Marcos Aurélio Lannes Jr. (pesquisador Pibic-Ifes) Rodrigo Loureiro Medeiros (professor do Ifes) Maio, 2014 Objetivo A partir de informações públicas disponíveis sobre a desindustrialização brasileira, os cenários que as economias capixaba, nacional e mundial viveram no período pós-crise de 2008, este projeto de pesquisa desenvolvido no Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes) tem como objetivo geral identificar e listar os desafios que o Espírito Santo terá para tornar o seu setor industrial mais inovador e competitivo. 2 Questões relevantes Desafio da produtividade. Contexto da desindustrialização brasileira. Grau de abertura comercial capixaba. Mapa Estratégico da Indústria Capixaba 2013-2022. Necessidade de investimentos coordenados em capitais físicos e humanos. 3 Manufaturas A produtividade do trabalho é em média 75% maior nas manufaturas do que no restante da economia (RODRIK, 2011). Podemos até viver em uma era pós-industrial, na qual as tecnologias de informação, biotecnologia e serviços de alto valor tornaram-se os motores do crescimento econômico. No entanto, os países que ignoram a saúde de suas indústrias de transformação correm perigo. O setor manufatureiro costuma ser onde as classes médias tomam forma e crescem. Portanto, a produção manufatureira pode vir a ser central para o vigor da democracia. 4 Quadro nacional A indústria brasileira sofreu uma perda substancial de competitividade na fabricação de manufaturados nos últimos dez anos. A alta dos salários e dos preços da energia e a valorização do câmbio aumentaram fortemente os custos de produzir no Brasil, tendência não compensada por ganhos expressivos de produtividade. Tornou-se quase uma “sabedoria convencional” dizer que o caminho é tornar o setor produtivo nacional mais inovador. Esse assunto vem sendo debatido de forma qualificada no Brasil e muitos estudiosos levantam suas preocupações com o retorno de excessos intervencionistas (BACHA; BOLLE, 2013). O tema é complexo e divide opiniões em muitos dos seus aspectos. 5 Indústria x serviços A competição por mão de obra qualificada com o setor de serviços é, em média, desfavorável à indústria. Enquanto a indústria encontra grandes dificuldades de repassar o aumento real dos salários dos trabalhadores ao preço final dos produtos, os serviços conseguem pagar mais para os funcionários elevando os seus preços por não serem tão sujeitos à competição estrangeira. 6 Produtividade A revista The Economist, na sua edição de 19/4/2014, traz uma nova matéria sobre o Brasil. Apesar de um breve surto entre 1960 e 1970, o output por trabalhador encontra-se praticamente estagnado ao longo do último meio século, em um claro contraste com a maioria das outras grandes economias emergentes. A produtividade do trabalho foi responsável por 40% do crescimento do PIB do Brasil entre 1990 e 2012, em comparação com 91% na China e 67% na Índia. O restante veio da expansão da força de trabalho, da demografia favorável, da formalização e do baixo desemprego. Muitas empresas brasileiras são improdutivas porque são mal geridas e o giro da mão de obra é elevado. 7 Produtividade, segundo Mankiw (2008) São determinantes da produtividade: o capital físico, o capital humano, os recursos naturais e o conhecimento tecnológico. “Embora os recursos naturais sejam importantes, não são necessários para que uma economia seja altamente eficiente na produção de bens e serviços” (p. 366). O comércio internacional torna o desenvolvimento possível para os países carentes de recursos naturais. 8 The Economist 9 The Economist 10 Mudanças do ambiente institucional , segundo Lisboa e Pessoa (2013) Certas reformas institucionais impulsionaram o aumento da produtividade, como as ocorridas nos mercados de crédito e de capital. Nova lei de falência permitiu o processo mais eficiente de renegociação de dívidas, com efeitos no acesso ao crédito. Maior formalização de empresas. Impacto final dependeu das características específicas de cada setor. Reformas ganhos de produtividade. 11 Lisboa e Pessoa (2013) 12 Lisboa e Pessoa (2013) 13 Baixo desempenho Se a economia brasileira desejar efetivamente crescer de forma sustentada acima de 2% ao ano, os seus trabalhadores terão de se tornar mais produtivos. Há razões que explicam o baixo desempenho brasileiro. Vejamos: o Brasil investe 2,2% do PIB em infraestrutura, bem abaixo da média do mundo em desenvolvimento, 5,1%. Gastos do Brasil com educação em relação ao PIB cresceram para o patamar relativo de um país desenvolvido, porém sua qualidade não acompanhou essa evolução. Seus alunos estão entre os de pior desempenho nos testes internacionais padronizados. 