Rastreio de dádivas de sangue para detecção de infecções transmissíveis por transfusão Recomendações Rastreio de dádivas de sangue para detecção de infecções transmissíveis por transfusão Recomendações Catalogação-na-fonte: Biblioteca da OMS: Rastreio de dádivas de sangue para detecção de infecções transmissíveis por transfusão: recomendações. 1.Transfusão de sangue – efeitos adversos. 2.Transfusão de sangue – normas. 3.Transmissão de doença infecciosa – prevenção e controle. 4.Seleção do doador. 5.Programas nacionais de saúde. I.Organização Mundial da Saúde. ISBN 978 92 4 854788 1 (Classificação NLM: WB 356) © Organização Mundial da Saúde 2010 Todos os direitos reservados. As publicações da Organização Mundial da Saúde podem ser pedidas a: Publicações da OMS, Organização Mundial da Saúde, 20 Avenue Appia, 1211 Genebra 27, Suíça (Tel: +41 22 791 3264; fax: +41 22 791 4857; e-mail: bookorder@who. int). 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Índice Prefácio Recomendações essenciais Recomendações de políticas Recomendações técnicas 1 3 3 4 1 Introdução 1.1 Contexto 1.2 Problemas e desafios 1.3 Finalidade e objectivos 1.4 Audiência visada 1.5 Metodologia 5 5 5 7 8 8 2 Programa nacional de análise de sangue para rastreio de infecções transmissíveis por transfusão 2.1 Elaboração de um programa nacional de rastreio de sangue 2.2 Política nacional sobre rastreio de sangue 2.3 Estratégia nacional de rastreio 2.3.1 Algoritmos de rastreio 2.4 Organização e gestão 2.4.1 Serviço(s) de transfusão de sangue 2.4.2 Laboratório de referência 2.5 Recursos financeiros e humanos 2.6 Avaliação, escolha e validação de sistemas de testes 2.7 Sistemas laboratoriais de qualidade 2.8 Aquisição e aprovisionamento de testes e reagentes 2.9 Armazenagem e transporte 2.10Mecanismos reguladores 11 11 12 12 13 14 14 14 15 15 16 16 16 17 3 Testes de rastreio 3.1 Tipos de testes 3.1.1 Imunotestes 3.1.2 Testes com tecnologia de amplificação de ácido nucleico 3.2 Escolha de testes 3.3 Características essenciais dos testes 3.4 Avaliação dos testes 3.5 Monitorização da execução dos testes 3.6 Emprego de automatização para realização de testes 3.7 Novos testes e tecnologias 18 18 18 20 20 21 22 24 25 25 4 Rastreio de infecções transmissíveis por transfusão 4.1 Infecções transmissíveis por transfusão 4.2 Agentes infecciosos transmissíveis por transfusão para os quais se recomenda rastreio universal de todas as dádivas em todos os países 4.2.1 Vírus da imunodeficiência humana 26 26 28 28 4.3 4.4 4.5 4.2.2 Vírus da hepatite B 4.2.3 Vírus da hepatite C 4.2.4 Sífilis Infecções transmissíveis por transfusão para as quais se recomenda rastreio universal em certos países ou para as quais se recomenda rastreio selectivo 4.3.1 Paludismo 4.3.2 Doença de Chagas 4.3.3 Viroses linfotrópicas de células T humanas de tipo I/II 4.3.4 Citomegalovírus humano Infecções emergentes e ressurgentes Infecções clinicamente insignificantes transmissíveis por transfusão 30 32 33 40 41 43 44 45 46 48 5 Rastreio de sangue, quarentena e distribuição de sangue 5.1 Processo de rastreio de sangue 5.2 Abordagens de rastreio de sangue 5.3 Mistura de amostras para testes serológicos 5.4 Rastreio sequencial 5.5 Rastreio de sangue e teste de diagnóstico 5.6 Rastreio de emergência 5.7 Rastreio de plasma para fraccionamento 5.8 Análise pré-doação 5.9 Quarentena de sangue e componentes de sangue antes da sua distribuição ou eliminação 5.10Distribuição de sangue e componentes de sangue 5.11Conservação a longo prazo de amostras de dádivas de soro/plasma 49 49 49 51 51 52 53 53 53 6 Análise de confirmação e orientação de dadores 6.1 Estratégias de análise de confirmação 6.2 Interpretação e utilização de resultados de confirmação 6.3 Seguimento de dadores de sangue 6.3.1 Diferimento de dadores de sangue 6.3.2 Aconselhamento depois da dádiva 56 56 56 58 58 59 7 Sistemas de qualidade em rastreio de sangue 7.1 Elementos de sistemas de qualidade 7.2 Gestão organizacional 7.3 Padrões para sistemas de qualidade 7.4 Documentação 7.5 Traçabilidade 7.6 Formação 7.7 Avaliação 7.8 Manutenção e calibragem 60 60 60 61 61 61 62 62 63 Referências Glossário Agradecimentos 64 67 70 54 54 55 Prefácio A transfusão sanguínea é uma intervenção salvadora de vidas que tem um papel essencial em tratamento de doentes no âmbito de sistemas de cuidados de saúde. Todos os Estados Membros da Organização Mundial de Saúde (OMS) aprovaram as Resoluções da Assembleia Mundial de Saúde WHA28.72 (1) em 1975 e WHA58.13 (2) em 2005, de acordo com as quais se empenharam por proporcionar aprovisionamentos adequados de sangue seguro e produtos derivados a todos os pacientes necessitando de transfusão, quer para salvar as suas vidas ou contribuir para manter ou melhorar a sua saúde. A OMS recomenda a seguinte estratégia integrada para o aprovisionamento de sangue inócuo e produtos derivados e transfusões de sangue seguras e eficazes (3). 1 Estabelecimento de serviços de transfusão sanguínea bem organizados, coordenados a nível nacional e capazes de fornecer reservas de sangue inócuo em quantidade suficiente e de maneira atempada, capazes de satisfazer as necessidades transfusionais da população de pacientes. 2 Colheita de sangue junto de dadores voluntários e não remunerados com pouco risco de infecções transmissíveis através do sangue e de produtos sanguíneos, abandono progressivo de dádivas de familiares/substitutos e eliminação da dádiva remunerada. 3 Análise de qualidade assegurada de todas as dádivas de sangue para rastreio de infecções transmissíveis por transfusão, incluindo VIH, hepatite B, hepatite C, Treponema pallidum (sífilis) e, quando indicado, outras infecções representando um risco para a inocuidade das reservas de sangue, tais como Trypanosoma cruzi (doença de Chagas) e espécies de Plasmodium (paludismo/malária), assim como determinação do grupo sanguíneo e da compatibilidade. 4 Utilização racional de sangue para reduzir as transfusões desnecessárias e minimizar os riscos associados, utilização, quando possível, de alternativas a transfusão, e procedimentos seguros de transfusão clínica. 5 Implementação de sistemas de qualidade eficazes, incluindo gestão de qualidade, desenvolvimento e implementação de normas de qualidade, sistemas de documentação eficazes, formação de todo o pessoal e avaliação regular da qualidade. O estabelecimento de sistemas para assegurar que todas as dádivas de sangue são analisadas para rastreio de infecções transmissíveis por transfusão é uma componente central de todos os programas nacionais de transfusão. Contudo, a nível mundial, há variações importantes no escopo do rastreio de dádivas de sangue, nas estratégias adoptadas e na qualidade global e efectividade do processo de rastreio de sangue. Assim, em muitos países, as pessoas recebendo sangue e produtos sanguíneos continuam a correr o risco inaceitável de contrair infecções potencialmente mortais que podem ser facilmente evitadas. Em 1991, o Programa Mundial contra a SIDA da Organização Mundial de Saúde e a então denominada Liga das Sociedades da Cruz Vermelha e do Crescente 1 Vermelho publicaram a Declaração de Consenso sobre Rastreio de Dádivas de Sangue para Detecção de Agentes Infecciosos Transmissíveis por Transfusão Sanguínea (4). Desde então, foram feitos melhoramentos importantes em rastreio de infecções transmissíveis por transfusão, com identificação de novos agentes infecciosos e melhoramentos importantes em rastreio de marcadores de infecção em dádivas de sangue. Assim, as recomendações contidas neste documento foram elaboradas para actualizar e alargar o alcance das recomendações anteriores. Este documento está concebido para orientar e apoiar países com serviços de transfusão menos desenvolvidos a estabelecer programas de rastreio de sangue apropriados, eficazes e seguros. Contudo, deve reconhecer-se que todos os programas de rastreio de sangue têm os seus limites e que a segurança absoluta, em termos de ausência de risco de infecção, não pode ser garantida. Além disso, cada país tem de enfrentar questões ou obstáculos específicos com influência sobre a segurança das suas reservas de sangue, incluindo a incidência e prevalência de infecções transmitidas pelo sangue, a estrutura e nível de desenvolvimento do serviço de transfusão, os recursos disponíveis e exigências de transfusão especiais. A segurança das reservas de sangue também depende da sua origem, sendo a fonte mais segura os dadores voluntários não remunerados, provenientes de populações de baixo risco de infecções transmissíveis por transfusão. Estas recomendações são concebidas para apoiar os países a estabelecer programas nacionais eficazes de maneira a assegurar rastreio de dádivas de sangue de qualidade assegurada a 100% para detecção de infecções transmissíveis por transfusão. Em países onde os sistemas ainda não estão completamente estabelecidos, as recomendações serão úteis para instituir um processo judicioso para a sua implementação. Dr. Neelam Dhingra Coordenador Transfusões de Sangue Seguras Departamento de Tecnologias de Saúde Essenciais Organização Mundial de Saúde 2 Recomendações essenciais RECOMENDAÇÕES DE POLÍTICAS 1 Cada país deve ter uma política nacional sobre rastreio de sangue definindo as exigências do país em relação a rastreio de todas as dádivas de sangue total e por aférese para detecção de infecções transmissíveis por transfusão. 2 Deve haver um programa nacional sobre rastreio de sangue que estipule a estratégia a utilizar, com algoritmos definindo os testes vigentes a executar em cada serviço de rastreio. 3 Todas as dádivas de sangue total e por aférese devem ser analisadas para detecção de provas de infecção antes da entrega de sangue e seus componentes para utilização clínica ou industrial. 4 O rastreio de todas as dádivas de sangue deve ser obrigatório para as seguintes infecções e utilizando os seguintes marcadores: VIH-1 e VIH-2: rastreio de uma combinação de antigéniosanticorpos do VIH ou anticorpos do VIH Hepatite B: rastreio do antigénio de superfície de hepatite B (AgHBs) Hepatite C: rastreio de uma combinação de antigénios-anticorpos do HCV ou de anticorpos do HCV Sífilis (Treponema pallidum): rastreio de anticorpos treponemicos específicos. 5 A análise de dádivas para rastreio de outras infecções, tais como as causadoras de paludismo, doença de Chagas ou HTLV, deve ser baseada em provas epidemiológicas locais. 6 Sempre que possível, a análise de sangue deve ser reforçada em serviços localizados de maneira estratégica a nível nacional e/ ou regional para uniformidade das normas, maior segurança e economias de escala. 7 Deve haver disponibilidade de recursos adequados para análise sistemática e segura de dádivas de sangue para rastreio de infecções transmissíveis por transfusão. 8 O programa de análises de sangue deve poder dispor de pessoal, qualificado e formado, em número suficiente. 9 Deve haver um sistema nacional para avaliação, escolha e validação de todas as análises utilizadas no rastreio de sangue. 10 Os níveis mínimos avaliados de sensibilidade e especificidade de todas as análises utilizadas para rastreio de sangue devem ser os mais altos possíveis e de preferência não inferiores a 99,5%. 11 Análises de qualidade assegurada de todas as dádivas devem estar estabelecidas antes de se considerar testes utilizando ácido nucleico. 3 12 Deve existir uma política nacional de aquisição e sistema de aprovisionamento para assegurar a qualidade e continuidade da reserva de conjuntos para testes, reagentes e outros artigos necessários para o rastreio de todas as dádivas de sangue. 13 Sistemas de qualidade devem estar estabelecidos para todos os elementos do programa de rastreio de sangue, incluindo normas, formação, documentação e avaliação. 14 Deve haver mecanismos de regulação para controlo das actividades de serviços de transfusão sanguínea, incluindo rastreio de sangue. RECOMENDAÇÕES TÉCNICAS 1 Todos os serviços onde se realizam análises devem ter uma infra-estrutura adequada e um sistema de qualidade para realizar rastreio de sangue para detecção de infecções transmissíveis por transfusão. 2 Todo o pessoal implicado em análise de sangue deve estar preparado para desempenhar as suas funções segundo as normas exigidas pelo país. 3 Os indicadores específicos de execução de todos os testes devem ser designados e monitorizados continuamente para assegurar a garantia dos resultados. 4 Todos os conjuntos e reagentes para testes devem ser guardados e transportados em condições devidamente controladas. 5 Todos os testes de rastreio devem ser realizados segundo procedimentos padronizados de maneira a garantir a qualidade. 6 Enquanto os testes exigidos não estiverem terminados e a conformidade das dádivas para uso terapêutico não tiver sido determinada, deve estar estabelecido um sistema de quarentena para a separação física de todas as dádivas de sangue não analisadas e seus componentes. 7 Só deve ser disponibilizado para uso clínico ou industrial o sangue e componentes de sangue de dádivas que não são reactivas em todos os testes de rastreio para todos os marcadores definidos. 8 Todas as amostras reactivas devem ser retiradas do lote em quarentena e guardadas separadamente e seguramente até serem destruídas com segurança ou guardadas para fins de garantia de qualidade ou investigação, de acordo com as políticas nacionais. 9 Devem ser estabelecidos sistemas para manter a confidencialidade de resultados de testes. 10 As dádivas apresentando reacção devem ser submetidas a testes de confirmação para notificação de dadores, aconselhamento e encaminhamento para tratamento, diferimento ou nova convocação para dádivas futuras, e revisão de dádivas prévias. 4 1 Introdução 1.1 CONTEXTO Os governos têm a responsabilidade de assegurar um aprovisionamento seguro e suficiente de sangue e produtos sanguíneos para qualquer paciente necessitando de transfusão (1). Cada país deve formular uma política e plano nacional sobre reservas de sangue, como parte da política nacional de saúde, para definir a maneira como sangue inócuo e produtos derivados serão disponíveis e acessíveis para enfrentar as necessidades de transfusão da sua população, incluindo como serão organizados e geridos os serviços de transfusão. Proporcionar sangue seguro e eficaz e seus componentes para transfusão ou utilização industrial implica um certo número de procedimentos, desde escolha de dadores e colheita, processamento e análise das dádivas, a análise de amostras provenientes de pacientes, à questão de sangue compatível e sua administração a pacientes. Em cada fase desta “cadeia de transfusão” existe um risco de erro e uma falta em qualquer de tais fases pode ter implicações graves para quem recebe o sangue ou os produtos derivados. Assim, embora a transfusão possa ser salvadora, há riscos associados, especialmente transmissão de infecções transmissíveis pelo sangue. O rastreio de infecções transmissíveis por transfusão para excluir dádivas com risco de transmissão de infecção do dador para o receptor, é uma parte crítica do processo garantindo que a transfusão é o mais segura possível. O rastreio eficaz da presença de infecções transmissíveis por transfusão mais correntes e perigosas pode reduzir o risco de transmissão a níveis muito baixos (5). Assim, os serviços de transfusão devem estabelecer sistemas eficientes para assegurar que todo o sangue doado é analisado correctamente para rastreio de infecções transmissíveis específicas e que só o sangue e componentes sanguíneos não apresentando reacção são enviados para utilização clínica e industrial. A escolha de estratégias de rastreio adequadas às necessidades, infra-estruturas e recursos de cada país pode contribuir de maneira importante para melhorias em segurança de sangue. Em países onde foram implementados programas eficazes de rastreio de sangue, o risco de transmissão de infecções transmissíveis por transfusão foi reduzido de maneira espectacular durante os últimos 20 anos (6-7). Contudo, uma proporção importante de dádivas de sangue continuam a não ser seguras pois, ou não são analisadas para detectar as principais infecções transmissíveis por transfusão ou o sistema de análise utilizado não é de qualidade. Dados sobre indicadores de segurança hematológica fornecidos em 2007 por ministérios da saúde para a Base Mundial de Dados sobre Segurança Hematológica (GDBS) da OMS, indicam que, dos 155 países que notificaram realizar 100% das análises necessárias para detecção do VIH, unicamente 71 o fizeram com qualidade assegurada (8). Um número importante de países ainda precisam de esforços concertados para, com sistemas de qualidade, realizar o rastreio a 100% das dádivas de sangue para detecção de infecções transmissíveis por transfusão. 1.2 PROBLEMAS E DESAFIOS O rastreio de sangue dispõe de vários sistemas de testes com sensibilidades e especificidades distintas. Contudo, a eficácia do rastreio depende da sua 5 utilização correcta em laboratórios devidamente providos de recursos e de pessoal, e com sistemas de qualidade bem assegurados. Os países que ainda não são capazes de analisar todas as dádivas de sangue para detectar infecções transmissíveis por transfusão, com garantia de qualidade, enfrentam uma série de problemas. A nível nacional, políticas ineficazes, falta de normas nacionais ou de estratégias de análise, e recursos limitados para implementação do programa nacional de análise de sangue, são muitas vezes os principais desafios. A nível operacional, a efectividade do rastreio de sangue é muitas vezes dificultada por fragmentação e falta de coordenação dos serviços de transfusão, infra-estruturas não adequadas, falta de pessoal formado e sistemas de pouca qualidade. Isto pode resultar em: Sistemas de rastreio ineficazes e desperdício de recursos devido a níveis divergentes de funcionamento em sítios múltiplos. Falta de gestão de qualidade e de sistemas de garantia de qualidade. Utilização de conjuntos de testes e reagentes de fraca qualidade. Reservas incertas e inconsistentes de conjuntos de testes e reagentes devido a logística deficiente. Deficiência do material. Variações em procedimentos e práticas laboratoriais. Armazenagem incorrecta ou utilização inapropriada de conjuntos de testes e reagentes. Procedimentos não adequados para identificação, resultando em identificação errada do paciente ou das amostras de sangue do dador, das dádivas ou preparações de sangue e componentes sanguíneos. Deficiência técnica na realização de testes. Interpretação errada de resultados de testes. Inexactidões em registo ou transcrição de resultados de testes. O que resulta em: Proporções mais altas de erros em resultados de testes. Maior risco de insucesso em rastreio de infecções transmissíveis por transfusão. Eliminação desnecessária de sangue não reactivo. Escassez de sangue e utilização de sangue não analisado em situações de urgência. Notificação incorrecta do dador e estigmatização. Dadores de sangue e rastreio de sangue O rastreio de dádivas de sangue para detecção de infecções transmissíveis por transfusão representa um elemento de estratégias em prol de segurança e disponibilidade de sangue. A primeira medida de defesa para proporcionar uma reserva de sangue seguro e minimizar o risco de infecções transmissíveis por transfusão consiste em colheita de sangue de dadores bem escolhidos, voluntários e não remunerados, provenientes de populações com pouco risco, especialmente aqueles que dão sangue regularmente. A prevalência de infecções transmissíveis por transfusão em dadores voluntários não remunerados é geralmente muito mais baixa do que entre dadores de família/substituição (9-11) e dadores remunerados (12-14). Cada país deve estabelecer programas sobre dádiva 6 voluntária, programas proporcionando informação e orientação para dadores e elaborando critérios nacionais rigorosos de selecção e diferimento para excluir possíveis dadores com risco de transmissão de infecções por transfusão (15). Uma prevalência mais baixa de infecções transmissíveis por transfusão na população de dadores também reduz a eliminação de dádivas de sangue, o que resulta em melhor eficiência e utilização de recursos. 1.3 FINALIDADE E OBJECTIVOS Em 1991, o Programa Mundial contra a SIDA da Organização Mundial de Saúde e a Liga das Sociedades da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho publicaram uma Declaração de Consenso sobre Rastreio de Dádivas de Sangue para Detecção de Agentes Infecciosos Transmissíveis por Transfusão Sanguínea (4). Reconhecendo que tais recomendações estavam muito desactualizadas, o programa de Segurança Transfusional da OMS iniciou um processo de revisão para elaborar nova orientação sobre reforço dos programas de rastreio de sangue. Finalidade O Rastreio de Infecções Transmissíveis por Transfusão em Dádivas de Sangue tem por alvo apoiar os países a estabelecer programas nacionais eficazes de rastreio de sangue para proteger contra infecções transmissíveis por transfusão as pessoas que beneficiam de tal acto. Objectivos Este documento está concebido principalmente para apoiar o reforço e melhoria de programas de rastreio de sangue em países onde os sistemas ainda não estão completamente desenvolvidos. Os seus objectivos específicos são: 1 Proporcionar orientação sobre garantia de aprovisionamentos de sangue inócuo e em quantidade suficiente graças a rastreio de sangue eficaz para minimizar o risco de transmissão de infecções transmissíveis pelo sangue via transfusões. 2 Fornecer informação e aconselhamento técnico sobre as medidas e acções específicas necessárias para: Desenvolver e implementar programas nacionais eficientes de rastreio de sangue, no âmbito dos quais 100% das dádivas de sangue são analisadas Identificar as infecções transmissíveis por transfusão a detectar em dádivas de sangue Desenvolver estratégias e algoritmos de rastreio apropriados Desenvolver sistemas para escolha e avaliação de testes Implementar sistemas de qualidade em todos os aspectos de rastreio de sangue Elaborar políticas e sistemas para orientação de dadores de sangue com resultados positivos ou reactivos. As recomendações e algoritmos apresentados neste documento são específicos a rastreio de dádivas de sangue para detecção de infecções transmissíveis por transfusão e não são destinados a testes de diagnóstico de infecções. Contudo, 7 podem ser aplicados a exigências de rastreio de plasma para detecção de fraccionamento, células indiferenciadas e tecidos. 1.4 AUDIÊNCIA VISADA Este documento destina-se principalmente a ser utilizado em países em desenvolvimento e em transição com recursos limitados, onde os serviços de transfusão estão nas fases iniciais de desenvolvimento. Está concebido para ser utilizado por: Responsáveis pela formulação de políticas no campo da saúde, finanças, educação, qualidade e outras áreas com influência, directa e indirecta, em segurança do sangue Gestores de programas nacionais de sangue em ministérios da saúde Pessoal do serviço nacional de transfusão, incluindo directores, gestores, pessoal de controlo de qualidade e de laboratório, especialmente quem é directamente responsável por análises de sangue para rastreio de infecções transmissíveis por transfusão Gestores de laboratório e pessoal técnico em laboratórios/bancos de sangue de serviços hospitalares de transfusão Gestores de laboratório e pessoal técnico de laboratórios de referência. O documento também pode ser útil para outras partes interessadas pertinentes tais como instituições de ensino e formação, serviços de transplantação, serviços de fraccionamento de plasma e programas de prevenção de doenças enfocando infecções como VIH e hepatite. 