Et voilà justement comme on écrit l’Histoire.
Voltaire
Índice
Introdução …………………………………………………… 3
Jaime Palhinha. Uma Biografia ………………………………6
A estadia no Brasil…………………………………………... 7
O Professor ………………………………………………….. 8
A Actividade associativa…………………………………….. 9
O Arqueólogo e o Historiador……………………………… 11
Obra publicada e inéditas…………………………………... 12
Bibliografia…………………………………………………. 15
Agradecimentos…………………………………………….. 16
Introdução
A minha relação de amizade e cumplicidade com o professor Jaime Palhinha remontava ao
tempo do Grupo de Amigos de Portimão (GAP) e dos encontros com os saudosos e já
desaparecidos amigos João Tavares e Américo dos Santos Barra. Sempre bem disposto e pronto
a ajudar quem dele necessitasse, tinha o dom de atrair aqueles que comungavam das suas ideias
e preocupações sobre a História e o Património do Algarve.
Nas suas conversas revelava constantemente a preocupação pelas coisas do Património
local e condoía-o o facto dos poderes locais, sobretudo no concelho onde residia, pouco fazerem
para salvar o que restava dessa herança cultural.
O nosso encontro dava-se quase regularmente no Café Nacional ou nas feiras de velharias
de Portimão e de Ferragudo. Mais formalmente encontrávamo-nos na Esplanada do Gil Eanes.
Conhecedor do meu interesse pela História local e regional, nomeadamente pela História
de Monchique, presenteava-me algumas vezes com fotocópias de documentos que encontrava,
ou mesmo livros que conseguia em duplicado.
Tendo-o informado que me encontrava a reunir elementos para um trabalho sobre a
História de Portimão, passou a trazer-me regularmente fotocópias de documentos que possuía.
Por vezes, entre amigos, e a propósito dos meus anos em terras da Europa Central,
acontecia, quase em forma de anedota, falar-se do seu apelido Aschmann, que ele julgava ser de
origem nórdica, talvez alemã, austríaca ou suíça. Punha-se então a tentar pronunciá-lo de várias
formas, com os chess… os aqs… e os arr…
O Prof. Palhinha era sempre uma pessoa ocupada, pelos muitos encontros que tinha com
investigadores, coleccionadores, ou estudantes à procura de informações e de apoio para
trabalhos de Universidade, geralmente teses de Mestrado ou de Doutoramento.
Como eu muitos dos amigos que souberam da sua partida acompanharam-no à sua última
morada, nesse fatídico 26 de Dezembro de 2001.
No dia 19 de Setembro de 2003, foi inaugurada a Biblioteca Escolar Jaime Palhinha,
situada no piso superior da Escola E.B. 2,3 D. Martinho de Castelo Branco, edifício que foi
recentemente inaugurado no lugar da antiga escola do mesmo nome. É uma despretensiosa
homenagem, que pretende reconhecer um homem que além de ter sido um distinto docente
desta instituição escolar, foi também um cidadão consciente e interveniente nas questões do
património e da história desta cidade.
A cerimónia de homenagem ao professor Jaime Aschmann B. Palhinha, realizada neste
mesmo dia, constou de uma sessão solene no auditório da escola, onde foi feita a projecção da
sua fotobiografia e alguns depoimentos de pessoas que com ele conviveram e trabalharam.
Seguiu-se depois a inauguração de uma exposição fotobiográfica, que ficou patente no hall da
Secretaria da escola e depois o descerramento da placa que dá o seu nome à biblioteca, por dois
dos seus netos. O acto de homenagem terminaria com um convívio na sala de professores.
Por iniciativa da escola e a colaboração dos Departamento de História e de Educação
Visual e Tecnológica foi editada uma Biografia Ilustrada e ainda um marcador de livros, com
informações biográficas.
Para além da família, no acto estiveram presentes antigos colegas, amigos, alunos e ainda
alguns representantes de organismos públicos.
2
Jaime Palhinha
Uma Biografia
Jaime Aschmann Bispo Palhinha, de seu nome completo, nasceu em Lagos, na freguesia
de S. Sebastião, em 16 de Outubro de 1924. Foram seus pais Jaime José Palhinha, e Natália
Isabel Bispo Palhinha. De sua mãe herdaria o apelido sumptuoso de Aschmann, indo buscá-lo a
um antepassado presumivelmente de origem alemã.
