A HUMANIZAÇÃO DO CUIDADO DE ENFERMAGEM HOSPITALAR: MAIS QUE
UMA VISÃO, UMA ABORDAGEM, SOB A ÓTICA DE AUXILIARES E TÉCNICOS
DE ENFERMAGEM
SILVA, Kyara Ligia Souza
SILVINO, Rosa Zenith.
Este estudo é uma pesquisa qualitativa, tem como objeto de estudo a concepção dos auxiliares
e técnicos de enfermagem acerca do cuidado humanizado nas enfermarias de clínica médica.
Foram traçados objetivos: Verificar a concepção do cuidado humanizado dos auxiliares e
técnicos de enfermagem e, Identificar as dificuldades no desenvolvimento do cuidado
humanizado. Os dados foram coletados através de entrevistas semi-estruturadas junto aos
profissionais de enfermagem ligados diretamente com a assistência, auxiliares e técnicos de
enfermagem e, observação de campo nas enfermarias de clínica médica do Hospital
Universitário Antônio Pedro. Os dados foram submetidos à análise de conteúdo temático que
apontaram para as seguintes categorias: A dialética da concepção do cuidado humanizado e as
Dificuldades no desenvolvimento do cuidado humanizado. Conclui-se que os auxiliares e
técnicos de enfermagem, ao mesmo tempo que, acreditam saber e realizar o cuidado
humanizado chegam à prática cotidiana, não realizando o que pregam como verdade. Esperase que essa pesquisa possa contribuir para a percepção crítica da vivência do cuidar, assim
favoreça ao desenvolvimento das práticas cuidadoras humanizadas. Viabilizando uma prática
capaz de não só suprir com a técnica, porém seja capaz de abranger as necessidades dos
pacientes que está em nossas mãos em toda sua totalidade.
Palavras-chaves: 1. Cuidados de Enfermagem, 2.Enfermeiros, 3. Hospitalização.
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THE HUMANIZATION OF THE CARE OF HOSPITAL NURSING: MORE THAN A
VISION, A BOARDING, UNDER THE OPTICS OF ASSISTANT AND TECHNICIAN
OF NURSING.
This study it is a qualitative research that has as its main object the conception of the assistant
and technician of nursing concerning the humanized care in the infirmaries of medical clinic.
The traced objectives were: To verify the conception of the humanized care of the assistant
and technician of nursing and To identify the difficulties in the development of the humanized
care. The data had been collected through interviews half-structuralized together to the on
professionals of nursing directly with the assistance auxiliary and technician of nursing and,
comment of field in the infirmaries of medical clinics of the University Hospital Antonio
Pedro. The data had been submitted to thematic content analysis that had pointed with respect
to the following categories: The dialectic of the conception of the humanized care and the
Difficulties in the development of the humanized care. It concludes that the assistants and
technicians of nursing, at the same time that they believe to know and to carry through the
humanized care, they arrive in daily practical not carrying through what they point as truth. It
is expected that this research can contribute for the critical perception of the experience of
taking care of, thus favors to the development of the practical humanized cares. Making
possible capable practical not only as a supplying for the technique, however either capable to
enclose the necessities of the patients who are in our hands in all its totality.
Key-words: Nursing cares, Nurses, Hospitalization
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CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Durante o curso de graduação em Enfermagem, pude ao longo do tempo, receber toda
a formação para compreender e executar o ato de cuidar dos pacientes. Assim, ao longo das
experiências vividas no cenário teórico-prático pude conhecer como era realizado o cuidado
de enfermagem aos usuários do Hospital Universitário Antônio Pedro.
CONTEXTUALIZAÇÃO
Através da vivência na rotina desempenhada nas clínicas médicas, construí com o
tempo indagações a respeito das diferenças observadas na realização dos cuidados, efetuados
pela equipe de enfermagem. Este cuidado era desenvolvido das mais diferentes formas, a
respeito do mesmo plano de cuidados e prescrições médicas.
Para Waldow (1995, p. 8) “Os profissionais da área de saúde não diferem quanto ao
objeto e sujeito do cuidar/cuidado, mas sim na forma como expressam cuidar/cuidados”.
Assim, no desenvolvimento de um pensamento crítico e reflexivo acerca do cuidar,
realizamos junto á clientela, um estudo que retratou através de uma amostra de profissionais
de enfermagem, como vem sendo realizado o cuidado aos pacientes hospitalizados no cenário
das clínicas médicas. Contribuindo para um relato da realidade do trabalho da equipe de
enfermagem, que presta assistência aos usuários dentro do Hospital Universitário Antônio
Pedro.
Como base no cuidado de enfermagem hospitalar aos usuários em saúde, trouxemos a
questão do cuidado humanizado como assunto atual e importante na realidade da assistência
de enfermagem, enfocada pelo Ministério da Saúde em seu Programa Nacional de
Humanização da Assistência Hospitalar. Onde subsidiou as questões norteadoras, formando
um contraponto ao paradigma da concepção do cuidado humanizado. O tema humanização
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vem sendo descrito por muitos autores e discutido junto aos profissionais que lidam
diretamente no cuidado com as pessoas. Com efeito, a mudança na operacionalização de
políticas de saúde tem constantemente trazido inquietações aos profissionais envolvidos em
sua competência técnica, científica e humana.
A realidade do cenário da saúde atualmente esta voltada ao crescente avanço
científico e tecnológico, onde assistimos à criação de novos procedimentos, protocolos,
medicamentos que prometem cura, aparelhos capazes de realizar minuciosas cirurgias,
exames e manipulações.
Porém é visível que a evolução do conhecimento técnico-científico não tem
acompanhado a evolução do atendimento de saúde, principalmente nos serviços públicos. A
qualidade do contato humano presente nas intervenções de saúde tem sido há mais distante
possível, onde percebemos números ao invés de nomes, por exemplo.
Portanto o resgate ao cuidado humano tem sido emergente, onde a prática cuidadora
necessita avançar em direção a totalidade do ser humano. Não mais cuidamos apenas de um
problema isolado, somos participantes de um processo interligado, mostrando o paciente
como ser humano. O resgate da dignidade humana, no momento em que nos tornamos mais
fragilizados, ou seja, quando estamos doentes.
Precisamos do cuidado humanizado, do entendimento de nossas necessidades biopsico-socio-espirituais. E para tal precisamos deixar de lado a prática fragmentada, as atitudes
e ações distantes das relações humanas.
Por isso o conceito de humanizar precisa estar em nossas mentes. Assim diz o
Programa Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar (PNHAH, p.33).
A humanização é entendida como valor, na medida em que resgata o
respeito à vida humana. Abrange circunstâncias sociais, éticas,
educacionais e psíquicas presentes em todo relacionamento humano.
Esse valor é definido em função de seu caráter complementar aos
aspectos técnico-científicos que privilegiam a objetividade, a
generalidade, a causalidade e a especialização do saber.
Esses aspectos possuem uma natureza muito subjetiva, falam das relações humanas,
onde observamos a singularidade humana. E cada indivíduo dispõe de necessidades
emocionais e físicas diferentes, necessitando de uma abordagem singular que vai além da
técnica propriamente. Sobre essa abordagem, diz Waldow (1998, p.14), “acerca do cuidado
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humano que deve ser sentido e vivido, e para que o cuidado seja integrado ao nosso dia-a-dia,
é preciso absorvê-lo, permitir que ele faça parte de nós mesmos, transformá-lo em estilo de
vida”.
Quando falamos no cuidar, estamos refletindo nas ações do enfermeiro que está
além do tecnicismo. É um ato científico que exige ética, porém, propõe ao cuidador a
transcendência1 à técnica, pois se relaciona com o humano. Avançar no contexto do cuidado
humanizado, fundamentado no significado e no valor da vida do ser humano que estamos
cuidando, a solidariedade humana faz parte do cuidado.
O cuidado de enfermagem deve ser capaz de traduzir a dignidade humana nas suas
mais diversas formas e necessidades. Ao afirmarmos isto, resgatamos a enfermagem antiga,
anterior a Florence, onde o ato de cuidar era desenvolvido por religiosas, o cuidado era
realizado como amor a Deus, como ato de caridade, de entendimento da dor do outro, capaz
de superar e contribuir ao doente a cura e o esclarecimento da sua finitude, assim o cuidado
aos enfermos tinha força e respeito.