1.5 METODOLOGIA Consulta Informal de Especialistas sobre Rastreio de Dádivas de Sangue para Detecção de Infecções Transmissíveis por Transfusão Em Outubro de 2004, o programa da OMS de Segurança Transfusional convocou uma Consulta Informal sobre Rastreio de Dádivas de Sangue para Detecção de Infecções Transmissíveis por Transfusão. A consulta tinha por objectivos específicos examinar as directivas da Declaração de Consenso anterior, abordar questões científicas actuais em relação com a caracterização de novas infecções e o desenvolvimento de novas tecnologias em rastreio de sangue, e definir até que ponto as directivas devem ser actualizadas. A consulta foi convocada como um Grupo de Trabalho de 11 especialistas internacionais, incluindo membros do Grupo Consultivo de Especialistas em Medicina de Transfusão Sanguínea da OMS. Estes especialistas foram nomeados pelos Conselheiros Regionais da OMS no Campo da Segurança Hematológica e escolhidos segundo as suas competências no campo de microbiologia em transfusões. O processo de selecção também foi concebido para assegurar equilíbrio regional e participação tanto dos países em desenvolvimento como desenvolvidos. Também assistiram à consulta observadores da Comissão Europeia, Health Canada, Consórcio Internacional para Segurança Hematológica, Sociedade Internacional de Transfusão Sanguínea e Federação Internacional de Talassemia. 8 Alcance das recomendações A consulta concentrou-se essencialmente sobre as necessidades de países em desenvolvimento e em transição onde os programas de rastreio de sangue ainda não estão bem desenvolvidos ou onde há falta de sistemas de qualidade. Identificou-se a necessidade de directivas actualizadas sobre rastreio de dádivas de sangue, incluindo questões de política e organizacionais assim como aspectos técnicos e científicos relacionados. O Grupo de Trabalho recomendou que as directivas actualizadas devem incluir informação sobre a importância de um programa sustentável de rastreio de sangue para reservas adequadas de sangue e seus componentes devidamente analisados; considerações económicas; benefícios de centralização ou regionalização do rastreio de sangue; questões legislativas; ênfase em dádivas de sangue, voluntárias e não remuneradas, e critérios de escolha de dadores; elaboração de políticas para avaliação, selecção, aquisição e validação de conjuntos de testes/ensaios; testes de confirmação e seguimento de dadores de sangue; intervenção em emergências e junto de populações remotas; e ligação com exigências para a indústria de plasma. Foram propostas como constituindo a principal estrutura das recomendações as seguintes acções: Desenvolvimento de programas nacionais para rastreio de dádivas de sangue Testes de rastreio Rastreio de infecções transmissíveis por transfusão Rastreio, quarentena e distribuição de sangue Testes de confirmação e seguimento de dadores de sangue Sistemas de qualidade em rastreio de sangue. O Grupo de Trabalho realçou a necessidade das recomendações serem baseadas em provas e especialmente pertinentes para serviços de transfusão que ainda não estão bem desenvolvidos. Acentuou que as recomendações devem ser concebidas de maneira a promover uma abordagem coerente de garantia da segurança e disponibilidade de sangue sendo ao mesmo tempo suficientemente flexíveis para permitir diferenças em estratégias de análise e em infecções a detectar. Provas A equipa da OMS de Segurança Transfusional procedeu a uma recolha de informações através de PubMed, MedLine, a base de dados da biblioteca da OMS e bases regionais de dados. Foram feitos esforços particulares para identificar estudos sistemáticos e provas relacionadas, de maneira específica, a rastreio de infecções transmissíveis por transfusão em países em desenvolvimento. Exame por homólogos e redacção técnica O Dr. Alan Kitchen, presidente do Grupo de Trabalho e membro do Grupo Consultivo de Especialistas em Medicina de Transfusão Sanguínea da OMS, preparou um projecto inicial do documento com base nas provas e recomendações da consulta informal. Após exame e revisão internos, um projecto adiantado do documento foi posto em circulação entre os participantes à Reunião Plenária da Colaboração Mundial em Prol da Segurança Sanguínea (GCBS) realizada em 2006, rede estabelecida na OMS, e membros do Grupo de Trabalho sobre Doenças Transmissíveis por Transfusão da Sociedade Internacional de Transfusões. O projecto foi depois 9 submetido a um vasto processo de consulta e exame por especialistas internacionais, directores de Centros de Colaboração da OMS sobre transfusões, agências internacionais e governamentais e organizações não governamentais. Em 2007, convocou-se uma reunião consultiva de especialistas escolhidos com o fim específico de rever e abordar os comentários recebidos sobre o projecto avançado. A redacção técnica do projecto do documento nas suas várias fases de elaboração foi realizada por uma equipa redactorial e o projecto final foi submetido a uma revisão adicional por homólogos. Declaração de interesses Foram recolhidas declarações de conflito de interesses de todos os principais contribuintes. Nenhum colaborador do documento declarou conflito de interesses. Revisão e actualização das recomendações Considera-se que as recomendações deste documento serão válidas até 2014. A Equipa de Segurança Transfusional, Departamento de Tecnologias de Saúde Essenciais, na Sede da OMS em Genebra, deverá iniciar a revisão destas recomendações nessa altura. 10 2 Programa nacional de rastreio de sangue para detecção de infecções transmissíveis por transfusão 2.1 ELABORAÇÃO DE UM PROGRAMA NACIONAL DE RASTREIO DE SANGUE As autoridades nacionais de saúde e os serviços de transfusão são responsáveis por assegurar que políticas, normas, estratégias, sistemas e infra-estrutura estão estabelecidos para rastreio de infecções transmissíveis por transfusão em todas as dádivas de sangue total e seus componentes, antes da sua entrega para uso clínico ou industrial (2). Para reservas de sangue inócuo, suficientes para satisfazer as necessidades de transfusão em qualquer altura e em qualquer parte do país, incluindo regiões remotas, um programa de rastreio de sangue eficaz e bem organizado é fundamental. A concepção e desenvolvimento de um programa nacional de rastreio de sangue para detecção de infecções transmissíveis por transfusão exige entrar em linha de conta com certas questões: Existem sistemas para informação e recrutamento de dadores de sangue com pouco risco, voluntários e não remunerados? Qual é a parte das reservas de sangue correspondente à contribuição de dadores de sangue voluntários e não remunerados? Estão estabelecidos critérios nacionais de selecção e diferimento de dadores de sangue? Quais são as infecções transmissíveis por transfusão que devem ser detectadas? Qual é a incidência e prevalência destas infecções específicas na população em geral e na população de dadores de sangue? Para cada infecção, quais são os marcadores específicos a detectar? Há disponibilidade de testes de rastreio adequados? Concebeu-se para cada infecção transmissível por transfusão um algoritmo de rastreio adequado? Foi atribuído ao programa de rastreio de sangue um orçamento específico e suficiente? Existe uma infra-estrutura adequada, serviços e material para rastreio de sangue eficaz? O aprovisionamento de conjuntos de teste e reagentes de qualidade é adequado e regular? Existe um laboratório nacional de referência ou acesso a tais serviços? Há disponibilidade de serviços para testes de confirmação, aconselhamento e encaminhamento de dadores? 11 A partir das respostas a estas perguntas, pode ser elaborado um programa de rastreio para implementação da política nacional sobre rastreio de sangue para, da maneira mais segura e eficaz em relação ao custo, identificar e evitar a distribuição de dádivas reactivas a infecções específicas transmissíveis por transfusão. 2.2 POLÍTICA NACIONAL SOBRE RASTREIO DE SANGUE Cada país deve ter uma política nacional sobre rastreio de sangue incorporada na política nacional de sangue, que defina as exigências do país em rastreio de infecções transmissíveis por transfusão de todas as dádivas de sangue total e por aférese. A política deve definir rastreio obrigatório para infecções específicas e seus marcadores e rastreio de outras infecções transmissíveis por transfusão, com base em dados epidemiológicos nacionais sobre agentes patogénicos transmitidos pelo sangue. Também deve sublinhar as medidas que serão tomadas para assegurar que todos os rastreios são realizados num contexto de serviços de transfusão eficazes e de qualidade, e aprovisionamento sistemático e utilização mais eficiente dos recursos disponíveis. A necessidade e o papel de testes de confirmação também devem ser claramente definidos. 2.3 ESTRATÉGIA NACIONAL DE RASTREIO O rastreio laboratorial de dádivas de sangue é a medida que determina se uma dádiva é não-reactiva a marcadores de infecção específicos podendo assim ser distribuída para utilização clínica ou industrial. Cada país deve decidir quais as infecções transmissíveis por transfusão a submeter a rastreio como parte do programa de análise de sangue, e desenvolver uma estratégia de rastreio apropriada à sua situação específica. Isto será influenciado pela incidência e prevalência da infecção, a capacidade e infra-estrutura do serviço de transfusão, os custos de rastreio e os recursos disponíveis. Mas seja qual for a estratégia escolhida, o factor crítico é a sua implementação eficaz e firme no âmbito de um sistema de qualidade bem gerido. A estratégia nacional de rastreio proporciona um processo global de tomada de decisão sobre a maneira como os testes devem ser utilizados e interpretados e define os resultados do rastreio em relação à distribuição ou eliminação de uma dádiva de sangue. A estratégia deve definir, em termos gerais, a maneira como o rastreio deve ser realizado e proporcionar directrizes específicas sobre: Marcador(es) a detectar para cada infecção Teste(s) a utilizar para cada marcador Normas para a realização de testes, incluindo características da sua execução Sistemas de qualidade no âmbito dos quais o rastreio vai ser realizado Rastreio de sangue em situações específicas; por exemplo, em zonas remotas com pouca carga de trabalho e meios limitados, com falta de material ou possivelmente sem electricidade Rastreio de emergência quando há necessidade urgente de sangue Interpretação dos resultados de testes de rastreio, incluindo: 12 — A definição de dádivas de sangue inicialmente reactivas e nãoreactivas e as bases de tomada de decisão para a distribuição de dádivas não-reactivas de sangue total e seus componentes — Se os testes inicialmente reactivos devem ser repetidos ou dádivas inicialmente reactivas devem ser eliminadas; a inclusão de repetição de testes no âmbito da estratégia de rastreio é determinada pela eficácia do sistema de qualidade estabelecido (ver Secção 5) — O destino de dádivas inicialmente reactivas que no teste de confirmação são não-reactivas Procedimentos para quarentena e distribuição ou eliminação de sangue e seus componentes Se os testes de confirmação devem ser realizados para distinguir entre verdadeira reactividade e reactividade não específica para seguimento do dador Acções subsequentes para dadores cujos testes de sangue são repetidos reactivos mas não são confirmados positivos: i.e. se os dadores devem ser notificados e aconselhados em relação a possíveis resultados reactivos não específicos ou biologicamente falsos Retrospectiva sobre o dador e seguimento do receptor Eliminação segura de dádivas reactivas e positivas. A estratégia nacional de rastreio de sangue deve ser revista periodicamente para determinar se existe uma necessidade de qualquer alteração devido a novas provas ou alterações na epidemiologia da infecção na população em geral. Por exemplo, uma incidência crescente de infecção aumenta a probabilidade de dádivas de sangue de dadores recentemente infectados. Para assegurar o rastreio de tais infecções precoces, poderá ser preciso tomar medidas adicionais de rastreio de sangue. Da mesma maneira, uma incidência baixa ou em diminuição e uma prevalência de infecção baixa também podem exigir novo exame da estratégia existente. Estratégias de rastreio e de confirmação são explicadas com mais detalhes nas Secções 5 e 6. 2.3.1 Algoritmos de rastreio Um algoritmo de rastreio estabelece uma sequência de passos no processo de rastreio de sangue que devem ser seguidos em cada serviço para determinar a conformidade de cada dádiva de sangue e seus componentes para utilização clínica ou industrial. Especifica os testes actuais a utilizar e, com base em cada resultado, dirige o utilizador para a fase seguinte. A utilização de algoritmos de rastreio ajuda a assegurar coerência em testes de rastreio e decisões relativamente a distribuição de sangue analisado e seus componentes, a eliminação de dádivas impróprias e a seguimento de dadores de sangue com resultados de análise positivos confirmados. Para cada infecção transmissível por transfusão deve elaborar-se um algoritmo de rastreio. A concepção de um algoritmo será determinada pelo marcador específico da infecção a detectar, a competência dos utilizadores, a infra-estrutura, as condições de análise e sistemas de qualidade de cada serviço de rastreio. Uma vez o algoritmo definido, este irá orientar a aquisição dos necessários conjuntos de testes, reagentes e sistemas específicos de análise de laboratório. 13 Os algoritmos para rastreio de sangue e seguimento de dadores são tratados mais detalhadamente nas Secções 5 e 6. 2.4 ORGANIZAÇÃO E GESTÃO 2.4.1 Serviço(s) de transfusão de sangue A coordenação eficiente de serviços de transfusão a nível nacional é um requisito prévio para um programa nacional de rastreio de sangue efectivo e sustentável, sendo também necessária para aplicação uniforme de normas e medidas nacionais em todo o país. A coordenação é essencial para manter continuidade nas operações e uniformidade de execução em todos os serviços realizando rastreio de sangue, incluindo centros de transfusão e serviços baseados em hospital. Cada serviço de rastreio necessita de ter um orçamento específico e suficiente, uma infra-estrutura adaptada dispondo de aprovisionamento seguro de água e energia, boa manutenção do material e sistemas eficientes de transporte e telecomunicações. Pode obter-se maior eficiência e segurança reunindo actividades essenciais de rastreio de sangue numa rede de centros de sangue centrais e/ou regionais, estrategicamente localizados, com pessoal bem preparado, material apropriado e sistemas eficazes de aquisições e aprovisionamentos (16). Graças a economias de escala, isto permite minimizar os custos globais sem comprometer a qualidade. Por outro lado, o rastreio de sangue em muitos centros pequenos leva normalmente a desperdício de recursos valiosos e falta de normas uniformes (17). Em países com serviços de sangue instalados em hospitais, as autoridades nacionais de saúde devem avaliar a necessidade e possibilidade de consolidação de actividades de rastreio a nível nacional e/ou regional para que o programa nacional de rastreio possa ser implementado com mais eficiência e a menor custo. Isto exige um exame da situação pela identificação e mapeamento de todos os serviços existentes que fazem o rastreio de dádivas de sangue e uma avaliação da sua estrutura organizacional, infra-estrutura, recursos técnicos e humanos. A partir disto, pode efectuar-se uma avaliação das necessidades para identificar exigências e intervenções prioritárias para reforçar o rastreio de infecções transmissíveis por transfusão em dádivas de sangue. Isto permitirá o desenvolvimento de planos operacionais de nível nacional e regional implicando todas as partes interessadas pertinentes e, se indicado, reorganizando a estrutura e rede de serviços para rastreio de sangue. Os planos devem incluir um mecanismo de monitorização e avaliação, com uma referência, alvos e indicadores para medir o progresso e impacto em todos os serviços onde tem lugar o rastreio de infecções transmissíveis por transfusão em dádivas de sangue. 2.4.2 Laboratório de referência A maior parte dos países têm pelo menos um laboratório bem estabelecido com as competências e experiência pertinentes para poder ser designado como laboratório de referência. Um laboratório nacional de saúde/referência está geralmente indicado para este trabalho. Ou, o papel do laboratório de referência pode ser delegado a um laboratório de serviços de transfusão se este possuir instalações apropriadas, recursos adequados e um sistema de qualidade. Uma avaliação das necessidades para reforço do laboratório de referência pode ser necessária para assegurar a sua capacidade de apoio ao programa de rastreio de sangue. 14 O papel do laboratório de referência pode incluir: Avaliação e selecção de sistemas de análise e material Realização de testes de confirmação de dádivas de sangue reactivas para seguimento do dador Reservas de amostras de controlo de qualidade Organização de esquemas de avaliação externa de qualidade. 2.5 RECURSOS FINANCEIROS E HUMANOS Um investimento em medidas de segurança de sangue para evitar infecções transmitidas por transfusão tem melhor relação custo-eficácia do que permitir a expansão de infecções transmissíveis por transfusão que exercem pressões adicionais e evitáveis nos sistemas de saúde. Todos os países devem assegurar disponibilidade de recursos suficientes e sustentáveis para programas de rastreio de sangue eficientes e abrangentes que garantam rastreio de grande qualidade de todas as dádivas de sangue para detecção de infecções transmissíveis por transfusão. Para uma utilização óptima de recursos limitados para cuidados de saúde, o programa de rastreio deve assegurar equilíbrio entre a aplicação e implementação de bons princípios científicos e a melhor utilização dos recursos disponíveis. A melhor maneira de implementar novos sistemas para rastreio é proceder passo a passo com atribuição de recursos apropriados ao estabelecimento de sistemas operacionais de qualidade. As actividades laboratoriais associadas a rastreio de sangue, incluindo a implementação de sistemas de qualidade, devem poder dispor de pessoal qualificado e treinado em número suficiente. Programas de formação no local de trabalho devem ser estabelecidos e avaliados a intervalos apropriados para definir áreas onde seja necessário mais treino ou novo treino. A competência do pessoal no desempenho dos seus papéis, segundo os padrões exigidos, deve ser avaliada numa base regular. Os serviços de transfusão devem trabalhar com as autoridades nacionais da saúde e do ensino para assegurar que as instituições de ensino e formação proporcionam oportunidades adequadas para qualificações e formação. Devem adoptar-se medidas para proporcionar oportunidades de progressão de carreira e reter pessoal experimentado a fim de assegurar o funcionamento eficaz dos laboratórios. 2.6 AVALIAÇÃO, ESCOLHA E VALIDAÇÃO DE SISTEMAS DE TESTES Os sistemas de testes devem ser sistematicamente avaliados e seleccionados antes da aquisição e depois validados em cada serviço de rastreio antes da sua introdução para utilização de rotina. Nos casos em que os recursos e as competências são limitados, pode ser apropriado utilizar dados de avaliação de fontes externas para verificar testes e sistemas potenciais. Contudo, em qualquer dos casos, é essencial definir e estabelecer um processo eficaz para assegurar que só serão introduzidas novas análises e sistemas depois de investigação, avaliação e certificação apropriadas. O custo não deve ser utilizado como base para a escolha de um teste, excepto se o resultado de outros testes estudados for comparável. Avaliação, escolha e validação de testes de rastreio são tratadas mais detalhadamente na Secção 3. 15 2.7 SISTEMAS LABORATORIAIS DE QUALIDADE Sistemas eficazes de qualidade são essenciais para a efectividade global do programa de rastreio de sangue e para minimizar a transmissão de infecções via transfusões. Os sistemas de qualidade não devem estar limitados unicamente a laboratórios, mas abranger todas as actividades do serviço de transfusões para assegurar que todas as dádivas são correctamente analisadas e devidamente manipuladas antes e depois do teste laboratorial. A implementação de padrões de qualidade garantirá aos pacientes segurança e eficácia clínica do sangue e produtos sanguíneos, assim como protecção da saúde e segurança do pessoal. Os sistemas de qualidade em rastreio de sangue são tratados na Secção 7. 2.8 AQUISIÇÃO E APROVISIONAMENTO DE TESTES E REAGENTES A continuidade em fornecimento de testes, reagentes e artigos de consumo depende de sistemas de aquisição e aprovisionamento seguros. Variações frequentes em testes e reagentes podem afectar o sistema de qualidade pois para cada um seria exigido avaliação e validação, e documentação e formação apropriadas antes da sua utilização. Interrupções em aprovisionamento de testes e reagentes podem resultar em incapacidade temporária de serviços de rastreio em detectar infecções transmissíveis por transfusão, tendo de entregar para transfusão sangue não analisado. Um sistema nacional de aquisições exigirá o desenvolvimento de especificações para material, conjuntos de testes, reagentes e artigos de consumo e avaliação das quantidades e tipos exigidos. A implementação de uma central de aquisições a granel, com um sistema eficiente de distribuição, resultará provavelmente em importantes economias em custos, simplificará a gestão das reservas e permitirá manter um aprovisionamento sem interrupções de testes e reagentes. A OMS e outras agências técnicas têm serviços de aquisição para aumentar o acesso a testes economicamente acessíveis de qualidade garantida que são apropriados para utilização em contextos de recursos limitados1. O serviço de transfusão deve ter estabelecido um sistema eficiente de gestão da cadeia de aquisições para monitorizar as datas de expiração dos conjuntos de testes e reagentes e gerir as reservas a fim de manter um aprovisionamento sem interrupção. O sistema deve incluir procedimentos para assegurar a verificação dos números das cargas de todos os conjuntos de testes e reagentes e seus fabricantes. É essencial manter contactos regulares com fornecedores para assegurar que estes estão perfeitamente a par das exigências sobre conjuntos de testes e reagentes, incluindo taxas de utilização e frequência de aprovisionamento exigida. Isto deve permitir aos fornecedores assegurar disponibilização contínua de reservas para entrega, quando pedido. 2.9 ARMAZENAGEM E TRANSPORTE Todos os conjuntos de testes e reagentes devem ser armazenados e transportados em condições controladas. O serviço de transfusão deve assegurar que, em cada www.who.int/diagnostics_laboratory/procurement/en/ 1 16 laboratório de rastreio, existem sistemas seguros da cadeia do frio para garantir conformidade em todos os momentos (18). Para reservas máximas normais de todos os conjuntos de testes e reagentes deve haver disponibilidade de material de armazenagem apropriado com controlo de temperatura, em conformidade com especificações definidas (19). Os conjuntos de testes e reagentes devem ser sempre transportados e armazenados segundo as instruções dos fabricantes. A maioria dos conjuntos de testes e reagentes exigem armazenagem a uma temperatura específica, oscilando normalmente entre +2°C e +8°C. O transporte a temperaturas ambiente pode ser aceite para curtos períodos de tempo e em climas temperados. Em climas com temperaturas extremas, quentes ou frias, os conjuntos de testes e reagentes devem ser transportados em condições de controlo total a temperaturas especificadas, tais como entre +2°C e +8°C. 2.10 MECANISMOS REGULADORES Cada país deve estabelecer mecanismos reguladores com funções de vigilância para as actividades do serviço de transfusões, incluindo rastreio de sangue, funções que podem ser exercidas por representantes da autoridade sanitária nacional ou através de uma agência governamental de regulação apropriada. Devem ter conhecimentos e competência em actividades de transfusão para avaliar os serviços de transfusão conforme, segundo o caso, padrões nacionais e internacionais apropriados. Estas avaliações podem ser formalizadas como um sistema de inspecção, autorização, certificação e/ou acreditação e podem implicar não só os serviços de transfusão, mas também actividades relacionadas com transfusão a nível hospitalar. Um sistema de vigilância eficaz dá, a todas as partes interessadas, confiança no serviço de transfusão. 