado das condições de acesso à saúde, meio ambiente, educação, renda e acesso a
bens e serviços.
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Este conceito centra-se em dados quantificáveis, baseados na esfera econômica e
na visão de desenvolvimento social. Desta forma, pode-se afirmar que saúde surge como
resultante das forças econômicas, políticas e culturais4 e diz respeito a Direito de acesso
à saúde, a condições dignas de habitação, ao emprego, ao saneamento, ao lazer, enfim,
pode ser considerada como um somatório destes processos para o alcance do exercício
pleno da cidadania.
Por fim, qualidade de vida também pode ser descrita a partir de valores não
materiais como: amor, liberdade, solidariedade e inserção social, realização pessoal e
felicidade5. Noções relativas a bem estar e realização, dando ao termo qualidade de vida
um conceito subjetivo.
O presente estudo caracteriza-se como um estudo exploratório de abordagem
quanti-qualitativa, feito mediante a análise documental.
A abordagem quantitativa justifica-se pelo estudo quantificar o conteúdo das
comunicações, buscando sua lógica na interpretação cifrada do material qualitativo6.
A análise utilizada foi a temática, em que se buscou, qualitativamente, a presença
de determinados temas denotando os valores de referência e os modelos de
comportamento presentes no discurso7.
A unidade de registro definida na fase pré-analítica foi “qualidade de vida”,
associando-a à unidade de contexto sócio-econômico vigente.
Os dados foram coletados a partir de visitas a oito sites de planos e seguros de
saúde privados, em que se buscaram textos ou oferta de produtos relacionados à
qualidade de vida.
Foram visitados dois sites de seguros saúde, 1 de cooperativa médica, 2 de
medicina de grupo e 3 empresas de autogestão.
Seguros saúde são aqueles caracterizados por redes credenciadas para
referenciamento e pela oferta de opção ao cliente em escolher o local e o profissional com
quem gostaria de ser atendido, para posterior reembolso do valor pago. Foram incluídos
na pesquisa: Bradesco Seguro Saúde e Sul América Saúde.
Cooperativa médica é aquela caracterizada pelo grupamento de profissionais em
seus consultórios para a oferta de planos individuais e coletivos8, sendo um conjunto de
serviços de assistência médica e hospitalar para pessoa física e jurídica. Nesta
modalidade, foi visitado o site da Unimed.
Medicina de grupo são aquelas empresas especializadas na comercialização de
planos de saúde. Neste estudo, foram pesquisados os sites da Amil e Golden Cross.
Empresas de autogestão são aquelas que se originaram da assistência direta das
empresas através das caixas da assistência. Foram incluídos nesta pesquisa os sites da
CAARJ, CASSI e CABERJ.
Plano individual é aquele no qual o contratante vincula-se diretamente a empresas
de plano ou seguro saúde, chamado também de pessoa física. Planos ou seguros
coletivos são aqueles contratados por empresas (pessoa jurídica) que oferecem os
serviços contratados aos seus funcionários em forma de benefício com desconto em folha
de pagamento ou co-pagamento dos serviços utilizados. Neste último, o funcionário
efetua parte do pagamento do serviço.
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Metodologia
Análise Parcial dos Dados
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No Bradesco Saúde, pode-se observar que aos planos empresa são oferecidos
como “benefícios e vantagens” o “PROGRAMA DE PREVENÇÃO – JUNTOS PELA
SAÙDE”, que desenvolve programas de conscientização e prevenção de doenças
cardíacas, pulmonares, doenças sexualmente transmissíveis entre outras. Segundo eles,
o programa é aplicado em conjunto com a empresa contratante dos serviços, com o
objetivo de alertar quanto à importância de hábitos e estilo de vida mais saudáveis.
No site da Sul América saúde, foi possível conferir que a empresa oferece
programas que, só poderão ser desenvolvidos, se forem contratados. Os programas são:
check-up, gerenciamento de fatores de risco, segurança e medicina do trabalho, palestras
de prevenção e programas de imunização do adulto. Divulgam que estes programas
garantirão mais qualidade de vida à equipe de trabalho, mantendo, desta forma, a “saúde”
da empresa.
A Unimed divulga em seu site dicas de estímulo à realização de exercícios físicos
para prevenção de asma, explicações sobre como a sobrecarga muscular pode resultar
em vários sintomas como a dor de cabeça, entre outras.
No site da Golden Cross, pode-se conferir dicas com o objetivo de levar saúde e
bem estar aos seus clientes. Fatores que, segundo eles, ajudam a melhorar a qualidade
de vida. Os itens observados foram: conjuntivite, câncer de mama, combate à dengue,
diabetes, doenças respiratórias, drogas, estresse, combate ao fumo, hipertensão, nutrição
e saúde do homem.
O site da Amil foi visitado, porém nada foi encontrado referente à qualidade de vida.
A CAARJ possui programas de integração sócio-cultural, que oferece instrumentos
de atualização, através de informação, sensibilização e conscientização, objetivando, ao
lado dos benefícios oferecidos pela ciência e pela tecnologia, propiciar uma vida saudável
e o pleno exercício da cidadania às pessoas.
