O ENSINO DE LÍNGUA INGLESA NO PROJETO “ACELERAR PARA VENCER”: PRIMEIRAS IMPRESSÕES Júlia de Melo Arantes¹ Bolsista de Iniciação Científica do CNPq Universidade Federal de Ouro Preto Adail Sebastião Rodrigues-Júnior² Universidade Federal de Ouro Preto RESUMO: Este artigo pretende apresentar a proposta da pesquisa “O ensino de língua inglesa no contexto do Projeto ‘Acelerar para Vencer’, da Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais: um estudo de caso”, que está sendo financiada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq, e discutir as primeiras impressões das observações realizadas na sala de aula do professor-colaborador de uma Escola Estadual de Mariana, pela bolsista de Iniciação Científica, sob o ponto de vista da etnografia e de uma abordagem orientada pela pesquisa-ação e pela prática reflexiva, que apóiam as teorias de formação continuada de professores de Inglês como Língua Estrangeira (ILE). Os resultados parciais da pesquisa apontam para a necessidade de se promover mais iniciativas que ponham em prática a real proposta do PAV-Língua Inglesa nas escolas públicas do Estado. PALAVRAS-CHAVE: Políticas públicas da Educação; Projeto Acelerar para Vencer; Ensino de Língua Inglesa; Prática Reflexiva; Observação Etnográfica; Discurso do Prefessor. Introdução Este artigo pretende apresentar a proposta da pesquisa “O ensino de língua inglesa no contexto do Projeto ‘Acelerar para Vencer’, da Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais: um estudo de caso”, que está sendo financiada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq, e discutir as primeiras impressões das observações realizadas na sala de aula do professor-colaborador, de uma Escola Estadual de Mariana, pela bolsista de Iniciação Científica. O objetivo principal da implantação do Projeto Acelerar para Vencer (PAV), pela Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais (SEEMG) foi a redução da distorção Idade-Série de alunos do ensino fundamental com atraso escolar, dada, sobretudo, a alta ocorrência dessa distorção em Escolas Estaduais de Minas, após o diagnóstico de especialistas da SEEMG, juntamente com os diretores e supervisores de Escolas de todo o Estado. O PAV é um projeto estruturador que visa, então, regularizar o fluxo escolar por meio da melhoria do desempenho de seus alunos, através de uma adaptação dos conteúdos disciplinares indispensáveis para o seu sucesso. Isso implica priorizar alguns Tópicos e Habilidades 1 ¹ Graduanda em Letras pela UFOP ² Doutor em Linguística Aplicada e professor adjunto da UFOP contidos na proposta curricular dos Conteúdos Básicos Comuns (CBC) que atendam satisfatoriamente às demandas de aprendizagem dos alunos, de modo a prepará-los para o avanço escolar. O Projeto tem como metodologia condensar os conteúdos básicos das disciplinas do sexto ao nono anos do ensino fundamental, sendo que, os conteúdos dos sexto e sétimo anos, correspondentes ao primeiro período do Projeto, são ministrados em um ano, e os conteúdos dos oitavo e nono anos, correspondentes ao segundo período do Projeto, são ministrados também em um ano. Em 2009, a SEEMG constituiu o “Guia de Orientação Curricular do PAV” (SEEMG, 2009), cujo objetivo foi oferecer orientações aos professores das séries finais do ensino fundamental que atuam nesse Projeto Estruturador. A língua inglesa no PAV localiza-se no segundo período desse Projeto Estruturador, isto é, oitavo e nono anos (sétima e oitava séries do ensino fundamental, respectivamente). O contexto do ensino dessa língua apresenta algumas limitações, tais como, a ausência de material didático específico à realidade do PAV, condensação dos conteúdos básicos da língua inglesa em apenas um período do PAV, ou seja, segundo período, e, sobretudo, falta de propostas de educação continuada de professores de língua inglesa que atuem especificamente no contexto desse Projeto Estruturador. Em virtude dessas limitações, o Guia de Orientação Curricular do PAV ofereceu um espaço para a elaboração de um caderno de orientações para professores de língua inglesa, intitulado