17 3 Testes de rastreio 3.1 TIPOS DE TESTES Durante as três últimas décadas foram elaborados vários tipos de testes para rastreio de sangue. Os mais vulgarmente utilizados são destinados a detectar anticorpos, antigénios ou o ácido nucleico do agente infeccioso. Contudo, nem todos os testes estão indicados em todas as situações e cada um tem os seus limites que é preciso compreender e entrar em linha de conta quando se faz a escolha. Os principais tipos de testes utilizados para rastreio de sangue são: Imunotestes (IAs): — testes imunoenzimáticos (EIAs) — testes de quimioluminescência (CLIAs) — testes de hemaglutinação (HA)/aglutinação de partículas (PA) — testes de utilização única rápidos/simples (testes rápidos) Testes com tecnologia de amplificação de ácido nucleico (NAT) No contexto de rastreio de sangue, a escolha do tipo de teste para cada infecção transmissível por transfusão, exige uma avaliação apropriada segundo características precisas do teste, tais como sensibilidade e especificidade, assim como custo e facilidade de utilização. 3.1.1 Imunotestes Os imunotestes são sistemas de testes disponíveis em vários modelos que podem ser utilizados para detectar anticorpos, antigénios ou uma combinação dos dois. Geralmente, os testes mais simples de detecção de anticorpos baseiam-se na utilização de antigénio imobilizado que capta qualquer anticorpo específico presente na amostra (IA indirecto). Os testes de detecção de antigénios vulgarmente utilizados são baseados na utilização de anticorpos imobilizados para captar antigénios patogénicos específicos presentes na amostra. Os imunotestes podem ser utilizados em diversas situações desde laboratórios com grande produtividade operacional completamente automatizados a laboratórios menos importantes semi-automatizados a pequenos laboratórios, tais como os instalados em zonas remotas, realizando anualmente um pequeno número de testes. Testes imunoenzimáticos (EIAs) e imunotestes quimioluminescentes (CLIAs) Os imunotestes ligados a enzimas e quimiluminescentes são actualmente os testes mais vulgarmente utilizados para rastreio de infecções transmissíveis por transfusão em dádivas de sangue. A concepção dos dois testes é semelhante diferindo unicamente no modo de detecção dos complexos imunes formados – produção de cor em EIAs e medida da luz produzida por uma reacção química em CLIAs. Geralmente, qualquer destes tipos de imunoteste com grande sensibilidade irá detectar os marcadores alvo da infecção se forem devidamente avaliados para rastreio de sangue e depois utilizados em condições de qualidade. 18 Os testes EIAs e CLIAs estão indicados para o rastreio de grande número de amostras e necessitam de uma gama de material específico. Estes testes podem ser realizados quer manualmente quer em sistemas de processamento de testes automatizados não exclusivos (sistema aberto). Também podem ser fabricados especialmente para funcionar em sistemas específicos automatizados exclusivos (sistema fechado). Os testes EIAs e CLIAs têm fases sólidas diferentes para imobilizar o antigénio ou anticorpo. Mais vulgarmente, as fases sólidas utilizadas são: Base e lados de um alvéolo/poço em poliestireno Superfície de poliestireno ou outro material Micro partículas Superfícies de dispositivos descartáveis exclusivos e específicos utilizados em sistemas de testes completos automatizados; variam segundo o fabricante, mas são normalmente de poliestireno Tiras de nylon ou membrana nitrocelulose, especialmente utilizada no teste de Western blot e testes em linha. Testes de aglutinação de partículas Os testes de aglutinação de partículas detectam a presença de anticorpos ou antigénios específicos numa amostra de teste pela aglutinação de partículas recobertas, respectivamente, com o antigénio ou anticorpo específico complementar. Os testes de aglutinação, principalmente testes com anticorpos, utilizam uma gama de partículas incluindo células vermelhas (hemaglutinação) e partículas inertes como gelatina e latex. Esta utilização de partículas inertes tem a vantagem de reduzir reactividade não específica contra reacção cruzada de antigénios de células vermelhas. Os princípios básicos de hemaglutinação e testes de aglutinação de partículas são os mesmos, independentemente do tipo de partículas utilizadas. Os testes de aglutinação de partículas ainda são muito utilizados para a detecção de anticorpos de sífilis. Os testes de aglutinação de partículas não implicam acções múltiplas nem necessitam de lavadores. Num sistema manual, a leitura dos resultados está dependente de avaliação subjectiva e não se pode guardar nenhum registo permanente dos resultados de testes. Os testes de aglutinação de partículas estão indicados para rastreio de muitas amostras de sangue, incluindo por meios automatizados. Testes de utilização única rápidos/simples (testes rápidos) Os testes de utilização única rápidos/simples são testes discretos, individuais, descartáveis: i.e. utilizados uma vez e eliminados. Existem num certo número de apresentações diferentes. Muitos testes rápidos são baseados numa forma de cromatografia imune na qual a amostra escorre numa tira inerte e reage com reagentes previamente imobilizados. A amostra pode ser soro, plasma ou, em certos casos, mesmo sangue total. Um ponto ou uma banda que aparece na tira do dispositivo representa uma reacção positiva. A maior parte dos testes também incluem um ponto ou banda de controlo que é utilizada para confirmar os resultados de cada dispositivo individual, independentemente do resultado do teste específico. Os testes rápidos são fornecidos em modelos de utilização fácil que geralmente não necessitam de outros reagentes além dos fornecidos no conjunto do teste. 19 A informação é visual obtendo-se um resultado qualitativo simples no espaço de alguns minutos. A leitura dos resultados depende da avaliação subjectiva e não se pode guardar nenhum registo permanente dos resultados originais dos testes. Os testes rápidos não tão normalmente indicados para rastreio de muitas amostras de sangue. 3.1.2 Testes com tecnologia de amplificação de ácido nucleico A tecnologia de amplificação de ácido nucleico (NAT), aplicada a rastreio de sangue, detecta a presença de ácido nucleico viral, ADN ou ARN, em amostras de dádivas. Nesta tecnologia, um segmento específico de ARN/ADN do vírus é visado e ampliado in vitro. A amplificação permite a detecção de baixos níveis de vírus na amostra original pois aumenta a quantidade do segmento específico presente para um nível facilmente detectável. A presença de ácido nucleico específico indica a presença do vírus e a probabilidade da dádiva ser infecciosa. Os testes de amplificação de ácido nucleico podem ser realizados em dádivas individuais ou em grupos pequenos para detectar o ácido nucleico do agente infeccioso. Além dos testes de amplificação de ácido nucleico que visam ácidos nucleicos virais individuais, foram desenvolvidos testes múltiplos de amplificação de ácido nucleico que podem detectar, simultaneamente, ADN ou ARN de múltiplos vírus. 3.2 ESCOLHA DE TESTES A escolha de testes apropriados é uma parte crítica do programa de rastreio. A confiança nos resultados depende da utilização sistemática de testes confirmados e eficazes. Para escolher os testes mais apropriados é preciso entrar em linha de conta com um certo número de factores. Em geral, deve haver um equilíbrio entre necessidades de rastreio e recursos disponíveis, incluindo finanças, pessoal e suas competências, material, artigos de consumo e descartáveis. Cada sistema de rastreio tem as suas vantagens e limites que devem ser tomados em consideração quando se seleccionam testes. Alguns limites incluem: O período de tempo após a infecção e antes do teste de rastreio ser reactivo (período latente/’janela’) As taxas de resultados biológicos falsamente positivos que podem resultar em desperdício de dádivas e diferimento desnecessário de dadores A complexidade de certos sistemas que exigem automatização. Na maioria das situações, os testes imunoenzimáticos, quimioluminescentes e de amplificação de ácido nucleico elaborados especificamente para rastreio de sangue são os testes escolhidos pois estão indicados para rastreio de amostras tanto em números relativamente pequenos como grandes. Além disso, os modelos permitem registo e análise mais objectivos dos resultados do que testes rápidos. Contudo, há necessidade de uma avaliação científica rigorosa de todos os testes antes da sua utilização para determinar a sua conformidade em termos de sensibilidade, e quando possível, especificidade nas situações em que serão utilizados. Enquanto os imunotestes possam na maior parte das vezes serem imunoenzimáticos (EIAs) utilizando microplacas ou quimioluminescentes (CLIAs) baseados em sistema específico, a utilização de dispositivos simples/ rápidos descartáveis pode ser apropriada em certas situações. A maior parte dos testes EIAs e CLIAs têm maior sensibilidade e especificidade do que testes de aglutinação de partículas ou testes rápidos. A sua fabricação e 20 prestação são geralmente mais seguras e coerentes e têm melhores resultados para rastreio de sangue. Os testes de aglutinação de partículas de grande qualidade não são disponíveis comercialmente para todos os marcadores de rotina para os quais se faz o rastreio do sangue. Dado que os testes rápidos/simples são concebidos para análise imediata e rápida de pequenos números de amostras, principalmente para fins de diagnóstico, não são geralmente recomendados para rastreio de sangue. Estes testes são realizados utilizando técnicas manuais; assim, os resultados têm de ser copiados pelo pessoal e há falta de registos permanentes e seguimento. Por isso, em laboratórios onde a carga de trabalho é média a alta, a sua utilização pode ser limitada. Contudo, atendendo à sua flexibilidade e à não necessidade de material importante, a sua utilização pode ser considerada em pequenos laboratórios com recursos limitados e realizando unicamente um pequeno número de testes por dia. Também podem ser apropriados quando um laboratório precisa de analisar dádivas específicas, num caso de emergência para entrega imediata de produtos devido a uma reserva de sangue gravemente baixa ou quando há necessidade urgente de sangue raro. Em tais situações de emergência, a utilização de teste rápido/simples deve ser seguida de análise repetida utilizando EIA, CLIA ou teste de aglutinação de partículas se estes testes são utilizados por rotina. A introdução da tecnologia de amplificação de ácido nucleico só deve ser encarada quando está estabelecido um programa eficiente e eficaz baseado na análise anticorpo/antígeno (20), e apresenta um benefício adicional provado e evidente. Embora a tecnologia de amplificação de ácido nucleico reduza o período latente, em países com uma incidência de infecção baixa, o proveito é mínimo pois o número de dadores nesse período no local da dádiva é geralmente muito baixo. Contudo, em países com uma grande incidência de infecção, há provavelmente números importantes de dádivas do período latente que podem ser identificadas pela tecnologia de amplificação de ácido nucleico (21). Assim, embora o risco de transfusões de uma unidade de sangue colhida durante o período latente possa ser diminuído utilizando a tecnologia de amplificação de ácido nucleico, o verdadeiro benefício na maioria das populações deve primeiro ser determinado e comparado à complexidade e alto custo deste teste, incluindo a infra-estrutura exigida (22-24). Para países com recursos suficientes, a tecnologia de amplificação de ácido nucleico oferece certos benefícios quando combinada com testes anticorpo/ antígeno. Contudo, o benefício potencial da detecção precoce de infecções e da prevenção de possível transmissão de infecções deve ser avaliado em relação a certos factores: incidência e prevalência de infecções na população de dadores de sangue, efectividade do processo de selecção de dadores de sangue, sensibilidade do rastreio serológico correntemente realizado e possibilidade de a reforçar, por exemplo, graças à utilização de testes serológicos mais sensíveis tais como testes de combinação anticorpos/antígenos. 3.3 CARACTERÍSTICAS ESSENCIAIS DOS TESTES Ao seleccionar um teste específico, os factores essenciais a considerar são sensibilidade e especificidade. Para o rastreio de sangue, o nível de sensibilidade como o de especificidade deve ser o mais alto possível. Cada teste deve ser avaliado no país ou região para confirmar os dados técnicos fornecidos em relação a execução do teste e, se possível, devem analisar-se dados de outros estudos. Pode acontecer que os resultados realmente obtidos em situações de rastreio de rotina nem sempre correspondam aos resultados esperados pois os testes 21 são realizados por diferentes categorias de pessoal em condições diferentes. A confiança e uniformidade do teste serão determinadas por um certo número de factores relacionados com o teste e com o laboratório específico no qual é utilizado. Cada teste deve ser certificado no seu local de utilização para assegurar que a execução corresponde como previsto aos resultados da avaliação. Os factores específicos de testes incluem: Apresentação do teste Clareza das instruções Facilidade de utilização Características do teste, incluindo sensibilidade e especificidade Volume da amostra Monitorização da junção amostra e reagente Robustez Reprodutibilidade e precisão do teste Número de provas por teste Tamanho do conjunto Tempo total do teste Os factores específicos de laboratório incluem: Número de amostras a analisar Nível do pessoal Competência do pessoal Material disponível Nível do sistema de qualidade do laboratório Logística que deve ser tomada em consideração: Selecção e validação do vendedor Preço Sistema de aquisições Disponibilidade e segurança do fornecimento de conjuntos de testes e reagentes Tempo de conservação de conjuntos de testes e reagentes Infra-estrutura: e.g. condições de armazenagem controladas e fornecimento de energia sem interrupção Apoio técnico para resolver problemas Manutenção do material. 3.4 AVALIAÇÃO DE TESTES Os testes produzidos pelas principais companhias internacionais de diagnósticos são geralmente bem concebidos e normalmente avaliados cientificamente, tanto pelos próprios fabricantes como por laboratórios independentes, antes do seu lançamento no mercado. A OMS tem um programa de pré-qualificação de diagnósticos2 que proporciona informação técnica e aconselhamento sobre a www.who.int/diagnostics_laboratory/evaluations www.who.int/diagnostics_laboratory/publications/evaluations/en/index.html www.who.int/bloodproducts/ref_materials/en/ 2 22 qualidade dos conjuntos e sistemas de testes correntemente disponíveis para VIH/SIDA, paludismo e hepatite B e C, com o objectivo de aumentar o acesso a tecnologias de diagnóstico economicamente acessíveis, de qualidade garantida e apropriadas para utilização em contextos de recursos limitados. Os dados da folha de informação incluída na embalagem dos conjuntos e a literatura científica também proporcionam informações úteis orientando a selecção de vendedores, plataformas experimentais e testes específicos. Contudo, avaliações de testes bem planeadas e documentadas antes da sua aquisição são essenciais para assegurar as escolhas mais apropriadas entre as opções disponíveis. As avaliações de testes são necessárias para determinar cientificamente os testes mais indicados para utilização em certas situações. As avaliações devem ser feitas pelo menos num serviço importante, mas certos serviços de transfusão podem não ter recursos, competência, experiência e, o que é muito importante, nem painel de amostras necessárias. Em tais situações, as avaliações devem ser realizadas por um laboratório pertinente, tal como o laboratório nacional de referência, em nome do serviço de transfusão sanguínea e em colaboração estreita com o mesmo. Não havendo disponibilidade de nenhum de tais serviços, os dados de avaliação requeridos devem ser obtidos junto de um serviço de transfusão ou laboratório de referência de outro país com demografia, incidência e prevalência de infecção e exigências do serviço de transfusão semelhantes, de preferência na mesma região. Também se deve fazer referência a informação disponível junto de laboratórios algures na região ou outras partes do mundo. O processo de avaliação consiste normalmente em realizar cada teste a considerar segundo painéis de amostras escolhidos que irão comparar o teste e fornecer resultados estatisticamente válidos. Os painéis são geralmente compostos de: Amostras verdadeiramente positivas e amostras verdadeiramente negativas nas quais se determina, respectivamente, a sensibilidade e a especificidade Amostras recolhidas durante a seroconversão Amostras positivas de nível fraco: por exemplo, amostras obtidas no estado muito inicial ou muito avançado da infecção Amostras cobrindo uma gama de diferentes genótipos e/ou serótipos dando prioridade a amostras locais Amostras conhecidas como não especificamente reactivas ou amostras potencialmente reactivas entre si: i.e. amostras de pacientes não infectados com a infecção visada, mas com uma gama de afecções clinicamente pertinentes tais como hipergamaglobulinemia, outras infecções ou doença auto-imune. O tamanho total dos painéis será determinado pela disponibilidade local mas, geralmente, quantas mais amostras forem analisadas, mais útil e de confiança é a informação obtida. É especialmente importante incluir o maior número possível de exemplos de infecções localmente adquiridas, especialmente amostras de dadores de sangue previamente reactivas e confirmadas como infectadas. O estudo dos resultados identificará o teste que dá o melhor rendimento global em comparação com todas as amostras analisadas. Assim, é importante que os painéis sejam o mais largos possíveis e que o desempenho global seja verificado no contexto da utilização prevista do teste. Cada país deve determinar os níveis mínimos de sensibilidade e especificidade exigidos para cada teste. A avaliação deve cobrir números suficientes de amostras que se sabe serem anticorpos positivos e negativos para assegurar 23 que os resultados são estatisticamente significativos. Recomenda-se que os níveis mínimos avaliados de sensibilidade e especificidade de todos os testes utilizados em rastreio de sangue sejam os mais altos possíveis e de preferência não inferiores a 99,5%. 3.5 MONITORIZAÇÃO DA EXECUÇÃO DE TESTES Em rastreio de sangue, a execução de testes deve ser continuamente monitorizada a fim de identificar qualquer alteração que ocorra e que, sem correcção, pode no final resultar em insucesso quer na execução quer na detecção de amostras verdadeiramente positivas de baixo nível. A execução é normalmente assegurada monitorizando um ou mais parâmetros com possibilidades de alteração relativamente rápida devido a qualquer alteração na execução ou utilização do teste (o teste ou o agente/sistema realizando o teste). Estes parâmetros incluem: Resultados de controlo de qualidade de amostras Valores de controlo de testes Repetição da reactividade A utilização de amostras apropriadas de controlo de qualidade (QC) incluídas em cada grupo de testes realizados darão rapidamente origem a dados úteis e de confiança para monitorização. Neste contexto, um grupo de testes pode ser qualquer conjunto definido de testes; por exemplo, uma única microplaca é um conjunto de testes e pelo menos uma amostra de controlo de qualidade externo pode ser incluída em cada placa. Os controlos de qualidade externos não substituem controlos internos (conjuntos). As amostras de controlo de qualidade são normalmente amostras bem caracterizadas, individuais ou agrupadas, quando possível calibradas segundo padrões internacionais, e diluídas numa matriz apropriada. Tais amostras podem ser utilizadas como controlos externos “go/no-go”, em cujo o caso a amostra(s) de controlo de qualidade tem de ser reactiva para a execução do teste ser válida. Não havendo disponibilidade de amostras de controlo de qualidade, a detecção dos valores de controlo do teste pode ser utilizada como uma alternativa para estabelecer a coerência da execução. Em todos os casos onde se utilizem valores quantitativos, tais como valores de densidade óptica (OD) de testes imunoenzimáticos (EIAs), os resultados devem ser normalizados para permitir comparações entre sequências diferentes e, até certo ponto, entre testes diferentes. O valor normalizado de densidade óptica é calculado da seguinte maneira: Testes EIAs não competitivos: dividir o valor da densidade óptica da amostra pelo valor limite da densidade óptica Testes competitivos: dividir o valor limite da densidade óptica pelo valor da densidade óptica da amostra A proporção obtida pode então ser comparada directamente com as proporções criadas por qualquer outra sequência do teste, incluindo lotes de diferentes fabricantes. A análise é menos objectiva em situações em que os resultados de testes são qualitativos, tal como nos testes de aglutinação de partículas. Contudo, a amostra de controlo de qualidade pode ser utilizada para determinar se os resultados da sequência do teste são válidos. No caso de não ser, a sequência do teste deve ser repetida. 24 3.6 EMPREGO DE AUTOMATIZAÇÃO PARA REALIZAÇÃO DE TESTES O emprego de automatização é uma consideração importante para serviços de transfusão que realizam um grande número de testes de rastreio. Enquanto todos os testes imunoenzimáticos (EIAs) precisam de um nível básico de automatização (lavadores e leitores de placas automatizados), existem sistemas de rastreio muito sofisticados e automatizados que podem executar todos os aspectos de um imunoteste, desde obtenção de amostras até à análise final dos resultados. Estes sistemas realizam imunotestes de qualquer fabricante importante e são chamados sistemas “abertos”; apoiam-se geralmente em microplacas e o material e os testes não estão ligados. Sistemas exclusivos, conhecidos como sistemas “fechados”, são totalmente automatizados e só utilizam testes específicos e exclusivos com todos os reagentes e controlos necessários produzidos por, ou em colaboração com, o fabricante do material. Dependendo do número de amostras de dádivas a submeter a rastreio todos os dias e dos recursos disponíveis, a utilização de um sistema totalmente automatizado pode oferecer vantagens importantes em termos de qualidade, especialmente se o sistema gera as amostras assim como executa todas as fases do teste. Os sistemas automatizados oferecem geralmente um alto nível de estabilidade e reprodutibilidade em execução de testes e também podem ajudar a reduzir erros humanos. Contudo, têm outras exigências específicas, incluindo necessidades especiais de formação de pessoal, manutenção e calibragem regular e competente, e pode implicar maiores capitais e custos de funcionamento. Cada um dos sistemas, aberto e fechado, tem as suas vantagens e desvantagens mas, em geral, um sistema aberto oferece maior flexibilidade e, embora a contribuição técnica e as competências exigidas ao utilizador sejam muitas vezes maiores, pode ser mais eficaz em relação ao custo. Tal como na escolha de tipos de testes, a carga global de trabalho é um factor importante para determinar se a automatização é apropriada. Os sistemas automatizados são particularmente úteis quando se analisam regularmente grande número de amostras. A níveis de carga de trabalho inferiores, onde se realizam os testes EIAs, pelo menos lavadores e leitores de placas são essenciais. 