Segundo Padilha (1998, p. 72), o cuidado dos enfermos era feito como forma de
caridade adotada pela Igreja, onde conjuga a história da enfermagem, principalmente após o
advento do cristianismo. Os ensinamentos de amor e fraternidade transformaram não somente
a sociedade, mas também o desenvolvimento da enfermagem, onde foi marcada
ideologicamente a prática do cuidado humano e construindo comportamentos que atendessem
a esses ensinamentos.
A
enfermagem
profissional
sofreria
influência
direta
destes
ensinamentos, traduzida pelo conceito de altruísmo introduzido pelos
primeiros cristãos. O termo altruísmo deriva da palavra latina alter
(outro), e por isso o significado de altruísmo foi o de pensar nos
demais e interessar-se por eles. Este termo não era uma idéia nova,
porém pode-se dizer que era uma velha idéia com novas motivações.
(DONAHUE, 1993, p. 73)
O enfermeiro, portanto é capaz de ao lado do paciente desenvolver suas práticas
cuidadoras de maneira efetiva, dando aquilo que possui. Desenvolvendo sua sensibilidade
para que assim, possa perceber a sensibilidade do outro. A forma que atuo depende da
maneira que me relaciono no cuidado.
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OBJETO DE ESTUDO
Desta forma, delineamos como objeto de pesquisa: a concepção do cuidado
humanizado dos auxiliares e técnicos de enfermagem nas enfermarias de clínica médica.
QUESTÕES NORTEADORAS
Onde perpassa pelas seguintes questões norteadoras:
• Qual a concepção dos auxiliares e técnicos de enfermagem acerca do cuidado
humanizado?
•
O que é necessário para que haja um cuidado humanizado?
OBJETIVOS
Foram traçados como objetivos:
• Verificar a concepção do cuidado humanizado dos profissionais de
enfermagem.
• Identificar as dificuldades no desenvolvimento do cuidado humanizado.
Sendo, o cuidado humano, uma prática efetiva, e, instrumento constante na vida da
equipe de enfermagem, acredito que este trabalho tratou de falar e investigar o cuidado
hospitalar humanizado onde buscamos contribuir para o melhor desenvolvimento das práticas
cuidadoras, através de uma reflexão do cotidiano dos auxiliares e técnicos de enfermagem do
que existe e o que se tem como ideal ao cuidado. Viabilizando uma prática profissional capaz
de não só suprir com a técnica propriamente, porém seja capaz de abranger as necessidades
humanas do cliente que está em nossas mãos em toda sua totalidade. Difundir o cuidado
humanizado como algo possível.
CAPÍTULO I
REVISÃO DE LITERATURA
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Para o desenvolvimento desta pesquisa utilizamos alguns autores capazes de dar um
embasamento nas discussões sobre o tema abordado.
Assim ao falarmos do cuidar, necessitamos compreender os significados desta prática
realizada por nós profissionais de saúde que atuamos constantemente de forma direta e/ou
indireta com os pacientes.
1.1 OS VÁRIOS CONCEITOS DE CUIDAR
O entendimento acerca do conceito de cuidado de enfermagem para Leininger citada
por Leopardi (1999, p.197) significa “atividades, processos, decisões diretas (ou indiretas) de
sustentação e habilidades com relação a assistir a pessoa de tal maneira a refletir atributos
comportamentais como: empatia, apoio, ajuda e técnica”. A autora citada aborda o cuidado
como necessidade humana essencial, e diz que diferentes culturas praticam o cuidado de
diferentes maneiras, apesar de manterem similaridades na necessidade do cuidado.
Assim temos o cuidado como uma grande contribuição profissional á população, e
para realizarmos bem nosso exercício profissional é necessário conhecer e aprofundar nossas
teorias para refletir e executar da melhor forma o atendimento aos pacientes.
Segundo Leopardi (1999, p.203) á respeito do cuidado humano, o cuidado como ato,
é amplo e abarca em seu sentido todos os sentimentos que temos enquanto pessoas.
Para Leininger , a enfermagem teria a função de ajudar as pessoas, contribuindo para
o bem estar, em seu processo vital. Nesse sentido, frisa a importância do conhecimento sobre
a relação homem-meio, a fim de auxiliar o indivíduo a restabelecer a integridade, tanto quanto
for possível.
Já Para Horta o conceito de cuidado é fundamentado no cumprimento de se suprir no
individuo a necessidade afetada, e para isso é importante ter sensibilidade e percepção por
parte do enfermeiro. Ela relata que ”devemos fazer pelo ser humano aquilo que ele não pode
fazer por si mesmo”, auxiliar os que estão incapacitados em realizar o autocuidado. Nesse
sentido utilizamos a orientação, a educação em saúde e a supervisão para conduzi-lo a um
estado melhor, com isso cuidamos.
Percebemos que a interação do cuidador com o paciente é de grande relevância, pois
favorece a integração, o conhecimento, a troca, pois é dinâmico. Tanto aquele que é assistido,
como aquele que assiste estabelece um vínculo de linguagem e atenção, que favorece o
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cuidar, diminuindo as angústias do paciente, permitindo que ele faça parte da realização do
cuidar, pois contribui na medida que necessita.
Assim construímos nosso saber abarcando o entendimento dos valores humanos, da
dignidade daquele que cuidamos, para fazermos um cuidado de qualidade. È indissociável a
relação do enfermeiro enquanto cuidador, com as questões subjetivas, pois se relaciona com o
humano. Portanto toda e qualquer relação distante e sem interação pessoal, quebra o
dinamismo do processo de cuidar do enfermeiro e o cliente.
Para King, a interação enfermeiro-cliente é o modo de se operar o processo de
enfermagem que é inerente á qualidade do cuidado, portanto é visto como um elemento de
fundamental importância.
A forma que se dá o cuidado é entendida como o processo de cuidar, que para
Waldow (1998, p.149),
... o processo de cuidar é entendido como o desenvolvimento de ações
e atitudes e comportamentos com base no conhecimento científico,
experiência, intuição e pensamento crítico, realizadas para/ e com o
paciente a ser cuidado no sentido de promover, manter e ou recuperar
sua dignidade e totalidades humanas. Essa dignidade e totalidade
englobam o sentido de integridade e a plenitude física, social,
emocional, espiritual.
1.2 O CUIDADO HUMANIZADO
Utilizamos, como base para as discussões sobre o cuidado humanizado, o Programa
Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar do Ministério da Saúde (PNHAH), que
deseja através de um conjunto de ações integradas mudar substancialmente o padrão de
assistência ao usuário nos hospitais públicos do Brasil, melhorando com isso a qualidade e a
eficácia dos serviços hoje prestados por estas instituições.
Ao valorizar a dimensão humana e subjetiva, presente em todo ato de
assistência à saúde, o programa nacional de humanização dos
hospitais, aponta para uma re-qualificação dos hospitais públicos, que
poderão
tornar-se
organizações
mais
modernas,
dinâmicas e
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solidárias, em condições de atender as expectativas de seus gestores e
da comunidade (BRASIL, 1998).
Importante citar que o PNHAH é um programa que foi lançado pelo Ministério da
Saúde (MS) em maio de 2000 pela Portaria 881 de 19.06.01. Onde o Ministério convidou seis
profissionais da área de saúde mental, para elaborar uma proposta de trabalho visando à
humanização dos serviços hospitalares. Em 24 de maio de 2000 foi apresentado o Projeto
Piloto, onde nove hospitais foram selecionados. O trabalho foi monitorado pelo Comitê
Técnico do Ministério da Saúde. Desejou em sua primeira fase do programa contemplar na
região sudeste, alguns hospitais da região do Grande Rio e em Niterói o Hospital
Universitário Antônio Pedro (HUAP). Dentre seus principais objetivos estão:
• Fortalecer e articular todas as iniciativas de humanização já existentes na rede
hospitalar pública;
• Melhorar a qualidade e a eficácia da atenção dispensada aos usuários da rede
hospitalar Brasileira credenciada pelo SUS.
