Ministério da Ciência e Tecnologia Museu Paraense Emílio Goeldi Projeto Renas VEGETAÇÃO DE RESTINGA: aspectos botânicos e uso medicinal CATÁLOGO Maria de Nazaré do Carmo Bastos Denise Cristina Torres Costa João Ubiratan Moreira dos Santos Belém-Pará 2003 PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA Luiz Inácio Lula da Silva MINISTÉRIO DA CIÊNCIA E TECNOLOGIA Roberto Átila Amaral Vieira MUSEU PARAENSE EMÍLIO GOELDI Diretor: Peter Mann de Toledo Coord. de Pesquisa e Pós-Graduação: Ima Célia Guimarães Vieira Coord. de Comunicação e Extensão: Antonio Carlos Lobo Soares REALIZAÇÃO Museu Paraense Emílio Goeldi Projeto RENAS • IDRC • CRDI-Canadá TEXTOS Maria de Nazaré do Carmo Bastos Denise Cristina Torres Costa João Ubiratan Moreira dos Santos FOTOS Nazaré Bastos, Dário Amaral, Denise Torres PROBAC (Projetos Botânicos em Áreas Costeiras) APOIO EDITORAÇÃO CIENTÍFICA Presidente: Lourdes Gonçalves Furtado Editor Chefe: Iraneide Silva Editores Assistentes: Socorro Menezes, Angela Pizzani Bolsista: Andréa Pinheiro Bastos, Maria de Nazaré do Carmo. Vegetação de restinga: aspectos botânicos e uso medicinal / Maria de Nazaré do Carmo Bastos; Denise Cristina Torres Costa; João Ubiratan Moreira dos Santos. Belém: Museu Paraense Emílio Goeldi; PROJETO RENAS/IDRC/CRDI - Canadá, 2003. 23 p.: il. 1. RESTINGA - Vegetação. 2. PLANTAS - Botânica e uso medicina. 3. COMUNIDADE PESQUEIRA - Conhecimento tradicional. I. Título. II. Costa, Denise Cristina Torres. III. Santos, João Ubiratan Moreira dos. CDD 574.526.367 581 PNOPG Sumário Apresentação, 5 Onde se realizou a pesquisa?, 7 Como foram coletadas as informações?, 8 Ambiente e flora da praia, 8 Uso medicinal das plantas da restinga do Crispim, 13 Ajiru (Chrysobalanus icaco L.), 14 Araticum (Annona glabra L.), 14 Caju (Anacardium occidentale L.), 15 Cebola brava (Clusia grandiflora Splitg.), 15 Copaíba (Copaifera martii Hayne), 16 Jipooca (Entada polyphylla Benth.), 16 Losna (Ambrosia microcephala DC.), 17 Muruci (Byrsonima crassifolia H.B.K.), 17 Praturá (Spartina alterniflora Loisel), 18 Salsa da praia (Ipomoea pes-caprae (L.) Rottb.), 18 Sete sangrias (Heliotropium polyphyllum var. blanchetti DC.), 19 Sucuúba (Himatanthus articulatus (Vahl.) Woodson), 19 Tapiririca (Tapirira guianensis Aubl.), 20 Umiri (Humiria balsamifera St. Hill.), 20 Verônica Branca (Dalbergia ecastophyllum (L.) Taub.), 21 Ameaças à conservação, 22 Recomendações, 22 Bibliografia, 23 Apresentação Este catálogo é resultado de pesquisas botânicas numa área litorânea do estado do Pará, desenvolvidas pelo Projeto Recursos Naturais e Antropologia das Populações Marítimas, Ribeirinhas e Estuarinas da Amazônia - RENAS, com o apoio do Ministério da Ciência e Tecnologia/Museu Paraense Emílio Goeldi, em cooperação internacional com o IDRC/CRDI - Canadá. Os estudos aqui apresentados têm como intenção principal, resgatar e documentar o saber tradicional das comunidades pesqueiras, acerca do uso medicinal da flora do ambiente em que vivem. Desta forma, esta publicação constitui-se, basicamente, das descrições dos agrupamentos de vegetais localizados ao longo da praia do Crispim, município de Marapanim, da caracterização botânica e do uso das espécies de plantas utilizadas como remédio, na cura de enfermidades pela comunidade do local. Por fim, acredita-se que os dados científicos somados ao conhecimento popular tenham gerado um produto final valioso, apresentado em linguagem simples, a fim de que sirva como