1 Ginástica Rítmica: uma abordagem escolar Prof ª Ms Sissi A. Martins Pereira Professora de Ginástica e Educação Física Escolar do Departamento de Educação Física e Desportos da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Doutoranda em Educação Física - Universidade Gama Filho. Autora do livro: Ginástica Rítmica Desportiva: aprendendo passo-a-passo. Editora Shape. [email protected] 1- Introdução A Ginástica Rítmica é uma atividade muito rica e dotada de grande versatilidade, pois oferece inúmeras formas de exploração de movimentos físicos e estéticos e contribui para o desenvolvimento e/ou aprimoramento do esquema corporal. É uma modalidade que muito pode contribuir para o desenvolvimento psicomotor da criança, porém ainda é pouco difundida na escola. Existem algumas alternativas de materiais mais acessíveis que podem ser utilizadas, principalmente na escola, para o trabalho com crianças. Os aparelhos oficiais utilizados pela GR são: bola, corda, fita, maças e arco. Estes têm peso e dimensões exigidos em competições, pré-determinados no código de pontuação, porém, para o aprendizado com o objetivo de utilizar a GR na escola, os aparelhos oficiais podem, perfeitamente, ser adaptados e confeccionados por matéria prima mais barata, como também a utilização de outros aparelhos alternativos: lenços, materiais de percussão como cocos divididos ao meio, pequenos bastões, pandeiros, faixas largas, tiras de papel ou plástico, e outros elaborados através da criatividade do profissional interessado nesta modalidade. Vale lembrar que o uso de materiais na GR tem o objetivo de desinibir, facilitar a realização do movimento e favorecer a educação rítmica (ÉRICA SAUR, p.27). 2- Materiais alternativos 2.1- Lenços Este material é de fácil aquisição e utilização e contribui muito para o início do aprendizado dos balanceamentos e circunduções. Podem ser quadrados ou retangulares, coloridos, grandes ou pequenos e, de preferência dois, um em cada mão. O professor pode pedir para que os alunos utilizem os que já tenham em casa. Movimentos com lenço 1- Em dupla, realizar movimentos de espelho utilizando dois lenços. 2- Passo de valsa (deslocamento em diagonal de dois passos para a direita e dois para a esquerda). 3- Primeiro saltito com balanceamento assimétrico dos braços no plano sagital. A posição dos braços é contrária à das pernas. EX: Perna direita e braço esquerdo à frente. 4- Balanceamentos simétricos dos braços (os dois na mesma direção), ou assimétricos (os dois braços em direção contrária) associados às circunduções nos planos frontal e sagital, sem deslocamento e com molejo de pernas, isto é, flexionando e estendendo os joelhos toda vez que a mão passar próxima a eles. 5- Movimentos de ondulações dos braços e/ou do corpo. 6- Deslocamentos com passos ou corridas soltando um lenço, recuperá-lo com um giro, ou saltito, ou salto. 2 Os lenços proporcionam inúmeras possibilidades de desenvolvimento da expressão corporal e da criatividade do executante. O trabalho pode ser realizado em grupos, com cores diferentes de lenços, utilizando jogos de movimentos e deslocamentos, formando coreografias com todos os grupos ao mesmo tempo ou enquanto um está saindo, o outro está entrando. 2.2- Coco É um excelente meio auxiliar para o trabalho do ritmo. Praticamente, todos os movimentos a mãos livres podem ser trabalhados com cocos. Utiliza-se uma metade em cada mão da metade da casca do coco e, dentre outros, podem ser realizados deslocamentos, saltitos, balanceamentos e circunduções com batidas do coco. Os movimentos realizados com esse material podem ser executados, também, com pandeiros, pequenos tacos de madeira, etc. Movimentos com o coco 1- Andar ou correr batendo o coco à frente ou acima da cabeça acompanhando a cadência das passadas. 2- Primeiro saltito batendo o coco à frente do corpo ou por baixo da perna elevada. 3- Deslocamento com dois galopes laterais seguidos de giro de meia volta (polca) batendo o coco após o giro. Neste movimento o executante vai sempre na mesma direção. 4- Passo de valsa batendo o coco três vezes para um lado e três para o outro, acompanhando o ritmo das passadas. 5- Molejo de pernas unidas batendo o coco 3 tempos à frente do corpo ou acima da cabeça e no 4 tempo flexionar as pernas, batendo o coco no chão. 6- Balanceamento dos braços no plano frontal (pela frente do corpo), transferindo o peso do corpo de uma perna para outra, seguido de circundução, batendo o coco no final do movimento. 2.3- Bandeiras As bandeiras podem ser de plástico ou de pano, de uma mesma cor, ou formando desenhos geométricos de, aproximadamente 0,60 x 0,50cm presas em um bastão de madeira. Podem ser realizados balanceamentos e circunduções em vários planos, proporcionando combinações muito interessantes. O cuidado a ser observado é que o tamanho deste material deve ser adaptado ao tamanho da pessoa que irá manuseá-lo. A utilização de duas bandeirinhas, uma em cada mão realizando movimentos simétricos, é mais uma das possibilidades de material alternativo para o desenvolvimento da GR com crianças pequenas. 