3.7 NOVOS TESTES E TECNOLOGIAS A disponibilização de novas tecnologias de segurança do sangue é constante o que pode oferecer novas oportunidades a programas de rastreio de sangue. Embora seja importante estar ao corrente de progressos científicos e tecnológicos, estes podem ou não oferecer vantagens ou melhoramentos importantes sobre práticas correntes. No contexto de rastreio de dádivas de sangue, a utilização de uma nova tecnologia só é geralmente uma vantagem se a tecnologia correntemente utilizada tem deficiências para identificar dádivas infectadas ou se oferece economias de custo e benefícios em eficiência sem reduzir a eficácia global do actual programa de rastreio. Antes da introdução de qualquer nova tecnologia num programa de rastreio de sangue, tal tecnologia deve ser perfeitamente investigada e sistematicamente avaliada. Mesmo havendo uma vantagem potencial, a praticabilidade de implementação de uma nova tecnologia deve ser perfeitamente estudada, incluindo as necessidades de infra-estrutura, financiamento, nível do pessoal, formação e sistemas de qualidade. Como os custos globais da implementação podem não compensar qualquer benefício potencial em termos de maior segurança de sangue, deve fazer-se um estudo de rentabilidade e ver se o resultado é favorável. 25 4 Rastreio de infecções transmissíveis por transfusão 4.1 INFECÇÕES TRANSMISSÍVEIS POR TRANSFUSÃO Os agentes microbianos com importância para os serviços de transfusão de sangue são os transmissíveis por transfusão e capazes de causar mortalidade e morbilidade em receptores. Para ser transmissível pelo sangue, o agente infeccioso ou a infecção tem normalmente as seguintes características: Presença no sangue durante períodos longos, algumas vezes com titulação alta Estabilidade em sangue guardado a 4°C ou temperatura inferior Período de incubação longo antes do aparecimento de sinais clínicos Fase assintomática ou unicamente sintomas fracos no dador de sangue, por isso não identificável durante o processo de escolha de dadores de sangue (25). As infecções que sistematicamente respondem a estes critérios incluem as descritas na Secção 4.2. Como durante tratamentos com transfusão os pacientes recebem grandes volumes de sangue ou de componentes de sangue, mesmo uma unidade de sangue com uma carga viral baixa pode causar infecção. É imperativo que os serviços de transfusão tenham sistemas eficazes de rastreio para detectar, separar e remover das reservas utilizáveis em quarentena as dádivas de sangue reactivas e todos os componentes derivados de tais dádivas. Só devem ser enviados para utilização clínica ou industrial o sangue e componentes sanguíneos não reactivos. Os vários marcadores de infecção aparecem em momentos diferentes depois da infecção. Cada infecção transmissível por transfusão tem um ou mais períodos latentes, desde alguns dias a meses, dependendo do agente infeccioso, do marcador e tecnologia de rastreio utilizados. Durante esse período, o marcador referido ainda não é detectável num indivíduo infectado recentemente, mesmo se o indivíduo pode estar infeccioso. O ácido nucleico, como parte do próprio agente infeccioso, é o primeiro marcador detectável a aparecer, seguido dias depois por antigénio e subsequentemente, por anticorpo, à medida que se desenvolve a resposta imunitária. Um marcador ou uma combinação de marcadores de infecção podem ser utilizados para, durante o processo de rastreio, detectar uma dada infecção. Vários sistemas de testes elaborados para rastreio de sangue detectam: Anticorpos que indicam uma resposta imune ao agente infeccioso Antígenos que são produzidos pelo agente infeccioso e indicam a presença desse agente O ácido nucleico (AND/ARN) do agente infeccioso. 26 Em países não endémicos, onde a população de dadores de sangue inclui viajantes ou migrantes de zonas endémicas, pode haver necessidade de estratégias alternativas com base em diferimento selectivo de dadores de sangue e/ou testes de rastreio se houver disponibilidade de testes apropriados. Da mesma maneira, certas infecções, como por citomegalovírus humano (CMV), representam um risco unicamente para certos grupos de receptores. Nesta situação, o rastreio selectivo de dádivas para estes receptores específicos é normalmente aceite. RECOMENDAÇÕES GERAIS Para minimizar o risco de transmissão de infecções por transfusão: 1 Todas as dádivas de sangue total e de componentes por aférese devem ser analisadas para detecção de provas da presença de infecção antes da entrega de sangue e seus componentes para utilização clínica ou industrial. 2 O rastreio de todas as dádivas de sangue deve ser obrigatório para as seguintes infecções e utilizando os seguintes marcadores: VIH-1 e VIH-2: rastreio de uma combinação de antigéniosanticorpos do VIH ou de anticorpos do VIH Hepatite B: rastreio do antigénio de superfície (AgHBs) de hepatite B Hepatite C: rastreio de uma combinação de antigénios-anticorpos do VHC ou de anticorpos do VHC Sífilis (Treponema pallidum): rastreio de anticorpos treponemicos específicos. 3 O rastreio de dádivas para detecção de outras infecções, tais como as causadoras de paludismo ou doença de Chagas, deve ser baseado em provas epidemiológicas locais. 4 A análise deve ser realizada utilizando testes de grande sensibilidade e especificidade que foram especificamente avaliados e validados para rastreio de sangue. 5 Análises de qualidade assegurada de todas as dádivas devem estar estabelecidas antes de se considerar outras tecnologias tais como testes utilizando ácido nucleico. 6 Só deve ser disponibilizado para uso clínico ou industrial o sangue e componentes de sangue de dádivas que não são reactivas em todos os testes de rastreio para todos os marcadores. 7 Todas as amostras reactivas devem ser claramente marcadas, retiradas do lote em quarentena e guardadas separadamente e seguramente até serem destruídas com segurança ou guardadas para fins de garantia de qualidade ou de investigação, de acordo com as políticas nacionais. 8 As dádivas apresentando reacção devem ser submetidas a testes de confirmação para notificação, aconselhamento e encaminhamento de dadores para tratamento, diferimento ou nova convocação para dádivas futuras, e revisão de dádivas prévias. 27 4.2 AGENTES INFECCIOSOS TRANSMISSÍVEIS POR TRANSFUSÃO PARA OS QUAIS SE RECOMENDA RASTREIO UNIVERSAL DE TODAS AS DÁDIVAS EM TODOS OS PAÍSES Para fornecimento de sangue seguro, recomenda-se como obrigatório o rastreio das seguintes quatro infecções transmissíveis por transfusão, podendo causar doença crónica com consequências graves possíveis e apresentando o maior risco de infecção para os receptores de transfusão: Vírus de imunodeficiência humana (VIH) Vírus da hepatite B (VHB) Vírus da hepatite C (VHC) Treponema pallidum (sífilis). Muito importante, os riscos de infecção podem ser virtualmente eliminados se o rastreio das dádivas de sangue é realizado com grande qualidade. Devem ser feitos todos os esforços para implementar rastreio universal destas quatro infecções nos países onde tal exame não está totalmente estabelecido. Todas as dádivas de sangue devem ser submetidas a rastreio de, pelo menos, um marcador serológico apropriado para cada uma das quatro infecções. O rastreio de outros marcadores para estas infecções e para outros agentes infecciosos transmissíveis por transfusão pode então ser considerado, dependendo do risco, logística e nível dos recursos disponíveis. 4.2.1 Vírus de imunodeficiência humana Agente O vírus de imunodeficiência humana (VIH) é um retrovírus, um vírus envolvido por envelope de ARN, que é transmissível por via parentérica. Pode ser encontrado no sangue e outros líquidos orgânicos. Uma vez na circulação sanguínea, o vírus infecta e replica-se essencialmente em linfócitos. O ácido nucleico viral permanece integrando o ADN da célula hospedeira. Foram identificados diferentes grupos e subtipos com certas diferenças antigénicas importantes; VIH-1 e VIH-2 são os dois principais tipos distintos de vírus e existe uma importante reactividade cruzada entre eles. O VIH-1 é actualmente endémico em muitas partes do mundo embora a sua incidência e prevalência seja baixa em certas regiões. O grupo M de VIH-1 é responsável de mais de 99% das infecções em todo o mundo, enquanto a prevalência de VIH-2 está principalmente limitada a países da África Ocidental e Índia. Também foram observadas na África algumas infecções com o grupo O e grupo N do VIH. O aparecimento de anticorpos marca o início e persistência de infecção, mas não imunidade. Transmissibilidade Como o VIH pode estar presente no sangue em grandes concentrações e é estável às temperaturas de conservação de reservas de sangue e componentes individuais de sangue, o vírus pode estar presente em qualquer dádiva de sangue de um indivíduo infectado com o VIH. Estimativas de infecção ligada a transfusão de produtos sanguíneos infectados são muito mais altas (cerca de 95%) do que para outros modos de transmissão do VIH devido à dose viral muito maior por exposição do que por outras vias (26). Rastreio Os métodos utilizados para identificar a presença do VIH empregam os seguintes alvos de rastreio: 28 Marcadores serológicos: — Anti-VIH-1, incluindo grupo O, + anti-VIH-2 — Antigénio p24 do VIH (p24 Ag) Ácido nucleico viral: ARN do VIH. O teste deve ser capaz de detectar subtipos específicos ao país ou região. A análise de dádivas para rastreio de anticorpos e antigénios identificará a vasta maioria de dádivas de dadores infectados (27). Anti-VIH-1 + anti-VIH-2 e antigénio p24 Todas as estratégias de rastreio devem, no mínimo, fazer a detecção de anticorpos pois a identificação do anticorpo específico ainda é o método mais seguro. Também devem, de preferência, fazer a detecção de antigénios. Os anticorpos podem ser detectados cerca de três semanas depois da infecção e cerca de seis dias depois da primeira detecção dos antigénios (28). O antigénio p24 do VIH pode aparecer 3 a 10 dias depois do ARN viral (29), e a sua detecção pode reduzir mais o período latente serológico de 3 a 7 dias antes da detecção do anticorpo. O rastreio de anti-VIH tem sido a base do rastreio de sangue desde meados dos anos 1980 e por isso conhece-se bem a serologia VIH. Embora haja reactividade transversal entre os principais tipos de vírus (VIH-1 e VIH-2), não é suficiente basear-se num teste específico a VIH-1 para detectar todos os casos de VIH-2. Desde os inícios dos anos 1990, os testes anti-VIH incluem antigénios específicos para VIH-1 e VIH-2. Contudo, a utilização de testes unicamente com anticorpo tem sido, quando possível, substituída pela utilização de testes combinando antigénio e anticorpo do VIH (combinação de p24 VIH e Anti-VIH-1 + anti-VIH-2). Em comparação com testes unicamente com anticorpos, estes testes proporcionam um melhor nível de sensibilidade em infecção inicial pois reduzem o período latente serológico (30). ARN do VIH O ARN viral pode ser detectado cerca de 7 a 11 dias depois da infecção: i.e. quando os resultados de testes antigénio-anticorpo VIH são negativos, mas a detecção do ARN do VIH é positiva (28). A detecção do ARN do VIH pode reduzir o risco de transmissão do VIH por transfusão de dádiva de sangue infectado durante o período latente serológico de testes de antigénios e anticorpos. RECOMENDAÇÕES Para minimizar o risco de transmissão de infecção do VIH por meio de transfusão: 1 O rastreio deve ser realizado utilizando um imunoteste anti-VIH-1 + anti-VIH-2 muito sensível e específico ou um imunoteste de combinação antigénio-anticorpo do VIH (EIA/CLIA). 2 O rastreio utilizando um teste rápido anti-VIH-1 + anti-VIH-2 altamente sensível e específico pode ser realizado em laboratórios com pequena produtividade operacional, em zonas remotas ou em situações de emergência. 29 4.2.2 Vírus da hepatite B Agente O vírus da hepatite B (VHB) é um membro do grupo dos hepadnavírus e é um vírus envolvido por um envelope de ADN. O VHB é transmissível por via parentérica e pode ser encontrado no sangue e outros líquidos orgânicos. Uma vez na circulação sanguínea, o vírus desloca-se para o fígado onde se replica em hepatócitos. O VHB é endémico mundialmente e muitíssimo endémico em certas partes do mundo. É difícil de determinar o número total de casos de VHB transmitidos por transfusão em todo o mundo. Transmissibilidade Quando o VHB está presente na corrente sanguínea, os níveis do próprio vírus são variáveis. Em indivíduos recentemente infectados, o ADN viral está normalmente presente, embora nem sempre em altos níveis. Indivíduos com infecção crónica podem ser infecciosos (ADN viral presente) ou não infecciosos (ADN viral ausente) e a viremia é geralmente muito baixa ou mesmo totalmente ausente. O rastreio do antigénio de superfície de hepatite B (AgHBs) indica infecção com o VHB mas não faz distinção entre infecções recentes e crónicas. A distinção entre infecção aguda e crónica não é pertinente a rastreio de sangue; todas as dádivas positivas para o AgHBs devem ser consideradas com grande risco de transmissão do VHB e não devem ser distribuídas para transfusão. Além disso, certos estudos indicam que, mesmo se o AgHBs é negativo, certas pessoas podem ter níveis baixos de ADN viral detectável que sendo transmitido pelo sangue pode causar infecção no receptor (31-32). A utilização de sangue e produtos de sangue infectados por VHB e não submetidos a rastreio resultará, na maioria dos casos, em transmissão do VHB. Em geral, quando mais jovem for a pessoa que contrai o VHB, mais provável é que desenvolva infecção crónica a qual tem uma probabilidade maior de progredir para cirrose e cancro hepatocelular. Rastreio A serologia do VHB é complexa. Durante a evolução da infecção, um certo número de diferentes marcadores serológicos vão desenvolver-se, incluindo antigénio de superfície de hepatite B (AgHBs) e anticorpos essenciais contra a hepatite B (anti-HBc). Além disso, o ADN do VHB pode ser detectado na maioria dos casos, embora em fases de infecção de AgHBs negativo os níveis de ADN sejam geralmente relativamente baixos e a viremia possa ser passageira. Os métodos utilizados para identificar a presença do VHB empregam os seguintes alvos de rastreio: Marcadores serológicos: — antigénio de superfície da hepatite B — em certas situações, anticorpo do “core” do vírus da hepatite B Ácido nucleico viral: ARN do VHB. Antígeno de superfície da hepatite B O antigénio de superfície da hepatite B é o principal marcador utilizado em programas de rastreio de sangue. Normalmente, aparece no espaço de três semanas depois do primeiro aparecimento de ADN do VHB e os níveis sobem rapidamente (31). Assim, pode ser detectado facilmente pela maioria dos testes muito sensíveis de AgHBs disponíveis. A presença de AgHBs pode indicar infecção actual ou 30 crónica e por isso infectividade potencial. A maioria dos serviços de transfusão sanguínea analisam dádivas de sangue para detectar AgHBs utilizando imunotestes sensíveis. Os testes de aglutinação de partículas ainda estão disponíveis e são utilizados em alguns países embora sejam menos sensíveis do que imunotestes ou mesmo testes simples/rápidos. Anticorpo do “core” do vírus da hepatite B O anticorpo do antigénio “core” do vírus da hepatite B é produzido mais tarde na infecção aguda, depois do aparecimento de AgHBs, e marca o início da resposta imunitária à infecção por VHB. Em geral, anti-HBc persiste durante toda a vida, quer a infecção desapareça ou passe para estado crónico. Na vasta maioria dos casos de hepatite B, a detecção de anti-HBc tem valor limitado pois AgHBs já está presente. Contudo, em certos casos, durante o desaparecimento da infecção, AgHBs pode descer para baixo de níveis detectáveis. Embora o anti-HBs apareça normalmente de maneira relativamente rápida, pode haver um curto período de tempo antes do seu aparecimento quando anti-HBc é o único marcador serológico de infecção detectável em circulação, mesmo se o indivíduo ainda possa ter viremia baixa sendo assim potencialmente infeccioso. Se o rastreio anti-HBc for introduzido para utilização de rotina, será necessário distinguir entre indivíduos que são reactivos a anti-HBc devido a infecção por VHB natural, prévia e terminada, e que por isso não são infecciosos, e os que têm infecção por VHB não desaparecida e que são potencialmente infecciosos. Numa população com grande prevalência de infecção, o número de dadores com provas de infecção natural terminada é provavelmente importante, resultando em eliminação potencialmente desnecessária de muitas dádivas de sangue. Como a presença de anti-HBs é protectora, o teste de detecção anti-HBs de todas as dádivas reactivas a Hbc seria então exigido para distinguir entre indivíduos infecciosos e não-infecciosos. Em geral, e no contexto de rastreio de sangue, um nível de anti-HBs a 100 mIU/mL é normalmente aceite como o nível mínimo de protecção; as dádivas que são AgHBs negativas, anti-HBc reactivas com níveis anti-HBs a 100 mIU/mL ou superiores, são geralmente consideradas como seguras e aceitáveis para distribuição para utilização clínica ou industrial. Outro factor a considerar é que os testes anti-HBc demonstram muitas vezes um alto nível de não especificidade (33). Isto, juntamente com os problemas associados à confirmação de reactividade anti-HBc, resulta muitas vezes numa situação em que a reactividade anti-HBc é identificada na ausência de qualquer outro marcador de infecção por VHB e a maioria desta reactividade é na realidade não específica e não reflecte infecção por VHB. Assim, embora o rastreio antiHBc possa ter vantagens em certas situações, os problemas associados aos resultados de testes anti-HBc e a complexidade de procedimentos com indivíduos imunes de VHB podem não compensar quaisquer eventuais benefícios. Alanina aminotransferase Testes para detecção de níveis elevados de alanina aminotransferase (ALT) no fígado foram originalmente introduzidos em certos países antes da identificação da hepatite C e a introdução do rastreio do VHC, numa tentativa para reduzir a incidência daquilo que era então denominada hepatite não-A, não-B pós-transfusão (HNANBPT) (34). ALT é uma enzima que se encontra predominantemente no fígado; circula naturalmente a níveis baixos na corrente sanguínea, mas quando o fígado sofre dano é libertada em grandes quantidades; isto é muitas vezes, mas nem sempre, causado por infecção viral. ALT é um marcador não específico de infecção. Com o advento do rastreio do VHC, o rastreio de níveis elevados de ALT não fornece benefício identificável em termos de melhoria da segurança do sangue (35). 31 ADN do vírus da hepatite B A detecção do ADN do VHB reduz o risco de transmissão do VHB por transfusão de dádiva de sangue infectado durante o período latente agudo: i.e. quando os resultados dos testes AgHBs são negativos, mas o ADN do VHB é positivo (36). Níveis baixos de ADN do VHB também foram detectados no sangue de indivíduos depois do fim da infecção aguda por VHB e o desaparecimento de AgHBs ou a chamada infecção crónica oculta por VHB (31-32). RECOMENDAÇÕES Para minimizar o risco de transmissão da infecção pelo VHB por meio de transfusão: 1 O rastreio deve ser realizado utilizando um imunoteste AgHBs muito sensível e específico (EIA/CLIA). 2 O rastreio utilizando um teste rápido AgHBs altamente sensível e específico ou teste de aglutinação de partícula pode ser realizado em laboratórios com pequena produtividade operacional, em zonas remotas ou em situações de emergência. 3 O rastreio de anti-HBc não é recomendado como rotina. Os países devem determinar a necessidade da sua realização baseando-se na prevalência e incidência da infecção por VHB. 4 O rastreio de ALT não é recomendado. 4.2.3 Vírus da hepatite C Agente O vírus da hepatite C (VHC) é um membro do grupo dos flavivírus e é um vírus envolvido por um envelope de ADN. É transmissível por via parentérica e pode ser encontrado no sangue e outros líquidos orgânicos. Uma vez na circulação sanguínea, o vírus desloca-se para o fígado onde se replica em hepatócitos, resultando num quadro semelhante ao observado na infecção pelo VHB. A seroconversão tem sido observada em indivíduos curados das suas infecções. A ausência de anticorpos em circulação pode não deixar provas detectáveis de infecção prévia (37). O VHC é endémico em muitas partes do mundo, embora em certas regiões a sua incidência e prevalência possam ser baixas. Vários genótipos estão identificados e estão associados a diferentes distribuições geográficas e certas diferenças em antigenicidade e características clínicas, incluindo resposta a tratamento com interferon alfa (IFN-α). Transmissibilidade Quando o VHB está presente na corrente sanguínea, os níveis do próprio vírus são variáveis. Em indivíduos recentemente infectados, o vírus está normalmente presente. Contudo, só cerca de 70% dos indivíduos com infecção crónica apresentam viremia cujo período de persistência não é perfeitamente conhecido. Não obstante, supõe-se que a maioria das dádivas infectadas com o VHC contêm o vírus e são portanto infecciosas. O rastreio do antigénio e anticorpo do VHC não distingue entre infecções recentes e crónicas. Contudo, a distinção não é pertinente a rastreio de sangue para transfusão e todas as dádivas reactivas a antigénio-anticorpo do VHC devem ser consideradas com grande risco de transmissão do VHC e não devem ser utilizadas para fins clínicos ou industriais. 32 Rastreio Os métodos utilizados para identificar a presença do VHC empregam os seguintes alvos de rastreio: Marcadores serológicos: — anticorpo do VHC — antigénio do VHC Ácido nucleico viral: ARN do VHC. Anticorpo e antigénio do VHC O anticorpo do VHC fica detectável cerca de 30 a 60 dias depois da infecção. O antigénio viral aparece normalmente entre 0 e 20 dias depois do ARN viral aparecer pela primeira vez. O anticorpo gerado pode ser detectado entre 10 e 40 dias depois da primeira detecção do antigénio. A serologia do VHC ainda não é completamente conhecida. O rastreio serológico tem sido muito eficaz reduzindo de maneira importante a transmissão do VHC via transfusão. Até recentemente, o anti-VHC tem sido o principal marcador serológico em programas de rastreio de sangue. Contudo, o antígeno VHC pode ser detectado no sangue periférico antes do anticorpo durante o curso de infecção inicial. Há vários anos que testes de antigénio do VHC, tanto só de antigénio como combinação antigénio-anticorpo, são disponíveis comercialmente. Foram introduzidos em alguns países para melhorar a eficácia global do rastreio serológico do VHC (38). ARN do vírus da hepatite C Normalmente, o ARN viral pode ser detectável poucas semanas depois da infecção e persiste durante 6 a 8 semanas antes da seroconversão do anticorpo (28). A detecção do ARN do VHC pode reduzir mais o risco de transmissão do VHC por transfusão de sangue infectado doado durante o período latente de testes antigénio e anticorpo: i.e. quando os resultados de testes antigénio-anticorpo do VHC são negativos, mas o ARN do VHC é positivo (28). Contudo, os benefícios dependem da incidência do VHC e do número actual de dádivas que sejam recolhidas durante o período latente (38). RECOMENDAÇÕES Para minimizar o risco de infecção pelo VHC por meio de transfusão: 1 O rastreio deve ser realizado utilizando um imunoteste anticorpo do VHC muito sensível e específico ou um imunoteste de combinação antigénio-anticorpo do VHC (EIA/CLIA). O teste deve ser capaz de detectar genótipos específicos ao país ou região. 