14 Desindustrialização A desindustrialização brasileira iniciou-se prematuramente, antes de o País vencer a armadilha da renda média e, nesse sentido, ele não deslocou mão de obra para serviços de alta produtividade. O ritmo do seu crescimento econômico foi afetado, incluindo o seu potencial de crescimento sem grandes pressões inflacionárias. A reindustrialização, aumentos das participações relativas da indústria no PIB e do emprego nesse setor, nos moldes do passado, não parece ser uma opção realista. Conforme Medeiros (2013), as indústrias que sobreviverão serão as altamente produtivas e de capital intensivo, ou seja, serão aquelas focadas em qualidade e produtividade. Portanto, elevar a produtividade geral da economia, a partir de qualificados investimentos em capitais humanos e físicos, torna-se essencial. 15 Fatores internos e externos A desindustrialização, de acordo com Rowthorn e Ramaswany (1999), possui fatores internos e externos. Os fatores internos ocorreriam, basicamente, pelas mudanças nas preferências dos consumidores (modificações na elasticidade-renda da demanda). Fatores externos teriam a ver com o grau de integração comercial e produtiva das economias. Existe ainda o caso da “doença holandesa”, descrito por Oreiro e Feijó (2010): a abundância de recursos naturais pode induzir a redução da participação da indústria no emprego e no valor adicionado por intermédio da apreciação cambial, o que resulta em perda de competitividade da indústria e um déficit comercial crescente da mesma. 16 Evidências da desindustrialização Participação dos setores no valor adicionado total, em valores percentuais (SQUEFF, 2012). 17 Evidências da desindustrialização Comparativo da participação da manufatura no valor adicionado e do PIB per capita (MARCONI; ROCHA, 2012). 18 Evidências da desindustrialização Comparativo da rentabilidade das exportações de commodities e manufaturados, tendo como base 100 o ano de 1995 (MARCONI; ROCHA, 2012). 19 Termos de troca, segundo The Economist 20 Brasil, segundo a OMC (março de 2014) 21 Custo do trabalho x produtividade Comparativos das taxas anuais médias de crescimento (em valores percentuais) dos itens na indústria: geração de emprego, folha de pagamento, custo de trabalho e produtividade (IEDI, 2014) 22 Reprimarização exportadora O início da perda de participação da indústria brasileira ocorreu em patamares de PIB per capita baixos. Enquanto na maioria dos países desenvolvidos ela só foi observada quando tal indicador ultrapassava os US$ 10 mil e em alguns emergentes um pouco abaixo disso, em nosso país esse processo começou quando o PIB per capita chegou a pouco menos de US$ 4 mil. Tal informação sugere o efeito da “doença holandesa”. A rentabilidade das exportações brasileiras desde 2002 enfrenta sucessivas quedas para os manufaturados, enquanto que a das commodities oscila em torno de uma tendência central. Tal quadro é coerente com o temor de “reprimarização” da pauta exportadora brasileira. 23 Indústria no Espírito Santo Assim como o Brasil, o Espírito Santo possui diversos desafios para o desenvolvimento do seu setor industrial. Alguns desses desafios se processam por conta das características históricas do processo de industrialização no Estado (CORRÊA ROCHA; MORANDI, 2012). O grau de abertura da economia capixaba ao comércio exterior, apesar de ter sido vantajosa economicamente no sentido de atrair maior volume de investimentos e de dar mais dinamismo à economia, tem na persistência da crise global os seus desafios, alguns velhos e outros novos. 24 Grau de abertura capixaba Abertura do Espírito Santo ao comércio exterior, em comparação com o Brasil (Governo do Estado do Espírito Santo, 2013) 25 Participação das atividades da indústria no Espírito Santo e no Brasil no PIB setorial do ano de 2010,em valores percentuais (Governo do Estado do Espírito Santo, 2013) 26 27 28 29 30 31 32 Recuperação da demanda externa No comparativo entre jan/mar 2013 e jan/mar 2014, as “exportações capixabas” cresceram 76% para os EUA e 118% para a Holanda, respectivamente o primeiro e o segundo destino das exportações capixabas (cf. Secex). Essas exportações cresceram mais em valores do que em peso no comparativo. Destaque para a exportação de óleos brutos de petróleo, um crescimento de 60%. Granitos (17%) e tubos flexíveis (59%) também merecem citação. 33 McKinsey Global Institute (April 2014) Enquanto a última era da globalização pode ser caracterizada pela busca da produção de baixo custo, a próxima irá ser aquela na qual os fluxos intensivos em conhecimento são um componente cada vez mais amplo e dinâmico das atividades transfronteiriças. Os fluxos globais importam para o crescimento econômico. Países mais centrais para a rede global de fluxos de bens, serviços, fianças, pessoas e comunicações podem elevar o crescimento do PIB em até 40% a mais do que os países menos conectados. Os fluxos de bens, serviços e finanças, em 2012 chegou a 26 trilhões de dólares, ou 36% do produto mundial. 