Conversando com o Professor (RODRIGUES-JÚNIOR, 2009), cuja proposta foi explicar a redução dos conteúdos da matriz curricular dessa disciplina e apresentar exemplos de aplicação desses conteúdos em sala de aula. É nesse cenário, portanto, que a execução do projeto de Iniciação Científica se justifica, visto que há a necessidade de observar a realidade da implantação desse Projeto Estruturador nas Escolas, discutir sua ação e intervir, juntamente com o professor de língua inglesa, sujeito da pesquisa, no preenchimento de lacunas que talvez surjam da implantação e execução dessas ações na Escola Estadual Professor Soares Ferreira, de Mariana, M.G., no segundo semestre de 2009 e no primeiro semestre de 2010. As três perguntas de pesquisa que orientam a proposta do projeto são: (i) Como tem sido implantada a ação do PAV na sala de aula de língua inglesa do professor-colaborador da pesquisa? (ii) Que estratégias de ensino, usadas por esse professor, têm sido empregadas para o cumprimento da proposta curricular do PAV? (iii) Qual é o discurso desse professor em relação às diretrizes curriculares colocadas pelo Projeto Estruturador Acelerar para Vencer? [Digite texto] A execução da pesquisa “O ensino de língua inglesa no contexto do Projeto ‘Acelerar para Vencer’, da Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais: um estudo de caso” reflete, pois, a necessidade de entendimento dos mecanismos didático-pedagógicos utilizados pelo professor-colaborador de língua inglesa para atuar como mediador entre os conteúdos básicos da proposta do PAV, de um lado, e seus alunos, de outro. Em vista disso, a relevância deste artigo aponta para uma discussão no seio das teorias de formação continuada de professores de Inglês como Língua Estrangeira (ILE), propondo reflexões sobre o emprego de uma abordagem orientada pela pesquisa-ação e pela prática reflexiva (RODRIGUES-JÚNIOR, 2006) e de observação da sala de aula como forma de pesquisa (VIANNA, 2007), sob o olhar da etnografia (RODRIGUES-JÚNIOR & CAVALCANTE, 2005), e por meio da prática da entrevista etnográfica (SPRADLEY, 1979). Neste artigo, esperamos contemplar, além das reflexões teóricas que amparam a pesquisa, a metodologia utilizada na coleta dos dados, a análise dos primeiros dados coletados, informações sobre o contexto da pesquisa e de seu informante, nossas impressões iniciais sobre os dados analisados e o que pretendemos fazer daqui em diante para dar andamento à pesquisa. Referencial teórico A primeira teoria escolhida para dar suporte a este artigo envolve, exatamente, a metodologia da observação em sala de aula como forma de se fazer pesquisa em Educação. Para Vianna (2007), a observação é um comportamento inerente à condição humana, uma vez que observamos e somos observadores, a todo o momento, de contextos diferentes aos quais estamos inseridos em nossa vida diária. Mas cabe ao pesquisador escolher métodos específicos para a observação como forma de pesquisa, cujos objetivos fundamentais são (i) a determinação de um foco e (ii) a tentativa de olhar o ambiente da sala de aula, que muitas vezes é familiar, com olhos cuidadosos em busca de coletar dados e informações proveitosas. A definição do que observar, ou seja, o foco da observação, sempre constitui um problema para o observador ou pesquisador, seja ele experiente ou iniciante nessa metodologia. A sala de aula, apesar de apresentar uma aparente tranqüilidade, na verdade é um mundo em que ocorrem múltiplos eventos, sendo a ecologia de salas de aula extremamente rica de elementos a observar e pesquisar. A sala de aula, além de rica, é uma área em constante transformação, em que professores e alunos desempenham múltiplos e diferentes papéis. (VIANNA, 2007, p.74) As observações podem enfocar aspectos bastante variados, mas, no caso da pesquisa em questão, o foco é no professor. Através de uma perspectiva qualitativa, que busca, além de [Digite texto] detectar eventos, determinar seus significados, interpretá-los e explicá-los de forma a analisar seus impactos em sala de aula (GREEN, CAMILLI & ELMORE, 2006), pretende-se