material didático nas escolas, contribuindo para um melhor entendimento, uso e preservação dos recursos naturais costeiros. Os autores 6 Vegetação de Restinga: aspectos botânicos e uso medicinal Onde se realizou a pesquisa? O local da pesquisa está situado no litoral do estado do Pará que apresenta 598km de extensão, indo desde a baía do Marajó até a foz do rio Gurupí, na fronteira com o Maranhão. Esta costa, localizada a nordeste do Estado, possui forma bastante recortada, formando várias baías, ilhas e penínsulas. Neste litoral, também chamado de região do Salgado, encontra-se o município de Marapanim, ao qual pertencem as vilas de Bacuriteua, Camará, Marudá e a praia do Crispim, locais onde desenvolveu-se a pesquisa. Mapa de localização da restinga do Crispim Vegetação de Restinga: aspectos botânicos e uso medicinal 7 Como foram coletadas as informações? Os ambientes e a flora da praia do Crispim foram descritos quanto à sua fisionomia, composição e aspectos característicos, mediante estudos botânicos que vêm sendo desenvolvidos nesta área, há cerca de 10 anos, por uma equipe de Pesquisadores do Museu Paraense Emílio Goeldi. Para obtenção das informações junto aos moradores, foram aplicados formulários - no mínimo 6 informantes em cada vila - contendo questões sobre quais espécies de plantas são utilizadas para fazer remédios, o tipo de uso e o local da praia onde elas são encontradas. As espécies vegetais citadas foram coletadas com o auxílio de um morador da localidade e confirmadas pelos informantes. A seguir, as plantas foram encaminhadas para a Coordenação de Botânica do Museu Paraense Emílio Goeldi para a identificação do nome científico, através de comparação com outras existentes em uma coleção de plantas secas, denominada de Herbário. Para entender sobre o nome das plantas: Cada planta possui um nome pelo qual é conhecida em qualquer lugar do mundo, o nome científico. Ele é composto de duas palavras escritas em latim, seguidas do nome abreviado da pessoa que primeiro descreveu a planta. Além deste nome, em geral, as plantas possuem uma denominação popular (um apelido), pela qual são conhecidas na região. Neste trabalho as plantas estão denominadas pelo nome popular, seguido do nome científico. Ex: Nome científico: Chrysobalanus icaco L. Nome popular: Ajiru Ambiente e flora da praia Ao conjunto formado pela topografia, solo e diferentes comunidades de animais e plantas que habitam a praia dá-se o nome de RESTINGA. A restinga apresenta solo arenoso que é pobre em argilas e matéria orgânica, com baixa capacidade de reter águas e nutrientes. Apesar disto, estes locais são cobertos por uma flora variada e adaptada às difíceis condições do meio. 8 Vegetação de Restinga: aspectos botânicos e uso medicinal As plantas se distribuem na restinga em zonas bem definidas no sentido do mar para o continente, conforme vários fatores ambientais, como as condições de solo, vento, quantidade de sal, distância do mar, profundidade do lençol d’água subterrâneo e outros. Essas zonas de vegetação podem também ser chamadas de comunidades ou formações vegetais e, na praia do Crispim, ora apresentam-se como plantas rastejantes da beira da maré, campos brejosos periodicamente inundados, moitas de arbustos intercaladas por campos ou ainda formando dunas. Os fatores ambientais citados acima, em conjunto com a influência dos rios de água doce da região, provocam mudanças constantes e rápidas no aspecto e na organização das formações