2 O rastreio utilizando um teste rápido anticorpo do VHC altamente sensível e específico pode ser realizado em laboratórios com pequena produtividade operacional, em zonas remotas ou em situações de emergência. 4.2.4 Sífilis Agente A sífilis é causada pela bactéria Treponema pallidum. Esta é transmissível por via parentérica e pode ser encontrada no sangue e outros líquidos orgânicos. Uma vez na circulação sanguínea, a bactéria espalha-se por todo o corpo. Normalmente, surge uma lesão primária, cancro duro, cerca de três semanas 33 após exposição, embora este prazo possa ser mais curto em casos de infecção transmitida por transfusão pois o organismo entra directamente na circulação sanguínea. A sífilis é endémica em muitas partes do mundo. Transmissibilidade Quando a Treponema pallidum está presente na corrente sanguínea, os níveis são variáveis mesmo na sífilis primária aguda, e a bacteremia é muitas vezes de curta duração. Além disso, os treponemas são relativamente frágeis, especialmente devido a serem sensíveis à temperatura; a conservação a menos de +20°C durante mais de 72 horas resulta em dano irreparável ao organismo que deixa de ser infeccioso. Assim, embora potencialmente infeccioso, o risco de transmissão via transfusão de sangue e de componentes de sangue conservados a menos de +20°C é muito baixo. Os componentes de sangue conservados a temperaturas mais altas (superiores a +20°C), tais como concentrados de plaquetas, ou os que não são conservados a temperaturas mais baixas durante um certo tempo, tal como sangue recolhido e utilizado no espaço de 48 horas, apresentam um risco realmente maior de transmissão da sífilis. Assim, embora o risco de transmissão da sífilis através de dádivas não analisadas seja variável, o rastreio é apesar de tudo considerado essencial pois a maior parte dos serviços de transfusão fornecem certos componentes sanguíneos que, ou são conservados a mais de +20°C ou não são conservados a menos de +20°C durante tempo suficiente para matar qualquer organismo presente. Rastreio Os métodos utilizados para identificar a presença de sífilis empregam os seguintes alvos de rastreio: Marcadores não específicos, não treponemicos: anticorpo de antigénio lipoidal (reagínico) Anticorpos treponemicos específicos. A serologia treponemica é relativamente complexa com aspectos diferentes observados em fases diferentes da infecção e dependendo do facto de ter havido ou não tratamento. Infecção com os quatro principais tipos de treponemas patogénicos não pode ser distinguida com rastreio serológico dado que os principais epitopes imunodominantes são tão semelhantes que os anticorpos produzidos são detectados por qualquer teste de anticorpos específico para sífilis. Em geral, os testes para detecção da sífilis podem ser divididos em testes específicos e não específicos; a sua utilização depende da finalidade do exame: para rastreio ou para diagnóstico. Testes específicos Os testes específicos correntemente utilizados para rastreio são os testes de hemaglutinação passiva de Treponema pallidum (TPHA) e os testes imunoenzimáticos (EIAs). Estes detectam anticorpos treponemicos específicos e assim identificam dádivas de qualquer pessoa que tenha estado infectada com a sífilis, quer recentemente ou no passado longínquo, tratada ou não. Testes não específicos Testes não específicos tais como os testes de Laboratório de Investigação de Doenças Venéreas (VDRL) e reagínicos serológicos rápidos (RPR) identificam os indivíduos que possam ter ficado infectados mais recentemente. Detectam 34 anticorpos de cardiolipina ou antigénio lipoidal (reagínico); os níveis de plasma destes anticorpos sobem de maneira importante no caso de infecção activa devido a dano celular. A utilização de testes não específicos é da maior importância em testes de diagnóstico servindo para identificar indivíduos infectados recentemente. Quando a incidência e prevalência da sífilis na população de dadores de sangue são altas e não podem ser reduzidas com estratégias de selecção de dadores, pode ser necessário considerar a utilização para rastreio de um teste não treponemico (e.g. VDRL ou RPR) para identificar unicamente os dadores de maior risco – aqueles apresentando provas de infecções recentes. Contudo, para rastreio de rotina, esta estratégia representa um grande risco de falsos resultados negativos pois a sensibilidade destes testes é inferior aos testes específicos e os resultados podem nem sempre ser positivos, mesmo quando a infecção é recente. RECOMENDAÇÕES Para minimizar o risco de infecção por sífilis devido a transfusão: 1 O rastreio deve ser realizado utilizando um teste muito sensível e específico para anticorpos treponemicos: TPHA ou teste imunoenzimático. 2 Em populações onde há uma alta incidência de sífilis, o rastreio deve ser realizado utilizando um teste não treponemico: VDRL ou RPR. 35 36 Imunoteste EIA CLIA Tecnologia de amplificação do ácido nucleico ARN do VIH Imunoteste Rápido Aglutinação de partículas Anti-VIH (1,2,0) Antigénio p24 VIH Imunoteste EIA CLIA Anti-VIH (1,2,0) VIH Teste Marcador de rastreio* Vírus Avaliar maior segurança contra custos e logística Recomendado unicamente no caso de fazer parte de um teste de combinação antigénio-anticorpo Pode ser utilizado em situações especiais Recomendado Recomendação marcador serológico de infecção por VIH para rastreio de dádivas embora o antigénio viral seja neutralizado por anticorpo O rastreio unicamente de antigénio do VIH não é apropriado dado que os níveis caem à medida que sobem os níveis de anticorpo específico O antigénio do VIH pode ser detectado ao mesmo tempo ou pouco depois da primeira detecção do ARN do VIH Actualmente, os testes serológicos VIH mais sensíveis combinam detecção de antigénio (p24) e de anticorpo (VIH-1 e –2). Estes testes são considerados como os mais eficazes para rastreio serológico de dádivas. marcador circulante de infecção por VIH, mas o período latente entre a detecção do ARN do VIH e o antigénio p24 do VIH pode ser curto O rastreio de ARN do VIH tem sido implementado num certo número de países O valor do rastreio de ARN está relacionado com o rastreio serológico realizado e incidência de infecção em dadores. Primeiro Valioso Primeiro para rastreio eficaz do VIH; recomenda-se como padrão mínimo de segurança sanguínea o rastreio de anticorpos do VIH Actualmente, os testes mais eficazes são testes de combinação antigénio-anticorpo A detecção específica de anticorpos do VIH-1 e VIH-2 é essencial Essencial Observações Quadro 1: Resumo de marcadores, testes e recomendações de rastreio obrigatório para as quatro infecções transmissíveis por transfusão 37 Teste bioquímico Tecnologia de amplificação do ácido nucleico Alanina aminotransferase ADN do VIH Pode ser utilizado em situações especiais Imunoteste Rápido Aglutinação de partículas Avaliar maior segurança contra custos e logística Não recomendado Não é recomendado, especialmente em países com grande prevalência do VHB Recomendado Recomendação Imunoteste EIA CLIA Imunoteste EIA CLIA AgHBs Hepatite B Teste Anti-HBc Marcador de rastreio* Vírus marcador serológico de infecção por VHB e entrada na circulação de quantidades importantes de AgHBs, a maioria não associada a ácido nucleico viral Essencial para rastreio eficaz do VHB; o rastreio de AgHBs recomenda-se como padrão mínimo de segurança sanguínea marcador circulante de infecção por VHB, mas com utilidade limitada em rastreio de sangue a não ser que as dádivas sejam analisadas individualmente O vírus tem geralmente títulos baixos e o período entre detecção do AND do VHB e o AgHBs é geralmente muito curto Primeiro em certos países como um marcador adicional para identificar infecções em vias de resolução quando o AgHBs desceu a níveis não detectáveis mas o AND do VHB ainda pode estar presente. Nessa altura pode ser o único marcador de infecção Os testes podem ter falta de especificidade e não há disponibilidade de confirmação específica Níveis de anti-HBs devem ser determinados para todas as dádivas reactivas a anti-HBc para identificar infecções terminadas Em muitos países, aceitam-se como apropriadas para uso clínico dádivas reactivas a anti-HBc e com um nível de antiHBs >1000 mlU/mL Utilizado Produção Primeiro Observações 38 Tecnologia de amplificação do ácido nucleico ARN do VHC Pode ser utilizado em situações especiais Rápido Avaliar maior segurança contra custos e logística Só é recomendado como parte de teste de combinação antigénio-anticorpo Recomendado Recomendação Imunoteste EIA CLIA Imunoteste EIA CLIA Anti-VHC Hepatite C Teste Antigénio do VHC Marcador de rastreio* Vírus marcador serológico de infecção por VHC para rastreio de dádivas embora o antigénio viral seja neutralizado por anticorpo O rastreio unicamente de antigénio do VHC não é apropriado dado que os níveis caem à medida que sobem os níveis de anticorpo específico O antigénio do VHC pode ser detectado ao mesmo tempo ou pouco depois da primeira detecção do ARN do VHC Os testes serológicos VHC mais sensíveis combinam detecção de antigénio e de anticorpo. Estes testes são considerados como os mais eficazes para o rastreio serológico de dádivas embora actualmente só um número limitado de testes esteja disponível comercialmente marcador circulante de infecção por VHC, mas o período entre a detecção do ARN do VHC e antigénio do VHC pode ser curto O rastreio do ARN do VHC foi implementado num certo número de países, essencialmente para a inocuidade do plasma destinado a fraccionamento O valor do rastreio de ARN está relacionado com o rastreio serológico realizado e incidência de infecção em dadores. Primeiro Valioso Primeiro o marcador serológico de infecção por VHC mais vulgarmente utilizado Surge em resposta a infecção, mas o período latente desde o primeiro aparecimento de ARN viral pode ser relativamente longo Recomenda-se como padrão mínimo de segurança sanguínea o rastreio de anticorpos do VHC Actualmente, Observações 39 VDRL Anticorpo do antigénio lipoidal (reagínico) Entrar em linha de conta quando houver grande incidência de sífilis Recomendado Recomendação *Marcadores de infecção que são potenciais alvos de rastreio. Observação de partículas (TPHA) Imunoteste (EIA) RPR Aglutinação Anticorpo do Treponema pallidum Sífilis Teste Marcador de rastreio* Vírus marcador serológico de sífilis para rastreio eficaz da sífilis; recomenda-se como padrão mínimo de segurança sanguínea o rastreio de anticorpos treponemicos específicos marcador serológico de sífilis detecta anticorpos específicos de sífilis Falta de sensibilidade e especificidade Não Primeiro Essencial Primeiro Observações 4.3 INFECÇÕES TRANSMISSÍVEIS POR TRANSFUSÃO PARA AS QUAIS SE RECOMENDA RASTREIO UNIVERSAL EM CERTOS PAÍSES OU PARA AS QUAIS SE RECOMENDA RASTREIO SELECTIVO Infecções tais como o paludismo, a doença de Chagas e as viroses linfotrópicas de células T humanas tipo I/II (HTLV) podem apresentar um risco maior em certas regiões e países, mesmo se, em todo o mundo, o nível de risco não seja o mesmo. Cada país deve avaliar se qualquer outra infecção transmitida pelo sangue, além de VIH, VHB, VHC e sífilis, também representa uma ameaça importante para a inocuidade das reservas de sangue devido à sua biologia, incidência e/ou prevalência na população em geral e o risco subsequente da presença de tal infecção em dadores de sangue: Em zonas endémicas, riscos específicos incluem a transmissão do paludismo, doença de Chagas e HTLV Em zonas não endémicas, a doação de sangue por indivíduos tendo vivido ou visitado zonas endémicas com paludismo, doença de Chagas e HTLV representa riscos específicos Grupos específicos de receptores estão em risco de transmissão de certas infecções tais como citomegalovírus humanos (CMV). Para avaliar os riscos específicos de transmissão por transfusão e de doença resultante, há necessidade de dados epidemiológicos de confiança. O rastreio de outras infecções transmissíveis por transfusão deve ser considerado quando, sem a sua inclusão no programa de rastreio, há provas evidentes de riscos importantes para a segurança das reservas de sangue. Não deve ser implementado enquanto os sistemas não estiverem instalados para assegurar o rastreio de qualidade assegurada das quatro principais infecções transmissíveis pelo sangue em todas as dádivas. Antes da introdução do rastreio de infecções transmissíveis por transfusão, além de VIH, VHB, VHC e sífilis, há necessidade de entrar em linha de conta com as seguintes questões: O agente infeccioso transmite-se facilmente por transfusão de sangue ou produtos de sangue infectados? A infecção pode resultar em morbilidade grave ou mortalidade nos receptores? A infecção está espalhada ou é endémica no país ou região? Pelo processo de selecção, é possível identificar e diferir os dadores de sangue a risco da infecção específica? O rastreio de sangue pode identificar o agente infeccioso? Existe um teste de rastreio eficaz e prontamente disponível que possa identificar especificamente dádivas infectadas? Quais são os benefícios de rastreio de mais uma infecção transmissível por transfusão em relação a necessidades de recursos e logística? Qual poderá ser o impacto nas reservas de sangue da introdução de um tal teste? Há disponibilidade de testes de confirmação para distinguir entre resultados positivos verdadeiros e falsos? Considerando-se haver um risco, é necessário então identificar o marcador(s) alvo específico da infecção, desenvolver a estratégia e algoritmo de rastreio apropriados e procurar testes apropriados. 40 4.3.1 Paludismo (malária) Agente O paludismo é causado por parasitas de espécies Plasmodium. Há quatro tipos principais que infectam seres humanos: P. falciparum, P. vivax, P. malariae e P. ovale. O paludismo é transmitido principalmente através da picada da fêmea do mosquito anofelino. Embora continue a ser um problema em países endémicos, o paludismo é cada vez mais também uma questão preocupante para serviços de transfusão de sangue em países não endémicos. Números importantes de dadores de sangue provenientes de países não endémicos viajam regularmente em zonas de paludismo e há vasta migração de zonas endémicas para zonas não endémicas onde pode então acontecer que os migrantes sejam dadores. O paludismo está gradualmente a espalhar-se em zonas ou regiões não endémicas onde previamente tinha sido erradicado. Transmissibilidade Embora essencialmente transmitido por mosquitos, o paludismo transmite-se também por transfusão sanguínea de dádivas de dadores assintomáticos, parasitémicos. O parasita é libertado na corrente sanguínea durante o seu ciclo de vida por isso estará presente no sangue doado por indivíduos infectados. No plasma e sangue total conservados a +4°C os parasitas ficam estáveis durante 18 dias pelo menos e durante períodos mais longos no estado de congelação. Rastreio Existe um certo número de alvos potenciais para rastreio do paludismo e a escolha do método de rastreio pode depender do facto de ser ou não endémico no país. Os métodos utilizados para identificar a presença de paludismo empregam os seguintes alvos de rastreio: Detecção directa do parasita por esfregaço de gota espessa Marcadores serológicos: — Anticorpo — Antigénio Países endémicos Em países endémicos, a detecção directa do parasita por esfregaço de gota espessa é muitas vezes utilizada para identificar dádivas parasitémicas. Contudo, a técnica é demorada, altamente dependente do operador e sujeita a erro. Em consequência, há o risco que esta abordagem não detecte níveis baixos de parasitemia enquanto a transmissão ainda pode ocorrer. Testes sensíveis de alta qualidade para detecção de antigénios do paludismo estão agora disponíveis podendo mesmo ser melhores para identificar dádivas parasitémicas, incluindo as que têm níveis de parasitas muito inferiores aos que são detectáveis com segurança por esfregaço espesso (39). Contudo, em países endémicos, no caso de se considerar fazer rastreio, as estratégias são geralmente complexas, combinando critérios específicos para escolha e diferimento de dadores, segundo a estação do ano, a geografia e a disponibilidade de profilaxia antipalúdica, com rastreio laboratorial. Países não endémicos Em países não endémicos, a detecção de anticorpo específico é eficaz para o rastreio de dádivas de indivíduos identificados a risco de transmissão de 41 paludismo. Em virtualmente todos os casos, o diferimento de indivíduos a risco durante um período de seis meses a partir da data da última exposição potencial, em combinação com teste de anticorpos, evitarão a transmissão do paludismo (39). RECOMENDAÇÕES Países endémicos Para evitar infecção palúdica por meio de transfusão em países endémicos: 1 Será preciso elaborar critérios de selecção de dadores para identificação e recolha de sangue de dadores com o mais baixo risco de infecção, tanto durante a estação do ano propícia ao paludismo como durante o resto do ano. 2 Será preciso implementar estratégias de selecção e diferimento de dadores para identificar os que têm uma história actual de paludismo ou um risco específico de exposição identificável, tal como viagens a zonas palúdicas. Tais dadores devem ser diferidos durante um período definido pelo país. 3 Será preciso elaborar estratégias de selecção e diferimento de dadores para identificar aqueles que têm uma história actual de infecção palúdica e diferir tais dadores durante um período de seis meses depois de desaparecerem os sintomas ou de terminar o tratamento OU Todas as dádivas devem ser analisadas para detecção de parasitemia utilizando esfregaços de gota espessa ou de provas de antigénio palúdico utilizando um teste imunoenzimático muito sensível. 4 A transfusão deve ser seguida de administração de profilaxia apropriada e eficaz do paludismo a todos os receptores, ou pelo menos, aos que correm um risco importante de doença em resultado de paludismo transmitido por transfusão. Países não endémicos Para evitar infecção palúdica por meio de transfusão em países não endémicos: 1 Será preciso implementar estratégias de selecção e diferimento de dadores para identificar os que têm uma história actual de paludismo ou um risco específico de exposição identificável, tal como viagens a zonas palúdicas. Tais dadores devem ser diferidos durante um período definido pelo país. 2 Havendo disponibilidade de testes: (a) Todos os dadores com uma história de paludismo devem ser temporariamente diferidos durante um período de seis meses depois de desaparecerem os sintomas ou de terminar o tratamento e depois, não havendo provas de anticorpo 42 antipalúdico graças a um teste imunoenzimático muito sensível, podem ser reintegrados como dadores. (b) Todos os dadores com um risco identificado de exposição ao paludismo devem ser diferidos durante um período de seis meses desde o seu último regresso de uma zona de paludismo e depois, não havendo provas de anticorpo antipalúdico graças a um teste imunoenzimático muito sensível, podem ser reintegrados como dadores. 4.3.2 Doença de Chagas Agente A doença de Chagas é causada pelo parasita Trypanosoma cruzi. É transmitida essencialmente quando o parasita presente nas fezes de um vector infectado entra na circulação sanguínea pela picada do hospedeiro primário, um insecto barbeiro. Porém, também pode ser transmitido entre seres humanos por via parentérica pela transfusão sanguínea ou transplantação de tecidos de um indivíduo infectado. A doença de Chagas é geograficamente limitada e só é endémica na América Central e do Sul e partes do México. Calcula-se que em certas zonas pode chegar a 30% o número de adultos infectados que morrem devido aos efeitos crónicos da doença de Chagas. 20% dos indivíduos infectados mantêm-se assintomáticos durante longos períodos. O controlo eficaz do vector é um factor importante na redução do risco da doença de Chagas, e tem por efeito reduzir o fardo de morbilidade na população e assim reduzir a incidência de infecções em dadores de sangue. O controlo do vector tem mostrado a sua eficácia num certo número de países da América Central e do Sul, em alguns deles resultando na erradicação de todos os casos de infecção transmitida por insectos. Alguns países da América Latina eliminaram casos incidentes de infecção primária, embora continue a haver na população um reservatório de indivíduos infectados. Transmissibilidade Embora principalmente transmitida por um insecto vector, a doença de Chagas é facilmente transmitida por transfusão de sangue doado por dadores com parasitemia assintomática. O parasita entra na circulação sanguínea durante o seu ciclo de vida e assim vai estar presente no sangue doado por indivíduos infectados. Os parasitas são estáveis no plasma e no sangue total durante pelo menos 30 dias conservado a +4°C e durante períodos mais longos no estado de congelação. A doença de Chagas é um problema importante em países endémicos. Também representa um problema para serviços de transfusão em certos países não endémicos onde números importantes de dadores imigram de regiões onde a doença de Chagas ainda é endémica ou onde dadores viajam regularmente para zonas endémicas. Casos esporádicos de infecções primárias têm sido notificados nos estados mais meridionais do EUA. Embora não seja um problema mundial, muitos países têm de lidar com dadores de sangue que viajam na América Central e do Sul e por isso necessitam de elaborar estratégias para se ocupar deste problema. Rastreio O rastreio da doença de Chagas implica detecção de anti-T. cruzi na dádiva de sangue. Existe um certo número de testes sensíveis e de confiança e a serologia 43 do T. cruzi é bem conhecida (40). Além disso, existem testes de detecção do antigénio, tecnologia de amplificação do ácido nucleico e mesmo xeno-diagnóstico, embora evidentemente este não esteja indicado para rastreio de sangue. RECOMENDAÇÕES Países endémicos Para evitar a transmissão da doença de Chagas por meio de transfusão em países endémicos: 1 O rastreio deve ser realizado utilizando um teste imunoenzimático muito sensível para anticorpo de Chagas. Países não endémicos Para evitar a transmissão da doença de Chagas por meio de transfusão em países não endémicos: 1 Todos os dadores com uma história de doença de Chagas devem ser permanentemente excluídos. 2 Não havendo disponibilidade de testes de rastreio da doença de Chagas, todos os dadores com um risco identificado desta doença devem ser identificados e permanentemente excluídos. 3 Havendo disponibilidade de testes de rastreio da doença de Chagas, todos os dadores com um risco identificado desta doença devem inicialmente ser diferidos durante seis meses a partir da data da sua última viagem de volta de uma zona endémica. As suas futuras dádivas devem então ser submetidas a rastreio para detecção de sinais de infecção por meio de um teste imunoenzimático muito sensível para anticorpo de Chagas. 