discutir as ações implementadas pele professor-colaborador a partir da implantação do PAV na escola em que atua, além de tentar localizar em seu discurso elementos que apontem para uma avaliação da implantação dessa proposta no contexto da sala de aula sob análise e a pertinência dessa avaliação. Uma pesquisa qualitativa seria mais aconselhável para se ter um quadro multifocal do processo educacional na sala de aula, com o uso, se for o caso, de uma abordagem etnográfica como lógica de investigação (GREEN, DIXON & ZAHARLICK, 2005). A observação etnográfica vem a ser o segundo referencial teórico que ampara nossa pesquisa e, consequentemente, as questões aventadas neste artigo. Rodrigues-Júnior e Cavalcante (2005) acreditam que os rituais encontrados no mundo escolar devem ser lidos e interpretados pelos observadores como verdadeiros textos, que indicam discursos, valores e ideais que reproduzem as realidades do mundo exterior à escola. Dessa forma, compartilham da visão de Spradley (1979) sobre o papel central do etnógrafo em desvelar crenças, opiniões e ações sociais constituintes da prática cotidiana dos integrantes da comunidade investigada, suas formas de pensar e agir e, sobretudo, suas relações sociais em ambientes historicamente constituídos e compartilhados entre eles. De acordo Rodrigues-Júnior e Cavalcante (2005), a prática etnográfica é teoria e método viáveis para representar o discurso da escola e dar-lhe vida através de registros escritos oriundos de trabalho de campo, que lançam luz em ambas as instâncias do processo de pesquisa: os professores-colaboradores como agentes de construção e reconstrução da realidade da escola e os pesquisadores como agentes de mudança e instrumentos de melhoramento do saber fazer em educação. Daí a importância de se entender o discurso do professor em relação ao PAV, para também se compreender o discurso da escola investigada frente à implantação do Projeto; e de se pensar a pesquisadora (primeira autora deste artigo) como elemento-chave que, tendo observado e analisado as estratégias do professorcolaborador em suas turmas de PAV, é capaz de propor ações que visem solucionar problemas detectados no processo de observação. Rodrigues-Júnior e Cavalcante (2005, p. 55) reconhecem (...) que Etnografia é um método de abordagem de campo que oferece ferramentas para um melhor entendimento da realidade da escola e suas formas de constituição de significados já existentes e suas transformações, originárias de reflexões e discussões por parte dos sujeitos participantes do contexto educacional. [Digite texto] Por último, as discussões levantadas neste artigo se apóiam na formação continuada do professor de língua inglesa e em reflexões sobre a pesquisa-ação e a ação-reflexiva. Para tanto, sustentamo-nos em Rodrigues-Júnior (2006), quando ele fala sobre a difícil realidade enfrentada pelos Professores de Língua Inglesa (PLI) nas salas de aula, especialmente nas escolas públicas, apontando algumas ações necessárias para mudar essa realidade: O que se problematiza, pois, é a necessidade do desenvolvimento crítico do discente em Letras (em especial, o aluno de licenciatura em Inglês) a partir da reflexão crítica de sua prática pedagógica quando do momento do Estágio Curricular de Licenciatura. Paralelamente a essa problematização, há a necessidade de se apontar para questões fundacionais da Educação Continuada do PLI em atuação, as quais serão contempladas por meio de uma constante interação entre as Escolas Públicas, os PLI atuantes nestas Escolas e a Universidade. Essa interação será possível a partir da abertura de espaços de discussões acerca das experiências e dilemas do PLI em atuação por meio de projetos que tragam estes Professores de volta à Universidade, para que eles possam discutir e refletir sobre suas ações pedagógicas. Com efeito, é fundamental que o PLI em formação participe dessas discussões, especialmente durante seu Estágio Curricular de Licenciatura, com o intuito de refletir sobre seu papel tanto na vida escolar quanto na formação do aluno como indivíduo e cidadão