2.4- Fita Este aparelho proporciona um grande efeito visual por ter a capacidade de desenhar no ar. A fita de GRD tem aproximadamente 5 cm de largura por 7 metros de comprimento (para adultos) com 1 metro dobrado e costurado para reforçar uma das extremidades. A fita é presa em um estilete de madeira (de + 50cm de comprimento) através de um girador encontrado em lojas de artigo de pesca. Porém, se a escola ou os alunos não puderem adquirir a fita, existem algumas formas alternativas que oferecem um efeito semelhante. Por exemplo, podemos utilizar uma tira de papel crepom ou de plástico (aproximadamente de 3 a 4 metros de comprimento e 4 a 5 cm de largura) presa ao girador e amarrada com 3 barbante a um palito grande de churrasco. Outra sugestão seria a confecção de uma faixa larga de retalho de pano presa ao estilete da mesma maneira. O importante é participar e utilizar a criatividade, não só para a realização dos movimentos, como, também, para a confecção dos materiais. Movimentos com a fita Algumas considerações a respeito deste material são importantes de serem feitas: a- Durante o aprendizado, todos os movimentos executados com uma mão devem ser trabalhados com a outra, na mesma proporção. b- Os movimentos mais característicos da fita são: Espirais: movimentos de rotação do punho para dentro ou para fora. Serpentinas: são movimentos do punho para cima e para baixo (serpentinas verticais) ou da direita para a esquerda (serpentinas horizontais), formando um desenho de zigzag no ar. Ondas são ondulações maiores e mais espaçadas que as serpentinas. O movimento de onda é realizado com a participação da articulação do punho e do ante-braço. Podem ser realizados movimentos de impulsos e circunduções, horizontais, à frente (plano frontal), por trás do corpo ou ao lado (plano sagital). OBS: As articulações do ombro e do punho são muito solicitadas, por isso deve-se aquecê-las, fortalecê-las e realizar um bom trabalho de flexibilidade. 3- A GR historiada Através dos movimentos da GR pode-se contar, ou melhor dizendo, apresentar uma história infantil. Um narrador conta a história, enquanto os personagens caracterizados realizam movimentos de GR com ou sem material, acompanhados por uma música apropriada. Por exemplo, os personagens da história do Chapeuzinho Vermelho - a vovó, o lobo, a menina, os caçadores, os lenhadores da floresta e outros - podem evoluir dentro de uma coreografia com movimentos de GR, acompanhando a narração e a música. Podem ser utilizados materiais como lenços para a vovó e para o chapeuzinho vermelho, cocos para o lobo, fitas para os caçadores e bastõezinhos de madeira para os lenhadores da floresta. Esta é uma atividade muito interessante para as crianças que estão participando e para quem está assistindo. Muitas histórias podem ser apresentadas utilizando-se a GR historiada. Para um grupo de alunos com idade mais elevada, eles mesmos podem criar a sua própria história e interpretá-la. A associação da criação de uma história e a sua interpretação, através da GR, torna-se uma atividade inovadora e muito atrativa no ambiente escolar. Considerações finais A GR é uma atividade que poucos profissionais se dispõem a trabalhar com ela e, muitas vezes, sofre discriminações por parte dos alunos do sexo masculino. A proposta deste trabalho é dar oportunidade para que crianças e adolescentes de ambos os sexos participem de atividades de GR derrubando estereótipos e preconceitos, pois, o ser humano se desenvolve através do movimento corporal e quanto mais rica for a sua bagagem motora, melhor ele se relacionará com o seu próprio corpo e, conseqüentemente, com as pessoas e o mundo que o cercam. 4 Referências Bibliográficas BARBANTI, Valdir J. Dicionário de educação física e do esporte. São Paulo: Manole, 1994. BIZZOCCHI, Lucy A. G. & GUIMARÃES, Maria D. S. Manual de ginástica rítmica desportiva. Vol I e II. São Paulo: Leme. DANTAS, Estélio H.M. Flexibilidade: alongamento e flexionamento. Rio de Janeiro: Shape, 1999. FARINATTI, Paulo de Tarso. Criança e a atividade física. Rio de Janeiro: Sprint, 1995. GAIO, Roberta. Ginástica rítmica desportiva “popular”: uma proposta educacional. São Paulo: Robe, 1996. Go TANI, MANOEL, Edison de Jesus, KOKUBUN, Eduardo, PROENÇA, José Elias. Educação física escolar. São Paulo: EPU Editora da Universidade de São Paulo, 1988. JACKMAN, Joan. Os jovens ginastas. Portugal: Civilização Editora, 1995. OLIVEIRA, Marta Kohl. Vygotsky aprendizagem e desenvolvimento: um processo sócio-histórico. São Paulo: Scipione, 1998. PALLARÉS, Zaida. Ginástica rítmica. Porto Alegre: Prodil, 1983. PARÃMETROS CURRICULARES NACIONAIS: EDUCAÇÃO FÍSICA. Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC, 1998 PEREIRA, Sissi A. Martins. Ginástica rítmica desportiva: aprendendo passo-a-passo. Rio de Janeiro: Shape, 2000. SAUR, Érica. Ginástica rítmica escolar. Rio de Janeiro: Edições de Ouro, sd.