Em Lagos fez a escola primária, transitando depois para a escola técnica Vitorino Damásio,
onde completou a primeira parte da sua formação escolar.
Com a intenção de seguir a profissão de seu pai, que em Lagos exercia a actividade de
técnico de Construção Civil, na Câmara Municipal, entra para a Escola Machado de Castro, em
Lisboa, onde frequenta o curso de Mestre-de-obras e Construção Civil.
Paralelamente dedica-se à actividade desportiva, jogando futebol em equipas amadoras,
transitando depois para a equipa de Juniores do Benfica.
Em 1949, também na Escola Machado de Castro, tira também o Curso de Auxiliar de
Obras Públicas. Durante os anos que permanece na capital, a fim de completar a sua formação,
Jaime Palhinha exerce em simultâneo actividade profissional na firma Amadeu Gaudêncio.
A Estadia no Brasil
Em 9 de Agosto de 1950, Jaime Palhinha parte para o Brasil, na senda da imigração que
então se fazia para este país sul-americano, nesse tempo um rincão de prosperidade e
desenvolvimento económico e que já tinha atraído outros familiares seus que se tinham radicado
na cidade de S. Paulo.
No Brasil casa por procuração, a 4 de Novembro desse ano, com Emília Laura Viegas
Cardoso, licenciada em Filologia Românica e filha de uma influente família de Vila do Bispo,
que se lhe irá juntar em 1952. Nesse país irmão nascerão as suas filhas Maria Emília Cardoso
Palhinha e Maria Helena Cardoso Palhinha1.
No Brasil ficará com a família até Setembro de 1966, trabalhando inicialmente como
técnico e desenhador técnico na área da Construção Civil e depois criando a sua própria firma
também na mesma área.
Regressado a Portugal, estabelece-se de novo em Lagos, onde continua a trabalhar como
desenhador técnico de Construção Civil, por conta própria.
O Professor
Jaime Palhinha iniciou a sua carreira de docente no ano lectivo de 1972-1973, na Escola
Industrial e Comercial de Lagos, para onde a convite do seu director foi leccionar a disciplina de
Desenho de Construção Civil.
O contacto com os alunos e o acto de ensinar tornaram-se de imediato para ele numa
verdadeira paixão, levando-o a optar em definitivo pela carreira de professor.
Com a Revolução de 25 de Abril de 1974, Jaime Palhinha ainda se encontrava a leccionar
nesta escola, acabando por fazer parte do seu órgão de gestão, o Conselho Directivo, em 1975.
Posto perante as dificuldades fruto da época conturbada que então se vivia e que teve reflexos
particulares no Ensino, Jaime Palhinha enfrentou os contratempos e desafios do seu cargo com
enorme coragem, competência e espírito conciliador.
1
Maria Emília Cardoso Palhinha é médica e exerce Medicina num hospital de Lisboa; Maria Helena
Cardoso Palhinha é Doutorada em Ciências de Educação e exerce docência na Universidade Católica de
Braga.
3
Colocado na Escola Preparatória de Montalegre, no ano lectivo de 1976/1977, faz nesta
escola a profissionalização em exercício2.
Logo no ano seguinte, em 1977/1978, obtém colocação na então Escola Preparatória de
Portimão, onde passa a leccionar a disciplina de Trabalhos Manuais.
No período lectivo de 1979/1980 efectiva-se na Escola Preparatória de Mértola, mas
mantêm-se, no entanto, na escola Preparatória de Portimão, visto ser membro do seu Concelho
Directivo. Com o surgimento de uma vaga nesta mesma escola, obtêm aqui efectivação.
Durante a sua carreira de professor, exerceu ainda os cargos de director de turma e
subdelegado de disciplina.
Em 1992 com a abertura da então denominada Academia de Cultura de Portimão,3 Jaime
Palhinha assume a disciplina de “Estudos Portimonenses”, onde lecciona matérias sobre a
História e a Cultura local e regional.
Como os seus setenta anos o levaram à aposentação, no ano lectivo de 1994/95, seria com
mágoa que Jaime Palhinha deixou a escola, isto é, alunos, colegas e funcionários, com os quais
ao longo de todos estes anos tinha criado relações de amizade.
