A LITERACIA, COMO INSTRUMENTO DE INCLUSÃO PARA O DESENVOLVIMENTO ADÉLIA PRATA Abstract LITERACY AS A TOOL FOR DEVELOPMENT FOR INCLUSION Despite the goals and objectives set by the States, about the Education of Young People and Adults in the World Social Forums and successive CONFINTEA, in the efforts to implement partnerships with civil society organizations, continue to be unfulfilled some of the priorities and objectives of the Millennium Development Goals, agreed to implement a real Education for Development and to increase interaction between systems of formal and non formal education and the factors of social, political, cultural and economic inclusion, for all citizens in order to a more sustainable level of the international system, with gains in poverty reduction, in health, maternal and child mortality and hunger. The importance of literacy at a global level for the acquisition and renewal of basic skills and various types of learning, educational and practical contents, lifelong learning and the role of ICT as responses to the challenges of continuous change in society, are now operational references and crucial strategies to the future, recognized as a development model for education and training quality, in the European Union States level, to strength the economic and social cohesion factors and active and participating citizenship through sector-based programs that are the subject of this approach. Highlighting the partnership with civil society through NGOs, community-based associations, local and regional, interlocutors for the interests of citizens and families in which they operate, with a view to implement the actions of the Social Agenda and promoting equal opportunities for all as a vector for social and intergenerational solidarity for people in poverty or social exclusion. KEYWORDS: Literacy, Lifelong Learning, Education for Development, Civil Society. A avaliação da concretização dos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio1 com vista à implementação de uma Educação para Todos, após uma década da realização do Fórum Mundial da Educação de Dakar,2 em 2000, constatou-se haver alguns progressos das medidas preconizadas, não obstante ser um facto, observar-se a nível dos Estados e regiões uma evolução muito desigual, continuando a negação do direito à educação a constituir um dos maiores obstáculos à eliminação da pobreza, da exclusão social e do desenvolvimento sustentável. No entanto observa-se um maior empenhamento político apoiado sobretudo na importância das parcerias desenvolvidas com as organizações da sociedade civil, na melhoria da formação de professores e dos recursos didácticos disponibilizados, bem como no respeito dos contextos sociais, através das línguas locais para a alfabetização inicial. 1 1 Declaração do Milénio, adoptada em 2000, por todos os Estados membros da Assembleia Geral das Nações Unidas, in: http://unic.org/html/portuguese/uninfo/DecdoMil.pdf 2 Educação para Todos: o Compromisso de Dakar, Brasília, UNESCO/CONSED, Das conclusões da VI Conferência Internacional de Educação para Adultos (CONFITEA), realizada em Belém, em 2009, resultou a necessidade do reforço das acções dos Estados e das organizações da sociedade civil com vista a conceder prioridade à aprendizagem e educação para adultos para se atingirem as metas anteriormente definidas, bem como ir ao encontro dos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio para a cooperação e desenvolvimento da educação para todos no século XXI. A literacia assume-se neste contexto como um instrumento fundamental de inclusão para o desenvolvimento, indissociável do processo educativo que se desenrola no âmbito da educação formal e não formal e da educação informal. O desafio da educação para o desenvolvimento assume hoje uma referência operacional e estratégica das políticas sociais na Comunidade Internacional e no espaço da União Europeia. Desenvolver a cooperação3 e troca de experiências entre estados e organizações da sociedade civil relativamente às áreas das ciências e de inovação tecnológica poderá, desenvolver estratégias no sentido de garantir a apropriação social do conhecimento pelas suas populações fomentando a alfabetização, e as aprendizagens ao longo da vida como factores de inclusão social e um crescimento inteligente e mais sustentável. É mundialmente aceite que a erradicação da pobreza e da exclusão social dependerá em grande parte do compromisso assumido pelas entidades da sociedade civil com a implementação de programas adequados junto das populações4 para quem se procura garantir a sua sustentabilidade própria através de práticas de intervenção social como o empowerment. 