1 TRATAMENTO CLÍNICO Profa. Cyrla Zaltman Dra Márcia Henriques Magalhães Costa Nutricionista Cristina Fajardo Diestel A etiologia da DII é desconhecida e multifatorial, consequentemente não existe um tratamento padrão para a D Crohn e a retocolite ulcerativa. Entretanto, como a inflamação é o produto final da patogênese da DII, as pesquisas clínicas e experimentais visam o entendimento de todas as etapas envolvidas no processo inflamatório e se voltam para o desenvolvimento de drogas que possibilitem o bloqueio ou ativação de diferentes células, receptores e mediadores participantes da cascata inflamatória visando o término da inflamação e a recuperação intestinal. O tratamento das doenças inflamatórias intestinais (DII) tem como objetivos: • Controlar os sintomas induzindo a remissão da doença, • Otimizar a qualidade de vida, • Minimizar a toxicidade dos medicamentos utilizados a curto e longo prazo, • Retardar e reduzir as recidivas da atividade da doença, • Restaurar e manter o estado nutricional e • Promover o desaparecimento das lesões inflamatórias. 1. ABORDAGEM FARMACOLÓGICA DAS DII É de fundamental importância a abordagem multidisciplinar no atendimento ao paciente com DII. Este se caracteriza por ser predominantemente ambulatorial, visando não apenas o bem estar do paciente, mas também a redução de custos hospitalares. O serviço 2 envolvido com o atendimento dos pacientes com DII deve apresentar algumas facilidades no atendimento, como: rapidez no acesso à marcação de consultas, acesso irrestrito aos pacientes com piora ou alteração dos sintomas, tempo e espaço adequados para pacientes ambulatoriais e internados e disponibilidade de sanitários limpos para pacientes internados ou não. Atualmente existem várias possibilidades terapêuticas que incluem o uso de aminossalicilatos, antibióticos, corticosteróides, imunomoduladores, probióticos, terapias nutricionais e terapias biológicas. Novas drogas estão sendo disponibilizadas no mercado assim como diferentes indicações têm surgido para medicamentos já há muito empregados no tratamento das DII. Como estas diferentes formas de tratamento não atuam necessariamente nas mesmas etapas do processo inflamatório, elas podem ser utilizadas de forma conjunta (adições) ou gradativamente substituídas (substituições) de acordo com a localização e agressividade da doença. As opções terapêuticas têm sido norteadas por evidências a partir de revisões sistemáticas de toda a literatura mundial. Os diferentes níveis de evidência geram diferentes recomendações, conforme descritos a seguir:¹ Grau A – Meta-análise de estudos controlados randomizados (ECR), ou pelo menos um estudo controlado randomizado, Grau B – estudos controlados não randomização, estudos experimentais bem desenhados e estudos não experimentais, Grau C – Série de casos de baixa qualidade, Grau D – Opinião especializada sem avaliação crítica explícita, ou baseada em pesquisa de laboratório. 3 É importante ressaltar que independente da opção terapêutica, o tratamento deve ser individualizado e discutido com o paciente antes de ser implementado, o que facilitará a aderência terapêutica, que deverá ser de uso continuo e por tempo indeterminado. Ao médico cabe se familiarizar com os medicamentos que estão disponíveis no mercado, pois este conhecimento poderá ser utilizado nas explanações sobre as possibilidades terapêuticas tanto para os pacientes com DII como a seus familiares objeto de demanda continua em consultórios e ambulatórios. Que medicamentos dispomos? Quais seus efeitos benéficos e colaterais? 1.1. AMINOSSALICILATOS Esta classe de medicamentos é a mais antiga e mais comumente utilizada no tratamento das DII. 1.1.1. Sulfassalazina (SFZ) Composta pela sulfapiridina e ácido 5 aminosalicilico (5-ASA, mesalamina) ligadas por uma ponte diazo² . • Apresentação: 500mg, comprimidos • Ação: Apresenta pouca absorção (10% da dose ingerida) no trato digestivo alto e sua clivagem é realizada por bactérias colônicas após alcançar o cólon direito sendo liberados 2 fragmentos: 5-ASA (parte ativa e antiinflamatória da molécula) e sulfapiridina (parte sem atividade terapêutica que auxilia no transporte do 5- ASA impedindo sua absorção no intestino delgado o que possibilita o seu alcance até a mucosa colonica) • Efeitos adversos: apesar de ser eficaz no tratamento da RCUI e da D Crohn, esta droga apresenta efeitos adversos em mais de 50% dos 4 pacientes, que ocorrem nas 3 primeiras semanas de tratamento em conseqüência da presença da fração sulfapiridina no medicamento. Os efeitos podem ser: a) Dose-dependentes (10-45%) como náuseas, vômitos, anorexia, dispepsia, cefaléia, astenia, anemia hemolítica. b) Reações idiossincrásicas se manifestam através de febre, hepatite, pancreatite, pneumonite e agranulocitose, oligospermia, rash cutaneo. c) Competitivo com a absorção de folato acarretando anemia megaloblastica, motivo pelo qual sempre devemos suplementar com acido fólico. Seu uso é contra-indicado em pacientes com alergia a sulfa. 1.1.2. 5 Aminossalicilico (5-ASA) e seus derivados Estes medicamentos apresentam diferentes formas de liberação do 5-ASA, ocorrendo geralmente no intestino delgado. Por não serem absorvidos (têm ação tópica) apresentam menos efeitos adversos, entretanto por seu maior custo, devem ser utilizados no caso de intolerância a sulfassalazina². • Apresentação: comprimidos, cápsulas, enema, supositório. A utilização por via oral ou retal dependerá da localização da DC e da RCUI. Para uso oral os derivados de 5-ASA apresentam-se no mercado sob diferentes formas de liberação: medicamentos de liberação controlada (Pentasa®) composta por microgrânulos de etilcelulose que liberam uniforme e gradativamente o 5-ASA a partir do jejuno e as de liberação lenta, que são as mais comumente empregadas, sendo recobertas por um 5 envelope que se dissolve em pH 7,0 no íleo distal e colon (Mesacol ®, Asalit®)(Tabela 1) Tabela 1 – Aminossalicilatos Nome Substância ativa Formulação Liberação comercial Sulfassalazin Sulfapiridina + 5ASA Comprimidos -500mg Colônica a Asalit® Asalit® Mesalazina (5ASA) Mesalazina (5ASA) Comprimidos-400mg Supositórios-250mg/ íleo terminal e colo Reto Asalit® Mesacol® Pentasa® Mesalazina (5ASA) Mesalazina (5ASA) Mesalazina (5ASA) 500mg Enema- 3g Comprimidos-400mg Cápsulas-500mg Reto ate ang.esplênico íleo terminal e colo jejuno/íleo terminal • Indicação: a sulfassalazina e os derivados de 5-ASA podem ser utilizados para indução e na manutenção de remissão na RCUI • 2,3,4 . Auxiliam na redução do risco de câncer colorretal em até 75% pacientes com RCUI. 5,6 • Tem menor eficácia na indução e manutenção da remissão da DC • Efeitos adversos: São bem tolerados por serem leves, como a .7 cefaléia transitória, desconforto abdominal e diarréia. Embora raros, alguns efeitos colaterais são relevantes e incluem diarréia sanguinolenta aguda, pneumonite, pericardite, nefrite intersticial (idiossincrasia) e trombocitopenia. 