sócio-histórico. (RODRIGUES-JÚNIOR, 2006, p.85-86) A proposta da pesquisa “O ensino de língua inglesa no contexto do Projeto ‘Acelerar para Vencer’, da Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais: um estudo de caso” vai exatamente ao encontro das sugestões de ações explicitadas por Rodrigues-Júnior (2006). O que se pretende, através da pesquisa-ação, é a formação de uma rede de interações, ou um conjunto de ciclos auto-reflexivos (RODRIGUES-JÚNIOR, 2006, p.90), entre os PLI atuantes nas escolas públicas, em formação continuada, os PLI em formação, ou seja, os alunos estagiários, ou, acrescentaríamos, bolsistas-pesquisadores e os professores das universidades públicas, que estejam envolvidos em projetos de pesquisa ou extensão. Essa rede tende a ser proveitosa para todas as partes envolvidas, uma vez que é uma oportunidade de trocas constantes de experiências teóricas e práticas, aprendizado e formação continuada. Metodologia A metodologia que ampara esta pesquisa localiza-se na vertente da abordagem observacional e utiliza-se de métodos de observação qualitativa, que se constituem em relatos cursivos sobre eventos ou comportamentos, que são analisados à luz de uma teoria ou pela análise de conteúdo (BARDIN, 2004), em função de categorias elaboradas a partir do próprio [Digite texto] material dos relatos cursivos (cf. VIANNA, 2007, p. 83). Dessa forma, a partir de observações de aulas de cinquenta minutos, uma vez por semana, no período de, aproximadamente, três meses de observação, a bolsista coletou os dados em forma de notas de campo para posterior análise. Descrevendo os dados observados a partir da perspectiva da Etnografia, a bolsista se inseriu na sala de aula investigada de modo a analisá-la sob o ponto de vista de uma integrante daquela comunidade escolar e, durante as aulas, mas principalmente ao final delas, fez perguntas e manteve pequenas conversas com o professor-colaborador da pesquisa, a fim de tentar esclarecer as situações observadas. Esse procedimento se assemelha à entrevista etnográfica de Spradley (1979), pois possibilitou que o professor, informante da pesquisa, respondesse às perguntas da bolsista e fornecesse dados relevantes a ela, tudo isso de maneira bastante espontânea. Além da etnografia como lógica de investigação (GREEN, DIXON & ZAHARLICK, 2005), a pesquisa também segue a perspectiva da pesquisa-ação e da prática reflexiva, ao discutir a relevância de se adotar uma abordagem, fundamentada na Educação Continuada, que propicie formas de interação entre os PLI experientes e os PLI em formação (RODRIGUES-JÚNIOR, 2006), respectivamente, no caso da pesquisa em questão, o professor-colaborador e a bolsista. Essas perspectivas tencionam responder às três perguntas de pesquisa do projeto, apresentadas na introdução deste artigo, a saber: (i) Como tem sido implantada a ação do PAV na sala de aula de língua inglesa do professor-colaborador da pesquisa? (ii) Que estratégias de ensino, usadas por esse professor, tem sido empregadas para o cumprimento da proposta curricular do PAV? (iii) Qual é o discurso desse professor em relação às diretrizes curriculares colocadas pelo Projeto Estruturador Acelerar para Vencer? Para a escrita deste artigo, a metodologia adotada consistiu em analisar as notas de campo feitas até o momento e apontar quatro situações-exemplo que demonstram a posição do professor-colaborador em relação à proposta do PAV-Língua Inglesa, que acabam por justificar as estratégias de ensino adotadas por ele. Para isso, foi necessário confrontar a situação que está sendo investigada bela bolsista em sala de aula com a real proposta do ensino de língua inglesa no PAV, explicitada no Guia “Conversando com o professor” (RODRIGUES-JÚNIOR, 2009), presente no “Guia de Orientação Curricular do PAV” (SEEMG, 2009). Análise dos dados [Digite texto] Assim que a bolsista se inseriu em campo e começou a assistir às aulas do professorcolaborador da pesquisa, no primeiro semestre de 2009, sua curiosidade inicial era saber se havia por parte dos outros alunos da escola, e até mesmo por parte