Enquanto professor Jaime Palhinha revelou enormes qualidades humanas e pedagógicas,
pelo que a sua ausência foi sentida por todos os que dele receberam sempre a palavra amiga, a
partilha de conhecimentos e saberes e a disponibilidade para ouvir e ajudar.
Já na situação de aposentado, seria convidado pela Assembleia da sua escola, então
denominada de Escola E.B.2,3 D. Martinho de Castelo Branco, para integrar aquele órgão de
gestão escolar, em representação das associações culturais e ambientais do concelho, cargo que
assumiu até 2001, altura em que faleceu.
Actividade Associativa
Foi profícua a ligação do professor Jaime Palhinha ao Associativismo. Em Lagos, no
conturbado período de 1974/1975, teve a sua mais importante experiência associativa ao
assumir, em 2 de Julho de 1974, a provedoria da Santa Casa da Misericórdia desta cidade.
Os tempos eram de agitação e esta instituição ressentia-se com isso. Mais uma vez Jaime
Palhinha com coragem e diplomacia conseguiu gerir os problemas que se foram pondo. Neste
cargo se manteve até 1978.
A 8 de Março de 1975, liderando uma equipa reabriu o Hospital da Misericórdia desta
cidade, que se encontrava há muito encerrado, com graves inconvenientes para a população.
Como provedor manteve-se na instituição até 1978.
Mais tarde, já em Portimão, foi presidente da direcção do Grupo de Amigos de Portimão
(GAP), associação que desenvolveu várias actividades culturais nesta terra.
Em entrevista ao jornal Barlavento, de 17 de Julho de 1982, refere-se a uma Associação de
Defesa e Investigação do Património Cultural de Portimão, que se encontrava então em
formação.
Tendo sido um dos pioneiros da ideia de criar em Portimão um museu que guardasse a
memória local, fez parte da primeira comissão, que o efeito se formou em 1977, da qual faziam
também parte Mário Ferro e João Tavares.
2
Arquivo da Escola E.B.2,3 D. Martinho de Castelo Branco. Elementos constantes no seu processo
individual.
3
Mudaria depois o nome para Instituto de Cultura de Portimão e Universidade Sénior.
4
Jaime Palhinha em 1982, numa entrevista ao jornal Barlavento
A partir de 1983 foi co-fundador da Comissão Instaladora do Museu Municipal de
Portimão, com José Gameiro e Alberto Piscarreta. Ao longo de vários anos, Jaime Palhinha irá
trabalhar com afinco na concretização deste seu grande sonho.
Desenvolve então vários trabalhos: estudos, recolhas, levantamentos, investigações de
campo. Concebe e monta várias exposições.
Com João Velhinho, tinha iniciado algumas tentativas no sentido da criação do Núcleo
Museológico de Vila do Bispo, vila onde pensava depositar o imenso espólio museológico que
foi reunindo ao longo dos anos, motivado pelo gosto da recolha e investigação. Deste rico
espólio, fazem parte alfaias agrícolas, objectos diversos, moedas, livros, postais e documentos
antigos, todos eles com inestimável valor etnográfico e antropológico.
O Arqueólogo e o Historiador
Os contributos de Jaime Palhinha para a História local de Portimão são inestimáveis.
Publicou livros, colaborou em muitos outros, concedeu informações raras, com a generosidade,
a humildade e a carolice desinteressada que deve pautar o verdadeiro investigador, arrancou dos
alfarrabistas preciosidades bibliográficas, que emprestava e por vezes oferecia para publicar.
Da sua faceta de arqueólogo amador, resultaram levantamentos e trabalhos de campo, sem
se esquecer de passar a desenho as investigações que ia fazendo. Entre estes estão os
levantamentos ao convento de S. Francisco (o seu cavalo de batalha), sobre a antiga paróquia da
extinta freguesia da Senhora do Verde e os moinhos de maré do rio Arade.
Reconhecendo o enorme valor de todo o trabalho de investigação desenvolvido por Jaime
Palhinha, a Câmara Municipal de Portimão concedeu-lhe a 11 de Dezembro de1993, Dia da
Cidade, o Diploma de Mérito Municipal e no ano de 1997, também no dia do município, a
Medalha de Mérito Municipal, grau prata.
5
Jaime palhinha junto ao seu cavalo-de-batalha, o convento de Portimão (foto publicada no jornal
Barlavento, de 10.01.2002).