8,9 • Monitoramento: no caso de pacientes com insuficiência renal ou outras doenças crônicas é recomendada realização de hemograma completo com dosagem da creatinina sérica a cada 3 a 6 meses ². 1.2. CORTICOIDES São potentes antiinflamatórios e tem sido empregados desde 1950 no tratamento da DC e da RCUI. Sua atuação consiste no bloqueio da 6 fosfolipase A2 na cascata do acido araquidônico alterando o equilíbrio entre prostaglandinas citoprotetoras e leucotrienos pró-inflamatórios, estimula apoptose de linfócitos da lamina própria e suprime a transcrição de interleucinas.10 Os mais utilizados são a prednisona, prednisolona por via oral ou hidrocortisona ou metilprednisolona intravenoso. Podemos empregar hidrocortisona via retal sob a forma de enema (forma artesanal) (Tabela 2) Tabela 2- Apresentações, formas de utilização e dosagens corticosteróides Substância Apresentação Via Dosagem ativa Prednisona Metilprednisolon comprimidos ampolas oral venosa 20mg, 5mg 20 mg a Hidrocortisona ampolas venosa, 100 mg Budesonida Hidrocortisona Budesonida cápsulas ampolas comprimidos retal oral retal retal 3 mg 100 mg 2,3 mg dispersíveis Com o intuito de reduzirmos os efeitos colaterais sistêmicos e maximizarmos os efeitos tópicos dos corticóides, análogos orais têm sido empregados por apresentarem pouca absorção, biodisponibilidade limitada e extenso metabolismo de primeira passagem reduzindo sua toxicidade. Exemplificando, a budesonida (Entocort ®) empregada via oral pode ser utilizada na terapêutica da DC ileal ou de colon direito e na hemicolite / proctosigmoidite ulcerativa sob a forma tópica ( via retal). Não existem estudos relacionados ao uso de Deflazacort (Calcort ®) nas DII ². dos 7 • Efeitos adversos: ocorrem em 50% prevalência ao se utilizar a budesonida dos casos, com menor 11 . Precoces: face em lua cheia, dificuldade de cicatrização de ferimentos, acne, distúrbios do sono e do humor, intolerância a glicose. Tardios (mais de 12 semanas): osteoporose, osteonecrose da cabeça do fêmur, catarata subcapsular, miopatia, susceptibilidade a infecções. Se sua retirada for realizada de forma não progressiva podem surgir insuficiência supra-renal aguda, mialgia, mal estar, artralgia ou hipertensão intracraniana, síndrome de pseudo-reumatismo. • Monitoramento: densitometria óssea periódica para pacientes em uso de corticoterapia por mais de 3 meses; exame oftalmológico; glicemia 1.3. IMUNOMODULADORES 1.3.1. Azatioprina e 6–Mercaptopurina (AZA e 6MP) São agentes ribonucleotideos, imunossupressores induzem apoptose dos que inibem linfócitos T. a A síntese de azatioprina (Imuran®) é o seu precursor S-imidazol da 6 mercaptopurina ( Purinethol ®), um análogo da purina e o produto final de sua metabolização são nucleotídeos da tioguanina • 12 Ação: São empregadas no tratamento da D Crohn e na retocolite ulcerativa, mas o tempo mínimo para se avaliar a sua máxima eficácia é de cerca de 3- 6 meses. Por este motivo alguns especialistas sugerem que a dose da droga deva ser gradativamente 8 aumentada até se alcançar uma leucopenia leve (3000 a 5000 X 10 9 /L), quando a resposta se tornaria mais rápida. A dosagem dos metabólitos 6-thioguanina nucleosídeo (metabolito ativo) e 6 metilmercaptopurina (metabólito por vezes associado a hepatotoxicidade) pode auxiliar ao clinico na utilização de doses que variam entre a eficácia e a toxicidade da droga. Ou seja, verificar se a não resposta significa a presença ou não de doses adequadas.13 • Interações medicamentosas: A administração conjunta com alopurinol deve ser evitada e se necessária, a dose da azatioprina deve ser reduzida em 25%. • Efeitos adversos: podem ocorrer em cerca de 20% pacientes. Os principais são: intolerância gastrointestinal, pancreatite aguda / hepatotoxicidade (<5%); supressão da medula óssea / leucopenia (3%); alergia (rash cutâneo, febre e dor abdominal); mialgia, cefaléia e diarréia (cessam após suspensão da medicação), predisposição a infecções sistêmicas virais (Herpes zoster, CMV). A intolerância a uma das medicações não inviabiliza a tentativa de troca pela outra antes de se considerar outro tipo de terapêutica ou cirurgia. • Monitoramento: hemograma completo semanal enquanto a dose estiver sendo ajustada, seguidos de hemograma completo e provas de função hepática trimestrais. A dosagem dos metabólitos da droga pode auxiliar na avaliação da aderência, no ajuste da dose e acompanhamento da toxicidade. Na presença de alterações críticas como leucócitos abaixo de 3000/µl, plaquetas abaixo de 70 x 103 /µl e queda de hemoglobina maior que 20%, AST acima de 50/µl, sinais de pancreatite, deve-se descontinuar a droga. Os valores devem ser monitorados semanalmente e após a normalização uma nova tentativa pode ser realizada utilizando metade da dose, exceto nos 9 casos de pancreatite. No caso de recorrência a medicação não deve ser reintroduzida. . 1.3.2. Ciclosporina • 13 Ação: atua inibindo reversivelmente o gene de transcrição da IL2, reduzindo a atividade das células T citotóxicas. Os resultados pouco satisfatórios com a ciclosporina, no que se refere à melhora clínica e retardo na indicação de colectomia precoce (50%) e tardia (33%), podem estar relacionados à biodisponibilidade inconsistente da forma oral. • Efeitos adversos: nefrotoxicidade, hepatotoxicidade, hipertricose, hiperplasia gengival, tremores, parestesias, doenças imunoproliferativas e crises convulsivas. • Monitoramento: A medida da pressão arterial, o hemograma, a função renal e a concentração de ciclosporina (visando a 100 a 200 ng/mL) são aconselháveis com 0,1 e 2 semanas e depois mensalmente. As dosagens do colesterol e do magnésio são apropriadas antes do início da terapia. 1.3.3. Metotrexate (MTX) É um antagonista do ácido 14, 15 fólico com atividade antimetabólica e antiinflamatória e atua inibindo a dihidrofolato-redutase, timidina sintetase e outras enzimas envolvidas na síntese do DNA, produção de IL1 e induzindo a apoptose de população de linfócitos T. • Ação: A biodisponibilidade da forma oral é de cerca de 100% nas doses inferiores a 25mg/semana. Doses maiores da droga saturam o mecanismo de transporte intestinal da medicação, sendo indicada a 10 via intramuscular, por facilitar a aderência ao tratamento e reduzir os efeitos adversos gastrointestinais. • Efeitos adversos: Menores: náuseas e cólicas abdominais (relacionados ao antagonismo do ácido fólico, e contemporizados pela administração simultânea do mesmo na dose de 1mg/d). Outros: fibrose hepática ( se dose > 1,5g em grupos de obesos e alcoolistas), alterações nas provas de função hepática, alopécia, pneumonite, hipersensibilidade, e teratogenicidade. • Contra-indicação: durante a gestação. Deve ser reforçada a necessidade do uso de métodos contraceptivos para pacientes de ambos os sexos em fase reprodutiva. • Monitoramento: Realização de hemograma completo e hepatograma mensalmente. No caso de elevação das enzimas hepáticas é recomendada a suspensão da medicação ou realização de biópsia hepática. 