4.3.3 Viroses linfotrópicas de células T humanas de tipo I/II Agente Os vírus linfotrópicos de células T humanas (leucemia) do tipo I/II (HTLV) são retrovírus envolvidos por um envelope de cordão único de ARN. O HTLV é transmitido por via parentérica e pode ser encontrado no sangue, normalmente em linfócitos, e outros líquidos orgânicos. Não se encontra geralmente no plasma ou líquidos orgânicos livres de células. O HTLV é endémico em certas partes do mundo mas, em algumas regiões, a sua incidência e prevalência são baixas ou podem mesmo estar totalmente ausentes. O HTLV-I e o HTLV-II são dois vírus muito semelhantes mas distintos que geralmente são considerados em conjunto devido às suas semelhanças. As diferenças específicas incluem a sua distribuição geográfica e associação clínica das doenças. Em certos grupos de consumidores de drogas por via injectável, o HTLV tem uma grande prevalência. Transmissibilidade Quanto o HTLV está presente na circulação sanguínea, os níveis do próprio vírus são variáveis. Em indivíduos recentemente infectados, o vírus pode ser encontrado livre no plasma. Subsequentemente, é muito raro encontrar o vírus livre, estando presente nos linfócitos em T. A infectividade do sangue e produtos de sangue 44 é reduzida mas não é removida por leucodepleção. Como se considera que a infecção persiste durante toda a vida, o rastreio de anti-HTLV identifica dádivas podendo transmitir o HTLV mas, em si mesmo, não indica a escala de tempo de uma infecção. Contudo, há provas de que a patogenicidade de transmissão de HTLV por transfusão é baixa, excepto em receptores com deficiência imunológica grave (41-43). O HTLV representa sempre uma preocupação em países endémicos assim como para os serviços de transfusão em países não endémicos. Existe imigração importante de zonas endémicos para zonas não endémicos onde os imigrantes podem então tornar-se dadores. Além disso, um nível baixo de incidência de infecção pode ser introduzido num país não endémico pela imigração, e a infecção pode espalhar-se horizontalmente pela população local ou verticalmente para as crianças de imigrantes que foram concebidas num país não endémico. Rastreio O rastreio do HTLV implica a detecção de anticorpo específico tanto para o HTLV-I como para o HTLV-II. Embora exista reactividade cruzada entre HTLV-I e -II de maneira semelhante a VIH-1/2, é incompleta; não se pode confiar na reactividade cruzada a HTLV-I para detectar todos os casos de HTLV-II. Os níveis de anticorpo são geralmente altos e, embora a resposta possa variar, os anticorpos persistem geralmente a um nível detectável durante toda a vida após desaparecimento da infecção aguda inicial. Testes combinados anti- HTLV-I e -II são eficazes para identificar dádivas potencialmente infecciosas. RECOMENDAÇÕES Para evitar a transmissão de HTLV-I/II por meio de transfusão: 1 Em países onde o HTLV é endémico, as decisões sobre realização de rastreio de HTLV-I e –II devem entrar em linha de conta com o impacto nas reservas de sangue. 2 Se implementado, o rastreio de anti-HTLV-I/II específico deve ser realizado utilizando um teste imunoenzimático muito sensível para anticorpo HTLV-I/II. 3 Em países onde o HTLV não é endémico, deve considerar-se o rastreio para detecção de provas de infecção por HTLV-I e –II antes da entrega de sangue e componentes de sangue para uso clínico. 4.3.4 Citomegalovírus humano Agente O citomegalovírus humano (CMV) é um membro da família dos herpesvírus, um vírus envolvido por um envelope de AND. É transmitido por via parentérica e pode ser encontrado no sangue e outros líquidos orgânicos. É endémico em muitas partes do mundo, embora em certas regiões a sua incidência e prevalência tenha declinado nos últimos anos com a melhoria dos padrões de vida. Transmissibilidade O HCMV circula nos leucócitos e livremente no plasma durante a infecção activa. Persiste em fase latente em leucócitos assim como em outras células corporais não circulantes e pode ser lançado na circulação sanguínea após reactivação do vírus latente. Assim, pode ser transmitido por transfusão, embora a transmissão 45 só seja geralmente uma preocupação quando se trata de receptores com deficiência imunitária. Como os leucócitos são uma das localizações do CMV no estado latente, a leucodepleção pré-armazenagem tem sido proposta como um meio adicional para minimizar o risco de transmissão do CMV. Contudo, como certos estudos demonstraram que a leucodepleção é tão eficaz como o rastreio anti-CMV, este foi realizado em populações com baixa incidência de infecção por CMV (44-45). Além disso, esta abordagem só tem sido possível quando já foi tomada a decisão de introduzir a leucodepleção por outras razões. Em populações com uma incidência mais alta de CMV, existe um risco correspondente mais alto do sangue ser doado por indivíduos com viremia. Em tais casos, a leucodepleção não evitará a transmissão. Assim, para a maioria dos países, o rastreio anti-CMV ainda está no centro da prevenção do CMV pós-transfusão. Rastreio O rastreio do CMV implica detecção de anticorpo específico ao CMV. Os níveis de anticorpo são geralmente altos e, mesmo se os títulos possam variar, os anticorpos persistem geralmente durante toda a vida a um nível detectável depois do desaparecimento da infecção inicial. RECOMENDAÇÕES Para evitar a transmissão da infecção por citomegalovírus humano (CMV) via transfusão: 1 Para indivíduos imunocompetentes não se exige rastreio de CMV em sangue completo e componentes de sangue. 2 Todo o sangue total e dádivas por aférese destinados a transfusão para indivíduos imunosupressores, recém-nascidos e mulheres grávidas deve ser submetido a rastreio para detecção de infecção por CMV antes da sua distribuição para uso clínico. 3 O rastreio deve ser realizado utilizando um teste imunoenzimático muito sensível para anticorpo total de CMV. 4 Para transfusões destinadas a indivíduos imunosupressores só se devem utilizar dádivas negativas de anticorpos de CMV. OU 5 Não havendo rastreio, pode considerar-se leucodepleção selectiva. 4.4 INFECÇÕES EMERGENTES E RESSURGENTES Todos os programas de rastreio de sangue têm de enfrentar desafios constantes. Relatórios sobre infecções recentemente identificadas ou infecções ressurgentes aparecem regularmente nas publicações científicas, incluindo relatórios sobre a sua transmissão por meio de transfusão. Exemplos incluem variante da doença de Creutzfeldt Jakob, vírus Oeste do Nilo, babesiose, dengue e chikungunya. Também há infecções para as quais existe um risco teórico de transmissão embora ainda não tenham sido identificados nem demonstrados casos de transmissão, tais como a síndroma respiratória aguda grave (SARS). 46 Como é provável que venham a ser identificadas novas infecções podendo ser transmissíveis por transfusão, é necessário haver uma resposta prudente e avaliada a qualquer ameaça nova ou ressurgente à segurança do sangue. Os serviços de transfusão devem elaborar planos de emergência que garantam vigilância para infecções emergentes, avaliação da sua transmissibilidade por transfusão e a verdadeira probabilidade de transmissão, as doenças associadas a transmissão e as acções a tomar no caso de incidência crescente de infecção, incluindo a nível de pandemia. Tais planos também devem abordar os efeitos potenciais de infecção em dadores e suficiência de dadores, receptores potenciais, pessoal dos serviços de transfusão e outro pessoal de cuidados de saúde (46). Antes de considerar a introdução de rastreio para uma nova infecção, é preciso entrar em linha de conta com certos factores importantes. 1 O rastreio universal de VIH, hepatite B, hepatite C e sífilis deve estar estabelecido em todo o país e deve ser aplicado de maneira eficaz e consistente de acordo com normas nacionais. Antes de considerar a introdução de rastreio para qualquer outra infecção, devem solucionar-se disparidades existentes em normas e qualidade de rastreio no país. 2 A verdadeira ameaça à segurança do sangue deve ser devidamente avaliada. A incidência e prevalência de nova infecção na população em geral, dadores e pacientes devem ser determinadas. A evolução de doença associada à infecção precisa de ser conhecida, juntamente com o seu impacto potencial na população como um todo e o impacto da sua transmissão por transfusão. 3 Um teste de rastreio apropriado deve estar disponível. A tecnologia deve ser compatível com a estratégia e programa de rastreio actuais, e os recursos para a sua implementação devem estar disponíveis. Além disso, deve entrar-se em linha de conta com a capacidade para confirmar resultados reactivos obtidos em rastreio de sangue. RECOMENDAÇÕES 1 O rastreio em laboratório para detecção de qualquer infecção, potencial ou conhecida, transmissível por transfusão, além das quatro infecções obrigatórias, só deve ser considerado se: Existir um risco comprovado de transmissão de infecção a receptores A transmissão implica um risco importante de doença Há disponibilidade de um teste de rastreio apropriado 2 Os programas de rastreio de sangue devem incluir estratégias para testes de confirmação e orientação de dadores de sangue. 3 Quando há um risco comprovado de transmissão associada a transfusão mas não há disponibilidade de testes de rastreio adequados, devem ser elaborados critérios de escolha de dadores para identificar e diferir durante um período de tempo apropriado dadores potencialmente infectados. 4 Quando há um risco teórico de transmissão associada a transfusão mas não há disponibilidade de testes de rastreio adequados, podem 47 ser elaborados critérios de escolha de dadores para identificar e diferir durante um período de tempo apropriado dadores potencialmente infectados. 4.5 INFECÇÕES CLINICAMENTE INSIGNIFICANTES TRANSMISSÍVEIS POR TRANSFUSÃO Um número de infecções clinicamente insignificantes podem, em raras ocasiões, ser transmitidas por transfusão: 1 Infecções que não são normalmente transmissíveis por via parentérica, mas que podem ser transmitidas se o dador estiver infectado e tiver um nível alto do agente infeccioso na circulação sanguínea na altura da dádiva: e.g. vírus da hepatite A (HAV). 2 Infecções que, em teoria, podem ser transmitidas, mas que só são transmitidas muito raramente a um nível muito mais baixo do que a prevalência ou incidência da infecção na população: e.g. parvovírus B19. 3 Infecções que podem ser transmitidas mais frequentemente mas que não originam nenhuma doença clínica no receptor: e.g. vírus TT. O rastreio de rotina para tais infecções não é geralmente prático nem eficaz em relação ao custo. Caso haja disponibilidade de qualquer teste de rastreio, este pode não ser apropriado para rastreio de sangue, sendo muitas vezes destinado principalmente a ajudar o diagnóstico de infecção em indivíduos sintomáticos. Em tais situações, o processo de escolha de dadores é um factor importante na exclusão dos dadores podendo albergar estas infecções a fim de evitar a sua entrada nas reservas de sangue. 48 5 Rastreio, quarentena e distribuição de sangue 5.1 PROCESSO DE RASTREIO DE SANGUE O rastreio de sangue doado e a quarentena do sangue e dos componentes sanguíneos representam processos vitais que devem ser respeitados para assegurar que as unidades de sangue são inócuas. Segundo os resultados do rastreio, devem ser entregues para utilização clínica ou industrial, ou eliminadas. As amostras de sangue recolhidas na altura da doação devem ser submetidas a rastreio laboratorial para detecção de infecções transmissíveis por transfusão (TTI). Todos os testes de amostras de sangue devem ser realizados e registados segundo processos estandardizados em laboratórios devidamente equipados para a sua realização. Todas as amostras, dádivas e componentes de sangue devem ser correctamente etiquetadas para assegurar uma identificação correcta durante todo o processo de rastreio. Os serviços de transfusão de sangue (BTS) também devem ter sistemas apropriados e certificados ligando todos os resultados de testes às respectivas dádivas e dadores para que, cada vez que estes façam nova dádiva, os seus registos possam ser verificados. Estes sistemas assegurarão a atribuição de resultados correctos a cada dádiva e evitarão erros que levem a transfusão de uma dádiva pouco segura. O pessoal de laboratório deve sempre, ao realizar testes e analisar resultados, aderir à estratégia, algoritmo e procedimentos padronizados nacionais de rastreio. A realização de testes laboratoriais num contexto de qualidade com pessoal competente e um sistema de documentação funcional minimiza o risco de erros analíticos e de transcrição, especialmente resultados negativos falsos. O objectivo de rastreio de sangue é detectar marcadores de infecção a fim de evitar a entrega para uso clínico de sangue e componentes de sangue infectados. As estratégias de rastreio de sangue são concebidas para assegurar a segurança de dádivas de sangue, mas não devem ser utilizadas para notificar dadores sobre resultados reactivos. A estratégia apropriada de confirmação de testes para orientação do dador deve ser aplicada antes da notificação do seu estado infeccioso (ver Secção 6). Os resultados de todos os testes realizados para detecção de marcadores de infecções transmissíveis por transfusão e serologia do grupo sanguíneo devem ser avaliados ao tomar decisões finais sobre a entrega de dádivas de sangue para uso terapêutico. 5.2 ABORDAGENS DE RASTREIO DE SANGUE Para segurança do sangue recomendam-se duas abordagens para o seu rastreio, dependendo se o laboratório onde o teste é realizado tem estabelecido ou não um sistema eficaz de qualidade (ver Secção 7). Estas opções representam os processos recomendados para rastreio de sangue para detecção de cada infecção transmissível por transfusão em laboratórios com: 1 Sistemas de qualidade fracos ou ainda não estabelecidos. OU 2 Sistemas de qualidade eficazes estabelecidos. 49 O teste escolhido para rastreio de sangue deve ser muito sensível e específico. O objectivo é detectar todas as dádivas provavelmente infectadas minimizando perdas devido a falsos resultados positivos. As dádivas com resultados de testes reactivos ou indeterminados devem ser eliminadas utilizando métodos obedecendo a precauções de segurança padrão (47). Opção 1: Em laboratórios sem sistemas de qualidade bem estabelecidos 1 Utilizar um teste único (A) e analisar cada amostra de sangue individualmente segundo procedimentos padrão. O teste deve ter sido validado para a infecção específica transmissível por transfusão. 2 Recolher e analisar os resultados dos testes. Se um resultado é não reactivo (A-), a dádiva pode ser enviada para uso clínico. 3 Se uma amostra de sangue for inicialmente reactiva a uma infecção transmissível por transfusão (A+), separar imediatamente e eliminar a dádiva de sangue e todos os componentes de sangue dela derivados. Observação: A decisão de não utilizar a dádiva reactiva é tomada na base de uma análise. Contudo, para excluir erro técnico e qualquer possibilidade de mistura de amostras em qualquer ocasião, a análise sobre uma dádiva inicialmente reactiva pode ser repetida em duplicado, utilizando a mesma amostra ou uma amostra tirada do tubo ligado à dádiva, e utilizando o mesmo teste. Se for identificada qualquer discrepância nos resultados, deve ser feita uma investigação profunda e medidas de correcção tomadas para evitar a distribuição de uma dádiva de sangue não segura. Opção 2: Em laboratórios com sistemas de qualidade estabelecidos 1 Utilizar um teste único (A) e analisar cada amostra de sangue individualmente segundo procedimentos padrão. O teste deve ter sido validado para a infecção específica transmissível por transfusão. 2 Recolher e analisar os resultados dos testes. Se um resultado é não reactivo (A-), a dádiva pode ser enviada para uso clínico. 3 Se uma amostra de sangue for inicialmente reactiva a uma infecção transmissível por transfusão (A+), separar imediatamente a dádiva de sangue e todos os componentes de sangue dela derivados. 4 Repetir o teste em duplicado, da mesma amostra e utilizando o mesmo teste. 5 Analisar os resultados dos testes repetidos: Se ambos os testes repetidos são não reactivos (A+, A-, A-), o resultado inicial pode ser devido a reactividade falsa ou erro técnico e a dádiva de sangue pode ser entregue para uso clínico Se um ou ambos os testes repetidos são reactivos (A+, A+, A-)/(A+, A+, A+) separar imediatamente e eliminar a dádiva de sangue e todos os componentes dele derivados. Enviar uma amostra para teste de confirmação. O algoritmo da Figura 1 mostra os pontos de decisão sobre a questão de entregar ou eliminar o sangue e seus componentes, com base nos resultados 50 do rastreio, e se o teste de confirmação deve ser feito para orientação do dador e monitorização epidemiológica (ver Secção 6). Figura 1: Modelo de algoritmo para rastreio de sangue Não reactivo (A-) Entregar a dádiva e componentes sanguíneos derivados Realizar teste de rastreio inicial (A) Reactivo inicial (A+) Opção 1 (Sistema de qualidade não limitada) Eliminar dádiva e componentes sanguíneos derivados Opção 2 (Sistema de qualidade ecaz) Repetir o teste em duplicado utilizando a mesma amostra e o mesmo teste Negativo em ambos os testes repetidos (A+, A–, A–) Entregar dádiva e componentes sanguíneos derivados Reactivo em um ou em ambos os testes repetidos (A+, A+, A–) ou (A+, A+, A+) Eliminar dádiva e componentes sanguíneos derivados Pedir teste de conrmação A = Teste A+ = Resultado reactivo em A A– = Resultado não reactivo em A 5.3 MISTURA DE AMOSTRAS PARA TESTES SEROLÓGICOS A mistura de amostras antes de análise há alguns anos que é assunto de debate. Tem sido considerada como uma medida de economia de custos, mas tais economias devem ser avaliadas contra o risco de não detecção de uma dádiva positiva. Isto é provável em certos testes onde a sensibilidade é comprometida em amostras diluídas. Numa mistura de amostras, cada amostra individual é diluída. Há também um grande risco de erros resultantes da pouca qualidade dos procedimentos de preparação da mistura e de registo das amostras individuais em cada mistura. Uma complicação adicional é a resolução de misturas com teste positivo e o atraso subsequente em entrega das unidades que compõem a mistura. Assim, para um programa de rastreio de sangue, não se recomenda misturar amostras para testes serológicos. 5.4 RASTREIO SEQUENCIAL Os serviços de transfusão fazem por rotina o rastreio de marcadores de infecções transmissíveis por transfusão (antigénio-anticorpo do VIH, AgHBs, antiVHC e sífilis) ao mesmo tempo. A principal razão invocada é reduzir o tempo necessário para rastreio a fim de que o sangue ou componentes sanguíneos, especialmente componentes instáveis tais como plaquetas, possam ser entregues de maneira atempada. As dádivas inicialmente reactivas são separadas e postas em quarentena. Dependendo do algoritmo utilizado pelo laboratório, a dádiva é então eliminada ou o teste é repetido. Alguns laboratórios podem utilizar rastreio sequencial fazendo inicialmente a detecção de um ou dois marcadores de infecção. Obtendo um resultado reactivo, a dádiva não é submetida a mais nenhum teste. A estratégia de rastreio 51 para determinar o teste ou testes que são realizados em primeiro lugar será influenciada pela prevalência de infecções na população de dadores. O rastreio sequencial é algumas vezes utilizado em países onde a prevalência de uma infecção transmissível por transfusão é mais alta do que outras; por exemplo, o rastreio do AgHBs pode ser feito em primeiro lugar quando a prevalência da hepatite B é mais alta do que a prevalência do VIH e VHC. Nesta situação, só as dádivas AgHBs negativas serão analisadas para detecção de antigénio-anticorpo do VIH, anti-VHC e sífilis. Não serão feitos testes para estes marcadores virais às dádivas com testes reactivos no rastreio do AgHBs. Assim, existe um potencial de economia de custos, especialmente se não for preciso realizar os testes mais dispendiosos em dádivas já tendo resultados positivos para o AgHBs. Embora se possa compreender o rastreio sequencial como tendo benefícios económicos, as economias potenciais devem ser avaliadas em comparação com factores tais como maior tempo de espera dos resultados e maiores custos com pessoal devido a horários mais longos. Pode resultar em atrasos em rastreio e entrega de sangue e componentes de sangue, o que leva a reservas de sangue reduzidas, especialmente se houver escassez crónica. Outra desvantagem desta estratégia é que os dadores com infecção conjunta (i.e. com mais de uma infecção) não serão identificados e, por isso, não podem ser notificados e aconselhados sobre tais infecções adicionais como parte do dever de cuidados para com os dadores de sangue. O rastreio sequencial também pode aumentar a possibilidade de misturas e erros devido a manipulação frequente de amostras de sangue, dádivas ou componentes delas derivados. Em centros com sistemas limitados ou sem qualidade, isto pode resultar em maior risco de transfusão de unidades não analisadas ou não seguras. Também será perdida a oportunidade de estudar o perfil epidemiológico de infecções em dadores. Assim, o rastreio sequencial não é recomendado para programas de rastreio de sangue. 5.5 RASTREIO DE SANGUE E TESTE DE DIAGNÓSTICO Em geral, não existe diferença entre rastreio e testes de diagnóstico; as diferenças residem nas razões das provas, a população submetida a tais provas, a interpretação dos resultados e as acções subsequentes. Os algoritmos de rastreio utilizados e o enfoque de sistemas de qualidade também podem ser diferentes dado que o rastreio de sangue está relacionado com o produto e o teste de diagnóstico não. O rastreio microbiológico de sangue é realizado em dádivas provenientes de dadores aparentemente saudáveis, assintomáticos para excluir a presença de infecções e assegurar sangue inócuo para transfusão . O teste de diagnóstico é realizado como parte de uma investigação clínica para procurar um diagnóstico de infecção quer devido a sinais e sintomas apresentados por um indivíduo ou um risco especifico ou identificável de infecção. O rastreio de sangue implica um único teste com a acção resultante, tal como a distribuição ou eliminação da dádiva resultante desse teste único, mesmo se um resultado inicialmente reactivo possa ser seguido pela repetição do teste. O teste de diagnóstico implica muitas vezes outros testes durante um certo período de tempo, quer para procurar diagnosticar infecções precoces quer para seguir ou monitorizar uma infecção. O resultado de um único teste não chega por si só para determinar infecção ou acções subsequentes. As amostras para diagnóstico são amostras com grande risco pois são geralmente obtidas de pacientes sintomáticos; não devem ser misturadas com amostras 52 de sangue de dadores. Em serviços de sangue em hospitais, as instalações para testes de diagnóstico devem ser separadas das utilizadas para rastreio de sangue. 5.6 RASTREIO DE EMERGÊNCIA Em situações de emergência em que há necessidade urgente de sangue e componentes de sangue mas não há disponibilidade rápida de sangue da reserva, podem utilizar-se testes de rastreio rápidos/simples de uso único para obter rapidamente resultados e permitir o envio de sangue para utilização clínica de acordo com o médico responsável pela decisão. Contudo, sempre que possível, a amostra de sangue deve ser analisada de novo o mais depressa possível utilizando um teste EIA ou outro teste utilizado por rotina no laboratório para rastreio de sangue, a fim de verificar a validade dos resultados do teste. Qualquer resultado divergente deve ser imediatamente investigado e acção de correcção tomada, incluindo comunicação com o médico que receitou a utilização de sangue. Os países devem trabalhar para aplicação de sistemas que evitem tais situações. 5.7 RASTREIO DE PLASMA PARA FRACCIONAMENTO Em serviços de transfusão sanguínea onde o plasma é recolhido para fraccionamento, quer como plasma recuperado (sangue total) ou como plasma por aférese, as exigências de rastreio e o algoritmo adoptado podem ser diferentes dos necessários para dádivas de sangue destinadas a uso clínico. O plasma para fraccionamento pode exigir outros testes de rastreio, dependendo da sua fonte e das exigências de regulação aplicadas ao serviço de fraccionamento. Tais exigências podem ser nacionais ou internacionais, dependendo da localização, quem de direito, natureza e importância do serviço. 