• Modernizar as relações de trabalho no âmbito dos hospitais públicos, tornando
as instituições mais harmônicas e solidárias, de modo a recuperar a imagem
pública dessas instituições junto á comunidade;
• Capacitar os profissionais do hospital para um novo conceito de atenção á
saúde que valorize a vida humana e a cidadania;
• Conceber e implantar novas iniciativas de humanização dos hospitais que
venham a beneficiar os usuários e os profissionais de saúde;
• Estimular a realização de parcerias e intercâmbio de conhecimentos
experiências nesta área;
• Desenvolver um conjunto de parâmetros de resultados e sistema de incentivos
ao serviço de saúde humanizado;
• Difundir uma nova cultura de humanização na rede hospitalar credenciada ao
SUS.
Com isso podemos perceber a relevância dessa pesquisa que soma as ações
pretendidas pelo Ministério da Saúde á nossa realidade no hospital que é escola pra nós o
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HUAP. Portanto o hospital é uma instituição formadora do profissional enfermeiro entre
outros.
O Programa não traz nenhuma questão inovadora, mas sim resgata o que há de
melhor para o cuidado, a humanização. Que frente ás situações hoje vivenciadas nos hospitais
públicos, percebemos á necessidade urgente em se falar, ouvir e discutir a cerca do cuidado
humanizado, pois as relações estão distantes dissociadas.
Dentro dos objetivos do programa enfatizamos mais a questão do aprimoramento das
relações entre profissional de saúde e usuário.
E ao falarmos de assistência, necessitamos aprofundar nossa teoria a respeito da
prática cotidiana da enfermagem, que é propriamente o cuidado humano. Onde a
humanização é entendida como valor, na medida em que resgata o respeito á vida humana.
Portanto, acreditamos que frente a este cenário de dor, sofrimento e cura, como é o
hospital, podemos implementar uma política de assistência e cuidado que honre a dignidade
do ser humano doente. Abrangendo circunstâncias sociais, éticas, educacionais e psíquicas
presentes em todo relacionamento humano. A complexidade de definição decorre da sua
natureza subjetiva, visto que se referem às pessoas.
A respeito da humanização do cuidado hospitalar diz Pangrazzi (1998, p. 9).
Em geral o hospital continua sendo o lugar mais apropriado para a
ação terapêutica, mas também se torna sempre mais urgente o desafio
de humanizar este mundo que abriga a dor, para que não continue a
hospedar também a indiferença, a despersonalização e a injustiça. Nos
hospitais, está a amostra da sociedade: suas várias culturas, religiões e
situações humanas. Nele se concentra o melhor da técnica. A elite do
corpo profissional. Nele se entrelaçam múltiplos interesses políticos
econômicos, religiosos.
Essa proposta não foge aos princípios básicos dos fundamentos de enfermagem
explicados por Horta (1989, p. 8). Onde as necessidades humanas básicas, são classificadas
para fins de sistematização em três níveis: a) psicobiológicas; b) psicossociais; c)
psicoespirituais. E para cada necessidade, haverá contemplação sob os conhecimentos
científicos que as determinam, os sinais e sintomas que caracterizam seu não-atendimento ou
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a inadequação dos meios para sua satisfação. Para que assim o individuo seja respeitado e
atendido na sua diversidade e singularidade.
“A enfermagem é a arte de assistir o ser humano no atendimento de suas
necessidades básicas, onde ele é parte integrante do universo dinâmico” (op.cit. p. 29).
Portanto, abordamos a implicação da enfermagem no cuidado humanizado como,
capaz de perceber a identidade do seu objeto de trabalho, como ser vivente, cheio de
necessidades e anseios. Promovendo um “care cristão” como diz Waldow (1998, p. 12):
Limitemo-nos aos grandes princípios. A alma cristã consiste em sua
entidade imaterial divina, na presença de Deus dentro do homem. Essa
entidade está presente desde a concepção de um ser humano e o
acompanha até a morte. Ela é, ao mesmo tempo, princípio de unidade
de cada pessoa e princípio de solidariedade por participar de um
universal divino.
Humanizar o cuidado é resgatar a importância dos aspectos emocionais,
indissociáveis dos aspectos físicos nas intervenções em saúde. È repensar as práticas das
instituições de saúde, buscando opções de diferentes formas de atendimento e de trabalho, que
preservem este posicionamento ético no contato pessoal.
Bettinelli (CBCENF, 2003) em sua palestra proferida no Congresso Brasileiro dos
Conselhos de Enfermagem, Florianópolis-SC. Enfatiza que para a compreensão da realidade
social existem, inúmeras características essenciais as quais dependem da forma que
trabalhamos, dos valores pessoais.
Para tanto é necessário interpretar à concepção do cuidar, á luz dos valores
individuais, contexto e conceitos, para entender o agir que parte desses significados, e em
alguns casos desemboca na nossa consciência.
Ainda segundo Bettinelli, ao se fazer uma breve leitura do mundo em que vivemos
percebemos um mundo altamente capitalista, onde somos o que produzimos. O uso da ética
utilitarista, gerando o individualismo até como forma de sobrevivência. Repercute na ação
cuidadora nos hospitais. Conduzindo há um atendimento desigual, que depende muito da sua
situação econômica, dos extratos bancários, para se obter o cuidado. Vemos ainda a
hierarquização do cuidado fazendo um fruto nada saboroso que é o cuidado fragmentado. A
partir disso sentimos a desumanização dos serviços, muita indiferença e pouca sensibilidade,
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onde as filas são normais, a superlotação é normal. Como se a vida dos que cuidamos tivesse
um valor material.
Portanto, precisamos refletir eticamente. Continuando a possuir sonhos de cuidar do
ser humano, não estando mergulhados no automatismo, possuindo o desejo de melhorar.
Necessitamos diminuir a mercantilização da doença e a medicalização da vida, pois a vida
humana não é uma mercadoria. Precisamos encontrar pontos de articulação entre a utilização
da tecnologia e a sensibilidade, mantendo os princípios éticos e técnicos acima dos comerciais
e das leis de mercado.
Por isso, somos conduzidos a questionar o afastamento dos profissionais de
enfermagem no cuidado humano. Existe um distanciamento que faz questionar o observador e
quem está recebendo os cuidados. Não podemos imitar as máquinas, que produzem
mecanicamente seus produtos, mas sim deveríamos realizar e produzir no outro, que está
sendo cuidado, a satisfação e confiança capaz de fazer germinar, no seu estado de saúde, uma
mudança.
A respeito disso diz Waldow,
A relação cristã de cuidado não desapareceu completamente nos dias
atuais, mas perdeu seu caráter de sistema vivo, dominante. A
influência das ciências e das técnicas, dos hospitais e das propostas
assistenciais do consumo variado e hedonista, deslocou o centro de
gravidade da relação com o outro, obscurecendo o céu divino pelo que
sabemos de fabricação humana, enfraquecendo as explicações fora do
mundo em favor de uma autoconstrução de referências de
solidariedade e de singularidade. (Waldow 1998, p. 13)
Mas o compromisso que assumimos ao escolher trabalharmos junto aos seres
humanos, nos conduz há uma reflexão crítica, de como devemos fazer, qual o fazer correto.
Muitos autores dizem até, ser o cuidado que gostaríamos de receber, o cuidado ético, sensível
competente nas funções profissionais, de conforto, que tivesse como objetivo final a nossa
recuperação física.
Contudo, para que isso ocorra desde o início, precisamos absorver, compreender e
assumir o compromisso com vontade de acertar. Segundo o Pontifício Conselho da Pastoral
para os profissionais de saúde (1995, p.13), a atividade do cuidar na área da saúde, tem seu
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alicerce numa relação interpessoal, de natureza única e pessoal. É um encontro de confiança e
consciência. A confiança de uma pessoa marcada pelo sofrimento e pela doença, e por isso
necessitada, se abandona à consciência de uma outra pessoa que pode cuidar da sua
necessidade e que vai a seu encontro para assistir, cuidar e curar.
A essa pessoa chama-se o profissional de saúde. E a ele dá-se uma experiência única
a cada dia que cuida, pois é uma experiência de busca e de encontro.
n
Paciente busca conforto, recuperação da saúde, dignidade humana e melhor qualidade
de vida.
n
Encontra no profissional respeito, dedicação, sensibilidade e ética.