5 A alfabetização dos indivíduos, grupos e comunidades para que possam vir a reconhecer, criar e utilizar recursos e instrumentos em si mesmos e no meio em que se 2 3 VI Cimeira União Europeia, América Latina e Caraíbas – 2010, in: Memória Lusófona, G:/…/VI Cupula America Latina, Caribe – União Europeia- 2010, p.6 4 Sérgio Haddad e Cynthia Oliveira, «As Organizações da Sociedade Civil e as ONGs de Educação», in: Cadernos de Pesquisa, nº112, Março de 2001, p.65. 5 Literacy Initiative for Empowerment LIFE 2006-2015, UNESCO Institute for Lifelong Learning, 2007 Através de apoios e estratégias pré definidas de acordo com as necessidades e contextos específicos a cada país envolvido, colaborar no aperfeiçoamento das políticas nacionais de alfabetização e literacia. inserem no sentido de adquirirem competências, desenvolvendo capacidades e elevar a sua auto-estima6, irá permitir um melhor exercício da cidadania.7 Os países mais desenvolvidos a partir da década de oitenta do século XX, chegaram a uma conclusão: muitos dos cidadãos adultos não obstante vários anos de escolarização, não dominam a leitura, a escrita e o cálculo o que se traduz hoje, em múltiplas incapacidades na sua participação na vida social, no exercício da cidadania, na realização profissional e no acesso à cultura, o que só será possível debelar através da literacia, como instrumento de acção. A inclusão dos cidadãos numa sociedade da informação fruto da evolução da informática e das telecomunicações assentes nas Tecnologias de Informação e Comunicação, torna-se premente aliar as capacidades do domínio da leitura, da escrita e do cálculo a estas novas competências, através da interconectividade entre as redes de educação e investigação, nas regiões e entre elas, melhorando o acesso aos recursos e à sua utilização,8 possibilitando também um crescimento de uma economia baseada no conhecimento e na inovação. Assume assim a educação para o desenvolvimento uma referência operacional e estratégica fundamental para o crescimento económico-social global e no espaço da União Europeia. De acordo com as Conclusões do Conselho Europeu de Julho de 2010 que aprovou «Uma Nova Estratégia Europeia para o Emprego e o Crescimento “Europa 2020”»,9 e na sequência das orientações do Conselho Europeu de Lisboa10, em 2000, definiu-se como grande objectivo da Europa até 2020 a diminuição da insuficiente qualificação dos seus cidadãos, que se estima atingir cerca de 80 milhões de europeus, reduzindo este número para 20 milhões até àquela data, com vista à sua inclusão 3 6 Henrique Rattner, «Sobre exclusão social e políticas de inclusão», in: http://www.lead.org.br/file manager/ 7 Carla Pinto, «Empowerment: uma prática de serviço social», in: Política Social, Lisboa , ISCSP, 1998, p.1. 8 VI Cimeira União Europeia, América Latina e Caraíbas – 2010, in: Memória Lusófona, G:/…/VI Cupula America Latina, Caribe – União Europeia- 2010. 9 Conclusões do Conselho Europeu de 17 de Junho de 2010, Bruxelas, EUCO 13/10 10 Conclusões da Presidência do Conselho Europeu de Lisboa de 23 e 24 de Março de 2000 social, reduzindo a pobreza e a sua exclusão a fim de concretizar um crescimento económico mais competitivo e sustentável. Considerando o potencial humano, a principal riqueza da Europa, são vários os programas operacionais e sectoriais que se encontram em pleno desenvolvimento com vista à modernização do modelo social europeu. Os reforços orçamentais e co-financiamento dos 27 Estados Membros e pelo Orçamento Comunitário da União Europeia nos quatro programas sectoriais Comenius, Erasmus, Leonardo da Vinci e Grundtvig, são exemplos dos investimentos na educação formal e não formal adaptando estes sistemas às exigências da sociedade do conhecimento e da qualidade do emprego; na formação para a vida e o trabalho, proporcionando oportunidades de aprendizagem e de formação que vão ao encontro das necessidades dos grupos populacionais em fases diferentes das suas vidas, cuja execução, em parceria é assegurada pelas organizações da sociedade civil. De acordo com a Agenda Social da União Europeia as escolas e os centros de formação de novas funções e oportunidades, tornaram-se locais privilegiados de aprendizagem diversificada e acessível a todos, recorrendo não só a metodologias adequadas aos diversos públicos-alvo, mas também elas fomentando a criação de parcerias com organizações da sociedade civil, universidades, centros de investigação, do mundo empresarial e organizações não governamentais nos diversos âmbitos. Assim é um dos objectivos da União Europeia proporcionar aos cidadãos, através da Aprendizagem ao Longo da Vida, o acesso a novas competências básicas em Tecnologias de Informação, no acesso a línguas estrangeiras, à