1.3.4. Micofenolato de Mofetil • 2,13 Ação: Inibe a proliferação linfocitária por bloqueio seletivo da síntese dos nucleotídeos das células T. É mais potente que a Azatioprina e de início mais rápido. • Efeitos adversos: Mais freqüentes: náuseas, vômitos, diarréia, dor abdominal, constipação, candidíase oral e anorexia Outros: febre, dor torácica, astenia, mialia, cefaléia, leucopenia. Raros: fibrose pulmonar e pneumonite intersticial. 11 • Interação: A utilização concomitante com antiácidos ou colestiramina reduz sua biodisponibilidade. A associação com aminossalicilatos promove um aumento dos efeitos clínicos do mofetil, entretanto há simultâneo aumento dos efeitos adversos gastrointestinais. • Monitoramento: Realização de hemograma completo mensalmente. 1.3.5. Tacrolimus 16 Antibiótico macrolídeo derivado do fungo Streptomyces tsukabaensis com ação semelhante a da ciclosporina sendo, entretanto 10 a 100 vezes mais potente que esta. • Ação: inibe a primeira fase de ativação das células T, inibindo a ativação da transcrição de IL2, IL3, IL4, fator formador de colônia de macrófagos e gama interferon. Com uma absorção oral baixa e uma biodisponibilidade de apenas 17 a 22%, a droga apresenta dor abdominal, metabolização hepática pela citocromo P450. • Efeitos adversos: Mais freqüentes: náuseas, vômitos, diarréia, constipação, candidíase oral e anorexia Outros: febre, dor torácica, astenia, mialgia, cefaléia, leucopenia. Raros: fibrose pulmonar e pneumonite intersticial. • Interação: A utilização concomitante com antiácidos ou colestiramina reduz sua biodisponibilidade. A associação com aminossalicilatos promove um aumento dos efeitos clínicos do mofetil, entretanto há simultâneo aumento dos efeitos adversos gastrointestinais. • Monitoramento: Avaliação mensal de hemograma completo. 12 1.4. ANTIBIÓTICOS Evidências clínicas sugerem que a alteração da microbiota intestinal e a atuação do fluxo fecal na manutenção de fístulas perineais podem estar envolvidas na patogênese das DII e de suas complicações. Baseado nessas observações, vários antimicrobianos tem sido empregados apesar de nenhum agente causal ter sido identificado. A antibioticoterapia é utilizada de forma seletiva tanto na RCUI como na DC. Os dois antibióticos mais freqüentemente utilizados são o metronidazol e a ciprofloxacina. 17 1.4.1.Metronidazol Com propriedades imunomoduladoras e atividade antimicrobiana, o metronidazol (Flagyl®) pode ser empregado no tratamento da DC colônica / perianal e nas bolsites. • Efeitos adversos: polineuropatia periférica, neutropenia e intolerância em 50% dos pacientes (náuseas, vômitos e gosto metálico). 1.4.2.Ciprofloxacin A literatura é conflitante sobre a eficácia da ciprofloxacina embora esta possa ser utilizada tanto na indução de remissão de atividade como na manutenção da DII e no tratamento de DC fistulizante. 13 Apesar de mais caro que o metronidazol, a ciprofloxacina pode ser uma terapêutica alternativa nos pacientes com intolerância ou efeitos adversos relacionados ao metronidazol. A resposta terapêutica ocorre em 40 a 50% dos casos apenas após 6 semanas. • Efeitos adversos (50% dos pacientes): Sendo os mais freqüentes: náuseas, diarréia, vômitos, dor abdominal e cefaléia (> de 10% casos). Outros efeitos embora mais raros são: tendinite e ruptura do tendão de Aquiles (relacionada principalmente a associação com corticoterapia). 1.5. TERAPIA BIOLÓGICA Abordada em outro capítulo deste livro 2. TRATAMENTO DA RETOCOLITE ULCERATIVA Os objetivos do tratamento clínico são a indução e manutenção da remissão, restauração e manutenção do estado nutricional e da qualidade de vida do paciente, cicatrização da mucosa, evitar a colectomia e complicações como o câncer de cólon. O tipo de droga e a via a ser utilizada (oral, tópica, ou parenteral) dependerão da extensão, grau de atividade da doença e experiências terapêuticas prévias (dose, tempo de uso, efeitos adversos, aderência). 14 A gravidade da retocolite ulcerativa está embasada nos sintomas dos pacientes e na extensão da colite, não se levando em conta o grau de atividade histológica da inflamação. Logo, atividade histológica acentuada raramente influencia a decisão terapêutica. O objetivo inicial do tratamento visa a indução de remissão, ou seja, que o número de evacuações diárias seja for inferior a 3, sem sangue e na ausência de manifestações extraintestinais. Os medicamentos utilizados na indução de remissão de atividade da doença incluem o uso de aminossalicilatos, corticosteroides e imunomoduladores 18 . São duas as estratégias de tratamento que podem ser empregadas: 1ª estratégia (STEP UP): pode ser considerada conservadora e consiste no emprego inicial de medicamentos menos potentes,mais seguros que vão sendo substituídos ou adicionados a outras drogas mais potentes e menos seguras a medida que o grau de atividade da doença vai se intensificando, como pode ser observado na pirâmide terapêutica (Fig.1) FIGURAS Figura 1 -Pirâmide terapêutica do tratamento da RCUI - conduta ¨step up¨ IFX 15 ATIVIDADE ACENTUADA CIRURGIA AZA / 6- MP / MTX ATIVIDADE MODERADA CORTICOSTERÓIDES ATIVIDADE LEVE 5-ASA/SFZ Legenda: 5-ASA- 5 azatioprina;6-MP-6 aminosalicilato; mercaptopurina; SFZ-sulfassalazina; MTX-metotrexate; AZAIFX- infliximabe 2ª estratégia (TOP DOWN): emprega inicialmente drogas mais potentes desde o diagnóstico (Fig 2). Figura 2 - Pirâmide terapêutica do tratamento da RCUI – conduta ¨top down¨ IFX PRECOCE AZA/ 6-MP / MTX CORTICOSTERÓIDES CIRURGIA TARDIA 5- ASA / SFZ Legenda: 5-ASA- 5 aminosalicilato; SFZ-sulfassalazina; AZA- 16 azatioprina;6-MP-6 mercaptopurina; MTX-metotrexate; IFX- infliximabe 2.1. TRATAMENTO NA INDUÇÃO DE REMISSÃO SEGUNDO O GRAU DE ATIVIDADE DE DOENÇA 19,20, 21, 22,23 2,1,1, RCUI com Atividade leve a moderada ♦ Mais de 30% dos pacientes com a forma leve da doença podem entrar em remissão espontânea. A maioria (25 a 80%) responde ao tratamento com aminossalicilatos ♦ 19 A sulfassalazina e os derivados de 5-ASA são considerados agentes de primeira linha na indução de remissão, sendo a dose ótima: 4 - 6g/d de Sulfassalazina e 2 - 4.8 g/dia de Mesalazina. ♦ Se a doença for distal (<25 cm de extensão) empregar derivado de 5-ASA sob a forma tópica (1 a 2 supositórios/d). Entretanto se o substituído pela paciente a não apresentação tolerá-lo, oral este (SFZ pode 4-6 g/d ser ou Mesalazina 2 - 4,8g/d). ♦ Nas colites com extensão superior aos 25 cm da borda anal até a flexura esplênica, a associação de 5-ASA ou SFZ V.O. com 5-ASA tópico (enema de mesalamina 3g 2x/d ou hidrocortisona 100mg 2x/d) torna-se o tratamento de primeira escolha, por induzir a remissão mais rapidamente. ♦ Na pancolite é empregado o tratamento com SFZ ou 5-ASA via oral. ♦ Na colite esquerda, pode ser utilizado como tratamento de manutenção o enema de mesalamina ( 1 frasco/d) de preferência noturno ou SFZ 2g/d ou mesalamina 2,4g/d, 17 dependendo da via empregada na indução de remissão ou tolerância do paciente. ♦ A ausência de resposta com as doses máximas das medicações por 2-4 semanas faz reclassificar o grau de atividade de doença em moderada a acentuada e autoriza iniciar glicocorticoide via oral. O esquema do tratamento da RCU com atividade leve a moderada encontrase na figura 3. Figura 