CAPÍTULO II
METODOLOGIA
Para atender os objetivos desta pesquisa, e para uma melhor compreensão da
temática em questão, algumas etapas metodológicas foram traçadas.
Neste capítulo descrevemos a abordagem, as técnicas utilizadas para a coleta de dados,
o cenário e os sujeitos da pesquisa e a descrição dos dados.
2.1. O TIPO DE ABORDAGEM
Para conduzir esta pesquisa utilizamos uma abordagem qualitativa, que segundo
Minayo (2000, p. 21).
... se preocupa, nas ciências sociais, com um nível de realidade que
não pode ser quantificado. Ou seja, ele trabalha com o universo de
significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que
corresponde a um espaço mais profundo das relações.
Para Silvino (2001, p. 33), a opção pela abordagem qualitativa da problemática é
importante porque quando se trata de fenômenos sociais, implica quase sempre um alto grau
de abstração, o que limita o procedimento a aspectos muito parciais da realidade, quase
sempre de interesse restrito.
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Escolhemos a abordagem qualitativa a fim de aproveitar ao máximo o universo das
falas dos sujeitos envolvidos, dada à subjetividade do tema.
A abordagem qualitativa parte do fundamento de que há uma
relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito, uma interdependência
viva entre o sujeito e o objeto, um vínculo indissociável entre o mundo
objetivo e a subjetividade do sujeito. O conhecimento não se reduz a
um rol de dados isolados, conectados por uma teoria explicativa; o
sujeito – observador é parte integrante do processo de conhecimento e
interpreta os fenômenos atribuindo-lhes um significado. O objeto não
é um dado inerte e neutro; será possuído de significados e relações que
sujeitos concretos criam em suas ações. (CHIZZOTTI, 2001, p.79)
2.2. OS SUJEITOS DA PESQUISA
Quanto aos sujeitos da pesquisa foram os auxiliares e técnicos de enfermagem que
executam o cuidado direto ao paciente. Pois entendemos neste momento, ser de grande
relevância a concepção destes profissionais sobre o cuidado humanizado já que os mesmos
atuam mais diretamente junto aos pacientes.
A escolha dos sujeitos ocorreu de forma aleatória.
2.3. O CENÁRIO
Nosso cenário foi composto pelas enfermarias de clínicas médicas situadas no sétimo
andar do Hospital Universitário Antônio Pedro, que está situado em Niterói, no Estado do Rio
de Janeiro.
2.4. TÉCNICAS UTILIZADAS NA PESQUISA
Realizamos junto aos sujeitos da pesquisa a técnica de entrevistas semi-estruturadas e
observação de campo para melhor coletar nossos dados. Portanto utilizamos entrevistas semiestruturadas apoiada num pequeno roteiro com quatro questões, que foi capaz de direcionar as
entrevistas. A abordagem junto aos profissionais foi realizada com agendamento prévio de
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data e horário, não interferindo na dinâmica de trabalho das enfermarias de clínicas médicas.
Os entrevistados ficaram à vontade para responder as solicitações do entrevistador.
Na entrevista semi-estruturada e no emprego de qualquer coleta de
informações lhe permitirá esboçar novas linhas de inquisição,
vislumbrar outras perspectivas de análise e de interpretação no
aprofundamento do conhecimento do problema. Queremos privilegiar
a entrevista semi-estruturada, porque ao mesmo tempo, que valoriza a
presença do investigador, oferece todas as perspectivas possíveis para
que o informante alcance a liberdade e a espontaneidade necessárias,
enriquecendo a investigação. (TRIVINOS, 1987, p. 132).
Foram realizadas sete entrevistas, onde as falas dos depoentes foram gravadas em
fitas k7 através do uso de gravador para que se pudesse redigir fielmente a fala dos depoentes,
e para melhor aproveitar os dados emitidos. As entrevistas tiveram em média 40 minutos de
duração para cada sujeito. Foram feitas as adequações da fala na transcrição dos dados,
estando o entrevistado ciente da não alteração do conteúdo.
Como lidamos com questões subjetivas relacionadas com o cuidado de enfermagem,
utilizamos também a observação de campo como recurso, apoiada em um roteiro de
observação, a fim de compreender de forma fiel todo processo em nossa volta, fazendo uma
comparação com as falas dos sujeitos.
Segundo Gil (1995, p.26),
... A observação apresenta-se como principal vantagem, em relação a
outras técnicas, a de que os fatos são percebidos diretamente, sem
qualquer intermediação. Desse modo, a subjetividade que permeia
todo o processo de investigação social tende a ser reduzida. A
observação nada mais é que o uso dos sentidos com vistas a adquirir
os conhecimentos necessários.
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A observação durou em média trinta minutos para cada entrevistado, somando um
tempo integral de aproximadamente duas horas e meia. A observação ocorreu
concomitantemente às entrevistas, no período da tarde, durante o mês de agosto de 2003.
Todos os dados obtidos são de propriedade da pesquisadora. E acordado que seria
permitida toda forma de divulgação, desde que preservado o anonimato dos sujeitos.
Todo o material obtido na coleta de dados faz parte do acervo pessoal da
pesquisadora e servindo exclusivamente para a elaboração da presente pesquisa e de artigos
que dela derivem. Os resultados, favoráveis ou não, da pesquisa serão tornados públicos,
através de veículos de divulgação científica. Sendo uma pesquisa para elaboração do trabalho
final do curso de graduação, os custos da pesquisa foram arcados pela pesquisadora.
2.5. ASPECTOS ÉTICOS DA PESQUISA
A presente pesquisa não trouxe riscos aos clientes, pois procurou atender a todos os
princípios éticos inerentes ao processo de pesquisa de acordo com a Resolução 196/96. A
pesquisa passou pela análise da Comissão de Ética de Pesquisa (CEP) do HUAP, onde foi
aprovada para o desenvolvimento das entrevistas e observação nas clínicas médicas do sétimo
andar da referida instituição.
Assim, os entrevistados, consentiram na realização da entrevista, de modo reservado,
e foram capazes de responder as solicitações do entrevistador, que manteve o nome e registro
sob sigilo, ficando o mesmo, responsável pelas informações coletadas e por qualquer falha do
combinado.
As entrevistas foram realizadas com os sujeitos da pesquisa, até que houve saturação
dos dados e tornando-se suficientes para a análise dos achados obtidos. Diante de uma
abordagem inicial o entrevistado recebeu todas as informações acerca da pesquisa, ficando ele
ciente dos objetivos e fins. Para tal, os entrevistados estiveram á vontade para responder ás
questões solicitadas pelo entrevistador estando consciente do respeito a sua vontade caso
quisessem desvincular-se no meio da pesquisa. O entrevistador apresentou o termo de
consentimento livre e esclarecido envolvendo pesquisa com seres humanos, deixando os
entrevistados cientes de todos os aspectos da pesquisa e livre de qualquer dúvida.
2.5.1. Impressões do Entrevistador
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Pudemos perceber ao entrevistar os depoentes que os mesmos utilizaram falas
simplificadas dentro da língua portuguesa para responder as questões solicitadas. Assim
percebemos também que, muitos falavam que realizam os cuidados de forma humanizada,
mais se controverteram ao chamar, por exemplo, um paciente pelo número de seu leito.
Alguns pareciam temerosos no início das falas, mas no decorrer das entrevistas sentiam-se
mais a vontade. Percebemos também que a grande maioria dos entrevistados não conseguiu
conceituar o cuidado humanizado, supondo situações em que acreditavam realizá-lo. No
decorrer das entrevistas ficou evidente a necessidade de desabafo dos profissionais, frente às
dificuldades enfrentadas no HUAP, pareciam mesmo estarem sufocados e com muita vontade
de expressar a angústia de não terem uma melhor condição de trabalho.
Serviu também de resgate, de parada do automatismo para reflexão da prática
cotidiana. Eles demoravam a responder, pois lembravam de situações ocorridas na prática.
Todos demonstravam satisfação em estar na enfermagem.