vegetais da restinga. Por exemplo, em determinada época do ano, em um dado local da praia, pode se ter um campo brejoso e, em outra época ocorrer a instalação de dunas. Conheça as Formações Vegetais da Praia do Crispim: Na zona da praia, na parte ainda sujeita à ação das marés, existe um conjunto de plantas herbáceas (ervas=plantas pequenas com ramos flexíveis), que possuem em geral folhas grossas (carnosas), chamado de Formação Halófila (Halo=sal / fila=afinidade). As folhas grossas destas espécies são uma adaptação para a planta suportar o elevado teor de sal da maré. Formação halófila, restinga da praia do Crispim, Marapanim, Pará Vegetação de Restinga: aspectos botânicos e uso medicinal 9 Logo a seguir, sobre os primeiros morros de areia da praia, fora da ação das ondas do mar, localiza-se um grupo de plantas que crescem se arrastando sobre os morros e que são importantes na fixação da areia trazida pela água do mar, impedindo que ela seja transportada para mais longe pelo vento. Este conjunto de plantas é denominado de Formação Psamófila Reptante (psamo = areia, fila = afinidade e reptante = que se arrasta pelo chão). Entre as plantas que se destacam nesta formação tem-se a salsa da praia (Ipomoea pes-caprae Rottb.) e a losna (Ambrosia microcephala DC.). Formação Psamófila reptante, restinga da praia do Crispim, Marapanim, Pará 10 Vegetação de Restinga: aspectos botânicos e uso medicinal Logo após estes cordões arenosos (morro contínuo de areia) se estabelece o que denominamos de Formação Brejo, por permanecer alagada no período chuvoso ou nos grandes lances de maré e ser formada por plantas tipo erva, a maioria capins. Esta formação também apresenta arbustos (árvores pequenas com galhos desde a base) como por exemplo a verônica branca (Dalbergia ecastophyllum (L.) Taub.). Formação Brejo, restinga da praia do Crispim, Marapanim-PA Vegetação de Restinga: aspectos botânicos e uso medicinal 11 Formações de Dunas e entre Dunas, restinga da praia do Crispim, Marapanim-PA Nas porções mais internas, está a Formação Dunas, também chamada popularmente de “morros”. Cobrindo estas dunas há uma vegetação densa e descontínua, constituída de árvores e arbustos de até 4 m de altura, destacando-se o caju (Anacardium occidentale L.), o ajiru ou ajuru (Chrysobalanus icaco L.), a cebola brava (Clusia grandiflora Splitg.), a jipoóca (Entada polyphylla Benth.), o breu (Protium heptaphyllum March.) e a copaíba (Copaifera marti Hayne). Entre as dunas têm-se uma vegetação herbácea que constitui a Formação Campo Entre Dunas. A fisionomia deste campo modifica de acordo com o período do ano. Se o período é seco (verão) predominam e florescem algumas espécies de plantas; se o período é de chuvas (inverno) outras plantas se destacam, dando um novo colorido ao ambiente. A região entre dunas da restinga do Crispim apresenta pequena cobertura vegetal, tendo-se grandes áreas sem vegetação (solo desnudo). 12 Vegetação de Restinga: aspectos botânicos e uso medicinal Formação Campo de Restinga - restinga da praia do Crispim, Marapanim-PA A Formação Campo de Restinga (Campo com moitas) é uma área bastante extensa com diversos tipos de capins, ervas de pequeno porte e árvores agrupadas em moitas ou isoladas. Nas moitas encontram-se com freqüência o umiri, miri ou mirim (Humiria balsamifera St. Hill.), o ajiru (Chrysobalanus icaco L.), o breu (Protium heptaphyllum March.), a cebola brava (Clusia grandiflora Splitg) e várias espécies de