3 - Algoritmo de tratamento da RCUI com atividade leve/moderada 18 RCUI COM ATIVIDADE LEVE / MODERADA COLITE ESQUERDA (ATÉ ANG. ESPLÊNICO) DISTAL (<25 cm) 2 A 4 SE MA NA S 5-ASA supositório + - Manutenção : 5-ASA supositório Intolerância: SFZ ou 5-ASA oral + Manutenção : SFZ/5-ASA oral ou 5-ASA enema Acrescentar: corticóide enema + SFZ / 5-ASA oral + 5-ASA enema PANCOLITE SFZ / 5-ASA oral - Acrescentar: corticóide + Manutenção : SFZ/5-ASA oral - Manutenção : SFZ/5-ASA oral Aumentar dose 5-ASA Acrescentar: corticóide oral Acrescentar: corticóide oral Acrescentar: imunossupressor RCUI COM ATIVIDADE ACENTUADA DISTAL (<25 cm) Corticóide oral + enema / 5-ASA enema 3 MES ES COLITE ESQUERDA / PANCOLITE Corticóide oral + enema / 5-ASA enema + - + Manutenção: SFZ/5-ASA Corticodependência Acrescentar: imunossupressor Ciclosporina / Tracolimus Internação: corticóide venoso / ciclosporina / infliximabe - Corticóide venoso - Recaída: imunossupressor - + Cirurgia Manutenção: ciclosporina / AZA, 6-MP / Infliximabe + 5-ASA oral Legenda: AZA-azatioprina,:6 MP- 6 mercaptopurina;5 ASA- acido 5 aminosalicílico 2.1.2. ♦ RCUI com atividade moderada a acentuada. A ausência de resposta aos derivados de 5-ASA autoriza introdução de corticoides orais (Prednisona 40 – 60 mg/d) 19 de forma associativa. Na melhora do quadro deve-se proceder a retirada gradativa de 5mg de Prednisona a cada 7-10 dias até alcançar 20mg, com posterior redução da dose em 2,5mg com intervalos semelhantes aos descritos acima. ♦ A ausência de resposta completa ao uso dos corticosteróides ou a presença de corticodependência, indica a necessidade de se iniciar imunossupressores, tais como 6-MP (1-1,5mg/d) ou Azatioprina (2-2,5mg/d). ♦ Se a atividade persistir ou houver piora do quadro clínico, o paciente deve ser internado para realizar a medicação por via parenteral. ♦ A cirurgia pode estar indicada em doença com atividade moderada persistente que não responde ao tratamento clínico ou em pacientes dependentes de alta dose de corticosteróides com intoleráveis efeitos adversos. 2.1.3. ♦ RCUI com atividade acentuada Após a internação do paciente deve ser introduzida zero, corticoterapia metilprednisolona ( Solucortef® ( Hidrocortisona 40mg/d 100mg EV) , 100mg enema a dieta 8/8h ou hidrocortisona 2x/d ) via retal, hidratação venosa com reposição hidroeletrolítica denominado de esquema de Truelove Wittis, com duração de 7 a 19 dias . ♦ É importante afastarmos megacolon tóxico através de radiografia simples do abdômen. ♦ A equipe cirúrgica deve participar de forma conjunta na avaliação do paciente. 20 ♦ Na ausência de resposta inicia-se Ciclosporina (4 mg/kg/dia E.V.) que deve ser mantida por período de até 1 semana quando deve ter sua resposta reavaliada. Se esta for eficaz, a ciclosporina poderá ser mantida por via oral ou substituída por Azatioprina (2 –2,5 mg/Kg) . Esta medida pode adiar a indicação de colectomia, entretanto 50% dos pacientes que mantém o acompanhamento de 1 ano poderão eventualmente necessitar realizá-la. ♦ O uso de antibióticos de largo espectro embora sem eficácia terapêutica comprovada tem sido proposto no tratamento intensivo de pacientes com colite fulminante ou megacólon tóxico. ♦ O tratamento da colite fulminante se assemelha ao da forma acentuada (período de 7-14 dias de avaliação) ♦ O infliximabe pode ser uma possibilidade terapêutica no tratamento das colites com atividade acentuada. ♦ A terapia de remoção de leucócitos (leucocitoferese), que promove a inibição de produtos de citocinas pró-inflamatórias e moléculas de adesão, pode ser empregada na RCUI refratária e acentuada. Apesar de não existirem no Brasil muitos centros passíveis de realizar este tipo de tratamento, a eficácia da leucocitoferese tem sido descrita como maior que o uso de glicocorticóides (74% vs 38%), devendo ser considerado antes da opção cirúrgica. ♦ A colectomia deve ser considerada na presença de hemorragia maciça, perfuração, megacólon tóxico ou doença ativa não responsiva ao tratamento clínico. 2.2. TRATAMENTO DE MANUTENÇÃO 20,21 21 É recomendada em geral para todos os pacientes, visando a redução de recidivas e do câncer colorretal. ♦ Mesalazina oral 1 – 2 g/dia (grau A) ♦ Sulfassalazina 2 - 4g/dia (grau A) ♦ Mesalazina tópica 1g/dia (grau A) ♦ Avaliação do risco-benefício de manutenção dos aminossalicilatos após período de remissão maior que dois anos (grau B) ♦ Corticosteróides não tem efeito na remissão (grau A) ♦ Azatioprina 1,5 – 2,5mg/Kg/dia ou 6 mercaptopurina 0,75 – 1,5mg/Kg/dia (grau A). 3. TRATAMENTO DA DOENÇA DE CROHN O tratamento visa a indução da remissão clínica, ou seja, ausência de sintomas inflamatórios (sangramento, diarréia e dor) , associado à evidências de cicatrização da mucosa. Deve-se sempre ter em mente como esta remissão será mantida, retardando e reduzindo o número de recidivas, com mínima toxicidade e otimização da qualidade de vida do paciente. No manejo clínico na Doença de Crohn algumas características da doença devem ser consideradas, como: • Grau de atividade, • Sítio de acometimento: - colônica, - íleo-colônica, - delgado ou - perianal e • Comportamento evolutivo: - inflamatório, - estenosante ou - penetrante. 22 A resposta aos esquemas terapêuticos anteriores, a presença de manifestações extra-intestinais e a opção do paciente também são parâmetros a serem relevados. A conduta mais empregada na prática clínica é a "step up", onde se inicia o tratamento com drogas menos eficazes, mas com menos efeitos adversos e progressivamente são adicionadas ou substituídas por outras de complexidade cada vez maior de acordo com a não resposta clínica ao tratamento. Atualmente reconhecida como melhor opção nos pacientes com atividade de doença mais acentuada, a conduta do ¨top down¨ é caracterizada pela utilização de imunomoduladores e imunossupressores desde o início do tratamento, com redução das drogas de acordo com a resposta clínica do paciente. 24, 25 A escolha terapêutica deve ser baseada no balanço entre a potência da medicação, seus efeitos colaterais, a resposta a tratamentos prévios, a presença de manifestações extra-intestinais, complicações, localização, comportamento e grau de atividade da doença (avaliação segundo CDAI ou índice de Harvey-Bradshow 26 27 ), associados a opção do paciente. Na figura 4 encontram-se as condutas esquemáticas do step up e top down. FIGURA 4 – Condutas step up e top down no tratamento da doença de Crohn Infliximabe AZA/6MP/MTX Corticoide Deriv 5ASA Infliximabe + 6MP/AZA Infliximabe(demanda) Corticoide Deriv 5ASA 23 3.1. TRATAMENTO DE INDUÇÃO DE REMISSÃO DE ACORDO COM LOCALIZAÇÃO DA DOENÇA 3.1.1.Doença de Crohn íleo-colônica ♦ Na doença com atividade leve, a mesalazina em altas doses pode ser suficiente como terapia inicial (grau A) ♦ Os pacientes corticosteróides sem orais, resposta como a a mesalazina prednisona, 40mg/dia, devem sem utilizados (grau A). na oral, os dose de Em caso de resposta, esta deve ser retirada progressivamente no prazo de 8 semanas. A retirada rápida associa-se com maiores índices de recidiva (grau C) ♦ A