A CASSI oferece o “CASSI INFORMATIVO QUALIDADE DE VIDA” e cita um artigo
sobre como prevenir intoxicações. Nas versões anteriores é possível visualizar tópicos
como: informação sobre hepatite, tabagismo, tuberculose e cuidados com o idoso.
A CABERJ possui um projeto denominado “PROJETO QUALIDADE DE VIDA –
PQV” que oferece atendimento integral, que é entendido, como orientação, prevenção de
doenças em todos os níveis, bem como tratamento precoce. Cita que o programa agrega
outros mais específicos que visam o bem estar físico e mental das pessoas. Este projeto
atende a todos os usuários, particulares e coletivos.
Considerações Finais
Pode-se afirmar, a partir destes dados, que as empresas operadoras de planos de
saúde oferecem informações válidas sobre o enfoque da prevenção e promoção da saúde
para todos aqueles que têm acesso à Internet e interessam-se por esta temática.
Já as seguradoras de saúde restringem-se ao oferecimento de programas e
serviços disponíveis somente para os contratantes de seus serviços e produtos.
Acredita-se que, em ambos os casos, o enfoque principal seja a redução dos
indicadores de doença. Esta preocupação, obviamente, não é ingênua, pois em um dos
sites visitados ficou explícita a apreensão em gerir programas visando qualidade de vida
para que a médio-longo prazo, objetivando a redução dos custos assistenciais.
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Segundo Ogata9, esses programas enfrentam grandes desafios, uma vez que
necessitam justificar seus orçamentos, relacioná-los ao retorno do investimento e
encontrar fontes de recursos para a remuneração destes.
Estes desafios parecem estar presentes nas empresas que resolvem adotá-los,
porém parece ser lucrativo para as empresas que os oferecem de forma terceirizada
como os seguros saúde.
Os seguros baseiam seus programas de qualidade de vida com a certeza de que os
clientes, ao possuírem informações adequadas quanto à prevenção de doenças e a
importância de viver com hábitos de vida saudáveis, reduziriam seus custos advindos da
“má utilização” dos planos.
A inflação dos custos da assistência médica e o aumento do consumo de
tecnologias geram aumento da despesa nos planos, que tendem buscar alternativas para
inverter esta situação. Estas estratégias centralizam o enfoque de que a informação gera
conscientização e mudanças de hábitos e estilo de vida.
Acreditam que a abordagem integrada dos fatores relacionados ao estilo de vida, do
estresse e da obesidade leva a redução nos custos da assistência médica.
Enfim, conclui-se que planos e seguros de saúde privados possuem uma visão
biomédica e extremamente reducionista sobre qualidade de vida. Não incorporam em
nenhum momento os contextos sócio-culturais e história de vida dos indivíduos.
As orientações repousam de uma forma direcionada às situações físicas e
biológicas, voltadas à atenção para custo-benefício.
Vale salientar que o estudo se encontra em fase de construção, possuindo apenas
resultados parciais.
Referências Bibliográficas
1. Braga JC, Silva PL. Brasil: radiografia da saúde. Universidade Estadual de
Campinas-Instituto de economia; 2001 p. 4.
2. Minayo MC, Hartz ZM, Buss PM. Qualidade de vida e saúde: um debate
necessário. Revista Ciência & Saúde Coletiva. Rio de Janeiro, ABRASCO, v.5, n.1,
2000. P.7-18. p. 8.
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instrumento para análise de prioridades regionales em lo social y la salud. Quito:
Ed. Nacional; 1990. p. 25.
5. Minayo MCS, Hartz ZM, Buss PM. Qualidade de vida e saúde: um debate
necessário. Revista Ciência & Saúde Coletiva 2000; 5(1):7-18. p. 9.
6. Minayo MCS. O desafio do conhecimento. 2. ed. São Paulo – Rio de Janeiro:
Hucitec- Abrasco; 1993. p. 200.
7. Minayo MCS. O desafio do conhecimento. 2. ed. São Paulo – Rio de Janeiro:
Hucitec- Abrasco; 1993. p. 209.
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3. Capra F. O ponto de mutação. A Ciência, a Sociedade e a Cultura Emergente. São
Paulo: Cultrix; 1982. p. 116.
8. Bahia L. Planos privados de saúde: luzes e sombras no debate setorial dos anos
90. Ciênc. saúde coletiva 2001; 6(2):329-339.
9. Ogata AJN. É possível a sinergia entre os planos de saúde e os programas de
qualidade de vida. http://www.abqv.org.br/artigo011.php (acessado em
20/nov/2004).
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Endereço para correspondência
Recebido em 26/07/2006
Revisão em 05/08/2006
Aprovado em 12/08/2006
Rev. Meio Amb. Saúde 2006; 1(1): 49-54
Rua Dr Xavier Sigaud 295 Salas 509-510
Urca. CEP 22290-180 - Rio de Janeiro, RJ
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Camelo, TV et al.
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