Boletim
Edição 36
setembro 2010
Foto:Mauricio Araujo
www.fazenda.org.br
A ausência da Palavra dá abertura para a violência
S
etembro, tradicionalmente, é chamado de mês
da Palavra de Deus. Quando todos são convidados a dispor um pouco mais de seu tempo para
se dedicar à leitura dos textos bíblicos. Na Fazenda
da Esperança aonde toda a vida circula em torno da
prática da Palavra essa realidade se torna mais intensa nesse período.
Há mais de dois mil anos atrás, essa Palavra assumiu a forma humana e todas as suas necessidades
também, como: comer, beber, morar, conviver com
outras pessoas e outras tantas
condições que se conhece.
Nessa visita terrena, Ele que
é a Palavra procurou fazer entender que todo ser humano é
uma expressão dessa Palavra.
Cada homem é uma pequena
Palavra, quando animado por
essa, busca amar o seu irmão.
Olhar nos olhos do irmão e reconhecer a Palavra nele é o grande
segredo para uma boa convivência
bíblicos dentro da comunidade e na vida daqueles animados em buscar um novo caminho.
“A vida na Fazenda gira em torno de palavras,
palavras antigas, extraídas da Bíblia, mas que, na
convivência dos jovens, revelam um dinamismo
surpreendente e sempre inovador. São palavras
simples, de fácil compreensão e linear clareza,
que, por este motivo, servem como regras de
convivência. Logo pela manhã, cada comunidade
escolhe como programa a “regra de ouro”, um
ditado já bem conhecido
de todos: “Não faça aos
outros o que você não quer
que os outros lhe façam”.
A surpresa é descobrir que
realmente se pode viver
dessa forma.
a Palavra leva a uma vida
sempre mais plena em realização
Baseada nesse conhecimento, a comunidade terapêutica
vê, em cada jovem recuperando acolhido, uma dessas expressões da Palavra. Em um texto antigo da época em
que se iniciava o trabalho da Fazenda da Esperança,
tentou-se explicar um pouco sobre essa vida, a fim de
entender a importância da concretização dos textos
A cultura do individualismo de se afastar dos irmãos leva muitas
pessoas a se isolar
2 - Boletim Fazenda da Esperança - Edição 36 - setembro 2010
À noite, os membros da
comunidade se reúnem novamente e partilham como
viveram a frase escolhida:
se conseguiram não ofender, não desconfiar, não
ferir. Em outra ocasião, o mesmo lema é aplicado num enfoque positivo: “Tudo aquilo que quereis que os homens vos façam, fazei-o vós a eles”
(cf. Mt 7,12). Influenciar positivamente o próprio
Celebrar a Palavra todos os dias, fortalece a vontade
de caminhar sóbreo
pensar e agir é, para a maioria deles, uma experiência absolutamente inusitada, especialmente
no começo, quando o corpo se rebela por não receber mais drogas e quando o trabalho corporal,
o ritmo de vida organizada e a inserção numa
comunidade parecem uma tortura desumana.
Colocar em prática, uma após outra, as palavras do Evangelho, e dialogar sempre sobre elas:
é esta a pedagogia fundamental desse projeto
de auto-ajuda e a própria dinâmica terapêutica,
a filosofia desta iniciativa, por assim dizer. Dessa
forma, as diversas comunidades, em cada casa,
semana por semana são norteadas por uma Palavra, e a Palavra leva a uma vida sempre mais plena em realização. Aqui reside o segredo de como
a maioria consegue recomeçar uma vida nova”.
Precisa-se das expressões humanas para transformar a Palavra em vida. Do trabalho, das moradias, da
convivência, das artes, costumes, culturas em fim de
tudo aquilo que o ser humano produz com a intenção de viver a Palavra.
Um jovem que supera a magoa e recolhe a roupa
do irmão com quem não se dava bem do varal por
causa da chuva, única e exclusivamente, na intenção
de amar o próximo se transforma numa expressão
viva da Palavra.
Outro que pede perdão, procura recomeçar, construir um relacionamento novo com quem seu ‘santo
não batia’ ou com um familiar o qual sempre saia
faíscas nos momentos de estarem junto se torna uma
expressão viva da Palavra.
Para a Fazenda, dar valor ao mês da Palavra é dar
a oportunidade de transformar a Palavra em existência, visível, palpável, em cada um que é acolhido e
torna a Palavra em Vida em seus atos, ações e feitos.