budesonida 9mg/dia é indicada para atividade moderada de doença, embora com menor eficácia que a prednisolona (grau A). ♦ Os corticosteróides venosos (hidrocortisona 300-400mg/dia ou metilprednisolona 60mg/dia) são indicados para doença com atividade acentuada (grau B). ♦ A associação dos corticosteróides com o metronidazol na atividade acentuada é recomendado. ♦ O metronidazol 10-20mg/kg/dia 28, 29, 30 embora eficaz não é geralmente recomendado como terapia de primeira escolha (grau A), exceto em casos especiais como de sepse suspeita (grau D) ♦ Nos casos de doença com atividade acentuada está indicado uso de azatioprina 1,5 -2,5mg/kg/dia ou 6 mercaptopurina 24 0,75-1,5mg/kg/dia como terapia complementar ou agente poupador de corticóide (grau A) ♦ O infliximabe 5mg/kg é eficaz, mas é melhor evitar em pacientes com sintomas obstrutivos (grau A) Na figura 5 observa-se o algoritmo do tratamento clínico da DC ileocecal baseado em evidências 21, 31, 32, 33 . Figura 5 – Algoritmo baseado em evidências do tratamento da DC ileocecal DOENÇA DE CROHN ÍLEO-CECAL ATIVIDADE LEVE ATIVIDADE ACENTUADA ATIVIDADE MODERADA Corticóide sistêmico (grau A) Recaída: ● AZA / 6- MP (grau A) ● Intolerância: metotrexato (grau B) ● Refratária: Infliximabe + AZA / 6-MP (grau A) ● Nenhum tratamento (grau D) Budesonida 9mg/dia ( grau B) Mesalazina (grau B) Budesonida 9mg/dia (grau A) Corticóides sistêmicos ( grau A) Antibióticos se sepse suspeita (grau D) 3.1.2. Doença de Crohn colônica 31,32 25 ♦ A sulfassalazina esta indicada no tratamento da doença com atividade leve (grau A) e na prevenção do Câncer colorretal. ♦ A budesonida 9mg/dia é indicada para atividade moderada de doença (grau A). ♦ Os corticosteróides venosos (hidrocortisona 300-400mg/dia ou metilprednisolona 60mg/dia) são indicados para doença com atividade moderada / acentuada (grau A). ♦ A associação com antibióticos é recomendada no caso de suspeita de sepse (grau D). ♦ Nos casos de recaída está indicado o uso de azatioprina 1,5 -2,5mg/kg/dia ou 6 mercaptopurina 0,75-1,5mg/kg/dia (grau A) ♦ Nos casos de intolerância a azatioprina e 6 mercaptopurina, o metotrexato intramuscular pode ser utilizado na dose de 25mg/semana (grau B). ♦ O infliximabe 5mg/kg pode ser utilizado em associação com os imunossupressores no caso de refratariedade aos mesmos (grau A) O algoritmo baseado em evidências do tratamento da doença de Crohn colônica encontra-se na figura 6 22 32,33,34 , . Figura 6 - Algoritmo baseado em evidências do tratamento da doença de 26 Crohn colônica DOENÇA DE CROHN COLÔNICA ATIVIDADE LEVE ATIVIDADE ACENTUADA ATIVIDADE MODERADA Corticóide sistêmico (grau A) Recaída: ●AZA /6 MP (grau B) ● Intolerâncai: Metotrexato (grau B) ● Refratária: Infliximabe + AZA / 6-MP (grau A) Sulfassalazina (grau A) Corticóides sistêmicos (grau A) Recaída: ● AZA / 6- MP (grau B) ● Intolerância: Metotrexato (grau B) ● Refratária: Infliximabe (grau B) ●Doença distal: tratamento tópico (grauD) 3.1.3. ♦ Budesonida 9mg/dia (grau A) Corticóides sistêmicos (grau A) Antibióticos se sepse suspeita (grau D) Doença de Crohn difusa de intestino delgado35 Os corticosteróides venosos (hidrocortisona 300-400mg/dia ou metilprednisolona 60mg/dia) são indicados para doença com atividade moderada / acentuada (grau B). ♦ Nos casos de recaída está indicado o uso de azatioprina 1,5 -2,5mg/kg/dia ou 6 mercaptopurina 0,75-1,5mg/kg/dia (grau B) ♦ Nos casos de intolerância a azatioprina e 6 mercaptopurina, o metotrexato intramuscular pode ser utilizado na dose de 25mg/semana (grau B). ♦ O infliximabe 5mg/kg pode ser utilizado em associação com os imunossupressores no caso de refratariedade aos mesmos (grau B) 27 Na figura 7 observa-se o algoritmo do tratamento da doença de Crohn difusa de intestino delgado baseado em evidências. Figura 7 - Algoritmo baseado em evidências do tratamento da doença de Crohn difusa de intestino delgado DOENÇA DE CROHN DIFUSA DE INTESTINO DELGADO (extensão > 100 cm / atividade acentuada / Alterações nutricionais) • • • • Corticosteróides se atividade moderada ou acentuada (grau B) Recaída: AZA / 6- MP ou Metotrexato ( grau B) Suporte nutricional (grau C) Caso falha terapêutica: Infliximabe (grau B) 3.1.4. Doença de Crohn gastroduodenal / esofagiana ♦ 36 Os aminossalicilatos não atingem concentrações terapêuticas no esôfago e no estômago, não sendo úteis para o tratamento da doença nestes locais. O algoritmo baseado em evidências do tratamento da doença de Crohn gastroduodenal e esofagiana encontra-se na figura 8. Figura 8 - Algoritmo baseado em evidências do tratamento da doença de Crohn gastroduodenal e esofagiana. DOENÇA DE CROHN GASTRODUODENAL / ESOFAGIANA 28 • • • • • Inibidor de bomba de prótons (grau D) Corticosteróides sistêmicos (grau C) Associação com AZA / 6-MP ou Metotrexato (grau D) Associação com Infliximabe (grau C) Dilatação endoscópica se sintomas obstrutivos 3.2. CONDUTA TERAPÊUTICA DE ACORDO COM A EVOLUÇÃO DA DOENÇA 2 Na figura 9 observa-se o algoritmo do tratamento da doença de Crohn de acordo com sua evolução clínica. Figura 9 – Algoritmo de tratamento da doença de Crohn de acordo com a evolução clínica da doença. EVOLUÇÃO DA DOENÇA RECAÍDA PRECOCE (< 3 meses) REFRATARIEDADE AO CORTICÓIDE CORTICODEPENDENTE Iniciar imunossupressor Afastar complicações locais / abscessos AZA / 6-MP / Metotrexato (grau A) Refratariedade: Infliximabe (grau A) Doença localizada - considerar cirurgia Afastar : tabagismo Uso de antiinflamatórios não hormonais 29 AZA / 6-MP / Metotrexato (grau B) Sem sepse: Infliximabe (grau B) Doença localizada - considerar cirurgia 3.3. MANUTENÇÃO DA REMISSÃO DA DOENÇA: 2 • Objetivo: Retardar e reduzir as recidivas de atividade de doença. • Fatores Preditivos de Recidiva nos 6 meses após Remissão: Idade ≤ 25 anos Intervalo > 6 meses da remissão anterior Maiores intervalos livres de sintomas desde o início da doença Envolvimento colônico Tabagismo (grau A) Corticodependência Imunossupressor ou cirurgia principalmente em mulheres jovens Índice Brignola (predição de recaída em 18 meses), avaliada por: α1 glicoproteína > 1,3g/l: α2 globulina > 9g/l e VHS > 40 mm na primeira hora. • Medicações: As medicações eficazes com níveis de evidência razoáveis são: azatioprina, metotrexato e infliximabe. A mesalazina pode ser modestamente eficaz na doença ileal . O tempo de tratamento com as diversas drogas pode ser evidenciado na tabela 3. 30 Tabela 3 - Duração do tratamento de remissão Remissão alcançada com Mesalazina Azatioprina Duração de uso da medicação Suspensão após 2 anos (grau D) Suspensão após 4 anos de total remissão (grau Metotrexato C) Falta possibilidade de Infliximabe suspensão após 1 ano (grau C) Falta de evidências com possibilidade de de evidências com suspensão após 1 ano (grau C) OBS: no caso da colite extensa, o uso a longo prazo de aminossalicilatos se justifica pelo efeito de prevenção de câncer colorretal (grau D) 3.4. DOENÇA DE CROHN PENETRANTE 2 3.4.1. Definição: Incluem fístulas da região perianal bem como as conseqüentes da comunicação do intestino com outros órgãos ou com a parede abdominal. 