dos seus professores e funcionários de maneira geral, um preconceito com relação aos alunos do PAV. A bolsista ficou surpresa quando o professor-colaborador explicitou, em um de seus depoimentos, o que consistirá na primeira situação-exemplo que demonstra sua posição em relação à proposta do PAV-Língua Inglesa, que a maioria dos alunos se sentia bem melhor agora que estavam nas turmas de PAV, pois perderam o estigma que tinham, inicialmente, de alunos-problema das turmas regulares. Infelizmente, pelo que se pôde notar, por parte de alguns professores esse estigma ainda prevalece, o que ficou comprovado a partir de alguns comentários que fizeram quando, em conversas na sala dos professores, a pesquisadora se apresentou como sendo uma bolsista que pesquisava sobre o PAV e acompanharia uma das turmas nas aulas de Língua Inglesa daquela Escola. Felizmente, por outro lado, o professor-colaborador apresentou dois dados bastante positivos com relação à implantação do Projeto na escola em que trabalha, argumentando que, com a abertura das turmas do PAV, houve uma melhoria no desempenho das outras turmas. Além disso, os alunos direcionados para as turmas de PAV, devido à distorção Idade-Série, coincidentemente ou não, eram alunos bastante indisciplinados quando estavam inseridos nas turmas regulares e que, por esse fato, acabavam por perturbar as aulas. Hoje, nas salas do PAV, esses mesmos alunos não causam grandes problemas e, o que é ainda mais importante, também rendem mais. Com relação à melhoria da disciplina dos alunos do PAV, a pesquisadora corroborou, após alguns dias de observação, esse argumento do professor, pelo menos na sala de aula investigada, ao notar que os alunos são tranquilos e fazem silêncio durante as aulas de Língua Inglesa. A segunda situação-exemplo aconteceu no momento em que o professor foi questionado sobre quais estratégias de ensino ele utilizava com as turmas de PAV, uma vez que o Projeto tinha sido recentemente implantado e o professor não tinha, até aquele momento, conhecimento claro da proposta do PAV-Língua Inglesa, nem tinha em mãos o “Guia de Orientação Curricular do PAV” (SEEMG, 2009), contendo o documento que orienta, especificamente, o professor de língua inglesa do PAV, a saber, o Guia “Conversando com o professor” (RODRIGUES-JÚNIOR, 2009). Sendo assim, o professor, em uma de suas conversas com a bolsista, afirmou ter entendido que as aulas do PAV deveriam se assemelhar [Digite texto] àquelas da Educação de Jovens e Adultos (EJA), modalidade de ensino em que o professorcolaborador da pesquisa também atua. De acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) nº 9394/96, a educação de jovens e adultos deve ser destinada àqueles que não tiveram acesso ou continuidade de estudos no Ensino Fundamental e Médio na idade própria. O público-alvo dos alunos da EJA é, normalmente, formado por pessoas que abandonaram os estudos antes de completarem a Educação Básica para trabalhar, ou mesmo, nunca tiveram oportunidade e acesso à cultura letrada, pelo mesmo motivo, e não possuem mais idade escolar apropriada. Já o PAV destinase aos alunos do Ensino Fundamental, com distorção idade/série de escolaridade de pelo menos dois anos, que podem constituir grupos diferenciados de atendimento conforme o nível de alfabetização e a etapa do Ensino Fundamental que frequentam nos anos iniciais ou finais. Acreditamos que o professor tomou a postura de trabalhar com suas turmas de PAV da mesma forma que fazia com suas turmas de EJA, pois viu semelhanças no perfil dos alunos da EJA e do PAV, no que diz respeito tanto ao estigma do fracasso escolar que carregam, quanto à necessidade de correrem atrás do tempo perdido. Nesse cenário, o professorcolaborador adotou uma estratégia de ensino chamada por ele mesmo de “gramática passo a passo”, com a qual busca suprir, com os alunos do PAV, os conteúdos perdidos nesses anos de distorção em relação à idade cronológica das turmas regulares. O terceiro exemplo que consideramos relevante destacar das conversas entre a bolsista e o professor-colaborador da pesquisa surgiu