murta (Myrtaceae). Também podem ser encontradas nas moitas orquídeas terrestres como Sobralia liliastrum Lindl., Catasetum discolor Lindl. e Encyclia granitica Schltr. Estes campos podem ser vistos nas margens da estrada que dá acesso à praia do Crispim. Vegetação de Restinga: aspectos botânicos e uso medicinal 13 Uso Medicinal das Plantas da Restinga do Crispim As comunidades que habitam o litoral mantêm uma forte relação com os ambientes costeiros, dependendo de seus recursos naturais para a sobrevivência, entre estes destacam-se algumas plantas utilizadas no dia-a-dia e que são retiradas do manguezal e da restinga. Existem informações que nas restingas do Pará existem cerca de 300 espécies de plantas, incluindo árvores, cipós e ervas. As plantas da restinga são extraídas com diversas finalidades, como por exemplo, para a construção de casas, currais, cercas, assoalhos e na fabricação de carvão. Alguns frutos destas plantas são usados como alimento, e folhas, cascas, seivas e raízes são empregadas na preparação de remédios para cura de diversas doenças. Através de entrevistas com famílias de pescadores, foi possível identificar algumas espécies de plantas da restinga do Crispim utilizadas como remédio, as quais estão relacionadas a seguir, com informações como o local onde habitam, o uso medicinal que lhe foi atribuído e uma breve descrição da planta. Ajiru Chrysobalanus icaco L. Dunas e Campo com moitas Parte usada: Raiz Forma: Chá Indicação: Dor de urina e diabetes Característica: Arbusto com frutos carnosos de cor vermelha, preta ou creme, comestíveis. Ocorrência: 14 Vegetação de Restinga: aspectos botânicos e uso medicinal Araticum Annona glabra L. : Brejo e Dunas : Folhas amarelas Forma: Banho Indicação: Desinchar pernas Característica: Arbusto de pequeno porte, fruto de cor verde e comestível. Ocorrência Parte usada Caju Anacardium occidentale L. : Dunas e Campo com moitas : Casca Forma: Banho de asseio Indicação: Pós-parto, cicatrizante Característica : Árvore com fruto carnoso e suculento, de coloração amarela ou vermelha, nutritivo e fonte de vitamina C. Ocorrência Parte usada Vegetação de Restinga: aspectos botânicos e uso medicinal 15 Cebola brava Clusia grandiflora Splitg. Flor Formações vegetais : Dunas e Campo com moitas : Flor e fruto Forma: Lambedor Indicação: Tosse Característica : Árvore com flores vistosas, de coloração rósea, frutos imaturos semelhantes a uma cebola, quando maduros abrem-se ficando com aparência de uma flor. Parte usada Fruto Copaíba Copaifera martii Hayne : Dunas e Campo com moitas Parte usada: Casca Forma: Chá Indicação: Anti-inflamatório Característica: Árvore de casca rugosa, pardacenta, caule que produz óleo. Ocorrência 16 Vegetação de Restinga: aspectos botânicos e uso medicinal Jipooca Entada polyphylla Benth. : Brejo : Casca Forma: Maceração Indicação: Coceiras Característica: Arbusto com inflorescência de cor creme e frutos em forma de vagens achatadas. Ocorrência Parte usada Losna Ambrosia microcephala DC. : Psamófila Reptante Parte usada: Folhas e ramos Forma: Chá Indicação: Anemia e dores Característica: Erva, com folhas lobadas (recortadas), flores brancas em pendões nas extremidades dos ramos. Ocorrência Vegetação de Restinga: aspectos botânicos e uso medicinal 17 Muruci Byrsonima crassifolia H.B.K. : Dunas e Campo com moitas Parte usada: Casca Forma: Banho Indicação: Cicatrizante Característica: Arbusto com flores e frutos de cor amarela. Os frutos quando