3.4.2. Aspectos importantes para estratégia terapêutica: a) localização da origem da fístula e sua anatomia b) avaliação da alça origem (inflamação ou estenose) c) identificação ou exclusão de abscessos d) determinação dos órgãos afetados e contribuição para sintomas sistêmicos ou menor qualidade de vida e) acesso ao estado nutricional do paciente 3.4.3. Classificação das fístulas: a) simples b) complexas 3.4.4. Conduta nas fístula O algoritmo do tratamento das fístulas perianais encontra-se na figura 10 37,38,39 . 31 Figura 10 – Algoritmo de tratamento nas fístulas perianais FÍSTULAS SIMPLES COMPLEXAS ASSINTOMÁTICAS SEM TRATAMENTO SINTOMÁTICAS » Seton (grau D) » Fistulotomia (grau D) » Associar: Metronidazol ou Ciprofloxacina (grau D) » Antibióticos / AZA /6-MP + Cirurgia (grau D) » Afastar abscesso perianal, caso presente: drenagem » Infliximabe como 2a. linha terapêutica (grau B) » Ceton 3.4.5. Acompanhamento da resposta terapêutica: a) acesso clínico: redução da drenagem (grau D) b) tratamento de manutenção: O organograma do tratamento de manutenção das fístulas perianais encontra-se na figura 11 Figura 11 – . Organograma de tratamento de manutenção das fístulas perianais . 37 32 AZA / 6-MP (grau C) FALHA Infliximabe Manutenção : mínimo de 1 ano FALHA ● AZA / 6-MP / MTX + antibióticos (grau D) ● Ostomia (grau D) 3.4.6. Outras fístulas: As condutas terapêuticas veriam com o grau de evidencia (Tabela 4) Tabela 4 - Condutas terapêuticas nas diferentes fístulas Fístulas Tratamento Enteroginecológica Sem tratamento (grau D) assintomática Enteroginecológica Correção cirúrgica (grau D) sintomática Enterovesical Enterocutânea primária Enterocutânea pós-operatória Correção cirúrgica (grau D) Tratamento clínico ou cirúrgico (grau D) Tratamento conservador (grau D) 3.5. CRIANÇAS E ADOLESCENTES 38, 39 3.5.1. Conduta terapêutica: • Na doença íleo-cecal leve a moderada: budesonida (grau A) • A mesalazina tem ação pouco clara na indução da remissão (grau B) 33 • Indução de remissão doença moderada / acentuada com localização de delgado: nutrição enteral + corticosteróides (grau A) 3.5.2. Tratamento de manutenção: • Corticosteróides não são recomendados (grau D) • Ação da mesalazina não é clara (grau B) • Azatioprina / 6 mercaptopurina (grau A) • Metotrexato: resistência ou intolerância a azatioprina/6 de crescimento, mercaptopurina (grau C) • Infliximabe: doença refratária (grau C) • Cirurgia eletiva em pré-puberal com falha principalmente quando doença limitada ao íleo-terminal (grau C) Na figura 12 encontra-se os parâmetros a serem verificados na escolha da nutrição como terapêutica primária para a doença de Crohn ativa em pacientes pediátricos. Figura 12– Parâmetros a serem verificados na escolha da nutrição como terapêutica primária para doença de Crohn ativa em pacientes pediátricos DOENÇA DE CROHN EM ATIVIDADE EM PACIENTES PEDIÁTRICOS 34 PREDOMÍNIO DE DELGADO LOCALIZAÇÃO DA DOENÇA PREDOMÍNIO COLÔNICO < 16 ANOS IDADE / STATUS PUBERAL > 16 ANOS DURAÇÃO DA DOENÇA LONGO PRAZO TERAPÊUTICA MEDICAMENTOSA E/OUAUSENTE CIRÚRGICA INÍCIO RECENTE NUTRIÇÃO COMO TERAPÊUTICA PRIMÁRIA PRESENTE DESNUTRIÇÃO PRESENTE DÉFICIT DE CRESCIMENTO AUSENTE SIM MOTIVAÇÃO DO PACIENTE NÃO SIM SUPORTE FAMILIAR NÃO 3.6. FERTILIDADE, GESTAÇÃO E LACTAÇÃO 40,41,42 3.6.1. Fertilidade • Não é afetada quando a doença encontra-se em remissão (grau B) • A doença ativa reduz a fertilidade (grau B) • Mulheres com passado de cirurgia correm risco de impedimento da função tubária (grau B) • Homens com excisão retal podem evoluir com impotência ou problemas ejaculatórios (grau C) • A sulfassalazina pode promover uma infertilidade reversível por alteração da qualidade do sêmen (grau B) • O paciente do sexo masculino em uso continuo de 6-MP deve parar a medicação 3 meses antes da concepção, para reduzir risco de má formação gestacional. 3.6.2. Gestação • Pacientes cuja concepção ocorre com a doença em remissão, o risco de recaída é semelhante ao da população geral (grau D) • 2/3 das pacientes que engravidam com a doença em atividade mantém a atividade durante toda a gestação (grau B) 35 • Quando a gestação ocorre com a doença em atividade há aumento do risco de pré-termo e baixo peso (grau B) 3.6.3. Opção do parto • Opção do obstetra • Doença não complicada: parto vaginal (grau C) • Doença perianal: inativa - parto cesariana? (grau D) / ativa - parto cesariana (grau C) 3.6.4. Opções de tratamento durante a gestação / lactação As opções de tratamento da doença de Crohn durante a gestação e lactação encontram-se nas tabelas 5 e 6. Tabela 5 - Opções de tratamento durante a gestação SEGURO 5 ASA PROVAVELMENTE SEGURO Budesonida CONTRA-INDICADO Metotrexato Antibióticos AZA/6-MP Talidomida Anti-TNFα Quinolona Sulfonamidas Corticosteróides Ciclosporina Tetraciclina Tracolimus Tabela 6- Opções de tratamento durante a lactação SEGURO PROVAVELMENTE SEGURO CONTRA-INDICADO Metotrexato Sulfassalazina Budesonida Talidomida 36 Mesalazina AZA/6-MP Ciclosporina tópica Anti-TNFα Difenoxilato Mesalazina Oral Ciprofloxacina Corticosteróides Metronidazol Loperamida 3.7. MANIFESTAÇÕES EXTRA-INTESTINAIS (tratamento) 2 3.7.1. Artrite / artropatia • Periférica: tratamento da doença de Crohn • Axial / central: fisioterapia (grau B) sulfassalazina (grau C) metotrexato (grau C) anti-TNFα (grau C) 3.7.2. Doença metabólica óssea • Exercícios isotônicos (grau B) • Parar tabagismo (grau C) • Evitar excesso de álcool (grau D) • Dieta adequada com cálcio > 1g/dia (grau B) • Bifosfonatos, calcitonina (grau C) • Suplemento de vitamina D não é recomendado (grau C) 3.7.3. Manifestações cutâneas: • Eritema nodoso: tratamento da doença com corticosteróides sistêmicos (grau D) • Pioderma gangrenoso: corticosteróide tópico ou sistêmico (grau D) Drogas anti-TNFα (grau B) 37 3.7.4. Manifestações oculares: • Episclerite: corticosteróide tópico (grau D) • Uveite: corticosteróide tópico ou sistêmico (grau C) Resistência: imunomoduladores (grau D) 3.7.5. Manifestações hepatobiliares: • Colangite Esclerosante Primária: Ácido ursodesoxicólico 20mg/Kg - melhora das provas de função hepática (grau B) e melhora do prognóstico (grau C). CPER : dilatação de estenoses dominantes com ou sem coloração de endoproteses (grau C) Transplante hepático (grau B) 4. TERAPIA NUTRICIONAL A etiologia das doenças inflamatórias está relacionada a aspectos genéticos, imunológicos e ambientais. Dentre os aspectos ambientais, encontram-se os fatores dietéticos e sugere-se que dietas com baixo teor de fibras e alto conteúdo de açúcar e de gordura animal possam constituir fatores de risco para estas doenças. 43 . Postula-se que o aleitamento materno previna o aparecimento de doenças inflamatórias intestinais, de forma semelhante, a já descrita em outras doenças imunologicamente mediadas como a asma, a dermatite atópica e a rinite alérgica. 