especialDOMulher - O Estado do Maranhão. São Luís, 13 de março de 2011 19 ESPECIAL Em prol de um parto tranqüilo Na hora do parto Conheça o difícil e tradicional trabalho das parteiras e doulas maranhenses Yane Botelho Da equipe de O Estado C oragem e ousadia de quem faz o trabalho de parto sem qualquer auxílio tecnológico da Medicina. Carinho e suporte emocional de quem cuida de mães solteiras ou ainda jovens. Mulheres que possuem confiança nas mãos e magia nas palavras. Assim é o trabalho das parteiras e doulas, personagens de forte presença não só na vida de moradores da zona rural de São Luís, mas também dentro de maternidades e hospitais da cidade. A parteira Marina Santos Nascimento, 71 anos, já aparou nas mãos muitas crianças ao nascer. Já não é possível saber o número preciso de quantos partos ela auxiliou. "Quando parei de conferir, há 8 anos, já tinha ultrapassado 1.000 crianças", revelou. Marina Santos não se tornou parteira por tradição familiar, mas pela necessidade. Ela tinha 17 anos quando fez o primeiro parto. Nessa idade, costumava preparar remédios, infusões e chás de raízes e plantas. Por isso, foi chamada a casa de uma mulher que estava para ter um filho. "Assustei-me quando vi a cabeça preta cheia de cabelos. Nunca tinha visto um parto. Não sabia porque a barriga da senhora estava se mexendo. Não tinha noção do que estava acontecendo", afirmou. Com o auxílio da própria gestante, a adolescente carregou a criança no colo e cortou o umbigo. "Ela me dava as ordens e eu fazia, de prontidão", explicou. Com saberes, crenças e práticas aprendidas observando outros partos, não demorou muito para que Marina Santos tornar-se referência na comunidade em que residia, em Barreirinhas. Passou a acompanhar a gestação, arrumar a roupa da mãe e dar banho nos bebês. Quando se mudou para São Luís, no Alto da Esperança, levou o conhecimento consigo e, na capital maranhense, ajudou outras mulheres a parir. A parteira teve 16 filhos. "Dois deles eu tive sozinha, sem auxílio de nenhuma parteira", orgulhase. Ela conta que muitas mulheres procuram as parteiras por necessidade, por serem, em muitos casos, a única opção que a vida lhes oferece. Porém, muitas, voluntariamente, ainda optam por dar à luz à moda antiga. Elas trocam o leito do hospital pelo prazer de ter o filho próximo à família. "Na maternidade tem horário marcado. Pessoas desconhecidas são as primeiras a segurar o bebê. Apesar de o hospital ter a vantagem do parto mais rápido e com menos dor, as mães não se sentem tão confortáveis", disse. Marina Santos não trabalha só em casa, ela é responsável por encaminhar as grávidas da comunidade para o Hospital Nossa Senhora da Penha, no Anjo da Guarda. Com suas mãos sábias, ela consegue diagnosticar, sem nenhum auxílio tecnológico, se o bebê está na posição correta dentro da barriga da mãe. Caso ela note que há algum problema, marca a consulta no hospital. "A gente vai tocando, sentindo onde está a cabeça e o bumbum do neném. Muitas vezes consigo virá-lo. Vou empurrando com uma toalha, até ele ficar na posição certa", contou. O QUE A DOULA FAZ ? Antes do parto - Ela orienta o casal sobre o que esperar do parto e pósparto. Explica os procedimentos comuns e ajuda a mulher a se preparar, física e emocionalmente, das mais variadas formas. Durante o parto - A doula funciona como uma interface entre a equipe de atendimento e o casal. Ela explica os complicados termos médicos e os procedimentos hospitalares e atenua a eventual frieza da equipe de atendimento num dos momentos mais vulneráveis de sua vida. Ela ajuda a parturiente a encontrar posições mais confortáveis para o trabalho de parto, mostra formas eficientes de respiração e propõe medidas naturais que podem aliviar as dores, como banhos, massagens, relaxamento, etc.. Após o parto - Ela faz visitas à nova família, oferecendo apoio para o período de pós-parto, especialmente em relação à amamentação e cuidados com o bebê. O QUE A DOULA NÃO FAZ ? A doula não executa qualquer procedimento médico, não faz exames, não cuida da saúde do recém-nascido. Ela não substitui qualquer dos profissionais tradicionalmente envolvidos na assistência ao parto. Também não é sua função discutir procedimentos com a equipe ou questionar decisões. Para saber mais acesse: www.doulas.com.br Elas não são parteiras, nem substituem ou interferem no trabalho do médico, mas desempenham um papel fundamental no processo de nascimento de uma criança. Durante o procedimento do parto, que pode durar dias, as doulas cuidam, conversam e tranqüilizam as gestantes. Na maternidade Marly Sarney, oito mulheres trabalham na humanização do parto. Elas garantem o bem-estar, o respeito, a calma e até a redução das dores das pacientes na hora de trazer o bebê ao mundo. Conversas sobre complicações no parto, massagens e técnicas para mudar de posição são algumas das tarefas das doulas. As doulas acompanham, principalmente, as gestantes que vão para a maternidade sem a companhia da família ou do marido. Sozinhas e desinformadas, as mulheres ficam inseguras, amedrontadas e tensas, dificultando a dilatação no momento do parto. A presença da doula resgata o apoio que deveria ser dado por familiares que já tiveram a experiência de ter um filho. A confiança nas doulas, assim como nas parteiras, está ligada à experiência, por isso, quanto mais velha, mais valorizada. Na hora do parto, Albertina Aurea Ferreira Lava, 75 anos, segura a mão da gestante, respira junto, conversa, faz massagem e transmite toda a serenidade necessária. Albertina teve 8 filhos e 12 netos. "Já passei pela experiência do parto inúmeras vezes. Ao saber que está sendo acompanhada por alguém experiente, a mulher que está parindo fica mais tranqüila, tem mais confiança", declarou. As gestantes garantem que a companhia das doulas diminui o sofrimento. "Se ela não estivesse aqui, eu estaria sozinha. Confio no que ela diz", ressaltou a paciente Lucinele Gomes, 39 anos.