maduros são muito utilizados no preparo de sucos, doces e sorvete. Ocorrência Praturá Spartina alterniflora Loisel : Halófila : Raiz Forma: Chá Indicação: Asma Característica: Erva, com inflorescência amarela e extremidade da folha pontiagudo. Raízes formando um emaranhado como uma cabeleira. Planta bastante resistente ao sal, crescendo na praia. Formação vegetal Parte usada 18 Vegetação de Restinga: aspectos botânicos e uso medicinal Salsa da Praia Ipomoea pes-caprae (L.) Rottb. : Psamófila Reptante : Folhas Forma: Banho Indicação: Coceiras Característica: Cipó rastejante, com flores lilases e folhas grossas. Planta capaz de reter areia, atuando no processo de formação de dunas. Ocorrência Parte usada Sete sangrias Heliotropium polyphyllum var. blanchetii DC. Ocorrência : Psamófila Reptante e Campo entre dunas : Folhas e Ramos : Chá Indicação: Anemia Característica: Erva rastejante com flores brancas em inflorescência escorpióide. Parte usada Forma Vegetação de Restinga: aspectos botânicos e uso medicinal 19 Sucuúba Himatanthus articulatus (Vahl) Woodson Formações vegetais : Dunas e Campo com moitas : Casca(1) e Leite(2) : Chá(1) e gotas(2) Indicação: Gastrite/Ameba(1) e Tosse(2) Característica : Árvore, flores brancas, frutos maduros marrons (dispostos em forma de chifres) e sementes aladas. Possui látex (leite) branco em todas as partes da planta. Parte usada Forma Tapiririca Tapirira guianensis Aubl. Formações vegetais : Dunas, Campo com moitas e Mata : Casca : Xarope Indicação: Expectorante C a r a c t e r í s t i c a : Árvore com pequeninas e numerosas flores amarelo claro. Parte usada Forma 20 Vegetação de Restinga: aspectos botânicos e uso medicinal Umiri, miri ou mirim Humiria balsamifera St. Hill. Formações vegetais : Dunas e Campo com moitas : Casca Forma: Chá Indicação: Diarréia Característica: Árvore com flores brancas e folhas de consistência dura e grossa. Frutos maduros negros, comestíveis. Parte usada Verônica branca Dalbergia ecastophyllum (L.) Taub. : Brejo : Casca (chamado “pau da verônica”) Forma: Chá(1), Infusão(2) e Banho(3) Indicação: Inflamação uterina(1), Anemia(2) e Corrimento(3) Característica: Arbusto com frutos secos e marrons localizados nas inserções das folhas. Formação vegetal Parte usada Vegetação de Restinga: aspectos botânicos e uso medicinal 21 Ameaças à conservação A praia do Crispim destaca-se como um dos principais roteiros turísticos do estado do Pará, sendo considerada como balneário litorâneo de admirada beleza pela população da capital e cercanias. Com a implantação do turismo, o ambiente natural, rico em vegetação de restinga, manguezal e dunas, vem sendo ao longo dos anos alterado, estando atualmente ameaçado pela especulação imobiliária com a proliferação desordenada de bares e pousadas e, conseqüentemente, pelo acúmulo de lixo, sistemas precários de esgoto, retirada de areia para a construção civil etc. Outra atividade de impacto negativo é a queimada nos campos de restinga, praticada durante a estação seca. Esta ação elimina, não somente as plantas como também, muitas espécies de animais que vivem no local, tais como filhotes de aves, borboletas, gafanhotos, minhocas, entre outros e, que são importantes para o equilíbrio e funcionamento do ecossistema. Muitas plantas necessitam de animais para a sua reprodução e produção de frutos. A retirada da vegetação da praia deixa a areia exposta, sujeita a uma grande movimentação pelo vento, ameaçando de soterramento