44 Entretanto, estudos mais conclusivos ainda são necessários. A terapia nutricional na vigência das doenças inflamatórias tem como objetivos principais: 38 • Controle dos sintomas, a prevenção e a correção da desnutrição e das diversas deficiências nutricionais; 45 • Redução das seqüelas a longo prazo (incluindo crescimento em crianças e a osteoporose em adultos); • aí, o déficit 46 Modulação da resposta imune como o que ocorre com o emprego de probióticos 47, 48 e de ácidos graxos ômega 3 49. 4.1. ORIENTAÇÕES DIETÉTICAS SEGUNDO A FASE DE ATIVIDADE DE DOENÇA 4.1.1. Fase ativa da doença Nesta fase é importante que a alimentação auxilie no controle dos sintomas como diarréia, dor abdominal, distensão e previna ou reverta a perda de peso através do uso de suplementos nutricionais adequados. A dieta deve ser hipercalórica, pelo aumento das necessidades energéticas em decorrência da inflamação (30 a 35 kcal/kg/dia), hipolipídica (menos de 20% das calorias totais), hiperprotéica (1,5 a 2,0 g/kg/dia) e normoglicídica com restrição de carboidratos simples e alimentos que causem flatulência. O teor de fibras insolúveis e resíduos (lactose, por exemplo) deve ser restrito e a alimentação deve ser fracionada em 6-8 refeições ao dia contendo pouco volume. 50 Orientações dietéticas podem ser observadas na tabela VII. 4.1.2. Fase de remissão da doença Com a melhora clínica do paciente e o inicio da fase de remissão podem ser incluídos os carboidratos simples como a sacarose (em quantidade moderada) e a lactose (progressivamente), introduzindo-se gradativamente o conteúdo de fibras total e insolúvel da dieta, mantendo moderado o teor de gordura. O conteúdo calórico deve ser adequado ao estado nutricional do paciente. visualizada na tabela 7. 50 A orientação dietética pode ser 39 Tabela 7 - Alimentos recomendados e evitados na doença inflamatória intestinal Grupos Fase Ativa Alimentares Consumir Evitar Vegetais Cenoura. Todos chuchu, outros, flatulência, se abóbora, principalmente o batatas, aipim, os verdes crus não tolerar inhame ou cozidos Leguminosas Fase Remissão Todos cozidos. Caldos os Grãos Consumir Evitar Todos Os Todos ⇑ que paciente Colocar carnes e lingüiças como Frutas Banana, maçã e Todas pêra outras, sem casca, goiaba e inclusive pêssego secas casca Leite derivados e e temperos Evitar Todas excessos as de açaí e coco sem ou Integrais Todos Nenhum, em refinados Leites de soja Leite light, comum, desnatados excessos light, integrais, ou lights, gordurosos. baixo iogurte comum Pode-se teor de lactose queijos restringir e amarelos lactose de Iogurte soja Leites Gorduras sem caroços Brancos Cereais as queijos de vaca Todos os princípio. Evitar dos se brancos magros intolerância (avaliar ou flatulência tolerância) Margarinas excessiva Excessos light, azeite Excessos e óleo vegetal em pouca quantidade preferir – assar Todos gorduras frituras de e 40 ou cozinhar os Carnes e Ovos alimentos Carnes magras, Carnes gordas, Todos frango lingüiças, Máximo 03 muito defumados, gemas de gordurosos (filé), clara de vísceras, ovo/semana ovo, embutidos, sem pele, Açúcar doces Temperos e peixe blanquet de peru light Adoçantes Ingerir os com moderação frutos do mar Açúcar, mel, Todos gelatina diet Alho, cebola, melado Pimenta, Alho, sal ervas tempero sal em prontos, naturais pouca mostarda, maior mostarda, quantidade, catchup, shoyu, quantidade catchup, e naturais molho e de molho tomates casa (sem pele prontos cebola Pimenta, ervas tempero em prontos, e de tomate feito em Excessos shoyu e sem semente ou Bebidas polpa de tomate) Chás de ervas, Café sucos (cafeína das e mate Todas Evitar excessos frutas estimula a permitidas, peristalse), e água, água de refrigerantes, alcoólicas coco sucos de refrigerantes bebidas industrializados, suco de laranja, bebidas alcoólicas, caldo de cana 4.1.3. Nutrição Enteral e Parenteral Hoje, sabe-se que “repouso intestinal” com nutrição parenteral total (NPT) não é necessário para se atingir a remissão das doenças inflamatórias intestinais (DII) e a nutrição enteral (NE) é o meio preferido de suporte nutricional e pode resultar em sucesso de maior indução de remissão que a NPT. 51, 52, 53 41 A maioria dos pacientes, mesmo em atividade de doença, pode alimentar-se adequadamente por via oral, desde que sejam feitas as modificações dietéticas acima citadas. Porém, alguns pacientes podem necessitar de suporte nutricional com NE se a ingestão oral não for possível ou não for suficiente, como a observada na presença de anorexia severa, náuseas ou no pré-operatório 45. Existem divergências sobre a fórmula mais adequada sendo inicialmente sugerido que as dietas elementares poderiam ser mais vantajosas 45,53 do que as fórmulas poliméricas, por promoverem repouso intestinal mais completo com menores cargas bacterianas e antigênicas protéicas. No entanto, atualmente, observa-se que não haver diferença significativa no uso de fórmulas a base de aminoácidos livres ou peptídeos em detrimento daquelas a base de proteínas íntegras, não devendo ser rotineiramente recomendadas. 53,54 O uso da NPT deve ser restrito aos pacientes nos quais a nutrição enteral está contra-indicada, exemplificando, se houver presença de obstrução, no intestino curto; fístulas de intestino delgado com alto débito; além de outras situações clínicas que devem ser avaliadas individualmente. 45 O uso exclusivo de NPT ocasiona atrofia da mucosa intestinal o que pode ser minimizado com a infusão parenteral de dipeptídeos de glutamina. 55 A NPT está associada a maiores riscos de complicações infecciosas e metabólicas, além de ser de alto custo. 56 4.2. ORIENTAÇÕES DIETÉTICAS SEGUNDO AS CARACTERÍSTICAS EVOLUTIVAS DA DOENÇA 4.2.1. Estenoses e Fístulas na Doença de Crohn Pacientes que apresentem áreas de estenoses devem seguir dieta similar a da fase ativa da doença, independente se doença com ou sem atividade, considerando-se que este esquema alimentar permite a formação de bolo fecal menor ,evita a flatulência prevenindo a distensão abdominal, náuseas, vômitos e possíveis episódios de sub-oclusão intestinal. Em 42 pacientes com peristalse acelerada e distensão abdominal acentuada pode ser necessária uma dieta líquida sem resíduos até haver a melhora dos sintomas, quando então, a dieta deve ter sua consistência gradativamente normalizada. Associada bacteriana pode bacteriana de a ocorrer nutrientes, presença com má efeitos de estenoses, absorção tóxicos hiperproliferação secundária diretos de à utilização ácidos biliares desconjugados ou outros metabolitos favorecendo exacerbação do processo inflamatório intestinal . 01 Na existência de fístulas enterocutâneas torna-se necessária uma avaliação individualizada. Normalmente as fístulas baixas de reto ou cólon distal são tratadas com dieta oral de baixo teor de resíduo e fibras ou dieta enteral elementar. 57 As fístulas de baixo débito do cólon proximal e íleo terminal tendem a ser tratadas com dieta elementar de alta absorção, ficando a dieta oral suspensa. 57 . É necessário se verificar a eficácia da terapia nutricional empregada de forma associada ao tratamento clínico no que se refere à redução do débito fistuloso. Se o debito permanecer elevado está indicada a nutrição parenteral total. 