Observamos também que no HUAP não há incentivo direto aos auxiliares e técnicos
de enfermagem acerca do cuidado humanizado. Eles comentavam dessa falta de incentivo, e
ainda deram sugestões para melhorar o atendimento aos pacientes. Todos sentiram e relataram
alegria em poder participar da pesquisa.
2.6. FORMA DE ANÁLISE DOS DADOS
Os dados obtidos nas entrevistas e na observação foram categorizados e analisados de
acordo com a técnica de análise de conteúdo temática. Onde se preocupou em relatar as
questões emergentes. A análise de conteúdo segundo Bardin (1977, p.12) é,
... um conjunto de técnicas de análise de comunicações visando obter,
por procedimentos, sistemáticos e objetivos de descrição de conteúdo
de mensagem, indicadores (quantificáveis ou não) que permitam a
inferência de conhecimentos relativos às condições de produção
/recepção (variáveis inferidas) destas mensagens.
Inicialmente foi efetuada transcrição na íntegra das entrevistas, onde depois se
procedeu à leitura e uma pré-análise dos dados, incluindo os dados da observação de campo:
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leitura dos depoimentos, organização dos dados e determinação dos critérios para
categorização com base na temática pesquisada e leituras previamente efetuadas.
Segundo Gomes (2001, p.70) “as categorias são empregadas para se estabelecer
classificações” ou ainda “trabalhar com elas significa agrupar elementos, idéias ou expressões
em torno de um conceito capaz de abranger tudo isso”.
Na categorização dos dados procurou-se manter uma homogeneidade, através dos
critérios de classificação. Foi observada a exaustividade de forma a abranger todo o texto e a
exclusividade para que nenhum registro pertencesse a mais de uma categoria.
Para Bardin (1977, p. 117) a categorização é um processo de “classificação de
elementos constitutivos de um conjunto, por diferenciação e, seguidamente, por
reagrupamento segundo o gênero (analogia), com os critérios previamente definidos”. As
categorias são classes em que se reúne um grupo de elementos, no caso da análise de
conteúdo são as unidades de registro, sob um título genérico. Esse agrupamento se faz em
razão das características comuns destes elementos.
Após a categorização, os dados foram analisados tendo como base a revisão de
literatura adotada. Os dados foram categorizados como: A dialética da concepção do
Cuidado Humanizado e As dificuldades no desenvolvimento do Cuidado Humanizado.
CAPÍTULO III
APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Neste capítulo, apresentamos os resultados dos dados colhidos nas entrevistas junto
aos sujeitos da pesquisa. Inicialmente demonstramos o perfil dos entrevistados quanto ao
sexo, faixa etária, lotação nas enfermarias de clínicas, local de moradia, categoria profissional,
tempo de serviço na área de enfermagem e quantidade de empregos.
3.1 O PERFIL DOS SUJEITOS
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Mulher
86%
Homem
Mulher
Homem
14%
Figura 1. Gráfico referente ao sexo dos sujeitos.
O grupo de auxiliares e técnicos entrevistados foi em seu total sete, sendo um homem
e seis mulheres.
6
5
4
3
2
1
0
20-30
30-40
40-50
Figura 2. Gráfico relativo à faixa etária dos sujeitos.
Os entrevistados se dividiam de acordo com sua faixa etária da seguinte forma: entre
vinte a trinta anos tivemos um sujeito; entre trinta e quarenta anos tivemos cinco sujeitos e,
entre quarenta e cinqüenta anos um entrevistado.
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43%
CMF
CMM
57%
Figura 3. Gráfico referente à lotação nas enfermarias de clínicas do HUAP.
Quanto ao local de trabalho nas enfermarias de clínica médica do HUAP, tivemos a
seguinte distribuição: quatro sujeitos na enfermaria de clinica médica feminina (CMF) e três
sujeitos na enfermaria de clínica médica masculina (CMM).
Outros
1
São Gonçalo
4
Niterói
2
0
1
2
3
4
5
Figura
4. Gráfico referente ao local de moradia.
Dentro da distribuição dos sujeitos, observamos que dois residem em Niterói, quatro
em São Gonçalo e um dentro de outras localidades.
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Técnico de
Enfermagem
29%
Auxiliar de
Enfermagem
Auxiliar de
Enfermagem
71%
Técnico de
Enfermagem
Figura 5. Gráfico referente à categoria profissional dos sujeitos.
Quanto à categoria profissional, percebemos que cinco sujeitos são auxiliares de
enfermagem, sendo que dois deles estão fazendo o curso de qualificação de técnico de
enfermagem pelo PROFAE (Programa de Profissionalização dos Trabalhadores de
Enfermagem) e dois possuem o título de técnico de enfermagem.
8
2
6
4
3
2
2
8 a 20
4a7
0a3
0
1
Figura 6.
Gráfico
referente ao tempo de serviço na área de enfermagem.
Percebemos que a distribuição em anos exercidos segue da seguinte forma: entre zero
a três anos, dois sujeitos, entre quatro a sete anos, temos três sujeitos, e entre oito a vinte anos
de serviço prestados, temos dois entrevistados.
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5
6
2
4
2
0
Sim
Não
Figura 7.
Gráfico referente
aos que trabalham em outros locais
Em relação à quantidade de empregos, cinco entrevistados responderam que possuem
outro vínculo e dois responderam que não trabalham em outros locais.
Quanto ao tipo de vínculo empregatício que possuem junto ao HUAP, seis são
prestadores de serviço e apenas um é efetivo, isto é, possui vínculo empregatício permanente
regido pelo RJU (Regime Jurídico Único).
3.2 A DIALÉTICA DA CONCEPÇÃO DO CUIDADO HUMANIZADO
A seguir apresentamos a discussão das categorias encontradas no estudo: A dialética
da concepção do Cuidado Humanizado e As dificuldades no desenvolvimento do
Cuidado Humanizado.
Os depoentes informaram que proporcionar um cuidado humanizado significa dar
atenção ao paciente, colocando-se no lugar dele fazendo o cuidado com carinho, amor e
abnegação.
Nos depoimentos abaixo podemos observar o quanto é expressiva essa forma de
concepção sobre o cuidado humanizado:
[...] faço por amor também, porque penso que a pessoa poderia
estar no meu lugar. (Margarida)
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[...] por isso em primeiro lugar a gente tem que se colocar no
lugar dele. (Gérbera)
[...] é o que eu falo, eu tenho um olhar assim, que são pessoas, eu
me coloco no lugar delas. (Begônia)
[...] eu olho para eles e vejo como eu queria ser cuidada.
(Girassol)
[...] acima de tudo ele é um ser humano, e pode ser você amanhã
a ficar doente. (Orquídea)
Observa-se a valorização do cuidador que destina sua atenção no ato de cuidar
desprendendo aquilo que sobrepõe à técnica. Pois quando executamos o cuidar nas pessoas,
interagimos com seus sentimentos e anseios. Desta forma, quando desejamos e atuamos de
forma humanizada com os pacientes, estamos dando um pouco de nós.
E desta mesma maneira, gostaríamos de sermos recebidos e cuidados no momento de
adoecimento com dignidade, então a reflexão acerca de como gostaríamos de sermos
cuidados, trás a melhor diretriz e termômetro para o cuidado de enfermagem.
Segundo Waldow (1998, p.137), o cuidado ativa o comportamento de compaixão, de
solidariedade, de ajuda no sentido de promover o bem, no caso das profissões de saúde,
visando ao bem-estar do paciente, a sua integridade moral e a sua dignidade como pessoa.
Sabemos que durante a hospitalização, nos tornamos carentes, inseguros, tristes, além
do motivo do adoecimento que nos levou a hospitalização. Portanto esperamos uma atitude
em relação ao cuidar que contemple nossas necessidades de atenção, carinho, respeito. Assim
percebemos dentro desta categoria que muitos profissionais conceituam o cuidado
humanizado desta forma. Concordamos com Raduns (1998, p.6) quando ele aborda o ser
humano e ressalta que devemos valorizar o ser humano como indivíduo que pensa, sente,
decide, percebe e é capaz de, entre outras coisas, assumir seus papéis sociais, ensinando e
aprendendo, crescendo e se desenvolvendo, fortalecendo e sendo fortalecido e que tem sua
história de vida. Por isso as relações no cuidar devem estar próximas e interagirem.