Obra Publicada e Inédita
Em co-autoria com Francisco José Carrapiço e José Manuel Brázio, publicou em 1974 As
Muralhas de Portimão: Subsídios para o Estudo da História Local, editado pela Câmara
Municipal de Portimão.
Às suas expensas editou, em 1992, a obra Convento de S. Francisco: Estudo para a sua
Recuperação e Reabilitação.
Ainda em colaboração com Francisco José Carrapiço, tinha em via de publicação, pela
editora Suledita, de Aljezur, o estudo A Antiga Misericórdia de Portimão: Subsídios para o
estudo da História local.
Tinha ainda para publicação trabalhos sobre a Igreja Matriz de Portimão e sobre os Brasões
desta cidade.
Foram também abundantes as suas colaborações em livros e trabalhos de âmbito
académico, onde aparece citado, dos quais destacamos:
Portimão, de Maria da Graça Ventura e Maria da Graça Marques, Ed. Presença, Lisboa,
1993.
Mexilhoeira Grande: Ensaio Monográfico, de Helga Rosa, Edições Colibri, Lisboa, 2001.
Lacóbriga – Jawira – Lagos, de Rui M. da Paula, Edição da C.M. de Lagos.
O Tardo Gótico no Algarve, de Manuel Ramos, (Tese de Mestrado).
O Algarve: da Antiguidade aos nossos dias, coordenado por Maria da Graça Marques,
Edições Colibri, Lisboa, 1999.
A Igreja do Compromisso Marítimo (antiga Igreja do Corpo Santo) de Lagos, de Sérgio
Infante.
Levantamento Arqueológico do Concelho de Lagoa, de Varela Gomes, João Cardoso e
Francisco Alves.
Alvor, de Ana Maria Santos.
Portimão: Industriais Conserveiros na 1.ª Metade do Século XX, de Maria João Duarte,
Edições Colibri, Lisboa, 2003.
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Personalidade extremamente rica e multifacetada, Jaime Palhinha repartiu as suas
actividades, de mais de 50 anos, pela Construção Civil e o desenho técnico, o Ensino, a
Arqueologia, a História local, o Associativismo, o Coleccionismo e a Bibliofilia.
A biblioteca que foi reunindo, ao longo dos anos, contem livros raros sobre o Algarve e as
áreas científicas que mais o apaixonavam.
O Professor Jaime Palhinha faleceu, repentinamente, no hospital de Portimão, no dia de
Natal de 2001, com apenas 76 anos de idade e quando muito ainda esperávamos dele.
Bibliografia sobre Jaime Palhinha
BENTES, Maria José, e José Rosa SAMPAIO, Biografia Ilustrada: Biblioteca Jaime
Aschemann B. Palhinha, Escola Básica 2,3 D. Martinho de Castelo Branco, 2002.
DUARTE, Maria João Raminhos, «Jaime Palhinha: a pedagogia da humanidade», Portimão:
Revista Municipal, n.º 50, Outubro/Novembro de 2004, p.29.
RODRIGUES, Elisabete, «Morreu um arqueólogo romântico do Algarve», Barlavento,
Portimão, 10.01.2002.
SAMPAIO, José Rosa, «Jaime Palhinha: para além da homenagem», Barlavento, Portimão,
12.10.2003.
VELHINHO, João, «Jaime Palhinha …», Correio de Lagos, Janeiro de 2002.
Jornal BARLAVENTO, «É urgente a saída das cavalariças da GNR anexas à Biblioteca»,
(entrevista a Jaime Palhinha), Portimão, 17.06.1982.
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Agradecimentos
A realização desta pequena monografia de homenagem ao Prof. Jaime Palhinha ficou a
dever-se à boa vontade de algumas pessoas e entidades que me ajudaram, das quais destaco aqui
as seguintes:
- Dr.ª Emília Viegas Cardoso Palhinha
- Dr.ª Maria José Bentes
- Dr.ª Maria de Lourdes Glória, pela ajuda dada na revisão do texto.
- Jornal Barlavento, Portimão, ao seu director Hélder Nunes e à sua chefe de redacção
Elisabete Rodrigues.
- Escola E.B. 2, 3 D. Martinho de Castelo Branco, Portimão.
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Índice - José Rosa Sampaio