Esses acontecimentos concretos transformam a vida
de muitas famílias pelo Brasil inteiro e, consequentemente, cada casa da comunidade terapêutica se torna igreja e cada Fazenda da Esperança um Santuário
Moderno da Nova Evangelização.
Aconteceu comigo
“Aos 12 anos, comecei a usar
maconha, cigarro e álcool. Aos 15,
cocaína e muito álcool. Aos 16,
envolvi-me com o tráfico e assaltos
a mão armada. Aos 24, fui morar
com minha namorada. Com 26
anos, comecei a usar heroína e isso
mudou tudo.
Não comprava alimentos e me
drogava, passava dias sem comer,
emagreci mais de 20 quilos. Minha
irmã mais velha ficou sabendo Alejan
dro Cardona, 33 anos,
de
da Fazenda da Esperança. Ela Armênia
, no estado de Quindio,
procurou na Internet e viu
na Colômbia.
como funcionava. Viemos, eu,
minha esposa Angélica, e mais cinco pessoas.
Nos 15 primeiros dias não conseguia dormir. Tudo que
colocava na boca vomitava. Tinha muita dor no corpo, nas
juntas, nas costas, nos músculos e câimbras. Padre César e
com a irmã Cristiane sempre me falavam para entregar essa
dor e sofrimento a Jesus.
Nessa época, havia na Fazenda, um Russo chamado Olig.
Ele falou que sua abstinência levou dois meses. Eu tinha
medo, porque esse tempo não aguentaria. Muitas vezes
na capela chorava de dor. Em menos de um mês a dor
começou a sumir.
Antes de vir para o Brasil minha mãe teve um câncer no
cólon. Culpava-me, pensando que a doença era por todos
os sofrimentos que causei. Dois meses depois, ela me ligou,
disse que o câncer sumiu.
Aqui, vi muita gente que não me conhecia se preocupar
comigo, sem receber nada em troca. Isso me fez mudar
meu caráter e temperamento para tratar bem as pessoas.
Em novembro encerra o meu ano de recuperação, para
mim a Fazenda que nasce na Colômbia será um espaço
para eu não me afastar desse estilo de vida, continuar com
essa espiritualidade que ganhei e poder contar para as pessoas da possibilidade de deixar as drogas com a ajuda da
Palavra de Deus”.
A voz do embaixador
Quero que saibam da nossa imensa gratidão e que sempre pedimos a Deus que lhes ajudem nesta
tarefa tão maravilhosa de retirar da lama os indivíduos que também são imagens de Deus. Leocádia
C. Fernandes – Miracema do Tocantins / TO
Oi amigos, estou super feliz, acabei de receber uma carta do frei Hans, nossa como eu me sinto bem
quando recebo carta da Fazenda! Vai abrir uma Fazenda aqui no Acre (já abriu), pertinho da minha
cidade, vou retribuir tudo que me deram na Fazenda e ensinar o que aprendi. Celinda Teles Messias
- Cruzeiro do Sul / AC
Minha vida, minha paz, meu sossego; busquei em muitas coisas e nunca tinha preenchido o vazio
que tinha em meu coração, com esse novo estilo de vida, sou o homem mais feliz do mundo! Obrigado, meu Deus! Obrigado, Fazenda da Esperança! Weber Leite - Maceió / AL
Boletim Fazenda da Esperança - Edição 36 - setembro 2010 - 3
A-notável
Admirável gesto juvenil
A menina Maria Fátima Moyano López tocada pelo gesto do Papa em sua visita à Fazenda da Esperança,
escreveu-lhe uma carta pedindo tuas bênçãos e agradecendo teu gesto carinhoso. Abaixo, segue parte do que
Maria escreveu e a resposta de Bento XVI.
“
Carissimo papa Bento XVI,
Meu nome é Maria Fátima, tenho nove
anos, sou argentina e sou a menina de
vestido azul claro que te encontrou na
Fazenda da Esperanca, quando tu nos
visitaste.
Moro na Fazenda de Florianopolis junto
com meus pais e meu irmão Tobias, lembrome do teu carinhoso abraco e espero
que abencoe minha familia e a Fazenda.
Confio algum dia estar pessoalmente
contigo outra vez”, escreveu Maria Fátima.
A família Moyano, o casal Lorena e Hugo e os filhos Tobias e Maria Fátima são voluntários e, nesse momento
responsáveis pela Fazenda da Esperança feminina de Florianópolis/SC.
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