A respeito da atenção e carinho destacamos as seguintes falas:
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[...] A gente tenta sempre tratar as pessoas como se fosse alguém
que a gente gosta. (Margarida)
[...] Se você tratar ele com carinho, usando o lado humano
mesmo, você consegue acalmar o paciente. (Gérbera)
[...] o cuidado humanizado pra mim é a gente ter grande atenção
com os pacientes em geral, sem distinção. (Cravo)
[...] assim você se dedica com aquele amor, com aquela atenção.
(Rosa)
[...] eu cuido com amor e carinho. (Begônia)
[...] para aquelas que não recebem visitas eu dou calor humano e
atenção. (Begônia)
[...] prestar cuidados ao paciente e confortá-lo. (Orquídea)
Neste sentido, Waldow acerca dos sentimentos ressalta que o cuidar é uma forma de
interação interpessoal, sendo uma característica humana e, uma intervenção terapêutica,
contemplando elementos como respeito, consideração, compaixão e afeto.
Para Travelbee (1982, p.141) é necessário que haja um compromisso emocional entre
cliente e enfermeira, o que pode variar dependendo do caráter e personalidade de cada um,
pois, está ligado intimamente à consciência de cada um. Os requisitos para o compromisso
emocional seria o reconhecimento profissional e aceitação pessoal, pois assim perceberiam os
outros como seres humanos, refletindo dessa maneira respeito, dedicação e carinho na forma
de cuidar.
Criando-se esse elo emocional, o paciente sentirá segurança em apontar suas
necessidades. E aliado ao conhecimento científico e técnico propiciariam um ambiente
favorável às ações cuidadoras.
Surge então uma perspectiva de visão integral do paciente considerando as relações
de vários fatores que influenciam a manutenção da saúde, o desencadeamento dos estados de
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equilíbrio e desequilíbrio que demandam um cuidado de enfermagem de acordo com as
necessidades de cada pessoa.
Mas para que esse cuidado aconteça efetivamente, Florence Nightingale ressalta o
valor que tem o profissional que além da afetividade, tenha o domínio das técnicas científicas
para atuar junto aos pacientes.
A administração diária de uma grande enfermaria, deixando de
lado a de um hospital, o conhecimento do que significam para os
homens as leis da vida e da morte e para as enfermarias as leis da
saúde (e as enfermarias são saudáveis ou não de acordo com a
competência ou a ignorância da enfermagem) - esses fatos não
constituem, por acaso, questões de importância e dificuldades
suficientes para exigir aprendizado, através da prática e de cuidadosa
investigação, assim como qualquer outra arte? Esse conhecimento não
chega por inspiração á senhora desiludida e nem ao burro de carga de
um asilo de pobres, urgentemente necessitados de um meio de vida
(NIGHTINGALE, 1989, p. 147)
Portanto a enfermagem enquanto profissão se funde na questão da técnica e da
afetividade, e juntas determinam o tipo de cuidar desprendido pela enfermagem. Daí surge o
compromisso da cuidadora em exercer profissionalmente, atitudes de sensibilidade e de
competência técnica. Assim ele é capaz de perceber a subjetividade no cuidar, percebendo
numa linguagem não verbal, aquilo que acontece com os pacientes.
Assim Nightingale, (1989, p.161-162) traz como verdade na relação da enfermagem e
o paciente que:
O verdadeiro abecê de uma enfermeira é ser capaz de ler cada
mudança que se opera na fisionomia do paciente sem causar-lhe
esforço de dizer o que está sentindo (...) uma enfermeira deve
compreender toda a mudança de fisionomia de seu paciente, toda a
mudança em suas atitudes, toda a mudança em sua voz...
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Portanto a prática da equipe de enfermagem não pode ser dissociada de aspectos
intrínsecos de natureza pessoal que somadas ao cuidar evidenciam um atributo pessoal, de
qualidade, é necessário ser confiável, generosa, observadora, eficaz, sensível, prudente e
religiosa.
Lembre-se de que toda enfermeira deve ser uma pessoa com
quem se pode contar, isto é, capaz de ser uma enfermeira de
confiança. Ela não sabe à hora em que pode encontrar-se em tal qual
situação; não faz mexericos, não conversa sobre futilidades; não
responde perguntas sobre seu doente exceto aqueles que têm o direito
de fazê-las. Deve ser estritamente sóbria, honesta e, mais do que isso,
ser uma mulher religiosa e devotada. Deve respeitar sua própria
vocação, porque o precioso dom da vida agraciado por Deus muitas
vezes esta literalmente em suas mãos. Deve ser uma observadora
segura, direta e rápida, e ser uma mulher de sentimentos delicados e
modestos (op.cit. p.138)
Nesse sentido existe um algo a mais que nos tendencia á escolha de uma profissão
especial como a enfermagem.
Para Waldow (1998, p.137),
O que motiva o cuidar, independente de gostar ou não, está
relacionado a um sentimento, a um chamado, a uma compulsão para
ajudar quem ou aquilo que, conforme o julgamento necessita. E fazer
algo no sentido do bem. Não é um comportamento impensado. Ao
contrário, ele é consciente no sentido de responder a princípios e a
valores morais.
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Sobre esse aspecto temos algumas falas interessantes. Que apontam o dom de cuidar,
como algo inquietante e realizador, já que a totalidade dos entrevistados disse gostar muito do
que faz.
[...] então eu já nasci com esse dom de cuidar das pessoas.
(Rosa)
[...] As pessoas acham que é demagogia, a gente dizer que
trabalha por amor, mas não é. (Margarida)
[...] as pessoas sempre gostaram do jeito que eu cuido. Já ganhei
muito bolo e doces deles. (Gérbera)
[...] eu gosto muito do que faço. Eu briguei com muita gente para
estar aqui hoje. (Begônia)
Percebemos que existe muita doação no serviço de enfermagem, pois os salários não
são satisfatórios para a maioria, e o tempo de serviço exige determinação e vontade para
exercer treze plantões mensais e administrar outros empregos.
[...] sem contar o cansaço do dia-a-dia, a gente ganha mal, ganha
pouco. (Orquídea)
Durante as observações de campo percebemos que alguns dos sujeitos são conhecidos
pela característica da alegria, simpatia, são atenciosos com os pacientes. A depoente
Margarida mostrou uma boa interação com os pacientes, o que confirmou a sua concepção
sobre o cuidado humanizado. Num certo momento ela interrompeu a entrevista, por que tinha
sabido de um retorno de uma paciente da tomografia, e então foi ajudá-la a retornar para o
leito e a ajudou na alimentação.
Em contra partida percebi ao observar a depoente Orquídea que sua interação com os
pacientes era puramente limitada a manipulações técnicas, num certo momento ela dirigiu-se
para dar medicação há uma paciente que nem mesmo o nome sabia, somente tinha
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conhecimento do número do leito. A mesma demonstrou não dizer a verdade, parecia
esgotada, sem ânimo para lidar com os pacientes, e insatisfeita com a enfermagem.
[...] gosto menos hoje da enfermagem do que antes. (Orquídea)
Enquanto a Begônia confirmou sua concepção humanizada ao cuidar dos pacientes.
Parecia atenciosa, chamando-os pelo nome, atendendo-os com respeito e carinho. No trato
com seus colegas também manteve boa interação. Interessante citar que a mesma demonstrava
uma apresentação muito boa, e na hora dos procedimentos manuseou bem as técnicas, com a
utilização de materiais de biossegurança.
Ao citarmos a Gérbera podemos dizer que durante a observação foi visto de forma
regular o cuidado de enfermagem humanizado, pois se dirigiu aos clientes pelo número do
leito, não estava muito disposta a executar suas funções referindo cansaço. Porém enquanto
cuidava dos pacientes da hemoterapia, eu verifiquei uma doação maior. Ela confirmou em
seus depoimentos que ama a enfermagem, mas na prática demonstrou ao contrário.
[...] eu cuido com carinho e amor, esperando que eles
desenvolvam e fiquem curados. (Gérbera)
Para falarmos do Girassol, uma flor grande e bonita, podemos citar a depoente como
uma pessoa extremamente dinâmica e envolvida como ela própria mencionou. Confirmou em
seus atos que a enfermagem é um sacerdócio, por isso se dá por completo. Foi comunicativa
todo tempo, acredita que o cuidar deve ser realizado com bom humor e simpatia para dar
certo. E diz em seu depoimento
[...] estamos aqui para suprir várias necessidades do paciente,
não só a técnica como a espiritual também. (Girassol).