5.8 ANÁLISE PRÉ-DOAÇÃO O rastreio de infecções transmissíveis por transfusão (TTI) em dadores de sangue antes de estes doarem o sangue (análise pré-doação) é assunto de debate. Considera-se algumas vezes ser uma medida de economia, especialmente em situações de grande prevalência. Contudo, tal análise não determina o estado infeccioso da dádiva e necessitará de ser seguida de outras análises da amostra de sangue recolhida durante o processo de doação. Exceptuando o caso da prevalência ser extremamente alta, a análise pré-doação pode resultar em perda de recursos e maiores custos de rastreio. Aumenta o tempo da dádiva de sangue, causando inconveniência indevida a dadores, e também risco de discriminação e estigmatização. A prática de análise pré-doação pode minar o desenvolvimento a longo prazo de um programa sustentável de dadores de sangue baseado em dadores bem seleccionados, voluntários e não remunerados, que dão o seu sangue regularmente. Qualquer análise de dádivas de sangue para rastreio de infecções transmissíveis por transfusão deve utilizar unicamente amostras obtidas durante o processo de doação e num contexto ambiental com controlo da qualidade. Num programa nacional eficaz de rastreio de sangue, a análise pré-doação tem aplicação limitada. Em contextos onde a prevalência de uma infecção é muito alta e a selecção de dadores não seria eficaz para reduzir a prevalência nos que dão sangue pela 53 primeira vez, a análise pré-doação pode ser útil como uma estratégia provisória enquanto se forma um grupo estável de dadores regulares, voluntários, não remunerados. 5.9 QUARENTENA DE SANGUE E COMPONENTES DE SANGUE ANTES DA SUA DISTRIBUIÇÃO OU ELIMINAÇÃO Um sistema de quarentena deve estar estabelecido para a separação física de todas as dádivas de sangue e seus componentes não analisados até que o rastreio de marcadores de infecção esteja terminado e a sustentabilidade das dádivas para uso terapêutico tenha sido determinada. É preciso estabelecer um sistema para assegurar que unidades submetidas a rastreio e unidades não submetidas a rastreio estão guardadas separadamente em instalações de conservação de sangue para evitar a distribuição de unidades não analisadas. Todas as dádivas reactivas ou positivas e todos os componentes delas derivados devem ser etiquetados “Não utilizar para transfusão” e separados para eliminação ou utilização não clínica. O serviço de transfusões deve assegurar que instalações separadas para conservação de sangue são claramente designadas para: Unidades sem rastreio Unidades reactivas/positivas Unidades não clarificadas/indeterminadas Unidades indicadas para utilização clínica: i.e. reserva de sangue disponível. Deve haver um sistema perfeitamente documentado que identifique a localização actual e o destino eventual de todo o sangue e seus componentes, quer destinado a utilização clínica ou a eliminação. O serviço de transfusão também deve ter políticas e procedimentos comprovados para resolver a distribuição de emergência de componentes de sangue antes do fim de todos os rastreios. As unidades reactivas ou positivas de sangue ou plasma são recursos valiosos para amostras e painéis, avaliações e validações de controlo de qualidade, e para fins de investigação. Os laboratórios de análise de sangue podem fornecer sangue ou plasma, a utilizar como reagentes, a instituições implicadas em pesquisa ou a planos de avaliação de qualidade para produção de painéis de capacidade. 5.10 DISTRIBUIÇÃO DE SANGUE E SEUS COMPONENTES Para utilização clínica ou industrial, só deve ser distribuído o sangue e componentes de sangue proveniente de dádivas não reactivas a todos os marcadores do rastreio ao qual são submetidas. Uma vez realizados todos os testes de rastreio de sangue, verificados os resultados e realizada qualquer outra verificação exigida, podem tomar-se acções formais para entrega de unidades em quarentena e transferência da reserva de sangue para outro local. O serviço de transfusões deve ter sistemas apropriados para etiquetagem das unidades de sangue e componentes sanguíneos como prontas para utilização clínica. A etiqueta de cada unidade de sangue deve fornecer os detalhes pertinentes à dádiva e os testes a que foi submetida. Uma vez isto feito, o processo de rastreio é considerado como terminado. 54 Todas as unidade reactivas devem ser removidas da reserva de quarentena e guardadas separadamente e com segurança até outra manipulação. 5.11 CONSERVAÇÃO A LONGO PRAZO DE AMOSTRAS DE DÁDIVAS DE SORO/PLASMA A conservação a longo prazo de amostras de dádivas de soro/plasma pode ser muito útil para um serviço de transfusões facilitando a investigação de eventos adversos de transfusão e infecções transmitidas por transfusão ou a avaliação de novos testes de rastreio ou reagentes. Contudo, a conservação só deve ser considerada quando se dispõe de recursos suficientes e adequados, incluindo espaço suficiente e sistemas eficientes de gestão da armazenagem, tanto baseada em documentos em papel como em software para gerir a procura de amostras. Antes de se criar um depósito de amostras, há um certo número de questões cruciais que devem ser consideradas, incluindo: Sistema para identificação e história de cada amostra guardada no depósito em relação com a sua utilidade e tempo de sua conservação Tipo de recipiente requerido para armazenagem Temperatura exacta a que as amostras devem ser conservadas Volume das amostras a conservar Critérios e documentação das razões para recuperação de uma amostra guardada. 55 6 Análise de confirmação e orientação de dadores 6.1 ESTRATÉGIAS DE ANÁLISE DE CONFIRMAÇÃO A análise de confirmação para infecções transmissíveis por transfusão é realizada por razões diferentes das de rastreio de sangue. Enquanto a finalidade do rastreio de dádivas de sangue é assegurar a segurança microbiana da reserva de sangue, a análise de confirmação é realizada para confirmar o estado infeccioso de dadores diferidos na base de testes de rastreio reactivos repetidos, o que permite então que uma acção apropriada seja tomada. Também é utilizada para obter dados epidemiológicos precisos sobre infecções na população de dadores de sangue. Uma confirmação eficaz exige, para cada infecção transmissível por transfusão, estratégias de confirmação apropriadas e bem concebidas incluindo a escolha de testes e algoritmos para a análise e interpretação dos resultados (48). Também exige material especial e formação superior. As análises de confirmação devem ser realizadas por um laboratório de referência excepto no caso do próprio serviços de transfusão possuir competências e recursos consideráveis. Contudo, é importante que o laboratório reconheça a diferença entre teste de diagnóstico e rastreio de sangue e que isso seja reflectido na sua estratégia de confirmação. Todas as exigências de qualidade relacionadas com testes de rastreio aplicam-se igualmente a testes de confirmação. O modelo de algoritmo da Figura 2 representa o número mínimo de processos recomendados para orientação de dadores e monitorização epidemiológica com base no rastreio inicial e teste de confirmação. Está relacionado com a opção 2 de rastreio de sangue para serviços onde existem sistemas eficazes de qualidade. O algoritmo modelo mostra os pontos de decisão sobre os quais, com base nos resultados do teste de confirmação, o dador deve ser aceite, aconselhado, diferido ou encaminhado. 6.2 INTERPRETAÇÃO E UTILIZAÇÃO DE RESULTADOS DE CONFIRMAÇÃO O teste de confirmação tem por objectivo essencial o estado do dador e a acção subsequente a tomar. As dádivas cujo teste repetido é reactivo podem ser confirmadas como negativas, inconcludentes ou positivas: Uma conclusão negativa no teste de confirmação indica que o dador não está infectado com a infecção específica. Contudo, um dador tendo resultados reactivos repetidos em rastreio e resultados negativos nos testes de confirmação deve ser aconselhado e temporariamente diferido até ter resultado de teste não reactivo no seguimento. O dador pode então ser aceite para dádivas futuras. Um resultado inconcludente é normalmente devido a reactividade não específica não relacionada com a presença do agente infeccioso. O dador deve ser aconselhado, diferido da doação de sangue e encaminhado para mais investigações. 56 Figura 2: Modelo de algoritmo para orientação de dadores de sangue com base em rastreio e teste de confirmação Não reactivo (A-) Entregar a dádiva e componentes sanguíneos derivados. Aceitar o dador para futuras dádivas de sangue Realizar teste de rastreio inicial (A) Reactivo inicial (A+) Opção 2 (Sistema de qualidade ecaz) Repetir o teste em duplicado utilizando a mesma amostra e o mesmo teste Negativo em ambos os testes repetidos (A+, A–, A–) Reactivo em um ou em ambos os testes repetidos (A+, A+, A–) ou (A+, A+, A+) Eliminar dádiva e componentes sanguíneos derivados Teste de conrmação não exigido Entregar a dádiva e componentes sanguíneos derivados Aceitar o dador para futuras dádivas de sangue Realizar teste de conrmação de acordo com a estratégia e o algoritmo nacionais de conrmação de testes Negativa conrmada Informar e aconselhar o dador e adiar até o resultado ser não reactivo (ver 6.2) Inconcludente Provavelmente actividade não especíca Informar e aconselhar o dador, deferir e acompanhar para outras investigações Positivo conrmado Dador infectado Noticar e aconselhar o dador, adiar e encaminhar para tratamento A = Teste A+ = Resultado reactivo em A A– = Resultado não reactivo em A Uma conclusão positiva confirma que o dador está infectado e deve ser diferido de futura doação de sangue, aconselhado e encaminhado para cuidados médicos apropriados. Em países com incidência ou prevalência baixa, uma proporção importante de dadores de sangue cujas dádivas dão resultados reactivos em rastreio não estão realmente infectados. É possível a perda de um número considerável de dadores devido a diferimento resultante de reactividade não específica, especialmente se uma análise não é muito específica. A maior parte dos testes de rastreio actualmente disponíveis, provenientes das principais companhias internacionais de diagnóstico, são de grande qualidade com boa sensibilidade e especificidade, mas para assegurar grande sensibilidade ainda é preciso aceitar uma certa perda de especificidade. Assim, é preciso identificar reactividade não específica e lidar devidamente com os dadores. Além disso, é preciso identificar, aconselhar e encaminhar para cuidados médicos os dadores realmente infectados. O processo 57 de confirmação também tem um papel importante a desempenhar no campo de saúde pública pois é preciso proteger contra a transmissão de infecções as pessoas em contacto estreito com dadores infectados. A análise de confirmação é uma componente essencial de exame retrospectivo para verificar o verdadeiro estado infeccioso do dador e receptores de dádivas prévias. Também proporciona benefícios adicionais ao serviço de transfusões na monitorização epidemiológica de taxas de infecção em dadores de sangue, contribuindo assim para uma melhor compreensão do comportamento do dador e da avaliação do risco. Conhecer e compreender taxas de infecção confirmadas em dadores de sangue ajuda a assegurar que as estratégias de selecção de dadores, diferimento e rastreio de sangue são actualizadas e eficazes. 6.3 SEGUIMENTO DE DADORES DE SANGUE O seguimento de dadores de sangue é uma parte essencial das actividades de qualquer serviço de transfusão. Tais dadores são a fonte do sangue e componentes de sangue que são preparados e distribuídos para utilização clínica ou industrial. Assim, devem ser orientados de maneira a garantir cuidados de grande qualidade e assegurá-los do interesse do serviço de transfusão pela sua saúde e bem-estar. O rastreio de sangue e o teste de confirmação permitem identificar dadores infectados ou dadores com resultados de reactividade não específica ou inconcludentes. Mesmo só dispondo de meios limitados, o serviço de transfusão tem um dever de assistência a dadores, suas famílias e a população em geral para assegurar que indivíduos infectados são encaminhados para aconselhamento, tratamento e acompanhamento apropriados pois, se não estiverem conscientes do seu estado, podem infectar outros indivíduos. O serviços de transfusão e as autoridades competentes devem ter uma política e sistemas claros para comunicar com tais dadores e os informar do seu estado de maneira a minimizar qualquer risco de transmissão. Os dadores com teste negativo em rastreio de infecções transmissíveis por transfusão devem ser encorajados a dar o seu sangue regularmente e a ter estilos de vida com pouco risco. 6.3.1 Diferimento de dadores de sangue Dadores positivos confirmados Dadores que são confirmados positivos devem ser diferidos da dádiva de sangue, aconselhados e encaminhados para tratamento terapêutico o mais rapidamente possível. Dadores reactivos repetidos mas confirmados negativos A maneira de orientar dadores reactivos repetidos com reactividade não específica é um aspecto crucial de um programa de rastreio dado que a escolha de testes de rastreio adequados e a utilização de um algoritmo de rastreio apropriado podem minimizar o desnecessário diferimento de dadores e perda de dádivas. Dadores com resultados reactivos repetidos em rastreio e resultados negativos em teste de confirmação devem ser informados, tranquilizados, aconselhados e temporariamente diferidos até apresentarem em seguimento resultado não reactivo utilizando o mesmo teste de rastreio ou um teste diferente. Uma vez negativos, podem de novo ser aceites como dadores. 58 Dadores inconcludentes Os dadores com resultados inconcludentes apresentam problemas aos serviços de transfusão e laboratórios de rastreio pois a sua orientação é menos evidente do que com dadores positivos confirmados ou negativos confirmados. É importante decidir se podem continuar no quadro dos dadores ou se devem ser diferidos. É aconselhável informar, aconselhar e diferir temporariamente, normalmente até seis meses, os dadores inconcludentes. Se durante o seguimento têm rastreio não reactivo e negativo confirmado, podem ser aceites como dadores no futuro. 6.3.2 Aconselhamento depois da dádiva Informar um dador dos seus resultados positivos confirmados para uma infecção implica evidentemente questões sensíveis e o dador precisa de ser aconselhado sobre os resultados e as acções que devem ser tomadas. Quando possível, o serviço de transfusão deve nomear pessoal especializado em aconselhamento de dadores e proporcionar encaminhamento para organismos prestando aconselhamento, tratamento e cuidados adicionais. Se apropriado, o serviço de transfusão deve pedir ao próprio médico do dador para se pôr em comunicação com o serviço. Informar dadores de reactividade não específica é muito problemático e deve ser feito com cuidado pois tal reactividade varia muitas vezes e normalmente sem qualquer impacto para a saúde presente dos indivíduos. Políticas claras sobre a maneira de orientar dadores não especificamente reactivos são essenciais. O diferimento permanente destes dadores é algumas vezes considerado desnecessário, mas poderá não ser evitável não havendo políticas e procedimentos estabelecidos que reconheçam reactividade não específica variável e facilitem o acompanhamento apropriado de tais dadores. O aconselhamento de dadores depois da dádiva feita pode fornecer informações sobre as possíveis vias de infecção e a efectividade da educação de dadores e critérios da sua selecção, incluindo por que razão decidiram dar o seu sangue, se já sabiam estar infectados e se os materiais de ensino dão informações suficientes sobre comportamentos a risco. Este tipo de informação ajuda a compreender padrões de infecção em indivíduos “saudáveis” e pode ser utilizado para assegurar clareza e precisão dos materiais de informação e ensino. Também pode ser utilizado para melhorar os critérios e o processo de selecção de dadores. 59 7 Sistemas de qualidade em rastreio de sangue 7.1 ELEMENTOS DE SISTEMAS DE QUALIDADE Sistemas de qualidade são vitais para a efectividade global de todos os aspectos do programa de rastreio e garantia de qualidade, segurança e eficácia de todo o sangue e produtos sanguíneos (49). Os elementos essenciais de um sistema de qualidade para rastreio de sangue incluem gestão organizacional, padrões de qualidade, documentação, traçabilidade, formação, avaliação, e manutenção e calibragem. Todos os testes de rastreio devem ser realizados segundo exigências de qualidade definidas, e todas as dádivas de sangue e componentes de sangue preparados a partir de tais dádivas, devem ser manipulados correctamente antes, durante e depois da análise laboratorial. A responsabilidade pela implementação consistente destes padrões cabe aos serviços de transfusão assim como a cada laboratório. Num laboratório, o sistema de qualidade define todos os processos e procedimentos que devem estar estabelecidos para assegurar rastreio de sangue eficaz. A sua implementação minimiza erros e assegura que: As amostras correctas são submetidas a testes apropriados Os resultados obtidos são exactos Só são entregues para transfusão ou utilização industrial sangue e componentes de sangue com rastreio não reactivo Sangue e componentes de sangue já submetidos a rastreio estão disponíveis na reserva de sangue em qualquer altura. Erros resultam muitas vezes de uma combinação de factores, com agravamento do erro original devido a processos de verificação inadequados em laboratório. O Quadro 2 mostra o alcance de um sistema de qualidade laboratorial. 7.2 GESTÃO ORGANIZACIONAL Para desenvolver uma política de qualidade e sistema de qualidade em cada serviço de rastreio é necessário o apoio de funcionários superiores. Para todos os serviços onde se realize rastreio, um gestor da qualidade deve ser designado. A administração deve assegurar que responsabilidade, autoridade, prestação de contas e descrições de postos de trabalho são claramente definidas e comunicadas dentro da organização. Os gestores de laboratório devem rever o sistema de qualidade a intervalos determinados, incluindo: Resultados de auditorias internas e externas realizadas Não conformidade e seguimento Acções de prevenção e de correcção aplicadas no caso de não conformidade Resultados de competência do pessoal e gestão de erros Análise de resultados de controlo da qualidade e tendências Sequências falhadas e taxas de testes repetidos Análise de resultados e recomendações de avaliações internas e externas da qualidade 60 Eliminação segura de resíduos com risco biológico. A direcção deve avaliar a necessidade de fazer alterações ao sistema da qualidade quando são identificadas deficiências e oportunidades para melhoramento. As avaliações da direcção devem especificar as acções e recursos exigidos para melhorar a efectividade do sistema de qualidade. 7.3 PADRÕES PARA SISTEMAS DE QUALIDADE Os laboratórios de rastreio de sangue devem ter padrões apropriados de qualidade, segundo padrões nacionais, para assegurar controlo do processo e resultados válidos. Padrões internacionais mundialmente reconhecidos também podem ser adoptados pelos serviços de transfusão para assegurar uma abordagem consistente da qualidade em todas as suas actividades e garantir a segurança e eficácia global do sangue e produtos de sangue preparados para uso terapêutico. Os padrões devem entrar em linha de conta com a legislação pertinente existente ou outras exigências nacionais. 7.4 DOCUMENTAÇÃO Um conjunto completo de documentos apropriados, incluindo política da qualidade, manual da qualidade e procedimentos estandardizados de funcionamento, formulários e folhas de dados, devem ser elaborados e mantidos actualizados. Estes documentos devem ser utilizados para orientar todos os processos, procedimentos e tarefas para assegurar uniformidade, traçabilidade e precisão. Todos os processos realizados pelo laboratório devem ser documentados e os registos guardados para fins de traçabilidade. Os registos incluem resultados de testes, resultados de controlo da qualidade, lotes de conjuntos de testes e datas de expiração. Formulários de testes completados estabelecem os registos do processo de rastreio. Para conservação segura, procura, arquivamento e eliminação de documentos deve estar implementado um sistema de gestão de documentos, o qual também deve assegurar confidencialidade dos registos. Os registos de dadores cujos resultados dos testes são reactivos, inconcludentes ou positivos devem ser marcados ou assinalados para evitar dádivas ulteriores ou para outras acções, tal como seguimento para investigação ou convocação para dádivas futuras. 7.5 TRAÇABILIDADE A traçabilidade é uma parte vital do sistema de qualidade num serviço de transfusão de sangue. Todas as actividades e acções associadas com a manipulação, a realização de testes e o processamento de cada dádiva devem ser registadas na íntegra e totalmente ligadas à dádiva, ao dador, ao destino da dádiva e ao paciente. Deve haver disponibilidade de uma pista de auditoria totalmente documentada para demonstrar que, de facto, cada dádiva foi submetida a teste e manipulada correctamente, e que todos os resultados de testes são válidos. Para fornecer tais provas, os registos e outros documentos devem ser guardados durante um período de tempo definido; isto deve ser determinado a nível nacional de acordo com qualquer legislação pertinente já existente ou outras exigências nacionais. 61 7.6 FORMAÇÃO Todo o pessoal deve estar perfeitamente treinado para realizar o rastreio de sangue segundo os padrões exigidos. Deve ser proporcionada formação tanto inicial como contínua para assegurar que os conhecimentos e competência necessários são mantidos e mais desenvolvidos, incluindo capacidade para resolver os problemas eventualmente encontrados. Programas estruturados de formação para gestores de laboratório e pessoal técnico devem ser estabelecidos e analisados a intervalos apropriados. Os materiais de ensino a distância da OMS, Safe Blood and Blood Products, proporcionam uma base útil para formação, especialmente o Módulo de Introdução: Guidelines and Principles for Safe Blood Transfusion Practice (50) e Módulo 2: Screening for HIV and Other Infectious Agents (51). A formação deve ser toda realizada segundo um plano de formação nacional e o programa deve ser analisado regularmente. O pessoal deve ser avaliado numa base regular sobre os seus conhecimentos de políticas e a sua competência na realização dos procedimentos. Para cada membro do pessoal, devem ser mantidos registos precisos sobre formação e avaliação de competências os quais também serão úteis para avaliar exigências de formação contínua. 7.7 AVALIAÇÃO A monitorização e avaliação contínuas, utilizando parâmetros apropriados, são partes integrantes de um sistema de qualidade. Num programa de rastreio de sangue, a avaliação pode ter lugar a dois vastos níveis: a nível nacional para avaliar a efectividade do programa, e a nível de serviço individual para avaliar a efectividade do rastreio de sangue. Os dados produzidos a nível nacional podem ser utilizados para avaliar a consecução de resultados esperados e para recolher informações sobre indicadores nacionais. Por exemplo, a percentagem de unidades de sangue doado submetidas a rastreio de infecções transmissíveis por transfusão com garantia de qualidade é um dos indicadores determinantes da segurança do sangue utilizados pela OMS (52) e a Sessão Especial sobre o VIH/SIDA da Assembleia Geral das Nações Unidas (53). A nível de serviço de rastreio, o controlo da execução de testes é a primeira medida para assegurar reprodutibilidade e segurança. Os laboratórios devem registar dados diários de controlo de qualidade e analisar tais dados para detecção de tendências, de maneira a poder tomar imediatamente qualquer acção de correcção necessária para manter o funcionamento óptimo do processo de rastreio. Todas as actividades tendo lugar em laboratórios de rastreio devem ser analisadas regularmente por meio de auto-inspecção e auditorias internas e externas. As avaliações devem cobrir todas as áreas do processo de rastreio e devem ser realizadas utilizando procedimentos aprovados para identificar áreas para melhoramento e demonstrar que sistemas de qualidade estão a ser implementados de maneira adequada. Para avaliação objectiva da execução laboratorial, cada laboratório também deve participar em avaliações externas de qualidade (EQAs) durante as quais, um laboratório externo, envia regularmente conjuntos de amostras para análise. Os resultados são depois enviados de volta ao mesmo laboratório externo. A análise destes resultados proporciona informações úteis sobre a execução dos testes, assim como sobre o funcionamento de cada laboratório participante a avaliações externas de qualidade. 