ambientes naturais localizados às suas proximidades (como manguezais e lagos) e construções (como casas e bares). A degradação e destruição desses ambientes litorâneos representam principalmente a perda do potencial florístico. Uma perda lamentável, pois ainda se tem muito a conhecer sobre o uso das espécies de plantas, em termos de alimentação, farmacologia, possibilidade de extração de resinas, corantes e até mesmo o aproveitamento da paisagem. Recomendações • As pesquisas nas áreas litorâneas são fundamentais, para que se entenda a dinâmica costeira, resgatando a diversidade florística, apontando alternativas para o uso, manejo e conservação dos recursos naturais e, consequentemente, para a melhoria da qualidade de vida das comunidades envolvidas. • As atividades de eliminação da vegetação, quer seja na praia a fim de “desobstruir” o espaço recreativo, quer seja nos campos e dunas para retirada de madeira ou queimada, devem ser controladas, de forma a não comprometer o equilíbrio dos ambientes. • As comunidades locais precisam ser assistidas e orientadas através da educação ambiental, observando também cuidados envolvendo saúde básica, lixo doméstico, sistema sanitário, utilização de água, entre outros. 22 Vegetação de Restinga: aspectos botânicos e uso medicinal • Integrantes da comunidade local devem ser inseridos num programa de ecoturismo, capacitando-os como guias ecológicos, de forma a despertar o interesse e a valorização pelo meio onde vivem, contribuindo com informações e ações para a fiscalização, bem como a conservação dos ambientes da praia. Não se pode esquecer que a natureza e seus fenômenos apresentam razão de ser para cada fato. Nada está por acaso. Por isso, os ambientes litorâneos necessitam ser bem entendidos para que exista harmonia em se usar e desfrutar, respeitando o funcionamento natural do meio. Bibliografia AMARAL, D.D.; SANTOS, J.U.M.; BASTOS, M.N.C. & COSTA NETO, S.V. 2001. Aspectos taxonômicos de espécies arbustivas e arbóreas ocorrentes em moitas (restinga do Crispim), Marapanim, Pará. Bol. Mus. Para. Emílio Goeldi, Sér. Bot., 17(1): 21-74. BASTOS, M.N.C. 1995. A importância das formações vegetais da restinga e dos manguezais para a comunidade pesqueira. Bol Mus. Para, Emílio Goeldi, Sér. Bot. Belém. 11(1). COELHO-FERREIRA, M.R. 2000. Identificação e valorização das plantas medicinais de uma comunidade pesqueira do litoral paraense (Amazônia brasileira). Belém, Universidade Federal do Pará/Museu Paraense Emílio Goeldi, 259 p. Tese de doutorado. COSTA NETO, S.V.; BASTOS, M.N.C. & LOBATO, L.C.B. 1996. Composição florística e fitofisionomia da restinga do Crispim, município de Marapanim, Pará. Bol. Mus. Para. Emílio Goeldi, Sér. Bot., 12(2): 237-249. COSTA NETO, S.V. 1999. As formações Halófila, Psamófila e Brejo herbáceo da restinga do Crispim, Marapanim, Pará. Belém, Faculdade de Ciências Agrárias do Pará, 123p. Dissertação de mestrado. COSTA NETO, S.V.; PEREIRA, O.J.; BASTOS, M.N.C.; SANTOS, J.U.M. & AMARAL, D.D. 2001. Fitossociologia das formações herbáceas da restinga do Crispim, Marapanim-PA. Bol. Mus. Para. Emílio Goeldi, Sér. Bot., 17(1): 161-186 COSTA NETO, S.V.; SANTOS, J.U.M; BASTOS, M.N.C. & AMARAL, D.D. 2000. Composição florística das formações herbáceas da restinga do Crispim, Marapanim-Pará. Bol. Mus. Para. Emílio Goeldi, Sér. Bot., 16(2): 163-209. Vegetação de Restinga: aspectos botânicos e uso medicinal 23 Caixa Postal 399 66040-170, Belém, Pará [email protected]