Quanto ao Cravo, percebi que não correspondeu em seus atos a fala apresentada. Foi
expansivo, não conhece os pacientes pelo nome, e se desculpa dizendo que tem uma grande
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rotatividade de pacientes no cenário das clínicas médicas. Mas logo depois cita os pacientes
que estão internados há muito tempo que perderam sua orientação mental. Diz tentar fazer os
cuidados corretamente, mas por vezes faz de qualquer forma para alívio de sua consciência e
para efetuar a rotina. Na gravação ele não fala assim, diz o contrário. É agitado e inconstante.
[...] às vezes eles estão a um mês internados, estão cansados da
comida, dos remédios. (Cravo)
[...] eu tento cumprir os procedimentos dentro das normas, mas
as vezes eu dou uma escorregada. (Cravo)
Podemos dizer que o Cravo é o oposto da Rosa, que nos surpreendeu. Simplesmente
sabe o nome de todos os pacientes, demonstra carinho, com afagos, abraços e atenção.
Realiza os procedimentos com calma e firmeza, cumpre bem as rotinas, sendo requisitada
com freqüência. Pude presenciar um ato de reconhecimento de trabalho, onde ela recebeu
um presente de uma paciente, já que estava saindo de férias. Percebi que os que estavam ao
seu redor da equipe demonstravam muito carinho por ela. Quando recebeu o presente a
paciente falou:
[...] gostaria tanto que os outros da enfermagem realizassem o
cuidado como você. (Rosa)
3.3 DIFICULDADES NO DESENVOLVIMENTO DO CUIDADO HUMANIZADO
Essa categoria está subdividida em duas subcategorias: A precariedade das condições
hospitalares e Afastamento do Profissional com os pacientes.
3.3.1 Precariedade das Condições Hospitalares
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Constatamos essa subcategoria como algo emergido nas falas em quase sua
totalidade. Vejamos algumas delas:
[...] eu acho que deveria melhorar a condição financeira de
todos. (Rosa)
[...] agora estamos sem telefone, ninguém pediu à manutenção
que viesse aqui. (Rosa).
Outras depoentes relataram outras dificuldades encontradas para realização do
cuidado humanizado:
[...] Tudo. Falta medicação, falta verba. (Cravo)
[...] os companheiros de trabalho não estão dando conta, às vezes
a gente faz vaquinha para comprar dipirona para dar aos pacientes.
(Cravo)
[...] falta material, falta de responsabilidade nas pessoas.
(Girassol)
[...] o que todos os colegas de trabalho também acham que é o
material [...] ás vezes você quer prestar um cuidado bem feito e fica
difícil. (Orquídea)
Percebemos assim que, no entendimento dos sujeitos, o cuidado de enfermagem
humanizado está atrelado ás questões materiais. Mas compreendemos também que a
abordagem do cuidado humanizado esta distante de estar atrelado á essas questões. Isso
porque quando falamos de humanização, estamos descrevendo uma atitude que parte
subjetivamente da relação com o outro.
Destacamos a importância de uma postura ética de respeito ao outro, como também a
abertura á sensibilidade e dignidade, para desenvolver o cuidado humanizado.
Uma das depoentes citou:
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[...] eu não consigo te dizer nenhuma dificuldade. Eu acredito
que depende mais de mim. Independe do material ou recurso.
Gérbera)
Assim compreendemos que nada adianta um hospital equipado se não possuímos o
combustível principal, para as engrenagens do cuidar: enxergar o outro como ser humano.
Humanizar é acolher a necessidade de resgatar e articular aspectos indissociáveis, como
conhecimento, solidariedade e sentimento. Tendo respeito ao espaço do outro, inclusive o
corpo, que é templo divino para nós, fazendo uma assistência de busca e encontros.
Para Waldow (1998, p.138),
... acredita-se aqui que o cuidado, pelas sua múltiplas
características e principalmente por ser interativo e não desenvolvido
por máquinas, apresenta também variedades nas suas expressões de
cuidar. E muitas vezes, cuidadoras falharão no cuidado, mesmo
havendo boas intenções.
E ainda cita que são freqüentes os casos de omissão, má prática, negligência ou
grosseria em função da falta de pessoal, de material e de preparo das pessoas envolvidas no
cuidado. Uma pessoa que necessite um exame, uma consulta ou até a hospitalização, sente
insegurança e ameaçada e pode entrar em pânico se, ao ser admitida na recepção, for recebida
com indiferença, descaso ou grosseria. (WALDOW, p.146).
3.3.2 Afastamento Profissional com os Pacientes
Essa subcategoria esta dentro da categoria das dificuldades para se realizar o cuidado
humanizado. Ela foi percebida pela repetição das falas dos depoentes em conformidade aos
aspectos observados no campo (cenário).
Trata-se de uma questão clara em que a equipe de enfermagem nega nas ações, as
atitudes interpessoais, de aproximação, atenção e carinho. Vemos que estas atitudes deveriam
fazer parte sempre do cotidiano dos auxiliares e técnicos de enfermagem, mas o que
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observamos são procedimentos e atitudes cuidadoras fragmentadas, distantes e impessoais.
Desta forma, sendo fragmentadas são mantidas para respaldo e proteção dos que cuidam
talvez de algumas pessoas que teimam em fechar seus olhos e assumir uma conduta fria e
mecanicista.
Para consolidar esses fatos vamos às colocações dos sujeitos;
[...] tem horas que ele esta com tanta má vontade que você não
consegue andar em equipe. (Rosa)
[...] nos outros plantões eles empurram os cuidados com a
barriga
(sonda fora, banho mal feito, sem higiene oral e do couro
cabeludo) (Rosa).
[...] E preciso ter amor na relação com o outro, e não desprezo
como vemos. (Gérbera)
[...] Eu vejo que muitos poderiam se doar mais, realizando o
a,b,c,d,e,f mas só realizam A e B. (Orquídea)
[...] Todos precisamos olhar mais para o paciente e menos para a
parte lucrativa. (Margarida)
[...] tem muitos de nós que só pensam no próprio bolso. O
paciente virou cifrão. (Margarida).
[...] muitos dizem aos pacientes graves, deixa pra lá, é só isso
que dá pra fazer. (Margarida).
[...] eles só veêm um corpo doente em cima da cama. [...] se não
um rim, um fígado ou um pulmão doente. [...](Orquídea)
Para Waldow (1998, p.142) para que o cuidado seja diferente precisa relacionar-se
com ás forças educacionais, sociais, humanísticas, religioso/ espiritual e ético, e também ás
forças políticas, econômicas, legais e tecnológicas. Essas forças ocorrem de uma forma
dialética dentro da cultura organizacional e são influenciadas por forças sociais dominantes
na cultura externa.
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E ainda em geral, pacientes não estão interessados somente em receber um tratamento
carinhoso. Eles querem sentir-se seguros e confiantes de que, além de serem considerados
seres humanos, terão a equipe de saúde desempenhando suas funções com conhecimento e
habilidade. Uma cuidadora que demonstre extrema eficiência, mas que seja rude ou
indiferente pode transmitir ao paciente, sentimentos de solidão e de carência, agravando a
vulnerabilidade. (WALDOW, p.143)
Para melhor ilustrar esse assunto, descrevemos como exemplo, a história do Sr. João,
um caso real e vivenciado pela pesquisadora:
Sr. João ficou internado em um Hospital de grande porte, com luxuosa fachada de
mármores e vidros, de fora parecia ser um grande hotel cinco estrelas. O mesmo encontravase muito esperançoso ao atendimento, pois esse hospital possuía uma enorme fama e conceito
no mercado, pois só atende aos melhores planos de saúde. Chegado o grande dia da cirurgia
João foi informado pelo seu médico que deveria comparecer por volta de dez horas da manhã.