62 Também deve ser estabelecido um sistema nacional de hemovigilância que inclua monitorização, investigação e notificação de infecções transmissíveis por transfusão em dadores e pacientes. 7.8 MANUTENÇÃO E CALIBRAGEM Para assegurar a boa manutenção do material e a detecção e correcção de qualquer problema potencial antes da avaria da máquina e não disponibilidade subsequente, um programa de manutenção preventiva é essencial. Todo o material utilizado para rastreio de sangue deve ser mantido e calibrado regular e correctamente. Em termos gerais, a manutenção pode ser dividida em: Manutenção realizada pelos próprios utentes Manutenção exigindo profissionais. Para cada peça de material, devem guardar-se registos diários de todo o trabalho realizado desde o início até ao fim. A manutenção diária por utentes e a manutenção preventiva, a intervalos apropriados, devem ser realizadas de acordo com as instruções do fabricante. Todas as actividades de manutenção devem ser planeadas e realizadas dentro do prazo e devem ser registadas na totalidade. Os registos de erros também devem ser conservados para todo o material. Todo o material e instrumentos servindo para medir parâmetros específicos devem ser calibrados e certificados a intervalos estabelecidos, segundo um programa planeado, para assegurar resultados de confiança. Devem manter-se registos de todas as calibragens. Em procedimentos exigindo aspiração e distribuição de um dado volume, só se deve utilizar o material e os instrumentos que tenham sido calibrados para procedimentos volumétricos. 63 Referências 1 World Health Assembly resolution WHA28.72: Utilization and supply of human blood and blood products. Geneva, World Health Organization, 1975. 2 World Health Assembly resolution WHA58.13: Proposal to establish World Blood Donor Day. Geneva, World Health Organization, 2005. 3 Aide-mémoire: Blood safety. Geneva, World Health Organization, 2002. 4 Consensus statement on screening blood donations for infectious agents through blood transfusion. WHO/LBS/91.1. Geneva, World Health Organization Global Programme on AIDS/League of Red Cross and Red Crescent Societies, 1991. 5 Dodd RY. Current risk for transfusion-transmitted infections. Current Opinion in Hematology, 2007, 14(6):671–676. Review. 6 Pomper GJ, Wu Y, Snyder EL. Risks of transfusion-transmitted infections. Current Opinion in Hematology, 2003, 10(6):412–418. 7 Maresch C, et al. Residual infectious disease risk in screened blood transfusion from a high-prevalence population: Santa Catarina, Brazil. Transfusion, 2008, 48(2):273–281. 8 Blood Safety Indicators, 2007. Geneva, World Health Organization, 2009. 9 WHO Global Database on Blood Safety, 2004–2005 report. Geneva, World Health Organization, 2008. 10 Matee MI, Magesa PM, Lyamuya EF. Seroprevalence of human immunodeficiency virus, hepatitis B and C viruses and syphilis infections among blood donors at the Muhimbili National Hospital in Dar Es Salaam, Tanzania. BMC Public Health, 2006; 6:21. 11 Panda M, Kar K. HIV, hepatitis B and C infection status of the blood donors in a blood bank of a tertiary health care centre of Orissa. Indian Journal of Public Health, 2008; 52(1):43–44. 12 Beal R, van Aken WG. Gift or good? A contemporary examination of the voluntary and commercial aspects of blood donation. Vox Sanguinis, 1992, 63(1):1–5. 13 van der Poel CL, Seifried E, Schaasberg WP. Paying for blood donations: still a risk? Vox Sanguinis, 2002, 83(4):285–293. 14 Paid vs. unpaid donors (International forum). Vox Sanguinis, 2006, 90:63–70. 15 Heyns A du P et al. 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HIV antibody screening remains indispensable for ensuring viral safety of blood components despite NAT implementation. Transfusion, 2003, 43(10): 1428–1432. 64 21 Laperche S. Antigen-antibody combination assays for blood donor screening: weighing the advantages and costs. Transfusion, 2008; 48(4):576–579. 21 Vermeulen M et al. Impact of individual-donation nucleic acid testing on risk of human immunodeficiency virus, hepatitis B virus, and hepatitis C virus transmission by blood transfusion in South Africa. Transfusion, 2009; 49(6):1115–1125. 22 Postma MJ, Bos JM, van Hulst M. Pharmaco-economics of nucleic-acid amplification testing (NAT) of Dutch blood donors for HIV. International Conference on AIDS, 2002; 14: abstract no. TuPeC4861. 23 Stramer SL et al. Detection of HIV-1 and HCV infections among antibody-negative blood donors by nucleic acid-amplification testing. New England Journal of Medicine, 2004, 351:760–768. 24 van Hulst M et al. Cost-effectiveness of HIV screening of blood donations in Accra (Ghana). In: Health economics of blood transfusion safety. Rijksuniversiteit Groningen, Netherlands, 2008. 25 Contreras M (ed). ABC of transfusion (3rd edn.). London, BMJ Books, 1998. 26 Baggaley RF et al. Risk of HIV-1 transmission for parenteral exposure and blood transfusion: a systematic review and meta-analysis. AIDS, 2006, 20:805–812. 27 Laperche S, Maniez-Montreuil M, Couroucé AM. Screening tests combined with p24 antigen and anti-HIV antibodies in early detection of HIV-1. Transfusion Clinique et Biologique, 2000(7) Suppl. 1:18s–24s. 28 Kleinman S et al. The incidence/window period model and its use to assess the risk of transfusion-transmitted human immunodeficiency virus and hepatitis C virus infection. Transfusion Medicine Review, 1997, 11(3):155–172. 29 Fiebig EW et al. Dynamics of HIV viremia and antibody seroconversion in plasma donors: implications for diagnosis and staging of primary HIV infection. AIDS. 2003; 17:1871–1879. 30 Laperche S. Antigen-antibody combination assays for blood donor screening: weighing the advantages and costs. Editorial. Transfusion, 2008, 48:576–579. 31 Gerlich WH et al. HBsAg non-reactive HBV infection in blood donors. Transmission and pathogenecity. Journal of Medical Virology, 2007, S32–S36. 32 Satake M et al. Infectivity of blood components with low HBV-DNA levels identified in a lookback program. Transfusion, 2007, 47(7):1197–1205. 33 Katz L et al. Performance of an algorithm for the reentry of volunteer blood donors deferred due to false-positive test results for antibody to hepatitis B core antigen. Transfusion, 2008, 48(11):2315–2322. 34 Cable R et al. Limited use of alanine aminotransferase screening of hepatitis C antibody-screened blood donors. Transfusion, 1997, 37(2):206–10. 35 Busch MP et al. Declining value of alanine aminotransferase in screening of blood donors to prevent posttransfusion hepatitis B and C virus infection. The Retrovirus Epidemiology Study. Transfusion, 1995, 35(11):903–910. 36 Biswas R et al. Comparative sensitivity of HBV NAT and HBsAg assays for detection of acute HBV infection. Transfusion, 2003, 43(6):788–798. 37 Lefrère JJ et al. Complete or partial seroreversion in immunocompetent individuals after self-limited HCV infection: consequences for transfusion. Transfusion, 2004, 44(3):343–348. 38 Laperche S et al. Simultaneous detection of hepatitis C virus (HCV) core antigen and anti-HCV antibodies improves the early detection of HCV infection. Journal of Clinical Microbiology, 2005, 43: 3877–3883. 39 Kitchen AD, Chiodini PL. Malaria and blood transfusion. Vox Sanguinis, 2006, 90(2):77–84. 65 40 Otani M et al. WHO comparative evaluation of serologic assays for Chagas disease. Transfusion, 2009, 49(6):1076–1082. 41 Inaba S et al. Efficacy of donor screening for HTLV-I and the natural history of transfusion-transmitted infection. Transfusion, 1999; 39(10):1104–1110. 42 Lefrère JJ. Human T-lymphotropic virus type I (HTLV-I): risk of transmission with transfusion. La Presse Médicale, 2000; 29(20):1134–1138. 43 Stramer SL, Foster GA, Dodd RY. Effectiveness of human T-lymphotropic virus (HTLV) recipient tracing (lookback) and the current HTLV-I and -II confirmatory algorithm, 1999 to 2004. Transfusion. 2006, 46(5):703–707. 44 van Prooijen HC et al. Prevention of primary transfusion-associated cytomegalovirus infection in bone marrow transplant recipients by the removal of white cells from blood components with high-affinity filters. British Journal of Haematology, 1994, 87(1):144–147. 45 Roback JD. CMV and blood transfusions. Reviews in Medical Virology, 2002, 12(4):211–219. 46 Maintaining a safe and adequate blood supply during pandemic influenza. Geneva, World Health Organization, 2010. http://www.who.int/bloodsafety/publications/ WHO_Guidelines_on_Pandemic_Influenza_and_Blood_Supply.pdf 47 Management of waste in blood transfusion services. Geneva, World Health Organization, 2010. 48 Revised recommendations for the selection and use of HIV antibody tests. Joint United Nations Programme on HIV/AIDS (UNAIDS)-WHO. Weekly Epidemiological Record, 1997; 21;72(12):81–87. 49 Aide-mémoire: Quality systems for blood safety. Geneva, World Health Organization, 2002. 50 Safe Blood and Blood Products. Introductory Module: Guidelines and Principles for Safe Blood Transfusion Practice. Geneva, World Health Organization, 2002. 51 Safe Blood and Blood Products. Module 2: Screening for HIV and Other Infectious Agents. Geneva, World Health Organization, 2002. 52 Global Database on Blood Safety, 2008. Geneva, World Health Organization, 2009. 53 United Nations General Assembly Special Session on HIV/AIDS. Monitoring the Declaration of Commitment on HIV/AIDS. Guidelines on construction of core indicators. 2010 Reporting. Geneva, UNAIDS, 2009. 66 Glossário Acção de correcção: Acção tomada para eliminar a causa de uma falta de conformidade ou outra situação indesejável – ISO 9000 (2000). Acção preventiva: Acção tomada para evitar a ocorrência de não-conformidade, defeito ou outra causa potencial de erro. Aférese: Procedimento que implica colheita de sangue, separação ex vivo e recolha do componente desejado (e.g. células vermelhas, plasma ou plaquetas) e restituição dos outros componentes. Algoritmo de rastreio: Sequência de acções no processo de rastreio de sangue para determinar a conformidade de cada unidade de sangue doado e seus componentes para utilização clínica ou industrial. Um algoritmo de rastreio de sangue especifica os testes a utilizar e, segundo cada resultado de teste, dirige o utente para a acção seguinte. Amostras de controlo de qualidade: Amostras bem caracterizadas, individuais ou agrupadas, que são, se possível, calibradas segundo padrões internacionais e diluídas numa substância intercelular apropriada. Auditoria: Exame sistemático, independente e comprovado para determinar se as actividades são conforme um sistema de qualidade planeado e aprovado. Avaliação: Processo de selecção específico para determinar a adequação de um procedimento ou material (e.g. teste, reagente, equipamento). Avaliação externa de qualidade: Avaliação externa dos resultados de um laboratório utilizando amostras de conteúdo conhecido, mas não revelado, e comparação com os resultados de outros laboratórios. Banco de sangue hospitalar: Laboratório ou parte de um laboratório dentro de um hospital que recebe de um centro de sangue e conserva reservas analisadas de sangue total e componentes de sangue. O banco de sangue hospitalar realiza testes de compatibilidade e entrega sangue total e componentes de sangue para uso clínico dentro do hospital. Pode ser denominado um laboratório de transfusão hospitalar. Cadeia do frio de sangue: Armazenagem e transporte de sangue e produtos de sangue a temperatura e condições apropriadas desde o local de colheita ao local de utilização – “de veia para veia”. Calibragem: Conjunto de operações que estabelecem, sob condições especificadas, a relação entre valores indicados por um instrumento ou sistema de medida, ou valores representados por uma medida material, e os valores conhecidos correspondentes de um padrão de referência. Característica: Aspecto distintivo – ISO 9000 (2000). Centro de sangue: Serviço que realiza todas ou parte das actividades de recrutamento de dadores, recolha de sangue (sangue total ou, em certos casos, por aférese), testes de detecção de infecções transmissíveis por transfusão e grupos sanguíneos, separação de componentes do sangue, armazenagem, distribuição a bancos de sangue em hospitais dentro de uma região definida, teste de compatibilidade, envio de sangue e componentes de sangue para utilização clínica e ligação com serviços clínicos. Os centros de sangue podem 67 ser independentes ou baseados em hospitais. Não devem ser categorizados como centros de sangue: Locais/salas itinerantes ou fixos que funcionam como parte de um centro de sangue Bancos de sangue hospitalares que só guardam, verificam a compatibilidade e enviam sangue analisado. Concordância: Satisfazer os padrões requeridos. Conformidade: Cumprimento de uma exigência – ISO 9000 (2000). Consistência: Fazer a mesma coisa repetidas vezes, o que torna o resultado mais previsível e reduz variações em produtos e processos. Correcção: Acção tomada para rectificar uma não conformidade ou outra situação onde tenha ocorrido um erro. Dadores de sangue Dador de sangue voluntário e não remunerado: pessoa que dá sangue (e plasma ou componentes celulares) de seu livre arbítrio sem receber qualquer retribuição, quer em dinheiro ou em géneros podendo ser considerados como substitutos de dinheiro. Dador de sangue familiar/substituto: pessoa que dá uma dádiva de sangue unicamente quando um membro da família ou amigo necessita de transfusão. Dador “pago”: pessoa que dá sangue em troca de dinheiro ou outra forma de pagamento. Documentação: Políticas, instruções e registos escritos referentes a fornecimento de um produto ou serviço. Efectividade: Até que ponto as actividades planeadas são realizadas e os resultados planeados são atingidos – ISO 9000 (2000). Erro: Um incidente onde o sistema de qualidade falhou. Hemovigilância: Conjunto de procedimentos de vigilância para monitorização, notificação e investigação de eventos adversos (reacções e incidentes) cobrindo toda a cadeia de transfusão, desde a recolha de sangue e seus componentes ao seguimento de receptores, destinados a recolher e avaliar informação e a evitar a sua ocorrência ou reaparecimento. Incidência de infecção: Proporção de uma população definida recentemente infectada por um agente infeccioso num período de tempo específico. Infecção transmissível por transfusão: Infecção potencialmente capaz de ser transmitida por transfusão de sangue. Infra-estrutura: Sistema de serviços permanentes e equipamento de uma organização – ISO 9000 (2000). Inspecção: Avaliação da conformidade por observação e avaliação acompanhada, segundo o caso, com medidas, testes ou padrões – ISO 9000 (2000). ISO: Organização Internacional de Normalização. Monitorizar: Recolha e análise constante de informações sobre uma actividade para avaliar o progresso. 68 Não concordância: Não responder aos padrões exigidos. Plano de avaliação externa de qualidade: Plano aprovado para organização de avaliações externas de qualidade. Este pode ser um plano local ou organizado a nível nacional, regional ou internacional. Pré-qualificação de testes: Processo concebido para assegurar a conformidade dos testes com os padrões mundiais de qualidade, segurança e eficácia. A préqualificação consiste em uma avaliação transparente, cientificamente correcta que inclui exame de dossiê, análise de consistência ou avaliação de resultados e visitas locais a fabricantes. Prevalência de infecção: Proporção de uma população definida que está infectada com um agente infeccioso numa dada altura. Procedimento operacional padrão: Instruções escritas na língua local para a execução, de maneira estandardizada, de um procedimento específico. Produtos de sangue: Qualquer substância terapêutica derivada de sangue humano, incluindo sangue total, componentes de sangue instáveis e produtos medicinais derivados de plasma. Reactividade cruzada: Quando um anticorpo não só reconhece o seu antigénio específico correspondente, mas também outros antigénios podendo ter certas semelhanças. Serviços de transfusão de sangue: Termo genérico para descrever centros de sangue e outros serviços implicados em fornecimento de sangue para transfusão onde não existe um Serviço Nacional de Transfusão de Sangue. Serviço nacional de transfusão de sangue: Organização com responsabilidade nacional regulamentar para fornecimento de sangue para transfusão, e ligação com serviços clínicos. Este serviço coordena todas as actividades relacionadas com recrutamento de dadores de sangue e recolha, análise, processamento, armazenagem e distribuição de sangue e produtos de sangue, utilização clínica de sangue e vigilância de casos adversos de transfusão. As actividades são realizadas no âmbito de uma rede de centros de sangue nacionais/regionais/ provinciais e bancos de sangue hospitalares. Validação: Confirmação e disponibilização de provas objectivas de que as exigências para uma utilização ou aplicação planeada específica foram satisfeitas. 69 Agradecimentos A equipa da Segurança da Transfusão de Sangue do Departamento da OMS de Tecnologias Essenciais no Campo da Saúde deseja apresentar os seus agradecimentos aos seguintes especialistas no campo da medicina e ciência transfusional pela sua contribuição ao desenvolvimento destas recomendações. Autores técnicos e equipa de redacção Dr. Alan Kitchen, Head, National Transfusion Microbiology Reference Laboratory, NHS Blood and Tissues, Londres, Reino Unido Sra. Jan Fordham, Technical Officer, Blood Transfusion Safety, Department of Essential Health Technologies, Sede da OMS, Genebra, Suíça Professora Associada Elizabeth M. Dax, Directora, National Serology Reference Laboratory Australia, Melburne, Austrália Sra. Shân Lloyd, formerly Technical Officer, Blood Transfusion Safety, Department of Essential Health Technologies, Sede da OMS, Genebra, Suíça Sr. Ravi Reddy, Chief Operations Officer, South African National Blood Service, Joanesburgo, África do Sul Dr. Neelam Dhingra, Coordinator, Blood Transfusion Safety, Department of Essential Health Technologies, Sede da OMS, Genebra, Suíça Dr. Noryati Abu Amin, Medical Officer, Blood Transfusion Safety, Department of Essential Health Technologies, Sede da OMS, Genebra, Suíça Revisores e outros colaboradores Dr. Jean-Pierre Allain, Principal Investigator and Head of Transfusion Medicine, Division of Transfusion Medicine, University of Cambridge, Reino Unido Sr. Stephen Cheng, Quality Manager, Hong Kong Red Cross Blood Transfusion Service, Hong-Kong, China Dr. Justina Ansah, Director, National Blood Transfusion Service, Acra, Gana Dr. Shahnaz Al Baloushi, Director, Department of Blood Transfusion Service, Ministério da Saúde, Muscat, Oman Dr. Zarin Bharucha, Consultant in Transfusion Medicine, Mumbai, Índia Dr. José Ramiro Cruz-Lopez, Regional Adviser, Laboratory and Blood Services, WHO Regional Office for the Americas/Pan American Health Organization, Washington DC, Estados Unidos da América Dra. Micheline Diepart, Medical Officer, Anti-Retroviral Treatment and HIV Care, HIV/AIDS Department, Sede da OMS, Genebra, Suíça Dr. Roger Y. Dodd, Vice President, Research and Development, American Red Cross, Maryland, Estados Unidos da América Dr. Rajesh Bhatia, Regional Adviser, Blood Safety & Clinical Technology, WHO Regional Office for South-east Asia, Nova Deli, Índia Dr. Kamel Boukef, Transfusion Medicine Specialist, Túnis, Tunísia Dr. Michael P. Busch, Director, Blood Systems Research Institute, San Francisco, Estados Unidos da América Dr. Mohamed El-Nageh, Executive Director, International Consortium for Blood Safety, New York, Estados Unidos da América Dr. Jean C. Emmanuel, Transfusion Medicine Specialist, Harare, Zimbabwe 70 Dr. Marukh Getshen, Blood Bank In-charge, National Referral Hospital, Thimphu, Butão Sr. David A. Mvere, Chief Executive Officer, Zimbabwe National Blood Service, Harare, Zimbabwe Dr. Ahmad Gharehbaghian, Deputy Managing Director, Research & Education Affairs, Iranian Blood Transfusion Organization, Teerão, Irão Dr. Luc Noël, Coordinator, Clinical Procedures, Department of Essential Health Technologies, Sede da OMS, Genebra, Suíça Dr. Rachanee O-Charoen, formerly Director, National Blood Centre, The Thai Red Cross Society, Banguecoque, Tailândia Dr. Antonio Giulivi, formerly Director, Blood Safety Surveillance and Health Care Acquired Infections Division, Centre for Infectious Disease Prevention and Control, Health Canada, Otava, Canadá Dr. Mario J. Grijalva, Director, Tropical Disease Institute, Ohio University, Athens, USA/ USA/Catholic University, Quito, Equador Dra. Christie Reed, Medical Officer, HIV Prevention Branch, Division of Global AIDS, Centers for Disease Control and Prevention, Atlanta, Estados Unidos da América Sra. Shereen Hasan, Health Researcher, Horgen, Suíça Dra. Ester Sabino, Departamento de Biologia Molecular, Fundação Prósangue, Hemocentro de São Paulo, São Paulo, Brasil Dra. Valentina Hafner, Technical Officer, Country Policies, Systems and Services, Sede Regional da OMS para a Europa, Copenhaga, Dinamarca Dr. Kenji Tadokoro, Executive Officer of the Blood Service Board of Management, Japanese Red Cross Society, Tóquio, Japão Dr. Jean-Baptiste Tapko, Regional Adviser, Blood Safety and Laboratory Services, Sede Regional da OMS para a África, Brazzaville, Congo Professora Dora Mbanya, Head, Haematology and Transfusion Unit, Centre hospitalier et universitaire de Yaoundé, Camarões Dr. Anatole Tounkara, Directeur, Centre national de transfusion sanguine, Bamako, Mali Dr. Tom Krusius, Medical Director, Blood Transfusion Service, Finnish Red Cross, Helsinque, Finlândia Dra. Gaby Vercauteren, Coordinator, Diagnostics & Laboratory Technology, Department of Essential Health Technologies, Sede da OMS, Genebra, Suíça Dr. Sudarshan Kumari, formerly Regional Adviser, Blood Safety, Sede Regional da OMS para a Ásia do Sudeste Dr. Che Kit Lin, Hospital Chief Executive, Hong Kong Red Cross Blood Transfusion Service, HongKong, República Popular da China Dra. Elizabeth Vinelli, Medical Director, CENASA, Honduran Red Cross, Comayaguela D.C., Honduras Dr. Paul Mainuka, Medical Officer, Blood Safety, Escritório da OMS no país, Etiópia Dr. Nabila Metwalli, Regional Adviser, Blood Safety, Laboratory & Imaging, Sede Regional da OMS para o Mediterrâneo Oriental, Cairo, Egipto Dr. Edward Murphy, University of California, San Francisco/Blood Centers of the Pacific Irwin Center and Blood Systems Research Institute, San Francisco, Estados Unidos da América Dr. Silvano Wendel, Chair, International Society of Blood Transfusion Working Party on TTID; Medical Director, Blood Bank, Hospital Sirio-Libanês, São Paulo, Brasil Dr. K. Yamaguchi, Director, National Institute of Infectious Diseases, Department of Safety Research on Blood and Biologics, Musashimurayama, Tóquio, Japão Sr. Yu Junping, Technical Officer, Department of Essential Health Technologies, Sede da OMS, Genebra, Suíça 71 978 92 4 854788 1