em um momento em que aquela questionava os critérios utilizados por este na escolha dos tópicos temáticos e gramaticais para trabalhar com os alunos, uma vez que não há um material didático-pedagógico específico para a língua inglesa no Projeto, o que não é o caso das outras disciplinas. Nesse contexto, o professor afirma o seguinte: “Eu nunca olho o conhecimento prévio dos alunos, senão não saio do verb to be”. O professor-colaborador acrescenta que lança mão de tópicos presentes no CBC/Língua Inglesa (CBC, 2008) para o ensino médio, mas somente aqueles tópicos que julgava necessários para os alunos, sem qualquer preocupação com o conhecimento prévio deles. Com isso, o professor demonstrou estar em dissonância com a proposta do PAVLíngua Inglesa que, exatamente, propõe que o professor explore esse tipo de conhecimento, que aparece no “Conversando com o professor”, com o nome de conhecimento de mundo: No caso do PAV, nossos alunos trazem para a sala de aula um conhecimento de mundo amplo, o qual deve ser levado em consideração, dada a dificuldade de aprendizagem que os acompanha, por motivos os mais diversos e complexos. Estigmatizados, ou rotulados, pelo fracasso escolar, esses alunos precisam, na [Digite texto] grande maioria, recuperar a auto-estima em relação ao processo de aprendizagem. Uma maneira de levar a cabo essa tarefa é fazer com que sejam alunos participativos, explorando todo o conhecimento de mundo somado às suas experiências como agentes sociais. (RODRIGUES-JÚNIOR, 2009, p.46) O quarto e último exemplo que avaliamos como tendo uma grande importância para o andamento da pesquisa, principalmente na etapa em que se pretende uma intervenção junto ao professor-colaborador, em suas estratégias de ensino, aconteceu no momento em que a bolsista entregou ao professor a apostila trabalhada no Curso de Extensão “O Projeto ‘Acelerar para Vencer’ no Contexto do Ensino da Língua Inglesa: como implementá-lo?”, que aconteceu no Instituto de Ciências Humanas e Sociais da Universidade Federal de Ouro Preto, em outubro de 2009, e foi ministrado pelo Prof. Dr. Adail Sebastião Rodrigues-Júnior, orientador da pesquisa, juntamente com sua orientanda, bolsista de CNPq, Júlia de Melo Arantes, contando ainda com a participação do pedagogo e analista educacional, Sr. Edemar Amaral Cavalcante, representando a Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais. O curso, preparado para diretores, supervisores e, principalmente, professores de escolas públicas, teve como objetivo aperfeiçoar e capacitar professores de língua inglesa da Rede Estadual de Ensino de Ouro Preto, Mariana e região, por meio da implementação de ações de ensino e aprendizagem da língua inglesa no contexto do PAV, além do registro de propostas de ação que podem ser implantadas nas escolas em que atuam os professores de língua inglesa do PAV. O professor-colaborador da pesquisa, como um dos maiores interessados em participar do referido curso, foi convocado pela SEEMG, mas infelizmente não pôde comparecer. Sendo assim, a bolsista disponibilizou a ele todo o material utilizado no curso, que consistia em uma apostila com todos os slides usados pelos ministrantes. A primeira seção de slides, apresentada pelo pedagogo e analista educacional, Sr. Edemar Amaral Cavalcante, apresentou um panorama dos projetos desenvolvidos pela SEEMG e propôs uma orientação técnica, metodológica e pedagógica para o PAV; na segunda seção, o Prof. Dr. Adail Sebastião Rodrigues-Júnior, autor do Guia “Conversando com o professor”, presente no “Guia de Orientação Curricular do PAV” (SEEMG, 2009), explicitou detalhadamente a proposta curricular do PAV-Língua Inglesa; e ao final, a bolsista desta pesquisa, Júlia de Melo Arantes, trabalhando com o exemplo de atividade proposto pelo “Conversando com o professor”, demonstrou aos professores como aplicar a proposta curricular em sala de aula. Finalmente tendo acesso à proposta do PAV-Língua Inglesa, que destaca o texto como sendo a alavanca que o professor de Língua Inglesa tem em mãos para desenvolver as [Digite texto] habilidades