57 4.3. INTOLERÂNCIA A LACTOSE NAS DII Na fase ativa da doença, é necessária a restrição de lactose, pois apesar de o leite não possuir fibras, produz alto teor de resíduos intestinais através da fermentação bacteriana da lactose. 58. A quantidade de lactase na borda em escova diminui pela lesão celular e a presença de diarréia exacerba a perda de lactase intestinal. 58 A presença na luz intestinal de lactose não digerida pode ser responsável pela existência de diarréia osmótica acarretando a exacerbação do processo diarréico de origem exsudativa. Ao se iniciar a fase de remissão da doença pode ser introduzida gradativamente a lactose desde que observada a sua tolerância. 58 . A suspeita de intolerância a lactose deve ser sempre investigada através de testes diagnósticos de confirmação e/ou dieta de exclusão, pois os produtos 43 lácteos são fontes importantes de proteína e cálcio e não devem ser arbitrariamente excluídos da alimentação. A intolerância a lactose ocorre predominantemente em pacientes com Doença de Crohn. 59 . A ingestão de derivados do leite que possuem menor teor de lactose do que o mesmo, como o iogurte (que tem sua digestão facilitada ainda pela presença da enzima β-galactosidade na cultura bacteriana) e os queijos brancos, pode ser tolerada, pois 6 a 12 gramas de lactose podem ser digeridos e absorvidos sem gerar sintomas adversos na maioria dos pacientes com intolerância à lactose. 60 No tratamento destes pacientes pode ser empregada dieta com produtos lácteos de baixo teor de lactose e se necessária, a suplementação com enzima lactase (forma de apresentação: cápsulas) que auxiliará a digestão de refeições contendo leite e derivados. 4.4. MICRONUTRIENTES Na vigência de uma dieta restrita, existente nos períodos de atividade de doença, torna-se importante a suplementação com multivitamínicos e minerais para que sejam atingidas as necessidades diárias do paciente, que estão habitualmente aumentadas neste período. A corticoterapia, a má absorção, a inflamação sistêmica 51 e ao baixo consumo de produtos lácteos justificam a recomendação de suplementação de cálcio cuja necessidade diária é de 1,5g/dia e também de vitamina D 45 , pois há um risco aumentado de osteopenia e osteoporose nesta população. 54,55 Se o paciente apresentar diarréia, dependendo da severidade, podem ocorrer baixas concentrações séricas de potássio, magnésio, cálcio e fosfato e ser necessária a sua suplementação. 54 Também podem se encontrar níveis séricos diminuídos de zinco e, sendo este de suma importância para a cicatrização recomenda-se a suplementação. 45 44 4.5. ÁCIDOS GRAXOS ÔMEGA 3 Esse ácido graxo essencial possui um efeito imunomodulador potente atuando na síntese de eicosanóides alem de ter efeito inibitório eicosanóide-independente da citocina pró-inflamatória interleucina 1 (IL-1). Desta maneira, tem sido proposto que o uso desse ácido graxo suplementar pode ser benéfico no tratamento das doenças inflamatórias intestinais e na manutenção da remissão. 49 Os estudos com a suplementação deste nutriente são controversos, com respostas clinicas variadas em função da dose, da fonte e do tipo de ácido graxo ômega 3 utilizado. 62 Estes estudos também não descrevem a relação ácidos graxos ômega 3 / ômega 6 empregados nas suplementações que é de suma importância devido ao fato do acido graxo ômega 6 ter potente ação pró-inflamatória. Logo, os resultados eficazes de dietas supostamente eficazes pelo emprego de ácidos graxos omega 3 podem não ter levado em consideração a potencialização de efeitos secundários a menor quantidade de ácidos graxos ômega 6 empregados 49 Na literatura pode ser verificada que a dose suplementar do ácido graxo ômega 3 eicosapentaenóico (EPA) ou mista (óleo de peixe que contém EPA + ácido docosahexaenóico – DHA) varia muito (3-15 g/dia ou 10-20 ml/dia) nos diversos estudos. 49 Belluzi e colaboradores (1996) 63 obtiveram bons resultados com o uso de 2,7g / dia (09 cápsulas de óleo de peixe) de ácidos graxos ômega 3 na manutenção da remissão em pacientes com doença de Crohn, porém esta suplementação não é rotineiramente recomendada pois ainda não foram demonstrados benefícios clínicos evidentes 55 Adicionalmente, altas doses deste nutriente estão associadas a problemas com paladar inadequado (intolerância), halitose e outros efeitos colaterais gastrointestinais. 45 4.6. PROBIÓTICOS 45 Numerosas alterações na microbiota intestinal de pacientes com doença inflamatória intestinal com ou sem atividade foram descritas, como a alta concentração de bactérias, o aumento do número de coliformes e bacteróides e a redução do número de lactobacilus. 64 A manipulação da microbiota com o emprego de antibióticos é uma estratégia terapêutica comum e, recentemente, alguns estudos têm demonstrado resultados promissores (ainda não conclusivos) com o uso dos probióticos. 47 Os probióticos são microorganismos vivos capazes de promover equilíbrio da microbiota intestinal se utilizados em quantidades suficientes (geralmente bilhões de unidades formadoras de colônias, pois há perda de bactérias no estômago devido à ação de acido, e no intestino devido às secreções biliares e pancreáticas). Os efeitos atribuídos aos probióticos são: • 47. Produção de substâncias inibitórias, incluindo a modificação do pH e a produção de ácidos orgânicos, peróxidos de hidrogênio e bacteriocinas; • Competição na adesão às células epiteliais com as bactérias patogênicas; • Competição por nutrientes essenciais com as bactérias patogênicas; • Degradação de receptores de toxinas (proteção contra o Clostridium difficile); • Estimulação da imunidade; • Promoção da integridade intestinal; • Produção de ácidos graxos de cadeia curta e prevenção de colite, além de aumentar a produção de muco. Desta maneira, estudos vêm sendo realizados acerca de sua ação na manutenção da remissão e no tratamento das doenças inflamatórias intestinais ativas. O uso de probióticos é recomendado para a prevenção das pouchitis após sua remissão com antibióticos, mas não no tratamento da doença ativa 48 . Com relação à doença de Crohn e à RCUI, os resultados ainda são controversos e maiores pesquisas são necessárias a fim de 46 determinar sua real eficácia, dose, duração de uso, utilização de cepas bacterianas probióticas únicas ou misturas e o uso concomitante de antibióticos. 48 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: 1- Grimshaw J, Eccles M. Clinical practice guidelines. In: Silagy C, Haines A(eds) Evidence based practice in primary Care. BMJ Publishing Group, London, 1998,pp.110-22 2- Sutherland LR,Roth D, Beck P et al.Oral 5 –aminosalicylic acid for maintaining remission in ulcerative colitis.Cochrane Database Syst Rev 2002:4:CD000544. 3- Eaden J, Abrams K, Ekbom A et al. Colorectal cancer prevention in ulcerative colitis: a case control study .Aliment Pharmacol Ther 2000;14:145-53. 4- Van Staa TP, Card T, Logan RF et al. 5-Aminosalicylate use and colorectal cancer risk in inflammatory bowel disease: a large epidemiological study. Gut 2005;54(11):1573-1578. 5- Hanauer SB, Stromberg U. 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