cultura tecnológica, a competências sociais e ao desenvolvimento do espírito empresarial no sentido de promover a literacia digital e a literacia mediática,11 como ferramenta essencial para uma Educação para o Desenvolvimento. A redução de lacunas de formação, a empregados e desempregados, a valorização da 4 11 Recomendação da Comissão de 20 de Agosto de 2009, sobre literacia mediática no ambiente digital para uma indústria audiovisual e de conteúdos mais competitiva e uma sociedade do conhecimento inclusiva, in: : Jornal Oficial da União Europeia, L 227, pp. 9 a 12. aprendizagem ao longo da vida enquanto componente basilar do modelo social mais equitativo e justo, que seja gerador de um maior número de oportunidades e de igualdade, através de parcerias estabelecidas, serão factor decisivo e directo para uma melhor qualidade da empregabilidade contribuindo também para a promoção das políticas de inclusão. Neste contexto as organizações da sociedade civil desempenham um importante papel no palco da educação para o desenvolvimento sendo de salientar na União Europeia a promoção da educação para o desenvolvimento não só através da European NGO Confederation for Relief and Development (CONCORD)12 mas também de projectos específicos como o Development Education Exchange in Europe Project (DEEP)13 e através da constituição de alianças e parcerias, de campanhas de sensibilização de entidades oficiais nacionais e internacionais e na mobilização social relativa a questões da agenda da Educação para o Desenvolvimento. Para a concretização de um crescimento inclusivo com vista a assegurar a coesão económico-social, aos Estados da UE em parceria com as organizações da sociedade civil, através das organizações não governamentais, das associações comunitárias de base a nível local e regional, de acordo com as Resoluções do Conselho Europeu no que se refere ao combate à pobreza e à exclusão social e na redução das desigualdades em matéria de educação e saúde cabem: - Identificar os diversos grupos mais vulneráveis e sujeitos à pobreza e exclusão social: crianças e jovens exemplo de abandono escolar precoce e famílias: monoparentais, numerosas, cuja subsistência depende de uma pessoa apenas; jovens mulheres, idosos, migrantes e minorias étnicas, portadores de deficiência e aqueles que deles se ocupam, desempregados em particular de longa duração, reclusos, crianças e mulheres vítimas de violência doméstica e toxicodependentes.14 5 12 13 http://www.concordeurope.org/Page.php?ID=4&language=eng http://www.deeep.org/about.html Decisão nº 1098/2008/CE do Parlamento Europeu e do Conselho, de 22 de Outubro de 2008, relativa ao Ano Europeu do Combate à Pobreza e à Exclusão Social (2010); in: Jornal Oficial da União Europeia, L 298 p.21. 14 - Incentivar a família a valorizar a frequência escolar das suas crianças e jovens através de incentivos de carácter social15 aliados a uma informação relativa aos direitos e deveres dos seus educandos, bem como dos membros do agregado familiar, consciencializando-os de que a um grau mais elevado de instrução poderá corresponder uma melhor oferta de emprego, desvalorizando a entrada prematura de crianças e jovens no mercado de trabalho. - A apoiar a intervenção dos serviços de educação e saúde, junto das crianças e dos jovens, das mulheres, dos cidadãos portadores de deficiência, dos sem abrigo e das pessoas idosas, enquanto segmento da população mais frágil e sujeita aos factores sócio económicos. - Apoiar o desenvolvimento de programas de habitação social, condição para a integração do núcleo familiar proporcionando a sua unidade, segurança e identidade. - Incentivar, através de programas sociais junto das famílias e nas escolas hábitos alimentares equilibrados e de saúde pública. As organizações não governamentais reconhecidamente desempenham hoje um papel determinante, como parceiros activos, nas políticas de educação para a prossecução dos objectivos de uma verdadeira coesão económica e social. A existência de um compromisso entre todos os intervenientes em que se assume uma responsabilidade social partilhada relativamente á aprendizagem ao longo da vida, é condição para a criação de uma Educação para Desenvolvimento sustentável e inclusivo. É fundamental a assunção de uma verdadeira responsabilidade social dos Estados, das instituições, organizações da sociedade civil e demais parceiros sociais, a nível local, regional e nacional para que se envolvam no grande objectivo norteador de construir uma sociedade onde todos tenham oportunidades iguais de não só desenvolverem as 6 15 «X Cúpula Ibero-americana de Chefes de Estado e de Governo dos Países Ibero-americanos – Declaração do Panamá», in: Revista Ibero – Americana de Educação, Edição da Organização de Estados Ibero-americanos (OEI), nº 24, 2000. http://www.rieoei.org/rie24a09.htm, p. 3. suas potencialidades individuais, mas também de se tornarem capazes de contribuir para um futuro melhor para todos. Caberá aos indivíduos, através da literacia a nível global, a aquisição e renovação das competências básicas e dos vários tipos de aprendizagens, o papel fundamental na valorização da capacidade de criarem conhecimento e usarem a inteligência com eficácia nos diversos contextos numa sociedade em mutação contínua. Paris, 4 de Dezembro de 2010 Adélia Prata 7 Fontes e Bibliografia - «A ONU e a Sociedade Civil»,http://unicrio.org.br/a-onu-em-acao/a-onu-e-a-sociedade-civil. - Cimeira UE ALC, Plano de Acção de Madrid 2010-2012, Madrid, Conselho da Europa, Madrid, 19 d Maio de 2010. - Comunicação da Comissão: “Europa 2020” – Estratégia para um crescimento inteligente, sustentável e inclusivo, Bruxelas, Comissão Europeia, 2010. pp. 1 a 38. - CONCORD European NGO Confederation for Relief and Development - in: http://www.concordeurope.org/Page.php?ID=4&language=eng\1 - «Conference inputs and discussions», part II, in: CONFITEA VI, sixth international conference on adult education, final report, UNESCO Institute for Lifelong Learning, 2010. pp. 11 a 28. - Conclusões do Conselho Europeu de 17 de Junho de 2010, Bruxelas, EUCO 13/10, pp. 1 a 14. - Conclusões da Presidência do Conselho Europeu de Lisboa de 23 e 24 de Março de 2000 - Decisão nº 1098/2008/CE do Parlamento Europeu e do Conselho, de 22 de Outubro de 2008, relativa ao Ano Europeu do Combate à Pobreza e à Exclusão Social (2010); in: Jornal Oficial da União Europeia, L 298, pp. 20 a 29. - DEEEP- Development Education Exchange in Europe Project, in: http://www.deeep.org/about.html - «Declaração do Milénio, 2000,» in: http://www.unic.org/html/portuguese/uninfo DecdoMil.pdf - Educação para Todos: o Compromisso de Dakar, Brasília, UNESCO/CONSED, 2001. - «Estratégia Nacional de Educação para o Desenvolvimento», Despacho nº 25931/2009 do Ministério dos Negócios Estrangeiros e da Educação, Diário da República,2ª série, nº 230 de 26 de Novembro de 2009, pp.48391 a 48402. - «From rhetoric to action», Appendix G, in: CONFITEA VI, sixth international conference on adult education, final report, UNESCO Institute for Lifelong Learning, 2010. pp. 79 a 83. - HADDAD, Sérgio e OLIVEIRA, Cynthia, «As Organizações da Sociedade Civil e as ONGs de Educação», in: - Cadernos de Pesquisa, nº112, Março de 2001, pp. 61 a 83. - KALLEN, Denis – «Aprendizagem ao longo da vida em retrospectiva» in: Revista Europeia de Formação Profissional, nº 8/9, p. 16 a 22. - Literacy Initiative for Empowerment LIFE 2006-2015, UNESCO Institute for Lifelong Learning, 2007. - «Marco de Acción de Belém», in: CONFITEA VI, sixth international conference on adult education, final report, UNESCO Institute for Lifelong Learning, 2010. pp. 27 a 37. - «Memorando sobre Aprendizagem ao longo da Vida», Documento de Trabalho dos Serviços da Comissão, Bruxelas, Comissão das Comunidades Europeias, 2000. - PINTO, Carla, «Empowerment: uma prática de serviço social», in: Política Social, Lisboa, ISCSP, 1998, pp. 247 a 264. - RATTNER, Henrique, «Sobre exclusão social e políticas de inclusão», in: http://www.lead.org.br/file manager/ - Recomendação da Comissão de 20 de Agosto de 2009, sobre literacia mediática no ambiente digital para uma indústria audiovisual e de conteúdos mais competitiva e uma sociedade do conhecimento inclusiva, in: : Jornal Oficial da União Europeia, L 227, pp. 9 a 12. - «Resolução do Conselho de 25 de Março de 2002, relativa ao Plano de Acção “eEuropa” sobre acessibilidades dos sítios web e dos seus conteúdos», in: Jornal Oficial das Comunidades Europeias, C86, pp.1 e 2. - «Sem o engajamento dos cidadãos nada acontece» in: http://www.magazinedeutschland.de/pt/artikel-po/ - SILVA, Carina, A Literacia da Informação, Vila do Conde, Instituto Politécnico do Porto e Escola Superior de Estudos Industriais e de Gestão Ciências e Tecnologias da Documentação e Informação, 2007. - «Towards lifelong learning», Appendix F, in:CONFITEA VI, sixth international conference on adult education, final report, UNESCO Institute for Lifelong Learning, 2010. pp. 70 a 78. - VI Cimeira União Europeia, América Latina e Caraíbas – 2010, in: Memória Lusófona, G:/…/VI Cupula America Latina, Caribe – União Europeia- 2010, pp.1 a 12. - «X Cúpula Ibero-americana de Chefes de Estado e de Governo dos Países Ibero-americanos – Declaração do Panamá», in: Revista Ibero – Americana de Educação, Edição da Organização de Estados Ibero-americanos (OEI), nº 24, 2000. http://www.rieoei.org/rie24a09.htm, pp.1 a 11. 8