necessárias ao aprimoramento de seus alunos na língua-alvo (RODRIGUESJÚNIOR, 2009, 49), o professor-colaborador afirmou que ela seria semelhante à forma com a qual ele trabalhava com suas turmas regulares, ou seja, com a compreensão de textos. Dando continuidade ao diálogo, o professor-colaborador, ao final da aula, mostrou para a bolsista um exemplo de texto em que ele destacou as estratégias de leitura que ensinava a seus alunos, citando, entre outras estratégias presentes no CBC (2008), a identificação do tema geral do texto e a localização, no texto, de informações específicas. Além disso, o professorcolaborador assumiu, nesse momento, que realmente desconhecia a proposta do PAV e, por isso, trabalhava da mesma forma com que fazia com as suas turmas da EJA. Ao final da conversa, o professor se comprometeu a, em 2010, por em prática a proposta de trabalho exposta pelo Guia “Conversando com o professor” nas suas turmas de PAV. Considerações finais Neste artigo, tentamos levantar algumas discussões advindas das impressões da primeira fase desta pesquisa, que consistiu em três meses de trabalho de campo, ou seja, de observações e coleta de dados, na sala de aula de uma turma de PAV, do professorcolaborador da pesquisa, que atua na Escola Estadual Professor Soares Ferreira, em Mariana, Minas Gerais. Para isso, foi necessário, inicialmente, apresentar e explicar o Projeto Estruturador “Acelerar para Vencer”, recentemente implantado pela Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais, em todas as Escolas do Estado. Pudemos constatar que, exatamente por ser um Projeto recente e sem material didático-pedagógico, específico da língua inglesa, que dê suporte aos professores, muitas são as ações necessárias para por em prática a real proposta do PAV nas escolas. As discussões teóricas aventadas acerca da metodologia escolhida para a pesquisa, a saber, a observação qualitativa sob a perspectiva da etnografia e da análise dos dados fornecidos pelo professor-colaborador, quais sejam, a formação continuada, a pesquisa-ação e a prática-reflexiva, apontam para a necessidade de se continuar promovendo iniciativas que envolvam pesquisa, ensino e extensão, com o objetivo de incentivar um intercâmbio de idéias e experiências entre as escolas públicas, através de seus professores, supervisores e diretores, e as universidades, através de seus alunos licenciandos e professores. É preciso que dessa rede de interações surjam discussões sobre o papel do PLI na Educação, sobretudo, pública brasileira e ações que venham a melhorar a realidade enfrentada pelos PLI nas salas de aula. [Digite texto] A pesquisa “O ensino de língua inglesa no contexto do Projeto ‘Acelerar para Vencer’, da Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais: um estudo de caso”, e o Curso de Extensão “O Projeto ‘Acelerar para Vencer’ no Contexto do Ensino da Língua Inglesa: como implementá-lo?”, ministrado por sua bolsista, seu orientador, e contando ainda com a participação de um representante da SEEMG, são iniciativas que compartilham desse objetivo. Pretendemos agora dar sequência às próximas etapas da pesquisa, de forma a promover novas discussões juntamente com o professor-colaborador, buscar novas estratégias de implantação do PAV na escola investigada e, finalmente, na segunda inserção da bolsista em campo, ver na prática a aplicação da proposta do PAV-Língua Inglesa pelo professor, que se comprometeu a fazê-lo, uma vez que, agora, tem subsídios para tal. Ademais, pretende-se, ao final da pesquisas e com seus resultados em mãos, orientar os PLI em atuação nas turmas de PAV e em formação que, futuramente possam a vir trabalhar nesse Projeto, além de ajudar a difundir o objetivo do PAV de promover uma nova cultura baseada no sucesso do aluno. Referências bibliográficas BARDIN, L. Análise de Conteúdo. 3ed. Lisboa: Edições 70, 2004. GREEN, J. L.; CAMILLI, G.; ELMORE, P. B. Handbook of Complementary Methods in Education Research. Mahwah, NJ; London: LEA, 2006. GREEN, J. L.; DIXON, C. N.; ZAHARLICK, A. 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