E assim o fez, chegando lá, obteve uma espera de aproximadamente três horas, seguidas do
jejum e sem informações sobre a internação. João já estava cansado de admirar o chafariz no
saguão de entrada, quando avistou o seu médico, este se aproximou e disse admirado ser
culpado pela demora, pois esquecera de enviar ao hospital as papeladas para cirurgia. Assim
João ficou desapontado e logo foi encaminhado para o quarto numa situação de improviso,
cheio de angústia e chateação. No quarto permaneceu por mais algumas horas, sem conhecer
ninguém da equipe de enfermagem. Durante todo tempo não obteve visita de nenhum
profissional. Até que depois de suar frio e sentir-se mal pela espera, chega o maqueiro para
levá-lo ao centro cirúrgico. Transcorrida bem a cirurgia, o médico passa e avisa aos familiares
que esta tudo bem.
Então João foi para o quarto e assim foram aparecendo os profissionais da
enfermagem. O nome do João ninguém sabia, somente, as medicações e a alimentação.
Tiveram dias que não fizeram seu curativo. O quarto era o 207. Até que curiosamente
passados uns dias, entra um auxiliar de enfermagem com três seringas de vinte centímetros
cúbicos para administrar no João a medicação. E nesse momento João o informa que esta
tomando medicação por via oral há alguns dias.
Essa história é só para ilustrar que independente de se ter material, e condições
especiais de conforto no trabalho, a humanização do cuidado esta intimamente atrelada à
consciência de cada trabalhador da enfermagem, depende muito dos seus valores pessoais. E
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ela pode ser percebida e sentida em cada encontro do cuidado. A questão estrutural pode ser
facilitadora no cuidado humanizado e não um fator impeditivo à sua execução.
Por isso vale ressaltar:
n Ações que busquem a melhoria do contato humano presente em toda intervenção de
atendimento à saúde.
n Eficiência técnico-científica acompanhada de valores como a solidariedade, o respeito
e a ética nas relações profissional / usuário.
n Valorizar a dimensão humana e a subjetividade...
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Essa pesquisa tratou de investigar e discutir sobre o cuidado humanizado.
Verificamos a concepção do cuidado humanizado dos auxiliares e técnicos de enfermagem,
no cenário das enfermarias de clínicas médicas. Discutimos as questões acerca do cuidado
humanizado como algo possível no trabalho realizado pelas equipes de enfermagem.
Na Introdução descrevemos os motivos que nos levaram a investigar o assunto, o
objeto de estudo, as questões norteadoras e as contribuições desse estudo.
Na Revisão de Literatura os conceitos de cuidar e de cuidado humanizado, na visão
de vários autores foi resgatado. Isso por que acreditamos ser possível a realização desse
cuidado especial e solidário com as pessoas.
No íntimo de cada um que está recebendo o cuidado existe a plena vontade de ser
afagado, cuidado, suprido e amparado em suas necessidades humanas.
Para subsidiar essa pesquisa na abordagem metodológica, relatamos o tipo de
pesquisa e falamos sobre os aspectos éticos pesquisa. Utilizamos à abordagem qualitativa, que
descreve e oportuniza os aspectos subjetivos, que não podem ser quantificados
numericamente.
Na apresentação e discussão dos dados, descrevemos o perfil dos sujeitos, e as
categorias que mais emergiram nas respostas. Nessa análise foram apontados sentimentos e
opiniões dos entrevistados, com isso pudemos colocar as nossas observações em cada item
analisado.
Com a elaboração desse trabalho foi possível realizar um sonho. O de falar do
cuidado humanizado, como forma de oportunizar aos que não acreditam, ou não acham
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possível uma realidade humanizada nas práticas do cuidar. Fui até o fim acreditando, para
relatar que essa realidade é possível, esta dentro de nós, falta desmascarar.
Pois não podemos mais sobreviver frente à evolução das máquinas, da tecnologia, ao
distanciamento, e fragmentação nas práticas cuidadoras. A mercantilização da doença, e a
medicalização da vida. Não podemos reagir há um chamamento de números, somos pessoas,
somos gente que possuem sua singularidade e virtudes.
Por isso a investigação, e a divulgação desse tema que é atual e gritante à sociedade,
que merece ser bem atendida em sua dignidade. Pois traz á tona um diagnóstico de uma
parcela de pessoas que estão intimamente ligadas ao cuidar. Enfocamos os auxiliares e
técnicos de enfermagem que hoje executam efetivamente os cuidados, por isso os mesmos
necessitam perceber o valor do cuidado humanizado.
Assim concluímos que os sujeitos entrevistados, numa dialética concepção do
cuidado humanizado, por sensibilidade, intuição talvez, compreendem o cuidado humanizado
como unificador, como um cuidado de amor, carinho, respeito, de se colocar no lugar do
outro. Como um cuidado que não somente realiza as técnicas, mas dignifica o ser cuidado.
Sendo que verificamos que na prática eles não executam propriamente esse cuidado. Ao
contrário do nosso desejo que era o de enxergar o cuidado solidário e humanizado.
Por que assim respeita-se, admite-se o ser humano como ser vivente, que tem muitas
necessidades, onde tem sede do calor de quem cuida para manter suas necessidades vitais, e
assim curar-se.
Os aparelhos podem parar, ou quebrar, a fonte de energia pode se esgotar. Mas o
cuidado humano difere na capacidade de força, na atitude, na atenção, no toque terapêutico,
na realização do que esta além do estipulado. Por que nasce do ser humano e é inesgotável,
não seca e é suprida pela troca com os pacientes.
Enquanto cuidamos, somos cuidados interiormente. Aprendemos o quanto somos
finitos, frágeis, inseguros, pequenos, limitados, impotentes frente á uma realidade de
adoecimento físico.
Portanto a luta por não mais só se falar, ou se ter uma visão humanizada, mas sim o
de possuir e exercer na realidade o cuidado humanizado. Precisamos de atitude, do começo de
um comportamento diferenciado.
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Diante dessa realidade, cabe também ao profissional de saúde, um papel integrador,
trabalhar de forma participativa apoiar as lutas sociais e buscar alternativas viáveis, tanto para
a sociedade, como para as pessoas.
Tais situações conduzem ao convencimento de que é necessário um envolvimento
autêntico entre o profissional e o paciente, a fim de promover a valorização da enfermagem
como profissão relevante e imprescindível para a sociedade.
Quero também citar uma outra pessoa que fez diferença no enxergar e no agir frente
ao mundo. Nós tivemos um profeta popular, chamado Gentileza, que para denunciar as
situações do dia -a- dia, onde vemos e sentimos uma profunda falta de amor e respeito entre
as pessoas, fazia uso das palavras da língua portuguesa, exacerbando a cultura expressiva nas
palavras. Assim ele descrevia seus sentimentos e percepções nos muros e fachadas.
Desta forma, fortemente traduzida aos nossos olhos, admiramos a arte de quem
acreditou na poesia do mundo para obter a gentileza entre as pessoas. E dizia que o mundo
precisa de muito amor, ele escrevia “Amorrrrrrr”1, com várias letras “r” para demonstrar a
intensidade de um sentimento que nos da à vida.
Por isso para o desenvolvimento do cuidar utilizamos como instrumento nossas
mãos. Para refletir sobre o cuidado é preciso abri-las diante do nosso olhar e ver refletindo
como está fria e pálida pela poeira do egoísmo ou, enrugada e quente pelo serviço bem feito e
dignificante ao ser que cuidamos. Seja qual for sua mão, pequena ou grande, sempre há
oportunidade para cuidar do outro. Basta querer.
V - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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ANEXOS
Anexo 1. Roteiro das Entrevistas
59
Anexo 2. Roteiro de Observação de Campo
60
Anexo 4. Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
61
Anexo 5. Termo de Compromisso do Pesquisador
62
ROTEIRO DAS ENTREVISTAS
1- O que você entende sobre o cuidado humanizado?
2- Você acredita que realiza o cuidado humanizado?
3- Quais as dificuldades encontradas para a realização do cuidado humanizado?
4- O que é necessário para que haja o cuidado humanizado?
Roteiro de Observação de campo
1. Dirige aos pacientes pelo nome.
2. Demonstra uma relação afetuosa com as pessoas.
3. Trabalha bem, em sua atribuições do setor.
4. Como trabalha com os pacientes.
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