34 35 Expectativas para os próximos seis meses Executivos continuam otimistas sobre as perspectivas para os negócios, de acordo com a última pesquisa The Economist/FT (mais de 1.500 dirigentes de 114 países - 15 de maio, 2014). Riscos: Mais de um terço dos entrevistados acreditam que a zona euro irá cair em deflação neste ano. Uma proporção semelhante (39%) acredita que a China irá experimentar uma crise da dívida neste ano (“shadow banking”). 36 Global business barometer (The Economist/FT survey) 37 MEIC 2013-2022 Mapa Estratégico da Indústria Capixaba (MEIC) 2013-22, feito no âmbito da Federação das Indústrias do Espírito Santo, contém propostas de agenda para o desenvolvimento da indústria capixaba que visam dar maior dinamismo e capacidade de inovação à mesma. Suas propostas são divididas nas seguintes perspectivas: bases do desenvolvimento, focos de atuação, mercado e resultados. Quanto à infraestrutura econômica (capital físico), o MEIC 2013-22 elenca como objetivos a melhoria da TIC (Tecnologia de Informação e Comunicação), a garantia da disponibilidade de energia em longo prazo e a melhoria da mobilidade urbana na Região Metropolitana da Grande Vitória. Outro tema grande relevância do MEIC a ser destacado é a questão da educação (capital humano), cujos objetivos são a melhoria da sua qualidade na educação básica e a promoção da educação profissional técnica e superior. 38 Reflexões Pode-se dizer que o MEIC 2013-2022 vai ao encontro das medidas necessárias para o enfrentamento do processo de desindustrialização que o Brasil vivenciou. Incertezas podem prejudicar as propostas do MEIC. A recuperação sustentada da demanda externa, por sua vez, não garantirá o seu sucesso. A elevação no patamar tecnológico do arranjo industrial requer mudanças consideráveis nas mentalidades empresariais e políticas capixabas? Rígidas fronteiras entre Estado e mercado tornam-se praticamente irrelevantes quando o assunto é competitividade. A cooperação institucional pelo desenvolvimento é fundamental. 39 Considerações finais Com um grau de abertura comercial superior à média nacional, essas questões deveriam ser objeto de maior consideração intelectual nos debates estratégicos sobre o desenvolvimento sustentado capixaba. Qual o papel do governo e como a cooperação institucional com a iniciativa privada poderia ser republicanamente estruturada? Planos podem ser importantes instrumentos de orientação e coordenação de esforços coletivos, porém garantir que os mesmos virem efetivamente uma realidade melhor para a cidadania é ainda um desafio no campo da gestão pública em nosso país. A preferência pelo curto prazo é algo muito comum em diversos países e ela afeta a coerência intertemporal das políticas públicas. 40 Referências BACHA, E.; BOLLE, M. (orgs.) O futuro da indústria no Brasil: desindustrialização em debate. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2013. Carta IEDI n. 614 – Produtividade industrial em 2013: melhora, porém ainda sem recuperação da competitividade. São Paulo, 2014. CORRÊA ROCHA, H.; MORANDI, A. Cafeicultura e grande indústria. 2 ed. Vitória (ES): Espírito Santo em Ação, 2012. FINDES – FEDERAÇÃO DAS INDÚSTRIAS DO ESPÍRITO SANTO. Mapa Estratégico da Indústria Capixaba 2013/2022. Vitória (ES): Findes, 2013. GOVERNO DO ESTADO DO ESÍRITO SANTO. ES Desenvolvimento. Vitória (ES), dezembro de 2013. 2030: Plano de LAMUCCI, S. Produzir bens manufaturados no Brasil custa 23% mais que nos EUA, revela estudo. Valor Econômico, 29/04/2014. 41 Referências LISBOA, M.; PESSOA, S. A. Uma História sobre dois países (por enquanto). Policy Paper nº06. São Paulo: Insper Instituto de Ensino e Pesquisa, março, 2013. MANKIW, N. G. Introdução à economia: edição compacta. São Paulo: Cengage Learning, 2008. MARCONI, N.; ROCHA, M. Taxa de câmbio, comércio exterior e desindustrialização precoce – o caso brasileiro. Economia e Sociedade. Campinas (SP), v. 21, Número Especial, p. 853-888, dez. 2012. MEDEIROS, R. O debate da desindustrialização. Jornal GGN, 27 /09/2013. OREIRO, J. L.; FEIJÓ, C. A. Desindustrialização: conceituação, causas, efeitos e o caso brasileiro. Revista de Economia Política, v. 30, n. 2 (118), p. 219-232, abr.-jun. 2010. RODRIK, D. The manufacturing imperative. Project Syndicate, Aug 10 2011. ROWTHORN, R.; RAMASWANY, R. Growth, trade, and deindustrialization. IMF Staff Papers, v. 46, n. 1, março de 1999. SQUEFF, G. C. Desindustrialização: luzes e sombras no debate brasileiro. Texto para discussão n. 1747. Brasília: IPEA, junho de 2012. THE ECONOMIST. The 50-year snooze. Apr 19 2014. 42